, espécies da rica fauna floresta singular - cristalino...
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RUMO CERTO
00 fevereiro de 2010
Polo do agronegócio, a região de Alta Floresta, no Mato
Grosso, desperta para uma nova vocação, a do ecoturismo
Floresta singular
Texto e Fotos HEITOR E SILVIA REALI
lém das margens do rio Teles Pires e de seu afluen-
te Cristalino, existe outra Amazônia: um santuário da fauna e da flora brasileira que começa a ser
descoberto. O ponto de partida para conhecer esse território de exuberante natureza é Alta Floresta,
no norte do Mato Grosso, quase na fronteira com o Pará e o Amazonas. Lugar emblemático na histó-
ria recente do país, a cidade foi fundada na década de 1970 a partir de um projeto de Ariosto da Riva.
O empreendedor comprou uma grande área para dividir em lotes destinados à agricultura sustentá-
vel e familiar, onde seriam cultivados café, guaraná, arroz e cacau. Porém, no início dos anos 1980, a
febre do ouro tomou conta da região e as culturas agrícolas perderam espaço para o garimpo. Quan -
do o ouro acabou, foi a vez de a agropecuária dominar as terras de Alta Floresta.
A
Acima, espécies da rica fauna
de Alta Floresta: tucano e
macaco-aranha-de-cara-branca.
Na página ao lado, samaúma,
árvore típica da Amazônia
RUMO CERTO
00 fevereiro de 2010
Polo do agronegócio, a região de Alta Floresta, no Mato
Grosso, desperta para uma nova vocação, a do ecoturismo
Floresta singular
Texto e Fotos HEITOR E SILVIA REALI
lém das margens do rio Teles Pires e de seu afluen-
te Cristalino, existe outra Amazônia: um santuário da fauna e da flora brasileira que começa a ser
descoberto. O ponto de partida para conhecer esse território de exuberante natureza é Alta Floresta,
no norte do Mato Grosso, quase na fronteira com o Pará e o Amazonas. Lugar emblemático na histó-
ria recente do país, a cidade foi fundada na década de 1970 a partir de um projeto de Ariosto da Riva.
O empreendedor comprou uma grande área para dividir em lotes destinados à agricultura sustentá-
vel e familiar, onde seriam cultivados café, guaraná, arroz e cacau. Porém, no início dos anos 1980, a
febre do ouro tomou conta da região e as culturas agrícolas perderam espaço para o garimpo. Quan -
do o ouro acabou, foi a vez de a agropecuária dominar as terras de Alta Floresta.
A
Acima, espécies da rica fauna
de Alta Floresta: tucano e
macaco-aranha-de-cara-branca.
Na página ao lado, samaúma,
árvore típica da Amazônia
RUMO CERTO
00 fevereiro de 2010 00fevereiro de 2010
Hoje, a cidade encontra outras vocações – econômicas, turísticas e eco-
lógicas. Muitos agricultores começaram a resgatar suas antigas tradições e se
dedicam às plantações orgânicas, à agrofloresta, à piscicultura e à agrosilvi-
cultura. Com o mote de que é possível explorar a floresta economicamente e
contribuir para seu desenvolvimento sustentável, outros ramos de em presas
privadas de Alta Floresta também fincaram o pé na responsabilidade socio -
ambiental. Assim, nasceram projetos como o Orquidário da Amazônia, que
estimula a pesquisa e preservação de orquídeas, cactus e caraguatás do Bra -
sil; e a Ouro Verde Amazônia, que desenvolve azeite e cosméticos usando cas -
tanha-do-Pará. Há ainda outras empresas de destaque, como a Mar cena ria
Sumaúma, que produz mobiliário e peças utilitárias com madeiras da re gião;
e a Arte da Mata, na qual o artesão José Antonio Romeira elabora joias unin-
do fibras, sementes e pedras, criando peças com ricas texturas e cores.
Em 2001, foi criado o Parque Estadual do Cristalino, cuja área de mais de
184 mil hectares abrange os municípios de Alta Floresta e Novo Mundo. É um
verdadeiro corredor ecológico de proteção da mata. Além do parque, ou tras
iniciativas mostram que a preocupação com a natureza tem sido prioridade
ali. Criada em 1999, a ONG Fundação Ecológica Cristalino tem o objetivo de
fomentar pesquisas e projetos de educação ambiental, além de promover a
conservação e o uso sustentável dos recursos naturais do ecossistema ama-
zônico. E, nos últimos anos, donos de terras de Alta Floresta estão criando
RPPNs (Reservas Particulares de Patrimônio Natural) em suas propriedades, o
que aju da a preservar a fauna e a flora de Alta Floresta.
Explorando a floresta
Localizada na Amazônia meridional, a região é um microcosmo de qua -
se toda a mata tropical e abriga comunidades naturais distintas, formadas pe -
lo rio Cristalino; pelas florestas estacional semidecidual, de terra firme e de
iga pó; pelos campos inundáveis; e pelos afloramentos rochosos e campos ru -
pes tres. Alta Floresta diferencia-se também por estar em terras com altitude
de 400 metros, caracterizadas pelo clima mais ameno e com grande di ver si -
da de de pássaros e borboletas, o que faz do lugar o melhor do Brasil – e um
dos três melhores do mundo – para a observação de aves.
Para se ter uma ideia do espetáculo, nessa paisagem as aves representam
um terço de todas as espécies do país e 50% daquelas existentes na Amazônia.
A presença de tantas aves atrai observadores de mais de uma dezena de países,
prin cipalmente da Inglaterra, dos Estados Unidos, do Canadá e da Holanda.
00
Alta Floresta se destaca pela grande diversidade de
animais. Em sentido horário, espécies avistadas na
região: casal de araras, garça-real, ararajuba e borboletas
Acima, bangalô do hotel Cristalino Jungle Lodge e um dos
igapós presentes na região. Abaixo, vista do rio Cristalino
RUMO CERTO
00 fevereiro de 2010 00fevereiro de 2010
Hoje, a cidade encontra outras vocações – econômicas, turísticas e eco-
lógicas. Muitos agricultores começaram a resgatar suas antigas tradições e se
dedicam às plantações orgânicas, à agrofloresta, à piscicultura e à agrosilvi-
cultura. Com o mote de que é possível explorar a floresta economicamente e
contribuir para seu desenvolvimento sustentável, outros ramos de em presas
privadas de Alta Floresta também fincaram o pé na responsabilidade socio -
ambiental. Assim, nasceram projetos como o Orquidário da Amazônia, que
estimula a pesquisa e preservação de orquídeas, cactus e caraguatás do Bra -
sil; e a Ouro Verde Amazônia, que desenvolve azeite e cosméticos usando cas -
tanha-do-Pará. Há ainda outras empresas de destaque, como a Mar cena ria
Sumaúma, que produz mobiliário e peças utilitárias com madeiras da re gião;
e a Arte da Mata, na qual o artesão José Antonio Romeira elabora joias unin-
do fibras, sementes e pedras, criando peças com ricas texturas e cores.
Em 2001, foi criado o Parque Estadual do Cristalino, cuja área de mais de
184 mil hectares abrange os municípios de Alta Floresta e Novo Mundo. É um
verdadeiro corredor ecológico de proteção da mata. Além do parque, ou tras
iniciativas mostram que a preocupação com a natureza tem sido prioridade
ali. Criada em 1999, a ONG Fundação Ecológica Cristalino tem o objetivo de
fomentar pesquisas e projetos de educação ambiental, além de promover a
conservação e o uso sustentável dos recursos naturais do ecossistema ama-
zônico. E, nos últimos anos, donos de terras de Alta Floresta estão criando
RPPNs (Reservas Particulares de Patrimônio Natural) em suas propriedades, o
que aju da a preservar a fauna e a flora de Alta Floresta.
Explorando a floresta
Localizada na Amazônia meridional, a região é um microcosmo de qua -
se toda a mata tropical e abriga comunidades naturais distintas, formadas pe -
lo rio Cristalino; pelas florestas estacional semidecidual, de terra firme e de
iga pó; pelos campos inundáveis; e pelos afloramentos rochosos e campos ru -
pes tres. Alta Floresta diferencia-se também por estar em terras com altitude
de 400 metros, caracterizadas pelo clima mais ameno e com grande di ver si -
da de de pássaros e borboletas, o que faz do lugar o melhor do Brasil – e um
dos três melhores do mundo – para a observação de aves.
Para se ter uma ideia do espetáculo, nessa paisagem as aves representam
um terço de todas as espécies do país e 50% daquelas existentes na Amazônia.
A presença de tantas aves atrai observadores de mais de uma dezena de países,
prin cipalmente da Inglaterra, dos Estados Unidos, do Canadá e da Holanda.
00
Alta Floresta se destaca pela grande diversidade de
animais. Em sentido horário, espécies avistadas na
região: casal de araras, garça-real, ararajuba e borboletas
Acima, bangalô do hotel Cristalino Jungle Lodge e um dos
igapós presentes na região. Abaixo, vista do rio Cristalino
RUMO CERTO
00 fevereiro de 2010 00fevereiro de 2010
Serviço:Onde ficar:Cristalino Jungle Lodge (www.cristalinolodge.com.br): localizado no interior da floresta oferece uma experiência única
de hospedagem, com boas instalações e saborosa culinária • Floresta Amazônica Hotel (www.fah.com.br): circundado pela flores-
ta nativa, é uma das melhores alternativas de hospedagem em Alta Floresta. Passeios: Orquidário da Amazônia: 66 3521-4060.
Ouro Verde Amazônia: www.ouroverdeagro.com.br • Marcenaria Sumaúma: 66 3521-1206 • Arte da Mata: 66 3251-3993.
Quem leva: A TRIP Linhas Aéreas oferece voos para Alta Floresta a partir de Belo Horizonte (Aeroporto de Confins – MG), Bonito
(MS), Brasília (DF), Campinas (SP), Campo Grande (MS), Cascavel (PR), Corumbá (MS), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Dourados (MS), Foz
do Iguaçu (PR), Goiânia (GO), Ji-Paraná (RO), Londrina (PR), Manaus (AM), Maringá (PR), Porto Alegre (RS), Porto Velho (RO), Rio
Branco (AC), Rio de Janeiro (Aeroporto Santos Dumont – RJ), Rondonópolis (MT), São José do Rio Preto (SP), São José dos Campos
(SP), Sinop ( MT), São Paulo (Aeroporto de Guarulhos – SP), Vilhena (RO) e Vitória (ES). Mais informações: voetrip.com.br
Já as borboletas são um capítulo à parte. Na época da seca, que vai de
junho a outubro, a região fica povoada por mais de 2 mil espécies. Logo de -
pois do encontro das águas claras do Teles Pires com as escuras do Cristalino,
está o Cristalino Jungle Lodge, empreendimento de turismo sus ten tável. A
Amazônia ali não é de faz-de-conta, é realidade. O visitante fi ca diante de
cenas como a de uma jiboia atacando um teiú (lagarto) ou de ani mais como
uma aranha caranguejeira de 20 centímetros. E o que falar de duas onças bri-
gando por causa de uma fêmea, às margens do rio Cristalino? Quem presen-
ciou o episódio foi um guia local, que contou que no período da seca é mais
fácil observar os grandes mamíferos da Amazônia. Mas não se as suste, pois
as caminhadas são monitoradas por profissionais experientes, como Fran -
cisco, ex-seringueiro que há 17 anos trabalha no hotel. “Quando se conhece o
risco, não há risco”, ele diz.
Se algumas cenas estimulam a adrenalina, outras despertam momen-
tos emocionantes. Da torre de observação do hotel, a 50 metros de altura e
acima do dossel das árvores mais altas, é possível ver bandos de araras ver-
melhas, tucanos e marianinhas (papagaios) deixando um rastro de música e
cor sobre o tapete verde formado pela vegetação. Em terra firme o que toca
a alma são as inusitadas cores e formas dos fungos, cogumelos, musgos e dos
pequenos insetos, mariposas e borboletas. E mais ainda quando se ouve o me -
lancólico canto do uirapuru. Quando ele canta, toda a floresta silencia.
Em meio à rica vegetação da região estão espécies como a quinina (usada
no tratamento da malária); o guarantã, com seu tronco retorcido; o cacui,
ca cau selvagem; o angico e a imbaúba. A sumaúma, de curiosa particulari-
dade, se destaca. Suas raízes, conhecidas como sapopemas, brotam no tron-
co a uma altura de dois ou três metros e se lançam na terra para lhe dar es -
tabilidade. Por ali, há árvores seculares como uma gigantesca castanheira,
de mais de 500 anos. Com 45 metros de altura e oito de diâmetro é uma ver-
dadeira catedral da floresta.
Nesse roteiro pela natureza intocada nada se compara a descer, no final
da tarde, o rio Cristalino em um barco à deriva. Um peixe salta para fora d’água
tentando escapar de seu predador, uma ariranha. Um jacaré-tinga desliza pe -
la margem do rio e submerge. A vegetação refletida na água cria grafismos
quase geométricos. Uma árvore tombada no rio serve de tribuna para a gar -
ça-real. Em meio ao silêncio, a impressão que se tem é a de que o mundo à vol -
ta observa os visitantes, estarrecidos diante de tantas belezas.
Acima, torre de observação do Cristalino Jungle Lodge:
vista única a 50 metros de altura. Abaixo, insetos
que dão colorido especial à flora da região e o
jacaré-tinga. Na página ao lado, figueira centenária
RUMO CERTO
00 fevereiro de 2010 00fevereiro de 2010
Serviço:Onde ficar:Cristalino Jungle Lodge (www.cristalinolodge.com.br): localizado no interior da floresta oferece uma experiência única
de hospedagem, com boas instalações e saborosa culinária • Floresta Amazônica Hotel (www.fah.com.br): circundado pela flores-
ta nativa, é uma das melhores alternativas de hospedagem em Alta Floresta. Passeios: Orquidário da Amazônia: 66 3521-4060.
Ouro Verde Amazônia: www.ouroverdeagro.com.br • Marcenaria Sumaúma: 66 3521-1206 • Arte da Mata: 66 3251-3993.
Quem leva: A TRIP Linhas Aéreas oferece voos para Alta Floresta a partir de Belo Horizonte (Aeroporto de Confins – MG), Bonito
(MS), Brasília (DF), Campinas (SP), Campo Grande (MS), Cascavel (PR), Corumbá (MS), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Dourados (MS), Foz
do Iguaçu (PR), Goiânia (GO), Ji-Paraná (RO), Londrina (PR), Manaus (AM), Maringá (PR), Porto Alegre (RS), Porto Velho (RO), Rio
Branco (AC), Rio de Janeiro (Aeroporto Santos Dumont – RJ), Rondonópolis (MT), São José do Rio Preto (SP), São José dos Campos
(SP), Sinop ( MT), São Paulo (Aeroporto de Guarulhos – SP), Vilhena (RO) e Vitória (ES). Mais informações: voetrip.com.br
Já as borboletas são um capítulo à parte. Na época da seca, que vai de
junho a outubro, a região fica povoada por mais de 2 mil espécies. Logo de -
pois do encontro das águas claras do Teles Pires com as escuras do Cristalino,
está o Cristalino Jungle Lodge, empreendimento de turismo sus ten tável. A
Amazônia ali não é de faz-de-conta, é realidade. O visitante fi ca diante de
cenas como a de uma jiboia atacando um teiú (lagarto) ou de ani mais como
uma aranha caranguejeira de 20 centímetros. E o que falar de duas onças bri-
gando por causa de uma fêmea, às margens do rio Cristalino? Quem presen-
ciou o episódio foi um guia local, que contou que no período da seca é mais
fácil observar os grandes mamíferos da Amazônia. Mas não se as suste, pois
as caminhadas são monitoradas por profissionais experientes, como Fran -
cisco, ex-seringueiro que há 17 anos trabalha no hotel. “Quando se conhece o
risco, não há risco”, ele diz.
Se algumas cenas estimulam a adrenalina, outras despertam momen-
tos emocionantes. Da torre de observação do hotel, a 50 metros de altura e
acima do dossel das árvores mais altas, é possível ver bandos de araras ver-
melhas, tucanos e marianinhas (papagaios) deixando um rastro de música e
cor sobre o tapete verde formado pela vegetação. Em terra firme o que toca
a alma são as inusitadas cores e formas dos fungos, cogumelos, musgos e dos
pequenos insetos, mariposas e borboletas. E mais ainda quando se ouve o me -
lancólico canto do uirapuru. Quando ele canta, toda a floresta silencia.
Em meio à rica vegetação da região estão espécies como a quinina (usada
no tratamento da malária); o guarantã, com seu tronco retorcido; o cacui,
ca cau selvagem; o angico e a imbaúba. A sumaúma, de curiosa particulari-
dade, se destaca. Suas raízes, conhecidas como sapopemas, brotam no tron-
co a uma altura de dois ou três metros e se lançam na terra para lhe dar es -
tabilidade. Por ali, há árvores seculares como uma gigantesca castanheira,
de mais de 500 anos. Com 45 metros de altura e oito de diâmetro é uma ver-
dadeira catedral da floresta.
Nesse roteiro pela natureza intocada nada se compara a descer, no final
da tarde, o rio Cristalino em um barco à deriva. Um peixe salta para fora d’água
tentando escapar de seu predador, uma ariranha. Um jacaré-tinga desliza pe -
la margem do rio e submerge. A vegetação refletida na água cria grafismos
quase geométricos. Uma árvore tombada no rio serve de tribuna para a gar -
ça-real. Em meio ao silêncio, a impressão que se tem é a de que o mundo à vol -
ta observa os visitantes, estarrecidos diante de tantas belezas.
Acima, torre de observação do Cristalino Jungle Lodge:
vista única a 50 metros de altura. Abaixo, insetos
que dão colorido especial à flora da região e o
jacaré-tinga. Na página ao lado, figueira centenária