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p.1 ISSN: 2237-3535 Vol. 1 | Nº. 1 | Agosto/Novembro - Ano 2019 A TEORIA DA PERCEPÇÃO E SUA CORRELAÇÃO COM A TEOLOGIA E A EDUCAÇÃO UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO DE TOLERÂNCIA 1 “A percepção do desconhecido é a mais fascinante das experiências. O homem que não tem os olhos abertos para o misterioso passará pela vida sem ver nada”. Albert Einstein _____________________________________ RESUMO Os dilemas sociais da atualidade fazem parte do cotidiano dos educadores no Brasil, bem como, estão de alguma maneira conectados à religião. É evidente, que muito dos conflitos sociais no Brasil estão no âmbito das transformações e dos novos contornos que a religião vem recebendo em meio às expressões múltiplas da fé e de suas controvérsias. Assim, este artigo procura elucidar junto aos educadores que atuam no ensino superior, o impacto que o contexto da experiência religiosa protestante no Brasil tem na educação. Ajuíza a força que a religiosidade protestante possui e que emiti opiniões delimitando convicções. Palavra-chave: Religião, Conflito, Educação, Teologia, Tolerância. _____________________________________ ABSTRACT The social dilemmas of the present day are part of the daily life of educators in Brazil, as well as, they are somehow connected to religion. It is evident that much of the social conflicts in Brazil are within the scope of the transformations and the new contours that the religion has received amid the multiple expressions of the faith and its controversies. Thus, this article seeks to elucidate with the educators who work in higher education, the impact that the context of the Protestant religious experience in Brazil has on education. It adjusts the force that Protestant religiosity possesses and that it emitted opinions delimiting convictions. Key words: Religion, Conflict, Education, Theology, Tolerance. 1 O termo “Estado de Tolerância” neste artigo tem seus pressupostos baseados na proposta de John Locke no texto intitulado Carta acerca da Tolerância de 1689”; neste, Locke argui que a Tolerância é uma das principais características da verdadeira religião. Para Locke a religiosidade contempla a respeitabilidade às crenças e ao relativismo filosófico que as envolve, de sorte que, para a época da produção do seu texto, Locke foi considerado um liberal, e por esta razão se tornou uma referência no tocante à reflexão entre Religião, Estado e Política. REVISTA CIENTÍFICA DIGITAL GAMALIEL PERIODICIDADE SEMESTRAL CURSO DE TEOLOGIA FATEJ/FADISA CONSELHO EDITORIAL Direção Cientifica Intelectual: Reitora: Dra. Arleide Braga Cursando o 2º Doutorado pela PUC | SP. Pós Doutora em Direito Constitucional pela Universitá degli Studi di Messina – Itália. Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidad del Museo Social Argentino – UMSA – Bs. As. | ARG. Mestrada em Direito pela Universidade Metropolitana de Santos | SP – UNIMES. Pós Graduação em Direito Previdenciário e Direito do Trabalho pela Universidade Gama Filho | RJ. Graduação em Letras (Licenciatura) pelo Centro Universitário de Santo André | SP. Presidente da Comissão de Direito Previdenciário da OAB – Santo André | SP – Triênio 2016/2018. Diretora Estratégica: Dra. Karina Costa Braga Mestranda em Direito - PUC | SP. Diretora e Procuradora: Dra. Karen Costa Braga Mestre em Direito - PUC | SP. EDITOR RESPONSÁVEL Me. Marcelo Alves Dantas [email protected] CORRESPONDÊNCIA / CONTATO FATEJ - Faculdade de Tecnologia Jardim. FADISA - Faculdade de Direito Santo André. Campus I - R. Almirante Protógenes, 44 - B. Jardim - Santo André - SP CEP 09090-760 (11) 4436-6489 | (11) 4992-3822 (11) 95238-4306 | (11) 99891-4846 COLABORADORES: Artigos: Prof. César Rocha Lima- Doutor Prof. Marcelo Alves Dantas - Mestre Prof. Wilson Ferreira de Souza Neto - Mestre Prof. Anderson Savedra da Silva - Mestre Comunicação: Prof. Kelly Cristina Marcelino Tederixe - Especialista autor Prof. Marcelo Alves Dantas [email protected] Revista Cristã Gamaliel Criação ABPC Academia Brasileira de Pensadores Cristãos. Programa do Curso de Teologia FATEJ / Reconhecido pelo MEC Portaria 574/2017.

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ISSN: 2237-3535

Vol. 1 | Nº. 1 | Agosto/Novembro - Ano 2019

A TEORIA DA PERCEPÇÃO E SUA

CORRELAÇÃO COM A TEOLOGIA E A

EDUCAÇÃO – UMA CONTRIBUIÇÃO

PARA O DESENVOLVIMENTO DO

ESTADO DE TOLERÂNCIA1

“A percepção do desconhecido é a mais fascinante das experiências. O homem que não tem

os olhos abertos para o misterioso passará pela vida sem ver nada”.

Albert Einstein

_____________________________________ RESUMO

Os dilemas sociais da atualidade fazem parte do cotidiano dos educadores no Brasil, bem como, estão de alguma maneira conectados à religião. É evidente, que muito dos conflitos sociais no Brasil estão no âmbito das transformações e dos novos contornos que a religião vem recebendo em meio às expressões múltiplas da fé e de suas controvérsias. Assim, este artigo procura elucidar junto aos educadores que atuam no ensino superior, o impacto que o contexto da experiência religiosa protestante no Brasil tem na educação. Ajuíza a força que a religiosidade protestante possui e que emiti opiniões delimitando convicções. Palavra-chave: Religião, Conflito, Educação, Teologia, Tolerância.

_____________________________________ ABSTRACT

The social dilemmas of the present day are part of the daily life of educators in Brazil, as well as, they are somehow connected to religion. It is evident that much of the social conflicts in Brazil are within the scope of the transformations and the new contours that the religion has received amid the multiple expressions of the faith and its controversies. Thus, this article seeks to elucidate with the educators who work in higher education, the impact that the context of the Protestant religious experience in Brazil has on education. It adjusts the force that Protestant religiosity possesses and that it emitted opinions delimiting convictions. Key words: Religion, Conflict, Education, Theology, Tolerance.

1 O termo “Estado de Tolerância” neste artigo tem seus pressupostos baseados na

proposta de John Locke no texto intitulado “Carta acerca da Tolerância de 1689”; neste, Locke argui que a Tolerância é uma das principais características da verdadeira religião. Para Locke a religiosidade contempla a respeitabilidade às crenças e ao relativismo filosófico que as envolve, de sorte que, para a época da produção do seu texto, Locke foi considerado um liberal, e por esta razão se tornou uma referência no tocante à reflexão entre Religião, Estado e Política.

REVISTA CIENTÍFICA DIGITAL GAMALIEL

PERIODICIDADE SEMESTRAL

CURSO DE TEOLOGIA FATEJ/FADISA

CONSELHO EDITORIAL Direção Cientifica Intelectual: Reitora: Dra. Arleide Braga

Cursando o 2º Doutorado pela PUC | SP.

Pós Doutora em Direito Constitucional pela

Universitá degli Studi di Messina – Itália.

Doutora em Ciências Jurídicas e Sociais pela

Universidad del Museo Social Argentino – UMSA –

Bs. As. | ARG.

Mestrada em Direito pela Universidade

Metropolitana de Santos | SP – UNIMES.

Pós Graduação em Direito Previdenciário e Direito

do Trabalho pela Universidade Gama Filho | RJ.

Graduação em Letras (Licenciatura) pelo Centro

Universitário de Santo André | SP.

Presidente da Comissão de Direito Previdenciário da

OAB – Santo André | SP – Triênio 2016/2018.

Diretora Estratégica: Dra. Karina Costa Braga

Mestranda em Direito - PUC | SP.

Diretora e Procuradora: Dra. Karen Costa Braga

Mestre em Direito - PUC | SP. EDITOR RESPONSÁVEL Me. Marcelo Alves Dantas

[email protected] CORRESPONDÊNCIA / CONTATO FATEJ - Faculdade de Tecnologia Jardim. FADISA - Faculdade de Direito Santo André. Campus I - R. Almirante Protógenes, 44 - B. Jardim - Santo André - SP CEP 09090-760 (11) 4436-6489 | (11) 4992-3822 (11) 95238-4306 | (11) 99891-4846 COLABORADORES: Artigos:

Prof. César Rocha Lima- Doutor

Prof. Marcelo Alves Dantas - Mestre

Prof. Wilson Ferreira de Souza Neto - Mestre

Prof. Anderson Savedra da Silva - Mestre Comunicação:

Prof. Kelly Cristina Marcelino Tederixe - Especialista

autor Prof. Marcelo Alves Dantas

[email protected]

Revista Cristã Gamaliel Criação ABPC – Academia Brasileira de Pensadores Cristãos. Programa do Curso de Teologia – FATEJ / Reconhecido pelo MEC – Portaria 574/2017.

Nome da Revista Científica Gamaliel – Fatej / Fadisa | Vol.1 | Nº. 1 | Agosto/Novembro - Ano 2019 | p. 2

INTRODUÇÃO

Este artigo procura demonstrar a teologia, enquanto detentora de critérios edu-

cacionais que justapõe: a compreensão de que a experiência religiosa quando analisa-

da é uma ferramenta que elucida as limitações racionais inerentes da mente humana,

permitindo assimilar a alienação da razão e o comprometimento da sociedade atual;

analisa a obstrução do diálogo e do respeito que retarda a consolidação do Estado de

Tolerância. Portanto, tem como interesse elucidar e contribuir com a conscientização

dos docentes que atuam no ensino superior, bem como, auxiliar no exercício das fun-

ções pedagógicas. Argui as tensões entre a consciência teológica e a educação no en-

sino superior. Atenta para a importância da percepção que a teologia produz e sua in-

tersecção nos Projetos Pedagógicos de Curso (PPC). Evoca a conscientização do sa-

ber teológico como vetor necessário de conscientização para a educação no século

XXI.

Platão no Livro VII página 317, por meio da alegoria conhecida como Mito da

Caverna argui a importância libertadora da percepção, de forma que, torna-se imprete-

rível trazer a lembrança sua narrativa que se inicia declarando a importância da educa-

ção, tanto quanto, os prejuízos de sua ausência. A argumentação platônica supõe uns

homens vivendo nos limites de uma caverna subterrânea, onde por uma pequena fres-

ta se dá uma entrada de luz abrangendo a caverna em seu todo. Os habitantes da ca-

verna, não conhecem outro universo, senão o da pequena caverna em que habitam

desde a infância, tendo como agravantes algemas e grilhões nas pernas e pescoços,

sendo assim, impedidos de ausentar-se do lugar e tendo a mobilidade comprometida,

de tal maneira que, lhes é facultado permanecer no mesmo local, e tendo o olhar fixo

sempre para frente. Na caverna se faz queimar ao longe uma fogueira por detrás de-

les, dando-lhes certa iluminação; a sua frente encontra-se uma parede tendo o reflexo

da iluminação do fogo, nesta se faz projetar as sombras de movimentação de traba-

lhadores, animais, dentre outras ocupações. Contudo, nada mais lhes é acessível, se-

não as imagens projetadas na dimensão da parede da caverna, de forma que, uma vez

não transpondo o mundo subterrâneo da caverna para o lado de fora, lhes falta o

acesso e conhecimento do universo externo. O Mito da Caverna tem a intenção de

elencar o sentido e o valor da percepção por meio da ruptura dos limites impostos a

experiência humana no interior da caverna. Portanto, dependendo do lugar e dos

acessos que o ser humano possuir, aí se estabelecerá a sua percepção e sentido da

realidade, de forma que, acessível lhe é apenas as sombras dos que passam do lado

Me. Marcelo Alves Dantas

Revista Científica Gamaliel – Fatej / Fadisa | Vol.1 | Nº. 1 | Agosto/Novembro - Ano 2019 | p. 3

de fora da caverna. Ora, o fato é que vivendo desde a infância delimitados no mundo

subterrâneo da caverna, nunca tendo acesso ao lado de fora, estavam limitados, não

conhecendo outra claridade, senão à luz da fogueira e as sombras projetadas na pare-

de, porém, sair da caverna e conhecer a luz do Sol e o universo externo, propõe novos

desafios e novas percepções do mundo exterior a caverna.

Esta introdução, ainda que sucinta, tem como objeto a delimitação e a importân-

cia da teoria da percepção como meio que acessa a realidade. Convém salientar a im-

portância da teoria da percepção no contexto da teologia, destacando o seu papel fun-

damental na elaboração do discurso e no progresso do conhecimento, viabilizando o

Estado de Tolerância.

A percepção é a construção ativa de um estado neural que se correlaciona a elementos biologicamente relevantes do ambiente. Esta correlação, longe de estabelecer uma representação fiel do mundo, guia nossas ações na elabora-ção de comportamentos adaptativos, sendo, portanto, condicionada por fatores evolutivos. Já que a construção de um percepto é um processo intrinsecamente ambíguo, discrepâncias perceptivas podem surgir a partir de condições idênti-cas de estimulação (BALDO, 2003:06).

Destaca-se a relevância da percepção, enquanto aquela que constrói, correlaci-

ona, elabora e guia as ações humanas. Ainda é de sublimidade destacar os termos,

elaboração, adaptação, condicionamentos, evolução, ambiguidade, discrepâncias;

porquanto, assim é a percepção, um universo de sentidos, imagens, visões e compre-

ensões, que se integram, e que se desintegram cotidianamente, todavia, mesmo diante

de condições idênticas com suas variáveis, permite acessar fragmentos da realidade.

I - METODOLOGIA DA PESQUISA

O método se constitui de pesquisa bibliográfica, segundo Prodanov o método

bibliográfico se define da seguinte maneira:

Pesquisa bibliográfica: quando elaborada a partir de material já publicado, cons-tituído principalmente de: livros, revistas, publicações em periódicos e artigos científicos, jornais, boletins, monografias, dissertações, teses, material cartográ-fico, internet, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com todo material já escrito sobre o assunto da pesquisa. Em relação aos dados co-letados na internet, devemos atentar à confiabilidade e fidelidade das fontes consultadas eletronicamente. Na pesquisa bibliográfica, é importante que o pesquisador verifique a veracidade dos dados obtidos, observando as possíveis incoerências ou contradições que as obras possam apresentar (PRODANOV, 2013:54).

Nome da Revista Científica Gamaliel – Fatej / Fadisa | Vol.1 | Nº. 1 | Agosto/Novembro - Ano 2019 | p. 4

O método comporta análise bibliográfica interdisciplinar, tanto quanto, das com-

parações histórico-sociais, políticas e religiosas descritas em obras literárias.

Este artigo apetece despertar o interesse pela percepção que teologia proporci-

ona, enquanto teoria que parte do discurso de Deus e da vida, tendo parte de seus

pressupostos caracterizados por grupos através da experiência religiosa de comunida-

de, o que de antemão aprovisiona a compreensão da força da religião, enquanto ajun-

tamento da fé, considerando a sinergia dos parâmetros de doutrinação, ou seja, a ação

ou esforço simultâneos, cooperação, coesão; trabalho ou operação associados; por-

tanto, ao se tratar de grupos religiosos, falamos da percepção de elos que se firmam e

crenças que se enrijecem.

Contudo, considera-se que a ortodoxia protestante não é totalmente rígida, mas

de transformações lentas, as palavras do Pe. Josafá Carlos de Siqueira, S. J., auxilia

na compreensão de que:

A história do cristianismo nos mostra que o surgimento de seitas cristãs sempre foi acompanhado de crescimento, apogeu e declínio, pois a melhoria das condi-ções econômicas, o aumento da consciência crítica e da escolaridade, e a pou-ca solidez teológica, são fatores que condicionam a expansão e a retração do fenômeno religioso na sociedade (JACOB, 2013:6).

Assim, sustenta-se que o fenômeno do crescimento religioso, seu apogeu e de-

clínio, delineasse por meio das questões vinculadas a economia, o aumento da cons-

ciência crítica, da escolaridade e da pouca solidez teológica, condicionando a expan-

são e retração do fenômeno religioso. O quadro permite assimilar que mudanças são

partes de um processo histórico-teológico, bem como sociocultural, de sorte que a aná-

lise bibliográfica com ênfase na percepção auxilia para melhor compressão do fenô-

meno.

Ainda que o fenômeno da religiosidade no âmbito do protestantismo conte com

certa dose de ortodoxia e conservadorismo, pode se identificar uma crise de autentici-

dade, nas palavras do teólogo presbiteriano Lopes, (2007:07), apesar da grande eufo-

ria pelo expressivo crescimento, os protestantes também devem ser compreendidos

por seus problemas doutrinários, suas crises teológicas, seus grupos sectários e ex-

tremistas, um verdadeiro paradoxo que afeta diretamente a questão da autenticidade.

Embora o universo da experiência religiosa seja tão relativo e complexo, torna-

se necessário refletir sobre a teoria da percepção, como um dos vetores que abaliza os

planejamentos pedagógicos na contemporaneidade.

Me. Marcelo Alves Dantas

Revista Científica Gamaliel – Fatej / Fadisa | Vol.1 | Nº. 1 | Agosto/Novembro - Ano 2019 | p. 5

2. O PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO A PARTIR DOS

PRESSUPOSTOS DA TEORIA DA PERCEPÇÃO

Considerando algumas autoridades no âmbito da docência no ensino superior,

optei por Agnela da Silva Giusta2, professora Adjunta do Departamento de Ciências

Aplicadas à Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas

Gerais (UFMG), autora de um artigo, cuja releitura atenta para as “teorias e concep-

ções de aprendizagem que comumente subsidiam as práticas pedagógicas, as contra-

dições que marcam a produção do conhecimento psicológico, sendo desveladas atra-

vés da explicitação dos pressupostos epistemológicos”. Seus questionamentos explici-

tam certa complexidade na psicologia, porquanto, resume que as teorias não definem

o campo total da produção do conhecimento psicológico, e muito menos o esgotam.

Conforme Giusta, o conceito de aprendizagem emergiu das investigações empi-

ristas em Psicologia, investigações cujo pressuposto, é de que todo conhecimento pro-

vém da experiência, sendo sua expressão mais imponente o behaviorismo. Sua refle-

xão postula que a Gestalt opõe-se ao behaviorismo por ter um fundamento epistemo-

lógico de tipo racionalista, ou, mais precisamente, por pressupor que todo conhecimen-

to é anterior à experiência, sendo fruto do exercício de estruturas racionais, pré-

formadas no sujeito.

Tendo seu olhar voltado para os educadores do ensino superior, questiona a te-

se, de que o tratamento dado à aprendizagem pelas duas correntes em foco é, antes

de tudo, reducionista. O behaviorismo, como toda teoria positivista, reduz o sujeito ao

objeto, já a Gestalt, como uma teoria racionalista, faz o contrário. Para ela o behavio-

rismo acentua o primado do objeto, mas ignora a objetividade, destruindo-se, portanto,

pela sua própria prática. Assim, Giusta pressupõe que o behaviorismo é um objetivis-

mo sem objetividade, a Gestalt é um subjetivismo sem subjetividade, o que dá no

mesmo.

Suas observações levantam questionamentos os quais, segundo ela, devem

nortear os projetos pedagógicos, são considerações que argumentam o fracasso das

ações pedagógicas assentadas na concepção positivista de aprendizagem, as quais

silenciam os alunos, isolam-nos e os submetem à autoridade do saber dos professo-

res, dos conferencistas, dos textos, dos livros, das instruções programadas, das nor-

2 Agnela da Silva Giusta - Professora Adjunta do Departamento de Ciências Aplicadas à Educação da Faculdade de Educação da

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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mas ditatoriais da instituição, e tudo isso para chegar a um único resultado: ao falso

conhecimento e à subordinação.

Giusta, com base em (Piaget, 1976-prefácio) aprecia a aproximação dos traba-

lhos iniciados por este, bem como, os que incorporam as contribuições dos especialis-

tas do centro de epistemologia genética, aprovisionando os elementos necessários, e

dando sustentação ao que ele qualifica como ideia central de sua teoria: a de que "[...]

o conhecimento não procede nem da experiência única dos objetos, nem de uma pro-

gramação inata pré-formada no sujeito, mas de construções sucessivas com elabora-

ções constantes de estruturas novas".

A teoria de Piaget é resultante da relação sujeito X objeto, relação essa em que os dois termos não se opõem, mas se solidarizam, formando um todo único. As ações do sujeito sobre o objeto e deste sobre aquele são recíprocas. O ponto de partida não é o sujeito, nem o objeto, e, sim, a periferia de ambos; assim, o desenvolvimento da inteligência vai-se operando da periferia para o centro, na direção dos mecanismos centrais da ação do sujeito (dando lugar ao conheci-mento lógico-matemático) e das propriedades intrínsecas do objeto (dando lu-gar ao conhecimento do mundo). Essa direção no sentido do sujeito e do objeto não deve ser entendida como uma polarização: o conhecimento lógico-matemático e o conhecimento do mundo objetivo se relacionam mutualmente. O pensamento humano pretende, legitimamente, deter a possibilidade, o poder de atingir a verdade absoluta. O pensamento humano pretende possuir a sobe-rania sobre o mundo e o direito absoluto sobre a verdade 'infinita'. O pensamen-to dos indivíduos não pode ter tais pretensões; é sempre finito, limitado, relativo. Mas essa contradição é resolvida pela sucessão das gerações humanas e pela cooperação dos indivíduos nessa obra coletiva que é a ciência. (LEVEBVRE, 1979:100).

Giusta, com precisão faz considerações que consentem por meio da psicologia,

delimitar o relativismo e a finitude da razão humana, auxiliando na limitação das con-

cepções de aprendizagem de teor mecanicista e idealista; seus pressupostos assina-

lam a necessidade da averiguação no campo da Psicologia, os quais emitam novas

formulações superando as teorias mecanicistas e idealistas.

Para Giusta, a percepção no que diz respeito à aprendizagem, tem sua deman-

da no campo da psicologia e da sociologia, isto se refle, quando ao mencionar Piaget,

nota que o sujeito constitui com o meio uma totalidade, sendo, portanto, passível de

desequilíbrio, em função das perturbações desse meio, de forma que, é impossível en-

carar a vida psíquica, senão, sob a forma de suas relações recíprocas. Isso o obriga a

um esforço de adaptação, de readaptação, a fim de que o equilíbrio seja restabelecido;

portanto, a adversidade a que o indivíduo está sujeito o torna escravo das circunstân-

cias e de uma ética circunstancial, de modo que, a educação atua na adaptação, ou no

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restabelecimento do equilíbrio, comportando dois processos distintos, porém indissoci-

áveis, que são a assimilação e a acomodação.

Portanto, Giusta com base nas aproximações epistemológicas da psicologia,

contribui para a apreensão, de que os litígios educacionais e os conflitos sociais estão

estritamente ligados às questões psicológicas, sendo relevante a teoria das percep-

ções, enquanto fonte e recurso para sensibilização do educador no século XXI. É sob

as bases até aqui sugestionadas, que se fundamentam os argumentos de que a teolo-

gia deve ser vista como necessária e elaboradora de percepções contundentes para o

ensino superior, cuja contribuição é condescendente para o desenvolvimento do Esta-

do de tolerância.

3. PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO E CONSCIENTIZAÇÃO NO ENSINO

SUPERIOR - A PERSPICÁCIA DA TEOLOGIA

Faz-se necessário levar em consideração o significado de planejamento educa-

cional, planejamento curricular e planejamento de ensino.

Luckesi3, (1992:121,122) apresenta as três questões de forma relevante, sendo

o "Planejamento Educacional: os procedimentos elaborados sob a lógica que aborda

cientificamente os problemas de educação; definindo prioridades e considerando a re-

lação entre os diversos níveis do contexto educacional. Planejamento Curricular: - co-

mo uma tarefa multidisciplinar que delimita a organização de um sistema de relações

lógicas e psicológicas, levando-se em conta a complexidade do conhecimento, porém

viabilizando o processo ensino-aprendizagem; procura relevar a previsão de todas as

atividades que o educando realiza sob a orientação da escola para atingir os fins da

educação. Planejamento do Ensino: - como previsão inteligente das etapas do trabalho

escolar que envolvem as atividades docentes e discentes. Segurança, economia, efici-

ência da relação ensino-aprendizagem, possibilitando melhores resultados e maior

produtividade. Sob essa interconexão de educação, currículo e ensino, postula-se o

dialogar dos projetos pedagógicos para a contemporaneidade, e para tanto, a teoria

das percepções, junto à teologia, funciona como um vetor para o planejamento peda-

gógico e a atividade na docência do ensino superior.

3 Doutor em Filosofia da Educação pela PUC/SP, Professor da Universidade Federal da Bahia - UFANA -e da Universidade

Federal de Feira de Santana. Planejamento e Avaliação na Escola: articulação e necessária determinação ideológica.

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De acordo com Assmann4 (1998:65) educar é [...] recriar novas condições inici-

ais para auto-organização das experiências de aprendizagem [...] educar é ir criando

continuamente novas condições iniciais de transformar todo o espectro de possibilida-

de pela frente.

Seguindo este modelo de educação, a EST - Escola de educação Luterana em-

penhou-se na busca pelo reconhecimento do Curso de Teologia, sendo a primeira no

Brasil a gozar de seus benefícios.

Em 1985 os luteranos deram mais um passo importante, ao criarem a Escola Superior de Teologia (EST) da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, englo-bando cinco institutos, ou os cinco ramos da formação teológica – Antigo Tes-tamento, Novo Testamento, Teologia Sistemática, História Eclesiástica e Teo-logia Prática. Toda esta trajetória dedicada aos luteranos tem como objetivo demonstrar o importante papel que esta denominação teve com o surgimento do Parecer CNE/CES

5 nº 241/1999, que oficializou o ensino teológico no país,

pois a EST foi a primeira instituição teológica brasileira oficializada pelo Ministé-rio da Educação, com o curso de Bacharelado em Teologia.

Entretanto, o fator mais importante na questão da Escola Luterana, está no

aproveitamento no importante papel do Parecer CNE/CES nº 241/1999, oficializando o

ensino teológico no país, sendo a partir deste ano, que a teologia passa a tomar seu

impulso e buscar um diálogo de maior impacto na sociedade brasileira. Portanto, trata-

se de uma área da educação, cujos valores e sentido são ainda desconhecidos por

muitos. De modo que, em se tratando da teologia como processo de educação no en-

sino superior e o planejamento educacional na contemporaneidade, torna-se interes-

sante o argumento de Barbosa (2007:01) ao mencionar que a história da Educação e a

história da Igreja possuíram vínculos expressivos em determinados momentos, sendo

fonte de influências recíprocas; destaca que na Idade Média a relação educação-igreja

foi intensa, a ponto de refletir-se na Igreja como o núcleo encarregado pela educação

visando à garantia da instrução de seus clérigos, bispos e abades, fomentando nas

crianças e jovens as aspirações pela vida religiosa. De sorte que, a igreja tornou-se

responsável pela organização e manutenção da educação. Cita que Matinho Lutero

(1483–1546), monge da ordem de Santo Agostinho, sustentou a defesa da Reforma do

ensino secundário e da universidade, junto à criação de escolas de educação elemen-

tar com acesso a população. Segunda Barbosa, Lutero é reconhecido como um crítico

do sistema educacional de sua época, sendo suas concepções baseadas numa edu-

cação cristã; menciona que Lutero em seus escritos ao apresentar uma nova proposta

4 Apud. Edinalva Madalena Almeida Mota / Angela Notarantonio. Planejamento de Ensino Numa Perspectiva Crítica. UNOPAR

Cient., Ciênc. Human. Educ., Londrina, v. 12, n. 2, p. 63-69, Out. 2011. Acesso: 17/01/2018. 5 CNE – Conselho Nacional de Educação / CES – Câmara de Educação Superior.

Me. Marcelo Alves Dantas

Revista Científica Gamaliel – Fatej / Fadisa | Vol.1 | Nº. 1 | Agosto/Novembro - Ano 2019 | p. 9

para o currículo escolar, baseava-se nas obras de Aristóteles julgando-os como livros

nocivos, e acusando de que estes levavam as pessoas para mais longe da Bíblia, as-

sim fazendo uma crítica ao sistema medieval que se baseava na filosofia de Aristóteles

e na qual nada de útil se aprendia. Observa-se que Lutero fora influenciado por uma

formação teológica, cuja crítica lhe permitiu ir um pouco além de seu tempo combaten-

do as restrições impostas pelo sistema religioso de seus dias, contudo seu radicalismo

teológico e sua postura essencialmente bíblica, o colocou em oposição à filosofia Aris-

totélica.

Evidencia-se em Lutero, o pressuposto de que a teologia atua como fonte de

percepção crítica, porém, também pode se tornar uma fonte restritiva de liberdade,

porquanto, Lutero fixou em seu espírito de Reforma Protestante, a atitude mantenedo-

ra de um estado absolutista, deflagrando intolerâncias, como consequência, chocou-se

com as transformações sociais de seu tempo, cujas raízes estavam subjacentes no

movimento iluminista de sua época, a saber, o século XVI, movimento este determi-

nante para o desenvolvimento do Estado Laico.

Portanto, é fato que o espírito da Reforma Protestante em sua origem não coa-

duna com o espírito, tanto quanto, com os efeitos de uma globalização. De forma que,

não é suficiente aos educadores apenas compreender os pressupostos teóricos que

envolvem o litígio, é preciso entender as questões fundamentais que dificultam a rela-

ção ensino-aprendizagem. Assim, os argumentos da teoria da percepção, junto à teo-

logia, permitem opinar, de que às crenças estabelecidas no ambiente das experiências

religiosas protestantes de base reformada, fazem parte intrínseca das barreiras que

dificultam o processo de ensino-aprendizagem na história. Ainda sim, convém avultar,

que não é de natureza simplista a interpretação do que se denomina “Protestantismo”.

Ribeiro (2007:01) discorre de forma sucinta, porém objetiva, a radicalidade histó-

rica do Protestantismo brasileiro, percorrendo o caminho das obras literárias publica-

das por Oliveira Vianna (1920), Alceu Amoroso Lima (1931) e Gilberto Freyre (1933);

perpassa por diversos autores e títulos, citando Batistas, Presbiterianos, Metodistas,

Igreja Congregacional, Pentecostalismo e Neopentecostalismo, fundamentando de

maneira coerente os períodos e as transformações do protestantismo no Brasil. O arti-

go destaca “a diversidade institucional, litúrgica, doutrinária, ética e política, dentre ou-

tras variáveis, indicando a quase impossibilidade de se estudar o protestantismo brasi-

leiro como um todo”. São bem estabelecidas as palavras do pesquisador Robinson

Cavalcanti ao dizer que não existe um protestantismo brasileiro, mas “protestantismos

no Brasil”. Todavia, a presença de um único livro, a Bíblia, onde todos bebem de uma

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mesma fonte, unifica e planifica até certo ponto a doutrinação protestante, de maneira

que o absolutismo é a matriz que faz o sustento de pontos específicos da fé cristã. Os

apontamentos fazem menção do impacto da divulgação da Bíblia, bem como da in-

fluência do protestantismo na educação e na cultura brasileira, ainda que haja evidên-

cias das demandas entre católicos e protestantes. O gráfico abaixo mostra a produção

literária, permitindo uma breve percepção da produção intelectual.

Figura 1: Produção Intelectual na América Latina no

Âmbito protestante - Pentecostalismo e Carismatismo

Fonte: O Protestantismo Brasileiro: Objeto em Estudo.

REVISTA USP, São Paulo, n.73.

Uma vez que, o Protestantismo brasileiro se manifesta através do protecionismo

do fiel, sobrepõe imperativamente uma ortodoxia paradoxal marcada muitas vezes pela

falta de lucidez teológica coerente, permanecendo sob um viés fundamentalista, o que

torna evidente um tipo de comportamento, cujas concepções são apinhadas de resis-

tência. Sendo dada estatística, uma forma de gerir percepções de um determinado es-

tado ou situação, delimita-se a importância de gráficos para aguçar e sensibilizar a

questão.

Sobre a formação das concepções, Ponte (1992:185) comenta:

As concepções formam-se num processo simultaneamente individual (como re-sultado da elaboração sobre a nossa experiência) e social (como resultado do confronto das nossas elaborações com as dos outros). As concepções têm uma natureza essencialmente cognitiva. Atuam como uma espécie de filtro. Por um lado, são indispensáveis, pois estruturam o sentido que damos às coisas. Por outro lado, atuam como elemento bloqueador em relação a novas realida-des ou a certos problemas, limitando as nossas possibilidades de atuação e compreensão.

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A ênfase está no elemento bloqueador e limitador que inviabiliza a compreen-

são, sendo este um fator preponderante que deve ser levado em consideração para

efeitos de conscientização do educador e seus desafios atuais.

Conforme Jacob (2013) sabe-se que a expansão das igrejas pentecostais como

um ramo do protestantismo se constitui no principal fator da transformação do perfil

religioso no Brasil, principalmente nos anos 1980. Na discussão está a redução do

número de católicos, destacando o crescimento dos evangélicos pentecostais e ar-

guindo como um dos principais fatores da diversificação religiosa brasileira. Justapõe o

fato, de pessoas que declaram pertencer a uma das religiões do grupo pentecostal se

encontrar em constante aumento no país: 3,9 milhões em 1980, 8,2 milhões em 1991,

17,6 milhões em 2000 e 25,4 milhões em 2010. Exige atenção, por razão de que a po-

pulação pentecostal dobra a cada década entre 1980 e 2000 e no período de 2000 a

2010, o crescimento, apesar de significativo, é inferior ao das décadas anteriores. Em-

bora o censo e as estatísticas sejam caraterizados pelos pentecostais delimitados co-

mo: “determinados e indeterminados”, e haja uma variável na questão de identidade, é

possível conhecer os indeterminados pelo estado de trânsito religioso, diagnosticado

pelo tipo de comportamento que lhes é característico. Não obstante, o pentecostalismo

contar com diversos grupos, ainda sim o termo “Pentecostal” atua como força motriz da

crença religiosa e mantém uma identidade que lhes é comum, a saber: a crença numa

revelação divina especial e singular, crença essa que forja a unidade na diversidade

dos grupos. Contudo, impetra-se com clareza a força que o Protestantismo Pentecos-

tal exerce no País, o que deve ser considerado como relevante na condução dos proje-

tos pedagógicos que lidam no cotidiano com a mentalidade ortodoxa e absolutista pró-

pria do universo do protestantismo de vertente pentecostal.

Neto6 (2014) faz notório o questionamento acerca da complexidade do conhe-

cimento, busca em Edgar Morin, o argumento a não existência de ciência pura, nem

verdade pura no conhecimento, partindo dessa premissa, pondera, que desde o século

XVI aspectos da teologia acastelam uma Reforma Protestante, sob a hipótese de uma

ruptura com o catolicismo; este último, interpretado como experiência religiosa subser-

viente e manipuladora, subsidiada por um sistema de indulgências dissimulador da

verdade; contudo, contraditoriamente, emerge-se o movimento protestante pentecostal

recriando experiências religiosas detentoras de intepretações subjetivas, carentes de

fundamentação metodológica e científica coerentes. Logo, o argumento do contraditó-

rio se funda no que se institui como Reforma, porquanto, é insustentável a tese da Re-

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forma com base numa verdade absoluta, senão, quando subsidiada pelo conceito de

“revelação7”; porquanto, o absolutismo é filosoficamente contraditório para atualidade

das reflexões acadêmicas no século XXI.

Figura 2 - Número de Fiéis das Principais Igrejas Pentecostais

Fonte: IBGE, Censo Demográficos de 1991, 2000, e 2010

O gráfico reforça a compreensão do impacto do crescimento e da força do pro-

testantismo pentecostal no país, entretanto, o objetivo não é criticar o pentecostalismo

em si e sua matriz doutrinária educacional delimitada pela Reforma Protestante, mas

entender o papel da teoria das percepções e da teologia no âmbito da experiência reli-

giosa protestante e consequentemente mensurar os pressupostos que auxiliem o de-

senvolvimento dos projetos pedagógicos da educação no século XXI. Cabe delimitar o

equivocado entendimento daquilo que se apreende por teologia no seio do protestan-

tismo, visando o diálogo inteligente e interdisciplinar. É importante enfrentar o litígio

que se estabelece e elucidar a compreensão da importância da teologia na educação,

assim, alimentar a análise da teologia, enquanto fonte de ciência crítica da religião,

buscando entender as bases da educação e da transformação social no século XXI.

Não se trata de reafirmação de fundamentalismos, mas da busca de esclarecimentos

que promovam a harmonia da existência humana levando-se em conta o universo do

sagrado, através da conscientização teológica.

Assim, torna-se indispensável aos educadores conhecer o significado e o papel

da teoria das percepções e teologia, bem como, a sua contribuição nos projetos peda-

6 A Visão de Complexidade de Edgar Morin para o Entendimento da Verdade nos Estudos Organizacionais.

7 O conceito de revelação é essencial para a ortodoxia cristã. A fé reformada está alicerçada no entendimento de que a Bíblia é a

revelação especial de Deus inspirada e norma suprema de fé e prática. Após o movimento do humanismo renascentista, a Escritura deixou de ser a única fonte de autoridade para a teologia e outras fontes passaram a ser abraçadas pelos teólogos. No

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gógicos contemporâneos, visando à construção da interdisciplinaridade e de uma cos-

movisão mais coerente do mundo hodierno. Para isto, é necessário que os projetos

pedagógicos façam a inclusão das disciplinas que agucem as percepções e que sejam

consideradas relevantes para o currículo, de forma que falem imperativamente a reali-

dade humana contemporânea, com efeito, isto só pode ser realizado a partir do estudo

analítico em busca do sentido e do valor que a disciplina possui, assim, esse artigo

propõe a valorização e necessidade da teoria das percepções com base na teologia

para os projetos pedagógicos.

Segundo Morin (1990:11),

“Todo conhecimento opera por seleção de dados significativos e rejeição de dados não significativos: separa (distingue ou desune) e une (associa, identifi-ca); hierarquiza (o principal, o secundário) e centraliza (em função de um nú-cleo de noções mestras)”.

Nos termos da teologia, enquanto percepção, a seleção de dados significativos,

bem como, sua rejeição, está conectada à reciclagem dos métodos justapostos para a

aquisição do conhecimento, tanto quanto, no acesso a historiografia, porquanto, na

teologia, os dados histórico-culturais são vetor importante no diálogo das estruturas

sociais, na percepção do conceito de tolerância de cada geração, e no desenvolvimen-

to da cosmovisão de cada indivíduo.

Neto, (2014:3) elenca que estudar o homem, tanto quanto o seu comportamen-

to, abarca dimensões complexas e específicas, sendo objeto de difícil mensuração,

cabendo ao estudo das ciências sociais e humanas a ação reflexiva que busca des-

vendar os seus mistérios, a força motriz dessa empreitada está na particular concep-

ção de que o homem como objeto científico, é uma ideia surgida apenas no século

XIX, tendo a Filosofia como aquela que sempre assumiu esse legado.

século 20, liberais, neo-ortodoxos e pentecostais passaram a utilizar outros critérios, como a razão, a experiência e a filosofia existencialista - FIDES REFORMATA XII, Nº 2 (2007:63-77).

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Figura 3 – Pentecostais no Brasil em 2010

Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2010

Conforme o gráfico do total dos evangélicos pentecostais que moram na cidade

de São Paulo, 44% não têm instrução ou possuem no máximo ensino fundamental in-

completo. Dados que aproximam a percepção que, embora seja relativa, de certa for-

ma aponta e delimita a importância do planejamento pedagógico.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo permite refletir e dar importância à teoria das percepções, co-

mo um importante vetor na análise do fenômeno religioso do protestantismo no Brasil,

marcado pelas manifestações de crescimento, de apogeu e declínio, tanto quanto, de

mudanças lentas e falta de solidez teológica. Destaca-se a expansão e a retração des-

te fenômeno religioso e suas implicações no contexto da educação. As indicações

subsidiam a teoria das percepções, enquanto instrumento dos planejamentos pedagó-

gicos contemporâneos, sua atualização mediante os processos de reflexão histórica e

psicológica a partir da teoria das percepções conforme proposta por Giusta. O artigo

permite a conscientização da crise de autenticidade dos evangélicos protestantes,

seus problemas doutrinários, crises teológicas, presença de grupos sectários e extre-

mistas, sendo este cenário um paradoxo que afeta diretamente a educação no Brasil, a

vida em sociedade, e a questão do desenvolvimento de um Estado de Tolerância.

A teoria das percepções pondera a realidade das transformações lentas do pro-

testantismo brasileiro e os relaciona a conscientização, lançando as bases da educa-

ção na contemporaneidade. Especificamente considera a vertente pentecostal evocan-

do a importância de uma percepção da alteridade religiosa, bem como, de suas impli-

cações para o contexto da educação no Brasil. Assim, os dados do artigo, quando

comparados, apontam que a teoria das concepções, junto à teologia, pode contribuir

com uma maior na percepção da realidade e aprimorar os planejamentos educacio-

nais. Evoca a responsabilidade dos educadores de curso superior de teologia, uma vez

que são estes os idealizadores dos princípios que norteiam as bases da educação reli-

giosa e do diálogo no cotidiano, de modo que, estes possam militar diligentemente e

diretamente nos projetos pedagógicos com maior exatidão.

Propõe a leitura sob o prisma da psicologia-teologia e as tensões vigentes na

contemporaneidade, em busca de soluções que atenuem as demandas e lancem luz

no desenvolvimento do Estado de Tolerância.

Assim, sugestiona que os projetos pedagógicos atuais, no exercício da docência

em nível superior, tenham em sua matriz curricular apontamentos que valorizem a per-

cepção da realidade como elemento intrínseco dos educadores no século XXI.

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REFERÊNCIAS

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LOPES, Augustus Nicodemus. Ascensão e Queda do Movimento Evangélico Brasileiro - O que estão Fazendo com a Igreja. São Paulo – Ed. Mundo Cristão, 2008.

LOPES, Augustus Nicodemus. Cheios do Espírito. São Paulo - Ed. Vida, 2007.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Planejamento e Avaliação na Escola: Articulação e Necessária Determinação Ideológica. Série Ideias n° 15. São Paulo: FDE, 1992.

MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. Trad. Dulce Matos. 2a ed. Lisboa: Instituto Piaget, 1990.

NETO, Vera Lúcia da Conceição. A Visão de Complexidade de Edgar Morin para o Entendimento da Verdade nos Estudos Organizacionais. Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), 2014.

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ARTIGOS / SITES

Barbosa, Luciane Muniz Ribeiro. As Concepções Educacionais de Martinho Lutero. Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. vol.33 no.1 São Paulo Jan./Apr. 2007- http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022007000100011 – Acesso: 21/03/2018.

GIUSTA, Agnela da Silva. Concepções de Aprendizagem e Práticas Pedagógicas http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982013000100003 – Acesso: 12/02/2018.

MOTA, Edinalva Madalena Almeida. / Angela Notarantonio. Planejamento de Ensino numa Perspectiva Crítica. UNOPAR Cient., Ciênc. Human. Educ., Londrina, v. 12, n. 2, p. 63-69, Out. 2011. Acesso: 17/01/2018.

RIBEIRO, Lidice Meyer Pinto. O Protestantismo Brasileiro: Objeto em Estudo. REVISTA – USP. São Paulo - n.73, p. 117-129, março/maio 2007. Artigo originalmente apresentado em forma de capítulo da tese de doutorado em Antropologia Social, apresentada à FFLCH-USP, intitulada “Religião/Magia/Vida de um Protestantismo Rural”, sob a orientação da profª. Drª. Margarida Maria Moura.

Autor – Me. Marcelo Alves Dantas

Docente FATEJ / FADISA Bacharelando em Direito - UNIESP/FAPAN Mestre em Ciências da Religião - UMESP; Mestre em Teologia do Novo Test. - FTBSP; Docência do Ensino Superior - UNOPAR; Bacharel em Teologia - UMESP.

E-mail: [email protected]