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© JMascaró 2009
Uma bonita entrevista com um tuareg. Víctor M. Amela entrevista Moussa Ag Assarid
Música: Lawrence da Arábia(Clique para avançar)
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- Não sei minha idade. Nasci no Deserto do Saara, sem documentos.
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- Nasci em um acampamento dos nômades tuaregs entre Timbuctu e Gao, ao norte de Mali. Fui pastor dos camelos,
cabras, cordeiros e vacas de meu pai. Hoje estudo gestão na Universidade de Montpellier.
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- Estou solteiro. Defendo aos pastores tuaregs. Sou muçulmano, sem fanatismo.
- Que turbante bonito!
- É uma fina tela de algodão: permite tapar o rosto no deserto, e continuar a ver e respirar através dela.
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- É de um azul belíssimo…
- Nós, os tuaregs, somos chamados de homens azuis por isso: o tecido solta alguma tinta e nossa pele adquire tons azulados.
- Como conseguem esse tom de azul anil?
- Com uma planta chamada índigo, mesclada com outros pigmentos naturais. Para os tuaregs o azul é a cor do mundo.
- Porque?
- É a cor dominante: é a cor do céu, do teto de nossa casa.
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- Quem são os tuaregs?
- Tuareg significa “abandonados”, porque somos um velho povo nômade do deserto, solitários e orgulhosos. “Senhores do Deserto”, é como nos chamam. Nossa etnia é a amasigh (bérbere), e o nosso alfabeto, o tifinagh.
- Quantos são?
-Uns três milhões, e a maioria permanece nômade. Mas a população diminue. “É preciso que um povo desapareça, para que saibamos que ele existiu!”, apregoava um sábio. Eu luto para preservar esse povo. - A que se dedicam?
- Pastoreamos rebanhos de camelos, cabras, cordeiros, vacas e asnos num reino de imensidão e de silêncio.
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-O deserto é realmente tão silencioso?
- Quando se está sozinho naquele silêncio, ouve-se o batimento do próprio coração. Não há lugar melhor para se estar sozinho.
- Que recordações de sua infância você conserva com maior nitidez?
- Desperto com a luz do sol e ali estão as cabras de meu pai. Elas nos dão leite e carne, nós as levamos onde há água e pasto… Assim fizeram meu bisavô, meu avô e meu pai… e eu. Não havia outra coisa no mundo além disso. E eu era muito feliz com isso.
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-De fato não parece muito estimulante…
- Mas é muito! Aos sete anos já deixam que você se afaste do acampamento para que aprenda coisas importantes: farejar o ar, escutar, apurar a vista, orientar-se pelo sol e pelas estrelas… E a deixar-se levar pelo camelo, se você se perder. Ele te levará onde há água.
-Saber isso é valioso, sem dúvida…
-Ali tudo é simples e profundo. Existem muito poucas coisas. E cada uma tem um enorme valor!
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- Então esse mundo e aquele outro são muito diferentes, não?
- Ali cada pequena coisa nos proporciona felicidade. Cada toque é valorizado. Sentimos uma enorme alegria pelo simples fato de nos tocarmos e estarmos juntos. Ali ninguém sonha com chegar a ser, porque cada um já o é!
- O que mais o chocou em sua primeira viagem à Europa? - Ver as pessoas correndo pelo aeroporto. No deserto só se corre quando vem uma tempestade de areia. Me assustei, é claro!
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- Eles apenas iam buscar suas malas…
- Sim, era isso. Também vi cartazes de mulheres nuas. Me perguntei: porque essa falta de respeito para com a mulher? Depois, no Íbis Hotel, vi a primeira torneira da minha vida, vi a água correndo e senti vontade de chorar…
- Que abundância! Que desperdício! Não?
- Todos os dias da minha vida consistiam em procurar água. Quando vejo as fontes ornamentais aquí e acolá, continuo sentindo por dentro uma dor tão intensa…
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-Tanto assim?
- Sim! No começo dos anos 90 houve uma grande seca. Morreram os animais e nós adoecemos. Eu tinha uns 12 anos e minha mãe morreu. Ela era tudo para mim! Me contava histórias e ensinou-me a contá-las muito bem. Ela me ensinou a ser eu mesmo.
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-O que aconteceu com você?
- Convenci meu pai que me deixasse ir à escola. Quase todo dia caminhava15km. Até que um dia o professor me arranjou um lugar para dormir e umasenhora me dava o que comer, quando eu passava em frente à sua casa. Entendi que essa ajuda vinha de minha mãe.
-De onde surgiu esse desejo de estudar?
- Uns dois anos antes, havia passado pelo nosso acampamento o rallyParis-Dakar, e uma jornalista deixou cair um livro de sua mochila. Eu o apanhei e lhe entreguei. Ela me deu o livro de presente. Era um exemplar do Pequeno Príncipe e eu prometi a mim mesmo que um dia conseguiria lê-lo.
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- E conseguiu.
-Sim! Foi assim que consegui uma bolsa de estudos na França.
- Um Tuareg na universidade!
- Ah, o que mais sinto falta aqui é o leite de camela... E o calor da fogueira, e de andar com os pés descalços na areia quente. Lá nós olhamos as estrelas todas as noites e cada estrela é diferente das outras, como cada cabra é diferente.Aqui, à noite, você olha para TV.
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-Sim! E o que você acha pior aqui?
- Vocês tem tudo, mas não acham suficiente. Vocês se queixam. Na França passam a vida reclamando! Aprisionam-se pelo resto da vida a uma dívida bancária, num desejo de possuir tudo rapidamente ... No deserto não há congestionamentos, e você sabe por quê? Porque lá ninguém quer ultrapassar ninguém!
- Conte-me um momento de extrema felicidade no seu deserto distante.
- Todo dia, duas horas antes do pôr do sol, a temperatura abaixa, masainda não chegou o frio, e os homens e os animais lentamente voltampara o acampamento e seus perfis ficam recortados em um céu cor de rosa, azul, vermelho, amarelo, verde...
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- Fascinante, na verdade...
- É um momento mágico ... Entramos todos na cabana e colocamos o chá para ferver. Sentamo-nos em silêncio, a ouvir a ebulição ...
- A calma invade todos nós, e o nosso coração bate ao ritmo do barulho da fervura...
-Que paz!
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-Aquí vocês tem relógio…
… lá temos tempo.
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NÓS TEMOS O RELÓGIO, ELES TEM O TEMPO!
NESSA NOSSA VIDA MARCADA PELO RELÓGIO, QUANTAS VEZES POR DIA NOS FALTA “O
TEMPO”?
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O tempo é como um rio.Você não pode tocar a mesma água duas vezes,porque a água que passou, não passará de novo.
Aproveite cada momento da vida... ENCONTRE TEMPO PARA VIVER!
Se você vive dizendo o quanto está ocupado, você nunca estará livre.
Se você vive dizendo que não tem tempo, você nunca terá tempo.
Se você vive protelando tudo para amanhã, esse amanhã nunca chegará.
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Aproveite cada momento da vida ... O tempo não espera por ninguém, nem volta para trás.