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LEITURALEITURALEITURALEITURALEITURA

EEEEE PRODUÇÃO PRODUÇÃO PRODUÇÃO PRODUÇÃO PRODUÇÃO

DE TEXTODE TEXTODE TEXTODE TEXTODE TEXTO

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Leitura eProdução de

Texto

copyright © FTC EaD

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98.É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito,

da FTC EaD - Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância.

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♦ PRODUÇÃO TÉCNICA ♦

Revisão Final ♦ Carlos Magno.

Imagens ♦ Corbis/Image100/Imagemsource

EQUIPE DE ELABORAÇÃO/PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO:

Presidente ♦Vice-Presidente ♦

Superintendente Administrativo eFinanceiro ♦

Superintendente de Ensino, Pesquisa eExtensão ♦

SOMESBSociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda.

FTC - EaDFaculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância

Diretor Geral ♦Diretor Acadêmico ♦

Diretor de Tecnologia ♦Gerente Acadêmico ♦

Gerente de Ensino ♦Gerente de Suporte Tecnológico ♦

Coord. de Softwares e Sistemas ♦Coord. de Telecomunicações e Hardware ♦Coord. de Produção de Material Didático ♦

Waldeck OrnelasRoberto Frederico MerhyReinaldo de Oliveira BorbaRonaldo CostaJane FreireJean Carlo NeroneRomulo Augusto MerhyOsmane ChavesJoão Jacomel

Gervásio Meneses de OliveiraWilliam OliveiraSamuel SoaresGermano Tabacof

Pedro Daltro Gusmão da Silva

Ilustração ♦ Francisco França Júnior

Equipe ♦ Ana Carolina Alves, Cefas Gomes, Delmara Brito,Ederson Paixão, Fabio Gonçalves, Francisco França Júnior,Israel Dantas, Lucas do Vale e Marcus Bacelar

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SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

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A ESCRITA

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A Escrita: Importância e PeculiaridadeO que dizem (e fazem) os Grandes AutoresOralidade e escrita: Diferentes mas não DicotomicasNíveis de linguagemO Texto EscritoCriando Estilos

Leitura: Novos Saberes, Novos Sabores

TEXTO: TIPOS E GÊNEROS

As Possibilidades Textuais:Texto Literário e Texto Não-LiterárioO Texto e o Texto Não-VerbalO Texto e os Fatores de ContextualidadeCoesão e Coerência: A Construção deSentidos e seus MecanismosIntertextualidadeCoesão e Coerência

TECENDO PALAVRAS E SENTIDOS

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LEITURA, ORALIDADE E ESCRITA

LEITURA

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TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 4 34 34 34 34 3

Conto: A poesia Inesperada do CotidianoCrônica: Uma Fotografia do CotidianoAtividade OrientadaGlossárioReferências Bibliográficas

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Leitura eProdução de

Texto

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Apresentação da disciplina

Caro Aluno!

Tenho um convite para fazer a você. Para isso, usarei as palavras do poetamineiro Carlos Drummond de Andrade, em “A Procura da Poesia”:

Chega mais perto e contempla as palavras.Cada umatem mil faces secretas sob a face neutrae te pergunta, sem interesse pela resposta,pobre ou terrível que lhe deres:Trouxeste a chave?

Bem, o convite está feito. As palavras e os textos estarão por toda parte docaminho que iremos trilhar. Precisamos olhá-las, contemplá-las, amá-las. Elas sãobasilares para a nossa percepção do mundo, para o reconhecimento da história da ohumanidade (que é a nossa própria história), para a valorização e a interação comoutro. É também através dela que nos inserimos como sujeitos ativos, reflexivos etransformadores na sociedade.

A palavra tem, sim, mil faces: ora nos faz perceber o outro, ora nos faz conhecera nós mesmos; ora é arma, ora é bálsamo; ora nos leva a reflexão e descoberta, oranos leva ao prazer e ao deleite. Todavia, muitas vezes, nossa relação com a palavraé tímida, agressiva ou simplesmente limitada e nos impede de tornar cotidiano oexercício de contemplação. Ou pior, não temos a chave, ou seja, desconhecemos asmúltiplas maneiras de compreendermos as palavras que estão no mundo para seremlidas, descobertas e saboreadas. Por conseguinte, também não sabemos usar asnossas próprias palavras, temos dificuldades em produzir os nossos própriosdiscursos.

Em suma, a inconsciência da importância da palavra em nossas vidas nosconfina num mundo superficial, sem dores nem delícias, sem conhecimento nemreconhecimento. A disciplina Leitura e Produção de Texto é mais que um convite auma relação amorosa e utilitária (salve-se a contradição) com a palavra. Ela tambémé um momento ímpar para acharmos a chave e começarmos a abrir as portas quenos conduzem aos infinitos reinos da palavra, pois nos subsidia com informaçõesrelevantes para ampliarmos os nossos conhecimentos lingüísticos, nos adentrando-nos no processo de constante formação como leitores e produtores de texto.

O convite está feito. Permita-me, mais uma vez, trazer Drummond a nossaconversa: “penetra surdamente no reino” das palavras. E usufrua todos os poderesque a linguagem proporciona.

Seja bem vindo!

Profa. Luciana Moreno

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Leitura eProdução de

Texto

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Saber ler sempre foi confundido com a possibilidade de reconhecer e decodificar ocódigo escrito, todavia fazer isso é meramente decifrar. Ler envolve mais saberes e, comodiria Rolland Barthes, muito mais “sabores”.

Aprendemos alguns modos de ler que já não mais condizem às necessidades domundo atual. Desta forma, cada leitor precisa ‘esquecer’ algumas técnicas de ler adotadaspelas instituições educacionais (que cada vez mais demonstram a sua ineficácia na formaçãode sujeitos leitores) e construir seus próprios modos de ler. Contudo, antes deste processode construção que se faz e se refaz (mas nunca se esgota), torna-se necessário oentendimento do que é leitura.

A leitura possui muitos sentidos. Tomar um em detrimento dos outros é uma formaparcial e superficial de concebê-la. É impossível tomar um conceito sem prejuízo dos outros,pois estes se complementam. O leitor é o responsável pelo controle deste processo, quecompreende algumas etapas; aí vão elas: a obtenção da informação; o uso consciente ouinconsciente de estratégias de compreensão leitora; a avaliação da informação obtida e aprodução de um juízo de valor sobre o lido.

Define-se leitura como atribuição de sentido à escrita, ou seja, quandolemos, estamos não só fazendo a versão oral do escrito, mas,

sobretudo, construindo sentido a partir do escrito,questionando-o e explorando o que está nele e além dele.O ato de ler é um processo não linear, pois o significado dotexto não está na soma das sucessivas palavras que ocompõem, por isso, o uso do dicionário para decifrar todas

as palavras desconhecidas é muitas vezes irrelevante. Atéporque, sem precisar consultá-lo, o leitor está sempre

inferindo, criando hipóteses...adivinhando sentidos.

EntãoEntãoEntãoEntãoEntão, onde estará o sentido?, onde estará o sentido?, onde estará o sentido?, onde estará o sentido?, onde estará o sentido?

Ousar e brincar, produzindo sucessivas adivinhações é uma ótima maneira de obtero acerto. O leitor, a todo momento, antecipa índices, a partir do que já conhece e fazassociações com aquilo que desconhece, atribuindo os significados possíveis ao ‘ex-ótico’,isto é, achando significação para tudo que até o momento encontrava-se fora (ex) do seucampo de visão (ótico). Ler é tratar com os olhos a linguagem feita para os olhos, afirmaFoucambert (1994), ou seja, a leitura da linguagem escrita exige o uso constante da memóriavisual.

Neste emaranhado de definições, ou melhor, nesta trama (termo mais propício quandose trata de texto), confunde-se a oralização e a leitura em voz alta com leitura propriamente

LEITURA

Leitura: Novos Saberes, Novos Sabores

LEITURA, ORALIDADE E ESCRITA

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Leitura eProdução de

Texto

dita. A primeira refere-se ao reconhecimento dos símbolos do código escritoe posterior construção dele, oralmente, a segunda é “a opção de traduziroralmente o que já foi compreendido na leitura”(Foucambert, 1994).

Finalmente, a leitura é atribuição de sentido ao texto escrito,usando as informações visuais e as informações prévias do leitor;envolve um leitor ativo que processa e examina o texto, guiado por umobjetivo. Vale ressaltar que a interpretação do texto variará de acordocom o objetivo do leitor. O sentido do texto não é uma tradução doleitor ao sentido que o autor quis dar a ele, portanto torna-se descabidaa pergunta: ‘o que o autor quis dizer?’, tão recorrente nos exercíciosescolares de interpretação, pois a aventura da construção do sentidodo texto desenvolvido pelo leitor envolve o texto per si, os conhecimentosprévios do leitor e seus objetivos.

‘Esse negócio de criança ler por conta própria é muito recente na história do mundo,afirma Ziraldo (2001).Sabemos que a formação do leitor de forma voluntária é um fenômenorecente em nossa sociedade, as crianças se tornam leitoras devido ao estímulo dos pais,professores, curiosidade ou vocação. Desta forma, se nós professores não formos leitoresvorazes como podemos estimular a criança a buscar o prazer através da leitura?

O que dizem os teóricos?O que dizem os teóricos?O que dizem os teóricos?O que dizem os teóricos?O que dizem os teóricos?

Para Negamine (2001), o ato de ler é um processo abrangente e complexo; é um processo de compreensão,

de intelecção de mundo que envolve uma característica essencial e singular ao homem: asua capacidade simbólica e de interação com o outro pela mediação da palavra.

Para Paulo Freire (1981),o ato de ler não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem

escrita, mas se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precedea leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidadeda leitura daquele.

Para Marisa Lajolo (2001),Ninguém nasce sabendo ler: aprende-se a ler à medida que se vive. Se ler livros

geralmente se aprende nos bancos da escola, outras leituras se aprendem por aí, nachamada escola da vida...

Para Isabel Sole (1998),a leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto; neste processo tenta-se

satisfazer [obter uma informação pertinente para] os objetivos que guiam sua leitura.

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Para refletir...Doze maneiras simples de tornar difícil a aprendizagem

da leitura:

11111.....Estabeleça como meta o domínio precoce das regras de leitura;

2.2.2.2.2.Cuide bem para que a fonética seja aprendida e utilizada;

3.3.3.3.3.Ensine as letras ou as palavras, uma a uma, certificando-se de que cada letra ou palavra

foi assimilada antes de passar para a seguinte;

4.4.4.4.4.Defina como objetivo principal uma leitura palavra por palavra perfeita;

5.5.5.5.5.Não deixe as crianças adivinharem; pelo contrário, exija que elas leiam com atenção;

6.6.6.6.6.Procure evitar de todas as maneiras que as crianças errem;

77777.....Dê um feed-back imediato;

8.8.8.8.8.Detecte e corrija os movimentos incorretos dos olhos;

9.9.9.9.9.Identifique os eventuais disléxicos e trate-os mais cedo possível;

111110.0.0.0.0.Esforce-se para que as crianças aprendam a importância da leitura e a gravidade

do fracasso;

1111111111.....Aproveite as aulas de leitura para melhorar a ortografia e a expressão escrita; insista

também em que os alunos falem a melhor língua possível;

111112.2.2.2.2.Se o método utilizado não lhe satisfizer, tente outro. Esteja sempre alerta para achar

material novo e técnicas novas.

(Artigo publicado em L’Education, 22 de maio de 1980. In: FOUCAMBERT, Jean. A leitura emquestão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994).

Esse texto dirige-se ao professor; todavia, bem que poderia se referir à forma comque nós aprendemos a ler na escola. Faça uma breve ‘viagem’ pela sua história de leitura,respondendo o questionário abaixo e tentando relacioná-lo com o texto Doze maneirassimples de tornar difícil a aprendizagem da leitura. Depois, socialize com seus colegas eprofessor as diversas respostas e construam a definição de vocês para a leitura.

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Leitura eProdução de

Texto

Saiba mais...O leitor traça planos, estratégias para obter, avaliar e utilizar

informação e, assim, construir significados, compreender o textolido. As estratégias de leitura se constroem e se modificam, poiso leitor desenvolve seus modos de ler através da leitura. Nós

O que é ler para você??

Em sua casa havia livros, revistas e jornais? ______________________________________________________________________

Havia alguém em sua casa que o (a) estimulava a ler? Quem era essapessoa? Antes de entrar na escola, já tinha familiaridade com o mundo daleitura?______________________________________________________________________

Você considera que suas experiências de leitura foram enriquecidas e estimuladas pelaescola? Fale sobre isso.______________________________________________________________________Como eram as atividades de leitura desenvolvidas pela escola?_______________________________________________________________Quais os livros lidos por você durante seu período escolar?____________________________________________________________Havia biblioteca na sua escola? Ela era freqüentada por você? Quais das açõesdesenvolvidas pelo professor aconteciam no espaço biblioteca?______________________________________________________________________

Você participa de atividades culturais, tais como teatro, cinema, concertos, festivaisde música, de dança, exposições? Quais e com que freqüência? ______________________________________________________________________

Você costuma comprar jornais, revistas, livros?_______________________________________________________________________

Você tem o hábito de tomar livros emprestados? De quem?______________________________________________________________________

Você costuma compartilhar suas leituras com alguém? Exatamente com quem?______________________________________________________________________

Você costuma freqüentar bibliotecas? Qual (is) e com que freqüência?______________________________________________________________________

O que é um clássico para você? Você já leu algum? Qual/quais?______________________________________________________________________

Nesse momento, você está lendo o quê?_______________________________________________________________________

Qual o livro que você indicaria para :

Seus amigos:___________________________________________________________Seus professores:_______________________________________________________Seus pais:_____________________________________________________________Seus alunos:_____________________________________________________________Seus filhos:_____________________________________________________________Seu (sua) companheiro (a):_________________________________________________Um estrangeiro:_________________________________________________________

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utilizamos as estratégias abaixo ao mesmo tempo e, muitasvezes, inconscientemente.

São quatro as estratégias de leitura.

a)Seleção: o leitor elege os índices mais relevantes e úteispara não ficar sobrecarregado de informações desnecessárias;

b)Antecipação: capacidade de antecipar o texto com basenas pistas do mesmo;o leitor prevê o que ainda não apareceu apartir de índices como gênero do texto, autor, título, contextode produção. Por exemplo, o leitor, ao deparar-se com um textode Esopo, certamente antecipará que se trata de uma fábula,há animais como personagens e uma moral ao término dahistória.

c)Inferência: percepção do que não está dito no texto deforma explícita, ou seja, deduções que podem ser confirmadasou não no decorrer do texto. O leitor tenta adivinhar asinformações das ‘entrelinhas’.Tais predições não são casuais;elas se baseiam nas pistas dadas pelo próprio texto, peloconhecimento conceitual e lingüístico do leitor.

d)Verificação: o leitor é o responsável pelo controle desua própria leitura; é ele que pode confirmar se foi capaz decompreender o texto, de construir sentido a partir dele, porisso faz a análise da compreensão, permitindo confirmar ourejeitar as deduções realizadas durante a estratégia deinferência, por exemplo.

Brincar de Ler...No texto abaixo, diversas palavras foram

subtraídas. Faça a leitura do texto vazado e recoloqueos vocabulos que você acha que foram retirados.Existem várias possibilidades de colocação de palavra.Só não é permitido alterar o sentido do texto!

As * pulgas

Muitas * caíram e caem na armadilha das * drásticas de coisas que não precisamde alteração, apenas de * . O que lembra a história de * pulgas.

Duas pulgas estavam conversando e então uma comentou com a outra:- Sabe qual é o nosso problema? Nós não voamos, só sabemos *. Daí nossa * de

sobrevivência quando somos percebidas pelo cachorro é *. É por isso que existem muitomais moscas do que *.

E elas contrataram uma * como consultora, entraram num programa de reengenhariade vôo e saíram voando. Passado algum tempo, a primeira pulga falou para a outra:

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Leitura eProdução de

Texto

- Quer saber? Voar não é o suficiente, porque ficamos grudadas ao *do cachorro e nosso tempo de reação é bem menor do que a velocidade da* dele. Temos de aprender a fazer como as * , que sugam o néctar e levantamvôo rapidamente.

E elas contrataram o serviço de consultoria de uma abelha, que lhesensinou a técnica do chega-suga-voa. Funcionou, mas não resolveu. Aprimeira pulga explicou o porquê:

- Nossa bolsa para armazenar * é pequena, por isso temos de ficarmuito tempo sugando. Escapar, a gente até escapa, mas não estamos nos * direito. Temosde aprender como os * fazem para se alimentar com aquela rapidez.

E um pernilongo lhes prestou uma * para incrementar o tamanho do abdômen.Resolvido, mas por poucos minutos. Como tinham ficado *, a aproximação delas erafacilmente percebida pelo cachorro, e elas eram espantadas antes mesmo de pousar. Foiaí que encontraram uma saltitante *:

- Ué, vocês estão *! Fizeram plástica?- Não, reengenharia. Agora somos pulgas adaptadas aos desafios do **. Voamos,

picamos e podemos armazenar mais alimentos.- E por que estão com cara de *?- Isto é temporário. Já estamos fazendo consultoria com um *, que vai nos ensinar

a técnica de radar. E você?- Ah, eu vou bem, obrigada. Forte e sadia.Era verdade. A pulguinha estava viçosa e bem alimentada. Mas as pulgonas não

quiseram dar a pata a torcer.- Mas você não está preocupada com o *? Não pensou em reengenharia?- Quem disse que não? Contratei uma * como consultora.- O que as lesmas têm a ver com pulgas?- Tudo. Eu tinha o mesmo problema que vocês duas. Mas, em vez de dizer para a

lesma o que eu queria, deixei que ela * a situação e me sugerisse a melhor *. E elapassou três dia ali, quietinha, só observando o * e então ela me deu *.

- E o que a lesma sugeriu fazer?- “Não mude nada. Apenas sente no * do cachorro. É o único lugar que a * dele não

alcança”.

MORAL: Você não precisa de uma reengenharia radical para ser mais eficiente.Muitas vezes a grande * é uma simples questão de *.

Texto atribuído a Max Gehringer

Antes de ler o texto abaixo, tente descobrir, através das dicas fornecidas, o tema aser abordado no texto. Anote as

deduções e hipóteses construídas por você. A cada informação nova, você rejeitaráalgumas ‘adivinhações’ e confirmará outras.

DICA A: é um texto extraído do livro ‘Companheira de Viagem’.DICA B: o título do texto é ‘A Última Crônica’.DICA C: o gênero do texto é crônica.DICA D: o texto fala sobre a inquietação que o processo de escrita provoca no escritor.DICA E: no texto aparecem três personagens compondo uma família.DICA F: o autor do texto é Fernando Sabino.

Leia o texto com atenção e veja se suas predições e inferências foram acertadas.

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A Última Crônica Fernando Sabino

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto aobalcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever.

A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito maisum ano esta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendiaapenas escolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto daconvivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico.Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras deuma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noçãodo essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto overso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Nãosou poeta e estou sem assunto. Lanço, então, um último olhar fora de mim, onde vivemos assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim, um casal de pretos acaba de sentar-se numa das últimasmesas de mármore ao longo da parede de espelhos. À compostura da humildade, nacontenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha deseus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou tambémà mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidadeao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional dafamília, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar afome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retiroudo bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão umpedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa,como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homeme depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem dofreguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho- um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.

A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinhoque o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai,mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa deplástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos,e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observaalém de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente nafatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas.Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra comforça, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada,cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “parabéns pra você, parabénspra você...” Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarrafinalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhandopara ela com ternura, ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhecai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamentedo sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram,ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentandoo olhar e, enfim, se abre num sorriso.

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

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Leitura eProdução de

Texto

SABINO, Fernando. A Última Crônica. In: ______. A companheira deviagem.

Rio de Janeiro: Do Autor, 1965. p. 174.

Indicações de leitura...

Depois de tantas informações sobre leitura, um bom caminho paraverificar se tudo o que foi dito e discutido pode ser ‘saboreado’ é passarpara a prática. Que tal ter acesso, através da leitura, a uma palestra sobreo a importância do ato de ler no Congresso Brasileiro de Leitura (eventoque até hoje acontece a cada biênio na UNICAMP), ministrada nada maisnada menos por Paulo Freire, nosso ‘educador universal’?

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 39.ed.– São Paulo, Cortez, 2000.

A arte, dentre elas, a literatura, acessível a tão poucos pode mudar a forma daspessoas lerem o mundo.

Ficha Técnica:Elenco Principal: José Dumont, Rodrigo Santoro, Rita Assemany e Ravi Ramos LacerdaDireção: Walter SallesProdução: Arthur CohnBrasil - Suíça - França 2001 1h39m Dolby SR/DTS e SRDUma co-produção VideoFilmes, Haut et Court, Bac Films e Dan Valley Film AG.Abril Despedaçado é livremente inspirado no livro homônimo do escritor albanês IsmailKadaré.Abril 1910 - Na geografia desértica do sertão brasileiro, uma camisamanchada de sangue balança com o vento. Tonho, filho do meio dafamília Breves, é impelido pelo pai a vingar a morte do seu irmãomais velho, vítima de uma luta ancestral entre famílias pela posseda terra. Se cumprir sua missão, Tonho sabe que sua vida ficarápartida em dois : os 20 anos que ele já viveu, e o pouco tempo quelhe restará para viver. Ele será então perseguido por um membroda família rival, como dita o código de vingança da região.Angustiado pela perspectiva da morte e instigado pelo seu irmãomenor, Pacu, Tonho começa a questionar a lógica da violência eda tradição. É quando dois artistas de um pequeno circo itinerantecruzam o seu caminho...

Para saber mais acesse:

www.abrildespedacado.com.br/

[ ]

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A ESCRITA

Duas concepções devem estar claras nacabeça de quem almeja ampliar os conhecimentoslingüísticos: a) a linguagem se aprende pelo uso; b)existem vários usos de linguagem. O

aperfeiçoamento dos usos de linguagem provocao aperfeiçoamento do indivíduo, todavia, este atode aprimorar-se lingüisticamente não se refereao mero (e limitado) conhecimento da língua

padrão nem apenas ao conhecimento satisfatórioda linguagem oral, pois estas são algumas dasmúltiplas possibilidades de uso da língua. É

também de enorme importância o conhecimento e domínio da modalidadeescrita da língua.

Escrever não é possível somente para os grandes autores; ‘é uma atividade socialindispensável (Câmara Jr. 1972) para qualquer pessoa. Alguns concebem que a escrita éinerente a uns enquanto não é a outros, pois aqueles têm facilidades em redigir um texto.Não é isto que ocorre de fato. Na verdade, apenas alguns se tornam grandes romancistasou escritores reconhecidos. Todavia, todos podem se comunicar de forma coerente e eficaz,usando a escrita. Inicialmente, é preciso saber que não há modelo único para a redação,não há sequer estrutura rígida. ‘Há apenas uma falta de preparação inicial que a prática e oesforço vencem’ (Câmara Jr. 1972).

A fala é a primeira forma de expressão lingüística, todavia, a necessidade de fixá-la,de levá-la para outros contextos, fomentou a busca pela possibilidade de uma representaçãoda mesma. Daí nasce a modalidade escrita da língua. A técnica da escrita consistesimplesmente em usar sinais gráficos (que aprendemos por mera convenção por seremtais sinais arbitrários) para simbolizar os signos da língua falada. Entretanto, diante dasmúltiplas possibilidades oferecidas pela fala e pela inviabilidade de construir um sinal gráficopara cada signo, a escrita é apenas uma tentativa de representação da fala, por ser umsuporte utilizado como recurso para não sobrecarregar a memória.

A comunicação oral é limitada quanto às distâncias e à fixação (mesmo que temporáriada mensagem), enquanto a comunicação escrita multiplica a mensagem, pois muitos podemlê-la ao mesmo tempo e não precisam estar próximos ao emissor. Em contrapartida, aescrita é uma técnica simples e barata, amplia os horizontes, aumenta as possibilidades decomunicação, fixa a mensagem, aumenta a possibilidade de envio da mensagem em relaçãoa distância e número de receptores, exige do homem aprendizado, pois não é espontâneanem natural como a fala, conferindo certo grau de poder a quem sabe utilizá-la.

Desta forma, como diz Gnerre (1987), devemos ‘ser poliglotas de uma mesma língua’.Essa aparente contradição nos diz uma verdade incomensurável. Não nos bastar saberapenas uma modalidade da língua ou somente a norma culta. Como existem diversoscontextos sociais, e para cada contexto exige-se um uso de linguagem, se quisermos transitarem tais universos devemos também usar de forma competente a modalidade falada e escrita

A Escrita: : Importância e Peculiaridades

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Leitura eProdução de

Texto

“Quando escrevo para mim mesmo, costumo ficar corrigindo diase dias”.

Paulo Mendes Campos

“Para mim, o ato de escrever é muito difícil e penoso, tenho sempre decorrigir e reescrever várias vezes”.Fernando Sabino

Agora, leia os textos dos autores acima citados e veja se valeu a pena o esforço!

da língua. Mais do que isso, devemos saber usar a linguagem adequada tantoao contexto sócio-comunicativo acadêmico, quanto ao bar, ao funeral, à festade carnaval.

O que dizem (e fazem) os Grandes Autores

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Leitura eProdução de

Texto

Falamos uma língua e escrevemos outra, pois apesar da escrita serposterior a fala e uma tentativa de representação da mesma, ela é maisconservadora. Pode-se afirmar que fala e escrita são diferentes, cada umapossui as suas peculiaridades. Isto não quer dizer, entretanto, que tais

modalidades da língua se oponham. Pelo contrário, elas se complementam.

Oralidade e Escrita: Diferentes,mas não Dicotomicas

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A língua não é uma uniformidade; ela é uma unidade composta pela diversidade, istoé, pela variedade lingüística. Tais variedades podem ser de três tipos:

a) diatópicas; b) diafásicas; c) diastráticas1.

Dentre este corpus, temos a norma culta, também chamada de língua padrão. Éconsiderada geralmente como a única variedade correta da língua e associada tipicamenteaos conteúdos de prestígio. Segundo Maurizio Gnerre (1987), “uma variedade vale o quevalem na sociedade seus falantes”. Leia-se, as variedades que correspondem à língua não-padrão são usadas por pessoas de baixa renda, de pouca ou nenhuma escolarização, demeios rurais, de regiões distantes dos grandes centros econômicos.

Desta forma, tais variedades tendem a ser sempre consideradas inferiores a umaoutra de maior prestígio, ou pior, é muito comum serem consideradas erradas. Entretanto, anoção de erro está atrelada sempre a uma impossibilidade quanto ao uso de determinadacoisa. Se a língua não-padrão é usada por tanta gente e comunica com coerência e eficiênciaaos grupos que a utilizam e aos demais grupos, a noção de erro torna-se inadequada quandoa ela se refere.

O termo língua é comumente associado à escrita, todavia um não é sinônimo dooutro. Tal confusão é fruto das informações equivocadas passadas pela tradição escolar.Por conseguinte, como no Brasil acesso à escola relaciona-se a poder econômico e político,confere-se à escrita uma autoridade superior àquela que ela realmente tem. Historicamente,a língua padrão é a língua dos vencedores, dos que mandam, sendo a escrita um registroda fala.

Sendo assim, a elite escolhe conscientemente a língua merecedora de registro, queé a norma culta, como paradigma para as demais. Por isso que ela é chamada de linguapadrão. Diz-se que tal modelo é central na identidade nacional, enquanto portadora de umatradição e de uma cultura. Todavia, não será essa uma visão preconceituosa ediscriminatória, já que pressupõe que todo aquele que não usa a língua padrão não éhistoricamente portador de tradição e cultura?

Nossa cultura é de caráter grafocêntrica, pois a nossa sociedade, em detrimento daoralidade, supervaloriza o uso da escrita e aqueles que já se apropriaram deste conhecimento.Entretanto, vale ressaltar que na maior parte dos povos modernos, somente uma parcela(às vezes, mínima) da sociedade tem na escrita um elemento essencial da vida. Além disso,há muitos povos que sequer utilizam tal modalidade da língua. Outro fator curioso é que atémesmo as pessoas escolarizadas usam menos a escrita do que a oralidade em seu cotidiano.

Nos dois textos abaixo, perceba a diferença entre um texto oral e um texto escrito.

11º) diferenças no espaço geográfico, ou VARIAÇÕES DIATÓPICAS (falares locais, variantes regionais e,até, intercontinentais).

2º) diferenças entre camadas socioculturais, ou VARIAÇÕES DIASTRÁTICAS (nível culto, língua padrão,nível popular, etc.);

3º) diferenças entre os tipos de modalidade expressiva, ou VARIAÇÕES DIAFÁSICAS (língua falada, línguaescrita, língua literária, linguagens especiais, linguagem dos homens, linguagem das mulheres, etc.).

CUNHA, Celso; CINTA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporânea. Rio de Janeiro: NovaFronteira, 1999.

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Leitura eProdução de

Texto

TEXTO 1 – Oral

Projeto NURC - Rio de JaneiroInquérito 261 - Bobina 85 - Duração 45 minutosData do registro: 22/11/74Tema: Instituições: ensino e igreja.Dados do informante: sexo masculino, 29 anos, carioca, pais cariocas.Área residencial: zona suburbana.

Formação universitária: Direito.

Entende? hoje eu vejo... depois de (que) M.L.... quando eu tive M.L. e vejo agoraM.L. estudando... preparando a... o material da escola... eu lamento não ter nascido nessaépoca... acho muito mais interessante o estudo... a coisa é... é muito... muito maisespontaneidade... a gente tinha Medo da professora... hoje a professora é uma amiga...chama de você... de titia... não é? a gente tinha medo da professora... até aconteceu umcaso... um caso muito engraçado comigo... dia primeiro de de abril... eu era... primeiro deabril... aí... dia dos tolos... né? eu estava com a minha prima... que é da minha idade...então eu tive aquela idéia... né... eu era muito tímida mas tinha as minhas idéias...naturalmente ( ) dona Vera Viana... dona Vera ( ) Viana... uma grande professora... dizassim... dona Vera... seu vestido está rasgado... eu disse pra minha prima... quando elaolhar... você diz... caiu... primeiro de abril...(risos)... ela fez... né... aí a dona Vera disseassim ... você vê... primeiro de abril é um dia ... era na hora do recreio... ela já... mais quedepressa... foi T. que mandou... (risos) então nós passamos a... o tempo todo da aulachorando, porque tínhamos ficado de castigo... né?

TEXTO 2 – Escrito

Recado ao senhor 903Rubem Braga

Vizinho –Quem fala aqui é o homem do1003. Recebi, outro dia, consternado, a visita do

zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meuapartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a suaveemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso e lhe douinteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teriaao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno eé impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: éimpossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem osenhor sabe o meu, ficamos reduzidos a dois números, dois números empilhados entredezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005; a Oeste pelo 1001; ao Sul peloOceano Atlântico; ao Norte pelo1004; ao alto pelo 1103 e, embaixo, pelo 903 – que é osenhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o OceanoAtlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenasnos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo, sinceramente,adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul.Prometo. Quem vier a minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retiraràs 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7, pois às 8:15 deve deixar o 783para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305.

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Nossa vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quandoum número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites deseus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.

...Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que umhomem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, são três da manhã e ouvi músicaem tua casa. Aqui estou”. E o outro respondesse: “Entra, vizinho, e come de meu pão ebebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida écurta e a lua é bela”.

E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigasdo vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrioda brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.

BRAGA, Rubem. Para Gostar de ler. São Paulo: Ática, 1979, p. 74-75.

“Entendem-se por ‘variação lingüística” pelo menos três fenômenos distintos (1) ofato de que em uma sociedade complexa como a brasileira convivem variedades lingüísticasdiferentes, utilizadas por grupos sociais que são expostos em graus diferentes à educaçãoformal; (2) o fato de que pessoas de um mesmo grupo lingüístico usam, para expressar-se,palavras, expressões diferentes de acordo com o caráter mais ou menos informal da situaçãoda fala; (3) o fato de que, o Português do Brasil, como toda língua de cultura, inclui falaresque são usados por alguns grupos específicos: os jovens, os malandros, os drogados, oseconomistas etc. Além de todos esses tipos de variação, o Português do Brasil foi marcado,ainda, pela variação histórica e pela variação regional”.

ILARI, Rodolfo. Introdução ao estudo do léxico: brincando com palavras. São Paulo:Contexto, 2002.

As variações de registro podem ser de três tipos diferentes: grau de formalismo,modo e sintonia.

O grau de formalismo refere-se ao maior ou menor cuidado do emissor no uso dosrecursos lingüísticos. O modo relaciona-se às possibilidades faladas ou escritas do uso dalíngua. A sintonia é a adequação do texto que o emissor constrói a partir do conhecimentoque tem sobre o receptor ( seu status, as informações prévias, a cortesia, a variedadelingüística que emprega).

No quadro abaixo, pode-se perceber as possibilidades de produção textual deacordo com o modo e o grau de formalismo.

Níveis de Linguagem

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Leitura eProdução de

Texto

Leia os textos abaixo e veja como a diversidade é a maior riqueza de umalíngua.

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A luta que os alunos enfrentam com relação à produção de textos escritos é muitoespecial. Em geral, eles não apresentam dificuldades em se expressar através da falacoloquial. Os problemas começam a surgir quando esse aluno tem necessidade de seexpressar formalmente, e se agravam no momento de produzir um texto escrito. Nesta últimasituação, ele deve ter claro que há marcantes entre falar e escrever.

Na linguagem oral, o falante tem claro com quem fala e em que contexto. Oconhecimento da situação facilita a produção oral. Nela, o interlocutor, presente fisicamente,é ativo, tendo possibilidade de intervir, de pedir esclarecimentos, ou até de mudar o cursoda conversação. O falante pode ainda recorrer a recursos que não são propriamentelingüísticos, como gestos ou expressões faciais. Na linguagem escrita, a falta desseselementos extratextuais precisa ser suprimida pelo texto, que se deve organizar de forma agarantir a sua inteligibilidade.

Escrever não é apenas traduzir a fala em sinais gráficos. O fato de um texto escritonão ser satisfatório não significa que seu produtor tenha dificuldades quanto ao manejo dalinguagens cotidiana, e sim que ele não domina os recursos específicos da modalidadeescrita.

A escrita tem normas próprias, tais como regras de ortografia - que, evidentemente,não é marcada na fala - , de pontuação, de concordância, de uso de tempos verbais.Entretanto, a simples utilização de tais regras e de outros recursos da norma culta nãogarante o sucesso de um texto escrito. Não basta, também, saber que escrever é diferentede falar. É necessário preocupar-se com a constituição de um discurso, entendido aquicomo um ato de linguagem que representa uma interação entre o produtor do texto e o seureceptor; além disso, é preciso ter em mente a figura do interlocutor e a finalidade para aqual o texto foi produzido.

Para que esse discurso seja bem-sucedido deve constituir um todo significativo enão fragmentos isolados justapostos. No interior de um texto devem existir elementos queestabeleçam uma ligação entre as partes, isto é, elos significativos que confiram coesão aodiscurso. Considera-se coeso o texto em que as partes referem-se mutuamente, só fazendosentido quando consideradas em relação umas com as outras.

Durigan, Regina H. de Almeida et alli. A dissertação no vestibular.In: A magia da mudança – vestibularUnicamp:Língua e literatura. Campinas, Unicamp, 1987.p.13-4.

O Texto Escrito

1. O Primeiro parágrafo nos fala da capacidade de expressãodos alunos. Qual o contraste apontado?

2. Quais as diferenças entre o falar e o escrever levantadosno segundo parágrafo?

3. Um texto escrito mal formulado não representanecessariamente falta de domínio da linguagem cotidiana.Justifique essa afirmação com base no terceiro parágrafo.

Estudo de Texto

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Leitura eProdução de

Texto

REDREDREDREDREDAÇÃO CRIAAÇÃO CRIAAÇÃO CRIAAÇÃO CRIAAÇÃO CRIATIVTIVTIVTIVTIVAAAAA

Leia (e se puder também ouça) a música abaixo de Chico Buarque, Bom Conselho:

Ouça um bom conselhoQue eu lhe dou de graça.

Inútil dormirque a dor não passa.Espere sentadoOu você se cansa.

Está provado,quem espera nunca alcança.Venha, meu amigo,Deixe esse regaço.

Brinque com meu fogoVenha se queimar.Faça como eu digoFaça como eu faço.

Aja duas vezes,antes de pensar.Corro atrás do tempo,Vim de não sei onde.

Devagar é que não se vai longeEu semeio o vento,Na minha cidade.Vou pra rua e bebo a tempestade!

Tente reconhecer a versão original dos provérbios usados por Chico como intertextona música.

4. No seu trabalho de produtor de textos, você temlevado em conta a figura do receptor e a finalidade a que sepropõe seu texto? Qual a importância desses elementos paraa confecção do seu trabalho?

5. Releia atentamente o último parágrafo e responda:a) O que um texto não deve ser?b) O que é um texto coeso?

6. Você, ao escrever, fiscaliza seu trabalho, procurandoconstruir textos coesos? Como?

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De acordo com o que fez Chico Buarque, recrie os provérbios a fim de que o sentidoveiculado seja contrário ao que diz o provérbio.

a) Quem ama o feio, bonito lhe parece.b) Dia de muito, véspera de pouco.c) Quem dá aos pobres, empresta a Deus.d) Quem não vive para servir, não serve para viver.e) Deus dá nozes a quem não tem dente.f) Deus dá o frio conforme o cobertor.g) É melhor um passarinho na mão do que dois voando.h) Nada melhor do que um dia após o outro.i) Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.j) Casa de ferreiro, espeto de pau.k) Pirão pouco, o meu primeiro.l) Pense duas vezes antes de agir.m) Por fora, bela viola. Por dentro, pão bolorento.n) Rapadura é doce, mas não é mole.o) Se casamento fosse bom não precisaria de testemunha.p) Quando casar, a dor passa.q) Quem espera sempre alcança.r) Se conselho fosse bom, ninguém dava de graça.s) Deus não dá asa a cobra.

Leia o texto abaixo:

OS DIFERENTES ESTILOS

... Narra-se aqui, em diversas modalidades de estilo, um fato comum da vida carioca,a saber: o corpo de um homem de quarenta anos presumíveis é encontrado de madrugadapelo vigia de uma construção, à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas, não existindo sinaisde morte violenta.

ESTILO INTERJETIVO – Um cadáver! Encontrado em plena madrugada! Em plenobairro de Ipanema! Coitado! Um homem desconhecido! Menos de quarenta anos! Um quemorreu quando a cidade acordava! Que pena!

ESTILO COLORIDO – Na hora cor de rosa da aurora, à margem da cinzenta LagoaRodrigo de Freitas, um vigia de cor preta encontrou um cadáver de um homem branco,cabelos louros, olhos azuis, trajando uma calça amarela, casaco pardo, sapato marrom,gravata branca com bolinhas azuis. Para este, o destino foi negro.

ESTILO ANTIMUNICIPALISTA – Quando mais um dia de sofrimento e desmandosnasceu para esta cidade tão mal governada, nas margens imundas, esburacadas e fétidasda Lagoa Rodrigo de Freitas, e em cujos arredores falta água há vários meses, sem falarnas freqüentes mortandades de peixes já famosas, o vigia de uma construção ( já permitiram,por debaixo do pano, a ignominiosa elevação de gabarito em Ipanema ) encontrou o cadáverde um desgraçado morador dessa cidade sem policiamento. Como não podia deixar de

Criando Estilos

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Leitura eProdução de

Texto

ser, o corpo ficou ali entregue às moscas que pulam naquele perigoso foco deepidemias. Até quando?

ESTILO REACIONÁRIO – Os moradores da Lagoa Rodrigo de Freitastiveram na manhã de hoje o profundo desagrado de deparar com o cadáverde um vagabundo que foi logo escolher para morrer (de bêbado) dos bairrosmais elegantes desta cidade, como se já não bastasse para enfeiar aquelelocal uma sórdida favela que nos envergonha aos olhos dos americanos quenos visitam ou que nos dão a honra de residir no Rio.

ESTILO ENTÃO – Então, um vigia de uma construção em Ipanema, não tendo sono,saiu, então, para um passeio de madrugada. Encontrou, então, o cadáver de um homem.Resolveu, então, procurar um guarda. Então, o guarda veio e tomou, então, as providênciasnecessárias. Aí, então, eu resolvi te contar isso.

ESTILO ÁULICO – À sobremesa, alguém falou ao Presidente que na manhã de hojeo cadáver de um homem havia sido encontrado na Lagoa Rodrigo de Freitas. O presidenteexigiu imediatamente que um dos seus auxiliares telegrafasse em seu nome à famíliaenlutada. Como lhe informassem que a vítima ainda não fora identificada, Sua Excelência,com o seu estimulante bom humor, alegrou os presentes com uma das suas apreciadasblagues.

ESTILO COMPLEXO DE ÉDIPO – Onde andará a mãezinha do homem encontradomorto na Lagoa Rodrigo de Freitas? Ela que amamentou, ela que o embalou em seusbraços carinhosos?

ESTILO PRECIOSISTA – No crepúsculo matutino de hoje, quando fugia solitária elongínqua a Estrela D’alva, o atalaia de uma construção civil, que perambulava insone pelaorla sinuosa e murmurante de uma lagoa serena, deparou com a lúrida visão de um ignotoe gélido ser humano, já eternamente sem o austro que o vivifica.

ESTILO NELSON RODRIGUES – Usava gravata de bolinhas azuis e morreu!ESTILO SEM JEITO – Eu queria ter o dom da palavra, o gênio de um Ruy ou o estro

de um Castro Alves, para descrever o que se passou na manhã de hoje. Mas não sei escrever,porque nem todas as pessoas que têm sentimento são capazes de expressar essesentimento. Mas eu gostaria de deixar ainda que sem brilho literário, tudo aquilo que senti.Não sei se cabe a palavra sensibilidade. Talvez não caiba.Talvez seja tragédia. Não seiescrever, mas o leitor poderá perfeitamente imaginar o que foi isso. Triste, muito triste. Ah,se eu soubesse escrever.

ESTILO FEMININO – Imagine você, Tutsi, que ontem que eu fui ao Sacha’s,legalíssimo, e dormir tarde. Com o Toni. Pois logo hoje, minha filha, que eu estava exausta etinha hora marcada no cabeleireiro e estava querendo dar uma passada na costureira, achomesmo que vou fazer aquele plissadinho, como o da Teresa, o Roberto resolveu me telefonarquando eu estava no melhor do sono. Mas o que era mesmo que eu queria te contar? Ah,menina, quando eu olhei da janela vi uma coisa horrível, um homem morto lá na beira daLagoa. Estou tão nervosa! Logo eu que tenho horror de gente morta!

ESTILO DIDÁTICO – Podemos encarar a morte do desconhecido encontrado mortoà margem da Lagoa em três aspectos: a) policial; b) humano; c) teológico. Policial: o homemem sociedade; humano: o homem em si mesmo; teológico: o homem em Deus. Polícia emhomem: fenômeno; alma a Deus: epifenômeno. Muito simples como os senhores vêem.

CAMPOS, Paulo Mendes. Para gostar de ler, vol IV. São Paulo: Ed àtica, 1979.

A notícia é uma só: o corpo de um homem de quarenta anos presumíveis é encontradode madrugada pelo vigia de uma construção, à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas, não

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existindo sinais de morte violenta. As variedades lingüísticas e de registro é que variam.Utilize a mesma notícia dada em vários estilos e a reescreva conforme os estilos abaixo:

a) Seu próprio estilo;b) Estilo patricinha;c) Estilo Luís Inácio Lula da Silva;d) Estilo rapper;e) Estilo adolescente vidrado em internet;f) Estilo Gilberto Gil;

Narradores de Javé

Ficha TécnicaAno de Lançamento (Brasil): 2003Direção: Eliane CafféRoteiro: Luiz Alberto de Abreu e Eliane CafféElencoJosé Dumont (Antônio Biá)Matheus NachtergaeleGero Camilo

Somente uma ameaça à própria existência pode mudar a rotina doshabitantes do pequeno vilarejo de Javé. É aí que eles se deparam com oanúncio de que a cidade pode desaparecer sob as águas de uma enorme usinahidrelétrica. Em resposta à notícia devastadora, a comunidade adota umaousada estratégia: decide preparar um documento contando todos os grandesacontecimentos heróicos de sua história, para que Javé possa escapar dadestruição. Como a maioria dos moradores é analfabeta, a primeira tarefa éencontrar alguém que possa escrever as histórias

Indicações de leitura... Preconceito Lingüístico

“Diz-se que o “brasileiro não sabe Português” e que“Português é muito difícil”; estes são alguns dos mitos que compõemum preconceito muito presente na cultura brasileira: o lingüístico.

Tudo por causa da confusão que se faz entre língua egramática normativa ( que não é a língua, mas só umadescrição parcial dela). Separe uma coisa da outra comeste livro, que é um achado”.

Revista Nova Escola, maio de 1999.

O livro a que a revista Nova Escola se refere éPreconceito Lingüístico: o que é, como se faz, MarcosBagno. Uma boa leitura para fazer uma auto-análise dequantos preconceitos lingüísticos nós possuímos por merodesconhecimento do que realmente é a língua.

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Leitura eProdução de

TextoTECENDO PALAVRAS E SENTIDOS

“A palavra texto provém do latim textum,que significa “tecido, entrelaçamento”. Há,portanto, uma razão etimológica para nuncaesquecermos que o texto resulta da ação detecer, de entrelaçar unidades e partes a fim

de formarmos um todo inter-relacionado.Daí podermos falar em textura outessitura de um texto: é a rede de

relações que garantem sua coesão, suaunidade”.

Segundo Fiorin (2003), “não éamontoando os ingredientes que se prepara

uma receita; assim também não é superpondo frases que se constrói um texto”.Utilizandoainda a origem etimológica do termo, percebemos que um fio nem milhares deles compõemum tecido. Para existir tecido é preciso que os fios, mesmo os mais diferentes entre si,formem uma unidade, uma teia. Assim, também é com o bolo, pois colocar leite, ovos,manteiga, açúcar e farinha de trigo num recipiente não resulta em bolo. Para que estesingredientes se transformem em bolo, é preciso que passem por vários processos, ou seja,acontece uma metamorfose daqueles ingredientes que compunham meras individualidadese agora passam a ser uma unidade composta pela diversidade. Num texto , as partes nãopossuem significados independentes, mas cada sentido se relaciona com o outro a fim deconstruir um sentido global. Entretanto, este não é dado pela soma das partes, mas sim poruma combinação geradora de sentidos.

Todo texto possui algumas propriedades,O texto possui algumas pou seja, algumasespecificidades básicas que o tornam texto. São elas: a coerência de sentido, a delimitaçãopor dois brancos e o fato de ser produzido por um determinado sujeito num certo espaço etempo.

Possuir coerência de sentido significa que os símbolos constituintes do texto nãoestão jogados no papel. Eles se inter-relacionam. Por isso, é perigoso ler as partes dotexto, juntá-las e conferir a elas um sentido global, pois o contexto em que se insere édeterminante para a compreensão do sentido. O contexto, declara Fiorin (2003), “é a unidademaior em que uma unidade menor está inserida. Assim a frase (unidade maior) serve decontexto para a palavra; o texto, para a frase etc”.

“Poder-se-ia, assim, conceituar o TEXTO como uma manifestação verbal, constituídade elementos lingüísticos selecionados e ordenados pelos co-enunciadores, durante aatividade verbal, de modo a permitir-lhes, na interação, não apenas a depreensão deconteúdos semânticos, em decorrência da ativação de processos e estratégias de ordemcognitiva, como também a interação (ou atuação) de acordo com práticas socioculturais”(Koch, 1992).

TEXTOS: TIPOS E GÊNEROS

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Das falsas posiçõesMário Quintana

Com a pele do leão vestiu-se o burro um dia.Porém, no seu encalço, acad instante e hora,“Olha o burro! Fiau! Fiau!”, gritava a bicharia...Tinha o parvo esquecido as orelhas de fora!

Geralmente, associamos somente texto ao que está escrito. Todavia, se pensarmosna primeira propriedade, coerência de sentido, perceberemos que os três exemplos acimapossuem coerência, apesar de os dois primeiros serem constituídos de imagens, figurasgeométricas, forma; e o terceiro, de palavras. Podemos perceber que os exemplos acimanão são um ‘amontoado’ de signos; eles formam um todo significativo.

Além disso, possuem um contexto ora explícito, ora implícito, mas determinantes nacompreensão textual.

A segunda propriedade parece irrelevante, para nós que temos contatos cotidianoscom os textos. É possível dizer que em nossa sociedade somos ‘bombardeados’ por textoso tempo inteiro. Entretanto, de fato todo texto é delimitado por dois espaços vazios, isto é,por dois espaços de não-sentido. Um antes dele, outro depois. E eles, por incrível quepareça, têm uma função ímpar: sinalizar onde começa e onde termina o texto. Vejamos umafotografia do francês, radicado na Bahia, Pierre Verger. Tal imagem chama-se ‘O olharenigmático de Pierre Verger” que pode ser encontrada no site “http://www2.petrobras.com.br/CulturaEsporte/ingles/cultura/ArtesVisuais/PierreFatumbi.htm”.

Ao observarmos os dois exemplos abaixo, quais deles chamaríamos de texto?

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Leitura eProdução de

Texto

É fácil identificar onde começa a fotografia e onde termina. Assim, oleitor percebe que só o que interessa para conferir sentido à imagem é o queestá dentro do espaço delimitado pelos dois brancos.

Por último, todo texto é produzido por um sujeito, e este, por estaratrelado ao seu tempo e ao seu espaço, sempre constrói sua produção,revelando os ideais e concepções de um tempo e de um espaço. Por isso, umleitor competente não faz a pergunta superficial: o que o autor quis dizer? Masno lugar dela, procura saber: quem foi o autor? Onde e quando ele produziu tal

texto? Tais elementos, sim, serão de suma importância para o entendimento do texto. Se,ao lermos um texto de Machado de Assis, quisermos saber o que ele quis dizer, teremosque perguntar a ele, e como o referido autor está morto, só temos duas saídas: ou ir até láou fazermos uma sessão espírita. Todas as duas alternativas podem configurar-se comoesforços desnecessários, já que como leitores competentes nós mesmos podemosapreender o sentido do texto.

No primeiro anúncio publicitário, a fotografia da mulher, seu penteado e vestuárionos remetem à década de 50 do século XX, assim como a embalagem do produto. Quantoà linguagem, encontramos o uso do termo dentifrício no lugar do mais moderno pasta dedente. Já no segundo, a mulher, sua roupa e postura já denunciam um outro tempo. Alémdisso, temos um bem tecnológico que sequer existia na época da veiculação da primeirapropaganda.

O texto pode ser literário ou não. O literário possui, como marca de sua produção, ainformação estética; já no não literário, a informação é semântica. O quadro abaixo, construídopelo professor baiano, Jayme Barros, em seu livro Encontro de redação, é bastanteelucidativo para compreendermos as diferenças entre estes dois formatos textuais.

As Possibilidades Textuais:Texto Literário e o Texto Não-LiterárioO Texto Verbal e o Texto Não-Verbal

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INFORMAÇÃO SEMÂNTICA(texto não-literário)

1. A informação tem um sentido unívoco e exige do receptor uma percepção racional,uma compreensão lógica. O receptor é atingido em sua inteligência: ou a mensagem écompreendida ou deixará de ter sentido.

2. A essência é, portanto, a verdade. A beleza torna-se acidental, pois não se busca,em essência, atingir a sensibilidade do receptor.

3. Os signos têm um valor denotativo, por isso são traduzíveis.4. O conhecimento prévio da mensagem provoca uma saturação; esgota a

mensagem,

INFORMAÇÃO ESTÉTICA(texto literário)

1. A informação tem um significado plurívoco, busca atingir a sensibilidade do receptor.Exige dele uma percepção sensorial. Mesmo sem a compreensão lógica da mensagem,ela tem um sentido estético: toca a sensibilidade do receptor.

2. A essência é, portanto, a beleza, o prazer estético provocado pela obra, que poderáter ou não um sentido lógico. A obra referir-se ou não a uma verdade ou fato cientificamentecomprovado torna-se secundário.

3. Os signos têm um valor conotativo, por isso não são traduzíveis.4. O conhecimento prévio da mensagem não provoca um esgotamento. Ao contrário,

a depender da percepção sensorial do receptor, do gostar ou não gostar da obra, oconhecimento prévio da mensagem poderá provocar a busca de novos contatos com aobra.

Leia os dois textos abaixo:

TEXTO 1Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia, numbarracão sem número

Um noite ele chegou no bar Vinte de NovembroBebeuCantouDançouDepois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.Manuel Bandeira

TEXTO 2Garçom morre após briga de bar

Por volta de 2h40min da madrugada de sábado, depois de ter se envolvido numabriga iniciada por um amigo, num bar na Rua Direta do Canal do Bate Estaca, o garçomRoberto Moreira da Cruz, 26 anos, saiu do estabelecimento de motocicleta. Uma daspessoas com quem ele tinha brigado disparou com arma de fogo e o matou com um tiro nascostas. As informações são da irmã dele, a ambulante Roberta Aparecida Santos da Cruz,

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Leitura eProdução de

Texto

22 anos, que prestou depoimento na 3ª Delegacia de Polícia. O garçom erapai de duas crianças, de 2 e 4 anos, mas não era casado. A investigação estásendo conduzida pela delegada Sônia M. Reis Paiva.

Jornal A Tarde, 02 de outubro de 2005.

No texto 2 é explícito o compromisso com o relato do fato da formamais próxima daquela em que ele ocorreu, por isso há tantos detalhes einformações relevantes para a compreensão do contexto. O leitor, para

compreendê-lo, usará aspectos racionais. Já no texto 1, não há uma preocupação do autorem descrever o fato, em dar detalhes do acontecimento, não se sabe a razão do suicídio. Aintenção do autor é atingir a emoção do leitor ao colocá-lo frente à morte, seja trágica ounão, pois sempre nos desestabiliza e assusta. Por fim, o leitor do texto 1 poderá não teruma compreensão lógica do acontecimento, mas certamente se permitirá a diversasinterpretações. Já no texto 2, só há uma possibilidade de compreensão do texto, caso oleitor não a capte, estará demontrando que não o compreendeu.

O texto pode ser verbal ou não-verbal. Isto quer dizer que podemos construir um textosomente com imagens, figuras, cores. A este tipo de texto, chamamos de texto não-verbal.Caso o texto seja composto por palavras faladas ou escritas, teremos um texto verbal. Épossível haver textos constituídos tanto por palavras quanto por imagens, estes serãoconsiderados como textos mistos.

A tela de Candido Portinari denominada “Os retirantes” é um texto não-verbal, e otrecho da obra Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto é verbal. Note queambos discorrem sobre o mesmo tema; a forma como organizam a mensagem é que édiferente. O primeiro só se utiliza de imagens, cores e formas, enquanto o segundo usapalavras.

Os Retirantes. Candido Portinari

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O RETIRANTE EXPLICA AO LEITORQUEM É, E A QUE VAI

- O meu nome é Severino,

como não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,

deram então de me chamar

Severino de Maria;

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

do finado Zacarias.

Mais isso ainda diz pouco:

há muitos na freguesia,

por causa de um coronel

que se chamou Zacarias

e que foi o mais antigo

senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem falo

ora a Vossas Senhorias?

Vejamos: é o Severino

da Maria do Zacarias,

lá da serra da Costela,

limites da Paraíba.

(...)

Somos muitos Severinos

iguais em tudo na vida:

na mesma cabeça grande

que a custo é que se equilibra,

no mesmo ventre crescido

sobre as mesmas pernas finas

e iguais também porque o sangue,

que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos

iguais em tudo na vida,

morremos de morte igual,

mesma morte severina:

que é a morte de que se morre

de velhice antes dos trinta,

de emboscada antes dos vinte

de fome um pouco por dia

(de fraqueza e de doença

é que a morte severina

ataca em qualquer idade,

e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos

iguais em tudo e na sina:

a de abrandar estas pedras

suando-se muito em cima,

a de tentar despertar

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Leitura eProdução de

Texto

terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar

alguns roçado da cinza.

Mas, para que me conheçam

melhor Vossas Senhorias

e melhor possam seguir

a história de minha vida,

passo a ser o Severino

que em vossa presença emigra.

Em 1983, Beaugrande e Dessler selecionaram sete características que conferem aalguma coisa o caráter de texto. Ao considerarmos algo como texto, perceberemos quenele aparecem os fatores abaixo:

1. Coesão2. Coerência3. Intencionalidade4. Aceitabilidade5. Situacionalidade6. Informatividade7. Intertextualidade

Coesão e Coerência serão temas discutidos no próximo tópico devido a enormerelevância que possuem no processo de construção textual. Além disso, são nesses aspectosque os produtores de texto mais cometem falhas.

Todo produtor tem uma intenção na produção textual; planeja o texto e o produz natentativa de satisfazer sua meta. A este fator denominamos intencionalidade.

Por outro lado, o receptor, ao se mobilizar para ler um texto, gera uma gama deexpectativas e pré-concepções em torno dele. Saber quem é o autor e a época o fará inferir,por exemplo, sobre o tema do texto. Seus repertório de leitura e arcabouço de conhecimentoso possibilitarão compreender o texto de forma parcial, ampla ou superficial. A este fatordenominamos aceitabilidade.

No mundo em que vivemos, em nosso cotidiano, circulam diversos tipos de texto.Entretanto, eles são diferentes entre si. Uma palestra sobre a importância da leitura serámuito diferente de uma conversa num bar entre dois amigos. A linguagem usada em umasituação será muito diferente da outra, assim como o grau de intimidade entre emissor e

O Texto e os Fatores de Contextualidade

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receptor. Sendo assim, cada contexto sócio-comunicativo requer uma produção de textomais pertinente a si mesmo. A esse fator denominamos situacionalidade.

Todo texto tem como característica peculiar a função referencial da linguagem, ouseja, ele informa sobre algo. Por isso, o autor deve fornecer ao leitor uma suficiência dedados necessários à compreensão do texto. A esse fator denominamos informatividade.

A lingüista Júlia Kristeva declara que o texto é um mosaico de citações. Isto significaque não produzimos um texto do nada; todo texto é fruto das informações e conhecimentosprévios que possuímos. Sendo assim, a leitura de mundo e de palavra escrita é determinantepara a produção textual. Por isso, os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN, que traçamdiretrizes para o ensino das escolas brasileiras, informam a ineficácia do estudo da gramáticanormativa para formar leitores e produtores de texto. Segundo os PCN, é a leitura que subsidiao produtor de textos no exercício da criação. Desta forma, não há como não apareceremimplicitamente ou explicitamente – por meio de citações, paródias ou pastiches - outrostextos em um texto. A esse fator denominamos intertextualidade.

A coerência é o fator responsável pelo estabelecimento do sentido no texto, pois apartir dela ocorre o acerto das partes com relação ao todo. Um texto sem coerência perdeo princípio da interpretabilidade textual, ou seja, torna-se não-inteligível em relação a situaçãocomunicativa. Como afirmado anteriormente, o texto é como um mosaico, pois se constituide elementos diversos e diferentes entre si; todavia,z o entrelaçamento destas partes formauma unidade. A coerência é estabelecida nas relações entre os usuários do texto.

Tipos de coerência:

a) Semântica: relação entre os significados.“Vamos deixar de sermos egoístas e pensarmos um pouco mais em nós mesmos”.O significado do termo egoísta refere-se ao indivíduo pensar e agir apenas em prol

de si mesmo, se o autor propõe que não se pense em si mesmo somente, como ele podeconclamar a “pensarmos mais em nós mesmo” que é a mesma coisa?

Forma coerente: Vamos deixar de ser egoístas e pensar mais nos outros.

b) Sintática: uso de recursos sintáticos.“O Renato é meu filho, mas ele se parece comigo”.Muitas vezes, não sabemos usar os recursos lingüísticos, pois desconhecemos os

significados das preposições, conjunções, etc. Por exemplo, a conjunção “mas” dá a idéiade oposição. Assim, espera-se encontrá-la entre duas orações que se oponham ou secontradigam. Se Renato é filho de alguém, espera-se que ele se pareça com alguém, nãohá nenhuma contradição nisso. Haveria se Renato não se parecesse.

Forma coerente: O Renato é meu filho, por isso ele se parece comigo.

c) Estilística: adequação do texto ao estilo ou registro pertinente.“Prezado Antônio, neste momento quero expressar meus sentimentos por seu pai ter

vestido o paletó de madeira, ter ido comer capim pela raiz....”.

Coesão e Coerência: A Construção de Sentidos e seusMecanismos

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36

Leitura eProdução de

Texto

Como dito anteriormente, cada texto possui um contexto e deveadequar-se a ele. Numa situação de morte, geralmente delicada para a nossaformação cultural, a maneira mais adequada de agir é sendo solidário eacolhedor com a pessoa que receberá a notícia do infortúnio. Atitudesgrosseiras não condizem com este tipo de contexto. A expressão popular “ircomer capim pela raiz” não se adequa ao uso de linguagem requerido paraeste tipo de situação.

d) Pragmática: atos de fala próprios de uma determinada situação comunicativa.“ – Você sabe onde é a biblioteca? - O dia está lindo hoje!”.

Ao observarmos a pergunta acima, perceberemos que existe uma incoerência nodiálogo. Há um número mínimo de respostas possíveis à pergunta feita: quem respondepode dizer que não sabe ou que sabe. No entanto, a resposta dada não se relaciona emnada com a pergunta.

Mecanismos de coesão:Mecanismos de coesão:Mecanismos de coesão:Mecanismos de coesão:Mecanismos de coesão:

REFERENCIAÇÃO: retoma ou antecipa elementos do texto através de duasmaneiras de reativação de referentes:

* Anáfora (remissão para trás): retoma o termo explicitado anteriormente através derecursos gramaticais como pronomes, numerais, advérbios pronominais, artigos indefinidos,elementos de ordem lexical.

Exemplo: Glauber Rocha foi um grande cineasta baiano, pena que ele tenha morridotão precocemente.

Outros exemplos:- Dizem que a situação do Brasil vai mudar, mas não consigo crer nisso.- O concurso selecionará os melhores candidatos. Apenas a terça parte deles será

aprovada.- O juiz olhou para o auditório. Alí estavam presentes parentes e amigos do réu.

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Fatores:

Para um texto manter-se coerente é preciso que haja um elo conceitual entreseus diversos argumentos. Os substantivos e os verbos devem estar interligados nãoapenas para acrescentar informações, mas também para alicerçar o sentido do texto(KOCH, 2003). Os fatores que conferem coerência ao texto são os elementoslingüísticos, o conhecimento de mundo (frames, esquemas, planos, scripts e esquemastextuais), o conhecimento partilhado, inferências, a contextualização, a constância erelevância, além do outros cinco fatores de textualidade.

Para Koch (2003, p. 33), a coesão refere-se ao “modo como os elementoslingüísticos presentes na superfície textual encontram-se interligados entre si, por meiode recursos também lingüísticos, formando seqüências veiculadoras de sentido”.Algumas marcas lingüísticas são responsáveis por dar coerência ao texto, tais recursossão chamados de elementos coesivos.

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- Um estranho foi atropelado na Av. Paralela. O acidentado tinha aparência jovial.- Os quadros de Van Gogh não tinham nenhum valor em sua época. Houve telas que

serviram até de porta de galinheiro.

* Catáfora (remissão para frente): antecipa o termo que aparecerá posteriormenteatravés de pronomes demonstrativos, indefinidos neutros e nomes genéricos.

Exemplo: Eles discutiam agressivamente. Marido e mulher gritavam, gesticulavam ebatiam um no outro.

Outros exemplos:- Quero apenas isto: um milhão de reais depositado em minha conta corrente.- O incêndio destruiu tudo: casas, móveis, plantações.- O enfermo esperava uma coisa: o alívio de seus sofrimentos.

SEQÜENCIAÇÃO: procedimentos lingüísticos através dos quais se estabelecem oselos que permitem ao texto desenvolver-se em progressão.

a) Paralelismo: veiculação de informações novas através da repetição de determinadaestrutura sintática.

Falava-se da chamada dos conservadores ao poder e falava-se da dissolução daCâmara. (= Falava-se da chamada dos conservadores ao poder e da dissolução daCâmara.)

b) Elipse: supressão de termos.O ministro foi o primeiro a chegar. ( )Abriu a sessão às oito em ponto e ( )fez então

seu discurso.Os jogadores do Brasil fizeram bonito: ( )correram muito, lutaram bravamente e

venceram o jogo.

c) Paráfrase: explicação de termo antecedente ou precedente.O Brasil é um país capitalista, ou seja, aqui os trabalhadores livres vendem sua

força de trabalho aos donos do capital.

d)Tempo verbal: ajustamento dos tempos verbais.Vim, vi e venci!

ESQUEMA-SÍNTESEESQUEMA-SÍNTESEESQUEMA-SÍNTESEESQUEMA-SÍNTESEESQUEMA-SÍNTESE

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Leitura eProdução de

Texto COESÃO E COERÊNCIA

DESVENDANDO O TEXTO

Identifique nos três exemplos abaixo o que é texto. Classifique também o que fortexto como literário ou não-literário e verbal e não-verbal:

a)

Autor: Caulos

b) “Entende-se por corrupção o uso de bens públicos para fins privados e perversãoou deterioração dos princípios éticos e morais. No entanto, não são apenas os membrosdo governo que fazem prática destas ações; a sociedade civil, em todas as suas áreas,desenvolve atividades de caráter corrupto também. O Brasil, país com uma herança históricamarcada pela corrupção, luta para combater este mal, estando completamente enraizadonão somente nas elites, dominadoras de poder, mas também na grande massa de dominadosque, ao praticar pequenas ações, como suborno e propina, desenvolve o mesmo crime,porém em menores proporções, assim recebendo quase nenhuma repercussão eimportância”. Autor: Verena Paranhos Batista

c) XIDSA caiu? A vaca supra vivo Pedro É!!!Autor: Luciana Moreno

Leia os textos abaixo. O primeiro é a música Águas de Março de Tom Jobim. Osegundo é uma paródia do texto de Tom, ou seja, uma imitação ora ridícula e grosseira, oraiconoclasta de uma composição literária.

Águas De MarçoTom Jobim

É pau, é pedra, é o fim do caminhoÉ um resto de toco, é um pouco sozinho

ComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresAtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividades

Intertextualidade

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39

É um caco de vidro, é a vida, é o solÉ a noite, é a morte, é um laço, é o anzolÉ peroba do campo, é o nó da madeiraCaingá, candeia, é o Matita PereiraÉ madeira de vento, tombo da ribanceiraÉ o mistério profundo, é o queira ou não queiraÉ o vento ventando, é o fim da ladeiraÉ a viga, é o vão, festa da cumeeiraÉ a chuva chovendo, é conversa ribeiraDas águas de março, é o fim da canseiraÉ o pé, é o chão, é a marcha estradeiraPassarinho na mão, pedra de atiradeiraÉ uma ave no céu, é uma ave no chãoÉ um regato, é uma fonte, é um pedaço de pãoÉ o fundo do poço, é o fim do caminhoNo rosto o desgosto, é um pouco sozinhoÉ um estrepe, é um prego, é uma conta, é um contoÉ uma ponta, é um ponto, é um pingo pingandoÉ um peixe, é um gesto, é uma prata brilhandoÉ a luz da manhã, é o tijolo chegandoÉ a lenha, é o dia, é o fim da picadaÉ a garrafa de cana, o estilhaço na estradaÉ o projeto da casa, é o corpo na camaÉ o carro enguiçado, é a lama, é a lamaÉ um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rãÉ um resto de mato, na luz da manhãSão as águas de março fechando o verãoÉ a promessa de vida no teu coraçãoÉ uma cobra, é um pau, é João, é JoséÉ um espinho na mão, é um corte no péÉ um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rãÉ um belo horizonte, é uma febre terçãSão as águas de março fechando o verãoÉ a promessa de vida no teu coração

E se o Tom Jobim usasse o Windows?(Autor desconhecido)

É pauÉ vírusÉ o fim do programaÉ um erro fatalO começo do drama.É o turbo PascalDiz que falta um loginNão me mostra onde éE já trava no fim.É dois, é três, é um 486É comando ilegal

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Leitura eProdução de

Texto

Essa merda bloqueiaÉ um erro e travaÉ um disco mordidoHD estragadoAi, meu Deus, tô perdidoSão as barras de espaçoExibindo um borrãoÉ a promessa de vídeo

Escondendo um trojanÉ o computadorMe fazendo de otárioNão compila o programaSalva só o comentário.É ping, é pongO meu micro me chutaO scan não retiraO vírus filho da putaO Windows não entraE nem volta pro DOSNão funciona o resetMe detona a vozÉ abort, é retrayDisco mal formatadoPCTools não resolveNorton trava o tecladoÉ impressora sem tintaEngolindo o papelMeu trabalho de diasFoi cuspido pro céu

Escolha uma música, selecione o tema e produza a sua paródia.Veja abaixo outra possibilidade de intertextualidade

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Agora observe o quadro abaixo. Faça uma propaganda, usando o quadro comointertexto.

11111..... A partir da junção das informações abaixo, construa textos coesos e coerentes:

a)- A atriz Arlete Sales é sucesso no palco e na televisão.- A atriz Arlete Sales interpreta agora a perversa e divertida Augusta Eugênia na

novela global Porto dos Milagres.- A personagem Augusta Eugênia tem agradado em cheio ao público.- A atriz Arlete Sales deu cor e humor à personagem.- Arlete Sales diz que Augusta Eugênia é uma louca, exacerbada, delirante.- Arlete Sales é o oposto da personagem que interpreta na novela das oito.- Arlete Sales é delicada e sorridente.- Arlete Sales destacou-se em vários papéis inesquecíveis.- Arlete Sales coleciona, em sua galeria, personagens como Carmosina, de Tieta do

Agreste.- Outra personagem inesquecível de Arlete Sales foi a cubana Anabel, de Salsa e

Merengue.

b)- O presidente havia assinado o decreto na véspera.- Ninguém sábia o que de fato tinha acontecido na reunião.- A mulher tinha perdido todas as chaves do prédio.- O técnico havia constatado todas as falhas do projeto.- O fato é que ele tinha tido todas as chances de aprovação.- Não tinha sido ele o responsável.

Coesão e Coerência

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Leitura eProdução de

Texto

- O promotor tinha saído naquele momento.- O policial havia contido os mais exaltados.- O delegado tinha detido o suspeito.- Tinha certeza de que ele tinha posto o documento na gaveta.

2.2.2.2.2. Reescreva as sentenças abaixo, substituindo as palavras e

expressões destacadas por palavras e expressões sinônimas.a) O vendedor de rádio era um emissário do progresso.b) Se a família mostrasse interesse, podia ficar com o rádio a título experimental.c) Um dos rádios permaneceu esquecido em minha casa durante dois anos.d) Moço que tinha rádio ganhava a chance de casar com a beldade do quarteirão.e) Diziam que a televisão liquidaria o próprio rádio.f) Mas entrar para o rádio era muito difícil, devido, afirmavam, ao nepotismo.

Indicações de leitura...

BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA

A história de BALZAC E A COSTUREIRINHACHINESA se passa no fim da década de 60, quandoo líder chinês Mao Tse-Tung lança uma campanhaque mudaria radicalmente a vida do país: aRevolução Cultural. Entre outras medidasdrásticas, o governo expurga das bibliotecas obrasconsideradas como símbolo da decadênciaocidental. Mas, mesmo sob a opressão do ExércitoVermelho, uma outra revolução explode na vidade três adolescentes chineses quando, ao abriremuma velha e empoeirada mala, eles têm as suasvidas invadidas por Balzac, Dumas, Flaubert,Baudelaire, Rousseau, Dostoievski, Dickens...Osproibidos!

BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA éuma crônica da vida na China durante a revolução de 68. Um romancesobre a felicidade da descoberta da literatura, a liberdade adquiridaatravés dos livros e a fome insaciável pela leitura, numa época em queas universidades foram fechadas e os jovens intelectuais mandados aocampo para serem “reeducados por camponeses pobres.

Para obter mais informações acesse o site: http://www.objetiva.com.br.

SIJIE, Daí. Balzac e a costureirinha chinesa. Rio de Janeiro:Objetiva, 2001.

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COLCHA DE RETALHOS

Ficha TécnicaAno de Lançamento (EUA): 1995Estúdio: Amblin Entertainment / Universal

PicturesDistribuição: Universal Pictures / UIPDireção: Jocelyn MoorhouseElenco:Wynona Ryder (Finn Dodd); Anne

Bancroft (Glady Joe leary); Ellen Burstyn (Hy Dodd)Resumo: Enquanto elabora sua tese e se

prepara para se casar Finn Dodd (Wynona Ryder),uma jovem mulher, vai morar na casa da sua avó(Ellen Burstyn). Lá estão várias amigas da família,que preparam uma elaborada colcha de retalhoscomo presente de casamento. Enquanto o trabalhoé feito, ela ouve o relato de paixões e

envolvimentos, nem sempre moralmente aprováveis, mas repletos desentimentos, que estas mulheres tiveram. Neste meio tempo ela se senteatraída por um desconhecido, criando dúvidas no seu coração que precisamser esclarecidas.

(Disponível em: http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/colcha de retalhos.Acesso em: 14 out. 2005.)

Marcuschi (2003, p.16) declara que:

TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS

os gêneros são fenômenos históricos, profundamente vinculados àvida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuempara ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. [...]Caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicose plásticos.

O que são gênerO que são gênerO que são gênerO que são gênerO que são gêneros?os?os?os?os?

A palavra gênero sempre foi bastante utilizada pela retórica e pela literatura com umsentido especificamente literário, identificando os gêneros clássicos – o lírico, o épico, odramático – e os gêneros modernos, como o romance, a novela, o conto, o drama,- etc.

Mikhail Bakhtin – pesquisador russo que, no início do século XX, se dedicou aosestudos da linguagem e da literatura – foi o primeiro a empregar a palavra gênero com umsentido mais amplo, referindo-se também aos tipos textuais que empregamos nas situaçõescotidianas de comunicação.

Segundo Bakhtin, todos os textos que produzimos, orais ou escritos, apresentam umconjunto de características relativamente estáveis, tenhamos ou não consciência delas. Essascaracterísticas configuram diferentes tipos ou gêneros textuais, que podem ser identificados

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Leitura eProdução de

Texto

por três aspectos básicos coexistentes: o assunto, a estrutura e o estilo(procedimentos recorrentes da linguagem).

A escolha do gênero não é completamente espontânea, pois leva emconta um conjunto de parâmetros essenciais, como quem está falando, paraquem está falando, qual é a sua finalidade e qual é o assunto do texto. Porexemplo, ao desejarmos contar como ocorreu um conjunto de fatos, reais oufictícios, fazemos uso de um texto narrativo; para instruirmos alguém, fazemos

uso dos textos argumentativos, e assim por diante.

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. São Paulo: Atual, 1999.

Tipo e gênero possuem definições diferentes que muitas vezes confundem o estudantedesta área. Para sabermos as peculiaridade de cada uma, usaremos o quadro sinópticoelaborado por Marcuschi (2003, p.22):

OUTRA PROPOSTA DE TIPOLOGIA TEXTUAL

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FORMATOS TEXTUAIS OU GÊNEROS REDACIONAIS

Há três formatos textuais presentes no cotidiano escolar no que se refere à práticade produção do texto escrito. Estes textos são apresentados sob a designação de redaçõespor isso são chamados de gêneros redacionais ou gêneros escolares. São eles a narração,a descrição e a dissertação.

A narração é um relato de fatos, acontecimentos. Apresenta fatos vivenciados porpersonagens, organizados numa determinada seqüência temporal. Por isso, a presençade elementos como narrador, personagem, enredo, cenário, tempo, espaço é fundamentalpara a constituição deste tipo de texto.

A narração organiza-se geralmente a partir da apresentação de um conflito, do usode verbos de ação e da freqüência do diálogo direto e o indireto. Geralmente, é mescladade descrições.

O texto de Manuel Bandeira é uma narração, pois possui todos os elementosconstituintes do texto narrativo; é um relato de evento.

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônianum barracão sem númeroUma noite ele chegou no bar Vinte de NovembroBebeuCantouDançouDepois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. In: YOUSSEF, Samira Campedelli . Gramática dotexto, texto da gramática. São Paulo: Saraiva, 1999, p.270.

A descrição é um retrato de pessoas, ambientes e objetos. Neste formato textualocorre a predominância de adjetivos e dos verbos de ligação. Freqüente faz-se o empregode metáforas, comparações e outras figuras de linguagem com a finalidade de caracterizarde forma profunda o objeto, coisa ou ser descrito.

Um auto-retrato é uma descrição de si mesmo. Perceba a presença de váriosadjetivos no texto de Juca Chaves, além do uso de figuras de linguagem como a antítese‘milionário em senso de humorista x duro sem dinheiro’.

Auto-retrato

Simpático, romântico, solteiro,autodidata, poeta, socialista.Da classe 38, reservista,de outubro, 22, Rio de Janeiro.Com bossa de qualquer bom brasileiro,possuo o sangue quente de um artista.Sou milionário em senso de humorista,mas juro que estou duro sem dinheiro.

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Leitura eProdução de

Texto

Há quem me julgue um poeta irreverente,mentira, é reação da burguesia,que não vive, vegeta falsamente,num mundo de doente hipocrisia.Mas o meu mundo é belo e diferente:vivo do amor ou vivo de poesia...E assim eu viverei eternamente,se não morrer por outra Ana Maria.

(História da música popular brasileira – Juca Chaves)

Na dissertação, o autor faz uma explanação de idéias sobre determinado assunto.Para isso, ele precisa ler, analisar dados da realidade a fim de subsidiar seu texto cominformações e argumentos possíveis. Produzir um texto dissertativo é discorrer sobre umassunto e, ao mesmo tempo, convencer/persuadir o leitor da credibilidade do ponto devista do autor. Neste formato textual prevalece a linguagem objetiva e denotativa.

20 de novembro:Dia Nacional da Consciência Negra ou de combate a dengue?

Em pleno sistema escravocrata - ao contrário do que pensa a maioria de estudantesde instituições de nível superior no Brasil - as diversas etnias africanas que vieram para ocá com o objetivo de sustentar monopólios latifundiários, como os das usinas da cana-de-açucar, faziam rebeliões, matavam seus senhores e fugiam para quilombos escondidosmilitarmente, embrenhados em matas, vales e sertões. Todavia, no imaginário dosbrasileiros que têm acesso às escolas e ao nível superior, ainda persiste a falsa idéia deque os negros não criaram estratégias de luta e resistência contra o sistema escravista.Mal sabem eles que a História com H maiúsculo que aprendemos na escola é uma pseudo-história, denominada de história oficial, isto é, a versão contada pelas elites. Mal sabemeles que nos documentos escondidos nos Arquivos Públicos brasileiros, documentos daépoca, retratos mais fiéis do que os livros didáticos, estão relatadas diversas rebeliões,fugas e criação de quilombos, que eram tão ou mais organizados social e politicamentedo que as vilas onde viviam as elites e as “sub-elites”. A falta de informação que paira nacasta mais privilegiada da sociedade brasileira – os que tiveram acesso à escola – éassustadora, mas confirma a eficácia do poder político e econômico no Brasil: alienarpessoas. Portanto, mesmo depois do movimento negro menosprezar o 13 de maio, porser este o dia em que uma não-negra assinou o fim da escravidão apenas no papel, e nolugar desta data eleger o dia da morte de Zumbi como o dia em que o próprio negroconquistou sua consciência étnica e libertária, para estas pessoas ainda paira uma dúvidacruel: 20 de novembro: Dia Nacional da Consciência Negra ou de Combate a dengue?

Luciana Moreno

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Leia o texto abaixo da renomada autora brasileira Marina Colasanti.

A moça tecelãMarina Colasanti

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas danoite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ia passando entreos fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois, lãs mais vivas. Quentes lãs iam tecendo hora a hora, um longo tapete quenunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava nalançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazidapelas nuvens, escolhia um fio de prata que em pontos longos rebordava sobre o tecido.Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavamos pássaros, bastava à moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltassea acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os grandes pentesdo tear para frente e para a trás, a moça passava seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado, de escamas.E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lãcor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão,dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e

pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao lado.Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca

conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia.E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpoaprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio daponta dos sapatos quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma,e foi entrando na sua vida.

Aquela noite deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos queteceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, por algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo osesqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisastodas que ele poderia lhe dar.

-Uma casa melhor é necessária – disse para a mulher. E parecia justo, agora queeram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para osbatentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. – Por que ter casa se podemoster palácio? – perguntou. Sem querer resposta, imediatamente ordenou que fosse depedra com arremates de prata. Dias e dias, semanas e meses, trabalhou a moça tecendotetos e porta, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora e ela não tinha tempo

Conto: a Poesia inesperada do Cotidiano

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Leitura eProdução de

Texto

para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar odia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhandoo ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tanto cômodos, o marido escolheupara ela e seu tear, o mais alto quarto da mais alta torre.

-É para que ninguém saiba do tapete – disse. E antes de trancar aporta a chave advertiu: - Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso, tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo opalácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo que fazia.Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que opalácio com todos os seus tesouros. E, pela primeira vez, pensou como seria bom estarsozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novasexigências. E descalça para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-seao tear.

Desta vez, não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrárioe, jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceuseus cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e opalácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena esorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou, e espantadoolhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dossapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara e foipassando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha dohorizonte.

(Doze reis e a moça no labirinto do vento. 2.ed. Rio de Janeiro: Nórdica,1985.)

Este texto é um conto. Para Massaud Moisés (1995, p.54), “o conto desenvolvesutilezas que, acentuando-lhe a fisionomia estética, o aproximam de uma cena do cotidianopoeticamente surpreendida”.

Características do conto:

a) Contém um só drama, um só conflito;b) O espaço da ação é limitado, dentro deste espaço pode-se percorrer vários

pontos, mas só em um ocorrerá a essência do conflito;c) Ocorre num lapso de tempo, não interessando nem passado nem futuro dos

personagens;d) Há poucos personagens no conto;e) A linguagem do conto é concisa e sem efeitos de dispersão;f) O foco narrativo pode ser em primeira ou terceira pessoa;g) No conto, o desfecho guarda um enigma, por isso ele é sempre surpreendente

para o leitor; todavia, desde o começo, sugere-se o desenlace;h) Por ser uma narrativa curta, não há espaço para análise detalhistas de personagens

e espaço.

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Acompanhe o texto de Danusa Leão sobre a adequação do indivíduo, seucomportamento e linguagem no tempo.

Como dá trabalho ser (parecer) jovem

Quem não for jovem, nos dias de hoje, não é ninguém. E se tiver chegado a umaidade que não dê mais para disfarçar, então vai ter que apelar, despudoradamente, e usarde todos os meios para poder entrar na onda, gostou do termo?

As roupas, por exemplo, têm que ser ousadas e modernas e, mesmo que o corponão suporte mais um jeans 38, é muito melhor parecer maluca do que uma senhoradistinta. Em primeiro lugar, várias peças de oncinha têm que fazer parte de sua vida: umlencinho, um legging, uma blusa, um blazer – e cabelo grisalho, nem pensar. Use umacor bem extravagante (...).

Sua cabeça – por dentro – também tem que mudar completamente. Esteja semprea favor de todas as loucuras que seus netos fizerem (...); seu cartaz vai subir às alturas, eninguém - ninguém mesmo – vai nem de longe ficar fazendo aqueles cálculos horrendospara saber quantos anos você tem.

Vai ser precisos decorar algumas expressões e palavras novas; nada evidenciamais a idade de uma pessoa do que termos do passado. Exemplos: não diga jamais apalavra vitrola – diga som; nem fale em disco – só em CD. Se disser anúncio ou reclame,é uma condenação à morte; a palavra certa é publicidade, sacou? (sacou, sim – morou,nem pensar).

É necessário estar muito por dentro de todos os movimentos musicais, e aí épreciso muita cautela: não se diz piano, se diz cordas, não se diz conjunto nem orquestra,se diz banda – e pode falar em bateria, mas não se esqueça jamais da percussão. Deupara entender? Então, agora, decore. Também nunca diga que foi ver uma fita de cinema– é sempre um filme. E também é proibido dizer que foi ver uma peça de teatro – se diz oespetáculo. É a vida é difícil, mas não existe outra solução para quem quer permanecereternamente jovem. Nunca fale de retratos, só de fotos, e de preferência não mostrenenhuma, jamais. E, quando pretender expor uma idéia no seu trabalho, não se esqueçade dizer que vai apresentar um projeto, para ser respeitada pelos colegas e pelo chefe.

Se te propuserem um trabalho novo que você não tem a menor idéia do que setrata e está morrendo de medo de aceitar, não confesse isso nem ao travesseiro: diga queconsidera um desafio, e que você – claro – adora desafios. E esse novo trabalho, seja elequal for, deve ser considerado um presente – a palavra da moda hoje em dia quando nãose sabe o que dizer. Se você aluga uma sala para criar – criar é ótimo – um novo projeto,diga que agora tem um espaço só seu; vai ser muito respeitada por isso.

E, quando começarem a falar sobre o passado, amnésia total. Tem gente queadora falar da Grapete, do cuba-libre, da voz do Orlando Silva, das garotas do Alceu, daRevista do Rádio, dos tempos dos bondes, dos cinemas Metro e Rian e de quando MarioLanza destruía corações. Se você perceber que está entrando na onda nostálgica e prestesa contribuir com a conversa lembrando dos filmes de Maria Antonieta Pons, que ia verescondido, e do corpo espetacular que tinha Elvira Pagã, o melhor que tem a fazer é dizerque combinou de ver o show de Paralamas e que depois vai a uma festa organizada peloValdemente – ou sua reputação estará destruída para sempre.

Um grande problema esta história de querer ser jovem para sempre.

LEÃO, Danusa. O Estado de S. Paulo. 10 out.1997, Caderno Cidades, p.7.

Crônica: uma Fotografia do Cotidiano

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Leitura eProdução de

Texto

O texto que você acabou de ler é uma Crônica, um breve registro deeventos cotidianos. Esses textos comentam, de forma crítica, acontecimentosque ocorreram durante a semana. Têm, portanto, um sentido histórico e servem,assim como outros textos do jornal, para informar o leitor.

Características:

a) Textos publicados em jornais, revistas e sites. Portanto, por seremtextos de periódicos são efêmeros, pois aqueles publicados ONTEM não receberão a mesmaatenção por parte do leitor AMANHÃ, nem daqui há dez anos;

b) O cronista se alimenta dos acontecimentos diários;c) A crônica situa-se entre o JORNALISMO (por ser texto informativo) e a LITERATURA

(por possuir um ‘toque próprio do autor’ que inclui em seu texto elementos como ficção,fantasia, crítica).

d) Geralmente, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprioescritor está “dialogando” com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visãototalmente pessoal de um determinado assunto;

e) O autor expõe sua forma pessoal de compreender os acontecimentos que ocercam;

f) Apresenta linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e literária.

ComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresAtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividades

GÊNEROS TEXTUAIS

11111..... Faça um levantamento dos aspectos que definem os textos abaixo. Considere:

- Vocabulário. Existe no seu texto palavras novas, estrangeiras, gírias, técnicas?- Grafia. Como é a ortografia do seu texto? De acordo com o padrão ou contém

“erros”?- Estrutura da oração. As frases do seu texto são curtas ou longas? A extensão das

frases é indiferente para o significado do texto ou modifica de algum modo a compreensão?- Concordância. Existem as formas consideradas “erradas” de concordância verbal

e nominal?- Destinatário. Para quem se dirige o texto? Qual o perfil social e cultural do leitor?

Rico, pobre, mulher, homem, criança, adulto, idoso? Ou o texto se dirige a todo mundoindiscriminadamente? Como você sabe?

- Aspecto gráfico. Como está a disposição em parágrafos, a disposição das linhas?Há palavras em itálico, em negrito, caixa alta, sublinhadas, com iniciais maiúsculas? Oaspecto gráfico tem alguma função?

- Origem. Onde é mais provável encontrar este texto? Jornal, revista, anúncio, livro,livro didático?

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- Intenção. Com que intenção o texto foi escrito?- Idade. No texto que você analisa, é possível identificar a época a que ele pertence?

(Adaptado da obra de FARACO, Carlos Alberto. Prática de textos: para estudantes universitários. São Paulo: Ed. Vozes, 1992).

- Xis veiz treis é iguar a nove! Qual é o valor di xis?- Ei, Chico! Vamo pescá?- Hum... Só se ocê disse quar qui é o valor de xis!(...)- Oi, seu Joaquim! Tem xis?- Oia, Zé! Eu num vendo dessas coisas aqui na venda. Pru que ocê num vai numa

bibrioteca? Ele lá é qui intende di letra!(...)- A letra xis fica daquele lado!- I quanto qui é o valor dela?- Olha, nenhum dos nossos títulos está a venda. Por que você não vai a uma livraria?(...)- Xis!? Nunca ouvi falar disso! Por que não vai a uma lanchonete? Lá tem muitos Xis!

X-salada, X-burguer...(...)- Chico, ocê só me fez andá feito loco. Num discubri o valor do danado do xis.- Num carece mais. A mãe me ajudô a resorvê o pobrema!- Quar que é o valor do Xis, afinar?- É treis! Pruque xis veiz treis é iguar a nove!- Bão... Agora qui ocê resorveu seu pobrema, vamo pescá. O rio deve di ta cheio di

pexe!- Aliás, Zé, pexe é cum xis ô cum ceagá?- Como ocê é chato... ô xato?

LIBRA

23 de setembro/22 de outubro

A busca da beleza e do equilíbrio é marcante na personalidade das librianas.Agradáveis e charmosas, elas sempre conseguem seu intento. São ambiciosas e nuncadesistem. Neste mês, o Sol em conjunção astral com Netuno vai iluminar todas as açõesdas nascidas neste signo, ajudando-as no auto-conhecimento e a tomar decisões maiscorretas. Uma alerta: a posição lunar na primeira semana sugere que você não gaste à toa,economize e abra uma poupança.

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Leitura eProdução de

Texto

S.Carlos

Favor de comprar cera, lustra move, ajaque, e foco para a porta da salaque está queimado.

A bassora de barre carçada quebrou o cabo. Na Samtana tem umasboa que eu já vi. A mais simpre atura mais tempo. Tem vitamina das pranta.

Tião Marta.

CHUVA NO BREJO

Olha como a chuva caiE molha a folha aqui na telhaFaz um som assimUm barulhinho bomFaz um som assimUm barulhinho bomÁgua novaVida veio ver-teVoa passarinhoNo teu canto cantaAntiga cantigaNo teu canto cantaAntiga cantiga.

NASCI ANTES DO TEMPO

Tudo que criei e defendinunca deu certo.Nem foi aceito.E eu perguntava a mim mesmaPor quê?

Quando menina,ouvia dizer sem entender

quando coisa boa ou ruimacontecia a alguém:Fulano nasceu antes do tempo,Guardei.

Tudo que criei, imaginei e defendinunca foi feito.

E eu dizia como ouvia

a moda de consolo:Nasci antes do tempo.

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Alguém me retrucou.Você nasceria sempreantes do seu tempo.Não entendi e disse Amém.

ADMINISTRAR: V.t> 1. Exercer a administração de (negócios públicos ouparticulares). 2. Dar a tomar, ministrar (sacramento, remédio). 3. Aplicar, conferir V. int. 4.Exercer as funções de administrador. * administrador adj. e s.m.

CONTINHO

Era uma vez um menino triste, magro e barrigudinho do sertão de Pernambuco.Na soalheira danada de meio-dia, ele estava sentado na poeira do caminho imaginandobobagem, quando passou um gordo vigário a cavalo:

- Você aí, menino, para onde vai essa estrada?- Ela não vai não: nos é que vamos nela.- Engraçadinho duma figa! Como você se chama?Eu não me chamo não, os outros é que me chamam de Zé.

CONTO

11111..... O texto abaixo é um conto ou uma crônica?

2.2.2.2.2.Retire dele os elementos da narrativa: espaço, tempo, personagens, foco narrativo

e temática.

3.3.3.3.3. Escolha uma passagem do texto que mais lhe mobilizou, comente-a e justifique

sua escolha.

TEXTO 1

A partidaOsman Lins

Hoje, revendo minhas atitudes quando vim embora, reconheço que mudei bastante.Verifico também que estava aflito e que havia um fundo de mágoa ou desespero emminha impaciência. Eu queria deixar minha casa, minha avó e seus cuidados. Estavafarto de chegar a horas certas, de ouvir reclamações; de ser vigiado, contemplado, querido.Sim, também a afeição de minha avó incomodava-me. Era quase palpável, quase comoum objeto, uma túnica, um paletó justo que eu não pudesse despir.Ela vivia a comprar-me remédios, a censurar minha falta de modos, a olhar-me, a repetir conselhos que eu jásabia de cor. Era boa demais, intoleravelmente boa e amorosa e justa.Na véspera daviagem, enquanto eu a ajudava a arrumar as coisas na maleta, pensava que no dia

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seguinte estaria livre e imaginava o amplo mundo no qual iria desafogar-me: passeios, domingos sem missa, trabalho em vez de livros, mulheresnas praias, caras novas. Como tudo era fascinante! Que viesse logo. Que ashoras corressem e eu me encontrasse imediatamente na posse de todosesses bens que me aguardavam. Que as horas voassem, voassem! Percebique minha avó não me olhava. A princípio, achei inexplicável que ela fizesseisso, pois costumava fitar-me, longamente, com uma ternura queincomodava. Tive raiva do que me parecia um capricho e, como represália,

fui para a cama. Deixei a luz acesa. Sentia não sei que prazer em contar as vigas do teto,em olhar para a lâmpada. Desejava que nenhuma dessas coisas me afetasse e irritava-me por começar a entender que não conseguiria afastar-me delas sem emoção. Minhaavó fechara a maleta e agora se movia, devagar, calada, fiel ao seu hábito de fazerarrumações tardias. A quietude da casa parecia triste e ficava mais nítida com os poucosruídos aos quais me fixava: manso arrastar de chinelos, cuidadoso abrir e lento fechar degavetas, o tique-taque do relógio, tilintar de talheres, de xícaras. Por fim, ela veio ao meuquarto, curvou-se. Acordado? Apanhou o lençol e ia cobrir-me (gostava disto, ainda hojeo faz quando a visito); mas pretextei calor, beijei sua mão enrugada e, antes que elasaísse, dei-lhe as costas. Não consegui dormir. Continuava preso a outros rumores. Equando estes se esvaíam, indistintas imagens me acossavam. Edifícios imensos,opressivos, barulho de trens, luzes, tudo a afligir-me, persistente, desagradável — imagensde febre. Sentei-me na cama, as têmporas batendo, o coração inchado, retendo umaalegria dolorosa, que mais parecia um anúncio de morte. As horas passavam, cantavamgrilos, minha avó tossia e voltava-se no leito, as molas duras rangiam ao peso de seucorpo. A tosse passou,emudeceram as molas; ficaram só os grilos e os relógios. Deitei-me. Passava de meia-noite quando a velha cama gemeu: minha avó levantava-se. Abriude leve a porta de seu quarto, sempre de leve entrou no meu, veio chegando e ficou de péjunto a mim. Com que finalidade? — perguntava eu. Cobrir-me ainda? Repetir-meconselhos? Ouvi-a então soluçar e quase fui sacudido por um acesso de raiva. Ela estavaolhando para mim e chorando como se eu fosse um cadáver — pensei. Mas eu não meparecia em nada com um morto, senão no estar deitado. Estava vivo, bem vivo, não iamorrer. Sentia-me a ponto de gritar. Que me deixasse em paz e fosse chorar longe, nasala, na cozinha, no quintal, mas longe de mim. Eu não estava morto. Afinal, ela beijou-me a fronte e se afastou, abafando os soluços. Eu crispei as mãos nas grades de ferro dacama, sobre as quais apoiei a testa ardente. E adormeci. Acordei pela madrugada. Aprincípio com tranqüilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir. Inútil, o sonoesgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das três. Restavam-me,portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco. Veio-me então o desejo denão passar nem uma hora mais naquela casa. Partir, sem dizer nada, deixar quanto antesminhas cadeias de disciplina e de amor. Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha,lavei o rosto, os dentes, penteei-me e, voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei os sapatos,sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó continuava dormindo. Deveria fugir oufalar com ela? Ora, algumas palavras... Que me custava acordá-la, dizer-lhe adeus? Elaestava encolhida, pequenina, envolta numa coberta escura. Toquei-lhe no ombro, ela semoveu, descobriu-se. Quis levantar-se e eu procurei detê-la. Não era preciso, eu tomariaum café na estação. Esquecera de falar com um colega e, se fosse esperar, talvez nãohouvesse mais tempo. Ainda assim, levantou-se. Ralhava comigo por não tê-la despertadoantes, acusava-se de ter dormido muito. Tentava sorrir. Não sei por que motivo, retardeiainda a partida. Andei pela casa, cabisbaixo, à procura de objetos imaginários enquantoela me seguia, abrigada em sua coberta. Eu sabia que desejava beijar-me, prender-se amim, e à simples idéia desses gestos, estremeci. Como seria se, na hora do adeus, ela

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chorasse? Enfim, beijei sua mão, bati-lhe de leve na cabeça. Creio mesmo que lhesurpreendi um gesto de aproximação, decerto na esperança de um abraço final. Esquivei-me, apanhei a maleta e, ao fazê-lo, lancei um rápido olhar para a mesa (cuidadosamenteposta para dois, com a humilde louça dos grandes dias e a velha toalha branca, bordada,que só se usava em nossos aniversários.

CRÔNICA

Leia o texto abaixo:Crônica publicada no jornal Folha de S. Paulo, em 28 de julho de 1991.

É de puxar os olhos

E o camarão se mexeu. O danado estava vivo! Posso parecer um pouco caipira, játinha comido peixe cru em restaurante japonês, mas cru e vivo, nunca! Foi só pegar nobicho com os tais pauzinhos e vuupt, o camarão deu um salto de samurai de volta para oprato. E assim progredia a visita ao Japão... Descer no aeroporto de Narita leva à reflexãosobre o que incentiva milhares de nisseis a abandonarem o Brasil à procura de umaoportunidade no Japão. Logicamente, ganhar dinheiro verdadeiro é uma razão. Em vezde trocarem o seu esforço por uma moeda-piada do tipo cruzeiro, cruzado ou cruz-credo,o conforto de botar alguns iens no banco e saber que ainda estará lá quando for verificaro extrato. Até aí tudo bem. Mas fico pensando se o desespero é parte vital da decisão e seos nossos nisseis sabem em que estão se metendo.

Esta semana foi interessante aqui. A primeira-ministra da França, Edith “menina-veneno” Cresson, disse que os japoneses não sabem viver, que mais parecem umasformigas. O pessoalzinho daqui ficou uma vara. Passados alguns dias, bomba em cimade bomba com casos magistrais de corrupção nos mais altos níveis (ao leitor distraídoreafirmo que estou em Tóquio e não em Brasília). Começou com o Marubeni, acusado dedesvios de propinas para políticos. Aí, foi a vez da Nomura, a maior corretora de bolsa devalores do mundo, que andou desviando dinheiro e dando propina para políticos. E, parafinalizar a novela da semana, a Itoman vê os seus executivos saírem algemados porenvolvimento em - pasmem! - desvio de fundos e propinas para políticos. E foram trêscasos totalmente independentes um do outro...

Rumar para o Japão à procura do pote de ouro do fim do arco-íris é uma ingenuidade.O Japão é moderno, mas as suas tradições milenares desafiam qualquer análise oucompreensão superficial. É a meca da inovação, mas é também o país que mais copiouprodutos na história industrial. Tem ares de liberdade de mercado, mas é uma das naçõesmais protecionistas e paternais do globo. É líder em tecnologia em diversas áreas, massó deixa japoneses legítimos assumirem qualquer cargo de importância nas empresas.Fã do capitalismo livre, é mestre inigualável de intervenção estatal e poupança forçada.É nação orgulhosa de sua raça, mas os seus ídolos de comerciais não têm nem mesmoos olhos puxados, a exemplo de um comercial muito popular por aqui com o nosso “acereraA-i-roton”! Aos nisseis que pensam em vir para cá, cabe a mesma reflexão que vale paraNova Jersey ou Lisboa. Todas as nações têm muito a ensinar, mas também muito aaprender. Nivelar as expectativas com os pés no chão fará com que nossos imigrantesvoltem algum dia ao Brasil para ajudar a desatolar o nosso país com o que vivenciaramfora. É bom colocar tudo no prato para evitar, como no caso do meu camarão rebelde, quese acabe comendo cru...

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Leitura eProdução de

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Texto extraído do livro de SEMLER, Ricardo. Embrulhando o Peixe -crônicas de um empresário do sanatório Brasil. 2. ed. São Paulo: Best Seller,1992. p. 58 - 59.

Com base na crônica e na manchete do jornal acima, tente realizar asatividades a seguir:

11111..... Quais são as idéias defendidas pelo autor ao longo do texto? Tente fazer uma

lista com essas idéias.

2.2.2.2.2. Será que você tem a mesma opinião sobre esse assunto? Faça uma lista com

as suas idéias.

3.3.3.3.3. Em que parte do texto de Semler é mencionado o acontecimento que dá origem

à sua crônica? No início? Ao longo do texto?

4.4.4.4.4.Como o autor encerra sua crônica? Há alguma ligação entre a frase que encerra

e a que inicia a crônica?

5.5.5.5.5.O escritor estabeleceu alguma relação entre o Brasil e o fato ocorrido no Japão?

6.6.6.6.6. Qual o “recado” central que o autor do texto dá? Existe, na crônica, alguma frase

que sintetize essa idéia?

Indicações de leitura...

Lygia Fagundes Telles é a maior contistabrasileira viva. Desta vez, a indicação de leitura éampla: vale a pena ler qualquer obra desta autora.Especial destaque para Antes do Baile Verde.Dezoito dos melhores contos de Lygia se encontramneste volume. Estes textos evocam um clima dedesencanto e dissipação. Quando tudo parececorrer bem, detalhes agudos e sutis desmentemtal ilusão.

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Leia o texto abaixo referenciado:

Gravidez na adolescênciaDr. Nelson Vitiello

A gravidez da mulher jovem não é um problema exclusivo de nossos dias; ao analisara história familiar, a maioria de nós poderá constatar que até 2 ou 3 gerações os casamentose gestações precoces eram comuns. Nossas avós casavam-se aos 15 ou 16 anos ecomeçavam a procriar, nunca ocorrendo a ninguém daquela época que isso pudesse serum problema, pois essas gestações eram desejadas. O que se tem constituído empreocupação, nos dias atuais, é o crescente número de gestações indesejáveis e indesejadas(ou talvez melhor dito “inoportunas”), surgidas como um “efeito colateral” do exercício maisou menos desorientado da sexualidade entre as adolescentes atuais que, pelas suas própriascaracterísticas, na maioria das vezes ainda não são capazes de avaliar e de assumir osriscos e as conseqüências dessa vida sexual ativa.

O problema da gestação indesejada entre adolescentes passou a se tornar importantea partir da década de 60. Nessa época, como resultado da revolução de costumes entãoocorrida, houve maior liberalização do exercício da sexualidade, que resultou em aumentoda freqüência de gestações indesejáveis entre adolescentes.

Dentre os inúmeros fatores que contribuíram para essa situação, os mais importantessem dúvida têm sido o uso e abuso da sensualidade nos meios de comunicação de massae as visíveis mudanças nos costumes e na constituição das famílias, conseqüentes àacelerada urbanização. Além disso, ocorreu também uma perda da capacidade de controlesobre a sexualidade das jovens, pois o ambiente das grandes cidades não mais permiteque nelas funcionem os tradicionais meios sociais e familiares de controle.

Tivemos assim nas últimas décadas um meio social que estimula os jovens(especialmente as mulheres adolescentes) ao início da vida sexual ativa, sem, no entantoprepará-los para o exercício consciente dessa sexualidade. Como seria de se esperar,essa situação resultou num grande aumento da freqüência de doenças sexualmentetransmissíveis e de gestações indesejadas.

No Brasil, embora não existam estatísticas globais, dados do IBGE nos dão contaque ocorrem cerca de 600 mil partos adolescentes por ano, aos quais devemos acrescentarno mínimo outras 500 mil gestações que terminam em abortamento provocado.

Outra cruel faceta do problema é a do filho socialmente indesejado. A inadequaçãosocial dessas crianças, muitas vezes abandonadas e mal amadas, é importante causa demortalidade infantil e de delinqüência juvenil.

Do ponto de vista orgânico, as pesquisas mais recentes vêm mostrando que ascomplicações não são importantes, sendo os riscos, na verdade, muito mais psicológicose sociais do que propriamente físicos. Tanto é assim que a gestação transcorre praticamentesem problemas, quando desejada e em situação socialmente favorável. Gestantesadolescentes têm, por exemplo, maior freqüência de elevação da pressão arterial; essequadro, no entanto, se adequadamente assistido não leva a conseqüências sérias. Outros

AtividadeAtividadeAtividadeAtividadeAtividade

OrientadaOrientadaOrientadaOrientadaOrientada

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Leitura eProdução de

Texto

problemas, como as anemias, surgem basicamente por ser mais difícil oacesso à assistência pré-natal. Essa mesma dificuldade contribui para quesejam mais freqüentes entre mães adolescentes os partos prematuros.

Lembremos que uma vez instalada uma gestação indesejada, aadolescente só tem três soluções possíveis, nenhuma delas satisfatória emtodos os sentidos; abortamento, casamento de conveniência ou, se asanteriores não forem as eleitas, ser mãe solteira adolescente.

O abortamento provocado, pelos riscos que traz, não é evidentementeuma opção desejável; o casamento por conveniência, leva a freqüentes separações e,quando não, a um convívio infeliz; finalmente, ser mãe solteira adolescente tem imenso peso,num meio preconceituoso como é o nosso. Assim, nenhuma dessas três soluções é a ideal,cada uma delas criando novos problemas.

A solução, evidentemente, não está em reprimir a sexualidade dos adolescentes,mas sim em prepará-los para o seu exercício, introduzindo o uso de metodologiaanticoncepcional em seus hábitos de comportamento. Em outras palavras, a solução sóserá possível com a instalação de programas coerentes e duradouros de educação sexual.

Referência:VITELLO, Nelson. Gravidez na adolescência. Pais & Teens, fev/mar/abr.1997. p.16.

Após a leitura e interpretação do texto Gravidez na adolescência, de Nelson Vitello,responda as seguintes questões:

Quais as comparações feitas pelo autor entre a adolescente do passado e dacontemporaneidade?

Segundo o autor, quais as causas da gestação indesejada?

O autor utiliza dados do IBGE para argumentar através de dados objetivos. Identifiqueo ponto de vista do autor sobre o tema: Gravidez na adolescência, e liste os argumentosusados por ele para sustentar tal posicionamento.

O autor aponta três possíveis soluções para o problema. Reescreva-as e posicione-se em relação a elas, ou seja, informe e justifique se você é a favor ou contra a cada umadelas.

Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 11.

2.

3.

4.

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Elabore um resumo do texto, utilizando as idéias centrais de cada parágrafo. Paraisso, você deve fazer primeiro uma leitura atenciosa.

Produza uma crônica, conforme o tema indicado e as orientações abaixo:

a) Responda as seguintes questões sobre a manchete, a fim de demonstrar asinformações obtidas por você:

- Qual o tema a ser discutido?- Em que momento tal assunto acontece na sociedade ou na vida das pessoas?- Onde este tipo de problema acontece?- Como acontece?- Quem se envolve neste tipo de acontecimento? Faça descrição física e psicológica.- Por que acontece?- Você lembra de algum outro fato ocorrido com você ou com qualquer outra pessoa

possível de ser relacionado com o fato da manchete?

b) Complete as frases abaixo, para que você reflita e exponha seu ponto de vistasobre a manchete:

“Quando penso nesse fato, a primeira idéia que me vem à mente...”;“Na minha opinião esse fato é...”;“Se eu estivesse nessa situação, eu...”;“Ao saber desse fato eu me senti...”;“Sobre esse fato, as pessoas estão dizendo que...”;“A solução para isso...”;“Esse fato está relacionado com a minha realidade, pois...”.

c) Organize suas idéias. Agora que você já formou opiniões sobre o acontecimentoescolhido, é hora de escrever sua crônica.

Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 2

Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 3

“ TEMA: Gravidez na adolescência: aborto, casamentopor conveniência, mãe solteira. O que fazer quando nenhumadas soluções possíveis é a desejada?

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Leitura eProdução de

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LÍNGUA: sistema gramatical composto por estruturas mínimasdenominadas signos lingüísticos, pertencente a um grupo de indivíduos. Criaçãoda sociedade que sofre evolução contínua

LINGUAGEM: todo sistema de sinais que serve de meio a comunicação entre osindivíduos. É uma atividade psíquica e social;

IDIOMA: língua de um povo;

VARIEDADE LINGÜÍSTICA: como a língua é um fenômeno social, não existe a línguaunitária, mas uma diversidade de línguas que compõem a língua, desta forma a variedade éinerente a língua.

GRAMÁTICA: estudo ou tratado dos fatos da linguagem falada e escrita e das leisque a regulam; livro que contém as regras e os princípios que regem o funcionamento deuma língua;

TEXTO:ocorrência lingüística falada ou escrita; unidade de linguagem em uso;constrói-se na interação verbal; é uma unidade significativa constituída de estrutura

formal.

DISCURSO: a língua na execução individual.no ato da interação sócio-comunicativa.

PALAVRA: som ou conjunto de sons articulados com uma significação;termo;vocábulo.

LINGÜÍSTICA: ciência criada no século XX por Ferdinand de Saussure com o intuitode estudar a linguagem verbal humana, os signos lingüísticos e a estrutura da língua.

GlossárioGlossárioGlossárioGlossárioGlossário

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CAPACITAÇÃO PERMANENTE EM SERVIÇO (CPS): língua portuguesa/ Programa de regularização dofluxo escolar 5ª a 8ª série – Salvador: UNEB, 2003.

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AnotaçõesAnotaçõesAnotaçõesAnotaçõesAnotações

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FTC - EaDFaculdade de Tecnologia e Ciências - Educação a Distância

Democratizando a Educação.www.ftc.br/ead

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