03-04-2015história geral da civilização gat: 1º ano - ipca 1 programa sucinto (1) 1.história e...
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11-04-23 História Geral da Civilização GAT: 1º ano - IPCA
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Programa Sucinto (1)
1. História e cultura; civilização e civilizações; a dinâmica das civilizações.
2. A civilização ocidental e oriental: da construção do ocidente e do oriente.
3. A Europa; história de uma civilização; das origens greco-romanas ao surgimento e criação da União Europeia.
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Programa Sucinto (2)
4. A América e a civilização europeia no novo mundo
5. O mundo muçulmano: características e perspectivas.
6. O mundo africano e o mundo asiático: características e dinâmicas
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Módulo 2BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
Nemo, Philippe (2005). O que é o Ocidente? Lisboa, Edições 70.
Goody, Jack (2000). O Oriente no Ocidente, Lisboa, Difel.
Buruma, Ian & Margalit, Avishai (2004). Occidentalism. A Short History of Anti-Westernism. London: Atlantic Books.
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Introdução
• Será que a civilização ocidental possui valores e instituições comuns que superam as divisões geopolíticas dos estados que a compõem?
• Será ela distinta das civilizações chinesa, indiana, muçulmana e africana?
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Introdução (2)
• Nemo argumenta que a civilização ocidental se pode definir a priori pelo Estado de Direito, a democracia, as liberdades intelectuais, a racionalidade crítica, a ciência e uma economia liberal fundada na propriedade privada.
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Introdução (3)
• Segundo Nemo, houve 5 acontecimentos que estão na origem da civilização europeia:
1. A invenção da Cidade, da liberdade graças ao primado da lei, da ciência e da escola pelos Gregos;
2. A invenção do direito, da propriedade privada, da pessoa e do humanismo por Roma;
3. A revolução ética da Bíblia, a caridade supera a justiça;
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Introdução (4)
4. A Reforma Gregoriana dos sécs. XI a XIII
5. As Revoluções Democráticas (Americana, Inglesa, Francesa) que promoveram a democracia liberal e pluralismo nas áreas da ciência, política e economia, permitindo que o Ocidente se modernizasse.
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Introdução (5)
• Se é verdade que estes saltos evolutivos envolveram também civilizações não-ocidentais, não é menos verdade que «o que caracteriza o Ocidente foi ter sido modelado por todos os cinco e por mais nenhum outro» [Nemo].
• Este Ocidente não compreende um povo, mas sim povos de diferentes etnias, que assumiram uma mesma cultura.
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Introdução (6)
• Na Europa cristã diferentes grupos étnicos escolheram, por intermédio das suas elites, apropriarem-se, retrospectivamente, do direito romano e da ciência grega.
• Adoptaram esses passados, fazendo deles a fonte das suas normas, do seu imaginário e da sua identidade.
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A cidade e a ciência gregas (1)
• A cidade grega eclodiu no séc. VIII, no seguimento da destruição das monarquias sagradas e centralizadas do período micénico (circa 1200 a.C.) e da Idade das Trevas que lhe sucedeu.
• Esta mutação tem as seguintes características:
1. Quando a cidade surge o poder mágico-religioso do rei micénico ungido, que reunia na sua pessoa todas as funções sociais, tinha-se dissolvido sendo agora exercidas por diversos magistrados (militares, juízes, governantes, sacerdotes);
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A cidade e a ciência gregas (2)
2. Se o poder real micénico estava confinado ao segredo do palácio real, o poder dos magistrados na nova urbe é aberto ao público. Aparece a ágora onde se reúnem os cidadãos e a escrita passa a tornar públicos os pensamentos.
3. Com a ágora há uma valorização da palavra e da razão devido ao carácter público que o poder assumiu na cidade nascente.
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Fig. 1: Ágora gregaFonte: http://br.geocities.com
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A cidade e a ciência gregas (3)
4. Os membros da sociedade cívica ao acederem ao espaço público convivem como semelhantes. Nasce um homem abstracto (o cidadão grego), igual aos outros perante a lei, a ela submetido mas que participa no seu estabelecimento.
5. A religião torna-se inútil do ponto de vista social. É ao Estado, regido pela razão pública, que passa a caber a ordem social (aplicação das leis, e punição dos crimes). As formas de religiosidade privadas (e.g. confrarias) emergem.
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A cidade e a ciência gregas (4)
6. A lei sendo humana é passível de ser modificada e a ordem social pode ser criticada e modificada pelo homem. Nasce a política, como discussão radical das regras da vida social.
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A cidade e a ciência gregas (5)
• O Rei-Deus – a encarnação tanto da ordem cósmica como da terrena – desapareceu com a Grécia Antiga, para dar lugar a um governante secular.
• Passa a existir, assim, uma responsabilidade perante a comunidade e as suas leis.
• O Estados de direito modernos são devedores dos princípios gregos do governo pela lei e da liberdade individual.
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A cidade e a ciência gregas (6)
• O cidadão passa a estar liberto do poder arbitrário de um rei, de um ancião, de uma pessoa de casta superior ou de uma pessoa situada acima na hierarquia sócio-cósmica.
• A lei passa a ser geral - e não particular (só em casos de lacunas na lei) - pública, conhecida a priori, igual para todos e anónima. Ainda que se tenha assistido a uma regressão destes preceitos na Idade Média.
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A cidade e a ciência gregas (7)
• Com a consolidação do Estado cívico, a religião primitiva, deixa de impor de forma incontestável a sua visão do mundo, criando-se uma alternativa aos sábios para especularem sobre o Kosmos.
• O saber anterior à Polis grega incide sobre determinados objectos (astros, doenças, números,…), sem contudo se assumir como teoria, i.e. sem enunciar leis universais a que o universo esteja sujeito.
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A cidade e a ciência gregas (8)
• Assistir-se-á nesta época à maturidade das grandes disciplinas científicas: as matemáticas, a astronomia, a física, a medicina, a fisiologia, a zoologia, a biologia.
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A cidade e a ciência gregas (9)
• Decorrente da emergência da ciência, nasce no mundo helénico a escola, que representa um salto evolutivo relativamente aos ritos iniciáticos das sociedades primitivas e às escolas de escribas (técnicas) e confrarias de sábios (e.g. sofistas)
• As escolas primárias, onde o mestre ensina os pupilos a ler, escrever e contar; as escolas secundárias, onde o professor ensina gramática e literatura aos alunos e ainda as escolas superiores de filosofia, retórica e medicina, formam o sistema escolar grego.
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A cidade e a ciência gregas (9)
• O sistema escolar grego será o veículo de divulgação do espírito científico, ainda que não em toda a sociedade helénica e greco-latina, mas pelo menos nas suas elites.
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O Direito Romano e a persona (1)
• Os gregos inventaram o «governo pela lei», porém não aperfeiçoaram o direito, prevalecendo ainda as comunidades étnicas adstritas a um direito consuetudinário.
• Os jurisconsultos e magistrados romanos conceberam um sistema de direito privado altamente elaborado e sem equivalente no passado.
• Os romanos revolucionaram, assim, a concepção do homem e da pessoa humana.
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O Direito Romano e a persona (2)
• Roma, na sequência das suas conquistas, havia-se constituído como um estado multiétnico. Para resolver os litígios, o direito dos Quirites – de cariz ritual e mítico – não era aplicável porque estava vedado aos estrangeiros.
• Era, portanto, preciso utilizar palavras comuns e fórmulas que excluíssem referências a religiões ou instituições étnicas particulares. Tal necessidade levou ao desenvolvimento de um terminologia jurídica cada vez mais abstracta.
Expansão RomanaFonte: wikipédia
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O Direito Romano e a persona (3)
• Este processo criativo, requeria a confrontação com uma série heterogénea de casos e admitia tentativas de correcção.
• Reconhece-se, assim, a existência de um direito natural que vigorará sempre que homens de cidades diferentes não puderem ser postos de acordo segundo os códigos positivos das suas cidades respectivas.
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O Direito Romano e a persona (4)
• Esta lei comum a todos os homens e consciente aos homens honestos, permite consolidar e sistematizar a tarefa dos pretores (magistrado encarregado de aplicar a lei em Roma) que prosseguiu desde o séc. III a. C. até ao fim do séc. I d. C.
• A fonte do direito já não estava sujeita ao mito, nem tão-pouco ao costume, muito menos à revelação religiosa, mas à natureza humana objectiva, universal e passível de ser desvendada pela razão e pela consciência.
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Cícero ataca Catalina no Senado Fonte: wikipédia
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O Direito Romano e a persona (5)
• O Império prosseguirá a tarefa de codificação das normas do direito, cujo corolário será o Corpus Juris Civilis (corpo de direito civil) de Justiniano, no século VI d. C.
• O direito civil romano é ainda hoje o fundamento de todos os direitos ocidentais modernos.
• O avanço introduzido pelo direito romano permitiu definir e circunscrever a propriedade privada no tempo - «é o próprio eu que assume uma dimensão que não tivera em nenhuma outra civilização» [Nemo].
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O Direito Romano e a persona (6)
• Assim, as vidas individuais deixam de se dissolver no colectivo. Ao inventar o direito privado, os Romanos conceberam a pessoa humana individual, livre, detentora de uma vida interior singular, um ego.
• O direito romano criou as condições que permitiram o reconhecimento social e institucional dos direitos, das liberdades e da perenidade da pessoa.
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O Direito Romano e a persona (7)
• Há uma evolução para uma relação interpessoal que deixa de assentar numa fusão no grupo, de tipo colectivista ou tribal e passa a admitir plenamente o indivíduo e a sua liberdade.
• A sociedade passa, assim, a reconhecer a existência e a cabal legitimidade da vida privada dos indivíduos.
• A invenção do humanismo, segundo Nemo, é originalmente romana. O humanismo decorre do direito privado e da protecção jurídica da propriedade; que levou a que a humanidade saísse do Tribalismo.
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A Ética Bíblica (1)
• Nemo defende que com a moral judaico-cristã do amor/ compaixão se introduziu uma inédita sensibilidade face ao sofrimento humano, um espírito de luta «contra a ideia de normalidade do mal».
• A Ética judaico-cristã consiste numa compaixão ardente pelos pobres que supera a justiça clássica de «dar a cada um o que lhe pertence», para abraçar a misericórdia que procura mudar a ordem social fazendo mais pelo próximo.
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A Ética Bíblica (2)
• Se a justiça que os Antigos, de Aristóteles a Cícero, enunciavam era uma igualdade de termos finitos («dar a cada um o que lhe pertence»); a misericórdia é uma desigualdade já que não é uma troca, ela é uma relação assimétrica.
• A noção bíblica de pecado original, supõe que carreguemos o fardo dos males do mundo sentindo-nos responsáveis pelo sofrimento no mundo, ainda que não sejamos dele causadores, devemo-nos sentir responsáveis.
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A Ética Bíblica (3)
• A aceitação duma dívida não contraída e nunca passível de perdão é precisamente o que constitui a humanidade do homem.
• A salvação só se alcança através do desempenho da caridade. Deve-se ir procurar um mundo ideal que está radicalmente afastado do mundo real.
• Hoje em dia este sentimento está secularizado, mas há uma crença no progresso e na possibilidade de construir, através da ciência e do desenvolvimento económico, um mundo melhor.
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O Fruto Proibido Michelangelo Fonte: Wikipédia
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A Reforma Gregoriana (1)
• Esta Reforma - que foi o acontecimento sociocultural mais relevante do final do séc. XI - foi realizada não só por Gregório VII (papa entre 1073 e 1085) mas também por papas anteriores e ulteriores, bem como outros clérigos e intelectuais durante muitos anos.
• Esta reforma reorganizou o conhecimento, os valores, as leis e as instituições não só da Igreja mas da sociedade europeia no seu conjunto.
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A Reforma Gregoriana (2)
• Nos sécs. X e XI, o feudalismo tinha atingido o seu apogeu e a sociedade europeia estava fragmentada num grande número de entidades políticas de pequenas dimensões.
• A insegurança imperava, e a sociedade carente de orientação espiritual abraçava o paganismo.
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A Reforma Gregoriana (3)
• O clero tinha perdido autonomia: eram os reis e os grandes senhores que designavam os detentores de altos cargos eclesiásticos. Os padres eram nomeados pelos pequenos senhores.
• E os titulares de cargos eclesiásticos encontravam-se enredados num sistema de corrupção e nepotismo (nomeação com favorecimento de parentes para cargos).
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A Reforma Gregoriana (4)
• Com o Dictatus Papae de 1074-1075 Gregório VII declarou que o papa tinha a autoridade para exercer na Igreja um poder absoluto.
• Combateu, desta forma, a simonia (corrupção na nomeação de cargos eclesiásticos), o nicolaísmo (vida marital dos padres) e as investiduras laicas.
• Decidiu que os bispos, os abades e os eclesiásticos em geral seriam nomeados apenas pelas autoridades da Igreja. Decretou o celibato dos padres, estabelecendo assim o clero como corpo social independente.
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Fig. 4 – O Dictatus papaeFonte: wikipédia
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A Reforma Gregoriana (5)
• Reformou ainda o direito canónico. Foram codificados os cânones antigos; e Gregório VII, numa medida de grande repercussão, ordenou o estudo renovado do direito romano antigo, que havia sido votado ao esquecimento desde a Alta Idade Média.
• Na cidade de Bolonha, o papa mandou Irnério fundar, aproximadamente em 1080, a primeira universidade de direito europeia.
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A Reforma Gregoriana (6)
• Anteriormente eram os direitos bárbaros, algumas reminiscências do direito romano e a moral cristã que governavam os comportamentos sociais.
• O novo direito canónico elaborado pelos Decretais e pelos concílios de Latrão e de Leão, nas palavras de Nemo, conseguiu «recristianizar», humanizar o direito romano e «jurisdicizar» (i. e. tornar mais prática) a moral cristã.
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A Reforma Gregoriana (7)
• Após as escolas de direito, foram criadas faculdades das Artes onde se ensinavam as artes liberais herdadas da Antiguidade (i.e. as ciências).
• Seguidamente foi criado um sistema completo de faculdades superiores: teologia, direito romano, direito canónico e medicina – é o início da idade de ouro da escolástica.
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A Reforma Gregoriana (8)
• Tomando a monarquia papal por modelo, os Estados Europeus puderam começar um longo combate contra o feudalismo.
• Começaram igualmente a legislar, a centralizar as suas administrações, a recolher impostos propriamente estatais e a julgar os recursos dos tribunais senhoriais, aumentando a sua proeminência e o seu controlo sobre o conjunto do país.
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A Reforma Gregoriana (9)
• Esta expansão dos Estados europeus, levou a que este continente passasse, entre os séculos XI e XIII, por um período de crescimento demográfico, urbano, económico e geopolítico.
• Foi neste período que a Europa ultrapassou outras civilizações que anteriormente tinham sido iguais ou até superiores a ela – Islão, Índia e China.
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A Reforma Gregoriana (10)
• A época testemunha uma expansão geopolítica: a Reconquista, as Cruzadas e o Impulso para Leste (Drang nach Osten) dos Alemães na direcção dos países eslavos do Nordeste da Europa.
• A Reforma Gregoriana irá ditar uma ruptura profunda e duradoura entre o cristianismo ocidental e a ortodoxia. A evolução díspar dos cristianismos provinha da sua separação geográfica e política.
O Grande Cisma do Oriente (1054)Fonte: wikipédia
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A Reforma Gregoriana (11)
• A mutação espiritual que a Reforma processou cavou entre os dois cristianismos um abismo, uma vez que os teólogos ortodoxos tomaram a adesão dos ocidentais à acção temporal como um sinal de que haviam renunciado à dimensão sobrenatural da vida.
• Se no domínio da natureza e do progresso económico /tecnológico os cristãos ortodoxos não atingiram o mesmo apuro que os ocidentais, tal se deveu ao facto de os primeiros não terem atribuído à razão, à acção e responsabilidade humanas o mesmo valor que os segundos.
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A Reforma Gregoriana (12)
• Com a Reforma usar a razão na ciência e no direito torna-se um dever sagrado para o homem ocidental.
• Se o homem, para Santo Agostinho (354-430), depois do pecado original não podia resgatar a sua falta com nenhuma obra humana. Só Deus podia salvar o homem com a sua graça.
• Já com Santo Anselmo (1033-1109) esta percepção do pecado e do valor da acção humana é alterada. A acção humana passa a contar para o balanço da salvação humana.
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A Reforma Gregoriana (13)
• O facto de se crer que a salvação possa depender da exacta medida em que realizamos a justiça humana, levou a que no espírito da época se assistisse a um ressurgimento do direito romano e da ciência grega nos sécs. XI a XIII, depois de uma época de olvido.
• O método escolástico praticado nas Universidades da Idade Média, apoiado na metodologia aristotélica, reanimou o espírito científico da Antiguidade e predispôs os pesquisadores para o procedimento hipotético-dedutivo característico da ciência moderna.
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A Reforma Gregoriana (14)• A civilização ocidental será de agora em diante uma síntese
entre Atenas, Roma e Jerusalém.
• Textos há muito disponíveis, guardados e recopiados nos mosteiros do Ocidente, até à Reforma tinham permanecido ocultos porque ainda não se lhes tinha dado o devido valor.
• O Corpus Juris Civilis; textos de ciência e filosofia grega até agora ignorados no Ocidente e recuperados com a Reconquista (bibliotecas árabes da Espanha) e as Cruzadas (Bizâncio) eram agora reputados de úteis e significativos.
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A Reforma Gregoriana (15)
• O direito romano e a ciência grega (matemáticas, astronomia, medicina, as ciências políticas e morais gregas) só tiveram utilidade quando se julgou moralmente indispensável conhecer o mundo e o homem em prejuízo de concepções mitológicas.
• Boa parte da obra de Aristóteles e Hipócrates chegou até nós através de recolhas e traduções árabes. A Europa também beneficiou das suas contribuições científicas originais, designadamente no domínio das matemáticas.
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A Reforma Gregoriana (16)
• Contudo, e de acordo com Nemo, estes elementos materiais são inferiores em relevância ao espírito (ocidental) que lhes deu significado e que levou à sua apropriação e posterior renovação integral.
• Este espírito conduziu a uma renovação da ciência, os manuscritos encontrados no Oriente foram a sua causa material, mas «se a causa material tivesse bastado, Galileu teria sido mongol.»[Nemo]
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A Eclosão Democracias Liberais (1)As insurreições dos protestantes franceses (huguenotes)
+ A guerra de libertação dos Holandeses contra os Espanhóis
+A Revolução Puritana e a Revolução Gloriosa em Inglaterra
+A Revolução Americana
+A Revolução Francesa
+Risorgimento italiano
=
INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS E LIBERAIS DOS PAÍSES OCIDENTAIS MODERNOS
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Fig. 4 – La liberté guidant le peuple Autor: Eugène Delacroix/ Fonte: wikipédia
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A Eclosão Democracias Liberais (2)
INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS E LIBERAIS DOS PAÍSES OCIDENTAIS MODERNOS
=Democracia representativa
+Sufrágio universal, individual, livre e secreto
+Separação de poderes
+Justiça independente e administração neutra
+Mecanismos de protecção dos direitos do homem e da propriedade
privada+
Tolerância religiosa; liberdade de imprensa, de associação, livre iniciativa
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A Eclosão Democracias Liberais (3)O LIBERALISMO INTELECTUAL
• Foram estas instituições que permitiram a emergência do mundo moderno e possibilitaram ao Ocidente, desde há 2 ou 3 secs. os seus sucessos internos e o domínio geopolítico do mundo.
• Todas estas reformas promoveram um novo modelo de organização das actividades humanas: a ordem espontânea da sociedade – que se constitui voluntariamente pela combinação das livres iniciativas dos seus membros.
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A Eclosão Democracias Liberais (4)
• Com a Reforma – e o consequente pluralismo religioso - do séc. XVI, os Europeus iniciaram um longo caminho em direcção à tolerância.
• Percurso iniciado na Idade Média (e.g. Abelardo) e depois prosseguido com os humanistas do séc. XVI (e.g. Erasmo) e terminado por pensadores como Locke e Voltaire.
• Posteriormente, através de pensadores como Bayle, Kant e Mill passa-se do conceito de tolerância ao de pluralismo crítico.
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A Eclosão Democracias Liberais (5)
• Com a contribuição dos autores mencionados e de outros pensadores chegou-se à evidência de que o pluralismo crítico, no domínio do saber, serve melhor a verdade do que a defesa autoritária e dogmática desta.
• Assim, o cidadão deve ser livre de expressar os seus pensamentos, pelo que se deve garantir constitucionalmente a liberdade de todas as instituições culturais: a edição, a imprensa, a escola, a investigação científica, as artes e os espectáculos.
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A Eclosão Democracias Liberais (6)
• Para além da liberdade individual, evoluiu-se paulatinamente para uma liberdade institucional, uma sociedade liberal alheia ao Estado e um sem número de organismos economicamente independentes deste.
• Segundo Nemo, o Estado e as suas instituições internas estão apoiados em certos modelos que não admitem a livre crítica a partir do seu interior, mas somente através de uma sociedade civil a ele exterior.
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A Eclosão Democracias Liberais (7)
• Estando os investigadores ligados a instituições - pois só aí podem trabalhar de maneira frutuosa - e, estando cada paradigma (modelo) do pensamento e da ciência alicerçado numa instituição, se nelas não houver liberdade não se poderão defender novos paradigmas.
• Estas ideias tiveram repercussão na evolução da ciência.
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A Eclosão Democracias Liberais (8)• Após a Reforma e a Contra-Reforma, o ideal do
dogmatismo (i.e. verdade absoluta) foi posto em causa.
• O cenário universitário foi expandido com a criação, no séc. XVIII das academias científicas. beneficiando da liberdade de publicação estabelecida na Holanda.
• No século XIX, a investigação científica sofreu um forte impulso com a criação das grandes instituições académicas europeias e americanas a quem é concedida a liberdade de pesquisa, terminando, assim, com a censura eclesiástica e estatal.
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A Eclosão Democracias Liberais (9)
• Também no século XIX, se afirma, por um lado, a liberdade de imprensa, por outro, a pouco e pouco a liberdade de pensamento (Declaração Francesa dos Direitos do Homem, 1789).
• Igualmente nesta época surge o primeiro estado moderno laico (E.U.A.).
• Outras civilizações acolheram, por vezes, o pluralismo religioso, mas nenhuma outra, como o Ocidente fez do pluralismo intelectual algo de valor, digno de ser protegido através de instituições criadas para o efeito.
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A Eclosão Democracias Liberais (10)
• De acordo com Nemo, houve uma ciência indiana, chinesa, japonesa e árabe, mas que se extinguiram devido à ausência de liberdade crítica.
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A Eclosão Democracias Liberais (11)
A DEMOCRACIA
• A democracia, tida como liberdade no processo de nomeação dos governantes e de tomada de decisão política, apareceu na Grécia e em Roma. Mas foi abolida com a aparição das monarquias helenísticas e do Império Romano.
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A Eclosão Democracias Liberais (12)• Depois das invasões bárbaras que assolaram a parte
Ocidental do Império Romano e do subsequente estabelecimento de reinos bárbaros, depois dispersos com o feudalismo, só no século XVIII se estabeleceu em Inglaterra a 1ª monarquia constitucional.
• A Revolução Americana e Francesa (1776 e 1789, respectivamente) foram variantes no mesmo sentido.
• A Democracia também só no Ocidente eclodiu, porque pressupunha os frutos civilizacionais descritos inicialmente.
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Fig. 5 – Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
(Fonte: wikipédia)
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A Eclosão Democracias Liberais (13)
• Para que emergisse a democracia foi preciso que desaparecesse da Europa, a ideia da monarquia de tendência absolutista.
• I. e.: o princípio de que certos homens, eleitos pelos deuses, possuam a capacidade de governar sozinhos e sem controlo, acima do direito comum pois têm o monopólio da Verdade.
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A Eclosão Democracias Liberais (14)
• Assim é preciso criar instituições para que nenhum governante, sozinho, tenha demasiado poder.
• O controlo permanente do Estado pela sociedade civil levou à criação do sufrágio universal, à marcação periódica de eleições, e à responsabilidade colegial do governo perante o parlamento.
• Há uma dessacralização do Estado. Assume-se que o Estado é mais falível do que a sociedade, pelo que é a sociedade que deve ser soberana em última instância.
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A Eclosão Democracias Liberais (15)
• Houve, contudo, momentos na história contemporânea europeia em que se ressacralizou o Estado, em que o Estado era tido como a única instituição social se poder exprimir em nome do interesse geral (e.g. socialismo, nacional-socialismo, fascismo, jacobinismo)
• A democracia pressupõe a convicção da falibilidade humana «do direito da humanidade a aspirar um futuro melhor, da ilegitimidade do poder político a assumir por si mesmo este futuro e a constituir o horizonte último da vida humana» [Nemo].
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A Eclosão Democracias Liberais (16)
LIBERALISMO ECONÓMICO
• A reflexão teórica sobre os mecanismos de base da economia de mercado iniciou-se no Ocidente, assim que se reiniciou o estudo dos textos gregos antigos, após a Reforma Gregoriana.
• S. Tomás de Aquino, pôs em causa o preço natural - noção aristotélica - e admitiu que os preços podiam variar em função da oferta e da procura, sem que esta variação fosse imputada à desonestidade do comerciante.
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A Eclosão Democracias Liberais (17)
• Os escolásticos e os neotomistas das Escola de Salamanca (secs. XVI e XVII) e, posteriormente, um conjunto de contributos de autores italianos, franceses, holandeses e ingleses foram continuadores desta reflexão.
• Todos estes autores (fisiocratas: Turgot, Say; clássicos ingleses: Smith, Ricardo, Malthus, etc.) pouco a pouco se aperceberam de que a riqueza das nações depende do desenvolvimento da livre troca, da livre iniciativa do comércio livre e da livre circulação de capitais.
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A Eclosão Democracias Liberais (18)
• No séc. XIX e XX, outros pensadores sociais se empenharam em demonstrar que a liberdade, ao invés de produzir o caos, cria uma ordem económica mais complexa e eficaz do que as ordens tradicionais ou do que as ordens administradas.
• Segundo Nemo, os comportamentos dos agentes económicos são duplamente coordenados pelo direito – que delimita a esfera da propriedade privada (evita conflitos com outrem) e pelos preços – que dizem o que devemos fazer para responder às nossas necessidades.
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A Eclosão Democracias Liberais (19)
• A economia é, segundo Adam Smith, um sistema auto-organizado capaz de recuperar constantemente os desequilíbrios decorrentes das mudanças de necessidades, dos recursos e das técnicas.
• Nenhuma autoridade central necessita de intervir, a não ser para garantir que todos respeitam as leis do jogo.
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A Eclosão Democracias Liberais (20)
• Este modelo vai impor-se na Europa e na América a partir dos sécs. XVII e XVIII provocando aí um crescimento sem precedentes a que se convencionou chamar revolução industrial.
A Eclosão Democracias Liberais (22)
OS ADVERSÁRIOS DA DEMOCRACIA LIBERAL
• Os adversários da democracia liberal dividiram-se em dois grupos: a direita, que defendia um retorno à sociedade feudal, monárquica, agrícola e artesanal e a esquerda que advogava uma sociedade imposta artificialmente que era considerada mais justa e racional.
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A Eclosão Democracias Liberais (23)
• Em ambos os casos, prevalecia a incompreensão e aversão em relação à sociedade democrática e liberal que então florescia.
• No séc. XX, os regimes totalitários de esquerda (comunismo) e de direita (fascismo, nacional-socialismo) conseguiram derrubar a democracia liberal.
• Todavia, ambos se revelaram incapazes de gerir a ordem social complexa das sociedades modernas, daí resultou o horror humano e o fracasso prático destes regimes.
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A Eclosão Democracias Liberais (24)
• De acordo com Nemo, as ideologias totalitárias foram impasses históricos e traições à tradição europeia.
• Fizeram reviver comportamentos tribais, aquém do civismo grego (negação do estado cívico) e do direito e humanismo romanos (o direito romano é estigmatizado como burguês) e aquém da caridade e da esperança bíblicas.
• Estes regimes, em suma, constituíram um retrocesso para formas sociais «anteriores aos acontecimentos espirituais na base dos quais o Ocidente se construiu.» [Nemo]
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A Eclosão Democracias Liberais (25)
• Para Nemo, a emergência dos totalitarismos na Europa, no passado século, vem provar que os valores e instituições firmadas pela civilização ocidental ainda são frágeis.
• A civilização humanista, cristã, democrática e liberal foi vitimada pela crise que ocorreu entre Guerras, na Europa. Os totalitarismos terão, por outro lado, ajudado o Ocidente a ter noção dos valores fundamentais da sua civilização.
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A Eclosão Democracias Liberais (26)
• O nacionalismo, que teve a sua origem na Idade Moderna, havia dividido profundamente a Europa, gerando guerras quase constantes entre os sécs. XVI e XIX.
• As crises do séc. XX terão «feito abrir os olhos e criado a possibilidade de a identidade em si do Ocidente se tornar uma identidade para si» [Nemo] (exemplo disto é a criação da UE).
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Universalidade da cultura ocidental (1)DEMOCRACIA LIBERAL, DIVISÃO DO SABER E PRODUTIVIDADE
• Os 5 elementos constitutivos da cultura do Ocidente vieram permitir que a sociedade aumentasse o seu saber, dividindo o trabalho a uma escala exponencialmente mais ampla em comparação com as civilizações anteriores.
• Nas civilizações anteriores a divisão de trabalho restrita só possibilitava uma produtividade fraca.
Universalidade da cultura ocidental (2)
• O escambo pressupõe um direito comercial que reja as trocas económicas; um direito civil que salvaguarde a propriedade privada e os contratos; um Estado-árbitro, neutro capaz de aplicar o direito e reprimir os delitos.
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Universalidade da cultura ocidental (3)
• Tudo isto só é possível em sociedades onde a pessoa humana individual e a liberdade sejam tidas em alta consideração; num universo onde a razão crítica se superiorize à mentalidade mágico-religiosa.
• «Foram estes universos que foram construídos pelo Ocidente» [Nemo]
• O desenvolvimento da economia de trocas facilitou a inventividade técnica e o crescimento da indústria, quebrando o ciclo vicioso do não desenvolvimento.
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Universalidade da cultura ocidental (4)
• Segundo Nemo, não foram tanto as invenções da mule jenny (tear mecânico) e da máquina a vapor que permitiram a revolução industrial, mas sobretudo as inovações introduzidas pelos grandes pensadores da democracia liberal (Smith, Turgot, Kant, Locke,…).
• Foi, então, o desenvolvimento no âmbito das ciências morais e políticas, que ao permitir a economia de mercado a grande escala, criou as condições para o avanço das ciências da natureza e das tecnologias.
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Tempos Modernos: Chaplin
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Universalidade da cultura ocidental (5)
EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA E O SEU SIGNIFICADO
• O primeiro resultado do aumento da produção, proporcionado pela adopção da economia de mercado foi o enorme surto demográfico.
• Esta expansão demográfica que se originou na Europa foi inclusive uma das causas principais para a migração de populações deste Velho Continente para o Novo Mundo (América e Oceânia) e África.
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Universalidade da cultura ocidental (6)
• O grande crescimento demográfico do Terceiro Mundo irá coincidir com a colonização europeia.
• A Europa traz consigo novas técnicas – higiene, medicina, etc. – e faz entrar na órbita da economia mundial regiões até então isoladas que, embora estejam sujeitas a termos de troca desiguais, beneficiam de recursos alimentares em quantidades inéditas.
• Antes desta expansão, a população das sociedades tradicionais estava submetida a uma lógica inalterada desde há milénios: estava limitada pela escassez de víveres.
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Universalidade da cultura ocidental (7)
• Os intelectuais de esquerda e de direita, a partir do séc. XIX, alvejaram o capitalismo por ter empobrecido os homens.
• Para Nemo, o que esse fenómeno fez, isso sim, foi uma multiplicação dos pobres, um crescimento das populações no limiar da pobreza.
• Na Europa, no séc. XIX, os progressos no aparelho produtivo serão utilizados para viver melhor, enquanto a população cresce modestamente.
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Universalidade da cultura ocidental (8)
• O Terceiro Mundo ainda permanece na primeira fase desta transição demográfica multiplicando-se a nível populacional, sendo portanto a sua pobreza mais impressiva do que passado (o aumento da produção não acompanha o aumento demográfico).
• O índice de reprodução de uma espécie, sempre ameaçada no seu meio ambiente, pela luta pela sobrevivência (Darwin), é um sintoma objectivo do seu sucesso na selecção natural.
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Universalidade da cultura ocidental (9)
• População Mundial: 250 milhões de pessoas no tempo de Cristo, mais que dobrou até ao séc. XVIII, de 1750 a 2000 a população cresceu de 700 milhões para 6 mil milhões (quase decuplicou).
• Se é pacífico que esta explosão demográfica teve o seu início na Europa e depois se alastrou aos outros continentes, à medida que eles contactavam com a Europa, a explicação para tal fenómeno é, para Nemo, a modificação interna das sociedades europeias.
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Universalidade da cultura ocidental (10)
VALOR UNIVERSAL DA SOCIEDADE DE DIREITO E DE MERCADO
• A emergência da sociedade de direito e de mercado diz respeito, no entender do autor, directamente ou de forma indirecta a toda a espécie humana. Tal invenção radica no Ocidente.
• As sociedade não-ocidentais, no futuro, serão levadas a viver numa civilização técnica de origem ocidental e numa economia globalizada que funciona com instituições jurídicas, económicas e monetárias internacionais que têm o timbre ocidental.
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Universalidade da cultura ocidental (11)
• Na história todas as sociedades que fomentaram uma arte de viver por si altamente estimada, tomaram os seus vizinhos por bárbaros, fazendo deles seus dependentes, recolhendo tributos ou tratando-os com desprezo.
• No Ocidente, a consequência da maldade humana universal e perpétua foi exponenciada pelo poder científico e económico que esta parte do globo atingiu. A experiência do colonialismo é disso testemunho.
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Universalidade da cultura ocidental (12)
• As civilizações não ocidentais que no passado se quiseram modernizar fizeram-no ocidentalizando-se de algum modo.
• Mustafá Kemal Ataturk, primeiro presidente da República Turca, fez a escolha de modernizar a Turquia secularizando-a.
• O Japão também procurou modernizar-se, ocidentalizando-se com grande rapidez desde a era Meiji.
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Universalidade da cultura ocidental (13)
• A modernização não exige uma completa ocidentalização, porém o desenvolvimento técnico a ela associado pressupõe uma divisão do saber e uma liberalização das trocas intelectuais e económicas, bem como um sistema fiável de direitos de propriedade.
• Para muitas culturas não-ocidentais isso é inadmissível pois redundaria numa transformação do conjunto das suas mentalidades e das suas instituições sociais.
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Universalidade da cultura ocidental (14)
• As sociedades que passaram por os cinco acontecimentos que temos vindo a relatar foram a Europa Ocidental e a América do Norte.
• A cultura da sociedade americana, canadiana, australiana e neo-zelandesa não difere da sua congénere europeia na sua essência. Todas estas sociedades possuem facetas civilizacionais comuns que se impõem às suas diversidades regionais.
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Universalidade da cultura ocidental (15)
• Para Nemo, os países da América Latina, da Europa Central, do mundo ortodoxo e Israel, são países com uma cultura quase ocidental.
• Nestes países ter-se-ia registado somente um ou dois dos cinco acontecimentos que temos vindo a abordar.
• Os países da Europa que estiveram sob a influência do fascismo e do comunismo não conheceram nem implementaram instituições democráticas e liberais, só com a queda do Muro de Berlim e a entrada na U.E. se processará essa integração no Ocidente.
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Universalidade da cultura ocidental (16)
• Na América Latina, ainda subsistem populações indígenas de cultura ameríndia que não foram radicalmente transformadas pela cultura ocidental e que reivindicam amiúde uma identidade autóctone e mestiça.
• Os países ortodoxos, por seu turno, não conheceram a Revolução Papal. Assim, a laicização, o desenvolvimento do Estado de direito e a racionalização das mentalidades, não ocorreu no seu seio ao mesmo ritmo que na Europa Ocidental.
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Universalidade da cultura ocidental (16)• Israel tem uma situação geopolítica particular:
• Quanto aos judeus espalhados pelo mundo ocidental, estes são ocidentais e tiveram um papel de relevo na promoção das instituições democráticas e liberais a partir do séc. XIX.
• Aquando da sua criação, em 1948, o Estado de Israel foi um país quase ocidental: criou instituições análogas às dos Estados europeus onde os imigrantes tinham nascido e vivido antes da sua imigração (Polónia, Alemanha, Europa Central, Rússia, etc.)
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Universalidade da cultura ocidental (17)
• Contudo, a grande imigração oriunda dos países árabes e da ex- U.R.S.S., favoreceram um certo tradicionalismo religioso, que contesta, pelo menos em parte, os valores do Estado de direito laico e pluralista.
• O mundo árabico-muçulmano relaciona-se somente com o Ocidente através da Bíblia, mas a Ética judaico-cristã foi em muito modificada por Maomé profeta de Alá.
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Universalidade da cultura ocidental (18)
• A filosofia islâmica do séc. IX ao séc. XII desenvolveu-se com a filosofia grega, nesta relevando sobretudo questões metafísicas e místicas que, para Nemo, não são as que tiveram um papel determinante na constituição dos valores ocidentais modernos.
• É inegável que os Árabes se reapossaram dos resultados científicos dos Gregos e deram contributos originais à ciência, mas é igualmente incontestável o facto de que a ciência não se enraizou de forma durável.
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Universalidade da cultura ocidental (19)
• A cultura islâmica e a cultura ocidental divergem, razão pela qual a imigração em massa de muçulmanos não aculturados pela civilização ocidental para os países ocidentais coloca graves problemas.
• Igualmente são alheios à cultura ocidental aqueles países que não testemunharam nenhum dos cinco acontecimentos: mundo africano, indiano, chinês e japonês, a não ser na medida em que acolheram a civilização técnica.
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Universalidade da cultura ocidental (20)
• De facto, em países como o Japão, China, Taiwan, Coreia do Sul esta adopção da tecnologia é já profunda e bem sucedida ao ponto de algumas destas sociedades ultrapassarem já no domínio técnico e científico o Ocidente.
• Há uma proximidade da civilização material destas sociedades com o Ocidente, mas perduram entre elas barreiras culturais sensíveis.
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Universalidade da cultura ocidental (20)• Contudo, a Europa e os Estados Unidos também se
distinguem. Essa distinção é principalmente a nível político: a América é bem mais liberal, e a Europa tendencialmente mais social-democrata.
• É evidente que mesmo sendo líquido que a modernização implique um determinado grau de ocidentalização, as civilizações podem percorrer caminhos diversos do ocidental.
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Universalidade da cultura ocidental (20)• Afirmar o contrário seria dizer que «a imagem do
homem promovida pelo Ocidente representa por si só todas as possibilidades humanas, o que é manifestamente falso.» [Nemo]
• Contudo, não é de esperar que as trocas económicas, as cooperações políticas, as viagens, o turismo e as migrações, só por si possam produzir uma visão do mundo comum a todos os povos.
• A globalização antes exacerba os problemas decorrentes da heterogeneidade das culturas do que os ajuda a resolver se não for acompanhada por um diálogo cultural.