03 arqueologia contextual

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Arqueologia contextual A utilização de registros etnográficos como forma de auxiliar na interpretação de vestígios arqueológicos, são fontes indispensáveis para a Arqueologia contextual, especialmente nas Américas, onde ainda existem sociedades de caçadores-coletores e agricultores onde seus hábitos culturais podem ser confrontados com vestígios de cunho arqueológicos. (EXPLICAR A QUESTÃO SIMBÓLICA DA CULTURA MATERIAL ASSOCIADA: OS ANIMAIS NOS SEPULTAMENTOS) A Arqueologia contextual tenta entender as sociedades estudadas a partir de uma perspectiva diacrônica, ela busca romper as procura de leis gerais que tentam explicar o comportamento humano. A ideia nevrálgica gira em torno da tentativa de compreender as sociedades dentro de suas especificidades (Ribeiro, 2007). Para os arqueólogos seguidores da Arqueologia contextual, não eram a leis e regras gerais os objetivos foco do estudo, mas a explicação de um fenômeno dentro de um grupo e os valores a eles atribuídos (Ribeiro apud Renfrew e Bahn, 1991). A Arqueologia contextual ou pós-processual tem um papel importante no âmbito de estudos da área quem envolve o simbolismo, devendo o arqueólogo, se ater a todos os aspectos possíveis numa tentativa de compreensão do significado de cada símbolo. Nesse momento houve uma aproximação entre a Arqueologia contextual e a História, inserindo as permanências e as rupturas que regem as práticas mortuárias, objetivando as análises de suas transformações no espaço-tempo (Silva, 2004). Principal pensador desse movimento, Ian Hodder, argumentava que o contextualismo enfatiza, dentro de contextos histórico-culturais, que a relação entre cultura material e todos os aspectos vinculados ao comportamento social, são essencialmente dependentes das ações humanas.

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Arqueologia contextual

A utilização de registros etnográficos como forma de auxiliar na interpretação de

vestígios arqueológicos, são fontes indispensáveis para a Arqueologia contextual,

especialmente nas Américas, onde ainda existem sociedades de caçadores-coletores e

agricultores onde seus hábitos culturais podem ser confrontados com vestígios de cunho

arqueológicos. (EXPLICAR A QUESTÃO SIMBÓLICA DA CULTURA MATERIAL

ASSOCIADA: OS ANIMAIS NOS SEPULTAMENTOS)

A Arqueologia contextual tenta entender as sociedades estudadas a partir de uma

perspectiva diacrônica, ela busca romper as procura de leis gerais que tentam explicar o

comportamento humano. A ideia nevrálgica gira em torno da tentativa de compreender

as sociedades dentro de suas especificidades (Ribeiro, 2007).

Para os arqueólogos seguidores da Arqueologia contextual, não eram a leis e regras

gerais os objetivos foco do estudo, mas a explicação de um fenômeno dentro de um

grupo e os valores a eles atribuídos (Ribeiro apud Renfrew e Bahn, 1991).

A Arqueologia contextual ou pós-processual tem um papel importante no âmbito de

estudos da área quem envolve o simbolismo, devendo o arqueólogo, se ater a todos os

aspectos possíveis numa tentativa de compreensão do significado de cada símbolo.

Nesse momento houve uma aproximação entre a Arqueologia contextual e a História,

inserindo as permanências e as rupturas que regem as práticas mortuárias, objetivando

as análises de suas transformações no espaço-tempo (Silva, 2004).

Principal pensador desse movimento, Ian Hodder, argumentava que o contextualismo

enfatiza, dentro de contextos histórico-culturais, que a relação entre cultura material e

todos os aspectos vinculados ao comportamento social, são essencialmente dependentes

das ações humanas.

A cultura material não apenas existe. É feita por alguém. É

produzida para fazer alguma coisa. Ela não reflete

passivamente a sociedade, ela cria a sociedade a partir das

ações dos indivíduos (...). Cada objeto arqueológico é

produzido um indivíduo (ou um grupo deles), não por sistema

social (Hodder, 1976, p 6.).

Com essas palavras Hodder, deixa explícita a crítica ao uso de sistemas para definir uma

sociedade, através principalmente de conceitos gerais ou regularidades. Na verificação

desses elementos a Arqueologia contextual, desenvolve uma grande preocupação com o

contexto arqueológico (Silva, 2004).

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Definido por Ian Hodder (1976), o contexto arqueológico deveria desprender-se com

clareza dos limites de um conjunto de similaridades, pois não constituem os limites do

contexto, já que as diferenças entre unidades culturais podem ser relevantes para a

compreensão dos significados os objetos e a carga simbólica intrínseca dentro de cada

unidade cultural.

A Arqueologia contextual tomou para si um caráter, mais abrangente adentro no âmbito

das práticas mortuárias, entende que elas também fazem parte do conjunto de

complexidades sociais, extremamente passiveis do fornecimento de dados culturais,

onde através de complementos de outros dados, podem formar uma visão mais ampla da

sociedade. A cultura material associada passa ser vista não somente pelo seu valor, mas

inclui também seu significado dentro da sociedade, através, por exemplo, dos objetos

que remetem ao status social e riquezas (Silva, 2004).

Essa Arqueologia apontou a importância de compreender as representações, os rituais,

os símbolos e seus significados dentro de um contexto social. A Arqueologia contextual

centra-se em questões objetivam compreender o papel o indivíduo e enfatizá-lo no

contexto arqueológico (Ribeiro, 2007).

Marily S. Ribeiro (2007), o conceito de cultura está explícito nos moldes pós-

processuais e incluem a ideia de leitura dos significados da cultura material em seu

contexto, ressalta a tentativa de compreender os significados possíveis, já que o objeto,

seu uso e suas associações possibilitam criar um quadro com referências e sentidos.

O enfoque contextual trata de atingir todos os aspectos possíveis de uma cultura a fim

de compreender o significado de cada esfera dentro das sociedades, isso inclui os

estudos sobre simbolismo nas práticas funerárias (Brown e Struever, 1973).

Arqueologia contextual e a fauna associada

Entendendo os preceitos dessa Arqueologia, os animais podem ser vistos como fatores

diferenciais para os membros nas sociedades, vendo que nem todos os indivíduos

apresentam em suas sepulturas a presença de restos faunísticos. O simples fato do

animal estar presente na sepultura leva o arqueólogo a refletir as questões que norteiam

os motivos pelo qual os indivíduos usavam esses animais para fins ritualísticos e como

mobiliário fúnebre no caso de adornos e peças obtidos através de partes de animais.

Na tese de Hodder a cultural material é utilizada como um elemento ativa na interação

social, pesquisas mostraram que ideias sobre religião e status desempenham papéis

significativos no que diz respeito às práticas funerárias (Saxe et al. 1973). O lado

positivo dessa abordagem é a tentativa de atingir o fator simbólico, porém isso também

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traz uma série de perguntas, pois por definição algo simbólico remete ao abstrato e à

múltiplas interpretações.

Através da fauna associada aos sepultamentos a abordagem contextual pode auxiliar no

entendimento a respeito do possível papel do animal em uma determinada sepultura.

Nesse sentido, vários pontos devem ser colocados em evidência, como por exemplo, no

sítio “pedra do Alexandre” os ossos de animais não foram encontrados inteiros

(completos) nas sepulturas, o que leva a entender que os objetos provavelmente

possuíam um teor “decorativo” (adornos, contas de colar e pulseiras).

O fato é que nada sobre os objetos de origem animal pode ser excluído de qualquer

investigação arqueológica, pois é através desses vestígios que os estudos terão o

embasamento necessário para adentrar no mundo abstrato das sociedades pré-históricas.

Os vestígios faunísticos são imprescindíveis, inclusive para saber os motivos pelo os

quais a população utilizava determinadas espécies de animais para o acompanhamento

fúnebre.

A diferenciação de faixa etária e de sexo pode ser alvo de estudo da arqueologia

contextual, pelo fato que alguns vestígios são encontrados estatisticamente mais em

umas sepulturas do em outras, mas isso varia de acordo com o sítio. Seguindo com o

exemplo do “Pedra do Alexandre” um indivíduo de mais de sessenta anos foi

encontrado com um colar de amazonita e com dente de cervídeo, algumas perguntas

podem ser instauradas em cima dessa descoberta.

Essas indagações giram em torno de especulações sobre a idade, sexo e o grau de

influência no grupo. É sensato pensar em variantes que fogem a essas esferas citadas

(sexo, idade e influência), mas a princípio o arqueólogo vai se deparar com a realidade a

partir dessas esferas, sempre observados o contexto no qual o indivíduo estava inserido.

No “Furna do Estrago” os adornos são os acompanhamentos mais encontrados, porém

não há distinções de sexo. Os adornos são trabalhados com o uso de materiais ósseos da

própria região, entendendo que a fauna utilizada par fins funerários não foram obtidos

de outras áreas mais distantes.

O sítio “Justino” apresentou um fator diferencial dos sítios anteriores apresentados,

porque ele apresentou animais completos ou quase completos associados aos

sepultamentos, isso mostrou o tratamento diferenciado entre as populações dos três

sítios arqueológicos. Numa visão contextual as especificidades de cada sítio tem que ser

levadas em consideração, pois os grupos humanos são diferentes e separados

geograficamente.

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Que conotação tem a deposição do animal inteiro numa sepultura? Porque algumas

espécies são prediletas para o acompanhamento mortuário? Será que existe uma

afinidade do grupo humano e o animal escolhido para esse fim? Estas perguntas devem

ser feitas no ato do estudo direto no material retirado do sítio, cautelosamente e com o

tempo necessário.