03 cad form - vol 01 - história da educação brasileira

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    Cadernodeformao

    Formao de ProfessoresEducao, Cultura e Desenvolvimento

    volume 1

    So Paulo

    2010

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    2010, BY UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTAPR-REITORIA DE GRADUAORua Quirino de Andrade, 215 - CEP 01049-010 - So Paulo - SPTel.(11) 5627-0245

    www.unesp.br

    UNIVESP - UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SO PAULOSecretaria de Ensino Superior do Estado de So PauloRua Boa Vista, 170 - 12 AndarCEP: 01014-000 - So Paulo SPTel. (11) 3188-3355

    PROJETO GRFICO, ARTE E DIAGRAMAOLili Lungarezi

    NEaD - Ncleo de Educao a Distncia

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    GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULOGovernadorAlberto Goldman

    SECRETARIA ESTADUAL DE ENSINO SUPERIOR

    SecretrioCarlos Alberto Vogt

    UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

    Reitor

    Herman Jacobus Cornelis VoorwaldVice-Reitor

    Julio Cezar Durigan

    Chefe de GabineteCarlos Antonio Gamero

    Pr-Reitora de GraduaoSheila Zambello de Pinho

    Pr-Reitora de Ps-GraduaoMarilza Vieira Cunha Rudge

    Pr-Reitora de PesquisaMaria Jos Soares Mendes Giannini

    Pr-Reitora de Extenso UniversitriaMaria Amlia Mximo de Arajo

    Pr-Reitor de AdministraoRicardo Samih Georges Abi Rached

    Secretria GeralMaria Dalva Silva Pagotto

    FUNDUNESP - Diretor Presidente

    Luiz Antonio Vane

    Cultura Acadmica EditoraPraa da S, 108 - Centro

    CEP: 01001-900 - So Paulo-SPTelefone: (11) 3242-7171

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    Pedagogia Unesp/UnivespSheila Zambello de Pinho

    Coordenadora Geral e Pr-Reitora de Graduao

    Ana Maria da Costa Santos Menin

    Coordenadora PedaggicaKlaus Schlnzen Jnior

    Coordenador de Mdias

    Lourdes Marcelino MachadoCoordenadora de Capacitao

    CONSELHO DO CURSO DE PEDAGOGIAAna Maria da Costa Santos Menin

    Presidente

    Celestino Alves da Silva JniorClia Maria Guimares

    Edson do Carmo InforsatoJoo Cardoso Palma Filho

    Tereza Maria Malatian

    SECRETARIACeclia Specian

    Flvia Maria Pavan AnderliniIvonette de MatosPROGRAD/Reitoria

    NEaD- Ncleo de Educao a Distncia / UNESP

    TECNOLOGIA E INFRAESTRUTURAPierre Archag Iskenderian

    CoordenadorAndr Lus Rodrigues Ferreira

    Dcio Miranda FerreiraPedro Cssio Bissetti

    PRODUO, VEICULAO E GESTO DE MATERIALDeisy Fernanda Feitosa

    Eliane Aparecida Galvo Ribeiro FerreiraElisandra Andr Maranhe

    Liliam Lungarezi de OliveiraMrcia Debieux de Oliveira Lima

    Sueli Maiellaro FernandesValter Rodrigues da Silva

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    ApresentaoA palavra que dene o signicado para o oferecimento de um curso de Pedagogia na modalidade

    a distncia desao. Para a Universidade Estadual Paulista Unesp encarar desaos j faz partede sua histria, diante de seu compromisso com uma Educao Superior de qualidade, com especialvocao para a formao de professores.

    Os tempos modernos, entretanto, conduzem-nos a novos contextos e a sociedade brasileira,de maneira justa, cobra-nos aes que venham ao encontro de um cenrio que requer um repensarsobre as possibilidades de oferta de educao superior de qualidade, diante de tantas diculdades aserem superadas por um Brasil que pretende alcanar nveis de vida compatveis com nosso potencialde desenvolvimento.

    Diante do que se coloca como compromissos para a construo de um Brasil melhor, a Unespde maneira responsvel e organizada trabalha no sentido de continuar a oferecer seus servios comel propsito de contribuir para a Educao brasileira. Para isso, investe de maneira intensa natrade Ensino-Pesquisa-Extenso, sendo uma das principais Universidades brasileiras na produodo conhecimento, na formao de recursos humanos qualicados e competentes, alm da amplainsero social, por meio dos projetos de extenso, nas diversas regies do Estado de So Paulo.

    A recente histria da Unesp mostra a maneira como ela se organizou para chegar at o presentemomento. Desde 2005 a comunidade Unespiana vem discutindo em todas as suas instncias e frunso uso das tecnologias no processo educacional. Em 2006 aprovou sua regulamentao interna para

    iniciativas de educao a distncia, tornando-se uma das primeiras universidades brasileiras a adotaruma orientao amplamente avaliada pela comunidade universitria sobre o assunto. Atualmente,esta regulamentao serve como norteadora de todas as iniciativas da Unesp na modalidade adistncia.

    No mesmo ano, a Pr-Reitoria de Graduao iniciou um trabalho pioneiro com um programa decapacitao de seus professores por meio das Ocinas Pedaggicas, que visavam oferecer formaocontnua aos professores da Universidade que voluntariamente se apresentavam para participar. Esteprograma foi de tamanha relevncia para a Unesp que culminou com a criao do Ncleo de Estudose Prticas Pedaggicas NEPP, um reconhecimento da Universidade para a importncia de formao

    permanente de seus professores. A iniciativa fez com que o nosso corpo docente passasse a reetirsobre sua prtica pedaggica e buscar novas metodologias e recursos. Os reexos do trabalho j sovisveis com os relatos de professores e alunos sobre os avanos acadmicos, muitos deles reetidosnos prprios instrumentos ociais de avaliao, como nossa constante melhoria de desempenho noENADE e em outros instrumentos de avaliao da sociedade civil.

    Outro aspecto a ser considerado que desde 2005, graas aos constantes investimentos daReitoria, por meio da Pr-Reitoria de Graduao, com especial destaque ao Programa de Melhoriada Graduao, so disponibilizados recursos nanceiros para melhoria e ampliao de materiais etecnologias para nossos docentes e alunos. Um importante indicador dessas inovaes implantadas

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    na Unesp que atualmente mais de um tero de nossos alunos e professores utilizam ambientesvirtuais de aprendizagem como apoio s aulas presenciais. Estamos investindo na construo deum acervo digital acadmico para enriquecer as atividades didticas, bem como, oferecer acessopblico informao e ao conhecimento produzido pela Unesp. A produo de material didtico

    tambm apoiada pela Pr-Reitoria de Graduao, entre tantos outros exemplos que so conduzidose oferecidos em nossas Unidades Universitrias.

    Os Ncleos de Ensino, outro signicativo projeto da Pr-Reitoria de Graduao da Unesp,tambm colaboram de maneira direta na formao dos nossos futuros professores, alm de manteruma estreita parceria com a capacitao dos professores em exerccio na rede pblica. So 14Ncleos distribudos em nossos Campi em todo o Estado de So Paulo com o objetivo de desenvolverpesquisas e aes de interesse do ensino bsico e da formao de seus professores.

    Este sucinto relato de nosso recente caminhar fez-se para contextualizar um pouco o desaoque apresentamos no incio, ou seja, a oportunidade de oferecermos nosso primeiro curso de

    graduao a distncia, criado por meio da Resoluo Unesp no. 77/2009. A maturidade da Unesppara a concepo do curso de Pedagogia no mbito da Univesp j se fez presente desde o incio doprojeto. Passamos muito tempo avaliando e discutindo-o, at chegarmos a uma proposta nal quefoi aprovada em todas as instncias universitrias, possibilitando hoje implantarmos o curso dePedagogia da Unesp cuja caracterstica principal a de oferecer todo o conhecimento acadmicopara a formao de professores, articulado ao uso das tecnologias digitais, como a Internet e a TV-Digital.

    Sabemos que o pioneirismo sempre traz consigo as diculdades na escolha dos caminhos atrilhar, entretanto, temos a plena convico que estamos reunindo toda a experincia, competncia

    e tradio da Unesp, juntamente com o apoio da Secretaria de Ensino Superior do Estado de SoPaulo, para oferecermos um curso de qualidade, contribuindo para a capacitao do professor emservio no Estado, sem a formao superior para o exerccio da prosso docente.

    O desao novo e de grande responsabilidade, porm necessrio e importante para avanarmoscomo uma Universidade voltada para atender aos anseios da sociedade, para oportunizarmos aconstruo de novos ambientes de aprendizagem que utilizem as tecnologias contemporneaspara oferecer Educao a um pas que precisa encontrar alternativas consolidadas para superarseus problemas sociais. A educao , indubitavelmente, o caminho para o pas que almejamos. Aformao de bons professores , sem dvida, o primeiro passo para realizarmos esse sonho.

    Bom trabalho a todos!!

    Sheila Zambello de Pinho

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    SumrioEducao, Cultura e Desenvolvimento- Volume 1

    Histria da Educao BrasileiraHistria da Educao Brasileira - Introduo 10

    Joo Cardoso Palma Filho

    A Organizao da Disciplina 14Joo Cardoso Palma Filho

    A Educao atravs dos Tempos 18Joo Cardoso Palma Filho

    A Educao Pblica antes da Independncia 32Maria Aparecida dos Santos Rocha

    Educao Brasileira no Imprio 48Tirsa Regazzini Peres

    A Repblica e a Educao no Brasil: Primeira Repblica (1889-1930) 71Joo Cardoso Palma Filho

    A Educao Brasileira no Perodo de 1930 a 1960: a Era Vargas 85Joo Cardoso Palma Filho

    A Educao Brasileira no Perodo 1960-2000: de JK a FHC 103Joo Cardoso Palma Filho

    Agendas e Atividades 138

    Memria do professor

    Prosso: docente 160Entrevista realizada por Paulo de Camargo, publicada na Revista Educao

    Agenda e Atividades 166

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    Histria daEducao

    Formao Geral Educao, Cultura e Desenvolvimento

    Bloco1 Mdulo 2 Disciplina 6

    Histria da Educao

    Joo Cardoso Palma Filho

    Professor Titular da disciplina Sociedade,Estado e Educao no Instituto de Artes da

    UNESP. Presidente da Cmara de Educao

    Superior do Conselho Estadual de Educao.

    Doutor em Educao (Currculo e Superviso)

    pela PUC/SP; Ps-Doutor em Poltica Educa-

    cional pela FE/USP.

    O discurso ideolgico da globalizao procura disfarar que

    ela vem robustecendo a riqueza de uns poucos e verticalizando

    a pobreza e misria de milhes.

    Paulo Freire, in: A pedagogia da autonomia, 1997, p. 144

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    Histria Da EducaoBrasileiraJoo Cardoso Palma Filho1

    Os homens fazem sua prpria histria, mas no a fazem sob circunstncias de sua

    escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmi-

    tidas pelo passado.Karl Marx, O 18 Brumrio de Lus Bonaparte.

    Introduo

    A Histria da Educao Brasileira uma disciplina que integra o campo de conheci-mento das denominadas Cincias da Educao, ao lado da Filosoa da Educao, da Sociolo -gia da Educao e da Psicologia da Educao, entre outras, tambm s vezes, includa nosFundamentos de Educao.

    O seu objeto de estudo a educao numa perspectiva histrica, no caso brasileiro,desde a chegada dos portugueses, em 1549, com o Governo Geral de Tom de Sousa.

    Do ponto de vista metodolgico, a abordagem mais adequada para os estudos histri-cos no campo da educao, a histrico-crtica, ou seja, dialtica na viso do materialismohistrico, embora outras abordagens tambm possam ser consideradas.

    A partir de meados dos anos 1970, os estudos histricos no campo da educao ganha-ram grande desenvolvimento com as pesquisas realizadas que resultaram em textos do tipo

    manual que passaram a ter larga utilizao nos cursos normais e de pedagogia.Rero-me particularmente aos livros: Histria da Educao no Brasil de autoria da

    professora paranaense Otaza de Oliveira Romanelli e Histria da Educao Brasileira A organizao escolar, de autoria da professora da PUC de So Paulo, Maria Lusa SantosRibeiro. O livro de Otaza em 1999 j se encontrava na sua 23 edio e o de Maria Lusa, em2007 na 20 edio. Tambm data dos anos 1970, o livro de autoria do professor ManfredoBerger, Educao e Dependncia e em 1975, a primeira edio do livro da sociloga alem,radicada no Brasil Brbara Freitag, Escola, Estado e sociedade, em 1986 na sua 6 edio.

    1. Doutor em Educao. Professor do Instituto de Artes da

    Universidade Estadual Paulista (UNESP).

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    Como j destacados foram textos mais gerais, ou seja, manuais largamente estudados

    nos cursos de formao de professores e tambm presena obrigatria nos concursos paraingresso ao magistrio realizados no Estado de So Paulo a partir dos anos 1980.

    Entre os trabalhos mais especializados merece destaque o livro publicado em 1974, deautoria do professor Jorge Nagle Educao e Sociedade na Primeira Repblica. Trata-se deum primoroso estudo que relaciona o desenvolvimento da educao com os aspectos polti-cos, econmicos e sociais presentes no desenvolvimento social brasileiro aps a implantaodo regime republicano no Brasil.

    Em relao ao ensino superior, o sopro renovador parte da pesquisa realizada por Luiz

    Antonio Cunha, posteriormente transformada em livro (3 volumes): A universidade tem-por; A universidade crtica e a A universidade reformanda. Anteriormente, o livro domesmo autor intitulado Educao e Desenvolvimento Social no Brasil constitui-se em im-

    portante estudo sociolgico da escola no Brasil.

    A marca que distingue todos esses textos dos anteriores exatamente, a contextua-lizao da escola no quadro geral do desenvolvimento social do Pas. Ou seja, procuramrelacionar o desenvolvimento da instituio escolar com os aspectos, polticos, econmicos,culturais e sociais do Brasil em diferentes momentos histricos.

    No poderia encerrar esta breve introduo, sem mencionar o a importante contri-buio dada por Fernando de Azevedo quando publica o livro: A cultura brasileira, livropublicado em 1943 pela Imprensa Nacional, com quase800 pginas, divididas em trs partes: 1) Os fatores dacultura; 2) A cultura; 3) A transmisso da cultura.2

    A Questo Da Periodizao Dos EstudosHistricos No Campo Da Educao

    Tradicionalmente os contedos que integram a disciplina de Histria da Educao soagrupados em trs momentos: Perodo Colonial (1500-1822); Perodo Monrquico (1822-1889) e Perodo Republicano (a partir de 1889).

    No caso se est usando um critrio poltico.

    Maria Lusa Santos Ribeiro parte de outra perspectiva para a diviso dos perodos.Como assinala: A diviso dos perodos foi feita seguindo o critrio de destacar os instantesde relativa estabilidade dos diferentes modelos poltico, econmico, social dos instantes

    2. Fernando de Azevedo foi redator e um

    dos signatrios do Manifesto dos Pioneiros

    da Educao Nova, publicado em 1932.

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    de crise mais intensa e que causaram a substituio

    dos modelos referidos (Ribeiro, 2007, p. 16).3

    importante destacar, que esse critrio para periodizao dos momentos vividos pelaeducao brasileira, aparece pela primeira vez em trabalhos voltados para a Histria da Edu-cao no Brasil.

    A autora justica seu posicionamento da seguinte forma:

    Estes [refere-se aos perodos], sob o ponto de vista educacional, so bas-tante signicativos dada a efervescncia das ideias que apontam as de -

    cincias existentes, bem como propagam novas formas de organizao

    escolar. Signicativos tambm, pelas experincias concretas que possibi-litam (RIBEIRO, 2007, p. 16).

    De acordo com esse critrio os perodos so divididos da seguinte forma:

    1 perodo:1549 a1808.

    2 perodo:1808 a 1850.

    3 perodo: 1850 a 1870.

    4 perodo:1870 a 1894.5 perodo:1894 a 1920.

    6 perodo:1920 a 1937.

    7 perodo: 1937 a 1955.

    8 perodo:1955 a 1968.4

    Outro autor que inova no quesito da periodizao Manfredo Berger (1984, p. 164).

    Considerando ser inadequada a periodizao do sistema educacional brasileiro a partirda histria poltico-administrativa do pas5, prope substituir a diviso clssica: perodo co-lonial (1500-1822), Imprio (1822-1889) e Repblica (1889-...) pela seguinte diviso:

    1 perodo:Monoplio jesutico da educao (1549 a 1759);

    2 perodo:Ensaios de secularizao (1759 a 1808);

    3 perodo:Reconstruo e academizao (1808 a 1822);

    4. Como a publicao da 1 edio do livro data de 1979, a pesquisa realiza-

    da foi at o ano de 1968, alis, quando de fato comea a ditadura militar no

    Brasil, com a edio do Ato Institucional n 5 assinado pelo Presidente Costa

    e Silva e todos os Ministros de Estado, dentre eles Gama e Silva (Justia);

    Jarbas Passarinho (Trabalho) e Delfim Netto (Fazenda).

    5. Laerte Ramos de Carvalho em artigo publicado em 1971 sob o ttulo de:A educao brasileira e a sua periodizao, assim se pronunciava sobre a

    inadequao da periodizao de natureza poltico-administrativa: medida

    que nos aprofundamos na anlise do nosso passado educacional, mais se

    nos reforam as convices sobre a inadequao deste momento tradicional

    de periodizao a compreenso da histria da escola brasileira (In: Intro-

    duo ao Estudo da Histria da Educao Brasileira, Instituto de Estudos

    Brasileiros-USP, So Paulo, 1971, pp. 1-12).

    3. A referncia completa das obras citadas nes-

    te texto estar disponvel ao final deste texto.

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    4 perodo:Abandono pblico e a fase urea da iniciativa privada (1822-1889);

    5 perodo:Reformas consecutivas e desconexas (1889 a 1930);

    6 perodo: Ensaio de democratizao e tentativa de adaptao s condies da realida-de brasileira (1930 a 1946);

    7 perodo:Expanso de um sistema escolar alheio realidade (1946 a 1961);

    8 perodo:Tentativas de aproximao do sistema educacional s necessidades da so-ciedade global (1961 a 1971).

    Otaza de Oliveira Romanelli (23ed. 1999) considera a evoluo da escola no Brasil emdois grandes momentos: a) anterior a 1930; b) posterior a 1930. Portanto, a chegada de GetlioVargas ao Palcio do Catete em 1930, no bojo da chamada Revoluo de 1930, um marcodivisrio. Entendemos que a autora est priorizando o incio do processo de industrializaoe urbanizao do pas, que obviamente colocar novas demandas para o setor educacional.Esse tipo de abordagem tambm o elegido por Brbara Freitag no livro Escola, Estado eeducao.

    Referncias

    AZEVEDO, F. A cultura brasileira: introduo ao estudo da cultura no Brasil. 6. ed. Rio de Janeiro: UFRJ;

    Braslia: UNB, 1996.

    BERGER, M. Educao e dependncia. 4. ed. So Paulo: DIFEL, 1984.

    CARVALHO, L. R. Introduoao estudo da histria da educao brasileira. So Paulo: Instituto de Estu-

    dos Brasileiros (USP), 1971.

    CUNHA, L. A. Educao e desenvolvimento social no Brasil. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.

    CUNHA, L. A. A universidade tempor. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986.

    CUNHA, L. A. A universidade reformada. O golpe de 1964 e a modernizao do ensino superior. Rio de

    Janeiro: Francisco Alves, 1988.

    CUNHA, L. A. A universidade crtica. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.

    FREITAG, B. Escola, estado e sociedade. 7. Ed. So Paulo: Centauro, 2005.

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    VisoGeral

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    NAGLE, J. Educao e sociedade na primeira repblica. So Paulo, 1976.

    RIBEIRO, M. L. S. Histria da educao brasileira A organizao escolar. 20. ed. Campinas (SP): Auto-

    res Associados, 2007.

    ROMANELLI, O. de O. Histria da educao no Brasil. 23. ed. Petrpolis (RJ): Vozes, 1999.

    A Organizao da Disciplina

    No Caderno de Formao de Histria da Educao que o estudante tem em mos, oenfoque adotado foi o poltico, ou seja, consideramos os trs grandes momentos da Histria

    do Brasil sob esse prisma: O Brasil antes da Independncia; o Imprio e a Repblica, estaconsiderada em trs perodos: Primeira Repblica (1889-1990); A Era Vargas (1930-1960) eo momento mais recente: 1960-2000, que denominamos de JK a FHC.

    Os textos num total de seis so os seguintes:

    1. A educao atravs dos tempos, de autoria de Joo Cardoso Palma Filho

    2. A educao pblica antes da Independncia, de autoria da professora doutora MariaAparecida dos Santos Rocha.

    3. A educao brasileira no Imprio, texto escrito pela professora doutora Tirsa Rega-zzini Peres.

    Os demais textos tambm de minha autoria, com os seguintes ttulos:

    1. A Repblica e a educao no Brasil (1889-1930).

    2. A educao brasileira no perodo de 1930-1960: a Era Vargas.

    3. A educao brasileira no perodo de 1960 a 2000: de JK a FHC.

    Cada um dos textos apresenta um breve resumo e ao nal a bibliograa consultada.

    Sempre que necessrio foi adicionado ao nal do texto, um pequeno glossrio.Quando se pensa a evoluo histrica da educao no Brasil, numa perspectiva his-

    trico-crtica, sobressai em importncia o conhecimento da realidade social, econmica epoltica do espao geogrco no qual essa educao se desenvolveu.

    Objetivo Geral

    Propiciar por meio de textos, atividades, programas de TV e discusses em peque-nos grupos, condies para que o estudante adquira uma compreenso crtica da educao

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    escolar no Brasil, com nfase na ao do Estado e na construo de um sistema pblico de

    educao.

    Objetivos Especficos

    Discutir a importncia do conhecimento histrico no campo da educao.

    Compreender a relao da Histria da Educao com as demais disciplinas que com-pem o campo das Cincias da Educao.

    Compreender a evoluo das idias pedaggicas no Brasil e sua inuncia na histriada educao escolar no Brasil, bem como no estabelecimento das polticas pblicas para ocampo da educao.

    Ementa

    A disciplina discute numa perspectiva crtica os principais momentos da educaobrasileira, desde a chegada do primeiro Governador Geral (Tom de Sousa), at o nal dosculo XX. Os acontecimentos educacionais so contextualizados na perspectiva social, po-ltica, cultural e econmica. Embora, mantida a periodizao em termos polticos (Colnia,Imprio e Repblica), os contedos so apresentados de modo interdisciplinar, onde se pro-

    cura estabelecer uma correlao entre as mudanas infraestruturais ocorridas na formaosocial brasileira e as ocorrncias no campo da educao, com nfase especial ao estudo daeducao bsica, sem todavia desprezar o desenvolvimento da educao superior, a partir domomento que a mesma se estabeleceu de forma mais abrangente.Sugestes de

    Nesse sentido, indicamos algumas leitur as bsicas, sob o ttulo:

    Conhecendo o Brasil

    ABREU, C. Captulos de histria colonial do Brasil. . So Paulo: Publifolha, 2000.Col. Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro.

    BASBAUM, L. Histria sincera da Repblica. So Paulo: mega, [s.d.] (4 vols).

    CARDOSO. M. L. Ideologia do desenvolvimento Brasil: JK-JQ.2. ed. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1978.

    CANDIDO, A. Literatura e sociedade. So Paulo: Publifolha, 2000.

    COSTA, E. Viotti da. Da monarquia repblica momentos decisivos. 8 edio. SoPaulo: UNESP, 2007.

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    VisoGeral

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    FAUSTO, B. Histria do Brasil. So Paulo: EDUSP, 2006

    FERNANDES, F. Educao e sociedade no Brasil. So Paulo: Dominus/Ed. USP, 1966.(Coleo Cincias Sociais).

    FERNANDES, F. A revoluo burguesa no Brasil ensaio de interpretao sociolgi-ca. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. Col. Biblioteca de Cincias Sociais.

    FREIRE. G. Casa grande & senzala. 51. Ed. So Paulo: Global, 2006.

    FURTADO, C. Formao econmica do Brasil. 34. ed. So Paulo: Companhia dasLetras, 2007.

    HOLANDA, S. B. Razes do Brasil. 11. ed.. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1977.

    HOLANDA, S. B. Viso do paraso. So Paulo: Publifolha, 2000.

    LIMA, O. Formao histrica da nacionalidade brasileira. So Paulo: Publifolha,2000.

    IANNI, O. Estado e planejamento no Brasil. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira,1970.

    LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D.; NASCIMENTO, M. I. M. (org.). A escola pblica no

    Brasil. Campinas (SP): Autores Associados, 2005.

    LOMBARDI, J. C.; CASIMIRO, A. P. B. S.; MAGALHES, L. D. R. (org.). Histria,cultura e educao. Campinas (SP): Autores Associados, 2006.

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    JooCardosoPalmaFilho

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    A Educao Atravs

    Dos Tempos

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    Joo Cardoso Palma Filho2

    A Educao na Antiguidade

    A Grcia o bero de nossa civilizao, logo se justica que comecemos nossas ree-xes, considerando a contribuio dos gregos na rea da Educao, mais especicamente, no

    mbito dos ideais de formao humana.

    O mundo grego foi prdigo em tendncias educacionais, mas os ensinamentos de S-crates, Plato e Aristteles prevaleceram, sem dvida, sobre os demais pensadores daque-la poca. Duas cidades-estado rivalizavam-se: Esparta e Atenas. Elas representavam dois

    paradigmas de organizao social, duas concepes de educao. Esparta, uma sociedadeguerreira, gloricava, sobretudo, os heris guerreiros. Defendia uma educao totalitria,uma educao militar e cvica repressiva, em que todos os interesses eram sacricados razo do Estado. Atenas, uma cidade-estado democrtica, nos moldes daquela poca, usavao processo educativo como um meio para que o indivduo alcanasse o conhecimento daverdade, do belo e do bem.

    Scrates inventou o mtodo pedaggico do dilogo, envolvendo a ironia e a maiuti-ca. Desse modo, distanciava-se tanto de Esparta, onde a educao atendia aos interesses doEstado, quanto dos sostas, com a sua educao voltada apenas para o sucesso individual.Scrates foi pioneiro em reconhecer, como m da educao, o valor da personalidade huma-na, no a individual subjetiva, mas a de carter universal.

    Em Roma, vamos encontrar muitos pontos de convergncia e de divergncia com oideal educacional dos gregos.

    De acordo com Lorenzo Luzuriaga (1983), a cultura e a educao romanas destaca-vam-se pelo apego aos seguintes princpios:

    Necessidade do estudo individual, psicolgico do aluno.

    Considerao da vida familial, sobretudo, do pai no exerccio da educao.

    Humanos: valorizao da ao, da vontade, sobre a reexo e a contemplao.

    1. Sou muito grato ao professor Jos Misael Ferreira do Vale e ao professor AntonioTrajano Menezes Arruda pelas sugestes que deram durante a elaborao do texto.

    2. Doutor em Educao. Professor do Instituto de Artes da Universidade

    Estadual Paulista (UNESP).

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    HISTRI

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    Polticos: acentuao do poder, do af de domnio, de imprio.

    Sociais: armao do individual e da vida familial, ante ou junto ao Estado.

    Culturais: falta de losoa, de investigao desinteressada, mas, em compensao,criao das normas jurdicas, do direito.

    Educacionais: acentuao do poder volitivo do hbito e do exerccio, como atituderealista, ante a intelectual e idealista grega.

    No obstante a existncia desses princpios, em poca mais avanada, a criao doprimeiro sistema de educao estatal, estendia a educao para fora de Roma aos conns doImprio.

    Marco Fbio Quintiliano foi o maior pedagogo romano. A sua pedagogia

    reconhecia a importncia do estudo psicolgico do aluno, por isso enfati-zava o valor humanstico e espiritual da educao, atribuindo requinte aoensino das letras e reconhecendo o valor do educador. De acordo com Lu-zuriaga (1983, p.68), Quintiliano fez o primeiro estudo de carter psicolgi-co, de que se tem notcia, sobre a gura do educador. At hoje, muitos dos

    princpios educativos defendidos por Quintiliano permanecem vlidos.

    A Educao na Idade Mdia

    Com o surgimento do Cristianismo mudam os rumos da cultura ocidental e consequen-temente as ideias sobre o processo educacional. Entretanto, a Histria do Ocidente nos ensinaque, durante cinco sculos, o Cristianismo conviveu com o Imprio Romano. Dentro doCristianismo, Jesus foi o primeiro mestre, seguido pelos apstolos, pelos evangelistas e, emgeral, pelos discpulos do prprio Jesus. Era uma educao sem escolas como, alis, fora emoutras religies. A comunidade crist primitiva o meio pelo qual se desenvolve o processoeducacional. Este, pouco a pouco, vai se convertendo na organizao da Igreja de um lado eda famlia de outro. Estes so os dois ncleos bsicos fundantes do processo educacional, medida que o Cristianismo se institucionaliza em Igreja. Trata-se de uma educao elementarcatequista. Mas pouco a pouco vo surgindo os primeiros educadores cristos.

    No incio, os educadores eram os Padres da Igreja que constituam a chamada PATRS-TICA, entre eles, merece destaque Santo Agostinho. Este foi um dos maiores pensadores daIgreja. Fora educado na tradio helnica, na escola de retrica de Cartago e um assduo leitorde Ccero. No foi apenas leitor, como tambm um profcuo escritor. Deixou vrias obras,ainda hoje publicadas e lidas, com destaque para Confssese a Cidade de Deus.

    Distinguem-se duas fases na pedagogia de Santo Agostinho. Na primeira, acentua ovalor da formao humanstica. Na segunda, persegue o ideal do ascetismo. Mas, em ambos

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    os momentos, o fundamental o desenvolvimento da conscincia moral, a profundeza es-piritual, que nos ilumina a inteligncia e faz reconhecer a lei divina eterna (LUZURIAGA,1983, p. 76). Entretanto, sua pedagogia no ignora o valor da cultura fsica, dos exerccioscorporais, assim como da eloquncia e da retrica.

    De acordo com Gadotti, os Padres da Igreja obtiveram pleno xito no seu mistereducacional e Criaram ao mesmo tempo uma educao para o povo, que consistia numaeducao catequtica, dogmtica, e uma educao para o clrigo, humanista e losco-teolgica (1996, p. 52). Quanto ao contedo, os estudos medievais compreendiam: - o tri-vium (gramtica, dialtica e retrica)e o quadrivium (aritmtica, geometria, astronomia emsica).

    A partir do sculo IX, sob a inspirao de Carlos Magno, o sistema educacional apre-senta-se organizado em trs nveis: I - Educao Elementar, ministrada pelos sacerdotes em

    escola paroquiais. Essa educao tem por nalidade mais doutrinar as massas camponesas doque instru-las; II Educao Secundria, ministrada nos conventos; e III - Educao Supe-rior, ministrada nas Escolas Imperiais, onde eram formados os funcionrios do Imprio.

    A partir do nal do primeiro milnio da era crist surge a ESCOLSTICA que buscouconciliar a razo losca grega com a f crist. So Toms de Aquino foi o maior expoentedessa nova abordagem intelectual, para a qual a revelao divina era suprarracional, mas noantirracional. Essa mudana no pensamento cristo medieval se deveu em grande parte aoembate com os seguidores de Maom. So Toms de Aquino procura elaborar uma snteseentre a educao crist e a educao greco-romana, procurando, desse modo, estabelecer

    uma educao integral que favorea o desabrochar de todas as potencialidades do indivduo.Ou seja, para So Toms de Aquino, o ensino era uma atividade em virtude da qual os dons

    potenciais se tornavam realidade.

    Embora nunca tenha tratado expressamente da questo educacional, a escolstica in-uiu decisivamente sobre toda a pedagogia catlica, sendo inclusive transplantada para oBrasil pelos Jesutas que aqui chegaram, em 1549, com o primeiro Governador Geral doBrasil, Tom de Souza. Trata-se de um mtodo de ensino que, at hoje, exerce inuncia nasala de aula tradicional.

    A Reviravolta Educacional Provocadapelo Renascimento

    O sculo XV inaugura uma nova fase na trajetria intelectual que o ser humano vemtrilhando desde a Antiguidade Greco-Romana. O homem do Renascimento cona na razo enas aquisies culturais da Antiguidade. Essa mudana no modo de ver o mundo e o prpriohomem teve uma estreita relao com os avanos da cincia da poca e com as descobertastecnolgicas. Assim que as grandes navegaes, a inveno da bssola e, principalmente,

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    a inveno da tipograa por Gutenberg aumentaram a crena nas possibilidades do homem,favorecendo o individualismo, o pioneirismo e a aventura. Hoje, diramos que beneciou oempreendedorismo. Desse modo, era inevitvel que surgissem novas concepes de educa-o e de ensino.

    H, ento, um aprofundamento do Humanismo, s que com feio laica. Destacam-se,nesse quadro, os ensaios de Michel de Montaigne Da educao das crianas e do Pedan-tismo. Todavia, uma educao que no atinge as grandes massas que permanecem analfa-

    betas e incultas. Trata-se de uma educao, basicamente, voltada para a formao do homemburgus que atinge, principalmente, o clero, a nobreza e a burguesia. Esta, que emerge comonova classe social, a partir do Renascimento, disputar com a Igreja e a nobreza o poder pol-tico que, nalmente, conquistar, no sculo XVIII, com o advento da Revoluo Francesa.

    De fato, a primeira grande revoluo burguesa fora iniciada pelo monge agostiniano

    Martinho Lutero (1483-1546). A principal consequncia da Reforma Protestante foi a trans-ferncia da escola para as mos do Estado nos pases protestantes. A ruptura de Lutero com ocatolicismo uma clara decorrncia da aceitao dos ideais renascentistas. Mas, como acen-tua Gadotti (1996, p.64), a escola pblica defendida por Lutero no laica, mas sim religiosae tambm no perde o seu carter elitista, uma vez que o mesmo entendia que a educao

    pblica destinava-se em primeiro lugar s classes superiores burguesas e secundariamentes classes populares, as quais deveriam ser ensinados apenas os elementos imprescindveis,entre os quais a doutrina crist reformada. Como se sabe, a Igreja catlica reagiu com aContra-Reforma encabeada no terreno cultural e educacional pela Companhia de Jesus que,

    para orientar a sua prtica no campo educacional, escreveu o manual de estudos Ratio atqueInstitutio Studiorum. A partir de 1599, esse manual passou a fornecer aos sacerdotes-profes-sores os planos, os programas e os mtodos de educao catlica. No Brasil, com a morte doPadre Manuel da Nbrega, os jesutas passaram a seguir elmente os preceitos educacionaisda Companhia de Jesus, a partir de 1600, consubstanciados na Ratio Studiorum e, dessemodo, desenvolveram uma educao que atuava em duas frentes: a formao de elites diri-gentes e a formao catequtica das populaes indgenas.

    O Pensamento Pedaggico Moderno

    O sculo XVII marca o surgimento da pedagogia realista que estabelece um momentode transio entre a pedagogia do renascimento e a pedagogia iluminista do sculo XVIII. A

    pedagogia realista fortemente inuenciada pelo empirismo de Francis Bacon e pelo racio-nalismo de Descartes. Tambm sofre a inuncia do movimento cientco da poca, liderado

    por Galileu e Kepler, sem mencionar a profunda revoluo causada pela teoria heliocntricaelaborada por Nicolau Coprnico, ainda no sculo XVI.

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    A pedagogia realista, que tem Ratke, Comenius e Locke como principais expoentes,busca substituir o conhecimento verbalista anterior pelo conhecimento das coisas. Para tan-to, procura criar uma nova didtica. Segue rearmando com mais nfase ainda a individua-lidade do educando e, na ordem social e moral, advoga o princpio da tolerncia, do respeito

    personalidade e de fraternidade entre os homens.

    Ratke introduziu na educao as ideias de Bacon. Muitos dos princpios pedaggicosenunciados por ele, Locke e, principalmente, Comenius mostram ainda atualidade, tendosido, em grande parte, incorporados no m do sculo XIX e incio do sculo XX pelo mo -vimento da Escola Nova.

    A Educao no Sculo XVIII o SculoPedaggico por Excelncia

    No sculo XVIII, as preocupaes de reis, pensadores e polticos esto voltadas paraas questes educacionais (LUZURIAGA, 1983, p. 149). Duas guras sobressaem-se: Jean-Jacques Rousseau e Johann Heinrich. O mesmo processo ocorre com a gura dos revolucio-nrios de 1789, representada por Condorcet e Lepelletier. Estes, durante a Revoluo Fran-cesa, apresentaram planos para a organizao de um sistema nacional de educao. A partirdesse momento, desenvolve-se a educao pblica estatal e inicia-se a educao nacional.

    No Brasil, as reformas empreendidas pelo Marqus de Pombal, a partir de 1759, representamuma tentativa frustrada na mesma direo. Do ponto de vista pedaggico so destacados os

    princpios da educao sensorialista e racionalista, do naturalismo e do idealismo na educa-

    o, bem como da educao individual e da educao nacional.

    O ideal educacional dos iluministas est no reconhecimento em grau mximo da razohumana. Luzuriaga assim sintetiza os princpios consagrados pelo ideal iluminista no sculoXVIII:

    a) desenvolvimento da educao estatal, da educao do Estado, com maior participa-o das autoridades ociais no ensino;

    b)comeo da educao nacional, da educao do povo pelo povo ou por seus repre-sentantes polticos;

    c)princpio da educao universal, gratuita e obrigatria, no grau da escola primria,que ca estabelecida em linhas gerais;

    d) iniciao do laicismo no ensino, com a substituio do ensino religioso pela instru-o moral e cvica;

    e) organizao da instruo pblica em unidade orgnica, da escola primria univer-sidade;

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    f) acentuao do esprito cosmopolita, universalista, que une pensadores e educadoresde todos os pases;

    g)primazia da razo, crena no poder racional e na vida dos indivduos e dos povos; e

    h) reconhecimento da natureza e da intuio na educao. (LUZURIAGA, 1983, p. 150-151).

    Rousseau pode ser considerado, a justo ttulo, um dos precursores da escola ativa moder-na. Pioneiro no reconhecimento de que a mente da criana diferente da mente do adulto, viuna infncia uma idade mental distinta da idade do adulto. Tornou-se tambm um representantetpico do individualismo na educao.

    A Educao nos dois ltimos Sculos

    O sculo XIX v surgir das entranhas do iluminismo do sculo XVIII duas concepesantagnicas de organizao social e de educao. De um lado, est o positivismo que buscaconsolidar o modelo burgus de educao e, de outro, o movimento popular e socialista. O

    primeiro tem em Augusto Comte (1798-1857) o seu expoente mximo que viria a inuenciaro reformador educacional brasileiro Caetano de Campos no nal do sculo XIX. O segundotem como expoente Karl Marx (1818-1883). Ambos representam correntes de pensamento que,ao lado do iderio catlico e do liberalismo, inuenciaro o pensamento pedaggico brasileirodo sculo XX.

    Assim que entre os autores do Manifesto dos Pioneiros pela Educao Nova, assinado

    em 1932 por 26 educadores brasileiros, vamos encontrar prceres educacionais que sofreraminuncia dessas correntes de pensamento.

    Do lado positivista destaca-se a gura do socilogo francs E. Durkheim (1858-1917)que tem em Fernando de Azevedo um seguidor no Brasil. Para o socilogo francs: A edu-cao a ao exercida pelas geraes adultas sobre as geraes que no se encontram ainda

    preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver, na criana, certo nme-ro de estados fsicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade poltica no seu conjuntoe pelo meio especial que a criana, particularmente, se destine. J para o lsofo britnicoAlfred North Whitehead (1861-1947), a educao deve ser til: A educao a aquisio da

    arte de utilizar os conhecimentos. uma arte muito difcil de se transmitir. De outra parte,a concepo socialista de educao se ope concepo burguesa. Como assinala Gadotti(1996, p.119), ela prope uma educao igual para todos.

    Algumas das ideias do movimento socialista que acabaram incorporadas no discursoliberal do manifesto dos pioneiros, como o princpio da educao laica e da coeducao, jeram defendidas por Thomas Morus (1478-1535) no seu livro Utopia. O movimento socialistano campo da pedagogia contempla uma grande heterogeneidade de ideias pedaggicas, muitasdas quais acabaram sendo incorporadas em muitos projetos educacionais de cunho liberal,

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    passando a integrar princpios educacionais e a orientar prticas pedaggicas em muitos pa-ses de economia de mercado.

    Mas, sem dvida, o grande movimento educacional do sculo XX relaciona-se com o

    pensamento pedaggico da Escola Nova. Vrios pedagogos engajaram-se neste movimentode renovao educacional, dentre outros se destacaram: Ferrire, educador, escritor e con-ferencista suo; John Dewey, lsofo liberal estadunidense, que mais inuncia exerceu nomovimento da Escola Nova brasileiro, inuncia que se deu na pessoa do educador ptrioAnsio Teixeira.

    Para Dewey, educao era ao (learning by doing). Desse modo, o aspecto instrucionalda educao cava relegado a um segundo plano. Dewey imaginava o processo educacionalcomo algo contnuo, no qual, permanentemente, reconstrua-se a experincia concreta, ativae produtiva de cada ser humano. Para ele, a escola no deveria preparar para a vida, pois a

    escola deveria ser a prpria vida. Na sua obra Como pensamos (1979), apresenta os cincoestgios do ato de pensar que sempre ocorre diante de um problema. Os estgios so:

    a) necessidade sentida;

    b) anlise da diculdade;

    c) as alternativas de soluo do problema;

    d) a experimentao de vrias solues, at que o teste mental aprove uma delas; e

    e) ao como prova nal para a soluo proposta que deve ser vericada de modo cientco.

    Pode-se concluir que, para Dewey, a educao, antes de qualquer coisa, processo e noproduto, ou seja, o importante ensinar a pensar. Trata-se do famoso princpio do aprender aaprender que, esquecido durante algumas dcadas, retorna valorizado neste incio de milnio.

    Alm desses dois pensadores da educao, outros nomes se destacaram no movimen-to. Entre eles, Ovide Decroly que formulou a metodologia dos centros de interesse; MariaMontessori, grande nome da pedagogia do pr-escolar, que revolucionou com seu mtodo detrabalho o ambiente de aprendizagem; douard Claparde, para quem atividade educativa eraaquela que correspondia a uma necessidade humana, da cham-la de educao funcional;

    Jean Piaget que concentrou a sua ateno de pesquisador no estudo da natureza do desenvol-vimento da inteligncia na criana e forneceu as bases para a construo da pedagogia cons-trutivista, ao lado de Vygotsky e Wallon.

    Os estudos de Piaget inuenciaram outros pesquisadores, com destaque para EmliaFerreiro, psicloga Argentina que, a partir de seus estudos sobre os processos de alfabetizaoda criana, tem inuenciado os educadores brasileiros com estudos voltados para esta rea,

    bem como para a prtica em sala de aula no ensino fundamental.

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    O educador brasileiro Paulo Freire, cujo pensamento educacional, hoje, mundialmen-te reconhecido tambm sofreu inuncia do iderio pedaggico escolanovista, embora dis-cordasse do conservadorismo poltico que alguns membros desse movimento apresentavam.

    Concluindo esse rpido panorama, consideramos necessrio tecer alguns comentriossobre a educao no terceiro milnio. As transformaes a que estamos assistindo, nos diasatuais, com o avano das tecnologias de comunicao e de informao, esto levando-nosa repensar as prticas pedaggicas que, enquanto prticas sociais, no cam imunes a esseconjunto de transformaes. Os efeitos da terceira revoluo industrial (a da informtica eda microeletrnica e da engenharia gentica) so at mais profundos do que o impacto queas duas primeiras causaram. Com as duas primeiras, vimos emergir a preocupao com aeducao das massas populares que desembocou, principalmente a partir do sculo XIX, naconstruo dos grandes sistemas educacionais de massa, impulsionados pelo novo modo de

    produo industrial e pela urbanizao.

    Neste incio de sculo, condicionada pelas consequncias da globalizao, a preocupa-o passa a ser com a construo de uma educao planetria. Esta tem nos quatro pilares aseguir enunciados a sua base de sustentao:

    1) Aprender a conhecer.

    2) Aprender a fazer.

    3) Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros.

    4) Aprender a ser (UNESCO, 1998).Como assinala o pensador francs Edgar Morin, os educadores precisam reetir so -

    bre a natureza do conhecimento a ser trabalhado pela escola, enfatizando o ensino sobre: acondio humana, a identidade terrena, as incertezas que cada vez mais assolaram a espciehumana, com vistas a desenvolver uma educao voltada para a compreenso em todos osnveis educativos e em todas as idades, que pede a reforma das mentalidades e a considera-o do carter ternrio da condio humana, que ser ao mesmo tempo indivduo/sociedade/espcie. Morin conclui que h necessidade de a educao se preocupar com a tica do gnerohumano, tendo em vista estabelecer uma relao de controle mtuo entre a sociedade e os

    indivduos pela democracia e conceber a Humanidade como comunidade planetria (MO-RIN, p. 2001).

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    1998.

    Scrates - nasceu em Atenas em 470/469 a.C. e morreu na mesma cidade em 399 a.C., condenado devido a uma

    acusao de impiedade: ele foi acusado de atesmo e de corromper os jovens com a sua filosofia. Desde a juventude,

    Scrates tinha o hbito de debater e dialogar com as pessoas de sua cidade. Ao contrrio de seus predecessores, S-

    crates no fundou uma escola, preferindo tambm realizar seu trabalho em locais pblicos, agindo informalmente (pelo

    menos na aparncia), dialogando com todas as pessoas, o que fascinava jovens, mulheres e polticos de sua poca.

    http://geocities.yahoo.com.br/carlos.guimaraes/socrates.html

    Plato - nasceu em Atenas, em 428/427 a.C., e l morreu em 347 a.C. [...] Plato parece ter sido discpulo de Crtilo,

    seguidor de Herclito, um dos grandes filsofos pr-Socrticos. Posteriormente, Plato entra em contato com Scrates,

    tornando-se seu discpulo com aproximadamente vinte anos de idade e com o objetivo de se preparar melhor para a vida

    poltica. Mas os acontecimentos acabariam por orientar sua vida para a filosofia tendo sido o criador de um vasto conjunto

    de obras sobre diferentes temas estudados pela filosofia.

    http://geocities.yahoo.com.br/carlos.guimaraes/platao.html

    Aristteles - (384 - 322 a. C.) - nasceu em Estagira, colnia greco-jnica, na pennsula macednica da Calcdia. Foi um

    filsofo Grego, cientista e educador. Aos 18 anos, Aristteles transferiu-se para a escola de Plato em Atenas, centro inte-

    lectual. Permaneceu nessa Academia como estudante, assistente de pesquisa, conferencista e cientista de pesquisa.

    http://www.jcwilke.hpg.ig.com.br/aristo.htm

    Saiba Mais

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    Maiutica - [Do gr. maieutik(tchne).] S. f. 1. Processo dialtico e pedaggico socrtico, em que se multiplicam as

    perguntas a fim de obter, por induo dos casos particulares e concretos, um conceito geral do objeto em questo. [Cf.

    ironia socrtica.] 2. Obst. V. obstetrcia. (Aurlio Eletrnico).

    Marco Fabio Quintiliano (35-96).Orador e escritor romano, nascido em Calagurris Nassica, hoje Calahorra, Espa-nha[...]. Estudou retrica em Roma com os maiores mestres de seu tempo, retornou Espanha (57) e transferiu-se

    definitivamente para Roma (68), onde fundou uma escola particular de ensino de retrica, transformada depois em escola

    pblica pelo imperador Vespasiano [...]. Professor por cerca de vinte anos, pioneiro como mestre do ensino oficial [...],

    sua mais significativa obra foi De institutione oratoria(95), publicada em 12 volumes, onde o autor apresentou diretrizes

    para a formao cultural dos romanos, da infncia maturidade.

    Patrstica - [Do lat. ecles.patristica(subentendendo-se theologia).] S. f. 1. Cincia que tem por objeto a doutrina dos

    Santos Padres e a histria literria dessa doutrina. (Aurlio Eletrnico).

    Aurlio Agostinho - nasceu em Tagasta, cidade da Numdia, a 13 de novembro do ano 354. Indo para Cartago, aderiu

    ao maniquesmo, que atribua realidade substancial tanto ao bem como ao mal, julgando achar neste dualismo maniqueu

    a soluo do problema do mal [...]. Entrementes, depois de maduro exame crtico, abandonara o maniquesmo, abraan-do a filosofia neoplatnica que lhe ensinou a espiritualidade de Deus e a negatividade do mal. Destarte, chegou a uma

    concepo crist da vida no comeo do ano 386. E escreveu inmeras obras sobre questes filosficas e teolgicas at

    seu falecimento a 28 de agosto do ano 430.

    Trivium e Quadrivium - concepes que a Idade Mdia tinha de suas disciplinas curriculares (e de seu ensino e valor

    educativo), as artes liberais: o trivium(Gramtica, Retrica e Dialtica) e o quadrivium(Aritmtica, Geometria, Msica

    e Astronomia).

    http://www.hottopos.com.br/mirand9/currref.htm

    Escolstica - [Do lat. scholastica.] S. f. Hist. Filos. 1. Doutrinas teolgico-filosficas dominantes na Idade Mdia, dos

    sculos IX ao XVII, caracterizadas sobretudo pelo problema da relao entre a f e a razo, problema que se resolve pela

    dependncia do pensamento filosfico, representado pela filosofia greco-romana, da teologia crist. (Aurlio Eletrnico)

    Revoluo francesa - Um dos principais acontecimentos da histria universal, sendo considerada o marco inicial

    (1789) da Idade Contempornea. Situada no quadro das revolues burguesas, que caracterizaram o Ocidente na se-

    gunda metade do sculo XVIII, representou a ascenso poltica da burguesia no contexto de crise do Antigo Regime

    europeu. Apesar de ter levado a burguesia ao poder poltico, a revoluo no foi somente burguesa, contando tambm

    com a participao de camponeses e da massa de pobres urbanos, os chamados sans-culottes, que, em Paris, somavam

    cerca de 600 mil.

    http://www.historianet.com.br/main/conteudos.asp?conteudo=205

    Martinho Lutero - (1483-1546), telogo alemo que foi pioneiro da Reforma Protestante na Europa. Frequentou a

    Universidade de Erfurt. Ao desenvolver sua doutrina da justificao pela f, ele desafiou a hierarquia da Igreja Catlica

    ao colocar em discusso assuntos que diziam respeito ao papel do papado e do sacerdcio, e necessidade de certos

    sacramentos e observncias. Foi excomungado pelo papa e proscrito do Sacro Imprio Romano. Sua traduo da Bblia

    para o alemo criou uma nova linguagem literria no norte da Europa.

    http://www.uol.com.br/bibliot/enciclop/

    Contra-Reforma - Renascimento na Igreja Catlica Romana entre a metade do sculo 16 e a metade do sculo 17.

    Tem suas origens nos movimentos reformistas que eram independentes da Reforma Protestante, mas tornou-se cada

    vez mais identificada com os esforos de se contrapor mesma. Houve trs principais aspectos eclesisticos. Primeiro,

    um papado reformado, com a sucesso de papas que tinham pontos de vista mais espirituais que seus predecessores

    imediatos, e um nmero de reformas no governo central da Igreja, iniciado por eles. Segundo, a fundao de novas ordens

    religiosas, principalmente os oratorianos e, em 1540, a Sociedade de Jesus (jesutas), e a reforma das antigas ordens,

    Saiba Mais

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    principalmente a Reforma Capuchina dos franciscanos. Terceiro, o Conclio de Trento (1545-63) que definiu e clarificou

    a doutrina catlica na maioria dos pontos de controvrsia com os protestantes e instituiu importantes reformas morais e

    disciplinares na Igreja Catlica.

    http://www.uol.com.br/bibliot/enciclop/Ratio Studiorum - ou Plano de Estudos, que consta de um currculo bsico e princpios pedaggicos gerais comuns

    a todos os colgios da Companhia. [...] um manual para ajudar os professores e dirigentes na marcha diria dos Col-

    gios. [...] uma srie de regras ou diretrizes prticas que tratam de assuntos como a direo dos colgios, a formao e

    distribuio dos professores.

    http://www.ars.com.br/cav/sil5.htm

    Francis Bacon - nasceu no dia 22 de janeiro de 1561, na York House, Londres. Frequentou a Universidade de Cam-

    bridge, e viveu tambm em Paris. Faleceu em 1626. A obra principal de Bacon a Instauratio magna scientiarum, vasta

    sntese que deveria ter compreendido seis grandes partes. Mas terminou apenas duas, deixando sobre o resto esboos

    e fragmentos. As duas partes acabadas so precisamente: I -De dignitate et argumentis scientiarum; II -Novum organum

    scientiarum. [...] Trata-se de pesquisas gnosiolgicas, crticas e metodolgicas, para lanar as bases lgicas da nova

    cincia, da nova filosofia, que deveria dar ao homem o domnio da realidade.

    http://www.mundodosfilosofos.com.br/bacon.htm

    Ren Descartes - (1596-1650), filsofo e matemtico francs. Na matemtica, Descartes inventou as coordenadascar-

    tesianas (assim chamadas em sua homenagem), que permitiram a representao numrica de propriedades geomtricas.

    Na filosofia, geralmente reconhecido como um dos fundadores do racionalismo. Procurou delinear as bases da certeza

    acerca da natureza do conhecimento, recorrendo para isso ao seu Mtodo da Dvida. Esse mtodo consiste na suspenso

    do julgamento a respeito de toda crena ou convico at que possa ser mostrado que ela deriva sistematicamente de

    crenas mais certas. O objetivo do mtodo alcanar uma opinio ou crena que no esteja sujeita dvida e construir

    todo o conhecimento a partir desse fundamento.

    http://www.uol.com.br/bibliot/enciclop/

    Galileo Galilei - nasceu em Pisa na Itlia no ano de 1564. inventou o telescpio e, com ele, fez grandes descobertasque incomodaram a Igreja. Esta, por pouco, no o queimou na fogueira, como fizeram a Giordano Bruno. Em 1592, Galileu

    tornou-se professor de matemtica na Universidade de Pdua, onde permaneceu por 18 anos, inventando, em 1593, uma

    mquina para elevar gua, uma bomba movimentada por cavalos, patenteada no ano seguinte. Faleceu em 8 de janeiro

    de 1642 em Arcetri, perto de Florena [...]. Apenas em 1822, foram retiradas do ndice de livros proibidos as obras de

    Coprnico, Kepler e Galileo.

    http://www.fisicahoje.hpg.ig.com.br/galileo.html

    Johannes Kepler - nasceu em 27 de dezembro de 1571 em Weil der Stadt, na Swabia. Kepler compreendeu que a

    rbita dos planetas era uma funo da atrao solar e que apenas elipses, tendo o sol em um dos focos, podiam explicar

    convenientemente as rbitas planetrias, concluindo que os planetas se movem segundo elipses das quais o sol ocupa

    um dos focos. Para ganhar a vida, conseguiu um emprego de professor em uma pequena escola em Linz, na ustria, em

    1612. L, publicou (1618-21) Epitome Astronomiae Copernicanae. Faleceu em viagem para Ratisbona em 15 de novembro

    de 1630.

    http://www.geocities.com/cobra_pages/fm-kepler.html

    Nicolau Coprnico - (1473-1543), astrnomo teuto-polons, fundador da astronomia moderna. Em 1543, publicou, em

    seu livro De Revolutionibus Orbium Coelestium(Sobre a Revoluo das rbitas Celestes), um modelo heliocntricodo

    sistema solar, conhecido a partir de ento como sistemacopernicano, cujo centro ficava prximo do Sol, e no da Terra,

    como no sistemaptolomaico, mais antigo. O prefcio do livro, que no foi escrito por Coprnico, sugere que o sistema seja

    tratado meramente como um artifcio matemtico simples, mas Coprnico parecia acreditar que fosse verdadeiro. A teoria

    heliocntrica, ao retirar a Terra do centro do palco celeste, despertou uma oposio religiosa feroz.

    http://www.uol.com.br/bibliot/enciclop/

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    HISTRI

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    John Locke - (1632-1704), filsofo e terico poltico liberal ingls. Em seu Ensaio sobre o Entendimento Humano

    (1690), Locke apresentou uma forma empirista de clarificao dos fundamentos e limitaes do conhecimento humano.

    Ele se considerava um subordinado a servio das novas cincias do sculo 17, tendo sido influenciado pela teoria

    atmica da qumica elaborada por Robert Boyle (1627-1691). Locke tentou mostrar que todo conhecimento provm da

    experincia e est limitado por ela. Em sua filosofia, distinguiu as qualidades primrias das secundrias, considerando

    aquelas como atributos dos objetos materiais e estas como dependentes do sujeito que as percebe.

    http://www.uol.com.br/bibliot/enciclop/

    Jean-Jacques Rousseau (1712-78), filsofo social e poltico franco-suo. A questo central do pensamento de

    Rousseau foi a da possibilidade e forma ideal de conciliar o indivduo, com sua psicologia complexa e sua singularidade,

    com as exigncias da sociedade. Em uma de suas principais obras, Do Contrato Social(1762), Rousseau afirmou que a

    nica forma de salvao das pessoas seria abrir mo de todos os seus direitos em favor de um Estado soberano no qual

    cada uma delas fosse um dos membros da legislatura (uma forma de democracia direta e no de democracia representa-

    tiva). Ele concebeu uma cidade-Estado, cujos cidados se reuniriam para deliberar sobre assuntos de interesse comum

    que expressassem a vontade geral que, segundo Rousseau, seria necessariamente justa.

    http://www.uol.com.br/bibliot/enciclop/

    Marqus de Pombal - Sebastio Jos de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marqus de Pombal (1699-1782) foi Pri-

    meiro Ministro de D. Jos I, sendo considerado, ainda hoje, uma das figuras mais controversas e vincadas da Histria Por-

    tuguesa. Foi um notvel estadista que, atravs de uma poltica de concentrao de poder, com o objetivo de restabelecer

    a economia nacional e resistir forte dependncia desta relativamente Inglaterra, marcou o sc. XVIII e o absolutismo

    rgio. Expulsou a Companhia de Jesus de Portugal e de todas as suas colnias, por carta datada de 1759.

    http://www.ubi.pt/museu/marques.htm http://www.ars.com.br/cav/pombal.htm

    Augusto Comte (1798-1857), filsofo francs. Ao lado do compatriota Claude-Henry de Rouvroy, conde de Saint-

    Simon (1760-1825), considerado um dos fundadores dos estudos sociolgicos (o termo sociologia foi criado por ele).

    Em sua grande obra, Curso de Filosofia Positiva, na qual observa que o conhecimento se baseia na descrio cientfica

    dos fenmenos e na descoberta das leis objetivas que os determinam. O positivismo exerceu influncia tambm fora da

    Frana e seu lema, ordem e progresso, figura at hoje na bandeira brasileira.

    http://www.uol.com.br/bibliot/enciclop/

    Karl Marx - (1818-83), cientista social, filsofo e revolucionrio alemo. Em 1845, foi para Bruxelas, onde se associou

    Liga Socialista pela Justia (1847), posteriormente denominada Liga Comunista, e, junto a Engels, escreveu o Manifesto

    Comunista(1848). Convencido da importncia central da economia para a determinao dos demais aspectos da exis-

    tncia humana, [...] sua meta era a unio de todos os trabalhadores para conseguirem o poder poltico. [...] nos ltimos

    anos de sua vida, Marx dedicou-se mais intensamente s anlises econmicas, com o propsito de demonstrar o carter

    essencialmente exploratrio do capitalismo [...]. Seus estudos resultaram na obra O Capital, de 1867 (editada por Engels

    em 1885-94).

    http://www.uol.com.br/bibliot/enciclop/

    mile Durkheim - (1858-1917), terico social francs, reconhecido como um dos fundadores da sociologia. Durkheim

    argumentava que uma das tarefas dos socilogos era estudar os determinantes sociais do comportamento, tais como osdeveres, leis e costumes que unem e mantm as pessoas em sociedade.

    http://www.uol.com.br/bibliot/enciclop/

    Fernando de Azevedo - 1894 - 1974) Funcionrio pblico, socilogo e educador brasileiro nascido em So Gonalo

    de Sapuca, MG, um dos responsveis pela reforma do ensinono pas, a partir de experincias feitas no Cear (1923) e

    Rio de Janeiro (1926). Em sua obra destacam-se Princpios de sociologia(1931), uma pioneira publicao brasileira no

    assunto, o igualmente pioneiro Sociologia educacional(1940),A cultura brasileira(1943) e Histria da minha vida(1971),

    uma autobiografia. Eleito Membro da Academia Brasileira de Letras, cadeira n. 14 (1968).

    http://www.sobiografias.hpg.ig.com.br/FernanAz.html

    Saiba Mais

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    Thomas Morus - nasceu em Londres em 1478 e foi a decapitado em 1535, em razo de sua obstinao por permane-

    cer catlico depois da reforma anglicana promovida por Henrique VIII e de quem ele era Chanceler. Autor de Utopia, foi

    canonizado pela Igreja Catlica.

    John Dewey - (1859-1952) Filsofo e pedagogo pragmatista norteamericano. Importante defensor da reforma do

    ensino do incio do sculo XX, para quem a tarefa da educao seria estimular a investigao do conhecimento e as

    caractersticas exploradoras e inquiridoras, naturais nas crianas. Autor de Teoria da Vida Moral (1908), Democracia e

    Educao (1916),A Natureza Humana e a Conduta (1922) e Experincia e Natureza (1925).

    http://geocities.yahoo.com.br/discursus/filotext/deweyfil.html

    Ansio Teixeira - (1900-71), educador brasileiro. Nascido em Caitit, Bahia, formou-se em Direito pela Universidade do

    Rio de Janeiro. Aos 29 anos, formou-se em Educao pela Universidade de Colmbia, nos Estados Unidos, e passou a

    dedicar sua vida a esse campo de estudo. De volta ao Brasil, desempenhou importante papel na orientao da educao

    e do ensino no pas, ocupando cargos de destaque e lecionando em diferentes instituies [...], algumas de suas principais

    obras so Educao para a Democracia, A Educao e a Crise Brasileira, A Universidade e a Liberdade Humana, Educa-

    o no Privilgio e Educao no Brasil.

    http://www.uol.com.br/bibliot/enciclop/

    Ovide Decroly - nasceu em 1871 e morreu em 1932. Sua obra educacional destaca-se pelo valor que colocou nas

    condies do desenvolvimento infantil; destaca o carter global da atividade da criana e a funo de globalizao do

    ensino. Suas teorias tm um fundamento psicolgico e sociolgico e podemos resumir os critrios de sua metodologia no

    interesse e na autoavaliao. Promove o trabalho em equipe, mas, mantendo a individualidade do ensino com o fim de

    preparar o educando para a vida.

    http://members.tripod.com/lfcamara/decroly.html

    Maria Montessori (1870-1952), fisioterapeuta (primeira mulher mdica na Itlia) e educadora. Em 1894, tornou-

    se assistente na clnica psiquitrica da Universidade de Roma e gradualmente passou a interessar-se pela educao

    de crianas anormais. A partir de 1902, comea a se aprofundar em filosofia, antropologia, psicologia experimental e

    educao. Desenvolveu, na Itlia em 1907, um sistema educacional e materiais didticos que despertassem interesseespontaneamente na criana, produzindo uma concentrao natural nas tarefas, cujo objetivo era no cansar e no

    aborrecer a criana.

    http://www.psicopedagogia.com.br/personalidades/personalidades/maria_montessori.asp?og=0

    douard Claparde - (1873-1940)Mdico psiclogo suo nascido em Genebra, cujas pesquisas experimentais no

    campo da psicologia infantil tiveram grande influncia na criao da pedagogia moderna, que incentiva a atitude partici-

    pante do educando. Dedicou-se tambm pesquisa em psicologia comparada e desenvolveu a tese da escola ativa, que

    estimula a independncia intelectual da criana, fazendo-a atuar sobre o que aprende, em oposio e de grande impacto

    sobre a educao tradicional da poca: apsicologia mecanicista.

    http://www.sobiografias.hpg.ig.com.br/EdouarCl.html

    Jean Piaget - 1896-1980), matemtico, bilogo, filsofo, psiclogo e pedagogo suo, responsvel pela mais abran-

    gente teoria sobre o desenvolvimento intelectual (cognitivo). Piaget estudou biologia, com especial nfase na evoluodos organismos, transferindo-se para a rea de psicologia infantil quando compreendeu que as habilidades intelectuais

    evoluem apenas lenta e gradualmente na criana.

    http://www.uol.com.br/bibliot/enciclop/

    Lev Semenovich Vygotsky - (1896 1934) fez seus estudos na Universidade de Moscou para tornar-se professor de

    literatura. O objetivo de suas pesquisas iniciais foi a criao artstica. Somente a partir de 1924, sua carreira mudou dras-

    ticamente, passando Vygotsky a dedicar-se a psicologia evolutiva, educao e psicopatologia. A partir da, ele concentrou-

    se nessas reas e produziu obras em ritmo intenso at sua morte prematura em 1934, devido tuberculose.

    http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/colecaoridendo/biografias/Lev_Semenovich_Vygotsky.htm

    Saiba Mais

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    HISTRI

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    Henri Wallon - (1872-1962) foi um estudioso que se dedicou ao entendimento do psiquismo humano, seus mecanismos

    e relaes mtuas, a partir de uma perspectiva gentica. Por isso, seu interesse pelo desenvolvimento infantil , j que na

    infncia se localiza a gnese da maior parte dos processos psquicos. Foi autor, juntamente com Paul Langevin, de uma

    importante proposta de reforma educacional na Frana, aps o final da II Guerra Mundial.

    http://www.crmariocovas.sp.gov.br/dea_a.php?t=009

    Paulo Freire - (1921-1997), educador brasileiro. Formou-se em Direito aos 26 anos. A partir da experincia de ensinar

    portugus em diferentes colgios secundrios, passou a estudar o processo de transmisso da lngua, criando um mtodo

    de alfabetizao. Em 1963, assumiu a direo do Plano Nacional de Educao, que previa alfabetizar 16 milhes de adul-

    tos num prazo de quatro anos. Com o golpe militar de 64, passou a morar no exterior, trabalhando para o governo chileno e

    depois na Guin-Bissau. De volta ao Brasil, pde ver seu mtodo adotado em vrios pontos do pas. autor, entre outros,

    dos livros Pedagogia do Oprimido, Educao e Realidade Brasileirae Educao como Prtica da Liberdade.

    http://www.uol.com.br/bibliot/enciclop/

    Edgar Morin - Pesquisador emrito do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Cientfica na Frana), nasceu em Paris,

    em 1921. Graduado em Histria, Geografia e Direito, migrou para a Filosofia, a Sociologia e a Epistemologia, depois de

    ter participado da resistncia ao nazismo, na Frana ocupada, durante a Segunda Guerra Mundial. Autor de mais de 30livros, tornou-se um dos pensadores mais importantes da atualidade nos estudos da complexidade e das novas episte-

    mologias.

    http://www.editorasulina.com.br/autordet.asp?IDautor=42

    Saiba Mais

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    A Educao Pblica

    antes da Independncia

    1

    Maria Aparecida dos Santos Rocha2

    Resumo:O texto apresenta os principais momentos da educao brasileira durante o

    longo perodo colonial, a que o Brasil esteve submetido (fase jesutica, reformas pom-

    balinas e o perodo joanino). O texto aborda tanto questes relacionadas com a organi-

    zao escolar no perodo em questo, como tambm discute teorias educacionais que

    estiveram em jogo no momento histrico considerado, com destaque para a pedagogia

    jesutica. Ao nal, h uma extensa bibliograa com textos que abrange todo o perodo eainda algumas obras comentadas pela autora.

    Palavras-Chave: Educao no perodo colonial. Histria da Educao. Reformas Pom-

    balinas. Perodo Joanino. Educao Jesutica.

    A colonizao brasileira foi consequncia do desejo de expanso de Portugal que, as-sim com a Espanha, a Frana, a Unio das Provncias dos Pases Baixos e a Inglaterra,

    buscou mecanismos de superao das limitaes provocadas pelas relaes feudais. Comobem mostra Cunha, a colonizao consistiu, basicamente, na organizao de uma economia

    complementar da Metrpole. (CUNHA, 1980, p. 23).Tal como outros pases, Portugal pretendeu impor a exclusividade do comrcio com as

    colnias, atravs de uma administrao centralizada, mantendo forte controle scal sobre asoperaes internas e externas.

    A primeira providncia adotada para operacionalizar esse objetivo foi a da instalaodo regime das Capitanias Hereditrias (1532), mas as diculdades causadas pela dispersodo poder levaram criao de um Governo Geral (1540), primeiro representante do poder

    pblico no Brasil, com o objetivo de auxiliar e no de substituir o referido regime. (Ribeiro,

    1978, p.1).Desse aparelho scalizador e repressor da Metrpole participava a Igreja Catlica, re-

    presentada, sobretudo, pela Companhia de Jesus, cujos funcionrios (burocracia) se integra-vam ao funcionalismo estatal. O objetivo primordial da Companhia era difundir as teoriaslegitimadoras da expanso colonial, conseguindo que aceitassem a dominao metropolitana(na gura do seu soberano), e operacionalizar a ressocializao e cristianizao dos ndios,de modo a integr-los como fora de trabalho. (Cunha, 1980, p. 23).

    2. Doutora em Filosofia pela Faculda-

    de de Filosofia, Cincias e Letras deSo Jos do Rio Preto, atualmente

    Instituto de Biologia, Letras e Cincias

    Exatas (IBILCE) da UNESP. profes-

    sora aposentada da UNESP.

    1. Texto publicado anteriormente em:

    PALMA FILHO, J. C. (organizador)

    Pedagogia Cidad Cadernos de For-

    mao Histria da Educao 3. ed..

    So Paulo: UNESP- Pr-Reitoria de

    Graduao/ Santa Clara Editora, 2005.

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    HISTRI

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    Idealizada por Incio de Loyola (1491-1556), organizada como fora de vanguarda nosquadros da Contra Reforma (1534) e criada ocialmente por bula papal em 1540, por D.JooIII, rei de Portugal, a Companhia de Jesus se fez presente no Brasil nove anos depois, em1549, quando o primeiro governador geral, Tom de Souza, para c trouxe seis missionrios

    jesutas, sob a chea de Manoel da Nbrega. (MATTOS, 1958, p. 35).

    Na segunda metade do sculo XVI, Portugal atravessava um perodo de indenio,iniciando o despertar para a nova cultura da Renascena. Sem tradies educacionais, o seusistema escolar comeava a esboar-se, com o analfabetismo dominando no somente asmassas populares e a pequena burguesia, como a nobreza e a famlia real. Ler e escrever eraum privilgio de poucos, ou seja, de alguns membros da igreja ou de alguns funcionrios

    pblicos. Portanto, pouco tinha a Metrpole a oferecer em termos de exemplo, se os quisessedar. Por outro lado, a carncia da Metrpole aumentava as responsabilidades atribudas Companhia de Jesus, uma vez que a ela cabia a signicativa responsabilidade da aculturaosistemtica dos nativos pela f catlica, pela catequese e pela instruo.

    Sendo a situao de Portugal to insatisfatria, entende-se que a maioria dos mission-rios no estava preparada para as funes que dela se esperava, incluindo a do magistrio.

    Nos seus estudos sobre esses religiosos, Luiz Alves de Mattos atribuiu obra jesuticaa seguinte periodizao, justicada sobretudo pelo diferente clima mental que, a seu ver,

    perpassa cada etapa:

    Perodo Heroico: 1549-1570

    Perodo de Organizao e Consolidao: 1570-1759

    Perodo Pombalino:1759-1827

    Perodo Monrquico: 1827-1889

    Perodo Republicano:1889-1930

    Perodo Contemporneo: 1930 at nossos dias. (Mattos, 1958, p. 15).

    Segundo esse autor, esse primeiro perodo, cujo trmino coincide com a data de morte

    do padre Manuel da Nbrega (1517-1570) e com o incio dos cursos de bacharelado e mestra-do em Artes no colgio da Bahia, foi o mais frutfero e o que mais impressiona os estudiosospelo valor pessoal e pela bra heroica dos personagens que lhe do relevo, num pas agrestee em grande parte ignoto, no qual a par da quase total carncia de recursos, tudo estava ainda

    por fazer. (MATTOS, 1958, p. 15-16).

    Diferentemente de seus colegas, Nbrega possua vasta cultura, tendo cursado huma-nidades na Universidade de Salamanca e adquirido o ttulo de bacharel em cnones pelaUniversidade de Coimbra.

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    Preocupado com a manuteno e o sustento do trabalho missionrio, Nbrega defendeuuma poltica realista de posse de terras e de escravos, a qual foi refutada formalmente pelostextos cannicos. A prpria Constituio da Companhia de Jesus, aprovada em 1556, deixouclaro aos seus membros a obrigao de fazerem votos de pobreza, ou seja, de no terem ren-

    da alguma para seu sustento ou para outras nalidades. Esta medida acabou por possibilitaruma soluo muito mais favorvel aos interesses da catequese. Na realidade, a simples pos-se de terra e de escravos no constitua, para a poca, nas condies do tempo, sustentculoduradouro para os empreendimentos missionrios. (CARVALHO, 1952, p. 141).

    Os to sonhados recursos nanceiros, que fariam crescer e multiplicar as casas daCompanhia de Jesus, tiveram origem no Alvar de D. Sebastio (1564), esse documento -xou o padro de redzima, ou seja, a doao da dcima parte de todos os dzimos e direitos

    para a sustentao do Colgio da Bahia. Como a redzima estendeu-se aos colgios do Rioe de Olinda, a Companhia pde iniciar uma fase mais prspera, amparada pela posse deescravos, fazendas e animais.

    Observa Mattos que a mais signicativa diferena entre a primeira (1549-1570) e a se-gunda fase (1570-1759) foi caracterizada pelo tipo de dependncia econmica entre religiosose nativos. Se a primeira fase foi de penria, ela teve o aspecto positivo de obrigar os jesutas,desprovidos de recursos, a conquistar a simpatia popular, mostrando-se identicados comseus problemas, necessidades e anseios. Para o autor, A disparidade entre a rudimentarcultura dos aborgenes e a cultura ocidental e crist mais evoluda dos colonizadores lusosdo sculo XVI gerava inmeros problemas de difcil soluo e criava situaes complexas

    de no menos difcil superao. Assim, a tarefa dos jesutas foi a de Sobrepor-se a essecontnuo entrechoque e manter uma atitude fundamental de imparcialidade, sem quebra dadelidade devida matriz da cultura europeia e crist, para melhor poder aproximar essasculturas e integr-las numa nova e coesa realidade social. (MATTOS, 1958, p. 301).

    No perodo seguinte, sem a preocupao da ausncia de recursos, os jesutas teriam sevoltado para o passado clssico e medieval, divorciando-se da realidade imediata e abdican-do de sua funo de liderana social. A cultura deixou de ser posta a servio da sociedade

    para se colocar margem da vida, dedicada conservao dos esquemas mentais clssicose das convenes sociais estabelecidas. (MATTOS, 1958, p. 297).

    Como analisa Villalobos, servindo a uma sociedade latifundiria e escravocrata e fo-mentando o gosto pela cultura literria de base clssica, os jesutas impuseram, em suasescolas, uma disciplina frrea, de esprito rotineiro e conservador, visando, sobretudo, uniformidade cultural e domesticao da mente:

    A pedagogia autoritria de que se utilizavam servia tanto aos interesses daIgreja como aos do governo portugus, que via na f e na autoridade dareligio o melhor instrumento de dominao poltica e na uniformidade

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    da cultura o melhor freio para os sentimentos nacionais de independncia.(VILLALOBOS, 1959, p. 41).

    No primeiro perodo (1549-1570), o Estado cerceou vrias iniciativas dos missionrios.

    A viso progressista de Nbrega teve que enfrentar obstculos advindos das concepesconservadoras e repressoras da Coroa e da cpula da Companhia. Os jesutas foram proibi-dos, pelo prprio Incio de Loyola (1553), de se encarregarem de instituies de rfos e deoferecerem, como planejava Nbrega, um ensino prossional e agrcola para formar pessoalcapacitado em outras funes essenciais vida da Colnia. Tais atividades foram considera-das contrrias aos objetivos da Companhia.

    Nbrega tambm foi impedido de abrigar e educar as meninas indgenas, ou seja, aspequenas mamelucas e cunhats. Surpreendentemente, a ideia de educar as crianas do sexofeminino parece ter-se originado entre os prprios indgenas da Bahia (1552). Primitivos,

    mas sem preconceitos, solicitaram a Nbrega que fundasse tambm um recolhimento parasuas lhas, conando-as a mulheres cultas e virtuosas. (RIBEIRO, 2000, p. 80). Sem con-tato com a mentalidade europeia, que vedava ao sexo feminino qualquer instruo alm dadoutrina crist e das artes domsticas, os indgenas no viam razo para se estabelecer umadiferena de oportunidades educacionais a favor do sexo masculino.

    Ideia originalssima, indita at mesmo para Nbrega e Tom de Souza. Mas Nbregaa acatou e a defendeu - conseguindo at mesmo a adeso de Tom de Souza -, solicitando Rainha Catarina, uma das poucas mulheres a valorizar as tradies humanistas, para apoi-lo junto a D.Joo III. Porm nada pde ser feito, apesar do empenho da Rainha: Aparente-

    mente, o Brasil estava pedindo mais do que as prprias lhas da alta nobreza do reino, comraras excees podiam ter. (MATTOS, 1958, p. 90). A mentalidade da poca ainda eraincompatvel com a igualdade de oportunidades de instruo para os dois sexos.

    Como a catequizao dos ndios cabia Companhia de Jesus, atribuiu-se aos padresseculares os servios religiosos nos latifndios, como capeles residentes ou como procosnos centros urbanos, ambas as tarefas subordinadas s exigncias ecumnicas e aos interes-ses da religio.

    Apesar dos problemas de ordem burocrtica e dos choques com a autoridade do patriar-

    ca, senhor absoluto da mulher e dos lhos, os jesutas, em nome de Deus, foram conquis -tando esses elementos dominados. Como nica fora moral capaz de contrapor os excessosda arbitrria autoridade do senhor, os jesutas, hbil e sutilmente, doutrinaram os meninosnas escolas e as mulheres nas capelas e igrejas. (SAFFIOTI, 1969, p. 198).

    No segundo perodo, a obra inicial de catequese foi sendo enfraquecida para atender educao da elite de modo que a criao de colgios assumiu uma importncia maior que ada atividade missionria:

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    Assim, os padres acabaram ministrando, em princpio, educao elemen-tar para a populao ndia e branca em geral (salvo as mulheres), educaomdia para os homens da classe dominante, parte da qual continuou noscolgios preparando-se para o ingresso na classe sacerdotal, e educao

    superior religiosa s para esta ltima. A parte da populao escolar queno seguia a carreira eclesistica encaminhava-se para a Europa, a mde completar os estudos, principalmente na Universidade de Coimbra, deonde deviam voltar os letrados. (ROMANELLI, 1987, p. 35).

    Pedagogia Jesutica

    Os estabelecimentos de ensino jesuticos eram orientados por normas padronizadas,posteriormente sistematizadas na RATIO ATQUE INSTITUTO STUDIORUM SOCIETAS

    JESU, ou simplesmenteRATIO STUDIORUM. Promulgada em 1599, representa o primeirosistema organizado de educao catlica, cujo mrito incontestvel.

    A pedagogia jesutica inspirou-se na Universidade de Paris, centro de uma restauraotomista (So Toms de Aquino 1227-1274) e, principalmente, na teoria do educador espanholQuintiliano (40-118), primeiro professor pago pelo Estado romano, autor da Institutio Ora-toria, obra escrita aps vinte anos de ensino de eloquncia. Redescoberto pelos autoresrenascentistas, Quintiliano foi adotado para o ensino de humanidades.

    De forma semelhante organizao dos estudos da Universidade de Paris, a RATIO

    previa um currculo nico para os estudos, dividindo-os em dois graus e supondo o domniodas tcnicas elementares da leitura, escrita e clculo. Como explica Cunha (1978, p. 25),osstudia inferiora (formao lingustica) correspondiam ao atual estudo secundrio e os

    studia superior ( losoa e teologia) aos estudos superiores. Na adaptao dessa Pedagogiaao Brasil, estabeleceram-se quatro graus de ensino, sucessivos e propeduticos: os cursoselementar, de humanidades, de artes e de teologia.

    Quintiliano defendia a necessidade de trs fatores para a formao do educando (noseu caso, do orador), j mencionados por Aristteles: Natura (disposies naturais: fsicas,

    psicolgicas e morais),Ars(instruo: a instruo uma arte e consta de normas tcnicas) e

    Exercitatio(prtica: o progresso do aluno supe uma prtica reiterada).

    Seguindo essa inspirao, o ponto bsico da pedagogia daRATIOera a identidade en-tre professor, mtodo e matria. Tal princpio de unidade determinava que um nico mestreacompanhasse o mesmo grupo de alunos do incio ao m do curso. O mesmo mtodo deveriaser adotado por todos os docentes completando-se esse princpio com o da organizao dasmatrias de modo a explorar, ao mximo, o pensamento de poucos autores (principalmenteAristteles e Toms de Aquino), preferivelmente ao de muitos. (CUNHA, 1978, p. 26).

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    No que consistia o curso elementar? Com a durao de um ano, esse curso tinha emseu currculo a doutrina catlica e as primeiras letras. Nos estudos, disciplina, ateno e

    perseverana eram as trs qualidades a serem adquiridas pelos alunos no s para facilitar oprprio ensino e aprendizado, mas, sobretudo, para desenvolver um trao de carter conside-

    rado fundamental ao futuro sacerdote e ao cristo leigo.

    Destaque-se que a instruo no representava muito na construo da sociedade nas-cente. As condies objetivas desestimulavam a atividade cultural, uma vez que a classedominante no necessitava dela e a classe dominada no a podia sustentar. A escola era pro-curada por alguns dos lhos das pessoas de posses, que nela buscavam certo preparo paraassumir os negcios da famlia. Como as atividades de produo no exigiam preparo, querdo ponto de vista da sua administrao, quer do ponto de vista da sua mo-de-obra, funda-mentada como estava na economia rudimentar e no trabalho escravo, entende-se a alienaoda cultura escolar. A monocultura latifundiria quase no exigia qualicao e diversica-o da fora de trabalho.

    O Estado cuidava dos seus interesses, no permitindo que a educao jesutica per-turbasse a estrutura vigente, mas subordinando-a aos imperativos do meio social. Isso caevidenciado pelas diculdades enfrentadas por Nbrega em suas tentativas inovadoras.

    Assim, em que pese a acusao de terem os jesutas, sobretudo no segundo perodo,se alienado do meio ambiente, certas atividades executadas em favor da sobrevivncia daCompanhia mostram como eles lidaram com o preconceito contra o trabalho manual dentrodesse contexto repressor.

    Os jesutas acreditavam que a cada pessoa se deveria atribuir um tipo de trabalho, con-forme o lugar por ela socialmente ocupado. Conforme consta doRATIO: Nenhuma das pes-soas empregadas em servios domsticos pela Companhia dever saber ler e escrever, e elasno devero ser instrudas nestes assuntos, a no ser com o consentimento do Geral da Or-dem, porque para servir a Deus basta a simplicidade e a humildade. (Ponce, 1973, p. 119).

    A Igreja endossou, portanto, a separao entre o fazer e o pensar, corroborando o ju-ramento imposto pelo Estado portugus minoria dirigente, aos menos abastados e aos pr-

    prios jesutas: Juro que no farei nenhum trabalho manual enquanto conseguir um escravo

    que trabalhe por mim, com a graa de Deus e do Rei de Portugal (NASH, 1939, p. 132).

    Indivduos que, em Portugal, haviam sido artesos, mestres de obras ou mesmo agri-cultores, abandonavam o exerccio dessas prosses no Brasil, obedientes Coroa e is aomesmo preconceito. Os elementos que realizavam certos trabalhos como ao de tecidosgrossos, trabalhos simples com madeira ou ferro entre outros, gozaram de certa consideraoat o momento em que a aprendizagem desses ofcios passou a ser possibilitada aos escravos.Ento ela foi degradada aos olhos dos homens livres, abastardando-se o ensino de ofcios.

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    Identicado com o trabalho escravo, como tarefa de simples execuo e de pouco ra-ciocnio, o trabalho manual seria tradicionalmente desprestigiado no Brasil, o mesmo ocor-rendo com o ensino manufatureiro que, por analogia, foi imediatamente afetado pela mesmaconcepo, passando a ser visto principalmente como um meio de integrar as crianas e

    adolescentes pobres sociedade. Os jesutas introduziram no Brasil a produo de tecidospara satisfazer s necessidades da Companhia e para vestir os ndios. O fato dos tecidos, ge-ralmente de algodo, serem destinados aos escravos e ndios, agravava o preconceito contraos prossionais da tecelagem, exercida, sobretudo, por negros, ndios e escravos e no por

    brancos. Compreensvel porque, mesmo para os antigos romanos, o textor era o represen-tante das prosses grosseiras e rudes. Habituada a ver nos negros a soluo para o trabalhomanual, a populao branca no poderia interessar-se pela aprendizagem de ofcios e scompreendia que a elas se dedicassem os infelizes, os rfos e os expostos.

    O sucesso da atividade de produo de tecidos deu origem ao famoso Alvar, datadode janeiro de 1785, que proibiu a criao de novas fbricas e mandou fechar as existentes comexceo das destinadas produo de panos grosseiros para os escravos e para enfardamentoe empacotamento de cargas. Essa medida no decorreu de simples cimes da Metrpole, massim do prejuzo que a produo brasileira de tecidos lhe causava. Tratou-se de um erro polti-co para Portugal e de um erro econmico para o Brasil, uma vez que acirrou o dio dos bra-sileiros contra a Metrpole porque veio a ferir uma indstria alimentada pela matria-primado pas, e que deixou sem trabalho uma innidade de indivduos. (Rocha, 1984, p. 38