03 março 2014 especial - paróquia de laúndos · agrupamento de escuteiros, e outros...

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Um Adeus na Certeza de um Reencontro mês passado ficou marcado na nossa comunidade pela partida por vontade do Pai do nosso anterior pároco. Muito debilitado pela doença de Parkinson, o Pe. Dinis da Silva Lopes suspirou no dia 18 de fevereiro de 2014. Para trás deixou em Laúndos obra feita, quer material, quer espiritual, e muitas memórias que cada um de nós guarda no seu coração. Pe. Dinis Lopes foi um testemunho vivo do amor de Cristo através da sua dedicação diária ao sacerdócio e ao apascento cuidado e permanente das suas ovelhas. Acompanhou a paróquia nas suas múltiplas vivências e problemas, procurando dinamiza-la no campo pastoral e cultural. Com os seus livros deixou um importante legado para a terra que o acolheu durante quase 27 anos. Serviu a comunidade de corpo e alma, até que as forças remanescentes do seu sofrimento não mais o permitiram. m ano depois da sua chegada, em abril de 1979 lança o primeiro número do Boletim S. Miguel, um projeto de informação que, em diferentes moldes, ainda hoje continua a sua missão. Durante largos anos, este foi o “jornal da terra”, onde, para além das notícias da atividade pastoral, os acontecimentos, anúncios e efemérides mais marcantes de Laúndos foram registados. atual número do “S. Miguel” é o primeiro que sucede ao seu falecimento. Por isso é especial e inteiramente dedicado ao seu Fundador e primeiro Diretor. Trata-se de uma homenagem merecida e sentida da Paróquia de S. Miguel de Laúndos ao seu querido sacerdote. Boletim Religioso e Cultural da Paróquia de S. Miguel de Laúndos Nº288 Março 2014 Edição Especial Miguel S. O U O O

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Page 1: 03 Março 2014 especial - Paróquia de Laúndos · Agrupamento de Escuteiros, e outros acontecimentos importantes para a terra. Em todos os boletins havia uma mensagem evangelizadora,

Um Adeus na Certeza de um Reencontro

mês passado ficou marcado na nossa comunidade pela partida por vontade do Pai do nosso anterior

pároco. Muito debilitado pela doença de Parkinson, o Pe. Dinis da Silva Lopes suspirou no dia 18 de fevereiro de 2014. Para trás deixou em Laúndos obra feita, quer material, quer espiritual, e muitas memórias que cada um de nós guarda no seu coração.

Pe. Dinis Lopes foi um testemunho vivo do amor de Cristo através da sua dedicação diária ao sacerdócio e

ao apascento cuidado e permanente das suas ovelhas. Acompanhou a paróquia nas suas múltiplas vivências e problemas, procurando dinamiza-la no campo pastoral e cultural. Com os seus livros deixou um importante legado para a terra que o acolheu durante quase 27 anos. Serviu a comunidade de corpo e alma, até que as forças remanescentes do seu sofrimento não mais o permitiram.

m ano depois da sua chegada, em abril de 1979 lança o primeiro número do Boletim S. Miguel, um

projeto de informação que, em diferentes moldes, ainda hoje continua a sua missão. Durante largos anos, este foi o “jornal da terra”, onde, para além das notícias da atividade pastoral, os acontecimentos, anúncios e efemérides mais marcantes de Laúndos foram registados.

atual número do “S. Miguel” é o primeiro que sucede ao seu falecimento. Por isso é especial e

inteiramente dedicado ao seu Fundador e primeiro Diretor. Trata-se de uma homenagem merecida e sentida da Paróquia de S. Miguel de Laúndos ao seu querido sacerdote.

Boletim Religioso e Cultural da Paróquia de S. Miguel de Laúndos Nº288 Março 2014 Edição Especial

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Page 2: 03 Março 2014 especial - Paróquia de Laúndos · Agrupamento de Escuteiros, e outros acontecimentos importantes para a terra. Em todos os boletins havia uma mensagem evangelizadora,

Biografia Pe. Dinis da Silva Lopes 01/03/1939 - Nascimento 12/03/1939 - Batizado na Igreja Matriz da

Póvoa de Varzim 03/10/1952 - Ingresso no Seminário Menor

de Braga 24/07/1966 - Ordenação Sacerdotal na

Catedral da Húlia, Angola 06/09/1976 - Pedido de Excardinação da

Diocese de Sá da Bandeira, Angola

31/12/1976 - Vigário Cooperador da Matriz da Póvoa de Varzim

31/12/1978 - Pároco de Laúndos, Póvoa de Varzim e Cofundador do Agrupamento de Escuteiros de Laúndos Nº570 do C.N.E.

01/04/1979 - Primeiro número do boletim “S. Miguel”, do qual era Diretor

01/05/1985 - Publicação do livro “Monografia da Freguesia de S. Miguel de Laúndos”

03/07/1985 - Nomeado Capelão da Igreja da Misericórdia da Póvoa de Varzim

01/03/1986 - Obras de beneficiação da Igreja Matriz

01/07/1987 - Primeira ampliação do Santuário de N. Senhora da Saúde

01/10/1988 - Obras de beneficiação da Residência Paroquial

01/04/1989 - Segunda ampliação do Santuário de N. Senhora da Saúde

08/10/1991 - Nomeado Capelão do Quartel de Bombeiros da Póvoa de Varzim

01/02/1996 - Obras de beneficiação da Capela de S. Félix

20/07/1997 - Celebração dos 25 anos de Sacerdócio

05/09/1998 - Inauguração do Monumento ao Emigrante e arranjo do Escadório do Monte de S. Félix

17/08/2002 - Publicação do livro “Capela e Culto a S. Félix”

04/10/2003 - Publicação do livro “Notas Minhas”

31/12/2003 - Celebração dos 25 anos de Pároco de S. Miguel de Laúndos

01/09/2005 - Publicação do boletim “S. Miguel” com o número 264

29/09/2005 - Despedida do cargo de abade de S. Miguel de Laúndos, aquando da inauguração das obras de beneficiação da Residência Paroquial

18/02/2014 - Falecimento

Escuteiro uma vez, Escuteiro para Toda a Vida…

Dinis da Silva Lopes é, com certeza,

um nome que ficará para sempre ligado ao povo Lanutense, e de uma forma muito particular e especial, ao Agrupamento N.º 570 S. Miguel de Laúndos.

Dando continuidade ao projeto iniciado pelo Pe. Araújo, o Pe. Dinis da Silva Lopes assumiu a fundação do Agrupamento de Escuteiros de Laúndos no dia 31 de Dezembro de 1978, tendo coincidido com a sua tomada de posse na Paróquia de Laúndos. Também nesta data se realizaram as primeiras promessas Escutistas no Agrupamento.

Quem foi escuteiro dos tempos em que a sede do Agrupamento se situava na parte inferior da residência paroquial, lembra-se certamente das batidas no soalho da sala da residência (que era também o teto da sede) quando o volume das vozes aumentava nas reuniões de Escuteiros, ou quando, por vezes, nas reuniões de Patrulha, as palavras usadas não eram as mais apropriadas.

Também das visitas que o Pe. Dinis fazia à sede para estar e falar com os Escuteiros, e quando pedia ajuda para dobrar o jornal de S. Miguel, que era depois enviado para os assinantes residentes em outros locais do país e no estrangeiro.

Sempre fez questão de participar nas atividades realizadas pelo Agrupamento, nomeadamente nos Magustos que se realizavam junto à residência paroquial, e as inúmeras Eucaristias que celebrou em campo, quando os Escuteiros acampavam por perto. Era presença assídua nos fogos de conselho, onde dava o ar da sua graça e participava com músicas tão características como “O meu chapéu tem três bicos” ou “Fernando Sétimo”, e com a famosa peça “Diz Filipe”.

Os Escuteiros que o acompanhavam nas visitas pascais têm com certeza memória do “batismo” que fazia aos estreantes nessas andanças, quando, sorrateiramente, pegava num ovo cozido e o partia na cabeça do “noviço”…

Tantas e tantas histórias características da sua personalidade poderíamos aqui recordar…

Tantos passeios de Agrupamento em que nos acompanhou, e nos quais fazia questão de nos referenciar o passado daqueles locais: a sua história, o significado dos símbolos, as tradições locais, sempre com um nível de cultura que nos deixava completamente envolvidos, pela forma como falava com amor e dedicação de uma das suas grandes paixões: a História.

Quem bem o conhecia, sabe que era um amante de História, e arrisco até a dizer que era o nosso “José Hermano Saraiva”... Uma paixão bem visível também no amor que dedicou a Laúndos, deixando-nos como

herança a “Monografia da freguesia de S. Miguel de Laúndos”. Foi um grande historiador que ajudou a encontrar a identidade desta freguesia.

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Tudo isto são memórias que ficarão para sempre, juntamente com os ensinamentos deixados… um legado riquíssimo que nos ofereceu de forma tão generosa!

Não podemos esquecer nem deixar de referir o papel fundamental que o Pe. Dinis teve na continuidade deste Agrupamento no final da década de 80, início da década de 90.

Nesta altura, o Agrupamento ficou sem qualquer Dirigente que assumisse a Direção do mesmo, devido à forte vaga de emigração provocada pela grave crise económica vivida pelo país nessa altura.

Sabendo que o Agrupamento cessaria a sua atividade se não houvesse um Dirigente que assumisse o cargo de Chefe de Agrupamento, o Pe. Dinis, enquanto Assistente do Agrupamento e Dirigente, acumulou também esse cargo, confiando no trabalho e ajuda de 3 jovens Caminheiros que, com o seu apoio e orientação, conseguiram manter as secções em funcionamento, e deram continuidade à permanência do Agrupamento de Escuteiros em Laúndos até que a situação voltasse a estabilizar.

Quanta ousadia, confiança e persistência… Mas era mesmo assim o Pe. Dinis.

Sempre demonstrou um carinho especial pelo Escutismo, tendo também durante alguns anos assumido a função de Assistente do Núcleo Cego do Maio. Era, e continuará a ser, uma referência em todos os Agrupamentos de Escuteiros do Núcleo Cego do Maio, em particular dos Agrupamentos do concelho da Póvoa de Varzim.

Foi exemplo prático do seguimento das finalidades educativas do escutismo, no desenvolvimento das áreas física e afetiva, e também do carácter, no desenvolvimento espiritual, intelectual e social. Como sempre costumava dizer: ‘meninos, isto é catequese’.

Foi padre, foi historiador, foi amigo, foi professor.

Canta a fadista Mariza no fado “Chuva”:

Há gente que fica na história da história da gente e outras de quem nem o nome lembramos ouvir

Dinis da Silva Lopes é, com toda a certeza, um nome e uma referência que ficará para sempre na história da história da gente Lanutense.

E para finalizar, terminamos com a letra de uma música escutista que ele sempre gostava de cantar ao encerrar as atividades Escutistas:

Amigos tão bons vale a pena juntar Temos um só ideal À esquerda, à direita poder braço dar Aspiração igual Todos unidos, unidos assim Fortes, mais fortes seremos enfim Num só querer, até morrer Na paz de Deus, Senhor Todos unidos, unidos assim Fortes, mais fortes seremos enfim Num só querer, até morrer Na paz de Deus, Senhor Bem-haja Pe. Dinis e um enorme OBRIGADO por tudo.

Agrupamento N.º 570, S. Miguel de Laúndos

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As Notícias do Pe. Dinis

Talvez por ser devoto do padroeiro de Laúndos, “S. Miguel” foi o nome

escolhido para o Boletim Paroquial que se estreou por alturas da Páscoa em abril de 1979.

Através do Boletim tinha como objetivos fazer chegar os seus pensamentos como “novo” Padre recém-chegado aos Lanutenses (incluindo aos emigrantes), dar a conhecer todos os projetos da comunidade, especialmente das confrarias, comissões e organizações, e ajudar nas dificuldades do dia-a-dia da população. Resumidamente, pretendia unir os paroquianos em torno de causas comuns.

O cabeçalho do Boletim foi desenhado pelo seu primo Nado (Fernando Gonçalves), que fielmente tinha desenhado a Igreja Matriz, desenho que, ainda hoje, é usado com logotipo da nossa paróquia.

Ao todo, o Pe. Dinis editou 264 números com notícias que vão desde a Santa Sé e Diocese à vida Paroquial, passando também pela Junta de Freguesia, Associação Desportiva, Agrupamento de Escuteiros, e outros acontecimentos importantes para a terra. Em todos os boletins havia uma mensagem evangelizadora, a Palavra do Diretor e pequenas notícias, tais como efemérides do mês, novidades dos emigrantes, os serviços paroquiais realizados e, claro está, um pouco de história de Laúndos, tal era a sua paixão pela terra.

Esfolhando o primeiro número, poder-se-á encontrar uma notícia com o título “O que pensamos fazer”. Nela lê-se que, após um ano de atividade, O Pe. Dinis já tinha um projeto em papel para o campo do Passal destinado a um Centro Cultural de orientação cristã. Curiosamente, 35 anos depois continuamos com o mesmo sonho! Oxalá o

sonho de ontem e de hoje, seja uma realidade amanhã…

Um Escritor de Livros com História e Vida Paroquial

O Pe. Dinis Lopes publicou, entre

1981 e 1984, vários textos sobre a história de Laúndos no Boletim Municipal da Póvoa de Varzim. O sucesso dos seus textos periódicos, associado ao reduzido número de tiragens na altura, levou a que em 1985 publicasse o livro “Monografia da Freguesia de São Miguel de Laúndos”, o primeiro e talvez único registo escrito inteiramente dedicado à história da nossa terra.

Nele fala-se da implantação e dos limites da freguesia no território, através dos marcos históricos, da onomástica associada a Laúndos (estudo dos nomes próprios, das suas origens até aos nossos dias), que permitiu descobrir que a nossa terra já se chamou e se escreveu: Lanutos em 1033, depois Lanudos, Lanudus, Laudos, Loudos, Laúdos, Laudes, Laundos e, nos dias de hoje, Laúndos.

O livro também descreve a geologia e hidrografia dos lugares, a população ao longo dos séculos, os lugares da freguesia, os principais edifícios e monumentos, o relato do assalto à residência paroquial em 1905, que resultou na morte do ladrão Matias, a Paróquia de Laúndos e uma apresentação

detalhada das capelas e dos cultos a S. Félix e Nossa Senhora da Saúde. Esta publicação termina com uma descrição da vida social da comunidade, com as suas festas e romarias, associações e tradições culturais.

Após a monografia, segue-se em 2002 a publicação do seu segundo livro “Capela e Culto a S. Félix”. O livro foi lançado quatro anos depois da inauguração das obras do Monumento ao Emigrante e da requalificação do Escadório de S. Félix. Novamente, a sua aguçada pesquisa histórica é posta em pele.

Em 2003, em jeito de compilação das suas principais notas e textos publicados ao longo de 24 anos de edições do Boletim “S. Miguel”, publica o “Notas Minhas”. Neste livro pode-se ler uma introspeção de quem ele sentia que era, do Pároco que foi, dos seus tempos de lazer, da sua conformidade em relação à vontade do Pai e do amor que tinha pela Mãe do Céu.

As três publicações em forma de livro que o Pe. Dinis Lopes deixou a Laúndos resultaram do seu amor pela terra que o acolheu durante quase 27 anos. Estamos eternamente gratos pela sua dádiva. As gerações vindouras saberão, talvez mais do que nós, agradecer-

lhe pelo trabalho de historiador apaixonado por Laúndos, Lanutus, Lanudos, ou Laudes, ou outro nome que ainda se venha a chamar!

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