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Atualidades – Técnico Judiciário PR República Velha (1889-1930) Na última tentativa de solucionar as crises, no dia 11 de junho de 1889, o primeiro- ministro visconde de Ouro Preto apresentou ao Parlamento as seguintes propostas de reformas liberais: - plena autonomia dos municípios e províncias; - fim do senado vitalício (os senadores ficavam no cargo até a morte); - criação de estabelecimento de emissões de papel- moeda e facilidade de crédito para os setores agrícolas; - pleno direito de reuniões; - casamento civil obrigatório; - plena liberdade de religião; - plena liberdade de ensino; - leis facilitadoras de aquisição de terras, desde que se respeitassem os direitos dos proprietários; - incentivo à imigração (barateando ainda mais a mão- de-obra para diminuir os custos de produção). No entanto, essas reformas não conseguiram evitar a queda da Monarquia. O clima era de conspiração contra o regime. O Marechal Manoel Deodoro da Fonseca aparece como o militar capaz de representar os interesses conspiradores republicanos, pois ele tinha prestígio entre as tropas. O Exército estava descontente com os privilégios da Guarda Nacional, conjunto de tropas particulares chefiadas por fazendeiros, que recebiam do imperador o titulo de coronéis. A 11 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro reuniu-se, em sua própria casa, com os republicanos Francisco Glicério, Aristides Lobo, Quintino Bocaiúva, major Sólon Sampaio Ribeiro, Rui Barbosa e Benjamim Constant. No dia 12 de novembro, “o imperador foi para Petrópolis, fugindo ao calor do Rio de Janeiro. Na manhã do dia 15 o Conde D’Eu (genro de D. Pedro II) ainda fez seu passeio a cavalo pelo bairro de Botafogo (RJ) e só à tarde veio a saber que as tropas do Exército estavam cercando o Ministério da Guerra”. (Francisco Carpi e outros – História da Sociedade Brasileira). No começo da tarde do dia 15, Deodoro criticou duramente os políticos e defendeu as nações militares “para o bem da pátria”. Às 15 horas, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, já com o apoio da Marinha e de outros quartéis do Exército, a República foi oficialmente proclamada. As tropas se retiraram para os quartéis e à noite, por volta das 19 horas, Deodoro foi aclamado por um grupo de republicanos em frente à sua casa. Intimada pelos militares, a família imperial deposta teve que deixar o Brasil. Se, por um lado, não houve manifestações de grande apoio popular à República, por outro não ocorreram reações importantes contrárias à proclamação. A mudança de regime político realizou-se sem traumas ou violências. Tratava-se mais uma vez de um arranjo político que favorecia novas forças sociais: as classes médias urbanas, os fazendeiros que optaram pela contratação de trabalhadores assalariados, a nascente burguesia industrial e o Exército. Visconde de Ouro Preto, último 1ª Ministro do Brasil (1836-1912) Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Celso _de_Assis_Figueiredo . Acesso em 23/09/2013.

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Atualidades – Técnico Judiciário PR

República Velha (1889-1930)

Na última tentativa de solucionar as crises, no dia 11 de junho de 1889, o primeiro-

ministro visconde de Ouro Preto apresentou ao Parlamento as seguintes propostas de reformas liberais: - plena autonomia dos municípios e províncias; - fim do senado vitalício (os senadores ficavam no cargo até a morte); - criação de estabelecimento de emissões de papel-

moeda e facilidade de crédito para os setores agrícolas; - pleno direito de reuniões; - casamento civil obrigatório; - plena liberdade de religião; - plena liberdade de ensino; - leis facilitadoras de aquisição de terras, desde que se

respeitassem os direitos dos proprietários; - incentivo à imigração (barateando ainda mais a mão-

de-obra para diminuir os custos de produção).

No entanto, essas reformas não conseguiram evitar a queda da Monarquia. O clima era de conspiração contra o regime. O Marechal Manoel Deodoro da Fonseca aparece como o militar capaz de representar os interesses conspiradores republicanos, pois ele tinha prestígio entre as tropas. O Exército estava descontente com os privilégios da Guarda Nacional, conjunto de tropas particulares chefiadas por fazendeiros, que recebiam do imperador o titulo de coronéis.

A 11 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro reuniu-se, em sua própria casa, com os republicanos Francisco Glicério, Aristides Lobo, Quintino Bocaiúva, major Sólon Sampaio Ribeiro, Rui Barbosa e Benjamim Constant.

No dia 12 de novembro, “o imperador foi para Petrópolis, fugindo ao calor do Rio de Janeiro. Na manhã do dia 15 o Conde D’Eu (genro de D. Pedro II) ainda fez seu passeio a cavalo pelo bairro de Botafogo (RJ) e só à tarde veio a saber que as tropas do Exército estavam cercando o Ministério da Guerra”. (Francisco Carpi e outros – História da Sociedade Brasileira).

No começo da tarde do dia 15, Deodoro criticou duramente os políticos e defendeu as nações militares “para o bem da pátria”. Às 15 horas, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, já com o apoio da Marinha e de outros quartéis do Exército, a República foi oficialmente proclamada. As tropas se retiraram para os quartéis e à noite, por volta das 19 horas, Deodoro foi aclamado por um grupo de republicanos em frente à sua casa.

Intimada pelos militares, a família imperial deposta teve que deixar o Brasil. Se, por um lado, não houve manifestações de grande apoio popular à República, por outro não ocorreram reações importantes contrárias à proclamação.

A mudança de regime político realizou-se sem traumas ou violências. Tratava-se mais uma vez de um arranjo político que favorecia novas forças sociais: as classes médias urbanas, os fazendeiros que optaram pela contratação de trabalhadores assalariados, a nascente burguesia industrial e o Exército.

Visconde de Ouro Preto, último 1ª Ministro do Brasil (1836-1912) Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_Celso_de_Assis_Figueiredo. Acesso em 23/09/2013.

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Entre concessões e conciliações, esses setores sociais dominantes articularam a passagem da Monarquia para a República, mantendo o povo afastado das decisões do Estado.

REPÚBLICA DA ESPADA (1889-1894)

Governo provisório (1889-1891)

Medidas Tomadas:

- Promoveu a grande naturalização. - Separação entre Estado-Igreja. - Instituição do casamento civil. - Convocação de Assembléia Constituinte. - Instituição da Bandeira Nacional.

O Encilhamento

O problema econômico desgastava o governo provisório. A política econômica de Rui Barbosa, ministro da fazenda, intensificava a crise financeira. O país herdara da Monarquia uma balança comercial desequilibrada (isto é, gastava mais com importações do que ganhava com exportações) e precisava obter recursos para financiar a expansão e melhoria dos portos, ferrovias e instalação de indústrias.

Apoiado pelos pequenos industriais e pelas camadas médias urbanas, Rui Barbosa abriu linhas especiais de crédito para a instalação de fábricas no Brasil. Ao mesmo tempo, facilitou a importação de matérias-primas. O fato é que Rui Barbosa acreditava que a indústria era o melhor meio para a inserção do negro, recém-abolido, no mercado de trabalho. O problema, no entanto, é que isto gerou uma corrida desenfreada para conseguir empréstimos junto às instituições financeiras. A aplicação deste dinheiro no setor industrial, porém, foi mínima. A maior parte, investiu em benefício próprio, e não da nação. As pessoas, emparelhadas, encilhadas, como se fossem cavalos no preparo para a corrida, nas portas de bancos, explicam o nome de encilhamento ao processo todo.

O fracasso da política do Encilhamento não deve ser atribuído exclusivamente a Rui Barbosa. Os recursos financeiros eram pequenos e os capitais acumulados, em fins do século XIX, eram quase exclusivamente do setor cafeeiro. Além disso, o mercado interno era restrito para consumir a produção industrial em larga escala, como pretendia o ministro, e, no jogo do capitalismo internacional, o Brasil ocupava a posição de exportador de matérias-primas e comprador de mercadorias fabris das potências industriais mais desenvolvidas.

A Constituição de 1891

Marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892)

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As eleições foram fraudadas para garantir a representatividade da elite e a Constituinte foi instalada no dia 15 de novembro de 1890. Cada um dos grupos políticos acusava o outro de fraude. Mas os republicanos objetivos conseguiram obter a maioria no Congresso. Os históricos e radicais formavam a minoria. O Marechal Deodoro tentou ganhar deputados e senadores para fazê-los subservientes ao governo através de sucessivas manobras políticas, como promessa de cargos públicos, dinheiro e outras concessões.

No dia 24 de fevereiro de 1891, o Congresso e o presidente promulgaram uma Constituição – a segunda do Brasil e a primeira da República – de caráter liberal e dentro do jogo democrático dos interesses da burguesia cafeeira.

Os pontos mais significativos da nova Constituição eram: • Federalismo: O país se tornou uma federação denominada Estados Unidos do Brasil. Neste esquema federalista, os Estados tinham autonomia para realizar constituições próprias, fazer empréstimos externos, arrecadar impostos, eleger governadores e até possuir corporação própria. • Regime representativo: o presidente da República, os presidentes estaduais e os membros do Congresso Nacional – composto pela Câmara de Deputados e pelo Senado, formando o Poder Legislativo – seriam eleitos pelo povo, exceto pelos analfabetos, mendigos, mulheres, soldados, religiosos de ordem monásticas e menores de 21 anos.

• Presidencialismo: o presidente da República tornava-se o chefe da Federação. No caso de impedimento do presidente, seu cargo seria ocupado pelo vice-presidente. O presidente ocuparia o cargo por quatro anos, ficando impossibilitado de reeleger-se por um outro período imediato.

• Leis gerais: era conhecida a igualdade de todos perante a lei, a liberdade e segurança individual e, principalmente, a garantia de plenos direitos à propriedade. Haveria, ainda, a separação entre igreja e Estado, instituindo-se o registro de nascimento, o registro de casamento civil e o atestado de óbito.

Governo constitucional de Deodoro da Fonseca (1891)

Ruy Barbosa e a “preocupação” das massas com a Constituição de 1891. Fonte: http://www.brasilescola.com/upload/e/Republica%20charge1%20-%20EDUCADOR.jpg Acesso em 23/09/2013.

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Aprovada a Constituição, os constituintes transformaram-se em membros do Congresso Nacional. Assim, deputados e senadores elegeram o primeiro presidente. Duas chapas apresentaram-se para ocupar o cargo: uma formada pelo Marechal Deodoro da Fonseca como presidente, tendo Eduardo Wandenkolk como vice, e outra formada por Prudente de Morais, com Floriano Peixoto como vice. O Marechal Deodoro da Fonseca acabou eleito presidente (129 votos contra 97 dados a Prudente de Morais) e a vice presidência ficou com Floriano Peixoto (153 votos contra 57 de Wandenkolk). Na época era permitido votar para presidente e vice de chapas diferentes.

O governo constitucional de Deodoro acumulou crises. Os problemas com a fracassada política do Encilhamento provocaram críticas da todos os setores sociais e os jornais

alardeavam os casos de empresas “fantasmas”, desvios de verbas, corrupções, gastos excessivos do governo. A crise também se estendia aos quartéis, nos quais o prestígio de Deodoro se abalava. Deodoro governava o país como se estivesse no quartel: dava ordens, não consultava a classe política, mantinha-se distante das discussões congressistas e irritava-se com as impossibilidades de resolver as crises a seu modo, ou seja, autoritário e ditatorial.

As lideranças dos cafeicultores no Congresso eram exercidas por Prudente de Morais, Campos Salles e Bernardino de Campos, que se opunha à política do Marechal Deodoro.

A 22 de agosto de 1891, o Congresso aprovou um conjunto de leis para restringir o poder do presidente. Deodoro vetou essas leis e ao mesmo tempo tentou um golpe de Estado. No dia 3 de novembro de 1891, o presidente fechou o Congresso e declarou o estado de sítio no país, ou seja, suspendeu as garantias individuais e as liberdades dos cidadãos.

Rapidamente, formaram-se os blocos de resistência contra as tentativas de implantação de uma ditadura militar no Brasil. As oligarquias de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul opuseram-se ao fechamento do congresso e ao estado de sítio. Os setores militares também não concordaram com as iniciativas do Marechal. Percebendo a gravidade da situação, o vice-presidente, Floriano Peixoto, articulou o apoio da Marinha, dos políticos congressistas e dos governos estaduais. Mas Deodoro insistiu no golpe e ordenou a prisão, sem sucesso, dos líderes da Marinha. Eduardo Wandenkolk (antigo aliado, que se tornou inimigo do presidente) e Custódio de Melo. Esses comandantes da Marinha organizaram uma estratégia militar apontando os canhões dos navios Iguatemi, Riachuelo, Solimões, Araguari e Marcílio Dias para a cidade do Rio de Janeiro, ameaçando ao presidente de que, se ele não renunciasse, bombardeariam a capital federal.

Fonte: http://www.jurassico.com.br/aulas-de-historia/resumo-republica-velha/ Acesso em 23/09/2013

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Deodoro compreendeu que qualquer resistência poderia conduzir o país a uma guerra, e, no dia 23 de novembro, renunciou ao cargo, passando a presidência para Floriano Peixoto. Encerravam-se nove meses de governo constitucional.

Floriano Peixoto (1891-1894)

O novo marechal suspendeu o estado de sítio e reabriu o Congresso. No entanto, procedeu à derrubada dos presidentes estaduais (com exceção de Lauro Sodré, do Pará, que embora fiel a Deodoro, no último instante não concordou com o golpe) e sua substituição por homens de sua confiança.

Membros do Partido Republicano Paulista, como Bernardino de Campos (presidente da Câmara Federal) e Prudente de Morais (presidente do Senado), legitimaram as medidas de força do presidente. Ao mesmo tempo, o Ministério das Finanças foi entregue a Rodrigues Alves, oligarca paulista, mostrando, assim, o reconhecimento aos cafeicultores de São Paulo. Floriano também buscou apoio nas baixas camadas médias urbanas e na nascente classe operária. Essas camadas estavam descontentes com Deodoro e haviam promovido diversas manifestações de rua contra o governo e greves.

Medidas econômicas e sociais foram aplicadas para obter o apoio dessas camadas como tentativa de dar “uma forte coloração popular ao regime, necessária para a sua manutenção”. Por isso, Floriano baixou os aluguéis das casas operárias, isentou de impostos a carne, barateando o produto, e decretou leis para controlar o preço dos alimentos de primeira necessidade.

O ministro da fazenda, Sezerdelo Correa, retirou todos os impostos de importação sobre máquinas para as fábricas. O Exército tinha se compromissado com a industrialização.

Para combater Floriano, seus opositores utilizaram um dispositivo da Constituição: o que definia que, caso a presidência ficasse vaga e o presidente não tivesse cumprido metade de seu mandato (isto é, 2 anos), o vice assumiria apenas por três meses tempo para que se realizassem novas eleições presidenciais.

Como reação à continuidade de Floriano no poder emergiram duas rebeliões visando a sua deposição: a Revolução Federalista gaúcha e a Revolta da Armada no Rio de Janeiro.

Marechal Floriano Peixoto (1839-1895)

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A Revolta Federalista explodiu no Rio Grande do Sul e rapidamente transformou-se numa verdadeira guerra civil entre dois grandes oligarcas gaúchos: de um lado, os federalistas maragatos, liderados por Gaspar Silveira Martins; de outro, os republicanos, chimangos ou pica-paus, comandados por Júlio de Castilhos.

Os conflitos armados no Rio Grande do Sul resolveram-se apenas em 1895, no governo de Prudente de Morais, que favoreceu aos chimangos, mas anistiou os maragatos. “A Revolução Federalista durou 31 meses (...) Componentes de grande selvageria contribuíram para tornar a revolta tristemente célebre. Republicanos e federalistas, movidos petos chefes políticos locais, massacravam-se reciprocamente. As populações sulistas envolvidas no conflito (inclusive polacos e italianos radicados em colônias) passaram por toda sorte de privações” (Antônio Mendes Jr. e Ricardo Maranhão). No final, 10 000 pessoas atravessaram as fronteiras gaúchas e aproximadamente 12 000 morreram nos combates.

Enquanto se desenrolavam as lutas gaúchas, a Armada do Rio de Janeiro, sob o comando do almirante Custódio de Mello, se rebelou em setembro de 1893. As principais causas da Revolta da Armada foram:

• disputas pelo poder entre os oficiais do Exército e da Marinha representantes de classes sociais distintas.

• políticos que se opunham a Floriano utilizaram-se das rivalidades entre as duas corporações para tirar o Marechal do poder, insuflando a Marinha contra o presidente;

• o almirante Custódio de Mello estava descontente com Floriano, pois pretendia sucedê-lo na presidência e se sentiu traído quando Floriano passou a apoiar outro candidato, Prudente de Morais.

Para justificar a revolta, Custódio de Mello acusava a inconstitucionalidade do Marechal na presidência, bem como suas pretensões de permanecer no cargo. Os rebeldes tentavam desembarcar em Niterói para começar o cerco à capital (Rio de Janeiro). Sob as ordens de Custódio, os navios bombardearam a cidade do Rio. Nesse momento, formaram-se batalhões populares contra os revoltosos. Os cariocas, mal-informados, acreditavam que os rebeldes eram monarquistas desejosos de derrubar a República e se organizaram em resistências populares. Percebendo a impossibilidade de continuar a luta, os rebeldes dirigiram-se para Santa Catarina, formando um “governo provisório”, na cidade de Desterro, unindo-se aos federalistas gaúchos.

O presidente reorganizou seus aliados, comprou navios dos Estados Unidos, colocou no comando homens de sua confiança e, respaldado pela burguesia cafeeira paulista, iniciou uma contra-ofensiva. Obteve vitória ao retomar a sede do “governo provisório” na ilha do Desterro

– que a partir daquele momento passou a chamar-se Florianópolis (hoje capital de Santa Catarina).

No momento em que o Exército assegurava a transição republicana, os grupos

oligárquicos preparavam-se para assumir o controle do Brasil. Enquanto isso, os grupos civis organizavam

Tropa de Gumercindo Saraiva (maragatos), durante a Revolução Federalista. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Federalista. Acesso em 23/09/2013.

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as lideranças políticas nos Estados e dentro do Congresso para solidificar a hegemonia dos paulistas sobre o esquema oligárquico. De todas as oligarquias, a de São Paulo tinha maior organização representativa entre os latifundiários. (O PRP – Partido Republicano Paulista – fora criado em 1873, durante a Convenção de Itú).

República Oligárquica (1894-1930)

Prudente de Morais (1894-1898)

Dois fatos marcaram o governo de Prudente de Morais: a rebelião de Canudos e a divisão do Partido Republicano Federal (PRF).

Identificado erroneamente como uma reação monarquista contra o governo republicano, o movimento messiânico de Canudos revigorou a oposição contra o governo no Rio de Janeiro, fazendo ressurgir ideais de volta à Monarquia e fortalecendo a oposição florianista. Mas as manifestações ocorridas contra a capital federal foram prontamente reprimidas, com saldo de milhares de mortes.

A luta contra os rebeldes de Canudos, que foram chacinados em 1897, depois de quatro investidas do Exército, teve impacto negativo para o governo. Afinal, o povo de Canudos não passava de um grupo de homens, mulheres, velhos e crianças armados apenas com paus e pedras – mesmo assim, o Exército só conseguiu dominá-los com muita dificuldade. Depois desse fiasco e da carnificina relatada por Euclides da Cunha em Os sertões, os militares não estavam mais em condições de almejar o poder. A saída era voltar aos quartéis.

Por outro lado, a perseguição aos florianistas provocou tensões no PRF. Francisco Glicério, presidente do partido, protestou contra essa perseguição (afinal, ele era um florianista e foi apoiado pelas oligarquias gaúcha e piauiense). Entretanto, foi o bloco dos paulistas,

mineiros e baianos que conseguiu controlar a crise partidária. E a liderança de São Paulo consolidou-se. O grupo florianista afastou-se do partido, deixando o caminho livre para a hegemonia dos cafeicultores.

Apesar dos problemas que enfrentou em nível interno, o governo de Prudente de Morais obteve êxito na política externa:

Resolveu questões de fronteira com a Argentina, obtendo para o Brasil cerca de 25 000

km2 de uma área onde, nos séculos XVII e XVIII, ocorreu a instalação de algumas missões jesuíticas: a região de Palmas – fronteira entre Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Argentina.

O último acontecimento que marcou o período de 1894/1898 foi uma tentativa de assassinar o presidente, quando este passava em revista as tropas militares vitoriosas da

Prudente de Morais (1841-1902)

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Guerra de Canudos: Prudente de Morais aproveitou-se do fato para perseguir seus adversários, pois o Congresso aprovara seu pedido de decretação de Estado de Sítio.

Campos Sales (1898-1902)

Outro fazendeiro paulista, Manuel Ferraz de Campos Sales saiu de seu governo desgastado, por causa de uma política econômica prejudicial à população.

Junto com o ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho, ele acreditava que os problemas econômicos do país estavam na moeda desvalorizada. Procurou valorizá-la e, ao mesmo tempo, renegociou a dívida externa mediante acordo chamado funding loan, pelo qual os credores concederam novos prazos de pagamento. Campos Sales aceitou as pesadas exigências dos banqueiros, vendo nelas a única maneira de sanear a moeda.

Campos Sales acreditava que a política era privilégio das elites, gente com tradição, dinheiro e posses. Formulou sua política com base nas elites estaduais. Foi esta a chamada política dos governadores, que consistia numa troca de favores entre governos estaduais e governo federal: eles apoiavam o presidente, o presidente lhes concedia o que pediam. Uma democracia sem povo, contra os trabalhadores e as classes médias.

Rodrigues Alves (1902-1906)

Francisco de Paula Rodrigues Alves era mais um fazendeiro de café paulista, mas considerado progressista. Entregou a economia como a recebeu: "estabilizada".

Modernizou o Rio de Janeiro: alargou praças, construiu avenidas, melhorou o porto; erradicou quase completamente a febre amarela. Comprou o Acre, junto a Bolívia, em meio a euforia do ciclo da Borracha. Não faltava dinheiro, pois seu governo coincidiu com o apogeu do ciclo da borracha.

Osvaldo Cruz, diretor da Saúde Pública do Rio de Janeiro, havia se comprometido a acabar com a febre, a peste bubônica e a varíola. O jovem médico contrariou a maioria dos membros de sua classe ao perseguir os mosquitos da febre amarela. O povo, influenciado pela oposição e mal-informado, impedia a ação dos mata-mosquitos.

Campos Sales (1841-1913)

Rodrigues Alves (1848-1919)

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Com a varíola, a briga tornou-se séria. O governo decretou a vacinação obrigatória. Seus adversários alegaram que ele não podia obrigar ninguém a vacinar-se e, mais, que a vacinação de mulheres era um despudor. O povo passou a agredir os vacinadores e o Rio de Janeiro se transformou em campo de batalha. De 12 a 15 de novembro de 1904, os populares tomaram

conta da cidade. Apedrejaram, saquearam, espancaram policiais e outras autoridades, invadiram quartéis, construíram barricadas e incendiaram bondes. Os líderes eram homens do povo: Pata Preta, João, Capoeira, Beiço de Prata, Manduca. Comícios, passeatas, bandeiras vermelhas dos anarquistas, tudo ao embalo de dois hinos: a Marselhesa, da Revolução Francesa, e a Internacional, dos

socialistas. No meio do caos, os oposicionistas tentaram sublevar os militares para derrubar

Rodrigues Alves. Não conseguiram. A polícia começou a agir. Centenas de pessoas foram desterradas para o Acre. Milhares confinadas nas cadeias. Anarquistas estrangeiros foram expulsos do país. O historiador Joel Rufino dos Santos, em sua História do Brasil, observa que, é claro, o povo não tinha enlouquecido, nem a revolta se devia simplesmente à vacina obrigatória. E relaciona as razões da “estranha rebelião”: - a insuportável carestia, por causa da política econômica de Campos Sales; - o desemprego, em razão da crise comercial e da política antiindustrial do governo, que levou

muitas fábricas a fechar as portas; - a falta de democracia, conseqüência da política dos governadores: a oposição só podia manifestar-se nesses momentos de violência; - a modernização do Rio, que trouxe a demolição de cortiços e desabrigou milhares de pessoas humildes; - a campanha antivariólica, imposta com violência e sem esclarecimento do povo.

Afonso Pena (1906-1909)

O mineiro Afonso Augusto Moreira Pena assumiu com o apoio de fazendeiros e exportadores de café. Tinha sonhos de industrialização, mas, rapidamente, os esqueceu e empenhou-se na valorização do café, comprando o produto e retendo-o para forçar a alta de preços, fazendo

Revista O Malho fazendo referência crítica a Revolta da Vacina, enfrentada pelo presidente. Fonte: http://historica.com.br/hoje-na-historia/revolta-da-vacina-no-rio-de-janeiro. Acesso em 23/09/2013.

Afonso Pena (1847-1909)

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direito a lição proposta durante o Convênio de Taubaté, realizado em fevereiro de 1906. Outras iniciativas importantes: ligações ferroviárias São Paulo - Rio Grande do Sul e Rio

de Janeiro - Espírito Santo; estímulo à imigração; fundação do Instituto Soroterápico de Manguinhos, depois Instituto Osvaldo Cruz.

Afonso Pena morreu antes de terminar seu mandato, de pneumonia.

Nilo Peçanha (1909-1910)

Nilo Procópio Peçanha, vice que assumiu com a morte de Afonso Pena, criou o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), cuja direção entregou ao então coronel Cândido Rondon. Presidiu acirrada campanha eleitoral, que opôs Rui Barbosa ao marechal Hermes da Fonseca. Venceu o militar, mais entrosado com os interesses dos cafeicultores, embora Rui tivesse conquistado o eleitorado urbano, desejoso de reformas.

Hermes da Fonseca (1910-1914)

Apesar do apoio das oligarquias estaduais e de grupos militares, Hermes Rodrigues da Fonseca teve um governo tumultuado. Foi insultado e ridicularizado pelo anedotário popular, que o tomava como oposto a Rui, “o homem mais inteligente do Brasil”. Enfrentou a revolta dos marinheiros contra castigos físicos e a Guerra do Contestado.

A instabilidade política e a decadência da borracha da Amazônia provocaram a retração dos capitais estrangeiros.

A Revolta da Chibata

Os castigos corporais na Marinha, abolidos com a Proclamação da República, haviam voltado um ano depois. Faltas leves eram punidas com prisão e ferro na solitária, a pão e água. Faltas graves, com 25 chibatadas. A revolta explodiu em 22 de novembro de 1910. Os marinheiros assumiram o controle sobre importantes navios da Marinha de Guerra. Mataram alguns oficiais que resistiram ao movimento e passaram a exigir o fim dos castigos e de outros aspectos aviltantes de sua condição, ameaçando bombardear o Rio de Janeiro, sede do governo.

Pressionado, Hermes da Fonseca cedeu: aboliu os castigos e concedeu anistia aos revoltosos. Eles depuseram as armas e entregaram os navios aos oficiais, em 26 de novembro. Dois dias depois, sentiram na carne que tipo de anistia

Hermes da Fonseca (1855-1923)

Nilo Peçanha (1867-1924)

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tinham recebido. O Marechal Hermes baixou decreto excluindo-os da Marinha por indisciplina. Em 4 de dezembro, foram presos 22 marinheiros. No dia 9, o governo decretou Estado de Sítio, prendendo mais uma centena e expulsando outros.

Muitos morreram. Dezesseis, de sede, calor e sufocamento em cela subterrânea da Ilha das Cobras; nove, fuzilados durante viagem que conduzia 105 desterrados para a Amazônia. O líder da revolta, João Cândido ("almirante negro"), sobreviveu à Ilha das Cobras e foi internado como louco no Hospital dos Alienados. Todos foram absolvidos em novembro de 1912.

A Guerra do Contestado

Quinze anos depois da morte de Antônio Conselheiro, começou no Sul do país uma guerra que tinha semelhanças com a de Canudos.

Ocorreu numa região de limites duvidosos, com territórios contestados por Paraná e Santa Catarina, daí o nome: Guerra do Contestado. Envolveu cerca de 20 000 sertanejos e durou quatro anos, de 1912 a 1916, com combates quase ininterruptos.

O problema de terras era grave na região. Os coronéis (latifundiários que controlavam grandes porções de população sertaneja) pressionavam os agregados a sair das fazendas e estabelecer-se por conta própria.

Para justificar a guerra, os coronéis e o governo federal acusaram o monge João Maria de monarquista. O problema é que vários destes líderes messiânicos perambulavam pela região. João Maria, por exemplo, era um monge, de fato, italiano, que percorria a região em litígio no século XIX. Na passagem do século XIX ao XX, mais um João Maria na área, denominando-se como o monge também. Logo após a morte do segundo, um desertor das tropas paranaenses, Miguel Lucena, acusado de estupro, se auto-proclamou José Maria, assumindo as funções dos monges anteriores.

As tropas agora dispunham até de pequenos aviões de reconhecimento, contra combatentes armados de facões, foices e outras armas rudimentares. Em quatro anos, morreram milhares de pessoas, inclusive crianças, mulheres e velhos; e os sertanejos do Contestado foram derrotados.

Entre os estados envolvidos, foi assinado um acordo que cedia 19000 km2 ao Estado de Santa Catarina, delimitando a fronteira que, atualmente, divide os dois territórios.

Venceslau Brás (1914-1918)

Venceslau Brás Pereira Gomes governou durante a I Guerra Mundial. Com a guerra ocorreu a queda nas importações e, como conseqüência, um pequeno surto industrial.

Houve brigas pelo poder em vários Estados, que chegaram a ter dois

Delfim Moreira (1868-1920)

Venceslau Bras (1868-1966)

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governos, como aconteceu no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Alagoas e Piauí. A Guerra do Contestado continuou. Venceslau enfrentou ainda greves em todo o Sul e Sudeste, a seca arrasadora de 1915 e a gripe espanhola, conseqüência da guerra, que matou 18 000 pessoas só na capital federal, incluindo o presidente eleito, Rodrigues Alves.

Delfim Moreira (1918-1919)

Rodrigues Alves, eleito mais uma vez, adoeceu e morreu antes da posse. O vice, Delfim Moreira, governou até a realização de novas eleições. Venceu Epitácio Pessoa, senador da Paraíba, que as oligarquias do Sul apoiaram com todo o seu peso contra Rui Barbosa, de novo derrotado.

Epitácio Pessoa (1919-1922)

Graças à máquina das oligarquias, Epitácio Pessoa venceu as eleições sem fazer campanhas e sem sair da Europa, de onde voltou apenas para tomar posse. Seu governo foi

marcado por uma administração de aparências, mais voltado para comemorações como a do Centenário da Independência. Devido a sua postura omissa diante das dificuldades econômicas, ganhou a oposição de todos os setores da sociedade brasileira.

As lideranças políticas do Café-com-leite (a alternância entre as oligarquias paulista e mineira no controle do país) escolheram o mineiro Arthur Bernardes para substituir o latifundiário paraibano. Mas, ao mesmo tempo, já acertaram previamente que o paulista Washington Luís seria o sucessor de Bernardes.

As oligarquias gaúchas, porém, lideradas por Borges de Medeiros, reagiram contra o candidato Artur Bernardes. Os gaúchos queriam reafirmar seu poder sobre as elites políticas dos pequenos Estados e medir forças com a aliança São Paulo-Minas. Assim, Borges uniu-se aos políticos do Rio, Pernambuco e Bahia, formando a Reação Republicana. A dissidência de Borges de Medeiros lançou uma candidatura oposicionista com Nilo Peçanha para presidente e José Joaquim Seabra para vice.

As revoltas dos tenentes

Descontentes com o seu afastamento da política e a imoralidade do processo eleitoral, os militares ameaçaram se levantar contra o governo. O choque entre poder civil e poder militar se chamou tenentismo, pois a revolta partia dos cadetes, tenentes e capitães (jovem oficialidade). O descontentamento da oficialidade jovem se devia a vários fatores, como: - o Exército se encontrava abandonado, sem material, e o governo só lhe atribuía missões

humilhantes, como depor governadores que não se enquadravam na política dominante;

Epitácio Pessoa (1865-1942)

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- os jovens sofriam influência das idéias industrialistas e nacionalistas que se desenvolveram no país, principalmente depois da I Guerra Mundial. Defendendo que o país estava atrasado, em relação ao mundo, e sem identidade nacional.

Os tenentes queriam moralizar a vida política brasileira, pôr um fim à corrupção eleitoral. Queriam deixar de ser jagunços das oligarquias. Tinham idéias progressistas e ao mesmo tempo conservadoras: pregavam o voto secreto e a reforma do ensino, mas achavam que os “mais capazes” deviam dirigir o povo, “despreparado e inculto”.

Os Dezoito do Forte

A primeira revolta tenentista ocorreu depois da eleição de 1922, em que saiu vencedor, como sempre, o candidato da situação, Arthur Bernardes. Durante a campanha, o jornal carioca Correio da Manhã recebeu algumas cartas ofensivas ao Exército e ao marechal Hermes. Traziam a assinatura de Arthur Bernardes. O Clube Militar decidiu impedir a posse dele. Os

tenentes planejaram derrubar Epitácio Pessoa. No dia 5 de julho de 1922, eles tomariam os quartéis e exigiriam a renúncia. No dia marcado, só o Forte de Copacabana se rebelou. Cercados, os revoltosos se entregaram. Mas dezessete oficiais e um civil decidiram enfrentar o governo oligárquico e saíram caminhando pela praia. Apenas dois sobreviveram: Eduardo Gomes e Siqueira Campos.

Só mais tarde seria descoberto que as tais cartas ofensivas de Bernardes não passavam de uma falsificação feita por Nilo Peçanha.

Arthur Bernardes (1922-1926)

Arthur Bernardes governou 48 meses, 44 deles sob Estado de Sítio (no qual não há mais

Os 18 do Forte de Copacabana. fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_dos_18_do_Forte_de_Copacabana. Acesso em 23/09/2013

Artur Bernardes (1875-1955)

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liberdades individuais). Por iniciativa do presidente, o Congresso aprovou uma reforma constitucional que aumentou os poderes do presidente, facilitando a intervenção do governo federal nos Estados. Os jornais também passaram a sofrer rigorosa censura.

Bernardes iniciou uma intensa perseguição aos políticos da Reação Republicana (Nilo Peçanha, J.J. Seabra e Borges de Medeiros), realizando intervenções no Rio de Janeiro e na Bahia. Bernardes não conseguiu intervir no Rio Grande do Sul, mas enfraqueceu Borges de Medeiros através de manobras políticas.

Revolta de 1924

Em outro 5 de julho, em 1924, os tenentes pegaram em armas novamente contra o governo. Os revoltosos, entre eles Eduardo Gomes e Juarez Távora, comandados pelo general Isidoro Dias Lopes (São Paulo), ocuparam a capital paulista por 23 dias e conseguiram contagiar outros Estados, nos quais surgiram motins: Rio Grande do Sul, Pernambuco, Pará, Amazonas e Sergipe. O Exército legalista bombardeou os quartéis sublevados e os tenentes se retiraram para Foz do Iguaçu (Paraná) onde se uniram aos oficiais gaúchos, formando a Coluna Prestes.

Coluna Prestes

A coluna guerrilheira que ficaria conhecida como Coluna Prestes saiu de Alegrete (Rio Grande do Sul). Com o reforço dos oficiais paulistas, percorreu 25000 quilômetros de território brasileiro e travou mais de cem combates durante dois anos e meio, comandada pelo então capitão Luís Carlos Prestes.

Formada por um núcleo fixo de 300 militares, chegou a reunir mais de 1500 guerrilheiros. Os governos de Arthur Bernardes e Washington Luís não venceram a Coluna, mesmo com ajuda do cangaceiro Lampião. Mas os guerrilheiros também não venceram as tropas oficiais e se retiraram para a

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Bolívia.

Comando da Coluna Prestes. O Capitão Luís Carlos Prestes está embaixo, sendo o terceiro da esquerda para a direita. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Coluna_Prestes. Acesso em 23/09/2013

Apesar das agitações políticas e militares contra o Café-com-Leite, o esquema político da cafeicultura conseguiu se impor, e eleger o paulista Washington Luís para a presidência da República no período de 1926 a 1930.

Washington Luís (1926-1930)

Político hábil, Washington Luís governou o país centralizando os poderes e mantendo um ministério obediente, dócil e subserviente às suas ordens. Empreendeu uma política de apaziguamento dos “ânimos nacionais”, concedeu liberdade a presos políticos, diminuiu a vigilância sobre jornais e, em março de 1927, decretou o fim do Estado de Sítio.

O governo iniciou também uma reforma financeira, criando uma nova moeda, o Cruzeiro, e introduzindo o padrão-ouro como valor monetário, ou seja, as notas que circulavam no país estariam asseguradas em ouro. Assim, era possível trocar dinheiro pelo equivalente em ouro. Essa medida ajustava a nação brasileira aos critérios econômicos internacionais. Mas essas reformas financeiras foram interrompidas pela Crise de 1929, iniciada nos EUA e que trouxe graves problemas a economia brasileira.

Washington Luís (1869-1957)

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Apesar da grande depressão econômica, 1929 foi um ano de preparação eleitoral. Assim, de acordo com a rotatividade entre paulistas e mineiros na presidência, agora era a vez de um político de Minas Gerais ocupar o cargo.

Desde 1928, o governador de Minas, Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, preparava-se para a candidatura. Entretanto, Washington Luís, rompendo com a tradição política, apontou, em 1929, o governador de São Paulo, Júlio Prestes, para substituí-lo.

Aliança Liberal: a última dissidência

Com a ruptura do pacto político, o próprio Antônio Carlos organizou, com a Paraíba e o Rio Grande do Sul, uma chapa opositora ao candidato do governo: a Aliança Liberal.

Por essa chapa, Getúlio Dorneles Vargas (latifundiário

gaúcho e ex-ministro da Fazenda de Washington Luís) candidatou-se a presidente e João Pessoa (oligarca paraibano) a vice.

A Aliança Liberal fez uma intensa campanha contra o esquema oligárquico. Os comícios nas praças públicas de São Paulo e Rio de

Janeiro apresentaram faixas por todos os lados e os candidatos eram amplamente

saudados por imensas multidões. Mas o governo, controlando a maioria dos Estados e fraudando as eleições, conseguiu

eleger Júlio Prestes (Vargas chegou a obter, no Rio Grande do Sul, 298 627 votos, contra 928 dados a Júlio Prestes). Ao fim das apurações, entretanto, Júlio Prestes recebeu 1 097 000 votos e Getúlio Vargas 744 000 votos. As duas chapas haviam se comprometido a aceitar os resultados das urnas.

Por outro lado, os membros jovens das oligarquias dissidentes, como o mineiro Virgílio de Melo Franco e os gaúchos João Neves da Fontoura e Oswaldo Aranha, aliados a Juarez Távora e João Alberto - líderes tenentistas - estavam dispostos a romper o pacto oligárquico.

Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

Contextualizando...

Julio Prestes (1882-1946). O presidente eleito que não assumiu.

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O Imperialismo ocorrido em fins do século XIX, envolvendo os países europeus numa busca por territórios fora do continente europeu teria uma consequência lógica e inevitável: tamanho era o crescimento industrial que logo aconteceria a disputa pelas mesma terras. Como se resolveria a um impasse criado como este? A resposta é óbvia... Guerra.

Desde a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), a Europa viveu um clima de falsa paz e tranquilidade: a Bèlle Epoque. Aparentemente tudo estava calmo e tranquilo no continente... o problema é que as potências imperialistas iniciaram uma corrida armamentista, prevendo a possibilidade de disputarem os mesmos territórios dentro da formação dos seus impérios coloniais. Com isso, a Bèlle Epoque ficou marcada por ter sido um período de corrida armamentista – a Paz Armada. Ingleses e alemães disputavam quem era o mais evoluído

tecnologicamente e preparado para um combate armado. Mas havia franceses, italianos, russos, norte-americanos entre tantos outros que trilharam pelo mesmo caminho. Ou seja, o mundo “civilizado” estava prestes a entrar em guerra. Um rastilho de pólvora esperando alguém acender um fósforo...

As rivalidades e as alianças

Alemães e ingleses disputavam mercados consumidores devido ao seu grande avanço tecnológico. Isto não é novidade para ninguém. O problema é que a Alemanha, aos poucos, começou a conquistar estes mercados pela competitividade de seus produtos. Até mesmo na própria Grã-Bretanha era possível comprar mercadorias alemãs mais baratas que as britânicas! O

Moulin Rouge, retratado por Toulouse Lautrac, demonstrando a “preocupada” Paris do pré-guerra.

Cartaz de convocação do Exército Britânico. O Rei Jorge V convoca.

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crescimento alemão levou a construção da ferrovia Berlim-Bagdá (1903-1940), que ligaria a capital do II Reich aos campos de petróleo do Golfo Pérsico, então dominado pelo Império Turco, aliado dos alemães, que foi questionada pelos seus rivais. O progresso alemão determinou o início de uma campanha belicista na Inglaterra, pregando abertamente a necessidade de destruição do inimigo econômico para salvaguardar os interesses britânicos. Lógico que na Alemanha a campanha não era diferente... ambos estavam se preparando para o inevitável! Era necessário arrumar aliados, para que a empreitada fosse mais tranquila, já que em termos de força, o equilíbrio perdurava.

Os franceses estavam com a derrota na Guerra Franco-Prussiana entalada na garganta. A anexação dos territórios da Alsácia e Lorena foram trabalhados à exaustão pela imprensa, intelectuais e nacionalistas franceses como o fator que deveria levar a um conflito entre alemães e franceses, para a vingança ser consumada. Estava aí um aliado que a Inglaterra não poderia deixar passar. Vários fatores levariam à quase guerra que tanto os franceses aguardavam. O mais expressivo foi a disputa pelo Marrocos, território colonial francês que os alemães tentaram anexar. Por interferência dos aliados de ambos os lados, os ânimos foram acalmados.

Na área oriental da Europa, dois impérios disputavam os territórios enfraquecidos por disputas étnicas: o Russo, eslavo, e o Áustro-Húngaro, germânico, como os alemães. A questão racial levaria ao desenvolvimento de duas idéias nacionalistas: o Pan-Eslavismo e o Pan-Germanismo, defendido por russos e germânicos (austríacos e alemães), respectivamente. Esta disputa ideológica rapidamente evoluiu para uma disputa territorial, permeada pelas rivalidades e ambições imperialistas de ambos os lados. Devido a essa rivalidade, ingleses e franceses encontraram mais um aliado: o Império Russo. Estava aí formada a Tríplice Entente, evolução da Entente Cordiale, formada por ingleses e franceses em 1904 e recebendo os russos logo depois.

Os inimigos foram aqueles países que, ainda durante a realização da Conferência de Berlim, resolveram se auxiliar mutuamente, através de sua união para buscarem os territórios coloniais dos quais haviam sido colocados de lado pelos poderosos ingleses e franceses: era a Tríplice Aliança, composta pelo Império Alemão, Império Áustro-Húngaro e a Itália, já unidos em 1882. Os inimigos estavam prontos e a postos... faltava o motivo.

O Atentado de Serajevo

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O início da Primeira Guerra Mundial não pode ser dissociado da longa Questão Balcânica, que envolvia os territórios e povos da região localizada a sul da Europa. O Império Turco dominava esta região até o século XIX, quando começou a perder, gradativamente o

controle sobre a região. Com isso, surgiram pequenos e fragilizados países que passaram a ser o alvo da disputa imperialista, característica da época. Vários conflitos envolviam, em especial, os sérvios e os austríacos pela posse da região. Os sérvios, de origem eslava, contavam com o apoio russo. Os austríacos, já se sabe com quem contavam...

Este barril de pólvora estava assim desde 1907, quando o Império Áustro-Húngaro estabeleceu seu domínio sobre a Bósnia-Herzegovina. Daquele momento até 1914 a permanência dos austríacos em território bósnio tornou-se um verdadeiro tormento. Após um, dos muitos, atentados que ocorreu naquele ano, o arquiduque Francisco Ferdinando, do Império Áustro-Húngaro, resolveu visitar os feridos no hospital de Serajevo. Foi para não mais voltar... um estudante bósnio, de origem sérvia, chamado Gavrilo Princip, assassinou o príncipe herdeiro. Com a prisão do assassino e a revelação de que pertencia a uma sociedade nacionalista sérvia – Mão Negra – o governo áustro-húngaro deu um ultimato ao governo sérvio, cujo prazo terminaria em 28 de julho de 1914,

exatos 30 dias após a morte de Francisco Ferdinando. Com a proteção da Rússia, o governo sérvio se fez de bobo, não respondendo ao ultimato áustro-húngaro, provocando o início da Guerra, com o avanço das tropas áustro-húngaras sobre a Sérvia. Estava iniciada a Primeira Guerra Mundial.

A Guerra

Rapidamente a política de alianças fez-se cumprir: alemães, áustro-húngaros, ingleses, franceses, russos e sérvios envolvidos na trama. Faltava a Itália... mas por que? O governo italiano alegou que a aliança promovida era

O Assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do trono áustro-hungaro.

Mapa das alianças, cumpridas ou não.

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defensiva. Como os áustro-húngaros atacaram, não tinham obrigação de entrar no conflito ao seu lado. Em 1915 o governo italiano entraria na Guerra... ao lado do pessoal da Entente. Motivo? Um acordo secreto, o Tratado de Londres (1915) levou os italianos a acreditarem nas ofertas territoriais dos ingleses, que não foram cumpridas.

O conflito em si foi extremamente desgastante para todos os envolvidos. Havia a crença que a guerra fosse rápida, como foram as anteriores... ledo engano. Os alemães adotaram o Plano Schlieffen, que consistia na tentativa de atacar a França a partir da Bélgica e depois os russos. O lado oriental foi até relativamente fácil, devido aos desgastes internos do Império do czar. Mas o kaiser não encontrou a mesma facilidade no ocidente. Os franceses revelaram-se um adversário duro e complicado de sucumbir.

A fase mais sangrenta e suja da Primeira Guerra foi a que se seguiu às frustradas tentativas alemãs em território francês. A época das trincheiras foi a grande e desgraçada marca da Primeira Guerra. Acostumados ao combate corpo a corpo, os soldados tiveram que se adaptar a um novo tipo de combate que envolvia de metralhadoras a tanques. Com isso, os buracos escavados revelaram-se uma excelente estratégia. No entanto, isso era contrário à política de avanço, tão útil em guerras. Mas como avançar se os inimigos estavam varrendo uns aos outros com metralhadoras? Surgiram, então, inovações como armas químicas, como o gás mostarda e o gás pimenta e os aviões, encarregados de tirar os rivais das trincheiras.

Inovações tecnológicas. Mulheres nas fábricas, produzindo armas. Soldados morrendo no front, exigindo a convocação de outros, cada vez mais jovens. A mortandade não tinha fim.

11 milhões de mortos e outro tanto de mutilados foi o saldo deste sangrento conflito imperialista. Soldados lutaram e morreram enquanto seus líderes ficavam confortavelmente instalados nos seus palácios, sem se incomodar com o que acontecia em meio a lama. Ratos e os cadáveres dos companheiros eram as companhias que os soldados tinham e relatavam em seus diários.

Trincheira australiana, com soldados preparados com máscaras anti-gás.

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Em 1917, desgastado pelo conflito e em meio a uma Revolução, o Império Russo se extinguiu, dando origem a um país socialista, mais tarde chamado de URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Com isso, o governo bolchevique, recém-instalado, negocia a paz com os alemães, através da assinatura do Tratado de Brest-Litovsk (1918). No mesmo ano, os EUA, principal país do mundo na época, cada vez mais forte, em virtude do conflito na Europa, entraria na Guerra. Por que, se a guerra se mostrava lucrativa para eles? Os norte-americanos, até então defendendo a postura isolacionista, receavam perder os possíveis lucros dos seus devedores ingleses e franceses. Se perdessem a guerra, dificilmente pagariam os empréstimos. O pretexto para a entrada no conflito foi o torpedeamento ao navio Luzitania, com passageiros norte-americanos, fato que foi amplamente divulgado de maneira emotiva para justificar a entrada do país na guerra.

Convocados, os jovens norte-americanos não decepcionaram. Venceram a máquina de guerra alemã, auxiliando aos seus companheiros de campanha. A vitória não tardou. Já sem aliados em campo de batalha, com as rendições de Otomanos e Áustro-Húngaros no início de novembro, o Kaiser Guilherme II, sem apoio nem do seu próprio oficialato, renuncia ao governo. Em 11 de novembro de 1918, na floresta de Compiègne, num vagão de trem, no meio da floresta de Compiègne, foi assinado o Armistício de Compiègne, encerrando a Primeira Guerra Mundial. Este ato seria considerado a traição suprema aos interesses nacionalistas alemães. Mas, isto, não é assunto para o momento. A partir de então, iniciavam-se a negociações para se estabelecer a paz. Aí, começaram novas brigas...

A paz

Woodrow Wilson, presidente dos EUA, já em janeiro de 1918, em seu discurso ao Congresso Norte-Americano, sugeriu uma proposta de paz que passava por 14 Pontos. Os 14 Pontos de Wilson, como ficou conhecido, estabeleceriam:

1. Exigência da eliminação da diplomacia secreta em favor de acordos públicos; 2. Liberdade nos mares; 3. Abolição das barreiras económicas entre os países; 4. Redução dos armamentos nacionais; 5. Redefinição da política colonialista, levando em consideração o interesse dos povos

colonizados;

Assinatura da Rendição alemã em Compiègne.

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6. Retirada dos exércitos de ocupação da Rússia; 7. Restauração da independência da Bélgica ; 8. Restituição da Alsácia e Lorena à França;

9. Reformulação das fronteiras italianas;

10. Reconhecimento do direito ao

desenvolvimento autónomo dos povos da Áustria-Hungria;

11. Restauração da Roménia, da Sérvia e do Montenegro e direito de acesso ao mar para a Sérvia;

12. Reconhecimento do direito ao

desenvolvimento autónomo do povo da Turquia e

abertura permanente dos

estreitos que ligam o Mar Negro ao Mediterrâneo; 13. Independência da Polônia; 14. Criação da Liga das Nações.

O problema é que para a colocação em prática dos 14 Pontos, durante a Conferência de Versalhes, o negócio não foi tão fácil assim. Lloyd George, da Inglaterra e Georges Clemenceau, da França, estavam a fim de promover a aniquilação da Alemanha, em definitivo. Com isso, Wilson retiraria-se da Conferência, o que determinou a assinatura do vergonhoso Tratado de Versalhes (1919), que humilharia a Alemanha:

- Devolução da Alsácia e Lorena para a França, como nos 14 Pontos;

- Divisão do território alemão, dando origem à Prússia Oriental e Alemanha;

- Criação da cidade-porto livre de Danzig, sob o controle da Liga das Nações;

- Criação da Liga das Nações, como nos 14 Pontos;

- Desmilitarização da Alemanha e destruição de sua indústria de guerra;

- Cláusula da “culpa da guerra” (nº 231): os alemães assumem uma dívida de guerra equivalente a 269 bilhões de marcos, composto de 226 bilhões mais 12% das exportações.

Da esquerda para a direita: Lloyd George (Grã-Bretanha), Vittorio Orlando (Itália), Georges Clemenceau (França), Woodroow Wilson (EUA).

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No mesmo ano, no mês de setembro, seria firmado o Tratado de Saint-Germain-en-Laye, entre os vitoriosos e o extinto Império Áustro-Húngaro. Entre as principais cláusulas estão a

independência da Hungria (suas fronteiras seriam definidas um ano depois pelo Tratado de Trianon) e de grande parte dos territórios dominados pelos austríacos, dando origem a novos países: Polônia, Romênia, Tchecoslováquia e Iugoslávia, estes últimos frutos da junção de países para a formação de um só, sob o comando de tchecos e sérvios. Em 1920 foi firmado do Tratado de Sèvres que desmembrava o Império Turco, dando à Inglaterra supremacia no Oriente Médio. Logicamente que os tratados trouxeram mais problemas que soluções. O pior estaria por vir...

Revoluções Russas

Antecedentes

O Império Russo deixaria de existir em 1917. Era um Império sólido e rico, governado com mãos de ferro pela família Romanov há, pelo menos, três séculos. Um absolutismo fora de época, verdade. Chamado, inclusive, com um nome que lembra os tempos do Império Romano: Czarismo. Aliás, a

Mapa europeu para o Período que sucede a Primeira Guerra.

Nicolau II (1868-1918)

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Rússia era recheada de anacronismos e contradições. Era um país rico, com um povo muito pobre; era o celeiro da Europa, mas o povo passava fome; era agrário e industrializado ao mesmo tempo; era místico e materialista. Complicado este país. Mas, não deixava de ser um Império e, como tal, disputava territórios em meio a um forte imperialismo que ditava as normas e regras na Europa da passagem do século XIX para o XX.

O complicado país tornou-se alvo fácil da penetração de grupos opositores ao absolutismo czarista dos Romanov. Com isso, liberais e socialistas começaram a divulgar as suas idéias perante a população descontente, pobre e faminta do Império. A polícia política – Okhrana – tinha trabalho e se virava como podia, através de espancamentos, linchamentos, torturas e condenações a morte, para se livrar desses perigosos ideais e seus seguidores.

Mesmo em meio a esse clima de perseguição, surgiria um agrupamento de seguidores dos ideais marxistas: O Partido Social Democrata (1898). Clandestinamente, lógico, conseguia mais e mais simpatizantes para a causa operária russa, apregoando o fim das desigualdades sociais. Em 1903 o PSD sofreu uma divisão. Surgiriam os grupos Menchevique (minoria) e Bolchevique (maioria). Os mencheviques, que eram liderados por Julius Martov (na verdade, Yuli Osipovich Tsederbaum – 1873-1923), defendiam a presença de ativistas e não teóricos no partido. Já os bolcheviques eram liderados por Lênin (Vladimir Ilich Ulianov, na verdade – 1870-1924) e defendiam mudanças estruturais necessárias para o progresso da Rússia e principalmente de quem a carregava nos ombros, o seu povo.

O Ensaio Geral – 1905

Já é conhecida a disputa entre japoneses e russos pela China. Japão e Rússia entraram em guerra, de fato, entre 1904 e 1905. O desgaste por causa do conflito gerou mais fome e carestia para o povo russo. E isso entre novembro de 1904 e janeiro de 1905, em pleno inverno. Se o povo já tinha dificuldades em arrumar o que comer, durante o inverno a situação piorou. Com isso, em janeiro foi organizada uma passeata de protesto, liderada pelo padre Gregori Capone (também pode aparecer em algumas fontes como Gapon), membro da conservadora Okhrana, que pedia algumas melhorias para a população através de uma petição com assinaturas dos trabalhadores de São Petersburgo. Imaginava que o czar não tinha idéia do sofrimento do povo em

Vladimir Ulianov, Lenin (1870-1924)

O Domingo Sangrento

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meio a guerra... Nicolau II (1868-1918, governo entre 1894-1918) ignorou os apelos da multidão e a massacrou, enviando sua tropa de elite para fazer o serviço sujo. O dia 22 de janeiro de 1905 seria marcado por essa traição do czar ao seu próprio povo, episódio conhecido como Domingo Sangrento e Nicolau II passaria a ser conhecido pelo apelido de o Sanguinário.

A partir do episódio, iniciaram-se diversos movimentos contrários ao czar. Mas a proposta não era socialiasta neste momento: era democrática. Greve geral, levantes e barricadas pipocavam em solo russo. O czar foi forçado a recuar e convocou eleições para a Duma (Parlamento russo). Era, na verdade, uma estratégia para ganhar tempo. Ao reorganizar-se política e economicamente, o czar reuniria as tropas que estavam na Ásia, alheias pela distância à revolta, e massacrou aos rebeldes. Os bolcheviques foram exilados. Lênin, inclusive. No exterior passaria a pensar como voltaria para a Rússia e por que tudo dera errado...

Revolução de Fevereiro

Envolvida em mais escândalos do que nunca, o Império Russo, sob influência de um monge chamado de Grigori Rasputin – que tinha pleno domínio sobre a czarina Alexandre e esta sobre o czar – entraria na Primeira Guerra Mundial, para socorrer seus aliados sérvios contra os austríacos. A presença de Rasputin da corte russa se deu a partir do momento em que ele curou o czarevith Alexei, que sofria de hemofilia. A fama de curandeiro e de adivinhações, atribuídas a Rasputin, contribuíram para sua participação na corte czarista. A participação de um exército descontente assim como a população, não poderia ser mais danosa e desastrosa para o Império Russo. Os racionamentos exigidos por uma guerra levaria ao povo, que já passava necessidades a ver sua situação cada vez mais pavorosa. Era o momento perfeito para que os mencheviques pudessem reunir o povo e derrubar o czar.

Em fevereiro/março de 1917, soldados, operários e os mencheviques conseguiram derrubar o governo de Nicolau II, instaurando

um governo provisório de tendência democrático-burguesa, implantando um sistema liberal de governo, comandado pelo Príncipe Lvov e por Nicolay Kerensky. A ascensão da burguesia ao governo russo atenderia a algumas necessidades da população, tais como liberdades de expressão, pensamento, imprensa. No entanto, a crise econômica perdurava com a insistência em participar da Guerra e não alterar a situação fundiária, mantendo os latifúndios. A proposta de Paz, terra e pão não fora cumprida pelos mencheviques.

Rasputin (1869-1916)

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Revolução de Outubro

Em abril de 1917, Lênin, com auxílio alemão – inimiga russa durante a Primeira Guerra - , consegue voltar para a Rússia. Desembarcou na Estação ferroviária Finlândia e se deparou com uma massa popular empobrecida o aguardando. Fez um discurso histórico no local, em cima de um blindado. Este discurso terminou com as seguintes célebres palavras: “Todo o poder aos sovietes!”.

O que eram estes sovietes? Eram justamente aqueles que lá estavam para ouvi-lo... camponeses e operários reunidos em assembléias, defendendo seus direitos. Camponeses e operários? Sim, era a defesa de um governo popular e não burguês. Era o que precisavam para tirar os burgueses do governo, já que a situação de miséria em pouco ou nada havia se alterado. O

momento para isso viria em breve

Uma revolta que tentava restaurar o czarismo explodiu em outubro/novembro de 1917. O governo provisório se viu incapaz sozinho de lidar com o golpe. Solicitaram apoio dos bolcheviques, sob o comando de Leon Trótsky (na verdade Lev Bronstein, 1879-1940), que liderava a Guarda Vermelha que foram prá cima dos golpistas. Derrotaram os conservadores. Mas não parou por aí... a Guarda Vermelha representava os interesses do Soviete de São Petersburgo, que era presidido por Trótsky, que reinvindicaria a obediência de soldados, camponeses, operários e do próprio governo provisório. Quase sem resistência, os pontos estratégicos de comunicação e governo foram aos poucos sendo incorporados pelos bolcheviques. O governo agora era popular...

O novo Estado

Lênin assumiria o controle do governo a partir da Revolução de Outubro. A primeira grande tarefa era negociar a paz com os alemães, já que a guerra não tinha acabado ainda. Por

Lenin

Leon Bronstein, Trotsky (1879-1940)

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ser feito às pressas, foi assinado o totalmente desvantajoso Tratado de Brest-Litovsk. Desvantajoso para os russos. A Rússia saía da Primeira Guerra, prejudicada, é verdade... mas estava de saída.

O problema é que logo depois estourava uma guerra civil em solo russo, na qual surgiram os anti-bolcheviques, apoiados por ingleses, franceses e alemães (que durante a Primeira Guerra eram rivais), chamados com o apelido de Brancos. Os bolcheviques eram conhecidos como Vermelhos. De 1918 a 1921 a Guerra Civil arrasou a Rússia. Em meio a ela, por medo de uma possível derrota, Lênin ordena o massacre da família do czar, feito a 17 de julho de 1918. Apesar das adversidades e da destruição de duas guerras consecutivas, o Exército Vermelho bolchevique venceu a guerra. No entanto, se a Rússia já era atrasada e empobrecida em sua população, como resolver a situação agora? Como implantar o socialismo num país destruído?

Durante a guerra civil, ocorreu a implantação do comunismo de guerra, com o estado controlando tudo dentro da economia. Com o final dela, a política econômica adotada antes foi substituída pela NEP (Nova Política Econômica), com o objetivo de reconstruir a economia russa. Dar um passo atrás para dar dois passos à frente, era o lema. Com isso, volta-se ao capitalistamo, estrtutura-se a economia, cambaleante por causa das guerras, avançando em direção ao socialismo. Dava-se a oportunidade de se formar pequenas empresas privadas com o objetivo de acumular riquezas e promover a retomada da produção e do consumo. A indústria pesada seria controlada pelo Estado. Foi muito bem sucedida. Em meio a implantação da NEP, formado foi um novo país: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1922, provocando o surgimento de movimentos simpatizantes na mesma data, com a formação de subsedes do Partido Comunista da União Soviética em vários pontos do mundo, inclusive no Brasil. No entanto, Lênin não aproveitaria muito o momento. Em 1924, vítima de derrames cerebrais, que o enfraqueceram desde o final de 1922, faleceu.

A idéia proposta e defendida com unhas e dentes por Lênin era a da Revolução Permanente, com a implantação da ditadura do proletariado. Na sua cabeça, imaginava que o que aconteceu na Rússia, viria a acontecer naturalmente em outros países, espalhando-se de forma constante por todas as terras civilizadas. Quem discordava dessas suas idéias, em seu governo foi duramente perseguido e, se fosse o caso, proibido de funcionar, como jornais. Não gostando da vaidade de Trótsky e da brutalidade de Stalin (na verdade, Ióssif Vissariónovich Djugashvíli, 1878-1953), os dois mais importantes bolcheviques, depois dele, proporia uma dissolução da autoridade pessoal, promovendo o poder dos sovietes. Proporia...

Bandeira da União Soviética

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Com a morte repentina de Lênin, abriu-se a possibilidade de uma disputa entre Stalin e Trótsky. Trótsky defendia a idéia de uma revolução permanente, como Lênin. A diferença é que não seria expontânea... ele guiaria o Exército Vermelho para promover essa revolução pela Europa. Stalin defendia a tese de socialismo em um só país, estruturando econômica e politicamente a URSS e, a partir daí, passar a apoiar possíveis revoluções. Stalin, mais familiarizado com a máquina burocrática, iniciou sua campanha manobrando nos bastidores. Logo era o líder e chefe do PCUS. Exilaria Trótsky e seus simpatizantes, passando a persegui-los mais brutalmente depois.

Com a ascensão de Stalin, inauguraria-se o período de maior crescimento e desenvolvimento econômico da história breve da União Soviética – o stalinismo (1924-1953). Estatizando as empresas e coletivizando a agricultura (criação de kolkhozes e sovkhozes), Stalin criaria os Planos Quinquenais de desenvolvimento: tudo era meticulosamente planejado, desde investimentos, aumento ou diminuição da produção, da qualidade à quantidade. De cinco em cinco anos traçavam-se novas metas. Isso auxiliaria a população empobrecida da Rússia a tornar-se um povo digno na União Soviética, aumentando, inclusive a popularidade de Stalin.

Este aumento da popularidade não foi visto com bons olhos por Trótsky ou seus seguidores. Logo Stalin tomaria uma medida drástica: utilizaria dos expurgos para eliminar seus opositores, assassinando-os aos milhares. Atribui-se a ele a responsabilidade pela execução, através da polícia política ou das subsedes dos partidos comunistas ou simpatizantes, de aproximadamente 20 milhões de de soviéticos, às vezes fora da URSS – caso de Trótsky que foi assassinado no México. Para isso, contava com auxílio da temida NKVD, a sua polícia secreta.

Sugestão de filme

O filme biográfico Stalin (1992), produção para a televisão, retrata com fidelidade os bastidores da Revolução Bolchevique de 1917. Vale como recomendação assisti-lo para ilustrar não apenas o processo revolucionário em si, mas também os anos de stalinismo aplicados na sequencia.

Josip Djugaschvily. Stalin (1878-1953)

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Período Entreguerras

A Crise de 1929

A partir do final da Primeira Guerra Mundial, os EUA, que já eram um dos mais ricos países do planeta antes dela, tornaram-se definitivamente o celeiro do mundo, produzindo em larga escala tanto produtos agrícolas quanto industrias, mesmo com a pequena crise de reconversão, ocorrida entre 1920 e 1921, uma prévia do que viria a acontecer 9 anos depois. A pequena depressão econômica que ocorreu foi resultado de uma retração econômica ocorrida em 1920, rapidamente recuperada, por ações econômicas do governo norte-americano, ao longo do ano de 1921.

Durante os anos 1920 instaurou-se o American way of life (Modo de vida americano), baseado no incentivo ao consumo. Não que todos na sociedade tivessem de tudo em casa, mas o ideal era receber o salário, fruto do trabalho, e consumir. Tudo era possível comprar numa sociedade consumista como a norte-americana. Inclusive ações das grandes empresas. Qualquer um com dinheiro, poderia investir na especulação acionária. Com isso, as empresas

tinham cada vez mais sócios, dividindo os possíveis lucros numa sociedade onde, aparentemente, tudo ia muito bem.

Aparentemente, pois nem tudo era perfeito. Apesar do incentivo ao consumo, as empresas, ávidas em lucrar, produziam cada vez mais sem proporcionar salários que aumentassem na mesma proporção que a produção. Ou seja, os trabalhadores não conseguiam consumir o produto que produziam. Isso, ao longo dos anos 1920, foi determinando uma crise de superprodução, levando a prejuízos das empresas. Para solucionar os prejuízos, diminuíram a produção e mandavam embora parte de seus operários, aumentando, com isso o desemprego, diminuindo o mercado consumidor, agravando a crise. Isto atinge o auge em 1929, quando do crack da bolsa de valores em Nova York.

Os loucos anos 1920 nos EUA.

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Sem poder contar com o mercado europeu, recuperado economicamente da Primeira Guerra, as empresas americanas ficaram a beira de um colapso. Os acionistas, tentando minimizar suas perdas, tentaram, sem sucesso, vender suas ações. Não conseguiam compradores... Devido ao fato de não conseguirem vendê-las, por causa dos prejuízos

seqüenciais, ocorreria o Crack (quebra) da Bolsa de Nova York (24/10/1929).

Com o Crack, empresas

faliram, aumentando ainda mais o desemprego, inaugurando, nos EUA, um período chamado de Grande

Depressão, caracterizado pelos altos índices de

desemprego, pobreza, miséria e suicídios dos ex-milionários. A solução para a Grande Depressão

foi a eleição do democrata Franklin Delano Roosevelt. Adepto do keynesianismo (expressão provinda de John Maynard Keynes), propôs uma intervenção do Estado na economia, acabando com o liberalismo econômico. O projeto de Roosevelt foi chamado de New Deal, marcado pelo controle de Bolsas de Valores, das empresas privadas e suas produções, da produção agrícola e pela geração de empregos e concessão de empréstimos para recuperação econômica das empresas que se encaixassem nas prioridades do Estado, tirando aos poucos os EUA do lamaçal da Grande Depressão.

Regimes Totalitários

Fascismo

Também como reflexo da Primeira Guerra, o liberalismo político entrou em crise em alguns países que nela se envolveram. A Itália, mesmo do lado vitorioso, saiu da guerra sem as

compensações territoriais prometidas pelos ingleses para trair seus aliados da Tríplice Aliança. Com isso, a Itália entrou em crise econômica, endividada que estava junto aos banqueiros. Operários ocupavam fábricas, saqueavam para comer, o que causou pânico entre os burgueses, temerosos da possível ascensão de um

Franklin Delano Roosevelt (1882-1945) Imagem característica da Grande Depressão.

Rosto de Mussolini em fachada de prédio.

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regime semelhante ao socialismo bolchevista, recém-instaurado na União Soviética. Por causa disso, a burguesia italiana temerosa, optou por uma nova tendência, de extrema direita – o Fascismo.

O líder do movimento fascista era Benito Mussolini (1883-1945). A ideologia apregoada tinha como características o culto à personalidade, o anticomunismo, antidemocracia, unipartidarismo, xenofobismo, o nacionalismo exaltado, o racismo, o conservadorismo e o militarismo. A defesa da ordem e da organização, bem como o anti-bolchevismo conquistou a cada vez mais a simpatia da burguesia, apavorada com o caos instaurado na Itália. O que tinha acontecido na Rússia era algo semelhante com o que acontecia por ali. A possibilidade do crescimento dos socialistas era notória. Por isso, a ascensão de Mussolini ao governo italiano foi relativamente lógica e rápida. Após a Marcha sobre Roma, quando 50 mil camisas negras invadiram as ruas da capital, Mussolini foi alçado ao posto de primeiro ministro do governo italiano, do rei Vítor Emanuel III.

A partir de sua ascensão, a implantação da ideologia fascista não demorou a ser realizada. Perseguições e assassinatos contra comunistas e socialistas, fechamento de jornais,

promoveram a consolidação do Estado Fascista. Enquanto os opositores eram eliminados, a Itália se reorganizava política e economicamente, como os burgueses desejavam.

Para encerrar a Questão Romana, que se arrastava desde 1871, Mussolini e o Papa Pio XI assinaram o Tratado de Latrão (1929). Com o tratado assinado com a Igreja, Mussolini passava a ter um aliado forte ao seu lado e que ajudou a legitimar o Estado, uma vez que cedia parte de Roma para a Igreja, onde foi formado o Estado do Vaticano. Tudo foi feito para consolidá-lo no governo. Isto serviria de exemplo e inspiração para o que ocorreria de igual forma em Portugal (Salazarismo e seu Estado Novo), Espanha (Franquismo) e Alemanha (Nazismo). A partir de então, começaria a expansão militarista da Itália fascista, com o objetivo de resgatar as glórias do extinto Império Romano. Ponto alto desse processo expansionista ocorreu quando da conquista da Etiópia (1935) e Albânia (1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial). A Itália fascista também participaria da Guerra Civil

Espanhola, auxiliando o General Francisco Franco (1832-1975) a assumir o governo na Espanha, afastando os socialistas (republicanos) do governo. Em 1936 seria formalizada uma aliança com a Alemanha, denominada de Eixo Roma-Berlim, que contaria mais tarde com a adesão do Império Japonês.

Nazismo

Tratado de Latrão (1929)

Mussolini e Hitler

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Ao contrário da Itália, que estava do lado vitorioso na Primeira Guerra, a Alemanha foi retaliada pelo Tratado de Versalhes (o Diktat – algo imposto), como nação derrotada. Esta retaliação, aceita pelo governo da República de Weimar, foi amplamente criticada por socialistas e comunistas na Alemanha. Da mesma forma como acontecera na Itália, a burguesia alemã estava em pânico com o que ocorria nas cidades alemãs.

Isto agravado com a crise inflacionária que corroía os valores dos salários daqueles que ainda tinham empregos (cerca de 1/3 da população estava desempregada). É nesta realidade que surgiria o pequeno Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP, sua sigla alemã), fundado em 1919. Espionado pelo exército, o Partido teve a adesão do espião militar Adolf Hitler (1889-1945), que se identificou com os ideais propagados pelos partidários dos nacionais-socialistas.

A partir de 1920, Hitler assume a liderança do partido e começaria sua fase de expansão e propaganda. Alcançando a burguesia e às classes populares não esclarecidas, facilmente atingiria um grande número de adeptos. A ideologia nacional-socialista, no entanto, somente seria totalmente forjada após o frustrado putsch em Munique (1923), um golpe de Estado fracassado. Hitler, condenado à prisão, formularia o ideal nazista (abreviação alemã para

nacional-socialista) a partir de seu livro Mein Kampf (Minha Luta), que foi ditado na sua cela ao seu braço direito Rudolf Hess. A princípio idêntico ao ideal fascista italiano, trazia algumas idéias ambiciosas, como a conquista do Espaço Vital (Lebensraum), para a população alemã (espaço para a configuração de um Império Ariano, constituído apenas para os pares arianos). Outras ideias, oriundas do mais profundo ódio racial, como a superioridade da raça ariana, pura e perfeita, que deveria dominar o mundo e exterminar as raças inferiores, como os judeus, ciganos, mestiços, poloneses, entre outros.

Em 1925 Hitler, por bom comportamento, teve sua pena comutada, de cinco anos para nove meses. A partir de então tentou novamente chegar ao governo. Percebendo que seu radicalismo não o levaria a outro lugar que não novamente à prisão e vendo que o que

Mein Kampf, o livro escrito por Hitler em Landsberg.

Marechal Hindenburg (1847-1934), presidente da Alemanha de Weimar.

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deu certo na Itália (praticamente um golpe de Estado), não se aplicaria na Alemanha, abriu mão da pressa e utilizou da paciência. Como fruto do pensamento burguês, passou a tentar o governo através da democracia e seus procedimentos burocráticos. Com uma possível recuperação econômica, os nazistas perderiam espaço no cenário político alemão. A conjuntura de 1929, portanto, era a mais favorável e não poderia ser desperdiçada.

Tentando a via democrática para chegar ao poder, apenas conseguem chegar perto. Em 1932, o presidente eleito Paul von Hindenburg (1847-1934, presidente da República de Weimar entre 1925-1934), pressionado por banqueiros e burgueses, chamaria Hitler para ser seu chanceler (uma espécie de primeiro-ministro). Hindenburg, no entanto, morreria em janeiro de 1934, abrindo a possibilidade para um golpe, prontamente dado por Hitler, que se tornaria o fuhrer (guia) do povo alemão.

Com a sua ascensão ao governo alemão, Hitler tinha um país em crise econômica para gerenciar. A idéia nazista, aliada à crise econômica, geraria as condições propícias para o desenvolvimento econômico da Alemanha... como? Através da remilitarização! Rompendo com o Tratado de Versalhes e posteriormente com a fraca e inoperante Liga das Nações, Hitler transformou o desempregado alemão em especialista na indústria bélica. A Alemanha crescia perigosamente no leste europeu mas, era melhor vista que a ameaça soviética. Então, a Liga das Nações fez vistas grossas ao crescimento alemão. Numa dessas esse crescimento auxiliaria na contenção do perigo soviético... Hitler muito admirado por ter quase zerado o desemprego na Alemanha era visto como um grande estadista. Ao tentar o controle sobre a Espanha, governada pelos socialistas, o General Francisco Franco solicitou auxílio militar dos nazistas e fascistas. Utilizada como laboratório para as armas de guerra nazistas, a Espanha foi arrasada durante sua Guerra Civil e Franco direcionado ao governo. Winston Churchill, influente político britânico, quando primeiro-ministro da Inglaterra, teria dito: “se Hitler tivesse morrido em 1938, seria o maior estadista da Europa de todos os tempos”. Mas ele não morreu em 1938...

O guia do povo alemão, com armas e homens nas mãos, inauguraria a fase expansionista do estado nazista, anexando a Áustria (sua terra natal) –

o Anschluss – e os sudetos da

Guernica, de Pablo Picasso.

Assinatura do Pacto de Não-Agressão, entre Alemanha e URSS.

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Tchecoslováquia (devido ao acordo firmado na Conferência de Munique, da qual os tchecos não participaram), ambos em 1938. Só faltaria um território alemão para reestruturar o III Reich e vingar o vergonhoso ditado de Versalhes – a Prússia Oriental, dividida da Alemanha, após a Primeira Guerra. Para unificar o III Reich, anexando a Prússia Oriental, era necessário invadir o estado tampão da Polônia. Esta invasão seria uma provocação aos interesses britânicos e franceses na região, portanto, uma declaração de guerra, praticamente. Era necessário ter um aliado forte para amedrontar a franceses e britânicos. O aliado mais improvável foi escolhido – a URSS. Ao mesmo tempo, amedrontaria aos inimigos ocidentais e garantiria a neutralidade do eterno inimigo oriental. Com isso, foi assinado o Pacto Germano-Soviético (Pacto de Nazi-Soviético ou Ribbentrop-Molotov), entre alemães e soviéticos. Estava aberto o caminho para a invasão da Polônia e do início da Segunda Guerra Mundial.

Era Vargas (1930-1945)

Revolução de 1930

As elites rurais e os setores burgueses industriais preocupavam-se com as constantes agitações populares nos grandes centros urbanos e com as articulações da jovem oficialidade militar. Temendo que as manifestações adquirissem aspectos radicais, muitos grupos dissidentes aderiram ao golpismo. O governador de Minas, Antônio Carlos, deu o tom do movimento golpista: “Façamos a Revolução, antes que o povo faça”.

Um fato precipitou o golpe: o assassinato de João Pessoa (26 de julho), na Paraíba, devido a disputas locais entre chefes políticos, culminando num crime passional. No dia 3 de outubro, tropas gaúchas, sob o comando de Góis Monteiro, marcharam para a capital. No Nordeste, a rebelião tomou conta de todos os Estados. Outras expedições militares partiram de Minas para São Paulo. Depois de curtos combates na região de Itararé, os rebeldes conseguiram desfazer a resistência.

Em 24 de outubro de 1930, uma junta militar formada por Tasso Fragoso, Mena Barreto,

Getúlio Vargas a frente da Revolução de 1930. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil. Acesso em 23/09/2013

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Leite de Castro e pelo almirante Isaías Noronha depôs o presidente Washington Luís. A junta demorou dez dias para passar o poder ao líder da Aliança Liberal e futuro presidente provisório Getúlio Vargas Getúlio Dornelles Vargas assumiu o poder provisoriamente, em 3 de novembro como Delegado da Revolução, em nome do Exército, da Marinha e do Povo. Consolidou-se no poder e dominaria a cena política brasileira durante 24 anos, até o suicídio em agosto de 1954, quando ocupava a chefia do governo pela segunda vez.

Governo Provisório (1930-1934)

O novo governo pretendeu dar ênfase a problemas sociais e urbanos e à industrialização, como deixou claro ao criar os Ministérios do Trabalho, da Educação e da Indústria e Comércio. Dissolveu o Congresso Nacional e as Assembléias Estaduais. Para os Estados, nomeou interventores (delegados pelo Presidente da República), que governariam até que uma nova Constituição estabelecesse outras regras, pois a Constituição de 1891 foi suspensa por Vargas.

No entanto, o governo provisório não parecia tão provisório assim. Getúlio demorava a convocar a Assembléia Constituinte para dar novo ordenamento jurídico à vida nacional. Além disso, passada a euforia inicial, manifestaram-se as divergências entre os diversos grupos vitoriosos.

O descontentamento pela demora na constitucio-nalização era mais notório em São Paulo. Ali também crescia a revolta dos fazendeiros do café, ansiosos por reconquistar a influência perdida. Em 9 de julho de 1932, estourou a Revolução Constitucionalista, comandada por Dias Lopes, com ajuda do general Euclides de Figueiredo. Em setenta dias de luta, as forças legalistas sufocaram a revolta. Alguns líderes foram presos e outros, exilados.

Apesar da mobilização da opinião pública, com propaganda em rádio e jornais e comícios, a Revolução Constitucionalista não teve a unanimidade apregoada pelos protagonistas.

Ex-combatentes, no primeiro aniversário do levante, denunciaram “os oportunistas da guerra que mandavam avançar e manter posições insustentáveis”. bem como os privilégios dos guerreiros “vistosos” da retaguarda, enquanto eles eram postos na linha de frente por “promovedores de revoluções com o intuito

de reconquista do poder perdido”.

A Constituição de 1934

Eleita em 3 de maio de 1933, com 250 deputados e 40 representantes de classe, a Assembléia Constituinte tomou posse em 10 de novembro, para estudar o anteprojeto elaborado por comissão que o governo nomeara. A terceira Constituição brasileira e segunda da República foi promulgada em 16 de julho de 1934. Da Carta de 1891, manteve: - a federação;

Getúlio Vargas (1882-1954). No lugar de Júlio Prestes, afastado por golpe.

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- eleições diretas para presidente, exceto Getúlio Vargas., que seria eleito pela Assembléia para exercer o cargo até 3 de maio de 1938;

- mandato presidencial de quatro anos. As novas disposições introduzidas foram as seguintes:

- extinção do cargo de vice-presidente. O presidente da Câmara assumiria em caso de impedimento do presidente;

- Código Eleitoral, que regulamentou a votação secreta e estendeu o direito de voto a homens e mulheres com mais de 18 anos (voto universal);

- limitação das garantias do habeas-corpus e criação do mandado de segurança; - instituição da Justiça do Trabalho, salário mínimo, jornada de oito horas, repouso semanal

obrigatório, férias remuneradas, indenização por dispensa sem justa causa.

Governo Constitucional (1934-1937)

O primeiro governo constitucional de Vargas teve de enfrentar fatores econômicos, políticos e sociais que dificultavam o retorno à tranqüilidade democrática. Os efeitos da crise econômica de 1929 ainda se faziam sentir no alto custo de vida, que os baixos salários não acompanhavam. Os empresários, por sua vez, se recusavam a cumprir as leis que beneficiavam os trabalhadores. Havia ainda a radicalização político-ideológica representada pelo choque de forças antagônicas: os fascistas da Ação Integralista Brasileira e os esquerdistas da Aliança Nacional Libertadora. O presidente apoiou-se nessa conjuntura de crises para preparar o golpe que instalou o Estado Novo, em 1937.

Criada em 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL) era uma organização de esquerda que reuniu comunistas, socialistas e a ala esquerda dos tenentes sob a liderança de Luís Carlos Prestes. A ANL condenava o imperialismo, o fascismo, a divisão fundiária do país que concentrava muitas terras nas mãos de poucos e defendia um programa de natureza democrática baseado na realização de reformas estruturais profundas, que contestavam a ordem econômica e social em vigor.

Em poucos meses de existência, a ANL ganhou enorme projeção e conseguiu arregimentar pessoas dos mais diversos segmentos sociais, especialmente operários, militares e outros setores das camadas médias. Entretanto, seus dirigentes hesitavam entre uma tentativa de consolidação de uma aliança de classes e uma insurreição para tomar o poder.

Manifestação da ANL. Fonte: http://www.klickeducacao.com.br/enciclo/encicloverb/0,5977,POR-600,00.html. Acesso em 23/09/2013.

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No início de 1935, preocupado com o crescimento da ANL, o governo propôs ao Congresso uma nova lei de segurança nacional, aprovada em 4 de abril, que estabeleceu como crimes contra a ordem política e social a greve de funcionários públicos, ressentimento nas classes armadas, o estímulo ao ódio entre as classes sociais, a propaganda subversiva e a organização de associações ou partidos com o objetivo de subverter a ordem política ou social. Com base na nova lei, Vargas ordenou o fechamento de todos os núcleos da ANL. Tal decisão teve como pretexto o manifesto de Luís Carlos Prestes que conclamava à derrubada do governo e a apreensão de “farta documentação” que, segundo fontes governamentais, comprovava o “caráter subversivo” da organização.

A Intentona Comunista

Embora na ilegalidade, a ANL estimulou seus quadros militares, ligados basicamente ao PCB, a programar um levante armado em novembro de 1935. Era plano dos rebeldes iniciar a tomada do poder a partir dos quartéis e apoiar as ações militares com greves e manifestações de massa.

O levante da ANL, que o governo conseguiu tornar conhecido pela designação de “Intentona Comunista”, teve início na data prevista no Rio Grande do Norte com a vitória dos militares rebeldes sobre a polícia. Posteriormente, as forças revolucionárias travaram combate contra tropas de outros estados, sendo derrotadas. Na capital do país, o movimento teve grande amplitude devido à resistência dos insurretos, mas o governo conseguiu sufocar a rebelião. A repressão foi violenta, com base na recém-promulgada Lei de Segurança Nacional. Os aliancistas foram presos ou deportados e a perseguição se estendeu a todos os setores da esquerda. Estava aberto o caminho para a escalada do autoritarismo que tomaria conta do Brasil entre 1937 e 1945. Em 27/11/1935 revolta-se a Escola de Aviação e o 3º Regimento, iniciando assim a primeira revolução esquerdista do Brasil. Contudo, foi rapidamente abafado o movimento, não chegando a desencadear-se a greve geral esperada. Foi um movimento aliancista – comunista e democrata-popular de cunho nitidamente esquerdista. No Rio Grande do Norte, dias antes, os revolucionários chegaram a ocupar o governo, sendo então insta lado o primeiro governo comunista em um Estado do Brasil. Mas o foco de Natal caiu também.

LINHARES, Hermínio. Contribuição à história das lutas operárias no Brasil. São Paulo, Alfa-Ômega, 1977.

A Ação lntegralista Brasileira (AlB) foi um agrupamento totalitário de natureza fascista, surgido logo após o movimento constitucionalista de 1932, sob o comando de Plínio Salgado,

Luís Carlos Prestes (1898-1990), o líder da Coluna, voltou a dar as caras, agora como líder da Intentona Comunista. http://en.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Carlos_Prestes. Acesso em 23/09/2013

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escritor vinculado ao movimento modernista. Defendia o fortalecimento do Estado e o corporativismo. Além disso, era antiliberal, contrário ao socialismo, ao comunismo e, dizia, ao capitalismo financeiro.

Sob o lema “Deus, Pátria e Família”, a AIB ganhou forte adesão das classes médias

urbanas, da juventude e, em menor grau, dos militares. Muito eficiente em rituais e símbolos, organizava desfiles com os adeptos vestidos com “camisas-verdes” e uma braçadeira contendo a letra grega sigma.

Na década de 30, os “camisas-verdes” integralistas enfrentaram nas ruas os militantes do movimento operário e, a partir de 1935, da ANL. Mas, seu sonho de tomar o poder se chocaram com a resistência do grupo, já instalado no governo, que defendia o autoritarismo.

Plano Cohen (1937)

O Congresso Nacional, através de seus membros, deputados federais e senadores, previu as manobras golpistas de Vargas, o impediu de renovar o Estado de Sítio. Para forçar a situação, Vargas simulou a farsa do Plano Cohen, de autoria duvidosa. Tratava-se de um plano supostamente comunista, que visava ao assassinato de personalidades importantes, a fim de tomar o poder. Segundo a versão dos interessados na farsa, o documento fora “descoberto” e entregue a Góis Monteiro pelo capitão Olímpio Mourão Filho membro integralista.

Diante da “ameaça vermelha”, o governo pediu o estado de guerra, e o Congresso concedeu. Criaram-se assim as condições para o golpe. Getúlio buscou e conseguiu o apoio do governador de Minas, Benedito Valadares; no nordeste, a missão Negrão de Lima conseguiu a

Congresso integralista realizado em Blumenau (SC). Sentado no centro, Plínio Salgado. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%A7%C3%A3o_Integralista_Brasileira. Acesso em 23/09/2013.

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adesão de vários estados para o apoio ao golpe varguista, fazendo com que o político Francisco Negrão de Lima ganhasse notoriedade nacional.

Estado Novo (1937-1945)

A situação internacional favorecia a solução autoritária. Fascismo e nazismo, na época, pareciam a muita gente regimes “dinâmicos”, melhores que as democracias “decadentes”.

Enquanto José Américo de Almeida, Armando de Salles Oliveira e Plínio Salgado se preparavam para a campanha eleitoral, Getúlio articulava o golpe que lhe daria poderes ditatoriais.

Getúlio tinha tanta certeza do sucesso do golpe, que seu ministro da Justiça, Francisco Campos, já redigia em segredo a nova Carta. Com apoio militar, o golpe veio em 10 de novembro de 1937, sem resistências. Às dez da manhã, Getúlio, já ditador, instaurou o Estado Novo e apresentou aos ministros a nova Constituição, a "Polaca".

Ela concentrou todos os poderes nas mãos do presidente, “autoridade suprema do Estado, que coordena os órgãos representativos de graus superiores, dirige a política interna e externa, promove ou orienta a política legislativa de interesse nacional e superintende a administração do país”. As principais modificações introduzidas foram as seguintes: - o presidente podia dissolver o Congresso e expedir decretos-leis; - os partidos foram extintos; - aboliu-se a liberdade de imprensa e instituiu-se a censura prévia; - interventores passaram a governar os Estados; - instituiu-se a pena de morte; - o mandato presidencial foi prorrogado “até a realização de um plebiscito” (que jamais

aconteceria). Para censurar a imprensa, orientar a opinião pública e fazer a propaganda do regime, foi

criado o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda).

Propaganda para consolidar a imagem de Vargas durante o Estado Novo. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Get%C3%BAlio_Vargas. Acesso em 23/09/2013.

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A centralização se estendeu à economia, com a criação de uma série de institutos centrais, para planejar e controlar a produção nacional: Instituto do Pinho, do Sal, do Açúcar e do Álcool, do Cacau, do Café.

Para facilitar a defesa e estimular o povoamento e desenvolvimento do país, criaram-se os territórios de Fernando de Noronha, Amapá, Rio Branco (depois Roraima), Guaporé (depois Rondônia), Ponta Porã e Iguaçu.

Para combater os comunistas. Vargas usou os integralistas, filiados ao fascismo e ao nazismo. Alguns integralistas, entre eles o jovem oficial Olímpio Mourão Filho, haviam ajudado a forjar o Plano Cohen. Mas, após o golpe, liderados por Plínio Salgado, eles se tornaram incômodos ao poder. Getúlio os deixou de lado e extinguiu também

a Ação Integralista Brasileira. Inconformados, eles tentaram um golpe em 11 de maio de 1938. Dominados, acabaram na cadeia. Seu chefe foi exilado em Portugal.

Mas o modelo de regime que eles queriam copiar chegava ao auge na Europa do entreguerras. A paz mundial não passava de uma trégua. Desta vez, o Brasil se envolveria mais do que simplesmente fornecendo víveres. O conflito que se avizinhava seria verdadeiramente mundial.

A partir de 1942...

Visita de Edda Mussolini, filha de Benito Mussolini, a Adhemar de Barros.

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A partir de 1942, a situação internacional começava a se alterar com a perspectiva de vitória das forças democráticas aliadas contra o nazi-fascismo. O ditador de direita viu-se obrigado a mudar de posição, saindo de sua neutralidade, e, pressionado pelos norte-americanos, declarou guerra à Alemanha, após a Marinha mercante brasileira ter sido atacada por alemães. Mais tarde, na década de 60, alguns historiadores chegaram a afirmar que os bombardeios aos navios brasileiros foram feitos pelos americanos para forçar Getúlio a lutar a favor dos Aliados. Isto, no entanto, é uma das várias versões do episódio. Há registros dos submarinos alemães que atacaram aos navios brasileiros.

A situação mostrava-se, diante da declaração de guerra ao nazi-fascismo, contraditória, pois o Exército combatia na Europa a mesma ideologia que mantinha a organização do Estado

brasileiro. Além deste efeito externo, a própria ditadura Vargas criava também contradições, pois à medida que ocorria o desenvolvimento industrial, este mesmo desenvolvimento estimulava a participação de setores afastados do poder. No campo da legislação foi criada C.L.T (Consolidação das Leis Trabalhistas).

A oposição democrática

Assim, iniciava-se um processo de abertura política em 1943. (Aliás, a Constituição de 1937 previa um plebiscito, ou seja, uma consulta à população brasileira sobre o regime neste ano).

Vargas empenhava-se em adiar o plebiscito. Ao mesmo tempo, as oposições oligárquicas, entre elas a família Mesquita do jornal O Estado de S. Paulo – ocupado e administrado pela ditadura de 1937 a 1945 –, articulavam protestos contra a permanência de Getúlio no poder.

Em 2 de novembro de 1943, os oposicionistas conseguiram organizar, em Minas Gerais, com a adesão de numerosos setores (advogados, escritores, jornalistas, intelectuais,

Rendição de oficiais alemães a FEB. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Get%C3%BAlio_Vargas. Acesso em 23/09/2013.

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engenheiros, professores, médicos, banqueiros) bastante representativos das aspirações da classe média, o lançamento do Manifesto dos Mineiros, exatamente na data de comemoração dos treze anos da Revolução de 30.

O manifesto reivindicava reformas como do voto, habeas-corpus (recurso jurídico que permite a uma pessoa, acusada de cometer crime, responder a processo em liberdade) e outras garantias capazes de favorecer o retorno das liberdades formais da democracia.

Por outro lado, dentro do governo também ocorriam divisões, e as influências norte-americanas foram decisivas para reduzir as forças fascistas e alguns grupos minoritários dentro do próprio governo e do Exército. As cisões governamentais evidenciavam-se em agosto de 1944, quando o ministro das Relações Exteriores, Oswaldo Aranha, renunciou ao cargo como protesto contra a ordem dada por Vargas de fechar uma entidade ligada aos interesses norte-americanos. O mesmo aconteceu com o general Góis Monteiro, que demitiu do Comitê de Emergência e Defesa Política da América Latina. Com o afastamento de Oswaldo Aranha e Góis Monteiro, Vargas começou a perder apoio de setores importantes, como a burguesia reformista e os militares.

O ano de 1945 foi decisivo para luta contra a ditadura. O I Congresso Brasileiro de Escritores – organizado em São Paulo, no mês de janeiro, por intelectuais de formação liberal, socialista e comunista – publicou um manifesto exigindo um Estado democrático no Brasil. Os jornais também rompiam com a censura, entrevistando líderes da oposição, ex-aliados desalojados do poder pela ditadura. Um exemplo foi a notícia do jornal O Globo, lançando em fevereiro, a candidatura à presidência do brigadeiro Eduardo Gomes – ex-tenente e um dos sobreviventes do primeiro movimento tenentista, Revolta do Forte de Copacabana.

A oposição externa contra o regime também crescia. Os EUA – como líder do bloco democrático mundial – exigiam a queda de governos inspirados no nazi-fascismo. O problema com o Brasil era outro, pois o governo Vargas aliava-se ao bloco norte-americano. A questão dos EUA com o Estado Novo relacionava-se ao fato de o governo getulista fazer uma política de nacionalismo econômico, reduzindo a penetração de capitais estrangeiros, sobretudo norte-americanos. Por essa razão, os EUA posicionaram-se, através de seu embaixador no Brasil, a favor de um regime democrático.

Formação dos partidos

Diante das novas pressões, Getúlio decretou, em 28 de fevereiro de 1945, o Ato Adicional nº 9 (lei complementar à Constituição), no qual estabelecia o prazo de noventa dias para a realização de eleições em todos os níveis: presidentes, governadores, prefeitos, deputados, senadores e vereadores.

Em março setores oligárquicos, ou seja, latifundiários, fundaram, com o apoio de Vargas, o PSD – Partido Social Democrático. Getúlio, pressionado por segmentos militares, lançou o nome do ministro da Guerra, general Eurico Gaspar Dutra, para candidato a presidência pelo PSD – que também congregava setores da burguesia industrial e comercial.

Em abril, grupos democráticos liberais, socialistas, membros do empresariado industrial e financeiro e até de alguns setores latifundiários formaram a UDN – União Democrática Nacional. Também nesse mês, o PCB voltou à legalidade, após 23 anos de intensa perseguição aos seus militantes.

Criado em agosto de 1945, o PTB – Partido Trabalhista Brasileiro pretendia “representar” os trabalhadores. Tratava-se, como ficou evidenciado ao longo das décadas seguintes, de um instrumento partidário para a manipulação dos votos dos setores populares.

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O PTB, desse modo, servia a Getúlio, que manobrava as classes proletárias para impor seu estilo de “homem conciliador”. Na prática o PTB seria usado sempre que Vargas enfrentasse obstáculos por parte dos setores conservadores.

Duas frentes: com e sem Getúlio

Os queremistas (integrantes do Movimento Queremos Getúlio) organizaram, em outubro de 1945, uma grande manifestação no Rio de Janeiro, defendendo uma proposta para eleição de uma Constituinte em que a eleição do presidente seria decidida pela Nova Constituição. Vargas aproveitou-se da situação e antecipou, por decreto, as eleições para governadores e prefeitos para o dia 2 de dezembro. Era uma manobra política muito hábil de Vargas contra as frentes oposicionistas, já que estas não disporiam mais de tempo hábil para montagem de uma campanha eleitoral em todos os Estados. Essa antecipação beneficiava os setores queremistas, dando-lhes total vantagem, já que toda a burocracia do Estado trabalhava para os candidatos getulistas.

Diante dessa nova circunstância, a UDN articulou um golpe contra Vargas. Otávio Mangabeira, Armando de Sales Oliveira e o brigadeiro Eduardo Gomes conseguiram o apoio das oligarquias, dos industriais, dos EUA (através de seu embaixador), da alta oficialidade militar (Exército, Marinha e Aeronáutica) para desfechar a queda de Getúlio.

Queda da ditadura

Um acontecimento justificou e apressou o golpe. O chefe da Polícia Federal do Rio de Janeiro João Alberto, ligado aos udenistas proibiu uma manifestação do Queremismo. Imediatamente, Vargas destituiu-o do cargo, nomeando seu irmão Benjamin Vargas. Por tratar-se de um cargo de confiança dos setores militares, estes cercaram o Palácio do Catete no dia 29 de outubro de 1945, obrigando Getúlio a renunciar à presidência. José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal, ocupou o lugar do ditador do Estado Novo.

Segunda Guerra Mundial

Contextualizando...

Hitler anexando a Áustria.

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A Segunda Guerra nada mais foi do que a continuação da Primeira. A frase, que se perdeu no tempo e nas citações, atribuída ao estadista inglês Winston Churchill não poderia ser mais apropriada para definir o que teria sido a Segunda Guerra Mundial: um conflito novo envolvendo novos imperialismos e velhos antagonismos e interesses.

A principal motivação do conflito, se é que pode-se generalizar dessa maneira, foi a assinatura do Tratado de Versalhes. Os problemas que levaram à Primeira Guerra não foram resolvidos com a assinatura do acordo... foram piorados! Tanto que, se for feita uma rápida comparação nos rivais, há uma série de coincidências e poucas novidades. Uma delas, talvez a pior, é que foi uma guerra política. Enquanto na Primeira Guerra os regimes de governo eram semelhantes, na Segunda, os blocos de aliados foram formados com países que adotavam regimes semelhantes, como foi o caso do Eixo, composto pelos anti-comunistas (signatários do Pacto Anti-Komintern) Itália, Alemanha e Japão e os aliados que se definiram como anti-fascistas, como Inglaterra, França e, mais tarde, EUA e URSS.

O fator que mais colaborou para esta guerra começar, com tão pouco tempo em relação a anterior, foi a inoperância da Liga das Nações. Em 1931, quando o Japão invadiu a região da Mandchúria, em solo chinês, a Liga das Nações reprovou o ato, mas não fez mais nada. Não tinha forças para isso. Os EUA mantinham seu isolacionismo e, depois da Grande Depressão, não se preocuparam com o que acontecia em território europeu. A URSS só passou

a participar da Liga em 1934, sendo que, logo depois, retiraria seu país da mesma, enquanto remilitarizava seu país e, por consequência, a fronteira com a França. Outro fator que demonstrou a inoperância da Liga foi a participação de italianos e alemães no processo de

Cerimônia nazista de queima de livros de escritores judeus e marxistas.

Da esquerda para a direita: Neville Chamberlain (GBR), Benito Mussolini (Itália), Charles Dalladier (França).

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expansão territorial de seus países. O auge foi durante a Conferência de Munique (1938), na qual foi definido o futuro da Tchecoslováquia, sem a participação de representantes do país. A Tchecoslováqui foi criada durante as conferências que culminaram no Tratado de Versalhes. Como era formado por boa parte de minorias alemãs, era de interesse do III Reich anexar suas áreas de fronteira, chamadas de sudetos. Durante a Conferência de Munique, os alemãs conseguiram a permissão para a anexação destas áreas. Seis meses depois, anexaram todo o país. Era notório que, se houvesse um conflito de maiores proporções, a Liga nada ou pouco faria.

Mas por que a Alemanha se rearmava, descumprindo um acordo conhecido como o de Versalhes e ninguém fazia nada? Hoje em dia é fácil a até tranquilo se pensar que os nazistas, os verdadeiros protagonistas da Segunda Guerra, eram um mal a ser extirpado da Terra. Na época, no entanto, não era bem assim... havia simpatizantes do nazismo em praticamente todos os países da Europa, incluindo até na URSS, território em que o anti-fascismo poderia ser o mais correto, porém Stalin, seu dirigente, tentou por várias vezes e oportunidades uma aproximação com a Alemanha nazista. Acreditava-se, entre os países imperialistas e capitalistas, que o armamento nazista seria favorável para conter o avanço soviético e socialista. Isso parecia bem claro quando da formação do Eixo e, depois, da adesão do Japão no chamado Pacto Anti-Komintern – contrário à expansão socialista. Mas...

O real é que o avanço nazista, em especial, tinha ocupado a Áustria (1938), os sudetos da Tchecoslováquia (1938), o restante da própria Tchecoslováquia (1939) e nada havia sido feito contra. Parecia que, realmente, o avanço iria em direção à URSS. No entanto, o que parecia improvável, aconteceu. Em 23 de agosto de 1939 foi assinado o Pacto Ribbentrop-Molotov ou Pacto Germano-Soviético, em que se incluíram cláusulas secretas, acordos comerciais e a divisão da Polônia. Estabelecia um acordo de não-agressão entre a Alemanha Nazista e a URSS, bem como o direito aos soviéticos de ocuparem as repúblicas bálticas (Letônia, Estônia e Lituânia), e a divisão entre os dois países da Polônia. A Alemanha Nazista tinha agora a garantia de que, se atacasse a Polônia, para reunificar seu território, dividido em Versalhes, não teria os soviéticos como inimigos de primeiro momento. Garantia, com isso, um tempo necessário para se preparar para atacar a URSS.

O conflito

Mapa das primeiras anexações do III Reich.

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A invasão da Polônia pela Alemanha (1º/09/1939), iniciou as hostilidades que levaram à Segunda Guerra. A partir daí, França e Grã-Bretanha declararam guerra aos alemães, em virtude do ataque ao porto livre de Danzig, administrado pela Liga das Nações. Porém, facilmente os alemães, com sua blitzkrieg (guerra-relâmpago) invadiram a Polônia, acabando com seu governo independente em 18 dias. Logo depois seria a vez da França, tomada a partir da campanha sobre Holanda e Bélgica, tomando parte da Noruega para facilitar os ataques. Rapidamente, Paris era cercada, com os nazistas ignorando as linhas de defesa francesas. Com isso, Hitler assinaria um acordo para divisão do território francês no mesmo local que fora assinado o Armistício de Compiègne, em 1918, tornando o território francês dividido entre nazistas e colaboracionistas – a República de Vichy, governada pelo Marechal Petáin. A Inglaterra, neste momento, estava isolada.

O próximo passo do Eixo era a invasão da Inglaterra. Foi iniciada a Operação Leão-Marinho, para atacar aos britânicos. A blitzkrieg, a mais eficaz estratégia alemã, como tinha se revelado no continente, teria que ser adaptada ao fato de a Inglaterra ser uma ilha. Os ataques à ilha foram incisivos e violentos. A todo momento a Luftwaffe (força aérea alemã) bombardeava Londres. A resistência dos ingleses, comandados pela família real, era heróica. Quanto mais Londres era destruída, mais forte ficavam os ânimos dos britânicos. Com essa resistência, a operação nazista fracassou. A RAF (Royal Air Force), organizada às pressas, contra-atacou e venceu os alemães. Foi a primeira derrota nazista na Segunda Guerra. Estava a Guerra ainda no início, em 1941, e o mito da invencibilidade das forças nazistas já havia caído por terra.

Os nazistas tentaram, através do Afrikakorps, devolver a derrota aos ingleses, sem sucesso novamente. Os ataques no norte da África revelaram-se desgastantes demais, por causa do calor, para as tropas nazistas.

Mesmo com o comando do brilhante Marechal Erwin Rommell, os nazistas tiveram que se render para o poderio do exército britânico que, a

Auge do III Reich.

Segunda Guerra chegou na URSS.

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partir de 1942 já contaria com o apoio dos norte-americanos, numa ação conjunta para expulsar os nazistas do norte da África, empurrando-os de volta para o continente europeu e abrindo, com isso, uma nova frente de combate, pelo sul da Europa.

O projeto de Hitler era a quebra do Pacto Germano-Soviético, assinado dias antes da invasão da Polônia. Várias eram as causas que levarama a isto: o interesse em matérias-primas que havia em solo soviético, como carvão e petróleo e a ideia do Espaço Vital, parte da ideologia nazista para comportar a expansão do III Reich. Em 22 de junho de 1941 a Alemanha atacaria a URSS, sem prévio aviso. Tendo em vista a conquista, principalmente das cidades que eram símbolos do bolchevismo – Leningrado e Stalingrado. Ao contrário do que imaginava, as tropas nazistas encontraram grande resistência do povo soviético, estimulado pelo nacionalismo stalinista. Além do nacionalismo, a URSS foi financiada pelos EUA, que enviaram além de dinheiro, materiais necessários para a permanência soviética na guerra. Foi uma luta encarniçada, rua a rua, casa a casa, para o qual as tropas nazistas não estavam preparadas. Resultado: vitória soviética e início do avanço sobre a Alemanha – era o início da vitória dos Aliados (1943). Esta vitória dos soviéticos serviu como motivador para os combates na frente ocidental. Ingleses e norte-americanos, em ação conjunta com os soviéticos, começavam a empurrar os nazistas de volta para o seu território. Com isso, a vitória aliada, em ação conjunta, começava a se desenhar para o lado dos aliados.

Em 6 de junho de 1944, os Aliados fizeram sua mais ousada amostra de que estavam preparados para derrotar a máquina de guerra nazista – a Operação Overlord, o Dia D, desembarque das tropas aliadas na Normandia. Com o sucesso pleno do desembarque, os dias da Alemanha Nazista estavam contados. Em agosto de 1944 Paris foi libertada. Até dezembro, a França por completo. Estava aberto o caminho para Berlim. Na frente oriental, o Exército Vermelho caminhava a toda, também, em direção a Alemanha. Já no início de 1945, o quadro não era nada bom para a Alemanha e seus aliados.

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O povo italiano, descontente com Mussolini, prendeu o seu antigo Duce. Liberado por tropas nazistas, foi encontrado por populares em Milão morto e linchado. Na Alemanha, Hitler dava mostras que não tinha mais o comando do exército. Com a eminente conquista soviética sobre a Alemanha, Hitler suicidou-se em 30/04/1945. No Oceano Pacífico, o último a resistir era o Japão, na sua guerra contra os norte-americanos. O Japão, por causa do bloqueio comercial americano (parceiro econômico da Inglaterra, já em guerra com o Eixo), havia atacado Pearl Harbour (07/12/1941), no arquipélago do Hawaii, pressionando a entrada dos EUA na guerra. A guerra tornava-se, naquele momento, mundial. Em virtude dessa resistência do exército japonês aos ataques norte-americanos e da atuação dos kamikazes, em agosto de 1945, os EUA colocaram em prática o Projeto Manhattan. Antes pensado para a Alemanha Nazista, o Projeto Manhattan foi deslocado para o Japão em virtude da rivalidade recém-inaugurada entre soviéticos e norte-americanos, durante a Conferência de Potsdam. Para intimidar os soviéticos foram lançadas bombas atômicas em Hiroshima e Nagazaki, seguidos da rendição japonesa, assinada no encouraçado Missouri.

O saldo da Segunda Guerra não poderia ser mais catastrófico. O maior conflito mundial de todos os tempos deixou números como 55 milhões de mortos em campos de batalha, entre civis e militares. Destes, 17 milhões, aproximadamente, eram soviéticos, 6 milhões de chineses e judeus e 3 milhões de alemães. Mais de 100 milhões de mutilados de todas as espécies. Neuróticos de guerra de todos os tipos. Revisionistas que contestam, até hoje, que o que aconteceu durante a guerra, em relação a campos de concentração e extermínio, se tratam de propaganda dos aliados contra os nazistas e absurdos dos mais variados tipos. Para que fique claro, campos de concentração eram locais para prisioneiros, que tinham sua mão de obra explorada de forma escrava. Campos de extermínio faziam parte do projeto de limpeza étnica nazista, que incluía, em especial os judeus. Foram colocados em prática após a Conferência de Wansee, em janeiro de 1941.

Fim da Guerra - As Conferências

Ainda durante a guerra, seriam realizadas conferências na tentativa de reorganizar o mundo em conflito. A primeira dessas conferências foi a de Teerã (Irã, novembro de 1943). Dela participaram Winston Churchill (primeiro-ministro da Inglaterra), Franklin Delano Roosevelt (presidente dos EUA)

Conferência de Yalta

Bombardeio atômico ao Japão.

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e Joseph Stalin (dirigente da URSS).A resolução nela tomada foi a da união dos aliados para pressionar a Alemanha, formação de uma nova frente de combate que auxiliasse os soviéticos, só que no ociedente, o que resultou no Dia D.

Em fevereiro de 1945, foi realizada a Conferência de Yalta (Criméia, território soviético). Os participantes foram os mesmo que participaram em Teerã. Nesta nova conferência foram definidas as bases para a criação da ONU, organização que substituiria a fracassada Liga das Nações. Ainda foi definida a supremacia da URSS sobre os territórios do leste europeu, com a divisão da Europa entre capitalistas e socialistas e discutida a independência da Polônia.

Em agosto do mesmo ano, em Potsdam (Alemanha), foi realizada a Conferência de Potsdam. Dela participaram Clement Attlee (Inglaterra), Harry Truman (EUA) e Joseph Stalin (URSS). Durante ela foi decidida a desnazificação da Alemanha e Áustria com a divisão dos países em quatro zonas de ocupação, o julgamento dos criminosos de guerra nazistas – a ser feito mais tarde em Nuremberg – e uma proposta de capitulação para os japoneses, que não foi aceita pelos mesmos, provocando os bombardeios a Hiroshima e Nagazáki. Com essa divisão, o mundo passaria formalmente a estar bipolarizado. Era o início de uma nova guerra – A Guerra Fria.

Em 25 de abril de 1945, em San Francisco, foi realizada a Conferência de San Francisco, que organizaria a Organização das Nações Unidas – ONU. Proposta pelo presidente dos EUA

Franklin Delano Roosevelt, foi colocada em prática para substituir a fracassada Liga das Nações. Roosevelt faleceu pouco antes da primeira reunião. A nova organização tem a missão de preservar a paz mundial, proteger os direitos humanos e não permitir que aconteça, novamente, o que levou à Segunda Guerra. Formalizada, a ONU foi fundada oficialmente em

Divisão da Alemanha e de Berlim.

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24 de outubro de 1945, formada a princípio por 51 membros (hoje 192), sendo que 5 fazem parte, desde então, do Conselho Permanente de Segurança – EUA, França, Reino Unido, China (hoje República Popular da China) e URSS (hoje Federação Russa). Atualmente a ONU também interfere em relação aos direitos das crianças, das mulheres, tem seu conselho econômico, militar, tribunal internacional de justiça, entre tantas outras tarefas.

Guerra Fria

É difícil determinar qual é, precisamente, o momento em que se inicia formalmente a Guerra Fria. O conflito ideológico envolvendo dois sistemas políticos e econômicos de governo – o capitalismo e o socialismo – marcou a maior parcela de tempo do século XX.

Em busca de áreas de influência, já ao longo da Segunda Guerra, durante o processo de expulsão dos nazistas da Polônia e de vários países do leste europeu, a União Soviética já promovia a inserção de políticos e/ou militares para comandarem estes países, para promover a desnazificação destes territórios. Verdade que era implantada uma versão de stalinismo nestas áreas, mas isto, naquele momento, não havia muita gente do bloco aliado preocupada com isto. Era necessário afastar os nazistas destas áreas.

Por sua vez, um pouco mais tarde, já com a ONU em processo de consolidação, os Estados Unidos aplicavam o Plano Marshall, um projeto de reconstrução econômica dos países da Europa Ocidental afetados pela guerra. Este plano injetou quantias significativas em países

como Inglaterra e França, sob a ameaça de um avanço soviético e sua ideologia sobre Grécia e Itália, por exemplo. Para isto ser evitado, o presidente Harry Truman, com sua sábia teoria dos dominós (a Doutrina Truman), não poderia permitir que os países da Europa, num todo, caíssem um a um sob hegemonia soviética. A resposta veio através do COMECON, o equivalente soviético ao Plano Marshall para o leste europeu.

Logo na sequência, foram firmados dois pactos militares, reunindo países

Divisão da Europa durante a Guerra Fria.

Cartaz alemão, fazendo referência a chegada do dinheiro do Plano Marshall.

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simpatizantes de norte-americanos e soviéticos. A OTAN (Organização Tratado Atlântico Norte), sob liderança dos EUA, formada em 1949, e o Pacto de Varsóvia, sob liderança da URSS, formada em 1955. Esta formação de pactos militares já marca uma das características da Guerra Fria – a corrida armamentista.

O intervalo de tempo entre 1945 e 1991, marcado por este conflito ideológico, não ficou livre de guerras. Caracterizados como sendo conflitos eminentemente regionais, estas guerras defendiam posições e serviam para a demonstração de armamentos fabricados pelas

duas superpotências. Com o risco de uma guerra nuclear, novos armamentos, muito mais modestos em termos de destruição em massa, foram fabricados e utilizados nestes confrontos. Foram exemplos destes conflitos: Guerra da Coreia, Guerra de Independência da Indochina, Guerra do Vietnã, Guerra do Afeganistão, Guerra Irã-Iraque e os conflitos árabe-israelenses. Por diversas vezes, como foi no caso da Guerra do Vietnã, por exemplo, ficou nítida a impressão de que era um grande teste de armamentos, mas com cobaias humanas, durante as experiências. Triste característica desta chamada Guerra Fria.

O Caso da Alemanha

Após o final da guerra na Europa, com a rendição alemã, pelo que foi definido na Conferência de Potsdam, a Alemanha teve seu território dividido em quatro zonas de influência. Por causa de pressão norte-americana, feita pelo presidente Truman, a cidade de Berlim também teve seu território dividido em quatro zonas de ocupação – uma soviética, uma norte-americana, uma francesa e uma britânica.

OTAN e Pacto de Varsóvia.

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Por conta dos investimentos do Plano Marshall, logo o lado ocidental da cidade de Berlim dava amostras de uma reconstrução muito mais rápida que o lado oriental, controlado pelos soviéticos. O maior problema, no entanto, era que a Berlim ocidental ficava do lado soviético da Alemanha. Com isso, Berlim ocidental acabou tornando-se uma ilha de prosperidade capitalista em meio a um mar controlado pelos socialistas. Entre o final do ano de 1948 e o início de 1949, ocorreu a primeira grande crise, por conta disso. Ocorreu o bloqueio de Berlim, promovido pelo lado soviético. Com isso, não havia mais comunicação da Berlim Ocidental com o lado ocidental do restante da Alemanha. Foi uma das mais sérias crises deste início de Guerra Fria. Foi solucionado devido a uma ponte aérea promovida pelos países ocidentais, para levarem suprimentos para os berlinenses ocidentais. A maior consequencia

desta iniciativa de bloqueio foi a separação definitiva entre as Alemanhas, configurando-se a Alemanha Ocidental (República Federal Alemã) e Alemanha Oriental (República Democrática Alemã).

Ainda por causa do grande desenvolvimento do lado ocidental em relação ao oriental e as constantes fugas de um lado para o outro, em agosto de 1961 foi erguido o Muro de Berlim, iniciativa tomada pelos soviéticos. O Muro acabou se tornando um dos principais símbolos da

Guerra Fria, caracterizando a divisão do mundo entre os dois blocos econômicos. Juntamente com o Muro, a expressão Cortina de Ferro, proferida anos antes por Winston Churchill, caracterizam as atitudes soviéticas em relação aos países do leste europeu.

Guerras e Revoluções durante a Guerra Fria

Apesar de não ter ocorrido um confronto direto entre EUA e URSS ao longo da Guerra Fria, não se pode dizer

Mao-Tsé Tung.

Construção do Muro de Berlim.

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que foi um período exatamente movido pela paz. Em busca de áreas de influência, o mundo inteiro foi envolvido em disputas por territórios e países, o que acabou configurando um panorama bastante favorável para a eclosão de diversas guerras regionais.

Foram exemplos de confrontos a Guerra da Coréia, os conflitos para a Descolonização da Áfria e Ásia, a Guerra Irã-Iraque, os conflitos entre israelenses e a Liga Árabe. Além destes, foram também ocorrer ao longo da Guerra Fria as Revoluções Chinesa, Cubana e Iraniana. Ideologicamente, a Revolução Chinesa, de 1949, liderada por Mao-Tsé Tung, levou a China, comandada pelos nacionalistas, a ser comandada pelos socialistas a partir de então. A China, ao longo das décadas seguintes, tornou-se uma das mais prósperas nações do planeta, mesmo em meio a uma exploração muito forte de sua população e sua mão de obra.

Em Cuba, a Revolução de 1959 teve característica anti-americana, já que a ilha caribenha era governada há décadas por Fulgêncio Batista e outros que atendiam aos interesses norte-americanos. Fidel Castro, seu irmão Raúl e o médico argentino Ernesto “Che” Guevara lideraram a revolução que, vitoriosa, implantou aos poucos o socialismo na ilha. Logo viria o embargo liderado pelos EUA, deixando a ilha de Cuba isolada economicamente no

continente. Isto auxiliou a Cuba se aproximar da URSS e foi um passo decisivo para o início da Crise dos Mísseis em seu território. Mísseis nucleares soviéticos foram instalados no território cubano, o que despertou a atenção dos norte-americanos, governados à epoca por John Fitzgerald Kennedy. Depois de muitas negociações entre o líder norte-americano e Nikita Kruschev, da URSS, os mísseis foram retirados de Cuba. Foi o momento mais tenso e próximo de uma guerra nuclear, durante a Guerra Fria.

Kruschev e Kennedy discutindo a respeito dos mísseis em Cuba.

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Em 1979, o Xá Reza Pahlevi, imperador iraniano foi afastado por um golpe de estado promovido pelo Aiatolá Khomeini e seus seguidores. O Xá, ocidentalizou demais o seu país, desagradando a autoridades religiosas conservadoras que foram exiladas ao longo do seu governo. Em 1979, em meio a uma crise econômica, muito em função dos altos gastos promovidos pelo Xá, para manter seu luxo e ostentação, como vôos repentinos ao exterior, apenas para uma refeição, às vezes, eclodiu a Revolução. Entre 1978 e 1979 a Revolução passou pela fase de liberais e socialistas, unidos a líderes religiosos tomando conta do país. Logo após, os líderes religiosos, os aiatolás, tomaram conta da revolução, dando um caráter religioso ao processo histórico – a chamada Revolução Islâmica.

Logo após a Segunda Guerra, ocorreu a Guerra da Coréia. Esta começou com a divisão do país, antes ocupado pelo Japão, no paralelo 38°. A configuração dos novos países ficaria da

seguinte maneira: Coréia do Norte (socialista), Coréia do Sul (capitalista). Em 1950 a Coréia do Norte invadiu a Coréia do Sul, dando início ao confronto. A guerra teve duração até 1953, com intervenção direta dos EUA,

Ataque de napalm a uma vila no Vietnã do Sul, 1972.

Revolução Islâmica. No cartaz, retrato do Aiatolá Khomeini.

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ao lado dos sul-coreanos, quando foram firmados acordos, não assinando nenhum tratado de paz, encerrando a guerra e mantendo a divisão das Coréias.

A Guerra da Indochina, fazendo parte do processo de Descolonização da África e Ásia, iniciado ao final ainda da Primeira Guerra, mas intensificado ao final da Segunda Guerra, iniciou-se para tornar o território independente da França. Com a vitória sobre os franceses, o território foi desmembrado em Laos, Camboja e Vietnã, dividido em Norte e Sul, através da Conferência de Genebra. Logo após a divisão, em 1955 o Vietnã do Norte inicia uma ofensiva ao sul, procurando promover uma unificação do país. Iniciava-se a Guerra do Vietnã, encerrada vinte anos depois. Destaque para a intervenção militar norte-americana, iniciada ao longo dos anos 1960. O destaque negativo, do ponto de vista humanitário, foi a utilização de armas químicas e de destruição em massa, por parte dos norte-americanos, no conflito. Foi o caso de napalm e agente laranja, utilizados amplamente.

Fim da Guerra Fria e a montagem do Mundo Atual

A partir da entrada de Mikhail Gorbatchev no comando soviético, em 1985, a Guerra Fria entrou em seu período final. A flexibilização da economia, promovida pela Perestroika (abertura econômica), e da política, com a Glasnost (transparência política), deixaram a União Soviética a mercê do sistema de livre mercado. O que, economicamente, para o regime socialista, não era viável. Logo começaram a aparecer os problemas estruturais desencadeados por esta situação. O acidente nuclear em Chernobyl, a falta de investimentos na Alemanha Oriental, que promoveram a queda do Muro de Berlim e a reunificação das Alemanhas. E, por fim, um golpe de estado, em agosto de 1991, que pôs em cheque o poder de Gorbatchev. Logo recolocado no governo, não suportou a pressão e, juntamente com o anúncio da dissolução da URSS, renuncia ao governo. Era o fim da Guerra Fria e da União Soviética.

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Com o fim da URSS, os EUA passam a ter hegemonia sobre o planeta. O poderio econômico norte-americano tornou-se muito superior ao de qualquer outra nação ao longo dos anos 1990. Com isso, uma grande onda neoliberal (caracterizada, principalmente, pela pequena intervenção do estado na economia) tomou conta do mundo. Poucos países conseguiam acompanhar os passos largos do gigante norte-americano. Apenas em 2001, com

o ataque ao World Trade Center, ocorreu uma demonstração de fragilidade dos EUA. A partir de então, o governo belicista e desastroso de George W. Bush levou os EUA a uma crise de especulação financeira, com várias concessões de crédito sem garantias, que desembocou na Crise de 2008, ainda em processo de recuperação. A ascensão de países emergentes, como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, serve de alerta aos interesses norte-americanos.

REPÚBLICA POPULISTA (1946-1964)

Com as eleições para presidente e de deputados e senadores para uma Assembléia

Constituinte, iniciava-se a tentativa de construção de uma Constituição democrática, abrindo um novo período da história da República. Em 1945, concorreram quatro candidatos à presidência da República: o general Eurico Gaspar Dutra, pela coligação PSD/PTB, o brigadeiro Eduardo Gomes, pela UDN, Yedo Fiúza, pelo PCB e Rolim Teles, pelo Partido Agrário.

Ataque ao WTC, 11/09/2001.

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Dutra venceu as eleições com 55% dos votos. O PSD e a UDN elegeram o maior número de deputados (54% e 26%, respectivamente); o PTB obtinha 7,5%, e o PCB alcançava 4,7%, enquanto os outros partidos dividiriam o restante dos votos: 7,3%.

Constituição de 1946

Em 1946, a nova Constituição (a quinta do Brasil e a quarta da República) foi promulgada, contendo as seguintes características liberais:

- continuação do regime republicano, presidencialismo (com cinco anos de duração), representativo e federativo;

- sufrágio universal (voto secreto e direto para maiores de dezoito anos, com exceção de analfabetos, soldados e cabos);

- direito de liberdade de opinião e pensamento, mas com censura para espetáculos e diversões públicas;

- preservação de um Executivo com poderes para nomear os ministros do Supremo Tribunal Federal e continuação dos sindicatos corporativistas definidos como “órgãos de colaboração do Estado”, duas medidas anti democráticas;

- a divisão em três poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário), relativa autonomia dos Estados, restabelecendo-se o Senado e a Câmara dos deputados;

- manutenção do direito de propriedade como garantia fundamental para as bases econômicas e sociais do Estado brasileiro.

Eurico Gaspar Dutra (1946-1951)

O governo do general Dutra representou o alinhamento do país com os Estados Unidos dentro do quadro internacional da Guerra Fria. A influência norte-americana trouxe como conseqüência a abertura econômica às empresas multinacionais dos EUA e também a ruptura de relações do Brasil com a URSS dentro do conceito de segurança do hemisfério ocidental atlântico. Em seguida, foi decretada a ilegalidade do Partido Comunista Brasileiro (1947).

No plano interno, o governo Dutra procurou reduzir a intervenção do Estado na economia, enquanto fracassava no propósito de estabelecer

Constituição de 1946.

Eurico Gaspar Dutra (1883-1974), presidente entre 1946 e 1951.

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uma política econômica brasileira na saúde, alimentação, transporte e energia; o famoso Plano SALTE, que ficou sem aplicação. No entanto, conseguiu ampliar a acumulação de capitais, adotando inclusive uma política de rígido controle de salários. Na exportação permaneceu o mesmo modelo agroexportador, enquanto o país passou a importar equipamentos ferroviários, artigos de plástico, automóvel e equipamentos de televisão, com a implantação das primeiras emissoras em 1950.

O governo empreendeu uma “política de conciliação nacional”, que se traduzia na divisão de poderes entre os grupos oligárquicos e as forças consolidadas com a Revolução de 30, o setor urbano industrial é também representante das camadas sociais em ascensão. O controle sobre as representações sindicais permaneceu, com mais de 180 intervenções estatais no sindicato nesse período.

Getúlio preparando sua volta

A abertura ao capital estrangeiro limitava a ação do Estado e dificultava o crescimento industrial de setores da economia nacional. Setores da burguesia fabril, e ideólogos do nacionalismo e segmentos das classes médias urbanas desejavam a volta de Getúlio. O ex-ditador possuía também apoio popular, graças a sua imagem de “pai dos pobres”. O retorno de Getúlio significava a retomada de um desenvolvimento sob o patrocínio do Estado com uma política de subsídios à expansão industrial com concessão de créditos e ainda com a redução dos preços de matérias-primas, a serem produzidas pelas empresas estatais. Essa convergência de interesses privilegiava Getúlio como o único dirigente capaz de realizar esse programa de desenvolvimento. Nas eleições de 3 de outubro de 1950, Getúlio (PTB) venceu com 48,7% dos votos, Eduardo Gomes (UDN) conseguiu 29,7% e Cristiano Machado (PSD) 25,5%.

Getúlio Vargas (1951-1954)

Em janeiro de 1951, Vargas e Café Filho assumiram a presidência e a vice-presidência, já contando com o apoio do PSD.

A política de Vargas foi a de incentivar a industrialização. Assim, o nacionalismo econômico getulista, pregado na campanha presidencial, era o de reservar a exploração mineral e as indústrias de base (siderurgia, usinas hidrelétricas, construção de rodovias, eletrificação) ao capital privado de algumas empresas nacionais ou ao capital do Estado.

Essa política econômica deixava ao capital estrangeiro as indústrias de bens de consumo. Outra finalidade do nacionalismo varguista era reduzir a participação das empresas estrangeiras no comércio e nas atividades financeiras (como os bancos).

É importante compreender a dupla contradição do nacionalismo de Getúlio. De um lado, buscava uma autonomia econômica através da expansão industrial, financiando setores fabris nacionais; ao mesmo tempo, tentava fazer esta política parecer de interesse de toda a população brasileira. De fato, atendia aos interesses das classes abastadas dos setores industriais. Por outro lado, Vargas precisava dos capitais internacionais para implantar uma suposta independência econômica.

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Assim, os setores da burguesia brasileira mais identificados com o capital internacional, como a UDN, fizeram oposição às políticas nacionalizantes de Vargas. Em 1951, Getúlio enviou ao congresso o projeto de criação da Petrobrás – empresa de capital misto, mas com a maioria das ações em poder do Estado, garantindo monopólio estatal para realizar a perfuração de poços de prospecção e o refino de petróleo. Nos dois anos que se seguiram até a aprovação da Petrobrás (criada em 1953), a UDN e o capitalismo internacional promoveram intensa campanha contra a política de “emancipação nacional”. O ano de 1953 ficou marcado pelo impasse sócio-político e econômico do getulismo.

De um lado as classes trabalhadoras reivindicavam melhores salários (afinal, desde o Governo Dutra - 1947 - o salário-mínimo não subia), mais empregos e exigiam o cumprimento das promessas varguistas do “povo subir as escadas do palácio e governar com ele”. De outro lado, a ampliação do parque industrial e a infra-estrutura (siderurgia, eletrificação etc.) para garantir o crescimento fabril necessitavam de investimentos estrangeiros. Vargas expôs-se,

então, aos ataques do capital internacional.

O ano de 1954 foi marcado pela proposta do ministro do Trabalho, João Goulart, de conceder um aumento de 100% no salário mínimo. As reações das classes empresariais e dos setores conservadores se fizeram presentes através de inúmeros protestos nos jornais e manifesto das Forças Armadas contra as medidas do Ministério, resultando na demissão de Goulart e do ministro da Guerra.

Para os dois ministérios Vargas nomeou homens mais conservadores, mas manteve sua política de nacionalização, enviando ao Congresso um projeto para criação da Eletrobrás. Desse modo, os ataques oposicionistas

continuaram. Em abril do mesmo ano, a UDN e setores da direita das Forças Armadas formaram a Cruzada Democrática – união das forças mais reacionárias – para lutar pelo afastamento do presidente.

A UDN tentou no Congresso a aprovação do impedimento de Vargas no exercício da presidência (impeachment). Vargas ainda dispunha de deputados do PSD, PTB e PSP que não apoiariam a medida da UDN. No dia 1° de maio de 1954, concedeu 100% de aumento no salário mínimo.

Novos ataques surgiram e um incidente selou a administração varguista. Um atentado ao jornalista Carlos Lacerda – o mais crítico oposicionista ao governo Vargas, aliado à UDN e ligado às Forças Armadas. No dia 5 de agosto, na fracassada tentativa de assassinar Carlos Lacerda, saiu mortalmente ferido o major da Aeronáutica Rubens Vaz – membro de um grupo militar que escoltava Lacerda.

Vargas com as mãos sujas de petróleo.

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A repercussão do fato provocou manifestações, nas quais as Forças Armadas e os setores conservadores exigiam diariamente a renúncia do presidente.

Diante das pressões, Vargas reuniu o Ministério no dia 23 de agosto, para anunciar que concordava em tirar uma licença do cargo, mas não aceitava renunciar. As forças oposicionistas e, em particular, o Exército não aceitaram a decisão presidencial e reafirmaram o desejo de renúncia de Vargas. Na manhã de 24 de agosto de 1954, suicidou-se com um tiro no coração.

Seguiram-se protestos populares contra os oposicionistas, e os jornais antivarguistas fecharam por alguns dias, além de sofrerem vários atentados.

Líderes da oposição, como Carlos Lacerda, tiveram que se ausentar do país. Houve uma comoção total por parte da população brasileira.

No dia 25 de agosto, tomava posse o vice presidente Café Filho, que reformulou o Ministério, colocando um ministro do Exército menos comprometido com os setores políticos, o general Henrique Teixeira Lott que acima de tudo gozava de grande respeitabilidade em todos os setores militares. Diante das pressões, o governo Café Filho facilitou a ascensão da UDN.

A tentativa do golpe

Com a aproximação de novas eleições, as forças getulistas do PSD e PTB reuniram-se novamente e lançaram para candidato o ex-prefeito de Belo Horizonte e o governador de Minas Gerais: o mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira. Realizadas as eleições JK conquistou 36% dos votos.

A UDN não aceitou a derrota e tentou impugnar através do Congresso a posse dos eleitos, acusando de corrupção o pleito eleitoral. Fracassada nas suas tentativas perante ao Congresso para anular as eleições, a UDN e os grupos das Forças Armadas organizaram um golpe de Estado. Evidenciava-se, dessa forma, que os conservadores, não possuindo adesão popular, utilizavam as forças militares para ” salvar a democracia”, ou seja, recorriam ao Exército, Marinha e Aeronáutica para conseguir o poder.

As articulações foram montadas: Café Filho tirou licença por motivo de doença, sendo substituído por Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados, pertencente a UDN.

Carlos Lacerda.

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No entanto, na noite do dia 10 de novembro, Lott participou de uma reunião com os chefes militares da sua confiança, os quais advertiram-no sobre as intenções do presidente Carlos Luz.

Na manhã do dia 11 de novembro de 1955, tropas e tanques militares ocuparam o Rio de Janeiro, provocando a fuga de Carlos Luz, Carlos Lacerda e outros líderes conservadores, que tentaram organizar uma resistência em São Paulo, mas as forças militares colocaram-se a favor da lei, ou seja, garantiram a posse dos eleitos. O Congresso destituiu Carlos Luz, mas também impediu o retorno de Café Filho – que subitamente “curou-se” de sua enfermidade, estando evidente seu apoio à tentativa de golpe. O Congresso nomeou então o senador Nereu Ramos para presidente até a posse de JK e seu vice, João Goulart, em 1° de fevereiro de 1956.

Juscelino Kubitschek (1956-1961)

O governo JK pautou-se por um projeto de crescimento econômico baseado no setor industrial através do Plano de Metas, que buscaria através do desenvolvimento da energia, transporte, alimentação, educação e construção civil, a expansão do parque industrial.

Dentro dessa estratégia, o Estado incumbiu-se de investir na criação de usinas hidrelétricas, nas indústrias de base, como siderúrgicas com maior capacidade produtiva, na construção de estradas e da nova capital do país – Brasília. Em suma, cabia ao Estado desenvolver a parte menos lucrativa e de maior emprego de capitais.

O governo JK concedeu à iniciativa privada e ao capital estrangeiro os setores econômicos de menores despesas e de lucratividade mais atraente: a expansão de bens de consumo duráveis (eletrodomésticos, automóveis, tratores, produtos químicos etc.).

Por outro lado, esse projeto desenvolvimentista implicava a substituição das importações. Isso significava, após períodos de constantes ajustes (como a Era Vargas, do governo Dutra e o segundo governo Vargas), dar o passo definitivo para a internacionalização da economia.

Marechal Henrique Teixeira Lott

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A essa perspectiva corresponde uma outra: não há dúvida de que a adoção dessa política corresponde também a outra determinação, externa, e da nova etapa de expansão do grande capital monopolista em direção ao investimento industrial direto nos países subdesenvolvidos, configurando a nova fase do imperialismo.

Em contrapartida, o governo JK permitia, sem fiscalização, imensas remessas de lucros das empresas estrangeiras no país, como forma “de

tornar mais atraente o país para as outras nações”, como chegou a declarar um dos colaboradores de JK.

No final do governo JK, os problemas mostravam novos impasses na economia, com o aumento da inflação, provocado pelas emissões de papel-moeda para financiar os investimentos estatais e de créditos. Os organismos internacionais exigiram de Juscelino um controle inflacionário. No entanto, o presidente negou-se a fazer uma política de contenção financeira, pois isso implicaria a redução dos salários, a diminuição dos créditos estatais às importações de mercadorias essenciais, como, por exemplo, a gasolina. O marco do Governo JK foi a inauguração da nova Capital, Brasilia (21/04/1961).

Jânio Quadros (1961)

Nas eleições de 1960, Jânio da Silva Quadros, apoiado pela UDN, elegeu-se presidente

com expressivos 5636623 votos. Concorrera com o General Lott, candidato da aliança PTB-PSD, que obteve (3800000) dos votos. João Goulart (PTB) foi reeleito para a vice-presidência com 4500.000 votos.

Em parte, o sucesso eleitoral de Jânio devia-se ao seu estilo político: um populismo extremamente personalista e carismático que o ajudara a se eleger vereador, prefeito de São Paulo em 1953 e governador no ano seguinte. Ao contrário de Getúlio e Ademar de Barros, sua força não se baseava em esquemas partidários e sindicais ligados ao Estado. Ela resultava da combinação da insatisfação generalizada de massas trabalhadoras e camadas médias, cujo nível de consciência era limitado, com o estilo mobilizador moralista e “renovador” de Jânio Quadros.

Brasília em construção.

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Apesar do caráter populista, o governo Jânio foi marcado por uma economia conservadora. Afinal, herdara do governo anterior uma inflação de 25% ao ano e uma dívida

externa alta para os padrões da época. No início, o governo janista organizou projetos de controle de créditos, medidas

antinflacionárias, congelamento dos salários, redução de emissões de papel-moeda, o que agradou ao FMI ( Fundo

Monetário Internacional),

permitindo amplos empréstimos externos.

No entanto, já no mês de abril, Jânio mudou sua estratégia, diminuindo o controle rígido da economia concedendo créditos

mais fáceis e retomando uma inflação mais compatível com a política continuísta do desenvol-vimentismo. O governo passava a seguir a orientação dos setores desenvolvimentistas. Essa política de oscilação não se limitou ao setor econômico. Na condução da política externa, o governo janista tentava uma independência em relação ao bloco imperialista dos EUA. Assim, não só defendeu o governo cubano de Fidel Castro, como também condecorou, no Brasil, Ernesto Che Guevara, então ministro da Economia de Cuba.

O problema era o impasse dos rumos a serem seguidos, pois o país atravessava um período de crises: ou controlava o crescimento e a inflação como queriam os setores dos banqueiros internacionais, ou continuava o crescimento industrial. Assim, as oscilações janistas evidenciavam a falta de uma perspectiva política crescente.

Como se não bastassem essas hesitações, Jânio foi também gradativamente perdendo o apoio dos funcionários públicos, os quais se irritaram quando o governo decretou o aumento da jornada de trabalho. Diante das pressões, Jânio voltou atrás, porém perdeu o apoio dos setores desejosos da moralização estatal. Sua relação com os políticos também foi desastrosa pois Jânio constantemente ameaçava promover investigações nos governos anteriores, além de denunciar a corrupção e o descontrole financeiro do período JK. Por essa razão, acusando o PSD de ser o que sempre foi, e ganhando portanto poderosos inimigos no Congresso, rapidamente isolou-se do poder.

Jânio Quadros e sua vassoura.

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Apesar de tudo, Jânio tentou uma última saída: renunciou em 25 de agosto de 1961, à presidência da República, esperando que pelo menos algum setor da sociedade brasileira lhe desse apoio, pois:

- confiava que os políticos, em especial os da UDN, lhe concedessem amplos poderes para governar;

- imaginava que os militares lhe fornecessem cobertura, por que as Forças Armadas consideravam “perigoso” Jango (como era conhecido João Goulart) na presidência;

- acreditava que as classes populares fizessem manifestações públicas, exigindo sua volta ao poder.

Mas nenhum dos três segmentos sociais se decidiu a sustentá-lo. Afinal, os impasses econômicos e políticos inviabilizaram o apoio dos dois primeiros, que imediatamente aceitaram sua renúncia. E as classes trabalhadoras, prejudicadas pelas medidas de controle econômico e instabilidades governamentais, não se manifestaram a seu favor.

Jânio deixou o pais à beira de uma guerra civil, pois aproveitara-se da ausência de João Goulart, que se encontrava em visita oficial à China comunista, para renunciar.

Os Militares

João Goulart (1961-1964)

Os conservadores, rapidamente, se mobilizaram contra a posse de Jango. As correntes direitistas, como o jornal O Estado de S. Paulo, que se tornou um dos porta-vozes desse grupos, e setores militares tramavam para impedir que João Goulart assumisse a presidência, acusando-o de esquerdista e aliado dos comunistas. O Estado exigia em seus editoriais que o Congresso modificasse a emenda da Constituição que concedia ao vice-presidente o direito de suceder ao presidente.

Ao mesmo tempo organizou-se uma resistência legalista (a Frente Legalista), liderada pelo governador Leonel Brizola com o apoio do general Machado Lopes, comandante do III Exército (RS). Voluntários e rádios do RS, SC, PR, com adesão pouco a pouco do restante do país, formaram um movimento político nacional a favor do cumprimento constitucional, que garantiria a posse do vice-presidente.

O Bilhete da renúncia de Jânio.

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A solução da crise veio com a aprovação pelo Congresso do regime parlamentarista com a figura de um primeiro ministro para dividir com o presidente o poder. O primeiro-ministro seria o chefe do governo, com poderes para nomear ministros e organizar a administração governamental. Ao presidente caberiam as funções de chefe de Estado. Essa solução reduzia o poder presidencial.

A emenda do regime parlamentarista previa um plebiscito no início de 1963, ou seja, uma consulta à sociedade

para confirmar ou não o parlamentarismo. Porém, houve oposição a esse regime: socialistas, comunistas e alguns liberais posicionaram-se contra a emenda, mas foram vencidos.

João Goulart demorou para voltar ao país de sua viagem à China, pois aguardava que os militares e as forças civis encontrassem uma solução institucional para os impasses políticos. Estrategicamente, Goulart chegou ao Brasil a 5 de setembro, assumindo a presidência a 7 de setembro, dia de comemoração da Independência. O governo Jango iniciou-se em meio a uma grave crise econômica e financeira. Três fatores contribuíram para a crise. Primeiro, reduziu-se a capacidade de importação , o que provocou a diminuição das importações de máquinas e equipamentos em conseqüência da baixa produtividade agrícola, resultando na queda dos preços dos alimentos para as exportações. Segundo, houve uma elevação dos empréstimos externos, subindo a dívida do país.

É claro que este aspecto relacionava-se aos problemas originados da baixa produtividade do país. O terceiro fator foi o aumento inflacionário que se acumulava desde o final do governo JK.

Para combater essa crise, Jango optou por uma política nacionalista e reformista, isto é, tentava aumentar os créditos às empresas nacionais e estatais para os setores básicos da economia e permitia ao capital estrangeiro a participação em bens de consumo duráveis. A administração Goulart estabeleceu um Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, elaborado sob a liderança de Celso Furtado, na qualidade de ministro Extraordinário para Assuntos de Desenvolvimento Econômico (atual Ministério do Planejamento).

O Plano Trienal compreendia as Reformas de Base, entendidas como um projeto de “capitalismo nacional”. O governo defendia o controle da inflação para manter níveis altos de taxa de crescimento. No entanto, a administração Jango advogava a necessidade de empréstimos externos, mas com renegociação da dívida para aumentar os investimentos internos. Para a realização dessa política, tornavam-se necessárias as Reformas de Base, isto é, um conjunto de reformas sociais, políticas e econômicas, capazes de modernizar o país. Essas reformas incluíam a estrutura agrária, o processo eleitoral, o controle das remessas de lucros das multinacionais e dos bancos estrangeiros, um sistema de impostos que permitisse ao governo elevar seus recursos financeiros e investir na produção.

Presidente João Goulart

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Entretanto, contradições de peso inviabilizavam o projeto reformista do governo. A política de estabilização econômica implicava a contenção salarial e não era popular; ao mesmo tempo, a execução de reformas de base agitava a oposição conservadora, sem que fosse possível ao governo mobilizar as camadas populares a seu favor.

No entanto, a crise avançava. A inflação continuava a elevar-se, a dívida externa não era negociada e representava, em 1963, 43% das exportações; o número de greves aumentava tanto nos centros urbanos como nas zonas rurais. Por outro lado, os governos europeus e o norte-americano concediam empréstimos aos governos estaduais de oposição a Goulart, o que reforça va ainda mais a crise financeira e enfraquecia o governo central.

Jango também se desgastava com os partidos políticos, sendo combatido pela UDN e pelo PSD. Sentindo-se enfraquecido pelas crises econômico-financeiras e tendo enorme resistência no Congresso, o presidente voltava-se para os grupos reformistas mais radicais. Abandonando o Plano Trienal, apostava nas Reformas de Base como solução para as crises.

Ao mesmo tempo, formavam-se correntes de apoio ao governo: PTB, dissidentes do PSD e da UDN, UNE (União Nacional dos Estudantes), Confederação Geral dos Trabalhadores e o Partido Comunista Brasileiro (mesmo na ilegalidade). Esses grupos políticos faziam parte da Frente Parlamentar Nacionalista.

Do outro lado, setores empresariais organizavam-se contra o governo: surgia a Ação Democrática Parlamentar, composta por UDN, PSD, IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática, financiado pela Embaixada dos Estados Unidos) e o IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), com o objetivo de organizar estratégias de luta do empresariado contra o governo.

No início de 1964, as disputas pelo poder entre os setores mais conservadores e os mais progressistas (indivíduos com posições mais à esquerda, por exemplo, os defensores das reformas de base) acirravam-se. Nessa situação, o governo Goulart iniciou o processo de reforma agrária sem a decisão e aprovação do Congresso. Esta decisão estimulava as classes proprietárias e camadas médias (prejudicadas pela inflação e abaladas pelo temor da “comunização” do país) a organizarem manifestações contra o governo: a maior delas foi a Marcha da Família com Deus e pela Liberdade, da qual participaram 400 mil pessoas na cidade de São Paulo, mobilizadas pelos grupos conservadores da igreja e do empresariado.

A eclosão do movimento da classe média conservadora vinha somar-se às conspirações tramadas por grupos de oficiais das Forças Armadas, conferindo-lhes apoio político e social. Um destes grupos conspiratórios era liderado, desde o início do governo Goulart, pelo general Olímpio Mourão Filho. Outro, reunindo civis e militares, era liderado pelo almirante Sílvio Hech, enquanto um terceiro vinha sendo organizado, também desde a posse de Goulart, por um grupo de coronéis e generais – entre eles os coronéis João Batista de Figueiredo, Costa Cavalcante e os generais Ernesto Geisel e Bizarria Mamede, a maioria assinante do “Memorial

dos Coronéis” de 1954.

Preparação para o golpe

Entretanto, diante das tentativas de militares favoráveis às reformas, organizadas pelo general Assis Brasil – ministro da Casa Militar – e de elaborar um programa de apoio a Jango e

Marcha da Familia com Deus pela Liberdade.

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diante das mobilizações do governo, como o comício de 13 de março em frente à Estação Central do Brasil no Rio de Janeiro, os setores militares de oposição e com situação de comando dentro do Exército decidiram-se pela conspiração contra João Goulart. O golpe começou a ser articulado e, entre seus defensores, estava o general Castelo Branco, chefe do Estado-maior do Exército. A radicalização levou o conflito social a interiorizar-se nas Forças Armadas. A Associação dos Marinheiros declarou-se em “assembléia permanente”, o que significava a recusa em apresentar-se às unidades da Marinha. A situação era intolerável para os militares, ferindo o princípio básico da hierarquia militar e desgastando definitivamente o governo.

O “motim” dos marinheiros apressou o golpe militar. No dia 31 de março de 1964, o general Olímpio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar em Juiz de Fora, reuniu as tropas de Minas e marchou em direção ao Rio de Janeiro (onde Goulart se encontrava) para pressionar o comandante do I Exército a aderir. O comandante do II Exército (São Paulo) aderiu ao general Olímpio. Além disso, os governadores Carlos Lacerda (RJ), Magalhães Pinto (MG) e Ademar de Barros (SP) deram completo apoio ao movimento armado.

Os grupos nacionalistas e de esquerda não possuíam esquema de resistência. Sua reação, portanto, limitou-se a alguns focos isolados de correntes sindicais e estudantis. Goulart, em 1º de abril, rumou para Brasília e seguiu à noite para Porto Alegre, recusando as propostas de revide ao movimento militar feitas por Leonel Brizola. Ainda no dia 1º, com o presidente Constitucional João Goulart em território brasileiro, o presidente do senado, Auro de Moura Andrade, declarou o cargo da presidência da República vago e nomeou Ranieri Mazzilli (presidente da Câmara Federal) como novo presidente do Brasil.

No dia 8 de abril, o alto comando da Revolução (denominação militar para o golpe que afastou o presidente legítimo, pois fora eleito pela população), formado pelo general Costa e Silva, almirante Augusto Rademaker e brigadeiro Correia de Melo, decretava o Ato Institucional nº 1 (poder excepcional usado de forma ilegal, pois não constava no termo constitucional), autorizando o Congresso a eleger novo presidente. A 15 de abril de 1964, o Alto Comando designou, com aprovação do Congresso, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco como novo presidente da República do Brasil.

Regime Militar (1964-1985)

Castelo Branco (1964-1967)

Com o golpe militar de 1964, iria começar uma fase de desenvolvimento que foi caracterizada como “modernização conservadora”. A “modernização conservadora” consistia na realização de novos ajustes na economia que permitissem o desenvolvimento urbano-industrial e a concentração de renda, em benefício das elites, através da livre empresa com o intervencionismo do Estado.

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Esse projeto correspondia ao modelo de um governo militar autoritário. Coube ao marechal Castelo Branco realizar as primeiras reformas. De posse do Ato Institucional nº 1, estabelecido pelo Comando Supremo da Revolução, que suspendia as garantias constitucionais por sessenta dias, Castelo Branco cassou os direitos políticos de João Goulart, Leonel Brizola, Celso Furtado, Miguel Arraes, Darci Ribeiro, Juscelino Kubitchek e Jânio Quadros e também extinguiu a Frente

Parlamentarista Nacionalista e as organizações que apoiavam as Reformas de Base: o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), o PUA (Pacto de Unidade e Ação) e as Ligas Camponesas.

Enquanto isso, sindicatos e associações proletárias foram interditados, com nomeações de interventores do governo. Ao mesmo tempo, operários, camponeses e estudantes foram presos, perseguidos, exilados, sob a acusação de subversivos da ordem. Nessa mesma linha, os processos políticos passavam a ser julgados pela Justiça Militar. A cassação de JK, no último dia de vigência do AI-1, mostrava os contornos do regime, isto é, tratava-se de uma ordem institucional na qual as lideranças burguesas seriam afastadas do novo processo de organização do Estado.

O governo do marechal Castelo Branco optou pelo fortalecimento do Executivo, bem como pela segurança do Estado. Para isso, criou-se o SNI (Serviço Nacional de Informações), encarregado de vigiar os inimigos do regime militar, localizá-los e prendê-los.

Dentro dessa perspectiva, a política de segurança justificava o AI-1, a prorrogação do mandato de Castelo Branco (portanto, o cancelamento das eleições presidenciais de 1965) e uma verdadeira guerra aos oponentes do regime. Outro AI, o nº 2, seguiu-se após a derrota dos candidatos do governo às eleições para governador (os governistas perderam em cinco dos onze Estados brasileiros). O AI-2 dissolvia os partidos políticos, criando o bipartidarismo: Arena (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro), o partido oficial de oposição que, entretanto, teve problemas para se formar, pois o número de deputados e senadores era pequeno, quase inviabilizando sua implantação.

O AI-2 concedia plenos poderes ao presidente: cassar mandatos, decretar estado de sítio sem prévia autorização do Congresso, autorizar fechamento do Poder Legislativo, intervir nos Estados e municípios. A justificativa para esses atos era “prever ou reprimir a subversão”. Por trás dessas repressões estava a “jovem oficialidade”, composta principalmente pelos coronéis de Exército, empenhados na “pureza de princípios revolucionários”, ou seja, na eliminação dos vestígios do governo anterior. A posição política desse grupo militar ficou conhecida como “linha dura”, isto é, aqueles militares favoráveis à resolução dos problemas políticos pela truculência de ações repressivas.

A forma da “linha dura” foi testada várias vezes (quando ocorreram o AI-1, AI-2, SNI, fim dos partidos), mas, sem dúvida, a indicação do ministro da Guerra, general Artur da Costa e Silva, para presidente marcava de forma decisiva a presença dessa corrente militar. O

Presidente Castello Branco

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Congresso, no dia 3 de outubro de 1966, elegeu Costa e Silva, com a presença apenas de deputados e senadores arenistas, pois o MDB, mesmo sendo uma oposição consentida, não compareceu.

Constituição de 1967

Um incidente marcou o fim do governo Castelo Branco (15 de abril de 1964 a 15 de março de 1967) de forma dramática. O presidente da Câmara não aceitou as últimas cassações de políticos feitas pelo marechal. Esse fato constituiu-se num desafio do poder militar e, sob o comando do coronel Meira Matos, o Congresso foi fechado. Quando, em 1967, reabriu-se o Congresso, deputados e senadores tiveram que aprovar a nova Constituição, redigida por juristas do governo, que entrou em vigor com o novo presidente.

A Constituição de 1967 (sexta do país e quinta da República) concedeu poderes excepcionais ao presidente. Além daqueles concedidos pelos Atos Institucionais, o Executivo tinha exclusividade para propor projetos de leis sobre segurança e orçamentos governamentais. A redução da autonomia dos Estados se consolidava na medida em que os governadores eram eleitos indiretamente, ou seja, o presidente indicava o governador e as Assembléias Legislativas dominadas pela Arena, aprovavam a indicação. Assim também, em muitos municípios considerados “área de segurança nacional”, os prefeitos eram nomeados através de um acordo entre o presidente e os governadores. Evidenciavam-se, portanto, o enfraquecimento da Federação e a conseqüente centralização políticas nas mãos do presidente da República.

Nessa Carta Constitucional também se incluíram a Lei de Imprensa (os meios de comunicação estavam sujeitos a processo com julgamento na Justiça Militar sobre qualquer notícia considerada pelos golpistas como “atentado à subversão da ordem”) e a Lei de Segurança Nacional (enquadramento na Justiça Militar dos opositores ao regime).

Costa e Silva (1967-1969)

O governo Costa e Silva (15 de março de 1967 a 31 de agosto de 1969) contou com reações da sociedade brasileira contra a ditadura militar. Políticos cassados e marginalizados do poder formaram a Frente Ampla (1967) – organização extra-parlamentar, composta por Carlos Lacerda, João Goulart, Juscelino Kubitschek, líderes estudantis e operários contra a ditadura. O programa, de caráter eminentemente político, incluía anistia geral, Constituição democrática e eleições diretas para todos os níveis. Embora a Frente Ampla tenha fracassado, de qualquer forma representava o descontentamento com o regime pelo conjunto da sociedade brasileira.

Presidente Costa e Silva

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As manifestações cresceram em 1968. Mesmo com a forte repressão, os estudantes realizavam passeatas de protesto contra a ditadura. Entretanto, num desses movimentos, o estudante Edson Luís morreu em choque com a polícia. Em vez de se intimidarem, os estudantes conseguiram organizar, no Rio, a Passeata dos Cem Mil, que se tornou a maior manifestação pública ao governo militar.

Outros movimentos de oposição ocorreram em todo país. Enquanto a política econômica reduzia os salários, a população brasileira organizava atos de repúdio à administração da ditadura, com as greves operárias de Osasco (SP), Contagem (MG) e a oposição parlamentar no Congresso.

As promessas de democracia do governo Costa e Silva não se concretizaram. Pelo contrário, o regime mostrou, no episódio de cassação do deputado Márcio Moreira Alves, a sua tendência ao endurecimento. Pressionado pela “linha dura”, diante das manifestações públicas e das insubordinações dos políticos, Costa e Silva, no dia 13 de dezembro de 1968, depois de fechar o Congresso, editou o AI-5: esse novo ato conferia as mesmas atribuições ao presidente já feitas pelo AI-2, mas acrescentava as de confiscar bens em caso de “enriquecimento ilícito” e de não conceder o direito de habeas corpus aos indivíduos enquadrados na Lei de Segurança Nacional.

É importante observar, entretanto, que a consolidação da ditadura contava com o apoio dos setores empresariais (agrícola e industrial), dos EUA, das multinacionais e dos banqueiros internacionais.

Emílio Garrastazu Médici (1969-1974)

Após o afastamento e morte de Costa e Silva, assumiu o comando do Brasil uma Junta Militar da qual fazia parte o General Emílio Garrastazu Médici. Eleito presidente, assumiu 30 de outubro de 1969 e governou até 15 de março de 1974. Sua presidência foi marcada por contínuas manifestações de oposição à ditadura. A resposta foi a extrema repressão a

qualquer movimento de contestação à ordem militar, quer de forma radical, quer de modo liberal ou moderado.

Diante dessa situação, surgiram vários grupos oposicionistas que partiram para a luta armada contra a ditadura. A guerrilha urbana foi deflagrada por grupos como a VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária), comandada pelo ex-capitão do Exército, Carlos Lamarca; a ALN (Aliança Libertadora Nacional), liderada por Carlos Marighella, ex-membro do PCB; o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro – em homenagem ao dia da morte de Che Guevara na Bolívia); e, no início da década de 70, o PC do B (Partido Comunista do Brasil, de orientação chinesa) que organizou uma guerrilha rural na região do Araguaia, no sul do Pará.

Seguia-se uma onda de seqüestro, assaltos a bancos e execuções políticas

Presidente Médici

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realizados pelos grupos guerrilheiros em resposta ao endurecimento da ditadura. Em contraposição, os setores militares empreenderam uma violenta ação repressiva. Assim, qualquer movimento oposicionista passava a ser indicado como “comunista”, “terrorista”, “subversivo” e recebia tratamento duro: como prisões, tortura, execuções indiscriminadas. Como desdobramento dessas ações, o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) realizava prisões e até sofisticava métodos de tortura, além de realizar pesquisas, sobre forma mais adequadas e eficientes de se obter a confissão de presos políticos.

Ainda em 1969, os setores repressivos mataram Carlos Marighella (em circunstâncias desconhecidas), ao mesmo tempo em que o governo implantava o decreto lei 477 através do qual proibiu estudantes, professores e funcionários, principalmente das Universidades, de realizarem qualquer manifestação política.

Essas ações coercitivas eram justificadas como garantia para a defesa do Estado e da estabilidade econômica. Foi desse período o desenvolvimento do “milagre econômico”, uma estratégia de expansão industrial, beneficiando a elevação dos lucros das elites e classes médias altas, enquanto o poder aquisitivo das classes trabalhadoras em geral, se reduzia

O "Milagre Econômico"

O clima de “euforia desenvolvimentista” valeu-se até do ingrediente do futebol – paixão nacional – com a conquista pela seleção brasileira do terceiro título mundial de futebol em 1970. Para capitalizar esse êxito a seu favor, o governo lançou uma campanha publicitária ufanista: “Ninguém segura esse país”. O êxito na luta contra a guerrilha contribuiu para o outro slogan, revelador da profunda intolerância reinante no país: “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

Outra característica do governo Médici foi a inauguração de estradas com o mesmo efeito do “milagre econômico”: rápido e de importância duvidosa. Estão nesse caso a ponte Rio-Niterói e a Transamazônica. Em resumo, o governo do terceiro general-presidente ficou marcado

pela repressão e pela Doutrina de Segurança Nacional. Esses dois traços vinculavam-se à outra doutrina: a do desenvolvimento a qualquer custo. No entanto, o “milagre econômico” mostrava, nos fins de 1973, sinais de abalo em alguns setores industriais, provocando um aumento da inflação. Então, o ministro da Fazenda, Delfim Neto, alterou os dados para que a taxa inflacionária se aproximasse dos 12% que o governo havia previamente estabelecido. Assim, conseguia-se o “desenvolvimento a qualquer custo”, ou seja, manipulavam-se os dados inflacionários para legitimar o modelo econômico em decadência.

Médici indicou o general Ernesto Geisel para sucedê-lo na presidência, comunicando sua decisão ao Colégio Eleitoral. Esse colégio compunha-se de 127 deputados indicados pelas

Charge fazendo referência ao Milagre Econômico.

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Assembléias Legislativas, 310 deputados federais e 66 senadores. Assim, Geisel foi eleito por 400 votos, contra seu concorrente, Ulysses Guimarães (um dos líderes do MDB), que obteve 76 votos.

Ernesto Geisel (1974-1979)

O período Geisel (15 de março de 1974 a 15 de março de 1979) encontrou esgotado o modelo do “milagre econômico”: início de uma nova crise do sistema capitalista expressa na crise do petróleo. Essa conjuntura mostrava os limites de um modelo econômico calcado em uma fonte de energia esgotável com o petróleo. Por seu estilo autoritário e personalista, Geisel centralizou todas as decisões governamentais em suas mãos.

Diante das dificuldades econômicas tornaram-se freqüentes as insatisfações das classes trabalhadoras, manifestadas nas eleições legislativas (Câmara Federal e Senado) de 1974, com a obtenção pelo MDB de vitórias significativas, principalmente nos grandes centros urbanos. A reação dos militares de “linha dura” voltou-se contra o início de uma tímida abertura política, como ocorreu nas eleições e na gradativa retirada da censura prévia aos jornais, revistas, rádios, televisão que vinham sendo controlados desde a implantação do AI-5 (dezembro de 1968).

Em 1975, o descontentamento da oficialidade mais radical manifestou-se através das prisões em massa realizadas pelo comandante do II Exército, general Ednardo D’Ávila de Mello, que arbitrariamente prendeu professores, intelectuais, jornalistas, engenheiros, médicos e operários, submetendo-os a torturas nos porões do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna, que era o organismo de espionagem dos setores militares).

A tortura nos interrogatórios acabou por matar o jornalista Wladimir Herzog. O crime foi justificado pelo comandante do II Exército como “suicídio”. Esse episódio somado a outra morte, a do operário Manuel Fiel Filho nas dependências do DOI-CODI, também classificado como “suicídio”, exigiu do general Geisel uma postura enérgica, resultando na exoneração do general Ednardo.

Ernesto Geisel.

Vladimir Herzog, morto nos porões do Regime MIlitar

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Essa atitude de Geisel demonstrou o controle sobre as situações políticas e sobre as tropas. O governo, no entanto, investiu também sobre as oposições. O decreto da Lei Falcão – que proibia a propaganda eleitoral como conhecemos hoje no rádio e na televisão, para evitar uma derrota da Arena – demonstra os limites da abertura política, prevista por seus planejadores para se “lenta, gradual e segura”.

A “lentidão” significava que o controle e as regras do jogo político eram dados pela centralização governamental. Mas os descontentamentos populares faziam crescer as greves, as manifestações de amplos setores das classes proletárias, especialmente dos metalúrgicos. Por sua vez, o MDB, estimulado pelas vitórias de 1974, passava a representar as insatisfações gerais da população brasileira. Diante dos crescentes protestos, Geisel colocava sempre como condição do processo de redemocratização do país a vitória a qualquer custo da Arena, partido governista.

O fechamento do Congresso

Sentindo-se ameaçado com a recusa pelo MDB da Reforma do Judiciário, proposta pelo governo, Geisel fechou o Congresso Nacional e lançou o Pacote de Abril de 1977. Esse pacote serviu para legitimar não só a reforma judiciária, mas também para estabelecer as seguintes medidas:

- as eleições para governador continuariam indiretas;

- 1/3 do Senado seria eleito por escolha indireta, ou seja, o presidente indicava o nome dos senadores sem passar por eleições, expediente que assegurava ao governo ter homens de sua inteira confiança (esses senadores indiretos receberam o nome “biônicos”);

- alteração nas regras eleitorais, como limitação do número de deputados por Estado, o que diminuía a representatividade dos grandes Estados, como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, ou seja, os maiores opositores ao regime. Aumentava-se, portanto, a importância dos Estados menores, onde a Arena possuía maiores possibilidades de vitórias eleitorais;

- o mandato do próximo presidente passava de cinco para seis anos;

- a revogação do AI-5.

João Figueiredo (1979-1985)

A administração Figueiredo (15/03/79 à 15/03/1985) responsabilizou-se pelas tentativas de transição democrática entre um regime de ditadura e um de liberdade democrática calcada em leis e na participação popular. Diante dos primeiros sinais democráticos, os grupos conservadores mais radicais começaram com ações terroristas contra e efetivação da abertura política.

Em 1980 iniciaram-se as ações de violência dos grupos de direita, com incêndios em bancas de jornais de Minas Gerais e São Paulo, com o propósito de aterrorizar os proprietários para que estes não vendessem em suas bancas publicações indicadas como “subversivas” (o jornal Movimento foi o mais visado pelos direitistas). Em julho, na visita do Papa João Paulo II ao Brasil, o jurista Dalmo Dallari (opositor ao regime militar) foi seqüestrado e agredido por homens desconhecidos, a fim de impedir seu discurso ao Papa.

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No segundo semestre de 1980, houve atentados a bomba no Rio de Janeiro: primeiro, na OAB (em sua sede no Conselho Federal), o que provocou a morte de uma funcionária e, segundo, na Câmara Municipal (na sala de um vereador peemedebista), mutilando um funcionário.

No dia 30 de abril de 1981, no Rio de Janeiro, um show comemorativo ao Dia do Trabalhador, ocorreu a explosão de uma bomba no colo de um sargento do Exército, provocando sua morte imediata e ferindo gravemente um capitão que dirigia um carro de “chapa fria” – placa falsa. Tudo indicava que ambos estavam no Riocentro (local do show) para ações terroristas.

O desdobramento político do atentado foi o pedido de demissão do general Golbery do Couto e Silva do Ministério da Casa Civil. Sua saída deveu-se à não punição dos responsáveis envolvidos no atentado. Esse militar era o principal articulador da abertura política, que prosseguiu com o seu substituto no ministério, Leitão de Abreu.

As interpretações, na época, indicavam que esses atentados eram praticados por força policial – militares responsáveis pelas torturas, prisões e assassinatos de prisioneiros políticos, que temiam os possíveis revanchismos criados pelas perspectiva de redemocratização. Mas a abertura prosseguiu. O governo Figueiredo concedeu anistia (1979) parcial e restabeleceu o pluripartidarismo (1980), a partir da reforma partidária iniciada em 1979. Em ambos os casos, tentava dividir as forças oposicionistas.

Renascimento dos partidos políticos

Nesse contexto, surgiram o PP (Partido Popular, que mais tarde se fundiu com o PMDB); o PTB (sob o comando de Ivete Vargas); o PDT (liderado por Leonel Brizola) e o PT. Este último, Partido dos Trabalhadores, nasceu da organização dos sindicatos metalúrgicos do ABC Paulista, tendo como líder Luís Inácio Lula da Silva. Os limites da reforma partidária ficaram evidente com a proibição de legalização dos partidos comunistas.

A partir de 1983, articulou-se um movimento para eleições presidenciais diretas, que só conquistou a adesão popular em 1984, ano da escolha do sucessor de Figueiredo. Popularizado com o nome de “Diretas Já”, o movimento provocou as maiores concentrações populares já registradas na história do país. Seus maiores êxitos foram as manifestações de 10 de abril, na Candelária no Rio, e de 16 de abril, Anhamgabaú em São Paulo (com mais de 1 milhão de pessoas em cada). Essas manifestações revelaram o enorme descontentamento popular com o regime implantado em 64.

Presidente Figueiredo

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No entanto, a emenda do deputado Dante de Oliveira (PMDB-MS), que restabelecia as eleições diretas para presidência da república, foi rejeitada em 25 de abril de 1984, pois o PDS (cujo o presidente na época era José Sarney) articulo-se de forma coesa, impedindo a vitória da emenda. A partir desse momento, o PMDB lançou Tancredo Neves como candidato oposicionista para concorrer ao cargo presidencial pelo Colégio Eleitoral. Como candidato do regime, o deputado Paulo Salim Maluf foi escolhido pela Convenção da Arena sem, no entanto, contar com a aprovação de Figueiredo e seu governo.

Tancredo contava com amplo apoio dos setores empresariais, classe média e alguns setores da classe proletária. Numa clara manobra para viabilizar a eleição oposicionista, a mesa do Senado decidiu que o voto de cada membro seria dado de pé e em voz alta. Assim, Tancredo elegeu-se no dia 15 de janeiro de 1985, com 480 votos, contra 180 dados a Maluf e 26 abstenções.

Mas as articulações para essa aliança sofreram um duro golpe. Com um tumor nos intestinos, Tancredo Neves foi internado no dia 14 de março, véspera da posse, no Hospital de Base de Brasília. Transferido para São Paulo, sofreu uma série de cirurgias, vindo a falecer no dia 21 de abril, vítima de septicemia.

Nova República (1985...)

José Sarney (1985-1990)

As primeiras medidas do governo que assumiu em 15 de março de 1985 foram tomadas no campo político. Emendas à constituição então vigente, aprovadas no dia 8 de maio de 1985, estabeleceram:

Diretas Já

Tancredo Neves

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- eleição direta do presidente da República na sucessão de José Sarney, em data a ser marcada pela Assembléia Nacional Constituinte;

- eleição direta para prefeito das capitais em 15 de novembro de 1985;

- eleição direta para prefeito dos municípios considerados áreas de segurança nacional;

- eliminação da fidelidade partidária, por meio da qual o político não tem a obrigatoriedade de permanecer tempo determinado dentro de um partido político, tendo a liberdade de mudar a qualquer momento;

- direito de voto aos analfabetos;

- liberdade de criação de partidos políticos, facilitando a legalização dos partidos até então impedidos de funcionar (por exemplo, os partidos comunistas);

- direito de representação política aos moradores do Distrito Federal, com oito deputados e três senadores.

O principal acontecimento político do governo de José Sarney foi a elaboração de uma nova constituição para o

país, realizada por uma Assembléia Nacional Constituinte, eleita em 15 de novembro de 1986. A Assembléia Nacional Constituinte iniciou seus trabalhos em 1º de fevereiro de 1987. Até o término das votações, em 1° de setembro de 1988, transcorreram 19 meses de

intensos debates. As discussões foram marcadas por uma série de conflitos entre os grupos conservadores, reunidos no Centro Democrático (“Centrão”), e os progressistas, formados pelos partidos de esquerda (PT, PC, PC do B, PDT) e por uma parte do PMDB.

Constituição de 1988

- salário - ao sair de férias o trabalhador tem direito a um abono igual a 33% de seu salário; o empregado demitido deverá receber uma indenização correspondente a 40% de seu FGTS;

- direito de greve - tornou-se, praticamente, irrestrito;

- jornada e trabalho semanal baixou de 48 para 44 horas;

- aposentadoria - os aposentados passam a receber 13° salário; nenhuma aposentadoria será inferior a um salário mínimo; a aposentadoria será igual ao valor médio dos últimos 36 salários corrigidos mensalmente de acordo com a inflação;

- licença-maternidade - passa de 90 para 120 dias; passa a existir a licença-paternidade, inicialmente de cinco dias.

Outras mudanças constitucionais consideradas importantes foram: o estabelecimento de dois turnos nas eleições para presidente, governadores e prefeitos de municípios com mais de duzentos mil eleitores; o voto facultativo a partir dos 16 anos (a partir dos 18 é obrigatório até se completar 65); o limite de 12% ao ano para as taxas de juros; o fim da censura a rádio, televisão, cinema, etc.; a proteção ao meio ambiente; o mandato de cinco anos para o presidente da República, reduzido para quatro anos a partir de 1995; eleições diretas para presidente da República a partir de 1989.

A Constituição de 1988 não trouxe avanço, porém, em relação à reforma agrária, pois determina que as propriedades consideradas produtivas não podem ser desapropriadas.

José Sarney

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Plano Cruzado e outros planos

No campo econômico, o governo Sarney causou impacto ao anunciar, em 28 de fevereiro de 1986, o Plano de Estabilização Econômica (Plano Cruzado), cujas principais medidas foram: congelamento de preços; substituição do cruzeiro pelo cruzado; “gatilho” salarial, determinando que os salários seriam reajustados sempre que a inflação chegasse a 20%.

O entusiasmo pelo congelamento dos preços - populares, na função de “fiscais do Sarney”, controlavam os preços e denunciavam os infratores - durou pouco. Logo as mercadorias começaram a sumir das lojas; empresários faziam pequenas modificações (“maquiagem”) nos produtos para vendê-los por preços mais elevados; fazendeiros negavam-se a vender os bois pelo preço de tabela; o ágio - cobrança além da tabela - alastrou-se; o valor dos aluguéis novos disparou.

Apesar desses problemas, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) obteve significativa vitória nas eleições de 1986: elegeu 22 entre os 23 governadores e conseguiu folgada maioria no Congresso Nacional.

Passadas as eleições, no final de 1986, as medidas do Plano Cruzado perderam toda a eficácia, a inflação voltou a subir e iniciou-se um novo período de crise econômica. O ministro da Fazenda, Dílson Funaro, responsável pelo Plano Cruzado, demitiu-se e foi substituído por Luís Carlos Bresser Pereira. Este tentou, sem sucesso, debelar a crise, e acabou por sair do governo no final de 1987. Seu sucessor, Maílson da Nóbrega, retomou o pagamento dos juros da dívida externa e as negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI), interrompidos na gestão de Funaro. No plano interno, a inflação atingiu taxas altíssimas (934% em 1988), agravando-se a crise de desemprego e o descontentamento geral da população com a situação econômica do país.

Em janeiro de 1989 foi decretado um novo plano econômico - o Plano Verão - que determinava o congelamento de preços e salários e substituía o cruzado pelo cruzado novo. Mas também não deu resultados e a inflação voltou a subir.

No último mês do governo Sarney, março de 1990, a inflação correspondente ao período de 15 de fevereiro a 15 de março atingiu o recorde histórico de 84,32%, chegando ao índice acumulado de 4 853,90% nos 12 meses anteriores.

Durante a Constituinte, Sarney havia lutado com unhas e dentes para conseguir cinco anos de mandato. Houve até acusações de que, em troca do quinto ano, teria distribuído numerosas concessões de rádio e televisão aos deputados constituintes. Seu último ano de governo acabou sendo desastroso para o país.

Sua falta de autoridade tornou a administração federal terra de ninguém, onde cada grupo participante do poder procurava benefícios para si e para os amigos.

Multiplicaram-se os escândalos financeiros, com desvio de dinheiro público para particulares, e, numa visão estreita de administração, polpudos recursos foram canalizados para o estado natal do presidente, onde foram iniciadas grandes obras: Ferrovia Norte-Sul, Usina Siderúrgica do Maranhão, Base Espacial de Alcântara, etc.

Broche com o lema do Plano Cruzado

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Como resultado, a credibilidade do governo desceu praticamente a zero e, nas eleições de 1989, todos os candidatos procuraram fazer oposição ao governo Sarney, buscando com isso aumentar suas chances eleitorais junto à população.

Eleições de 1989

Depois de 29 anos de presidentes impostos, os eleitores tendiam a dar sua preferência

aqueles candidatos que apareciam como “novos”, “modernos”, que prometiam acabar com a fonte de privilégios em que se transformara o governo federal. Tais tendências favoreceram de modo especial três candidatos: Fernando Collor de Mello, Luís Inácio Lula da Silva e Leonel

Brizola. Collor havia sido

prefeito nomeado de Maceió, deputado federal e governador de Alagoas. Neste cargo, mediante uma bem articulada campanha publicitária, adquiriu a fama de “caçador de marajás”, de perseguidor implacável do superfuncionário que tem vários empregos públicos e grandes salários, de moralizador da administração pública.

Saiu candidato pelo recém-criado e pouco expressivo Partido da Reconstrução Nacional (PRN), com o apoio de outros pequenos partidos. Baseou a campanha em sua juventude (quarenta anos), em seu distanciamento dos políticos tradicionais (que dizia combater, apesar de contar com o apoio de muitos deles), em sua oposição ao governo Sarney, em sua independência em relação aos grandes grupos econômicos (cujo apoio fazia questão de recusar, apesar de terem sido os financiadores de sua campanha), em suas promessas de governar para os descamisados e os pés-descalços.

Lula foi o candidato da Frente Brasil Popular, uma aliança que reuniu o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Comunista do Brasil (PC do B) e o Partido Socialista Brasileiro (PSB).

Também jovem (44 anos), metalúrgico e líder sindical, propunha-se a desenvolver uma política democrática que rompesse com o passado, favorecesse os trabalhadores, promovesse o crescimento do mercado interno juntamente com a elevação do padrão de vida das classes populares, desse prioridade aos serviços sociais do Estado (educação, saúde, moradia, seguridade social, etc.), submetesse a dívida externa ao controle soberano do governo brasileiro e enfrentasse a hiperinflação sem causar recessão.

Brizola, candidato do Partido Democrático Trabalhista (PDT), consolidou seu apoio especialmente no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, estados em que foi governador e onde gozava de muito prestígio. Centralizou suas propostas de governo em dois pontos principais: o combate às perdas internacionais (juros da dívida externa e remessa de dólares

Debate no 2º turno das Eleições de 1989.

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ao exterior), que afirmava serem a principal causa da inflação, e a educação, prometendo construir Centros Integrados de Educação Pública (Cieps) por todo o país, para que nenhuma criança ficasse sem escola.

Entre os 22 (contudo, Sílvio Santos teve sua candidatura impugnada) candidatos, destacaram-se ainda: Mário Covas, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), formado por políticos que deixaram o PMDB; Paulo Maluf, do Partido Democrático Social (PDS); Guilherme Afif Domingos, do Partido Liberal (PL); e Ulysses Guimarães, do PMDB.

Dos 82 milhões de eleitores inscritos, aproximadamente 10 milhões (cerca de 12%) não compareceram às urnas e outros 4,6 milhões votaram em branco ou anularam o voto.

Brizola venceu no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina; Lula venceu no Distrito Federal e Collor foi vitorioso em todos os demais estados. Com esses resultados, Collor e Lula disputaram o segundo turno, em 17/12/89. Collor contava com o apoio dos partidos situados mais à direita, como o PDS, o PFL e o PTB; e Lula, com o apoio dos partidos de esquerda, como o PDT o PSDB e o PCB.

Apurados os votos, Lula venceu no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul, em Pernambuco e no Distrito Federal, sendo Collor vitorioso nos demais estados. Os resultados finais foram os seguintes:

Candidato Total de votos % sobre o total

Collor 35 089 998 42,75

Lula 31 076 364 37,86

Brancos 986 446 1,20

Nulos 3 107 893 3,79

Abstenções 11 814 017 14,39

Total 82 074 718 100,00

Fernando Collor 1990-1992

Collor assumiu a presidência da República no dia 15 de março de 1990, com muita pompa e a presença de mais de uma centena de delegações estrangeiras.

A expectativa era grande. Já antes da posse o próprio governo Sarney decretara um feriado bancário de três dias (14, 15 e 16 de março), o que fazia prever que medidas importantes seriam tomadas. No próprio dia da posse, Collor assinou algumas medidas visando à reforma administrativa: extinção de ministérios e substituição de outros por secretarias especiais; extinção e privatização de empresas estatais; venda de imóveis do governo, etc.

Polêmica do Plano Collor.

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No dia seguinte, seria a vez do “choque econômico”. Entendendo que a causa principal da inflação era o excesso de dinheiro em circulação, o que provocava intensa especulação financeira, o novo governo determinou o bloqueio de parte considerável desse dinheiro depositado em contas correntes, cadernetas de poupança e outras aplicações, tanto de pessoas físicas quanto de empresas. Isto é, acabou por fazer exatamente o que, durante a campanha, havia acusado seu adversário de pretender fazer, acusação que certamente tirou muitos votos de Lula (e o que fez desaparecer os eleitores de Collor. Você conhece alguém que, abertamente, diga que votou no Collor?).

As principais medidas do Plano Collor foram as seguintes:

- moeda - extinção do cruzado novo e volta do cruzeiro;

- salário - teriam seu reajuste prefixado todo dia 15 de cada mês;

- preços - deveriam voltar aos níveis do dia 12 de março, passando a ser prefixados todo dia 1º a partir de maio;

As medidas tiveram julgamento altamente favorável em pesquisas de opinião pública. Entre especialistas e políticos, as reações concentraram-se em dois pontos. Primeiro, as medidas tendentes a conter a inflação foram consideradas necessárias, porém sua dosagem foi julgada excessiva, particularmente no tocante às cadernetas de poupança e às contas correntes. Segundo, questionou-se de modo especial a constitucionalidade de algumas medidas e a prepotência do presidente ao impô-las de forma autoritária e ao utilizar a Polícia Federal para fiscalizar sua execução.

O plano econômico do novo governo foi baixado através das chamadas medidas provisórias, que são instrumentos legais previstos na Constituição de 1988 para casos de relevância e urgência. Essas medidas são enviadas ao Congresso, onde devem ser apreciadas e votadas em 30 dias, podendo ser reeditadas em caso de não apreciação. As principais medidas provisórias do governo Collor foram aprovadas pelo Congresso praticamente sem modificações.

A equipe econômica do presidente Collor, no entanto, não conseguiu atingir os objetivos previstos: eliminar a inflação e dar ao país estabilidade econômica. Diante do fracasso de sua política, a ministra da Economia Zélia Cardoso de Mello demitiu-se em maio de 1991, sendo substituída pelo embaixador brasileiro em Washington, Marcílio Marques Moreira.

O propósito do novo ministro era conduzir a economia através de medidas progressivas e não de choques ou congelamento de preços. Outra prática adotada foi a de liberar progressivamente os preços de produtos e serviços. A seriedade de Marcílio e seu estilo garantiram certo grau de confiança por parte da população. Mas a inflação não vinha cedendo como era esperado. No primeiro semestre de 1992 ainda estava em torno de 23% ao mês.

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A mais grave conseqüência das medidas em prática pela equipe da ministra Zélia e mantidas por Marcílio Marques Moreira foi uma profunda recessão, isto é uma diminuição

acentuada da atividade econômica, sobretudo industrial. O desemprego alcançou os maiores índices das últimas décadas. Os salários, por sua vez, perderam grande parte de seu valor.

No início de 1992, graves denúncias de corrupção, envolvendo importantes funcionários do governo, foram levantadas pela imprensa. O presidente Collor exigiu então a renúncia de todos os ministros, a fim de poder escolher outros. Da equipe mais antiga, apenas os ministros da Agricultura e da Economia foram mantidos.

Apesar da troca de ministros, as denúncias de corrupção continuaram. A situação ficou mais grave ainda no início de 1992. O próprio irmão do presidente, Pedro Collor, acusou Paulo César Farias, o PC, de estar exigindo contribuições em dólares de grandes empresários em troca de favores do governo. PC Farias comandava o esquema de corrupção, com a conivência do próprio presidente, que recebia parte do dinheiro obtido.

Diante de tantas denúncias, em 25 de maio de 1992, o Congresso Nacional constituiu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as acusações. Depois de muitas investigações de cheques, declarações de imposto de renda, notas fiscais e contas bancárias e de ouvir muitas pessoas, a CPI descobriu como funcionava o “Esquema PC”.

A CPI, depois de analisar inúmeros documentos, estimou que o esquema de corrupção chefiado por Fernando Collor e comandado por PC Farias movimentou, em dois anos e meio, cerca de 260 milhões de dólares. Em trinta meses, Fernando Collor chegou a receber 10,6 milhões de dólares, ou seja, a incrível quantia de 350 mil dólares por mês.

No dia 29 de setembro de 1992, a Câmara autorizou a abertura de processo contra o presidente Fernando Collor, que foi imediatamente afastado do cargo.

Três meses depois, no dia 29 de dezembro de 1992, o Senado, com base no processo, reuniu-se para julgar o presidente. Vendo que não havia possibilidade de ser absolvido, Collor

Paulo César Farias, o PC.

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enviou mensagem ao Senado renunciando à presidência da República. Apesar da renúncia, o Senado tomou a decisão de continuar o julgamento e condenou Collor por 78 votos contra apenas três. Fernando Collor perdeu então seu mandato e teve seus direitos políticos suspensos por oito anos:

No mesmo dia, o Congresso Nacional se reuniu e deu posse ao vice-presidente, Itamar Franco, como presidente da República.

Itamar Franco (1992-1994)

Durante os primeiros meses de sua gestão, o presidente Itamar Franco trocou diversos ministros no comando da política econômica, em busca de soluções que acabassem com a inflação e estabilizassem a economia, mas nada conseguiu. Em maio de 1993, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, que vinha ocupando a pasta das Relações Exteriores, assumiu o Ministério da Fazenda.

Uma jogada de alto risco: se conseguisse baixar drasticamente a inflação, estabilizando a economia, mesmo que temporariamente, teria o caminho aberto para a presidência da República; caso contrário, sua carreira política estaria encerrada.

Fernando Henrique Cardoso reuniu um seleto grupo de economistas, que haviam trabalhado em governos anteriores, para elaborar um plano gradual de estabilização, evitando os choques dos planos anteriores. De acordo com o plano traçado, a inflação continuou subindo, passando de cerca de 27% a pouco menos de 50% ao mês depois de um ano, em junho de 1994, mas caiu para cerca de 7% em julho, 2% em agosto e 1,5% em setembro, mês anterior às eleições, subindo em outubro para cerca de 2,5%.

O plano desenrolou-se em três etapas: na primeira procurou-se controlar as contas do governo, no sentido de diminuir o déficit público e aumentar as reservas no exterior; na segunda etapa, foi criada a Unidade Real de Valor (URV), um indexador que passaria a corrigir diariamente. Preços, salários e serviços, como uma espécie de moeda. A URV foi implantada em 1° de março de 1994; finalmente, em 1° de julho de 1994, foi introduzida uma nova moeda, o real, com o valor de uma URV, equivalente a 2750,00 cruzeiros reais, moeda que desapareceu.

Itamar Franco.

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O plano foi recebido com euforia pela população. Moeda estável, o consumo aumentou, o comércio cresceu, as vendas a prazo deslancharam, pois as prestações passaram a ser fixas, sem correção monetária. Entretanto, o aumento do consumo deixou o governo preocupado, temendo que a grande procura por mercadorias forçasse os preços a subir. Claro que o

crescimento do consumo poderia estimular a produção, aumentar o nível de emprego, dinamizar a economia. Mas, de acordo com a receita recessiva do governo, a saída não seria aumentar a produção e sim reduzir o consumo.

Eleições de 1994

Em 3 de outubro de 1994 realizaram-se eleições gerais para presidente da República, governadores dos estados, senadores, deputados federais e deputados estaduais. Só não houve eleição para prefeito e vereadores.

Lula começou antes a campanha, tendo realizado várias viagens, denominadas caravanas da cidadania, em diversas regiões do Brasil, procurando conhecer de perto os problemas do país.

Por isso, apareceu inicialmente com grande vantagem sobre os demais candidatos nas pesquisas eleitorais. Começando mais tarde, já que era ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso baseou a sua campanha no Plano Real. Conseguiu apoio especial daqueles setores temerosos de que uma vitória de Lula pudesse reduzir os seus privilégios, como muitas empresas de comunicação social, principalmente a Rede Globo, e as organizações empresariais dos bancos, da indústria e do comércio, que contribuíram com grandes somas para a campanha. Rapidamente ultrapassou Lula nas pesquisas de intenção de voto e manteve a vantagem até as eleições, que venceu já no primeiro turno.

Na eleição para governadores, em dez estados a definição veio já no primeiro turno. Em 17 estados, porém, nenhum candidato conseguiu a maioria dos votos válidos no primeiro turno e a disputa foi decidida no segundo turno, em 15 de novembro, entre os dois candidatos mais votados. No Rio de Janeiro, por causa do grande número de fraudes, houve novas eleições para senadores e deputados, também no dia 15 de novembro, além do segundo turno para governador.

Os partidos que mais cresceram foram: o PSDB, que passou de um para seis governadores e de 48 para 61 deputados federais; e o PT, que elegeu os seus dois primeiros

Fernando Henrique Cardoso fazendo o anúncio do Plano Real.

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governadores (Cristovam Buarque no Distrito Federal e Vitor Buaiz no Espírito Santo), aumentou o número de senadores de um para cinco e o de deputados federais de 36 para 49.

Fernando Henrique Cardoso (1995-1998)

De acordo com uma emenda constitucional que, no final de 1993, reduziu o mandato presidencial de cinco para quatro anos e antecipou a posse de 15 de março para 1° de janeiro, o novo presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, assumiu o cargo em 1º de janeiro de 1995 para um mandato que se estende até 31 de dezembro de 1998.

Os primeiros meses do governo Fernando Henrique deixaram decepcionados aqueles que haviam acreditado em suas promessas de campanha. Logo em janeiro de 1995, tomou três decisões que fizeram a sua popularidade – índice dos que consideram o seu governo bom ou ótimo – despencar de 70% para 36%, em apenas trinta dias, fato inédito na história do país.

E quais foram essas decisões? Aprovou a anistia concedida ao senador Lucena e a outros parlamentares que haviam utilizado dinheiro público para fins

particulares; aprovou o aumento de cerca de 150% em seu próprio salário e no dos ministros e parlamentares; vetou o aumento em cerca de 42% no salário mínimo, impedindo que passasse de R$ 70,00 para R$ 100,00, valor posteriormente aprovado para vigorar a partir de 1° de maio do mesmo ano.

Em fevereiro, novos problemas: as reformas à Constituição, que, juntamente com a estabilidade do real, constituíram um dos pontos essenciais do programa de governo de Fernando Henrique, sofreram forte oposição, tendo dificuldades em ser aprovadas na forma desejada pelo presidente. Em linhas gerais, as reformas propostas pelo governo Fernando Henrique eram as seguintes:

- ordem econômica – com o objetivo de atrair o capital internacional, o governo propunha o fim do monopólio estatal do petróleo, das telecomunicações e da energia elétrica com a privatização das empresas destes e de outros setores; a mudança no conceito de empresa brasileira, que passaria a incluir também a empresa de capital multinacional, desde que sediada em território nacional;

Fernando Henrique Cardoso.

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- Previdência – procurando diminuir os gastos da Previdência, o governo propunha o fim da aposentadoria por tempo de serviço, da aposentadoria proporcional (aos 30 anos), da aposentadoria especial (aos 25 para mulheres e aos 30 para homens, em determinadas profissões, como o magistério) e da aposentadoria integral para os funcionários públicos;

- reforma tributária – redefinição dos impostos proposta pelo governo, com a sua redistribuição entre as esferas administrativas federal, estadual e municipal.

Em março, dificuldades na frente internacional – acúmulo de déficits na balança comercial e na balança de pagamentos, desvalorização do real e fuga de capitais para o exterior – fizeram nossas reservas cair de cerca de quarenta para perto de trinta bilhões de dólares. Isso levou o governo a tomar novas medidas para reduzir o consumo e a aumentar as tarifas de importação sobre vários produtos, como as dos automóveis, que passaram de 20% para 70%.

Em abril, o governo seria atacado pela sua falta de iniciativa em superar a grave situação social do país, principalmente nos campos da saúde, da alimentação, da educação, da moradia, da distribuição da terra e da renda, etc. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) classificou de “assustador” o quadro de “desmanche das leis, instituições e mecanismos” que cuidam da ação social no governo federal.

O próprio ministro das Comunicações, Sérgio Motta, criou uma crise no governo ao criticar o que chamou “masturbação sociológica” na área social da administração federal, que promove levantamentos e análises, mas não age para superar a situação, como, por exemplo, promovendo “a distribuição de cestas básicas, atuação de paramédicos (profissionais de saúde que atuam em situações de emergência) e mobilização de pessoal das Forças Armadas” (Folha de S. Paulo, 19/4/95). Diante das dificuldades iniciais, Fernando Henrique promoveu um intenso processo de negociação com políticos e entidades da sociedade civil, objetivando aprovar as reformas e evitar que uma CPI investigasse o sistema financeiro, acusado de corrupção. Em 1996, conseguiu algumas vitórias no Congresso, segundo os críticos, em troca de favores políticos e econômicos. A partir de 1997, o governo FHC passou por uma série de escândalos. Isto se deveu, principalmente, em decorrência da manutenção do Plano Real, necessitando da entrada de investimentos estrangeiros para a estabilidade do Real. Com isso, várias privatizações iriam marcar o final de seu primeiro mandato. Privatizações, diga-se de passagem, que não refletiam o real valor das empresas afetadas, vendidas muito abaixo do que valiam. Uma explicação política, talvez, demonstre esta necessidade na manutenção do modelo econômico: a ascensão da esquerda, com Luís Inácio Lula da Silva (PT), candidato bi-derrotado em eleições presidenciais. Prevendo, então, uma boa perspectiva de continuísmo com a permanência dos investimentos estrangeiros, a estabilidade da moeda e, por conseqüência, o discurso “vazio” da oposição, FHC conseguiu a aprovação, pelo Congresso Nacional da Emenda da Reeleição para os cargos do Poder Executivo, tornando possível a sua própria reeleição. Diante desse quadro, FHC não teve dificuldades em sair como o grande vitorioso nas eleições de 1998. Reeleito de forma incontestável no 1º turno, FHC daria prosseguimento ao modelo econômico já implantado desde 1994.

Fernando Henrique Cardoso (1999-2002)

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Itamar Franco, ex-Presidente da República, eleito governador de Minas Gerais, em teoria, seria um forte aliado de FHC no continuísmo. No entanto, sentindo-se traído por FHC (uma vez que queria voltar a ser presidente, nas eleições de 1998), dá um calote na dívida pública de seu Estado, o que gerou instabilidade no plano econômico interno, gerando insatisfação dos investidores estrangeiros aqui instalados. Com isso, a especulação se torna irracional, dando ao Plano Real seguidas mostras de fraqueza e instabilidade, com o aumento sucessivo dos dólares que, ao final do segundo governo de FHC, chegaria ao valor improvável de aproximados R$ 4,00. Através do Banco Central são feitas tentativas, em diversos momentos, de intervenção com injeções da moeda americana para abaixar o seu valor. Estas medidas, no entanto, mostram-se frágeis diante da especulação nacional e internacional. Em meio a isso tudo, o governo FHC torna-se incapaz, até mesmo, de conseguir conter a ganância e a corrupção, bastante ativa em seu segundo mandato. É promovida a cassação do primeiro senador de nossa história (Luís Estevão), por falta de decoro parlamentar, bem como seu mal resolvido envolvimento com o juiz Nicolau dos Santos Neto, envolvido no desvio de mais de 165 milhões de dólares. Os senadores Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), Arruda (PMDB-DF) e Jader Barbalho (PMDB-PA) trocam acusações sobre a falta de sigilo no painel do Senado, o que acarreta nas suas renúncias (seriam eleitos novamente em 2002, pouco mais de 1 ano depois do caso). Com este quadro montado, inevitavelmente o povo brasileiro, demonstrando descontentamento com o governo, sistema econômico e corrupção política (exceto o caso dos eleitos acima...), na campanha eleitoral de 2002, a maior de toda a história política brasileira, ocorre um progressivo crescimento da oposição. É o que se verifica com as candidaturas de Anthony Garotinho (PSB), Ciro Gomes (PPS) e Luís Inácio Lula da Silva (PT), Rui Costa Pimenta (PCO) e Zé Maria (PSTU) – todos de oposição. O único candidato lançado, oficialmente, pelo governo foi o Ministro da Saúde José Serra (PSDB) – que se dizia ser candidato do “seu governo e não do governo de Fernando Henrique”.

Durante o pleito, realizado em 6 de outubro, foram a 2º turno os candidatos Lula (46% dos votos válidos) e José Serra (23% dos votos válidos). Aparentemente isolado, Serra presencia a formação de uma aliança reunindo os outros candidatos, direta ou indiretamente, contra a sua campanha, que representa o governo FHC. Até mesmo o PFL, aliado desde sempre ao PSDB, libera os seus correligionários a apoiarem qualquer um dos dois. O mesmo

faz o PMDB, aliado de Serra durante o 1º turno.

Luís Inácio Lula da Silva (2003-2006)

Considerado esperança para os brasileiros, em meio a uma crise de especulação externa sobre o Brasil, Lula, ex-líder sindical, acabou, com o seu carisma, conquistando o Brasil e o exterior. Com seu jeito simplório e medidas tomadas por sua equipe econômica, liderada por Guido Mantega, conseguiu segurar o dólar, com intervenções estrategicamente bem feitas. Com isso, o governo Lula conseguiu, aos

Presidente Lula

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poucos, tirar o Brasil do olhar de desconfiança, que marcou o final do governo FHC, quando o “Risco Brasil” (forma de os investidores avaliarem as possibilidades de investir no país) atingiu seu pico máximo.

O maior problema do governo Lula, no entanto, foi a denúncia promovida pelo deputado Roberto Jefferson, na época pertencente ao PTB, de um esquema gigantesco de propinas e “mesadas” que os políticos e pessoas de influencia no governo recebiam, chamando este esquema de Mensalão. O processo em si levou a denúncia de várias pessoas ligadas diretamente ao presidente, como foi o caso de José Dirceu, Ministro Chefe da Casa Civil e um dos possíveis sucessores de Lula, na época.

O caso do Mensalão não chegou a manchar a imagem do presidente que, com até certa facilidade, conseguiu sua reeleição em 2006.

Luís Inácio Lula da Sila (2007-2010)

O segundo governo Lula confirmou sua popularidade em alta. Até o recém-eleito presidente dos EUA, Barack Obama, em uma reunião com vários chefes de estado, o chamou de “o cara”. O grande problema do segundo mandato de Lula, no entanto, viria de fora. Uma crise internacional em 2008 abalou as estruturas das principais potências econômicas mundiais. Os EUA lembraram da Grande Depressão da década de 1930 neste momento. Uma nova depressão econômica abalava o mundo. O presidente, com suas atitudes interventoras na área econômica disse que o Brasil não sofreria com a onda da crise. Aqui, a onda seria uma marolinha. A frase de impacto, realmente, se concretizou de certa forma. O Brasil passou à margem da crise, não sendo afetado diretamente por ela. O que, de certa maneira, ajudou a

Figura 1Lula e Barack Obama.

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acobertar o Mensalão, que somente seria julgado no próximo governo.

Com esta situação de estabilidade econômica, o presidente Lula, com popularidade cada vez mais em alta, até cogitou a possibilidade de um terceiro mandato. E, este, de certa maneira, veio disfarçadamente com a eleição de uma sucessora. A primeira presidente mulher eleita na história do Brasil. Dilma Rousseff.

Dilma Rousseff (2011-?)

Ainda é cedo para se analisar historicamente o governo Dilma. Assim como os governos de Lula. Por isso, deixaremos a história, por si só contar o desenrolar dos episódios a partir deste governo. O que se pôde ver, de importante, é que o Brasil, como nação, agora, é um país respeitado no cenário internacional, prepara-se para sediar dois grandes eventos esportivos, a Copa do Mundo de Futebol, em 2014 e os Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro, em 2016. O processo do Mensalão levou a prisão de alguns líderes historicamente importantes do PT, como José Dirceu e José Genoíno. Muito ainda há de se fazer para melhorar politicamente o Brasil, para se acabar com o jeitinho e a corrupção.

República no Paraná

O movimento republicano e o início da República

Figura 2Posse da Presidente Dilma

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Em 1870 tinha início do movimento republicano no Brasil. São Paulo era o centro difusor da nova ideologia que poderia transformar a política nacional. Mesmo próximo dos paulistas geograficamente, os paranaenses não se estimularam com a causa republicana. Assistiam de camarote, mantendo uma saudável distância das manifestações contrárias ao imperador e favoráveis aos republicanos. O cenário se alteraria quando o Dr. Vicente Machado, importante liderança conservadora na província, aderiu à causa republicana. Politicamente, o Paraná tinha pouquíssima representatividade no cenário político brasileiro. Talvez isto se alterasse com a entrada dos republicanos. Possibilidade, portanto, a ser considerada. As lideranças locais eram representadas, à época da proclamação da República, por Vicente Machado, liderando os conservadores em conjunto com o Barão do Cerro Azul, e por Generoso Marques dos Santos, representando os liberais. Com o golpe republicano, os antigos conservadores ficaram no governo provisório, com o nome de Partido Republicano Federal. Os antigos liberais, agora Partido Republicano Paranaense, retornariam ao governo com a eleição de Generoso Marques, em 1891.

Em novembro de 1891, o presidente da República, Marechal Deodoro da Fonseca renunciou. O vice e seu rival político, Marechal Floriano Peixoto, destituiu todos os governadores estaduais que estiveram apoiando Deodoro. Com isso, Generoso Marques foi afastado e, no seu lugar, foi colocada uma junta militar. Foram convocadas eleições para 1892, nas quais foi eleito o Dr. Francisco Xavier da Silva, tendo como vice o Dr. Vicente Machado.

Em 1893 começava no Rio Grande do Sul a Revolução Federalista. Juntamente com ela, no Rio de Janeiro, estourava a Segunda Revolta da Armada. As duas revoltas eram contra o governo de Floriano,

considerado inconstitucional pelos rebeldes. A tomada de Santa Catarina, feita pelos gaúchos foi fácil. O Paraná era o próximo passo. Para isso, os rebeldes, tanto da Armada quanto da Federalista, atacariam o Estado por três frentes: Paranaguá, Tijucas e Lapa. O almirante Custódio de Mello, líder da Armada, foi para conquistar Paranaguá. Bloqueando os portos, a idéia era sufocar economicamente o estado, acabando com os suprimentos e facilitando a conquista. Sem muita resistência das tropas legalistas, Paranaguá foi facilmente tomada pelos rebeldes.

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Tijucas também foi facilmente tomada pelos maragatos. Em janeiro de 1894, já sem suprimentos e munição, as tropas legalistas renderam-se. O governo, comandado por Vicente Machado, já havia abandonado Curitiba e se estabeleceria em Castro. Por fim, a Lapa. O episódio da conquista federalista na região ficou conhecida como Cerco da Lapa. O Coronel Gomes Carneiro foi o responsável por tentar rechaçar as forças federalistas. Bravamente conseguiu resistir no início dos ataques. Porém foi ferido e morreria dois dias depois. Perdendo seu comandante, a cidade da Lapa foi tomada pelos federalistas. Curitiba era

questão de tempo.

Sem resistência e com o governador em Castro – depois fugiria para o Rio de Janeiro -, os federalistas facilmente dominaram Curitiba. Gumercindo Saraiva designou um dos seus para servir de governante provisório – Dr. Menezes Dória –

enquanto a cidade de Curitiba, liderada pelo Barão do Cerro Azul, negociava um pagamento de impostos para que não fosse a cidade e seu comércio, integralmente saqueado. Foi assim que Curitiba, durante dois meses, viveu sob a ameaça dos maragatos.

Em março de 1894, o presidente Floriano Peixoto conseguiu reverter os rumos da Revolução Federalista. A partir de São Paulo armou tropas que partiram prá cima dos federalistas no Paraná. Sem comando central, os federalistas não tiveram como combater as tropas legalistas. Com isso, passaram a fugir, em direção ao Rio Grande do Sul. Rapidamente, então, Floriano reconquistaria o sul do Brasil das mãos dos maragatos. Os governos foram reempossados, como o de Vicente Machado, que teve seu nome manchado por estar envolvido no assassinato do Barão do Cerro Azul, acusado de manter ligações com os federalistas, enquanto não havia governo estabelecido pelos legalistas.

A Questão do Contestado

O Estado do Paraná hoje faz fronteiras com São Paulo e Mato Grosso do Sul, ao norte e Santa Catarina ao Sul. Tem o Paraguai e a Argentina como países fronteiriços também. No entanto, até o início do século XX, a fronteira ao sul compreendia também o território do Rio Grande do Sul. O que ocorreu para esta mudança?

Uma região era contestada por Santa Catarina como se fosse posse sua. Esta região passaria a ser chamada de “Contestado”. Em várias ocasiões, os dois estados foram a litígio demonstrando a legalidade de sua posse na região. Santa Catarina, com mais força no cenário

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político nacional, saía com vantagem nesta disputa. Tanto que entre 1909 e 1910, vários embargos julgados deram ganho de causa a Santa Catarina. O problema é que, mesmo ganhando judicialmente, a Constituição de 1891, em vigor na época, estabelecia que problemas fronteiriços deveriam ser resolvidos politicamente, não juridicamente. Então todas as decisões tomadas na justiça não tinham validade constitucional.

Um problema a ser discutido durante a questão era que as cidades e povoados da região pretendida pelos catarinenses, era povoada por paranaenses comprometidos com o governo de Curitiba. Chegou-se a cogitar a possibilidade de, se não se chegasse a um consenso com os catarinenses, o Paraná apoiaria a tentativa de formação de um outro Estado – o das Missões – que teria como sede União da Vitória. A situação era tensa. Quando inicia seu mandato presidencial, Wenceslau Braz tentar intervir na região, propondo uma divisão estabelecendo algo de interesse para ambos. O Paraná ficaria com cerca de 20 mil km² e Santa Catarina com pouco mais de 28 mil km². O acordo foi assinado em 1916, tendo as duas Assembléias Legislativas ratificado o acordo.

Armação para a Guerra

Na mesma área que era disputada pelos governos paranaense e catarinense morava uma população empobrecida e semi-abandonada pelo governo paranaense, por conta do

litígio. Era uma população composta por sertanejos ingênuos e dominados por

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superstições das mais variadas. Devido à indiferença com que eram tratados tanto por catarinenses, como por paranaenses, estes sertanejos estavam totalmente sem rumo, nem liderança.

Piorou a situação quando da presença da companhia norte-americana São Paulo Railway, para a construção de uma estrada de ferro que ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul. Com isso e a possível valorização das terras às margens da ferrovia, os coronéis “papa-terras” passaram a se interessar pela posse dos territórios. Era necessário, então, dar um jeito nos sertanejos que estavam nas proximidades. Com isso, os coronéis aproveitavam-se do seu bom relacionamento com as autoridades de ambos estados e mandavam reprimir os sertanejos. Em outras palavras: o clima de tensão entre paranaenses e catarinenses não se restringia aos gabinetes dos governadores ou às Assembléias... a tensão atingia aos populares também! Era propício o ambiente para que estes sertanejos se juntassem com alguém que entendesse de seus problemas: os monges.

Na região do Contestado existiram três monges conhecidos que atuaram com os sertanejos. O primeiro, em meados do século XIX era João Maria d’Agostini, um italiano realmente ligado a Igreja que, através de orações e medicina popular, conquistou a simpatia do imaginário popular. Falecido misteriosamente, abriu uma lacuna para os populares: como um homem bom que não fazia mal a ninguém poderia simplesmente desaparecer? No final do século XIX, depois da Revolução Federalista, surgiu o segundo monge. Era Anastas Marcaf, que se auto-intitulava Monge João Maria de Jesus, imitando ao primeiro monge em tudo: roupas, trejeitos, palavras, barrete, barba. Teve grande influência perante a população, mais até que o primeiro dos três monges. Teria morrido por volta de 1906.

O terceiro monge era o fugitivo da polícia paranaense Miguel Lucena. Dizia ser irmão do seu antecessor e se auto-intitulou José Maria de Agostinho. Ao contrário dos seus antecessores, Miguel Lucena deu treinamento militar para os seus seguidores. Também não

fazia distinção de quem poderia ou não segui-lo: assassinos, fugitivos – como ele próprio – bandidos de todas as espécies, fizeram parte do bando que se fixou na região de Irani (hoje Santa Catarina). Seus seguidores eram conhecidos como “pelados”, adversários das autoridades, os “peludos”.

Com a ordem de “não atacar, mas resistir” e um número de adeptos cada vez maior entre os insatisfeitos, expulsos das terras que ocupavam, seja pelos coronéis, seja pela São Paulo Railway, o clima para a guerra estava perfeito. O início do confronto armado foi causado pela invasão promovida pelo bando de Miguel Lucena no território paranaense. Foi mobilizado o exército paranaense, comandado pelo Coronel João Gualberto, que seguiu para a região. No combate, corpo a corpo, entre paranaenses e sertanejos, caíram João Gualberto e o

monge Miguel Lucena, cabendo a vitória aos fanáticos seguidores do monge. A partir daí a guerra do Contestado, já sem a liderança do monge, perdeu seu objetivo social e religioso da parte dos fanáticos. Passou a ser uma guerra apenas para saques e abusos da parte dos fanáticos.

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O governo Wenceslau Braz, percebendo que era bobagem enviar pequenos grupos para tentar dispersar os sertanejos, enviou o seu maior e melhor efetivo militar para massacrar os populares rebeldes. Após 13 expedições, foram debelados os rebeldes, perdendo-se milhares de vidas de ambos os lados.

O fim da República Velha

O Paraná depois do final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) prosperou muito economicamente. Politicamente ainda engatinhávamos ora atrelados aos gaúchos, ora aos paulistas, como sempre. No entanto, com a Crise de 1929 tudo mudaria, obrigatoriamente. A Crise pegaria pesado no nosso principal produto de exportação – o café – e afetaria significativamente a política do Café-com-leite. O candidato da vez, Antônio Carlos, foi afastado da disputa, dando o lugar a Júlio Prestes, então governador de São Paulo. Antônio Carlos formaria uma chapa dissidente com Getúlio Vargas, então governador do Rio Grande do Sul. O Paraná, governado por Affonso Camargo, ficou sem saber quem apoiar.

Com o início da Revolução de 1930 e a queda do presidente Washington Luís, Affonso Camargo também foi deposto. No seu lugar, foi colocado o interventor General Mário Tourinho. Mário

Tourinho ficou como interventor no Paraná até 1932. Em 1932 foi destacado para interventor no Paraná Manoel Ribas. Foi um longo governo até 1945, trazendo desenvolvimento acelerado para a região, bem como o início da colonização para o interior. Por ser o período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Vargas resolveu criar novos territórios, alegando a necessidade de fortalecer as fronteiras. Foram criados, então os territórios do Amapá, Rio Branco (atual Roraima), Guaporé (atual Rondônia), Fernando de Noronha, Ponta-Porã e Iguaçu (estes dois últimos não existem mais).

História atual do Paraná

A partir do final dos anos 1950, o Paraná, já ocupado em sua maior parcela de território, passou a ser alvo de um processo muito estranho para ser ocupado em sua totalidade. Além da existência do colono, que adquiria suas terras, havia a figura do posseiro, que tomava posse das terras que considerava sem dono. Surgia também o problema da grilagem, o que contribuía em larga escala para os conflitos agrários, de posse de terra.

Estes conflitos por causa da posse de terras, que só aumentaram ao longo dos anos 1960, contribuíram para o esvaziamento de mais de cinquenta municípios, tendo suas populações, em sua maioria, emigrado para outros estados, como o

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Amazonas, Acre, Mato Grosso. Tudo isto em virtude da tal vocação do Estado em ser o celeiro do Brasil. Com este esvaziamento, a população levava consigo também o domínio de técnicas agrícolas que seriam importantes para o desenvolvimento atual do Estado.

Em meio a estas disputas agrícolas, é explicável o pouco envolvimento do Estado na oposição do Regime Militar, inaugurado em 1964. Tanto que nossos governadores da época, em especial Paulo Pimentel, dele se aproveitaram e beneficiaram, principalmente com a missão de levar cultura e conhecimento através da expansão televisiva pelo Estado. Não era anormal, em meio ao Regime Militar, no início dos anos 1970, prefeitos colocarem em suas promessas o fato de levarem para suas cidades canais de Televisão. Era importante para essa população ver a novela das oito, não lutar pela democracia.

Nos anos 1980, o Paraná se consolida como o tal celeiro. Soja e trigo abundavam nos campos paranaenses, em meio ao processo de redemocratização em que vivia o país. É neste momento que eleito é José Richa para governar o Estado, representando o PMDB, partido que se opunha ao regime militar. Curitiba, nesta época governada por Maurício Fruet, já se tornava um modelo em aspectos urbanísticos, fruto de um processo iniciado com o prefeito biônico Jaime Lerner, nos anos 1970. Também no final dos anos 1970 foi inaugurada a refinaria de petróleo Presidente Getúlio Vargas, importante para o desenvolvimento econômico do Estado.

Nos anos 1990 o Estado passaria para as mãos de Jaime Lerner como governador, tendo em Curitiba Rafael Greca de Macedo e Cássio Taniguchi, como representantes de uma dinastia,

praticamente, pois não diferiam muito em visão política. O aperfeiçoamento do urbanismo, como meta de governo, tanto estadual quanto municipal, no caso de Curitiba, se espalharam pelas cidades do interior. Foi um momento politicamente bom para o Paraná, que ganhava evidência no cenário político nacional, muito em função da atuação de seus representantes no senado, que batiam de frente com políticos representantes de visões mais conservadores e neoliberais: os ex-governadores Álvaro Dias e Roberto Requião.

Em 2002, frente ao panorama de desgaste do modelo neoliberal, representado no estado por Jaime Lerner, foi eleito Roberto Requião, atual governador do estado. Polêmico em seus pronunciamentos, o governador Requião tomou como medidas nos seus dois últimos mandatos a não liberação dos transgênicos, em circulação no estado até então, proibiu a existência e proliferação de bingos e cassinos, bem como mantém uma nada salutar briga com o prefeito de Curitiba, Beto Richa, considerado, pelo governador, representante lernista. Debate polêmico que se perpetua até os dias atuais, buscando o governador um representante seu para a sua sucessão, em 2010.

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Em 2010 foi eleito o grupo contrário ao do ex-governador e atual senador Roberto Requião. Deixando de lado a prefeitura de Curitiba, Beto Richa foi o eleito em 2010. Seu governo, no entanto, acabou sendo alvejado por grupos políticos variados, em virtude de suas posturas enquanto governante, meio alheio aos problemas enfrentados pelo Estado.

O desenvolvimento social e econômico do Paraná, a par de transformar o estado em um dos mais ricos do Brasil, acarretou também os seguintes fenômenos: desemprego e violência nas principais cidades do estado e em algumas cidades menos populosas com maior índice de criminalidade; contrabando, tráfico de drogas e armas em alta, via Foz do Iguaçu no Brasil a Ciudad del Este no Paraguai, e Argentina; e a crise agrária, decorrente da enorme concentração fundiária no estado .

No que tange à criminalidade, de acordo com dados do "Mapa da Violência 2010", publicado pelo Instituto Sangari, em 2007, o Paraná é a nona unidade federativa mais violenta do Brasil e lidera o índice de criminalidade da Região Sul do país. A taxa de homicídios é de 29,6. De acordo com dados do "Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros 2008", também publicado pelo Instituto Sangari, o município mais violento do Paraná e da Região Sul do Brasil é Foz do Iguaçu, no extremo oeste do estado; é também o quinto mais violento do Brasil (98,7), registrando, em 2006, taxas médias de homicídio superiores apenas às dos municípios de Guaíra, Tunas do Paraná, Rio Bonito do Iguaçu, Palmas e Campina Grande do Sul. O município com a menor taxa média de homicídios é Laranjal, na Mesorregião do Centro-Sul Paranaense, mais precisamente na Microrregião de Pitanga.