(08.2011) proposta de uma metodologia livre para avaliação do potencial eólico de minas gerais

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Dissestação de Mestrado em Engenharia de Energia UFSJ

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO JOO DEL REI

    Departamento de Cincias Trmicas e dos Fluidos

    Programa de Ps-Graduao em Engenharia da Energia

    Cludia do Rosrio Silva Mendes

    Proposta de uma Metodologia Livre

    para Avaliao de Potencial Elico

    de Minas Gerais

    So Joo del-Rei

    2011

  • Cludia do Rosrio Silva Mendes

    Proposta de uma Metodologia Livre

    para Avaliao de Potencial Elico

    de Minas Gerais

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    graduao em Engenharia da Energia, Em

    Associao Ampla entre o Centro Federal de

    Educao Tecnolgica de Minas Gerais e a

    Universidade Federal de So Joo Del Rei, como

    requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre

    em Engenharia da Energia.

    Orientador: Prof. Dr. Cludio de Castro Pellegrini

    So Joo del-Rei

    2011

  • Cludia do Rosrio Silva Mendes

    Proposta de uma Metodologia Livre para

    Avaliao de Potencial Elico

    de Minas Gerais

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    graduao em Engenharia da Energia, Em

    Associao Ampla entre o Centro Federal de

    Educao Tecnolgica de Minas Gerais e a

    Universidade Federal de So Joo Del Rei, como

    requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre

    em Engenharia da Energia.

    Aprovado em,

    Banca Examinadora

    Prof. Dr. ___________________________________________

    Cludio de Castro Pellegrini - UFSJ

    Prof. Dr. ___________________________________________

    Srgio Augusto Arajo da Gama Cerqueira - UFSJ

    Prof. Dr. ___________________________________________

    Roberto Fernando da Fonseca Lyra - UFAL

    Prof. Dr. ___________________________________________

    Daniel Enrique Castro CEFET MG

  • Dedico este trabalho a meus

    pais, Jos Pedro e Maria Aparecida,

    s minhas irms, Ana e Lvia e aos

    meus avs, Ana, Perques, Maria da

    Conceio e Geraldo Magela.

  • Agradecimentos

    Ao professor Dr. Cludio de Castro Pellegrini, orientador deste trabalho, pelos

    conhecimentos adquiridos, pela dedicao, pacincia e competncia demonstrados

    durante todo o trabalho.

    Ao professor Dr. Srgio A. A. da Gama Cerqueira, agradeo de forma muito

    especial, pela disponibilidade nas incontveis solicitaes, pelos ensinamentos e

    dedicao.

    Aos Professores Dr. Roberto F. Lyra e Dr. Daniel Enrique pelas colaboraes

    no enriquecimento deste trabalho.

    Ao programa de Ps-Graduao em Engenharia da Energia e seus

    professores, pela oportunidade e por contriburem para construo de meus

    conhecimentos.

    Aos meus colegas de mestrado, Rodrigo, Fernando, Luiz Gustavo e Sidney

    pela amizade, conversas proveitosas e companheirismo.

    minha famlia e ao Gelci que esto sempre a meu lado. Obrigada pelo amor

    e apoio incondicionais.

    A todas as pessoas que de alguma forma contriburam para a realizao

    deste trabalho. Aos amigos, de perto ou longe que fazem a vida valer a pena.

    Enfim, agradeo a Deus.

  • A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltar ao

    seu tamanho original.

    Albert Einstein

  • Resumo

    Mudana climtica, aumento de consumo de energia e esgotamento de

    recursos naturais so algumas das questes que levam procura de fontes

    alternativas de energia, cujo uso tem crescido bastante ao longo dos ltimos anos,

    no s pela conscientizao por parte da sociedade dos problemas ambientais

    associados ao efeito estufa e ao aquecimento global, como tambm pelo surgimento

    de orientaes comunitrias cada vez mais restritivas relativamente s emisses

    gasosas, como o Protocolo de Quioto.

    A energia elica surge como uma das principais solues a curto e mdio

    prazo, pois, dentre as fontes renovveis no convencionais, a fonte que apresenta

    custos que se aproximam aos da gerao fssil.

    Existem algumas maneiras de avaliar o potencial elico de uma determinada

    localidade. Dentre elas podemos citar o mtodo de observao direta e as

    simulaes numricas.

    Neste trabalho, utilizamos o Modelo Atmosfrico WRF com uma proposta de

    metodologia nacional, adaptada as condies climtico-ambientais brasileiras, para

    o levantamento e previso de recursos elicos para o estado de Minas Gerais.

    Palavras-chave: Energia elica, potencial elico, simulao numrica da atmosfera.

  • Abstract

    Climate change, increased energy consumption and depletion of natural

    resources are some of the issues that lead to the search for alternative energy

    sources, whose use has grown considerably over the past year, not only because os

    our society's awareness on the part of the environmental problems associated the

    greenhouse effect and global warming, as well as due to the appearance of

    progressively more restrictive guidelines for gaseous emissions, as the Kyoto

    Protocol, for exemple

    Wind energy emerges as one of the main solutions in the short and medium

    term because, among unconventional renewable energy sources, it is the source that

    presents costs approaching those of fossil fuel generation.

    There are some ways to evaluate the wind potential of a given locality. Among

    them we can mention the method of direct observation and numerical simulations.

    In this research, we use the Atmospheric Model WRF with a proposed national

    methodology, adapted to the climatic and environmental conditions in Brazil, to

    survey and forecast wind conditions in the region of Minas Gerais state.

    Key-words: Wind energy, Wind potential, numerical simulation of the atmosphere.

  • Lista de Ilustraes

    Figura 3.1.1-1 Formao dos ventos devido ao deslocamento das massas de ar.

    ............................................................................................................................ 21

    Figura 3.1.3-1 Aerogerador Tipo Darrieus ( esquerda), Aerogerador Tipo

    Savonius ( direita). ............................................................................................ 26

    Figura 3.1.3-2 Turbina de eixo vertical ................................................................... 27

    Figura 3.1.4-1 Fluxo de vento atravs de uma turbina ........................................... 30

    Figura 4.1-1 Inicializao do modelo WRF ............................................................. 38

    Figura 4.4-1 Estrutura do software WRF ............................................................... 46

    Figura 4.4.1-1 Estrutura WPS ................................................................................. 47

    Figura 5-1 Domnio da simulao .......................................................................... 54

    Figura 6-1 Estaes meteorolgicas de superfcie ................................................ 57

    Figura 6-2 Comparao da magnitude da velocidade do vento Vero ................ 59

    Figura 6-3 Comparao da magnitude da velocidade do vento - Inverno .............. 60

    Figura 6-4 Comparao da magnitude da velocidade do vento - Outono .............. 61

    Figura 6-5 Comparao da magnitude da velocidade do vento Primavera ........ 62

    Figura 6-6 Relevo de Minas Gerais, dados do WRF .............................................. 64

    Figura 6-7 Relevo de Minas Gerais - IBGE ............................................................ 64

    Figura 6-8 Magnitude Mdia do Vento a 10 m Outono ........................................ 66

    Figura 6-9 Magnitude Mdia do Vento a 10 m Vero ......................................... 66

    Figura 6-10 Magnitude Mdia do Vento a 10 m - Inverno ...................................... 67

    Figura 6-11 Magnitude Mdia do Vento a 10 m Primavera ................................. 67

    Figura 6-12 Magnitude Mdia do Vento a 50 m Outono ..................................... 68

    Figura 6-13 Magnitude Mdia do Vento a 50 m Vero ....................................... 68

    Figura 6-14 Magnitude Mdia do Vento a 50 m Inverno...................................... 69

    Figura 6-15 Magnitude Mdia do Vento a 50 m Primavera ................................. 69

    Figura 6-16 Magnitude Mdia do Vento a 80 m Outono ..................................... 70

    Figura 6-17 Magnitude Mdia do Vento a 80 m Vero ....................................... 70

    Figura 6-18 Magnitude Mdia do Vento a 80 m Inverno ..................................... 71

    Figura 6-19 Magnitude Mdia do Vento a 80 m Primavera ................................. 71

    Figura 6-20 Magnitude Mdia do Vento a 100 m Outono ................................... 72

    Figura 6-21 Magnitude Mdia do Vento a 100 m Vero ..................................... 72

    Figura 6-22 Magnitude Mdia do Vento a 100 m Inverno ................................... 73

    Figura 6-23 Magnitude Mdia do Vento a 100 m Primavera ............................... 73

    Figura 6-24 Potncia Mdia do Vento a 10 m Outono ........................................ 74

    Figura 6-25 Potncia Mdia do Vento a 10 m Vero .......................................... 74

    Figura 6-26 Potncia Mdia do Vento a 10 m Inverno ........................................ 75

    Figura 6-27 Potncia Mdia do Vento a 10 m Primavera .................................... 75

    Figura 6-28 Potncia Mdia do Vento a 50 m Outono ........................................ 76

    Figura 6-29 Potncia Mdia do Vento a 50 m Vero .......................................... 76

    Figura 6-30 Potncia Mdia do Vento a 50 m Inverno ........................................ 77

  • Figura 6-31 Potncia Mdia do Vento a 50 m Primavera ................................... 77

    Figura 6-32 Potncia Mdia do Vento a 80 m Outono ........................................ 78

    Figura 6-33 Potncia Mdia do Vento a 80 m Vero .......................................... 78

    Figura 6-34 Potncia Mdia do Vento a 80 m Inverno ....................................... 79

    Figura 6-35 Potncia Mdia do Vento a 80 m Primavera ................................... 79

    Figura 6-36 Potncia Mdia do Vento a 100 m Outono ...................................... 80

    Figura 6-37 Potncia Mdia do Vento a 100 m Vero ........................................ 80

    Figura 6-38 Potncia Mdia do Vento a 100 m Inverno ...................................... 81

    Figura 6-39 Potncia Mdia do Vento a 100 m Primavera ................................. 81

    Figura 6-40 Magnitude Mdia do Vento a 10 m Anual ........................................ 82

    Figura 6-41 Magnitude Mdia do Vento a 50 m Anual ........................................ 82

    Figura 6-42 Magnitude Mdia do Vento a 80 m Anual ........................................ 83

    Figura 6-43 Magnitude Mdia do Vento a 100 m Anual ...................................... 83

    Figura 6-44 Potncia Mdia do Vento a 10 m Anual ........................................... 84

    Figura 6-45 Potncia Mdia do Vento a 50 m Anual ........................................... 84

    Figura 6-46 Potncia Mdia do Vento a 80 m Anual ........................................... 85

    Figura 6-47 Potncia Mdia do Vento a 100 m Anual ......................................... 85

    Figura 6-48 Direo predominante do vento - Belo Horizonte................................ 86

    Figura 6-49 Direo predominante do vento Curvelo .......................................... 87

    Figura 6-50 Direo predominante do vento Espinosa ....................................... 87

    Figura 6-51 Direo predominante do vento - Governador Valadares ................... 88

    Figura 6-52 Direo predominante do vento - Juiz de Fora ................................... 88

    Figura 6-53 Direo predominante do vento - Maria da F .................................... 89

    Figura 6-54 Direo predominante do vento Passos .......................................... 89

    Figura 6-55 Direo predominante do vento So Romo ................................... 90

    Figura 6-56 Direo predominante do vento So Joo del Rei ........................... 90

    Figura 6-57 Direo predominante do vento Uberlndia ..................................... 91

  • Lista de Tabelas

    Tabela 5-1 Localizao das estaes de superfcie das cidades escolhidas para

    comparao ........................................................................................................ 58

    Tabela 6-1 Diferena percentual entre magnitude mdia do vento observada e

    simulada ............................................................................................................. 63

  • Lista de Abreviaturas e Siglas

    AFWA Air Force Weather Agency

    CEMIG Companhia Energtica de Minas Gerais

    CEPEL Centro de Pesquisas de Energia Eltrica

    CLA Camada Limite Atmosfrica

    CPTEC Centro de Previso de Tempo e Estudos Climticos

    CRESESB Centro de Referncia para Energia Solar e Elica Srgio de Salvo

    Brito

    EMS Estao Meteorolgica de Superfcie

    ENIAC Electronic Numerical Integrator And Computer

    FAA Federal Aviation Administration

    FSL Forecast Systems Laboratory

    INMET Instituto Nacional de Meteorologia

    INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

    NCAR National Center for Atmospheric Research

    NCEP National Centers for Environmental Prediction

    NOAA National Oceanic and Atmospheric Administration

    PNT Previso Numrica do Tempo

    PTU Presso, Temperatura e Umidade

    PROELICA Programa Emergencial de Energia Elica

    PROINFA Programa de Incentivo s Fontes Alternativas de Energia Eltrica

    WECS Wind Energy Conversion System

    WRF Weather Research Forecast

  • Sumrio

    1. Introduo ....................................................................................................... 14

    2. Objetivos ......................................................................................................... 17

    3. Reviso Bibliogrfica ....................................................................................... 18

    3.1. Fundamentao Terica em Energia Elica .................................................... 18

    3.1.1. Distribuio global e regional dos ventos ........................................................ 20

    3.1.2. Turbinas Elicas .............................................................................................. 23

    3.1.3. Tipos de Turbinas elicas ................................................................................ 25

    3.1.4. Energia e potncia no vento ............................................................................ 27

    3.2. Energia Elica no Brasil .................................................................................. 30

    3.3. Impactos Ambientais ....................................................................................... 31

    3.4. Perspectivas .................................................................................................... 34

    4. Simulao numrica da atmosfera .................................................................. 35

    4.1. Reviso sobre simulao numrica ................................................................. 35

    4.2. Modelos Atmosfricos ..................................................................................... 38

    4.3. Equaes bsicas ........................................................................................... 42

    4.3.1. Conservao da Massa de Ar ......................................................................... 42

    4.3.2. Conservao da Energia ................................................................................. 43

    4.3.3. Conservao da Quantidade de Movimento ................................................... 43

    4.3.4. Conservao da gua ..................................................................................... 43

    4.3.5. Conservao de Outros Gases e Materiais Aerossis .................................... 44

    4.4. Modelo Atmosfrico de Mesoescala WRF ....................................................... 44

    4.4.1. WPS ................................................................................................................ 46

    4.4.2. ARW ................................................................................................................ 49

    4.4.3. Ps-processamento ......................................................................................... 51

    5. Metodologia ..................................................................................................... 53

    6. Resultados....................................................................................................... 57

    7. Discusso dos Resultados .............................................................................. 92

    8. Concluses ...................................................................................................... 99

    9. Trabalhos Futuros ......................................................................................... 101

    Referncias ............................................................................................................. 102

    Anexo A Tabela de dados observados ................................................................. 105

  • Anexo B Velocidade Mdia Sazonal e Anual a 50 metros Atlas Elico Minas

    Gerais.............. ........................................................................................................ 106

    Anexo C Comparao entre velocidade mdia sazonal do vento observada e

    simulada .................................................................................................................. 107

    Anexo D Magnitude do vento simulada ................................................................ 109

    Anexo E Potencial elico simulado ...................................................................... 113

    Anexo F - Magnitude e potencial anual do vento Simulada ................................. 117

  • 14

    1. Introduo

    Mudana climtica global ou esgotamento dos recursos naturais? Por qualquer que

    seja o motivo, so fortes as presses para a substituio das fontes fsseis de

    energia por fontes renovveis. No Brasil, a esses motivos somam-se a escassez e

    m qualidade do carvo energtico e a distncia entre os grandes aproveitamentos

    hidrulicos remanescentes e os centros consumidores, muito importante tambm a

    introduo de fontes alternativas de energia para diversificao da matriz energtica.

    O aumento da populao e do consumo pessoal, principalmente nos pases

    desenvolvidos, originou problemas ambientais cuja soluo o grande desafio deste

    incio de sculo para pesquisadores, ambientalistas, governos, organizaes no-

    governamentais e comunidades de todo o mundo.

    A procura de fontes de energia alternativas em detrimento das fontes de

    energia convencionais tem crescido bastante ao longo dos ltimos anos, no s pela

    conscientizao por parte da sociedade dos problemas ambientais associados ao

    efeito estufa e ao aquecimento global, como tambm pelo surgimento de orientaes

    comunitrias cada vez mais restritivas relativamente s emisses gasosas, como o

    Protocolo de Quioto, e ainda pela percepo de que os combustveis fsseis

    constituem fontes de energia no renovveis e que, a longo prazo, tornar-se-o

    escassos.

    A principal fonte geradora de energia eltrica brasileira tem sido a hidrulica.

    No entanto, devido ao crescimento acelerado da demanda energtica, dos elevados

    custos e dos problemas ambientais dessa e de outras formas de gerao de energia

    eltrica, a energia de origem elica surge como uma das principais solues a curto

    e mdio prazo, isto porque dentre as fontes renovveis no convencionais, a elica

  • 15

    a fonte que apresenta custos que se aproximam aos da gerao fssil, no ltimo

    leilo, realizado em 2011 o preo mdio da energia elica contratada foi de 99,57

    R$/MWh, enquanto o valor mdio da energia hidreltrica contratado para ampliao

    da hidreltrica de Jirau ficou em 102,00 R$/MWh. Disponvel em:

    (http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/editais_geracao)

    Passos importantes no nosso pas tm sido dados na implementao desse

    tipo de fonte energtica. Um exemplo disso a criao de legislao especfica para

    o incentivo de gerao de energia eltrica a partir de fontes alternativas pelo

    governo federal, o PROINFA. Outros passos foram a conduo de estudos sobre o

    potencial elico em nvel nacional, como o caso do Atlas de Potencial Elico

    Brasileiro criado pelo CRESESB, e em nvel estadual, com o Atlas do Potencial

    Elico de Minas Gerais feito pelo Governo do Estado em parceria com a CEMIG.

    Mesmo com as iniciativas citadas, fazem-se necessrias mais pesquisas sobre o

    potencial elico nacional, seja para aumentar a densidade e o comprimento das

    sries temporais de medidas de campo seja para melhor adequar os modelos

    atmosfricos a cada regio do pas.

    Existem algumas maneiras de avaliar o potencial elico de uma determinada

    localidade. Dentre elas podemos citar o mtodo de observao direta, que consiste

    na instalao de torres anemomtricas e posterior anlise dos dados. Como as

    variaes na velocidade mdia do vento obedecem a forantes atmosfricas de

    periodicidade interanual por vezes, como o sistema El-Nino-Oscilao Sul, por

    exemplo, recomenda-se ao menos trs anos de durao para tais sries de dados.

    Fontes mais conservadoras sugerem o uso de sries de 30 anos. Por exemplo, esta

    a durao das sries tradicionalmente aceitas como capazes de caracterizar o

  • 16

    clima de uma regio, segundo os institutos INMET1 e o CPTEC2.

    Levantar o potencial de um pas de dimenses continentais como o Brasil

    pelos dados anemomtricos praticamente invivel, devido aos custos das torres,

    da instrumentao, da manuteno e do tempo necessrio para concretizar a

    viabilidade do processo, por isso, as simulaes numricas aparecem como uma

    importante ferramenta auxiliar para levantamento do potencial elico. Programas de

    computador denominados modelos atmosfricos so muito usados para simular a

    dinmica da camada limite atmosfrica (CLA), pois reproduzem de forma confivel

    seu comportamento. Os modelos integram ao longo do tempo as equaes de

    governo da termo-fluido-dinmica atmosfrica. H pouco mais de uma dcada tais

    modelos s podiam ser implementados em computadores de grande porte. O

    recente aumento da capacidade de processamento e de armazenamento permite

    que, atualmente, se possa empregar estaes de trabalho de pequeno porte para a

    simulao de problemas regionais e/ou especficos. Tal evento o principal fator

    que permitiu o envolvimento de grupos emergentes de pesquisa, como o GEM3, em

    simulao atmosfrica.

    1 INMET Instituto Nacional de Meteorologia

    2 CPTEC Centro de Previso de Tempo e Estudos Climticos

  • 17

    2. Objetivos

    Prope-se uma metodologia nacional, adaptada as condies climtico-ambientais

    brasileiras, para o levantamento e previso de recursos elicos, utilizando-se de

    dados meteorolgicos disponveis.

    Utilizando o modelo atmosfrico WRF, obtm-se novo levantamento numrico

    do potencial elico do Estado de Minas Gerais e sua vizinhana.

    Aps a etapa de simulao, os dados obtidos sero comparados com dados

    do vento medido em algumas estaes meteorolgicas de superfcie do Estado de

    Minas Gerais.

    A partir dos resultados obtidos, ser feita a identificao de locais propcios

    instalao de parques elicos.

    Tambm ser feita uma comparao com os resultados do Atlas Elico Minas

    Gerais (2010), o qual vamos chamar aqui apenas de Atlas.

  • 18

    3. Reviso Bibliogrfica

    3.1. Fundamentao Terica em Energia Elica

    A energia elica tem sido usada a milhares de anos, em diversas aplicaes, como

    moagem de gros e bombeamento de gua, mas sua utilizao para gerao de

    eletricidade tem sido feita desde o final do sculo XIX, quando pequenas mquinas

    elicas foram criadas para carregar baterias. Os velhos moinhos de vento usados

    para moer gros, passaram por um processo de evoluo e passaram a ser

    chamados turbinas elicas, e ainda so conhecidos tambm por sistemas de

    converso de energia elica, WECS na sigla em ingls, ou simplesmente

    aerogeradores (CRESESB,2006).

    O primeiro registro histrico da utilizao da energia elica para bombeamento

    de gua e moagem de gros atravs de cata-ventos proveniente da Prsia, por

    volta de 200 A.C.. Esse tipo de moinho de eixo vertical veio a se espalhar pelo

    mundo islmico sendo utilizado por vrios sculos. Acredita-se que antes da

    inveno dos cata-ventos na Prsia, a China, por volta de 2000 A.C., e o Imprio

    Babilnico (por volta 1700 A.C) tambm utilizavam cata-ventos rsticos para

    irrigao.

    A introduo dos cata-ventos na Europa deu-se, principalmente, no retorno das

    Cruzadas h 900 anos. Estes foram largamente utilizados e seu desenvolvimento

    bem documentado. As mquinas primitivas persistiram at o sculo XII quando

    comearam a ser utilizados moinhos de eixo horizontal na Inglaterra, Frana e

    Holanda, entre outros pases. Os moinhos de vento de eixo horizontal do tipo

    holands foram rapidamente disseminados em vrios pases da Europa. Durante a

  • 19

    Idade Mdia, na Europa, a maioria das leis feudais inclua o direito de recusar a

    permisso construo de moinhos de vento pelos camponeses, o que os obrigava

    a usar os moinhos dos senhores feudais para a moagem dos seus gros. Dentro das

    leis de concesso de moinhos tambm se estabeleceram leis que proibiam a

    plantao de rvores prximas ao moinho assegurando, assim, o direito ao vento

    (CRESESB,2006).

    Na Holanda, entre os sculos XVII a XIX, o uso de moinhos de vento em

    grande escala esteve amplamente relacionado com a drenagem de terras cobertas

    pelas guas (SHEFHERD, 1994), mas eles tiveram uma grande variedade de

    aplicaes, como para a produo de leos vegetais e fabricao de papel. Ao fim

    do sculo XVI, surgiram moinhos de vento para acionar serrarias para processar

    madeiras provenientes do Mar Bltico. Em meados do sculo XIX, aproximadamente

    9.000 moinhos de vento existiam em pleno funcionamento na Holanda, cerca de

    3.000 na Blgica, a Inglaterra contava com aproximadamente 10.000 e a Frana

    possua cerca de 650 moinhos de vento na regio de Anjou (CHESF-BRASCEP,

    1987).

    A Revoluo Industrial no final do Sculo XIX representou um importante

    marco para a energia elica na Europa. O surgimento da mquina a vapor, fez ruir o

    uso da energia elica na Holanda. O nmero de moinhos de vento em operao caiu

    rapidamente. (CHESF-BRASCEP, 1987). Para impedir que estes fossem extintos,

    em 1923, foi criada uma sociedade holandesa para conservao, melhoria de

    desempenho e utilizao mais efetiva dos moinhos holandeses (CRESESB, 2006).

    Os aerogeradores so hoje um dos melhores mtodos de gerao de energia

    eltrica em relao ao custo-benefcio, apesar do custo relativamente baixo dos

    combustveis fsseis. A tecnologia evolui continuamente, tornando-se mais confivel

  • 20

    e mais barata e pode-se esperar que a energia elica torne-se cada vez mais

    competitiva (BOYLE,2004).

    3.1.1. Distribuio global e regional dos ventos

    Os ventos so os movimentos das massas de ar na atmosfera como resultado das

    variaes de presso que ocorrem devido s diferenas no aquecimento solar em

    diferentes partes da superfcie da Terra. (BOYLE,2004)

    A radiao solar a fonte primria da energia elica. Ela primeiramente

    absorvida pela terra e pelo oceano e aquece o ar ao redor. Em escala global, em

    uma Terra desprovida de rotao, a alta intensidade da radiao solar no equador

    faz o ar aquecido subir e encontrar com ar mais frio nos hemisfrios norte e sul. No

    entanto, a rotao da Terra faz com que um ponto na Terra tenha uma

    velocidade em direo ao leste, que maior no equador, diminuindo para os plos.

    Em torno de 1 a 2% da potncia solar incidente convertida em vento. O raio da

    Terra, aproximadamente 6000 km, com seo transversal, 1014 m2, recebe uma

    potncia de 1015W de vento (ANDREWS,2007). Os ventos so bastante variveis no

    tempo e no espao. Muitas partes do mundo esto expostas a frequentes ventos

    fortes, enquanto outras quase no apresentam ventos.

    Se a Terra no estivesse em rotao, a alta intensidade de radiao no

    equador poderia configurar um fluxo de ar convectivo norte-sul. Entretanto, a rotao

    faz com que pontos na Terra tenham uma velocidade em direo ao leste, com

    maior intensidade no equador, diminuindo em direo aos plos. Para um

    observador na Terra, o vento parece desviar-se para a esquerda no hemisfrio sul e

    para a direita no hemisfrio norte, impulsionado por uma fora aparente, chamada,

    Fora de Coriolis (ANDREWS, 2007, HOLTON, 1992).

  • 21

    O padro de ventos descrito anteriormente, s aprece em distncia de

    dezenas de quilmetros. A Fig. 3.1.1-1 ilustra os padres globais do vento.

    Figura 3.1.1-1 Formao dos ventos devido ao deslocamento das massas de ar.

    (Fonte: CEPEL, 2001)

    A variao da velocidade do vento depende consideravelmente do tempo.

    Esta variao afeta a quantidade de energia contida no vento e ainda a converso

    da energia do vento atravs das turbinas. As mudanas acontecem ao longo de

    dcadas, devido s mudanas climticas e tambm em perodos de minutos, como

    no caso das rajadas. Mdias calculadas a partir de intervalos de 10 minutos so

    usadas para definir uma velocidade mdia do vento na maioria das estaes

    meteorolgicas de superfcie. As flutuaes sobre este valor so quantificadas

    atravs da Intensidade de Turbulncia, IT, definida como a relao do desvio padro,

    T , da velocidade do vento, com a velocidade do vento constante. Evidentemente IT

    depende do terreno e da altura. Geralmente, IT aumenta com a rugosidade da

    superfcie e varia com [ln(z/z0)]-1, onde z a altura da turbina e z0 caracterstica do

    terreno. Esta magnitude importante para determinar a carga de fadiga da turbina.

    O vento constante caracterizado pela distribuio de freqncia f(u) e sua

    persistncia. A persistncia d o nmero de vezes que o vento dever soprar por

  • 22

    mais de uma hora, com velocidade maior que u, enquanto f(u) d a porcentagem de

    tempo durante o qual a velocidade do vento dever estar entre u e u+ u . A

    persistncia do vento importante para estimar a confiabilidade da energia elica

    gerada.

    As distribuies de frequncias geralmente empregadas para estudo de

    ventos so a Funo de Rayleigh ou a Funo de Weibull. Para lugares com mdia

    de velocidade do vento anual maior que 4,5 ms-1, a distribuio de frequncia

    melhor descrita pela Distribuio de Rayleigh.

    2 2( ) (2 / )exp[ ( / ) ]f u u c u c (1)

    onde c=2(u)/1/2 e (u) a velocidade mdia do vento. Para a distribuio de

    Rayleigh a potncia do vento, a ser melhor estudada adiante, dada por:

    3 3 31 ( ) 0,955 ( ) ( )2

    P A u A u A u (2)

    A velocidade do vento, u, aumenta significativamente com a altura acima do

    solo. A taxa de aumento diminui com a altura, com a diminuio das foras de atrito.

    A equao abaixo descreve a dependncia entre u e z.

    ( ) ( / ) SS Su z u z z (3)

    sendo zS a altura na qual u medido igual a us, tipicamente, 10 metros, e S o

    coeficiente de cisalhamento do vento, e depende fortemente do terreno (ANDREWS,

    2007).

    A distribuio de Weibull permite um ajuste de curva mais refinado para

    diferentes caractersticas de vento e pode ser usada para adaptar a distribuio para

    condies que no so suficientemente aproximadas pela distribuio de Rayleigh.

    Trata-se de uma distribuio contnua que se aproxima distribuio discreta

  • 23

    representada nos histogramas de velocidade, por ter maior preciso na descrio

    das circunstncias do vento a mais comum nos trabalhos de avaliao de

    potencial elico. Esta leva em conta o desvio padro dos dados coletados, que

    introduz uma informao acerca das incertezas com que podem ocorrer as

    velocidades previstas a partir dos dados coletados no perodo.

    A distribuio de Weibull descrita por

    1

    ( )

    c

    v

    a

    cc v

    F v ea a

    (4)

    em que os parmetros a e c representam o fator de escala e fator de forma,

    respectivamente. A funo de Weibull apresenta caractersticas especiais para

    diferentes fatores de forma, por exemplo, c = 2 representa uma Distribuio de

    Rayleigh (PETRY,2007).

    Descrio mais aprofundada das caractersticas do vento pode ser

    encontrada em STULL (1988) e KAIMAL (1994).

    3.1.2. Turbinas Elicas

    No comeo do sculo XIX, os cata-ventos comearam a ser adaptados para gerao

    de energia eltrica. O primeiro cata-vento destinado a gerao de energia eltrica foi

    feito em 1888, por Charles F. Bruch, na cidade de Cleveland, Ohio. Tratava-se de

    um cata-vento que fornecia 12kW em corrente contnua para carregamento de

    baterias, as quais eram destinadas, sobretudo, para o fornecimento de energia para

    350 lmpadas incandescentes. Bruch utilizou-se da configurao de um moinho

    para o seu invento. A roda principal, com suas 144 ps, tinha 17m de dimetro em

    uma torre de 18m de altura. Todo o sistema era sustentado por um tubo metlico

    central de 36 cm que possibilitava o giro de todo o sistema acompanhando, assim, o

  • 24

    vento predominante. Esse sistema esteve em operao por 20 anos, sendo

    desativado em 1908. Sem dvida, o catavento de Bruch foi um marco na utilizao

    dos cata-ventos para a gerao de energia eltrica (CRESESB,2006).

    CRESESB (2006) aponta trs importantes inovaes apresentadas atravs do

    invento de Bruch para o desenvolvimento do uso da energia elica para gerao de

    energia eltrica.

    A altura utilizada pelo invento estava dentro das categorias dos moinhos de

    ventos utilizados para beneficiamento de gros e bombeamento dgua. Foi

    introduzido um mecanismo de grande fator de multiplicao da rotao das ps

    (50:1) que funcionava em dois estgios, possibilitando um mximo aproveitamento

    do dnamo cujo funcionamento estava em 500rpm. Esse invento foi a primeira e

    mais ambiciosa tentativa de se combinar a aerodinmica e a estrutura dos moinhos

    de vento com as recentes inovaes tecnolgicas na produo de energia eltrica

    (CRESESB,2006).

    As turbinas elicas de grande porte para aplicaes eltricas surgiram na

    Rssia em 1931. O aerogerador Balaclava era um modelo avanado de 100kW

    conectado, por uma linha de transmisso de 6,3kV de 30km, a uma usina

    termeltrica de 20MW. Essa foi a primeira tentativa bem sucedida de se conectar um

    aerogerador de corrente alternada com uma usina termeltrica. A energia medida foi

    de 280.000kWh.ano, o que significa um fator mdio de utilizao de 32%. O gerador

    e o sistema de controle ficavam no alto da torre de 30 metros de altura, e a rotao

    era controlada pela variao do ngulo de passo das ps. O controle da posio era

    feito atravs de uma estrutura em trelias inclinada apoiada sobre um vago em

    uma pista circular de trilhos.

    A Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945 contribuiu para o

  • 25

    desenvolvimento dos aerogeradores de mdio e grande porte, uma vez que neste

    perodo, os pases em geral empenhavam grandes esforos no sentido de

    economizar combustveis fsseis (CRESESB,2006).

    No perodo entre guerras, a Dinamarca produzia cerca de 4 milhes de

    quilowatt-hora anuais, utilizando em grande parte aerogeradores de pequeno porte,

    na faixa de 45kW (DIVONE, 1994) (EWEA, 1998a).

    A Frana tambm desempenhou importante papel em pesquisas de

    aerogeradores conectados rede eltrica. Entre 1958 e 1966 foram construdos

    diversos aerogeradores de grande porte. Entre os principais estavam trs

    aerogeradores de eixo horizontal e trs ps, com dimetro de p variando entre 21 e

    35 metros e potncia variando entre 132 kW a 1085kW, funcionando a

    aproximadamente 16 ms-1 . Esses projetos mostraram claramente a possibilidade de

    se conectar aerogeradores rede de distribuio de energia eltrica (DIVONE,

    1994). Foi a Alemanha, porm que entre os anos de 1955 e 1968, construiu e

    operou um aerogerador com o maior nmero de inovaes tecnolgicas na poca.

    Os avanos tecnolgicos desse modelo persistem at hoje na concepo dos

    modelos atuais, mostrando o seu sucesso de operao. Tratava-se de um

    aerogerador de 34 metros de dimetro operando com potncia de 100kW, a ventos

    de 8m/s (CRESESB,2006).

    3.1.3. Tipos de Turbinas elicas

    Existem vrios tipos de turbinas capazes de extrair a energia do vento. As turbinas

    elicas modernas seguem duas configuraes bsicas: eixo vertical e eixo

    horizontal.

  • 26

    3.1.3.1. Turbinas de Eixo Vertical

    Os rotores de eixo vertical no necessitam de mecanismos de acompanhamento

    para variaes da direo do vento, o que reduz a complexidade do projeto. Podem

    ser movidos por foras de sustentao e por foras de arrasto. Os principais tipos de

    rotores de eixo vertical so Darrieus, Savonius e turbinas com torre de vrtices,

    ilustrados na Fig. 3.1.3-1.

    Figura 3.1.3-1 - Aerogerador Tipo Darrieus ( esquerda), Aerogerador Tipo Savonius ( direita).

    Fonte: opexenergy.com, mywindenergy.blogspot.com

    3.1.3.2. Turbinas de Eixo Horizontal

    As turbinas de eixo horizontal so as mais comumente usadas. Possuem um

    sistema de ps, impulsionadas sobre um rotor montado na horizontal e tm um

    segundo eixo direcional, conforme ilustra Fig. 3.1.3-2. As principais vantagens deste

    tipo de turbina so: possurem velocidade de arranque mais baixas que as turbinas

    de eixo vertical e a produo deste tipo de turbina mais barata. Por outro lado, este

    tipo de turbina possui uma mecnica mais elaborada com maior necessidade de

    manuteno e ainda, este tipo de turbina exige que no haja obstculos para evitar

    efeitos da turbulncia.

  • 27

    Figura 3.1.3-2 Turbina de eixo vertical

    Fonte: www.cresesb.cepel.br

    3.1.4. Energia e potncia no vento

    A energia contida no vento a energia cintica, isto :

    20,5e mV (5)

    sendo m, a massa e V, a velocidade. Como m=v onde v o volume de ar e a

    massa especfica do ar, a energia por unidade de volume do ar pode ser ento

    escrita como :

    2/ 0,5e v V (6)

    O volume de ar que atravessa em uma unidade de tempo a seo transversal

    de rea A normal direo do vento VA, assumindo velocidade constante na rea

    (ou trabalhando com a velocidade mdia). Desta forma, a energia cintica do volume

    de ar que passa por unidade de tempo atravs da rea A dado por EAV , onde

    E=e/ v, ou ainda, (ANDREWS, 2007):

    30,5E

    A Vs

    (7)

    Sabendo que energia por unidade de tempo igual potncia, a Eq. (7)

    representa a potncia do vento, tambm denominada potencial elico.

    Constata-se, entretanto, que as turbinas elicas no podem extrair toda a

    potncia fornecida pelo vento, isto porque parte da energia cintica contida na

  • 28

    corrente fluida permanece a jusante da turbina a fim de manter o fluxo de ar. Se

    assim no fosse, todo o vento cessaria imediatamente aps as turbinas, o que seria

    excelente do ponto de vista de eficincia energtica, mas simplesmente no

    acontece por exigncia da conservao da massa.

    Existe, portanto, uma eficincia mxima para a extrao de potncia do vento,

    determinada pelo Limite de Betz, cujo valor situa-se em torno de 59% (ANDREWS,

    2007). Considerando a figura 3.1.4-1, o impulso T exercido na turbina pelo vento

    igual a taxa de mudana do momentum.

    0 2( )dm

    T u udt

    (8)

    onde dm/dt a massa de vento que flui atravs do tubo de fluxo por segundo.

    A potncia P extrada o produto do impulso e velocidade do ar, u, na

    turbina:

    0 2( )dm

    P Tu u u udt

    (9)

    A potncia extrada do vento pode ainda ser expressa como a taxa de perda

    da energia cintica:

    2 2

    2

    1( )

    2o

    dmP u u

    dt (10)

    Comparando as equaes 9 e 10, temos:

    2 2

    0 2 0 2 0 2 0 2

    1 1( ) ( ) ( )( )

    2 2u u u u u u u u u (11)

    Assim:

    0 21

    ( )2

    u u u (12)

    ou

    2 02u u u (13)

  • 29

    Pela conservao da massa, o fluxo de massa, dm/dt dado por:

    dm

    uAdt

    (14)

    Substituindo por u2 da equao 13 e por dm/dt da equao 14, a potncia P

    extrada do vento, pode ento ser escrita:

    2 02 ( )P u A u u (15)

    Sendo u=(1-a)u0, em que a chamado fator de induo. Ento:

    3 2

    0

    1(4 (1 ) )

    2P u A a a (16)

    A frao de potncia extrada pela turbina, o Coeficiente de Potncia CP

    dado por:

    3 2

    0

    1/ 4 (1 )

    2PC P V A a a

    (17)

    A potncia mxima extrada obtida quando a=1/3, dada por:

    3

    max 0

    1(16 / 27)

    2P u A (18)

    Este o limite de potncia mxima, ou coeficiente de potncia, tambm

    chamado Betz ou Limite de Lanchester-Betz.

    Logo, portanto,

    3

    0

    1

    2PP C V A (19)

    em que a rea de seo transversal varrida pelas ps da turbina, e a

    velocidade do vento numa seo antes da turbina, no perturbada por sua presena

  • 30

    Figura 3.1.4-1- Fluxo de vento atravs de uma turbina

    A potncia de sada de uma turbina varia com a velocidade do vento e cada

    turbina tem uma curva de potncia-velocidade do vento. A forma da curva depende

    de fatores como: a rea varrida pelo rotor, o tipo e nmero de ps, a velocidade

    tima de rotao, a eficincia aerodinmica e a eficincia de gerao (ANDREWS,

    2007).

    3.2. Energia Elica no Brasil

    O aproveitamento de recursos elicos no Brasil tem sido feito para bombeamento de

    gua atravs de cata-ventos. Ultimamente medidas mais precisas de vento em todo

    o territrio nacional indicam um grande potencial elico ainda no explorado

    (BORBA,2005). No incio dos anos 90, foram instalados no Cear e em Fernando de

    Noronha (PE), os primeiros anemgrafos computadorizados e sensores especiais

    para energia elica, isto possibilitou a determinao do potencial elico local e assim

    a instalao das primeiras turbinas elicas do Brasil (ANEEL,2006).

    Ainda h divergncias quanto ao potencial elico brasileiro, mas estudos

    apontam valores considerveis. Divergncias que ocorrem principalmente pela falta

    de dados de superfcie, e pelas diferentes metodologias utilizadas (ANEEL,2006).

    Os primeiros estudos sobre o potencial elico no Brasil foram feitos no Nordeste e

    contriburam para a criao do primeiro Atlas Elico da Regio Nordeste (ANEEL,

    2006). Silva et al. (2002) aponta a identificao do potencial elico de uma regio

    Turbina

    V

    0 V

    1

    V

    2

    A A

    0

    A

    2

  • 31

    como tarefa fundamental, que tem como requisito a existncia de uma srie

    temporal de observaes da velocidade e direo do vento a uma altura adequada.

    Em 1994, a CEMIG implantou no Morro do Camelinho, em Gouveia, a Usina

    Elica Experimental (UEE), com potncia de 1 megawatt, esta usina se tornou a

    primeira usina elica do Pas a ser interligada ao sistema eltrico brasileiro (ATLAS

    ELICO MINAS GERAIS,2010).

    Os estudos realizados para criao do Atlas Elico da CEMIG apontam um

    potencial de 10,6 GW a 50 metros do solo, e que a 75 metros chega a 24,7GW. O

    potencial elico de Minas Gerais era considerado h at pouco tempo atrs como

    desprezvel, at que o Atlas Elico Brasileiro, publicado em 2000, apontou um

    potencial elico considervel e economicamente vivel. O Estado possui hoje

    aproximadamente 13 MW de capacidade instalada, distribudas em 41 usinas

    hidreltricas, 88 pequenas centrais hidreltricas, 63 centrais geradoras eltricas, 74

    usinas trmicas e apenas 1 usina elica em funcionamento parcial (ATLAS ELICO

    MINAS GERAIS, 2010).

    3.3. Impactos Ambientais

    As fazendas elicas vm ganhando aceitao em um tempo em que h grande

    preocupao com os danos causados ao meio ambiente com a queima de

    combustveis fsseis. Estas poluem menos que diversas outras formas de energia.

    Uma das principais preocupaes em relao a esta fonte de energia o impacto

    visual de um parque elico. As turbinas geralmente localizam-se em pontos altos,

    onde a velocidade do vento geralmente mais alta, desta forma se tornam muito

    visveis. Tm-se sugerido que os parques elicos sejam formados por um pequeno

    nmero de turbinas de grande porte em vez de muitas pequenas turbinas. Tornar a

  • 32

    populao consciente da energia disponvel e os benefcios do trabalho, e tambm

    envolv-los no processo de planejamento, pode contribuir para melhor

    aproveitamento da energia contida nos ventos (BOYLE,2004).

    Boyle (2004), apresenta algumas das preocupaes em relao aos parques

    elicos. Uma delas a ameaa para as aves - em um perodo de 2 anos, 183 aves

    foram mortas no parque elico de Altamont, na Califrnia, enquanto na Espanha,

    houve uma mdia de 0,13 aves mortas por turbina em 2003, em um total de 18

    parques elicos. H uma estimativa de cada ano h mais de 57 milhes de aves

    mortas por carros, mais de 97 milhes mortas colidindo em janelas de vidro, e no

    Reino Unido, 55 milhes de aves mortas por gatos. Assim, enquanto cuidados

    devem ser tomados para reduzir a mortalidade de aves provenientes de turbinas, o

    risco relativo deve ser levado em conta. Um detalhe interessante sobre as turbinas

    elicas que o espao ocupado pelos parques elicos pode ser usado para

    pastagem ou para cultivo, diferentemente do que oco erre em centrais hidro ou

    termeltricas.

    Outra grande preocupao o rudo das turbinas elicas, mas melhorias no

    projeto da lmina tem reduzido o rudo das turbinas modernas. Quando o vento est

    soprando fortemente o barulho das turbinas mascarado pelo prprio vento. Mas,

    perto de reas construdas o rudo geralmente uma preocupao. Os rudos

    produzidos pelas turbinas elicas no so significativos se comparados com outras

    mquinas que produzem potncia similar. Turbinas elicas modernas so mais

    silenciosas e so produzidas em conformidade com os nveis de emisso de rudo

    exigidos por rgos competentes. Os rudos produzidos pelas turbinas so causados

    por seus equipamentos eltricos e mecnicos que produzem o rudo mecnico e

    ainda pela interao do ar com as ps do rotor, conhecido como rudo aerodinmico.

  • 33

    O rudo mecnico normalmente o problema principal, mas pode ser

    facilmente remediado pela utilizao de equipamentos mais silenciosos, na

    montagem dos equipamentos, e usando caixas acsticas ou eliminando a caixa de

    velocidades, optando por acionamento direto.

    O rudo aerodinmico produzido pelas turbinas afetado pelo formato das

    ps, pela interao do fluxo de ar com as ps e pela torre. A turbulncia pode causar

    instabilidade nas ps, provocando assim rudos. Quanto maior a velocidade de

    rotao do rotor, maior a produo de rudos, por este motivo muitas turbinas so

    projetadas para operar em baixa rotao, acredita-se tambm que ao aumentar o

    nmero de ps pode-se reduzir o rudo das turbinas. As turbinas elicas so

    submetidas a testes de medio de rudos, os valores de nvel de rudo medido a

    partir de tais testes fornecem informaes que permitem as turbinas a serem

    instaladas a uma distncia suficiente de habitaes para evitar a poluio sonora.

    No Brasil, como o nmero de turbinas elicas ainda muito pequeno, no se

    tem muitos dados em relao a morte de aves. Porm deve-se levar em conta que

    muitas outras estruturas como prdios espelhados e carros, matam diversas aves,

    sendo o nmero de pssaros mortos pelas turbinas elicas muito menos expressivos

    que estes. Com o objetivo de diminuir o nmero de pssaros mortos, o projeto das

    ps das turbinas bem como a velocidade de rotao so fatores de grande

    relevncia assim tambm como a implantao das turbinas fora da rota de migrao

    dos pssaros ou fora da rea de grande incidncia de aves. Disponvel em:

    . Acesso em

    2010.

    As turbinas elicas interferem tambm nos sinais de TV e rdio, estando

    posicionada entre rdio, televiso, emissor ou receptor de microondas, ela pode

  • 34

    interferir causando a emisso de um sinal distorcido. A interferncia eletromagntica

    depende do material usado para fazer as ps e da superfcie da torre. A interferncia

    mais comum na recepo de ondas de TV (BOYLE,2004).

    3.4. Perspectivas

    O potencial mundial terico de energia elica sobre toda a superfcie da Terra,

    estimado por Grubb and Meyer (1993) de 500.000 TWh por ano. Deste montante,

    estima-se que 10%, 53.000 TWh, por ano possa ser explorado. A demanda de

    eletricidade mundial estimada para 2020 de 26.000 TWh por ano. Esta estimativa

    foi obtida baseada nas seguintes informaes: a rea terrestre no mundo 107x106

    km2 e o vento tem uma velocidade mdia maior que 5.1 ms-1 sobre 27% desta rea.

    As turbinas elicas podem ser instaladas com capacidade de gerao de 8 MW por

    km2. E ainda, o fator de capacidade das turbinas elicas 0,23 ou, 16.000 MWhn

    por km2 por ano.

    Estes nmeros apontam um potencial bruto de 480.000 TWh por ano. Uma

    estimativa mais recente feita para turbinas elicas de 80 metros de altura, aponta um

    potencial bruto de 627.000 TWh por ano. H restries prticas, sociais e ambientais

    que limitam a rea de terra em que a energia elica pode ser obtida. A WEC assume

    que devido a estas restries, o potencial prtico, a ser explorado de apenas 4%

    da rea total que possui velocidades de vento que podem ser exploradas.

    (ANDREWS,2007)

  • 35

    4. Simulao numrica da atmosfera

    4.1. Reviso sobre simulao numrica

    Antes do detalhamento do assunto necessrio definir alguns termos prprios da

    simulao numrica. Um modelo uma representao ou interpretao simplificada

    da realidade. Para resolver um determinado fenmeno em cincias naturais, cria-se

    um modelo matemtico, capaz de resolver as equaes da fsica que representam

    tal fenmeno. Resolver as equaes de determinado fenmeno analiticamente nem

    sempre conveniente, desta forma, mtodos numricos so empregados. Estes

    mtodos constituem-se de um conjunto de rotinas e procedimentos atravs dos

    quais o computador trata e eventualmente resolve um modelo matemtico.

    Utilizando um ou mais mtodos numricos possvel criar um cdigo computacional

    para resolver o modelo matemtico de determinado problema. Este cdigo recebe o

    nome de modelo numrico. O ato de executar um tal cdigo recebe o nome de

    rodada do modelo ou integrao do modelo nos casos em que o modelo fsico

    constitudo por equaes diferenciais, que precisam ser integradas para ser

    resolvidas.

    Um modelo numrico escrito para resolver a dinmica da atmosfera

    denominado um modelo atmosfrico. Os modelos atmosfricos se classificam em

    globais, que tem como domnio toda a superfcie do planeta e regionais, de rea

    limitada ou de mesoescala, que resolvem alguma regio especfica. Previso

    numrica do tempo (PNT ou NWP em ingls) a previso do estado futuro da

    atmosfera realizada atravs da rodada de um modelo atmosfrico.

    Define-se como domnio do modelo a regio do espao das variveis

  • 36

    independentes do modelo matemtico onde se realiza a simulao numrica, que no

    presente contexto o resultado do uso dos modelos numricos para resolver

    problemas reais. Os domnios podem ainda ser aninhados, ou seja, a simulao

    pode ser realizada com um ou mais domnios menores dentro de um domnio maior,

    chamado domnio-me.

    Durante o processo de resoluo das equaes do modelo matemtico, e

    dependendo do mtodo utilizado, os domnios so divididos em partes. A esta

    diviso d-se o nome de grade ou malha numrica. A distncia entre dois pontos de

    grade o espaamento de grade. Em problemas dependentes do tempo, o domnio

    temporal tambm dividido em partes denominadas passo de tempo. Diz-se que a

    resoluo numrica espacial e temporal do modelo aumenta medida que o

    espaamento de grade e o passo de tempo diminui, respectivamente, e vice-versa.

    Durante a resoluo numrica do modelo matemtico, as variveis recebem

    valores apenas nos pontos de interseo da grade e o problema resolvido apenas

    nestes pontos. Os processos que ocorrem em dimenses menores que o

    espaamento de grade so chamados de processos de sub-grade e so resolvidos

    implicitamente. Os processos que ocorrem em dimenses maiores so resolvidos

    explicitamente pelo modelo numrico. A modelagem matemtica adotada para

    descrever os processos sub-grade, chamada parametrizao, isto , um

    conjunto de equaes que relaciona as variveis sub-grade com as variveis

    explcitas do modelo matemtico. Em relao s equaes do modelo matemtico, a

    dinmica do modelo a parte resolvida explicitamente, enquanto sua fsica a parte

    parametrizada.

    As condies de contorno de um mtodo numrico tm mesmo uso que na

    soluo de equaes diferenciais. So expresses matemticas que definem os

  • 37

    valores que uma certa varivel dependente deve ter ao longo do tempo e em cada

    um dos limites do domnio. Para problemas que dependem de (x,y,z,t), so

    expresses como, por exemplo, f = f(x,y,z0,t) que define a forma que a soluo do

    problema, f = f(x,y,z0,t), deve ter no hiper-plano z = z0. O nmero total de condies

    de contorno depende, evidentemente, das equaes de governo do problema, ou

    seja, de seu modelo matemtico.

    Semelhante s condies de contorno, as condies iniciais definem os

    valores que certa varivel dependente deve ter ao longo dos limites do domnio no

    incio da contagem do tempo. So expresses como f = f(x,y,z,t0) e definem a forma

    que a soluo ( , , , )x y z t deve ter no hiper-plano t = t0.

    Dados de inicializao do modelo so o conjunto de dados atmosfricos

    contendo as condies iniciais e de contorno necessrias rodada do modelo

    atmosfrico. Denomina-se resoluo dos dados ao espaamento de grade e passo

    de tempo dos dados de inicializao.

    Para descrever de forma coerente o estado futuro da atmosfera, os modelos

    atmosfricos utilizam a assimilao de dados, processo de combinar

    estatisticamente dados observacionais e PNTs de curto prazo. Tambm chamada

    assimilao de dados quadridimensional (trs variveis espaciais e uma temporal)

    ou 4DDA.

    Anlise objetiva um conjunto de mtodos matemticos que permite ajustar

    dados observacionais brutos grade numrica para uso como condies de

    contorno e iniciais. A partir dos dados brutos, que so discretos, a anlise objetiva

    gera funes contnuas das variveis dependentes no espao latitude-longitude-

    altura (para problemas geo-referenciados, evidentemente).

    Os dados da anlise objetiva podem ser usados como condio inicial para uma

  • 38

    rodada de curto prazo de um modelo atmosfrico global. Ao resultado desta rodada,

    d-se o nome de anlise. O modelo global serve, entre outras coisas para garantir a

    coerncia fsica das variveis meteorolgicas, uma vez que o modelo matemtico foi

    satisfeito. Os arquivos de sada do modelo global so fornecidos ao WRF como

    condies iniciais e de contorno.

    Os dados de anlise so regularmente gerados por institutos como o NCEP e

    o CPTEC para vrios dias adiante da data corrente, para abastecer modelos de rea

    limitada.

    Dados de reanlise so gerados de forma semelhante aos de anlise, com

    duas diferenas. Eles no so gerados em tempo real e so gerados apenas para o

    breve espao de tempo igual ao intervalo necessrio para que o prximo arquivo de

    dados observacionais bruto esteja disponvel. So dados de arquivo e incluem uma

    diversidade de campos derivados, como calor, umidade do solo, etc., para os quais

    praticamente no h dados brutos. A Fig. 4.1-1 representa os dados de entrada do

    modelo WRF.

    Figura 4.1-1 Inicializao do modelo WRF

    4.2. Modelos Atmosfricos

    O meteorologista britnico Lewis Fry Richardson, em 1922, publicou o primeiro

    trabalho no qual foram apresentados resultados de previso do tempo atravs de

    soluo numrica. Neste trabalho, Richardson desenvolveu um mtodo diferente de

    analisar as equaes, simplificando-as antes de resolv-las numericamente sem o

    auxlio de computadores (RICHARDSON, 1922). Entretanto, somente aps a dcada

    Modelo Global

    Dados de reanlise

    Modelo Regional ou

    de mesoescala

    WRF

  • 39

    de 40, foi possvel utilizar a simulao numrica do movimento atmosfrico, com o

    desenvolvimento de computadores e programas pelos matemticos John von

    Neumann e Jule Charney. Charney fez a primeira previso numrica do tempo em

    um computador (ENIAC), usando um modelo unidimensional (OLIVEIRA, 2006).

    Com os recursos computacionais hoje disponveis, os modelos numricos,

    podem ser usados para simular sries de vento em longos perodos de tempo. O

    uso destes modelos vem sendo bastante relevantes para a avaliao de recursos

    elicos e previso de potncia elica (SEMPREVIVA et al.,2004).

    A previso numrica da magnitude e da direo do vento uma ferramenta

    utilizada pelo homem para contornar sua incapacidade de control-lo, principal

    desvantagem da energia elica. Neste contexto, utiliza-se a tcnica conhecida como

    modelagem atmosfrica de mesoescala, um tipo particular de simulao numrica,

    que se apresenta como uma soluo conveniente, por demandar investimento

    relativamente baixo e ter se revelado bastante confivel nas ltimas dcadas. Para

    que possa ser devidamente empregada, entretanto, faz-se necessria a calibrao

    do programa computacional utilizado, bem como a execuo de testes de

    sensibilidade s opes de parametrizao oferecidas pelo referido programa, onde

    diferentes combinaes de opes fsicas e domnios so analisadas, permitindo,

    mesmo de forma emprica, uma escolha criteriosa das opes mais adequadas.

    Para o levantamento do potencial elico via simulao numrica muito

    comum a combinao de um modelo atmosfrico de meso-escala com um de micro-

    escala. o caso da dupla KAMM/WASP (Karlsruhe Atmospheric Mesoscale

    Model/Wind Atlas Statistical Package) muito popular em estudos europeus, e da

    dupla MASS/WindMap (Mesoscale Atmospheric Simulation System), utilizada na

    confeco do Atlas do Potencial Elico do Brasil (CEPEL, 2001).

  • 40

    Outros modelos de meso-escala muito utilizados so o RAMS (Regional

    Atmospheric Modelling System), o MM5 (PSU/NCAR Mesoscale Model 5), o Modelo

    ETA, que deve seu nome coordenada vertical utilizada, e o WRF (World Research

    and Forecasting Model). Dentre os modelos de micro-escala destaca-se tambm o

    MS-Micro.

    O modelo MM5 foi usado por Durante and Tim (2004) para os estudos dos

    regimes de vento em Caubaw, com o objetivo de modelar perfis de vento na camada

    limite inferior, e comparar os resultados com os perfis medidos. Os perfis so

    calculados usando os esquemas do MM5: Blackadar, ETA e MRF PBL. O perfil

    vertical de vento para os trs esquemas de PBL simulados so similares aos

    encontrados atravs de medidas. Segundo Durante and Tim (2004) a

    parametrizao de PBL tem grande influncia no perfil de vento simulado. Ainda

    segundo ele a parametrizao ETA PBL mostra maior concordncia com o perfil de

    vento obtido com dados de medies.

    Dvorak et al. (2010) utilizaram o MM5 para simulaes de disponibilidade de

    vento off-shore, em vez de dados in situ ou ainda dados de satlite, que so

    registrados apenas duas vezes por dia. Foram configuradas as parametrizaes de

    camada limite planetria, a parametrizao de cumulus de Grell, e Simple Ice

    (Dudhia) para umidade, todas estas parametrizaes foram usadas no domnio

    externo.

    Cunha et al. (2006) simulou o potencial elico de uma regio serrana do cear

    utilizando Regional Atmospheric Modeling System RAMS, um dos modelos

    atmosfricos disponveis na atualidade. Regies serranas ou de terrenos complexos

    so regies nas quais os modelos sentem mais dificuldade de simular a realidade,

    pois so mecanismos forantes e podem produzir fortes gradientes nos campos

  • 41

    atmosfricos dos modelos que utilizam coordenadas verticais que acompanham o

    terreno. Essas regies possuem, em geral, bom potencial elico. E muitos pases j

    as utilizam para a instalao de parques ou usinas elicas, como, por exemplo, os

    Estados Unidos (AWEA, 2006).

    Outro modelo numrico de mesoescala o MesoMap cuja anlise foi feita por

    McElroy et al. (2009), a partir desta anlise, uma srie de desafios de modelagem

    foram encontrados desde a rugosidade do terreno, passando pela espessura da

    camada limite, e tambm a resoluo da grade da simulao.

    Segundo McElroy et al. (2009), o vento uma importante fonte de gerao de

    eletricidade na China, porm a performance operacional das fazendas elicas esto

    bem abaixo dos EUA, este fato atribudo a uma combinao de fatores:

    velocidades do vento mais baixas na china, baixa qualidade das turbinas utilizadas,

    de fabricao interna e implantao de parques elicos em lugares com pouca

    disponibilidade devido triagem prvia inadequada dos recursos de vento

    potencialmente disponveis. Em seu estudo, McElroy et al.(2009) afirma que

    eletricidade poderia ser gerada pelo vento independente do preo para instalaes

    capazes de operar com fator de capacidade maior que 20%.

    Uma campanha de observao de vento para fins elicos, realizada sob

    coordenao Engenharia Mecnica e Gesto Industrial (INEGI) para a Eletricidade

    da Madeira em Portugal, permitiu reunir um longo perodo de observaes quase

    contnuas de vento em mastros meteorolgicos a 20 e 40 m da superfcie, no

    planalto do Paul da Serra, acima dos 1,4 km de altitude. Estes dados oferecem um

    bom caso teste para o estudo de modelos numricos de mesoscala na avaliao do

    potencial e na previso de produo elica. Utilizando-se dois modelos de

    mesoscala, no hidrostticos: o modelo MM5 e o modelo NH3D, Miranda et al.

  • 42

    (2003) utilizou uma metodologia de simulao meteorolgica de mesoescala para

    simular a distribuio do vento na Ilha da Madeira. Essas simulaes foram

    validadas, ponto a ponto, por comparao com medidas da intensidade do vento

    realizadas de 10 em 10 minutos, em 4 estaes de medida, aos 40 de altura, na

    zona do Paul. As comparaes entre observaes e simulaes produziram

    resultados encorajadores, mostrando a viabilidade prtica da metodologia utilizada.

    Sood et al. (2006) comparou as simulaes produzidas pelo MM5 e por WAsP

    ao longo do golfo alemo do Mar do Norte. A velocidade do vento previsto pelo

    WASP e MM5 so validados utilizando dados medidos in situ.

    De Maria et al.(2008) descreve uma metodologia que permite a escolha da

    melhor dentre duas ou mais opes do modelo que se queira comparar, por meio da

    estimativa de ndices estatsticos e medidas de erro, calculados a partir de dados

    observados. Esta metodologia ainda aplicada nas comparaes de diferentes

    opes de espaamento de grade horizontal, parametrizaes de turbulncia e

    relaxamento newtoniano.

    4.3. Equaes bsicas

    O comportamento da atmosfera pode ser descrito atravs de princpios fsicos

    conservativos, que devem ser satisfeitos simultaneamente (PIELKE, 2002).

    4.3.1. Conservao da Massa de Ar

    A equao da conservao da massa de ar, assumindo que no existem fontes ou

    dissipadores de massa, pode ser escrita:

    ( )Vt

    (20)

  • 43

    onde a densidade, V o volume e t o tempo.

    4.3.2. Conservao da Energia

    A atmosfera se observada em mesoescala, apresenta comportamento semelhante

    aos gases ideais, assim, a equao da temperatura geopotencial obtida atravs da

    primeira lei da termodinmica, pode ser escrita:

    V St

    (21)

    sendo a temperatura potencial, V o volume e S representa as fontes e

    dissipadores de calor, expresso pelas variaes na temperatura potencial.

    4.3.3. Conservao da Quantidade de Movimento

    A partir da segunda lei de Newton e considerando a fora de Coriolis, a equao do

    movimento pode ser escrita:

    1

    2V

    V V p g Vt

    (22)

    onde V a velocidade, t o tempo, a densidade, p a presso, g a

    acelerao da gravidade, a velocidade angular. /V t representa a acelerao

    local, V V a acelerao advectiva, /p a fora devido ao gradiente de

    presso, 2 V o termo de Coriolis e g o termo gravitacional.

    4.3.4. Conservao da gua

    A gua pode ser encontrada na atmosfera em seus 3 estados fsicos, slido, lquido

    ou vapor, e pode ainda mudar de fase. A equao de conservao da gua pode ser

    escrito como:

  • 44

    , 1,2,3n

    nn q

    qV q S n

    t

    (23)

    onde q1,q2 e q3 so fraes de massa de gua slida, lquida e vapor, em

    relao a massa de ar no mesmo volume, t o tempo, V o volume e Sqn o termo

    fonte dissipativo referente aos processos nos quais ocorre as mudanas de fase da

    gua, precipitao e nos quais a gua gerada ou perdida nas reaes qumicas.

    4.3.5. Conservao de Outros Gases e Materiais Aerossis

    A relao de conservao usada para gua, pode tambm ser usada para qualquer

    material aerossol ou gs na atmosfera.

    , 1,2,3,...,m

    mmV S m M

    t

    (24)

    onde m se refere a qualquer espcie qumica, com exceo da gua, t o

    tempo, V o volume, m

    S o termo fonte-dissipativo.

    4.4. Modelo Atmosfrico de Mesoescala WRF

    Diversos modelos atmosfricos encontram-se em uso na atualidade, cada um com

    suas caractersticas prprias. Os mais utilizados dentre os modelos regionais so o

    RAMS, o BRAMS, o MM5, o WRF, o ETA e o MASS.

    O WRF, utilizado neste trabalho, um modelo atmosfrico de mesoescala de

    cdigo livre e gratuito, criado, desenvolvido e mantido atravs de um esforo

    colaborativo entre grandes institutos de pesquisa como:

    National Center for Atmospheric Research (NCAR),

    National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA),

  • 45

    National Centers for Environmental Prediction (NCEP),

    Forecast Systems Laboratory (FSL),

    Air Force Weather Agency (AFWA),

    Naval Research Laboratory,

    University of Oklahoma,

    Federal Aviation Administration (FAA).

    O WRF um desenvolvimento do MM5, com uma nova arquitetura de

    software evoluindo o paralelismo computacional e facilitando o desenvolvimento de

    extenses. Atualmente o WRF encontra-se em sua terceira verso, projetada para

    ser flexvel, de cdigo portvel, possui um cdigo fonte nico configurado tanto para

    a pesquisa quanto para uso operacional. O modelo adequado para um amplo

    espectro de aplicaes em escalas que variam de metros a milhares de quilmetros.

    Outra caracterstica importante a capacidade de realizar simulaes que refletem

    configuraes reais ou idealizadas. Fornece ainda previso operacional (PNT) alm

    de avanos na fsica, numrico e de assimilao de dados, simulaes climticas de

    pequena escala e acoplamento oceano-atmosfera.

    Os principais componentes do sistema WRF verso 3 esto representadas na

    Fig. 4.4-1. Como mostra a figurga, o sistema WRF consiste das seguintes grandes

    partes: o sistema de pr-processamento WRF, o WPS, e o modelo numrico

    propriamente dito, o ARW. As principais funes do WPS so a definio dos

    domnios da simulao, interpolao dos dados do terreno e interpolao dos dados

    meteorolgicos ambos para o domnio da simulao.

  • 46

    Figura 4.4-1 - Estrutura do software WRF

    4.4.1. WPS

    O WPS um conjunto de trs programas cuja funo preparar os dados reais de

    entrada da simulao. Cada programa realiza um estgio da preparao. O geogrid

    define os domnios do modelo e interpola os dados geogrficos para a grade do

    domnio. O Ungrib extrai os campos meteorolgicos a partir do formato GRIB e o

    Metgrid responsvel por interpolar horizontalmente os dados meteorolgicos

    extrados pelo Ungrib.

    Infra-estrutura do software WRF

    Filtro

    digital

    WRF-Var

    Assimilao de

    dados

    Interface

    Fsica

    Pacotes de

    Fsica

    Sistema de pr-

    processamento

    WRF

    Anlises/ Previses

    Observaes

    Solucionador dinmico

    ARW

    WRF Qumica

    Ps-processamento

  • 47

    Dados geogrficos

    estticos

    Gridded Data:

    NAM, GFS, RUC,

    etc

    WPS

    Geogrid

    namelist.wps

    Ungrib

    Metgrid Real.exe

    Figura 4.4.1-1 - Estrutura WPS

    O Geogrid tem como principal funo definir os domnios da simulao e

    interpolar os dados de terreno para a grade do modelo. O domnio da simulao

    definido atravs de informaes especificadas pelo usurio no namelist.wps. O

    Geogrid vai interpolar categorias de solo, categorias de uso do terreno, altura do

    terreno, mdia anual de temperatura do solo, frao de vegetao (mensal), albedo,

    albedo de neve mximo e categoria de encosta, todos para a grade do modelo.

    As condies de contorno e iniciais necessrias ao modelo so fornecidos

    pelo site http://www.mmm.ucar.edu, estas so resultados da simulao de um

    modelo global, e s precisam ser baixadas uma vez. Alguns dados encontram-se

    disponveis nas resolues 30, 2, 5, e 10. O usurio no precisa baixar todas as

    resolues disponveis, entretanto quando o usurio trabalha com domnio que

    cobre grande rea, pode baixar todas as resolues disponveis de dados do

    terreno. Conjuntos de campos adicionais podem ser interpolados atravs do

    GEOGRID.TBL que define cada um dos campos que ser produzido pelo Geogrid e

    descreve o mtodo de interpolao que ser usado para cada campo, bem como a

    localizao no sistema de arquivos onde o conjunto de dados para cada campo est

  • 48

    localizado. Os arquivos de sada do Geogrid so escritos no formato I/O API, ou

    tambm no formato NetCDF I/O.

    O programa Ungrib l arquivos de formato GRIB1 e GRIB2 e escreve os

    dados em um formato simples, chamado formato intermedirio. Os arquivos no

    formato GRIB contm campos meteorolgicos variveis no tempo. Normalmente

    estes arquivos contm mais campos que os necessrios para inicializar o WRF,

    ento, o Ungrib define quais os campos sero extrados do formato GRIB e escritos

    no formato intermedirio. O Ungrib pode escrever arquivos intermedirios em

    qualquer dos seguintes formatos: um novo formato contendo informaes teis para

    os demais programas, SI, o formato intermedirio do sistema WRF e o formato MM5,

    qualquer um desses formatos pode ser usado pelo WPS para inicializar o WRF,

    embora o formato WPS seja mais recomendado. O trabalho realizado pelo Ungrib

    no passvel de paralelizao, assim o Ungrib s pode ser executado em um nico

    processador.

    O Metgrid por sua vez, interpola horizontalmente os dados meteorolgicos no

    formato intermedirio que so extrados pelo ungrib para os domnios da simulao,

    definidos pelo geogrid. A sada dos dados interpolados do metgrid pode ser lida pelo

    programa real.exe. assim como o Ungrib dependente do tempo, ele executado

    sempre que uma nova simulao inicializada. Atravs do Metgrid possvel

    especificar opes como os mtodos de interpolao a ser usado para cada campo.

    O Metgrid pode escrever seu arquivo de sada no formato NetCDF usando pacotes

    externos, incluindo nova verso do RIP4.

    O WRF pode gerar dois tipos de simulao, o primeiro a partir da

    inicializao de dados ideais e o segundo a simulao a partir de dados reais, os

    dois tipos de inicializao so usados separadamente e so processadas antes do

  • 49

    mdulo WRF. As simulaes idealizadas produzem um arquivo de condio inicial a

    partir de um arquivo j existente e assume orografia simplificada. Os casos de dados

    reais requerem pacotes de pr-processamento que fornecem informaes da

    atmosfera com fidelidade apropriada para a resoluo de grade escolhida para o

    modelo.

    4.4.2. ARW

    O ARW o ncleo do modelo computacional, ou seja, o mdulo que resolve o

    modelo matemtico. Como ele resolve as equaes da dinmica atmosfrica, entre

    outras, ele conhecido como um solucionador dinmico (dynamic solver), mas

    abrange, de fato, tambm os esquemas fsicos, as rotinas de inicializao e os

    pacotes de assimilao de dados.

    Esquemas fsicos so modelos que calculam as tendncias para as

    componentes da velocidade, temperatura potencial e campos de umidade.

    Este mdulo integra as equaes de Euler. Estas equaes so expressas

    em forma de fluxo, utilizando variveis que tem propriedades conservativas. As

    equaes so formuladas usando uma coordenada vertical de massa que segue o

    contorno do terreno, denotada por e definida como:

    ( ) /h ht hs htp p onde p p (25)

    em que a componente hidrosttica de presso e e so os valores da

    superfcie e do topo, respectivamente. A definio da coordenada vertical dada pela

    eq. (24), a tradicional coordenada usada em muitos modelos atmosfricos

    hidrostticos. Esta coordenada vertical tambm chamada de coordenada vertical

    de massa. Sendo (x, y) a coordenada vertical de massa por unidade de rea, as

    variveis em forma de fluxo apropriadas so:

  • 50

    ( , , ), ,V v U V W

    (26)

    so as covarincias da velocidade nas direes horizontal e vertical

    respectivamente, a covarincia vertical da velocidade, a temperatura

    potencial, ou seja, a temperatura que cada parcela de ar teria se fosse elevada

    adiabaticamente do seu estado real de presso, para a presso de referncia (a

    nvel do mar). Variveis no conservativas tambm aparecem nas equaes de

    governo resolvidas pelo ARW, =gz (geopotencial), p (presso), e =1/.

    Tendo definido as variveis acima, as equaes em forma de fluxo de Euler

    podem ento ser escritas:

    ( ) ( ) ( )t x x UU V u p p F (27)

    ( ) ( ) ( )t v y y VV V p p F (28)

    ( ) ( )t w wW V g p F (29)

    ( )t V F (30)

    ( ) 0t V (31)

    1 ( ) 0t V gW (32)

    (33)

    0 0( / )dp p R p (34)

    h htp p

    (35)

    Nas equaes (27) a (34), os subscritos x, y e denotam a diferenciao,

    = cp/cv = 1,4 a relao entre calores especficos para o ar seco. Rd a constante

    do gs para o ar seco, 287 J kg-1 K-1,e p0 a presso de referncia, tipicamente 105

    Pa. Os termos do lado direito, FU, FV, FW e F representam as forantes decorrentes

    dos modelos de fsica, mistura turbulenta, projees esfricas e rotao da Terra.

  • 51

    As equaes prognsticas (27) a (32) so expressas na forma conservativa,

    exceto a equao que deriva da definio de geopotencial. A equao (32) poderia

    ser substituda por uma equao prognstica de presso, porm, a presso no

    uma varivel conservativa e no poderia ser usada junto com a equao de

    conservao (30) porque elas so linearmente dependentes.

    Para a discretizao temporal, o modelo utiliza o mtodo de Runge-Kutta de

    3 ordem para resolver modos de baixa frequncia, que so meteorologicamente

    significantes, e o mtodo de integrao em pequenas escalas de tempo para modos

    acsticos de alta frequncia. Na discretizao espacial, para estimar os momentos

    de 2 at 6 ordens de adveco, tambm, utilizado o mtodo de Runge-Kutta de

    3 ordem. A difuso analisada de duas maneiras diferentes, uma ao longo da

    superfcie e a outra no espao fsico (x,y,z). Ver ARW Users Guide.

    Disponvel em: http://www.mmm.ucar.edu/wrf/users/docs/user_guide/contents.html.

    Acesso em 2011.

    4.4.3. Ps-processamento

    A massa de dados processados pelo WRF vem, em geral, num formato

    padronizado, que s pode ser lido por aplicativos compatveis. Os programas feitos

    para lidar com tais dados so chamados coletivamente de programas de ps-

    processamento.

    Todo modelo atmosfrico demanda a instalao de um pacote de ps-

    processamento para ser utilizado. Em meteorologia o formato mais comum para os

    dados, tanto de sada quanto de entrada o GRIB (GRIdded Binary), padronizado

    pela Organizao Meteorolgica Mundial (OMS).

    Dentre os diversos aplicativos capazes de lidar com dados no formato GRIB

    destaca-se o NCL (NCAR Command Language), desenvolvido pelo Computational &

  • 52

    Information Systems Laboratory do National Center for Atmospheric Research

    (NCAR) e patrocinada pelo National Science Foundation, uma linguagem livre

    projetada para processamentos de dados cientficos e visualizao. Possui cdigo

    porttil e coerentemente com o WRF, o NCL disponvel e gratuito. Permite criar

    grficos de alta qualidade com muitos recursos grficos, alm de possuir notvel

    capacidade de lidar com grandes conjuntos multidimensionais de dados e permite ao

    usurio criar suas prprias frmulas para manipular matematicamente os dados de

    sada do modelo. O NCL permite que o usurio escreva arquivos em lote (scripts)

    para automatizar o ps-processamento. Informaes mais detalhadas sobre o NCL

    podem ser encontradas em http://www.ncl.ucar.edu.

  • 53

    5. Metodologia

    A simulao numrica da atmosfera empregou o modelo atmosfrico de mesoescala

    WRF, que foi inicializado com dados meteorolgicos de reanlise do modelo global

    GFS do NCEP, com resoluo espacial de 1 (aproximadamente 111x111 km), e

    temporal de 6 horas, sendo os mesmos dados utilizados como condio de contorno

    durante a integrao. Tais dados foram recentemente colocados disposio da

    comunidade cientfica e implicam num aumento na qualidade das simulaes

    realizadas em projetos anteriores, que utilizavam dados de menor resoluo

    espacial (2,5) e temporal (12 horas). O conjunto completo de dados, com mais de

    350 GB, foi obtido do CISL Research Data Archive, um organismo ligado ao NCAR

    (National Center for Atmospheric Research). O terreno foi representado atravs dos

    dados do United States Geological Survey (USGS), com resoluo horizontal de 0,5

    (925 m) e preciso vertical na elevao do terreno de no mximo 30 m3.

    Para que a simulao do potencial seja representativa do ano inteiro, o

    modelo foi rodado para 64 dias extrados dentre os ltimos 12 anos. Os dias foram

    escolhidos por meio de amostragem estratificada aleatria, considerando as

    estaes do ano, primavera, vero, outono, inverno, mesmo procedimento usado na

    confeco do Atlas Elico Minas Gerais (2010). A limitao de 12 anos deve-se a

    que este o perodo em que os dados encontram-se disponveis.

    Em relao ao tempo de simulao, algumas opes foram consideradas

    durante a fase de testes de sensibilidade. Dentre as opes avaliadas, optou-se por

    simulaes feitas para grupos de 6 horas mais 2 dias, novamente abandonando as 6

    3 Disponvel em: (http://dss.ucar.edu/datasets/ds758.0/docs/readme.txt). Acesso em 2011

  • 54

    primeiras horas, o tempo de ajuste foi definido como necessrio para permitir que as

    condies de iniciais, relativamente esparsas em relao grade numrica,

    pudessem migrar at o centro de cada clula da grade. Como mencionado

    anteriormente, a grade numrica utilizada possui resoluo de 9 km enquanto os

    dados de inicializao e contorno possuam resoluo de 108 km (1). O tempo de

    processamento gasto em cada rodada foi de aproximadamente 120 horas.

    Os domnios da simulao foram escolhidos de modo a manter as regies de

    interesse longe de suas bordas. Para isso, utilizamos dois domnios aninhados, com

    comunicao bidirecional, de forma que o Estado de Minas Gerais ficou totalmente

    contido no domnio interno.

    A figura 5-1 mostra 3 domnios, sendo os dois domnios externos utilizados

    neste trabalho, e o domnio 3 utilizado em um outro trabalho (SIQUEIRA et al., 2011)

    Figura 5-1 - Domnio da simulao

  • 55

    Inicialmente, visando a seleo de regies de elevado potencial elico, foram

    empregadas malhas com espaamento de grade de 3 x 3 km, cobrindo toda a regio

    de interesse. Dentre todos os resultados gerados pelo modelo, destacamos a

    velocidade e a direo do vento e a potncia elica, suas mdias anual e trimestral.

    Uma alta resoluo espacial vertical, com 45 nveis, com maior concentrao

    prximo superfcie, ser utilizada para melhor representar o escoamento

    atmosfrico na altura acima do solo tpica das turbinas elicas atualmente utilizadas,

    calculou-se a magnitude do vento e a potncia elica para as alturas, 10 m, 30 m,

    50m, 80 m, 100 m e 120 m. Foram ainda geradas rosa dos ventos, comparando a

    direo predominante dos ventos simulados e observados, em algumas estaes

    escolhidas.

    Por fim, as seguintes parametrizaes fsicas foram usadas:

    Microfsica: WRF Single-Moment 3-class, WSM3, para o domnio maior,

    e WRF Single-Moment 5-class, WSM5 para a grade menor.

    Radiao de ondas longas: esquema RRTM

    Radiao de ondas curtas: esquema Goddard

    Camada superficial: teoria de similaridade, Eta

    Superfcie: Noah-LSM

    Camada limite planetria: esquema Mellor-Yamada-Janjic

    Cumulus: esquema Kain Fritsch

    Todos os esquemas so bem conhecidos e documentados na literatura e uma

    descrio sucinta, bem como os respectivos trabalhos de referncia, podem ser

    encontrados no manual do WRF4.

    4 Disponvel em: (http://www.mmm.ucar.edu/wrf/users/docs/user_guide/contents.html) Acesso em

  • 56

    Aps obter os resultados de todo o perodo de simulao, os resultados foram

    comparados com dados obtidos de algumas estaes meteorolgicas do Estado.

    2011.

  • 57

    6. Resultados

    Esta seo apresenta os principais resultados do estudo. Primeiramente, so

    mostrados grficos comparando a magnitude da velocidade do vento simulada e

    observada em estaes meteorolgicas do Estado, Figs. 6-2 a 6-5, em um dia de

    cada estao do ano. Foram escolhidas 10 cidades, das 55 disponveis no site do

    INMET5, cuja localizao est ilustrada na figura 6.1. Uma tabela detalhada com os

    dados utilizados para comparao encontra-se no Anexo B.

    Figura 6-1 Estaes meteorolgicas de superfcie

    As informaes sobre as cidades escolhidas para comparao encontram-se

    na Tabela 6-1

    5 www.inmet.gov.br

  • 58

    Tabela 6-1 Localizao das estaes de superfcie das cidades escolhidas para comparao

    Cidade Latitude Longitude Altitude (m)

    Belo Horizonte -19.8839 -43.9694 869.00

    Curvelo -18.7478 -44.4536 670.00

    Espinosa -14.9167 -42.8000 570.00

    Governador Valadares -18.7906 -41.9864 263.00

    Juiz de Fora -21.7700 -43.3642 950.00

    Maria da F -22.3142 -45.3731 999.99

    Passos -20.7453 -46.6339 875.16

    So Joo del Rei -21.1061 -44.2506 991.00

    So Romo -16.3622 -45.1236 460.00

    Uberlndia -18.9166 -48.2500 869.00

  • 59

    Figura 6-2 Comparao da magnitude da velocidade do vento Vero

  • 60

    Figura 6-3 Comparao da magnitude da velocidade do vento - Inverno

  • 61

    Figura 6-4 Comparao da magnitude da velocidade do vento - Outono

  • 62

    Figura 6-5 Comparao da magnitude da velocidade do vento Primavera

  • 63

    A Tabela 6-2 apresenta as diferenas entre as velocidades mdias dirias

    observadas e simuladas, enquanto valores numricos das velocidades encontram-se

    no Anexo B. A localizao da estao utilizando o NCL feita a partir da latitude e

    longitude da mesma. Assim, o programa localiza o ponto mais prximo na grade

    numrica. A distncia entre a posio real da estao e o ponto mais prximo, usado

    pelo NCL para calcular a magnitude dada por d nas tabelas.

    Tabela 6-2 Diferena percentual entre magnitude mdia do vento observada e simulada

    Vero Inverno Outono Primavera

    d (m) Dif. % Dif. % Dif. % Dif. %

    Belo Horizonte 0,87 39,0 29,5 50,5 56,2

    Curvelo 1,24 32,3 18,0 46,1 33,5

    Espinosa 1,19 59,4 48,0 56,2 54,6

    Gov. Valadares 0,83 15,7 20,8 48,9 52,4

    Juiz de Fora 1,31 70,4 5,2 89,0 71,0

    Maria da F 1,30 79,7 78,1 80,9 79,7

    Passos 1,33 49,1 50,0 49,0 61,5

    So Joo del Rei 1,27 27,1 -1,4 35,2 21,1

    So Romo 1,12 55,9 45,4 52,6 72,2

    Uberlndia 0,46 37,2 51,3 42,4 39,3

    Antes das rodadas do modelo foram gerados grficos de relevo do Estado de

    Minas Gerais. O relevo utilizado na simulao foi obtido dos dados topogrficos

    utilizados pelo WRF, usando a mxima resoluo disponvel, de 0,9 x 0,9 km. O

    aplicativo de ps-processamento NCL que gerou a fig. 6.6, reduziu esta resoluo

    para 3x3 km. O relevo medido, publicado pelo IBGE, mas obtido pelo NIMA (National

    Imagery and Mapping Agency EUA) tem resoluo de 1x1 km, Fig. 6-7.

    Observa-se que a despeito da maior resoluo das medidas do IBGE, os

    relevos basicamente coincidem em todo territrio do Estado. Em particular, a

    principais serras mineiras, do Espinhao e da Mantiqueira, aparecem bem

    representadas pelos dados do WRF, assim como