1 a organizaÇÃo do trabalho pedagÓgico da fef/ufg
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A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO DA FEF/UFG: LIMITES E POSSIBILIDADES DE UMA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CRÍTICA
Aline da Silva Nicolino∗
Doutora, FEF/UFG Helena Márcia Monteiro de Santana
Especialista, FEF/UFG e SME/Goiânia Rosirene Campelo dos Santos
Especialista, FEF/UFG e SME/Goiânia Wilson Luiz Lino de Sousa
Mestre, FEF/UFG
Introdução
Este ensaio visa apresentar as ações pedagógicas desenvolvidas no curso
de licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Goiás (FEF/UFG)
trabalhadas na disciplina Estágio Curricular Supervisionado (ECS), no ano letivo
de 2008. Apontamos para uma experiência pedagógica inovadora no campo da
formação profissional, visto a proposta de diálogo entre ensino, pesquisa e
extensão, buscando articular em uma perspectiva dialética a emancipação do
indivíduo social, tendo o movimento humano como eixo norteador de nossas
discussões.
A mediação entre ensino, pesquisa e extensão foi possível perante o
interesse dos professores de Educação Física e gestores pedagógicos em
contribuir, bem como o fechamento de convênios firmados com a Secretária da
Educação Municipal de Goiânia, legitimando e formalizando a relação entre
universidade e escola. Os momentos de regência e permanência nas instituições
de ensino público conveniadas com a FEF/UFG possibilitaram o enfrentamento da
realidade concreta, marcada pelas políticas neoliberais, que ao imprimir na escola
suas linguagens, destaca a segregação socioeconômica como fator relevante de
análise sobre a concepção de ciclos e seriação, progressão continuada,
avaliação, evasão, gênero, marginalidade, papel atribuído à escola pelos
cuidadores, entre outros. Tais arranjos e diversidades provocam o debate sobre a
∗ Professores do Núcleo de Didática e Prática de Ensino (NUDIPE) da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Goiás FEF/UFG
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práxis pedagógica durante o processo de formação acadêmica e os meios para
que isso seja estimulado, articulado e dialogado.
Para melhor descrever sobre a experiência do estágio em Educação Física
escolar em instituições municipais, de ensino infantil e básico, da cidade de
Goiânia/GO foi preciso conhecer, investigar e interpretar as problemáticas
vivenciadas e elucidadas no contexto escolar, bem como sua estrutura e
gerenciamento, além de atentar para questões importantes (matrizes teóricas,
campo de trabalho, status e ética profissional), que norteiam a formação dos
futuros professores. Para tal, a disciplina ECS investiu no registro e
documentação de tais experiências pedagógicas, organizando e sistematizando
tais informações formais e informais, de modo a viabilizar a compreensão de todo
processo e suas partes, permitindo uma maior reflexão, discussão e avaliação da
interlocução das bases teóricas com a prática social.
A disciplina ECS subsidia intenções pedagógicas, que de acordo com sua
ementa, propõe identificar e analisar as teorias da didática e da organização do
trabalho pedagógico, desenvolver estudo investigativo de problemáticas
significativas da organização geral da escola e da educação física, em especial,
planejamento, avaliação, gestão, projeto político-pedagógico e currículo, em
estabelecimentos de educação básica da rede pública de ensino. Além de estudar
as proposições para o ensino da educação física reconhecendo suas bases
teórico-metodológicas e sua viabilidade e possibilidades de implementação em
diversos ambientes educacionais, de modo a planejar e construir uma proposta de
ensino da educação física.
No enfrentamento da realidade concreta, após o levantamento de
problemáticas significativas observadas nos campos de estágio, sob as referidas
descrições dos rituais, das aulas de Educação Física, da otimização do trabalho
pedagógico, entrevistas e questionários aplicados no universo de estudo, as
informações são analisadas e discutidas, com base em referencial teórico crítico,
que permitem ações pedagógicas que propiciem a superação de dificuldades,
buscando objetivar a materialização do tripé ensino-pesquisa-extensão,
comprometida com um projeto histórico voltado para a emancipação e
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humanização da sociedade.
As ações pedagógicas partem de uma perspectiva crítica e dialógica,
viabilizadas pela mediatização da pedagogia histórico-crítica no campo da
Educação Física, com fundamentação teórica, principalmente, nas obras de
Saviani (2005, 2005a, 2005b), Gasparin (2003) e Coletivo de Autores (1992), para
pensar e propor conteúdos e métodos, bem como suas intermediações na relação
com seu ambiente de trabalho (escola, gestores, professores, alunos, família,
política, economia, religião). Assim, o ECS da FEF/UFG vislumbrou traduzir as
problemáticas levantadas nos campos de estágio sistematizando-as,
didaticamente, por cinco passos: prática social inicial, problematização,
instrumentalização, catarse e prática social final.
No final da intervenção no campo de estágio, como um dos critérios
avaliativos da disciplina, o aluno/estagiário elabora um relatório final que discute a
síntese das problemáticas levantadas em articulação com as referências tratadas
nos diferentes momentos que compuseram a regência, buscando apontamentos
de possibilidades superadoras, tendo como referência os objetivos da disciplina
articulados com o projeto político pedagógico (PPP) para a sua formação docente.
O produto de todo esse processo foi reunido de modo sistematizado, em
forma de portfólio e também em de CD-ROM, elaborados e entregues por cada
dupla ou trinca de alunos/estagiários como um dos critérios de avaliação da
disciplina.
Essa experiência também foi avaliada por meio de um seminário ampliado
que discutiu os impactos, limites e avanços da política de estágio desenvolvida na
FEF. Esse evento envolveu diversos atores dentre outros a coordenadora de
estágio da pró-reitora e a pró-reitora de graduação da UFG, diretores e
professores de Educação Física das escolas-campo, professores supervisores do
ECS e os alunos/estagiários. Como proposta de registro, a equipe que organizou
o citado seminário elaborou um instrumento avaliativo com o objetivo de levantar
dados relevantes, apontar limitações e sugerir proposições superadoras das
problemáticas vivenciadas no ECS no decorrer do ano.
Diante do exposto, consideramos relevante o relato de experiência do ECS
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da FEF/UFG, no sentido de contribuir com os pares na divulgação da mesma,
porém reconhecendo os limites das estruturas específicas e gerais, buscando
também apontamentos do coletivo e de outras vivências a fim de superá-los.
O curso de licenciatura plena da FEF/UFG
O curso de licenciatura da FEF/UFG foi criado em 1988 e reconhecido pelo
MEC em 1994. Sua criação esteve vinculada à implementação de uma proposta
progressista na formação de professores com inserção qualitativa na escola e nas
demais práticas educativas, pedagógicas e sociais.
Com essa proposta curricular buscou-se concretizar uma gama de
compromissos históricos, como o papel de se integrar nas transformações de
âmbito escolar, da Educação Física e Educação. Para atingir tais objetivos, o
projeto curricular da FEF/UFG apresentou várias inovações. Localizou sua área
acadêmica e profissional nas ciências humanas e sociais em contraposição à de
ciências biológicas e/ou ciências da saúde. Implementou tanto o conceito de
formação de docência ampliada e currículo estruturado por campos de
conhecimentos multidisciplinares, quanto um novo modelo de organização
pedagógica com um eixo epistemológico referenciado na cultura corporal de
movimento, no trabalho e na práxis pedagógica como elementos nucleares da
estrutura curricular. Houve, ainda, uma introdução de aprofundamento por
campos temáticos (áreas de aprofundamento de estudos) no contexto da
graduação superior. E, finalmente, a supressão do processo seletivo, ou seja, do
vestibular, baseado na aptidão físico-orgânica dos candidatos com o
deslocamento do corte avaliativo do vestibular voltado para a área de história e
língua portuguesa.
Dessa maneira, o curso de licenciatura se referendou pela produção de
conhecimentos acadêmicos e por pesquisas resultantes da intervenção social,
fortalecendo a prática da Educação Física escolar. Apesar de se comprometer,
historicamente, com a formação de professores para intervir nas escolas e na
educação, em uma perspectiva generalista e de necessidades colocadas pelo
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mundo social, esta formação também se relacionou à prática de atividades
corporais voltadas a intervenções profissionais direcionadas ao esporte, lazer,
saúde e políticas públicas.
Esse posicionamento político-pedagógico estabeleceu uma nova
configuração do projeto curricular, de caráter generalista para atuar no campo da
educação, escola e sociedade, considerando também os saberes e técnicas
relacionadas à cultura corporal do movimento nos demais campos de atuação
profissional. Todo esse processo foi balizado pela formação acadêmica e
profissional estruturado em seu sentido amplo e, ao mesmo tempo, verticalizado
para a intervenção na realidade prática.
Em 2005, a Resolução do Conselho de Ensino, Pesquisa, Extensão e
Cultura (CEPEC) da UFG, n° 7151, estabelecem as normas para o curso de
Licenciatura em Educação Física para os alunos que se ingressaram a partir do
referido ano que se encontra em vigência.
Com a finalidade de delimitarmos o objeto de estudo tratado neste ensaio,
centraremos a discussão sobre o entendimento contido no projeto político-
pedagógico da FEF2 sobre o estágio, a fim de nortear a reflexão sobre quais as
inovações implementadas no Estágio Supervisionado da FEF/UFG enquanto eixo
articulador do currículo.
No referido documento a prática é compreendida como “[...] articulação da
teoria com a realidade sócio-educacional visando superar ou minimizar o
distanciamento entre a teoria e prática ou, mesmo, entre os aspectos conceituais
e a intervenção pedagógica no mundo real.” Ou seja, o estágio se constitui em um
espaço curricular de experiência no qual o aluno, ao desenvolver sua pesquisa
educacional, terá como ponto de partida os limites e as possibilidades de acordo
com os nexos e relações voltados para a realidade social da área de Educação
Física no contexto da educação. De acordo com o PPP, a dimensão prática se
encontra presente nos componentes curriculares articulada com os conteúdos da
cultura corporal e com a prática pedagógica da educação física em âmbito escolar
que contemple a educação infantil, ensino fundamental e médio. 1 Disponível no sítio <htpp://www.fef.ufg.br>. Acesso em 18 mar. 09. 2 IDEM.
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O ECS se desenvolve na carga horária de 400 horas, sendo ministrado a
partir da segunda metade do curso, isto é, a partir do 5° período, e essa disciplina
se encontra inserida no Núcleo Específico do currículo. Sua implementação
ocorre em instituições públicas do sistema educacional básico da cidade de
Goiânia, abarcando a educação infantil, o ensino fundamental e médio.
A relação com os campos de atuação do estágio se dá pela
institucionalização de convênios estabelecidos, com o objetivo de tornar oficial o
compromisso entre os campos de intervenção no sistema, obedecendo assim a
legislação em vigor.
Nessa perspectiva, concordamos com Chaves, Gamboa e Taffarel (2003,
p.17) ao apontarmos que o ECS da FEF/UFG se caracteriza como uma dentre
outras várias “[...] experiências concretas de Prática de Ensino a fim de lograr um
maior grau de aprofundamento sobre a problemática complexa da formação
acadêmica interligada a práxis pedagógica e as necessidades e demandas da
realidade social”.
Os procedimentos teórico-metodológicos do ECS da FEF/UFG
A FEF/UFG, ao optar por uma ação de resistência à atual política de
formação de professores de Educação Física voltada para a perspectiva de
resultados advindos do modelo de sistema Capitalista globalizado, de acordo com
seu PPP (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS, 2005) busca refletir sobre a
[...] compreensão da contradição entre o mundo real e o mundo oficial, explicitada no projeto do governo federal e nas políticas sociais por ele apresentadas, visando adequar a formação humana no momento atual da crise capitalista mundial, oferece condições para construir ações (dialéticas) em seu interior, enraizando projetos e práticas de mudanças e de superação ao modelo vigente (UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS, 2005, p.7).
Nesse contexto, o ECS da FEF/UFG aponta para a possibilidade de
construir ações concretas sobre a realidade, segundo os apontamentos do
referido documento, de forma “[...] sedimentada e dialética sobre as contradições
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inerentes ao contexto social, associado à noção de complexidade e de
singularidade, como elementos constitutivos do mundo em que vivemos hoje”.
(IDEM, 2005, p. 7-8).
Para abarcar esses princípios da contradição e do movimento da realidade,
em função das ações concretas e objetivas no interior do conflito forjado pela
ordem capitalista, a disciplina ECS se referendou no materialismo histórico
dialético como possibilidade de apreensão do conhecimento. Esse referencial
teórico apresenta-se como a possibilidade de supressão da necessidade da
apropriação de instrumentos metodológicos e conceituais que possam conduzir à
direção objetivada na elaboração dos pressupostos teórico-metodológicos que
permeiam suas ações pedagógicas. Essas últimas devem estar comprometidas,
como nos elucida Tonet (2005), com “uma atividade educativa que queira
contribuir para a construção de homens livres deve estar conectada com a
emancipação humana [...].” Assim, podemos considerar que o ECS da FEF/UFG
vislumbra pela necessidade da apropriação de instrumentos metodológicos e
conceituais que possam conduzir à direção objetivada que permitam a formação
de professores de Educação Física, conforme inferências de David (2003), com o
objetivo de
[...] formar para a autonomia, para a liberdade e criatividade do sujeito histórico precisa, fundamentalmente, apoiar-se na prática social, entendendo-a como formação histórica e particularidade concreta. Assim, o processo de formação de professores precisa observar também a totalidade de relações que se estabelecem na constituição do real no seu todo. Nesses termos, torna-se impossível falar de Educação Física sem mencionar a formação de professores, a política de Estado, o pensamento neoliberal e a conjuntura capitalista internacional no processo de globalização econômica e o modo de pensar do homem no atual momento histórico-social (DAVID, 2003 apud UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS, 2005, p.8).
Portanto, podemos considerar que o ECS da FEF/UFG visa, conforme
apontamentos de Chaves, Gamboa e Taffarel (2003, p.22), “[...] a formação
humana, na perspectiva de ampliar a consciência e a transformação da
sociedade”.
A responsabilidade de organizar todas essas ações fica a cargo do
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coordenador do Núcleo de Didática e Prática de Ensino (Nudipe)3. Basicamente,
são atribuições do referido coordenador cumprir os princípios e as finalidades da
política de estágios da FEF/UFG; coordenar, acompanhar e providenciar os
campos de estágio; efetivar os; apoiar o planejamento com o devido
acompanhamento e avaliação das atividades de estágio; promover o debate e a
troca de experiências vivenciadas; e atualizar todos os registros relacionados ao
estágio.
Em 2008, coletivo de professores do estágio foi composto por seis
docentes, sendo três no período da manhã e os outros no da tarde. Esse número
de professores atende ao artigo 12º do capítulo V da Resolução 002/2006 da
FEF/UFG que estabelece até 15 (quinze) alunos/estagiários por professor
orientador. Cada turno se reúne toda segunda-feira para planejar as ações
pedagógicas a serem desenvolvidas durante a semana. E, mensalmente o
coletivo realiza uma reunião para a avaliação das atividades ocorridas e
deliberação de novos planos de ação de acordo com a necessidade surgida.
Definimos como imprescindível essa organização da coordenação de
estágio da FEF/UFG em relação ao trabalho pedagógico efetivado. Como discorre
Freitas (1995, p.94), esse tipo de trabalho pode ser entendido como aquele
desenvolvido em sala de aula e como organização global do trabalho
desenvolvido pela disciplina em sua totalidade.
O convênio com os campos de estágio se inicia com uma carta de
apresentação que propõe oficializar a intenção da realização de parceiras com
esses locais. Esse documento tem o objetivo de explicitar as atividades realizadas
no decorrer do estágio. Essas atividades são dividas em quatro etapas, durante o
ano letivo. A primeira é a apreensão da realidade do campo na qual o
aluno/estagiário tem a possibilidade de compreender, descrever e a analisar o
cotidiano escolar. A segunda etapa consiste em elaborar um projeto de ensino e
pesquisa a partir da problematização das situações vivenciadas e definir o tema
do projeto de ensino e pesquisa. Essa elaboração consubstancia a preparação
teórica de conhecimentos básicos de pesquisa, momento que o aluno desenvolve 3 Em 2008 o Nudipe foi composto pelos professores Aline Nicolino, Helena M. de Santana, Leonardo C. S. de Oliveira, Reigler S. Pedrosa, Renata Linhares e Rosirene C. dos Santos e o coordenador Wilson Luiz Lino.
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a atitude investigativa.
Na terceira etapa acontece o desenvolvimento do referido projeto de
ensino e pesquisa. E a quarta e última é construído o relatório final de estágio que
busca apresentar a síntese das atividades que evidencia a compreensão da
realidade escolar e as contribuições de todo o processo de investigação para a
construção pessoal e coletiva da formação docente. Essa síntese é apresentada e
debatida em cada campo de estágio como também no seminário realizado no
encerramento do ECS.
Tendo em vista ser esta uma proposta de parceria entre a escola e a
universidade a contrapartida da FEF/UFG será de caráter pedagógico, visando à
aproximação dos profissionais da escola concedente à produção acadêmica
desenvolvida na universidade por meio de atividades de ensino, pesquisa e
extensão.
Concordamos com as inferências de Moreira (2009) que
[...] as reflexões sobre o estágio no campo de pesquisa não poderão resolver os problemas da desalienação e da fratura entre teoria e prática. Contudo, poderá contribuir para o desvelamento da realidade escolar, demonstrando as reais possibilidades e limites dessa formação do professor na escola (MOREIRA, 2009, p.121).
Nessa perspectiva, a carga horária do ECS, em 2008, foi de 400
(quatrocentas) horas e essa disciplina ministrada a partir da segunda metade do
curso. Sendo que as primeiras 200 acontecem nos 5° e 6° períodos que
corresponde ao Estágio Curricular Supervisionado I (ECS I). E as horas restantes
desenvolvidas no Estágio Curricular Supervisionado II (ECS II), respectivamente
nos 7° e 8° períodos. O coletivo de alunos-estagiários é dividido em duplas para
atuarem nas aulas do ECS.
Como critérios avaliativos, os alunos/acadêmicos fazem prova escrita,
realizam trabalhos individual e em grupo, elaboram planos de ensino,
seqüenciador de aulas4, relatório final, pesquisa do tipo etnográfico e portfólio, e
4 O seqüenciador de aulas se constitui em uma estratégia pedagógica desenvolvida pelo coletivo de professores de Educação Física de Uberlândia/MG sob a orientação do professor Dr. Gabriel Henrique Muñoz Palafox. Ver MUÑOZ PALAFOX, Gabriel Henrique (org.). Planejamento Coletivo do Trabalho
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finalmente, apresentam seminário nas escolas-campo sobre a pesquisa feita na
escola e regência, como também pôster da síntese do trabalho pedagógico
desenvolvido durante o seminário ampliado no final do ano letivo.
Estágio Curricular Supervisionado I
O plano de ensino do ECS I no ano letivo de 2008 teve como objetivo geral
identificar e compreender a Organização do Trabalho Pedagógico (OTP) da
escola e da disciplina educação física propiciando a intervenção investigativa,
relacionando-a com possibilidades de novas formas de ação.
Como objetivos específicos o ECS I propõe oportunizar conhecimentos que
permitam associar a prática da Educação Física a aspectos sócio-politico-
culturais; vivenciar etapas do trabalho de pesquisa científica no âmbito da OTP da
escola e da educação física; possibilitar o exercício da ação – reflexão – nova
ação, tentando compreender: as relações entre o professor, a escola, o aluno, o
conhecimento e a realidade social; os problemas da escola no que se refere á
OTP da escola e da disciplina de Educação Física; a definição e conceituação de
Projeto Político-Pedagógico da escola; as necessidades e as estratégias de
planejamento; os princípios éticos necessários ao trabalho coletivo; o referencial
teórico-metodológico adotado; a justificativa do ensino da Educação Física na
escola; os objetivos da educação física na escola; os princípios metodológicos
privilegiados; os critérios de seleção de conteúdos; e concepção e práticas de
avaliação.
Os campos de estágio conveniados em 2008, no ECS I foram as escolas
municipais Amâncio Seixo de Brito, Balneário Meia Ponte, Brice Francisco
Cordeiro, Hebert José de Souza, professor Aristoclides Teixeira e a Creche da
UFG. O total de alunos/estagiários que atuaram nesses campos foi de 68
(sessenta e oito) que atenderam o montante de 647 (seiscentos e quarenta e
sete) discentes das escolas-campo.
Para que o aluno/estagiário pudesse desenvolver a capacidade reflexiva
Pedagógico - PCTP: a experiência de Uberlândia. 2. ed. Uberlândia: Casa do livro, Linograf, 2002.
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sobre a Didática e a OTP ao defrontar com a realidade concreta nos respectivos
campos de estágio o conteúdo programático foi divido em 5 (cinco) blocos
temáticos.
No primeiro bloco, Freitas (1995), num olhar mais amplo, faz uma revisão
bibliográfica sobre a Didática. Posteriormente, Rodrigues (2003) contextualiza e
relata a realidade da antiga disciplina Didática e Prática de Ensino. Nesse sentido,
buscou-se desenvolver um olhar do geral e do específico, em relação à Didática
que, nas indagações de Freitas (1995, p. 94), “[...] é um termo subsumido ao de
Organização do Trabalho Pedagógico [...]”.
No segundo se discutiu sobre o trabalho educativo; as teorias e práticas
voltadas à educação, seus atores mediatizados pela realidade social. Autores
como Tonet (2005), Saviani (2005, 2007, 2008), Duarte (1998) e Gasparin (2002)
dialogam, na perspectiva de uma pedagogia crítica capaz propor uma didática
sistematizada, dialógica e criativa, permeada por uma atividade educativa que
consiga contribuir para a formação de homens livres, ou seja, uma formação
voltada para a emancipação humana. A proposta didática de trabalho
discente/docente inferida por Gasparin (2003) possibilita partir da prática social
inicial do aluno, ir à teoria e retornar à prática e pode ser considerada como um
novo caminho para o trabalho na formação das competências e habilidades dos
futuros professores.
No terceiro, estudam as obras de Freitas (2003), Lima (2002), Veiga (1995,
1998 e 2001) elucubram sobre os elementos imprescindíveis para a análise e
compreensão do PPP dos campos de estágio e em específico, a Educação Física
enquanto cultura corporal. Posteriormente, foram analisados vários PPPs das
escolas-campo de anos anteriores.
No quarto bloco, André (1995), Ludke (1985) e Triviños (1987) são as
referências para fundamentar sobre a pesquisa qualitativa. Essa última possibilita
ao aluno/estagiário apreender a realidade do campo de estágio buscando
compreender, descrever e a analisar o cotidiano escolar. Nesse sentido, cada
dupla elabora seu projeto de ensino e pesquisa a partir da problematização das
situações vivenciadas desenvolvendo, assim, uma atitude investigativa.
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E, o quinto e último bloco, Fusari (1992), Muñoz Palafox (1996) e Coletivo
de Autores (1992) subsidiam uma interlocução sobre a importância do
planejamento do trabalho pedagógico e a implementação do seqüenciador na
elaboração do plano de aula. Esse bloco auxilia o aluno/estagiário na construção
do plano básico de ensino e no seqüenciador das aulas a serem ministradas
durante o estágio que é apresentado aos professores da escola-campo.
Figura 1. Foto referente ao ECSII, em sala de aula, na FEF/UFG.
Depois da apropriação desse referencial teórico, a turma de estagiários é
dividida de acordo com a demanda de cada campo conveniado, em duplas.
Inicialmente, os estagiários são apresentados ao coletivo do lócus de estágio. Em
seguida, inicia-se a pesquisa educacional do tipo etnográfica com observações
direcionadas e sistematizadas as práticas e rituais pedagógicos, descritas em
diário de campo, além da análise do PPP, regimento, plano de ensino da
respectiva turma a ser regida durante o estágio e outros documentos que
subsidiam desvelar a realidade da escola em seus aspectos político- pedagógicos
e administrativos.
Também são realizadas entrevistas com a direção, coordenação
pedagógica e de turno e com o docente da disciplina Educação Física. Nessas
entrevistas se busca elaborar perguntas para responder as dúvidas que surgirão
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com a leitura dos referidos documentos da escola e com a observação
participante. Com os discentes é aplicado um questionário a fim de levantar dados
sócio-cultural dos mesmos. O diagnóstico dos alunos propõe identificar o nível de
conhecimento e experiências desses com relação à cultura corporal (jogos,
brincadeiras, esporte, dança, ginástica, lutas) e suas condições sócio-familiares
como idade, sexo, etnia, condições de saúde, núcleo familiar, religião, local de
moradia, ente outras.
Figura 2. Foto referente a aplicação do questionário com alunos de uma escola municipal
de Goiânia/GO. Verifica-se a rotina dos alunos tanto por meio de observação da entrada,
recreio e saída, quanto nas aulas de Educação Física. Outra observação
significativa que os alunos/estagiários vivenciam nas escolas-campo é o conselho
de ciclo (nas escolas cicladas) e de classe (nas seriadas).
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Figura 3. Foto referente ao momento de reunião semanal que acontece entre professores da
FEF/UFG, da escola campo e alunos/estagiários.
Estágio Curricular Supervisionado II
Os campos de estágio conveniados em 2008, no ECS II foram as escolas
municipais Dalísia Doles, Hebert José de Souza, Recanto do Bosque, o Centro de
Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação/Colégio de Aplicação e a Creche da
UFG. O total de alunos/estagiários que atuaram nesses campos foi de 71 (setenta
e um) que atenderam o montante de 912 (novecentos e doze) discentes das
escolas-campo.
O plano de ensino do ECS II no ano letivo de 2008 se divide em blocos
didáticos. O primeiro refere-se à didática e a organização do trabalho pedagógico,
referendado nas obras de Freitas (1995) e Escobar (1997). O segundo aborda a
compreensão da proposta de ciclos para o processo de escolarização, sustentado
pela literatura de Freitas (2004), para discutir ciclos ou séries sobre o paradigma
da Educação Básica e o material da Secretária Municipal de Educação de Goiânia
(2002; 2004), Veloso (2003) e Santos e Rodrigues (2007) para fechar a temática
ciclos de desenvolvimento humano, sob a perspectiva do município de
Goiânia/GO. O terceiro bloco estuda a pesquisa do tipo etnográfica, visando a
elaboração da proposta de prática pedagógica, fundamentado em André (1995) e
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Ludke (1986), articulando com pesquisas sobre a organização do trabalho
pedagógico da Educação Física. Em seguida, os alunos/estagiários vão a campo,
momento que aprimoram e discutem leituras e planos de aula.
Figura 4. Foto referente ao período de regência do estágio, escola municipal de
Goiânia/GO.
Como objetivo geral visa identificar e compreender a Organização do
Trabalho Pedagógico (OTP) da escola e da disciplina educação física propiciando
a intervenção investigativa, relacionando-a com possibilidades de novas formas
de ação. Assim, o tempo de permanência e regência no ambiente escolar,
conseqüentemente de planejamento e construção de proposta de ensino da
educação física a ser implantada na escola é maior, aproximadamente o dobro de
regência comparado com estágio I. Nesse tempo de permanência no campo de
estágio, Saviani (2005) é uma importante referência teórica para refletir sobre
prática pedagógica, no campo da Educação, mediatizando as ações pedagógicas
para a práxis da Educação Física. Ao final, eles elaboram um relatório final,
apresentam um seminário, tanto na escola, como na universidade, e finalizam
com a exposição de pôster e participação no Seminário Ampliado/Final. Portanto,
o ECS II, oferece maiores possibilidades de intervenção prática, direcionadas
para ações pedagógicas e didáticas, visto o tempo de amadurecimento e reflexão
de leituras oportunizadas no ECS I.
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Para melhor visualizar as informações referentes ao número de
professores da FEF/UFG, escolas campo conveniadas, professores supervisores
(escola), número de estagiários, bem como alunos da rede básica de ensino
envolvidos no processo, trazemos um quadro que apresenta os dados
quantitativos do Estágio Curricular Supervisionado I e II, dos períodos matutino e
vespertino da FEF/UFG, no ano de 2008:
Figura 5. Quadro referente aos dados quantitativos do Estágio I e II, em 2008.
Professores da FEF/UFG
Efetivo Substituto
Campos de estágio
conveniados
Estagiários da
FEF/UFG
Professores Supervisores da
escola campo
Alunos atendidos
nas escolas
02 05 09 138 42 1559
Considerações Finais
Este ensaio buscou teorizar e sistematizar as atividades que foram
propostas e desenvolvidas no Estágio Supervisionado da FEF/UFG, no ano de
2008. Contudo, para melhor compreender todo o processo da disciplina foi
importante apresentar o conjunto de elementos e procedimentos que permearam
a elaboração do plano de ensino da disciplina. Assim, as diretrizes de um trabalho
coletivo e atuante, com reuniões e grupo de estudos, transitando em matrizes
teóricas do materialismo histórico-dialético, de forma a contemplar o PPP da
instituição, bem como guiar-se na legislação vigente e da UFG, foram medidas e
articulações essenciais para uma avaliação positiva do processo pedagógico.
Mediar as relações entre escola, universidade e conhecimento sistematizado, ou
melhor, ensino, pesquisa e extensão, de forma a conhecer, problematizar e
estabelecer diálogos com os estagiários, professores, gestores educacionais e
alunos do campo de estágio possibilitou intervenções conjuntas, alicerçadas em
parcerias e convênios, concretizando um processo formativo inicial e continuado.
Portanto, o estágio da FEF/UFG se configura como um espaço formativo
do aluno/estagiário que permite a compreensão da realidade profissional, à luz
dos aportes teóricos estudados, favorecendo a reflexão sobre a realidade e a
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aquisição da autonomia intelectual e o desenvolvimento de habilidades relativas à
profissão docente. Ou seja, é um componente curricular, de caráter teórico-
prático, cuja especificidade proporciona o contato efetivo daquele aluno com a
escola campo, lócus do futuro exercício profissional.
Outra questão relevante é que a disciplina ECS, permite tanto aos alunos
como aos professores da FEF/UFG pensarem, questionarem e discutirem as
dimensões ampla e restrita que envolve o currículo e a organização do trabalho
pedagógico do curso. Tais olhares, dinâmicas, debates e avaliações são
possíveis por ser uma disciplina que permite aos alunos se verem como sujeitos
ativos de ações concretas.
Em síntese, podemos afirmar que o Estágio Curricular Supervisionado ao
tratar das praticas pedagógicas no cotidiano escolar possibilita aos estagiários se
apropriarem das diversas experiências que são desenvolvidas em sua área de
atuação, pois, é no desenvolver das relações e da pratica pedagógica que
emergem os conflitos e as dificuldades referentes à práxis pedagógica. Diante de
tais experiências, reflexões e discussões referentes a estes “fazeres” é que os
estagiários vão constituindo os saberes próprios e necessários a sua área de
conhecimento.
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