1 conhecimento, cultura e linguagens.pdf
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Conhecimento, cultura e linguagens
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VNIA DE MORAES
CONHECIMENTO, CULTURA E
LINGUAGENS
1 Edio
Taubat
Universidade de Taubat
2011
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Copyright 2013. Universidade de Taubat.
Todos os direitos dessa edio reservados Universidade de Taubat. Nenhuma parte desta publicao pode
ser reproduzida por qualquer meio, sem a prvia autorizao desta Universidade.
Administrao Superior
Reitor Prof.Dr. Jos Rui Camargo
Vice-reitor Prof.Dr. Marcos Roberto Furlan
Pr-reitor de Administrao Prof.Dr.Francisco Jos Grandinetti
Pr-reitor de Economia e Finanas Prof.Dr.Luciano Ricardo Marcondes da Silva
Pr-reitora Estudantil Profa.Dra.Nara Lcia Perondi Fortes
Pr-reitor de Extenso e Relaes Comunitrias Prof.Dr. Jos Felcio Goussain Murade
Pr-reitora de Graduao Profa.Dra.Ana Jlia Urias dos Santos Arajo
Pr-reitor de Pesquisa e Ps-graduao Prof.Dr.Edson Aparecida de Arajo Querido Oliveira
Coord. Geral EaD Profa.Dra.Patrcia Ortiz Monteiro
Coord.Acadmica Profa.Ms.Rosana Giovanni Pires Clemente
Coord. de Materiais Profa.Ms.Isabel Rosngela dos Santos Ferreira
Coord. de Recursos Visuais
Coord. da rea de Pedagogia
Coord. da rea de Humanas
Coord. da rea Tecnolgica
Coord. da rea de Cincias da Nat.e Matemtica
Reviso ortogrfica-textual
Projeto Grfico
Autora
Profa.Ms.Vnia de Moraes
Profa.Dra.Ana Maria dos Reis Taino
Profa.Ms.Fabrina Moreira Silva
Prof.Ms. Andr Luiz Freitas Guimares
Profa. Ms. Rosana Giovanni Pires Clemente
Prof.Ms.Joo de Oliveira
Ms.Benedito Fulvio Manfredini
Profa. Ms. Vnia de Moraes
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Taubat So Paulo CEP: 12.020-270 Central de Atendimento: 0800557255
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Ficha catalogrfica elaborada pelo SIBi
Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU
T134a Moraes, Vania
Conhecimento, cultura e linguagens. Vania de Morais. Taubat:
UNITAU, 2011. 84p. : il.
ISBN 978-85-62326-25-7 1. Linguagens. 2. Meios de comunicao.3.Construo do
conhecimento. 4.Formao do pesquisador. III. Universidade de Taubat. IV. Ttulo.
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PALAVRA DO REITOR
Palavra do Reitor
Toda forma de estudo, para que possa dar
certo, carece de relaes saudveis, tanto de
ordem afetiva quanto produtiva. Tambm, de
estmulos e valorizao. Por essa razo,
devemos tirar o mximo proveito das prticas
educativas, visto se apresentarem como
mxima referncia frente s mais
diversificadas atividades humanas. Afinal, a
obteno de conhecimentos o nosso
diferencial de conquista frente a universo to
competitivo.
Pensando nisso, idealizamos o presente
fascculo, que aborda contedo significativo e
coerente sua formao acadmica e ao seu
desenvolvimento social. Cuidadosamente
redigido e ilustrado, sob a superviso de
doutores e mestres, o resultado aqui
apresentado visa, essencialmente, a
orientaes de ordem prtico-formativa.
Cientes de que pretendemos construir
conhecimentos que se intercalem na trade
Graduao, Pesquisa e Extenso, sempre de
forma responsvel, porque planejados com
seriedade e pautados no respeito, temos a
certeza de que o presente estudo lhe ser de
grande valia.
Portanto, desejamos a voc, aluno, proveitosa
leitura.
Bons estudos!
Prof. Dr. Jos Rui Camargo
Reitor
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Apresentao
Ao atiramos uma pedra num lago, forma-se uma sequncia de ondas que se propagam
por toda a superfcie aqutica. Podemos fazer uma analogia desse fenmeno com as
grandes transformaes socioculturais provocadas pelos avanos tecnolgicos. O
mundo um grande lago; com os avanos tecnolgicos, principalmente relacionados
tecnologia digital, as ondas alcanam os cantos mais remotos do planeta, refletindo de
maneira direta e significativa nas questes relacionadas ao tema: Conhecimento,
cultura e linguagem, que o ttulo deste fascculo.
O mundo contemporneo marcado pela comunicao em rede que possibilita ampliar
as conexes lingusticas textuais nos mais variados contextos socioculturais.
Informaes so registradas e disseminadas em questes de segundo: tempo real,
instantaneidade e mobilidade, caracterizam a cultura digital, trazendo grandes desafios
para quem buscar a compreenso de novos significados dentro do processo constante de
construo do conhecimento. Tendo em vista o panorama atual, a proposta maior deste
fascculo discutir alguns conceitos bsicos relacionados ao conhecimento, cultura e
linguagem, observando a estreita relao entre eles na formao do processo de
significao e, consequentemente, aquisio de novos saberes.
Espero que as diversas questes apresentados nas unidades deste fascculo despertem o
seu interesse para anlises, interpretaes e intervenes. Convido voc agora, para
atirar sua pedra e ingressar neste universo!
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Sobre a autora
Vania de Morais: Doutora em Comunicao e Semitica, pela Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo PUC SP; mestre em Lingustica Aplicada,
pela Universidade de Taubat UNITAU; ps-graduada em Administrao de
Marketing e Comrcio Exterior e em Comunicao Social, pela Universidade de
Taubat UNITAU; graduada em Educao Artstica com Habilitao em Artes
Plsticas, pela Faculdade de Belas Artes de So Paulo.
Atuao profissional: Professora de Comunicao e Arte em instituies de ensino
superior h 15 anos. Professora efetiva da Rede Pblica do Estado de So Paulo.
Atualmente integra o corpo docente do curso de Ps-graduao em Leitura e
Produo de Gneros Discursivos da Universidade de Taubat. Possui experincia
no mercado na rea de propaganda, design e editorao.
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Caros(as) alunos(as),
Caros( as) alunos( as)
O Programa de Educao a Distncia (EAD) da Universidade de Taubat apresenta-se
como espao acadmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais
diversos saberes. Alm de avanada tecnologia de informao e comunicao, conta
com profissionais capacitados e se apoia em base slida, que advm da grande
experincia adquirida no campo acadmico, tanto na graduao como na ps-graduao,
ao longo de mais de 35 anos de Histria e Tradio.
Nossa proposta se pauta na fuso do ensino a distncia e do contato humano-presencial.
Para tanto, apresenta-se em trs momentos de formao: presenciais, fascculos e Web
interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educao a
distncia, apoiados por fascculos produzidos por uma equipe de profissionais preparada
especificamente para este fim, e por contedo presente em salas virtuais.
A estrutura interna dos fascculos formada por unidades que desenvolvem os temas e
subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como
subsidio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, alm de textos e
atividades aplicadas, cada fascculo apresenta snteses das unidades, dicas de leituras e
indicao de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao contedo
estudado.
Os momentos virtuais ocorrem sob a orientao de professores especficos da Web. Para
a resoluo dos exerccios, como para as comunicaes diversas, os alunos dispem de
blog, frum, dirios e outras ferramentas tecnolgicas. Em curso, podero ser criados
ainda outros recursos que facilitem a comunicao e a aprendizagem.
Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados sua
disposio possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocs so os principais
atores desta formao.
Para todos, os nossos desejos de sucesso!
Equipe EAD-UNITAU
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Sumrio
Palavra do Reitor ............................................................................................................ v
Apresentao ................................................................................................................. vii
Caros(as) alunos(as) ...................................................................................................... xi
Ementa ............................................................................................................................. 1
Objetivos .......................................................................................................................... 2
Introduo ....................................................................................................................... 3
Unidade 1. As vrias formas de linguagem e sua funo social ................................ 5
1.1 Linguagem como representao do mundo e do pensamento .................................... 5
1.1.1 Lngua e linguagem ................................................................................................. 7
1.2 A linguagem e os signos ........................................................................................... 12
1.3 Linguagens como forma de ao ou interao ......................................................... 16
1.3.1 Linguagem e cultura ............................................................................................. 20
1.4 Sntese da unidade .................................................................................................... 23
1.5 Para saber mais ......................................................................................................... 23
Unidade 2. Uma questo de arte ................................................................................ 27
2.1 Arte e tcnica ............................................................................................................ 28
2.1.1 Arte e tcnica ......................................................................................................... 29
2.2 O prazer da arte......................................................................................................... 33
2.3 Realidade: uma questo filosfica ............................................................................ 36
2.4 Sntese da unidade .................................................................................................... 41
2.5 Para saber mais ......................................................................................................... 41
Unidade 3. Comunicao: da oralidade informtica .............................................. 43
3.1 Aspectos gerais do processo de comunicao .......................................................... 43
3.1.1 Modelo de comunicao informal ......................................................................... 45
3.1.2 Modelo de comunicao massivo .......................................................................... 45
3.1.3 Modelo de comunicao informatizado ................................................................ 46
3.2 Cultura de massa ....................................................................................................... 47
3.3 Cultura e informatizao .......................................................................................... 55
3.3.1 Cibercultura ........................................................................................................... 57
3.3.2 As novas concepes de produo no universo virtual ......................................... 59
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3.4 Sntese da unidade .................................................................................................... 62
3.5 Para saber mais ......................................................................................................... 62
Unidade 4. A sociedade da informao e a construo do conhecimento ............... 65
4.1 Uma questo de identidade ....................................................................................... 65
4.2 Processo de Humanizao ........................................................................................ 68
4.3 Conhecimento escolar............................................................................................... 71
4.4 Sntese da unidade .................................................................................................... 74
4.5 Para saber mais ......................................................................................................... 74
Caderno de Atividades.................................................................................................... 77
Referncias ..................................................................................................................... 81
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ORGANIZE-SE!!!
Voc dever usar de 3
a 4 horas para realizar
cada Unidade.
Conhecimento, cultura e linguagens
Ementa
EMENTA
As vrias formas de linguagem e sua funo social. As novas
tecnologias como recurso didtico na sala de aula. A sociedade da
informao e a construo do conhecimento. As novas concepes de
arte no espao virtual. Da oralidade informtica: da idade da pedra ao
disco ptico.
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Objetivo Geral
O objetivo geral deste fascculo discutir como os avanos da tecnologia
digital influenciam diretamente nas questes relacionadas ao conhecimento,
cultura e linguagem.
Obj eti vos
Objetivos Especficos
Destacar a funo social da linguagem.
Valorizar os aspectos artsticos e estticos na construo do processo de
significao.
Ressaltar como a comunicao se relaciona diretamente com a cultura e
a construo do conhecimento.
Discutir a necessidade de investimentos efetivos nas questes
relacionadas ao processo de humanizao para a conquista do avano
social de forma democrtica.
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Introduo
Caro aluno,
As questes referentes ao conhecimento, cultura e linguagem so extremamente
abrangentes, uma vez que se relacionam, de maneira direta ou indireta, a todas as
atividades humanas. Assim, para discutirmos de maneira reflexiva sobre esses assuntos,
podemos caminhar por diversas reas do conhecimento, entre elas: antropologia, arte,
comunicao, filosofia, histria, psicologia, semitica e sociologia.
Com o objetivo de viabilizar nossos estudos, nesse universo to amplo, apontaremos a
seguir alguns caminhos que iremos trilhar, em cada uma das unidades que compem
este fascculo:
Na Unidade 1 As vrias formas de linguagem e sua funo social observaremos
como a linguagem est diretamente relacionada com o processo de representao e
significao do mundo; discutiremos questes relacionadas aos signos abordando
conceitos da semiologia e observaremos como os aspectos culturais determinam nossa
forma de ver e estar no mundo levantando, para isso, conceitos relacionados cultura.
Na Unidade 2 Uma questo de arte discutiremos a arte como linguagem, ou seja, a
arte como uma maneira sensvel de representaes simblicas, que propicia a percepo
de diversas significaes. Destacaremos alguns conceitos referentes apreciao
esttica e algumas questes filosficas relacionadas s representaes da realidade.
Na Unidade 3 Comunicao: da oralidade informtica ressaltaremos que por
meio da simbolizao que o conhecimento condensado, as informaes so
processadas, as diversas experincias so acumuladas transmitidas e transformadas.
Levantaremos o conceito de comunicao formal, massiva e informatizada, destacando
as grandes mudanas culturais provocadas pela comunicao de massa e como os meios
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de comunicao digitais esto influenciando de maneira direta nosso modo de ser e
perceber o mundo.
Na Unidade 4 A sociedade da informao e a construo do conhecimento
discutiremos como as grandes mudanas socioculturais provocadas pelo avano da
tecnologia digital (que alteram as formas de comunicao, o fluxo de informao e
consequentemente a maneira de conceber o conhecimento) influenciam de maneira direta nas
questes relacionadas identidade cultural dos indivduos e das naes. Ressaltaremos
a necessidade de investimentos efetivos nas questes relacionadas humanizao, para
a concretizao da evoluo social de forma democrtica e refletiremos sobre o
conhecimento escolar como fonte de produo, crtica, seleo, confronto e, acima de
tudo, diversidade de valores socioculturais.
No final das unidades, apresentaremos algumas sugestes de leitura, filmes, livros,
assim como, um quadro contendo o perfil dos artistas que ilustram este fascculo e as
referncias de todo o texto.
Nesse processo de seleo das informaes apresentadas sobre o tema Conhecimento,
cultura e linguagem, provvel que voc identifique trechos nos quais teria sido
desejvel dizer mais. Esperamos, porm, que essas percepes estimulem voc a novas
buscas. Caso isso ocorra, sem dvida nenhuma, atingiremos nosso maior objetivo, que
: estimular pesquisa e, consequentemente, ampliao do conhecimento.
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Unidade 1
Unidade 1. As vrias formas de linguagem e sua funo social
Nesta unidade apresentaremos a linguagem como um sistema simblico que possibilita
variados tipos de intercmbio entre o ser humano e o universo. Aprendemos, criamos,
expressamos, interiorizamos, comunicamos, interagimos, agimos por meio das diversas
linguagens verbais e no-verbais.
Conhecer as diferentes formas de linguagem entender como formamos nossas ideias e
conceitos sobre o mundo. A compreenso do saber lingustico, que muitas vezes se
encontra na prpria histria da linguagem, fundamental para promovermos as
competncias indispensveis que nos possibilitam encarar os desafios sociais, culturais
e profissionais do mundo contemporneo.
Dentro desse quadro discutiremos, em um primeiro momento, algumas questes
relacionadas linguagem como forma de representao do mundo e do conhecimento;
num segundo instante, vamos discutir sobre os signos, para isso abordaremos algumas
questes relacionadas semitica; para finalizar relacionaremos a linguagem com as
questes culturais.
1.1 Linguagem como representao do mundo e do pensamento
Voc j pensou como seria o mundo sem a linguagem?
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Considerando que para responder essa questo necessrio usarmos a prpria
linguagem, podemos concluir que ela permeia todas as atividades humanas, e assim, o
ser humano constitui-se como um ser de linguagem.
Dada a importncia da linguagem em nossa vida, discutir esse tema um desafio
interessante. Espera-se, porm, que voc use seus prprios meios para refletir sobre as
ideias apresentadas a seguir.
Inicialmente, importante ressaltar que a principal razo de qualquer ato de linguagem
a produo de sentido. Somente por meio das diferentes linguagens somos capazes
de conhecer o mundo e a ns mesmos. Com isso, a linguagem tanto objeto como meio
de conhecimento.
No entanto, para aprender a ler esse universo natural e cultural, necessria uma
tomada de conscincia dos diferentes cdigos que compem a linguagem. Esses cdigos
so verbais e no-verbais.
Na linguagem verbal, como o prprio nome sugere, os cdigos so verbalizados por
meio das palavras (faladas ou escritas). J a linguagem no-verbal no faz uso das
palavras e sim das expresses corporais (o olhar, o toque, a dana, os gestos), das
imagens (as fotografias, os desenhos, as cores, as texturas), dos sons (a msica
instrumental, o canto dos pssaros, o bocejo, o apito do juiz) e dos odores (perfumes),
entre outros signos.
Em uma sociedade como a nossa, em que a tecnologia avana aceleradamente, os
cdigos lingusticos multiplicam-se de forma dinmica em vrias instncias.
voc est dirigindo o carro enquanto ouve um audio-livro e interrompido
por uma ligao no celular. Ou voc est em casa sentado numa poltrona,
com o romance que acabou de comprar enquanto na televiso ligada espera
do noticirio passam um anncio sobre as novas funes do iPod. Voc se
levanta e vai at o computador para ver se compreende essas novidades
(CANCLINI 2008, p.11).
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77
Atualmente comum encontrarmos a palavra lngua sendo usada como sinnimo
de linguagem, entretanto, cabe ressaltar as seguintes definies:
Lngua - um sistema formado por regras e valores presentes na mente dos
falantes de uma comunidade lingustica, aprendido graas aos inmeros atos de
fala/escrita com que eles tm contato. A lngua um cdigo que combina palavras
e frases para formar textos.
Linguagem a vivncia da lngua. Com base nas pesquisas desenvolvidas pelo
filsofo russo Mikhail Bakhtin, podemos dizer que a linguagem ultrapassa os
elementos e as normas que compem a lngua. Essa concepo apresenta como
peas-chave a relao interpessoal, o contexto de produo dos textos, as
diferentes situaes de comunicao, os gneros discursivos, a inteno de quem o
produz o texto e a interpretao de quem o recebe, entre outros fatores.
Quadro 1.1 Lngua e linguagem Disponvel em: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/qual-diferenca-lingua-
idioma-dialeto-427786.shtml
Acesso em 23/12/2009.
Para entendermos melhor a relao entre a construo do conhecimento e dos cdigos
da linguagem, vamos abord-los num breve contexto histrico.
Cabe ressaltar, entretanto, que a histria da linguagem a nossa prpria histria. Afinal,
todos os conhecimentos e as experincias prticas j acumulados so vistos, contados e
registrados por meio das diversas linguagens.
Para contarmos um pedacinho dessa histria, iniciamos apontando a estreita relao
entre a lngua e a linguagem.
1.1.1 Lngua e linguagem
Segundo o compndio Ethnologue, nos dias de hoje existem no mundo
aproximadamente 6.909 idiomas falados. Questes relacionadas origem dessa
diversidade tm intrigado o homem desde a remota antiguidade: como foram
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88
Autor: Douglas Marques
Na Bblia (Gneses 11:1) encontramos
uma tentativa de explicar a origem das
muitas lnguas faladas no mundo. O
texto revela que na terra s havia uma
lngua servindo-se das mesmas
palavras. Nessa poca, alguns homens,
com inteno de serem reconhecidos,
resolveram construir uma cidade e uma
enorme torre, cujo cimo atingisse os
cus. O Deus bblico (Yahveh) no
apreciando o projeto dos homens
confundiu-lhes a lngua. A falta de
comunicao provocou uma desordem
total, assim como o cessar da
construo. Os homens foram
dispensados da cidade e espalharam-se
por toda terra. Dessa forma s diversas
lnguas foram propagadas
.
constitudas tantas lnguas diferentes? Qual a origem dessas lnguas? Em algum perodo
histrico j existiu uma lngua universal?
Quadro 1.2 Torre de Babel
Mesmo com a dedicao de muitos pesquisadores na tentativa de apresentarem
consideraes plausveis sobre essas questes, atualmente, vrias respostas encontram-
se abertas.
Entre tantos temas levantados nesse terreno polmico e controverso da linguagem, um
ponto em especial vem suscitando inmeros estudos:
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99
Quadro 1.3 Instinto
Qual a relao do pensamento humano com a lngua?
Diferente de outros animais, o homem biologicamente apresenta a capacidade para
produzir um nmero infinito de expresses gramaticais a partir de um conjunto finito de
elementos e princpios lingusticos. Ao longo de nossa vida somos capazes de articular
palavras, formar frases e uma infinidade de textos, em variados contextos.
A mente da criana no uma folha em branco;
nascemos com uma espcie de instinto lingustico:
princpios universais que se aplicam a qualquer
uma das lnguas humanas, que nos possibilita
aprender os mais variados assuntos, assim como,
refletir sobre os valores e fundamentos das coisas.
Assim, a linguagem est diretamente relacionada
ao pensar e ao agir. Mikhail Bakhtin enxergava a
lngua como um constante processo de interao
pelo dilogo, e no somente como um sistema autnomo de signos lingusticos.
Segundo essa concepo, a lngua s existe em funo do uso que locutores e
interlocutores fazem dela em situaes de comunicao, no meio social. Todo discurso
lingustico passa, necessariamente, pelo agente das relaes sociais, o homem, que se
vale do conhecimento de enunciados anteriores para formular novos discursos, com
novos significados.
Os enunciados so modulados pelo falante de acordo com o contexto social, histrico,
cultural e ideolgico. Aquele que enuncia seleciona palavras apropriadas para formular
uma mensagem compreensvel para seus destinatrios. Por outro lado, o interlocutor
interpreta e responde quele enunciado, internamente (por meio de seus pensamentos)
ou externamente (por meio de um novo enunciado oral ou escrito), conforme ressalta a
linguista Beth Brait (2005), estudiosa de Bakhtin.
Todo discurso requer uma escolha diferente, de palavras, de frases, de estilos, que
determina o gnero da mensagem. Em cada esfera de produo, circulao e recepo
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1100
Biografia
Mikhail Mikhailvitch Bakhtin nasceu em Orel, ao sul de Moscou, em 1895. Aos 23 anos, formou-se em
Histria e Filologia na Universidade de So Petersburgo, mesma poca em que iniciou encontros para
discutir linguagem, arte e literatura com intelectuais de formaes variadas, no que se tornaria o Crculo
de Bakhtin. Em vida, publicou poucos livros, com destaque para Problemas da Potica de Dostoivski
(1929). At hoje, porm, paira a dvida sobre quem escreveu outras obras assinadas por colegas do
Crculo (h tradues que as atribuem tambm a Bakhtin). Durante o regime stalinista, o grupo passou a
ser perseguido e Bakhtin foi condenado a seis anos de exlio no Cazaquisto (s ao retornar, ele finalizou
sua tese de doutorado sobre cultura popular na Idade Mdia e no Renascimento). Suas produes
chegaram ao Ocidente nos anos 1970 - e, uma dcada mais tarde, ao Brasil. Mas Bakhtin j havia morrido,
em 1975, de inflamao aguda nos ossos.
Concepes de linguagem
Bakhtin e seu Crculo dialogaram com as principais correntes de pensamento de seu tempo. Na Rssia da dcada de 1920, tinham destaque as teorias de Karl Marx (1818-1883), das quais o Crculo aproveitou a noo fundamental da vida vivida como origem da formao da conscincia. (...) No que tange reflexo sobre a linguagem, as teorias bakhtinianas se distanciaram da abordagem proposta pelo suo Ferdinand Saussure (1857-1913), que concebia a lngua como social apenas no que concerne s trocas entre os indivduos. Bakhtin e o Crculo, porm, viam a lngua sofrer influncias do contexto social, da ideologia dominante e da luta de classes. Por isso, a linguagem ao mesmo tempo produto e produtora de ideologias. Suas teorias fundadas no dilogo, consideram a importncia do sujeito (locutores e interlocutores), das esferas de comunicao e dos contextos histricos, sociais, culturais e ideolgicos no uso efetivo da linguagem.
Quadro 1.4 - Mikhail Bakhtin: o filsofo do dilogo Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-inicial/filosofo-dialogo-487608.shtml
Acesso em 23/12/2009.
de discursos, existem discursos apropriados. Bakhtin classifica os diversos discursos
quanto s esferas de uso da linguagem, sendo que:
os discursivos primrios fazem parte da comunicao cotidiana so discursos
espontneos que podem ocorrer em espaos pblicos ou privados, tais como,
praas, feiras, em casa ou no ambiente de trabalho;
os discursos secundrios so produzidos com a utilizao de cdigos culturais
elaborados e, em muitos casos, complexos e especficos, tais como a escrita (em
romances, teses, reportagens, etc.), o discurso jurdico usado em tribunais,
entre outros.
Grande parte dos conceitos elaborados por Bakhtin e o seu Crculo de intelectuais (ver
quadro abaixo) servem como base terica para os estudos lingusticos da atualidade.
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1111
O ensino da Lngua Portuguesa no Brasil
1759 A Reforma Pombalina torna obrigatrio no Brasil o ensino de Lngua Portuguesa nas
escolas. A inteno transmitir o conhecimento da norma culta da lngua materna aos filhos das
classes mais abastadas.
1800 A linguagem vista como uma expresso do pensamento e a capacidade de escrever
consequncia do pensar. Na escola, os textos literrios so valorizados e os regionalismos,
ignorados.
1850 A maneira unnime de ensinar a ler o mtodo sinttico. As letras, as slabas e o valor
sonoro das letras servem de ponto de partida para o entendimento das palavras.
1860 Desde os primeiros registros sobre o ensino da lngua, a escrita vista independentemente da
leitura e como uma habilidade motora, que demanda treino e cpia do formato da letra por parte do
aprendiz.
1876 O poeta Joo de Deus (1830-1896) lana a Cartilha Maternal. Defende a palavrao, modelo
que mostra que o aprendizado deve se basear na anlise de palavras inteiras. um dos marcos de
criao do mtodo analtico.
1911 O mtodo analtico se torna obrigatrio no ensino da alfabetizao no estado de So Paulo.
A regra vlida at 1920, quando a Reforma Sampaio Dria passa a garantir autonomia didtica
aos professores.
1920 Inicia-se uma disputa acirrada entre os defensores dos mtodos analticos e sintticos.
Alguns professores passam a mesclar as ideias bsicas defendidas at ento, dando origem aos
mtodos mistos.
1930 O termo alfabetizao usado para determinar o processo inicial de aprendizagem de leitura
e escrita. Esta passa a ser considerada um instrumento de linguagem e ensinada junto com a
leitura.
1940 As primeiras edies das cartilhas Caminho Suave e Sodr so lanadas nessa dcada,
respeitando a tcnica dos mtodos mistos, e marcam a aprendizagem de geraes.
1970 A linguagem passa a ser vista como um instrumento de comunicao. O aluno deve respeitar
modelos para construir textos e transmitir mensagens. Os gneros no literrios so incorporados
s aulas.
1984 Lanamento do livro Psicognese da Lngua Escrita, de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. A
concepo de linguagem modificada nessa dcada e influencia o ensino at hoje: o foco deveria
estar na interao entre as pessoas.
1997 So publicados os PCN pelo governo federal para todo o Ensino Fundamental, defendendo as
prticas sociais (interao) de linguagem no ensino da Lngua Portuguesa.
Fontes: Os sentidos da alfabetizao, Maria do Rosrio Longo Mortatti e PCNS
Quadro 1.5 O ensino da lngua portuguesa no Brasil Fonte:http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/papel-letras-interacao-
social-432174.shtml
Acesso em: 04/01/2010
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1122
(...) A irregularidade do trao denuncia o tremor da mo.
O arco de abertura do brao fica subentendido na curva da linha.
O escorrido da tinta e a forma de sua absoro pelo papel indicam velocidade.
A variao da espessura do trao marca a presso imprimida contra o papel.
As gotas de tinta assinalam a indeciso ou precipitao do pincel no ar.
Rastos de gestos (...) O atrito entre o sentido convencional das palavras
(tal como esto no dicionrio) e as caractersticas expressivas da escritura manual
abre um campo de experimentao potica que multiplica as camadas de significao(...).
Sobre a caligrafia Arnaldo Antunes.
Neste texto Arnaldo Antunes apresenta a caligrafia como a arte do desenho manual das letras, um territrio hibrido entre o verbal e o no-verbal, que multiplica o significado convencional das palavras.
Quadro 1.6 Sobre a caligrafia Fonte: http://www.arnaldoantunes.com.br/sec_textos_list.php?page=1&id=73
Acesso em 22/12/2009.
DICA DE LEITURA
BRAIT, Beth (org.). Bakhtin - Conceitos-Chave, Ed. Contexto: So Paulo, 2005.
Em BAKHTIN: CONCEITOS-CHAVE, pesquisadores renomados explicam termos essenciais
compreenso da arquitetura bakhtiniana diante da linguagem e da vida. Conceitos como ato,
polifonia e ideologia so analisados e interpretados de forma pontual.
Para entendemos melhor a importncia desses novos paradigmas no ensino da lngua
apresentaremos no quadro abaixo as principais mudanas estruturais que ocorreram no
ensino da Lngua Portuguesa no Brasil.
1.2 A linguagem e os signos
Como dissemos anteriormente, a linguagem composta por um complexo sistema de
signos verbais e no-verbais. Para entendermos a linguagem como um processo de
significao, importante conhecermos algumas questes relacionadas semitica.
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1133
Figura 1.1 ndios
Semitica uma palavra de origem grega semeiotik, que significa "a arte dos sinais";
um campo de estudo que envolve diversas posies tericas e instrumentos
metodolgicos. Uma das definies mais amplas para semitica a de Eco (1976, p. 7),
que afirma que "a semitica se preocupa com tudo o que pode ser tomado como um
sinal. Em um sentido semitico, sinal considerado tudo o que significa algo mais. Os
sinais podem assumir a forma de palavras, imagens, sons, gestos e objetos.
Para Peirce (1931, p.58) "um sinal (...) algo que est para algum por algo em algum
aspecto ou capacidade. Os signos atendem necessidade humana de representar e
interpretar ideias e conceitos, facilitando o processo de comunicao. Pereira (2001,
p.44) ressalta que no podemos nos comunicar fazendo uso das prprias coisas a que
estamos nos referindo. Assim, as palavras so signos que substituem as coisas, as
palavras no tm peso, esto na nossa cabea e ns as levamos conosco para todo lugar.
As palavras representam as coisas. Todo signo representa ou significa alguma coisa
que exterior a ele.
Para ilustrarmos melhor essa ideia vamos observar alguns exemplos:
Geralmente quando avistamos fumaa no cu, pressupomos que ela oriunda do
fogo, mesmo quando no vemos as labaredas. Neste caso a fumaa o signo do
fogo.
Gostamos de matar a saudade
de uma pessoa que est
distante olhando sua imagem
por fotografia ou desenho.
Nesse caso a imagem uma
representao, ou seja, o
signo da pessoa representada.
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1144
Figura 1.2 Saudades
Figura 1.3 Cafezinho
importante destacar que o signo algo que
se v, ouve, toca, cheira, ou sente o sabor;
em suma, algo perceptvel. Todo signo
transporta ideias, conceitos, contedos para
algum, conforme Pereira (2001).
Agora, abordaremos a estrutura bsica do
signo que composta pelo significante e pelo
significado.
O significante considerado o aspecto
semntico ou sensvel do signo, enquanto
que o significado est relacionado ao aspecto
inteligvel.
Para exemplificarmos melhor essa relao entre o significante e o significado, vamos
usar como exemplo a palavra mala. O som da palavra mala e sua grafia o significante,
enquanto que a ideia de mala como um objeto que serve para carregar, entre outras
coisas, roupas, sapatos, objetos de higiene pessoal o significado.
Observaremos agora um exemplo relacionado ao no-verbal: quando sentimos cheiro de
caf, o odor o significante, e a ideia de que h caf por perto o significado.
importante destacar que determinado
significante pode assumir significados
diferentes de acordo com os variados
contextos culturais. Para o significante
barulho de fogos, por exemplo, em um
contexto de jogo de futebol, o
significado pode ser gol de algum time,
entretanto esse mesmo significante no
dia 31 de dezembro pode adquirir o
significado relacionado comemorao
da passagem do ano.
-
1155
Figura 1.4 Fogos
Tais exemplos nos mostram que o
signo, em geral, atua onde existem
seres capazes de atribuir
significados. importante frisar
tambm que os significados
variam de pessoa para pessoa, de
acordo com suas vivncias e
experincias, num dado contexto
sociocultural.
Olhe para a imagem ao lado e perceba do que ela o fez lembrar:
uma moa?
uma velha?
Ser velha e moa?
Quem moa pode ser velha, quem
velha pode ser moa?
Ser que j vi essa imagem antes?
Quando voc observou a referida imagem,
provavelmente vrias sensaes foram
provocadas: dvidas, lembranas,
questionamentos, julgamentos e at mesmo
indiferena. Voc pode ter visto primeiro a
velha ou primeiro a moa. Se voc estava distrado, provvel que nem tenha notado
que na imagem h um jogo de forma que nos possibilita visualizar uma velha e uma
moa.
Douglas Marques Figura 1.5 Quem ela?
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1166
DICA DE LEITURA
SANTAELLA, Lcia. O que Semitica, Brasiliense. So Paulo, 2003.
O QUE SEMITICA proporcionar uma viso panormica dos principais
fundamentos, particularidades e fronteiras da teoria geral dos signos, tendo sempre como
guia Charles Sanders Peirce.
Independente de quais foram suas sensaes ao observar a imagem, uma coisa certa:
elas so o reflexo de suas experincias e conhecimentos. Assim, podemos dizer que os
significados que atribumos a tudo que nos rodeia, mesmo quando no nos damos conta,
so frutos de nossa histria pessoal, nica e intransfervel.
Nosso conhecimento nosso repertrio, nossa memria, nossa imaginao so
determinados por meio das aes, das interaes, das experincias, dos sentimentos, das
ideias, das emoes, dos valores, enfim, de tudo que vivenciamos e compartilhamos no
nosso dia a dia, nos mais variados contextos sociais e culturais.
Sob essa lgica, podemos concluir que somente por meio do contato com os diversos
cdigos que formam a linguagem que construmos ao longo de nossas vidas os
diversos significados, que nos possibilitam expandir o conhecimento.
Para entendermos melhor essa questo, vamos apresentar a seguir algumas definies de
cultura, assim como a relao entre cultura e linguagem.
1.3 Linguagens como forma de ao ou interao
As discusses voltadas para as questes culturais esto assumindo um papel de
destaque, entre profissionais ligados a diversas reas do conhecimento, no mundo.
-
1177
"Por bem ou por mal, a cultura agora um dos
elementos mais dinmicos e mais
imprevisveis da mudana histrica no novo
milnio. No deve nos surpreender, ento, que
as lutas pelo poder sejam, crescentemente,
simblicas e discursivas, ao invs de tomar,
simplesmente, uma forma fsica e compulsiva,
e que as prprias polticas assumam
progressivamente a feio de uma poltica
cultural".
Mas afinal, o que cultura?
Se voc j fez alguma pesquisa sobre cultura, provavelmente observou a enorme
quantidade de definies para essa palavra. Para entendermos melhor a complexidade
desse termo, que tal colocarmos em prtica alguns conceitos que vimos sobre o signo?
Vamos l!
A palavra cultura o significante e dependendo da rea do conhecimento ela pode
adquirir significados diferentes. Assim, quando relacionamos culturas s cincias
agrrias, essa palavra pode adquirir um significado relacionado ideia de cultivo. Nas
cincias sociais, os significados do termo cultura so abrangentes; conforme Santos
(1994), podemos destacar: todos os aspectos de uma realidade social, todo
conhecimento que aprendido e partilhado dentro de um determinado grupo (as
crenas, os valores, as formas de comunicao e expresso).
Esses diversos significados abrem um leque que liga a cultura aos vrios elementos que
governam os grupos sociais: educao, religio, direito, culinria, arte, esttica,
filosofia, rituais de casamento, formas de parentesco enfim: podemos relacionar
cultura as inmeras atividades humanas, cada uma valiosa em si.
Como o significado de cultura apresenta variaes ao longo da histria,
(HALL 1997, p.97). Quadro 1.7 - Cultura
-
1188
particularmente no perodo da transio de formaes sociais tradicionais para a
modernidade, abordaremos a seguir, de maneira didtica, cinco concepes relacionadas
ao termo, conforme Moreira e Candau (2007):
I. Na literatura do sculo XV, o significado da palavra cultura aparece diretamente
relacionado ao ato de cultivo da terra a cultura era vista como uma forma de
manter a subsistncia.
II. No sculo XVI, amplia-se o uso do termo relacionando-o com a ideia de cultivo da
mente humana. Com esse novo significado, o termo adquire um carter
classificatrio, no qual, a mente humana cultivada privilgio de alguns indivduos,
grupos ou classes sociais. Nesse perodo difundiu-se, tambm, a ideia de que
somente algumas naes so capazes de atingir elevados padres culturais. O carter
elitista do termo consolida-se no sculo XVIII, com a identificao das camadas
privilegiadas da sociedade europeia aos atributos de refinamento e bom gosto: o bem
apreciar msica, poesia, dana literatura, teatro, entre outras expresses artsticas. A
cultura passa a ser vista como um ideal a ser atingido. A noo de cultura popular
integra-se ao termo cultura somente no sculo XX. Essa integrao marcada por
avaliaes preconceituosas.
III. O termo cultura por vezes associado ao processo de desenvolvimento social. Nesse
sentido toda sociedade, para ser considerada desenvolvida, deve passar por um
processo linear de desenvolvimento, marcado por etapas previamente definidas at
atingir o grau mximo idealizado.
IV. A cultura tambm associada s vises e s representaes do mundo adotadas por
determinados grupos ao longo da histria identificando, assim, uma forma geral de
importante ficarmos atentos aos termos: cultura superior, cultura erudita, alta cultura; existe uma tendncia de relacionarmos esses termos a parmetros de conhecimento e prtica da vida dados como ideais. Essa viso preconceituosa do termo muitas vezes desmerece outros significado. Cabe ressaltar que nos mais primitivos grupamentos humanos um simples rito religioso, ou mesmo um conto popular, integram a cultura daquele grupo, podendo adquirir um importante papel social, principalmente, quando carregam a respeitvel tarefa de transmitir valores.
Quadro 1.8 Preconceito cultural
-
1199
vida que caracteriza os diversos grupos sociais, entre eles, os grupos tnicos,
religiosos, familiares, artsticos. Sob essa perspectiva, a palavra cultura adquire um
significado plural correspondente aos valores e aos significados que os grupos
compartilham.
V. Diferente dos pontos de vista anteriormente citados, h uma concepo para cultura
que vem ganhando espao nas vrias reas do conhecimento a cultura
compreendida como uma prtica social, na qual diversos significados so produzidos
e compartilhados. Derivada da antropologia social, essa viso de cultura est
centrada na ideia de que:
coisas e eventos do mundo natural existem, mas no apresentam sentidos
intrnsecos: os significados so atribudos a partir da linguagem. Quando um
grupo compartilha uma cultura, compartilha um conjunto de significados,
construdos, ensinados e aprendidos nas prticas de utilizao da linguagem
(...) a cultura representa um conjunto de prticas significantes (MOREIRA e
CANDAU, 2007, p.27).
Podemos observar que, ao ressaltar a dimenso simblica da cultura, o foco voltou-se
para o que a cultura faz em vez de acentuar o que a cultura . Nesse sentido, a cultura
adquire o importante papel de contribuir, por meio das diversas representaes
simblicas contidas nas variadas prticas sociais, para a compreenso, a reproduo e
consequentemente a transformao do sistema social. Canclini (2000) considera que a
cultura diz respeito s prticas e instituies dedicadas administrao, renovao e
reestruturao do sentido.
Sob essa perspectiva, podemos dizer que a cultura formada por meio dos muitos
fazeres, pelos encontros e desencontros do dia-a-dia. A cultura marcada pela
habilidade que o homem possui para usar a linguagem, ou seja, para usar todas as
formas e sistemas de signos; assim, grande parte dos estudos culturais na atualidade
busca entender e defender os muitos significados.
Mediante diversas concepes apresentadas podemos observar que a cultura
dinmica, uma vez que est diretamente relacionada s experincias e aos saberes
humanos e esses transformam-se constantemente.
-
2200
Quadro 1.9 Homem e signo
1.3.1 Linguagem e cultura
Graas concepo da cultura baseada na antropologia social, as questes relacionadas
linguagem passaram a ser analisadas a partir dos diversos textos culturais: mito,
religio, literatura, teatro, artes, arquitetura, msica, cinema, moda, ritos,
comportamentos, enfim os cdigos e os sistemas semiticos da cultura. Ao mesmo
tempo, as questes culturais s podem ser compartilhadas por meio da linguagem e do
contexto social.
A cultura um texto na medida em que toda forma de atividade humana que inclui a
troca e o armazenamento de informao sempre pode ser lida. Nesse sentido, a noo de
texto refere-se a todas as linguagens portadoras de significado. Segundo Bakhtin (1995,
p. 107) onde no h texto, no h objeto de investigao nem de pensamento.
''... quando estudamos o homem, procuramos e
encontramos signos por toda parte e tratamos de
compreender seus significados.''
(BAKHTIN, 1995, p. 114).
Tal concepo propiciou ao autor sintetizar a mxima de seu pensamento, relacionando
o signo linguagem:
A linguagem pode ser vista como um complexo dispositivo formado por uma infinidade
de cdigos culturais, que geram e transmitem mensagens num sistema dinmico. Por
meio da linguagem construmos contedos e expresses manifestados na cultura; em
contrapartida, a linguagem carrega elementos socioculturais. Machado (2007, p.17)
ressalta que essa dinmica propicia a construo de sistemas de signos que mesmo
-
2211
Quadro 1.10 Ideologia
marcados pela diversidade apresentam-se inter-relacionados num mesmo espao
cultural estabelecendo entre si diferentes dilogos.
O signo algo que faz parte de uma realidade sociocultural e, portanto,
essencialmente ideolgico:
cada signo ideolgico no apenas um reflexo, uma
sombra da realidade, mas tambm um fragmento
material dessa realidade. Todo fenmeno que funciona
como signo ideolgico tem uma encarnao material
(BAKHTIN, 1995, p.33).
Ao mesmo tempo em que um signo representa parte de uma realidade, ele tambm
reflete outras representaes.
Podemos concluir que o signo um fragmento material que possibilita o reflexo de
imagens semelhantes e ao mesmo tempo alteradas da realidade representada. Assim, os
signos usados nas mais variadas formas de linguagem dos diversos contextos sociais
tanto podem refletir como alterar determinada realidade cultural.
Os encontros Culturais desempenham movimentos que so a base formadora
de toda cultura. So movimentos capazes de redirecionar o campo de fora
em todos os nveis da conjuntura social (MACHADO, 2007, p.17).
No mundo moderno, com a ampliao dos espaos culturais em redes de comunicao,
a cultura relaciona-se a uma democracia de signos cabendo a ns desvendar os possveis
significados.
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2222
DICA DE LEITURA
MACHADO, Irene (Org). Semitica da cultura e semiosfera, So Paulo: Annablume,
2007.
SEMITICA DA CULTURA E SEMIOSFERA uma publicao cientfica, resultante
de uma cooperao e compartilhamento entre pesquisadores nacionais e internacional,
coordenado pelo Grupo de Pesquisa para o Estudo da Semiosfera, que aborda temas da
semitica e da cultura.
Douglas Marques
Douglas Marques, artista plstico
brasileiro nascido em Taubat So
Paulo. Formado em Artes Plsticas.
Atua como professor de desenho em
escolas pblicas e particulares, alm
de desenvolver projetos de arte
educao em diversas comunidades
da Regio do Vale do Paraba.
Profissional na rea de ilustrao de
2000, apresenta um excelente
domnio da linguagem do desenho.
Seus trabalhos variam do hiper
realismo abstrao.
Dilogos
Antes de aprender a escrever
eu j usava o desenho para registrar
meu modo de ver o mundo.
Hoje, percebo a arte como
uma lngua universal,
que ultrapassa as barreiras do tempo
e do espao, possibilitando tanto
o registro como a leitura
de infinitos significados.
Douglas Marques
Quadro 1.11 Perfil do ilustrador Douglas Marques
-
2233
1.4 Sntese da unidade
Nos textos anteriores discutimos a relao da linguagem com o conhecimento humano,
enfocando o carter textual da cultura. Assim, vimos que a linguagem representa o
pensamento humano e por meio dela podemos conhecer e nos comunicar com o mundo
que nos rodeia.
Destacamos a diferena da linguagem verbal com seus cdigos verbalizados atravs da
fala ou da escrita e a no-verbal; esta caracterizada pelo no uso da palavra e
manifestada por meio de expresses corporais, imagens, sons, odores, etc.
No decorrer desta apresentao, procuramos distinguir a lngua da linguagem. Lngua se
refere a uma gama imensa de idiomas entre os vrios povos que habitam este planeta; j
a linguagem propicia ao ser humano uma infinita particularidade para expressar
pensamentos e ao mesmo tempo produzir uma infinidade de textos e significados.
Ressaltamos a importncia dos conceitos lingusticos e textuais elaborados por Bakhtin
e o seu Crculo de intelectuais para os estudos lingusticos da atualidade.
Estudamos, com base nos conceitos semiticos, algumas caractersticas do sistema
sgnico que representa os cdigos expressos na linguagem e nos faz entender o processo
de significao e representao de ideias e, para finalizar, abordamos a estreita relao
entre cultura e linguagem - na construo dos diversos significados.
1.5 Para saber mais
Filmes
A interao por meio da linguagem
Neste vdeo, Cludio Bazzoni trata das diferentes concepes de linguagem que
pautaram o ensino de Lngua Portuguesa no sculo 20 e explica como as prticas
de leitura e de escrita devem ser ensinadas na escola.
Disponvel na rede:
-
2244
http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/interacao-meio-linguagem-
496665.shtml
Lngua - Vidas em Portugus
um documentrio (105 min), com direo de Victor Lopes, lanado em 2004 -
co-produzido por Brasil e Portugal. O longa-metragem uma viagem nas muitas
histrias da lngua portuguesa e na sua permanncia entre diferentes culturas.
Todo dia duzentos milhes de pessoas levam suas vidas em portugus. Fazem
negcios e escrevem poemas. Brigam no trnsito, contam piadas e declaram
amor. Todo dia a lngua portuguesa renasce em bocas brasileiras,
moambicanas, goesas, angolanas, japonesas, cabo-verdianas, portuguesas,
guineenses. Novas lnguas mestias, temperadas por melodias de todos os
continentes, habitadas por deuses muito mais antigos e que ela acolhe como
filhos. Lngua da qual povos colonizados se apropriaram e que devolvem agora,
reinventada. Lngua que novos e velhos imigrantes levam consigo para dizer
certas coisas que nas outras no cabe. http://www.adorocinema.com/filmes/lingua
Sites
http://www.ethnologue.com: O principal objetivo do Ethnologue fornecer uma
lista detalhada das lnguas vivas. O Ethnologue funciona como um catlogo com
as principais informaes sobre questes relacionadas ao estudo da lngua, assim
como as principais publicaes relacionadas ao tema.
http://portal.mec.gov.br/: Em cumprimento ao Artigo 210 da Constituio
Federal de 1988, que determina como dever do Estado para com a educao
fixar contedo mnimos, foram elaborados e distribudos pelo MEC, a partir
de 1995, os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educao
Infantil/RCNEI, os Parmetros Curriculares Nacionais/ PCN para o Ensino
Fundamental, e os Referenciais Curriculares para o Ensino Mdio.
Posteriormente, o Conselho Nacional de Educao definiu as Diretrizes
Curriculares para a Educao Bsica. Conhea esses documentos que se
encontram disponveis no portal do MEC.
-
2255
http://revistaescola.abril.com.br: O site da Revista Nova Escola apresenta
contedos sobre Educao, que foram publicados nas edies impressas, com o
objetivo de fornecer materiais pedaggicos, pesquisas e projetos que auxiliem na
capacitao dos professores, gesto, processo educacional e melhoria da
qualidade da Educao no Brasil.
Livros
FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. So Paulo: Loyola, 1998.
A ordem do Discurso consiste na aula inaugural de Michael Foucault presidida
no Collge de France. No livro, Foucault procura mostrar que os discursos que
permeiam a sociedade so controlados, perpassados por formas de poder e de
represso.
BURKE, Peter. Histria Social da Linguagem. So Paulo: UNESP 1997
Cobrindo o perodo que vai do sculo XVI ao sculo XX, os vrios estudos
apontam para a perspectiva da linguagem como rica fonte para os historiadores e
oferecem significativas sugestes para os lingistas. Mostram como numerosas
batalhas foram travadas no apenas na linguagem, mas tambm sobre a
linguagem.
-
2266
-
2277
Unidade 2
Unidade 2. Uma questo de arte
Como vimos na Unidade 1, nossa penetrao na realidade sempre mediada por
diversas linguagens. O mundo, por sua vez, tem o significado que construmos para ele.
Essa construo se realiza pela representao de objetos, ideias e conceitos, por meio
dos diferentes signos lingusticos.
A linguagem um sistema de representao pelo qual olhamos, agimos e nos tornamos
conscientes da realidade. Nesta unidade vamos abordar a arte como uma forma de
linguagem, uma maneira sensvel de representaes simblicas, que propicia a
percepo de diversas significaes. Podemos dizer que os signos artsticos apresentam
metforas aos nossos sentidos e como interpretes somos impulsionados pela emoo a
traduzir e identificar significados, estabelecendo analogias a partir das nossas memrias
pessoais e culturais.
Em diferentes perodos histricos, verificamos que sempre houve mutaes nos critrios
artisticos; cada poca procurou melhor representar o contexto sociocultural vivido.
Cabe ressaltar que existem diversos caminhos possveis para o estudo da arte;
apresentaremos a seguir algumas consideraes referentes cultura ocidental. Num
primeiro momento, vamos abordar alguns conceitos gerais da arte; num segundo
momento, iremos discutir a questo do belo nas diversas manifestaes artsticas e; logo
depois, de acordo com Charles Feitosa (2004), observaremos duas posturas filosficas
distintas em relao construo do sentido: o realismo e o relativismo.
-
2288
Milhes de pessoas lem livros, ouvem msica, vo ao teatro e ao cinema. Por qu? Dizer que procuram
distrao, divertimento, a relaxao, no resolver o problema. Por que distrai, diverte e relaxa o mergulhar
nos problemas e na vida dos outros, o identificar-se com uma pintura ou msica, o identificar-se com os tipos
de um romance, de uma pea ou de um filme? Por que reagimos em face dessas "irrealidades" como se elas
fossem a realidade intensificada? Que estranho, misterioso divertimento esse? E, se algum nos responde
que almejamos escapar de uma existncia insatisfatria para uma existncia mais rica atravs de uma
experincia sem riscos, ento uma nova pergunta se apresenta: por que nossa prpria existncia no nos
basta? Por que esse desejo de completar a nossa vida incompleta atravs de outras figuras e outras formas?
Por que, da penumbra do auditrio, fixamos o nosso olhar admirado em um palco iluminado, onde acontece
algo que fictcio e que to completamente absorve a nossa ateno?
claro que o homem quer ser mais do que apenas ele mesmo. Quer ser um homem total. No lhe basta ser
um indivduo separado; alm da parcialidade da sua vida individual, anseia uma "plenitude" que sente e tenta
alcanar, uma plenitude de vida que lhe fraudada pela individualidade e todas as suas limitaes; uma
plenitude na direo da qual se orienta quando busca um mundo mais compreensvel e mais justo, um mundo
que tenha significao.
Quadro 2.1 - Cultura
2.1 Arte e tcnica
O texto de Fischer, apresentado no quadro nmero 2.1, ressalta a importncia da arte na
construo de significados, considerando que o convvio com diversas representaes
artsticas um dos fatores primordiais para alcanarmos a plenitude da vida.
As linguagens artsticas, em todas as modalidades (arte digital, arquitetura, cinema,
dana, desenho, expresso corporal, escultura, fotografia, instalaes, moda, msica,
performance, pintura, teatro, entre outras), refletem diversas experincias humanas. o
convvio com a arte que nos possibilita desenvolver a percepo esttica, com isso,
tornamo-nos sensveis a inmeros significados do mundo.
De quantas decises de carter esttico so feitas as mais simples escolhas? A
cor que nos identifica, o balano do corpo com que nos locomovemos, a
msica que embala nossos sonhos, a entonao que damos voz quando
queremos nos aproximar de algum, a maneira como desfilamos por entre as
pessoas, tudo isso constitui um mundo de significados e smbolos estticos
que possibilitam a expresso de mil mensagens que trazemos dentro de ns.
(COSTA, 2004, p. 135).
Podemos dizer que a arte um grande elo do indivduo com o todo. Por meio das
diversas manifestaes artsticas, o homem desperta para a amplitude de seu potencial
criativo ou, at mesmo, para suas limitaes e medo.
-
2299
por meio da linguagem artstica que podemos articular expresses e ideias.
Conceitos complexos como: amor, dio, alegria, dor, podem ser compartilhados pela
arte.
Com que prazer percebemos na poesia ou na msica que os nossos mais singulares
pensamentos e sentimentos encontram eco na criao alheia, mantendo com ela um
universo de comunicao e troca! (COSTA, 2004, p. 135).
Quadro 2.2 - Percepo
A identificao com as linguagens artsticas no devem ocorrer de maneira passiva, mas
sim por meio de contemplaes que propiciem a reflexo. Conforme ressalta Bertolt
(1976), em todas as suas formas de desenvolvimento artstico na dignidade e
comicidade, na persuaso e na exagerao, na fantasia e na realidade a arte relaciona-
se com a magia, a magia de atribuir significado ao mundo. A arte necessria para que
o homem se torne capaz de conhecer e mudar o mundo, tanto quanto necessria em
virtude da magia que lhe inerente.
2.1.1 Arte e tcnica
O homem tornou-se homem, diferenciou-se dos outros animais, atravs da utilizao de
ferramentas. Assim, no existiria ferramenta sem a interferncia humana, nem homem
sem a criao de ferramentas homem e ferramenta esto intrinsecamente ligados.
-
3300
Quadro 2.3 Habilidade
tcnica
Quadro 2.4 Concepo de natureza
Foi o desenvolvimento da habilidade tcnica para
criao e uso de ferramentas produzidas
pelas mos que marcou o
inicio da humanizao.
Para so Tomaz de Aquino (apud FICHER, 1983, p. 22
e 23) o homem possui razo e mo.
Podemos entender a tcnica como a inveno de ferramentas e instrumentos, juntamente
com o desenvolvimento de um conjunto de procedimentos que possibilitou ao homem
interferir e controlar a natureza e com isso aumentar a capacidade de produo
modificando, assim, suas condies de vida.
Atualmente, a imagem que fazemos da natureza
est ligada a florestas virgens, ilhas desrticas, mar
cristalino, ar puro e muita tranqilidade. Para o
homem contemporneo dos grandes centros
urbanos, a natureza se tornou um refgio contra as
correrias e as preocupaes (FEITOSA, 2004, p.84);
entretanto, essa ideia de natureza como um lugar
de paz recente. No passado, ela foi considerada um obstculo cheio de mistrios e
ameaas.
Provavelmente foi a ideia mgica de controlar a natureza por meio de instrumentos que
levou o homem a buscar incessantemente entender a magia do infinito. Percebendo que
as coisas que existiam apenas na sua mente poderiam de fato ter existncia material, o
homem passou ento a desenvolver atividades sociais e a considerar os acontecimentos
por meio dos signos.
-
3311
Nesse sentido, a arte pode ser vista como um instrumento mgico, um caminho que
propiciava o domnio da natureza, a expanso das relaes sociais, assim como o
desenvolvimento das significaes.
A relao da arte com a tcnica pode ser observada na acepo original e etimolgica da
palavra tcnica tekhn, que podemos traduzir como arte. Para os gregos, todo ato
humano tekhn e toda tekhn tem por caracterstica fazer nascer uma obra. Assim, a
tekhn envolve diversas atividades prticas, entre elas: a elaborao de leis; habilidade
para medir e contar; habilidades mdicas; habilidades culinrias; habilidades para as
artes plsticas, a msica, a oratria (LEMOS, 2007, p.26).
Na Grcia antiga, a arte era vista como uma tcnica de imitao (mimisis). Plato
associava a arte a uma espcie de excesso, sobra de energia, uma ameaa
epistemolgica e tica, uma vez que est ligada ao mundo dos sentidos. O artista era
considerado um imitador, que por meio da tcnica fabrica imagens falsas e ilusrias,
levando os cidados a desviarem os olhos do mundo das ideias, no qual se encontra o
verdadeiro conhecimento. A obra no apenas uma reproduo, mas algo inadequado
e inferior, tanto em relao aos objetos quanto s ideias representadas.
Na viso depreciativa de Plato, a arte estimula as emoes (a alegria, a tristeza, a
raiva), as quais, se deixadas sem controle, podem conduzir em ltima instncia guerra
e catstrofe. A arte pouco ou nada tem a ver com a verdade. Essa viso negativa de
Plato em relao arte tem uma explicao poltica, uma vez que:
Plato pretendia despertar o senso crtico de seus concidados, que
consideravam a obra potica de Homero uma enorme enciclopdia, um
manual de conduta para questes tanto de ordem cotidiana, como moral,
administrativa ou religiosa. Se Plato vivesse no sculo XXI, talvez
expulsasse a mdia de massa da sua cidade ideal, pois ela que serve
atualmente como a principal fonte das informaes, que costumam ser
recebidas como se fossem fatos acabados e no como interpretaes
(FEITOSA, 2004, p.119).
Para Aristteles, ao contrrio de Plato, a arte pode ser observada como uma tendncia
imitativa, instintiva aos seres humanos. As manifestaes artsticas possibilitam ao
-
3322
DICA DE LEITURA
MARTINS Mirian Celeste Ferreira Dias (org.). Didtica do ensino da arte: a lngua do
mundo - poetizar, fruir e conhecer arte. (Mirian Celeste Martins, Gisa Picosque, M
Terezinha Telles Guerra). So Paulo: FTD, 1998.
um livro que possibilita um encontro com a linguagem da arte e seu ensino. As autoras
discutem as diferentes linguagens artsticas e o processo de execuo, fruio esttica e
contextualizao da obra de arte atravs de sua histria.
homem adquirir experincias e, por meio delas, desenvolver as atividades intelectuais,
uma vez que no possvel imitar sem imaginar e comparar. Aristteles, ressalta ainda
que contemplamos com prazer as imagens exatas daquelas mesmas coisas que olhamos
com repugnncia, como exemplo ele cita as representaes de animais ferozes e de
cadveres. Nesse sentido, a arte no pode ser vista somente como uma reproduo do
real. Como exemplo, podemos destacar as representaes teatrais: na comdia grega, os
modelos ressaltavam defeitos como feiura, ignorncia, teimosia; na tragdia,
endossavam atitudes nobres, herosmo, vitria. Acentuando-se essas caractersticas,
acreditava-se que o sentido moral tornava-se mais contundente.
Aristteles ressalta ainda que o poder benfico da catarse seja provocado muitas vezes
por meio da arte. A catarse um termo oriundo da medicina, que se refere ao processo
de purgao do corpo. As manifestaes artsticas podem levar a um efeito de
purificao do corpo, graas descarga emocional provocada pelo prazer da
contemplao. Por meio da arte, o espectador estimulado a sentir fortes emoes, tais
como medo, piedade ou entusiasmo. Aps a cartase, vem o alvio e a sensao de
equilbrio.
Podemos observar que a arte, na concepo de Aristteles, deve exercer uma funo
edificante, que serve como suporte para mensagens educativas, religiosas e polticas de
Cunho moral. Agora cabe perguntar: a arte s verdadeira quando atende a um fim que
a transcenda? E o que discutiremos a seguir.
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3333
Quadro 2.5 Contemplao
2.2 O prazer da arte
Quem me dera, ao menos uma vez,
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo perfeito
E que todas as pessoas so felizes..
Legio Urbana.
Dentre as caractersticas mais importantes da arte, podemos destacar o prazer e a
emoo que ela desperta, a que alguns filsofos identificam como o prazer do belo ou
prazer esttico. Segundo Costa, isso se refere ao:
Prazer que sentimos ao apreciar uma msica, uma pintura, uma foto, uma
dana.... Um prazer diferente daquele que sentimos quando dormimos bem,
comemos uma comida especial ou fazemos amor. O prazer que a arte
desperta vem da forma das coisas, do som, do colorido, do ritmo, da maneira
como ns percebemos essas coisas (COSTA, 2004, p.21).
O belo o prazer esttico resultante da contemplao ou fruio de uma obra de arte.
Quando atribumos de maneira sensvel significado a uma manifestao artstica,
estimulamos nossa imaginao, e nossa viso de mundo.
O belo envolve uma mistura entre o senso, ou melhor, aquilo que se relaciona ao
pensamento, racionalidade e a significao e o sensvel aquilo que se refere aos
sentidos, aos afetos e aos sentimentos.
A arte e o belo no possuem conceitos universais. Estes variam, de acordo com o
contexto histrico, entre diversas questes socioculturais. Alm disso, devemos
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3344
considerar que a contemplao de uma obra uma experincia nica e intransfervel.
Por isso, a apreciao do belo depende da sensibilidade e dos valores atribudos
individualmente s obras.
Como toda e qualquer linguagem, a arte tem cdigos, ou seja, um sistema estruturado de
signos. Cabe ao artista no seu fazer explorar de maneira criativa os vrios signos
dessa linguagem. Assim, evidente que a obra depende efetivamente do criador; mas,
conforme ressalta Costa (2004, p.27): tanto a inteno do autor como a qualidade de
sua obra se realizam de forma definitiva naquele que a contempla. no ato de
apreciao que os significados so atribudos.
comum o belo ser associado s representaes alegres, bonitas e agradveis.
Entretanto, podemos ver beleza nas obras dramticas, desagradveis, tristes e feias. As
produes artsticas so inspiradas nos diversos contextos socioculturais.
Muitas vezes uma imagem ou uma msica emocionam justamente porque so
fortes e violentas. As cenas de medo de um filme de terror no so as que
mais emocionam? No so elas que nos fazem entrar no clima do filme e
viv-lo intensamente? Pois ento, elas so belas, elas so artsticas (COSTA,
2004, p.24).
Certas obras nos emocionam no somente pela sensao de tristeza, melancolia e medo
que causam, mas tambm por meio dos significados que so despertados por essas
emoes. Assim, podemos dizer que a beleza vem da significao despertada pela
apreciao das obras. Sem a interpretao e a construo de sentido por aquele que
percebe, no existe beleza, nem tampouco arte.
A ideia de beleza relacionada s coisas bonitas e harmoniosas teve origem na Grcia.
Na Antiguidade clssica, por volta do sculo V a.C., segundo a concepo grega, as
obras artsticas deveriam imitar o que belo, tanto no sentido esttico como no moral
os belos corpos, as belas aes para estimular os indivduos prtica das virtudes, por
meio da contemplao (do perfeito e excelente).
A Teoria do Belo baseada nas concepes gregas fundamenta-se em trs princpios
bsicos: o esttico, que depende de condies formais, tais como simetria, proporo,
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3355
DICA DE LEITURA
Costa, Cristina. Questes de Arte. Moderna: So Paulo, 2004.
O livro oferece conceitos fundamentais em relao Arte, tais como: o papel da arte na
sociedade, a funo social do artista, o sentido dos signos das linguagens artsticas num
determinado contexto social, o processo de consagrao artstica, a dinmica do processo
artstico e outros relacionados ao belo, da antiguidade at a arte contempornea.
equilbrio, entre outras; o moral, que remete ao estado da alma, ou seja, tudo que
belo bom e nobre e por isso constitui objetos de imitao; o intelectual, que se
relaciona com o conhecimento. As concepes estticas gregas influenciaram diversos
perodos artsticos da arte ocidental e o fazem at os dias de hoje.
Podemos destacar a influncia do padro clssico de beleza nos meios de comunicao
de massa, que insistem em perpetuar uma beleza estereotipada em muitas produes,
mesmo quando j ultrapassada em relao arte e ao gosto da crtica. Observando o
cinema como exemplo, vemos que os contos de fadas, reproduzidos em forma de
desenho animado, geralmente retratam um padro de beleza que endossa as concepes
clssicas: a princesa branca, magra, bonita, gentil e bondosa. O prncipe apresenta
traos delicados, elegncia e valentia. Os personagens feios geralmente so
relacionados a atitudes desastradas e deselegantes, de inveja e crueldade.
Na arte publicitria, a ideia de perpetuar padres de beleza idealizados vista como
uma estratgia mercadolgica: em um mercado, no qual produtos e servios so
equivalentes em preo e qualidade; necessrio estabelecer com o consumidor uma
relao emocional e porque no dizer ideolgica. Por isso, a escolha de pessoas
famosas, lugares bonitos ou relacionamentos felizes, para anunciar determinado produto
ou servio, estratgia para induzir o consumidor a identificar-se com a marca.
Pesquisas comprovam que o consumidor ao comprar determinado produto passa a
estabelecer com ele relaes afetivas; assim, quando determinada marca nos transmitir
valores com os quais nos identificamos ou que gostaramos de possuir, nossa relao de
confiana ou fidelidade em relao a ela se aprofunda e passamos a ser consumidores
fieis.
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3366
Quadro 2.6 Sonho ou realidade
Quadro 2.7 Ponto de vista Imagem disponvel
em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Je
an-Baptiste_Debret
Acesso em 23/12/2009
2.3 Realidade: uma questo filosfica
Existe uma realidade absoluta a ser descoberta?
Se um pobre agricultor sonhasse todos os dias
durante doze horas ser um rei, viveria to intensamente
quanto um rei que sonhasse todos os dias durante doze
horas ser um campons (FEITOSA, 2004, p. 42).
Talvez o nico critrio disponvel para distinguirmos o sonho da vida cotidiana seja a
conexo contnua dos fatos.
De acordo com Feitosa (2004), levantaremos a seguir dois pensamentos filosficos
fundamentais para reflexo dessa indagao: o realismo e o relativismo.
O realismo prope que existe uma realidade nica, objetiva, concreta e absoluta. As
coisas tm autonomia, subsistem em si e por si, independentes do contexto histrico ou
social e das interpretaes individuais; nesse sentido, as
palavras e as aes devem ser adequadas para serem
consideradas verdadeiras. Caso contrrio, ser considerado
erro e precisam ser corrigidas.
Nessa teoria, o universo apresenta uma ordem, um certo e
um errado absoluto, atuando como referncia para nossas
decises. O erro s acontece quando no nos adequamos ao
real; mas o real existe e pode responder nossas dvidas
cientficas ou existenciais.
Na viso realista, uma pintura pode ser considerada
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3377
imperfeita, se no reproduzir as formas e propores do seu objeto de maneira
fotogrfica. A tcnica fator primordial.
Durante o Brasil Colnia, vrios pintores europeus vieram para retratar o pas. Entre
eles, podemos citar Debret (1768-1848) que chegou em 1816 com a Misso Artstica
Francesa. Pautado nas concepes estticas do neoclssicismo, o artista aborda o
panorama histrico e cultural brasileiro
Feitosa (2004, p.44) destaca que a grande desvantagem do realismo o carter
dogmtico que muitas vezes ele pode adquirir (dogma uma palavra de origem grega e
refere-se a uma opinio interpretada como verdade inquestionvel). No realismo todo
discurso considerado inadequado ao real precisa ser corrigido, excludo; aquilo que for
diferente da norma pode ser visto como desvio ou erro.
Um exemplo negativo do realismo dogmtico o pensamento nazista, uma vez que
colocava a raa ariana como uma supremacia, um modelo ideal de ser humano. Esse
pensamento gerou violentos conflitos contra todos os que no se enquadravam nele.
Por outro lado, as concepes pautadas no relativismo propem que no existe uma
realidade nica e acabada, porm muitas e diversas realidades. O homem atribui
diversos significados ao mundo dependendo do contexto histrico, espacial, cultural e
social. A realidade est em eterna construo, uma vez que as interpretaes do
pensamento e da linguagem so dinmicas.
Para um realista, as frases isso belo ou isso bom so juzos de valor. As frases
isso branco ou isso mede 10 m so juzos de fato. Para um relativista, as duas
frases remetem a juzos de valores, uma vez que as cores e as medidas tambm so
convenes criadas pelo homem, do mesmo modo que critrios de beleza ou utilidade.
Segundo Nietzsche (1911, p. 481), no existem fatos s interpretaes. Para Feitosa
(2004):
A cincia acredita que opera exclusivamente com juzos de fato e por isso
capaz de olhar para a realidade como um mero observador, alm que se
coloca de fora ou diante de seu objeto, registrando-o de forma neutra. Para o
relativismo, entretanto, a cincia apenas mais um entre vrios modos de
interpretao do mundo (FEITOSA, 2004, p.48).
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3388
Quadro 2.8 Liberdade de expresso
No discurso relativista no existe erro ou desvio, uma vez que a diversidde de
perspectivas inerente ao mundo humano. Nenhum conceito ou ideia mais verdadeira
do que a outra, somente mais apropriada num dado contexto sociocultural.
Somente a partir da modernidade, que o discurso artstico assume caracterstica relativista,
conjugando racionalidade e emotividade apostando nas mltiplas possibilidades de significao.
Neste sentido as manifestaes artsticas rompem com a postura realista, pautada no
compromisso de imitar a realidade, e provocar prazer ou satisfao.
A postura relativista exige a busca e a anlise constante dos fatos, com conscincia e
responsabilidade; no aceitar uma realidade absoluta, entretanto, no significa defender
uma atitude niilista (do latim nihil nada) de negao de todas as verdades. H limites
para o relativismo, e um deles a completa recusa de todos os discursos que arroguem
para si o direito de ser o nico, principalmente quando o nada for o valor absoluto
Feitosa (2004, p. 54). Nesse sentido, o relativismo um ato de resistncia contra
qualquer pensamento que se imponha como uma verdade indiscutvel, seja na poltica,
na cincia ou na arte.
Para sintetizar, Feitosa (2004) destaca que no realismo as coisas existem por si e podem
ser representadas de maneira adequada ou no, por meio das palavras e das imagens.
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3399
DICA DE LEITURA
Feitosa, Charles. Explicando a arte com filosofia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
Explicando a arte com filosofia uma aproximao ao pensar filosfico, atravs de
temas, questes e problemas, com o apoio de obras de arte. Os pressupostos tericos
apresentados pautam-se na ideia de uma "filosofia pop", que associa conceitos com
imagens, em uma linguagem acessvel e bem-humorada, sem perder contudo o rigor e a
densidade inerentes filosofia.
No relativismo as coisas s existem por meio da linguagem e das significaes. As
palavras e as imagens no representam as coisas, elas constituem as coisas. Sem
palavras e imagens, o mundo no teria significado.
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4400
Andruchak - Arte &Cultura
Marcos Andruchak, artista plstico
brasileiro nascido em Capanema no
Paran. Muralista e Professor do
Departamento de Artes da UFRN -
DEART, com Doutorado pela Escola de
Comunicao e Artes da USP na rea de
design grfico animado, tem formao em
Matemtica pela UNIOESTE e mestrado
em Computao Grfica pela POLI - USP.
Profissional na rea das artes desde 1985
tem em sua pintura grande
reconhecimento, com trabalhos em
Portugal, Espanha, Frana, Holanda,
Blgica, Sua, Itlia, Alemanha, Estados
Unidos e Japo. Os murais de Andruchak
se espalham por diferentes estados
brasileiros, alguns dos quais, realizados a
pedido do Ministrio da Cultura,
produzidos atravs do Projeto de Extenso
Andruchak Arte Brasil, (UFRN - Proex), sob sua coordenao, com a participao
de alunos e pessoas das comunidades onde
a obra executada.
Indagaes
Descontinuidades, anti-simetria,
Persistncia ao desigual.
O trao segue a imaginao,
E a busca pelo diferente contrastante.
Estilo, unicidade , arte!
A sede pela pintura enlouquece.
Cada risco e rabisco estudado.
As indagaes perturbam a alma.
A procura pela auto superao corri,
Dia aps dia, incessante.
Qual lado segue melhor?
Como incrementar a percepo?
So questes exaustivamente estudadas,
Revistas, investigadas...
Mas o que vale cumprir,
Seguir os passos predestinados pela deciso
E tomar para si o gosto.
Fabricar vida atravs das cores.
Criar mensagens implcitas, intrnsecas,
Aproveitar os ares da conseqncia,
Atingindo independente
Um toque de maestria...
Andruchak
http://www.andruchak.com.br/
www.flickr.com/andruchak
Quadro 2.9 Perfil do artista plstico Marcos Andruchak
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4411
2.4 Sntese da unidade
Observamos nesta unidade que as obras de arte so metforas que no trazem respostas
prontas; mas provocam em ns uma profuso de perguntas que nos fazem extrair delas
novos, diferentes e profundos significados.
Ressaltamos que a arte est presente desde quando o homem comeou a inventar e
produzir ferramentas, permitindo a ele expandir suas relaes sociais e at dominar a
natureza. Neste sentido, a arte se funde com a tcnica, isto , a habilidade de executar
vrios procedimentos necessrios para o desenvolvimento do homem. Vimos, tambm,
que comum associarmos s representaes artsticas as coisas bonitas e agradveis;
entretanto, as produes artsticas so inspiradas nos diversos contextos socioculturais,
assim, podemos ver beleza nas obras dramticas e feias.
Para finalizar a unidade, discutimos duas concepes filosficas fundamentais para a
construo do processo de significao: o realismo, que prope realidades absolutas e o
relativismo, que considera que o homem pode atribuir diversos significados ao mundo
de acordo com o contexto histrico e cultural em que est inserido.
2.5 Para saber mais
Filmes
O sorriso de Monalisa, com direo de Mike Newell, lanado nos EUA em
2003, um drama, cujo principal enfoque est na educao libertadora,
esclarecedora, em que se pretende que os estudantes percebam a riqueza da arte
como elementos definidores da essncia da humanidade. A professora de
histria da arte vivida por Julia Roberts mais do que uma profissional em
busca de renovao em seu trabalho pedaggico, o prottipo de mulher
moderna, livre, desimpedida, disposta a romper os preconceitos sociais da
dcada de 50 (perodo em que se passa a narrativa).
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Palavras de amor (titulo original: Bee Season) um drama, com direo de
David Siegel, Scott McGehee, produzido nos EUA em 2005, que conta a histria
de Eliza (Flora Cross), uma jovem que tem grande facilidade em soletrar. Ela
a filha caula de Saul (Richard Gere) e Miriam (Juliette Binoche); medida que
Eliza melhora sua capacidade de soletrar a comunicao entre seus pais e seu
irmo (Max Minghella) piora, cabendo a ela reunir os fragmentos de sua famlia.
http://www.adorocinema.com/filmes/lingua
Arquitetura da destruio (Undergangens Arkiektur) um documentrio
alemo, com durao de 121 minutos, lanado em 1989, direo de Peter Cohen.
Enfoca a pretenso de Hitler de se tornar o senhor do universo e o veio artstico
do arquiteto da destruio que tinha a grande pretenso de dar uma dimenso
absoluta sua megalomania. O nazismo tinha como um dos seus princpios
fundamentais a misso de embelezar o mundo, ainda que para isso o destrusse.
Livros
O Mundo de Sofia um romance escrito por Jostein Gaarder, publicado pela primeira
vez em 1991. De forma natural e didtica, o romance introduz a Histria da Filosofia
dando rpidas pinceladas sobre o seu desenrolar no Ocidente. Levanta as principais
questes estudadas pelos pensadores de todos os tempos.
Sites
http://www.artenaescola.org.br/ O site mantido pela Fundao Iochpe fornece
sugestes de livros, com fichas tcnicas e sinopses, artigos, monografias, e teses
sobre educao e arte-educao e permite que o usurio envie o seu artigo ou a
sua resenha, acompanhada ou no do arquivo contendo o trabalho na ntegra.
Divulga informaes de interesse do professor de arte em todo o Brasil, sejam elas
referentes a aes promovidas no mbito da Rede Arte na Escola ou fora dele.
http://www.itaucultural.org.br/ Informaes sobre o Instituto e seus projetos. A
Enciclopdia de Artes Visuais um rico acervo de informaes nas reas
artstico-culturais.
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Unidade 3
Unidade 3. Comunicao: da oralidade informtica
Como vimos nas unidades anteriores, as diversas linguagens formam a representao
simblica que nos possibilita experimentar o mundo e, consequentemente, ampliar
nossos horizontes socioculturais. por meio da simbolizao que o conhecimento
condensado, as informaes so processadas, as diversas experincias so acumuladas
transmitidas e transformadas.
Para entendermos melhor essa dinmica, nesta unidade vamos abordar alguns aspectos
relacionados comunicao e transmisso dos signos. Abordaremos o conceito de
comunicao formal, massivo e informatizado. Vamos discutir tambm alguns aspectos
da sociedade contempornea, ressaltando as grandes mudanas culturais provocadas
pela comunicao midiatizada. Observaremos como os meios de comunicao digitais
esto influenciando de maneira direta nosso modo de ser e de perceber o mundo.
3.1 Aspectos gerais do processo de comunicao
A palavra comunicao tem origem no latim communicare, que significa "tornar
comum", "partilhar", "conferenciar". Assim, a comunicao pode ser vista como a troca
de algo entre indivduos.
Quando eu comunico alguma coisa a algum essa coisa se torna comum a
ambos. Quando se publica uma notcia ela passa a fazer parte da comunidade.
Comunicao, comunho, comunidade, etc. so palavras que tem a mesma
raiz e esto relacionadas mesma ideia de algo compartilhado (PEREIRA,
2001, p.10).
comum encontrarmos o conceito de comunicao relacionado troca de informaes
por meio de mensagens. Entretanto, se considerarmos que comunicar pode englobar
tambm o ato de compartilhar experincias, emoes, sensaes, conhecimentos, ideias,
valores, bens, servios, etc., esse conceito pode ser ampliado. Para alguns, tudo no
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4444
universo e na vida seria, em ltima instncia, comunicao, na medida em que h
sempre o deslocamento de uma forma ou outra de informao, conforme Pereira (2001,
p.11).
Somente quando a comunicao ocorre de maneira significativa que os indivduos
adquirem conscincia de si e do contexto sociocultural em que esto inseridos. Nesse
sentido, podemos observar que as atividades comunicacionais esto relacionadas
diretamente linguagem e cultura.
Dada a ntima ligao existente entre a cultura e a linguagem, uma das