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José Antônio Cunha e Silva

EM BUSCA

DA CONSCIÊNCIA PERDIDA

(PORQUE MUDAR A LINGUAGEM ESPÍRITA)

Revisão e digitação Luís Cavalcanti Março de 2011

COLEÇÃO ITIQUIRA Thesaurus

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© 1993 by José Antônio Cunha e Silva Capa: Maurício Júnior Composição: Autor Revisão: Cláudio Fontes Faria e Silva e autor Editoração eletrônica: Marcelo Alegria Montagem e arte-final: Maurício Júnior Distribuição: Editora e Distribuidora Kópyon Ltda. (Cx. Postal: 6238)

Todos os direitos reservados ao autor. Composto e impresso no Brasil Printed in Brazil

SILVA, José Antônio Cunha e S586e Em busca da consciência perdida: por que mudar a linguagem espírita/ José Antônio Cunha e Silva. – Brasília: Thesaurus, 1993. 108p. 1 – Metafísica da vida espiritual 1 – título CDU 130.12

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EM BUSCA DA

CONSCIÊNCIA PERDIDA (PORQUE MUDAR A LINGUAGEM ESPÍRITA)

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“Dedico este livro a todos aqueles que ousaram empreender a conquista da autoconsciência e que lutarão por isso, enquanto forças tiverem.”

Jacs

“O corpo físico é o nosso templo. A luz da consciência é o nosso guia.”

Jacs

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Sumário

Nota do autor ............................................................................. 10

Preâmbulo .................................................................................. 11

Prefácio ....................................................................................... 14

Introdução .................................................................................. 18

CAPÍTULO 1 – Fatos ocorridos antes do surgimento do

espiritismo .................................................................................. 21

Questões relativas ao tema .................................................... 25

CAPÍTULO 2 – O surgimento do espiritismo ............................... 32

Questões relativas ao tema .................................................... 37

CAPÍTULO 3 – O espiritismo no tempo ....................................... 41

CAPÍTULO 4 - Reencarnação ....................................................... 51

Questões relativas ao tema .................................................... 56

CAPÍTULO 5 – O carma ou lei de causa e efeito ......................... 75

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Questões relativas ao tema .................................................... 85

CAPÍTULO 6 – O bem e o mal ..................................................... 89

Questões relativas ao tema .................................................... 94

CAPÍTULO 7 – A fé e o conhecimento ...................................... 114

Glossário ................................................................................... 121

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EM BUSCA DA CONSCIÊNCIA PERDIDA não é uma obra circunscrita aos atuais limites do espiritismo. Tem a ousada pretensão de dar início às mudanças, necessárias, à linguagem espírita.

Procura, também, não perder de vista o ponto funda-mental da questão que é o despertar da consciência do Ser Humano.

Traça um paralelo entre os princípios básicos constan-tes do LIVRO DOS ESPÍRITOS e os ensinamentos recebi-dos pelo autor, nos mundos físico e extrafísico, sobre o as-sunto. Revela notar que esse entendimento é, muitas vezes, complementar e outras vezes divergente do disposto no LI-VRO DOS ESPÍRIOS.

Entendemos que a grande obra chamada “ESPIRI-TISMO” precisa ser revista em seus fundamentos básicos, para que possa retornar à sua trilha de origem. Esse desvio deve ser creditado ao próprio homem que na sua ânsia de saber muito acrescentou à ÁGUA PURA DA FONTE.

O fato que faz a diferença entre uma obra e outra é o nível de contribuição para elevação da consciência do Ser Humano em uso de matéria.

Para se chegar ao caminho da consciência é preciso es-tabelecer um divisor de águas, situando de um lado aquilo que caracterize atividade secundária e do outro o somatório das ações que efetivamente contribuem para elevar o entendimen-to do Ser Humano sobre o semelhante, sobre a vida que o cerca e finalmente sobre o próprio Criador.

O passo seguinte é dar o justo valor a cada parte. Aí re-side o grande segredo.

O autor

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Nota do autor

Para facilitar a compreensão do fundamento desta obra,

achamos por bem colocar esta nota que nomeia as fontes e esclarece ao leitor o tipo de leitura que ele tem pela frente.

Este livro tem a pretensão de trazer para o seio do espi-ritismo uma nova visão sobre seus princípios básicos, alteran-do a forma pela mudança da linguagem para que a essência resplandeça com o brilho do novo entendimento. Esse cami-nho da mudança é rota obrigatória por onde precisa passar o espiritismo, pois a inércia particular é estagnação quando todo o conjunto avança.

O conteúdo do livro tem como fontes

•Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo: Allan Kar-dec, 1957. 425p. •M.A.O, Bianca. As Possibilidades do Infinito: de um Contato de Terceiro Grau à Conquista da Autoconsciência. São Paulo: Kopyin, 1987.119p. •M.A.O, Bianca. A Vida Dentro da Vida. São Paulo: Kopyon, 1990.119p. •O conjunto de ensinamentos ministrados tanto no mundo físico como no mundo extrafísico que formam a própria base filosófica da “TFCA – Técnica Física para a Conquista da Autoconsciência”. •A experiência vivenciada e os ensinamentos recebidos pelo autor em mais de doze anos de aprendizagem no mundo espi-ritual durante as saídas do corpo físico. •A participação nos trabalhos espíritas tanto no mundo mate-rial como no mundo espiritual.

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Preâmbulo

Como tudo aconteceu

Pelos idos de 1979, após intensa procura de conheci-

mento sobre o mundo espiritual, tornei-me espírita. Antes, porém, tive a oportunidade de ler muitos livros sobre o assun-to. Filiei-me, inclusive, a várias organizações espiritualistas, frequentei cursos de parapsicologia, viagem astral, enfim pro-curei conhecer tudo que se relacionasse ao espírito e ao mun-do espiritual.

Sobre a doutrina espírita consegui ao longo dos anos razoável conhecimento tanto pelo estudo das obras básicas como também pelas experiências vividas nos trabalhos espiri-tistas de orientação Kardecista e umbandista.

Mesmo sendo espírita e ter conseguido obter a certeza da continuidade da vida no mundo espiritual, dentro de mim ainda havia ânsia e desejo de descobrir uma forma de acesso ao mundo espiritual. Acreditava eu que, assim procedendo, obteria todas as informações que desejasse sobre minha pes-soa.

Foi com esse estado de espírito que, em fins de 1980, tive contato com a “TÉCNICA FÍSICA PARA A CON-QUISTA DA AUTOCONSCIÊNCIA”. Em pouco tempo de prática dos exercícios ensinados, tive a oportunidade de com-provar a eficiência do método. Descobri que além de ser um caminho objetivo e seguro para contato com o mundo espiri-tual, era também uma via de acesso à minha própria pessoa

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tanto na configuração atual, como também na de outras vidas que vivi em outras eras, em corpos diferentes. Enfim, era a minha história que se descortinava à minha frente e eu, como um espectador solitário, podia reaprendê-la em todos seus detalhes.

Transcorreram-se os anos e os ensinamentos e experi-ências do mundo espiritual foram se avolumando, trazendo, por consequência, um maior entendimento sobre os mundos material e espiritual. Ensinamentos nunca dantes imaginados foram recebidos durante o período de repouso da minha ma-téria (corpo físico), formando novos registros em minha me-mória. Novo ângulo se abriu por onde eu podia ver a vida em cores novas, convidando-me, de forma imperativa, a mudar. Mudança essa, necessária do meu próprio conceito de passa-do, presente e futuro. Da mesma forma, a compreensão das dimensões material e espiritual foi se tornando cristalina, afas-tando para longe as incômodas interrogações.

Esses ensinamentos que venho recebendo nos momen-tos em que saio de minha matéria e entro na dimensão espiri-tual, levaram-me a compreender que a vida é única e interpe-netra dois mundos semelhantes, o material e o espiritual, que se individualizam apenas pela frequência vibratória. É obede-cendo a esse princípio que o Ser Humano se acopla, em es-sência, a uma matéria (corpo) de outra frequência (material), cujo processo chamamos ENCARNAÇÃO.

É fácil imaginar que meu entendimento como espírita fatalmente iria mudar. Isso ocorreu de uma forma muito acentuada, pois tive a grata oportunidade de assistir, direta-mente no mundo espiritual, a vários fenômenos descritos nos livros da doutrina. Essas experiências e ensinamentos adquiri-dos nos momentos em que deixei meu corpo físico contribuí-

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ram de maneira decisiva tanto para aumentar meus conheci-mentos como também para alargar meus horizontes pessoais.

Em meados de 1988, em reunião no mundo espiritual, fui convocado por um espírito que lidera o movimento espíri-ta na Terra a cooperar com o espiritismo de forma mais direta e objetiva. De início, deveria escrever sobre esse outro lado da vida, enfocando pontos importantes dos ensinamentos espíri-tas, dentro do meu entendimento adquirido nas experiências extracorpóreas. Em um segundo momento, deveria então dar início aos trabalhos práticos dentro do espiritismo já utilizan-do uma nova linguagem. Essa nova forma de intercâmbio com o mundo espiritual se processará de maneira bem dife-rente da atual. As pessoas que estão do outro lado da vida e que irão atuar no mundo físico se apresentarão como elas realmente são. Não haverá necessidade de representarem um papel, usando inclusive nomes fictícios como, em geral, ocor-re em nossos dias.

A convocação, sem aviso prévio, causou-me surpresa. Tomei, no entanto, a resolução de aceitar o encargo, mesmo sabendo que fico muito a dever a pessoal ideal para o traba-lho. Procurei, por outro lado, encarar a questão como uma tarefa que alguém teria que realizar. Assim, dentro dos meus limites, propus-me cumprir esse compromisso, oferecendo o de meus esforços.

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Prefácio

Muitos anos, doze ao todo, vivo o que poderíamos

chamar de uma maravilhosa aventura de um caçador. Trans-formei-me, ao longo do tempo, em um caçador de mim mesmo. Se antes eu era a caça assustada frente aos embates da vida, sem destino certo, a caminhar por onde caminhassem as outras pessoas, hoje sou o caçador que finalmente encontrou sua caça. Mas, e o futuro? O futuro eu o tenho preso em mi-nhas mãos.

Mas é de todo importante testemunhar o que ocorre com a pessoa quando ela, conscientemente, tem a oportuni-dade de presenciar a chegada de consciência. São inúmeras as mudanças de profundidade que vão acontecendo ao longo do tempo, tanto no corpo físico como no próprio Ser Humano que o possui. Pode-se distingui-las umas das outras de forma perfeita.

Inicialmente quase tudo é imperceptível. É muito sutil para que os sentidos bastante adormecidos possam perceber tantas mudanças. Mas ao prosseguir na grande viagem da bus-ca da consciência começa-se a perceber o imperceptível, a sentir o insensível e a ver o que antes era invisível. Uma gran-de certeza de que realmente somos seres humanos paira sobre nós. Um grande sentimento de conhecimento ao Criador se aloja em nosso interior, trazendo uma vaga lembrança de que o conhecíamos antes e que o tínhamos esquecido, mas que agora novamente o encontramos.

Podemos representar a caminhada em direção à auto-consciência como uma estrada que circula ao redor de nós

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mesmos. A cada volta que percorremos em vez de nos afas-tarmos de nós mais nos aproximamos e, por outro lado, pas-samos a enxergar mais longe.

Com isso nos sentimos melhores do que as demais pes-soas que nos rodeiam? Não, mas passamos a entender com maior profundidade a enormidade dos problemas que afligem o Ser Humano. Dentre eles o mais terrível. A INCONSCI-ÊNCIA.

Mas atravessar o pântano da inconsciência para singrar os mares da consciência plena não é tarefa fácil. É abrir as próprias entranhas, é rasgar o livro da morte e reescrever o livro da vida. É morrer e nascer de novo no mesmo corpo.

Nessa aventura temos que nos despir de todos os nos-sos agregados psicológicos, temos que expulsar os nossos egos, retirar e lançar fora as nossas máscaras e extinguir a vida de todas as nossas personagens para que vivamos somente “nós”, seres humanos eternos.

É uma luta de David e Golias? Verdadeiramente é. A vitória, no entanto, está ao alcance de todo aquele que ousar querê-la.

Toda boa luta conduz a uma grande vitória, sabendo onde nos levam os nossos passos, tudo fica mais fácil, as difi-culdades naturais da caminhada se nos apresentam como con-tratempos de uma viagem que tem tempo para terminar.

Quando nos pomos a caminho ao nascer do sol a noite jamais nos alcançará.

É o voo da águia que eternamente irá voar. Verdadeiramente precisamos quebrar o ciclo do NAS-

CE-RENASCE. E para isso mudar é preciso. A mudança inicia quando o homem começa a conhecer a si mesmo, pois nele está o conhecimento de seu semelhante, os mistérios da vida e o possível entendimento do próprio Criador.

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Para o Planeta Terra só existe uma saída: A HUMA-NIDADE SE TORNAR CONSCIENTE.

Para a humanidade só existe uma saída: O HOMEM SE TORNAR CONSCIENTE.

Para o homem só existe uma saída: ELE SE TORNAR CONSCIENTE.

Essas três afirmações nos conduzem a uma conclusão: Todos os desequilíbrios, as anormalidades, os desvios, as ma-zelas, o sofrimento e a dor que afligem o Ser Humano têm uma única origem e um único responsável: A INCONSCI-ÊNCIA HUMANA. Tudo o mais que se atribui como causa e como responsável por esses fatos que ocorrem com a nossa humanidade é apenas uma tentativa de encontrar uma expli-cação para o que não se conhece e ao mesmo tempo respon-sabilizar alguém por uma culpa que não existe.

Essa afirmação derruba por Terra toda cultura humana relacionada ao DESTINO, AO CARMA, À LEI DE CAUSA E EFEITO, AO PECADO E AO CASTIGO.

Na escuridão da inconsciência não pode ser culpado aquele que se desvia do caminho, ou que fere alguém por não o reconhecer como irmão.

A luz da consciência não pode ser doada, mas sim con-quistada. Isto porque a conquista significa aquisição de forma paulatina e a consequente adaptação, enquanto a doação signi-fica a mudança, de forma abrupta, da escuridão para a luz o que levaria a pessoa à cegueira, ao desequilíbrio e provavel-mente à loucura.

O espiritismo é um socorro que veio do “alto”. É um caminho suave que permite ao mundo espiritual vir até ao mundo físico, refazendo novamente a ligação entre o homem e a sua origem, preparando-o para a chegada da consciência.

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Quando o homem avança e sobe os degraus da consci-ência ele precisa voar e o espiritismo nesse momento deve fornecer as asas que o conduzirão aos campos do verdadeiro entendimento e da sabedoria maior.

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Introdução

Uma triste realidade se apresenta ao homem no ocaso

da vida física e uma interrogação paira em sua mente: qual será o seu destino após o fenômeno chamado morte? Median-te simples retrospecto ao passado ele conclui, de forma irre-mediável, que durante o estágio na matéria densa não obteve o conhecimento e preparo para esse momento de tão grande importância. Daí surgem dramas e tragédias, pois o desconhe-cido lhe causa medo, angústia e sofrimento. Nada mais ater-rador do que perder a individualidade na estrutura íntima do ser, expulsando para terras distantes o bom senso e a razão.

Nesse estado de quase desespero mental, procura agar-rar-se às ideias antigas que sempre ouviu; ora o paraíso mara-vilhoso e indolente que se lhe apresenta; ora é Lúcifer, convi-dando-o para o resgate iminente de seus pecados nos caldei-rões do inferno. De repente, de sua mente encurralada, surge uma esperança salvadora: o sono eterno. Sim, como tantas vezes ouvira falar, o sono eterno o conduzirá ao porto seguro do juízo final, quando então – milagre dos milagres – mesmo morto em matéria, erguerá seus andrajos humanos e voltará à vida.

Apesar dessas ideias desfilarem por sua mente cansada e sofrida, no mais íntimo do seu ser ecoa um pungente pedido de socorro, pois o espírito imortal sabe que, assim como o náufrago precisa de algo sólido para se apoiar, ele precisa da verdade para se sustentar.

Toda essa conduta do homem perante a inevitável per-da da vestimenta física foi analisada em profundidade pelos líderes do mundo espiritual. A análise não se restringiu ao

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crepúsculo da vida material, mas se estendeu ao comporta-mento do Ser Humano, enquanto encarnado, onde se verifi-cou que a razão cedia lugar aos instintos e os sentimentos se transformavam em paixões cegas, filhas diletas da matéria. Tal atitude contrariava as leis naturais conferidas pelo Criador, ao mesmo tempo em que prejudicava o próprio homem na sua caminhada em direção ao CONHECIMENTO MAIOR.

Foi assim, que esses líderes do Mundo Espiritual decidi-ram criar um plano que pudesse constituir-se em um seguro contra essa programação nefasta imposta ao Ser Humano encarnado, ao mesmo tempo em que propiciaria a cura dos seus efeitos perniciosos. Esses ensinamentos distorcidos e distantes da grande realidade que permeia as dimensões mate-rial e espiritual são tão danosos, que além de afetar a vida físi-ca, se incorporam à pessoa humana, acompanhando-o até o mundo espiritual após a perda do corpo físico, onde passam a constituir verdadeiras prisões mentais. Chega-se ao ponto de pessoas desencarnadas permanecerem “mortas” na dimensão espiritual em virtude das “orientações” recebidas no mundo físico. O despertar dessas pessoas é difícil e doloroso e só se torna possível pela colaboração abnegada dos trabalhadores do mundo espiritual, que não medem esforços para auxiliar o homem a readquirir a sua consciência. A aceitação desses en-sinamentos distorcidos só acontece devido ao estado de in-consciência humana, pois uma pessoa que tem consciência plena não dá guarida a esse tipo de ensinamento.

Esse auxílio espiritual foi e ainda é necessário, “pois um acidente planetário tornou o homem inconsciente” e a noite da inconsciência roubou o seu passado e o seu conhecimen-to.(1) Urgia, desse modo, auxiliar-lhe a enfrentar o grande de-

(1) As Possibilidades do Infinito.

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safio de viver sem saber “QUEM ERA, O QUE ERA E POR QUE” estava aqui na matéria, encarnado em um mundo cheio de contradições onde a fragilidade da razão caminhava ao lado de poderosos sentimentos e emoções doentios.(2)

Assim nasceu o espiritismo, movimento integrador do Ser material e espiritual. Um consolador.

O espiritismo assim criado foi se constituindo em linha de trabalhos com suas cores próprias, muitas vezes de difícil aceitação pelo nosso pequeno entendimento, mas nem por isso distante do objetivo primeiro que é a busca da consciên-cia perdida.

A história da semente do espiritismo, no entanto, se perde na noite dos tempos. “Das onze raças que iniciaram o povoamento da Terra foi somente a raça negra, por suas ca-racterísticas de bondade e passividade, que manteve o registro do mundo espiritual. Foi através dessa raça que o nosso con-tato com a dimensão extrafísica pôde ser reiniciado e mais tarde estruturado o próprio espiritismo com suas diversas linhas de trabalho. O grupo de pessoas que tinha como obje-tivo o trabalho nos mundos físico e espiritual, ao mesmo tempo, escolheu a matéria negra para suas encarnações, uma vez que ela possuía aqueles atributos já mencionados”.(3)

(2) A Vida Dentro da Vida.

(3) Idem.

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CAPÍTULO 1

Fatos ocorridos antes

do surgimento do espiritismo

Para todo fato ou efeito existe uma causa e para dar a

explicação do porquê do espiritismo, temos que retornar no tempo, viajar ao passado, navegando o rio dos milênios até o momento em que o homem habitava a Terra e era senhor do seu destino porque era autoconsciente e tinha o CONHECI-MENTO. “O Ser Humano dessa era provinha de onze raças originárias de onze planetas diferentes”.(4) Tinha o corpo físi-co em perfeito funcionamento, o que lhe permitia manter intactos os seus registros cerebrais quando realizava a troca de matéria (morte e nascimento). Esse perfeito funcionamento cerebral lhe permitia manter todo o conhecimento adquirido nas encarnações passadas. Era, portanto, autoconsciente.

“No início, antes dessas raças se fixarem aqui, foram trazidas primeiro as espécies da flora e fauna desses planetas, que aqui prosperaram e se multiplicaram, complementando a formação de nossos mundos vegetal e animal. Logo que aqui chegaram, verificaram que já existia o mundo espiritual, mas não existia a vida do homem na matéria. Iniciaram, a partir desse momento, a produção de matéria, ou seja, corpos físi-cos para que os espíritos próprios do nosso planeta pudessem iniciar as encarnações”.(5) Cabe aqui uma explicação do por

(4)

A Vida Dentro da Vida.

(5) Idem.

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quê desse procedimento. Na formação dos planetas primeiro forma-se o mundo espiritual e depois a massa material do globo. Pronto o mundo físico, faltam, no entanto, corpos materiais para que os espíritos que formam a população extra-física possam iniciar suas romagens no mundo material. É nesse momento que a colaboração dos habitantes de outros planetas se faz necessária, oferecendo aos espíritos do orbe iniciante corpos físicos para que através do nascimento te-nham suas primeiras vivências no mundo material. Esse início não seria possível sem a participação de outros mundos habi-tados pelo homem filho do mesmo CRIADOR.

Importante observar que “as onze raças que iniciaram o povoamento da Terra foram distribuídas por diversas áreas geográficas, observando-se a semelhança entre os diversos fatores ambientais do nosso orbe tais como: clima, relevo e vegetação aos de seus ambientes de origem”.(6) Assim se ex-plica a razão de existirem tantas raças em nosso planeta com diferenças tão marcantes entre elas.

Foi no decorrer dessa era que “o nosso planeta sofreu um terrível acidente motivado por explosões solares que romperam a camada atmosférica protetora da Terra”, fato que é observado até os dias atuais e preocupa a comunidade cien-tífica de vários países.(7) Esse rompimento permitiu a pas-sagem de grande quantidade de radiação, o que causou, e con-tinua causando até os nossos dias, danos irreparáveis ao ho-mem que aqui habitava a matéria. O corpo físico sofreu gran-des prejuízos, mas os danos causados ao cérebro humano foram incalculáveis. Todos os registros que formavam a me-mória foram apagados e o homem mergulhou na terrível era

(6)

A Vida Dentro da Vida.

(7) As Possibilidades do Infinito.

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da inconsciência. Não mais sabia sua origem e tampouco seu passado. Todo seu conhecimento foi bloqueado. De todos os registros de sua memória apenas um permaneceu, a lembrança de que o socorro vinha do CÉU – princípio que até hoje nor-teia muitas religiões. Cabe uma explicação para o fato; naquela época os diversos planetas que participaram da colonização da Terra enviavam, de tempos em tempos, equipes para acom-panhar o desenvolvimento dos que aqui permaneceram. As naves que visitavam a Terra seguiam por rotas especiais de navegação espacial e quando aqui chegavam desciam do alto, ou seja, do céu. Assim ficou o registro, lembrando ao homem que o auxílio vinha “DO ALTO”. Com o passar do tempo passou-se a acreditar que esse “DO ALTO” ou “DO CÉU” se referia a Deus.

Com o acidente ocorrido as naves ficaram impedidas de vir até nosso planeta porque as “rotas especiais” de navegação espacial que as conduziam até a Terra tinham sido bloqueadas pelas explosões solares. Muito tempo transcorreu até que pu-dessem voltar ao nosso planeta. Quando aqui finalmente as equipes retornaram encontraram o homem em estado deplo-rável: havia se tornado inconsciente e não mais se lembrava do passado e de sua origem. Em razão disso, as pessoas que compunham essas equipes foram adoradas como deuses. Por mais que tentassem explicar o que tinha ocorrido, só conse-guiram despertar a fúria daqueles que queriam adorá-las. A consequência imediata desse comportamento foi a suspensão necessária e por longo período, do envio de novas equipes à Terra.(8)

(8) As Possibilidades do Infinito.

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QUESTÕES E RESPOSTAS

Ao final de cada capítulo foi adicionada uma série de questões

relativas ao tema ali desenvolvido. Essas perguntas foram extra-

ídas do Livro dos Espíritos e as respostas originais foram assina-

ladas com “LE” (Livro dos Espíritos), seguidas de “comentários”

do autor, onde se procura mostrar, muitas vezes uma aborda-

gem nova, utilizando uma linguagem atualizada e mais consen-

tânea com o entendimento do homem de nossos dias. Essas

respostas estão calcadas no aprendizado espírita nos mundos

físico e espiritual, nos ensinamentos que norteiam a Técnica

Física para a Conquista da Autoconsciência, bem como no con-

teúdo das obras relacionadas, no início, na Nota do Autor.

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Questões relativas ao tema

1. Quando a Terra começou a ser povoada?

LE: No começo tudo era o caos; os elementos estavam fundidos. Pouco a pouco apareceram os seres vivos.

Comentário: A nossa Terra foi povoada por seres hu-manos de outros planetas. Assim que aqui chegaram encon-traram o mundo espiritual já formado, mas não havia vida humana na matéria. Iniciaram então a produção de corpos físicos para que pudessem dar início às encarnações dos espí-ritos próprios do Planeta.(9)

2. De onde vieram os seres vivos para a Terra?

LE: A Terra continha os germes em estado latente. No momento certo os seres de cada espécie se reuniram e multi-plicaram.

Comentário: Boa parte dos seres vivos foi trazida de di-versos planetas e colocada sobre a Terra para se multiplica-rem. O próprio homem, vindo de fora, aqui deu início ao povoamento de nosso orbe.

3. A espécie humana se achava entre os elementos orgânicos do globo terrestre?

LE: Sim e veio a seu tempo. Comentário: A espécie humana (matéria) não se achava

entre os elementos do globo e teve sua origem fora da Terra.

(9) A Vida Dentro da Vida.

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4. Se o germe da espécie humana se encontrava entre os elementos do globo, por que os homens não mais se formam espontaneamente, como em sua origem?

LE: Os homens absorveram em si mesmos os elemen-tos necessários à sua formação, para transmiti-los segundo a lei da reprodução.

Comentário: Como já afirmamos anteriormente o ger-me da matéria humana não se encontrava entre os elementos formadores da Terra, mas foi iniciada aqui a formação dessa matéria, por seres humanos provenientes de outros planetas.

5. De onde vêm as diferenças físicas e morais que distinguem as vari-edades de raças humanas na Terra?

LE: Do clima, da vida e dos hábitos. Comentário: As diferenças raciais hoje existentes entre

os povos que habitam a Terra tiveram origem no fato de ela ter sido povoada, no início, por onze raças provenientes de onze planetas diferentes. Essas raças foram as formadoras das características físicas atuais do nosso ser humano.

6. O homem apareceu em muitos pontos do globo?

LE: Sim, e em diversas épocas, e é essa uma das causas da diversidade de raças.

Comentário: As onze raças que deram origem à popula-ção da Terra vieram de planetas que guardavam semelhanças ambientais com certas regiões do globo terrestre. Obedecen-do a essas semelhanças com seus planetas de origem as raças foram distribuídas sobre a superfície da Terra. Dessa forma, a raça negra, por exemplo, situou-se basicamente na região que

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guardava semelhança com o seu planeta de origem, a raça branca da mesma forma e assim por diante.

7. Essas diferenças representam espécies distintas?

LE: Não. Todos pertencem à mesma família. Comentário: Representavam raças distintas provenien-tes de planetas distintos, com características próprias. Esse fato, no entanto não pode nos conduzir à ideia de que a ocu-pação se deu de forma isolada. Tudo foi realizado dentro de um plano maior onde o trabalho foi a tônica. Esse trabalho de povoamento da Terra era muito importante para dar suporte às viagens interplanetárias empreendidas pelos habitantes desses planetas.

8. A alma dos animais conserva, após a morte, sua individualidade e a consciência de si mesma?

LE: Sua individualidade, sim, mas não a consciência de si mesma. A vida inteligente permanece em estado latente. Comentário: Os animais foram criados perfeitos para suas finalidades, mas suas vidas se iniciam com o nascimento e se encerram com a cessação da vida orgânica. A energia que sustenta a organização material se dissipa com a cessação da vida. Após a morte nada restará de um animal em particular porque a própria energia que se dissipa é assimilada por ou-tros animais ou pela própria matéria do Ser Humano.

9. Pois se os animais têm uma inteligência que lhes dá certa liberda-de de ação, há neles um princípio independente da matéria?

LE: Sim, e que sobrevive ao corpo.

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Comentário: O animal possui apenas o chamado ins-tinto de sobrevivência e aptidão para aprender. Cessada a atividade física também cessa a vida.

10. Os animais progridem como o homem, por sua própria vontade, ou pela força das coisas?

LE: Pela força das coisas; e é por isso que, para eles, não existe expiação. Comentário: Os animais foram criados perfeitos para as finalidades a que se destinam. Não há portanto progresso e mesmo que houvesse seria perdido logo que o animal perdes-se a vida. Isto dentro do princípio de que a existência do ani-mal se inicia com o nascimento e se encerra definitivamente com a morte física.

11. Ficou dito que a alma do homem, em sua origem, assemelha-se ao estado de infância da vida corpórea, que a sua inteligência apenas desponta, e que ela se ensaia para a vida. Onde cumpre o espírito essa primeira fase?

LE: Numa série de existências que precedem o período que chamais humanidade. Comentário: O criador criou o Ser Humano perfeito, distinguiu a uns com o “registro de matéria”, que seguem o caminho da encarnação; e outros, sem esse registro, que os distancia do uso da matéria.(10) Não fomos criados animais para chegarmos a Ser Humano. Quando o Criador quis criar o animal Ele o criou, quando quis criar o Ser Humano Ele as-sim o fez.

(10) A Vida Dentro da Vida.

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12. Parece, assim, que a alma teria sido o princípio inteligente dos se-res inferiores da criação?

LE: Não dissemos que tudo se encadeia na natureza e tende à unidade? É nesses seres, que estais longe de conhecer inteiramente, que o princípio inteligente se elabora, se indivi-dualiza pouco a pouco, e se ensaia para a vida, como disse-mos... Comentário: A obra do Criador tem uma lógica supre-ma, mas não se encadeia da forma que muitas vezes ousamos pensar. Desse modo, o Ser Humano não é um produto da evolução dos reinos animal, vegetal e mineral, mas ao contrá-rio ele é o guardião desses reinos, como participante da gran-de administração universal.

13. Esse período da humanidade começa sobre a nossa Terra?

LE: A Terra não é o ponto de partida da primeira en-carnação humana. O período de humanidade começa em ge-ral, nos mundos inferiores. Essa entretanto, não é uma regra absoluta, e poderia acontecer que um espírito, desde o início humano, esteja apto a viver na Terra. Esse caso não é fre-quente, e seria antes uma exceção. Comentário: Entendemos que dentro da obra do Cria-dor não existem mundos com os atributos de superiores ou inferiores, existe isto sim, mundos em formação, mundos não habitados e mundos habitados pelo Ser Humano. Quanto ao fato de um espírito habitar determinado planeta isto é antes uma escolha voluntária e não um prêmio ou uma imposição. Esse é o nosso caso em relação à Terra porque todos que hoje a habitam foram voluntários e assumiram o planeta como sua morada.

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14. O espírito tendo entrado no período da humanidade, conserva os traços do que havia sido precedentemente, ou seja, do estado em que se encontrava no período que se poderia chamar anti-humano?

LE: Isso depende da distância que separa os dois perío-dos e do progresso realizado. Durante algumas gerações ele pode conservar um reflexo mais ou menos pronunciado do estado primitivo, porque nada na natureza se faz por transição brusca... Comentário: Fomos criados como seres humanos e assim permaneceremos. Nesse caso houve certa confusão entre o Ser Humano e a matéria da qual esse se utiliza, pois o espírito (Ser Humano) não passa por gerações, já que essa é uma característica da matéria humana.

15. Do ponto de vista puramente físico, os corpos da raça atual são uma criação especial, ou procedem dos corpos primitivos, por via da reprodução?

LE: A origem das raças se perde na noite dos tempos, mas, como todas pertencem à grande família humana, qual-quer que seja o tronco primitivo de cada uma, puderam mes-clar-se e produzir novos tipos. Comentário: Das onze raças provenientes de onze pla-netas distintos que iniciaram a reprodução de corpos físicos aqui na Terra, tiveram origem, através dos tempos, os nossos corpos atuais.

16. Nos mundos onde a organização é mais apurada, os seres vivos têm necessidade de alimentação?

LE: Sim, mas os seus alimentos estão em relação com a sua natureza. Esse alimento não seria tão substancial para os

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vossos estômagos grosseiros; da mesma maneira, eles não poderiam digerir os vossos. Comentário: A matéria (corpos físicos) que usamos na Terra é a mesma matéria usada em outros planetas, excetuan-do-se apenas alguns atributos próprios de cada povo. Por outro lado, devemos lembrar que os corpos físicos dos habi-tantes de outros planetas não têm os graves defeitos que têm os nossos, defeitos esses originados pelo grande acidente pla-netário aqui ocorrido há vários milênios.(11)

No tocante à alimentação as pessoas de outros planetas se utilizam, praticamente, de todos os nossos alimentos bási-cos. Não poderia ser de outra forma, pois os nossos alimentos foram trazidos por eles dos seus planetas de origem, quando aqui chegaram e iniciaram o processo de reprodução da maté-ria humana. “O SER HUMANO É PERFEITO E O CRIADOR NÃO VÊ DEFEITO EM SUA OBRA”.(12)

(11) As Possibilidades do Infinito.

(12) Idem.

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CAPÍTULO 2

O surgimento do espiritismo

Após o acidente mencionado a roda do tempo girou in-

cansavelmente, formando a corrente dos séculos até alcançar o momento em que o homem teria que iniciar o aprendizado novamente, já que ele tinha se tornado inconsciente devido a um acidente planetário espontâneo e incontrolável. Passou, a partir daí, a utilizar uma matéria defeituosa. Seguiu através dos séculos a produzir matéria da mesma forma prejudicada. Em outras palavras, todos os corpos de crianças que nasceram a partir desse acidente herdaram esse defeito físico. Assim, a matéria no seu automatismo não corrige seus próprios defei-tos, pois esse trabalho só pode ser realizado pelo espírito imortal. Esse bloqueio das matérias recém-nascidas não per-mitia que os espíritos reencarnantes permanecessem com seus conhecimentos e lembranças de quando não tinham matéria. Portanto, a cada nova reencarnação ou troca de matéria, o homem tinha (e tem) de reaprender tudo novamente.

Convém nesse ponto abrir um parêntese para esclarecer uma questão que incomoda o ser humano: é a razão por que ele não se lembra dos fatos e acontecimentos de outras vidas. A resposta é simplesmente uma: porque ele utiliza uma maté-ria com bloqueios, centralizados principalmente na região cerebral, que não lhe permitem manter o conhecimento ante-riormente adquirido.(13) Não se trata, portanto, de um “casti-go”, e tampouco do benefício do esquecimento, pois melhor

(13)

As Possibilidades do Infinito.

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seria que se lembrasse de tudo, inclusive dos fatos desagradá-veis, pois desta forma, seria mais fácil evitar a sua repetição.

Mas outras questões de foro íntimo afligiam ao homem, principalmente aquelas que diziam respeito à sua origem e ao seu destino futuro. No decorrer do tempo várias organizações ocultas, esotéricas e religiosas criadas procuraram fornecer resposta para esse tipo de indagação. A partir daí iniciou-se um processo de programação do ser humano, que no seu estado de inconsciência não teve o discernimento necessário para saber se as respostas oferecidas atendiam às perguntas formuladas. Muitos dos ensinamentos ministrados pelas orga-nizações criavam, e ainda criam certos clichês mentais, dando origem a novos registros que uma vez gravados na memória aí permanecem além da vida física. Muitos desses novos regis-tros em nada contribuíam para o despertar do homem, ao contrário levava-o a identificar-se cada vez mais com a pró-pria matéria, que em resumo é apenas uma parte dele e não totalmente ele. Essa identidade com a matéria é a responsável pela maior parte do sofrimento que o aflige. Com essa identi-ficação, o corpo físico passou da condição de “parte” para ser o “todo”. Deixou de ser instrumento para ser comando.

OS ANIMAIS FORAM CRIADOS PERFEITOS

PARA AS FINALIDADES A QUE SE DESTINAM. NÃO EVOLUEM, MAS SUAS CARACTERÍSTICAS SÃO SUS-CEPTÍVEIS DE SEREM ALTERADAS PELO SER HU-MANO.

O homem quando era consciente tinha uma ponte que

o ligava diretamente ao mundo espiritual. Essa ponte foi des-truída com o acidente e nos tempos que se seguiram foi cria-da, em seu lugar, uma muralha de inverdades que o aprisionou

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mais e mais à matéria.(14) Tanto que nos dias de hoje é clara essa simbiose doentia do homem e a sua matéria, não admi-tindo aquele que esta não seja ele, mas apenas parte dele. O Ser Humano assim “orientado”, mesmo após a morte física, passou a se comportar de acordo com os ensinamentos rece-bidos. Muitas dessas organizações ensinavam, e ainda ensinam que a vida espiritual e a reencarnação não existiam e que a volta à matéria se daria através do próprio corpo que um dia se ergueria do sepulcro e voltaria à vida. O homem assim programado se recusava a despertar, após a morte física, para sua nova condição de vida, não tomando conhecimento que o seu estado de “ser vivo” continuava, apenas tinha mudado da dimensão física para a dimensão espiritual, onde seus atos eram também reais e concretos, porém pertencentes a uma outra frequência vibratória.

Convém notar nesse ponto que muitos ensinamentos e acontecimentos prejudiciais “registrados” na matéria só po-dem ser entendidos e desfeitos na própria matéria. Por aí se vê que o caminho natural para se desfazer esses registros é a reencarnação. Não se trata aqui da ação da lei de causa e efei-to, mas de criar as mesmas condições de quando o registro foi efetivado para que então se dê o entendimento. É importante notar nessa explicação a mudança de linguagem, estamos des-caracterizando a dívida e o resgate e mostrando a repetição da experiência na matéria para buscar o ENTENDIMENTO. A isso podemos chamar de AQUISIÇÃO DE CONSCIÊN-CIA.

Assim, observando o comportamento do homem antes e após a morte física, líderes do mundo espiritual julgaram por bem elaborar um plano que viesse ao mesmo tempo confor-

(14)

A Vida Dentro da Vida.

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tar, orientar e conscientizar os seres humanos pertencentes ao planeta Terra. Desse modo, foi criado o espiritismo, que CONFORTA porque dá a certeza de que a vida continua e que a morte do corpo físico é apenas e tão somente um acon-tecimento da vida na matéria; ORIENTA porque traz ensi-namentos essenciais para o entendimento da vida nos mundos material e espiritual; CONSCIENTIZA porque constrói no-vamente a ponte que liga o homem ao mundo espiritual, le-vando-o a reconhecer-se imortal e entender que “a matéria é apenas parte dele e não totalmente ele”, e que já viveu antes e viverá depois.(15)

O homem que passara a viver com os fatos e lembran-ças da vida material, começou a presenciar e a conhecer os fenômenos que demonstravam uma outra realidade que esta-va por trás do mundo visível, realidade essa que mesmo invi-sível mostrava-se rica em detalhes reveladores capazes de de-safiar os céticos mais renitentes e as inteligências mais avan-çadas. Dessa forma, em um processo ininterrupto o espiritis-mo foi se expandindo por cidades e países, buscando realizar o despertamento do homem. A partir daí o Ser Humano en-carnado passou a contar com a referência do mundo espiritual para se posicionar frente à vida.

Com a propagação do espiritismo o homem tomou contato com um mundo novo, pleno de realidades novas, cheio de fenômenos incontestáveis, mas ao mesmo tempo inexplicáveis pelo conhecimento científico.

Surgiu a medicina espiritual com as curas e cirurgias que cumprem dois objetivos a um só tempo: em primeiro plano atestar a existência do mundo espiritual e a sua interligação com o mundo material; e em segundo lugar trazer benefícios

(15)

As Possibilidades do Infinito.

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ao homem quando enfermo. Outras formas de intercâmbio com a finalidade de conscientizar são utilizadas, a exemplo da psicografia, a psicofonia, materializações, dentre outras, que muito contribuem para melhorar o entendimento humano.

Importante observar, neste ponto, que o espiritismo surgiu primeiro pelos fatos e depois pela doutrina, consoli-dando-se tanto pelo valor dos ensinamentos, como também pelo caráter lógico e científico de seus pressupostos.

Convém observar que dentro do espiritismo tudo que não passar pelo crivo da razão deve ser deixado de lado, mos-trando assim que todo fato ou ensinamento deve primeiro ser entendido e depois aceito em nosso mundo interno.

A diferença maior entre o espiritismo e outros grupos religiosos é o caminho seguido. Enquanto muitas organiza-ções buscam “O caminho da fé”, ele percorre “O caminho da razão”, levando ao homem primeiro o entendimento e depois a crença. Dessa forma, a crença proveniente do entendimento se transforma na luz do saber, enquanto a crença filha da fé permanece apenas como crença.

No espiritismo também deve haver a fé, mas a fé racio-cinada, aquela que passa obrigatoriamente pela trilha da razão, pois não sendo assim não é uma “fé espírita”, mas simples-mente fé. O homem que entende realmente sabe, ao passo que o homem que tem fé simplesmente acredita.

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Questões relativas ao tema

1. Por que o espírito encarnado perde a lembrança do seu passado?

LE: O homem nem pode nem deve tudo saber; Deus assim o quer, na sua sabedoria. Sem o véu que lhe encobre certas coisas, o homem ficaria ofuscado, como aquele que passa sem transição da obscuridade para a luz. Pelo esqueci-mento do passado ele é mais ele mesmo.

Comentário: O homem deve saber tudo para melhor si-tuar-se no grande concerto da criação. Entendemos que o Criador na sua suprema sabedoria deve querer sempre o má-ximo e o melhor para seus filhos. Se o homem não se lembra de seu passado, de sua origem e porque ocupa um corpo físi-co com defeito aqui na Terra, isso tem por causa um acidente e não por que o Criador assim determinou. Comentamos an-teriormente esse acidente planetário que causou grande dano à organização física da população terrestre. Portanto, não devemos confundir a escuridão da inconsciência acidental com defeitos da obra divina do Criador. Não se trata assim de uma inferioridade do espírito encarnado, mas sim de um de-feito temporário do corpo físico.

2. Como pode o homem ser responsável por atos e resgatar faltas dos quais não ser recorda? Como pode aproveitar-se da experiência adquirida em existências que caíram no esquecimento? Seria con-cebível que as tribulações da vida fossem para ele uma lição, se pudesse lembrar-se daquilo que as atraiu, mas desde que não se recorda, cada existência é para ele como se fosse a primeira, e é as-sim que ele está sempre a recomeçar. Como conciliar isto com a Justiça de Deus?

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LE: A cada nova existência, o homem tem mais inteli-gência e pode melhor distinguir o bem e o mal. Onde estaria o seu mérito, se ele se recordasse de todo o passado? Quando o espírito entra em sua vida primitiva (a vida espírita), toda a sua vida passada se desenrola diante dele: vê as faltas que co-meteu e que são caudas do seu sofrimento... Comentário: Nesse caso em particular entendemos que a pergunta devesse ser a resposta, pois ali está em essência, a verdade. Reafirmamos que se o homem não se lembra de seu passado de nada adianta atribuir-lhe castigos cujo efeito pode ser a revolta por se sentir injustiçado, já que ele de nada se recorda. Dessa forma, aos fatos relacionados à própria vida material estão sendo atribuídas causas situadas em outras exis-tências passadas. Comparamos a questão ao caso de um ho-mem ao qual fosse atribuída uma tarefa a cumprir. Teria que percorrer um longo caminho cheio de acidentes, tais como montanhas, vales, rios e planícies. Cruzaria no caminho com outros tantos homens e deveria guardar-lhes as feições, seus trajes e todos os seus atributos físicos. No retorno de sua jornada deveria esse homem relatar tudo o que viu, apesar de ter feito o trajeto de olhos totalmente vendados.

3. Podemos ter algumas revelações sobre as nossas existências anteri-ores?

LE: Nem sempre. Muitos sabem, entretanto, o que fo-ram e o que fizeram; e se lhes fossem permitido dizê-lo aber-tamente, fariam singulares revelações sobre o passado. Comentário: Saber sobre nossas vidas anteriores signifi-ca saber “quem somos”. Em outras palavras significa ter aces-so a nós mesmos tanto nos aspectos da vida atual, como tam-bém sobre os detalhes a respeito do que nós fomos em outras

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vidas. Isto se consegue trabalhando a nossa condição cerebral e o nosso nível energético geral.

4. Nas existências corpóreas de natureza mais elevada que a nossa, a lembrança das existências anteriores é mais precisa?

LE: Sim, à medida que o corpo é menos material, re-corda-se melhor. A lembrança do passado é mais clara para aqueles que habitam os mundos de uma ordem superior; Comentário: Nos mundos onde as pessoas usam corpos físicos perfeitos, sem os bloqueios atuais de nossas matérias, a lembrança das nossas vidas anteriores é fato comum. Nesses mundos as pessoas em verdade não morrem como nós en-tendemos aqui, mas trocam de corpos, após se utilizarem de-les por muitos e muitos séculos. Isso se dá não porque o mundo é superior, mas porque não passou por um acidente das proporções do que nós passamos. Se acaso passassem por um acidente incontrolável como o ocorrido aqui, também poderiam se tornar inconscientes e não mais se lembrarem de suas vidas passadas. Dentro do que aprendemos a morte de nossos corpos físicos por esgotamento de sua vitalidade é, antes de tudo, uma doença curável e não uma fatalidade.

5. Por que não nos recordamos sempre dos sonhos? LE: Nisso que chamas sono não há mais do que o re-pouso do corpo, porque o espírito está sempre em movimen-to. No sonho, ele recobra um pouco de sua liberdade e se comunica com os que lhe são caros seja neste ou em outros mundos. Comentário: Não nos lembramos com nitidez de todos os nossos chamados “sonhos” porque temos nosso “cérebro

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seriamente prejudicado, com poucos impulsos energéticos, baixa frequência e pequena vibração”.(16) Durante a noite quando nos deslocamos de nossos corpos físicos temos con-tatos com outras pessoas encarnadas ou não; recebemos in-formações e presenciamos muitos acontecimentos. Quando retornamos aos nossos corpos a baixa vibração cerebral apaga todas as nossas lembranças. Isso às vezes não ocorre e conse-guimos lembrar muito do acontecido. Esse fenômeno só é possível devido a certos picos de energia no cérebro que per-mitem o registro, no corpo físico, dos fatos ocorridos com a pessoa na dimensão extrafísica. NÃO NOS LEMBRAMOS DE NOSSAS VIDAS PASSADAS PORQUE ESTAMOS UTILIZANDO UM “CORPO FÍSICO COM GRAVES DEFEITOS NA RE-GIÃO CEREBRAL, QUE POR UM ACIDENTE PLANE-TÁRIO, PASSOU A FUNCIONAR COM POUCOS IM-PULSOS, BAIXA FREQUÊNCIA E PEQUENA VIBRA-ÇÃO”.(17)

(16)

As Possibilidades do Infinito.

(17) Idem.

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CAPÍTULO 3

O espiritismo no tempo

Devemos entender o espiritismo como um plano elabo-

rado, visando o entendimento do homem e por consequência trazer a sua autoconsciência. Não é objetivo do movimento espírita manter o Ser Humano na ignorância, mas habilitá-lo a tomar as rédeas de seu destino nas mãos e tornar-se senhor de seus próprios passos. Isso ocorrendo, permite-lhe percorrer o caminho de sua preferência, ditado apenas por sua vontade soberana e não o caminho escolhido por outros. Todos nós temos nossos objetivos pelos quais lutamos sempre; se outros determinam nossos caminhos com certeza não trilharemos os nossos, mas os deles.

É importante notar que o espiritismo possui uma estru-tura espiritual de orientação e apoio, assim como todos os grupos religiosos e espiritualistas possuem o seu grupo espiri-tual de onde emanam as orientações. Não importa se esse grupo, que está na matéria, acredita ou não na existência do espírito, sempre haverá o apoio do lado espiritual.

O espiritismo, por se tratar de uma doutrina calcada em bases científicas e ter por fundamento o despertar do homem para a realidade do mundo espiritual, sempre foi combatido pela maioria das religiões. Nesse combate ao espiritismo sem-pre foram usadas todas as armas, mesmo aquelas que ferem pela inverdade, com o fim específico de causar dano. A nossa reação a respeito deve ser sempre a de estender o manto de nossa compreensão sobre esses acontecimentos, mesmo por

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que, conforme já dissemos, as religiões têm seus ensinamen-tos e seus pressupostos, como se fossem frequências próprias, que só podem ser entendidos pelas pessoas que possuem fre-quências cerebrais semelhantes. Assim, quando existe essa compatibilidade de frequência há o entendimento, ocorrendo então a aceitação. Dessa forma, a frequência do espiritismo torna difícil o entendimento de seus ensinamentos por outros grupos religiosos, pois eles se situam em frequências muito diferentes.

Cabe frisar mais uma vez que o espiritismo tem por ob-jetivo o despertar do homem e esse despertar só interessa a ele próprio, vez que em boa verdade a ignorância do Ser Hu-mano encarnado é fonte de poder para muitos.

Convém lembrar, nesse momento, a reação do homem frente aos fenômenos desconhecidos. Reação às vezes insana quando tem por suporte apenas a fé e não a razão. Foi assim que muitos fenômenos espíritas foram tratados como “coisa do Diabo”, e as pessoas neles envolvidas simplesmente elimi-nadas, tudo em nome de Deus “infinitamente bom e justo”. Isso mostra de maneira insofismável que a inconsciência do homem era tamanha que sua razão tornara-se falha e lamen-tavelmente pobre. O espiritismo tinha que iniciar o seu traba-lho junto à humanidade e para que isso se desse nada melhor que a ocorrência do fato incontestável para que o homem despertasse para a existência do mundo espiritual. Assim fo-ram surgindo os fenômenos espirituais nos mais diversos lu-gares como forma de chamar a atenção para o desconhecido, mas que em síntese faz parte de todos nós. De início os acon-tecimentos foram negados e tentadas todas as formas para justificá-los ou mesmo classificá-los como fenômenos ligados ao próprio mundo físico. Tudo em vão. As evidências eram tão claras e inusitadas que negar os fatos era impossível. Mes-

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mo sobre rigoroso controle científico os fatos ocorriam de maneira perfeita. Com o tempo foi surgindo a literatura espíri-ta com a linguagem e conceitos muito ao nível do entendi-mento do homem da época. Foi observada nesse momento a capacidade de compreender que o Ser Humano possuía. Essa capacidade de entender é o ponto fundamental no tocante às religiões. É de todo providencial e oportuno que afirmemos a importância de cada religião, mas elas só existem devido ao estado de inconsciência do homem. A capacidade de entender é dada pela condição da matéria, principalmente a energia cerebral. Como mencionamos anteriormente, os impulsos cerebrais formam a frequência e esta a vibração cerebral que vai delinear um campo maior ou menor de entendimento de acordo com a sua intensidade. Daí a afirmação de que as reli-giões reúnem os homens por faixa vibratória, ou seja, na exata capacidade de entender.

Quando se iniciou a mensagem espírita houve a preo-cupação em dosar a essência, para que houvesse a absorção necessária, e utilizar uma forma de linguagem que se adequas-se à capacidade de compreensão que possuía a humanidade naquele momento. Mas o espiritismo não é obra pronta e aca-bada, e por isso precisa redimensionar a essência e atualizar a forma, para que muitos ensinamentos possam ser levados ao homem de maneira mais objetiva e racional. Isto sempre den-tro do pressuposto de que a capacidade de entender do ho-mem de hoje é muito maior do que a de antes. Dentro do movimento espírita ainda existe muito misticismo que precisa ser expurgado para que a doutrina possa ser clara e inteligível para todos. É neste ponto que os espíritos mais insistem, pois pretendem eles trabalhar junto aos encarnados de maneira natural, sem rituais e encenações desnecessários, usando, in-clusive, seus próprios nomes. No tocante à linguagem eles

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informam que está na hora de abandonar certas formas pito-rescas de falar que não são mais necessárias e hoje só atrapa-lham a comunicação entre o mundo físico e o espiritual. É bom lembrar que se essas formas existem até os dias de hoje a responsabilidade é exclusiva do homem encarnado que não soube se desfazer de mecanismos utilizados quando o seu entendimento era ainda muito precário. Tornou-se assim de-pendente dessas formas antigas e já desnecessárias, pois só assim se sente confiante na real presença da pessoa desencar-nada. Desse modo, as pessoas que estão no mundo espiritual querem essas mudanças, pois acreditam que o homem precisa ser conscientizado da realidade da outra vida, e não receber informações veladas que causam maiores interrogações e falta de entendimento. Em resumo, precisa-se adequar o espiritis-mo de ontem ao homem de hoje. É bom ressaltar que quando falamos no espiritismo de ontem não estamos querendo dizer que o GRANDE PLANO elaborado pelo mundo espiritual contenha falhas ou erros. Queremos, sim, afirmar que o ho-mem na sua inconsciência muito acresceu de impureza à “ÁGUA PURA DO CÂNTARO”, direcionando os ensina-mentos de acordo com sua vontade e seu entendimento res-trito.

A respeito dessa necessidade de mudar é bom ressaltar que a maioria das religiões já promoveu profundas reformas tanto de caráter interno como externo, para se adaptar aos novos anseios da humanidade do presente. O homem dos tempos atuais busca com maior intensidade respostas novas para perguntas velhas. Demonstra desse modo que seu interi-or continua insatisfeito com o nível e a qualidade das infor-mações sobre as questões transcendentais da vida. Nesse pon-to o espiritismo precisa relançar-se como um caminho mais aberto e claro para que o homem atinja o seu despertamento

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espiritual. É preciso que as pessoas deixem de ver o espiritis-mo como uma prática espiritual onde predomina o mistério e passem a perceber que esse intercâmbio entre os mundos material e espiritual é uma atividade natural e deve ser visto como um prolongamento de nosso aprendizado na matéria.

O natural para o Ser Humano é tudo aquilo que ele, através da sua estrutura mental, consegue entender. O sobre-natural, ao contrário, foge ao seu entendimento por mais que acione o seu mecanismo de raciocínio. Não entendendo o fato, mas ocorrendo a sensibilização de seu mundo emocional há então a aceitação, a submissão e o devotamento, instalan-do-se aí o domínio da fé.

Mas o espiritismo, como já dissemos, não busca a cren-ça pela fé mas a crença pelo entendimento. A verdadeira li-berdade é aquela que tem como lastro a capacidade de enten-der. É de todo oportuno lembrar aquela sábia inscrição “CONHEÇA A VERDADE E ELA TE LIBERTARÁ”. Isso significa que devemos conhecer e não apenas acreditar, pois quem verdadeiramente conhece entende independente-mente de qualquer ensinamento doutrinário que tenha recebi-do. O homem do terceiro milênio precisa entender que o ver-dadeiro caminho que conduz a todos os pontos desejados, o livro que contém todas as lições necessárias e o mago capaz de realizar todos os seus sonhos se encontram reunidos no seu mundo interno. Para o Ser Humano só existe um segredo: ele próprio. Desvendando esse grande segredo tudo o mais se torna simples e de fácil entendimento.

Devemos, como espíritas, meditar profundamente so-bre tudo que já foi dito, escrito e aprendido sobre a doutrina até o momento, lembrando sempre que a razão, muito mais que nossos sentimentos, deve ter a última palavra. Nesse ba-lanço de tudo que aprendemos não vale acreditar mas enten-

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der. O verdadeiro conhecimento vem do entendimento e não da crença. É dessa análise retrospectiva que surgirão os frutos que o espiritismo precisa. O espiritismo foi criado perfeito por líderes do mundo espiritual, mas para chegar até o ho-mem teve que passar pelo juízo do próprio homem. Nesse momento houve a mistura do joio ao trigo, agregando-se aos princípios muitas práticas e conhecimentos alheios ao espiri-tismo. Essa incorporação de regras e ensinamentos estranhos aos princípios espíritas é extremamente prejudicial às pessoas que buscam o amparo no espiritismo. A exemplo disso po-demos citar casos de pessoas de nosso conhecimento que após ingressarem em certos grupos espíritas se sentiram de tal forma tolhidas por tantos “ensinamentos” cerceadores de sua liberdade individual que culminaram no afastamento delas do espiritismo. Após se afastarem essas pessoas argumentavam que “agora se sentiam mais livres para pensar, escolherem seu modo de vida e os objetivos que queriam alcançar”; desse modo, abandonando o espiritismo voltavam a ter uma vida normal. Dentre esses agregados ao espiritismo podemos citar a chamada “LEI DE CAUSA E EFEITO” ou “CARMA”, que em síntese é uma camisa de força colocada no homem que de forma mansa e passiva se deixa guiar como um cordei-ro, sempre na direção que os outros querem. Repetimos, não foi para isso que o espiritismo foi criado. Não foi para resta-belecer o reinado do lobo sobre o cordeiro, nem do senhor sobre o escravo. Foi criado sim para trazer luz à escuridão de nossa inconsciência, construindo de novo a “ponte luminosa que liga o MUNDO DA MATÉRIA AO MUNDO DO ES-PÍRITO”.(18) É bem verdade que muito tem feito o espiritis-mo em benefício da humanidade, não se nega isso. Pessoas

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A Vida Dentro da Vida.

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abnegadas têm dedicado suas vidas, tanto aqui como no mundo espiritual, a essa nobre causa. Mas por que não aten-der ao chamamento desses dedicados guardiões das leis do CRIADOR? Por que não permitir que o espiritismo leve avante sua obra conforme foi planejado? Por que não corrigir o que está incorreto? Por que não permitir que o espiritismo traga consolo e auxílio a todos que necessitam, mas respeitan-do acima de tudo o direito à liberdade de escolherem seus próprios caminhos, seus modos de vida, suas maneiras de ser, enfim seus próprios destinos? A esse respeito afirmamos: “nenhum homem pode dizer a outro o que deve fazer”. Cada um deve seguir seu caminho guiado apenas pela sua consciên-cia. É verdadeiramente importante observar o paralelo que existe entre a maioria dos grupos religiosos no tocante às idei-as de culpa e pecado, dívida e regate. Pairando sobre tudo isso e completando o esquema de dominação do homem, muitos grupos adotaram ainda a figura do Diabo, Deus do mal, vin-gativo impiedoso com os pecadores. Essa ideia do Diabo foi tão longamente inculcada na mente do Ser Humano que se transformou em um registro perene, aprisionando grande parte da humanidade a essa imagem criada por poucos para ter o domínio de muitos. Nesse ponto o espiritismo precisa mudar o seu enfoque quando tratar do comportamento do homem. Quando se referir à culpa ou dívida deve substituir por EXPERIÊNCIA NO MUNDO FÍSICO, ao mesmo tempo quando tratar do chamado resgate utilizar o termo BUSCA DE ENTENDIMENTO, que é a expressão mais adequada ao processo de conscientização do Ser Humano.

O movimento espírita deve ser varrido e limpo de todo ensinamento ou conceito que subjugue, amedronte ou pressi-one o homem para agir ou pensar de modo determinado, sem que isso seja de sua livre escolha. É bom lembrar mais uma

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vez que o espiritismo foi criado justamente para auxiliar o homem a se livrar desses tipos de ensinamentos errôneos que nada têm a ver com a realidade da vida.

O ESPIRITISMO FOI CRIADO PARA ACORDAR

OS “MORTOS VIVOS” QUE DORMEM O “SONO ETERNO”, CRIADO PELO PRÓPRIO HOMEM IN-CONSCIENTE.(19)

Reputamos de grande importância o espiritismo se de-sincorporar desses conceitos de ontem que não servem para o homem de hoje. Como dissemos alhures ouve um tempo em que o Ser Humano tinha sua matéria tão prejudicada que seu comportamento muito se aproximou do animal bruto. Nesse momento esses conceitos subjugadores e restritivos da liber-dade foram utilizados e até permitidos pelos nossos líderes espirituais, mas porque no final se convertiam em benefícios para o próprio Ser Humano encarnado. Hoje, no entanto, a moeda tem outro valor, o homem outro comportamento, outro nível de consciência. Dessa forma, as figuras da culpa, da dívida e do resgate e similares não contribuem para apro-ximar as pessoas do mundo espiritual, tampouco para aumen-tar o nível de consciência. Por outro lado, impedem e direcio-nam as experiências na matéria, levando os homens a agirem de acordo com a vontade alheia, e não conforme seus pró-prios livre arbítrios. Por aí se vê que esses conceitos não po-dem fazer parte de um conjunto de ensinamentos que preten-dem cooperar na conscientização da humanidade.

Existem no seio do espiritismo outras duas figuras que carecem de uma análise acurada. Referimos à dor e ao sofri-

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A Vida Dentro da Vida.

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mento. Existe um ensinamento que afirma ser a dor e o so-frimento importantes para nossa evolução. Contrariamente entendemos que essa afirmação não resiste ao menor argu-mento, senão vejamos: por que algo que nos maltrata e nos prejudica é importante para o nosso crescimento espiritual? Será que fomos criados para percorrermos tão dolorosos ca-minhos, sem que o nosso livre arbítrio possa alterar o curso dos acontecimentos? Será que temos que sofrer para aprender ou será que temos a capacidade para aprender de forma natu-ral sem sofrermos castigos atrozes?

Temos a convicção de que esse conceito apológico da dor não tem agasalho dentro da lógica. Se porventura sofre-mos não devemos creditar esse fato a uma necessidade de sofrer, mas simplesmente por termos perdido a nossa auto-consciência e consequentemente o domínio da matéria. As-sim, o sofrimento e a dor não fazem parte da programação de nosso aprendizado.

Objetivando clarear melhor o assunto recorramos ao seguinte exemplo: um espírito no momento de reencarnar, ou seja, assumir um corpo material, verifica que esse corpo con-tém um grave defeito congênito; mesmo assim ele acredita que poderá resolver esse contratempo. Ao assumir o corpo, no entanto, constata que nada pode fazer a não ser amargar o seu sofrimento até o fim daquela matéria. Isto porque estando dentro dela, ele não sabe mais resolver os problemas que ela possui devido à escuridão da inconsciência. Como já foi cita-do anteriormente o corpo físico utilizado atualmente pelo homem da Terra não oferece condições para que o Ser Hu-mano, ao encarnar, faça uso de seus conhecimentos adquiri-dos ao longo de suas vidas pretéritas.

Dessa forma, ao assumir uma nova matéria o conheci-mento anteriormente adquirido é isolado e não é utilizado de

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forma consciente devido ao bloqueio energético do cérebro humano.

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CAPÍTULO 4

Reencarnação

Um dos pressupostos básicos do espiritismo é a reen-

carnação. Aprendemos que o homem reencarna para resgatar suas dívidas pretéritas, aprender e evoluir.

A esse respeito, podemos dizer que a humanidade pode ser dividida em dois grandes grupos. “Um que desde o início recebe o “registro de matéria” e percorre o caminho do cres-cimento, utilizando a encarnação em vidas sucessivas. Esse grupo com “registro de matéria” sempre voltará à vivência no meio físico. O segundo grupo constitui-se daquelas pessoas (espíritos) que foram criadas sem “registro de matéria” e não têm como caminho natural a reencarnação, ou seja, a partici-pação direta da vida na matéria”.(20) Essa parte da humanida-de, não tendo “registro de matéria” permanece sempre no mundo espiritual e constitui os guardiões do conhecimento humano. É a esse grupo que pertencem os ORIXÁS, porta-dores do CONHECIMENTO. Essa classe de Seres Huma-nos, pelo grande conhecimento que possui é habilitada a me-lhor entender as leis emanadas do CRIADOR.

Mas o que nos interessa no momento é o primeiro gru-po, aquele que utiliza um corpo físico para suas experiências no mundo material. A reencarnação, portanto é uma forma de fixar o espírito, que pertence à dimensão espiritual, a um cor-po físico da dimensão material. Por outro lado, não é pelo

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A Vida Dentro da Vida.

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simples fato de ocorrer um nascimento de um corpo físico que houve uma reencarnação. Para que ela se dê é necessário que um espírito assuma essa matéria, mesmo porque em cer-tas condições existem corpos vivos que não foram assumidos por alguém, sendo ainda assim aparentemente pessoas como as demais. A assunção de matéria se dá de forma paulatina, pois quando ocorre o nascimento de um corpo “a ligação do espírito se dá de forma lenta e gradual, de maneira que o pro-cesso só se encerra por volta dos 14 anos”.(21) Nessa idade cronológica da matéria o espírito tem então todas as condi-ções para assumi-la por completo. Dessa forma, somente após essa idade é que a matéria passa a fazer parte efetiva do Ser Humano. Observando a criança quando se aproxima da idade de 14 anos verificam-se grandes mudanças tanto no aspecto físico como principalmente alterações de ordem psi-cológica, sendo evidente assim que antes não havia a total investidura na matéria. A esse respeito cabe a seguinte inter-rogação: por que essas transformações só ocorrem, via de regra, próximo aos 14 anos de idade, por que não aparecem aos cinco, ou aos dez ou mesmo aos 18 anos, por exemplo? A resposta é aquela que colocamos anteriormente: porque a partir dos 14 anos de idade material é que o espírito reencar-nante, assumindo por completo o corpo físico, imprime com maior firmeza e profundidade os seus caracteres particulares, tais como: preferências de toda natureza, comportamento e principalmente os aspectos da personalidade.

Dissemos anteriormente que a reencarnação, além ser UM CAMINHO DE RETORNO À NOSSA CASA, é solu-ção para muitos problemas da pessoa humana. Existem mui-tos acontecimentos perturbadores que permanecem registra-

(21) A Vida Dentro da Vida.

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dos na memória do homem e que somente através da reen-carnação podem ser resolvidos. A solução se dá pelo enten-dimento. Uma vez entendido o porquê da ocorrência daquele fato deixa de haver a perturbação porque a causa foi elimina-da. Voltamos a afirmar que se o fato ocorrido na matéria for de grande relevo, no mundo espiritual torna-se muito difícil o entendimento, porque a ocorrência do fato se deu em outra dimensão, sob as leis que regem a matéria. Desta forma, há que se restabelecerem as mesmas condições de antes, ou seja, de quando o espírito habitava a matéria para se dar o devido esclarecimento e consequentemente o entendimento do fato ocorrido. Essas condições são então restabelecidas com a reencarnação e os acontecimentos traumáticos têm solução pela via do entendimento, ocorrendo assim o aprendizado pela vivência no meio físico.

Existe, por outro lado, outra maneira de resolver ou amenizar muitos traumas adquiridos pelo Ser Humano na vida física. Referimo-nos aos trabalhos espíritas, que utilizan-do médiuns fornecedores de energia física proveniente de seus próprios corpos, permitem aos desencarnados, por meio de um choque energético, despertar e entender sua condição de espírito imortal. Nesses casos traumáticos está incluído o problema do sono após a morte do corpo físico. Muitas pes-soas após perderem seus corpos materiais simplesmente dor-mem e não acordam por si mesmas. Isso em virtude dos ensi-namentos recebidos quando estavam encarnadas. Essas men-sagens são tão engenhosamente ministradas às pessoas que permanecem surtindo seus efeitos deletérios mesmo no mun-do espiritual. “Ao ingressarem na pátria do espírito essas pes-soas inconscientemente seguem a programação recebida no mundo material, como é o caso típico do sono eterno, em que as pessoas desencarnadas permanecem dormindo. Formam

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estranha população de mortos vivos a habitar região própria da dimensão espiritual. Esses mortos vivos, na condição de SONO ETERNO são despertados pelos abnegados trabalha-dores espíritas tanto do mundo material como do espiritual. O espiritismo, como já foi dito anteriormente, teve como razão principal de sua criação servir de instrumento para o despertamento dessas pessoas que mesmo após a perda do corpo material permanecem inconscientes no plano espiritu-al”.(22)

Retomamos neste ponto à discussão do porquê da re-encarnação. Afirmam muitos que reencarnamos para resgatar dívidas passadas. Isso a nosso ver não combina com a racio-nalidade do espiritismo. No caso de haver dívidas passadas a pagar em vidas futuras o indivíduo nunca saberia a quem pa-gar e nem o que pagar, pois o homem está inconsciente há milênios, e como tal ele não se lembra de quem era, nem por que e para que está aqui reencarnado. Na hipótese de estar-mos pagando dívidas isso de nada valeria para o nosso cres-cimento espiritual ou mesmo para nossa conscientização, pois nem mesmo sabemos se estamos pagando alguma dívida. De outra forma, também entendemos que dentro da inconsciên-cia não há devedor nem credor. Já os atos praticados de for-ma consciente, apesar de não gerar dívidas a resgatar, se situ-am dentro do campo da responsabilidade individual de cada um. Julgamos de todo importante esclarecer alguns pontos para que as pessoas possam melhor entender a questão do pecado, do carma e do chamado resgate de dívidas. Primeiro não é só pelo fato da pessoa deixar o corpo físico e ingressar no mundo espiritual que ela passa a entender a grande reali-dade da vida. Tanto é que existem na dimensão espiritual mui-

(22) A Vida Dentro da Vida.

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tos grupos de pessoas que ensinam e defendem a existência do carma, da dívida e do resgate, bem como a necessidade da dor e do sofrimento para a evolução espiritual. Acreditam ainda que esses INSTRUMENTOS foram criados pelo Cria-dor para nos tornar seres evoluídos. Esquecem, no entanto, que esses conceitos foram originados aqui na matéria e vieram todos da mesma fonte: A INCONSCIÊNCIA HUMANA. Assim, ao sermos atingidos pelo acidente planetário e torna-dos inconscientes, tentamos criar explicações para tudo o que nos acontecia. Nessa busca de explicações, os mais inteligen-tes inventaram o véu e o conto. Enquanto o véu esconde da multidão o que lhe é conveniente ver, o conto fornece a ex-plicação julgada, por eles, mais adequada. Assim criou-se, ao longo do tempo, o teatro da vida onde os homens permane-cem imobilizados na inconsciência no decorrer das vidas su-cessivas e não encontram a luz que ilumina o caminho que conduz à autoconsciência, onde o véu é rasgado e o conto calado. A reencarnação, ou seja, o uso de matéria é um cami-nho para o crescimento integral do Ser Humano. Significa que do rebanho total do Criador fomos apontados desde a criação para seguirmos a jornada material, na grande escalada em di-reção ao infinito.

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Questões relativas ao tema

1. Qual a finalidade da encarnação dos espíritos? LE: Deus a impõe com o fim de levá-los à perfeição: para uns é uma expiação; para outros, uma missão. Mas, para chegar à perfeição, eles devem sofrer todas as vicissitudes da existência corpórea: nisto é que está a expiação. Comentário: O homem encarna, ou seja, assume um corpo físico primeiro porque é uma contingência do próprio Ser Humano que foi criado com “registro de matéria”; segun-do porque no mundo físico aprendemos sentindo a matéria, comungando uma união estreita entre as dimensões física e extrafísica; e terceiro porque temos necessidade de um corpo físico e isso independe do conhecimento, sabedoria ou outro atributo que se dê ao Ser Humano. “Ele sempre sentirá neces-sidade da matéria e só estará completo com ela”.(23) Como se vê não encarnamos em um corpo físico para sofrer ou para expiar qualquer culpa. Encarnamos em um corpo físico por-que esse é o caminha natural e desejado por todos nós que temos “registro de matéria”.

2. Os espíritos que, desde o princípio, seguiram o caminho do bem, têm necessidade de encarnação?

LE: Todos são criados simples e ignorantes e se instru-em através das lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem penas e sem traba-lhos e por conseguinte sem mérito.

(23) A Vida Dentro da Vida.

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Comentários: “Os espíritos são criados perfeitos e o Criador não vê defeitos em sua obra”.(24) Crescem em conhe-cimento através de experiências adquiridas, nas suas vidas sucessivas em contato com o mundo físico. Não são penas, expiações, dor e sofrimento o que aumentará o mérito de suas conquistas. Até mesmo para os nossos animais está caindo em desuso a utilização de castigos e maus tratos no processo de amansamento, substituindo-se com grande vantagem a vio-lência da chibata pela força da paciência e do afago. Daí se conclui que o homem que também possui, em essência, a mesma matéria animal também aprende melhor na escola da compreensão, da alegria e do carinho.

3. Que dizer da teoria segundo a qual, na criança, a alma vai se completando a cada período da vida?

LE: O espírito é apenas um, inteiro na criança, como no adulto; são os órgãos os instrumentos de manifestação da alma, que se desenvolvem e se completam;

Comentário: O fato puro e simples do nascimento de um corpo de criança não significa que houve uma encarnação ou reencarnação. É preciso que uma pessoa (espírito) sem um corpo físico assuma esse novo corpo. Isto se dá por meio de um processo gradativo que se inicia com o nascimento e se completa por volta dos quatorze anos de idade.

4. A alma não leva nada deste mundo?

LE: Nada mais que a lembrança e o desejo de ir para um mundo melhor.

(24) As Possibilidades do Infinito.

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Essa lembrança é cheia de doçura ou amargor, segundo o emprego que tenha dado à vida. Quanto mais pura for, mais compreenderá a futilidade daquilo que deixou na Terra. Comentário: A pessoa ao desencarnar e deixar o mundo material leva consigo primeiro o pesar de deixar o corpo físico que lhe era tão caro; segundo leva todas as sensações da maté-ria o que lhe causa uma série de necessidades físicas como se nela ainda estivesse e terceiro incorpora ao arquivo próprio do Ser Humano tudo o que apreendeu em sua experiência na matéria.

5. Todos os espíritos experimentam, no mesmo grau e pelo mesmo tempo, a perturbação da alma e do corpo?

LE: Não, pois isso depende da sua elevação. Aquele que já está depurado se reconhece quase imediatamente, porque se desprendeu da matéria durante a vida corpórea, enquanto o homem carnal, cuja consciência não é pura, conserva por muito mais tempo a impressão da matéria. Comentário: O estado de consciência da pessoa que deixa o corpo em definitivo depende do tipo de morte que deu causa ao desencarne. Certos tipos de doença que causam o esgotamento físico de forma lenta e gradual torna o transe pós-morte menos profundo e de mais curta duração. Ao con-trário, os desencarnes por acidentes ou por outros tipos de morte súbita podem levar a pessoa a um estado de inconsci-ência mais longo e profundo.

6. Como pode a alma, que não atingiu a perfeição durante a vida corpórea, acabar de se depurar?

LE: Submetendo-se à prova de uma nova existência.

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Comentário: Depurar significa “tornar puro, limpar, purificar”. O homem encarna para participar da vida na maté-ria e continuar aprendendo sempre. Para a humanidade que habita o planeta Terra ela reencarna também para buscar a autoconsciência, pois somente ela é capaz de mostrar o cami-nho que leva à perfeição. No sentido moral ninguém encarna para se depurar, pois se isso fosse verdade teríamos que colo-car em dúvida a capacidade criadora do Criador que teria cri-ado uma obra tão imperfeita que necessita de reparos, ou seja, de limpeza e purificação.

7. Qual a finalidade da reencarnação?

LE: Expiação, melhoramento progressivo da humani-dade. Comentário: A reencarnação, ou seja, a vivência no meio físico é inerente a todo Ser Humano que tem “registro de matéria”. No momento da criação o Criador atribuiu a uns o “registro de matéria”, significando que para essas pessoas a eterna caminhada se fará de braços dados com a matéria; para os outros o nascimento na matéria densa não é regra geral, mas a exceção. Isso não por privilégios especiais, mas por não possuírem o “registro de matéria”. A reencarnação assim ocorre por um desígnio da criação e tem por finalidade o nos-so infinito aprendizado através das vidas sucessivas na maté-ria.

8. O número de existências corpóreas é limitado, ou o espírito se re-encarna perpetuamente?

LE: A cada nova existência, o espírito dá um passo na senda do progresso; quando se despojou de todas suas impu-rezas, não precisa mais das provas da vida corpórea.

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Comentário: O número de existências corpóreas do espírito é ilimitado, mas nem uma única é destinada a lavar impurezas, ou seja, para purificar. Se isso fosse verdade, seria tempo perdido, pois teríamos que sempre vir limpar impure-zas, assim como ocorre no banho nosso de cada dia, isso por-que sempre nos envolvemos em experiências na matéria pas-síveis de ser entendidas, erroneamente, como carreadoras de impurezas para nossa organização espiritual.

9. Em que se transforma o espírito depois de sua última encarnação?

LE: Em espírito bem-aventurado; um espírito puro. Comentário: Como já foi dito anteriormente, não existe a última encarnação. Sempre haverá outra.

10. Sobre o que se funda o dogma da reencarnação?

LE: Sobre a justiça de Deus e a revelação, pois não nos cansamos de vos repetir: um bom pai deixa sempre aos seus filhos uma porta aberta ao arrependimento... O homem tem consciência de sua inferioridade... Comentário: Todo aquele que tem sede se utiliza do líquido. Todo aquele que tem “registro de matéria” usa a re-encarnação. O homem não é inferior e afirmar o contrário é não reconhecer a grandeza do próprio Criador. Somos perfei-tos, como tudo que Ele criou, apenas estamos, temporaria-mente, utilizando um corpo físico com graves defeitos.

11. A reencarnação é, portanto, uma necessidade da vida espírita, como a morte é uma necessidade da vida corpórea?

LE: Seguramente, assim é. Comentário: A reencarnação é em verdade uma neces-sidade de todo aquele que tem “registro de matéria”. A morte,

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ao contrário, não é uma necessidade da vida corpórea, mas é antes uma doença, isso dentro do que se chama morte natural. Excetuando, portanto, a morte acidental ou provocada.

12. Nossas existências corpóreas se passam todas na Terra?

LE: Não, mas nos diferentes mundos. As deste globo não são as primeiras nem as últimas, mas as mais materiais e distanciadas da perfeição. Comentário: Antes da criação do mundo físico se dá a formação do mundo espiritual, onde seres humanos aguardam o momento propício para o início das encarnações. Quanto ao estado de perfeição, não são atributos do planeta que o determinam, mas do estado de consciência do Ser Humano que o habita. No tocante ao aspecto de ser mais ou menos material, todo mundo físico assim o é simplesmente, não ca-bendo portanto a graduação de mais ou menos material. NENHUM ESPÍRITO REENCARNA PARA RES-GATAR DÍVIDAS, MAS PORQUE TEM “REGISTRO DE MATÉRIA E SÓ NA MATÉRIA ELE ESTÁ COM-PLETO”.(25)

13. A cada nova existência corpórea a alma passa de um mundo a outro, ou pode ela viver muitas vidas num mesmo globo?

LE: Ela pode viver muitas vezes num mesmo globo, se não estiver bastante adiantada para passar a um mundo supe-rior. Comentário: Os mundos não são superiores uns aos outros, mas apenas diferentes dentro do grande concerto da

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criação. Os homens no entanto podem ter entendimento dife-renciado sobre a vida e tudo que o rodeia, como é o nosso caso e que foi motivado por um acidente.

14. É uma necessidade reviver na Terra?

LE: Não, mas se não progredirdes, podeis ir par outro mundo que não seja melhor, e que pode mesmo ser pior.

Comentário: O Ser Humano só é completo quando en-carnado na matéria. Assim, entendido, temos necessidade da matéria. No caso específico da Terra, para aqui viemos como voluntários e aqui ficaremos até conseguirmos livrar a matéria do globo terrestre de toda anormalidade. Isso também é nossa responsabilidade e como seres eternos pesa sobre todos nós essa obrigação.

15. Há vantagem em voltar a viver na Terra?

LE: Nenhuma vantagem particular, a não ser que se venha em missão, pois então se progride, como em qualquer outro mundo. Comentário: A Terra é o nosso mundo, que abraçamos por vontade própria e com ele temos um pacto de torná-lo perfeito como era antes. Por outro lado, o celeiro físico é o depositário das experiências terrenas e somente nele aden-trando temos a benéfica ousadia de vivenciá-las.

16. Não seria melhor continuar como espírito?

LE: Não, não! Ficar-se-ia estacionário, e o que se quer é avançar para Deus. Comentário: Mesmo como espíritos temos condições e oportunidades de aprender sempre, mas continuamos seden-tos da matéria, pois é nela que se desenrola a nossa grande

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batalha para a aquisição do conhecimento do Criador e da criatura.

17. Os seres que habitam os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos?

LE: Sem dúvida que eles têm corpos, porque é necessá-rio que o espírito se revista de matéria para agir sobre ela; mas esse envoltório é mais ou menos material, segundo o grau de pureza a que chegaram os espíritos, e é isso que determina as diferenças entre os mundos que temos de percorrer... Comentário: “Semelhantes” é bem a palavra, mas não iguais. Muitas pessoas de outros planetas possuem corpos semelhantes aos nossos, mas com certos atributos que o ho-mem que habita a Terra não possui. Além disso, a humanida-de terrestre está atípica com relação a outros seres humanos, pois está utilizando um organismo físico com problemas ex-tremamente graves. Quanto ao aspecto moral de pureza esse conceito não se aplica aos mundos onde o Ser Humano é consciente na matéria, mas prospera entre nós onde o homem confunde inconsciência na matéria com inferioridade espiritu-al, ou seja, confunde a lâmpada que ilumina com a energia que produz a luz. Se a lâmpada está queimada, a energia por mais forte que seja não produz luz.

18. Passando de um mundo para outro, o espírito passa por nova in-fância?

LE: A infância é por toda parte uma transição necessá-ria, mas não é sempre tão estúpida como entre vós. Comentário: Em todos os mundos físicos habitados o processo natural da reencarnação ou troca de matéria é sem-

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pre o mesmo. Com isso não estamos afirmando que o proces-so é rigorosamente o mesmo que se conhece aqui.

19. O estado físico e moral dos seres vivos é perpetuamente o mesmo em cada globo?

LE: Não; os mundos também estão submetidos à lei de progresso. Todos começaram como o vosso, por um estado inferior, e a Terra mesma sofrerá uma transformação seme-lhante, tornando-se um paraíso terrestre, quando os homens se fizerem bons. É assim que as raças que hoje povoam a Terra desaparecerão um dia e serão substituídas por seres mais perfeitos. Essas raças transformadas sucederão a atual, como esta sucedeu a outras que eram mais grosseiras. Comentário: O corpo físico dos seres humanos rece-bem cuidados especiais nos mundos onde predomina a cons-ciência plena. O próprio deperecimento acelerado da matéria já foi equacionado. No tocante à nossa moral ela só existe onde existe o estado de inconsciência. A moral faz parte dos mecanismos desenvolvidos aqui ao longo dos tempos, objeti-vando direcionar o comportamento do homem, limitando o campo de suas ações de modo a satisfazer certas regras de conduta criadas no meio social.

20. Por que a vida se interrompe com frequência na infância?

LE: A duração da vida da criança pode ser, para seu espírito, o complemento de uma vida interrompida antes do termo devido, e sua morte é frequentemente uma prova ou uma expiação para os pais. Comentário: O grande aproveitamento da reencarnação se dá após o período da infância quando o espírito que assu-miu aquele corpo efetivamente se liga a ele. Tal fato se dá por

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volta dos quatorze anos de idade. Assim, podemos afirmar que acontece grande número de mortes na infância devido a pouca resistência da matéria frente aos fatores adversos, como também pelo fato de que o dono da matéria quase não tem condição de prover a sua segurança, pois ELE NÃO ESTÁ NELA, MAS PRÓXIMO DELA.

21. Os espíritos têm sexo?

LE: Não como o entendeis, porque os sexos dependem da constituição orgânica. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na afinidade de sentimentos. Comentário: Os seres humanos são criados com os sexos definidos. O espírito é o molde e o corpo físico é dota-do de todos os elementos que já fazem parte da organização espiritual.

22. O espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher, numa nova existência, e vice-versa?

LE: Sim, pois são os mesmos espíritos que animam os homens e as mulheres. Comentário: Não é regra geral, mas o espírito pode assumir um corpo de sexo diferente do seu. Isso acontece quando o espírito vê a importância do seu trabalho a ser de-senvolvido, acima do atributo sexual. Existem várias caracte-rísticas que são do espírito, como é o caso do sexo.

23. Quando somos espíritos, preferimos encarnar num corpo de ho-mem ou de mulher? LE: Isso pouco importa ao espírito; depende das provas

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que ele tiver de sofrer. Comentário: Preferimos sempre seguir a harmonia da vida, encarnando em um corpo que possamos usar na sua plenitude.

24. Por que é que pais bons e virtuosos têm filhos perversos? Ou seja, por que as boas qualidades dos pais não atraem sempre, por sim-patia, bons espíritos como filhos?

LE: Um mau espírito pode pedir bons pais, na esperan-ça de que os seus conselhos o dirijam por uma senda melhor, e muitas vezes Deus o atende. Comentário: No grande concerto da vida não existe o mau e o perverso, existe isto sim, o desequilíbrio que mancha a realidade.

25. Qual é a origem das faculdades extraordinária dos indivíduos, que, sem estudo prévio, parecem ter a intuição de certos conheci-mentos, como as línguas, cálculos, etec.?

LE: Lembrança do passado; progresso anterior da alma, mas do qual ela mesma não tem consciência. Comentário: As aptidões de certos indivíduos para cer-tas atividades aqui no mundo físico vêm da combinação das matérias do pai e da mãe que lhe propiciam um corpo físico com áreas cerebrais favoráveis à lembrança daqueles conhe-cimentos adquiridos em outras vidas. Não existe gênio em assunto para ele desconhecido.

26. Com a mudança dos corpos, podem perder-se certas faculdades in-telectuais, deixando-se de ter, por exemplo, o gosto pelas artes?

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LE: Sim, desde que se tenha desonrado essa faculdade, empregando-a mal. Comentário: Perder não é o caso, mas esquecer tempo-rariamente. Mas, por outro lado, temos sempre a sensação de que sabemos fazer ou realizar aquela atividade.

27. Como a alma é recebida, na sua volta ao mundo dos espíritos? LE: A do justo, como um irmão bem-amado e longa-mente esperado; a do mau, como um ser que se despreza. Comentário: A pessoa após a perda da matéria é recebi-da na dimensão extrafísica como o viajante que regressa, de-pois de longa viagem, ao seio de seus amigos e familiares.

28. As almas que devem unir-se estão predestinadas a essa união, desde a sua origem, e cada um de nós tem, em alguma parte do universo, a sua metade, à qual algum dia se unirá fatalmente?

LE: Não; não existe união particular e fatal entre duas almas. A união existe entre todos os espíritos, mas em graus diferentes, segundo a ordem que ocupam... Comentário: Trata-se de assunto de extrema complexi-dade, mas pode-se dizer que todos nós desde a criação somos dois em um. Temos a nossa alma gêmea, que é tudo que nós somos, guardando porém polaridade contrária à nossa.

29. Poderia acontecer que uma criança, que deve nascer não encon-trasse espírito que quisesse encarnar-se nela? LE: Deus proveria isso. A criança, quando deve nascer

para viver, tem sempre uma alma predestinada: nada é criado

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sem um desígnio. Comentário: Já dissemos anteriormente que o simples nascimento de um corpo não caracteriza uma reencarnação. Existem mesmo muitos corpos que sobrevivem por muito tempo sem que um espírito esteja nele encarnado. Esse fato não é notado pelas pessoas que convivem com essas matérias que têm apenas vida física. No entanto, quando é gerado o corpo para uma criança e que ainda não foi assumido por alguém, normalmente um voluntário o assume, isso em res-peito à matéria humana.

30. O momento da encarnação é seguido de perturbação semelhante ao que se verifica na desencarnação?

LE: Muito maior, e sobretudo mais longa. Na morte, o espírito sai da escravidão; no nascimento, entra nela. Comentário: À medida que o corpo físico da criança vai atingindo a idade que permite ao espírito assumi-lo, vai ocor-rendo um esquecimento do mundo espiritual e, ao mesmo tempo, uma conscientização da matéria. É como se o espírito “apagasse” no mundo espiritual e “acendesse” no mundo físico.

31. Em que momento a alma se une ao corpo? LE: A união começa na concepção, mas não se comple-ta senão no momento do nascimento. Comentário: A união do espírito à matéria não ocorre com a concepção e tampouco com o nascimento. Essa união só se completa quando o corpo físico atinge os quatorze anos. É justamente nesse período que ocorrem as grandes trans-

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formações de ordem psicológica. Enquanto não se dá essa união o espírito apenas assiste à matéria, ligado energetica-mente a ela. Essa tarefa inclusive pode ser delegada a outro espírito se o dono do corpo físico precisar se afastar tempora-riamente por algum motivo.

32. A união entre o espírito e o corpo é definitiva desde o momento da concepção? Durante esse primeiro período o espírito poderia re-nunciar a tomar o corpo que lhe foi designado?

LE: A união é definitiva, no sentido de que outro espíri-to não poderia substituir o que foi designado para o corpo... Comentário: Como foi dito anteriormente o espírito apenas exerce uma “vigilância” sobre a matéria, enquanto não se completa a sua total formação, o que se dá por volta dos quatorze anos. Nesse intervalo de tempo, se houver necessi-dade, o próprio espírito reencarnante pode ser substituído por outro sem nenhum prejuízo para a matéria.

33. No intervalo da concepção ao nascimento, o espírito goza de todas suas faculdades?

LE: Mais ou menos, segundo a época, porque não está ainda encarnado, mas ligado ao corpo. Comentário: No lapso de tempo que medeia a concep-ção e o nascimento o espírito reencarnante tem total liberda-de, pois é apenas um observador atento ao processo de for-mação de sua futura matéria.

34. Há, como indica a ciência, crianças que desde o ventre da mãe não tem possibilidade de viver? E com que fim isso acontece?

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LE: Isso acontece frequentemente, e Deus o permite como prova, seja para os pais, seja para o espírito destinado a encarnar. Comentário: A natureza de forma inexorável segue seu curso independentemente de nossos desejos. Existem certas anomalias ou doenças hereditárias, já devidamente caracteri-zadas pela nossa ciência médica, que não permitem o prosse-guimento normal do processo de gestação. Esse fato é tam-bém observado no processo reprodutivo dos animais. Não podemos assim creditar esses acontecimentos naturais a um procedimento de apenação de alguém, mesmo porque muitos desses casos quando submetidos a um tratamento criterioso são sanados e a gestação é coroada de êxito.

35. Há crianças natimortas, que não foram destinadas à encarnação de um espírito?

LE: Sim, há as que jamais tiveram um espírito destinado aos seus corpos: Nada devia cumprir-se nelas. É então so-mente pelos pais que essa criança nasce. Comentário: A morte intrauterina ocorre, via de regra, por problemas de ordem material ou mesmo por acidente e não por falta de designação de um espírito para ocupar o cor-po. A bem da verdade, o corpo pode nascer com vida e assim permanecer por muito tempo sem que haja um espírito desig-nado para ocupá-lo.

36. Toda criança que sobrevive tem, portanto, necessariamente, um espírito encarnado em si?

LE: Que seria ela sem o espírito? Não seria um ser hu-mano.

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Comentário: Em todos os casos em que o corpo físico sobrevive sem que haja uma pessoa para assumi-lo, aí não existe o Ser Humano, mas apenas matéria animal.

37. O aborto provocado é um crime, qualquer que seja a época da concepção?

LE: Há sempre crime, no momento em que se transgri-de a lei de Deus. A mãe, ou qualquer outro, cometerá sempre um crime, ao tirar a vida à criança, antes do seu nascimento, porque isso é impedir a alma de passar pelas provas de que o corpo devia ser instrumento. Comentário: O aborto se situa no campo da moral e, em segundo plano, nos campos econômico e político. Sob o manto da moral muitas nações definem o aborto como crime e criam as penas correspondentes ao delito. Enquanto isso outras nações fronteiriças admitem a prática do aborto. Uma observação mais criteriosa vai revelar que as nações com grandes espaços vazios a serem ocupados proíbem o aborto, enquanto que as nações com excesso de população quase sempre o admitem. Presentes esses fatos pergunta-se onde está o certo e o errado? Estaria por acaso na inspiração dos legisladores ou na vontade dos governantes? Acima disso tu-do paira uma verdade: todo o processo de concepção e gesta-ção é ato voluntário e nunca uma obrigação. Em um estado em que a pessoa esteja consciente de seus atos, ninguém deve dizer a ela o que deve ou não deve fazer.

38. Qual o caráter dos indivíduos em que se encarnam os espíritos brejeiros e levianos? LE: São estouvados, espertos, e algumas vezes, seres

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malfazejos. Comentário: Entendemos que tanto as pessoas sem ma-

téria, ou seja, que estão temporariamente no mundo espiritual como também aquelas que estão ocupando um corpo físico não devem ser rotuladas. Ao proceder-se desta forma, sujeita--se a cometer sérios enganos, pois como bem se vê trata-se de um julgamento exterior da pessoa. A análise em profundidade das causas e razões do seu comportamento revelaria uma rea-lidade totalmente diversa do julgamento inicial.

39. É o mesmo espírito que dá ao homem as qualidades morais e as da inteligência?

LE: Seguramente que é o mesmo, e na razão do grau a que tenha chegado. O homem não tem em si dois espíritos. Comentário: as chamadas “qualidades morais” como já dissemos depende tanto das últimas encarnações como da presente vida na matéria. Se, por acaso, viveu em um meio ambiente - espaço e tempo - em que havia costumes baseados em uma moral severa, o espírito ira levar para a vida futura esses princípios como “registros” adquiridos no caminho percorrido. Esses registros não devem ser classificados como bons ou ruins, mas apenas “registros” de experiências vividas. A criança, criada dentro de padrões rígidos de comportamen-to, via de regra irá se pautar, na idade adulta, dentro daqueles padrões gravados em sua memória. Dessa forma, as “qualida-des morais” não são do espírito, mas foram agregadas a ele. O ser humano em estado de consciência desperta não necessita de nossos ensinamentos morais, pois ele tem gravado no âmago do seu ser todo o ideal divino no ato da criação. Quanto à inteligência, que não devemos confundir com conhecimento, ela é atributo de todo espírito, mas para ex-

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pressá-la no mundo material é necessário um veículo físico que forneça condição para isso. O que se observa é que rara-mente encontramos alguém realmente inteligente, mas por outro lado, encontramos muitas pessoas que têm conheci-mento invulgar sobre algum aspecto da vida. Esse fato se deve aos graves problemas que possuem nossos corpos, não permitindo a manifestação plena da inteligência. Mas o espíri-to é sempre inteligente.

40. As faculdades do espírito se exercem com toda a liberdade, após a sua união com o corpo?

LE: O exercício das faculdades depende dos órgãos que lhes servem de instrumento; elas são enfraquecidas pela gros-seria da matéria. Comentário: As pessoas quando estão na matéria usam suas faculdades e exercem suas capacidades de acordo com as possibilidades do corpo físico, que são propiciadas principal-mente pelas áreas do cérebro que estão em funcionamento. Como na maioria dos casos as áreas cerebrais estão quase todas inativas, o uso das potencialidades do espírito fica muito limitado.

41. Qual o objetivo da mudança que se opera no seu caráter a uma certa idade, e particularmente ao sair da adolescência? É o espíri-to que se modifica?

LE: É o espírito que retoma a sua natureza e se mostra qual era. Comentário: As mudanças psicológicas que ocorrem na adolescência se devem ao fato de ser esse o momento em que o espírito reencarnante assume efetivamente o corpo físico.

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Nessa oportunidade ele imprime seus caracteres particulares à matéria.

42. O espírito encarnado permanece voluntariamente no seu envoltório corporal?

LE: É como se perguntasse se o prisioneiro está satis-feito sob as chaves. O espírito encarnado aspira incessante-mente à liberdade, e quanto mais grosseiro é o envoltório, mas ele deseja ver-se desembaraçado. Comentário: O espírito permanece voluntariamente no seu corpo físico porque gosta dele. É ele que lhe permite atuar na matéria. Se observarmos as pessoas cujos corpos estão em péssimo estado de conservação, apresentando exaustão quase total das forças e portanto ainda doenças graves, ainda assim elas lutam ferrenhamente para neles permanecer.

43. Durante o sono, a alma repousa como o corpo? LE: Não, o espírito jamais está inativo. Durante o sono, os liames que o unem ao corpo se afrouxam e o corpo, não mais necessitando do espírito, percorre o espaço e entra em relação mais direta com os outros espíritos. Comentário: boa parte do tempo de repouso da maté-ria, o espírito está fora dela em seus afazeres extrafísicos. Mui-tas vezes, porém, o espírito tem necessidade de repousar na matéria, sentindo-se bem com isso.

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CAPÍTULO 5

O carma ou lei de causa e efeito

Carma deriva do sânscrito Kri, ou seja, fazer. Os povos hindus são os que mais empregam esta palavra, consideran-do-a como vocábulo técnico mais apropriado para designar a ação e o seu efeito correspondente nas encarnações sucessivas do espírito na Terra. Para eles toda ação é carma; qualquer trabalho ou pensamento que produzir efeito posterior é car-ma.

É a lei de causa e efeito, espelhando saldo credor ou devedor na vida do espírito encarnado.

Ainda dentro desse entendimento, a lei de causa e efeito registra as ações boas e más; a lei do carma, por sua vez, ela-bora o balanço dessas ações registradas e dá a cada pessoa o resultado que lhe cabe, seja positivo ou negativo.

No sentido metafísico, a palavra carma diz respeito ao destino traçado e imponderável, que atua tanto nas coisas ani-madas como inanimadas, pois rege e disciplina todos os ci-clos da vida, do finito ao infinito, do átomo ao planeta e do homem ao universo. Assim, é entendido que existe, pela tra-dição esotérica, o carma do homem, o da família, o da nação, o do continente, o da humanidade e outros.

Somente à luz do verdadeiro entendimento pode-se dar a clareza necessária à história do carma. Ela se inicia de forma muito parecida com a de outros princípios religiosos existen-tes na face da Terra.

O fundamento do carma guarda estreita analogia com outros ensinamentos basilares de certas seitas ou grupos reli-

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giosos que, no fundo, procuram manter as pessoas em um comportamento padrão capaz de induzi-las, com facilidade, a proceder como um grande rebanho. Desse modo, agindo conforme é determinado ao grupo a que pertence, o homem é conduzido pelos caminhos que lhe são impostos e nunca por onde está o objetivo de sua vida na matéria. Em outras pala-vras, o livre arbítrio não é respeitado, isso em nome de certas leis que se apregoa emanadas do Criador.

“O carma, em boa verdade, surgiu de uma interpretação errônea do princípio da energia causal. Essa energia faz parte de um conjunto de sete energias responsáveis pela existência de tudo, inclusive pela vida na dimensão física e espiritual. A energia causal, com sua força, faz girar a roda da vida, dando origem à multiplicação constante pela reprodução”.(26) O ho-mem encarnado fez, de acordo com seu entendimento da época, uma adaptação do conceito dessa energia, transfor-mando-a em uma lei que passou a imperar entre os homens. Os líderes espirituais encarregados da orientação de nossa humanidade tudo observaram. Dentro de um objetivo maior foi permitido que aquele entendimento errôneo da energia causal permanecesse porque era útil. Essa lei do carma, criada pelo homem, era útil porque serviu para criar nele um com-portamento mais civilizado. A partir daí, as religiões e seitas passaram a incorporar esse princípio do carma, seja de forma direta ou sutil. O espiritismo, por sua vez, adaptou esse prin-cípio, incorporando-o como a LEI DE CAUSA E EFEITO, tão conhecida de todos nós. A própria figura do pecado guar-da em sua essência a lei do carma, pois conforme ensina a doutrina de algumas religiões, o pecador será julgado e poderá pagar seus pecados nas regiões infernais.

(26)

A Vida Dentro da Vida.

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Há que se destacar nesse ponto, o fato de que o livre arbítrio do homem encarnado é respeitado pelas entidades superiores, no momento de transmitir ensinamentos ou mes-mo permitir que certos entendimentos errôneos permaneçam ao longo do tempo, até o momento em que a consciência do Ser Humano possa assimilar o verdadeiro sentido desses ensi-namentos. Mas o que nos interessa mais de perto, dentro da dou-trina espírita, é a lei de causa e efeito. Ela está presente em toda a literatura espírita, constituindo-se em uma ignóbil apo-logia à dor e ao sofrimento. De início patenteamos nosso entendimento de que a dor e o sofrimento são mazelas huma-nas exclusivamente materiais, e como tais, têm suas origens nessa vida e seus efeitos se encerram aqui na matéria. Dessa forma, o balanço de nossos atos se encerra neta vida e neste corpo físico. Para as vidas futuras não restam quaisquer dívi-das a pagar. Dentro desse entendimento, a afirmação de que o sofrimento é necessário à nossa evolução não resiste a qual-quer argumento lógico. O sofrimento é um produto de doen-ças e deve ser banido da face da Terra. Admitindo-se, para fins de raciocínio, que o sofrimento fosse necessário ao ho-mem, teríamos obrigatoriamente que saber porque sofremos. Caso contrário jamais aprenderíamos a lição e sempre estarí-amos nos julgando injustiçados. A esse respeito é comum ouvirmos afirmações de que os filhos pagam pelos pais. Den-tro de nosso entendimento isso não tem fundamento quando se trata de vidas sucessivas. O que se dá é que no mundo da energia o mais frágil pode receber alquilo que não lhe é ende-reçado. Dessa forma, a criança pode ser atingida por algum sofrimento que era destinado aos pais; isso não caracteriza um castigo de Deus, mas apenas resultado de ações entre os ho-mens no mundo material. Por outro lado, porém, esses acer-

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tos de contas que acontecem entre os homens não ultrapas-sam uma vida para atingir a reencarnação seguinte. Se isso acontecesse, o chamado resgate de vidas passadas seria um fato verdadeiro. Cabe, no momento, a abertura de um parêntese para esclarecer uma questão: existem certos acontecimentos de uma encarnação que só podem ser desfeitos na própria maté-ria. Não se trata aqui de pagar dívidas de outras vidas, mas sim de vivenciar fatos já ocorridos em outras vidas para que a pessoa possa compreendê-los. Os traumas ocorridos em nos-sas vidas passadas são resolvidos à medida que nós entende-mos os fatos que lhes deram origem. É a terapia do verdadei-ro entendimento. A esse respeito, a título de exemplo citamos os casos de crimes hediondos que acontecem ao nosso redor. Nossa primeira reação é condenar o autor do delito, nos es-quecendo que no passado ocorreram bárbaros massacres de pessoas – como nossos índios – que perderam seus corpos em meio a terrível violência, causando-lhes sérios desequilí-brios psicossomáticos. Regressam, agora, à matéria na condi-ção de celerados, porque guardam esses registros deletérios, até o momento em que conseguirem compreender o porquê de seus comportamentos. Poderíamos chamar isso de carma? Não, pois aqui não há dívida a pagar nem resgate a cumprir, mas sim, registros desequilibrantes que precisam ser compre-endidos e eliminados os seus efeitos nocivos. Entendemos que a adoção da lei de causa e efeito, pelo espiritismo, trouxe desvios na verdadeira rota que a doutrina devia seguir. Foi uma pequena parada em certo momento do tempo para in-corporar um conceito já reinante à época no seio da humani-dade.

Mas, como nada se perde, tudo se aproveita, o conceito serviu nos primeiros tempos para obrigar o homem a meditar

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sobre suas ações. A lançar-se no espelho do futuro e reconhe-cer que havia o imperativo de mudar. O presente era o mo-mento de plantar a semente desse futuro. Vê-se, portanto, que em geral o homem melhora sua conduta pessoal não pelo entendimento que brota da luz da consciência desperta, mas simplesmente por temor. O homem tem medo de que suas ações contrárias ao grande concerto da vida possam lhe trazer consequências danosas.

Retomando a nossa argumentação, a doutrina espírita ao fazer essa pausa no tempo permitiu que o homem chegasse à altura de seus postulados, utilizando a escada de seu conhe-cimento e entendimento. Apesar do aparente contrassenso, essa abertura permitiu, ao homem, a aceitação dos pressupos-tos espiritistas. Assim, a lei de causa e efeito se agregou ao espiritismo até o momento em que o homem pudesse dispen-sá-la pelo verdadeiro entendimento dos princípios basilares da doutrina. Importante lembrar também que o espiritismo so-freu influência, como não poderia deixar de ser, da cultura religiosa vigente ao longo de sua existência. Incorporou, in-clusive, certos princípios e rituais de religiões contemporâ-neas.

Com o início da difusão da doutrina através da literatura o homem teve acesso a farto material contendo os princípios espíritas atuais. A literatura básica contém ensinamentos sobre o mundo espiritual que talvez fossem adequados ao entendi-mento da humanidade daqueles tempos mas que não se ajus-tam ao homem de hoje. Como é natural, o Ser Humano teve um grande crescimento na sua capacidade de entender o mundo espiritual e a interligação com a matéria. Isso nos leva a concluir que o espiritismo e seus princípios precisam se adequar, através da mudança da linguagem, a esse homem da era do átomo e das viagens interplanetárias.

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A lei de causa e efeito, como um princípio do espiritis-mo, precisa ser revista para permitir que o Ser Humano, quando tiver acesso aos seus registros particulares, desta e de outras vidas, não queira contabilizar como prejuízos muitas experiências lucrativas e nem como dívidas para o futuro, fatos que na verdade são apenas acontecimentos circunscritos aos limites da matéria.

Essa lei traz em seu bojo um ponto que a nosso ver não combina com a ideia que temos do Criador. De acordo com ela o homem é levado a aceitar passivamente a dor e o sofri-mento, deixando de buscar no seu interior a luz do entendi-mento que leva à conclusão de que é inconcebível o Pai criar o filho para o sofrimento. O contrário, no entanto, é de fácil aceitação e de clarividente lógica. O Criador nos criou para crescermos e sermos felizes. Se assim não somos devemos creditar isso aos defeitos de nossas matérias que não permi-tem o nosso acesso ao mundo espiritual e a nós mesmos. Por-tanto, a inaceitação dessa situação é de vital importância, pois isso significa que devemos lutar com toda nossa capacidade até atingirmos o domínio da matéria e sermos, então, senho-res do sofrimento e da dor.

De acordo com alei do carma quase tudo que acontece ao homem que lhe seja desfavorável é atribuído a fatores pre-téritos. Desde o nascimento em lar privado do mínimo con-forto até o desencarne em situação de sofrimento pode ser enquadrado à conta de resgate de vidas passadas.

A esse respeito cabe a interrogação: De que vale casti-gar o criminoso por um crime de que ele não tem a menor lembrança: Dentro do nosso conceito de justiça, isso seria justo? Entendemos que no estado de inconsciência não há culpado nem dívida ou mesmo mal. Somente sabemos se es-tamos agindo de acordo com a grande realidade da vida

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quando temos acesso aos nossos registros pela autoconsciên-cia.

A humanidade ainda levará muito tempo para se livrar da doença do pecado que é o irmão gêmeo do carma.

Mais uma vez é bom lembrar que o Criador nos fez perfeitos e como tal permanecemos. Ocorre que no momento estamos utilizando um corpo imperfeito, o que torna nossa perfeição limitada e sujeita aos desequilíbrios da matéria. Por-tanto, é ponto fundamental que aprendamos a distinguir “nós” e “nossos corpos”, assim como não podemos confun-dir a “energia elétrica” que produz a luz com a “lâmpada” que ilumina.

É chegado o momento de caminharmos com o espiri-tismo sem receios, sem medos, sem autocensura ou mesmo só pela intenção de agradar às pessoas que vivem no mundo espiritual, ou seja, os espíritos. O espiritismo deve ser enten-dido como uma ponte luminosa que liga os mundos material e espiritual. Caminho esse que deve ser compartilhado por to-dos aqueles que sentem a necessidade de participar da pátria espiritual. Essa participação, essa busca da ligação com o ou-tro lado da vida deve se realizar de forma espontânea e aten-dendo aos próprios anseios do Ser Humano e nunca pelo temor de dívidas contraídas ou mesmo para aplacar “dores de consciência”. Enfim, é a busca do recomeço. A busca do acesso a essa outra frequência que nos completa, nos recon-forta e nos faz sentir novamente filhos do Criador.

Verdadeiramente sentimos necessidade de retirar das costas do homem esse fardo pesado da culpa. Por qualquer mazela de que ele padece já é rotulado de devedor do pretéri-to. Mas que dívida é essa de que tantos falam e ninguém se recorda? Estaria, por acaso, o devedor inconsciente quando a contraiu? Onde estará e quem será o credor? Estaria também

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inconsciente? Por que não vem explicar ao devedor a origem de sua dívida?

Bem, se nem o devedor nem o credor se lembram de uma dívida então ela não existe.

Continuando a linha de pensamento, seria porventura o Criador o credor das nossas faladas dívidas? Admitindo-se essa hipótese caberia a interrogação: por que escolheria Ele o pagamento na moeda da dor e do sofrimento? Teríamos por acaso sido criados por Ele para aprendermos na escola das lágrimas e das lamentações? E por que não na faculdade do riso e da felicidade?

Como se vê há uma infinidade de interrogações que vão tornando a ideia da Lei de Causa e Efeito cada vez mais dis-tante do conceito que se deve ter da Justiça e do próprio Cri-ador. Por outro lado, se pensarmos em pessoas com o meca-nismo de raciocínio prejudicado por um cérebro defeituoso, com sistema de captação de energias deficiente e um conjunto glandular atrofiado, podemos até entender a origem dessa lei criada pelo próprio homem à sua “imagem e semelhança”.

O espiritismo de hoje caminha em sentido contrário à sua trilha de origem. Ele foi criado para quebrar um jugo e restabelecer a ligação com o mundo espiritual. Mas o que acontece de novo é a subjugação do homem encarnado a re-gras, práticas e rituais que não esclarecem, mas confundem, gerando mais dúvidas sem respostas. Quando ele busca a ex-plicação ou o fundamento para certo fato não encontra os esclarecimentos desejados. Quanto às práticas e rituais desne-cessários afirmam, as pessoas do mundo espiritual que é hora de trabalharmos dentro da realidade e dispensarmos a encena-ção. As formas pitorescas de intercâmbio espiritual devem ceder lugar à comunicação natural à semelhança daquela de-senvolvida entre as pessoas encarnadas na matéria.

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A lei de causa e efeito, por sua vez, é uma espada psico-lógica sobre a cabeça do homem. Para aqueles que vivem na dor e no sofrimento é uma camisa de força que evita a reação para mudar. Nesse ponto ela é verdadeiramente cruel, pois faz com que a pessoa encarnada baixe a cabeça e se acostume com a dor, tornando-se sócio dela com todos os seus efeitos nocivos. Com o passar do tempo ela vai ficando anestesiada com o sofrimento e esquece todos os seus anseios, sua vonta-de de viver e de realizar, se transformando pouco a pouco em um animal de raciocínio minguado. Essa “camisa de força” colocada no homem animal traz-lhe benefícios, mas que têm o gosto do vinagre. Guarda semelhança ao caso do animal de serviço que não suportando a carga se recusa a caminhar. Ao sentir o açoite da chibata e a ferida se abrir ele reúne forças e se arrasta. Quando a ferida sara a cicatriz permanece, mos-trando que nem o tempo consegue apagá-la. Assim, é o Ser Humano que passa pela ESCOLA DA DOR, guardará para sempre em um compartimento escuro de sua memória o “re-gistro do sofrimento”. Mas teria sido mesmo necessário o seu sofrimento? Dentro do verdadeiro entendimento não pode existir SOFRIMENTO NECESSÁRIO. Se existe alguém que pensa o contrário e se submete a ele é porque ali impera o desequilíbrio da faculdade do raciocínio. Se a sanidade mental está ausente então a organização física está a mercê dos aci-dentes possíveis na longa caminhada da vida.

O espiritismo não pode trocar o trigo pelo joio. O seu PRINCÍPIO MAIOR, tem que ser a VERDADE iluminada pela luz do RACIOCÍNIO. Da mesma forma, o ENTEN-DIMENTO deve ser sempre o guardião do homem para que o sofrimento e a dor não venham habitar com ele.

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TERÍAMOS, POR ACASO, SIDO CRIADOS PARA APRENDERMOS NA ESCOLA DAS LÁGRIMAS E DAS LAMENTAÇÕES? E POR QUE NÃO NA FACULDADE DO RISO E DA FELICIDADE?

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Questões relativas ao tema

1. De que serve aos espíritos seguirem o caminho do bem, se isso não os isenta das penas da vida corporal?

LE: Chegam mais depressa ao alvo. Além disso, as pe-nas da vida são frequentemente a consequência da imperfei-ção do espírito. Quanto menos imperfeito ele for menos tor-mento ele sofrerá”.

Comentário: Partindo do pressuposto de que “nós somos criados perfeitos e o Criador não vê defeitos em sua obra”, tudo é experiência e se ocorrem desvios devemos cre-ditar isso não ao condutor, mas ao veículo conduzido.(27) As chamadas “penas” são consequências naturais dos atos prati-cados dentro de um estado de inconsciência. Não se trata, portanto, de imperfeição do espírito, mas de defeito da maté-ria.

2. No estado errante, antes de tomar nova existência corpórea, o es-

pírito tem a consciência e a previsão do que lhe aconteceu durante a vida?

LE: Ele mesmo escolhe o gênero de provas que deseja sofrer, nisto consiste o livre arbítrio. Comentário: O espírito escolhe e traça seu projeto de vida e acha que tudo correrá conforme planejou. Ele pensa, inclusive, que conseguirá resolver todos os problemas que rondam sua futura matéria. Mas, ao mergulhar no ambiente

(27)

As Possibilidades do Infinito.

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físico ele vai pouco a pouco esquecendo tudo o que sabia antes, inclusive o que havia planejado para a sua existência.

Esse esquecimento se torna tão profundo que atinge o estado de inconsciência, não lembrando, a partir daí, nada mais de seu passado e do seu planejamento para o futuro.

3. Como o espírito pode querer nascer entre gente de má vida?

LE: É necessário que ele seja enviado a um meio em que possa sofrer a prova que pediu. Pois bem: o semelhante atrai o semelhante, e para lutar contra o instinto do banditis-mo, é preciso que ele se encontre entre gente dessa espécie.

Comentário: Como foi dito anteriormente ao planejar ou acertar certas condições de vida, o espírito acha que con-seguirá resolver tudo, mas o que acontece em geral é a sua falência diante da força que governa o mundo físico. Se ele escolheu viver entre “pessoas de má vida” é porque essa ex-periência era importante para ele, mas não como prova.

4. Se não houvesse gente de má vida na Terra, o espírito não poderia

encontrar nela o meio necessário a certas provas? LE: E deveríamos lamentar isso? É o que acontece nos mundos superiores, onde o mal não tem acesso; é por isso que neles só existem bons espíritos. Comentário: Os espíritos não encarnam para pagar dí-vidas ou se submeter a provas, mas para buscar experiências novas, visando tornar concretos seus objetivos de vida. Nos mundos onde as pessoas são conscientes o mal simplesmente não existe, donde se conclui que o chamado mal tem origem na inconsciência humana.

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5. O espírito faz sua escolha (da nova existência) imediatamente após a morte?

LE: Não, pois muitos creem na eternidade das penas, como já vos disse, isso é um castigo. Comentário: Depende do nível de consciência ao deixar o corpo físico. Se ocorrer o desenlace de forma traumática, causando um estado de inconsciência profundo ele terá um tempo maior de recuperação. Ao contrário, se a perda do corpo físico se deu sem grandes traumas, de forma que não ocasionou grande perda de consciência, ele terá maior facili-dade para se posicionar com relação à sua vida futura.

6. Ao que se devem as vocações de certas pessoas, e sua vontade de seguir uma carreira em vez de outra?

LE: Parece-me que podeis responder por vós mesmos a esta questão. Não é a consequência de tudo o que dissemos sobre a escolha das provas e sobre o progresso realizado nu-ma existência anterior? Comentário: As atividades desenvolvidas pelo espírito em vidas passadas e das quais ele gosta se insinuam nas vidas futuras sob a forma de um desejo de envolvimento com elas. Às vezes é tão forte esse desejo que a pessoa abandona carrei-ras promissoras para se dedicar a uma outra atividade aparen-temente sem nenhum atrativo.

7. Qual é o objetivo da Providência, ao criar seres desgraçados como os cretinos e os idiotas?

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LE: São os espíritos em punição que vivem em corpos de idiotas. Esses espíritos sofrem com o constrangimento a que estão sujeitos, e pela impossibilidade em que se encon-tram, de se manifestar através de órgãos não desenvolvidos ou defeituosos.

Comentário: O Criador na verdade não cria seres im-perfeitos e sua obra é toda perfeita. Os casos que conhecemos de pessoas que se inserem no conceito humano de excepcio-nais se devem a defeitos da matéria oriundos da combinação genética ou ainda a outros casos de patogenia diversa. O espí-rito ao constatar que o corpo físico em que ele vai reencarnar apresenta grave problema desse naipe acha que pode dar so-lução ao defeito. No entanto, ao assumir esse corpo se depara com uma situação que está acima de suas capacidades, mesmo porque ele logo mergulha na inconsciência e tudo esquece.

“O CARMA HUMANO TEVE ORIGEM, NO PAS-

SADO, EM UM ERRO DE INTERPRETAÇÃO DO HO-MEM ENCARNADO”, MAS QUE AGORA PRECISA SER CORRIGIDO.(28)

(28)

A Vida Dentro da Vida.

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CAPÍTULO 6

O bem e o mal

O que é o Bem e o Mal? Seria uma lei deixada pelo Cri-

ador ou um sistema implantado pelo próprio homem ao lon-go do tempo?

Responder a essas questões significa, antes de tudo, dis-secar o Ser Humano, tanto no seu aspecto físico como tam-bém no espiritual que viveu ontem, vive hoje e viverá ama-nhã. Aqui as dobras do tempo não causam interrupções, mas constituem apenas e tão somente pequenas paradas e subse-quentes recomeços.

A vida e tudo o mais que existe segue o princípio da dualidade. Ao frio se contrapõe o calor, ao alto se coloca o baixo, para o longe existe o perto e assim por diante. Para que possa existir o Bem é necessário que exista o Mal. Um não existe sem o outro, assim como a luz não existe sem a treva, pois uma dá existência à outra.

Comecemos pelo Bem. O que é o Bem? É o que aprendemos com outras pessoas? Com nossos pais? Com nossos amigos? Ou com nossos professores? Mas, quem en-sinou para eles o que é o Bem? Foram seus pais? Seus profes-sores? Ou seus amigos? E a esses últimos quem ensinou o conceito de Bem?

Da mesma forma, podemos raciocinar sobre o conceito de Mal. Neste ponto voltamos à pergunta “seria uma lei dei-xada pelo Criador?” Se verdadeira a afirmação, por que o Bem e o Mal mudam, muitas vezes, de face ao atravessarmos uma

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simples fronteira de um país? Teria o Criador conceituado um bem para um povo e para outro esse mesmo bem já seria mal?

Dentro dessa lógica entendemos que o Bem e o Mal não se encontram dentro da obra do Criador.

Porém, se não foi do Criador, onde está a origem do conceito de Bem e Mal? O Bem e o Mal constituem um sis-tema dentro de outro sistema maior. O sistema Bem e Mal foi sendo engendrado pelas organizações ao longo da história do homem. Esse sistema teve ao longo do tempo suas adapta-ções, seus aperfeiçoamentos, em uma tentativa de acompa-nhar o melhoramento físico e mental do homem. Nesse pro-cesso de adaptação através dos tempos, cada nação ou região da Terra foi dando uma feição própria ao seu sistema Bem e Mal. Assim é que muita coisa é considerada um bem em um país, em outro pode ser vista como um mal e vice-versa. Um fato pode ser um bem para um homem e para outro ser um mal. Em um mesmo país uma pessoa que tira a vida de outra pode ser condenada, mas se o fato se dá em uma guerra ela pode ser glorificada. Dentro do exposto, o Bem pode ser co-letivo, individual, permanente, temporário, físico, espiritual e outros. Vê-se assim que o conceito de Bem pode ser tão elás-tico como a nossa própria imaginação. Mas e o Mal? Seria tudo aquilo que se contrapõe muitas vezes ao Bem? Mas o próprio Bem de uma pessoa não se contrapõe muitas vezes ao Bem de outra?

Daí pode-se concluir que o Bem muitas vezes se con-funde com o próprio Mal, dependendo apenas do ângulo em que se analisa a questão. Se observarmos com atenção o Bem e o Mal veremos que são como os pratos de uma balança que pretende medir os atos do Ser Humano. No meio, de forma equidistante dos pratos está o fiel da balança que aqui pode-mos chamar de consciência humana. Se a pessoa está incons-

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ciente, como é o caso dos habitantes da Terra, ela vai se pau-tar pelo movimento dos pratos e não pela observação do fiel da balança. Se por acaso o peso é maior do lado esquerdo e o prato desce ela logo se coloca do lado negro da vida. Assim agindo, e usando o referencial de Bem e Mal, que lhe foi pas-sado por outras pessoas ou grupos que pertença, ela logo irá sentir a dor da culpa por estar do lado do mal. Ao contrário, se o prato da balança pende para o lado direito, o lado do Bem, aí então ela vai se sentir venturosa por estar do lado do Bem e, em seus pensamentos, já bailará, muitas vezes, as ima-gens do paraíso distante.

Agora, por derradeiro, imaginemos que a pessoa em questão fosse consciente e não estivesse utilizando um corpo físico com os bloqueios e desequilíbrios energéticos próprios dos corpos humanos atuais, como ela veria a balança e os seus pratos? Será que ela se guiaria pelo movimento dos pratos ou os veria apenas como instrumentos? Não seria mais próprio afirmar que ela se guiaria pelo fiel da balança, que no caso, é a sua consciência desperta, e desprezaria os pratos recheados de conceitos errôneos que estão sujeitos às ações do tempo, do espaço e das conveniências humanas?

O sistema Bem e Mal foi criado com a finalidade de li-mitar e direcionar o comportamento do homem, enquanto inconsciente. É bem verdade que teve e ainda terá por muito tempo a sua utilidade. Mas nem por isso podemos confundir o real com o irreal, a sombra com a luz. O Bem e o Mal só existem como subproduto da inconsciência humana. Não têm, portanto, existência real sem a sua mãe inconsciência, que os pariu, deu-lhes vida, alimentou-os e os fez verdugos e juízes do próprio Ser Humano.

O homem precisa entender o sistema Bem e Mal, viver nele mas não o aceitar como uma realidade eterna que existe

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em todos os mundos, aplicável a todos os seres humanos. Esse mecanismo foi uma das muletas criadas para que o ho-mem pudesse caminhar e chegar aos nossos dias, mesmo ca-minhando pela escuridão sem saber de onde vinha nem para onde ia.

O Ser Humano, quando criado, trás dentro de si um re-gistro indelével que o torna possuidor da vontade do Criador. A criatura divina, que todos nós somos, foi criada perfeita e não há necessidade de reparos. Mesmo porque se houvesse essa real necessidade somente o Criador seria capaz de detec-tá-la.

O homem, em sua condição original de consciência plena, não necessita do sistema Bem e Mal ou de qualquer um dos outros sistemas que foram implantados na Terra. Tam-pouco necessita de leis escritas ou faladas que regulem suas ações no meio social. Dispensa, da mesma forma, qualquer ordenamento jurídico nos moldes do nosso que dê sustenta-ção aos seus direitos e o convoque, ao mesmo tempo, à ob-servação de seus deveres. Nesse estado de consciência plena permanece sempre o princípio do entendimento pleno de tudo que rodeia a pessoa humana. Além disso, tem profundo conhecimento da matéria que ele habita e do seu mundo inte-rior.

Cabe nesse ponto a interrogação: onde está a grande muralha que separa o homem consciente do inconsciente? Muralha que criou o homem que sofre e que chora, que fere e que mata o seu semelhante, que dorme o grande sono da en-carnação e não se lembra de quem era ontem, barreira que criou um novo homem para viver no passado ou no futuro mas nunca no presente?

Essa muralha de colossal dimensão é formada pelos BLOQUEIOS DA MATÉRIA HUMANA. Ela é a grande

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responsável por todas as causas do sofrimento humano. É ela também que separa esse homem sofredor daquele outro que é livre, que não sofre, que vive o passado e o futuro no presente e que ama profundamente o seu semelhante.

Assim, o sistema Bem e Mas foi criado para um mo-mento da humanidade. E esse sistema só é aplicável ao ho-mem inconsciente criado pela “muralha”.

Para o homem autoconsciente esse sistema é inócuo e não tem qualquer utilidade, é como tentar clarear o dia, acen-dendo velas à luz do sol.

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Questões relativas ao tema

1. Os espíritos são bons ou maus por natureza ou são eles mesmos que procuram melhorar-se?

LE: Os espíritos se melhoram e passam de uma classe inferior para uma superior.

Comentário: Os espíritos são criados perfeitos, nem bons nem maus.

2. Os espíritos foram criados bons e outros maus?

LE: Deus criou todos os espíritos simples e ignorantes, ou seja, sem conhecimento. Adquirem conhecimentos pas-sando pelas provas que Deus lhe impõe.

Comentário: Partindo do pressuposto de que os concei-tos de Bem e de Mal possuem origem humana e são extre-mamente relativos, entendemos que o Criador, no ato supre-mo da criação, estaria muito distante dessa divisão ditada pe-los homens. Os caminhos que cada um busca para suas expe-riências são ditados pelo seu livre arbítrio e não em função de provas.

3. Segundo isto, os espíritos, na sua origem, se assemelham a crian-

ças, ignorantes e sem experiência, mas adquirindo pouco a pouco os conhecimentos que lhes faltam, ao percorrer as diversas fases da vida?

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LE: Sim, a comparação é justa: a criança rebelde per-manece ignorante e imperfeita; seu menor ou maior aprovei-tamento depende de sua docilidade. Comentário: Primeiro as crianças não são ignorantes e sem experiência, mas são apenas matérias em formação e cujo ocupante ainda não assumiu o controle da organização física. Por outro lado, repetimos, os espíritos são criados perfeitos e dotados com os registros de seu tempo. Possuem, como cria-turas perfeitas dentro da criação, todas as capacidades para assimilar conhecimentos e distinguir, entre vários caminhos, o que melhor lhes convém para atingir seus objetivos.

4. Há espíritos que ficarão perpetuamente nas classes inferiores? LE: Não; todos se tornarão perfeitos. Comentário: Não existem classes de espíritos inferiores, todos são perfeitos e se são perfeitos, uns não podem ser in-feriores a outros. Existem, isto sim, experiências diferentes vividas por uns e por outros. É possível um pai afirmar que um filho seu é inferior ao outro? Ou é mais adequado ele afirmar que um filho seu tem características individuais dife-rentes do outro?

5. Depende dos espíritos apressar o seu avanço para a perfeição? LE: Certamente. Eles chegam mais ou menos rapida-mente, segundo o seu desejo e a sua submissão à vontade de Deus. Comentário: Isso é certo. É como o viajante que mais se dedica à sua jornada, mais rápido alcançará seu objetivo. Mas, por outro lado, devemos perguntar, o que é a perfeição: Uma pedra é perfeita: Uma árvore, uma flor, um animal, são

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também perfeitos? Entendemos que sim. Então podemos concluir que estamos cercados de perfeições do Criador. Mas, e essa outra perfeição a que se refere a questão? Bem, essa perfeição humana é um ideal que será sempre perseguido pelo Ser Humano.

6. Deus pode livrar os espíritos das provas que devem sofrer para chegar à primeira ordem?

LE: Se tivessem sido criados perfeitos, não teriam me-recimento para gozar dessa perfeição. Comentário: Partimos sempre do pressuposto básico de que: o Ser Humano foi criado perfeito e as chamada provas não passam de uma tentativa, do próprio homem, de explicar as diferentes experiências vividas por uns e outros na matéria. Se essas “provas” realmente existissem as pessoas que nascem nos países pobres sempre estariam em provas, ao passo que nos países ricos raramente iríamos encontrar alguém “em provas”.

Quanto à classificação dos espíritos em ordens nunca ouvimos falar de sua existência na dimensão espiritual. Acre-ditamos que foi um mecanismo criado aqui na tentativa de explicar o mundo espiritual.

7. Todos os espíritos passam pela fileira do Mal, para chegar ao

Bem? LE: Não pela fileira do mal, mas pela da ignorância. Comentário: Os espíritos não são destinados às fileiras do Mal nem às do Bem, porque essas duas figuras são apenas conceitos humanos e não realidades oriundas do Criador.

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8. Como podem os espíritos, em sua origem, quando ainda não têm a consciência de si mesmos, ter a liberdade de escolher entre o Bem e o Mal? Há neles um princípio, uma tendência qualquer que os leve mais para um lado que para outro?

LE: O livre arbítrio se desenvolve à medida que o espí-rito adquire consciência de si mesmo. Não haveria liberdade, se a escolha fosse provocada por uma causa estranha à vonta-de do espírito. A causa não está nele, mas no exterior, nas influências a que ele cede em virtude de sua espontânea von-tade. Comentário: Os espíritos não seguem o caminho do Bem e do Mal, mas vivem experiências no meio físico que vão ser influenciadas por vários fatores, tais como: meio ambiente, época da reencarnação, costumes, condição social e outros.

9. De onde vêm as influências que se exercem sobre o espírito? LE: Dos espíritos imperfeitos que procuram envolvê-lo e dominá-lo, e que ficam felizes de fazê-lo sucumbir. Foi o que se quis representar na figura de Satanás. Comentário: A comunicação entre os espíritos mesmo em frequências diferentes é possível e ocorre. Não podemos, no entanto, creditar as mudanças de comportamento e os atos das pessoas só às influências espirituais. Essas influências, quando existem, têm suas raízes na própria pessoa encarnada. NÃO EXISTEM ESPÍRITOS SUPERIORES E IN-FERIORES. O CRIADOR PROVEU A IGUALDADE QUANDO DISTRIBUIU O CONHECIMENTO ENTRE TODOS OS SERES HUMANOS. O CONHECIMENTO

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INTEGRAL SÓ É ATINGIDO COM O SOMATÓRIO DO CONHECIMENTO INDIVIDUAL.

10. Por que Deus permite que os espíritos possam seguir o caminho do Mal?

LE: A sabedoria de Deus se encontra na liberdade de escolha que concede a cada um porque, assim, cada um tem o mérito de suas obras. Comentário: Se a pessoa não prova o gosto do sal não saberá reconhecer o sabor do doce; se não andar descalço sobre os pedregulhos do caminho não saberá o valor do chi-nelo rústico. Desse modo, tudo é experiência, tudo é aprendi-zado.

11. Havendo espíritos que, desde o princípio, seguem o caminho do Bem absoluto, e outros o do Mal absoluto, haverá gradações, sem dúvida, entre esses dois extremos?

LE: Sim, por certo, e estão na grande maioria. Comentário: Como podemos saber que o espírito se-guiu, desde o princípio, o caminho do Mal ou do Bem absolu-to? Anteriormente já comentamos que o Bem e o Mal são conceitos extremamente relativos e por isso mesmo de difícil assimilação pelo homem em seu estado de inconsciência. As-sim, é muito temerário alguém afirmar que uma pessoa segue o caminho do Bem ou do Mal; para isso teríamos que conhe-cer até o seu objetivo de vida e isso só ela conhece e possui em seus registros.

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12. Os espíritos que seguiram o mal poderão chegar ao mesmo grau de superioridade que os outros?

LE: Sim, mas as eternidades serão mais longas para eles. Por essa expressão, as eternidades, deve-se entender a ideia que os espíritos inferiores fazem da perpetuidade dos seus sofrimentos, cujo termo não lhes é dado ver. Comentário: Não existem caminhos do mal e caminhos do bem, mas experiências vividas de colorações diferentes que vão paulatinamente atuando sobre o estado de consciência do Ser Humano encarnado.

13. Os espíritos que chegam ao supremo grau, depois de passarem pelo Mal, têm menos mérito que os outros, aos olhos de Deus?

LE: Deus contempla os extraviados com o mesmo olhar, e os ama a todos do mesmo modo. Eles são chamados maus porque sucumbiram; antes, não eram mais que simples espíritos. Comentário: Se esse supremo grau existe, ele deve ser a suprema perfeição. Mas essa perfeição só deve existir enquan-to um ideal a ser alcançado, pois sendo o crescimento espiri-tual infinito, os espíritos que aí aportassem estariam condena-dos à infinita estagnação.

14. De onde vem para o homem as suas qualidades morais, boas e más?

LE: São as do espírito que está nele encarnado; quanto mais puro esse espírito, mais o homem é propenso ao bem. Comentário: O homem em seu estado de inconsciência tem em seu mundo interno um somatório de experiências

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vividas em muitas vidas. Muitas delas mais marcantes do que outras, trazendo seus reflexos para o presente. Coadjuvando com esses reflexos do passado, o corpo físico também ditará suas normas. O indivíduo, dessa forma, balizará sua conduta influenciado ainda pelo ambiente, pelos costumes, pela família e outros fatores.

15. Parece resultar daí que o homem de bem é a encarnação de um bom espírito, e o homem vicioso a de um mau espírito?

LE: Sim, mas dize antes que é um espírito imperfeito, pois de outra forma poderia crer-se nos espíritos a que cha-mais demônios. Comentário: Partimos sempre do princípio de que não existem espíritos imperfeitos, mas sim corpos físicos em esta-do imperfeito. Assim, um homem afeito aos vícios atende em geral à solicitação de seu corpo, já que ele é comandado e não comanda. Os chamados vícios quase sempre passam de pai para filho, na forma de um registro. A classificação que se dá aos homens de bons e maus deveria ser dada pela via da ma-téria que ele usa e não ao próprio espírito, já que a matéria do homem é a principal responsável pela conduta do Ser Huma-no. É semelhante ao cavaleiro que não consegue dominar seu animal e dá causa a vários tipos de acidente.

16. Que definição pode dar-se à moral? LE: A moral é a regra para bem se conduzir, quer dizer, para distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observação da lei de Deus. O homem se conduz bem quando faz tudo em vista e para o bem de todos, porque então observa a lei de Deus.

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Comentário: Dentro do sistema criado, a moral é o veículo que pretende conduzir o homem ao caminho do bem. Ela, como o Bem e o Mal, é uma regra de conduta criada ao longo do tempo, para limitar a liberdade do homem e direcio-nar seus passos. É extremamente relativa e muda de acordo com uma região do mesmo país ou mesmo de uma camada social para outra. Portanto, a moral se baseia antes na conve-niência dos homens do que em “leis do Criador”.

17. Como se pode distinguir o Bem do Mal? LE: O Bem é tudo o que está de acordo com a lei de Deus, e o Mal, tudo que dela se afasta. Assim, fazer o bem é se conformar à lei de Deus; fazer o mal é infringir essa lei. Comentário: O Ser Humano encontra, muitas vezes, dificuldade em fazer a distinção entre o Bem e o Mal. Pratica um com a intenção de praticar o outro. Isso devido à relativi-dade que existe entre ambos. A maior dificuldade de assimila-ção do conceito do Bem e do Mal se encontra no entendi-mento diferenciado das pessoas. “Esse entendimento é forne-cido pelo número de impulsos e pela frequência cerebrais”.(29) Ambos variam de um corpo físico para outro. Logo se vê que o entendimento vai variar de pessoa para pessoa; o conceito “Bem e Mal” vai ter coloração diferente para cada indivíduo.

18. O homem tem meios de distinguir por si mesmo o Bem e o Mal? LE: Sim, quando ele crê em Deus e quando quer saber. Deus lhe deu a inteligência para discernir um do outro.

(29)

A Vida Dentro da Vida.

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Comentário: O único meio de o homem compreender o sistema Bem e Mal é melhorando o seu entendimento, caso contrário é seguir os outros mesmo sem saber se eles estão no caminho que melhor lhes convenham.

19. Por que o Mal se encontra na natureza das coisas? Falo do Mal moral. Deus não poderia criar a humanidade em melhores condi-ções?

LE: Já te dissemos: Os espíritos foram criados simples e ignorantes. Deus deixa ao homem a escolha do caminho: Tanto pior para ele, se seguir o mal: sua peregrinação será mais longa... Comentário: O Mal não se encontra na natureza das coisas, mas foi engendrado pelo próprio homem por não en-tender a realidade que o rodeia, como também por não dife-renciar o que é o Ser Humano e o que faz parte de sua maté-ria (corpo físico).

20. O selvagem que cede ao instinto, ao se nutrir de carne humana, é culpado?

LE: Eu disse que o Mal depende da vontade. Pois bem: o homem é tanto culpado, na medida em que melhor sabe o que faz. Comentário: Onde há inconsciência não pode haver culpa; mesmo onde existe a consciência não há a culpa mas a responsabilidade.

21. O uso de sacrifícios humanos remonta à mais alta antiguidade. Como pode o homem acreditar que semelhantes coisas pudessem ser agradáveis a Deus?

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LE: Primeiro, porque não compreendia Deus como sendo a fonte da bondade; entre os povos primitivos, a maté-ria sobrepõe-se ao espírito; eles se entregam aos instintos animais, e por isso são geralmente cruéis, pois o senso moral ainda não se encontra neles desenvolvido. Comentário: É o que temos afirmado. O Bem e o Mal são conceitos relativos e o homem muitas vezes se engana na aplicação de um ou de outro. É o caso dos sacrifícios huma-nos que buscam, em síntese, as graças de Deus (um bem), utilizando-se de uma prática condenável.

22. Que devemos pensar das chamadas guerras santas? O sentimento que leva os povos fanáticos a exterminar o mais possível os que não partilham de suas crenças, com o fim de agradar a Deus, pa-rece ter a mesma origem dos que antigamente provocavam os sacri-fícios humanos?

LE: Esses povos são impulsionados pelos maus espíri-tos, e fazendo a guerra aos semelhantes, vão contra Deus, que manda o homem amar ao próximo como a si mesmo. Todas as religiões, ou antes , todos os povos, adoram um mesmo Deus, quer sob este ou aquele nome, e como promover uma guerra de exterminação, porque a religião de um é diferente ou não atingiu ainda o progresso daquelas dos povos esclare-cidos? Comentário: É o reinado da inconsciência humana, chegando-se ao ponto de decretar a liquidação de nações in-teiras em nome do Deus “justo e bom”. Aliás, nos dias de hoje fatos semelhantes são praticados por “adoradores de Deus”, mas que odeiam aos homens, esquecendo-se que o Criador e a criatura são um e não é possível amar a um sem amar à outra.

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23. As leis e os costumes humanos que objetivam ou têm por efeito criar obstáculos à reprodução são contrários à lei natural?

LE: Tudo o que entrava a marcha da natureza é contrá-rio à lei geral. Comentário: O Ser Humano quando encarna não tem por obrigação reproduzir outros corpos físicos. Muitas pes-soas, inclusive, têm várias passagens pela matéria sem gerar filhos. Portanto, devemos partir do princípio de que o corpo humano tem um dono e cabe a ele a decisão de submetê-lo ou não à reprodução. Esse princípio nos diferencia do animal cujo automatismo da natureza segue sempre o seu curso. Por outro lado, se a pessoa humana encarnada se mantiver de forma passiva e não fizer uso de sua capacidade de decidir, o automatismo da matéria também, nesse caso, seguirá o seu curso.

24. Que pensar dos usos que tem por fim deter a reprodução, com vis-tas à satisfação da sensualidade?

LE: Isso prova a predominância do corpo sobre a alma, e quanto o homem está imerso na matéria. Comentário: Um dos maiores problemas que os habi-tantes da Terra tem a resolver é o do sexo. É o centro de for-ça mais utilizado e por isso mesmo o mais forte. A sensuali-dade é própria do Ser Humano que já foi criado com ela e não a adquiriu posteriormente em contato com a matéria. Mas, ao reencarnar e assumir um corpo em estado de desequilíbrio, esta força também é submetida ao mesmo processo desequili-brante.

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25. O casamento, ou seja, a união permanente de dois seres, é contrá-ria à lei da natureza?

LE: É um progresso na marcha da humanidade. Comentário: Outro grande problema a ser resolvido pelo Ser Humano é o dos filhos. O casamento foi um sistema criado no passado para proteger a prole. Antes do evento do casamento a reprodução humana passava por dificuldades porque os fatores como segurança, alimentação e todos os demais cuidados com os filhos ficavam só com a mãe que sozinha não possuía meios de se desincumbir da tarefa. A maneira encontrada foi a de ligar o homem à mulher e formar o grupo familiar. O processo funcionou nos primeiros tem-pos, mas hoje se encontra em estado de falência como bem comprovam os milhares de crianças abandonadas e sem mei-os de subsistência. Devemos lembrar, no entanto que foi um sistema cria-do para um momento de emergência, logo após o grande aci-dente, não significando com isso que ele seja o melhor ou que não existam outros.

26. Qual seria o efeito, sobre a sociedade humana, da abolição do ca-samento?

LE: O retorno à vida animal Comentário: O casamento é um contrato e como tal pode ser mudado, na forma e na essência. Pode se transfor-mar em pacto verbal, ou tomar outras formas. O próprio re-gime jurídico já se adapta a essa nova realidade da coabitação informal, oferecendo o agasalho da lei aos filhos e à mulher. Portanto, o casamento nos moldes antigos é uma instituição que permanece mais pela tradição do que pela utilidade que

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ela representa de proteção aos filhos. Para o objetivo primor-dial para que foi criado pouco se presta, pois o número de casos em que um dos cônjuges abandona a sociedade é imen-so. Assim a quantidade de crianças abandonadas pelos pais ou que se apresenta sem pais conhecidos também é imensa, logo o casamento perdeu a sua finalidade primeira que é a proteção da prole. Nestes termos, e atendo-se antes à realidade dos fatos do que à teoria, conclui-se que o casamento permanece ainda mais pelo apego ao ritual, pelo costume e pela tradição, do que pela real necessidade. Em realidade, o que falta é um maior nível de entendi-mento do homem para que ele perceba que sem a criança não há futuro. Dessa forma, todo investimento deve primeiro visar à criança, pois cada criança que nasce é o futuro que brota no presente.

27. Qual das duas, a poligamia ou a monogamia é mais conforme à lei natural?

LE: A poligamia é uma lei humana, cuja abolição marca um progresso social. O casamento, segundo as vistas de Deus, deve se fundar na afeição dos seres que se unem. Na poliga-mia não há verdadeira afeição; não há mais do que sensuali-dade. Comentário: A poligamia e tampouco a monogamia pertencem à lei natural que existe em nós como registro, des-de a criação. Ambas são criações humanas na tentativa de organizar o caos que se instalou entre os habitantes da Terra após o grande acidente. Um dia, quando o homem conquistar a sua autoconsciência, todos os costumes, tradições e leis con-trárias aos nossos registros internos deixados pelo Criador,

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serão banidos do planeta e a Terra então caminhará para o verdadeiro progresso.

28. Com que fim Deus fez atrativos os gozos dos bens materiais? LE: Para instigar o homem ao cumprimento da sua missão, e também para o provar na tentação. Comentário: Todos os atrativos da matéria são obra do Criador. O Ser Humano não foi criado para o sofrimento, que deve ser classificado como uma anomalia, um tipo especial de doença do homem do presente. O contrário é verdadeiro, a nossa caminhada deve ser plena de satisfação, alegria e prazer porque somos criaturas divinas, filhos do GRANDE PAI.

29. Com que fim Deus castiga a humanidade com flagelos destruido-res?

LE: Para fazê-lo avançar mais depressa. Não dissemos que a destruição é necessária para regeneração moral dos espí-ritos, que adquirem em cada nova existência um novo grau de perfeição? Comentário: As catástrofes geralmente são naturais, ou seja, aquelas que ocorrem de forma espontânea, sem a inter-venção humana, como também podem ser provocadas pelo homem. Ele é causador de desequilíbrio sobre a natureza porque age de forma inconsciente sobre ela. Por outro lado, o Criador jamais envia flagelos para castigar o homem a fim de conduzi-lo à perfeição. Uma perfeição conseguida à custa de dor e sofrimento seria uma PERFEIÇÃO IMPERFEITA.

30. Há pessoas que deduzem, do abandono das crias pelos animais, que os laços de família, entre os homens, não são mais que o re-

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sultado de costumes sociais, e não uma lei natural. Que devemos pensar disso?

LE: O homem tem outro destino que não o dos ani-mais; por que, querer sempre identificá-los? Para ele, há outra coisa além das necessidades físicas: há a necessidade do pro-gresso, os liames sociais são necessários ao progresso, e os laços de família resumem os liames sociais. Eis porque eles constituem uma lei natural. Deus quis que os homens, assim, aprendessem a se amar como irmãos. Comentário: A grande diferença que existe entre o ho-mem e o animal irracional é que no interior do homem mate-rial existe o Ser Humano eterno, que pode ver, sentir, racioci-nar e aprender, e até planejar o seu futuro. O semelhante, para o homem consciente, é sempre amado e reconhecido como irmão.

31. A perversidade do homem é bastante intensa, e não parece que ele está recuando, em lugar de avançar, pelo menos do ponto de vista moral?

LE: Enganas-te. Observa bem o conjunto e verás que ele avança, pois compreendendo melhor o que é o Mal, dia a dia corrige seus abusos. Comentário: O Ser Humano em verdade não recua, mas seu corpo físico ao contrário pode se desequilibrar ainda mais do que o estado em que ele se apresenta. Esse estado pode ser observado em nossos dias quando o homem se tor-na cada vez mais irritado e agressivo. Na verdade, não é o espírito que se encontra irritado e agressivo, mas a matéria que ele usa. Em muitos casos o desequilíbrio do corpo físico é

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tão grande que o seu dono perde totalmente o domínio sobre ele. Nesses casos tudo pode acontecer.

32. Certas pessoas não escapam a um perigo mortal senão para cair em outro; parece que não podem escapar à morte. Não há nisso fatalidade?

LE: Fatal no verdadeiro sentido da palavra, só o instan-te da morte o é. Chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar-se. Comentário: A fatalidade em boa verdade não existe. Nem a morte tem seu momento definido para ocorrer. Se ela tivesse o seu momento marcado seria mais prático, conforme entende a maioria das pessoas, sentar-se confortavelmente e “esperar a morte chegar”. No tocante à velhice, ela é uma doença curável e assim sendo, a morte por essa causa pode deixar de existir da forma e no tempo em que nós a conhecemos. As mortes por aciden-tes ou provocadas não têm tempo nem hora para acontecer. Ocorrem por uma ação, omissão, negligência ou aconteci-mento fortuito.

33. Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morrere-mos, se a nossa hora não chegou?

LE: Não, não morrerás, e tens disso milhares de exem-plos, mas quando chegar a tua hora de partir, nada te livrará. Deus sabe com antecedência qual o gênero de morte por que partirás daqui, e frequentemente teu espírito também o sabe, pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou da-quela existência.

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Comentário: A perda do corpo físico por morte aciden-tal ou provocada pode acontecer a qualquer momento. Cabe a toda pessoa o uso da prudência.

34. Qual o fito da providência, fazendo-nos correr perigos que não de-vem ter consequências?

LE: Quando tua vida se encontra em perigo, é essa uma advertência que tu mesmo desejaste, a fim de te desviar do Mal e te tornar melhor... Comentário: O homem em sua inconsciência tem o costume de atribuir a Deus tudo o que acontece na matéria. Os perigos que corremos em nossas vidas materiais são pró-prios das condições do ambiente terrestre. O Ser Humano por meio do raciocínio e discernimento pode se livrar, por si só, da maioria dos perigos. Por outro lado, não é lógico que o Ser Humano vá desejar perigos para si mesmo como adver-tência contra o Mal e para se tornar melhor.

35. O espírito sabe, por antecipação, qual o gênero de morte que deve sofrer?

LE: Sabe que o gênero de vida por ele escolhido o ex-põe a morrer mais de uma que de outra maneira; mas sabe também quais as lutas que terá de sustentar para evitar, e que se Deus o permitir, não sucumbirá. Comentário: Como já foi dito anteriormente, espírito encarnado não tem data marcada para deixar o corpo físico. Um acidente pode ocorrer em qualquer circunstância e a qualquer momento, valendo aqui o “vigiai” constante. A mor-te por exaustão da organização física também não tem dia

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nem hora para acontecer, pois a velhice se situa no campo da patologia e como tal pode ser curada.

36. Há fatos que devem ocorrer forçosamente, e que a vontade dos es-píritos não pode conjurar?

LE: Sim, mas que tu, quando no estado de espírito, viste e pressentiste, ao fazer a tua escolha. Não acreditais, porém, que tudo o que acontece esteja escrito como se diz. Comentário: Existem certos acontecimentos necessá-rios à pessoa encarnada que são previstos com antecipação para que ela possa vivenciá-los. A título de exemplo, podemos citar os casos em que o Ser Humano adquiriu traumas pro-fundos em vidas passadas e cujo remédio certo é a TERAPIA DA REPETIÇÃO. Em outras palavras, os acontecimentos traumatizantes ocorridos em outros corpos físicos, ou seja, quando a pessoa estava encarnada, só podem ser sanados pela repetição, em outra ou em outras vidas, de todos os fatores que deram causa àqueles traumas. Assim, vivenciando fatos semelhantes sob as mesmas condições dá-se o entendimento e a aceitação. Isso determina o desaparecimento do trauma. É de todo conveniente não confundirmos essa TERA-PIA DA REPETIÇÃO com a figura do carma cujos contor-nos já estabelecemos anteriormente. Neste caso de que agora tratamos não há que se falar em culpa, dívida e resgates, mas repetir uma vivência por uma segunda ou terceira vez para buscar o entendimento e não para efetuar um pagamento com o cheque da dor e do sofrimento.

37. Qual o meio mais eficaz de se combater a predominância da natu-reza corpórea?

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LE: Praticar a abnegação. Comentário: Conquistar a autoconsciência. A pessoa humana enquanto permanecer no estado atual de inconsciên-cia não terá o domínio de seu corpo físico mas, ao contrário, será sempre dominada pela matéria. Há muito já se foi o tem-po em que o homem era consciente e habitava a matéria. houve o grande mergulho na noite da inconsciência; ele dor-miu senhor e acordou escravo.

38. De onde procede a crença, que se encontra em todos os povos, nas penas e recompensas futuras?

LE: É sempre a mesma coisa: pressentimento da reali-dade, dado ao homem pelo espírito nele encarnado... Comentário: Os ensinamentos, principalmente os reli-giosos, são cristalizados na mente através da técnica da repeti-ção e acabam por constituir “registros” indeléveis que perdu-ram até as vidas futuras. Esses “registros” só podem ser mu-dados com a alteração da energia cerebral e a consequente chegada de novo entendimento.

39. As penas e os gozos da alma, após a morte, tem qualquer coisa de material?

LE: Não podem ser materiais, desde que a alma não é matéria. O próprio bom senso o diz. Essas penas e gozos nada têm de carnal, e por isso mesmo são mil vezes mais vi-vos do que experimentais na Terra, porque o espírito, uma vez desprendido, é mais impressionável: a matéria não mais lhe enfraquece as sensações. Comentário: As penas e os gozos da alma, o purgatório, o céu, o inferno e o paraíso, tudo isso constitui um sistema

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pedagógico para ensinar o homem inconsciente o caminho do meio, o caminho do equilíbrio, freando os seus instintos ma-teriais sem controle. Já afirmamos que no estado de inconsci-ência, o Ser Humano não comanda, é comandado. NÃO DEVEMOS CONFUNDIR “NÓS” E “NOS-SOS CORPOS”, ASSIM COMO NÃO PODEMOS CON-FUNDIR A “ENERGIA ELÉTRICA” QUE PRODUZ A LUZ COM A “LÂMPADA” QUE ILUMINA.

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CAPÍTULO 7

A fé e o conhecimento

A longa caminhada do Ser Humano sobre a Terra, após o acidente, foi tortuosa e sofrida. Para chegar aos nossos dias, no nível atual de consciência, foram realizadas várias tentati-vas para que o homem readquirisse um pouco de sua consci-ência perdida. As religiões tiveram importante papel nessa tentativa de reaproximar o homem do mundo espiritual, mas lamentavelmente o grande papel que deveria ser desempe-nhado pelas religiões se perdeu ao longo do tempo. Os pró-prios condutores das atividades religiosas desviaram-na da rota original, com o objetivo de auferir lucros e conseguir poder sobre a grande massa de pessoas inconscientes. Com isso as religiões que deveriam libertar o Ser Humano através da aproximação do mundo espiritual e o aumento do enten-dimento da realidade da outra vida, passaram a aprisioná-lo mais e mais em um emaranhado de ensinamentos que o leva antes à confusão do que ao esclarecimento. Nesse aprisiona-mento do homem, com o fito de auferir lucros, os ingredien-tes principais utilizados sempre foram e ainda são: a existência do pecado, da culpa, do inferno como residência dos faltosos e do próprio Diabo como cruel carrasco dos infratores. Aci-ma de tudo isso se instala, como é natural, o reinado do me-do. Medo da morte, medo das penas, medo do próprio Cria-dor, nosso Pai maior. Fica claro, assim, que o homem encar-nado tende a se afastar cada vez mais do mundo espiritual, seja por desinformação, seja por falta de acesso ao outro lado

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da vida ou ainda por medo do que lhe possa acontecer se perder o seu corpo físico. Há ainda outro aspecto grave dos ensinamentos, que é o fato de se negar, peremptoriamente, a existência do mundo espiritual, pregando de forma contun-dente a inexistência do Ser Humano independentemente de seu corpo físico.

Paralelamente à corrente religiosa corre célere o rio da ciência. A ciência calcada em dados mensuráveis e fenômenos demonstráveis pelos nossos meios conhecidos, não visa o entendimento puro e simples mas o conhecimento. Na busca da consciência vale antes o entendimento e depois o conhe-cimento. O conhecimento é circunscrito e limitado, enquanto o entendimento é transcendente e quem o detém singra os mares da consciência em busca do oceano infinito da perfei-ção. A ciência do homem inconsciente não poderia, como é natural, muito contribuir para elevar o nível de consciência do Ser Humano na matéria. Ela segue o ritmo do raciocínio hu-mano e está sujeita às mesmas falhas do nosso funcionamento cerebral. Afirma, muitas vezes, o que não é, e nega outras vezes o que é.

Nesse mundo de informações conflitantes a ciência ten-ta explicar a religião enquanto que esta tenta corrigir a ciência. O homem permeando essa relação ora acredita na ciência ora confia na religião, mas em nenhum momento ele tem enten-dimento suficiente para perceber quando uma ou outra está destoando da grande realidade da criação. E assim, os séculos vão passando e o homem vai caminhando ou pela trilha da ciência ou pelo caminho da fé. Pela trilha da ciência ele arma-zena conhecimento do que está posto no mundo da matéria, computando-se aí os erros e acertos. Por outro lado, seguindo o caminho das religiões envereda-se pelas escarpas escorrega-dias da crença pela crença. Recebe a intimação de que deve

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acreditar na palavra de alguém que lhe transmite ensinamen-tos e informações que jamais podem ser comprovados e tam-pouco negados. O homem não tem alternativa, só lhe resta seguir sempre, confiando na palavra bem posta de alguém que, às vezes, nos momentos de sofrimento, consola mas não cura. Só acontece a cura dos nossos sofrimentos da alma quando conseguimos o remédio do entendimento.

O Ser Humano, em verdade, encontra-se em uma gran-de encruzilhada da vida. As religiões passam por grande des-crédito nos tempos de hoje porque na ânsia de colher o lucro mataram a árvore que produz o fruto. A ciência, por sua vez, não é capaz de auxiliar o homem a ter acesso consciente ao mundo espiritual e sem esse acesso ao outro lado da vida não há futuro para a humanidade. Sem esse contato consciente com o mundo extrafísico o homem mergulhará ainda mais na inconsciência. Isto porque irá se identificando mais e mais com a matéria ao mesmo tempo em que aceita o seu jugo. Se não houver uma organização que mantenha vivo, no Ser Hu-mano encarnado, esse registro da existência do mundo espiri-tual, o futuro pode ser o caos. À medida que as organizações que cuidam, aqui na Terra, do patrimônio espiritual, vão se transformando em empresas lucrativas, o homem começa a desativar sua crença. Sem acreditar no investimento espiritual, ele fica imobilizado na matéria. Preso na imobilização material ele não tem disponibilidade para aplicar no capital real da consciência. Se a fé está em processo de deperecimento e o conhecimento é deficitário, então o homem precisa de ajuda.

Nesse estado de lamentável pobreza espiritual em que se encontra a humanidade, o espiritismo é o investimento externo que pode construir novamente o grande monumento da esperança. Não sendo nem ciência nem religião, mas um

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caminho, convida a todos para a grande caminhada em dire-ção ao Criador e à criatura.

Mas o espiritismo para preencher na plenitude esse pa-pel da mais alta relevância, precisa passar por algumas peque-nas cirurgias corretivas e alguns ajustes. É necessário realizar, em primeiro plano, uma adaptação da linguagem espírita ao homem dos tempos atuais. A linguagem hoje utilizada, inclu-indo-se aí vários ensinamentos básicos, foi introduzida e per-mitida em uma época em que as pessoas encarnadas estavam em um nível mental muito precário. Hoje essas pessoas têm um nível mental muito superior e são capazes de alcançar o verdadeiro sentido dos ensinamentos como também dispen-sar as formas antigas da comunicação espiritual. É bem ver-dade que a linguagem precisa ser alterada, mas também é ver-dade que a tarefa é bastante difícil. Vejamos porque: o Ser Humano tem acesso ao seu próprio corpo físico, quando en-carnado, por meio do campo energético que envolve o cére-bro. É através desse mecanismo que ele transmite suas vonta-des à organização física para que ela entre em ação para reali-zar o comando, ou ainda pare que ela deixe de agir de deter-minada forma também obedecendo a uma vontade.

Pensemos agora na comunicação espiritual através da mediunidade. Para ter acesso ao corpo físico, o espírito preci-sa utilizar o campo energético que envolve o cérebro do en-carnado. Ocorre que todos os REGISTROS da pessoa encar-nada, ligados a essa vida material estão no campo energético. Logo toda comunicação proveniente do mundo espiritual passa pelos REGISTROS do encarnado onde é decodificada, analisada e expedida de acordo com os dados ali registrados. Os ensinamentos do espiritismo foram armazenados nessa energia que envolve o cérebro, através de uma percepção dire-ta na matéria, seja por meio da leitura de livros, participação

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em trabalhos espíritas, orientação de encarnado para encarna-do, ou ainda com base na própria mensagem mediúnica. Mas ao passar pelo campo energético do corpo físico do encarna-do, a comunicação espiritual é comparada aos REGISTROS já existentes no campo, e se ela for incompatível com eles, sofrerá as adaptações necessárias para se assimilar com o que ali foi gravado. Portanto, aí reside a dificuldade de se fazer a alteração da linguagem espírita por via mediúnica. Ao se ten-tar fazer essas alterações através dos mecanismos da mediuni-dade sempre haverá essa adaptação para o que já existe na doutrina. Mas como solucionar esse impasse? Criando novos registros com as alterações devidas aqui na própria matéria. Eis a razão primeira desse trabalho a que fomos convocados a elaborar. Por meio desse início de mudança na linguagem, ao ser introduzido através de um livro, por exemplo, as pessoas terão maior oportunidade de usar o seu raciocínio e absorver essa nova maneira de entender e de expressar o espiritismo. Feito isso, as pessoa encarnadas que irão servir de intermediá-rios na comunicação espiritual não mais censurarão essa lin-guagem natural e essa nova forma de entender os ensinamen-tos espíritas porque já terão acolhido em seus registros esses novos dados. Essa explicação deverá responder a muitos que estarão perguntando por que essa mudança de linguagem não foi introduzida pelos meios mediúnicos conhecidos. A esse respeito podemos acrescentar que além da censura do próprio Ser Humano encarnado que recebe a comunicação espiritual, existe a censura dos órgãos controladores do espiritismo aqui na matéria. Se comunicações espirituais chegam ao mundo físico e não se enquadram nos padrões já conhecidos e acei-tos, podem ser censuradas. O conhecimento é infinito e a dosagem a ser ministrada ao homem deve ser de acordo com a sua capacidade de entender. Mas isso não significa que aqui-

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lo que foi oferecido ao homem encarnado esgota o assunto. Do mesmo modo, a forma pela qual os ensinamentos foram colocados aqui precisa de uma revisão não por defeito ou erro da fonte, mas porque agora existe maior capacidade de enten-dimento do receptor.

Estamos nos aproximando de momentos de grandes transformações. A Terra não será a mesma e o Ser Humano que a habita com certeza não poderá ser o mesmo na sua ma-neira de sentir, pensar e agir. O homem animal necessaria-mente terá que dar vez ao homem racional. Para que isso ocorra ele tem pela frente uma tarefa muito difícil que é aprender a dominar o seu corpo material. Esse aprendizado poderá levar uma ou mais encarnações. Mas isso não importa. O que são algumas dezenas de anos, ou séculos frente à eter-nidade da vida? Uma gota de água no oceano? Talvez nem isso. O importante é começar. Procurar entender o outro lado da vida de uma forma um pouco diferente já é um bom co-meço. E esse bom começo vai depender do apego que o ho-mem demonstrar aos conceitos até agora vigentes dentro do espiritismo. Se esses pontos que precisam ser mudados forem como uma planta com raízes fortes e profundas, difícil assim de ser mudada, então esse homem levará muito mais tempo para entender o novo espiritismo de que falamos. Por outro lado, o homem que procurar usar o seu raciocínio puro e não sua crença terá maior facilidade para compreender o funda-mento de verdade que existe em tudo que foi explicado até aqui.

Todos sem exceção chegarão a esse novo entendimento do espiritismo e do mundo espiritual. Uns chegarão primeiro, outros depois, mas todos, com certeza, chegarão.

Por último, queremos deixar o registro de que tudo o que foi dito nas páginas anteriores trata-se de um início da

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mudança que precisa ocorrer no espiritismo. Dias virão em que teremos que reescrever este livro alongando e aprofun-dando os conceitos e clareando melhor essa nova linguagem que precisamos adotar. O tempo não permite o maior deta-lhamento, pois a marcha urge iniciar.

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Glossário

ACIDENTE – Grande catástrofe ocorrido, há muitos milênios, em nosso sistema solar. Houve, naquela época, o rompimento da camada atmosférica protetora da Terra, per-mitindo, assim, a passagem da radiação solar com grande in-tensidade. Com isso, ocorreu o bloqueio energético do cére-bro humano.

AUTOCONSCIÊNCIA – Condição de consciência sempre desperta do Ser Humano que lhe permite ter domínio de seu corpo físico e conhecer-se agora e antes, viver o passa-do e o futuro no presente.

CONSCIÊNCIA – Atributo do Ser Humano que sabe

que viveu no passado, vive no presente e viverá no futuro, pois tem a eternidade como certeza.

CONSCIÊNCIA PLENA – O mesmo que autoconsci-

ência. FREQUÊNCIA CEREBRAL – É o número de vezes

em que a energia armazenada na base craniana é lançada para a parte frontal da cabeça.

FREQUÊNCIA EXTRAFÍSICA – O mesmo que

mundo espiritual. IMPULSO CEREBRAL – É o lançamento da energia

armazenada na base craniana para a parte frontal da cabeça.

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QUEM É VOCÊ? O QUE É VOCÊ? POR QUE VOCÊ? – Perguntas que somente o Ser Humano encarnado plenamente consciente pode responder, significando que aquele que sabe QUEM É ELE conhece o seu passado em outras vidas; aquele que sabe O QUE É ELE conhece pro-fundamente o seu corpo físico; e finalmente aquele que sabe POR QUE ELE tem conhecimento dos motivos que o leva-ram até aquele lugar, a possuir aquele corpo naquelas condi-ções e a vivenciar as suas experiências do presente.

REGISTRO – Ato de gravar, de forma permanente, na

memória do Ser Humano tudo que ele vivencia ou que lhe é informado. Constituindo, assim, um arquivo próprio da pes-soa.

REGISTRO DE MATÉRIA – Ato de gravar, desde a

criação, na memória do Ser Humano o caminho da matéria para suas vivências. Significa que, possuindo esse registro a pessoa sempre irá encarnar em um corpo físico, pois sempre sentirá necessidade dele e somente nele estará completa.

SAÍDA DA MATÉRIA – É a saída temporária do Ser

Humano (espírito) de seu corpo. VIBRAÇÃO CEREBRAL – É a energia desprendida

pelos impulsos cerebrais.

Edição e Digitação Luís Cavalcanti Março de 2011

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A MAIS RECENTE OBRA DO AUTOR

A origem da humanidade, a busca original da consciên-cia, a causa e as consequências da inconsciência humana são temas centrais desta obra.

Quem somos nós e para que levantamos um corpo físi-co nesta parte do Universo são fatos que também se revestem de grande importância.

As viagens fora do corpo físico e o aprendizado no Mundo Espiritual são conhecimentos de especial relevância que a todos beneficia.

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A possibilidade de falar com Deus é real e verdadeira para aqueles que em verdade desejarem. Infelizmente poucos sabem disso, mas muitos a ignoram.

Quando aprendemos a ouvi-Lo, Ele então nos fala por entre nossos pensamentos e, nesse momento, a dúvida se esvai e a certeza se dá;

Conhecer-se a si mesmo é revelar a dor. A revelação da dor é começo do processo de cura. A cura de si mesmo con-duz à conquista da consciência e ao encontro com o Pai.

Publicado em 2008, 1ª edição, 272 páginas.

Thesaurus Editora

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