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1. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como produto final um vídeo-documentário que conta a história
do artista Ivo Rodrigues, com ênfase na década de 80, tendo como fundo o cenário
musical curitibano e a banda Blindagem, a qual Ivo Rodrigues fez parte nos últimos trinta
anos. O vídeo-documentário, portanto não se trata de uma biografia completa da vida de
Ivo Rodrigues, mas sim de fragmentos de sua carreira musical e pessoal.
O documentário tem como objetivo contextualizar momentos da carreira de Ivo
Rodrigues com fragmentos do cenário musical da cidade na década acima citada,
resgatando a memória de um artista relevante para a cultura paranaense. Retratando
também como era para uma das primeiras bandas de rock que surgiu na cidade, fazer e
viver de música naquele contexto.
Para a fundamentação teórica foram utilizados autores que falam sobre jornalismo
cultural, como Daniel Piza e J.S. Faro. Também utilizamos autores que tratam do tema
vídeo-documentário como Silvio Da-Rin e Bill Nichols. Sobre biografias e entrevistas, os
métodos utilizados para construir o documentário, autores como Cremilda de Araújo
Medina, Sérgio Vilas Boas e Antônio Carlos Gil.
Também foram utilizados temas como Identidade Cultural da época resgatada,
com os autores como Frederik Barth e Danys Cuche. O documentário tem como uns dos
objetivos resgatar e registrar este pedaço da história e cultura paranaense.
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2. DELIMITAÇÃO DO TEMA
Aqui tratamos o tema do trabalho proposto, que registra um fragmento da música
paranaense. Falaremos sobre a história da música ma cidade, o tratamento da mídia com
este segmento. E também que é Ivo Rodrigues e a Banda Blindagem.
2.1 HISTÓRIA DA MÚSICA EM CURITIBA
Na Curitiba do século XIX, Bento Menezes foi a figura de maior projeção no campo
musical. Fundador do Jockey Clube do Paraná, chegou a fazer apresentações públicas a
pedido do Imperador D. Pedro II e também fez parte da primeira “Banda de Música da
Capital”, integrada à Polícia Militar do Paraná, que até então era a única organização
musical oficializada no Estado do Paraná, participando de festas oficiais e civis. Em 1883,
por medidas econômicas, a banda chegou ao fim.
Quem também se destacou nesse período foi a família Itiberê. Os irmãos Brasílio e
João chegaram a formar duplas de projeção nacional. E o “Trio Paranaense”, fundado por
Charlote Frank, Renée Devrain Frank e Bianca Bianchi, que mais tarde foram professoras
da Escola de Música e Belas Artes do Paraná.
Para a historiadora Roselys Velloso Roderjan as bandas nessa época eram
indispensáveis em comemorações oficiais e festas populares. Para a historiadora
“Impressionante é o realce que se dá às bandas nos relatos das festas e comemorações,
fazendo-nos afirmar que foram elas a grande diversão da sede da Província, tendo o
mesmo acontecido nas cidades do interior” (RODERJAN apud SOUZA NETO, 2003,
p.48).
Foi no início do século XX que surgiram as primeiras gerações de instrumentistas,
pois as bandas particulares e orquestras familiares eram comuns. A música era ensinada
como complemento da educação e recreação. Era comum também a importação de
instrumentos musicais da Europa, que vinham direto para os portos de Paranaguá e
Antonina. A música que só podia ser apreciada através de bandas e orquestras locais
começa a ser difundida por meios mecânicos, como o rádio. E novos gêneros musicais
começam a surgir no Brasil. “Até o advento da Bossa Nova, anos de 1950, a música
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nacional esteve estagnada, pois nem mesmo as influências internas ou externas
conseguiram mudar significativamente o panorama musical brasileiro.” (ARANTES apud
SOUZA NETO, 2003, p.153).
No início da década de 1960, surge a Jovem Guarda, que divide espaço e
sucesso com a Bossa Nova e o fenômeno mundial do rock’n roll – e mais tarde com o
movimento da Tropicália - por todo o País. Segundo Arantes (2003), o rádio e a televisão
foram decisivos para a difusão da Jovem Guarda no Paraná. O maior exemplo foi o
programa Cabeludos pela Marumbi do radialista e produtor Mário Celso, que era
direcionado à juventude curitibana, e onde também se apresentavam ao vivo, atrações da
música local.
Ainda, segundo Arantes, estes estilos musicais faziam sucesso na capital
paranaense porque Curitiba, na época, tinha uma população constituída, em sua maioria,
por jovens. Conforme demonstram os censos realizados na cidade em 1960 e 1970. Em
1960, a população era de 515.141 habitantes em Curitiba. 290.732 eram jovens de 0 a 24
anos de idade. Já em 1970, a população era de 821.233 habitantes e 477.360 eram
jovens de 0 a 24 anos.
Entre os anos 60 e 70, começam a surgir em todo o Estado, com mais
intensidade na capital, conjuntos musicais influenciados pelo surgimento do Rock’n Roll e
da Jovem Guarda no Brasil. Eram conjuntos amadores formados por adolescentes entre
15 e 17 anos. The Snakers, Os Juvenis, Os Falcons, Os Carcarás e Os Metralhas que,
devido ao sucesso e profissionalismo, fizeram turnês internacionais em países como
Paraguai, Peru, México, Argentina, Chile e Estados Unidos”. (ARANTES apud SOUZA
NETO, 2003, p. 154).
Neste mesmo período, porém, não existiam gravadoras no Paraná. O artista
que quisesse gravar seu disco tinha que se deslocar até São Paulo. E isto era muito
comum. Os artistas gravavam seus discos na capital paulista e depois divulgavam e
vendiam em suas apresentações e nos bailes em Curitiba, Maringá, Londrina, Paranaguá.
Segundo Arantes (2003), em Curitiba, o rock’n roll e a Jovem Guarda se
destacavam de outros estilos musicais. Os meios de comunicação foram os principais
responsáveis deste destaque. Os dois canais de televisão da cidade e as emissoras de
rádio mantinham uma programação que se destacava entre os jovens. Programas de
televisão, como Ponto 6, A Festinha dos Metralhas e Alô Juventude e os de rádio, como o
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de Lourival Neves na Rádio Curitibana, Paulo Hilário na Rádio Colombo, Dirceu Graeser
na Rádio Clube foram os grandes responsáveis pela disseminação dos gêneros na
capital.
Além disso, jornais e revistas tinham colunas como a TV Programas para
divulgar o movimento jovem.
O Paraná, excetuando Rio de Janeiro e São Paulo, foi um dos raros e poucos Estados do Brasil a conseguir destaque no meio musical voltado à juventude na década de 1960. Cada bairro de Curitiba, cada município do Estado possuía um conjunto que tocava em bailes, festas e aniversários num momento raro da cultura paranaense, em que se produziu e consumiu música no próprio Paraná. (ARANTES apud SOUZA NETO. 2003 p. 156).
2.1.1 O CENÁRIO DO ROCK EM CURITIBA
Entre 1955 e 1960 o rock foi difundido no Paraná e em Curitiba através dos meios
de comunicação, como a televisão e o rádio. Segundo o produtor musical Manoel J. de
Souza Neto em seu livro A [des] Construção da Música na Cultura Paranaense, o rock,
nesse período, era apresentado apenas como uma curiosidade, não existiam grupos do
gênero. Algumas Big Bands locais incluíam o rock em seu repertório apenas para
acompanhar cantores em suas apresentações. O novo estilo musical ainda não era
comercializado por aqui. Só quem trazia discos de rock do exterior podia ouvir em sua
casa.
Inicialmente, alguns críticos comparam o novo gênero com o folk, o country norte-
americano e até mesmo o fandango, pois por sua simplicidade de construção musical era
ouvido pelas classes mais baixas da sociedade. Só na década de 1960, com o surgimento
da banda inglesa The Beatles e sua abundante repercussão, que o gênero do rock
começou a ser visto com mais seriedade por parte dos críticos.
O comportamento de se esperar era que se fizessem então festas de arromba, quebra-quebra nos cinemas, juventude transviada e descontrolada gritando pelas ruas. Mas, ao contrário do estardalhaço que se esperava, apareceram apenas algumas notinhas nos jornais dizendo que o rock não prestava e não era recomendado aos jovens. Apenas algumas pessoas se aventuraram na rebeldia. (SOUZA NETO 2003 p. 173).
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Ainda segundo Souza Neto (2003), o rock que chegou a Curitiba não veio
acompanhado de rebeldia e som alto. O rock de Curitiba “era um rock caipira,
comportado, domesticado e transformado e produto pela mídia, que coube como uma
luva nas emissoras de rádio paranaenses... já que a sociedade paranaense não estava
preparada para o rock’n roll.” (SOUZA NETO, 2003. p. 286).
Em 1958, quando o rock ainda era uma novidade na capital paranaense,
Sansores França realizou o show de calouros do programa Clube da Juventude na rádio
Tingui. Durante uma destas apresentações houve um encontro entre Paulo Hilário e
Vitório dos Santos, dois jovens entusiastas do gênero do rock na época. Com estas
apresentações nas rádios, veio a idéia de unir um grupo de rock para tocar em festas de
amigos e shows de calouros. O grupo passou a se chamar Little Devils. Um ano mais
tarde e com mais um integrante (o radialista Dirceu Graeser), o grupo conseguiu um
programa na rádio Guairacá, intitulado Ídolos da Juventude. Segundo Neto, este
programa marcou a mais importante “parceria na articulação roqueira do estado do
Paraná daquela época”. Desde então, artistas locais passaram a ter mais espaço nas
emissoras de rádio e televisão e em questão de pouco tempo surgiram mais e mais
bandas com músicas autorais.
Segundo Souza Neto (2003), foi na década de 1970 que as bandas de rock
local deixadas um pouco de lado pelo surgimento da disco music, começam a compor
com mais frequência. Foi nesse cenário que surgiu a banda A Chave.
A banda começou como várias outras, tocando em bailes, mas logo entraram
nas rádios locais com suas próprias criações, chegando a tocar também em rádios de
todo o circuito nacional. Consolidando o gênero do rock em Curitiba.
A Chave permaneceu no cenário do rock curitibano até 1979, quando com uma
divisão de integrantes deu lugar à banda Blindagem.
2.1.1.1 AS DÉCADAS QUE MARCARAM O ROCK NA CAPITAL
É na década de 80 que começam a surgir muitas bandas pelo Brasil. Isso
acontece porque os instrumentos já não são mais tão caros, assim como alugar estúdios
e gravar cds.
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É também nos anos 80, segundo o jornalista cultural Rodrigo Duarte (2003),
que começam a surgir as “tribos urbanas”, termo criado pela mídia na época para definir
grupos urbanos. E com o crescimento de um público interessado na cena rock, o gênero
ganha ainda mais força na cidade, com o surgimento de grandes grupos que fizeram
história e o crescimento de alguns já formados. Entre eles: Blindagem, Beijo AA Força, Os
Catalépticos, entre outros.
A virada dos anos de 1980 para 90 podem ser considerados os anos em que vai surgir a estrutura básica da cena local. Se antes existiam bandas, shows e alguns bares alternativos, agora começam a surgir programas de rádio, cadernos culturais, mais bares, lojas de discos, selos independentes. (DUARTE apud SOUZA NETO, 2003 p. 397).
É na virada dos anos 80 para os 90 que o rock local ganha mais destaque, não
apenas pela mídia, mas também por donos de casas noturnas, que começam a ceder
espaço para bandas de rock tocar ao vivo. “Bares como Cabareth Voltaire, Hole, Bardo
Cardoso, Hell, Poeta Maldito e Circus Bar foram espaços para shows que duraram pouco,
mas tiveram papel importante no início da década de 90.” (DUARTE apud SOUZA NETO,
2003, p. 399).
Ainda segundo Duarte, muitos bares dessa época foram responsáveis pelo
aumento do público em shows de banda locais, como o AeroAnta, Syndicate, Mary Jane
Pub, Jail Bar, entre outros.
Muitas lojas de discos também davam apoio a bandas locais, como é o caso da
Jukebox, que na metade dos anos 80, vendia discos de bandas locais de rock e metal. A
801 Discos, a Temptation Discos e a CD Club também eram lojas que ajudavam as
bandas de rock locais vendendo seu material na década de 1990. “Vale citar que todas
essas lojas eram as que mais apoiaram fanzines na cidade, além de ajudar a divulgar
shows de bandas.“ (DUARTE, 2003, p. 401).
Foi também nos anos 80 que surgiram os Festivais no cenário musical
underground da cidade. Um dos primeiros foi o projeto Radioatividade do Guairinha.
“Bandas como Paz Armada, Beijo AA Força, DeFalla e Cólera passaram pelo projeto.
Infelizmente, este não durou muito porque a direção do Teatro Guairá não via com bons
olhos o descontrole nas instalações do teatro.” (DUARTE apud SOUZA NETO, 2003, p.
403).
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Nesta mesma época também surgiu o “Paiol em Pólvora”, no Teatro Paiol. O
“BIG” (Bandas Independentes de Garagem), no bar Ninety Two Degrees, O National
Garage, no Círculo Militar, o “Rock de Inverno”, entre outros. Muitos existem até hoje.
Já nos anos 90, surgiram os selos independentes. Segundo Duarte (2003), o
selo independente acaba conquistando mais espaço na mídia do que o artista que lança
disco de forma independente. Os selos estabelecem mais contatos, possibilitando um
destaque maior para o artista. Como o Barulho Records, o Franzini, o De Inverno
Records, que lançaram coletâneas e discos independentes com tiragens menores.
No cenário nacional, o rock estourava e as grandes gravadoras iam atrás de
novos grupos com potencial de sucesso instantâneo entre os jovens, que eram os
grandes consumidores do gênero. “O sonho das bandas paranaenses tornou-se entrar
nessa febre nacional, mesmo que de forma inconsciente. Marca Registrada, Beijo AA
Força, entre outras, tentaram, mas não conseguiram.” (SOUZA NETO, 2003, p. 662)
Todos corriam atrás do sucesso, exceção apenas daqueles que preferiam fazer um som alternativo, ou seja, música de porão. O tempo passava e nem sinal do ouro para os paranaenses. O grupo que chegou mais próximo foi o Blindagem, que lançou discos através de gravadoras como Continental, Polygram e Warner, mas sem emplacar na grande mídia. (SOUZA NETO, 2003 p. 663).
Estas décadas também foram marcadas pelo surgimento de “cadernos
culturais”. Os dois mais importantes suplementos culturais (de música, principalmente)
encartados em jornais ditados na cidade, foram o Trendie nos anos 80 e o Caderno Fun,
nos anos 90. Segundo Duarte (2003), o caderno Trendie era de um visual mais agressivo
e linha editorial descompromissada e vinha como suplemento do jornal Correio de
Notícias. Inicialmente como coluna, mais tarde como tablóide. Fazia a linha fanzine1, sem
obedecer ao jornalismo padrão. Divulgava os artistas locais, especialmente os músicos
underground, os fanzineiros e os poetas. Já o Caderno Fun era mais comportado. Suas
edições foram publicadas pelo jornal Gazeta do Povo entre os anos 1996 e 2000. O Fun
foi muito importante para a cena local, pois abriu um grande espaço para as bandas
curitibanas, publicando artigos, resenhas e matérias variadas. Foi o caderno de segmento
1 Fanzines: Abreviação de fanatic magazine. Surgiu no fim da década de 70 junto ao movimento punk na Inglaterra. Trata-se de uma publicação independente e despretensiosa, com liberdade de expressão e de conteúdo, sem nenhum padrão específico.
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jovem com a maior tiragem no Estado, chegando a 60 mil exemplares semanais,
publicados às sextas-feiras.
2.2 A MÍDIA E O CENÁRIO MUSICAL DE CURITIBA
A maioria dos veículos de comunicação paranaenses, principalmente os que se
encontram na capital, tem uma programação voltada à música local. A Rádio 91Rock, por
exemplo, tem o programa Cena Independente, que é transmitido todo domingo ao meio
dia, e voltado às bandas independentes da cena local. Na Internet, existem diversos blogs
e sites que dedicam seu espaço à música local, com críticas e entrevistas de artistas
paranaenses, como, por exemplo, o site Mondo Bacana, criado pelo jornalista Abonico
Ricardo Smith e as colunas na Gazeta do Povo online, como A Noite Toda de Luigi
Poniwass e Sobretudo de Luiz Cláudio Oliveira.
Na televisão, o programa PLUG da RPC (Rede Paranaense de Televisão), que
é voltado ao público jovem, também cede bastante espaço à música da cidade e do
Estado, assim como a TV Educativa, que dedica um grande espaço na sua grade de
programação para a música local. No formato impresso temos os jornais Estado do
Paraná com o caderno Almanaque, Gazeta do Povo com o espaço Caderno G, entre
outros, como o Jornal do Estado que também possui espaço para a cultura local.
Segundo o jornalista Rodrigo Duarte (2003) foi ao fim da década de 1980 que
começou uma movimentação da mídia em torno da música local. “Apesar de não ser o
objetivo principal da cena, alguns grupos tiveram boas chances de alcançar uma projeção
maior. A cena começou a ter uma divulgação maior no cenário musical nacional”.
(DUARTE apud SOUZA NETO, 2003, p. 394).
Mas isso não durou muito tempo, logo as gravadoras passaram a ditar as
regras e interferir diretamente na produção e imagem dos artistas. “Isso, associado aos
acordos entre gravadoras e veículos de comunicação, levou o “jabá” a níveis
insuportáveis, tornando a mídia potencialmente arrasadora e excludente para a cultura
paranaense”. (SOUZA NETO, 2003, p. 662).
Para o jornalista curitibano Ivan Santos (2004), o público da capital paranaense
não dá atenção para a produção cultural da cidade, preferindo consumir o que vem de
fora. Dificultando assim uma identidade cultural própria da cidade de Curitiba.
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A programação das rádios de Curitiba é uma simples mimetização das do eixo
Rio-SP. Entretanto, alguns espaços específicos se abriram em três emissoras: A
rádio Educativa tem aberto muito espaço para artistas locais (não só de rock, mas
também de mpb, jazz, instrumental, etc). Também a 96 FM criou um projeto
chamado Geração Pedreira, que passou a abrir espaço sistemático na
programação da rádio para as bandas locais, divulgando shows, tocando as
músicas, etc. Na Transamérica, quem abriu espaço foi o Mauro Mueller, locutor,
produtor e também músico que tem tocado som de bandas locais independentes
em seus horários. Fora isso, o que rola mesmo é o que você escuta nas rádios de
qualquer capital brasileira. (SANTOS, 2004)
O tratamento dado pela mídia local à bandas curitibanas foi melhorando
gradualmente. “Graças à insistência/persistência das pessoas que produzem, dos
músicos, das próprias bandas e de uma abertura maior de espaços na mídia local.”
(IVAN, 2004).
Mesmo com a atenção que a mídia local dá aos artistas paranaenses, não é o
suficiente para alçá-los ao cenário nacional. A banda que mais se aproximou disso foi a
Blindagem.
2.3 BANDA BLINDAGEM
Até hoje considerada pelos seus fãs como “a cara do rock paranaense”, foi a
primeira banda do estado a conseguir destaque no cenário nacional. A repercussão do
grupo se deu através das rádios de todo o país, apresentações em São Paulo, Rio de
Janeiro, inclusive na Itália na década de 80, e aparições nos principais programas de
televisão da época. A banda foi formada inicialmente pelo vocalista Ivo Rodrigues, Paulo
Teixeira, Alberto Rodriguez, Paulo Juk e Rubén Romero.
Em 1981, a banda lançou seu primeiro LP intitulado “Blindagem”, pela
gravadora Continental. Nos anos seguintes, eles lançaram mais quatro compactos por
diferentes gravadoras. Em 1987, gravaram o segundo LP, “Cara x Coroa”, de forma
independente. Em 1998 foi reeditado para CD pela MNF Brazil. E em 1990 o LP
Blindagem também foi reeditado, com o acréscimo de duas músicas (Se houver Céu e
Verdura) criadas e cantadas pelo poeta paranaense Paulo Leminski. Em 1997, a
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Blindagem lança, de forma independente, o álbum Dias Incertos, também com as criações
de Leminski.
Em 2008, a banda lançou seu primeiro DVD, gravado ao vivo na apresentação
do festival Rock em Concerto, em parceria com a Orquestra Sinfônica do Paraná. Esta
primeira apresentação foi transmitida na íntegra pela Paraná Educativa. Essa parceria se
estendeu até 2010. Houve também outros espetáculos mais teatrais envolvendo a banda,
como o “Rock Horror Show”, em 1982, dirigido por Antônio Carlos Kraide, em que eles
dividiam o palco com atores no Teatro Guaira.
Desde 1997 a banda não lança novos discos. “Mas o Blindagem era uma
espécie de instituição que, mesmo sem lançar um disco de inéditas há treze anos,
continua saltitante pelos palcos do Paraná” (REBINSK, 2010)2
O jornalista Luiz Cláudio de Oliveira (2003) em entrevista cedida a Manoel Neto
diz reconhecer a importância da banda Blindagem. “Devemos reverenciar o Blindagem
por ser uma das primeiras bandas de rock de Curitiba. Mais que isso, eles têm o mérito de
estar na estrada até hoje, fazendo um som de qualidade.” (2003, p. 312).
Mas o que mais se destacou na banda Blindagem em todos esses anos foi sem
dúvida o seu líder, Ivo Rodrigues.
2.4 IVO RODRIGUES, “A CARA DO ROCK PARANAENSE”
Ivo Rodrigues nasceu em Porto Alegre e veio para Curitiba aos três anos de idade.
O contato com a música começou quando ainda era jovem, em programas de auditório
em rádio e televisão. Estudou no Colégio Adventista Paranaense e era apaixonado por
futebol. Seu time era o Coritiba Futebol Clube e em 2001 participou do programa Globo
Esporte, relembrando momentos importantes do seu time e pedindo paz às torcidas em
campo.3
Em 1966 participou do programa Troféu Barra Limpa na TV Paranaense, que
premiava cantores e conjuntos do Sul do País. Foi neste programa que Ivo conheceu
Paulo Teixeira, que se apresentava com sua banda Os Jetsons, que mais tarde se
2 Informações retiradas do site oficial da banda. 3 Informações retiradas do site oficial da banda e também cedidas por Ivan Rodrigues, filho de Ivo.
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tornaria A Chave. Ivo foi premiado no Troféu Barra Limpa como melhor cantor. E como
prêmio ganhou um programa semanal na TV Paranaense, chamado Juventude Alegria.
Ivo voltou a encontrar a banda A Chave em 1969 durante uma apresentação
que ambos faziam na Reitoria da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e passaram a
se apresentar juntos. O primeiro show da nova parceria foi o espetáculo “Adeus 70”, no
Círculo Militar do Paraná. Ivo não conseguiu o sucesso que pretendia nacionalmente,
diferente do seu conhecimento no Paraná que o fez até se candidatar a vereador.
Além da banda, Ivo cantava em bares do centro da cidade. Era conhecido
pelos amigos como Tia Marli, por conservar um cabelo comprido e cacheado. “Essa figura
era um ícone tão importante quanto a gralha azul ou a araucária para os paranaenses.
Sua voz potente poderia ser reconhecida até mesmo por um recém-nascido curitibano”
(REBINSKI, 2010).
Em 2009 fez uma cirurgia de transplante de fígado, a qual esperava na fila
havia três anos. A partir de então teve várias complicações decorrentes da cirurgia.
Chegou a fazer shows com um dreno. No dia 09 de abril de 2010, aos 61 anos, faleceu de
uma parada cardiorrespiratória, decorrente de um câncer descoberto dias antes. (ANIBAL,
ANGELI, 2010).
A problematização deste projeto surgiu quando constatou-se a importância de
resgatar a memória de um dos mais importantes artistas do Paraná, uma figura
interessante e muito relevante para a cultura local. E, além disso, registrar o contexto da
cena musical paranaense em que se encontrava a banda Blindagem e seu líder no ápice
da sua carreira, que foi a década de 1980.
Como representar por áudio-visual fragmentos do cenário musical dos anos 80
em Curitiba por meio de uma biografia de Ivo Rodrigues?
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3. OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Retratar momentos da trajetória musical e pessoal de Ivo Rodrigues por meio de
um vídeodocumentário biográfico.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Representar algumas características do cenário musical na década de 80, em
que se encontrava no auge a Banda Blindagem e seu líder Ivo Rodrigues. Como era o
tratamento da mídia e porque a banda não alcançou o grande público.
- Resgatar a memória de Ivo Rodrigues, um ícone do cenário de música local.
- Registrar os últimos anos e os últimos dias de Ivo Rodrigues num
vídeodocumentário construído com métodos jornalísticos.
- Contribuir com o acervo cultural do Paraná.
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4. JUSTIFICATIVA
Este trabalho tem como resultado final um vídeo-documentário biográfico sobre o
artista paranaense Ivo Rodrigues contextualizando sua história com o cenário musical da
cidade de Curitiba na década de 80 e a de sua banda Blindagem. Optou-se por esta
década por ser o momento em que o rock começa a crescer na cidade e a banda
Blindagem se tornou então, um ícone local do gênero.
Segundo uma pesquisa4 criada pelo site da rádio 91Rock, a banda Blindagem é a
maior banda da história musical da capital paranaense. Das duzentas pessoas que
responderam a seguinte questão: Qual é a maior banda da história da música de
Curitiba? 92% responderam Blindagem.
O tema proposto pelo projeto tem sua relevância social justificada por ser um
resgate de memória cultural sobre um artista (Ivo Rodrigues) que veio a ser o principal
ícone do rock paranaense até hoje.
Optou-se pelo formato de vídeodocumentário por se tratar de um tema cultural
relacionado à música, com muitas imagens de arquivo, sendo mais interessante optar
pelo áudio-visual. “O documentário, com seus padrões dramáticos e sua capacidade de
capturar a imaginação das platéias, possuía um grande potencial a ser explorado no
campo da difusão de valores e formação da cidadania.” (DA-RIN, 2004, p. 56)
Em 2006, os cineastas Débora Rodrigues dos Santos e João Francisco Hoffmann
produziram um curta-metragem sobre o artista, intitulado “Voz Disfarçada de Gente”. O
curta de 7 minutos e 44 segundos conta um pouco da história de Ivo Rodrigues narrado
pelo próprio. Além do curta e de algumas reportagens para a televisão e jornais, não há
nenhum material no acervo cultural paranaense que aborde mais profundamente a
história desta banda e o contexto em que se encontrava na cena musical da década de
80. Isto justifica a originalidade deste projeto.
Para o jornalismo, fica a contribuição de um tema baseado em um nome
expressivo da música paranaense deixado em forma de documentário. Contribuindo para
futuras pesquisas no campo do jornalismo cultural regionalizado que o faz aproximar da
cultura local beneficiando artistas, pesquisadores, simpatizantes e fãs do artista.
4 Pesquisa feita no mês de Novembro de 2007.
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5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
5.1 A IDENTIDADE CULTURAL Apesar da grande ligação não se pode confundir noções de cultura e
identidade cultural. A cultura pode existir sem consciência da identidade, já as estratégias
da identidade podem manipular e até modificar uma cultura que não terá quase nada em
comum com o que era anteriormente.
5.1.1 A IDENTIDADE DO ROCK NOS ANOS 80
A cultura depende grande parte de processos inconscientes. A identidade
remete a uma norma de veiculação necessariamente consciente. Segundo Danys Cuche,
o conceito de identidade cultural se caracteriza por uma “polissemia e fluidez”. A questão
da identidade cultural remete a questão mais abrangente da identidade social5, da qual
ela é um dos componentes.
A identidade permite que o indivíduo se localize em sistema social e seja localizado socialmente. A identidade social é ao mesmo tempo inclusão e exclusão: ela identifica o grupo e o distingue. Nesta perspectiva, a identidade cultural aparece como uma modalidade de caracterização da distinção nós/eles, baseada na diferença cultural. (CUCHE, 2002, p.177).
Na perspectiva da cultura como herança, a identidade remete necessariamente
ao grupo original de veiculação do indivíduo. As raízes seriam o fundamento de toda
identidade cultural, isto é, aquilo que definiria o indivíduo de maneira autêntica. “A
identidade é sempre a resultante da identificação imposta pelos outros e da que o grupo
ou o indivíduo afirma por si mesmo”. (DEVEREUX).
Neste contexto, a identificação de um grupo ou indivíduo se dá a partir do
repertório que o fará se identificar com os demais. Desta maneira, a identidade é passada
através de gerações que mantêm a cultura viva imposta desde as suas raízes. É a
maneira de subtrair o indivíduo e o colocar numa posição única dentro da sociedade.
5 A identidade social de um indivíduo se caracteriza pelo conjunto de suas veiculações em um sistema social; veiculação a uma classe sexual, a uma classe de idade, classe social, de nação, etc. (DANYS CUCHE, 2002, p.177)
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Para Frederik Barth (1969) no processo de identificação, o principal é
estabelecer “fronteira”. Resulta de um compromisso entre o que o grupo pretende marcar
e a que outros querem lhe designar. Em certos casos podem ter compensações
territoriais. O que cria a separação “fronteira” é a vontade de se diferenciar e não as
diferenças etnoculturais e o uso de certos traços culturais como marcadores de sua
identidade específica. Nas sociedades tradicionais, o passado é venerado e os símbolos
são valorizados porque contém e perpetuam a experiência de gerações. A tradição é um
meio de se lidar com o tempo e espaço. (GIDDENS,1990, p. 33-8).
Deste modo, a identificação requer uma hegemonia que vem através de uma
imposição delegada e autônoma. Neste processo se dispensa a cuidado com as raízes
culturais. Estabelecer fronteira trás vínculos e proximidade entre indivíduos.
Nas tradições do pensamento Marxista “os homens fazem a história, mas
apenas sob a condição de que lhes são dados”. De acordo com a tradição, os indivíduos
não poderiam de nenhuma forma ser os “autores” ou os agentes da história, uma vez que
eles podiam agir apenas com base em condições históricas criadas por outros e sob os
quais eles nasceram, utilizando os recursos materiais e de cultura que lhes foram
fornecidos por gerações anteriores. Assim a identidade seria realmente algo formado ao
longo do tempo. (HALL, STUART, 2005, p. 34)
O fenômeno da exaltação da diferença que surgiu nos anos 70 levou tendências ideológicas diversas e opostas a fazer apologia da sociedade multicultural e a exaltação da idéia de cada um por si para manter uma identidade. “há o desejo de se ver cultura em tudo, de encontrar identidade para todos”. (CUCHE, 2002, p. 175-76).
A produção musical do rock no Brasil surgiu num cenário em que a liberdade
de expressão começava a ganhar força e sentido ao mesmo tempo em que o sistema
político ditatorial perdia espaço com a chamada abertura política. A expressão musical do
rock tenta neste contexto através das letras de suas músicas, trazer a tona o espírito
libertário da expressão, o questionamento de problemas sociais e políticos. Com o
aprisionamento e as feridas que a ditadura militar, a sociedade desacostumou a essas
reivindicações. A perda da identidade e a retomada de uma nova realidade fez despertar
numa época em que a liberdade de expressão voltava a exercer e reivindicar seus
direitos. Neste cenário um dos movimentos importantes no início da década de 80 foi o
Rock’In Rio.
19
O primeiro Rock’In Rio em 1985 coincidiu com a eleição de Tancredo Neves,
primeiro presidente civil, após 1964, e se constituiu em um espaço para a manifestação
do poder jovem “silenciado” desde os anos 60. “Esta produção discurso-musical, aparece
como trilha sonora que embalou vários movimentos sociais em busca de mudanças na
contribuição de identidade” i. (FLÁVIA ZANUTTO, 2008, 1º JIED).
É preciso considerar a década de 80, não como um corte, mas como a continuação de processos e mudanças que ocorrem no interior da sociedade brasileira. Uma das questões está relacionada com a especificidade e o grau de autenticidade daquilo que é chamado de identidade cultural”. (Oliven, George Ruben, 1981, p.1).
Com um público segmentado o rock pode marcar diferenças em relação a
produção discursiva da identidade. Tal fato permitiu uma reflexão sobre a identidade
dessa geração seguidora desta vertente musical.
5.2 JORNALISMO CULTURAL
É necessário entendermos qual é o papel do jornalismo cultural atualmente e
qual sua influência no critério de escolha dos leitores que irão consumir produtos culturais,
como os de segmento musical, que é o tema deste projeto.
Segundo o jornalista Daniel Piza (2004), o jornalismo cultural é uma espécie de
ampliação ao acesso de produtos culturais. Esse tipo de jornalismo precisa saber
observar este mercado sem preconceitos ideológicos. “A função jornalística é selecionar
aquilo que reporta influir sobre os critérios de escolha dos leitores, fornecer elementos e
argumentos para sua opinião. Tem o dever do senso crítico, da avaliação de cada obra
cultural.” (PIZA, 2004, p. 45).
Para o jornalista J. S. Faro (2008), apesar de uma presença quantitativamente
significativa, “o jornalismo cultural ainda não conseguiu produzir em torno de si reflexões
acadêmicas que dêem conta de sua complexidade.” (FARO, 2008, p. 2) Faro, em sua
análise cita uma matéria do jornalista Breno Castro Alves para o site Comunique-se6, que
aponta as dificuldades enfrentadas por jornalistas dessa área.
6 Matéria de 20 de abril de 2006. Os desafios do jornalista que cobre Cultura. www.comunique-se.com.br
20
O jornalismo cultural se propõe a cumprir a tarefa de cobrir, analisar e relatar os principais expoentes da produção cultural do gênero humano, em áreas tão diversas quanto dança artes plásticas, teatro, música ou cinema e em regiões que vão desde o sertão nordestino até as estepes russas. (CASTRO ALVES, 2006, p. 3).
Para Piza (2004), as primeiras características de jornalismo cultural no Brasil,
surgiram na década de 30, com Mário de Andrade, que escrevia textos críticos sobre
música, literatura, folclore e artes visuais. Publicados na época pelo jornal Diário de São
Paulo e pela revista O Cruzeiro, que surgia nesta mesma época. Mas foi só em 1950 que
surgiram os chamados “cadernos culturais”, que eram junções de resenhas e artigos
críticos em um só suplemento. Hoje, este tipo de artigo crítico, ganhou espaço diário nos
periódicos.
Segundo Piza, as características que o jornalismo cultural possuía sofreram
alterações na atualidade. Muitas, causadas pelas crises financeiras que os jornais
impressos enfrentaram e ainda enfrentam. Quando o auge do jornalismo cultural teve fim,
as editorias de cultura davam espaços a “assuntos que não fazem parte das chamadas
“sete artes” (literatura, teatro, pintura, escultura, música, arquitetura e cinema), como
moda, gastronomia e design” (PIZA, 2004, p.41).
Além das restrições do jornalismo cultural, segundo Faro, outra dificuldade em
analisar o fenômeno reside no conceito pouco rigoroso com que o tema tem sido
estudado. “Um exemplo, são as afirmações segundo a qual ‘todo jornalismo é cultural’,
uma espécie de truísmo ao qual se segue quase sempre uma outra tautologia: ‘todo
jornalista é um intelectual’.” (FARO, 2008, p.5).
Para Piza (2004), o jornalismo cultural não deveria ser restrito a montar
agendas, mas também, analisar as influências que as manifestações de arte trazem para
a sociedade. Esta análise permitiria que o jornalismo cultural voltasse a ser feito como
antes e para isso o jornalista deveria voltar à imparcialidade. Indicando a qualidade do
produto, informando a respeito dele, como mediador cultural entre o público e o consumo
do produto artístico.
É o único meio, acredito, de vencer os preconceitos em relação à chamada indústria cultural – seja o preconceito que supõe que ela esteja a serviço de uma ideologia opressora e produza apenas massificação e jamais a grande arte, seja o que supõe que ela é a mera expressão direta da vontade da maioria e se limita a atender aos diversos gostos vindos da sociedade. (PIZA, 2004, p.43)
21
O jornalismo cultural, segundo Faro, além de sua dimensão informativa e
mercadológica, é também de categorias valorativas e históricas, negociadas entre os
vários jornalistas que a produzem.
A resenha, a crítica teatral, a crítica literária, a avaliação da filmografia, estão permanentemente formulando um olhar que extrapola o âmbito específico do fato motivador da pauta e do texto e se estende sobre a própria tensão decorrente da avaliação jornalística – ou da avaliação produzida para sua inserção no produto (o suplemento, a seção, a revista especializada). (FARO, 2008, p.5)
Para Faro, no jornalismo cultural ocorrem alguns trâmites em torno da
avaliação e da análise da produção do jornalismo cultural representada pelos eventos
artísticos do mundo social, razão pela qual diversos veículos com as características já
apontadas se prestaram à condição de interpretadores.
5.3 VÍDEODOCUMENTÁRIO COMO GÊNERO JORNALÍSTICO
Segundo o americano Bill Nichols, em seu livro Introdução ao Documentário
(2001), os filmes documentários diferem, significativamente, dos filmes de ficção. “Eles
estão baseados em suposições diferentes sobre seus objetivos, envolvem um tipo de
relação diferente entre o cineasta e seu tema e inspiram expectativas diversas no
público.” (NICHOLS, 2001, p. 17).
Mas não existe uma separação absoluta entre os dois gêneros. Alguns
documentários utilizam muitas ferramentas que podem ser associadas a filmes ficcionais.
Como roteiro, encenação e interpretação, por exemplo. E o contrário também acontece,
muito filme de ficção se utiliza de muitas práticas que também associamos à não-ficção,
como, não-atores, câmeras portáteis, improvisação e imagens de arquivo, por exemplo.
Para o brasileiro Silvio Da-Rin, o domínio do documentário funciona como
catalisador de questões históricas que ao longo dos anos receberam respostas
contraditórias. “Periodicamente novos movimentos e escolas aí se confrontam, dando
lugar a sucessivas configurações do documentário.” (DA-RIN, 2004, p. 19).
Segundo Nichols (2001), normalmente os cineastas recorrem a este gênero
quando querem uma representação de questões relacionadas direta ou indiretamente
com o mundo que compartilhamos. Muitos gostam de enfatizar esta representação fiel e
autêntica, que por muitas vezes minimizam qualquer importância que venha a ter o
22
gênero ou a percepção do cineasta. “A tradição do documentário está profundamente
enraizada na capacidade de ele nos transmitir uma impressão de autenticidade.”
(NICHOLS, 2001, p. 20).
Os cineastas escolhem muitas vezes representar pessoas que não conhecem,
mas que de alguma forma tipificam ou detêm um conhecimento especial sobre um
problema ou um assunto de interesse. Há também os cineastas que escolhem apenas
observar os outros, sem interferir diretamente em suas atividades, mesmo que
eventualmente corram o risco de alterar comportamentos ou acontecimentos. “Os vídeos
documentários apresentam a mesma complexidade, o mesmo desafio, o mesmo fascínio
e a mesma emoção que qualquer um dos tipos de filme de ficção.” (NICHOLS, 2001, p.
21).
Ao longo da história do cinema, foram identificadas diferentes tendências para
o documentário, segundo Da-Rin (2004), com objetivações peculiares, como plataformas
estéticas, práticas consideradas superadas e resgate de antecessores. O que mantém o
gênero agregado é o fato de seus membros compartilharem referências, gravitarem em
torno de uma mesma tradição.
Nichols (2001) questiona “Que obrigação têm os documentaristas com as
pessoas que são temas de seus filmes, no que diz respeito ao público ou à própria
concepção de verdade?” (Ibid., p. 37) E diz que a maioria dos cineastas quando
constroem documentários, agem como representantes dessas pessoas que estão sendo
filmadas, e não como um membro incluso naquela comunidade ou naquele tema em
particular. Mas que frequentemente ocorre tensões entre a vontade do cineasta em fazer
um filme marcante e o desejo dos indivíduos em ter respeitados seu direito e sua
dignidade. “Experimentamos uma forma distinta de fascínio pela oportunidade de
testemunhar a vida dos outros quando eles parecem pertencer ao mesmo mundo histórico
a que pertencemos.” (Ibid., p. 18).
Frequentemente, segundo Da-Rin (2004), o termo “atualidades” é empregado
como sinônimo de “documentário”, desde os primórdios do cinema, fazendo oposição às
“ficções”. Mas esta concepção, além de ser superficial, encobre um significado mais
amplo para “atualidades”, no contexto de uma sociedade de massa. “O documentário veio
ao mesmo tempo revelar e possibilitar uma nova percepção de um mundo agitado,
23
articulando-se com as notícias, os relatos e as fabulações que circulavam em outros
meios de comunicação.” (Da-Rin, 2004, p.31).
Segundo Nichols (2001), pode-se construir um documentário com diferentes
formulações. Como por exemplo, “Ele fala deles – ou de alguma coisa – para nós”, essa
formulação passa uma idéia de separação entre quem fala (o cineasta) e seu público. É o
que o autor chama de Discurso Institucional, em que o filme, por meio de comentários de
um narrador em voz-over, nos informa aspectos sobre um tema de maneira impessoal. Já
a forma “Eu falo – ou nós falamos – de nós para você”, coloca o cineasta junto ao grupo
que ele representa no documentário. No cinema antropológico, essa formulação recebe
também o nome de “auto-etnografia”.
Nichols fala que não é possível definir o filme documentário de uma forma
simples, pois esta definição é sempre relativa, muitas vezes comparativa, definindo-se
pelos contrastes com outros de filmes de ficção ou experimentais e de vanguarda.
Se o documentário fosse uma reprodução da realidade, esses problemas seriam bem menos graves. Teríamos simplesmente a réplica ou cópia de algo já existente. Mas ele não é uma reprodução da realidade, é uma representação do mundo em que vivemos. Representa uma determinada visão do mundo, uma visão com a qual talvez nunca tenhamos deparado antes, mesmo que os aspectos do mundo nela representados nos sejam familiares. (NICHOLS, 2001, p. 27).
Segundo Da-Rin (2004) a palavra “documentário” se deve à uma necessidade
de legitimação. E em decorrência deste batismo, todos os cineastas que optavam por um
cinema não-ficcional tiveram que lidar com as conotações de evidência que o novo termo
“documentário” encerrava. “Dramatização, interpretação e intervenção social – estes são
os atributos do documentário para seus fundadores.” (DA-RIN, 2004, p. 93).
Nichols costuma denominar o documentário de “conceito vago”, pois nem todos
os filmes deste gênero são semelhantes. Não existe um padrão fixo para regras, técnicas
ou estilos que os caracterizem. As regras podem mudar o tempo todo. Sempre alguém
tentará novas abordagens que desafiem as convenções e ultrapassem os limites
determinados anteriormente sobre algum tema, que poderão ou não serem adotadas ou
abandonadas por outros cineastas. “Em nenhum momento, uma definição abarca todos
filmes que poderíamos considerar documentários.” (NICHOLS, 2001, p. 48).
Para compreender melhor a definição do filme documentário, é preciso abordá-
lo de quatro ângulos diferentes: O dos profissionais, o das instituições, o dos textos
24
(filmes) e o do público. O argumento que sustenta um documentário e a lógica que o
organiza é o que dá ao gênero sua particularidade. O documentário exibe um conjunto de
tomadas e cenas mais amplo que a ficção, com uma narrativa que gira em torno de um
personagem ou histórias centrais.
Os personagens, ou atores sociais, podem ir e vir, proporcionando informação, dando testemunho, oferecendo provas. Lugares e coisas podem aparecer e desaparecer, conforme vão sendo exibidos para sustentar o ponto de vista ou a perspectiva do filme. Uma lógica de implicação faz a ponte entre esses saltos de uma pessoa ou lugar para outro. (NICHOLS, 2001, p.51)
Segundo Nichols (2001), ao invés da montagem em continuidade, que é
utilizada no cinema de ficção, no documentário podemos utilizar a “montagem de
evidência”, onde unificamos o espaço, o tempo e os personagens dentro da cena, dando
a impressão de um único argumento convincente, que sustente a lógica do documentário.
“Costumamos avaliar a organização de um documentário pelo poder de persuasão ou
convencimento de suas representações e não pela plausibilidade ou pelo fascínio de suas
fabricações.” (NICHOLS, 2001, p. 58).
Bill Nichols define seis modos de se construir um documentário:
Modo Poético: Que enfatiza associações visuais e passagens descritivas. Esse
modo possui uma organização formal, chegando muito próximo do cinema experimental,
pessoal ou de vanguarda.
Modo Expositivo: Enfatiza o comentário verbal e a lógica argumentativa por
meio de uma narração. Esse é o modo mais comum e que as pessoas reconhecem mais
facilmente como documentário.
Modo Observativo: Esse modo enfatiza o engajamento direto no cotidiano das
pessoas que representam o tema que o cineasta escolheu para trabalhar. As pessoas e
os acontecimentos são observados por uma câmera discreta.
Modo Participativo: Se faz com a completa interação entre cineasta e tema.
Com entrevistas e outras formas de envolvimento ainda mais direto. Normalmente usa-se
também imagens de arquivo para situar questões históricas.
Modo Reflexivo: Chama a atenção para as hipóteses e convenções que regem
o cinema documentário. Incentiva nossa consciência a refletir sobre a construção e a
representação da realidade feita pelo filme.
25
Modo Performático: Chama a atenção para os aspectos subjetivos ou
expressivos do engajamento do cineasta com seu tema e a receptividade do público a
esse engajamento. Rejeita idéias de objetividade.
Os modos adquirem importância num determinado tempo e lugar, mas persistem e tornam-se mais universais que os movimentos. Cada modo pode surgir, em parte, como reação às limitações percebidas em outros modos, como reação às possibilidades tecnológicas e como reação a um contexto social em mudança. Entretanto, uma vez estabelecidos, os modos superpõem-se e misturam-se. Os filmes, considerados individualmente, podem ser caracterizados pelo modo que mais parece ter influenciado sua organização, mas também podem combinar harmoniosamente os modos, conforme a ocasião. (NICHOLS, 2001, p.71)
Os modos utilizados no vídeo-documentário deste projeto serão os modos
Poético e Participativo. Com associações entre imagem e descrição. E uma interação com
o tema através de entrevistas e com o uso de imagens de arquivo para situar o
espectador.
O vídeodocumentário tanto pode ser um produto audiovisual independente de
segmentos como também pode ser um material de gênero jornalístico.
É fundamental ressaltar a importância do documentário na construção e divulgação do conhecimento, além da possibilidade de desenvolvimento de uma participação ativa de uma determinada comunidade a partir da utilização do gênero, como no caso, no gênero jornalístico. (MILITÃO, ARAÚJO, CRUZ, AURÉLIO, 2007)
Para Cristina Melo (2002), o vídeodocumentário não só pode ser um gênero
jornalístico, como também apresenta práticas jornalísticas em sua construção. ”O fato de
ser um discurso sobre o real e utilizar imagens in loco são características que aproximam
o documentário da prática jornalística.” MELO (2002). Melo observa também que ao
contrário do que ocorre com os gêneros jornalísticos, no documentário é bem vinda a
parcialidade.
Este gênero é fortemente marcado pelo “olhar” do diretor sobre seu objeto. O documentarista não precisa camuflar a sua própria subjetividade ao narrar um fato. Ele pode opinar, tomar partido, se expor, deixando claro para o espectador qual o ponto de vista que defende. (MELO, 2002)
Mas nem todo documentário é parcial. Ele também pode ser apenas uma
espécie de grande reportagem. Como em Motoboys – Vida Loca, em que o diretor Caíto
26
Ortiz mostra a rotina dos motoboys em São Paulo, sem transformá-los em bandidos ou
heróis.
5.4 BIOGRAFIAS EM JORNALISMO
Muito tem se explorado entre a relação da biografia e do jornalismo, que nos
últimos tempos tem ganhado um grande espaço no mercado editorial e entre
espectadores, por fazerem de pessoas individuais seres complexos através de diversas
fontes.
Segundo o jornalista Sérgio Vilas Boas (2002) os profissionais de diversas
áreas das Ciências Sociais têm reivindicado classificações para as biografias que
produzem, as quais geralmente retratam personalidades de seus próprios campos de
formação e atuação.
Para Vilas Boas (2002) é inviável sustentar que “biografia jornalística” é a
modalidade elaborada e escrita por um jornalista com experiência profissional em jornal,
revista, rádio, televisão ou websites de conteúdo jornalístico. “Se as definições estivessem
circunscritas aos campos de formação, os jornalistas estariam muito restringidos. Teriam
de escrever sobre a vida de jornalistas renomados ou proprietários de empresa de
comunicação.” (Vilas Boas, 2002, p. 17).
Os biógrafos tendem a biografar um indivíduo que ao menos mereça seu
respeito e estimule sua capacidade individual de investigação. Mas outros fatores também
são importantes na construção biográfica, como o mercado, as preferências pessoais do
autor, sua relação com o tema, entre outros. “Tanto a lista de pessoas biografáveis no
mundo quanto às opções dos biógrafos são finitas e não se restringem a este ou àquele
campo. Até porque o(a) biógrafo(a) pode escolher quem irá biografar.” (Vilas Boas, 2002,
p.17).
Em rigor, biografia é a compilação de uma (ou várias) vida(s). Pode ser impressa em papel, mas outros meios, como o cinema, a televisão ou o teatro podem acolhê-la bastante bem. Por enquanto, não há certificados epistemológicos para o fazer biográfico. Para os propósitos deste trabalho, o que interessa é a escrita e o autor, a criação e a publicação, o personagem e sua interpretação. (Vilas Boas, 2002)
27
Segundo o americano Robert Young, citado por Vilas Boas (2002), a biografia é
uma disciplina com sua própria literatura, sua própria reflexão. Para ele, a biografia torna
históricos os acontecimentos. Tudo tem uma história, um passado, que pode ser
reconstruído e relacionado com acontecimentos que moldaram seu biografado. Sem
passado não há biografia. Uma única biografia pode conter ideias, narrativa, personagens
e subjetividade da vida humana.
Para Vilas Boas (2002), o jornalismo desenvolveu um conjunto de técnicas,
conceitos e princípios que o norteiam na hora de escrever sobre um acontecimento, sobre
o “ontem”. A maioria dos jornalistas trabalha para alimentar audiências com informações
sobre o que às vezes ocorreu há horas ou minutos atrás. Ao leigo, este é o modo mais
rápido de compreender o que é o jornalismo e o que um jornalista faz diariamente. Mas a
narrativa jornalística periódica não é a única possibilidade de contar - em rádio, jornal ou
TV – o que aconteceu. O jornalismo possui outras modalidades que fazem o leitor
compreender o passado.
Muitos biógrafos da atualidade têm formação em jornalismo ou experiência em
redações. “São os chamados repórteres especiais. Alguns preferem autodefinir-se
repórteres investigativos e renegam a tradição do biógrafo como catedrático.” (Vilas Boas,
2002, p.26).
Para o autor, a biografia possui dois princípios básicos: o de contar a história o
mais próximo possível da realidade e garantir a acessibilidade por meio de princípios,
funções e recursos do jornalismo, da literatura e da história. Autor, criação, estilo e obra
são indissociáveis. “O trabalho do biógrafo é autoral, mas raramente seu nome supera,
em interesse, o do personagem-tema. Estilista ou não, o fato de poder tornar-se autor por
si só não ilumina a proposição de que biografia é arte.” (Vilas Boas, 2002, p. 111).
Vilas Boas (2002) cita a inglesa Virginia Woolf que também discutia interesses
em torno da biografia. Para ela o processo biográfico impõe certas condições. A maior
delas é que cada palavra estaria baseada em fatos. “E por fato em biografia entendemos
o acontecimento que pode ser verificado por outras pessoas além do artista.” (VIRGINIA
WOOLF apud VILAS BOAS, 2002, p.112).
Para o americano Stephen B. Oates, para simular a vida de um sujeito o
biógrafo apóia-se na linguagem, nas imagens, diálogos, citações, detalhes,
personalidade, entre outras coisas, para a composição de uma biografia.
28
Uma biografia exemplar apresenta uma pessoa viva em um mundo vivo. É escrupulosamente precisa coerente do ponto de vista dramático e convincente do ponto de vista psicológico – é verdadeira em relação à vida do biografado e à história. (STEPHEN B. OATES apud VILAS BOAS, 2002)
Já a interpretação do personagem dada pelo biógrafo é a premissa analítica da
qual toda biografia vai depender.
Até mesmo se o biógrafo resolver contar sua história de forma estritamente narrativa, ele partirá dessa base analítica. Isto é algo que os críticos não conseguem entender quando desqualificam uma boa narrativa biográfica como “não sendo analítica”. Não existe boa narrativa biográfica que não seja analítica. O processo de escolha, estudo e interpretação é inteiro analítico. (Steve Weinberg apud Vilas Boas, 2002)
A narrativa biográfica segundo Vilas Boas (2002), escrita, oral ou visual, pode
ser uma importante aliada na luta contra o artificialismo. Por decorrer de experiências de
vida, a biografia é o reconhecimento das realidades humanas.
Muitos autores optam por fazer biografias também no formato de
videodocumentário, como Wilson Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei, de Claudio
Manoel, Micael Langer e Calvito Leal; Senna, de Asif Kapadia; Person, de Marina Person;
Herbert de Perto, de Roberto Berliner e Pedro Bronz; Ziraldo - O Eterno Menino
Maluquinho, de Sônia Garcia, entre outros.
Para a jornalista Cremilda Medina a maneira mais eficiente de se conseguir
dados para uma boa biografia é através da entrevista e depoimentos.
5.5 ENTREVISTAS
Segundo a jornalista Cremilda Medina (2002), a entrevista não pode ser
encarada como uma simples técnica que obtém respostas pré-pautadas por um
questionário. Embora seja uma técnica eficaz, não atinge os limites possíveis do diálogo.
Um leitor, ouvinte ou telespectador sente quando a entrevista passa emoção e
autenticidade no discurso do entrevistado ou nas perguntas do entrevistador. Neste
momento ocorre uma identificação entre os envolvidos – fonte, repórter, receptor – que se
interligam.
29
Reforçar apenas o fenômeno de identificação e de fluência do diálogo na técnica da entrevista permanece na esfera do desempenho, da eficácia dos meios de comunicação coletiva. Enquanto insistirmos na competência do fazer, despojada de significado humano, pouco se avançara no diálogo possível numa sociedade em que impera a divisão, a grupalidade, a solidão. Se os meios são de comunicação, que se encare então o que é comunicar, interligar. (MEDINA, 2002, p.6)
Na maioria das entrevistas é o jornalista que dá o ritmo à pauta e normalmente
preestabelece as respostas, conduzindo o interlocutor aos resultados. “Desenvolver a
técnica da entrevista nas suas virtudes dialógicas não significa uma atitude idealista. No
cotidiano do homem contemporâneo há espaço para o diálogo possível.” (MEDINA, 2002,
p.7).
A entrevista é uma técnica de interação social informativa, que quebra
isolamentos grupais e individuais. “Todas as pessoas, de uma maneira ou de outra, são
envolvidas na entrevista, ora entrevistando, ora sendo entrevistadas. As duas situações
contêm aspectos objetivos e subjetivos.” (A. GARRET, 1981 apud MEDINA, 2002, p. 9).
Segundo o jornalista Edgar Morin (MORIN, 1973 apud MEDINA, 2002), a
entrevista pode ser classificada em quatro tipos:
Entrevista-rito: Trata-se de obter uma palavra, como as palavras dos campeões
nos finais dos jogos ou um vencedor com o prêmio na mão.
Entrevista anedótica: Normalmente entrevistas frívolas, complacentes, onde as
perguntas são quase sempre tolas, sobre fofocas e projetos. Nada comprometedor.
Entrevista-diálogo: Quando a entrevista se torna diálogo. O entrevistador e o
entrevistado colaboram para trazer a tona uma verdade a respeito do entrevistado ou de
um tema.
Medina (2002), também divide as entrevistas em cinco gêneros diferentes:
Conceitual: O entrevistador busca informação. Para ele a fonte a ser
entrevistada detém as informações necessárias. Normalmente com especialistas, como
sociólogos, cientistas, entre outros.
Entrevista/enquete: O tema é o fundamental da pauta e normalmente procura-
se mais de uma fonte para depor sobre o tema, com pautas ou questionários que dêem
unidade à enquete.
30
Investigativa: Quando o jornalista vai procurar a informação além daquelas que
estão ao seu alcance. Normalmente sobre temas de questões públicas, como
administração governamental, gestão de dinheiro público, abuso de poder, entre outros.
Confrontação/polemização: Envolvem temas polêmicos e o jornalista
desenvolve a habilidade de mediador, instigador, porta-voz do senso comum. Debates,
por exemplo.
Perfil humanizado: A entrevista com finalidade de traçar um perfil humano.
Uma entrevista aberta para compreender os conceitos, valores, comportamento e
histórico da vida de alguém.
Para este trabalho utilizaremos os métodos do gênero Perfil humanizado e a
forma de entrevista-diálogo que Medina nos mostra.
A partir da década de 1950, segundo Medina, começa a se valorizar a
humanização das fontes. Essa humanização com uma certa subjetividade, também foi
adotada por jornalistas norte-americanos nos anos 60, como por exemplo, Tom Wolfe.
“Ao lidar com o perfil humanizado, consciente ou inconscientemente se faz presente o
imaginário, a subjetividade. O entrevistado passeia em atalhos, avança e recua, perde-se
no tempo e no espaço.” (MEDINA, 2002, p. 43).
O repórter pode montar um perfil mesmo se as coisas não se sucedem de um
jeito ordenado na entrevista, exatamente como mandam os manuais de redação. O que
Medina (2002) quer passar é que é possível representar um diálogo mesmo fugindo da
objetividade.
31
6 METODOLOGIA
Para realizar esse projeto foram feitas algumas entrevistas informais sobre o
assunto a ser abordado para uma maior aproximação com o tema proposto. Também
foram realizadas pesquisas exploratórias, baseadas nos métodos de Antônio Carlos Gil
(1999), que destaca que este método de pesquisa é desenvolvido para se proporcionar
uma visão geral acerca de determinado fato. Segundo Gil, “o elemento mais importante
para a identificação de um delineamento é o procedimento adotado para a coleta de
dados.” (GIL, 1999, p. 65)
Além da pesquisa exploratória também realizou-se a pesquisa blibliográfica, que
segundo Carlos Gil (1999), é uma pesquisa feita mediante material já elaborado, com
contribuição de vários autores, principalmente em livros. Este material consultado abrange
tudo o que já foi tornado público em relação ao tema abordado neste projeto. Em jornais,
websites, livros, entre outros.
Para a produção do vídeo-documentário optou-se por analisar vários exemplos de
documentários nesse formato, de caráter biográfico, já que retratará o contexto musical de
uma época baseado na história de uma das principais bandas inseridas neste período.
Outro assunto abordado na fundamentação deste projeto foi o jornalismo cultural, já que o
vídeodocumentário está segmentado neste gênero do jornalismo.
6.1 MÉTODOS PARA A REALIZAÇÃO DO PRODUTO
Para a construção do vídeo-documentário realizamos entrevistas com pessoas
que trabalharam ou viveram direta ou indiretamente com Ivo, músicos, amigos, familiares,
integrantes das bandas que Ivo tocou. Pessoas que de alguma forma se envolvem ou se
envolveram com cenário musical daquela época. Utilizamos também material de arquivo –
pessoal e de matérias televisivas - com gravações e imagens que ajudem a situar e
contextualizar o objetivo proposto.
32
7 DELINEAMENTO DO PRODUTO
7.1.SINOPSE
Este documentário traça fragmentos da vida e carreira do cantor Ivo Rodrigues.
Uma biografia com ênfase nos últimos anos. Sua passagem pelas bandas A Chave e
Blindagem. E seu problema com o álcool, que o levou a morte em abril de 2010.
7.2 ARGUMENTO
Ivo Rodrigues, o ícone do rock paranaense. Um dos primeiros roqueiros da cidade
de Curitiba que conseguiu se manter e viver de música durante 30 anos com sua banda, a
Blindagem, que se mantém no topo desse cenário até os dias de hoje.
Considerado por muitos um dos melhores cantores de rock da capital paranaense e até
do país, conquistou com seu carisma o público paranaense. O documentário biográfico
tem como objetivo resgatar a memória da vida e carreira de uns dos personagens mais
interessantes da cultura paranaense. Retratando também a hist;orai da banda que o
seguiu nos últimos anos com algumas histórias e curiosidades destes 30 anos de estrada.
7.3 A PROPOSTA
O documentário pretende resgatar uma memória cultural da música paranaense,
como já foi dito anteriormente. Com o objetivo de mostrar alguns aspectos da vida de Ivo
Rodrigues. Sua relação com a música, com seus amigos e familiares e com o álcool.
Conhecer um mais a realidade de um ícone da música local.
Documentários com a mesma proposta: Senna, Herbert de Perto, Simonal – Ninguém
Sabe o Duro que Dei, Ziraldo – O Eterno Menino Maluquinho, Santiago, entre outros.
33
7.4 DESCRIÇÃO DO OBJETO
Este documentário é baseado em arquivos da vida de Ivo. Declarações de
personagens que viviam de perto com o líder da banda Blindagem. Integrantes da atual
banda, da ex-banda, amigos, filho e pessoas da mídia.
7.5 ABORDAGEM
O tipo de documentário realizado serão os de modo Poético e Participativo.
Entrevistas em formas de depoimentos, conversas com os personagens entrevistados.
Interligando as declarações com fotos e vídeos sobre o tema. Sem OFF.
7.6 ESTRUTURA
A estrutura do documentário é toda baseada nas entrevistas sobre o tema em
questão. Contextualidas com material audiovisual, como vídeos e fotos.
O documentário será dividido em “blocos” por assuntos, mas quem fará a ligação
destes blocos serão as próprias sonoras.
7.7 PÚBLICO ALVO
O público alvo deste projeto é muito amplo. Pois pode ser apreciado tanto pelo
público que goste de música, de rock. Como também pelo público interessado pela cultura
e arte paranaense. Sem contar fãs e admiradores que queiram saber mais sobre a vida e
carreira de Ivo Rodrigues.
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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUCHE, Danys, A Noção de Cultura nas Ciências Sociais. Bauru-SP: Ed. Edusc, 2002, 2ª Ed. 245 p. ISBN 85-86259-59-4 DA-RIN, Silvio. Espelho Partido – Tradição e Transformação do documentário. Rio de Janeiro. Ed. Azougue Editorial, 2004. 247p. ISBN 85-88338-39-4 GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo. Ed. Atlas, 1999. HALL, Stuart, A Identidade Cultural na Pós Modernidade. Rio de Janeiro: Ed. DP&A, 2005, 10ª Ed. 104 p. ISBN 85-7490-336-1 MEDINA, Cremilda de Araújo. ENTREVISTA: O Diálogo Possível. São Paulo. Ed. Ática, 2002. 96p. ISBN 85-08-01522-4 NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. São Paulo. Ed. Papirus, 2001, 275p. ISBN 85-308-0785-5 PIZA, Daniel. JORNALISMO CULTURAL. São Paulo. Ed. Contexto, 2003, 143p. ISBN 8572442278 SOUZA NETO, Manoel J. [des]Construção da Música na Cultura Paranaense. Curitiba: Ed. Aos Quatro Ventos, 2004. 707p. VILAS BOAS, Sérgio. Biografias e Biógrafos – Jornalismo sobre Personagens. Summus Editorial, 2002. 185p.
8.1 REFERÊNCIAS 91 ROCK. Pesquisa 91Rock que mostra a banda Blindagem como a maior da história da música de Curitiba, Novembro/2007. Disponível em http://www.91rock.com.br ANÍBAL, Felippe; ANGELI, Gladson. Corpo do vocalista da banda Blindagem é velado no Cemitério Municipal. Gazeta do Povo, Curitiba, 09 abr. 2010. Disponível em:
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http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=991091&tit=Morre-Ivo-Rodrigues-vocalista-da-banda-Blindagem&tl=1 COSTA, Marcelo. Curitiba não valoriza a cena local, diz músico. Portal Terra, São Paulo, 01 jul. 2004. Disponível em: http://musica.terra.com.br/interna/0,,OI335156-EI1267,00.html FARO, J.S. Nem tudo que reluz é ouro: contribuição para uma reflexão teórica sobre o jornalismo cultural. 2008. Tese (da UMESP) São Paulo, SP GUEDES, Adriana; MILITÃO, Antônio; ARAÚJO, Camila; CRUZ, Fernanda; AURÉLIO,
Marcos. Cem Anos Luz. 2007. Publicação Acadêmica de Estudos sobre Jornalismo e
Comunicação, em Ensaios. Disponível em:
http://www.eca.usp.br/pjbr/arquivos/ensaios8_d.htm
MELO, Cristina. O Documentário como Gênero Audiovisual. Pernambuco. 2002. Artigo da
Intercom. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/7273668/MELO-Cristina-O-
Documentario-Como-Genero-Audiovisual
REBINSKI JUNIOR, Luiz, Ivo Rodrigues, um ilustre desconhecido do rock. Digestivo Cultural, Curitiba, 12 mai. 2010. Disponível em: http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=3062&titulo=Ivo_Rodrigues,_um_ilustre_desconhecido_do_rock
Site oficial da Banda Blindagem, Disponível em: http://www.bandablindagem.com.br/ ZANUTTO, Flávia, Nos Embalos da Resistência: anos 80 Pop Rock e Identidade.. Tese de Doutorado. Disponível em: http//www.dle.uem.br/jied.
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9. CRONOGRAMA ALUNO/EQUIPE:
MÊS
Descrição de Atividades
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Entrevistas para o documentário e coleta de imagens de arquivo pessoal e em emissoras de tv
X X X X
Montagem e Edição do vídeo-documentário X X Redação e Edição final X X Apresentação Final X
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.10. APÊNDICE ROTEIRO GUIA Primeira Parte – Ivo começo Entrevistas com Alberto Rodriguez, Paulo Juk, Mauro Mueller, Ivan Rodrigues, Paulo Teixeira e Carlos Gaertner Segunda Parte – Leminski Entrevistas com Carlos Gaertner, Paulo Juk, Paulo Teixeira e Ivan Rodrigues Terceira Parte – Cenário Anos 80 e Blindagem Entrevistas com Paulo Juk, Mauro Mueller, Sandra Carraro e Paulo Teixeira Quarta Parte – Ivo Entrevistas com Paulo Juk, Sandra Carraro, Gerson, Paulo Teixeira, Rubén “Pato” e Ivan Rodrigues Quinta Parte – Álcool Entrevistas com Rubén “Pato”, Paulo Juk, Ivan Rodrigues, Paulo Teixeira e Gerson. Sexta Parte – Morte Entrevistas com Paulo Teixeira, Mauro Mueller, Sandra Carraro e Paulo Juk ENTREVISTADOS Alberto Rodriguez – Integrante da Blindagem e amigo Qual era a relação do Ivo com a banda? Qual era sua relação com o Ivo? Como era o Ivo nos bastidores? Paulo Juk – Integrante da Blindagem e amigo Como o Ivo entrou para a Blindagem? Como era o Ivo no palco? Por que a Blindagem não fez sucesso fora de Curitiba? Paulo Teixeira – ex-integrante da Chave, atual Blindagem e amigo Por que você saiu a Chave com o Ivo? Quando vocês começaram a notar que o álcool estava prejudicando o Ivo? Vocês conversavam sobre isso? Rubén “Pato” Romero – Integrante da Blindagem Como era o dia a dia com o Ivo? Ele era amigo além de colega de banda? Como era o Ivo sem a bebida?
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Ivan Rodrigues – Filho Como era o Ivo pai? Ele era a rotina dele? Vocês conversavam sobre o problema dele com o álcool? Carlos Gaertner – ex-Chave e amigo Como era o Ivo músico? Por que a Chave acabou? Ficou alguma mágoa entre vocês pelo Ivo ter saído da banda? Mauro Mueller – radialista e apresentador As bandas curitibanas tinham espaço na mídia nos anos 80? Como era a relação dos veículos paranaenses com as bandas locais? Por que a Blindagem não alcançou o sucesso? Sandra Carraro – radialista e amiga O Ivo fugia do estereótipo roqueiro? Por que as rádios não tocavam música paranaense nos anos 80? A quem você compara o Ivo no mundo do rock? Gerson – Motorista da Blindagem Como era o Ivo durante as viagens com a banda? Ele exagerava muito nas bebidas? Como foi o último show?