1 introduÇÃo - sigaa
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1 INTRODUÇÃO
A preocupação com a preservação do patrimônio cultural mundial,
nacional e local tem crescido na atualidade por conta do processo globalizatório,
sendo de grande relevância para os povos perpetuar a sua identidade diante destas
constantes influências externas. Essas peculiaridades são traduzidas nas danças,
vestuário, culinária, música, costumes, utensílios, construções arquitetônicas ou
quaisquer outros exemplos do cotidiano local.
Dentre as especificidades supracitadas, o acervo arquitetônico tem sido
um dos principais alvos de inúmeras políticas de preservação resultantes de
reuniões mundiais para garantir a salvaguarda desses bens. Tal importância pode
ser atribuída à ligação direta que os acervos histórico-arquitetônicos representam do
presente com o passado, sendo testemunhos materiais indiscutíveis.
Essa significância incita um desejo de visitar estes locais, transformando-
os em produtos turísticos de grande relevância para o desenvolvimento do turismo
cultural nas localidades em que esses ambientes históricos se inserem, dando uma
contribuição positiva para a preservação destes, já que o fluxo de visitação está
diretamente relacionado ao seu estado de conservação.
O processo de revitalização tem atribuído várias funções utilitárias e
atuais para esses acervos, através da adoção de um planejamento que garanta a
permanência das características peculiares e originais das edificações, adequando-
as à realidade atual do contexto socioeconômico e cultural da qual fazem parte estes
bens. O aproveitamento para o desenvolvimento local tem sido um dos alvos desta
reabilitação transformando-os em espaços turísticos.
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Esta pesquisa se preocupa em analisar a importância da atividade
turística para a preservação de construções históricas, tendo como objeto de estudo
o Centro Histórico de São Luís, por possuir um acervo histórico-arquitetônico e
paisagístico, situado em duas grandes zonas tombadas, uma pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN e outra pelo governo estadual.
Além desses reconhecimentos, o Centro Histórico de São Luís ainda possui uma
parte de sua área inscrita na Lista do Patrimônio Mundial da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO desde 1997.
O seu acervo vem sofrendo várias reformas previstas desde 1979, com a
elaboração do Programa de Preservação e Revitalização do Centro Histórico de São
Luís (PPRCH), também conhecido como Projeto Praia Grande/Reviver. Neste
cenário de edificações peculiares, foi feito um estudo detalhado da Rua da Estrela,
também conhecida como Rua Cândido Mendes, para identificar suas obras de
revitalização e o aproveitamento atual dos prédios.
A motivação para o desenvolvimento de tal estudo é decorrente do
interesse despertado a partir de experiências profissionais que envolviam o
patrimônio histórico construído como ferramenta de compreensão da história local.
A finalidade deste trabalho é de estudar o turismo cultural como forma de
preservação de cidades históricas e demonstrar a potencialidade destes ambientes,
confirmando sua importância no contexto atual das cidades.
O trabalho está dividido em 4 seções. Na primeira, discorre-se sobre o
patrimônio cultural, com algumas definições. Em seguida descreve-se a trajetória das
políticas de preservação do patrimônio mundial, brasileiro e maranhense.
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Na segunda seção, analisa-se o turismo cultural como forma de
preservação de acervos arquitetônicos, destacando o acervo do Centro Histórico de
São Luís e suas obras de revitalização.
Na terceira seção caracterizam-se os prédios da Rua da Estrela e
destacam-se algumas reformas feitas para desempenhar diferentes funções.
Na quarta e última seção apresentam-se os resultados da pesquisa
realizada com moradores e usuários acerca da Rua e dos benefícios da atividade
turística para a mesma, bem como a opinião de turistas a respeito de sua
atratividade.
Espera-se que este trabalho possa contribuir como fonte de pesquisa
para a elaboração de planos e projetos de valorização do patrimônio arquitetônico
de São Luís a partir da atividade turística.
1.1 Procedimentos Metodológicos
Para a concretização do presente trabalho foi feito primeiramente
levantamento bibliográfico, aplicação de questionários, até a redação final. Na
pesquisa bibliográfica foram utilizados livros, sites da Internet e documentos.
Após a revisão de literatura com autores que tratam de patrimônio cultural
e turismo, foram pesquisados documentos que registram as políticas de preservação
e os projetos de revitalização de prédios do Centro Histórico de São Luís.
Foi feita uma pesquisa de campo prévia em cada domicílio para verificar a
quantidade de residentes na Rua da Estrela, e em órgãos para apurar a quantidade
de turistas que visitam mensalmente o local. De posse destes dados foram
elaborados questionários diferenciados para moradores, usuários e visitantes,
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aplicados na Rua no mês de junho. Com os moradores e usuários a abordagem foi
feita pela pesquisadora e alguns dos questionários de turistas foram distribuídos nas
pousadas localizadas na Rua.
Para os residentes foram feitas dez perguntas fechadas, simples e
múltiplas que envolviam características pessoais e sócio-econômicas, seguidas de
perguntas relacionadas ao significado da Rua e dos benefícios que o turismo pode
proporcionar à mesma.
Os questionários de usuários envolviam perguntas de caráter pessoal,
social e a opinião dos entrevistados sobre a Rua no que diz respeito à sua
significância e a contribuição da atividade turística para o local.
Com turistas foram feitas cinco perguntas fechadas, simples e múltiplas,
envolvendo dados pessoais, atrativos da cidade e Rua.da Estrela.
Após a aplicação esses dados foram tabulados gerando gráficos que
foram analisados e em seguida foram feitas sugestões para a Rua da Estrela,
concluindo a redação do trabalho iniciada desde o momento da pesquisa
bibliográfica. Em seguida foi feita a normalização do trabalho, resultando na
apresentação que se segue.
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2 PATRIMÔNIO CULTURAL
A palavra patrimônio possui várias significações. A mais antiga está
associada ao conjunto de bens materiais pertencentes a uma pessoa ou a um grupo
de pessoas.
Esse conceito foi ampliado passando a constituir também todos os bens
pertencentes a uma nação, denominado-os de patrimônio nacional e estando
divididos em naturais e culturais.
No tocante ao patrimônio cultural, a evolução de seu conceito está
associada à trajetória das políticas de preservação, visto que inicialmente resumia-
se apenas aos monumentos arquitetônicos edificados e diretamente ligados à elite
civil e religiosa ou que faziam alusão a um feito histórico de grande
representatividade para ambos.
Como pode ser observado com a definição criada a partir da Conferência
Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura –
UNESCO (apud SILVA, 2003, p.184), em 1972, que definiu este patrimônio como:
- os monumentos: obras arquitetônicas, de escultura ou de pinturamonumentais, elementos ou estruturas de natureza arqueológica,inscrições, cavernas e grupos de elementos que tenham um valor universalexcepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;- os conjuntos: grupos de construções isoladas ou reunidas que, em virtudede sua arquitetura, unidade ou integração na paisagem, tenham um valoruniversal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;- os lugares notáveis: obras do homem ou obras conjugadas do homem eda natureza, bem como as zonas, inclusive lugares arqueológicos, quetenham valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético,etnológico ou antropológico.
Essa definição evoluiu, passando a abranger, além dos bens materiais, os
imateriais e representantes de todas as classes como é colocado por BARRETO
(2000, p.11):
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[...] o patrimônio deixou de ser definido pelos prédios que abrigaram reis,condes e marqueses e pelos utensílios a eles pertencentes, passando a serdefinido como o conjunto de todos os utensílios, hábitos, usos e costumes,crenças e forma de vida cotidiana de todos segmentos que compuseram ecompõem a sociedade.
Essa aproximação com as diversas camadas da sociedade desperta um
interesse coletivo de preservação desses bens, partindo da concepção de que
fazem parte de uma identidade nacional que é construída por todos os membros
componentes de uma nação ao longo de seu processo histórico.
2.1 Histórico da preservação do patrimônio cultural
2.1.1 Patrimônio mundial
O interesse pelo patrimônio cultural é observado desde a Antigüidade,
estando associado a objetos de arte e esculturas, pois segundo Choay (2001, p.33),
em Roma, desde 146 A.C., já havia o interesse pela arte grega e estas já podiam ser
encontradas nas residências patrícias, após serem adquiridas pelo exército romano
através de saques nas conquistas de territórios.
O apreço por tais peças não era em virtude do seu valor histórico, mas
pelo reconhecimento à superioridade e ao refinamento grego, despertando, na
maioria dos colecionadores, sentimentos de prestígio, de esnobismo e prazer
(CHOAY, 2001, p.34).
Com o cristianismo, vários prédios e monumentos pagãos romanos
perderam seus usos, sendo modificados, transformados em templos cristãos,
fragmentados e alguns até foram destruídos, mas eram respeitados pela Igreja,
assim como as letras e o saber clássico. No século XV, os papas através das bulas
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criaram as primeiras medidas preservacionistas das edificações antigas e cristãs.
Sendo estas alvo de inúmeras abordagens: os humanistas as consideravam
testemunhos reais da Antigüidade e arquitetos e escultores destacavam-nas por
suas formas.
Nos séculos seguintes intensificaram-se as pesquisas sobre as
antiguidades, tendo destaque a atividade dos antiquários – estudiosos e
colecionadores de objetos de arte antiga que eram descrentes dos livros e das
afirmações de historiadores, pois absorviam as informações contidas nas próprias
peças, as quais, segundo eles, revelavam muito mais sobre a época que aquilo
escrito e repassado pelos livros. O interesse desses estudiosos não se limitou
apenas à arte greco-romana, outras civilizações passaram a ser objeto de estudo.
Até o século XVIII, as medidas de preservação, quando tomadas, partiam
da Igreja e das classes dominantes. Com o advento da Revolução Francesa, que
derrubava o Antigo Regime e o poder do clero, vários monumentos foram vítimas de
atos de vandalismo no país gaulês, por referirem-se às classes dominantes,
contrariando os ideais iluministas de difusão do saber. Assim, o governo
revolucionário iniciou a regulamentação dos bens confiscados por seu valor
enquanto identidade nacional, criando a idéia de posse coletiva desses bens, ou
seja, a noção de patrimônio nacional.
A partir do século XIX, a Revolução Industrial deu início a uma nova era e
o conceito de monumento histórico passa a ser aplicado mundialmente, sendo
estabelecidas leis de proteção, marcando uma ruptura com a mentalidade dos
antiquários e com a política de preservação adotada durante a Revolução Francesa.
Várias discussões sobre a restauração dos monumentos foram difundidas
nos países europeus, tendo destaque duas doutrinas: do inglês John Ruskin e do
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francês Viollet-le-Duc. Para Ruskin, preservar a arquitetura era conservar o passado,
representava não só os valores materiais e modos de vida mas também o valor
moral, dava importância não só para monumentos extraordinários como também
para representantes da vida doméstica e do trabalho. Posicionava-se contra a
restauração pois para ele os monumentos eram intocáveis e restaurá-los os faziam
parecer diferentes do que eram na realidade. Já para Viollet-le-Duc, os monumentos
deveriam ser adequados de acordo com o restaurador, segundo critérios técnicos,
estilísticos e pragmáticos (FONSECA, 1998, p.64).
No início do século XX, Aloïs Riegel, historiador da arte vienense e
presidente da Comissão Austríaca dos Monumentos Históricos, foi o primeiro a
apresentar a diferença entre monumento e o monumento histórico. Para ele, todo
monumento possui uma conotação histórica e estética. Além desses valores, Riegel
adotou os valores de “ancianidade”, “de uso”, “artístico relativo” e de “novidade”
(CHOAY, 2001, p.168-69).
Segundo Choay (2001, p.169) o “valor da ancianidade” difere-se do
valor histórico por ser percebido imediatamente pelo espectador, enquanto
relativamente ao segundo é necessário que se tenha um certo conhecimento. O
“valor de uso” é próprio de todos os monumentos históricos. Os valores “artístico
relativo” e de “novidade” são derivados do valor artístico, onde o primeiro
corresponde às obras antigas que continuaram acessíveis à sensibilidade
moderna e o segundo refere-se à valorização do novo em detrimento do antigo.
As reflexões de Riegel, no que diz respeito ao “valor de ancianidade,”
foram difundidas fora do território europeu e a noção de patrimônio foi ampliada e
adotada nos diversos continentes, reforçados pelo sentimento nacionalista, mas
as práticas conservadoras continuaram idênticas durante quase um século.
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Somente em 1931 é realizada a primeira conferência internacional
relativa aos monumentos históricos. A partir deste evento foi produzida a Carta
de Atenas e posteriormente foram realizados vários congressos internacionais,
criando-se vários outros documentos referentes a critérios de valorização, de
restauração e de conservação do patrimônio cultural.
Em 1967 o turismo foi colocado em pauta como alternativa para a
preservação de patrimônios históricos através das “Normas de Quito”, produzidas
a partir da Reunião sobre Conservação e Utilização de Monumentos e Lugares
de Interesse Histórico e Artístico, realizada em Quito, pela Organização dos
Estados Americanos - OEA, estabelecendo que os planos de preservação
deveriam fazer parte dos planos de desenvolvimento nacional, aliando os valores
artísticos e históricos aos interesses turísticos (IPHAN, 1995).
Para tal aproveitamento, foi ressaltada a importância do investimento
em restauração de monumentos simultânea a dos equipamentos turísticos e a
obras de infra-estrutura para facilitar o acesso dos visitantes aos monumentos,
sendo reconhecido que somente os seus valores históricos, artísticos e
arqueológicos não asseguram a sua utilização (IPHAN, 1995).
Várias das resoluções estabelecidas nessas reuniões internacionais
foram incorporadas pelas políticas de preservação nacionais e no Brasil a criação
de um órgão para defesa do patrimônio cultural nacional ocorreu na década de
30, posterior ao primeiro encontro supracitado na cidade de Atenas.
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2.1.2 Patrimônio nacional
Desde a primeira década do século vinte vários intelectuais já
denunciavam o abandono em que se encontravam as cidades históricas. Estes
participavam do movimento neocolonial e realizavam visitas locais, produzindo
relatos a respeito da situação encontrada, sendo tomadas as primeiras providências
por parte dos governos dos estados que possuíam esses relevantes monumentos
históricos e artísticos, resultando na criação de Inspetorias Estaduais de
Monumentos Históricos em Minas Gerais, Bahia e Pernambuco (FONSECA, 1997).
O primeiro órgão de proteção federal surgiu no Museu Histórico Nacional,
por iniciativa de Gustavo Barroso, sendo criada em 1934 a Inspetoria dos
Monumentos Nacionais, que foi extinta em 1937 após a criação do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN.
Segundo Fonseca (1997, p.103), “a primeira iniciativa do governo federal
exclusivamente para proteção do patrimônio foi à elevação de Ouro Preto à
categoria de monumento nacional, através do Decreto nº 22.928, de 12 de julho de
1933”.
Em 1936, a questão da preservação do patrimônio contou com a
participação efetiva do Estado com a elaboração de um anteprojeto pelo intelectual
Mário de Andrade, que definiu o Patrimônio Artístico Nacional como “todas as obras
de arte pura ou de arte aplicada, popular ou erudita, nacional ou estrangeira [...]”
(apud SIMÃO, 2001, p.29).
Este documento sofreu algumas modificações, sendo feitas
principalmente por Rodrigo Melo Franco de Andrade, que ampliou o conceito de
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, definindo-o como: “O conjunto de bens
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móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público,
quer por sua veiculação a fatos memoráveis do Brasil, quer por seu excepcional
valor arqueológico, bibliográfico ou artístico” (apud SIMÃO, 2001, p.30).
Assim, foi criado em 1937 o SPHAN, presidido por Rodrigo Melo F. de
Andrade, vinculado ao Ministério da Educação e Saúde -MES e estruturado em duas
divisões técnicas: a Divisão de Estudos e Tombamento - DET e a Divisão de
Conservação e Restauração - DCR.
Neste mesmo ano de fundação do SPHAN foi criada a primeira legislação
federal de preservação, através do Decreto-Lei nº 25, que é vigente até hoje. Foram
criados também museus nacionais, partindo da concepção de que deveriam retratar
a vida social da comunidade e ficou estabelecido que os tombamentos deveriam
priorizar a arte colonial brasileira, sobretudo os bens religiosos, por serem a maioria
e por terem sua grande importância desde os tempos coloniais, sendo justificado por
Lúcio Costa (apud FONSECA, 1997, p.119):
Sempre prevaleceu a parte religiosa porque o número de igrejas eraenorme. [...] o mundo latino , de herança portuguesa e espanhola,concentrava-se na construção de conventos e igrejas.Havia umadesproporção enorme em relação à parte residencial e militar [...].
O critério de avaliação dos bens era baseado em seu valor artístico, tendo
menor importância os seus valores históricos, sendo inscritos em quatro Livros de
Tombo: Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, Livro do Tombo
Histórico, Livro do Tombo das Belas Artes e Livro do Tombo das Artes Aplicadas. A
prioridade era assegurar a proteção jurídica desses bens através do tombamento,
não possuindo critérios para estas inscrições, seguindo o entendimento da própria
instituição.
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O SPHAN possuía um órgão deliberativo, o Conselho Consultivo,
composto pelo diretor do SPHAN, pelos diretores dos museus nacionais e por dez
membros escolhidos pelo Presidente da República, com mandatos vitalícios.
Em 1946 o SPHAN foi transformado em Diretoria do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional - DPHAN, perdurando por quase trinta anos nesta condição,
quando no final da década de 70, sob a direção de Renato Soeiro, a Diretoria foi
transformada em Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN.
Na década de 70 as cidades tombadas sofreram um crescimento urbano
desordenado, desfigurando os seus caracteres originais, pois foram traçados planos
urbanísticos que não condiziam com a atuação do SPHAN que recorreu à UNESCO
em 1965 para redefinir sua atuação diante do modelo de desenvolvimento adotado
pelo Brasil nesta época.
Com este intuito, o órgão federal substituiu sua posição conflitante diante
dos interesses dos proprietários, do poder público e de setores insensíveis à
importância da preservação do patrimônio, adotando uma postura de negociador,
para compatibilizar interesses de preservação e de desenvolvimento.
Em abril de 1970 houve o 1º Encontro dos Governadores de Estado,
Secretários Estaduais da Área Cultural, Prefeitos de Municípios Interessados,
Presidentes e Representantes de Instituições Culturais, na cidade de Brasília - DF,
que resultou no “Compromisso de Brasília”, documento que veio propor a
descentralização da proteção dos bens culturais de valor nacional através da criação
de órgãos estaduais e municipais competentes sob orientação técnica do DPHAN.
Segundo o IPHAN (1995), foi discutida a criação de cursos de nível médio
e superior para a formação de arquitetos, restauradores, conservadores de pintura,
escultura e documentos e ainda para arquivologistas e museólogos, subordinando-
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se cursos de nível superior à orientação do DPHAN e do Arquivo Nacional. E ainda,
foi proposta a inclusão nos currículos de nível médio e superior de disciplinas que
discutissem os conceitos de monumentos, conservação de acervos históricos e
artísticos, de jazidas arqueológicas e pré-históricas, de riquezas naturais e da cultura
popular.
No ano seguinte, em 1971, aconteceu o II Encontro de Governadores
para Preservação do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural do
Brasil, em Salvador, surgindo o “Compromisso de Salvador”, que reforça o que
anteriormente foi assegurado em Brasília com relação à delegação de poderes a
órgão de abrangência estadual ligados à cultura, mas propondo a criação de um
Ministério da Cultura.
Entrou em discussão a utilização dos bens culturais e naturais para a
atividade turística, reconhecendo-se a necessidade de convocação de órgãos
responsáveis pelo planejamento do turismo para que atentem para os problemas de
utilização e divulgação desses bens, para possivelmente utilizarem imóveis
tombados para implementação de pousadas, cabendo também aos governos
estaduais criar um calendário cultural e apoiar a realização de festivais folclóricos
(IPHAN, 1995).
O governo federal, em 1973, por solicitação do Ministro da Educação e
Cultura - MEC e com a participação dos Ministérios do Planejamento e do Interior,
através da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE e do
Ministério Indústria e Comércio, através da Empresa Brasileira de Turismo -
EMBRATUR, criou o Programa de Reconstrução das Cidades Históricas - PCH, que
inicialmente era voltado para atender nove estados do Norte e Nordeste. Em 1977
estendeu-se ao Sudeste.
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O PCH, como ficou conhecido, tinha como objetivo conciliar à atividade
turística para aproveitar economicamente os bens culturais e ao mesmo tempo
promover a revitalização desses monumentos em degradação. Também propiciou a
criação de órgãos locais de patrimônio e elaboração de legislações estaduais de
proteção, como foi proposto nos Compromissos de Brasília e de Salvador, gerando
com isto uma política de preservação descentralizada.
Em 1975, passou a funcionar nas dependências da antiga Reitoria da
Universidade de Brasília - UnB, o Centro Nacional de Referência Cultural - CNRC,
surgindo a partir de idéias do Ministro da Indústria e Comércio Severo Gomes, do
embaixador Vladimir Murtinho e de Aloísio Magalhães e posteriormente contando
com a participação de outros profissionais, não sendo composto em sua maioria
somente por arquitetos, como no caso do IPHAN.
Inicialmente o CNRC tinha o objetivo de ser um banco de dados da
cultura brasileira que possibilitasse o acesso aos produtos culturais brasileiros,
sendo ampliada essa concepção para que fossem buscados indicadores que
possibilitassem a elaboração de um modelo de desenvolvimento adequado às
necessidades da nação.
Em 1979 ocorreu a fusão IPHAN/PCH/CNRC com uma nova estrutura: a
Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN, um órgão
normativo e a Fundação Nacional Pró-memória - FNPM. O propósito desta fusão era
aliar o prestígio e a competência técnica do IPHAN, os recursos de que dispunha o
PCH e a visão moderna do CNRC. Para Aloísio Magalhães, a política de
preservação proposta pelo CNRC era de inserir as manifestações populares na
classificação de patrimônio histórico e artístico, conforme é citado por Fonseca
(1997, p.175-76):
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[...] a aproximação que o CNRC deu ao conceito de bem cultural atinge umaárea de que o Patrimônio não estava cuidando. Ou seja: o bem culturalmóvel, as atividades do povo, as atividades artesanais, os hábitos culturaisda humanidade.O Patrimônio atuava de cima para baixo, e , de certo modo,com uma concepção elitista [...].
Na prática, as incompatibilidades das três instituições fundidas não foram
superadas, principalmente entre IPHAN e CNRC, pois a proposta deste último ficou
apenas em discurso. Os processos de tombamento aumentaram consideravelmente
na década de 80, diminuindo a inclusão de bens arquitetônicos religiosos e militares
e aumentando a inclusão de conjuntos.
Mas o tombamento de bens representantes da cultura popular ainda era
raro e segundo Fonseca (1997, p.242) “[...] não ocorreram tombamentos de bens
referentes às etnias indígenas, o que leva a supor que o interesse desses grupos
estivesse voltado para outras frentes de atuação política [...]”.
No governo Collor foram extintos os órgãos responsáveis pela proteção
do patrimônio até então, sendo criado o Instituto Brasileiro de Patrimônio Cultural -
IBPC, diminuindo os incentivos fiscais. A discussão acerca do patrimônio vem
novamente à tona com a criação do Artigo 216 e seus incisos, na Constituição de
1988 (2000, p.99), com a seguinte definição:
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material eimaterial, formados individualmente ou em conjunto, portadores dereferência à identidade, à ação, à memória dos diferentes gruposformadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:I- as formas de expressão;II- os modos de criar, fazer e viver;III- as criações científicas, artísticas e tecnológicas;IV- as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaçosdestinados às manifestações artístico- culturais;V- os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
O Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN foi
retomado em 1995, permanecendo com suas ações voltadas à identificação,
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documentação, restauração, conservação, preservação, fiscalização e difusão de
bens imóveis isolados ou em conjuntos e dos bens móveis.
Segundo o Relatório de Atividades do IPHAN (2001, p.11-13), cabem
ainda ao órgão os Registros dos Bens Culturais de Natureza Imaterial, a partir da
promulgação do Decreto n° 3.551, em agosto de 2000, mas que já fazia parte das
intenções desde a criação do órgão. O registro é feito por meio de quatro livros:
Registro dos Saberes, das Celebrações, das Formas de Expressão e dos Lugares.
O órgão realiza também, ações de preservação apoiadas pelas comunidades,
governos estaduais, municipais e federais estando os acervos sob guarda de suas
14 Superintendências Regionais, Gerência Executiva de Brasília, 19 Sub-Regionais,
13 Museus Nacionais, somados a 18 Museus Regionais, 9 Casas Históricas e 3
Parques Nacionais.
O Maranhão conta desde 1980 com a 3ª Superintendência Regional para
assegurar a proteção de seus 20 bens tombados a nível federal, incluindo bens
isolados e conjuntos.
2.2.3 Patrimônio maranhense
De acordo com a Lista dos Bens Tombados (IPHAN, 1994), o IPHAN
realizou os primeiros tombamentos no Maranhão em 1940, com a inscrição nos
Livros de Tombo dos monumentos Sambaqui do Pindahy (19/1/1940) em Paço do
Lumiar, da Capela de São José das Laranjeiras e do Portão Armoriado da Quinta
das Laranjeiras (16/4/1940), em São Luís.
Em 1948 ocorreu o Tombamento Federal do Conjunto Arquitetônico e
Urbanístico da sede do município de Alcântara (29/12/1948) e mais oito
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tombamentos isolados foram feitos em São Luís até o início da década de 60, sendo
eles: Fonte do Ribeirão (14/7/1950), Retábulo do altar-mor da Igreja Catedral de
Nossa Senhora da Vitória (23/8/1954), Largo fronteiro à Igreja de São José do
Desterro (23/12/1955), conjunto arquitetônico e paisagístico das Praças Benedito
Leite, João Francisco Lisboa e Gonçalves Dias (23/12/1955), Casa na Avenida
Pedro II números 199 a 205 (17/8/1961), Casa na Rua do Sol, nº 84 – Sede da
Academia Maranhense de Letras (9/11/1962) e da Fonte das Pedras (12/7/1963).
De acordo com Andrès (1998, p. 104-108), a partir de 1960 as
preocupações com a preservação do Centro Histórico de São Luís começaram a ser
apresentadas por parte do governo estadual, pois em 1966, com o apoio da
UNESCO, foi enviado ao Maranhão o arquiteto francês Michel Parent para avaliar os
acervos de São Luís e Alcântara.
Três anos depois, em 1969, a Superintendência do Desenvolvimento do
Maranhão - SUDEMA enviou um relatório ao Governo do Estado com medidas a
serem tomadas para a proteção do Patrimônio Arquitetônico de São Luís, onde foi
proposto o tombamento do seu Centro Histórico e a isenção do Imposto Predial
àqueles pertencentes a essa área.
Em 1973, o Governo Estadual, com o apoio da UNESCO, recebeu o
arquiteto português Viana de Lima que elaborou um minucioso estudo acerca do
Centro Histórico de São Luís, levando-o à criação de propostas de preservação e
revitalização da área. Foram realizadas várias obras de restauração de prédios de
importante valor, através do Programa Integrado de Reconstrução das Cidades
Históricas do Nordeste da Secretaria de Planejamento da Presidência da República
e, ainda, no dia 1º de março desse mesmo ano, foi criado o Departamento de
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Patrimônio Histórico, Artístico e Paisagístico do Maranhão, através do Decreto nº
5.267.
Somente em 13 de março de 1974 o Conjunto Arquitetônico e
Paisagístico da Cidade de São Luís foi tombado pelo Governo Federal,
compreendendo os bairros da Praia Grande, Desterro e Ribeirão. No âmbito
municipal, o Projeto Mirante reabilitou os nomes antigos das ruas e praças, que até
então tinham sido substituídos por novos nomes e resolve abaixar em 60% o
Imposto Predial ao proprietário que recuperasse a fachada de seu imóvel.
Em 1975, de acordo com o IPHAN (1994, p.52), ocorreu o tombamento
dos Remanescentes da Fortaleza de Santo Antônio na Ponta da Areia (06/8/1975) e
também foi publicado o “Programa Plurianual de Valorização do Patrimônio Histórico
e Artístico do Estado”, pela Fundação Cultural do Estado do Maranhão -FUNCMA.
Em 1978, foi tombado pelo IPHAN o Palacete Gentil Braga (01/11/1978) e
aprovada a Lei Estadual que constitui a base legal no Estado do Maranhão para a
preservação do Patrimônio Histórico, Artístico e Paisagístico.
No período de 1977-1979, o governo estadual através da Secretaria de
Coordenação e Planejamento - SEPLAN, juntamente com o arquiteto John Gisiger,
realizou um amplo estudo sobre questões referentes à revitalização econômica,
tráfego e transporte, restauro e renovação urbana, pesquisas sócio-econômicas e
vários outros aspectos da área tombada do Centro Histórico de São Luís, servindo
de subsídio para o Projeto Praia Grande, posteriormente implantado.
Em outubro de 1979 foi promovida pela SEPLAN - MA e Subsecretaria do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SEPLAN um encontro de técnicos e
representantes de órgãos de todo o país ligados à proteção e preservação de Bens
Culturais para avaliar os trabalhos realizados. A partir da “Primeira Convenção
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Nacional da Praia Grande” foi elaborado o texto básico do Programa de Preservação
e Revitalização do Centro Histórico de São Luís - PPRCH, também conhecido como
Projeto Praia Grande/Reviver.
O Programa abrange vários subprogramas, contemplando: Promoção
Social e Habitação; Restauração do Patrimônio Artístico e Arquitetônico;
Recuperação da Infra-estrutura; Serviços e Prédios Públicos; Incentivo às Atividades
de Turismo Cultural; Revitalização das Atividades Portuárias; Recuperação do
Patrimônio Ambiental Urbano; Recuperação da Arquitetura Industrial;
Gerenciamento, Planejamento e Administração; Promoção de Parcerias e Captação
de Investimentos; Pesquisa e Documentação e Editoração e Divulgação.
Foi criada uma Comissão de Coordenação do PPRCH com
representantes de vários órgãos: Subsecretaria do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional - SEPLAN, Universidade Federal do Maranhão - UFMA, Secretaria de
Coordenação e Planejamento - SEPLAN, Secretaria de Transportes e Obras
Públicas - SETOP, Prefeitura de São Luís, Secretaria de Urbanismo de São Luís,
Secretaria de Cultura do Maranhão e a Empresa Maranhense de Turismo -
MARATUR.
Em 1980, foi instalado em São Luís o escritório da II diretoria Regional da
SPHAN, atualmente IPHAN - 3ªSR, e um ano depois ocorreu o Tombamento Federal
do Sítio de Santo Antônio das Alegrias ou do Físico (29/1/1981).
Alguns anos depois foram tombados outros bens como o Prédio da antiga
Fábrica Santa Amélia (01/7/1987), Prédio do Engenho Central de São Pedro
(03/12/1998), no município de Pindaré- Mirim e o mais recente, a Casa das Minas,
em São Luís (12/2002).
31
3 TURISMO E ACERVO ARQUITETÔNICO
3.1 Turismo Cultural e Sustentabilidade
Ao longo de toda a história da humanidade a necessidade de se deslocar
sempre fez parte dessa trajetória seja por simples questões de sobrevivência ou
quaisquer outras razões condizentes com o momento histórico vivido.
No período renascentista, tiveram destaque as viagens culturais,
denominadas de Grand Tour, que de acordo com vários autores que descrevem a
trajetória da atividade turística, os filhos das famílias inglesas mais abastadas
viajavam em busca de aperfeiçoamento educacional, como é relatado por
Yasoshima (et al, 2002, p.36): “Para completar a sua educação, os jovens ingleses
viajavam por toda a Europa em companhia de seus tutores. A prática continua a se
desenvolver nos séculos XVII e XVIII, até se tornar uma moda entre as ricas famílias
inglesas.”
No século XIX, as viagens turísticas propriamente ditas foram
consolidadas, pois a Revolução Industrial proporcionou mudanças sociais
significativas como: o aumento do tempo livre, o surgimento de uma classe média e
a difusão das viagens lúdicas, tendo impulso com o desenvolvimento de transportes
ferroviário e marítimo a vapor (REJOWSKI,2002, p.42).
A atividade turística no século XX, ganhou cada vez mais espaço nesta
sociedade industrial, pois várias tecnologias foram desenvolvidas para diminuírem as
distâncias e o tempo gasto para chegar aos destinos e aliado a isso, por sua
relevância socioeconômica. É uma atividade em constante processo de crescimento,
visando cada vez mais a satisfação dos consumidores que se deslocam por diversas
32
motivações e dentre elas está inserido o desejo de consumir o patrimônio cultural de
uma determinada localidade, denominado de turismo cultural.
Esse segmento enquadra-se como uma das tendências da atividade
turística como é colocado pelas pesquisas desenvolvidas por Cooper, Fletche,
Gilbert e Wanhill (1993, apud GARRIDO; MENDONÇA; VASCONCELOS, 2000,
p.48):
O “novo” consumidor do turismo está bem mais informado, podendodiscernir sobre seus interesses, procurando qualidade e participação. [...]está deixando de preferir as férias passivas sob o sol e buscandoexperiências que o enriqueçam culturalmente e satisfaçam sua curiosidade.
Essas transformações no comportamento do consumidor são justificadas
por muitos teóricos, como decorrente do atual panorama mundial, produzido pelos
efeitos da globalização. Kevin Robin (apud HALL, 2003, p.77) argumenta que: “[...]
ao lado da tendência em direção à homogeneização global, há também uma
fascinação com a diferença e com a mercantilização da etnia e da ‘alteridade’.”
Dentre esses diferenciais encontram-se os acervos arquitetônicos das
cidades históricas, pois estes revelam características peculiares e representam um
elo entre o passado e o presente das localidades em que estão inseridos,
possibilitando aos visitantes uma viagem no tempo através de um cenário autêntico.
O turismo cultural tem sido uma alternativa para a tentativa de
preservação destes lugares, já que o fluxo de visitação depende do estado de
conservação desses ambientes.
A importância deste segmento do turismo para a preservação de acervos
arquitetônicos está intimamente ligada à sua definição, que segundo a Carta de
Turismo Cultural do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios- Icomos,
compreende (IPHAN, 2004):
33
[...] aquela forma de turismo que tem por objetivo, entre outros fins, oconhecimento de monumentos e sítios histórico-artísticos. Exerce um efeitorealmente positivo sobre estes tanto quanto contribui - para satisfazer seuspróprios fins - a sua manutenção e proteção. Esta forma de turismo justifica,de fato, os esforços que tal manutenção e proteção exigem da comunidadehumana, devido aos benefícios sócio-culturais e econômicos que comportapara toda a população implicada.
Para a obtenção de resultados positivos através do aproveitamento
turístico dessas áreas históricas, faz-se necessária a adoção de um planejamento
adequado, buscando-se um desenvolvimento sustentável, sendo este entendido
pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - CMMAD (apud
RUSCHMANN, 1997, p.109) como:
um processo de transformação, no qual a exploração dos recursos, adireção dos investimentos, a orientação da evolução tecnológica e amudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente efuturo, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas.
Esse modelo de desenvolvimento sustentável reportando-se para o
turismo cultural é refletido com o estímulo ao desenvolvimento local compatibilizado
com a preservação da identidade local, promovido pela aplicação do princípio de
sustentabilidade cultural que segundo Sachs ( apud SILVEIRA, 1999, p.90):
implica a necessidade de se buscar soluções de âmbito local, utilizando-seas potencialidades das culturas específicas, considerando a identidadecultural e o modo de vida local, assim como a participação da populaçãolocal nos processos decisórios e na formulação e gestão de programas eplanos de desenvolvimento turístico.
Na Conferência Geral da UNESCO, de 1976, para discutir a Salvaguarda
dos Conjuntos Históricos e sua Função na Vida Contemporânea ocorrida na cidade
de Nairóbi, foi enfatizada essa idéia de sustentabilidade do patrimônio histórico,
sendo recomendada a manutenção das funções já existentes e criando outras
novas, compatíveis com o contexto sócio-econômico, urbano, regional ou nacional
que estão inseridos. Ficou ainda estabelecido que essas funções devem ser
34
compatíveis com as necessidades sociais, culturais e econômicas da comunidade
local, sem comprometer as características do conjunto (IPHAN, 2004)
Na prática, esta concepção tem sido adotada pelos programas de
revitalização, permitindo que as características intrínsecas (históricas e culturais)
desse patrimônio arquitetônico sejam preservadas, através de sua reutilização com
atividades atuais, conservando seu uso original ou transformando-os em espaços
turísticos, visando promover a melhoria da qualidade de sobrevivência da população
residente, extinguindo a situação de abandono em que se encontravam vários
centros históricos.
Segundo Oliveira (2002, p.39) “o turismo é usado para combater a
imagem de uma cidade obsoleta, introduzindo novos usos que, dessa maneira, tirem
proveito de seu caráter histórico e do seu ambiente”.
O Programa de Revitalização implementado no Centro Histórico de São
Luís possui políticas de orientação que visam: promover a restauração do patrimônio
arquitetônico e ambiental urbano, reintegrando-o à dinâmica socioeconômica da
cidade; incentivar atividades comerciais de produtos regionais de interesse turístico;
garantir a participação da comunidade nas ações de preservação através da
formação de associações; estimular atividades culturais e educacionais através de
centros culturais, entre outros parâmetros, baseados no princípio da sustentabilidade
cultural (ANDRÈS, 1998).
Além da reabilitação, outro fator preponderante para garantir o aumento
do fluxo de visitação turística em cidades históricas é o Título de Patrimônio Cultural
da Humanidade, concebido pela UNESCO. Este reconhecimento ultrapassa os
limites territoriais em que se encontram edificados esse patrimônio, passando a ser
35
de propriedade universal. As cidades adquirem respaldo e também há uma
divulgação internacional que favorece o desenvolvimento da atividade turística.
Segundo Silva (2003, p.92), esta lista foi criada com os seguintes
objetivos:
- limitar as operações do Comitê do Patrimônio Mundial a um númerorazoável de bens;- alertar a opinião pública mundial da importância e dos perigos queameaçam os bens culturais de interesse universal;- servir de instrumento de divulgação a serviço de campanhas internacionaispromovidas para angariar fundos, facilitando a identificação dos bens paraos quais o público poderá ser solicitado a contribuir.
Os critérios adotados para a inscrição de um bem na Lista de Patrimônio
Mundial são “os que definem valor universal excepcional do bem, a sua
autenticidade e a comprovação de que o Estado interessado adotou medidas
protetoras adequadas ao bem objeto de inscrição” (SILVA, 2003, p.93).
No Brasil, várias cidades históricas áreas reconhecidas pela UNESCO
como Patrimônio Cultural da Humanidade, os centros históricos de Ouro Preto,
Olinda, Salvador, São Luís, Diamantina e Goiás e ainda o Santuário de Bom Jesus
dos Matozinhos, em Congonhas, representando locais consagrados para o
desenvolvimento do turismo cultural.
3.2 O Centro Histórico de São Luís
3.2.1 Formação
De acordo com os limites estabelecidos no Tratado de Tordesilhas de
1494, fixado entre Portugal e Espanha, as terras brasileiras couberam a Portugal
colonizar. Esse processo de ocupação iniciou-se a partir do litoral leste do país,
36
ficando o litoral norte sujeito a constantes investidas estrangeiras, principalmente
francesas.
Desse contato francês, que segundo Meireles (2001, p.39) ocorreu desde
1594, através de Jacques Riffault, quando foi estabelecida uma feitoria na Upaon-
açu dos índios Tupinambás, resultou a fundação de uma colônia no litoral norte do
Brasil, a França Equinocial, em 1612.
Os nobres Daniel de La Touche, Nicolau de Harlay e François de Razilly
foram os incumbidos pela Coroa francesa de tal missão.Essa conquista formalizou-
se em 8 de setembro daquele mesmo ano, com a celebração de uma missa, após a
conclusão da construção do Forte São Luís, nome dado a esta fortificação, em
referência ao rei Luís XIII e à rainha Maria de Médici.
Após três anos de dominação francesa as terras foram retomadas por
Portugal, após sucessivas batalhas, tendo como definitiva a Batalha de
Guaxenduba, que garantiu a expulsão dos invasores. Essa vitória exigia que fossem
tomadas providências, por parte da Coroa portuguesa, para a implementação de seu
domínio.
Em 1615 foi criado um traçado urbano para a cidade, de autoria do
engenheiro-militar Francisco Frias de Mesquita, que traçou a distribuição das ruas de
acordo com os pontos cardeais, constituindo um modelo referencial para orientar as
construções e conferindo à cidade, uma característica de modernização em relação
ao medieval adotado em outras cidades brasileiras, conforme afirma Andrès (apud
ICOMOS, 2000, p.224).
Também foi criado, em 1617, o Estado do Maranhão, compreendendo
aos atuais estados do Ceará, Piauí, Maranhão, do Pará, estados amazônicos,
37
Tocantins e parte de Goiás, com sede em São Luís, sendo ainda criada em 1619
uma Câmara Municipal na cidade.
O domínio português foi interrompido em 1641, quando holandeses
comandados pelo Almirante Jan Cornelizoon Lichtardt e pelo Coronel Koin
Anderson, renderam as tropas portuguesas, permanecendo na cidade até 1644,
quando se retiraram das terras após inúmeras batalhas.
Passando novamente à posse dos portugueses, em São Luís, segundo
Martins (2000, p.40) não foi implementado nenhum tipo de atividade econômica que
gerasse um significativo desenvolvimento.
Até a segunda metade do século XVIII, a cidade restringia-se a um
povoamento militar, refletindo nas construções, tendo estas, características de
fortificações, de acordo com Mota e Mantovani (1998, p.23).
No ano de 1755, com as reformas do marquês de Pombal, Primeiro
Ministro de Portugal, a realidade econômica do Maranhão mudou significativamente.
Foi criada a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, sendo
introduzida a mão-de-obra escrava negra.
Foi adotada a agricultura de exportação, tendo como principais produtos o
algodão e o arroz. Esse progresso econômico favoreceu São Luís, por ser o principal
ponto de escoamento dos produtos cultivados no Maranhão, principalmente o
algodão, para atender à indústria têxtil inglesa, além de ser favorecida pela sua
posição geográfica, facilitando o contato da ilha com o exterior.
A cidade cresceu a partir da atividade portuária, surgindo o bairro da Praia
Grande, onde se concentrava o centro do comércio da época. Os lucros dessa
atividade foram canalizados para as construções arquitetônicas.
38
De acordo com Martins (1999, p.71):
A renovação urbana da cidade ocorreu no mesmo período que Lisboa,Capital de Portugal, destruída por um terremoto em 1755, estava sendoreconstruída, sob a liderança do Primeiro Ministro do Rei D. José I, Marquêsde Pombal, razão pela qual São Luís é considerada uma cidade dearquitetura pombalina.
A infra-estrutura foi melhorada, as ruas foram pavimentadas, foram
criadas as praças e as construções de taipas foram substituídas por edificações de
alvenaria de pedra e cal. Segundo Moraes (1989, p.26), entre 1808 e 1856, “(...) o
número de habitações cresceu de 1.553 para 2.764, ao mesmo tempo em que as
casas de palha diminuíram de 300 para 144”.
Por volta de 1825 São Luís dispunha de iluminação pública, com lampiões
a óleo, que de acordo com Marques, (apud SILVA FILHO, 1998, p.29) foram
substituídos pelo álcool e alguns anos depois, pelo hidrogênio. Além disso, foi à
primeira cidade do Norte e Nordeste a possuir companhias de água e limpeza
urbana e a possuir uma Companhia Telefônica.
São Luís, merece, à vista de sua população e riqueza, o 4ºlugar entre ascidades brasileiras. As casas de 2 e 3 pavimentos são na maioriaconstruídas de grês de cantaria e a cômoda disposição interior correspondeao exterior sólido, de conforto burguês. (SPIX E MARTIUS, 1828apud, ALCÂNTARA, p.17).
No final do século XIX foram instaladas fábricas têxteis, marcando um
período de surto industrial na cidade, sendo utilizada uma arquitetura fabril típica da
época. Mas, no início do século XX, esta indústria têxtil entra em crise biniciando um
processo de decadência econômica, permitindo que o conjunto arquitetônico
permanecesse preservado, diferentemente de outras capitais brasileiras, que
sofreram várias modificações em suas construções com o processo de
modernização.
39
3.2.2 Caracterização do acervo arquitetônico
O conjunto arquitetônico de São Luís possui características dos séculos
XVIII, XIX e início do XX. Compreende uma área circundada por uma via de 8
quilômetros de extensão, o Anel Viário.
Suas ruas possuem um traçado ortogonal, orientado no sentido dos
pontos cardeais criado desde o século XVII. Suas edificações possuem
peculiaridades de tipologia, disposição interna e revestimento das fachadas,
principalmente no que diz respeito ao uso dos azulejos no exterior das edificações.
Esta adaptação ocorreu a partir do segundo quartel do século XIX, já que
os azulejos eram usados anteriormente no interior das residências, adequando a
partir de então, a sua utilidade de embelezamento à utilidade também de proteção
das fachadas contra as fortes chuvas do clima quente e úmido de São Luís
(ALCÂNTARA, 1980, p.26).
Para Santos Simões (apud SILVA FILHO, 1998, p.197): “[...] foi do Brasil
que veio para a velha metrópole a nova moda do azulejo na fachada [...], curioso
fenômeno de inversão de influências”.
Os edifícios habitacionais do Centro Histórico de São Luís recebem várias
denominações. Os prédios com até quatro pavimentos são chamados de sobrados e
alguns de solares. Possuem sacadas em gradis de ferro com desenhos apurados,
portadas em pedras de cantaria, acabamento refinado, com azulejos na fachada e
mirantes, para possibilitar a circulação de ar, a partir do térreo, para toda construção.
Foram construídos pela alta burguesia, tendo a função de moradia e de comércio em
seu pavimento inferior (ANDRÈS, 1998, p.232).
40
As moradias térreas estão associadas às pessoas de menor poder
aquisitivo da época, mas também possuem características peculiares, explícitas
através da classificação adotada por Alcântara (1980, p.21): “porta e janela”, “meia
morada”, “morada inteira” e “ morada e meia.”
Quadro 1 - Moradias térreas segundo classificação adotada por Dora Alcântara
Fonte: MARANHÃO (2004).
Existem também edificações com características ecléticas dos séculos
XIX e XX, possuindo elementos como platibandas, frontões triangulares, colunatas e
capitéis ornamentados.
De acordo com Andrès (1998, p.230) o conjunto arquitetônico do Centro
Histórico de São Luís ainda é bastante homogêneo e o traçado das ruas ainda
encontra-se preservado, fator de relevância para indicação e posterior inclusão da
cidade na Lista UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade no Brasil.
Seu acervo arquitetônico e paisagístico protegido situa-se em duas
grandes zonas tombadas. Uma tombada pelo IPHAN, compreendendo 978 prédios e
outra tombada pelo governo estadual com 4.629 edificações (Mapa 1).
Porta e Janela Meia-morada
Morada inteira Morada e meia
41
Mapa 1 – Áreas de tombamento federal e estadual.
Fonte: Andrès (1998).
A área urbana denominada “Zona de Preservação Histórica - ZPH”,
abrangendo as áreas federal e estadual e a ZPH-2, fazem parte das áreas e
monumentos sob proteção municipal, conforme as disposições da Lei de
Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo Urbano, complementar ao
Plano Diretor Urbanístico de 1992.
42
Un
ifam
iliar
Mu
ltifam
iliar
Federal 18,3 13,19 13,49 20,86 2,15 12,07 19,94 51 36 10 2 1 *** 56 1 17 4 4 9 10 ***
Estadual 20,28 12,85 3,58 53,05 0,51 3,97 5,76 68,31 27 2,61 0,51 0,24 1,33 16 0 21 0,7 2,1 11 46 1,9
Estilo Arquitetônico (%)N
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Uso
Area
Tabela 1 – Descrição das áreas de tombamento
Fonte: Prefeitura de São Luís. IPLAM, 1998.
Nota:*** Lotes vazios na área Federal contabilizados à parte.
De acordo com a Tabela 1 os maiores índices em relação ao uso dos
prédios correspondem à utilização residencial nas áreas federal e estadual, com
predominância de imóveis térreos. No que diz respeito ao estilo arquitetônico, os
percentuais não coincidem nas duas áreas, pois na federal o estilo tradicional
português predomina e na área estadual o estilo popular é o mais expressivo.
De acordo com os quesitos técnicos considerados para a inclusão da
cidade na Lista da UNESCO, o Centro Histórico de São Luís representa:
III) testemunho excepcional de tradição cultural;
IV) exemplo destacado de conjunto arquitetônico e paisagem
urbana que ilustra um momento significativo da história da
humanidade;
V) exemplo importante de um assentamento humano
tradicional, que é também representativo de uma cultura e de
uma época (ANDRÈS apud LIMA 2002, p.8).
43
3.2.3 Obras realizadas pelo PPRCH
No período de 1981-1982, iniciou-se a primeira etapa de obras de
intervenções físicas do PPRCH, conforme o Programa de Obras do Largo do
Comércio, foram recuperados o Beco da Prensa e a Praça da Praia Grande, sendo
investidos cerca de US$ 1 milhão.
Entre 1987-1990 foram recuperados o bairro da Praia Grande e
monumentos isolados como a Fábrica Cânhamo, Convento das Mercês e instalada
definitivamente a Casa Josué Montello. Também foram recuperadas as redes de
água, esgoto, energia elétrica, telefonia, sendo adotado um novo sistema de
iluminação pública, com a utilização de lampiões e foi restaurada a pavimentação de
ruas e calçadas, abrangendo 200 edificações tombadas pelo IPHAN. Foi investido o
equivalente a US$ 25 milhões.
Em 1991-1994 foram iniciadas as restaurações do teatro Arthur Azevedo
e da Fábrica Rio Anil, adaptando-a para sediar um centro educacional e foi
recuperado um sobrado para abrigar dez famílias de moradores do Centro Histórico.
De 1995-1999 foi recuperada e ampliada à infra-estrutura dos bairros do Desterro e
Portinho, com um investimento de US$ 53 milhões.
De acordo com o Relatório de Avaliação do PRODETUR I (2003, p.1-18),
a partir de 1998 o Governo do Estado do Maranhão assinou um contrato de
financiamento no valor de US$ 28.000.000,00 com o Programa de Desenvolvimento
do Turismo no Nordeste - PRODETUR, este financiado pelo Banco Interamericano
de Desenvolvimento - BID, para obras de recuperação e revitalização do Centro
Histórico.
44
Essa parceria permitiu a recuperação e adaptação de prédios para
abrigarem exposições permanentes e temporárias a exemplo da Casa do Maranhão,
da Morada das Artes e do Mercado das Artes.
A Rua da Estrela foi contemplada com várias obras do PPRCH,
compreendendo obras de pavimentação e restauração de prédios. Hoje agrega
atividades comerciais, institucionais, residenciais, culturais e de lazer em um cenário
histórico representado pela configuração de suas edificações.
45
4 RUA DA ESTRELA: usos e potencialidades
De acordo com o processo de formação do Centro Histórico de São Luís
descrito no tópico anterior, a prosperidade econômica foi um dos principais fatores
responsáveis pelo investimento nas edificações. A Rua da Estrela, também chamada
de Cândido Mendes, foi palco desse momento histórico, pois abrigou grandes firmas
comerciais e ainda foi local de moradia de importantes comerciantes desta época,
conforme atesta a descrição feita por Vieira Filho (1974, p.49)
Cheia de sobrados gordos, enormes, muitos revestidos de formososazulejos portugueses, a rua da Estrela concentrava o comércio inglês quealternava, em força econômica, com os cutrucas apatacados da PraiaGrande e rua do Trapiche. Eram os Gunston, os Youle, os Moon, os Wilson,os Season, os Turner, os Bingham, os Haddon Clark, etc.
A Rua da Estrela ao longo dos anos passou por inúmeras transformações
socioeconômicas, iniciadas desde a decadência da economia de exportação que
ocasionou uma estagnação econômica no Bairro da Praia Grande, já mencionada na
seção anterior do trabalho, pois este fato limitou o crescimento urbano da cidade,
preservando a configuração arquitetônica que hoje pode ser observada ao percorrer
a Rua.
A pesquisa realizada comprova esta informação, pois de acordo com a
Tabela 2, na Rua da Estrela há predominância de imóveis em estilo tradicional
português, com 2 pavimentos. No que concerne à utilização dos prédios, o índice
mais significativo detectado foi o institucional, compreendendo a repartições públicas
e privadas, o que constata que há um fluxo de pessoas e veículos mais intensos nas
horas semanais de trabalho e mais escasso nos finais de semana. Também possui
um elevado número de imóveis sem uso, provocando um estado de abandono e
46
aumentando o risco de desabamentos, o que ocasiona perdas irreparáveis ao
acervo e compromete a segurança de moradores, usuários e visitantes da Rua.
Un
ifamiliar
Mu
ltifamiliar
Quant. 3 15 1 2 1 19 5 - 17 15 35 9 1 1 2 31 - 7 5 - 8 10 2
% 5 24 2 3 2 30 8 - 27 24 56 14 2 2 3 49 - 11 8 - 13 16 3
ResidenciUso do Solo
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Estilo Arquitetônico
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colo
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Eclético
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icion
al
Neo
clássico
Tabela 2 – Descrição dos imóveis da Rua da Estrela.
Alguns prédios são aproveitados para diversos tipos de prestação de
serviços como: pousadas, sindicatos, restaurantes, bares, entre outros, com
destaque para estes dois últimos, podendo ser justificada pelo propósito de atender
a demanda turística que visita a área. O escasso número de estabelecimentos
comerciais também está direcionado para a atividade turística tendo gêneros
alimentícios e artesanato, como principais produtos de comercialização.
Comparando-se a Tabela 2 com a Tabela 1 apresentada na seção
anterior, o estilo arquitetônico predominante na Rua da Estrela coincide com a área
federal, mas quanto ao número de pavimentos e uso dos imóveis diverge da área
federal e estadual. Isso assegura uma grande atratividade turística, pois a Rua reúne
um número significativo de sobrados tradicionais portugueses e abrange várias
atividades institucionais e de serviços.
Vários destes aproveitamentos dos prédios foram viabilizados por
reformas implementadas na Rua da Estrela pelo PPRCH, compreendendo a obras
de pavimentação, calçamento, instalação subterrânea do sistema de fiação de
47
energia elétrica e telefonia, ampliações de prédios para sediar instituições, um
sobrado para servir de habitação e ainda foi criado um espaço externo de lazer.
A Feira da Praia Grande, conhecida historicamente como Casa das
Tulhas, foi construída desde o século XIX, com propósitos de comercialização de
produtos regionais de primeira necessidade, conforme afirma Reis (1982, p.24). Foi
contemplada com obras de ampliação dos boxes e melhoria da infra-estrutura em
geral, por ser de grande atratividade turística, pela comercialização de produtos
regionais, além de abrigar vários bares e restaurantes.
Compreende a um conjunto de edificações que formam um quadrilátero,
com quatro portões de entrada. Em sua fachada principal, voltada para a Rua da
Estrela, possui um frontão triangular, onde exibe um brasão imperial em pedra de
lioz. Ao longo de suas fachadas já sofreu várias modificações possuindo um
conjunto bastante heterogêneo, mas alguns preservam o estilo tradicional português.
Segundo o Sr. Raul Silva Neto, proprietário do “Antigamente Bar e
Restaurante”, a escolha por instalar na Rua da Estrela o seu empreendimento
deveu-se por considerar o local como o ponto central do Bairro da Praia Grande.
Relatou ainda que é importante preservar as características tipológicas do acervo
arquitetônico, pois ele é o principal produto do turismo cultural de São Luís.
Foto 1 - Fachada principal da Casa das Tulhas Foto 2 – Ambiente interno do “Antigamente Bar”
48
De acordo com o Programa de Incentivos às Atividades Culturais, do
PPRCH, foi criado o Espaço Cultural João do Vale. Instalado em um prédio que
abrigou um depósito de açúcar no passado, adquirido pelo Estado em 1988. O
prédio possui um estilo moderno, alguns elementos foram inseridos na fachada,
compatíveis com arquitetura colonial e foram construídos camarins, sanitários e um
palco móvel de madeira para espetáculos.
As primeiras reformas feitas no antigo galpão não tinham qualidade para
satisfazer ao público e aos artistas, com várias deficiências nos sistemas de
iluminação, som e não possuía equipamentos de refrigeração e palco apropriado.
Diante de tais problemas, recentemente passou por um processo de
modernização no que diz respeito à climatização, iluminação, equipamentos cênicos,
sonorização e acústica. Possui uma área construída de 1.210,00 m2 e a obra foi
concluída em dezembro de 2001, tendo um custo no valor de R$ 1.660.650,31
(PRODETUR,1998).
Foto 3 - Fachada do Teatro João do Vale
Fonte:MARANHÃO (2004).
Também foi aproveitado um espaço criado a partir do arruinamento do
prédio da antiga sede da Companhia de Comércio do Maranhão e Grão-Pará, que
49
após os desabamentos permaneceu abandonado, servindo até de estacionamento
de veículos. Em 1989, foi construída ali uma praça de nome Reviver, que ano de
2001, foi reformada recebendo o nome do poeta maranhense Nauro Machado. Tem
o propósito de ser palco de apresentações de manifestações culturais do Estado,
possuindo sanitários públicos, fraldário, um palco e outros elementos modernos. A
obra foi concluída em dezembro de 2001, com custo no valor de R$ 300 mil
(MARANHÃO, 2004).
Foto 4 - Vista da Praça Nauro Machado
Fonte: MARANHÃO (2004)
Ainda com base em um dos subprogramas previstos no PPRCH, o de
Promoção Social e Habitação, foram instaladas no sobrado de Nº 350, 12
apartamentos, duas lojas e área de lazer. A reforma foi feita para abrigarem
apartamentos residenciais destinados a famílias de funcionários públicos que
trabalham na Praia Grande. O prédio é de estilo tradicional português, com dois
pavimentos, fachadas azulejadas, portadas emolduradas em cantaria e sacadas.
Atualmente existem 26 pessoas residindo no local e ainda uma loja de exposição e
venda de trabalhos manuais produzidos pelas crianças e adolescentes da Fundação
da Criança e Adolescente - FUNAC.
50
Foto 5 – Fachada do sobrado nº 350
Com relação ao objetivo de aumentar o fluxo de alunos no Centro
Histórico de São Luís, foram instaladas na Rua da Estrela as Escolas de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade Estadual do Maranhão e a Escola de Música do
Estado.
O conjunto de prédios que hoje abriga a Faculdade Estadual de
Arquitetura e Urbanismo já havia sofrido várias modificações ao longo de seus usos,
mas ainda preserva alguns aspectos originais considerados relevantes, como as
paredes externas e as internas do primeiro pavimento, nos fundos dos prédios ainda
restam ferragens de antigos equipamentos de embarque e desembarque, por terem
antes da construção do Anel Viário, acesso direto ao Rio Bacanga, comprovando a
intensa atividade portuária da área.
51
Foto 6 - Fachada da Escola de Arquitetura e Urbanismo
Suas fachadas são em estilo tradicional português, com balcões sacados
e gradeados de ferro, possuem dois pavimentos e portas e janelas emolduradas em
pedras de cantaria.
A justificativa para a instalação da atual função nos imóveis, parte da
estreita relação entre o ensino e a pesquisa acadêmica objetivados pelo curso e o
acervo arquitetônico do Centro Histórico de São Luís, possibilitando ações
extracurriculares que revitalizem a área (PRODETUR, 1998).
Foram construídas dez salas de aula, biblioteca, laboratórios e auditório,
sendo instalado no hall de entrada do primeiro pavimento um Salão de Exposições,
dentre várias outras adaptações. A obra , foi concluída em dezembro de 2001, com
custo no valor de R$ 1.500.000,00.
Com o mesmo intuito, foi instalada a Escola de Música “Lilah Lisboa”,
nome que recebeu em homenagem à musicista e antiga proprietária do solar. Possui
elementos do estilo “Art Noveau”, marcado pela presença de elementos com motivos
florais e um jardim externo, estas características chegaram a São Luís no início do
século XX e que fogem ao padrão tradicional das demais construções do conjunto
em que está inserido.
52
Foto 7 - Fachada do prédio da Escola de Música “Lilah Lisboa”
Fonte: COSTA FILHO, Alcindo Alves da.
É um sobrado de três pavimentos e mirante, com fachadas para três ruas,
mas com acesso principal pela Rua da Estrela. Foram conservadas as divisões
internas originais do prédio, concentrando neste local as atividades administrativas
do órgão. Mas, devido à finalidade de instalação de uma Escola de Música, foram
criadas dezenove salas de aula, auditório para 150 lugares, foyer, galeria, biblioteca
e cinco salas para a Administração. Possui uma área construída de 1.221 m2 e a
obra foi concluída em abril de 2001 com o custo no valor de R$ 1.311.450,63
(PRODETUR, 1998).
Ainda dentre os prédios reformados pelo PPRCH para instalação de
repartições públicas, localizados na Rua da Estrela, insere-se o Solar dos
Vasconcelos. O imóvel encontrava-se em ruínas, existindo apenas o piso térreo e a
escadaria de acesso ao piso inferior, que provavelmente tinha função de serviços,
alojamento de empregados e de depósito de mercadorias, devido à proximidade dos
fundos do prédio com o Rio Bacanga.
Hoje abriga o Departamento do Patrimônio Histórico, Artístico e
Paisagístico - DPHAP-MA, o Departamento de Projetos Especiais - DPE e a Unidade
Executora do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste - PRODETUR.
53
Além desses órgãos, o local ainda possui um rico acervo que conta à história da
cidade e do Programa de Preservação e Revitalização do Centro Histórico de São
Luís, com um Salão de Maquetes, Oficina Escola de Cerâmica (João de Barro),
Oficina Escola de Maquetes e Oficina Escola de Embarcações.
Foto 8 - Solar dos Vasconcelos
Fonte: MARANHÃO (2004)
Também não foram modificados o piso térreo e a escadaria de acesso ao
piso inferior, a escada principal foi construída com elementos modernos e o
pavimento superior foi construído sobre laje de concreto. A obra foi concluída em
abril de 2001 (SECMA, 1998).
A fachada do prédio foi conservada, sendo um sobrado do século XIX,
com dois pavimentos, com portas superiores e inferiores, balcões sacados com
guarda-corpo de ferro, sendo que o central possui linhas curvas, englobando três
janelas.
54
Foto 9 - Salão de Maquetes do Solar dos Vasconcelos
Outras obras que não fazem parte do PPRCH foram feitas na Rua da
Estrela. Com o objetivo de conciliar os interesses de preservação do acervo
arquitetônico com a atividade turística, o Governo do Estado reformou o Solar do
Largo do Comércio. Possui uma área construída de 2.646,73 m², sendo adaptada
para o funcionamento de uma pousada, com 42 apartamentos, área de lazer. Além
de sua relevância por suas características tipológicas, guarda uma pintura mural do
século XIX, retratando a Praça do Comércio em Lisboa antes do terremoto de 1775.
A pintura foi descoberta em 1982, durante as primeiras obras de recuperação do
edifício.
FOTO 10: Pintura Mural, Solar do Largo do Comércio
Fonte:COSTA FILHO, Alcindo Alves.
55
O prédio é um sobrado de três pavimentos, fachadas com balcões
sacados e gradeados de ferro, com portas e janelas emolduradas de cantaria.
Foto 11- Fachada do Solar do Largo do Comércio
Fonte: COSTA FILHO, Alcindo Alves de.
A Rua da Estrela possui também vários prédios que foram reformados
para instalar empreendimentos privados, tendo em vista atrair consumidores através
do cenário que é proporcionado pelo conjunto arquitetônico. Como referência,
tomamos “O Armazém da Estrela”, instalado em um sobrado tradicional português
de dois pavimentos, com porta central no primeiro pavimento ladeada por um par de
portas, e no pavimento superior, possui sacadas com guarda-corpo de ferro.
FOTO 12 - “O Armazém da Estrela”
56
De acordo com informações obtidas através da Gerente Geral do
empreendimento, a Srª. Kátia Lima, no prédio funcionava um armazém, mas não
foram feitas muitas intervenções, apenas foi adequada uma nova escada de acesso
ao piso superior. Relatou ainda que a escolha do local passa pelo entendimento dos
proprietários de que o acervo arquitetônico é o grande atrativo turístico da cidade. A
proposta da obra foi criar um espaço destinado à população maranhense e ao
turista, com atendimento de qualidade que enaltecesse a culinária, a música e a
literatura maranhense.
O estabelecimento dispõe de restaurante, salão para eventos, agência de
viagens, e cafeteria, sendo que esta possui uma livraria e um antiquário.
FOTO 13 – Amb. interno da agência de viagens FOTO 14 – Amb. interno da cafeteria e livraria
A partir das diferentes formas que o acervo arquitetônico da Rua Estrela
tem sido aproveitado, com atribuição de funções que acompanham a dinâmica atual
da cidade e agregam valores a este patrimônio cultural, observa-se que tem
demonstrado um resultado positivo, refletido na sua preservação, e
conseqüentemente, na recuperação da memória local.
Desperta uma consciência da importância da Rua no contexto histórico da
cidade, de uma determinada época e também da importância que a atividade
57
turística pode ocupar para a geração de benefícios, já que estes imóveis exercem
uma forte influência para o fluxo de visitação da cidade. Tal reconhecimento pode
ser comprovado com a pesquisa realizada e que será apresentada na seção
posterior.
58
5 RESULTADOS
Com o objetivo de investigar a opinião dos moradores, usuários a respeito
da significância da Rua da Estrela e dos possíveis benefícios que a atividade pode
proporcionar ao local, e para averiguar qual o principal atrativo da cidade e da Rua
segundo os turistas, foram aplicados um total de 115 questionários. O local
escolhido para a abordagem desse público foi à própria Rua da Estrela, para
assegurar a fidelidade dos dados.
Com moradores foram aplicados 15 questionários correspondendo a 30%
do universo total, que compreende a 50 pessoas, sendo considerados os números
obtidos com as informações dos próprios residentes (Apêndice A).
Foram aplicados 50 questionários, aleatoriamente com usuários,
abrangendo comerciantes, funcionários públicos e estudantes, todos da Rua da
Estrela e com turistas foram aplicados 50 questionários, correspondendo a 10% do
total 500 desse público que visita mensalmente o Solar dos Vasconcelos, de acordo
com seu Livro de Visitação do mês de inauguração, maio de 2001, quando o fluxo foi
mais intenso (Apêndice A).
Todos os questionários passaram por um processo de tabulação dos
resultados (Apêndice B), gerando gráficos que serão analisados a seguir.
59
5.1 Análise dos Dados
5.1.1 Dados de moradores
0
13
27
53
0
7
00
10
20
30
40
50
60
%
Sem escolaridade
Ensino fundamentalcompleto
Ensino fundamentalincompleto
Ensino médiocompleto
Ensino médioincompleto
Ensino superiorcompleto
Ensino superiorincompleto
27
7
53
7 7
00
10
20
30
40
50
60
%
Sem renda fixa
Menor que 1 (um)salário minímo
de 1 a 3 salários
de 4 a 6 salários
de 7 a 9 salários
Acima de 10salários
Gráfico 1 – Grau de instrução Gráfico 2 – Renda mensal
A renda mensal dos moradores observada no gráfico 2, está diretamente
associada ao grau de instrução demonstrada no gráfico 1, no qual o maior
percentual refere-se apenas à conclusão do Ensino Fundamental e somente 7%
possui Ensino Superior. Tal fato pode explicar a média de renda dos moradores
entre 1 e 3 salários mínimos.
87
13
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
SIM
NÃO
32
42
26
00
5
10
15
20
25
30
35
40
45
%
Histórico
Acervo
Local ondereside
Outros
Gráfico 3 – A Rua da Estrela tem algum significado? Gráfico 4 – A que atribui esse significado?
60
Para 87% dos moradores, a Rua da Estrela tem um significado e este é
representado por seu acervo arquitetônico, levando a compreensão da consciência
por parte dos residentes da importância do acervo.
93
7
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
%
SIMNÃO
3632
23
9
0
5
10
15
20
25
30
35
40
%
Geração deemprego
Preservação doacervo
Valorização dasmanifestaçõesculturais
outros
Gráfico 05 – O turismo beneficia a Rua da Estrela? Gráfico 06 –Como é gerado esse benefício?
Também é reconhecida a contribuição da atividade turística principalmente
no que diz respeito à geração de emprego, demonstrando apenas uma visão
econômica do turismo.
5.1.2 Dados de usuários
2
50
26
12
6
2 2
0
10
20
30
40
50
60
%
Abaixo de 17anos18 a 25 anos
26 a 35 anos
36 a 45 anos
46 a 55 anos
56 a 65 anos
Acima de 65anos
32
24
44
05
10
1520253035
404550
%
Estudante
FuncionárioPúblico
ProfissiosalLiberal
Gráfico 7 – Idade Gráfico 8 – Profissão
61
De acordo com o gráfico 7, o maior percentual dos entrevistados é jovem
na faixa etária de 18 a 25 anos, predominando os profissionais liberais como mostra
o gráfico 8, entre eles foram citados garçons, vendedores ambulantes, feirantes,
constatando que na Rua existem diversos tipos de atividades.
O gráfico 9 demonstra que os usuários não reconhecem a Rua da Estrela
apenas como um local de trabalho ou de estudo, mas principalmente como resultado
de um processo histórico, que ultrapassa o seu significado utilitário
37
2824
10
10
20
30
40
50
%
Histórico
Acervo
Local ondereside
Outros
Gráfico 9 – A que atribui esse significado?
O gráfico 10 vem comprovar a hipótese da pesquisa, pois a maioria dos
usuários acredita que a atividade turística pode beneficiar a Rua e o gráfico 11
revela que a preservação de seu acervo é o principal benefício.
98
20
20
40
60
80
100
%
SIM
NÃO
31
41
25
3
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
%
Geração deemprego
Preservação doacervo
Valorização dasmanifestaçõesculturaisoutros
Gráfico 10 – O turismo beneficia a Rua da Estrela? Gráfico 11 – Que forma é gerado esse benefício?
62
5.1.3 Dados dos turistas
De acordo com o gráfico 12, turistas consideram o acervo arquitetônico
como principal atrativo da cidade, se enquadrado na hipótese da pesquisa. O gráfico
13 revela que a Rua da Estrela despertou interesse nos turistas e o gráfico 14 vem
justificar a relevância do objeto de estudo pesquisado, pois o valor arquitetônico dos
imóveis representa o principal atrativo turístico da Rua. Também se verifica o
interesse por atividades que possam agregar valores às suas peculiaridades, de
acordo com os percentuais atingidos no que diz respeito ao item vida cultural.
43
36
21
0
10
20
30
40
50
60
70
%
Acervo
Manifestações
BelezasNaturais
98
20
20
40
60
80
100
%
SIMNÃO
Gráfico 12 – A que atribui esse significado? Gráfico 13 – Despertou algum interesse?
55
16
29
0
10
20
30
40
50
60
70
%
Acervoarquitetônico
História
Vida cultural
Gráfico 14 – Qual o motivo?
63
De acordo com as análises dos gráficos, detectou-se que os três públicos
entrevistados reconhecem a importância da Rua da Estrela , principalmente no que
diz respeito ao acervo arquitetônico e também quanto aos benefícios que a atividade
turística pode trazer na geração de empregos e no rejuvenescimento de seu acervo.
Mas alguns problemas também foram detectados, em relação à baixa
renda dos moradores e a falta de participação direta dessas pessoas na atividade
turística. Esses problemas podem ser resolvidos através da adoção de um
planejamento turístico em nível local.
Segundo a Organização Mundial de Turismo - OMT (2003), os princípios
do planejamento para a implementação de projetos turísticos, consistem em várias
abordagens práticas que devem ser aplicadas, como, por exemplo, adaptar a
proposta ao local de implementação, abranger todos os componentes do sistema de
turismo, integrar-se com todos planos e políticas locais, envolver a comunidade,
fundamentar-se nos princípios de sustentabilidade ambiental, traçar ações viáveis de
execução e propor ações de curto prazo para atender questões imediatas.
Para Petrocchi (1998 apud ROSE, 2002, p.56):
a finalidade do planejamento é definir as decisões básicas que articulam aspolíticas turísticas de um estado, região ou organização; ou seja,estabelecer diretrizes que orientarão as decisões para o desenvolvimentodo turismo, o tipo de turismo que se quer promover [...]. O planejamento dácoerência e convergência às atividades em prol do crescimento do turismo.
Para inserir os residentes da Rua da Estrela no desenvolvimento da
atividade turística, possibilitando-os usufruírem seus benefícios sócio-econômicos e
para que possa aumentar o fluxo turístico da área, traçaram-se algumas sugestões,
como a implantação de sinalização turística interpretativa nos imóveis mais
significativos da Rua, possibilitando aos visitantes reportarem-se à história do local.
Também no sentido de melhorar os equipamentos turísticos do local, faz-
se necessária à instalação de um posto de informações turísticas na Praça do
64
Comércio, pois representa um ponto de referência no Bairro da Praia Grande, e que
atualmente não dispõe destes serviços.
Para a comunidade, podem ser promovidos cursos de capacitação
profissional direcionados à atividade turística, para aumentar a renda dos moradores
da Rua. E por fim, deve ser estimulados a instalação de instituições culturais,
através de parcerias da iniciativa públicas e privadas, que possam desempenhar
atividades com moradores e aumentar o fluxo de pessoas na Rua todos os dias da
semana, já que foi constatado que durante semana há um fluxo maior de pessoas
nas horas de trabalho.
65
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O patrimônio cultural é uma construção social que resulta das várias
formas de pensar, agir e de vivenciar o cotidiano, construído por todos os segmentos
da sociedade.
As políticas de preservação do patrimônio cultural são resultantes da
necessidade de salvaguarda desses bens, em face às transformações que ocorrem
ao longo dos tempos.
No Brasil, essas medidas preservacionistas iniciaram efetivamente com o
movimento intelectual modernista, a partir de uma tentativa de criar uma identidade
nacional.
As construções arquitetônicas sempre foram um dos focos principais de
discussões, para a implantação de uma política efetiva de preservação, a fim de
salvaguardar estes representantes de momentos históricos relevantes para a
memória do local em que se encontram inseridos.
Várias sugestões foram colocadas em pauta para obtenção de sucesso
nas tentativas de preservação de cidades históricas e a atividade turística apareceu
como uma das mais cabíveis, com a intenção de torná-las vivas através de um
convívio harmonioso de bens culturais herdados com desenvolvimento
socioeconômico.
Esse propósito depende de um planejamento que envolva a participação
das iniciativas públicas e privadas e da comunidade local, para que sejam discutidas
prioridades a ser atendido com a finalidade desfrutar dos benefícios que o turismo
pode gerar.
66
Foi desenvolvido nesta pesquisa um estudo do Centro Histórico de São
Luís, que diante de suas características arquitetônicas constitui um produto de
grande potencial para o desenvolvimento do turismo cultural e que passou por um
processo de revitalização com o objetivo de resgatar a memória local através de
atividades que tem estimulado o fluxo de visitação turística da cidade. Dentre as
áreas inseridas neste cenário histórico, foi pesquisada a Rua da Estrela, compondo
um cenário histórico que também agrega diversas atividades atuais que estão
garantindo a sua preservação, através da utilização turística de alguns prédios, mas
que ainda necessita de iniciativas para maximizar o seu potencial ainda pouco
explorado.
67
REFERÊNCIAS
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planejamento.São Paulo: Papirus,2000.
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Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
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Paulo: Contexto, 2001.
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LIMA, Carlos de. Caminhos de São Luís: ruas, logradouros e prédios históricos.
São Paulo: Sicilico, 2002.
MARANHÃO. Secretaria de Cultura do Maranhão. Projeto sede da Coordenadoriado Patrimônio Cultural da SECMA. São Luís, 1998.
MARANHÃO. Programa BID/ Ministério da Cultural. Projeto sede da Faculdade deArquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual do Maranhão. São Luís:
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68
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Bens móveis e imóveis inscritos nos livros do tombo do Instituto Histórico eArtístico Nacional. Rio de Janeiro: IPHAN, 1994.
MEIRELES, Mário Martins. História do Maranhão. Rio: D.A.S.P., 1960.
MORAES, Jomar. Guia de São Luís do Maranhão. São Luís: Legenda, 1995.
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OLIVEIRA, Fernando V.de. Capacidade de carga nas cidades históricas. São
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PELLEGRINI FILHO, Américo. Ecologia, cultura e turismo.São Paulo:
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__________.Problemática do Patrimônio natural/cultural do Brasil.In: Turismo
em análise. São Paulo, 1990. n.1, v.1.
REJOWSKI, Mirian (Org.). Turismo no percurso do tempo. Aleph: São Paulo,
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SILVA, Fernando Fernandes da. As cidades brasileiras e o patrimônio cultural dahumanidade. São Paulo: Peirópolis, 2003.
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UNESCO. Centro Histórico de São Luís-Maranhão: patrimônio mundial.São
Paulo: Audichomo, 1998.
69
ANEXO
70
Anexo A – Decreto-Lei nº 25
DECRETO-LEI n° 25, de 30 de novembro de 1937
ORGANIZA A PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO
NACIONAL.
O Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, usando da atribuição quelhe confere o art. 180 da Constituição, decreta:
CAPÍTULO IDo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Artigo 1º - Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bensmóveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de interesse público,quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seuexcepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.
§ 1º - Os bens a que se refere o presente artigo só serão considerados parteintegrante do patrimônio histórico e artístico nacional depois de inscritos separada ouagrupadamente num dos quatro Livros do Tombo, de que trata o Art. 4º desta lei.§ 2º - Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são tambémsujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagensque importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotadospela Natureza ou agenciados pela indústria humana.
Artigo 2º - A presente lei se aplica às coisas pertencentes às pessoas naturais, bemcomo às pessoas jurídicas de direito privado e de direito público interno.
Artigo 3º - Excluem-se do patrimônio histórico e artístico nacional as obras de origemestrangeira:
1º) que pertençam às representações diplomáticas ou consulares acreditadas noPaís;2º) que adornem quaisquer veículos pertencentes a empresas estrangeiras, quefaçam carreira no País;3º) que se incluam entre os bens referidos no art. 10 da Introdução ao Código Civil, eque continuam sujeitas à lei pessoal do proprietário;4º) que pertençam a casas de comércio de objetos históricos ou artísticos;5º) que sejam trazidas para exposições comemorativas, educativas ou comerciais;6º) que sejam importadas por empresas estrangeiras expressamente para adornodos respectivos estabelecimentos.
Parágrafo único: As obras mencionadas nas alíneas 4 e 5 terão guia de licença paralivre trânsito, fornecida pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
71
CAPÍTULO IIDo Tombamento
Artigo 4º - O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possuirá quatroLivros do Tombo, nos quais serão inscritas as obras a que se refere o art. 1º destalei, a saber:
1º) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, as coisaspertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular, ebem assim as mencionadas no § 2º do citado art. 1º;2º) no Livro do Tombo Histórico, as coisas de interesse histórico e as obras de artehistórica;3º) no Livro do Tombo das Belas-Artes, as coisas de arte erudita nacional ouestrangeira;4º) no Livro do Tombo das Artes Aplicadas, as obras que se incluírem na categoriadas artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras.
§ 1º - Cada um dos Livros do Tombo poderá ter vários volumes.§ 2º - Os bens, que se incluem nas categorias enumeradas nas alíneas 1, 2, 3 e 4 dopresente artigo, serão definidos e especificados no regulamento que for expedidopara execução da presente lei.
Artigo 5º - O tombamento dos bens pertencentes à União, aos Estados e aosMunicípios se fará de ofício por ordem do Diretor do Serviço do Patrimônio Históricoe Artístico Nacional, mas deverá ser notificado à entidade a quem pertencer, ou sobcuja guarda estiver a coisa tombada, a fim de produzir os necessários efeitos.
Artigo 6º - O tombamento de coisa pertencente à pessoa natural ou à pessoa jurídicade direito privado se fará voluntária ou compulsoriamente.
Artigo 7º - Proceder-se-á ao tombamento voluntário sempre que o proprietário opedir e a coisa se revestir dos requisitos necessários para constituir parte integrantedo patrimônio histórico e artístico nacional a juízo do Conselho Consultivo do Serviçodo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou sempre que o mesmo proprietárioanuir, por escrito, à notificação, que se lhe fizer, para inscrição da coisa em qualquerdos Livros do Tombo.
Artigo 8º - Proceder-se-á ao tombamento compulsório quando o proprietário serecusar a anuir à inscrição da coisa.
Artigo 9º - O tombamento compulsório se fará de acordo com o seguinte processo:
1º) O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por seu órgãocompetente, notificará o proprietário para anuir ao tombamento, dentro do prazo dequinze dias, a contar do recebimento da notificação, ou para, se o quiser impugnar,oferecer dentro do mesmo prazo as razões de sua impugnação;2º) no caso de não haver impugnação dentro do prazo assinado, que é fatal, odiretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mandará por simplesdespacho que proceda à inscrição da coisa no competente Livro do Tombo;
72
3º) se a impugnação for oferecida dentro do prazo assinado, far-se-á vista damesma, dentro de outros quinze dias fatais, ao órgão de que houver emanado ainiciativa do tombamento, a fim de sustentá-la. Em seguida, independentemente decustas, será o processo remetido ao Conselho Consultivo do Serviço do PatrimônioHistórico Nacional, que proferirá decisão a respeito, dentro do prazo de sessentadias, a contar do seu recebimento. Dessa decisão não caberá recurso.
Artigo 10º - O tombamento dos bens, a que se refere o art. 6º desta lei, seráconsiderado provisório ou definitivo, conforme esteja o respectivo processo iniciadopela notificação ou concluído pela inscrição dos referidos bens no competente Livrodo Tombo.
Parágrafo único - Para todos os efeitos, salvo a disposição do art. 13 desta lei, otombamento provisório se equipará ao definitivo.
CAPÍTULO IIIDos efeitos do tombamento
Artigo 11 - As coisas tombadas, que pertençam à União, aos Estados ou aosMunicípios, inalienáveis por natureza, só poderão ser transferidas de uma à outradas referidas entidades.
Parágrafo único. Feita a transferência, dela deve o adquirente dar imediatoconhecimento ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Artigo 12 - A alienabilidade das obras históricas ou artísticas tombadas, depropriedade de pessoas naturais ou jurídicas de direito privado, sofrerá as restriçõesconstantes da presente lei.
Artigo 13 - O tombamento definitivo dos bens de propriedade particular será, poriniciativa do órgão competente do Serviço do Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional, transcrito para os devidos efeitos em livro a cargo dos oficiais do registrode imóveis e averbado ao lado da transcrição do domínio.
§ 1º - No caso de transferência de propriedade dos bens de que trata este artigo,deverá o adquirente, dentro do prazo de trinta dias, sob pena de multa de dez porcentro sobre o respectivo valor, fazê-la constar do registro, ainda que se trate detransmissão judicial ou causa mortis.§ 2º - Na hipótese de deslocação de tais bens, deverá o proprietário, dentro domesmo prazo e sob pena da mesma multa, inscrevê-los no registro do lugar paraque tiveram sido deslocados.§ 3º - A transferência deve ser comunicada pelo adquirente, e a deslocação peloproprietário, ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, dentro domesmo prazo e sob a mesma pena.
Artigo 14 - A coisa tombada não poderá sair do País, senão por curto prazo, semtransferência de domínio e para fim de intercâmbio cultural, a juízo do ConselhoConsultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
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Artigo 15 - Tentada, a não ser no caso previsto no artigo anterior, a exportação parafora do País, da coisa tombada, será esta seqüestrada pela União ou pelo Estadoem que se encontrar.
§ 1º - Apurada a responsabilidade do proprietário, ser-lhe-á imposta a multa decinqüenta por cento do valor da coisa, que permanecerá seqüestrada em garantia dopagamento, e até que este se faça.§ 2º - No caso de reincidência, a multa será elevada ao dobro.§ 3º - A pessoa que tentar a exportação de coisa tombada, além de incidir na multa aque se referem os parágrafos anteriores, incorrerá nas penas cominadas no CódigoPenal para o crime de contrabando.
Artigo 16 - No caso de extravio ou furto de qualquer objeto tombado, o respectivoproprietário deverá dar conhecimento do fato ao Serviço do Patrimônio Histórico eArtístico Nacional, dentro do prazo de cinco dias, sob pena de multa de dez porcento sobre o valor da coisa.
Artigo 17 - As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum, ser destruídas,demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço doPatrimônio Histórico e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas,sob pena de multa de cinqüenta por cento do dano causado.
Parágrafo único: Tratando-se de bens pertencentes à União, aos Estados ou aosMunicípios, a autoridade responsável pela infração do presente artigo incorrerápessoalmente na multa.
Artigo 18 - Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lheimpeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob penade ser mandada destruir a obra ou retirar o objeto, impondo-se neste caso multa decinqüenta por cento do valor do mesmo objeto.
Artigo 19 - O proprietário de coisa tombada, que não dispuser de recursos paraproceder às obras de conservação e reparação que a mesma requerer, levará aoconhecimento do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e necessidadedas mencionadas obras, sob pena de multa correspondente ao dobro da importânciaem que for avaliado o dano sofrido pela mesma coisa.
§ 1º - Recebida a comunicação, e consideradas necessárias as obras, o diretor doServiço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mandará executá-las, aexpensas da União, devendo as mesmas ser iniciadas dentro do prazo de seismeses, ou providenciará para que seja feita a desapropriação da coisa.§ 2º - À falta de qualquer das providências previstas no parágrafo anterior, poderá oproprietário requerer que seja cancelado o tombamento da coisa.§ 3º - Uma vez que verifique haver urgência na realização de obras e conservaçãoou reparação em qualquer coisa tombada, poderá o Serviço do Patrimônio Históricoe Artístico Nacional tomar a iniciativa de projetá-las e executá-las, a expensas daUnião, independentemente da comunicação a que alude este artigo, por parte doproprietário.
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Artigo 20 - As coisas tombadas ficam sujeitas à vigilância permanente do Serviço doPatrimônio Histórico e Artístico Nacional, que poderá inspecioná-las sempre que forjulgado conveniente, não podendo os respectivos proprietários ou responsáveis criarobstáculos à inspeção, sob pena de multa de cem mil réis, elevada ao dobro emcaso de reincidência.
Artigo 21 - Os atentados cometidos contra os bens de que trata o art. 1º desta lei sãoequiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional.
CAPÍTULO IVDo direito de preferência
Artigo 22 - Em face da alienação, onerosa de bens tombados, pertencentes apessoas naturais ou a pessoas jurídicas de direito privado, a União, os Estados e osMunicípios terão, nesta ordem, o direito de preferência.
§ 1º - Tal alienação não será permitida sem que previamente sejam os bensoferecidos, pelo mesmo preço, à União, bem como ao Estado e ao Município em quese encontrarem. O proprietário deverá notificar os titulares do direito de preferência ausá-lo, dentro de trinta dias, sob pena de perdê-lo.§ 2º - É nula a alienação realizada com violação do disposto no parágrafo anterior,ficando qualquer dos titulares do direito de preferência habilitado a seqüestrar acoisa e a impor a multa de vinte por cento do seu valor ao transmitente e aoadquirente, que serão por ela solidariamente responsáveis. A nulidade serápronunciada, na forma da lei, pelo juiz que conceder o sequestro, o qual só serálevantado depois de paga a multa e se qualquer dos titulares do direito depreferência não tiver adquirido a coisa no prazo de trinta dias.§ 3º - O direito de preferência não inibe o proprietário de gravar livremente a coisatombada, de penhor, anticrese ou hipoteca.§ 4º - Nenhuma venda judicial de bens tombados se poderá realizar sem que,previamente, os titulares do direito de preferência sejam disso notificadosjudicialmente, não podendo os editais de praça ser expedidos, sob pena denulidade, antes de feita a notificação.§ 5º - Aos titulares do direito de preferência assistirá o direito de remissão, se delanão lançarem mão, até a assinatura do auto de arrematação ou até a sentença deadjudicação, as pessoas que, na forma da lei, tiverem a faculdade de remir.§ 6º - O direito de remissão por parte da União, bem como do Estado e do Municípioem que os bens se encontrarem, poderá ser exercido, dentro de cinco dias a partirda assinatura do auto de arrematação ou da sentença de adjudicação, não sepodendo extrair a carta enquanto não se esgotar este prazo, salvo se o arrematanteou o adjudicante for qualquer dos titulares do direito de preferência.
CAPÍTULO VDisposições gerais
Artigo 23 - O Poder Executivo providenciará a realização de acordos entre a União eos Estados, para melhor coordenação e desenvolvimento das atividades relativas àproteção do patrimônio histórico e artístico nacional e para a uniformização dalegislação estadual complementar sobre o mesmo assunto.
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Artigo 24 - A União manterá, para conservação e exposição de obras históricas eartísticas de sua propriedade, além do Museu Histórico Nacional e do MuseuNacional de Belas Artes, tantos outros museus nacionais quantos se tornaremnecessários, devendo outrossim providenciar no sentido a favorecer a instituição demuseus estaduais e municipais, com finalidades similares.
Artigo 25 - O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional procuraráentendimentos com as autoridades eclesiásticas, instituições científicas, históricasou artísticas e pessoas naturais e jurídicas, com o objetivo de obter a cooperaçãodas mesmas em benefício do patrimônio histórico e artístico nacional.
Artigo 26 - Os negociantes de antigüidade, de obras de arte de qualquer natureza,de manuscritos e livros antigos ou raros são obrigados a um registro especial noServiço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, cumprindo-lhes outrossimapresentar semestralmente ao mesmo relações completas das coisas históricas eartísticas que possuírem.
Artigo 27 - Sempre que os agentes de leilões tiverem de vender objetos de naturezaidêntica à dos mencionados no artigo anterior, deverão apresentar a respectivarelação ao órgão competente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,sob pena de incidirem na multa de cinqüenta por cento sobre o valor dos objetosvendidos.
Artigo 28 - Nenhum objeto de natureza idêntica à dos referidos no art. 26 desta leipoderá ser posto à venda pelos comerciantes ou agentes de leilões, sem que tenhasido previamente autenticado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional, ou por perito em que o mesmo se louvar, sob pena de multa de cinqüentapor cento sobre o valor atribuído ao objeto.
Parágrafo único: A autenticação do mencionado objeto será feita mediante opagamento de uma taxa de peritagem de cinco por cento sobre o valor da coisa, seeste for inferior ou equivalente a um conto de réis, e de mais cinco mil-réis por contode réis ou fração que exceder.
Artigo 29 - O titular do direito de preferência goza de privilégio especial sobre o valorproduzido em praça por bens tombados, quanto ao pagamento de multas impostasem virtude de infrações da presente lei.
Parágrafo único - Só terão prioridade sobre o privilégio a que se refere este artigo oscréditos inscritos no registro competente antes do tombamento da coisa pelo ServiçoNacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Artigo 30 - Revogam-se as disposições em contrário.Rio de Janeiro, em 30 de novembro de 1937; 116º da Independência e 49º da
República.
Getúlio Vargas
Gustavo Capanema
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APÊNDICES
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Apêndice A - Questionários aplicados na Pesquisa.
Questionário/Turistas
Estou fazendo uma pesquisa sobre a importância da atividade turística para apreservação dos acervos arquitetônicos e estou enfocando a Rua da Estrela,gostaria que respondesse às perguntas abaixo. Saiba que estará dando uma grandecontribuição para a elaboração da minha monografia de conclusão do curso. Lembroque nenhuma das informações prestadas serão associadas à sua identidade.
Agradeço a cooperação.
1-Idade
( ) 18 a 25 anos ( ) 26 a 35 anos ( ) 36 a 45 anos
( ) 46 a 55 anos ( ) 56 a 65 anos ( ) Acima de65 anos
2-Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
3-Na sua opinião, qual (is) o (s) principal (is) atrativo (s) turístico (s) da cidade?
( ) Acervo arquitetônico
( ) As manifestações folclóricas
( ) As belezas naturais
Outros: _____________________________________________________
4-Com base nas ruas do Centro Histórico que você já visitou, a Rua da Estreladespertou em você algum interesse?
( ) Sim ( ) Não
5-Se despertou, por qual motivo?
( ) Acervo arquitetônico
( ) A sua história
( ) A sua vida cultural (bares, restaurantes, shows, comércio)
( ) Outros: __________________________________________________
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Questionário / Moradores
Estou fazendo uma pesquisa sobre a importância da atividade turística para apreservação dos acervos arquitetônicos e estou enfocando a Rua da Estrela,gostaria que respondesse às perguntas abaixo. Saiba que estará dando uma grandecontribuição para a elaboração da minha monografia de conclusão do curso. Lembroque nenhuma das informações prestadas serão associadas à sua identidade.
Agradeço a cooperação.
1- Idade
( ) 18 a 25 anos ( ) 26 a 35 anos ( ) 36 a 45 anos
( ) 46 a 55 anos ( ) 56 a 65 anos ( ) Acima de 65 anos
2- Sexo : ( ) Masculino ( ) Feminino
3- Grau de Escolaridade
4- Qual a sua profissão? _______________________________________
5- Você desempenha alguma outra atividade? ( ) Sim ( ) NãoQual?_______________________________________________________________________
6- Qual a sua renda mensal?
7- A Rua da Estrela tem algum significado para você? ( ) Sim ( ) Não
8- Se a resposta for positiva, a que você atribui este significado?
( ) Por seu significado histórico( ) Por seu rico acervo arquitetônico( ) Por ser o local onde reside( ) Outros
( ) Sem escolaridade
Ensino Fundamental ( ) Completo ( ) Incompleto
Ensino Médio ( ) Completo ( ) Incompleto
Ensino Superior ( ) Completo ( ) Incompleto
Outros:______________________________________________________________
( ) Sem renda fixa ( ) Menor que 1 salário mínimo
( ) 1 a 3 salários mínimos ( ) 4 a 6 salários mínimos
( ) 7 a 9 salários mínimos ( ) Acima de 10 salários
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9- Você acha que atividade turística pode beneficiar a rua da Estrela? ( ) Sim ( ) Não
10- Se acha que sim, de que forma é gerado esse benefício:
( ) Geração de emprego para os moradores( ) Preservação do acervo arquitetônico( ) Valorização das manifestações culturais( ) Outros.Quais?_____________________________________________________
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Questionário / Usuários
Estou fazendo uma pesquisa sobre a importância da atividade turística para apreservação de acervos arquitetônicos e estou enfocando a Rua da Estrela, gostariaque respondesse às perguntas abaixo. Saiba que estará dando uma grandecontribuição para a elaboração da minha monografia de conclusão do curso. Lembroque nenhuma das informações prestadas serão associadas à sua identidade.
Agradeço a cooperação.
1- Idade
( ) 18 a 25 anos ( ) 26 a 35 anos ( ) 36 a 45 anos
( ) 46 a 55 anos ( ) 56 a 65 anos ( ) Acima de 65 anos
2- Sexo : ( ) Masculino ( ) Feminino
3- Grau de Escolaridade
4- Qual a sua profissão?_________________________________________________
5- A Rua da Estrela tem algum significado para você? ( ) Sim ( ) Não
6- Se a resposta for positiva, a que você atribui este significado?( ) Por seu significado histórico( ) Por seu rico acervo arquitetônico( ) Por ser o local onde trabalha / estuda( ) Outros
7- Você acha que atividade turística pode beneficiar a rua da Estrela? ( ) Sim ( ) Não
8- Se acha que sim, de que forma é gerado esse benefício:( ) Geração de emprego( ) Preservação do acervo arquitetônico( ) Valorização das manifestações culturais( ) Outros.Quais?______________________________________________________
( ) Sem escolaridade
Ensino Fundamental ( ) Completo ( ) Incompleto
Ensino Médio ( ) Completo ( ) Incompleto
Ensino Superior ( ) Completo ( ) Incompleto
Outros:______________________________________________________________
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Apêndice B – Tabulação dos questionários aplicados.
Questão 1 Quant. Questão 2 Quant. Questão 3 Quant. Questão 4 Quant.17 a 25 1 Masc. 5 Sem Esc. 0 Autonômo 526 a 35 4 Fem. 10 Ens. Fund. Compl. 2 Func. Púb. 536 a 45 5 Ens. Fund. Incompl. 4 Estudante 246 a 55 3 Ens. Med. Compl. 8 Dona de Casa 356 a 65 1 Ens. Med. Incompl. 0Acima de 65 1 Ens. Sup. Compl. 1
Ens. Sup. Incompl. 0Questão 5 Quant. Questão 6 Quant. Questão 7 Quant. Questão 8 Quant.Sim 5 Sem Rend. 4 Sim 13 Histórico 6Não 10 Menor que 1 1 Não 2 Acervo 8
1 a 3 8 Local Reside 54 a 6 17 a 9 1Acima de 9 0
Questão 9 Quant. Questão 10 Quant.Sim 14 Geração Emp. 8Não 1 Preserv. Acervo 7
Manisf. Cultural 5Outros 2
Questão 1 Quant. Questão 2 Quant. Questão 3 Quant. Questão 4 Quant.17 a 25 26 Masc. 26 Sem Esc. 1 Profis. Liberal 2026 a 35 13 Fem. 24 Ens. Fund. Compl. 2 Func. Púb. 1236 a 45 6 Ens. Fund. Incompl. 3 Estudante 1846 a 55 3 Ens. Med. Compl. 1856 a 65 1 Ens. Med. Incompl. 4Acima de 65 1 Ens. Sup. Compl. 4
Ens. Sup. Incompl. 18Questão 5 Quant. Questão 6 Quant. Questão 7 Quant. Questão 8 Quant.Sim 44 Histórico 26 Sim 49 Geração Emp. 26Não 6 Acervo 20 Não 1 Preserv. Acervo 35
Local Trab/Est. 24 Manisf. Cultural 21Outros 1 Outros 3
Questão 1 Quant. Questão 2 Quant. Questão 3 Quant. Questão 4 Quant.17 a 25 7 Masc. 23 Histórico 35 Sim 4626 a 35 7 Fem. 27 Acervo 31 Não 436 a 45 12 Local Trab/Est. 1946 a 55 856 a 65 15Acima de 65 3
Questão 5 Quant.Acervo 31História 9Vida Cultural 17
Tabulação do questionário de moradores
Tabulação do questionário de Usuários
Tabulação do questionário de Visitantes
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Apêndice C – Tabela de uso dos prédios da Rua da Estrela.