1-os fatos e a indagaÇÃo · miguel reale jÚnior professor titular da facuidade de direito da...
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MKRJEL REALE Jt:JNIORPrctessor muiar da Facvli:iade de Direito {ia urrverstoacede SãoPaste
P A R E C E R
1- OS FATOS E A INDAGAÇÃO
A CONSTRUTORA MENDES JÚNIOR S/A, por intermédio de seu
ilustre advogado, Dr. JOS~ LUIZ LADEIRA BUENO, relata que a
e~presa fOl contratada, após vencer concorrência
pela COMPANHIA HIDROELÉTRICA DO SÃO FRANCISCO-CHESF,
ca,
para a
execução de terraplanagem e estrutura de concreto da usina de
ITAPARICA, tendo por longos anos financiado, com recursos
prOprios e também obtidos no mercado financeiro, o andamento
das obras, em razão de reiterada la da
contratante~
Propôs a Consulente Açào Declaratória contra a CHE,'::;F,
'1 s a noo ar) reconhecimento ao direito de ser r e s s a rci da "'om
r-e La ç à o aos custos fí nar.ce i r o s nos quais Incorreu para dar
i\. \
MIGUEL REALE JÚNIORprofessor Titular da Facuidade de Direito da U;\iversidatle de São Paul"
d2S meiiç6es pela COltratante.
1.1 - Decisão transitada em julgado
F. Açào De c La r a tó r i.a obteve
f ele paq amen t
no Tribunal de
Justiça de Pernambuco, sendo declarada a existência de
c r éci.i to da ccn s o Le nt e . o Superior Tribunal de Justiça não
conheceu do Recurso interposto pela CHES? A declsao
do Tribunal de Justiça de Pernambuco, portanto, transitou em
j ganhando, então, o créd to da Consulente em face da
CHESF reconhecimento definitivo, matéria que passa a ter
caráter incontroverso.
No acó r dão destaca-se a circunstância de ter a própria
CHESF reconhecido â existência do crédito da Construtora
Cons u Le nt e . Na verdade, a CHESF em sessão plenária de sua
Diretoria, em 1.987, esclareceu que:
"Embora reconhecendo que a Construtora tenha
sido levada a usar recursos próprios ou de
terceiros para manter o andamento da obra r em
função dos atrasos de pagamentos e que
eventualmente tenha arcado com custos financeiros
super.iores aos da correção financeira acrescido
de juros de mora conforme previsto na SIDE
LITTRER r a CHESF entende que não há de sua parte
qualquer outra natureza que a responsabilize por
2
MIGUEL REALE JÚNIORProfessorTHularda Facuidadede Direito da Universidadede São Paero
tal ressarcimen to r
empres:.i' . Ccnss e qúets te; >:,n re nac 21'
ccseiveI o e t encuce.vcc ao
Realça-se, também, a man i f e s t a ç ã o da CHESF di
presidente da na qual a CHESF afirma, acerca do
elto da ora Consulente, ser "clelicada uma decisão a
xe spe i t:c , face às conseqüências possíveis e a ausência de
disposição contratual, apesar da possível justiça ff•
Pondera-se, e n t ào , no acórdào, que "Impõe-se, a toda
evidência a obrigação legal da CHESF de ressarcir à empresa
MENDES JÚNIOR, empreiteira, dos prejuízos resultantes de sua
mora, para não se ver acusada de enriquecimento sem causa.
Esse locupletamento indevido tem merecido reprovação de nosso
Direito e é apenado com a restituição do El!:!_!?, i-njustamente
recebido" .
Finaliza c acórdão para declarar, diante desses
fundamentos, a existência de uma relação de crédi to da
Apelante contra a , a a vencedora o completo
ressarcimento com atualização dos valores relativos a juros
do mercado o encargos financeiros em decorrência do
financiamento
Itaparica" . . .
da construção da Usina Hidroelétrica de
Com base, portanto, no reconhecimento de direito de
créditos, na Açao Declaratória acima mencionada e transitada
em julgado, em face da CHESF, a Cc n s u Le n t.e contra a
)
MIGUEL REALE JÚNIORProfessorTitular da Facceeee de Direito da Universidadede SãoPae!o
Re c r e , na que obteve car.nc de caus e . e e nc c a
CHE3F condenada. ao pagamento, titulo de ressarcirnenro, de
cerca de bilhões de reais. Em Segunda Instância o feito foi
anulado a p a r t; r da que se entendeu .rr equ La r e
s realizada por issional nao
especializado, economista e não contador.
Desta decisão, .i n a Consulente Re c u r s o Especial,
que não foi conhecido. Nesta fase, solici teu a União sua
admissão no feito na qualidade de assistente, assistência que
foi acolhida pelo Tribunal, entendendo-se, corno decorrência,
que o processo deveria ser deslocado para a Just
agora competente, em face do interesse da União.
Federal,
Como assinalou c Professor JOSÉ ALEXANDRE TAVf:,?ES
GUERREIRO, em parecer ofertado em abril de 2.005, "a perda é
certa em sua substância (an debeatur), sendo ainda incertos
os valores (quantum debeatur) e o tempo da liquidação em
dinheiro do crédito já reconhecido como existente por decisão
transitada em julgado ff•
1.2 - Competência Federal
No que tange à admissão da Uni.â o e ao deslocamento ce
competência para a Justiça Federal, a Consulente apresentou
Embargos de Divergência, que após ser apreciado maioria
dos Ninistros, no sentido de seu to, dele se
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MIGUEL REALE JÚNIORProfessor Tiwlar da Faculcace de Oireiio ria Universidade de São Paulo
desi t u. Esta f 0-
i bun a de
mov
Os autos foram, e n t ã o , r eme t Lcios à .Ju s t.Lç a Federal em
Pernambuco, distribuidos a Vara, para se relnlciar o
processo em
perito contador.
.i n s t ánc i a , com a r e a Li z a ç â o da p e r i.c i a por
Em seu Laudo contábil, o perito JOSÉ ARGEMIRO DA SILVA
respondendo a quesito da CHESF, afirmou "não ser possível a
partir da análise dos registros contábeis da j-rendes Júnior
afirmar ter ela captado, nos períodos que ocorreram atrasos
no pagamento das faturas, recursos no mercado financeiro,
especificamente para o financiamento da obra de Itaparica H•
Com base nessa manifestaçdo, malgrado tenha-se chegado
ao valor indenizatório de 27 bilhões de reais para janeiro àe
1.997, em primeira perícia, atualizado esse valor em 80
bilhões de reais para 2.002, nos balanços apresentados pela
CHESF em 2.005, referente ao exercício de 2.004, em 2.006,
referente ao exercicio de 2.005 e agora em 2.007,
relativamente ao exercicio de 2.006, na Nota Explicativa no
Item referente a Contigências, a CHESF classificou como r~sco
de perda remoto as obrigaçoes existentes em face da
Consulente pelos créditos já reconhecidos judicialmente em
decisão transitada em julgado.
De relevo registrar que, dada a insuficiência do laudo
pelo to JOst ARGSMIRO DA SILVA, cumpria-lhe,
conforme determinação judicial, esclarecer diversos pontos.
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MIGUEL REALE JÚNIORProfessor Titular da Faculdade de Direi!o da Universidade de São Pavio
ern 23 de gosto de nnr:L_ ~,'-, v, perlto JOst ARGENl
apresente Ea cLa :CF:C .i.men tOS e dOS
c cme n t.á r i.os (' quesitos d a s partes, deixando clara. em suas
respostas às apresentadas efetividade
crédito Od ora Consulente, com a especificação de va ores.
1.3 - Laudo complementar
Nos Esclarecimentos, respondendo aos comentários e
quesitos das partes, o perito JOSÉ ARGEMIRO DA SILVA ao
comentar a seguinte frase do Assistente Técnico: "o Sr.
Feri to em seu laudo afirma que não há prova de obtenção de
recursos para financiamento da obra de Itaparica FF F
esclareceu:
"O perito não afirmou que não há prova de
obtenção de recursos para financiamento da obra
de Itaparica. o que O perito respondeu a um
quesi to da Ré foi: Não é possível a partir da
analise dos registros contábeis da Mendes Júnior
afirmar ter ela captado nos períodos em que
ocorreram atrasos no pagamen to das faturas/
recursos no mercado financeiro suportado
autora eepe c i t i cemetst.e para o financiamento da
obra de ltaparica. Com isto não signi,fica aí z e r
que não exista um crédito da Autora junto à Ré e
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MIGUEL REALE JUNIORProfessor Tiiu!ar tia Facuidade de Direito da \j,!ivsrsidade desão Paulo
quc' ec t:e c réci i L uma '/C-'2
atraso e custo financeiro que poderá ser
determinado dos empréstimos tomados enridade
tomados autora. Além do mais; c dos
contratos de financiamento não mencionarem a obra
de i i.epe x i cs , não significa que +----_ 7La .... obra não
tenha utilizado recursos financeiros, até porque
provado que o capital de
insuficiente para tal"
da Mendes era
Esclarecendo logo em seguida a outro comentário do
Assistente Técnico o perito afirmou:
\lA evidência de que foram aplicados recursos
na barragem de Itaparica é que a obra foi
realizada, faturas foram emitidas e que os
pagamentos foram feitos cem atraso e foram
celebrados inúmeros contratos de financiamento de
capital de giro pela autora pelos quais pagou
juros e encargos financeiros no mercado, pois não
possuía a construtora, época, recursos
necessários. Mesmo que a barragem tivesse sido
feita com recursos próprios o crédito seria
devido
tal N.
valente ao custo de oportunidade do
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MIGUEL REALE JÚNIORProfessorTitular da Facotcadede Direito da uruverstdace de SãoPacto
acerca
r-es.pc noe r
noe ele
em .3i
foi revisac:o. Após a rcvi s sc o valor cc s r i q i ác Ui' abr cu:
2.002 a taxa de 3,6% é de R$ 80. 65.962.549. 54".
responder a formulado CHESF acerca de
eventual divergência entre a assertiva de que nâo podia
afirmar que os recursos para capital de giro tomados no
mercado financeiro foram para a [JHE de Itaparica e ao mesmo
tempo apresentar UfL valor devido à t1endes Júnior decor-rer t e
de financiamento da obra, o perito esclareceu:
"A resposta do perito foi que a partir da
análise dos registros contábeis da ner.ae s Júnior
ela tinha captado recursos nos períodos em que
ocorreram a c re scs nos pagamentos das faturas no
mercado financeiro não especificamente para o
financiamento da obra de Itaparica. Também não
pode afirmar o contrário. (grifei) Da análise das
Demonstrações Contábeis v e r i Ei ca r e e que o Passivo
Circulante mais Exigível a Longo Prazo estão
aplicados no Ativo Circulante mais Realizável a
Longo Prazo. A mensuração dos valores por atraso
foi feita de acordo com acórdão do Tribunal de
Justiça do Estado de Pernambuco e do acórdão do
Superior Tribunal de Justiça e do despacho da
Justiça Federal de PernambucaNo
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MIGUEL REALE JÚNIORProfessorTilular da Facuidadede Oireiiú da Uní\lHsidade de SãoPaulo
1.4 notificações promovidas pela Consulente
Em rna rç o abri] de 2. u ~',", f o r arn mandadas
AUDITORES INDEPENDENTES missivas nas quais se alertava para a
circunstância do crédito ter sido reconhecido em decisáo
judicial transitada em jU1Y,oU:U destacando-se que em ra
perícia alcançara-se o valor indenizatório de 27 tc.Lhõe s c e
r ee i s para janeiro de 00,5-. -'-' I, havendo a Juiza determinado a
devida correção que elevou a indenização em para 80
bilhões de reais.
Reafirmava, então, a Consulente aos Aud í tores
Independentes o interesse público e dos investidores do
sistema Eletrobrás nacionais e estrangeiros em vista de
títulos negociados na Bolsa de Valores de Nova York, em serem
corretamente informados, sem omissões, aspecto ressaltado nas
cartas enviadas em 2.005, também, à ELETROBRÁS, ao Hi n i s t r o
de phnas e Energia e aos Ministros da Fazenda e da Casa
Civil. Em março, abri
Eletrobrás.
agosto de 2.005 mandou cartas à
Nestas missivas, reproduzia-se parecer do Professor JOSÉ
l\LEXANDFE TAVARES GUERFEIRO no sentido de que a omissão das
obrigações para a Consulente constituía de
informação por parte da CHESF e da esta na
condição de acionista majoritária da CHESF, e portanto,
atingida pelos prejuízos da CHESF, com grave infringéncia à
legislação, por deixar de refletir a realidade dos fatos em
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MIGUEL REALE JÚNIORPI(,feSSN Tilu!ar da Faculdade de Direito da Universidade de São Pauto
t.e r c e
1.5 - A Nota Explicativa no balanço de 2.006
Ma Lq r aclo estes esclarecimentos estejam juntados aos
autos da Ação de Cobrança desde setembro de 2.005, insiste a
CHESf em classi ficar o risco de pagamento da indenização
devida à Cori s u Le n t.e como de risco remoto, desconsiderando a
circunstância acerca do trânsito em julgado do reconhecimento
da divida, bem como as demais respostas do perito, em
especial as fornecidas em Laudo complementar.
Sendo assim, no balanço do exercício de 2.006 publicado
no jornal O VALOR de sexta-feira e fim de semana, dias 13,14
e 15 de abril de 2.007 fez constar a CHESF por meio de seus
diretores nas Notas Explicativas, item 20 relativo às
Contingências, no inciso III com risco de perda remoto a
menção à Ação de Cobrança que denomina de "alegados prejuízos
financeiros resultantes de atraso no pagamento de faturas por
pa i t:e da Companhia N.
Continua a Nota Explicativa afirmando que caberia a
Mendes Júnior nesra Ação de Cobrança, "para fazer jU5' a
alguma especie de ressarcimento comprovar que captou recursos
LC;a;'nE'nte para o financiamento da obra de It.opari c s , em
\0
!\-lIGUEL REALE JÚNIORPrctesscr Titular da fatuidade de Direiic da Unsversldade de São ?tHÚC
ciCCOI:-énc
que as deS;:'N:?SaS .zna r celTas que' c/c
cap cãc de recursos teria s:rcio a de
acréscimos pagos CHE5F'1 com e5S'-'. s c t r a c: s "
Destaca a Nota a resposta do perlto
constante ao Laudo InIcial, no sentido de "n~o ser pc;o<,,"vel a
partir da análise dos registros contábeis da Mendes Júnior
e t i rma x ter ela cep t.e do , nos odes que ocorreram atrasos
no pagamento das t e t.u t:as , recursos no mercado t ir.ance i rc ,
especificamente para o financiamento da obra de Itaparica H•
Informa que o perito apresentou esclarecimentos ainda
não objeto de apreciação pelo Juízo, mas já de conhecimento
da CHESF, pois, em seguida, Nota Explicativa informa-se
que se consideram 05 riscos remotos diante da "anulaçao dos
atos desenvolvidos na Justiça Estadual e as rígidas
determinações do Uv. Juiz Federal, com relação à nova perícia
exigindo a completa identificação dos recursos próprios ou
captados pela Mendes Júnior e a comprovação de sua efetiva
aplicação nas obras de Itaparica ll!, nâo é meS1l1O
estimar valor para o litígio!,
expecta tiva Ir.
nem mesmo em caráter de
Em seguida, diz a Nota Explicativa, para afirmar que sào
os riscos de perda remotos, que "até o momento o Sr. Perito
do Juízo não conseguiu provar a existência de qualquer
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MrGUEL REALE JÚNIORPrctesscrTitularda Facuidadede Direito de Urriversidace de SãoPaulo
da autora r me s.nc- acesso
c-sr.t.cí:: idade aes ts , ccsrc tarribem da ré.
Em face destas considerações, a Consultoria Juridica da
Cbesf corrobora a dos patronos da Companhi2 no
sentido de que, presentemente, os riscos de perda são
remotos. grifei)
Informa f também, que o per i to em Laudo Complementar
respondeu às que s t óe s , "mas sem e cre z cen i.e r Dada de novo
quanto às suas opiniões anteriores H• Acrescenta a informação
de ter o Ministério Público Federal se manifestado pela
nulidade da sentença proferida na Ação Declaratória. Noticia,
por fim, que em 31 de dezembro àe 2.006 os autos achavam-se
conclusos,
laudos.
aguardando-se audiência para debates sobre os
1.5 Indagação
Pergunta, então, o ilustre patrono da CONSTRUTORA MENDES
JúNIOR se a Nota Explicativa vazada nestes termos e publicada
como parte rante do balanço da Companhia pela Diretoria
da CHESf, em face do constante dos processos, Ação
Declaratória e Ação de Cobrança, vem a configurar a ica
de fato Passo a responder:
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MIGUEL REALE JÚNIORProfessor Titular da faculdade deürreuc da Universidade deSão Paulo
2- DESCUMPRIMENTO DO DEVER DE INFORMAR: INCRIMINAÇÃO
Segundo dispost art. do C6diqo Penal
.i n c r i.rn.i nam-rs e os atos fraudulentos e abusivos n a fundação e
administração de sociedades por ações, devendc-c,e destacar
para o exame do presente caso o disposto no § 1°, inciso I do
art. 177 do Código Penal, figura penal cuja rubrica é "Fraude
sobre as condições de sociedade por ações".
C caput do art. 177 do Penal diz respeito a
conduta desleal e fraudulenta dos fundadores da sociedade
anônima, enquan~o os incisos do parágrafo primelro referem-se
aos diretores, bem como ao liquidante e ao representante de
sociedade anônima estrangeira nos dois últimos incisos.
c artigo 177 e o seus parágrafos colocam-se
topologicamente como crimes contra o patrimônio,
condição de formas do estelionato.
mas na
o estelionato r conforme já manifestei anteriormente,
constitui um pcLí nõnu o", composto pelos elementos ardil ou
fraude, que induz ou mantém alguém em erro, estabelecendo-se
no plano psicológico uma relação causal entre o ardil e o
;'.'- J, Direito Penal Aplicado, Sào Pau l o , RT, 99 p . lO:? sequintes;GUSTAV, sobre ue x ect.c Pena c.osicnnscc, l-!;ontcvideLl,
F'aculdad de De recbc , 199C, p . .;~;; 1<1A8.1N1, rx ot ts , no Noví.s s ; me p í ces to
Italiano, 01. XIX, p . 8F!; CAFLCJS ALI<ELA IJIC , 21 delito de estafa y deepropr la O] >< i naeb i do , na Rev í s t e SemanalPenal, n , 28;9 a 4/10 de 1998, Madrid, p. 6
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MIGUEL REALE JÚNIORProresscrTilUlarda r acvtoacede Direíic da umverstcauede SâoPaute
c r rc levando a pessoa qua se alr ~ ardil a prat 2ar urr
ato de
económlca ilicita de um lado e causa um
de out
Na fos, se apenas
elemento ardil, fraude com idade de causar um erro
ou engano, não se requerendo, para a configuraçào do delito,
a ocorrência de prejuízo, bem como á obtenção da .i ndev.í de
vantagem.
Edita o art. § ' o" , T, do Código Penal:
"Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime
contra a economia popular:
I~ o diretor, o gerente ou o fiscal de
sociedade por ações que, em prospecto,
relatório, balanço ou comunicaçJo ao público
ou a assembléia, faz comunicação falsa sobre
as condições econômicas da sociedade, ou
ocl1.fta fraudulentamentc r no todo ou em
parte, fato a elas relativo",
o ardil, fraude ou engano que recai sobre os
destinatários, público, acionistas ou membros da assembléia
deve ter a potencialidade de produzir o fenômeno do erro, de
?FAULO Jcst: DA ceSTA JéNIOR assevera que há necessidade de duplo ncxc decausalLdade, primeiramente meio fraudulento-engano, que ao depois devemser causa do pr oveí to injusto EC do re spec t í.vc dano. Comentários aoCódigo Penal, Farte Especial, '101. 2, S!iO Paulo, Saraiva, 19EiS, p. 268
MIGUEL REALE JÚNIORProfessorIrtutar da Faculdadede Direito da Universidade de SãoPauto
caráter pSlqU1CO, Leva ndc de: c.ilSpOS o e fo r m,
que se
destinatário da. fraude, ao lhe causar De
consentimento.
o ardil ou a fraude, como mcd i.f' i.c a ç à o total ou parcial
da realidade, devem ser aptos a enganar, a surpreender a boa
fé criando na psique do destinatário esta falsa representação
da realidade 4c omo efeito da vitória do ardil ou fraude sobre
a resistência intelectiva da vitima, induzida em erro e
p r ovav e Lmeri t.e extraindo-lhe um e to de disposi
Mas, nào é de se reconhecer qualquer comportamento
válido a produzir erro, pois este deve derivar de um conjunto
de fatores que deformam uma dada si tuação, criando uma
atmosfera idônea a envolver a psique do destinatário. 6
Igualmente, AZZALI 7 considera que:
"::>1ARINI, cp . cito p. 866, ressalta que a incriminação do estelionatovisa tutelar a liberdade dispositivo do destinatário da fraude.'T-.ZZALI, Prospettive neqoz ie l i dei ce zít cc di t.ru t te , na gtv í s t a r t a Líenedi ní r Ltto € procedura Pena Le , anho XLI. Ni.Lã o , c íur rr e , abríLe j unhc de1998 1 p . 322 e s equ í.nt e s r t1AfUNI, c i t . p . 873; S?OL?NSKY, La es t.s ta y e le is eccx o, Buenos Aires, 1967, p. 52; >1AGALHA:cs NOHOt,lEl'l Direito Penai,\701. LI Sao ?ciulo, Sa r aíve , L,aed. , J.9"i, p . 389.c'AZZALI, op . cito p. 327, NANCI, F; La t.co t t s ne i coai co çene Le Italiano;
.ru r í sp rudenc í a , n ?
considera que o txpo
ucpot.e c i onMANZANO, MERSSDES,
e 2, Buenos Aí z-es , p .do estelionato exige
yli. Autora
fática da
no artigo "iicerca deCuede r nc s de Doc t r í.ne250 e seguintes.
uma contribuição
nosestafa" ,iaenPER2Zp . '! 3;
ebjeti 'la1930,Turirr
vítima, que por erro pratica um ato de disposição; GALDINO DE; SIQUEIPJ\,entre nós, bem esclarece que "pelo e r r o c r a.actc pelo aqen t e , c su-ie í tc
passivo seja o próprioParte Especia ; '101. 2;iOSAMHl':s.CO, G 1 La t.rot te'ap. cito p. 327.
que disponha da coisa", 'Tratado deRio, Kcn r í no , 1951, p . 466;
cont z-a rt ue ze , Turim, Gkuf f r e , 1970,
Direito
p.99
Penal T
MIGUEL REALE JÚNIORProfessorTitularda Facutdacede Direito da Universidadede SãoPaulo
fie
, errcrerapprescnt2tlv2 cc
nl cnc E:l
rivoltc,vlttíma."
che S010 per tanto ne e
Essencial, portanto, a ocorrência de idade para
causação de um erro de forma concludente na esfera
representativa do destinatário do ardil ou fraude, razão pela
qual se deve, também, examinar, no caso concreto, as
específicas condições do sujeito passivo. Assim cumpre ver se
o engano tinha potencialidade objetiva de enganar, como diz
GUSTAV PUIG, sujeita esta subjetividade às condições pessoais
da v í t í ma . S
A Jurisprudência italiana, neste campo dos negócios, dá
especial relevo ao inicial 11 , como elemento
caracterizador do estelionato, '" cumprindo constatar se desde
o início a intenção do agente era o de, por meio do engano,
falsear a verdade, servindo-se da informação falsa por conter
representações desconformes da realidade ou falhas por
ocultação e omissão da realidade dos fatos.
Na hipótese, trata-se de crime formal, cuja consumação
ocorre no momento mesmo da açào, ou seja, quando o diretor
faz em prospecto, balanço ou em comunicação à assembléia
afirmação falsa, de conteúdo nào veraz ou quando oculta fato
causante y bastante N•
LICH, op. 2.662, que entende deva engano ser Uantecedente,
16
MIGUEL REALE JÚNIORProfessorTílu!arda Faculdatlede Direitoda Universidadede SàoPauio
todo uu cn acerca das
econômicas que
estado Cie -'-v.
tanto o estado financeiro quaDte
C c rtme , pode se dar pela forma ccmí s s í v s ,
pela prática de uma ideol a Lrne nt e
capaz de enganar v destinatário, consistente indevida
.inse r cac de uma j nve r dede em prospecto, relatório, balanço,
ou comunicaçào, ou quando estes documentos ou a
silenciar acerca de dado relevante relativo às condiçôes
econômicas da empresa.
o tipo penal pode ocorrer, portanto, na forma comissiva
e na omissiva, por via do balanço, prospecto ou comunicaçào,
sendo comunicação o ato pelo qual se dá ciência ao público ou
à assembléia de algo que sucedeu. A figura penal é passível
de suceder seja com a inserção de dados fictícios, a com a
nào consignação de dados relevantes '", deixando-se de cumprir
com o dever de informar com veracidade e da forma malS
completa.
Na forma om is s iva , o engano resulta do silêncio acerca
de dado relevante relativo às condições econômicas, pois o
silêncio, como diz SPOLANSKY, significa engano, que
enganar significa suscitar um erro em outrem e o engano pode
realizar-se por meio de uma omissão, do si
iGpÉ:GIS PFADO, Luiz, Curso de Direito Pena}, v.2, São Peul c , RT, 3 a ed , P.610.llSPOLAt,;SKY I Norberto, cJt., p. 67 e ~L.
17 \r~"
MIGUEL REALE JÚNIORProfesso> TitulardaFacuhlade de DireitodaUniversidade deSãoPaulo
Ob< cio s l e nc i o c eve s e r . con tud o , fat
interesse fundamental, ponderando PAULO JOSE JA COSTA JÚNIOR
que, se a questão e p e r t.a ne n t.e a orcem do diô 2: r.õ c me r c
capricho, a recusa em oferecer informações ou ~ io
silêncio "assumem valor de oeul
o informe mesmo apenas e, mais ainda, c
intencionalmente malicioso para deturpar a compreensào do
estado de um determinado processo indenizatório movido contra
a empresa, por exemplo, pode enquadrar-se na expressão
condições econômicas da sociedade13;, pois induz ,'c_ membros da
diretoria ou demais sócios e acionistas a decisões baseadas
no conteúdo das informações prestadas, que serão viciadas e
enganosas Se inverídicas na forma comissiva ou omissiva.
Por essa razão, a informação, como ressaltam CSSARE
PEDRAZZI e PAULO JOSÉ DA COSTA JONIOR, não basta que seja
verdadeira, mas cumpre que seja razoavelmente oomp Le t.a!", sem
a omissão de dados essenciais de forma a permitir uma decisão
por parte dos órgãos diretivos com pleno conhecimento de
causa no interesse e na tutela dos interesses sociais.
Há, portanto, um dever de informar da forma mais
completa, o que significa que a informação há de ser isenta
-·ceSTA ,iR, Pe uLo Jose, Curso de Direito Penal, v.2, parte eepeci.s , Sã!";PaGlo, Saraiva, 2"ed. 1992, p, 1:;4.13CCSTI\ J2-.Pa\..110 José, cp . 1...• c í t . , p . se. CARVl\LHOSA, ttode s to ,
Comentários à lei de sociedades esvón ime s, vol.3, São Pe u Lo , Se ra í va , 2"eá.1.99B, p . 285, ent endem que a expressão conci i cõee eccnómfce s mereceinterpretação ampla comp r eenoendo r arnbém a revelação Cid situaçãonenoc íe L Estado de negócios da ccmpanhí.e .HpEDFAZZI, Ce se r e , e COSTA JTJNIOF, Paul o ,IOSC, ,/',",.rC'~"CJ Pena ae s
ooc i eaades anônimas, São Paulo, ?T, 1973, c . 109; PINHEIEC T-CFEES, Carlos:'1<.:':[121, /, direito j informação nas socceaeaes COHierC121S, Co i mb ra ,Almedina, 1.99B, p.2D7 e seguintes.
18 I
'\\
MIGUEL REALE JÚNIORProfessorTitularda Facutõacede Oifelto da Universidade de SãoPaulo
de q112 r representação falsa da r e a Lí.ciade , mas t.arnoém ,
exaus 1 5", ~, sem o ou I t.a çsc c e qua cadc re Leva n te .
Este dever ce Informar, que a todos 05
administradores compreende, como r e s ae I ta tV:lODESTO Cp,EV;L.LHOSZ\.,
v estado tinesice i ro e o estado dos ou seja, "os
fatos e atos relevantes, nas atividades da cotcpenr : e H
o bem jurídico é o direito de ser corretamente informado
° sócio, investidor e o público em geral, prevenindo-se lesão
ao patrimônio daqueles que investiram ou pretendem investir
ou contratar com a empresa. o dever de informar, por
conseguinte, concretiza o dever de lealdade, o que apenas é
atendido se houver informação correta representativa da
realidade das condições econômicas, do estado financeiro e do
estado dos negócios, correç50 que exige nào haver ocultação
de qualquer circunstãncia relevante. Se houver deturpaçao da
verdade, ocultação que torna inveridico o conteúdo da
declaração sucede a prática de uma falsidade ideológica.
A falsidade ideológica vem a ser, no caso do art. 177 §
1 c , I, do Código Penal, um crime meio do crime fim, ou seja,
da figura penal da fraude sobre as condições econômicas da
empresa. Na Falsidade Ideológica não há violação da
autenticidade de documento, mas sim lesão à sua veracidade J 6,
"na medida em que a declaração nele contida é falsa ou omissa
C}\F'.V!\UOEiA, reode st c e Li\TOF-F.ACA, op c it . , P. 6.:"PRADe, Lu i z Péç í.s , Curse de Direito Pena}, '.I, IV, s êc Peu I c , 2-1',
19
MIGUEL REALE JÚNIORstotesscr riturar caFaculdadede Direito da Universidade de SAcPaulo
em relação à x ee íi aeae que deveria consignarJ'/N razão porque
saber se a substância é veraz.
Ora, há lesão à veracidade se as afirmaçoes, contidas na
Nota .i.c a t Lv a , " , ' " ,Qes~oam aa rea~laaGe! consistindo em fraude
consubstanciada em declaração meio pelo qual se
realiza o fato típico do art. 177 do Código Penal.
Cumpre saber! no caso concreto, quals aS fa sidades
decorrentes da a j t e r e ção ou omissão da verdade, bem como se
são aptas à causação de um erro de forma concludente na
esfera representativa do destinatário da fraude.
3- ANÁLISE DO CASO
Um exame da representação de sentido do enunciado na
Nota Explicativa em seu conjunto é, sem dúvida, de grande
relevo. Qual o sentido da Nota Explicativa em seu contexto?
A mensagem transmi t.ida ao lei ro r é a de que a Ação de
Cobrança não passa de uma temeridade da Autora, sendo
insignificante, irrelevante! a sua pretensdO diante da
impossibilidade de se provar, como exige o Juizo, a completa
listagem dos recursos próprios ou captados aplicados
especificamente na obra de Itaparica! razão pela qual
'P08.TO, LUlZ Cu í.Lne rme ãor eLre , Tipicidade nos crimes de falsidadedocumental em face do bem juridico protegido f tese ce mest r adcapresentada à faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2.002,capitulo, 111, item 1.3.
20
MIGUEL REALE JÚNIORProtessct Titular da Facllldade de Direito da universidade de São Paulo
ccr.c i u ; , considerandos, QUE O RISCO DE PERDA É
REMOTO, conforme, aI ndicél suJ:>t t.uLo .
Lni c.i a-r s e adjetivando que há apenas
para s mencionar a Açâo de Cobrança
baseada em Ação Declaratória procedente para o fim de
declarar uma relação de c r e d i t o da 1'1endes Júnior junto a
CHESF assegurando ressarcimento financeiro. Passa, no
entanto, a Nota condicionar este
reconhecimento, como se fosse a decisão na Ação Declaratória
apenas uma vaga deliberação.
Todo o contexto visa transmitir a idéia de que o crédito
depende de outra prova além da declaração fundamentada em
exaustiva análise acerca àe sua existência em acórdào
transi tado em julgado, pois se afirma que este direi to ao
ressarcimento é condicional, pois, cabia à Mendes Júnior,
"para fazer jus a alguma espécie de ressarcimento, em
cumprimento a decisoes do Tribunal de Justiça de Pernambuco e
Superior Tribunal de Justiça, comprovar que captou recursos
especificamente para o financiamento da obra de Itaparica H•
Pinçando urna resposta do perito, omite o conjunto do
Laudo Pericial e muito especialmente o Laudo Complementar,
que considera nada ac r e s cen t.a r , para transcrever parte do
Laudo inicial na qual se afirma nJo ser "nJo ser possivel a
partir da analise dos registros contábe.ls da 1'1endes Júnior
afirmar ter ela captado, nos pe t i.cdcs que ocorreram atrasos
no pagamento das faturas, recursos no tne i ca do financeiro,
especificamente para o financiamento da obra de ca "
MIGUEL REALE JÚNIORProfessorTilular da Facuidadede Direito da Universidadede SâoPavio
ac-et v s , neste passo, as e xp Lica ç óe s
dadas pelo perlto em seu Laudo
de ter ele mesmo no Laudo in e aI e no eme nta r fixado c
valor do credito, que a eança. a. 51 ficativa importância ae
ma s de 80 bilhões de rea s em valores de 2.002, em
reajuste até o presente cerca de 200 bilhões de reais.
A afirmaçào, na Nota
estimar valor para o l~~
ieativ2, ae que não é possível
o e de que o perito não conseguiu
comprovar a existência de qualquer crédito em favor da
Autora, faz parte da argumentaçáo que lança considerações
totalmente desconformes com a realidade constante dos autos
para concluir a partir dessas premissas falsas que o risco de
perda é remoto.
Em sua estrutura 16gica, a partir da minimizaçáo da Ação
de Cobrança, não s ó ccnd í.c í.onanco-.a à prova completa de se
ter captado recursos especificamente para a obra, mas
afirmando ser impossível realizar tal prova, conclui, em
consonância com as premissas falsas postas, que o risco é
remoto, em discurso convincente aos olhos do leitor, tendo,
portanto, capacidade de iludir f tendo potencialidade de
conformar o entendimen~o do destinatário, acionistas ou o
püblico em geral, no sentido de que os riscos de perda são
remotos.
Dessa formar silencia sobre o elevado valor a que pode
ser condenada a CHESF, a esta que noticiada levaria
ao conhecimento fundamental relativo à si t ue ção econêmico-
financeira, com o que se impede a ciência dos mesmos sobre
22
MIGUEL REALE JÚNIOR
ProfessorTitular da Faculdade de Direito da Universidade de SãoPaulo
convicçao dos leitores.
Para a construção da mensagem conclusiva do risco de
perda remoLo, omite-se que a a CHESF já reconhecera em
decisão da Diretoria " a Construtora tenha sido levada a usar
recursos próprios ou de terceiros para manter o andamento da
oDra/ em função dos atrasos de pagamentos H•
Na Construção da Nota Explicativa, voltada a convencer à
grande maioria dos leitores, especialmente acionistas e
investidores, de ser o risco de perda remoto, a CHESF ignorou
o teor do acórdão transitado em julgado no que se afirma
claramente existência de uma relação de crédito da
Apelante contra a Apelada I assegurando a vencedora o completo
ressarcimento com atualização dos valores relativos a juros
f.inanciamento
financeirosdo mercado e
da
encargos
construção da Usina
em decorrência
Hidroelétrica
do
de
Itaparica" .
Ignora-se que no Laudo l conforme especificado nas
de c i s õe s judiciais fixa-se o valor da indenização, como já
frisei, e em importância que se pode compreender não desejar
a CHESf vir a público, mas que a tal é obrigada pelo dever de
veracidade e de lealdade, sob pena de omitindo configura com
sua atitude o previsto no art. 177 § l~ do Código Penal.
A CHESF jamais poderia em face da frase do to ae que
nào era possivel estabelecer qual o financiamento obtido
especificamente para a obra de Itaparica se ao mesmo tempo o
23
MIGUEL REALE JÚNIORProfessor!Hviil;r;lJ faculdade de Direito da Universidade de SãoPevsc
ndeni
p r op rt.a
Es qucst
suscitou e0 quesIto c pe r i r.o
conciliar
debeatur.
essa. impossibilidade fixaçào do quantum
Se fosse veraz e atendesse ao expresso nos autos, a
CHESF jamais poderia qualificar como remoto o risco de perda,
pois a frase do perito em que se alicerça, no unto do
Laudo, a ela mesma é duvidosa, ao indagar em quesito acerca
de eventual divergência entre a assertiva de que não podia
afirmar que os recursos para capital de giro tomados no
mercado financeiro foram para a UHE de Itaparica e ao mesmo
tempo apresentar um valor devido à Me ndes Júnior decorrente
de financiamento da obra.
Omite a Nota Explicativa o conhecimento que tem a CHESF
do Laudo Complementar, s se não omitisse jamais poderia
ter concluído que não se comprovara qualquer crédito por
parte da Autora e muito menos o valor do Isto porque
em sua resposta ao quesito da própria CHESF sobre eventual
divergência, acima lembrada i o perito disse que se a partir
"da análise dos registros contábeis da Mendes Júnior ela
tinha captado recursos nos períodos em que ocorreram atrasos
nos pagamentos das is t.u i e s no mercado financeiro não
especificamente para o financiamento da obra de Itaparica.
Também não pode afirmar o contrário. (grifei)
Acrescenta o pc r í t.o em sua e xp L ao quesito na
CHESF, que ao calcular os valores part.iu da análise das
MIGUEL REALE JÚNIORrrereesor Ti!vjJr ti" Faculdade de Direito di! UnivJHsidáde de SãoPaulo
Demonstraçôes verificando "o Fassi
Circulan ma 1S Ex ve.l a l.on c c Prazo estão icados
Ativo Circulante mais Realizivel a Longo Prazo.
n segUIr, na mesma respos~a, esclarece que a mensuraçáo
de valor da indenizaçào u o fixado pc as decisôes
judiciais, pois explica: "A mensuração dos valores por atraso
foi fei ta de acordo com acórdão do Tribunal de Justiça de
Estado de Pernambuco e do e coraõc do Superior Tribunal de
Justiça e do despacho da Justiça Federal de Pernambuco H•
Esta assertiva, aliás, casa-se perfeitamente com outro
esclarecimento dado perito, em Laudo Complementar, li'..'
sentido de que "a evídência t q x i te i ) de que i oram apli.cados
recursos na barragem de Itaparica é que a obra foi realizada,
faturas foram ein i t i.de s e que os pagamentos foram feitos com
atraso e foram celebrados inúmeros contratos de financiamento
de capital de giro pela autora pelos quais pagou juros e
encargos financeiros no mercado, pois não possuía a
construtora, àquela época, recursos necessários.
São duas evidências que a CHESF ignora com manifesta má
fé ao dar elevado valor à frase de nào haver captação de
recursos especificamente designados para a obra de Itaparica:
primeiramente, é obvio que ao se contrair um empréstimo não
se dá nome ou destinação desse dinheiro obtido no contrato de
financiamento de capital de giro; em lugar, a prova
de que o dinheiro captado foi aplicado na obra decorre do
acima transcrito do Laudo Complementar, ou seja, que a obra
foi feita apesar dos pagamentos com atraso, tendo sido
25
\\
MIGUEL REALE JÚNIORProfesso- Iituiar da Facuíeade de Direito da ursve-stcace de São Pae:c
captados recursos/ mesmo porque a Construtora não os possuía
à época.
evidência.
peritO classifica esta constataç~o corno urna
Em outra passagem do Laudo to nega
que tenha manifestado não terem havido que possam
ser mensurados l desfazendo a maliciosa interpretação dada
pela CHESF de que não há comprovação de créditos por parte da
Construtora/ não sendo possível estimar o valor do ia.
Observem-se os termos da resposta do
explorada frase:
to ao comentar a ~ão
"Com isto não significa dizer que não exista
um crédito da Autora junto à Ré e que este
crédito não possa ser mensurado, uma vez que
existem faturas pagas em atraso, dias de atraso e
custo financeiro que poderá ser determinado dos
empréstimos tomados pela entidade tomados pela
autora. Além do mais, o fato dos contratos de
financiamento não mencionarem a obra de
Itaparica, não significa que tal obra não tenha
utilizado recursos financeiros, até porque
provado que o capital de giro da Mendes era
insuficiente para talHo
Verifica-se/ portanto, a falácia dos termos e de
contex::o em que foi apresentada a Nota Explicativa,
escondendo a realidade da situaçào econômica da Companhia em
face do efetivo risco existente de ter de arcar com vultosa
26
MIGUEL REALE JÚNIOR»rctessor Tiw1ar as Eactncaée de Oirei;:; da UnivlUsidiide de Sãe Pau;c
1.c a c a ce
p r-e s e n t e s •
cerca de /, bilhões de r(alS Qn
Pondera JOSE F.LEXF.NDRE TAVp,RES GDERREIR-C, em seu
parecer, apresentado junto com as Notificações, que mesmo que
não se constitua reserva para contingências, está a CHESF
forçada a explicitar essa obrigaçào, de modo minucioso e
fiel, "em vista do seu impacto UQ s i t.ue çâo patrimonial da
sociedade Ches[ (e por via de a e em razão da
equivalência patrimonial, na situação de sua acionista
controladora a Eletrobrás)ff.
4 - Configuração típica
Neste crime de "Fraude sobre as condições econômicas de
sociedade por ações", há um sujeito ativo próprio, ou seja, o
agente deve ser diretor, gerente ou fiscal de empresa de
sociedade por ações, tal como é a CHESF, constituindo esta
qua Li f í c aç ão uma condição elementar do crime do art. 177 §
I, do Código Penal, que, portanto, se comunica a qualquer
eventual co-autor que não ostente essa condiçào pessoal, mas
que tenha colaborado a prática do crime.
o crime descrito no item l, do § 1° do art.177 do Código
Penal consIste, destarte, em o diretor ou qerente de
sociedade por ações haver feito "comuni ceçd c falsa s ooxe as
27
l\.--11G·UEL REALE JÜNIORP,deSSN Titularda Faculdadede Direitoda Universidade de São Paulo
c ctscis çc C,5 da sociedade ou oculta
hS ir;formaçõe:::~ deformadas e as omi s sôc s foram efetivadas no
Balanço, que Integra a Nota i.ca t í va , e o balanço e s t a
assinado pelos diretores da sociedade anônima, CHSSF.
Viola-se, desse modo, o dever de informar com veracidade
e completude acerca do estado financeiro e c estado dos
ou seja, com relaçdo a fatos e atos relevantes l nas
a ti vidades da companhia I tal corno é de modo incontroverso
uma contingência relativa a processo que pode redundar em
vultosa indenização, hoje beirando os 200 bilh6es de reais.
Com as informações falsas da Nota Explicativa, que
também oculta fraudulentamente fatos, coloca-se em risco o
patrimônio de acionistas, investidores e contratantes com a
CHESF, pois restam seguros de que a empresa está distante do
pagamento de uma indenização vultosa, quando não est:á, sendo,
como ressalta PAULO JOSÉ DA COSTA JÚNIOR, as falsidades
praticadas
perigosas1 8•
no balanço as mais freqüentes e as mais
o Balanço tem a potencialidade de inf uenciar acionistas
e terceiros, por isso o perigo da fraude nele cometida, que
pode motivar erroneamente condutas por parte dos mesmos, que
não as tomariam se corretamente informaàos.
JNIOF, Paulo José da,spec i at , Saraiva, sàc Paulo, '092, p . ISO, que e n s i na , t ambérc , que ae Ls í.dade pode consistir ern se focalizar as condí.cõe s conórsí ce s comuz e s exeqe r aoeroe nt e r.evor-áve í s com r e spe í.to oi realidade dos tat.os .
2&
.l\-1:IC;;UEL REALE J'LJNIORProtcssc: Titular os Fuuldade de Direito da lJniversídadede SãoPJUiC
de urna
SSlS falsas e ocultações da verdade.
scc cc
de
ASSlITl, a p r La.e i r e ocultação é de que se trata de uma
de indenizar certa e imutável, pois se estabeleceu
judicialmente, em decisão transitada em jUlgilQQ a existência
de uma relação de crédito da Apelante contra a Apelada r
assegurando a vencedora o completo x ee s s ccucent:o com
atualização valores rela ti vos a juros do mercado e
encargos financeiros em decorrência do financiamento da
construção da Usina Hidroelétrica de Itaparica.
Minimizou-se ao máximo esta decisão, ao se lhe dar um
caráter condicional ao se dizer que a Mendes Júnior apenas
faria jus a qualquer ressarcimento se comprovasse que captou
recursos especificamente para o financiamento da obra de
Itaparica.
Mas a decisão judicial Ja reconhecera a existência do
direito a ressarcimento exatamente por ter declarado que
houvera financiamento da obra, com captação de recursos
financeiros ou com a utilização de recursos próprios. O que
resta apenas é dizer o qUântWll r a ser mensurado como de fato
Ja o foi neste passo do processo, fato este ocultado.
Mas a maior falácia está em que havendo estabelecido uma
condição ao direi to de ressarcimento, ou a a prova de
29 j\'f11\
!'vHGUEL REALE j"()NIOR
Professor Titular da Facctcacede üneue da vfiii!FSidi:H:Je de SãoPaute
financ:Lamentcs especificos para.
claramente ser
que E':SU? mesm
c, a de que s o r í a Sl.VC
afirmar que a Mendes Júnior teria captado recursos no mercaac
f na n c e i ro ospc;cificarncnte para. a oo r s o c Lt.ap a ri c a . Orn.i t a
CHESF a resposta do perito a uma pergunta acerca dessa frase,
resposta na qual cie c Le r a ser a frase inócua r pc r s afirma que
também poderia afirmar o contrário.
Omite a CHESF, que sendo impossível encontrar a
designação específica de um financiamento de tal de giro
para a obra de Itaparica, nem por isso se pode dizer, como
assinala o perito, que r.ào houve essa captação de recursos
para a obra de j t epe r i.c a , mesmo porque ao se contratar um
empréstimo no mercado para capital de giro não se designa
este dinheiro como destinado à obra A, B ou C.
Se é assim, o indica, contudo, a existência
evidente de que houve sim empréstimos, captação de recursos
no mercado financeiro que foram empregados na obra de
Itaparica. Diz o to, conforme ~á se assinalou acima: nA
evidência de que foram aplicados recursos na barragem de
Itaparica é que a obra [oi realizada, faturas [oram emitidas
e que os pagamentos foram feitos com atraso e fcram
celebrados inúmeros contratos de financiamento de capital de
giro pela autora quais pagou juros e encargos
financeiros no mercado, pois não possuía a construtora,
àquela épcca, recursos necessários H•
30
MIGUEL REALE JÚNIORProfessorIituiar da Facuidadede Direitoda Universidadede SãoPaulo
Anota t.ambém per i to ,
o r z acta pe La
CHESF qualquer r e Lev án ci a : "Além do ma c , o dos
contratos de t is.occi ames.r c não mencj,onarem obra de
Ita,:oarica,. rsôo ii c s que ta-L core nào tenha .st i i z z s acrecursos financeiros,. até porque
TO da Mendes era insuficiente para tal H•
que c capital de
Fica, portanto, comprovado se ter feito afirmação falsa
na Nota ícativa e omitido dados essenciais, dando-se
ênfase a uma frase inócua para fincar uma SSCl falsa, por
meío da ocultação do verdadeiro significado dessa frase
segundo o seu autor, o perito, ou seja, com sentido
contrário ao utilizado fraudulentamente na Nota Explicativa.
Sendo assim, é falsa a afirmação constante da Nota
Explicativa de que o "Perito do Juízo não conseguiu comprovar
a existência de qualquer crédito em favor da Autera H•
É falsa também a afirmação constante da Nota Explicativa
de que "não é pce s i vel es timar c valer para o li: tigie I nem
mesmo em caráter de expectativa H•
o perito mensurou c; valor do r e s s a r c Lment o , tanto que
foi por isto questionado pela CHESF. Em sua resposta a esse
questionamento o perito que a "mensuraçãe dos
va10res por atraso foi feita de acordo com acórdão do
Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco e do acórdão do
31 \
\,
MIGUEL REALE JÚNIORproresscc tttcrar da Faculdiide de Direiic da Univi:!f$.idadt de São Pauio
~~~erior Tribuna
ac. Pe i n amtiu ca'",
o per to indicou valeres: 'Jd OI: de P$
/1.117.361.001,02 foi revisado. a reVLSZo o valor
cc r r em acr: : de' 2.002 Zi
80.165.962.549. 54 H
•
Destarte, é falsa a afirmação integrante da Neta
Explicativa de ser impossível "estimar um valor para o
litigio~ nem mesmo em caráter de expectativa fl•
o contexto construído com o sentido de minimizar a Ação
de Cobrança revela-se um tedo falso, pois alicerçado em
premissas falsas e ocultações da verdade, que pudessem dar
sustentação lógica á qualificaçào da Ação movia pela
Con s u Le nte como de risco de perda remoto, quando a verdade
processual indica o contrário, como se pode verificar das
passagens acima transcritas.
Destarte, o elemento caracterizador da ação delituosa na
forma do descr i to no art. 177 § 1 ", I I do Código Penal está
presente, pois à evidência, em Balanço a Diretoria da CHE5F
em Nota Explicativa ocultou fraudulentamente a verdade sobre
as condições econômicas da sociedade, fazendo constar
afirmações falsas para concluir mentirosamente que o risco de
na Ação de Cobrança de vultosos valores, era remoto.
32
MIGUEL REALE Jt)NIORprctesso: Titular da Facctcaoe de mreuc da Ur.iversidace de São Pacto
rrve e t.a.co r , u em (JE'L2 come
Íon e c e do r , c contratante, e evidente diante do contexto
'--0 construído com vistas a evar 2. COnCl usao CieSe aGc I
qua seja, a de que o risco de perda é remoto.
Per todas essas razões, posso concluir efetivar-se na.
conduta aos responsáveis publicação do Balanço, que
engloba como parte essencial a Nota Explicativa, a adequação
t do descritc no art. 17~ § l° de
É esse o meu parecer.
São Paulo, 11 de junho de 2.007.
Penal.
]J