1 poder judiciÁrio do estado da bahia tribunal de justiÇa … · 2019-12-13 · poder judiciÁrio...
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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
TRIBUNAL DE JUSTIÇA Tribunal Pleno
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
Classe : Agravo Interno nos autos da Ação Penal - Procedimento Ordinário nº
0000166-90.2018.8.05.0000
Foro de Origem:SALVADOR/BA.
Órgão : Tribunal Pleno
Relator : Des. Julio Cezar Lemos Travessa
Agravante : Ministério Público do Estado da Bahia
Agravado : Marcos Prisco Caldas Machado
Advogado : Dinoermeson Tiago Nascimento (OAB: 36408/BA)
Advogado : Marcelle Menezes Maron (OAB: 12078/BA)
Advogado : Jackson da Silva Brito (OAB: 40122/BA)
Advogado : Thiago Menezes Maron de Andrade (OAB: 49434/BA)
Advogado : Nathalia Galderice de Santana (OAB: 49470/BA)
Advogado : Wendel Costa Santana (OAB: 51480/BA)
Assunto : DIREITO PENAL
ACÓRDÃO
I. EMENTA: PENAL, PROCESSUAL PENAL E CONSTITUCIONAL. AGRAVO
INTERNO EM FACE DE DECISÃO MONOCRÁTICA QUE, SEGUINDO AS PREMISSAS
FIXADAS NO NOVO ENTENDIMENTO DO STF E STJ, RELATIVIZOU FORO POR
PRERROGATIVA FUNCIONAL DE DEPUTADO ESTADUAL. ALEGAÇÃO DE QUE A
RECENTE INTERPRETAÇÃO NÃO SERIA APLICÁVEL À HIPÓTESE, POIS A
DECISÃO PARADIGMA SE RESTRINGIRIA AO LEGISLATIVO FEDERAL.
DESCABIMENTO. ALTERAÇÃO DE ENTENDIMENTO QUE IRRADIA EFEITO PARA
TODAS AS ESFERAS DE GOVERNO (FEDERAL, ESTADUAL, MUNICIPAL E
DISTRITAL) E FUNÇÕES DE ESTADO (LEGISLATIVO, EXECUTIVO E JUDICIÁRIO),
OBJETIVANDO O AFASTAMENTO DE INDEVIDO PRIVILÉGIO, CONTRÁRIO AO
INTERESSE PÚBLICO E VIOLADOR DO PRINCÍPIO REPUBLICANO. APLICAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA SIMETRIA, COMO TAMBÉM ISONOMIA, RESPEITANDO-SE OS
CIDADÃOS COMUNS. DECISÕES DO STF E DO STJ, AINDA MAIS RECENTES,
AMPLIANDO A EXTENSÃO DAS DECISÕES INICIAIS. SUPOSTO DELITO COMETIDO
EM CIRCUNSTÂNCIAS TOTALMENTE ALHEIAS À FUNÇÃO DE DEPUTADO
ESTADUAL. FORO POR PRERROGATIVA FUNCIONAL QUE SOMENTE SE
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
JUSTIFICA NO TOCANTE A FATOS CONTEMPORÂNEOS AO EXERCÍCIO DO
MANDATO E NO TOCANTE A AÇÕES RELACIONADAS ÀS ATRIBUIÇÕES PÚBLICAS
RESPECTIVAS. CASO FÁTICO QUE EXIGE A IMPERIOSA RELATIVIZAÇÃO DA
PRERROGATIVA FUNCIONAL, NO ESTEIO DOS PRECEDENTES DAS CORTES
SUPERIORES. AGRAVO INTERNO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Interno interposto
no bojo da Ação Penal nº 0000166-90.2018.8.05.0000, tendo como Agravante o
Ministério Público do Estado da Bahia e Agravados M.P.C.M e F.S.B.
Acordam, à unanimidade de votos, os Desembargadores integrantes do
Tribunal Pleno do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, em CONHECER e NEGAR
PROVIMENTO ao Agravo interposto, nos termos do voto do Relator.
RELATÓRIO
Trata-se de Agravo Interno interposto no bojo da Ação Penal Pública em
epígrafe, promovida pelo Ministério Público do Estado da Bahia, através da
Procuradoria Geral de Justiça, em face de M.P.C.M, Deputado Estadual baiano, e F. S.
B, pela suposta prática do delito descrito no art. 299, caput, c/c arts. 29 e 69, todos do
Código Penal (fls. 02/07).
O feito restou distribuído por sorteio a este Desembargador em 10 de
janeiro de 2018 (conforme certidão de fl. 48 e termo de fl. 49), que determinou a
redistribuição dos fólios ao eminente Desembargador Abelardo Paulo da Matta Neto,
por vislumbrar prevenção para atuação no feito (fls. 50/52v).
O referido Julgador, por sua vez, discordando do entendimento acima
mencionado, suscitou conflito de competência (fls. 56/62), já decidido pelo Tribunal
Pleno, no sentido de firmar a competência do órgão perante o qual atua este
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
Magistrado (fls. 80/99), retornando o caderno processual, então, em 15 de maio de
2018 (fl. 100).
Em continuidade, porém, este Relator, em decisão monocrática,
determinou o encaminhamento dos autos à primeira instância, afastando a incidência
do foro por prerrogativa funcional, seguindo recente e paradigmática mudança de
entendimento das Cortes Superiores, considerando que os fatos objeto da Ação Penal
Originária em foco são alheios ao exercício do mandato de Deputado Estadual exercido
por um dos denunciados, consoante se observa às fls. 101/116.
Inconformada, entretanto, a Procuradoria Geral de Justiça do Estado da
Bahia interpôs Agravo Interno, aduzindo, em síntese, que cabe ao STF realizar o
controle de dispositivos da Constituição da República, sendo indevida a utilização do
princípio da simetria para estender o entendimento oriundo da QO nº 937 (que não
teria efeito erga omnes) a outras autoridades detentoras de foro especial, pois a Corte
Suprema se referiu apenas aos Congressistas Federais na hipótese respectiva,
ponderando, ainda, que não houve a formação de precedente vinculante e nem súmula
sedimentando o novo posicionamento.
Sustenta, assim, “a necessidade de pronunciamento prévio da Suprema
Corte, esclarecendo a extensão e os limites da decisão sobre o instituto, seja lhe
atribuindo repercussão geral, seja cristalizando o entendimento (…) mediante a edição
de verbete sumular” (sic) (fl. 129).
Aduz, outrossim, que a Corte Especial do STJ, decidiu, em sessão ocorrida
aos 06 de junho de 2018, que, “enquanto o órgão jurisdicional da Corte Cidadã não
julgar o mérito do tema, qual seja, as latitudes e longitudes da prerrogativa de foro,
não haveria qualquer alteração nas regras de competência” (sic) (fl. 129).
Mencionou, ainda, outra decisão do STF, que supostamente revelaria a
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inaplicabilidade da simetria entre os regimes parlamentares Federais e Estaduais (ADPF
497MC/RJ; ADI 5824).
Amparando-se, basicamente, nesses argumentos, pugna pela reforma da
decisão, com manutenção da prerrogativa funcional discutida.
Às fls. 138/144, o Agravado M. P. C. M, ocupante do cargo que justificaria
a prerrogativa funcional, rebateu os argumentos da Procuradoria Geral de Justiça,
concordando com a decisão monocrática ora atacada.
Feito o relatório, passa-se ao voto.
VOTO
Conhece-se do recurso, porque presentes os requisitos intrínsecos e
extrínsecos de admissibilidade.
Sem delongas, o exame acurado dos fólios permite concluir, de logo, o
absoluto descabimento da pretensão recursal, sendo inviável a retratação deste Relator
quanto à decisão monocrática de fls. 101/116.
Com efeito, o referido decisum teve por base recentes, relevantes e
paradigmáticos precedentes do STF e STJ quanto à matéria de fundo, que ocasionaram
uma importante mudança de entendimento quanto à aplicação da prerrogativa de foro,
irradiando efeitos, inevitavelmente, para todas as esferas de governo (Federal,
Estadual, Municipal e Distrital) e funções do Estado (Legislativo, Executivo e
Judiciário).
Para melhor compreensão da controvérsia estabelecida, colaciona-se a
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decisão atacada, que se torna parte integrante deste voto, na qual se expôs os
argumentos justificadores do encaminhamento do caderno processual à primeira
instância:
“ Ocorre, todavia, que em recente e relevante julgado, ocorrido
em 03 de maio de 2018, o Supremo Tribunal Federal, com razão,
relativizou a competência decorrente do foro por prerrogativa de
função, dando interpretação restritiva ao art. 102, I, b e c, da
CF/88, no sentido de somente admitir o processamento de
membros do Congresso Nacional pelo Pretório Excelso em caso de
delitos praticados durante os seus respectivos mandatos e
decorrentes de fatos relacionados ao exercício funcional.
Nessa linha, fixou-se, na oportunidade, em síntese, o
entendimento de que procedimentos criminais em trâmite
naquele Tribunal, cujos acusados fossem os membros do
Legislativo Federal, deveriam ser encaminhados à primeira
instância, caso as condutas apuradas tenham sido praticadas antes
da assunção do cargo público, ou não tenham com ele qualquer
ligação, salvo nas hipóteses em que a instrução processual já se
encontre encerrada. Por oportuno colaciona-se o Julgado
respectivo, exarado no âmbito de Questão de Ordem Suscitada na
Ação Penal nº 937, tendo como Relator o Ministro Luís Roberto
Barroso:
"EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL
PENAL. QUESTÃO DE ORDEM EM AÇÃO PENAL.
LIMITAÇÃO DO FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO
AOS CRIMES PRATICADOS NO CARGO E EM RAZÃO DELE.
ESTABELECIMENTO DE MARCO TEMPORAL DE FIXAÇÃO
DE COMPETÊNCIA.
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I. Quanto ao sentido e alcance do foro por prerrogativa
1. O foro por prerrogativa de função, ou foro
privilegiado, na interpretação até aqui adotada pelo
Supremo Tribunal Federal, alcança todos os crimes de
que são acusados os agentes públicos previstos no art.
102, I, b e c da Constituição, inclusive os praticados
antes da investidura no cargo e os que não guardam
qualquer relação com o seu exercício.
2. Impõe-se, todavia, a alteração desta linha de
entendimento, para restringir o foro privilegiado aos
crimes praticados no cargo e em razão do cargo. É
que a prática atual não realiza adequadamente
princípios constitucionais estruturantes, como
igualdade e república, por impedir, em grande
número de casos, a responsabilização de agentes
públicos por crimes de naturezas diversas. Além
disso, a falta de efetividade mínima do sistema
penal, nesses casos, frustra valores constitucionais
importantes, como a probidade e a moralidade
administrativa. 3. Para assegurar que a prerrogativa
de foro sirva ao seu papel constitucional de garantir
o livre exercício das funções - e não ao fim ilegítimo
de assegurar impunidade - é indispensável que haja
relação de causalidade entre o crime imputado e o
exercício do cargo. A experiência e as estatísticas
revelam a manifesta disfuncionalidade do sistema,
causando indignação à sociedade e trazendo
desprestígio para o Supremo.
4. A orientação aqui preconizada encontra-se em
harmonia com diversos precedentes do STF. De fato,
o Tribunal adotou idêntica lógica ao condicionar a
imunidade parlamentar material - i.e., a que os
protege por suas opiniões, palavras e votos - à
exigência de que
a manifestação tivesse relação com o exercício do
mandato. Ademais, em inúmeros casos, o STF
realizou interpretação restritiva de suas
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competências constitucionais, para adequá-las às
suas finalidades. Precedentes.
II. Quanto ao momento da fixação definitiva da
competência do STF
5. A partir do final da instrução processual, com a
publicação do despacho de intimação para
apresentação de alegações finais, a competência
para processar e julgar ações penais - do STF ou de
qualquer outro órgão - não será mais afetada em
razão de o agente público vir a ocupar outro cargo
ou deixar o cargo que ocupava,
qualquer que seja o motivo. A jurisprudência desta
Corte admite a possibilidade de prorrogação de
competências constitucionais quando necessária
para preservar a efetividade e a racionalidade da
prestação jurisdicional. Precedentes.
III. Conclusão
6. Resolução da questão de ordem com a fixação das
seguintes teses: “(i) O foro por prerrogativa de
função aplica-se apenas aos crimes cometidos
durante o exercício do cargo e relacionados às
funções desempenhadas; e (ii) Após o final da
instrução processual, com a publicação do despacho
de intimação para apresentação de alegações finais,
a competência para processar e julgar ações penais
não será mais afetada em razão de o agente público
vir a ocupar cargo ou deixar o cargo que ocupava,
qualquer que seja o motivo”. 7. Aplicação da nova
linha interpretativa aos processos em curso.
Ressalva de todos os atos praticados e decisões
proferidas pelo STF e demais juízos com base na
jurisprudência anterior. 8. Como resultado,
determinação de baixa da ação penal ao Juízo da 256ª
Zona Eleitoral do Rio de Janeiro, em razão de o réu ter
renunciado ao cargo de Deputado Federal e tendo em
vista que a instrução processual já havia sido
finalizada perante a 1ª instância." (STF. Plenário. AP
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937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
03/05/2018) (Grifos acrescidos).
Importa de logo registrar o acerto da
Suprema Corte ao readequar a interpretação relativa aos
dispositivos atinentes à prerrogativa funcional dos membros do
Congresso Nacional, pois compatibilizou o objetivo de tal garantia
com os primados democráticos e republicanos, afastando
indevidos privilégios atinentes a delitos que nada se relacionam ao
desempenho do cargo público respectivo.
Em verdade, já não era sem tempo a
modificação do panorama em questão, porquanto a garantia de
foro por prerrogativa funcional a detentores de cargos públicos em
razão de fatos anteriores ou não relacionados ao exercício
funcional não possuía nenhum sentido legítimo, do ponto de vista
jurídico-constitucional, gerando injusto tratamento desigual e
consequente indignação por parte da sociedade brasileira, sendo
utilizado, no mais das vezes, como instrumento de manobras
processuais para postergar e evitar eventual condenação criminal
por fatos absolutamente dissociados da função exercida.
Com efeito, a garantia em questão
somente se justifica para a preservação do desempenho dos
mandatos políticos e não como uma forma de indevido benefício
pessoal, de tal maneira que a prerrogativa ora discutida somente
deve ter lugar, reitere-se, no tocante a fatos oriundos do mister
público respectivo.
Necessário pontuar, por seu turno, que,
não obstante o STF tenha se referido especificamente aos
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membros do Congresso Nacional em razão do caso concreto então
apreciado, as razões que conduziram à mudança de entendimento
são extensíveis aos demais cargos políticos que possuem a mesma
prerrogativa, como corolário, dentre outros, dos princípios da
igualdade, razoabilidade e simetria. Inclusive, a tendência no
âmbito da Suprema Corte parece ser exatamente a de reconhecer
essa amplitude.
Não por outra razão, o Ministro do
Superior Tribunal de Justiça Luis Felipe Salomão, também de
forma acertada, proferiu, em 07 de maio de 2018, poucos dias
depois do julgado acima, decisão monocrática remetendo à
primeira instância ação penal originária, de sua relatoria, que tem
como acusado o Governador do Estado da Paraíba, pautado
exatamente na nova interpretação dada pelo STF, entendendo que
as razões que justificaram a decisão supramencionada deveria ser
estendidas às outras autoridades detentoras de mandatos eletivos
com foro por prerrogativa funcional junto ao Tribunal da
Cidadania. Por oportuno, transcreve-se:
“AÇÃO PENAL Nº 866 - DF (2013/0258052-5) (f)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃOAUTOR :
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU: RICARDO VIEIRA
COUTINHO ADVOGADO : SHEYNER YASBECK ASFORA -
PB011590
DECISÃO
1. Diante da recente e notória decisão do Plenário
do Supremo Tribunal Federal, ao julgar questão de
ordem na AP 937, da relatoria do Ministro Roberto
Barroso, conferindo nova e conforme interpretação
ao art. 102, I, b e c da CF, assentando a
competência da Corte Suprema para processar e
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julgar os membros do Congresso Nacional
exclusivamente quanto aos crimes praticados no
exercício e em razão da função pública, e que tem
efeitos prospectivos, em linha de princípio, ao
menos em relação às pessoas detentoras de mandato
eletivo com prerrogativa de foro perante este
Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, I, "a"),
faz-se necessária igual observância da regra
constitucional a justificar eventual manutenção, ou
não, do trâmite processual da presente ação penal
perante a Corte Especial deste Tribunal Superior. O
voto condutor na questão de ordem suscitada pelo
eminente Relator no STF está assim ementado:
(...)
2. Assim, parece claro que o Excelso Pretório
decidiu que se faz necessária a adoção de
interpretação restritiva das competências
constitucionais, consoante precedentes recentes
daquela Suprema Corte. Nesse sentido, confira-se o
entendimento da maioria, cristalizado nas palavras
do eminente Relator, Ministro Roberto Barroso, in
verbis:
31. Ademais, não há qualquer impedimento para que o
Supremo Tribunal Federal interprete de forma
restritiva as normas constitucionais que instituem o
foro privilegiado. No caso, tais competências
constitucionais são sobreinclusivas, já que, ao
abrangerem a possibilidade de que autoridades sejam
processadas originariamente perante tribunais por
ilícitos inteiramente desvinculados de suas funções,
distanciam-se da finalidade que justificou a criação da
prerrogativa. Por isso, é possível fazer uma “redução
teleológica” das mesmas para que sejam interpretadas
como aplicáveis somente quanto aos crimes praticados
no cargo e em razão dele.
32. O foro especial está previsto em diversas
disposições da Carta de 1988. Vejamos alguns
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exemplos. O art. 102, I, 'b' e 'c', estabelece a
competência do STF para 'processar e julgar,
originariamente, (...) nas infrações penais comuns, o
Presidente da República, o Vice-Presidente, os
membros do Congresso Nacional, seus próprios
Ministros e o Procurador-Geral da República', bem
como #os Ministros de Estado e os Comandantes
Militares, os membros dos Tribunais Superiores, os
membros do Tribunal de Contas da União e os chefes
de missão diplomática de caráter permanente'. O art.
53, § 1º ainda determina que 'Os Deputados e
Senadores, desde a expedição do diploma, serão
submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal
Federal'. Já o art. 105, I, 'a', define a competência do
STJ para 'processar e julgar originariamente, nos
crimes comuns, os 'Governadores dos Estados e do
Distrito Federal', e, ainda, 'os desembargadores dos
Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal,
os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do
Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais,
dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os
membros dos Conselhos ou
Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério
Público da União que oficiem perante tribunais'. E o
art. 29, X, prevê 'o julgamento do Prefeito perante o
Tribunal de Justiça'. 33. Embora se viesse
interpretando a literalidade desse dispositivo no
sentido de que o foro privilegiado abrangeria todos os
crimes comuns, é possível e desejável atribuir ao texto
normativo acepção
mais restritiva, com base na teleologia do instituto e
nos demais elementos de interpretação constitucional.
Trata-se da chamada 'redução teleológica' ou, de
forma mais geral, da aplicação da técnica da
'dissociação', que consiste em reduzir o campo de
aplicação de uma disposição normativa a somente uma
ou algumas das situações de fato previstas por ela
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
segundo uma interpretação literal, que se dá para
adequá-la à finalidade da norma. Nessa operação, o
intérprete identifica uma lacuna oculta (ou axiológica)
e a corrige mediante a inclusão de uma exceção não
explícita no enunciado normativo, mas extraída de sua
própria teleologia. Como resultado, a norma passa a se
aplicar apenas a parte dos fatos por ela regulados. A
extração de 'cláusulas de exceção' implícitas serve,
assim, para concretizar o fim e o sentido da norma e
do sistema normativo em geral. 34. Essa técnica não
constitui nenhuma novidade para o STF, que já
realizou, em diversas hipóteses, a interpretação
restritiva das competências previstas na Constituição
por meio da inclusão de cláusulas de exceção que
reduzem o seu alcance. Nesse sentido, a
jurisprudência do Tribunal tem enfatizado 'a
possibilidade de o Supremo Tribunal Federal, atuando
na condição de intérprete final da Constituição,
proceder à construção exegética do alcance e do
significado das cláusulas constitucionais que definem a
própria competência originária desta Corte' (ADI 2797).
Em verdade, quase nenhuma competência jurisdicional
prevista na Constituição permanece imune a
interpretações que limitem a abrangência que, prima
facie, parecem ter. Por exemplo, a Carta Magna prevê
que compete ao Supremo processar e julgar 'a ação
direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
federal ou estadual# (art. 102, I, 'a'). Embora o
dispositivo não traga qualquer restrição temporal, o
STF consagrou entendimento de que não cabe ação
direta contra lei anterior à Constituição, porque,
ocorrendo incompatibilidade entre ato normativo
infraconstitucional e a Constituição superveniente,
fica
ele revogado (ADI 521, Rel. Min. Paulo Brossard, j.
07.02.1992). 35. Do mesmo modo, o Supremo definiu
que a competência para julgar 'as causas e os conflitos
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
entre a União e os Estados# (CF, art. 102, I, 'f') não
abarca todo e qualquer conflito entre entes federados,
mas apenas aqueles capazes de afetar o pacto
federativo (ACO 359-QO; ACO 1048-QO; ACO 1295-AgR-
Segundo). Veja-se a respeito trecho da ementa de
julgamento da ACO 597-AgR (Rel. Min. Celso de Mello,
j.
03.10.2002): 'a jurisprudência da Corte traduz uma
audaciosa redução do alcance literal da alínea
questionada da sua competência original: cuida-se,
porém, de redução teleológica e sistematicamente
bem fundamentada, tão-manifesta, em causas como
esta, se mostra a ausência dos fatores determinantes
da excepcional competência originária do S.T.F. para o
deslinde jurisdicional dos conflitos federativos'.
36. A Constituição também atribui a esta Corte a
competência para julgar 'as ações contra o Conselho
Nacional de Justiça# (CF, art. 102, I, 'r'). Prima facie,
essa disposição se refere a todas as ações, sem
exclusão. No entanto, segundo a jurisprudência do
Tribunal, somente estão sujeitas a julgamento perante
o STF o mandado de segurança, o mandado de
injunção, o habeas data e o habeas corpus, pois
somente nessas situações o CNJ terá legitimidade
passiva ad causam (AO 1706 AgR). E mais: ainda
quando se trate de MS, o Supremo só reconhece sua
competência quando a ação se voltar contra ato
positivo do Conselho Nacional de Justiça (MS 27712; MS
28839 AgR). 37. Há, ainda, previsão constitucional de
julgamento pelo Supremo da
'ação em que todos os membros da magistratura sejam
direta ou indiretamente interessados, e aquela em que
mais da metade dos membros do tribunal de origem
estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente
interessados' (art. 102, I, 'n'). Em relação à primeira
parte do dispositivo, o STF entende que a competência
só se aplica quando a matéria versada na causa diz
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
respeito a interesse privativo da magistratura, não
envolvendo interesses comuns a outros 18 servidores
(AO 468 QO). Em relação à segunda parte do preceito,
entende-se que o impedimento e a suspeição que
autorizam o julgamento de ação originária pelo STF
pressupõem a manifestação expressa dos membros do
Tribunal competente, em princípio, para o julgamento
da causa (MS 29342). 38. Em todos esses casos (e em
muitos outros), entendeu-se possível a redução
teleológica do escopo das competências originárias do
STF pela via interpretativa. E em nenhum deles a
adoção de interpretação mais abrangente implicaria
clara ofensa a preceitos fundamentais da Constituição,
como ocorre no presente caso. Afinal, se o STF
reconhecesse o cabimento de MS perante a Corte
contra ato negativo do CNJ (como o fez inicialmente),
não haveria, de plano, violação a qualquer princípio ou
valor constitucional. Diversamente, em relação à
competência criminal originária, a adoção de
interpretação ampliativa põe em risco os princípios da
igualdade e da república.
É, no mínimo, incoerente que o Supremo adote um
parâmetro geral de interpretação restritiva de suas
competências, mas não o aplique justamente para as
competências que instituem o foro por prerrogativa de
função, que são as que têm maior potencial para
ofender princípios estruturantes da ordem
constitucional. 39. Portanto, a interpretação restritiva
proposta é a interpretação mais adequada da
Constituição e está em linha com diversos precedentes
do STF.
3. De outra parte, pelo princípio da simetria, os
Estados são obrigados a se organizarem de forma
simétrica à prevista para a União. Afinal, de acordo
com o art. 25, caput, da CF/1988, "os Estados
organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis
que adotarem, observados os princípios desta
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
Constituição". A jurisprudência da Corte
Constitucional sempre conferiu grande relevância ao
princípio da simetria. Confiram-se (...)
Assim, o princípio da simetria informa a
interpretação de qualquer regra que envolva o pacto
federativo no Brasil.
4. No caso em exame, é ação penal na qual foi
ofertada denúncia em face de RICARDO VIEIRA
COUTINHO, atual Governador do Estado da Paraíba,
pela suposta prática de 12 (doze) crimes de
responsabilidade de prefeitos (art. 1º, inciso XIII, do
DL 201/67), decorrente da nomeação e admissão de
servidores contra expressa
disposição de lei, ocorridos entre 01.01.2010 e
01.02.2010, quando o denunciado exercia o cargo
de Prefeito Municipal de João Pessoa/PB, ou seja,
delitos que, em tese, não guardam relação com o
exercício, tampouco teriam sido praticados em
razão da função pública atualmente exercida pelo
denunciado como Governador. Nessa conformidade,
reconhecida a inaplicabilidade da regra
constitucional de prerrogativa de foro ao presente
caso, por aplicação do princípio da simetria e em
consonância com a decisão da Suprema Corte antes
referida, determino a remessa dos autos ao
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba,
para distribuição a uma das Varas Criminais da
Capital, e posterior prosseguimento da presente
ação penal perante o juízo competente. A remessa
dos autos só deverá ocorrer após o trânsito em
julgado desta decisão. Ciência ao Ministério Público e
à Defesa. Publique-se e intimem-se. Brasília (DF), 07
de maio de 2018. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
Relator” (AÇÃO PENAL Nº 866 - DF
(2013/0258052-5)Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
08/05/2018) (Grifos acrescidos)
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
Fixadas tais premissas, imperioso
reconhecer que a mesma lógica se irradia para as hipóteses de
autoridades detentoras de mandato eletivo com prerrogativa
funcional junto ao Tribunal de Justiça, porquanto, reitere-se, as
razões que justificaram as decisões da Suprema Corte, bem assim
do Tribunal da Cidadania, são obviamente extensíveis a todas as
esferas de governo, porquanto objetivam, conforme já dito, o
afastamento de um reprovável privilégio quanto ao processamento
de crimes sem qualquer vinculação com a função pública exercida,
em completo desrespeito para com o cidadão comum,
contrariando a lógica republicana.
Assim, concordando integralmente com
as fundamentações exaradas pelo plenário do STF, como também
pelo Ministro Luis Felipe Salomão, entende este Julgador ser
impositivo, no âmbito deste Egrégio Tribunal de Justiça, a remessa
das ações penais originárias relativas a detentores de mandatos
eletivos, quando os fatos apurados tenham sido cometidos antes
da assunção do cargo ou, ainda que após esse marco, não possuam
nenhuma relação com a função pública exercida, salvo quando já
encerrada a instrução, entendido tal termo como sendo a
intimação das partes para apresentação de alegações finas.
No presente caso, por seu turno, a ação
penal foi proposta junto à segunda instância considerando que um
dos denunciados exerce atualmente o mandado de Deputado
Estadual, possuindo, segundo mandamento Constitucional, foro
por prerrogativa funcional perante o Tribunal de Justiça do
respectivo Estado.
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
Não obstante isso, a análise do conteúdo
narrado na denúncia permite concluir, com segurança, que a
suposta ação criminosa não detêm nenhuma relação com o
desempenho do mandato eletivo em questão.
Com efeito, relata o Ministério Público
que o referido Deputado Estadual, juntamento ao segundo
denunciado, procedeu a inserção de informações falsas em Atas da
Assembleia Geral da ASPRA (Associação de Policiais e Bombeiros e
de Seus Familiares do Estado da Bahia), na condição de diretor e
ex-coordenador-geral da referida associação. A fim de se afastar
dúvidas, necessária parcial transcrição da exordial:
“(...) Do exame dos elementos que instruem o
presente Procedimento Investigatório Criminal, se
verifica que a prática criminosa era estruturada da
seguinte maneira: M. P. C. M, ora denunciado, atual
Deputado Estadual e diretor e ex-coordenador-geral da
ASPRA, à época dos fatos, desde que assumiu o antigo
mandato de vereador deste Município, em março de
2013, determinava que seu assessor parlamentar, à
época, J. R. A. S, produzisse, com antecedência, as
atas de assembleia geral da respectiva Associação,
com a prévia indicação dos nomes e cargos que seriam
'eleitos'.
Ainda por determinação de M. P. C. M, o
Edital para realização das referidas assembleias eram
publicados no jornal Tribuna da Bahia, de menor
circulação e, portanto, com menor alcance na
mencionada associação, a fim de assegurar que a sua
empreitada criminosa obtivesse êxito, o que, de fato,
vinha ocorrendo.
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
Mais especificamente, no que tange a ata
de assembleia geral do dia 23 de novembro de 2014,
acostada às fls. 26/31 do presente expediente,
destinada a 'exoneração, renúncia e posse' não foi
diferente. Com efeito, tal assembleia, presidida por F.
S. B, então diretor coordenador-geral da ASPRA,
acompanhado por P. H. P. S, então diretor secretário-
geral da ASPRA, também denunciado, não ocorreu.
É dizer, de acordo com o citado modus
operandi, o mencionado assessor parlamentar de M. P.
C. M, J. R., por sua determinação, a redigiu desde o
mês de outubro de 2014, fazendo constar, ainda, todos
os nomes que seriam destituídos, bem como aqueles
que seriam empossados.
Mas não é só. As respectivas assinaturas
contidas na lista de 'presença' da citada assembleia
geral de 23/11/2014 também foram manipuladas. Os
nomes que ali constam foram retirados,
aleatoriamente, de atas antigas que o próprio M. P. C.
M. fornecia, sendo que as assinaturas dos diretores
eram colhidas posteriormente à confecção da ata.
Ainda nesse contexto, importante
registrar que foi inserido na lista de presença, de
maneira fraudulenta, sem estar presente à assembleia,
entre outros, o nome do SD PM M. B. S. S, visto que
desde agosto de 2014 se encontrava preso
preventivamente no 15º Batalhão, sediado em
Itabuna/BA. Ademais, a destituição do SD PM J. L. F.
C. do cargo de Coordenador de Comunicação e
Imprensa, sob o fundamento de que não estava
'desenvolvendo a função para a qual foi eleito', contida
na referida ata, de igual modo, não passa de uma
manipulação. A bem da verdade, o mencionado
Policial Militar já havia solicitado a renúncia do cargo,
pois não concordava com as práticas da diretoria da
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
ASPRA, conforme se verifica da fl. 78 do aludido
expediente.
Constata-se, ainda, a mesma prática
criminosa na ata de assembleia geral para 'destituição,
renúncia, eleição, posse e mudança de endereço', do
dia 20 de março de 2015, a qual, inclusive, elegeu M.
P. C. M para o cargo de Coordenador-Geral da referida
associação. Tal assembleia, também presidida e
secretariada pelos denunciados F. S. B. e P. H. P. S,
respectivamente, da mesma forma não o correu. M. P.
C. M, mais uma vez, determinou ao seu referido
assessor que preparasse a ata com antecedência,
entregando-lhe todos os nomes que seriam destituídos
bem como os que seriam investidos nos cargos.
Nessa esteira de intelecção, se observa
que os três denunciados, em comum acordo, atuaram
para 'inserir declaração falsa ou diversa da que deveria
ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar
obrigação e alterar a verdade sobre fato juridicamente
relevante.” (Denúncia de fls. 02/08) (Nomes
abreviados)
Como se observa, a denúncia refere-se a
supostos falsos relacionados à gestão da associação de classe antes
mencionada, mas não indica, minimamente, atuação atrelada ao
desempenho do mandato parlamentar baiano, do qual é titular um
dos denunciados.
Por tal razão, não se justifica a
incidência da prerrogativa funcional prevista na Constituição da
República, bem assim Estadual, nos termos do entendimento antes
explanado, razão pela qual, alternativa não resta senão o
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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
encaminhamento do caderno processual à primeira instância.
Ante o exposto, reconhecida a
inaplicabilidade do foro por prerrogativa funcional, determina-se a
remessa dos autos ao setor competente, a fim de que proceda à
distribuição do feito junto a uma das varas criminais desta Capital,
já que os fatos constantes da exordial aparentemente teriam
ocorrido em Salvador-BA, pelo que se extrai dos elementos
colacionados ao caderno processual.
O cumprimento da presente ordem,
porém, somente deve sobrevir após o trânsito em julgado desta
decisão. (…)” (Decisão Monocrática de fls. 101/116;
18.05.2018; Desembargador Relator: Julio Cezar Lemos Travessa).
A decisão acima transcrita, como visto, tomou por base o que restou
sedimentado pelo Supremo Tribunal Federal na Questão de Ordem Suscitada na Ação
Penal nº 937, tendo como Relator o Ministro Luiz Roberto Barroso, cujo caso fático
envolvia um membro do Legislativo Federal, bem assim subsequente decisão
monocrática do Ministro Luis Felipe Salomão, do Colendo STJ, que envolvia um
Governador de Estado.
Veja-se, todavia, que a alteração de entendimento extraída de tais casos
não se restringiu, de forma alguma, aos cargos públicos específicos tratados nos
respectivos processos, mas sim ao instituto do foro por prerrogativa funcional como um
todo, assentando-se que sua incidência seria indevido privilégio nas hipóteses de
delitos praticados em momento anterior ao exercício funcional, bem assim quando não
guardassem relação com as atribuições inerentes ao cargo.
Em verdade, manter a regra da prerrogativa funcional nos moldes que
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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
vinha sendo adotada até os dias de hoje se revela um verdadeiro contrassenso, que
privilegia indevidamente os detentores de determinados cargos públicos, no tocante a
fatos anteriores e/ou alheios ao desempenho de tais funções, o que, obviamente, não
possui sentido republicano legítimo.
Assim, por consequência lógica, como também para manutenção da
coerência do sistema jurídico como um todo, é óbvio, data venia, que tal interpretação
deve incidir quanto a todos os cargos que detenham a prerrogativa funcional discutida.
Aliás, parece ser essa a tendência inafastável a partir do paradigma
estabelecido pelo STF. Não por outra razão, após a fixação do entendimento da
Questão de Ordem mencionada, como também da própria decisão do STJ antes citada,
mais algumas sobrevieram no mesmo sentido, envolvendo outras autoridades públicas,
confirmando o entendimento aqui aplicado.
Inclusive, no âmbito da Questão de Ordem no Inq. 4.703/DF (caso que
envolvia o Ministro Blairo Maggi), julgada em 12/06/2018 pela Primeira Turma do STF,
tendo como Relator o Eminente Min. Luiz Fux, reiterou-se o entendimento
manifestado no caso guia, QO na AP 937/RJ, estendendo-o a outras autoridades
públicas, além dos membros do Congresso Nacional, e deixando transparecer que essa
será a lógica para todos que detenham a prerrogativa discutida, julgado este que
revela a inevitável tendência de aplicação desse novo posicionamento, aos poucos,
para qualquer cargo público que esteja em tal circunstância, o que muito fragiliza, diga-
se de passagem, a própria argumentação trazida nas razões recursais (que foram
apresentadas antes da decisão supra, em 08.06.2018), cujo enfoque, dentre outros
pontos, foi exatamente o fato da decisão anterior (oriunda da QO na AP 937/RJ) não
ter realizado tal extensão.
Ainda mais recentemente (em 20.06.2018), a Corte Especial do Superior
Tribunal de Justiça, seguindo a mesma linha do STF, como também da decisão
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
monocrática do Ministro Luis Felipe Salomão, decidiu por aplicar a restrição do foro
especial a Governadores e Conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados,
oportunidade em que se assentou, inclusive, que caberia ao STJ definir tal questão no
tocante às autoridades detentoras de prerrogativa funcional junto a tal corte, não
sendo necessário aguardar uma definição do STF. Nesse sentido, transcreve-se o
conteúdo da certidão de julgamento da QO na AP nº 857/DF, de relatoria do Ministro
Mauro Campbell Martques:
“(...) Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em
epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Felix Fischer
acompanhando a divergência, os votos da Sra. Ministra Nancy Andrighi e dos
Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin e Jorge Mussi, no mesmo
sentido, a retificação de voto do Sr. Ministro Relator no sentido de que a
competência penal originária do Superior Tribunal de Justiça em relação a
todas as autoridades listadas no art. 105 da Constituição é restrita aos
delitos praticados no período em que o agente ocupa a função e deve ter
relação intrínseca às atribuições exercidas e estabelecendo, ainda, outras
premissas, segundo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, bem como
determinando a imediata remessa dos autos à Primeira Instância, no que foi
A informação disponível não será considerada para fins de contagem de prazos
recursais (Ato nº 135 - Art. 6º e Ato nº 172 - Art. 5º) Página 1 de 2 Superior
Tribunal de Justiça acompanhado pelo Sr. Ministro Og Fernandes, a Corte
Especial, por maioria, entendeu, preliminarmente, que cabe ao STJ
interpretar a sua competência constitucional, e, no caso concreto, por
unanimidade, determinou a baixa dos autos ao juízo de primeiro grau.
Lavrará o acórdão o Sr. Ministro João Otávio de Noronha. Votaram com o Sr.
Ministro João Otávio de Noronha os Srs. Ministros Maria Thereza de Assis Moura,
Luis Felipe Salomão, Felix Fischer, Nancy Andrighi, Humberto Martins, Herman
Benjamin e Jorge Mussi. Vencidos, parcialmente, os Srs. Ministros Relator e Og
Fernandes. Impedido o Sr. Ministro Benedito Gonçalves. Ausentes,
justificadamente, os Srs. Ministros Francisco Falcão, Napoleão Nunes Maia Filho
e Raul Araújo. (...)” (QO na APn 857 / DF) (Grifos acrescidos).
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A referida decisão faz cair por terra mais um dos argumentos trazidos nas
razões recursais, já que lá a Procuradoria Geral de Justiça baiana ponderou que se
deveria aguardar uma decisão da Corte Especial do STJ, sendo exatamente o que
ocorreu na hipótese acima.
Reitere-se, portanto, que a tendência é, de fato, a aplicação do
entendimento discutido para todas as hipóteses de prerrogativa funcional, até mesmo a
fim de que seja mantida a coerência do sistema jurídico, pois não há nenhum sentido
em dar tratamento diverso a autoridades que estão em semelhante situação em suas
respectivas esferas de governo e funções do Estado.
Nessa linha, salvo melhor Juízo, é imperioso reconhecer que a mesma
lógica adotada pelas instâncias Superiores se irradia para as hipóteses de autoridades
detentoras de mandato eletivo com prerrogativa funcional junto aos Tribunais de
Justiça e TRFs, porquanto, como visto, as razões que justificaram as decisões da
Suprema Corte, bem assim do Tribunal da Cidadania, são obviamente extensíveis a
todos os cargos detentores do foro especial, porquanto objetiva, como já dito, o
afastamento de um reprovável privilégio quanto ao processamento de crimes sem
qualquer vinculação com a função pública exercida, em completo desrespeito para com
o cidadão comum, contrariando a lógica republicana.
Outrossim, na mesma esteira do que entendeu o STJ, cabe aos membros
deste Tribunal de Justiça interpretar as regras relativas às prerrogativas funcionais das
autoridades locais, no que se insere, por exemplo, os Prefeitos Municipais e os
Deputados Estaduais.
Até mesmo porque não seria razoável que os Juízes e Tribunais de todo o
país aguardassem a definição pela Suprema Corte de todas as variáveis possíveis quanto
ao tema (como parecer pretender a Procuradoria Geral de Justiça do Estado da Bahia),
relacionadas às mais diversas autoridades públicas, omitindo-se em relação à questão
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de fundo, diante do surgimento de situação peculiar, e simplesmente mantendo a
prerrogativa funcional como um privilégio indevido, quando já há elementos
suficientes, por intermédio da tese fixada pela Suprema Corte e seguida pelo Tribunal
da Cidadania, para se examinar qualquer caso concreto, bastando se valer dos
mecanismos de interpretação constantes do sistema jurídico, cotejando a hipótese
fática com os paradigmas inicialmente estabelecidos na Questão de Ordem Suscitada na
Ação Penal nº 937.
Diga-se, outrossim, que embora as decisões mencionadas ainda não
constituam precedentes vinculantes, como sustenta a Procuradoria Geral de Justiça
baiano, podem e devem pautar os órgãos julgadores, dada a sua importância prática e
a necessidade de manutenção de um sistema jurídico coeso e coerente, não sendo
razoável, portanto, que seja dado tratamento diverso a situações bastante semelhantes
nas distintas esferas de governo, conforme já mencionado parágrafos acima.
Ademais, o Agravante busca, fragilmente, afastar a aplicação do princípio
da simetria na hipótese dos fólios, colacionando em suas razões trecho de acórdão do
STF que, além de ser anterior à mudança de entendimento ora discutida, trata de
situação jurídica totalmente alheia à presente (relacionada à possibilidade de controle
por parte do legislativo quanto à imposição de medidas cautelares penais aos seus
membros), logo, sem qualquer relevância, in casu.
Chama atenção, outrossim, a postura manifestamente contraditória da
Procuradoria Geral de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia, que vem
apresentando pronunciamentos processuais diametralmente opostos acerca do tema,
desde que houve a mudança de entendimento multicitada.
Com efeito, com a decisão paradigma do STF, este Relator, respeitando o
acertado posicionamento da Corte Suprema, cuidou de encaminhar à primeira instância
todas as Ações Penais Originárias em trâmite no gabinete criminal perante o qual atua,
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cujos fatos apurados fossem anteriores ao exercício do mandato eletivo respectivo, ou
não detivessem relação com ele.
Em duas das referidas demandas, APO nº 0024741-70.2015.8.05.0000 e
APO nº 0024099-29.2017.8.05.0000 - que tramitam na Segunda Câmara Criminal,
considerando que os então detentores da prerrogativa funcional exercem cargos de
Prefeito em Municípios do interior baiano – os denunciados interpuseram Agravo
Interno para atacar justamente as decisões declinatórias da competência, semelhantes
à dos presentes autos, de modo que a Procuradoria Geral de Justiça do Ministério
Público do Estado da Bahia, em sede de contrarrazões, em ambas as situações,
concordou integralmente com o posicionamento deste Desembargador. Por oportuno
transcreve-se alguns trechos das referidas manifestações processuais:
“(...) Lastreado em nova interpretação quanto ao alcance do foro por
prerrogativa de função garantido no art. 102, I, b e c da CF/88, emitida por
quem tem a função de interpretar a Constituição (STF), não resta alternativa
que não aquiescer e adequar as regras previstas nas constituições estaduais para
se adequar à novel interpretação. Caso contrário, o nosso sistema jurídico
viraria uma balburdia com consequente colapso.
Entendendo assim, tanto STF como o STJ, dando nova interpretação ao
privilegio de foro, entenderam que os crimes comuns alheios ao exercício do
mandato, devam ser julgados e processados perante o Juízo de Primeiro Grau
por não guardar qualquer relação com o norte que justifica o foro privilegiado,
que visa garantir o exercício do mandato.
Tanto é assim que o Tribunal da Cidadania (STJ), ao cuidar da matéria em ação
penal sob sua responsabilidade, assim decidiu (…)
Como restou demonstrado, não se trata de decisão isolada da Corte
Constitucional como pretende fazer crer o Agravante. Esse é o norte
estabelecido (relativização do foro especial por prerrogativa de função), e
que vai predominar doravante, aproximando direitos e garantias entre todos
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os cidadãos, como professa a nossa Carta Magna.
Ante o exposto, pugna-se pelo IMPROVIMENTO do Agravo Regimental
matendo-se o julgado exarado, uma vez que a decisão monocrática
impugnada encontra-se em consonância com as normas legais e
jurisprudência pátria (...)” (Contrarrazões de fls. 601/609, apresentadas em
25.06.2018, autos nº 0024741-70.2015.8.05.0000) (Grifos acrescidos)
“(...) Lastreado em nova interpretação quanto ao alcance do foro por
prerrogativa de função garantido no art. 102, I, b e c da CF/88, emitida por
quem tem a função de interpretar a Constituição (STF), não resta alternativa
que não aquiescer e adequar as regras previstas nas constituições estaduais para
se adequar à novel interpretação. Caso contrário, o nosso sistema jurídico
viraria uma balburdia com consequente colapso.
Entendendo assim, tanto STF como o STJ, dando nova interpretação ao
privilegio de foro, entenderam que os crimes comuns alheios ao exercício do
mandato, devam ser julgados e processados perante o Juízo de Primeiro Grau
por não guardar qualquer relação com o norte que justifica o foro privilegiado,
que visa garantir o exercício do mandato.
Tanto é assim que o Tribunal da Cidadania (STJ), ao cuidar da matéria em ação
penal sob sua responsabilidade, assim decidiu (…)
Como restou demonstrado, não se trata de decisão isolada da Corte
Constitucional como pretende fazer crer o Agravante. Esse é o norte
estabelecido (relativização do foro especial por prerrogativa de função), e
que vai predominar doravante, aproximando direitos e garantias entre todos
os cidadãos, como professa a nossa Carta Magna.
Ante o exposto, pugna-se pelo IMPROVIMENTO do Agravo Regimental
matendo-se o julgado exarado, uma vez que a decisão monocrática
impugnada encontra-se em consonância com as normas legais e
jurisprudência pátria (...)” (Contrarrazões de fls. 336/344, apresentadas em
20.06.2018, autos nº 0024099-29.2017.8.05.0000) (Grifos acrescidos).
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Estranhamente, por outro lado, a mesma Procuradoria-Geral de Justiça do
Ministério Público baiano manejou o Agravo Interno nestes autos, apresentando razões
totalmente divergentes do conteúdo das contrarrazões dos recursos indicados no
parágrafo anterior, conforme já visto nas próprias explanações feitas anteriormente.
Agiu do mesmo modo, segundo chegou ao conhecimento deste Julgador,
ao se manifestar, quando instado, nos autos da APO nº 0001760-57.2009.8.05.0000,
oriunda da Primeira Câmara Criminal desta Corte, de Relatoria do Eminente
Desembargador Nilson Soares Castelo Branco.
Daí a afirmação da manifesta contradição do órgão de cúpula do Parquet
baiano.
Ora, como é possível que em processos que possuem a mesma discussão
fático-jurídica de fundo, que tramitam de forma concomitante, possa o mesmo Órgão
do Ministério Público (Procuradoria Geral de Justiça) apresentar posições totalmente
antagônicas em intervalo de tempo tão reduzido (menos de 20 – vinte – dias entre as
manifestações)?
Fica a dúvida, nessa linha, do porquê se dar um tratamento aos Prefeitos
dos dois Agravos Internos em que a Procuradoria Geral de Justiça concordou com este
Julgador e outro ao Deputado Estadual que figura como Agravado nestes fólios, se a
situação fático-jurídica é a mesma. Obviamente, tal postura contraria a necessária
isonomia, mandamento constitucional impositivo no sistema jurídico pátrio.
Indaga-se, assim, qual é, afinal, a posição da Procuradoria Geral de
Justiça do MP-BA acerca do tema, uma vez que não se pode admitir, até mesmo em
respeito à boa fé processual, que veda a adoção de comportamentos contraditórios,
uma atuação tão incongruente de um mesmo Órgão do Ministério Público baiano em
situações extremamente semelhantes.
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Diga-se, para afastar eventuais dúvidas, que nem mesmo o princípio da
independência funcional legitima a postura ora questionada, isso porque o referido
postulado normativo, de grande relevo, busca possibilitar que os membros do Ministério
Público desempenhem as suas funções de forma autônoma, devendo respeito tão só ao
ordenamento jurídico, desvinculados de pressões externas ou ingerências da própria
instituição, nada impedindo, assim, que membros ministeriais distintos possuam
posições jurídicas diversas.
Não se trata, porém, de um “cheque em branco”, a permitir que um
mesmo Órgão do Ministério Público passe a se manifestar de forma totalmente
diferente e aleatória em casos juridicamente semelhantes, em curtíssimo intervalo de
tempo, sem fazer qualquer ressalva acerca de eventual mudança de entendimento, até
mesmo em respeito à segurança jurídica que é esperada na atuação de todos os órgãos
componentes do sistema de Justiça.
Admitir isso, seria o mesmo que permitir – guardadas as devidas
proporções -, sob semelhante fundamento, que um mesmo Magistrado prolatasse
sentenças distintas em situações fático-jurídicas semelhante, em processos em trâmite
de forma concomitante, desrespeitando a isonomia e privilegiando a arbitrariedade e a
insegurança jurídica.
Veja-se, assim, que a atuação contraditória do Recorrente (Procuradoria
Geral de Justiça do MP-BA), só faz enaltecer a fragilidade dos argumentos que o
referido Órgão levanta em suas razões, corroborando todo o raciocínio que vem sendo
sustentado por este Julgador.
Do mesmo modo, não se poderia deixar de tecer considerações acerca das
subjetivas e desarrazoadas especulações trazidas pela multicitada Procuradoria Geral
de Justiça do Parquet baiano, quanto às supostas consequências práticas relacionadas à
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restrição da prerrogativa funcional, quando exarou sua manifestação nos autos da Ação
Penal Originária nº 0001760-57.2009.8.05.0000 (em trâmite na Primeira Câmara
Criminal), antes mencionada, conforme chegou ao conhecimento deste
Desembargador.
Naqueles autos, a Procuradoria Geral de Justiça assim se manifestou:
“(...) Ora, na experiência profissional desse subscritor, que há mais de 23 (vinte e três) anos integra o Ministério Público baiano e há 09 (nove) trabalha, exclusivamente, com questões atinentes ao foro especial alusivo aos prefeitos, com mais 6 (seis) colegas, todos com carreiras mais que vintenárias, por delegação do Procurador-Geral de Justiça, além de uma equipe de 8 (oito) servidores, cobrindo os 417 (quatrocentos e dezessete) município do Estado da Bahia, percebe-se, infelizmente, que os juízes e promotores de primeiro grau, de um modo geral, não dão seguimento aos processos que envolvam autoridades locais, como no caso de ex-prefeitos.
Importante destacar que esses feitos, quando não ficam paralisados anos, têm um andamento meramente protocolar, resultando na extinção da punibilidade pelo decurso do tempo ou absolvição por deficit probatório. Quando ocorre o acionado se reeleger, percebe-se que em muitas situações, os únicos despacho/manifestação proferidos é remessa dos autos ao TJ/BA, STJ ou STF, conforme o novo cargo do interessado. O Ministério Público já pugnou pela extinção de ações penais originárias em virtude dessa situação, não sendo o caso citar os envolvidos, até porque não se visa criticar o trabalho alheio, mas trazer à realidade as mazelas do sistema, que por vezes funciona na base da transferência de responsabilidades/encargos, apenas, sem ataque às causas dos problemas.
(...)
Raros juízes, presidentes natos dos processos, deixarão de instruir e de solucionar miríades de pretensões mais simples, também importantes, que engessam as estatísticas de produtividade e de metas estabelecidas pelos órgãos cúpula e correicionais, para se debruçarem sobre questões que envolvam autoridades ou ex-mandatários e daí condená-los. Com o Ministério Público a situação é similar, considerado como Órgão promotor da ação penal pública por ser o detentor, por excelência do munus acusatório. Dá para citar nos dedos as exceções a essas regras. (…) (Manifestação da Procuradoria Geral de Justiça do MP-BA nos autos nº 00001760-57.2009.8.05.0000)” (Grifos acrescidos).
De logo, é necessário registrar, com a devida venia ao Ministério Público
do Estado da Bahia, que o debate do tema em exame não pode ter como foco
afirmações subjetivas, generalizantes e até ofensivas, pautadas na opinião e suposta
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experiência pessoal isolada de alguns membros ministeriais, sem embasamento
concreto acerca do que ocorrerá com a alteração de entendimento em questão.
É inviável prever, no cenário atual, o resultado prático da relativização
examinada, não sendo razoável generalizar os juízes e promotores com atuação na
primeira instância, afirmando que estes não dão o devido andamento a feitos criminais
dessa magnitude, como fez a Procuradoria Geral de Justiça no referido processo,
conforme se pôde observar do trecho acima transcrito.
Em verdade, causa até espanto o que fora dito pela Procuradoria Geral de
Justiça do Estado da Bahia, pois, desarrazoadamente, ataca a atuação de toda a
Magistratura de primeiro grau, como também dos seus próprios membros, afirmando
que estes negligenciam o regular prosseguimento de feitos relacionados a autoridades
públicas, deixando de praticar atos de ofício, como se não detivessem compromisso
institucional, pautando-se em verdadeira argumentação apelativa, ofensiva e
empiricamente frágil, para minar uma mudança de posicionamento louvável, que
deveria, no entendimento deste Magistrado, ser aplaudida por todos os juristas com
compromisso democrático e republicano.
É certo, por seu turno, que existem profissionais descomprometidos nas
mais diversas áreas públicas e privadas, o que não exclui a Magistratura e o Ministério
Público. Por outro lado, a experiência revela que em tais carreiras esse número não é
expressivo. Ao revés, os Juízes de Direito e Promotores de Justiça tem demonstrado
afinco em garantir a efetividade e celeridade dos feitos, diante de todas as
dificuldades práticas que lhes são impostas, sendo absurdo, para não dizer vergonhoso,
que o órgão de cúpula do Parquet baiano manifeste, de forma insubsistente, suposto
despreparo e negligência dos órgãos de primeira instância em lidar com tais demandas,
insinuando que não proporcionam o devido andamento processual, ou seja, que deixam
de praticar atos inerentes às suas funções institucionais.
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Agravo Interno nº 0000166-90.2018.8.05.0000/50000
Inclusive, recente relatório do Justiça em Números, divulgada pelo
Conselho Nacional de Justiça em 27 de agosto de 2018, indicou ter o TJ-BA alcançado o
1º lugar dentre os Tribunais Estaduais de médio porte do país em produtividade
(ficando à frete dos TJs do MT, MA, DFT, ES, SC, GO, CE, PE e PA) demonstrando que,
mesmo com todas as dificuldades estruturais e orçamentárias, o sistema de Justiça
baiano tem se esforçado e logrado êxito em promover uma tutela jurisdicional célere e
efetiva (relatório acessível no endereço eletrônico http://www.cnj.jus.br/).
Note-se, ainda, que o mesmo relatório apontou que o índice de
produtividade do Primeiro Grau do TJ-BA (tão criticado pela Procuradoria Geral de
Justiça do MP-BA, na oportunidade acima mencionada) foi de 100%, ficando acima da
média dos Tribunais Estaduais do país, que foi de 87%.
Tais dados são mais uma evidência da fragilidade das ofensivas
insinuações em foco.
Por seu turno, a partir da mudança de entendimento ora discutida, o
Juízo natural para o exame de questões dessa natureza passou a ser, e não poderia ser
diferente, a primeira instância, cabendo ao Judiciário, e ao próprio Ministério Público
baiano, fazer valer tal norma de viés constitucional, que encontra, inclusive, similar no
âmbito do Parquet, porquanto deve este atuar, também, através dos seus Promotores
naturais. Na hipótese, aqueles que oficiam no primeiro grau.
Ademais, ainda que se tomasse como verdadeira a falaciosa premissa de
que em primeiro grau a ausência de estrutura dificultaria o trâmite processual, é
perceptível que em segunda instância ele também possui muitos empecilhos. Não é a
toa que os processos originários se alongam, muitas vezes, por anos, pelas mais diversas
razões, sendo relativamente comum a ocorrência de prescrições de crimes ou o
julgamento de ações somente após muitos anos de sua instauração, sem contar a
tímida atuação da Procuradoria Geral de Justiça na ações relativas a delitos de
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competência originária do Tribunal Pleno, o que pode ser facilmente constatado por
intermédio das atas das sessões do órgão de cúpula desta corte.
Outrossim, é natural que em órgãos colegiados, compostos por diversos
julgadores, as ações tenham uma maior delonga temporal, considerando o
estabelecimento do debate (saudável e democrático), que acarreta, comumente,
pedidos de vista, o que é obviamente legítimo, mas que, inevitavelmente, termina por
prologar algumas demandas.
Ou seja, de um modo ou de outro, não há como negar que a tramitação
de ações penais originárias relacionadas a fatos não afetos ao desempenho funcional se
torna um verdadeiro privilégio, violador da isonomia para com os cidadãos comuns,
uma vez que os réus de tais demandas, além de contarem com um maior número de
Magistrados para exame da sua questão, terminam por conseguir prolongar ainda mais a
ação, até mesmo, infelizmente, com manobras processuais defensivas das mais diversas
ordens.
Logo, se por um lado o primeiro grau, em tese, teria menos estrutura para
enfrentar ações dessa natureza, como pretende fazer crer o Parquet baiano, por outro,
esta instância possibilita maiores artifícios processuais capazes de estender a marcha
da demanda.
Ou seja, de forma inevitável, em ambas as instâncias existirão problemas
práticos no deslinde dos feitos. Assim, definitivamente, salvo melhor juízo, não são tais
hipotéticas questões práticas que devem pautar a definição do tema em exame, mas
sim as premissas jurídicas que justificam a excepcional prerrogativa, em respeito à já
citada isonomia, bem assim ao princípio Republicano.
Outrossim, ainda que se venha a constatar, com o tempo, ser, de fato,
deficitária a estrutura da instância ordinária para processamento de tais causas, como
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sustenta a Procuradoria Geral de Justiça do Estado da Bahia, o correto será a busca por
munir os Juízes de Direito, Promotores de Justiça e demais operadores do sistema de
Justiça de instrumentos que possibilitem a mudança de tal panorama e não
simplesmente, por tal razão, beneficiar os acusados respectivos com um privilégio não
conferido ao restante da população.
Aliás, a busca por uma melhor estruturação do Primeiro Grau de
Jurisdição, ao menos no que diz respeito ao Poder Judiciário especificamente, já vem
sendo eficientemente implementada pelo atual Presidente desta Egrégia Corte de
Justiça, o Eminente Desembargador Gesivaldo Nascimento Britto, com a adoção de
diversas medidas para o alcance desse fim, a exemplo da formação de comissão e
contratação da banca examinadora para a realização do concurso para Juízes de
Direito, merecendo sua postura os devidos elogios.
Ademais, além do encaminhamento dos autos ser a medida mais acertada
em razão do novo entendimento seguido, é certo que traz também alguns benefícios
processuais para os próprios acusados, uma vez que terminam por ter a possibilidade de
exame de provas em duas instâncias, já que, havendo condenação, poderão obter a
reapreciação do material produzido em segundo grau, o que não ocorre nas demandas
penais originárias, já que os recursos contra decisões nela adotadas segue às instâncias
extraordinárias, em que a discussão restringe-se a matéria de direito.
Em verdade, a tentativa da Procuradoria Geral de Justiça, órgão de
cúpula do Ministério Público do Estado da Bahia, de manter sob seu leque de
atribuições a deflagração de ações penais contra autoridades públicas, mais parece,
com a devida venia, simples pretensão de manutenção do poder acusatório que possui
atualmente, em nada benéfica à busca de Justiça neste Estado.
De mais a mais, como defensor do regime democrático e da coerência do
sistema jurídico, deveria o Ministério Público baiano, especialmente o seu órgão de
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cúpula, buscar efetivar a mudança de entendimento multicitado, dando o devido
tratamento isonômico às autoridades das diversas instâncias, diante de um
posicionamento que restou consolidado junto ao mais importante órgão do Judiciário
brasileiro e que, inevitavelmente, repercutirá, mais cedo ou mais tarde, em todas as
esferas de governo.
Diante de todas as colocações acima, é induvidosa, salvo melhor juízo, a
necessidade de aplicação do novo entendimento dos Tribunais Superiores aos casos de
foro por prerrogativa funcional julgado por esta Corte de Justiça, de modo a afastar a
sua incidência em situações anteriores e/ou alheias ao exercício do cargo público
detentor do foro especial.
É exatamente a hipótese fática dos autos, uma vez que a análise do
conteúdo narrado na vestibular da Ação Penal permite concluir, com segurança, que a
suposta ação criminosa não detêm nenhuma relação com o desempenho do mandato
eletivo de Deputado Estadual, exercido atualmente por um dos denunciados em
questão.
Com efeito, relata o Ministério Público que o referido Deputado Estadual,
juntamente ao segundo denunciado, procedeu a inserção de informações falsas em Atas
da Assembleia Geral da ASPRA (Associação de Policiais e Bombeiros e de Seus
Familiares do Estado da Bahia), na condição de diretor e ex-coordenador-geral da
referida associação. A fim de se afastar dúvidas, necessária parcial transcrição da
exordial:
“(...) Do exame dos elementos que instruem o presente Procedimento Investigatório Criminal, se verifica que a prática criminosa era estruturada da seguinte maneira: M. P. C. M, ora denunciado, atual Deputado Estadual e diretor e ex-coordenador-geral da ASPRA, à época dos fatos, desde que assumiu o antigo mandato de vereador deste Município, em março de 2013, determinava que seu assessor parlamentar, à época, J. R. A. S, produzisse, com antecedência, as atas de assembleia geral da respectiva Associação, com a prévia indicação dos nomes e cargos que seriam 'eleitos'.
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Ainda por determinação de M. P. C. M, o Edital para realização das referidas assembleias eram publicados no jornal Tribuna da Bahia, de menor circulação e, portanto, com menor alcance na mencionada associação, a fim de assegurar que a sua empreitada criminosa obtivesse êxito, o que, de fato, vinha ocorrendo.
Mais especificamente, no que tange a ata de assembleia geral do dia 23 de novembro de 2014, acostada às fls. 26/31 do presente expediente, destinada a 'exoneração, renúncia e posse' não foi diferente. Com efeito, tal assembleia, presidida por F. S. B, então diretor coordenador-geral da ASPRA, acompanhado por P. H. P. S, então diretor secretário-geral da ASPRA, também denunciado, não ocorreu.
É dizer, de acordo com o citado modus operandi, o mencionado assessor parlamentar de M. P. C. M, J. R., por sua determinação, a redigiu desde o mês de outubro de 2014, fazendo constar, ainda, todos os nomes que seriam destituídos, bem como aqueles que seriam empossados.
Mas não é só. As respectivas assinaturas contidas na lista de 'presença' da citada assembleia geral de 23/11/2014 também foram manipuladas. Os nomes que ali constam foram retirados, aleatoriamente, de atas antigas que o próprio M. P. C. M. fornecia, sendo que as assinaturas dos diretores eram colhidas posteriormente à confecção da ata.
Ainda nesse contexto, importante registrar que foi inserido na lista de presença, de maneira fraudulenta, sem estar presente à assembleia, entre outros, o nome do SD PM M. B. S. S, visto que desde agosto de 2014 se encontrava preso preventivamente no 15º Batalhão, sediado em Itabuna/BA. Ademais, a destituição do SD PM J. L. F. C. do cargo de Coordenador de Comunicação e Imprensa, sob o fundamento de que não estava 'desenvolvendo a função para a qual foi eleito', contida na referida ata, de igual modo, não passa de uma manipulação. A bem da verdade, o mencionado Policial Militar já havia solicitado a renúncia do cargo, pois não concordava com as práticas da diretoria da ASPRA, conforme se verifica da fl. 78 do aludido expediente.
Constata-se, ainda, a mesma prática criminosa na ata de assembleia geral para 'destituição, renúncia, eleição, posse e mudança de endereço', do dia 20 de março de 2015, a qual, inclusive, elegeu M. P. C. M para o cargo de Coordenador-Geral da referida associação. Tal assembleia, também presidida e secretariada pelos denunciados F. S. B. e P. H. P. S, respectivamente, da mesma forma não o correu. M. P. C. M, mais uma vez, determinou ao seu referido assessor que preparasse a ata com antecedência, entregando-lhe todos os nomes que seriam destituídos bem como os que seriam investidos nos cargos.
Nessa esteira de intelecção, se observa que os três denunciados, em comum acordo, atuaram para 'inserir declaração falsa ou diversa da que deveria ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação e alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.” (Denúncia de fls. 02/08) (Nomes abreviados)
Como se observa, a denúncia refere-se a supostos falsos relacionados à
gestão da associação de classe antes mencionada, mas não indica, minimamente,
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atuação atrelada ao desempenho do mandato parlamentar baiano, do qual é titular um
dos denunciados.
Aponte-se, por fim, que o feito ainda se encontra em fase inicial, não
incidindo a exceção estabelecida pela Suprema Corte, qual seja, as hipóteses em que
já houve a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais.
Destarte, alternativa não resta senão reconhecer o acerto da decisão
monocrática atacada, não merecendo acolhida a pretensão recursal.
Ante todo o exposto, vota-se pelo CONHECIMENTO e NÃO PROVIMENTO
deste Agravo Interno, devendo a demanda penal em questão ser efetivamente
encaminhada ao Primeiro Grau, pelas razões fáticas e jurídicas acima expostas.
Ademais, encaminhe-se esta sugestão de voto à AMPEB e à AMAB, a fim
de que tomem conhecimento das ofensivas manifestação exaradas pela
Procuradoria Geral do Ministério Público do Estado da Bahia nos autos da APO nº
0001760-57.2009.8.05.0000, em desfavor dos Juízes de Direito e Promotores de
Justiça do Estado da Bahia.
Salvador-BA, 10 de outubro de 2018.
Desembargador GESIVALDO BRITTO
PRESIDENTE
Desembargador JULIO CEZAR LEMOS TRAVESSA
RELATOR
PROCURADOR(A) DE JUSTIÇA
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