11 e 12 de março de 2004 conferência do banco de portugal no … · sobre a taxa de crescimento...

59
11 e 12 de Março de 2004 Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu Conferência do Banco de Portugal

Upload: dokhanh

Post on 24-Jan-2019

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português

no Espaço Europeu

Co

nfe

rên

cia

do

Ban

cod

eP

ort

ug

al

Page 2: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Banco de Portugal

Av. Almirante Reis, 71

1150-012 Lisboa

Departamento de Estudos Económicos

Impressão e acabamento

Mira Dupla, Artes Gráficas Lda.

Número de exemplares: 1000

Depósito Legal nº207224/04

ISBN 972-9479-82-8

Page 3: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Nota de Apresentação

Page 4: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,
Page 5: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Nota de Apresentação

A Conferência “Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu”

constitui uma iniciativa do Banco de Portugal que agora conhece a sua

segunda edição. A sua realização vem concretizar uma preocupação que

oportunamente manifestei no sentido de que «o Banco tem o dever de apoiar

mais o debate informado dos problemas económicos e sociais do país mesmo

que transcendam o domínio estrito da política monetária». Procura-se, desta

forma, contribuir para o debate sobre os desafios do desenvolvimento

económico do nosso país, cobrindo áreas diversas como a política orçamental,

segurança social, avaliação de programas públicos e funcionamento dos

mercados de trabalho e do produto. Do conteúdo e da qualidade técnica dos

trabalhos seleccionados dá conta esta publicação, que apresenta os sumários

executivos dos estudos apresentados na Conferência e, também, breves notas

biográficas dos autores.

Esta iniciativa reveste-se de algumas características relativamente

inovadoras. Em primeiro lugar, o Banco de Portugal procurou incentivar

economistas de várias universidades a reflectirem sobre os desafios do

desenvolvimento económico em Portugal, através da elaboração de estudos

de grande rigor técnico. Adicionalmente, pretendeu-se que os estudos

apresentados fossem úteis do ponto de vista de política económica, devendo

ter um carácter aplicado à realidade portuguesa.

Os estudos apresentados nesta Conferência provieram quer de um concurso

público dirigido aos Departamentos de Economia das Universidades

Portuguesas, quer de convites directos a alguns economistas. Seguiu-se um

processo de selecção, a cargo do Comité Científico com a participação de

Maximiano Pinheiro (Banco de Portugal e Instituto Superior de Economia e

Gestão), Pedro Duarte Neves (Banco de Portugal e Universidade Católica

Portuguesa), José Ferreira Machado (Universidade Nova de Lisboa), Isabel

Horta Correia (Banco de Portugal e Universidade Católica Portuguesa), Pedro

Portugal (Banco de Portugal e Universidade Nova de Lisboa) e Mário Centeno

(Banco de Portugal e Instituto Superior de Economia e Gestão).

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 5

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 6: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Com esta iniciativa, o Banco de Portugal procura contribuir para a participação

do mundo académico na reflexão de alguns aspectos importantes de política

económica, tendo como destinatário a sociedade em geral. Deste modo, a

participação nos trabalhos da conferência é aberta ao público interessado do

qual se espera um contributo útil no debate sobre problemas importantes

para o futuro do país.

Vítor Constâncio

Governador

6 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 7: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Índice

Page 8: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,
Page 9: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Índice• Nota de Apresentação .......................................................................... 5

Vítor Constâncio

Sessão 1. Política Orçamental e Segurança Social

• Política Orçamental em Portugal: Disciplina, Ciclicidade e a Oportunidade

da Introdução de Regras de Despesa...................................................... 13

Álvaro M. Pina

• Para que Servem as Pensões Mínimas? ................................................... 16

Miguel Gouveia e Carlos Farinha

• Ciclos Político Económicos nos Municípios Portugueses .............................. 18

Linda Gonçalves Veiga e Francisco José Veiga

Sessão 2. Funcionamento do Mercado de Trabalho

• Mobilidade Salarial em Portugal ............................................................. 23

Ana Rute Cardoso

• As Consequências Económicas do Despedimento Laboral em Portugal ......... 27

Anabela Carneiro

• Mobilidade: Carreiras, Promoções e Salários ............................................ 30

Francisco Lima

Sessão 3. Avaliação de Programas Públicos

• A Avaliação Empírica de Políticas Sociais ................................................. 35

Mónica Dias

• O Impacto das Empresas Estrangeiras nos Salários em Portugal................. 37

Pedro Silva Martins

• Redução do Tempo de Trabalho e Emprego - Lições da Lei das 40 horas...... 40

José M. Varejão

Sessão 4. Mercados e Desenvolvimento

• Contabilidade dos Ciclos e Níveis de Renda: o Caso de Portugal ................. 45

Tiago V. Cavalcanti

• Reguladores Sectoriais e Autoridade da Concorrência: que Articulação?....... 47

Pedro P. Barros e Steffen Hoernig

• Níveis de Aglomeração Espacial na Indústria Transformadora Portuguesa .... 50

Paulo Guimarães e Octávio Figueiredo

• A Regulação da Actividade das Profissões Liberais em Portugal:

uma Análise da Procura de Rendas Económicas........................................ 52

Nuno Garoupa

Notas Biográficas dos Autores

• Notas Biográficas dos Autores................................................................ 57

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 9

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 10: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,
Page 11: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Sessão 1

Política Orçamental e Segurança Social

Page 12: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,
Page 13: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Política Orçamental em Portugal: Disciplina,

Ciclicidade e a Oportunidade da Introdução de

Regras de Despesa

Álvaro M. Pina (ISEG/UTL)

A participação plena de Portugal na União Económica e Monetária (UEM),traduzida na adopção do euro, lança dois grandes desafios à políticaorçamental. Por um lado, ela deverá obedecer à disciplina decorrente dasregras do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC). Por outro lado, a políticaorçamental torna-se o único instrumento de estabilização macroeconómica aodispor da economia portuguesa, uma vez que o euro resultou na perda deautonomia monetária e cambial.

A disciplina traduz-se na consolidação orçamental — i.e., na reduçãosustentada do défice orçamental em percentagem do PIB, por razões que nãotenham a ver apenas com uma conjuntura mais favorável ou com taxas dejuro mais baixas. Muitos economistas discordam de que o saldo orçamentalóptimo seja próximo de zero ou mesmo positivo, tal como está subjacente aoPEC. Mas existe consenso quanto ao carácter nefasto e insustentável desucessivos défices elevados. Como regra prática, um pequeno país comoPortugal deverá evitar violar o limite dos três por cento do PIB.

A política de estabilização macroeconómica visa manter um nível equilibradode utilização da capacidade produtiva, contrariando quer situações dedesemprego elevado, quer contextos de sobreutilização da capacidade(geradora de pressões inflacionistas). Desta forma, reduz-se a amplitude dasflutuações cíclicas da economia. Através dos impostos e dos subsídios dedesemprego, a política orçamental dispõe de mecanismos automáticos deestabilização: por exemplo, em épocas de crise as receitas fiscais diminuem eas despesas com esses subsídios aumentam, o que contribui para atenuar aconjuntura negativa. A política orçamental pode também procurar expandir oucontrair a actividade económica por meio de medidas discricionárias (i.e.,casuísticas).

Embora úteis em alguns contextos, tais medidas revelam-se frequentementepouco eficazes ou até perniciosas, devido a diversos factores de ordemtécnica ou política. Consequentemente, a política económica deverá basear-sesobretudo em regras: actuações estáveis e previsíveis, apoiadas por umenquadramento institucional limitativo de medidas discricionárias, mas aindaassim conservando capacidade de estabilização.

O presente trabalho tem duas componentes fundamentais: (i) analisa qualtem sido o desempenho da política orçamental portuguesa, comparando-ocom outros países europeus; e (ii) recorrendo a estudos recentes e a

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 13

Sessão 1 • Política Orçamental e Segurança Social

Page 14: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

experiências de outros países, propõe a adopção de uma regra orçamentalplurianual baseada num crescimento moderado e estável da despesa pública.

A análise é conduzida de forma detalhada, desagregando as receitas edespesas públicas nas suas principais componentes, e decompondo o total doSector Público Administrativo (SPA) nos seus subsectores constituintes —Estado, Serviços e Fundos Autónomos (SFA), Administração Regional e Local(ARL) e Segurança Social (SS). Tal como já assinalado em estudos anteriores,a redução do défice orçamental nos anos 90 assumiu em Portugal contornossingulares, não tendo correspondido a uma verdadeira consolidaçãoorçamental. Registou-se um forte aumento da despesa corrente primária (i.e.,sem juros), só possível devido à conjugação de aumentos na receita e designificativas (e irrepetíveis) reduções nas despesas com juros. O crescimentoda despesa corrente primária foi mais forte nos SFA, seguidos pela ARL.

Em matéria de estabilização cíclica, concluiu-se que receitas e despesas têmtido comportamentos opostos. Enquanto as receitas têm contribuído paraestabilizar a economia, as despesas têm-se comportado de formadesestabilizadora, crescendo mais depressa em épocas de prosperidade emais devagar em épocas de crise. Desta forma as despesas agravam (em vezde atenuar) as flutuações cíclicas, tendo por isso um comportamento ditopró-cíclico. Este comportamento pró-cíclico é um dos mais intensos naEuropa, e tem afectado sobretudo as despesas com pessoal, as aquisições debens e serviços e o investimento público.

A fim de conter o crescimento da despesa, e de evitar comportamentospró-cíclicos, propõe-se a adopção de uma regra orçamental plurianualbaseada numa taxa de crescimento estável e próxima da do crescimento delongo prazo do PIB para um conjunto alargado de rubricas de despesa. Esseconjunto deverá abranger a totalidade da despesa do SPA, com quatroexcepções: (i) os juros da dívida pública, que dependem da evolução dastaxas de juro, as quais estão fora do controlo do governo; (ii) os subsídios dedesemprego, que dependem da evolução da conjuntura e são úteis naestabilização cíclica; (iii) o investimento público, vulnerável a cortes nadespesa e que deverá poder continuar a ser relativamente maior do que namédia europeia, em virtude do Quadro Comunitário de Apoio; e (iv) asdespesas da ARL, subsector para a qual se propõe a adopção de mecanismosque garantam uma maior estabilidade das receitas, bem como a manutençãode restrições ao endividamento.

O presente estudo propõe que o crescimento desse conjunto de despesas sejadefinido em termos reais (i.e., descontando o efeito da inflação), para ohorizonte de um mandato governamental. Em cada ano, o Orçamento deEstado converterá o valor real daí decorrente para termos nominais,utilizando para o efeito uma previsão do nível de preços na economia.Evita-se desta forma que em cada ano as despesas sejam programadas poracréscimo face à estimativa de execução do ano anterior — estimativa essafrequentemente pouco fiável. O estudo aborda ainda, de forma breve, outrasquestões de articulação entre o orçamento de cada ano e a programaçãoplurianual, bem como mecanismos de correcção face a desvios que sevenham a verificar.

14 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 15: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Considera-se também que seria muito vantajosa a criação de um organismoindependente de previsão, aconselhamento e avaliação na área orçamental.Esse organismo teria a incumbência de elaborar todas as previsõesmacroeconómicas subjacentes à política orçamental, quer a nível daprogramação plurianual, quer a nível dos orçamentos anuais. Evitar-se-iadesta forma a tendência de tais previsões pecarem por excesso de optimismo.O referido organismo elaboraria ainda pareceres, tornados públicos, sobre osrestantes aspectos de programação e execução orçamental — por exemplo,sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita,juros e subsídios de desemprego, a qualidade das estimativas de execução(quer do ano em curso, quer do ano transacto), e, de forma mais geral, sobreo grau de cumprimento da regra orçamental proposta.

Idealmente, as regras orçamentais deverão ser definidas sem ambiguidade,transparentes, simples, flexíveis, adequadas aos objectivos finais, decumprimento passível de ser garantido, coerentes e articuladas com reformasa nível das finanças públicas. É difícil possuir todos estes atributos, até porquealguns deles são intrinsecamente conflituais (por exemplo, simplicidadeversus flexibilidade) ou difíceis de atingir (nomeadamente, a questão documprimento). No entanto, a regra aqui proposta parece satisfazer a maiorparte destes critérios, e um organismo independente como o acima referidocontribuiria para colmatar os aspectos mais problemáticos — a complexidadeda regra e, sobretudo, a dificuldade em assegurar o seu efectivocumprimento. Refira-se, para concluir, que apesar da grande importância deum organismo independente, a responsabilidade final pela política orçamentaldeve permanecer nas mãos do governo democraticamente eleito. A adopçãoduradoura de uma regra como a proposta exigirá, assim, um acordo deregime entre os principais partidos políticos.

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 15

Sessão 1 • Política Orçamental e Segurança Social

Page 16: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Para que Servem as Pensões Mínimas?

Miguel Gouveia (FCEE, Universidade Católica Portuguesa)Carlos Farinha Rodrigues (ISEG, Universidade Técnica de Lisboa eDepartamento de Síntese Económica de Conjuntura do INE)

O regime geral da Segurança Social portuguesa inclui a existência de pensõesmínimas. Quando as pensões formadas de acordo com as regras em vigor, aspensões estatutárias, ficam abaixo das pensões mínimas a Segurança Socialreforça a pensão com os chamados complementos sociais para que a pensãototal atinja o nível mínimo.

Em princípio estes complementos de pensão são financiados pelo Orçamentodo Estado e não pelas contribuições para a Segurança Social. Uma largaproporção dos pensionistas recebe pensões mínimas beneficiando doscomplementos de pensão, acarretando despesas muito significativas para oEstado.

Note-se que além das pensões mínimas existem ainda as pensões sociais, demontantes inferiores às pensões mínimas e atribuíveis a idosos pobres quenão tenham feito contribuições suficientes para a Segurança Social para terdireito a uma pensão de velhice do regime geral.

Os governos portugueses adoptaram uma política de aumentar o nível daspensões mínimas do regime geral da Segurança Social até essas pensõesconvergirem com o salário mínimo. Essa política parece ser consensual entrepolíticos e na população provavelmente devido a acreditar-se que se trata deuma boa política de solidariedade.

Na realidade há aspectos negativos nesta política, como o impacto negativonas contas públicas, os efeitos desincentivadores no mercado de trabalho e aexistência de falhas de “targeting”: há muitos recursos gastos em agregadosmenos necessitados, provavelmente em detrimento dos agregadosefectivamente necessitados.

O objectivo deste trabalho é tentar estimar o impacto redistributivo daspensões mínimas baseando-nos nos dados sobre rendimentos do Inquéritoaos Orçamentos Familiares (IOF) de 2000. OS IOF contêm uma amostrarepresentativa da população portuguesa com mais de dez mil famílias eincluem informação sobre a composição demográfica destas famílias bemcomo sobre os seus rendimentos, incluindo de forma explícita informaçãosobre rendimentos do trabalho por conta de outrem, por conta própria,pensões de velhice, rendimento mínimo garantido e outros.

A metodologia básica usada é consensual na literatura académica sobreanálise da distribuição do rendimento e da pobreza. Seguindo as regras do

16 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 17: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Eurostat definem-se como pobres as pessoas com um rendimentos abaixo de60 por cento do rendimento mediano por adulto equivalente (uma versãomais sofisticada do rendimento per capita).

Os resultados obtidos confirmam que as pensões mínimas são instrumentoscaros e ineficazes de solidariedade. Só 31.25 por cento das pessoas quevivem em agregados familiares recebendo pensões mínimas são pobres. Porcomparação, e de acordo com a simulação do Rendimento Mínimo Garantido(RMIG) ensaiada por Rodrigues (2001), mais de 90 por cento das pessoas emagregados recebendo o RMIG são pobres.

Os resultados obtidos podem ser explicados porque estes agregados têmoutros rendimentos. Para 41,6 por cento dos agregados recebendo pensõesmínimas as pensões de velhice constituem menos de metade dos rendimentostotais do agregado.

Simulámos a partir dos dados do IOF um esforço de convergência daspensões para o salário mínimo de 60 por cento para 70 por cento. Osresultados são diminutos em termos de ganhos de equidade e redução dapobreza, em grande parte porque só 32 por cento dos montantes emacréscimo da despesa em pensões mínimas acabam por ser gastos empessoas pobres.

Mesmo usando programas com condição de recursos muito imperfeitas aanálise mostra que seria possível obter melhorias de equidade e reduçõessuperiores dos níveis de pobreza gastando menos de metade das despesas.

Retiramos a conclusão de ser necessário repensar a política de aumento daspensões mínimas com aproximação ao salário mínimo e preterir tal políticaem favor de uma utilização de programas com condições de recursos.

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 17

Sessão 1 • Política Orçamental e Segurança Social

Page 18: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Ciclos Político Económicos nos Municípios

Portugueses

Linda Gonçalves Veiga (Escola de Economia e Gestão da Universidade doMinho)Francisco José Veiga (Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho)

É hoje ponto assente na literatura de política económica que os interessespessoais dos governantes podem influenciar as políticas adoptadas, causandodistorções na economia que diminuem o bem-estar social. Partindo destaideia genérica, os estudos sobre ciclos político-económicos analisam de queforma a ideologia dos políticos e o seu desejo de serem reeleitos afectam aevolução da economia.

Na década de 1970, surgiram os primeiros modelos de eleitoralismo deacordo com os quais os governantes estimulam a economia na véspera dosescrutínios de forma a aumentarem a sua probabilidade de reeleição e, apósas eleições, eliminam a inflação que resulta deste comportamento através deuma recessão. A validade destes estudos foi posteriormente contestada porassumirem que os eleitores podem ser sistematicamente surpreendidos antesdas eleições, ou seja, que não aprendem com os erros cometidos nas suasavaliações anteriores. Na tentativa de ultrapassar esta crítica surgiram váriostrabalhos que introduzem o pressuposto de que, embora todos os governossejam eleitoralistas, eles diferem no seu nível de competência, que conhecemantes do eleitorado. Desta forma, os eleitores apenas conseguem determinara competência dos governos depois de observarem os resultados económicosdas políticas por estes implementadas. Por conseguinte, na véspera daseleições, governantes eleitoralistas tiram partido desta assimetria deinformação procurando sinalizar um elevado grau de competência aoeleitorado, dando assim origem ao ciclo político-económico. Na medida emque a política orçamental é uma temática complexa para a maioria doseleitores, é previsível que o eleitoralismo dos políticos se venha a manifestarnum aumento dos gastos públicos e/ou numa redução dos impostos antes daseleições, com o objectivo de aparentarem estar a fazer uma boa gestão doerário público.

O modelo de ideologia surgiu também na década de 1970 e, de uma formamuito sucinta, afirma que uma vez no poder os políticos tentam favorecer osgrupos da população que os elegeram, o que os leva a terem objectivosdiferentes quanto à evolução das variáveis económicas.

O presente artigo insere-se nesta linha de investigação ao testar a existênciade ciclos político-económicos no âmbito da política orçamental dos municípiosportugueses. A motivação para o trabalho resultou, fundamentalmente, dequatro ordens de razões:

18 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 19: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

• Trata-se de uma linha de investigação muito activa em termosinternacionais, sobretudo no que diz respeito à análise docomportamento dos governos centrais, estando o poder local aindarelativamente pouco estudado;

• O número de trabalhos científicos a debruçar-se sobre a realidadeportuguesa é extremamente escasso;

• Na medida em que os ciclos eleitorais geram ineficiências na alocaçãodos recursos económicos, a comprovação da sua existência sugere aadopção de medidas que diminuam o poder discricionário dosgovernantes;

• No actual contexto da União Europeia, os países membros estão sujeitosa regras na condução da política orçamental, pelo que o estudo danecessidade de disciplinar os autarcas nesta matéria adquire ainda maiorrelevância.

Tomando em consideração que é mais fácil aos autarcas manipularem osinstrumentos de política económica que a evolução das variáveis económicasno seu município, restringimos o nosso estudo às finanças locais. Tendopresente que os dirigentes locais possuem um maior controlo sobre asdespesas que sobre as receitas1 e dentro destas sobre a componente decapital2, incidimos a nossa análise sobre estas rubricas. Com base napublicação anual Finanças Municipais, da Direcção Geral das AutarquiasLocais, foi construído um detalhado painel de dados que comporta informaçãosobre todos os municípios de Portugal continental, de 1979 a 2000.

A investigação realizada revela claramente a existência de ciclospolítico-económicos nos municípios de Portugal Continental. Em consonânciacom a geração mais recente de modelos de ciclos eleitoralistas, os autarcasportugueses gerem os instrumentos de política económica de forma arevelarem maior competência pouco antes dos escrutínios. Há forte evidênciade que os défices e as despesas municipais, com destaque para as deinvestimento, aumentam significativamente no ano das eleições e, em várioscasos, no ano anterior. Com efeito, os resultados empíricos sugerem que,mantendo tudo o resto constante, o aumento relativo nas despesas totais emanos de eleições, face à média amostral, é de 2,6 por cento, nas de capital éde 3,2 por cento e nas despesas de investimento é de 6,8 por cento. Foi aindapossível verificar que a dimensão do ciclo eleitoralista nas despesas nãodepende do apoio que o Presidente da Câmara dispõe na AssembleiaMunicipal, nem da sua decisão de se recandidatar ou não às próximaseleições. No entanto, os resultados sugerem que os dirigentes de esquerdatendem a aumentar mais as despesas nos anos de eleições que os de direita.

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 19

Sessão 1 • Política Orçamental e Segurança Social

1 As transferências da Administração Central e da UE representam uma fonte muitoimportante (em média, 70 por cento) das receitas dos municípios.

2 Ao nível das despesas correntes o pagamento de encargos pouco flexíveis tais como asdespesas com pessoal, electricidade, água, etc. assumem uma grande importância.

Page 20: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

A gestão eleitoralista das despesas pelos dirigentes locais incideprincipalmente nas rubricas de investimento mais visíveis pelo eleitorado, taiscomo Outros Edifícios e Construções Diversas, o que denota a intenção deganhar popularidade. No que toca a Outros Edifícios, o crescimento dasdespesas apenas ocorre na sub-componente Outros (que tem um peso de 53por cento), com aumentos relativos, face à média amostral, de 21,6 por centono ano da eleição e de 17,6 por cento no ano anterior. No que diz respeito àssubdivisões de Construções Diversas, há forte evidência de ciclos eleitoralistasem Viadutos, arruamentos e obras complementares, Viação rural, e Outros,com aumentos relativos, face à média amostral, de 14,8, 16,4 e 36,8 porcento, respectivamente. Convém notar que estas três rubricas representamcerca de 69 por cento das Construções Diversas. Na primeira e últimasub-componentes, as despesas crescem também no ano anterior à eleição,embora em menor magnitude.

Quanto a ciclos ideológicos, é difícil identificar tendências gerais, dada ainconsistência de resultados entre saldos, despesas totais e despesas decapital. Nos totais de despesas de investimento e na maioria das suassubdivisões, não há evidência de efeitos partidários.

Apesar do pequeno peso das despesas e défices dos municípios no ProdutoInterno Bruto, a tendência para elevar a despesa e o endividamento poucoantes das eleições autárquicas poderá, ocasionalmente, dificultar o respeitodo Pacto de Estabilidade e Crescimento. Acresce que a instabilidade nasdespesas de investimento acarreta ineficiências na alocação dos recursos queprejudicam a economia portuguesa. Assim, entendemos ser benéfica aimposição de regras à gestão das finanças públicas locais, expressas nafixação de limites ao endividamento e aos défices, que dificultem a gestãoeleitoralista das mesmas pelos autarcas.

20 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 21: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Sessão 2

Funcionamento do Mercado de

Trabalho

Page 22: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,
Page 23: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Mobilidade Salarial em Portugal

Ana Rute Cardoso(IZA Bona, Universidade do Minho e CEPR)

O interesse na questão da mobilidade salarial, não só por parte da literaturaeconómica como também dos decisores de política, tem vindo a aumentar nosúltimos tempos, motivado sobretudo pelo aumento da desigualdade salarialem diversos países. De facto, uma sequência de “fotografias” da distribuiçãosalarial em diferentes momentos no tempo indica que, em diversos países, osbaixos salários se estão a distanciar do resto da distribuição, à medida queperdem poder de compra, em termos absolutos ou por comparação com osalário mediano na economia. Importa então conhecer o “filme”, a dinâmicasalarial que afecta cada trabalhador. A análise da mobilidade salarial progrideassim face à análise da desigualdade, ao considerar, não só a posição que ostrabalhadores ocupam na distribuição de salários num momento particular dassuas carreiras, mas também as trajectórias seguidas. Por mobilidade salarialentende-se pois o grau de alteração, ao longo do tempo, das posições que ostrabalhadores ocupam na distribuição de salários. Se a mobilidade estiver aaumentar, uma situação de baixo salário poderá ter-se tornado um episódiopassageiro na vida de um trabalhador, possivelmente uma “porta de entrada”no mercado de trabalho, oferecendo oportunidades de progressão para níveissalariais mais elevados. Pelo contrário, se a mobilidade tiver vindo a diminuir,poder-se-á estar a assistir à crescente retenção de um grupo detrabalhadores num nível salarial baixo e em deterioração face ao resto daeconomia, numa situação a partir da qual são, além disso, mais frequentes assaídas para o desemprego. O segundo cenário levanta maiores preocupaçõesdo ponto de vista do bem-estar social e torna mais prementes intervençõesde política económica.

A relevância do estudo da mobilidade salarial não se confina, porém, aosbaixos salários. Os incentivos para investir em capital humano sãocondicionados, não só pela remuneração desse investimento, como pelo seugrau de risco. Enquanto a dispersão da distribuição salarial fornece indíciossobre o nível de remuneração que a economia atribui a diferentesqualificações, o grau de mobilidade (ascendente e descendente) na hierarquiasalarial reflecte o risco ou incerteza associado a essa remuneração. De modomais geral, um conhecimento aprofundado dos padrões de mobilidade salarialrevela-se útil na definição de regimes de pensões de reforma, ou quaisqueroutros esquemas de benefícios ou de pagamentos que dependam dorendimento que o trabalhador aufere ao longo da sua carreira.

Este trabalho visa analisar o padrão de mobilidade salarial e sua evolução nosanos 80 e 90 em Portugal, comparando-o com outros países, em particular oReino Unido e a França, embora limitado no último caso pela reduzidaevidência empírica existente. Pretende-se detectar em que medida diferentes

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 23

Sessão 2 • Funcionamento do Mercado de Trabalho

Page 24: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

enquadramentos institucionais — salário mínimo, legislação de protecção aoemprego e contratação colectiva — podem explicar as diferenças esemelhanças identificadas na estrutura e dinâmica de salários. Crê-se emgeral que um mercado de trabalho como o português, com maior protecçãoao emprego e maior influência da contratação colectiva, nomeadamenteatravés dos mecanismos de extensão de contratos, induz uma menormobilidade salarial, ao reduzir os fluxos de trabalhadores entre empresas e aofixar uma hierarquia salarial, segundo a categoria profissional, mais rígida.

Procurar-se-á pois dar resposta às seguintes questões:

• Será que Portugal tem um nível de mobilidade salarial mais baixo que oReino Unido, fruto da sua maior regulamentação no mercado detrabalho?

• Como evoluiu a mobilidade salarial em Portugal, um país marcado nasegunda metade dos anos 80 por acentuado crescimento económico epor fortes carências na qualificação da mão-de-obra? O que revela acomparação com o Reino Unido e a França?

• Que razões explicam a evolução do padrão de mobilidade salarial emPortugal e as diferenças e semelhanças detectadas face a outros países?

Antes de progredir para a comparação da mobilidade salarial, procedeu-se àcomparação da dispersão salarial. A análise realizada coloca sobretudo emdestaque fortes semelhanças entre Portugal e o Reino Unido. Assim:

• Os dois países apresentam níveis semelhantes de desigualdade nomercado de trabalho.

• A desigualdade aumentou de modo acentuado em ambos.

• Esse aumento da dispersão salarial resultou de, quer os baixos salários,quer os salários de topo, se terem distanciado do salário mediano narespectiva economia. Em Portugal, os salários de topo cresceram a ritmoparticularmente acentuado até meados dos anos 90. Importa porémrealçar duas diferenças, a primeira delas marcante:

• O nível semelhante de desigualdade nos dois países resulta de padrõesdistintos. Enquanto a desigualdade salarial em Portugal é marcadasobretudo pela grande dispersão no topo, no Reino Unido a metadeinferior da distribuição apresenta maior dispersão do que em Portugal.Tal diferença na estrutura salarial reflecte o papel desempenhado emPortugal pelo salário mínimo, ao suster o nível de rendimento dostrabalhadores pior remunerados, aproximando-os do resto dadistribuição. O enquadramento institucional revela assim papeldeterminante no contraste entre Portugal e o Reino Unido, no que aopadrão de desigualdade salarial diz respeito.

24 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 25: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Enquanto no Reino Unido o aumento da desigualdade se processou de modoininterrupto, em Portugal assistiu-se, após um forte aumento da dispersão atémeados dos anos 90, à sua diminuição desde então.

Relativamente à mobilidade salarial, importa destacar que:

• Portugal e o Reino Unido apresentam níveis semelhantes de mobilidadesalarial.

• A mobilidade salarial tem vindo a diminuir, em Portugal como no Reino Unidoe em França.

Ao passo que no Reino Unido a diminuição da mobilidade afectou de modomais acentuado os trabalhadores de baixos salários, que viram assimreduzir-se a possibilidade de “escapar” dessa situação, em Portugal e emFrança a redução da mobilidade afectou sobretudo os trabalhadores commelhores salários e mais elevados níveis de escolarização.

É possível identificar em Portugal um momento de viragem na evolução dadistribuição salarial: até meados dos anos 90, a desigualdade aumentou e amobilidade salarial era relativamente elevada; desde então, a desigualdadesalarial tem vindo a diminuir, associada a um nível mais baixo de mobilidadesalarial.

As grandes semelhanças identificadas entre Portugal e o Reino Unido levam aafirmar que o enquadramento institucional português, mais regulamentado,não conduz a uma estrutura salarial mais rígida, com menores possibilidadesde alteração das posições relativas dos trabalhadores. Aliás, estudosanteriores haviam revelado que a estrutura de salários em Portugal seapresenta bastante flexível. Por um lado, ao nível macroeconómico, ossalários reagem bastante a alterações na taxa de desemprego, e por outrolado, ao nível microeconómico, o empregador revela grande capacidade para,após a negociação que tem lugar na contratação colectiva, adaptar os saláriospagos às condições específicas que vigoram na empresa.

As diferenças identificadas na evolução da estrutura salarial dos paísesreferidos reflectem essencialmente diferenças no ritmo a que as economiascresceram e se modernizaram, e contrastes quanto à disponibilidade derecursos humanos qualificados.

A economia portuguesa cresceu a um ritmo muito acelerado na segundametade dos anos 80, o que colocou em destaque grandes insuficiências naqualificação da sua força de trabalho. A abertura do leque de oportunidadespara trabalhadores mais qualificados traduziu-se em particular no aumento doprémio salarial atribuído a licenciados pelo ensino superior e na sua maiormobilidade salarial durante a década de 80. Nos anos 90, não só o ritmo decrescimento da economia registou grande abrandamento, como, em Portugalà semelhança do Reino Unido ou França, a forte expansão registada no ensinosuperior começou a fazer-se sentir no mercado de trabalho. Assim, ocrescimento do prémio salarial para trabalhadores licenciados abrandou emPortugal e no Reino Unido, e a sua mobilidade salarial diminuiu em Portugal eem França.

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 25

Sessão 2 • Funcionamento do Mercado de Trabalho

Page 26: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Em termos do bem-estar dos trabalhadores de baixos salários, a evolução dadistribuição de salários revelou em Portugal e em França contornos menospreocupantes do que no Reino Unido. De facto, em Portugal: o salário mínimoassegura um nível de rendimento mínimo ao trabalhador; a possibilidade demobilidade ascendente a partir de baixos níveis salariais é ligeiramente maiorque no Reino Unido; o declínio de mobilidade salarial nos anos 90 afectousobretudo os trabalhadores com salários mais elevados. Tal não invalida,porém, que a baixa probabilidade de um trabalhador escapar, em qualquerdos países, à situação de baixa remuneração, deva merecer atenção, visandomelhorar os mecanismos (tais como formação genérica, formação profissionale ensino recorrente) que facilitem a melhoria da produtividade e asoportunidades de progressão na carreira.

26 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 27: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

As Consequências Económicas do Despedimento

Laboral em Portugal

Anabela Carneiro (Faculdade de Economia do Porto e CETE)

O fenómeno do despedimento no mercado de trabalho tem sido objecto deestudo de uma extensa literatura empírica. Os custos do despedimento emtermos de desemprego (incidência e duração) e de perdas salariais(magnitude e persistência) têm sido os aspectos mais estudados.

Apesar da diversidade na metodologia e bases de dados utilizadas, aevidência empírica disponível para os Estados Unidos tem concluído que ostrabalhadores norte-americanos geralmente experimentam reduzidos períodosde desemprego, mas substanciais e persistentes reduções nos salários, naordem dos 10 por cento-25 por cento. Para a Europa, a evidência empíricanão é assim tão clara. Alguns estudos têm concluído pela existência deelevadas perdas salariais, enquanto que outros concluem pela existência dereduzidas perdas salariais. Num ponto, contudo, estes estudos parecem estarem sintonia. Trabalhadores despedidos que experimentaram períodos deduração do desemprego mais alargados são os mais afectados, em termossalariais, pelo fenómeno do despedimento.

Neste estudo avaliam-se as perdas salariais associadas ao despedimentodevido ao encerramento de empresas. De facto, a questão do despedimento edos salários é relevante por vários motivos. No que respeita a este estudo, aprincipal razão é que pode ajudar a clarificar os mecanismos de determinaçãodos salários e sugerir medidas de política económica que possam minorar osefeitos negativos do despedimento laboral.

Neste contexto, dois objectivos conduzem a investigação. O primeiro consisteem determinar a magnitude das perdas salariais antes e após odespedimento, bem como a sua persistência ao longo do tempo. O segundoconsiste em determinar as principais fontes/causas de perdas salariais.

A metodologia de análise consiste em comparar as variações salariais dostrabalhadores despedidos ao longo de um período relativamente alargado,com aquelas que teriam ocorrido se os mesmos não tivessem perdido os seuspostos de trabalho (Jacobson et al., 1993). Como esta informação não podeser observada, um grupo de controlo constituído por trabalhadores quepermanecem empregados em empresas sobreviventes é utilizado. Destemodo, as perdas salariais são medidas como a variação ocorrida no diferencialsalarial entre trabalhadores despedidos e trabalhadores não-despedidos,tomando como referência o diferencial salarial verificado três anos antes dodespedimento e após controlar para um conjunto de característicasobserváveis das empresas e dos trabalhadores.

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 27

Sessão 2 • Funcionamento do Mercado de Trabalho

Page 28: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Os dados utilizados neste estudo são os constantes dos Quadros de Pessoal(QP) do Ministério da Segurança Social e do Trabalho (MSST). Os QP sãocoligidos anualmente pelo Departamento de Estatística do MSST e cobrempraticamente o universo de empresas portuguesas com trabalhadores porconta de outrem. A base de dados inclui informação sobre um conjunto devariáveis que caracterizam o estabelecimento e a empresa correspondente(distrito, concelho, actividade económica, natureza jurídica e forma de gestão,vendas, emprego) e, para além disso, informação individualizada sobrecaracterísticas do pessoal em serviço (sexo, idade, nível de escolaridade, nívelde qualificação, profissão, antiguidade, remunerações, horas de trabalho).

Há três razões fundamentais que tornam os QP uma fonte de dadosapropriada para o estudo dos efeitos do despedimento sobre os salários. Aprimeira é a sua elevada representatividade. A segunda resulta da suanatureza longitudinal, o que permite identificar os encerramentos deempresas e seguir os mesmos indivíduos ao longo do tempo. A terceiraadvém da disponibilidade de informação ao nível da empresa e dostrabalhadores, e da possibilidade de cruzar a informação dos trabalhadorescom a informação da empresa correspondente.

A amostra utilizada inclui todos os trabalhadores que perderam o seu postode trabalho em 1994, 1995 ou 1996 devido ao encerramento da empresa.Uma amostra aleatória de trabalhadores que permanecem empregados emempresas sobreviventes é igualmente utilizada como grupo de controlo.Ambos os grupos de indivíduos, despedidos e não-despedidos, são seguidosnos três anos que imediatamente precedem o despedimento e nos anos quese seguem ao mesmo, até 1998.

As principais conclusões que emergem deste estudo são as seguintes:

• as perdas salariais associadas ao despedimento devido ao encerramentoda empresa são significativas (entre 10 por cento e 12 por cento);

• estas perdas começam a verificar-se pelo menos um ano antes doencerramento da empresa, sugerindo a existência de concessõessalariais, e persistem quatro anos após o mesmo;

• os três factores que mais contribuem para a perda de salários são: aperda de capital humano específico à empresa, a perda de capitalhumano específico ao sector de actividade e a experiência de um períodode desemprego;

• refira-se, por último, que uma percentagem importante (cerca de 55 porcento) dos despedidos não obtém um novo emprego como trabalhadorpor conta de outrem no sector privado da economia no período deseguimento da amostra.

Algumas implicações de política poderão ser retiradas da análise efectuadaneste estudo. Concluiu-se que os trabalhadores despedidos geralmenteexperimentam custos de ajustamento substanciais, que estãofundamentalmente associados à duração do período de desemprego e à perda

28 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 29: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

de capital humano específico à empresa e/ou sector de actividade. Destemodo, políticas públicas que visem aumentar as probabilidades de reempregodos indivíduos despedidos poderão desempenhar um papel importante naminimização das perdas salariais associadas ao despedimento,nomeadamente programas de apoio à procura de um novo emprego eprogramas de formação (sobretudo geral) que promovam o desenvolvimentodas competências produtivas dos indivíduos.

A alteração da lei sobre a notificação antecipada do despedimento, alargando,eventualmente, o prazo de notificação e impondo sanções às empresas quenão o cumpram, pode igualmente ter um efeito importante com vista aminimizar as perdas associadas à duração do desemprego. No mesmosentido, uma medida de política mais generalista seria a própria redução doperíodo máximo de duração do subsídio de desemprego (que pode atingir 45meses no seu desenho actual).

Por fim, deste estudo transparece a ideia de que os trabalhadoresportugueses estão dispostos a moderar os seus salários face a um aumentono risco de encerramento da empresa. Esta indicação deverá ser conjugadacom a observação de que os salários têm um efeito substancial naprobabilidade de encerramento das empresas (Carneiro e Portugal, 2003),sendo que empresas que possuem uma maior incidência de trabalhadores aauferirem o salário mínimo são aquelas que enfrentam, ceteris paribus,maiores probabilidades de encerramento devido à sua incapacidade deajustarem os salários no sentido da descida. Medidas de política como olay-off temporário podem ter um efeito de reduzir a incidência deencerramentos de empresas. Este fenómeno acaba, pelo menos em parte, porser o reflexo da existência de elevados custos de ajustamento (despedimento)que caracterizam o mercado de trabalho português, e que tornam maisvantajoso, em determinadas circunstâncias, encerrar do que despedir.

Referências bibliográficas

Carneiro, A. and P. Portugal (2003), “Wages and the Risk of Displacement”,Banco de Portugal Working Paper WP 10-03.

Jacobson, L., R. Lalonde and D. Sullivan (1993), “Earnings Losses ofDisplaced Workers”, American Economic Review, Vol. 83, pp.685-709.

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 29

Sessão 2 • Funcionamento do Mercado de Trabalho

Page 30: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Mobilidade: Carreiras, Promoções e Salários

Francisco Lima

(Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa e CEG-IST)

Quando uma empresa contrata um trabalhador e ele é colocado numdeterminado nível hierárquico, o que acontece depois? Terá o trabalhadormais hipóteses de progressão no interior da empresa, ou através da mudançapara outra empresa? Qual a importância das mudanças de empresa e desector de actividade no início da vida activa? Estas são as questões principaisque se procura responder com este estudo para o caso de Portugal. Dada aactual discussão acerca do funcionamento do mercado de trabalho e dasdiversas instituições que o afectam, os aspectos relacionados com amobilidade ganham especial relevância.

A base de dados utilizada é suficientemente rica para se poder reconstruir acarreira profissional dos trabalhadores, mesmo quando mudam de empresa. Épossível seguir as empresas e todos seus empregados ao longo dos anos,permitindo estudar a mobilidade na perspectiva da carreira individual. Osdados cobrem 80 por cento do universo das empresas portuguesas de 1991até 1999, correspondendo a uma média de 150 mil empresas e 1,4 milhõesde trabalhadores por ano.

Relativamente à mobilidade dos trabalhadores, observa-se uma elevadaincidência de relações de emprego de longa duração. Por exemplo, em 1999,os trabalhadores com idades compreendidas entre os 35 e os 65 anos deidade e com mais de 20 anos de antiguidade representavam 40 por cento dostrabalhadores com a mesma idade e um quinto do total dos trabalhadores detodas as idades cobertos pela a amostra. Simultaneamente, os novosempregos têm uma vida curta, pois, em média, mais de 30 por cento dosnovos empregos termina em um ano. Apesar deste facto, também é verdadeque a probabilidade de terminação de uma relação de trabalho decresce comos anos de antiguidade na empresa, só subindo de novo perto da idade dereforma.

O que determina mudança de empresa? Os resultados indicam que aprobabilidade de saída de uma empresa é menor para os trabalhadores commais anos de antiguidade, com mais anos de escolaridade, mais velhos e comuma melhor progressão hierárquica. Em concordância com estes resultados,os jovens trabalhadores têm uma elevada probabilidade de mudar deempresa logo no primeiro ano da relação de emprego. As relações laborais atempo parcial também têm uma maior probabilidade de terminar. O mesmose verifica nas empresas mais pequenas; na região de Lisboa, quandocomparada com o resto do país; e em alguns sectores de actividade,especialmente aqueles em declínio como a agricultura, ou os que tipicamente

30 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 31: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

experimentam uma maior rotação de trabalhadores, como a Construção e oComércio, Hotéis e Restaurantes.

A análise dos salários individuais foi efectuada considerando a progressãodentro da empresa e as transições entre empresas. Para além dos resultadosesperados de salários mais elevados para trabalhadores com maiorexperiência profissional, mais anos de escolaridade e detendo uma posiçãohierárquica mais elevada, verifica-se que o trabalhador que sai ganha menosem média na empresa que abandona, mas ganha mais na empresa ondeentra.

No que diz respeito ao crescimento dos salários, as promoções, especialmenteaquelas que implicam uma mudança hierárquica, traduzem-se numcrescimento mais elevado. A mudança de empresa é, em média, benéficapara os trabalhadores de ambos os sexos, estando associada a ganhossalariais. Os ganhos são maiores para os trabalhadores mais jovens e para osque detêm um maior nível de escolaridade. No entanto, à medida que otrabalhador envelhece, o resultado pode ser invertido: a mudança podeinduzir uma perda salarial.

Quais as implicações em termos de política económica? Primeiro, a relaçãoentre antiguidade, idade e a saída da empresa, mostra a importância daexistência de mercados de trabalho flexíveis por forma a permitir aostrabalhadores a às empresas encontrar a melhor relação de emprego. Aomesmo tempo, a elevada incidência de relações de longa duração, mostra operigo de um mercado de trabalho segmentado: um onde os trabalhadoresestão protegidos no emprego; e outro onde os trabalhadores em início deactividade profissional não têm as condições para encontrar uma carreiraestável, dado que o empregador enfrenta uma legislação laboral assimétricaque o leva à utilização do lado desprotegido como forma de enfrentar choquesno mercado onde opera.

O efeito positivo da mobilidade nos salários, especialmente para ostrabalhadores mais jovens, reforça a necessidade de ter um mercado detrabalho flexível que permita encontrar, não só, a melhor relaçãoempregado-empregador, mas também a melhor relação empregado-sector deactividade. No entanto, os ganhos modestos ou quase inexistentes para ostrabalhadores com menor escolaridade, requerem uma especial concentraçãoem políticas de formação profissional e respectiva acumulação de capitalhumano.

A mudança para empresas de menor dimensão está associada a perdassalariais. A prevalência de pequenas e médias empresas em Portugal indicaque as políticas que promovam a flexibilidade e a acumulação de capitalhumano não são eficazes se não tomarem em linha de conta que as práticasde recursos humanos nestas empresas são, frequentemente, incipientes emuito dependentes do desempenho do mercado de trabalho externo, poroposição ao seu próprio mercado de trabalho interno, o qual pode serconsiderado quase inexistente.

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 31

Sessão 2 • Funcionamento do Mercado de Trabalho

Page 32: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

O estudo mostra a importância de um mercado de trabalho que permita aostrabalhadores movimentarem-se entre empresas para encontrar a melhorrelação empregado-empregador. Este assunto é particularmente relevante nocontexto do mercado de trabalho em Portugal, dada a elevada incidência deempregos com salários reduzidos, baixas qualificações e a existência dediversas restrições institucionais ao seu funcionamento.

32 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 33: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Sessão 3

Avaliação de Programas Públicos

Page 34: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,
Page 35: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

A Avaliação Empírica de Políticas Sociais

Mónica Costa DiasBanco de Portugal

A avaliação de políticas públicas tem assumido um papel cada vez maisimportante tanto nos meios académicos quanto políticos. O grande pesofinanceiro que estas políticas assumem nas sociedades ocidentais justifica oforte interesse. Mais ainda, é agora reconhecido que os benefícios e custos detais intervenções não se distribuem de forma homogénea entre os agentes,nem mesmo entre aqueles a que a intervenção originalmente se destina. Emtermos políticos, não é indiferente quem ganha ou perde com as intervençõesnem os respectivos montantes. Em termos académicos, as alteraçõespontuais de políticas podem fornecer as condições ideais para a compreensãodo comportamento dos agentes económicos.

O grande problema que os processos de avaliação defrontam é o de falta deinformação. Os agentes e as economias nunca são observadossimultaneamente no estado de terem sido e não terem sido tratados. Destaforma, a variável que se pretende estudar não é observável. Quando osagentes têm a capacidade de escolher o seu estatuto perante oprograma/política, este problema torna-se ainda mais sério. Na medida emque tal decisão é uma consequência das características idiossincráticas decada agente, ela estabelece a incomparabilidade de agentes que tomamdecisões diferentes.

O presente estudo analisa uma política de educação recentemente lançada emPortugal, o Programa de Desenvolvimento e Expansão da EducaçãoPré-Escolar (PDEPE). As duas abordagens tipicamente utilizadas nos estudosde avaliação de políticas públicas são aqui discutidos tomando o PDEPE comoexemplo ilustrativo. Por um lado, a abordagem estrutural usa a teoriaeconómica para compreender o comportamento dos agentes e prever as suasreacções a intervenções públicas. Por outro lado, a abordagem não-estruturalusa a informação recolhida após a implementação da política para quantificaros seus efeitos.

As duas abordagens não são independentes. Em particular, estudos nãoestruturais necessitam sempre de ter subjacente uma ideia da estrutura doproblema que o agente enfrenta para poderem definir os parâmetros deinteresse e interpretar os resultados obtidos. Mais do que isso, no entanto, éaqui defendido que é óptimo utilizar as duas abordagens em simultâneo umavez que elas se complementam. Estudos estruturais revelam a natureza doproblema, permitem identificar as questões a estudar e possibilitam a análisede um vasto conjunto de políticas, independentemente de alguma vez teremsido implementadas. Eles podem ser muito informativos para o decisorpolítico uma vez que, no limite, podem ser usados na análise de políticas

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 35

Sessão 3 • Avaliação de Programas Públicos

Page 36: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

óptimas. Por seu turno, os estudos não estruturais revelam o verdadeiroimpacto das políticas implementadas nas condições económicas em que oforam. Estes resultados são fundamentais para a validação das hipótesesadoptadas nos estudos estruturais.

No caso particular do PDEPE foram estudadas as alternativas de avaliaçãorecorrendo a cada uma destas abordagens. O desenho do programa torna-odifícil de avaliar num contexto não estrutural. O principal problema prende-secom a inexistência de uma dimensão que possa ser explorada para construir ocontrafactual em falta. Qualquer método de avaliação precisa de recriar ocomportamento dos agentes ou da economia no cenário alternativo de “nãoparticipação no programa” ou “não intervenção”. Os métodos não estruturaisfazem-no recorrendo a agentes que não participam ou economias que não sãotratadas. No entanto, é preciso justificar que estes agentes/economiasreproduzem, de facto, o contrafactual. A dimensão que permite garantir acomparabilidade dos grupos pode ser criada pelo desenho da política, atravésde regras de exclusão de determinados grupos que depois serão utilizados naconstrução do contrafactual, ou obtida da exploração de informaçãoabundante e rica sobre os agentes ou a economia, permitindo reproduzir deforma detalhada o grupo de agentes tratados com base nos não-tratados. Istoé, o desenho pode substituir-se aos dados e o oposto também é verdade. Noentanto, e no caso do PDEPE, nem os dados são suficientemente ricos nem odesenho da política foi pensado para facilitar o processo de avaliação. Sãoidentificadas pequenas alterações ao desenho do programa que podem alterarsignificativamente o esforço e credibilidade da avaliação, mesmo num cenáriode escassez de informação.

Por seu turno, a abordagem estrutural é pouco afectada pelo desenho dapolítica pública uma vez que tem a capacidade de decompor programascomplexos nas suas partes mais básicas. No entanto, a credibilidade destemétodo depende das regras de comportamento adoptadas para os agentes oueconomias. Para que estas especificações tenham a aderência que sepretende à realidade, elas precisam de ser devidamente ajustadas. Talprocedimento exige um conhecimento detalhado daquilo que é ocomportamento dos agentes uma vez que é a estrutura deste comportamentoque se tenta modelizar. Esta exigência determina a necessidade de dadosdetalhados sobre os agentes e os seus comportamentos económicos emanálises estruturais. Essa informação, no entanto, não precisa nem devereportar à intervenção pública que se pretende avaliar.

36 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 37: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

O Impacto das Empresas Estrangeiras nos

Salários em Portugal

Pedro Silva Martins(University of St Andrews and University of Warwick)

Os fluxos de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) para Portugaltornaram-se uma componente importante da economia portuguesa desde aadesão à União Europeia. Não se poderá, no entanto, ignorar o custo destasentradas de capitais, na medida em que elas foram influenciadas pordispendiosas políticas públicas para a atracção de multinacionais paraPortugal. Assim, num contexto mundial em que a captação de IDE se tornacada vez mais competitiva, e num contexto nacional em que se discute amelhor orientação para a economia portuguesa, torna-se particularmenteimportante avaliar qual o benefício para a economia portuguesa destesinvestimentos.

Este trabalho contribui para este objectivo, examinando o papel do IDE nomercado de trabalho português e, em particular, nos salários. Estaabordagem, complementar às que estudam o impacto do IDE naprodutividade das empresas e no emprego, justifica-se pela importância dossalários para o bem-estar da população. De facto, se o IDE não tiverimplicações salariais, então o seu impacto económico para a generalidade daspessoas será provavelmente limitado.

Neste sentido, consideramos que os benefícios do IDE são mais importantesse: 1) os trabalhadores das empresas estrangeiras em Portugal forem melhorpagos que os seus equivalentes nas empresas nacionais; e 2) ostrabalhadores das empresas nacionais forem melhor pagos comoconsequência da presença estrangeira no seu sector de actividade (i.e., seexistirem “spillovers” salariais). São estas duas relações entre as empresasestrangeiras e as empresas nacionais que são examinadas neste trabalho,cujos resultados se baseiam na análise da base de dados dos “Quadros dePessoal” para o sector secundário, no período 1991-1999.

Em relação ao primeiro aspecto, o dos diferenciais de salários entretrabalhadores em empresas nacionais e estrangeiras, uma primeira análise(usando métodos econométricos convencionais) sugere que as empresasestrangeiras pagam cerca de 32 por cento mais que as empresas nacionais.No entanto, este prémio reduz-se substancialmente até cerca de 11 por centoquando se têm em conta algumas das diferentes características dostrabalhadores e, sobretudo, das empresas, e que também influenciam ossalários (educação, sector de actividade, dimensão da empresa, etc). Poroutro lado, não se encontra evidência de uma relação clara entre o grau decontrolo de uma empresa por investidores estrangeiros e o prémio salarial

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 37

Sessão 3 • Avaliação de Programas Públicos

Page 38: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

pago, ao contrário do que se esperaria caso o grau de controlo por parte deempresas estrangeiras tivesse um impacto causal nos salários.

Outras análises, usando métodos mais sofisticados e precisos de comparaçãode trabalhadores em empresas nacionais e estrangeiras, sugerem um prémiosalarial ainda mais baixo: cerca de 1 por cento. Finalmente, quando secompara a evolução dos salários dos trabalhadores de empresas nacionaisadquiridas por investidores estrangeiros com a mesma evolução paratrabalhadores de empresas nacionais que se mantêm na posse deinvestidores nacionais, o prémio salarial passa mesmo a incluir valoresnegativos.

O segundo aspecto examinado neste trabalho refere-se aos “spillovers” dapresença de empresas estrangeiras em cada indústria nos salários pagospelas empresas nacionais nessas indústrias. Aqui, ao contrário da situaçãoanterior, constata-se que, pelo menos quando se utilizam métodos maisrobustos, baseados na relação entre a variação da presença estrangeira e avariação dos salários das empresas nacionais, existe uma influência positivaimportante da primeira na segunda. De acordo com estes resultados, se seduplicar o peso das empresas estrangeiras num dado sector, mantendoconstante o tamanho doméstico do sector, os salários pagos pelas empresasnacionais aumentam, em média, entre 1,9 por cento e 2,7 por cento. Estesvalores implicam aumentos salariais anuais para os trabalhadores deempresas nacionais entre aproximadamente 730� e 1.070� por cada novotrabalhador de uma empresa estrangeira.

Como conclusões, os nossos resultados indicam que não é tanto anacionalidade das empresas que explica as diferenças de salários entreempresas portuguesas e estrangeiras, mas sim as diferentes característicasde cada conjunto de empresas. No entanto, é importante ter em conta que hárelativamente poucas empresas portuguesas com características semelhantesàs das empresas estrangeiras, características essas (como o tamanho) queestão associadas a maiores salários. Encontrou-se ainda evidência de“spillovers” salariais das empresas estrangeiras para as empresas nacionais,pelo menos dentro do mesmo sector de actividade. Este último resultadosugere que há diferenças entre o benefício privado e o benefício social dapresença de empresas estrangeiras, diferenças essas que podem justificarintervenções públicas que aproximem os dois tipos de benefícios, por exemploatravés de subsídios.

Assim, em termos de implicações de política económica, os resultados obtidosconstituem evidência empírica que apoia a defesa do IDE como mecanismo dedesenvolvimento económico em Portugal. Por um lado, as empresasestrangeiras têm características associadas a melhores remunerações; poroutro lado, a presença de empresas estrangeiras numa dada indústria leva amelhores remunerações nas empresas nacionais nessa mesma indústria. Porúltimo, este trabalho sublinha a importância de se caracterizar rigorosamenteos impactos – salariais e outros – do IDE, de modo a se maximizar osbenefícios líquidos para Portugal da política de atracção de investimentoestrangeiro.

38 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 39: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Redução do Tempo de Trabalho e Emprego -

Lições da Lei das 40 horas

José M. Varejão(Faculdade de Economia do Porto e CETE)

A tendência de diminuição da duração anual do trabalho que se verifica nospaíses industrializados tem sido, na Europa, pontualmente reforçada pelaadopção de medidas de redução do limite máximo da duração do trabalhosemanal. Tipicamente, estas medidas são implementadas centralizadamente,por iniciativa dos governos, em contextos de desemprego elevado.

A popularidade que estas medidas — habitualmente designadas como de“partilha de trabalho” — conheceram em alguns países parece, porém,resultar mais de uma crença política nos efeitos positivos de uma redução dotempo de trabalho sobre o emprego do que de argumentos teóricos sólidos.

Apesar das dúvidas teóricas, vários países europeus, entre os quais a França,a Alemanha e a Itália, adoptaram nas décadas de 80 e 90, políticasdestinadas a reduzir a duração máxima do trabalho semanal. Ainda que sem amotivação que resulta dos elevados níveis de desemprego, Portugal tambémnão foi excepção. Na década de 90, por duas vezes os governos tornaramobrigatória a redução da duração normal do trabalho semanal, primeiro, em1991, para as 44 horas e depois, em 1996, para as 40 horas.

Na literatura não abundam os trabalhos de avaliação de medidas públicas deredução do tempo de trabalho, constituindo os trabalhos de Hunt (1999),Costa (2000) e Crépon e Kramarz (2002) as excepções mais notórias. Emregra, estes estudos procedem à avaliação dos efeitos de reduções do tempode trabalho num contexto de “quase-experiência”, isto é, admitindo que taismedidas podem ser legitimamente consideradas exógenas. Crucial é o factode a medida afectar apenas um sub-grupo de indivíduos de entre o conjuntodos seus destinatários potenciais.

Os efeitos de uma redução exógena das horas de trabalho sobre o emprego eas horas efectivamente trabalhadas são teoricamente conhecidos ainda que,por vezes, ambíguos. Sabemos que de uma redução da duração normal dotrabalho semanal resultará inequivocamente uma diminuição do número totalde horas trabalhadas (procura de trabalho) e que os seus efeitos sobre oemprego serão ambíguos dependendo da proporção de empregadores que,antes da adopção da medida, utilizam ou não trabalho suplementar — oemprego aumentará no caso dos que não recorrem a trabalho suplementar ediminuirá no outro caso, sendo substituído pela utilização de trabalhosuplementar adicional.

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 39

Sessão 3 • Avaliação de Programas Públicos

Page 40: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

A Lei que instituiu a semana de trabalho normal de 40 horas (Lei 21/96 de23 de Julho) abrangia apenas as unidades que empregassem trabalhadoresque estivessem, eles próprios, abrangidos por uma convenção colectiva queestabelecesse para a sua indústria e/ou profissão um período normal detrabalho superior a 40 horas por semana - 870374, ou seja, 58 por cento dototal dos trabalhadores por conta de outrem, tinham períodos normais detrabalho superiores a 40 horas semanais, sendo, por isso, abrangidos pelaLei. Estes trabalhadores trabalhavam em 97662 estabelecimentos (68.5 porcento do total de estabelecimentos com trabalhadores por conta de outrem aoserviço recenseados nesse ano). Estes trabalhadores e estes estabelecimentosconstituem os grupos abrangidos pelo mandato legal.

De acordo com a Lei, estes trabalhadores e os respectivos empregadoresficavam obrigados a adoptar, de forma faseada, segundo o calendárioseguinte, a semana normal de trabalho de 40 horas: (i) até um de Dezembrode 1996 todos os horários superiores a 42 horas por semana deveriam serreduzidos em duas horas semanais; os horários entre 40 e 42 horas porsemana deveriam ser reduzidos para 40 horas semanais; (ii) até um deDezembro de 1997 todos os horários de trabalho ainda acima das 40 horassemanais deveriam cumprir o novo máximo legal.

Constata-se que a Lei produziu efectivamente o efeito pretendido — em 1995,34.3 por cento do total praticava ainda horários superiores a 42 horassemanais (58.0 por cento acima de 40 horas); em 1997, após a conclusão daprimeira fase, aquela percentagem tinha-se reduzido para 2.5 por cento (25.4por cento acima das 40 horas); em 1998, era virtualmente nula apercentagem de trabalhadores com horários superiores a 40 horas semanais(0.8 por cento).

A condição de identificação dos efeitos da Lei é, então, que na ausência damedida a evolução das variáveis “resultado” — horas totais, emprego, horassuplementares e salários — seria a mesma para os estabelecimentosabrangidos pela obrigação de reduzir os horários de trabalho (grupo detratamento) e os não abrangidos por aquela obrigação (grupo de controlo).

A estratégia de estimação consiste em comparar os resultados observadospara as variáveis de interesse entre o grupo submetido ao tratamento e ogrupo de controlo, utilizando o estimador de “diferenças-nas-diferenças”.

Os resultados indicam que a procura de trabalho aumentou menos nasunidades abrangidas pela Lei do que nas que o não foram, sendo essadiferença no primeiro ano após a adopção da medida de -11.3 horas porestabelecimento.

Os restantes resultados indicam que a obrigação de reduzir a duração dotrabalho semanal para 40 horas teve como consequências adicionais umamaior utilização de trabalho suplementar e um aumento do volume deemprego. Como se esperaria, o crescimento dos salário horários pagos pelasunidades abrangidas foi superior ao verificado no grupo de controlo, o quesignifica que a redução do número de horas de trabalho normal não foiacompanhada por uma redução proporcional dos salários mensais. Verifica-se,

40 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 41: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

porém, que relativamente aos salários mensais, as unidades abrangidasexerceram alguma contenção que se traduziu num crescimento menor dossalário mensais.

Quanto maior é a intensidade da exposição à medida mais negativo é oresultado sobre o emprego, sendo também negativo o efeito sobre as horastotais. Isto é, o padrão de resposta que emerge é que nas unidades atingidasmais fortemente o efeito de escala é particularmente negativo, assistindo-setambém a uma substituição de trabalhadores por horas de trabalhosuplementar.

Mesmo tendo em conta características relevantes dos estabelecimentos severifica que ser abrangido pela Lei está associado a um efeito de escalanegativo que se traduz, por comparação com o que ocorreria na ausência damedida, numa diminuição do número total de horas trabalhadas e detrabalhadores e num aumento do salário horário. O efeito adverso sobre oemprego é, porém, muito ligeiro e ocorre apenas no sub-grupo dosestabelecimentos atingidos com mais intensidade pela medida.

A presença de trabalhadores pagos ao nível do salário mínimo acentua amagnitude do efeito de escala e a evolução desfavorável do emprego. Otrabalho a tempo parcial influencia positivamente o desempenho das variáveisHoras Totais e Número de Trabalhadores e surge associada a menoresaumentos do salário horário. Isto é, o trabalho a tempo parcial surge,efectivamente, como uma forma de trabalho flexível (sobretudo em termos dehorários, mas também de custos salariais) que permite um melhordesempenho em termos de procura de trabalho e emprego.

Este exercício de avaliação da Lei das 40 Horas pretende contribuir para que adecisão sobre medidas semelhantes no futuro (na Europa caminha-se já paraa semana de trabalho de 35 horas) sejam tomadas numa base maisconsciente dos seus custos reais.

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 41

Sessão 3 • Avaliação de Programas Públicos

Page 42: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

42 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 43: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Sessão 4

Mercados e Desenvolvimento

Page 44: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,
Page 45: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Contabilidade dos Ciclos e Níveis de Renda: O

Caso de Portugal

Tiago V. Cavalcanti(Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa)

Este artigo estuda os factores que explicam os ciclos económicos portuguesesem anos recentes. Em particular, o artigo aborda as seguintes questões:

i) O que explica o abrandamento económico em Portugal de 1979 a 1985, ede 1992 a 1996? ii) Quais os factores que explicam a forte recuperação daeconomia portuguesa de 1986 a 1991? iii) Por último, mas não menosimportante, por que razão continua o produto por trabalhador 46 por centoabaixo do nível dos Estados Unidos?

Entre 1979 e 2000, Portugal tornou-se membro da União Europeia e sofreumudanças económicas profundas: (i) seguiu a tendência mundial deprivatização e liberalização; (ii) tornou a sua economia cada vez mais aberta,expondo os produtores internos a maior concorrência externa; e (iii) utilizouos fundos da União Europeia (os “fundos estruturais”) para melhorarsubstancialmente as suas infra-estruturas públicas.

O procedimento de contabilidade da actividade económica aqui levado a cabosugere que, ao longo do período em análise (e especialmente de 1979 a1991), a maioria das alterações no produto por trabalhador em Portugal podeser atribuída a alterações na eficiência económica. Em particular, a forterecuperação do produto por trabalhador imediatamente a seguir a Portugal teraderido à Comunidade Económica Europeia, e até aos primeiros anos dadécada de 90, ficou essencialmente a dever-se a melhorias na eficiênciaeconómica. Portanto, a maior parte das mudanças económicas e de políticaeconómica com efeitos no produto efectuadas neste período manifestaram-sepor via da melhoria na eficiência. Por exemplo, a disponibilidade de “fundosestruturais” decerto diminuiu o custo do investimento, mas os investimentosefectuados (auto-estradas, etc.) terão aumentado a eficiência económicaglobal.

Ao longo do período, Portugal recuperou parte do atraso relativamente aolíder industrial, os Estados Unidos. O produto por trabalhador portuguêsencontra-se deprimido face ao norte-americano cerca de 46 por cento, sendoque em 1979 este valor era de 57 por cento. Nos anos 80 toda estadepressão relativamente aos Estados Unidos era devida ao factor deprodutividade, ou eficiência. Por volta de 2000, a depressão de Portugal erauma mistura dos casos francês e japonês: no primeiro, uma depressão dofactor trabalho; no segundo, uma depressão do factor de produtividade. Ofactor trabalho, em Portugal, justificava em 2000 cerca de 24 por cento da

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 45

Sessão 4 • Mercados e Desenvolvimento

Page 46: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

depressão face aos Estados Unidos, enquanto que o factor de produtividadeera responsável por cerca de 89 por cento3. Estes resultados sugerem queuma reforma do mercado de trabalho em Portugal pode ter um impactoconsiderável em termos de produto por trabalhador e bem-estar. De facto, ashoras trabalhadas em Portugal são 12 por cento mais baixas do que nosEstados Unidos, e o modelo sugere que Portugal poderia fazer melhor uso dotempo de trabalho disponível através da introdução de políticas conducentes amenor distorção do mercado de trabalho, e de instituições mais flexíveis naforma de intervir no mercado de trabalho.

As melhorias na produtividade, por seu turno, não são de abordagem tãosimples quanto as mudanças nas horas de trabalho por via de reformas nomercado de trabalho. No entanto, e dado que Portugal continua atrasadorelativamente aos líderes industriais em termos de produtividade, existepotencial para crescimento económico rápido no país. Portugal podeseguramente melhorar a produtividade através do aumento dacompetitividade. Tal pode ser conseguido através da redução do poder demonopólio em muitas indústrias (obtido, por exemplo, via barreirascomerciais externas). Outra forma de melhorar a produtividade é através demelhorias no sistema legal e de administração da Justiça. Um sistema legalmelhor aumenta a disponibilidade de fundos para financiamento de projectose adopção de novas tecnologias, dado que o montante de empréstimos que asinstituições financeiras estão dispostas a conceder é tanto maior quanto maiorfor a probabilidade de os devedores pagarem o que devem.

46 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

3 O factor de investimento, ou de capital, tinha um impacto positivo de cerca de 9 porcento. As diferenças para 100 devem-se a arredondamentos.

Page 47: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Reguladores Sectoriais e Autoridade da

Concorrência: que Articulação?

Pedro P. Barros (Universidade Nova de Lisboa e CEPR)Steffen Hoernig (Universidade Nova de Lisboa e CEPR)

O ano de 2003 assistiu, em Portugal, ao nascimento da Autoridade daConcorrência, que veio substituir o Conselho da Concorrência e aDirecção-Geral de Comércio e Concorrência na aplicação da legislação dedefesa da concorrência, bem como à publicação de uma nova lei daconcorrência (Decreto-Lei nº 10/2003, de 18 de Janeiro e Lei 18/2003, de 11de Junho). A Autoridade da Concorrência entrou em funcionamento a 24 deMarço de 2003.

Em termos económicos, tem-se agora uma entidade independente e aextensão, face à lei anterior, da aplicabilidade a todos os sectores deactividade económica. Apenas os monopólios concedidos legalmente sãoexcluídos, por razões óbvias e na medida das actividades incluídas nessaatribuição legal.

Pelo facto de abranger todos os sectores de actividade económica, o exercíciode funções por parte da Autoridade da Concorrência apresenta sobreposiçãocom a actuação dos reguladores sectoriais. Esta sobreposição poderá, ou não,gerar conflito de actuação entre a Autoridade de Concorrência e osReguladores Sectoriais. É ainda necessário acrescentar a indefinição dasfronteiras de intervenção da Autoridade da Concorrência, uma vez que aarticulação entre esta e as autoridades sectoriais é remetida para protocolosou acordos a estabelecer. Em alguns casos poderá assistir-se à intervençãosimultânea de duas autoridades económicas. Só por memória, as entidadesreguladoras sectoriais portuguesas são (por ordem alfabética): ANACOM —ICP-Autoridade Nacional de Comunicações (comunicações electrónicas),Banco de Portugal (sector bancário), CMVM — Comissão do Mercado deValores Mobiliários (bolsas de valores), ERSE — Entidade Reguladora dosServiços Energéticos (energia), IMOPPI — Instituto dos Mercados de ObrasPúblicas e Particulares e do Imobiliário (construção), INAC — InstitutoNacional de Aviação Civil (transporte aéreo), INTF — Instituto Nacional deTransporte Ferroviário (caminhos de ferro), IRAR — Instituto Regulador Águase Resíduos (águas), ISP — Instituto de Seguros de Portugal (sectorsegurador).

Embora uma parte importante da discussão sobre a delimitação da actuaçãodas autoridades de regulação sectoriais e da Autoridade da Concorrência sejade natureza jurídica, existem efeitos económicos importantes, que não devemser negligenciados.

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 47

Sessão 4 • Mercados e Desenvolvimento

Page 48: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

A contribuição do estudo consiste em adicionar uma outra classe deargumentos — os incentivos de cada autoridade na sua intervenção. Emparticular, responde-se à questão “uma vez considerados os incentivos àactuação de cada uma das autoridades económicas, como deve serestabelecida a sua articulação?”

Para dar resposta, é necessário especificar os tipos de articulação que possamser estabelecidos. Em concreto, foram contemplados dois tipos de articulação.No primeiro, denominado decisão conjunta, uma decisão só é alcançadaquando ambas as autoridades estão de acordo. É uma caracterização limitedo dever de consulta mútua, fazendo com que a opinião de uma autoridadeseja vinculativa para a outra autoridade. No segundo tipo, denominadoindependência de decisões, um caso é dado por concluído quando uma dasautoridades termina a sua investigação e toma uma decisão.

A comparação dos dois tipos de articulação leva ao seguinte resultado. Se aprobabilidade individualmente escolhida de conseguir detectar e provar aexistência de comportamento anti-concorrencial é maior (menor) que 1/2,então a independência de decisões, mesmo na presença de sobreposição dejurisdições, motiva um menor (maior) nível de intervenção por parte das duasautoridades, em comparação com um processo de decisão conjunta.Independentemente desta intensidade da intervenção, a independência dedecisões resulta numa maior probabilidade total de sucesso, e maiorbem-estar.

A este aspecto de incentivos, tem-se que adicionar os custos administrativosassociados com um processo de decisão conjunta, resultantes da necessidadede conciliar as diferentes visões e culturas de cada uma das autoridadeseconómicas.

Considerando agora os efeitos de diferentes ponderações atribuídas por cadaautoridade aos consumidores e ao desenvolvimento da indústria, se asdecisões forem tomadas de forma independente (na acepção definidapreviamente), então o desenho institucional óptimo consiste em dar a umaautoridade o mesmo enviezamento que a outra possui. Tornando asautoridades mais similares em termos dos seus objectivos, evitam-se oscustos decorrentes de uma investigação excessiva.

Apesar de esta ser uma indicação clara é, regra geral, de difícil aplicação. Narealidade existe uma única Autoridade da Concorrência que intervém emtodos os sectores de actividade, e diversos reguladores sectoriais. Se osúltimos tiverem nos seus objectivos o desenvolvimento das empresas dosector com diferentes pesos, não é trivial definir qual o objectivo apropriadopara a Autoridade da Concorrência. Contudo, este resultado justifica, pelomenos, a discussão de se a Autoridade da Concorrência deverá, ou não, noseu processo de decisão ter também em alguma conta os interesses dedesenvolvimento da indústria (leia-se, lucros das empresas) ou concentrar-seunicamente nos benefícios para os consumidores. Alternativamente, oalinhamento de posições pode ser alcançado com uma redefinição dosobjectivos dos reguladores sectoriais, passando estes a dar uma maiorvalorização relativa aos benefícios para os consumidores.

48 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 49: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Por fim, um tema usualmente presente é o de “captura regulatória”, isto é, aactuação da autoridade económica ser sobretudo guiada pelos interessesda(s) empresa(s) regulada(s). De acordo com a análise realizada, sempre queforem relevantes as preocupações com a “captura regulatória”, deverá sertomada a opção de cada autoridade decidir de forma independente. Ou seja, odever de consulta mútuo entre autoridades económicas não deve ser tomadocomo obrigando a uma opinião vinculativa.

Em resumo, a existência de sobreposição de jurisdições de entidadesreguladoras sectoriais e da Autoridade da Concorrência será, regra geral,benéfica em termos de bem-estar social. Embora a cooperação entreautoridades económicas seja importante, nomeadamente na partilha deinformação e de conhecimento técnico, não deverá ser imposto um processode decisão conjunto. O dever de consulta mútua não deverá implicar aemissão de pareceres vinculativos (qualquer que seja a autoridade económicaem questão). A manutenção de independência de decisão de cada autoridadeé um factor fundamental para se colherem os benefícios de sobreposição dejurisdições.

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 49

Sessão 4 • Mercados e Desenvolvimento

Page 50: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Níveis de Aglomeração Espacial na Indústria

Transformadora Portuguesa

Paulo Guimarães (Universidade do Minho e CEMPRE)Octávio Figueiredo (Universidade do Porto e CEMPRE)

O objectivo deste trabalho é estudar os níveis de aglomeração espacial dasindústrias transformadoras portuguesas. O termo “aglomeração espacial” éaqui utilizado num sentido restritivo — refere-se à aglomeração que resultada existência de economias de localização e portanto à concentraçãogeográfica que excede a que se esperaria face à dotação de factores dasregiões ou a factores aleatórios. Compreender como e porquê se formamaglomerações de uma indústria no espaço é de considerável interesse, querdo ponto de vista académico quer do ponto de vista da política económica. Doponto de vista teórico, a tendência para uma indústria se aglomerar numadeterminada área fascina os economistas desde, pelo menos, Alfred Marshalle o seu “Principles of Economy” de 1890. Muitas das explicações entretantoavançadas para a existência e permanência no tempo de aglomerações deindústrias no espaço estão associadas à ocorrência, sob várias formas, deeconomias externas às empresas crescentes com os níveis de aglomeração,economias essas que figuram actualmente no centro do debate introduzidopela chamada “nova geografia económica” (Krugman, 1991). Do ponto devista da política económica, o conhecimento dos níveis de aglomeraçãoespacial das indústrias e das razões que lhe estão subjacentes podem ajudarna tomada de decisões a nível das políticas que visem encorajar a dispersãono espaço da actividade económica e reduzir assimetrias regionais.

Várias metodologias têm sido utilizadas ao longo do tempo para estudar onível de aglomeração das indústrias. Recentemente, no entanto, o índicedesenvolvido por Ellison e Glaeser (1997) tem sido usado na maioria dostrabalhos empíricos que sobre esta questão foram realizados para países tãodiversos como os EUA, a França, o Reino Unido, a Bélgica, ou a Espanha. Nopresente trabalho, adoptamos uma visão crítica da metodologia proposta porEllison e Glaeser (1997) e desenvolvemos um novo método para medir o nívelde aglomeração no espaço de uma indústria.

Quando aplicada ao caso português, a nossa metodologia mostra que amaioria das 100 indústrias analisadas apresentam níveis não negligenciáveisde aglomeração. No entanto estes são geralmente baixos e apenas numnúmero reduzido de sectores se verifica uma forte tendência para asempresas se aglomerarem no espaço. Estes sectores com níveis deaglomeração espacial mais elevados representam cerca de 30 por cento doemprego na indústria transformadora e são sobretudo indústrias tradicionais,como a da fabricação de motociclos e bicicletas, a dos curtumes, a dafabricação de joalharia, as indústrias têxteis, a do calçado, e as das cerâmicas

50 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 51: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

e da cortiça. Nestes casos, os fortes níveis de aglomeração observados sãoum resultado de externalidades estáticas associadas à especialização históricade determinadas regiões portuguesas. Entretanto, os nossos resultadosmostram que, para além das indústrias já referidas, também algumasindústrias mais avançadas do ponto de vista tecnológico apresentam níveis deaglomeração elevados. Esse é o caso da indústria da fabricação de materialde rádio e de televisão, da indústria automóvel, de várias indústrias queproduzem maquinaria e equipamentos, da indústria farmacêutica e de umadas indústrias metalúrgicas. Estes casos parecem indicar que externalidadesdinâmicas (externalidades tecnológicas geradas pela difusão doconhecimento) são também importantes para explicar as actuais estratégiasde aglomeração das empresas portuguesas.

No presente trabalho foi também possível identificar com precisão as regiõesportuguesas associadas às industrias que apresentam os níveis deaglomeração no espaço mais elevados e medir os níveis globais deaglomeração por região. De acordo com os nossos resultados, os níveis deaglomeração são particularmente elevados nas regiões que se situam nocorredor litoral que se estende entre as cidades do Porto e Lisboa e tambémnuma vasta zona do centro interior do país, à volta da Serra da Estrela.

A nossa metodologia permitiu-nos, por outro lado, tirar algumas conclusõesrelativas ao impacte de políticas destinadas a encorajar a dispersão daactividade económica e reduzir assimetrias regionais. Constatamos, emprimeiro lugar, que o investimento privado através da criação de empresas émuito menos sensível a estímulos externos quando estes ocorrem em regiõesmais “desfavorecidas” em termos da sua dotação de factores produtivos.Verificamos também que as indústrias mais localizadas são as que menosresponderão a esses incentivos externos. Finalmente, numa análise mais finaaos factores que influenciam as decisões de localização das empresas,concluímos que a acessibilidade (os custos de transporte) das várias regiõesao corredor litoral Porto-Lisboa é (são) a variável sobre a qual a políticaeconómica pode actuar com maiores possibilidades de êxito, se asautoridades públicas pretenderem encorajar a dispersão no território nacionalda actividade económica.

Referências Bibliográficas

Ellison, Glenn e Glaeser, Edward L. (1997) “Geographic Concentration in U.S.Manufacturing Industries: A Dartboard Approach”. Journal of PoliticalEconomy, vol. 105, pp. 889-927.

Krugman, Paul (1991) “Increasing Returns and Economic Geography”. Journalof Political Economy, vol. 99, pp. 483-499.

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 51

Sessão 4 • Mercados e Desenvolvimento

Page 52: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

A Regulação da Actividade das Profissões Liberais

em Portugal: uma Análise da Procura de Rendas

Económicas

Nuno Garoupa(Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa)

Este artigo apresenta uma análise económica da regulação das actividadesprofissionais, nomeadamente a profissão médica e a advocacia, em Portugal.Na primeira parte, uma revisão sistemática e actualizada da teoria económicada regulação das profissões liberais é apresentada, nomeadamente (a) oporquê, (b) o como, e (c) o quê são discutidos. Na segunda parte, o casoportuguês é discutido e comparado com outros países da União Europeia eEstados Unidos.

A regulação das actividades profissionais pode obedecer a objectivos deinteresse público (porque por exemplo a assimetria de informação entre oprofissional e o cliente impede o equilíbrio de mercado de ser eficiente) mastambém a objectivos de interesse privado (porque os profissionais podemcapturar e controlar o processo regulatório de forma a satisfazer as suaspreferências e não o bem-estar social).

Existem cinco áreas primordiais de intervenção na regulação das profissões, asaber: (a) restrições à entrada no mercado dos serviços profissionais, (b)restrições à publicidade, (c) restrições quanto aos honorários cobrados, (d)restrições à forma de organização das sociedades profissionais, (e) restriçõesà conduta. Algumas das restrições à entrada no mercado de serviçosprofissionais são compatíveis com o interesse público, nomeadamente ainscrição numa associação profissional bem como a formação técnicaadequada. Restrições à publicidade de honorários são potencialmenteeficientes mas restrições à publicidade da qualidade dos serviços não temqualquer fundamento de interesse público. As restrições aos honorários bemcomo à forma de organização são muito provavelmente ineficientes. Asrestrições à conduta podem ser eficientes, mas o poder disciplinador exclusivoda respectiva Ordem carece de fundamento de ponto de vista do interessepúblico.

Em 2000, Portugal tinha 188 advogados por cem mil habitantes (sendosuperado por países como a Espanha, o Reino Unido e os Estados Unidos masacima da Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália e França) e 318 médicos por cemmil habitantes (um número claramente superior ao Reino Unido e aos EstadosUnidos mas inferior à Espanha, Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália e França).A taxa de entrada de novos médicos é contudo a mais baixa da amostra. Emtermos de crescimento entre 1980 e 2000, Portugal apresenta a taxa decrescimento do número de advogados por cem mil habitantes mais elevada

52 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 53: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

(248 por cento) e um valor moderado no contexto da amostra em número demédicos por cem mil habitantes (55 por cento).

Um índice que mede a qualidade da regulação das actividades profissionais,médico e advogado, é construído. Vinte e uma questões directamenterelacionadas com as cinco áreas de intervenção na regulação da advocacia eda profissão médica nos países da amostra (Portugal, Espanha, EstadosUnidos, Reino Unido, Bélgica, Holanda e Alemanha) são ponderadas. Portugalencontra-se no pior grupo dos países considerados na nossa amostra emtermos de qualidade regulatória. Contudo a situação da advocacia emPortugal não é substantivamente pior que noutros países da chamada“advocacia colegial” mas é qualitativamente inferior aos países da chamada“advocacia livre”. A situação dos médicos em Portugal é claramente inferior àmédia dos restantes países da União Europeia e Estados Unidos. Osresultados apresentados são coincidentes em linhas gerais com outros doisestudos prévios realizados na União Europeia sobre a regulação dasprofissões.

Um conjunto de linhas e sugestões de reforma é apresentado emconsequência dos problemas identificados. No caso da advocacia, propõe-se:(a) Flexibilização das formas organizativas (com a possibilidade de sociedadesanónimas); (b) Promoção da abertura do mercado legal português aos gruposinternacionais (a exemplo de outros membros da União Europeia); (c)Desenvolvimento do conceito jurídico de responsabilidade profissional e suaefectiva aplicação; (d) Adopção de uma estrutura institucional de apoiojudiciário semelhante aos legal aid boards britânico ou holandês; (e) Revisãodas normas profissionais pela autoridade da concorrência (respeitando ajurisprudência do ECJ na matéria) com vista a detectar práticas restritivas enão competitivas sendo a Ordem dos Advogados tratada como uma entidadereguladora sectorial. No caso da profissão dos médicos, propõe-se: (a)Profunda reforma do código deontológico, por exemplo, na linha do códigoespanhol; (b) Flexibilização das regras de publicidade e forma de organização;(c) Abolição das tabelas de honorários recomendados; (d) Menor influência noprocesso de formação e estágio por parte da Ordem; (e) Promoção daconcorrência entre as faculdades de ciências médicas com diferenciação doproduto afim de aumentar significativamente o número de novos médicos; (f)Desenvolvimento do conceito jurídico de responsabilidade profissional eefectiva aplicação bem como a consagração do testemunho profissional domédico; (g) Revisão das normas profissionais pela autoridade da concorrência(respeitando a jurisprudência do ECJ na matéria) com vista a detectarpráticas restritivas e não competitivas sendo a Ordem dos Médicos tratadacomo uma entidade reguladora sectorial.

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 53

Sessão 4 • Mercados e Desenvolvimento

Page 54: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

54 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 55: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Notas Biográficas dos Autores

Page 56: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,
Page 57: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Pedro Pita Barros é Professor Catedrático da Faculdade de Economia daUniversidade Nova de Lisboa onde exerce actualmente funções comoPresidente do Conselho Científico. É Research Fellow do Centre for EconomicPolicy Research (Londres). Publicou em revistas académicas, como oEconomic Journal, o Journal of Economics and Management Strategy, Journalof Health Economics, Journal of Industrial Economics, International Journal ofIndustrial Organization, European Economic Review, Scandinavian Journal ofEconomics, e Journal of RegulatoryEconomics.

Ana Rute Cardoso doutorou-se em Economia no Instituto UniversitárioEuropeu, Florença, Itália. Actualmente é Senior Research Associate noInstitute for the Study of Labor (IZA), Bona, Alemanha, e Research Affiliatedo Centre for Economic Policy Research (CEPR), Londres, Reino Unido.Encontra-se equiparada a efectivo exercício de funções na Universidade doMinho, onde é Professora Associada. As suas principais áreas de investigaçãosão economia do trabalho e economia das desigualdades. Publicou em váriasrevistas académicas, como o Journal of Applied Econometrics, Industrial andLabor Relations Review, Oxford Bulletin of Economics and Statistics, AppliedEconomics, Economics Letters e Review of Income and Wealth.

Anabela Carneiro doutorou-se em Economia na Universidade do Porto em2003. Actualmente é Professora Auxiliar da Faculdade de Economia do Porto einvestigadora do CETE. A sua área de especialização é a Economia doTrabalho, com ênfase especial nas questões associadas à determinação dossalários. É co-autora de vários relatórios técnicos no domínio da Economia doTrabalho.

Tiago Cavalcanti é Professor Auxiliar na Faculdade de Economia daUniversidade Nova de Lisboa e doutorado em Economia pela Universidade deIllinois, onde se especializou em Macroeconomia e DesenvolvimentoEconómico. Os seus trabalhos de investigação foram publicados em revistasacadémicas, incluindo a Macroeconomic Dynamics, Empirical Economics,Emerging Market Review, e Quarterly Review of Economics and Finance.

Mónica Costa Dias é Economista Assessor no Departamento de EstudosEconómicos do Banco de Portugal. Obteve o grau de doutor em 2002 pelaUniversity of London. Os seus principais interesses de investigação incluem aavaliação do impacto de intervenções públicas principalmente na área dotrabalho e da educação, o estudo de modelos dinâmicos de decisão e o estudode modelos de equilíbrio geral. Tem publicações na Fiscal Studies, Journal ofthe European Economic Association and Portuguese Economic Journal. Temmantido relações de investigação com o Institute for Fiscal Studies e aUniversity College London.

Octávio Figueiredo é Professor Associado da Faculdade de Economia daUniversidade do Porto. Ocupa também presentemente nessa escola a funçãode Director da Licenciatura em Economia. As suas áreas de investigaçãosituam-se dentro da Economia Regional e da Economia do Desenvolvimento edo Crescimento. Tem artigos publicados em várias revistas, sendo de destacara Review of Economics and Statistics, o Journal of Urban Economics e oJournal of Regional Science.

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 57

Notas Biográficas dos Autores

Page 58: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Nuno Garoupa doutorou-se em Economia pela Universidade de York (GB) em1997 e é actualmente Professor Associado com Agregação da Faculdade deEconomia da Universidade Nova de Lisboa, Research Affiliate do Centre forEconomic Policy Research (Londres), e Professor Catedrático Convidado daEscola de Direito da George Mason University. Foi professor da UniversitatPompeu Fabra (Barcelona) e John Olin Fellow nas Escolas de Direito deHarvard, Stanford e UC Berkeley. Especialista em Análise Económica doDireito. Publicou mais de trinta artigos em revistas académicasinternacionais,entre outros, American Law and Economics Review; Journal ofLaw, Economics, and Organization; Economic Journal; European EconomicReview; Economic Inquiry; Public Choice; Economica; Journal of Economicsand Management Strategy; Managerial and Decision Economics; eInternational Review of Law and Economics.

Miguel Gouveia é Professor Associado na Faculdade de Ciências Económicase Empresariais da Universidade Católica Portuguesa em Lisboa e temtrabalhado nas áreas da Economia Pública, Economia da Saúde e PolíticasSociais. É autor de artigos publicados no Journal of Public Economics, NationalTax Journal, Economic Policy, Public Choice, Public Finance and Management,Review of Income and Wealth entre outras revistas.

Paulo Guimarães é presentemente Research Assistant Professor na MedicalUniversity of South Carolina, EUA e Professor Associado da Escola deEconomia e Gestão da Universidade do Minho. Os seus interesses deinvestigação incluem a microeconometria aplicada destacando-se asaplicações à Economia Regional e à Economia Industrial. Publicou em diversasrevistas académicas, sendo as mais relevantes a Review of Economics andStatistics, Journal of Regional Science, Journal of Urban Economics,International Regional Science Review, Journal of Industrial Economics eInternational Journal of Industrial Organization.

Steffen Hoernig é Professor Auxiliar Convidado da Faculdade de Economia daUniversidade Nova de Lisboa. É Research Affiliate do Centre for EconomicPolicy Research (Londres). Investiga nas áreas de Organização Industrial,Economia da Regulação, Investigação e Desenvolvimento, e Teoria de Jogos.Publicou em revistas académicas como o European Economic Review,International Journal of Industrial Organization, Journal of RegulatoryEconomics, Ifo Studien, e Economics Letters.

Francisco Lima é investigador do Centro de Estudos de Gestão do InstitutoSuperior Técnico e Professor Auxiliar do Departamento de Engenharia eGestão do mesmo Instituto. Doutorado em Economia na Universidade Novade Lisboa. As principais áreas científica de investigação são Economia doTrabalho, Personnel Economics e Microeconometria. Apresenta regularmentetrabalhos em conferências científicas internacionais e participa em projectosde investigação nacionais e internacionais. Publicou trabalhos na revistaacadémica International Journal of Manpower e em diversos livrosacadémicos.

Pedro Silva Martins é Lecturer (Professor Auxiliar) na Universidade de StAndrews e está a concluir o seu doutoramento na Universidade de Warwick.

58 Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004

Desenvolvimento Económico Português no Espaço Europeu

Page 59: 11 e 12 de Março de 2004 Conferência do Banco de Portugal no … · sobre a taxa de crescimento real das despesas, as projecções de receita, juros e subsídios de desemprego,

Os seus interesses de investigação concentram-se na economia do trabalho,economia da educação e investimento directo estrangeiro, estando os seustrabalhos científicos publicados nas revistas Labour Economics, EconomicsLetters, Applied Economics e International Journal of Manpower e pela editoraEdward Elgar.

Álvaro Manuel Pina é professor auxiliar no ISEG. Desde 2001, ano em que sedoutorou em Economia no Instituto Universitário Europeu, lecciona disciplinasna área da Macroeconomia e da Política Económica. Desenvolve investigaçãonesses mesmos domínios, tendo artigos publicados nas revistas EconomicModelling, Journal of Policy Modeling e Manchester School. Tem aindarealizado alguns trabalhos de investigação e consultoria para o Ministério dasFinanças. É membro da direcção da UECE (Unidade de Estudos sobre aComplexidade na Economia).

Carlos Farinha Rodrigues é docente do Instituto Superior de Economia eGestão da Universidade Técnica de Lisboa e assessor do Departamento deSíntese Económica de Conjuntura do Instituto Nacional de Estatística. As suasprincipais áreas de investigação são a distribuição do rendimento, adesigualdade e pobreza e as políticas sociais. Sobre estes temas publicouvários artigos em revistas de especialidade nomeadamente na Public Financeand Management, World Bank Background Papers e na revista doEurostat/CEIES — Studies and Research.

José Manuel Janeira Varejão é Professor Auxiliar da Faculdade de Economiado Porto e investigador do CETE. Desenvolve o seu trabalho de investigaçãono domínio da Economia do Trabalho e, em particular, da Procura doTrabalho. Tem artigos publicados no Portuguese Economic Journal e nosCadernos de Ciências Sociais. É co-autor de diversos relatórios técnicos sobreo mercado de trabalho em Portugal, fluxos de trabalhadores e tempo detrabalho.

Francisco José Veiga é Professor Associado na Escola de Economia e Gestãoda Universidade do Minho, onde desempenha o cargo de Director doDepartamento de Economia. As suas principais áreas de investigação são aeconomia monetária internacional e a economia política. Tem publicações nasseguintes revistas académicas: Journal of International Money and Finance,Public Choice, Economics Letters e Economics & Politics. Foi o Director doNúcleo de Investigação em Políticas Económicas (NIPE) de Setembro de 1999a Janeiro de 2004.

Linda Gonçalves Veiga é Professora Auxiliar na Escola de Economia e Gestãoda Universidade do Minho, onde desempenha o cargo de Vice-Presidente daEscola. A sua principal área de investigação é a economia da política e dasescolhas públicas. Tem publicações nas seguintes revistas académicas: PublicChoice, Economics & Politics, European Journal of Political Research eElectoral Studies. Presentemente coordena o projecto de investigação“Eleitores, Governantes e a Economia”, financiado pela Fundação para aCiência e a Tecnologia (POCTI/ECO/37457/2001).

Conferência do Banco de Portugal �11 e 12 de Março de 2004 59

Notas Biográficas dos Autores