11.08.12 - direito penal especial - anual estadual - favio monteiro de barros

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  1 MATÉRIA: DIREITO PENAL ESPECIAL PROF:FMB DATA: 12/08/2011 siga-nos: @fmbjuridico CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO (ARTS. 155 A 183 DO CP) O conceito de patrimônio abrange: I. Coisas de valor econômico. II. Coisas de valor afetivo. Ex.: Furto de uma carta de amor, fotografia do bisavô etc. III. Coisas úteis, isto é, que podem satisfazer uma necessidade  (STF). Ex.: Furto de folha de cheque em branco. Se preenche e passa, é estelionato (art. 171, caput , do CP 1 ). Se o sujeito não chega a preencher o cheque em branco: a. 1ª corrente: O fato é atípico, pois não há valor econômico ou afetivo. b. 2ª corrente (dominante): Há crime, pois patrimônio abrange coisas úteis (STF). CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO E USUCAPIÃO (?) Quem comete crime contra o patrimônio pode usucarpir o bem? (R) Sim. Pelo CC/02, os vícios da violência e clandestinidade cessam e a posse torna-se justa. Tornando-se justa a posse, o prazo de usucapião é de 5 anos. Há discussão sobre o assunto: 1ª corrente: A posse violenta e clandestina torna-se justa quando cessar  a violência ou clandestinidade. 2ª corrente: Torna-se justa ano e dia após cessar  a violência e clandestinidade, logo, o usucapião seria de 06 anos e 01 dia. Obs.: O vício da clandestinidade cessa quando a vítima sabe quem possui o bem e permanece inerte . É efeito da condenação a perda do produto do crime. Sobre o assunto, há duas correntes: I. 1ª corrente (MAGALHÃES NORONHA): Ainda que tenha ocorrido usucapião, o condenado perderá o produto do crime, por força do art. 91 do CP. 2  II. 2ª corrente (NELSON HUNGRIA): Se ocorrer usucapião, a condenação penal não gerará a perda do produto do 1  Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. 2  Art. 91 - São efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)  I - t ornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)  II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)  a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.

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CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO (ARTS. 155 A 183 DO CP)

O conceito de patrimônio abrange:I. Coisas de valor econômico.II. Coisas de valor afetivo. Ex.: Furto de uma carta de amor,

fotografia do bisavô etc.III. Coisas úteis, isto é, que podem satisfazer uma necessidade  

(STF). Ex.: Furto de folha de cheque em branco. Sepreenche e passa, é estelionato (art. 171, caput , do CP1). Seo sujeito não chega a preencher o cheque em branco:a. 1ª corrente: O fato é atípico, pois não há valor econômico

ou afetivo.b. 2ª corrente (dominante): Há crime, pois patrimônioabrange coisas úteis (STF).

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO E USUCAPIÃO (?) Quem comete crime contra o patrimônio pode usucarpir o bem?(R) Sim. Pelo CC/02, os vícios da violência e clandestinidadecessam e a posse torna-se justa. Tornando-se justa a posse, o prazode usucapião é de 5 anos. Há discussão sobre o assunto:

1ª corrente: A posse violenta e clandestina torna-se justa quandocessar a violência ou clandestinidade.2ª corrente: Torna-se justa ano e dia após cessar a violência eclandestinidade, logo, o usucapião seria de 06 anos e 01 dia.

Obs.: O vício da clandestinidade cessa quando a vítima sabequem possui o bem e permanece inerte.

É efeito da condenação a perda do produto do crime. Sobre oassunto, há duas correntes:

I. 1ª corrente (MAGALHÃES NORONHA): Ainda que tenhaocorrido usucapião, o condenado perderá o produto docrime, por força do art. 91 do CP.2 

II. 2ª corrente (NELSON HUNGRIA): Se ocorrer usucapião, acondenação penal não gerará a perda do produto do

1 Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro,mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.2 Art. 91 - São efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de11.7.1984) a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fatoilícito;b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fatocriminoso.

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crime, pois deve-se conciliar as normas de direito penal com

as de direito civil. Esta é a posição dominante, poisusucapião é um direito constitucional.* Exceção: A apropriação indébita é o único crime contra o patrimônioque não admite usucapião. Nesse crime, a posse é precária  – e ovício da precariedade nunca se convalida.

Posse precária: O possuidor direto (ex.: comodatário,locatário, etc) se recusa a devolver o bem.

 FURTO 

É a subtração de coisa alheia móvel, para si ou para outrem.Não há violência ou grave ameaça à pessoa, pois, se houver,o crime é roubo.

1. SUJEITO ATIVO É crime comum (geral), portanto, praticável por qualquer

pessoa. Há, porém, dois furtos que são crimes próprios:I. Furto qualificado pelo abuso de confiança (art. 155,

§4º, II, do CP3).II. Furto de coisa comum (art. 156 do CP4): Só pode ser

praticado por co-sócio, co-herdeiro ou condômino. Aação é pública e condicionada a representação. Ex.:“A” e “B” são donos de um carro e “A” furta o carro. Sea coisa comum for fungível, não há crime se o sujeitosubtrair a sua cota. É uma norma penal permissiva do§ 2º do art. 156 do CP. Assim, por ex., tem-se o casoem que “A” e “B” são donos de 100 sacas de café. “A”

3 Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela dedetenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.Furto qualificado § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;III - com emprego de chave falsa;IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado paraoutro Estado ou para o exterior . (Incluído pela Lei nº 9.426, de 1996) 4 Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisacomum:Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

§ 1º - Somente se procede mediante representação.§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente.

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furta 50 sacas, isto é, a sua parte. Não há crime. Se ele

furtou além da sua cota, responde pelo art. 156 do CP.SÓCIO QUE FURTA BENS DA SOCIEDADE I. Se a sociedade não tem registro: É furto de coisa comum 

(art. 156 do CP), pois ela não é pessoa jurídica, não tempatrimônio próprio. Os seus bens pertencem aos sócios.

II. Se a sociedade tiver registro: Tendo registro, a sociedadeé pessoa jurídica e, portanto, tem patrimônio próprio edistinto de seus sócios. Logo, a posição dominante é que osócio furtador responderá pelo art. 155, pois a coisa é

alheia.Obs.: Apenas uma corrente minoritária enquadra o fato no art.156 do CP.

Importa ressaltar que o proprietário que subtrai o bem próprioque está em poder de terceiro não comete furto, pois subtraiu coisaprópria e não alheia. Neste caso, cometeu apenas o crime de exercícioarbitrário das próprias razões. Aqui seriam aplicáveis os arts. 345 ou346 do CP5. Isso dependerá das seguintes situações:

I. Se a pretensão for legítima: Aplica-se o art. 345 do CP (é ahipótese de “fazer  justiça  com as próprias mãos” ). Ex.:Emprenho minha joia para obter empréstimo no banco. Pagoo banco, mas ele não me devolve a joia. Eu a subtraio.

II. Se a pretensão for ilegítima: Aplica-se o art. 346 do CP (éa hipótese de “fazer  injustiça  com as próprias mãos” ).Ex.: Emprenho minha joia para obter empréstimo no banco.Não pago o banco e subtraio a joia.

FURTO E APROPRIAÇÃO INDÉBITA (?) Quem tem a posse ou detenção da coisa, comete furto ouapropriação indébita?

(R) Depende.

I. Se a posse ou detenção for vigiada: Comete-se furto.Exs.: aluno que estuda dentro da biblioteca sai “de fininho”levando livro embora; Caixa de supermercado que vai seapoderando do dinheiro. Se havia vigilância (câmeras, ficaisetc), é furto.

5 Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite:Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ouconvenção:Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

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II. Se a posse ou detenção for desvigiada,=: Comete-se

apropriação indébita. Exs.: Aluno toma o livro emprestadoda biblioteca e não devolve; Caixa de supermercado que vaise apoderando do dinheiro. Se não havia vigilância, éapropriação indébita.

* ExceçãoNELSON HUNGRIA aponta um caso de posse ou detenção

desvigiada que é considerado furto.Para ele, isso se daria quando o agente tivesse posse ou detenção

do continente que lhe é entregue cerrado. Se ele se apoderar do

conteúdo, será furto.Assim, por exemplo, está furtando o motorista do caminhão que,responsável por distribuir gasolina para os postos, quebra o lacre esubtrai parte da gasolina.Obs.: Ladrão que furta ladrão comete furto, mas o sujeito passivo é avítima do primeiro furto.FURTO E PECULATO (?) Funcionário público que furta bem público comete furto oupeculato?(R) Depende.

I. Se a função pública facilitou a subtração: É peculato furtoou peculato impróprio (art. 312, §1º, do CP6).

II. Se a função pública não facilitou a subtração: É furto (art.155, do CP). Ex.: Ele entrou de madrugada pelo telhado (afunção não ajudou em nada).

* MalversaçãoÉ o peculato de bem particular.Para que ocorra, deve preencher dois requisitos:

I. O bem deve estar sob a guarda ou custódia da

Administração pública;II. A função pública deve facilitar a subtração. Ex.: O

investigador de polícia que subtrai peças de um carroapreendido na delegacia comete peculato furto.

2. OBJETO JURÍDICO E SUJEITO PASSIVO Objeto jurídico:  É o direito ou valor protegido pela norma 

penal . Todo crime, sem exceção, tem objeto jurídico.

6 Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de quetem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ouconcorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidadede funcionário.

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Sujeito passivo: É o titular do objeto jurídico .

No furto, a posição dominante é a de que o objeto jurídico é apropriedade e a posse (e não apenas a propriedade, pois a lei fala empatrimônio).

Logo, os sujeitos passivos são o proprietário e opossuidor.DETENTOR 

O detentor não é sujeito passivo do furto.Isso porque a detenção não gera efeito jurídico, logo, não

integra o patrimônio de ninguém.

Detentor é quem tem contato físico com a coisa mediante subordinação ou por mera permissão ou tolerância . Ex.: O empregado.Peço para o empregado depositar um dinheiro no banco e, no caminho,ele é furtado. Ele será arrolado no processo como testemunha e nãocomo vítima.

Vítima não comete crime de falso testemunho e nem crime dedesobediência, caso não compareça às declarações.

Diferentemente, a testemunha, se mentir, pratica crime de falsotestemunho. E, se não comparece para depor, comete crime dedesobediência.Obs.: Posição minoritária, defendida por CELSO DEL MANTO, entendeque detentor também seria vítima de furto. FMB discorda. Isso porqueo patrimônio do detentor não é lesado.

Há furto ainda que a vítima não seja identificada. O queimporta é que a coisa seja alheia. Ex.: Furtam a carteira da vítima, quesome no meio da multidão. Mas o ladrão é preso.OBJETO MATERIAL DO FURTO 

É a coisa alheia móvel.Atenção! Subtração de pessoa é crime de sequestro (arts. 1487 ou

249 do CP8). Não é furto.

7 Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado:Pena - reclusão, de um a três anos.§ 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:I  – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos;   (Redaçãodada pela Lei nº 11.106, de 2005) II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital;III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias.IV  – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005) V – se o crime é praticado com fins libidinosos. (Incluído pela Lei nº 11.106, de 2005) § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:Pena - reclusão, de dois a oito anos.8 Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou deordem judicial:Pena - detenção, de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento de outro crime.

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No entanto, em algumas hipóteses, é possível furto de partes

de uma pessoa. Ex.: Furto de sangue armazenado em bolsa; furto decabelo para venda a uma confecção de perucas. O cabelo destacado docorpo é coisa móvel de valor econômico.Obs.: Cortar o cabelo de alguém apenas para humilhar configura injúriareal (art. 140, §2º, do CP9).

De outro modo, se não o corte é para humilhar nem paravender, alguns dizem que seria lesão corporal. Para FMB, este últimocaso tratar-se-ia de contravenção de vias de fato.

Mesmo tratamento recebe o furto de partes artificiais da pessoa

(olho de vidro, perna mecânica, orelha de borracha etc).No entanto, subtração de tecidos ou órgãos do corpo, não éfurto. É crime da Lei n.º 9.434/97.SUBTRAÇÃO DE COISA 

Só há furto se a coisa for corpórea, isto é, se a coisa tiver umaexistência física.

Os bens incorpóreos, isto é, os direitos, não podem serfurtados, pois eles só existem intelectualmente. É, entretanto, possívelfurto da base física que os representa. Ex.: Furto do instrumento docontrato (papel).

Não há furto:I. Subtração de droga: É crime de porte de drogas (Lei n.º 11.

343/06, art. 3310).

§ 1º - O fato de ser o agente pai ou tutor do menor ou curador do interdito não o exime de pena, se destituído outemporariamente privado do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda.§ 2º - No caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode deixar deaplicar pena.9 Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:(...)§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se consideremaviltantes:Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.10 Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter emdepósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda quegratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta,traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ouregulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;

(?) É possível furto de coisa ilícita?Sim, em alguns casos. Exs.: Furto de máquina caça-níquel e furto demercadoria contrabandeada. Porém a vítima será processada pelacontravenção de jogo de azar e pelo contrabando, respectivamente.

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II. Subtração de arma de fogo: É crime de arma de fogo (Lei

n.º 10.826/03, art. 1611

).III. Res nullius : É a coisa que nunca teve dono.IV. Res derelicta : É coisa abandonada pelo dono.

Obs.: Há controvérsia em relação à violação de sepultura para subtrair oouro da arcada dentária do esqueleto.

I. 1ª corrente: Não há furto, pois esse ouro é res derelicta  (coisa abandonada pelos herdeiros). Logo, o agenteresponde apenas pelo art. 210 do CP12 (crime de violação desepultura).

II. 2ª corrente (dominante): É furto qualificado pela destruiçãode obstáculo, absorvendo o crime do art. 210 do CP, porforça do princípio da consunção (um dos princípios que regeo conflito aparente de normas e pelo qual um crime é“absorvido por outro”). 

Neste último caso, os sujeitos passivos do furto são osherdeiros, por força do princípio da saisine  (com a morte, a herançaimediatamente se transmite aos herdeiros). Logo, não há que se falarem res derelicta .

II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantasque se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ouconsente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ouregulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa.§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem:Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa,sem prejuízo das penas previstas no art. 28.§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços,vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não sededique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.11 Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ourestrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;II  – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restritoou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;III  – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo comdeterminação legal ou regulamentar;IV  – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal deidentificação raspado, suprimido ou adulterado;V  – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ouadolescente; eVI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.12 Art. 210 - Violar ou profanar sepultura ou urna funerária:Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

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Além disso, subtração de cadáver ou parte dele é crime do art.

211 do CP13

, salvo se o cadáver pertencia ao patrimônio de algumainstituição (museu, faculdade etc). Neste caso, será furto.FURTO DE COISA MÓVEL 

O conceito de coisa móvel abrange os semoventes (animais) e coisas que podem ser removidas de um local para outro.

O furto de gado chama-se abigeato.

Navios e aeronavesO CC/02 presume que são imóveis certas coisas móveis, comonavios, aeronaves, material de construção demolida etc.

Tais presunções civilísticas, contudo, não se aplicam aodireito penal. Logo, a subtração de tais bens é furto.Energia

O § 3º do art. 155 prevê uma norma penal explicativa. Por ele,equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra energia de valor econômico .

Logo, subtrair energia elétrica é furto. Também é furtoinstalação clandestina de TV à cabo ou qualquer outro tipo deenergia, inclusive de água.

Pessoa que introduz a égua no plantel do vizinho para sercruzada por cavalo de raça comete furto de energia genética. O crimese consuma quando o líquido espermático é introduzido na fêmea,independentemente de fecundação, pois o lucro não é requisito dofurto.

3. ELEMENTOS SUBJETIVOS DO FURTO É o dolo. Não existe furto culposo.

Se por culpa, o sujeito subtrai um bem alheio pensando que épróprio, não há furto. É erro de tipo (art. 20 do CP14). Mas, se o sujeitodeixar de restituir, será crime de apropriação indébita.

13 Art. 211 - Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele:Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.14 Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo,se previsto em lei. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Descriminantes putativas (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse,tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crimeculposo.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Erro determinado por terceiro (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Erro sobre a pessoa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 

(?) É possível furto de uma árvore ou de uma casa?(R) Sim, pois, uma vez arrancadas do solo, tornam-se bem móveis.

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O dolo no furto exige dois requisitos:

I. Animus furandi : É a vontade de subtrair . Se a vontadefosse ressarcir, não seria furto, mas exercício arbitrário daspróprias razões (art. 345 do CC/0215). Ex.: Credor furta odevedor no valor que este lhe deve. É exercício arbitrário daspróprias razões.

II. Animus rem sibi habend :  É o fim do apoderamento definitivo da coisa . É o “para si ou para outrem”. É o doloespecífico do furto. Quem furta com a intenção derestituir, não comete crime. Isso é furto de uso.

FURTO DE USO Exige dois requisitos:a. Subtração momentânea de coisa infungível.b. Pronta restituição da coisa logo após o uso.

Exemplos: Furto um livro, tiro cópia e devolvo. Furto umacamisa, vou à festa e devolvo depois. Furto um carro ou uma moto, paradar um giro na cidade, e devolvo.

O furto de uso é fato atípico (mero ilícito civil), salvo noCódigo Penal Militar.

Se o bem for fungível, é crime de furto. Ex.: dinheiro (aindaque devolva, é crime de furto). No furto de uso de carro, se devolvercom o tanque vazio, responde pelo furto de gasolina, pois é bemfungível.* Furto de uso para fim criminoso

A jurisprudência não aceita a tese do furto de uso. Logo, oagente responde pelo furto. Não se pode estimular a conduta. Ex.:seqüestrador furta um carro para fugir da polícia e depois o abandona.

4. CONSUMAÇÃO DO FURTO Há três principais teorias:

I. Teoria da inversão da posse: O furto se consuma quando oagente obtém a posse pacífica do bem, ainda que porpoucos segundos.

* Ocorre a posse pacífica quando cessarem os atos de legítima defesa da posse . Ex.: O ladrão em fuga despistou os perseguidores.

Enquanto os perseguidores estiverem no encalço do ladrão,enxergando-o, não há posse pacífica. É tentativa de furto.

§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, ascondições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.   (Incluído pela Lei nº7.209, de 11.7.1984) 15 Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite:Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.

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II. Teoria da amotio  (dominante): O furto se consuma com a

remoção da coisa, independentemente de posse pacífica. Éadotada no STJ.III. Teoria da ablatio : O furto se consuma quando a coisa é

removida até o local desejado pelo ladrão .

Situação: Um ladrão, durante a fuga, se desfaz do bem antesda posse pacífica. Estava sendo perseguido. É furto consumado, poiso  patrimônio foi lesado. O crime de dano é absorvido, pois opatrimônio já foi lesado com o furto.Atenção! Furto é crime instantâneo (tem momento consumativo certo)e simétrico (o prejuízo da vítima gera a vantagem do ladrão).

Há, contudo, exceção: O furto de energia elétrica é crime

permanente, não instantâneo.5. TENTATIVA (CONATUS ) DE FURTO

Situações: (01) Ladrão enfia a mão no bolso esquerdo davítima, mas a carteira está no direito. Há tentativa.

Mas, e se a vítima não tem nada em nenhum dos bolsos? Ocrime é impossível, apesar de NELSON HUNGRIA dizer que seriatentativa de furto.

(02) Também é crime impossível a hipótese de o ladrão entrarnuma casa vazia. Há, contudo, quem diga que ele responde por violação

de domicílio.(03) Mulher é observada pelos fiscais furtando nosupermercado e é presa em flagrante quando já havia deixado o local.Aqui há controvérsia:

I. 1ª corrente:  Crime impossível, pois não era possível queela consumasse o furto nessas circunstâncias (art. 17 doCP16). Há ineficácia absoluta do meio.

II. 2ª corrente (dominante): Tentativa de furto. Isso porque anão consumação se deu por circunstâncias alheias à

16 Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, éimpossível consumar-se o crime.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 

(?) É possível consumar o furto dentro da casa da vítima? (R) Em regra não, pois, pelo CC/02, a vítima tem a posse dos bensque estão na sua casa. Logo, enquanto o ladrão está na casa davítima, é tentativa.

Exceção: Empregada subtrai jóias da patroa e guarda em sua bolsaou em seu quarto. É furto consumado.

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vontade do agente. Houve perigo de consumação, na

medida em que ela poderia não ter sido flagrada.ATO DE EXECUÇÃO Tentativa exige ato de execução do crime. Se o ato for

apenas preparatório, é fato atípico.O que é ato de execução?

I. Teoria formal objetiva: Só é ato de execução aquele queinicia a ação típica. Isto é, o núcleo do tipo, o verbo. Logo,só há tentativa quando o agente começa a subtrair, isto é,quando ele toca na coisa. Antes de ele tocar na coisa, não

há tentativa. O fato é atípico, ainda que ele já esteja dentroda casa da vítima ou arrombando ou então escalando.II. Teoria objetiva individual (dominante): São também atos

de execução aqueles imediatamente anteriores ao núcleo dotipo, desde que revelem de modo inequívoco o propósitocriminoso do agente. Logo, há tentativa se o ladrão já estádentro da casa ou se já começou a arrombar ou se está notelhado prestes a descer.

QUESTÃO DAS QUALIFICADORAS Quando inicia a qualificadora, é pacífico que há tentativa.Assim, por exemplo, no caso de arrombamento: Se o agente

começou a arrombar, escalar etc, há tentativa.Situação: Ladrão surpreendido na área externa da casa, isto é

no quintal: Em regra não há tentativa. Este ato por si só não revelaintenção de furtar. Se, porém, pulou o muro ou arrombou o portão, étentativa de furto, pois ele iniciou as qualificadoras.FURTO FAMÉLICO E FURTO EM ESTADO DE PRECISÃO 

Furto famélico: É aquele para   saciar a fome . É estado denecessidade? Em regra não. Salvo se for o único meio de saciar a fome.

Furto em estado de precisão:  É o praticado por desempregado, por pessoa que se encontra em dificuldades financeiras .Ex.: Furto a eletrodomésticos etc.