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OFICINA DE CIRCO: UM LOCUS DE REFLEXÃO SOBRE A FORMAÇÃO EATUAÇÃO DO/A PEDAGOGO/A À LUZ DE PAULO FREIRE
Ibrantina Guedes de Carvalho Lopes1 Targelia de Souza Albuquerque2 Maria Edjane Paixão3
RESUMO
Este artigo problematiza a formação dos/as educadores e sua atuação comosujeitos históricos no Curso de Licenciatura em Pedagogia, tendo como questãocentral: em que medida a instituição colabora com a formação de professores/as
para a educação básica em uma perspectiva de democracia cidadã? Com base nosfundamentos da Pedagogia de Paulo Freire foi organizada uma metodologia deOficina de Circo, em uma perspectiva interdisciplinar, na qual cada participante seintegrasse à proposta como coautor. Os objetivos desse trabalho foram: criarespaços de reflexão sobre a formação e atuação do/a pedagogo/a, e articular aatividade lúdica à reflexão crítica de natureza acadêmica, expressando os
pensares, saberes e sentires em diferentes linguagens. A metodologia da oficina decirco com a ancoragem na Pedagogia Freireana comprovou que se pode construirum trabalho lúdico no Ensino Superior, articulando teoria e prática científica e
pedagógica; elaborar um plano coletivo e organizar atividades, integrandoestudantes e professores/as do Curso de Pedagogia; reconhecer a identidade decada sujeito em um processo de formação de professores/as; vivenciar a alegriaque energiza e levanta a autoestima, favorecendo aos (às) mais tímidos (as) seincluírem às atividades, sentindo-se parte do grupo e aprender a trabalhar emequipe em uma perspectiva democrática. A avaliação da Oficina de Circo pelos/asseus/suas participantes informou que a sua validade como estratégia de mediaçãodas relações interpessoais no ensino superior; de articulação entre as basesteóricas da formação do/da professor/a e uma práxis emancipadora, concretizadaatravés do diálogo e de ações criativas e, especialmente, de reconhecimento decada um/a e do grupo como coautores da prática pedagógica.Palavras-chave: Formação docente – Pedagogia – Identidade profissional –
Paulo Freire
1 Mestre em Comunicação, UFPE; professora da disciplina Experiências Musicais da FaculdadeSanta Catarina; sócia do Centro Paulo Freire, educadora musical da ETE de Criatividade Musical.E- mail: [email protected]
2 Doutora em Educação, pela PUC/SP; Coordenadora do Núcleo Paulo Freire da Faculdade SantaCatarina; Membro da Cátedra Paulo Freire da UFPE e Sócia do Centro Paulo Freire; professoravisitante da FACHO; professora aposentada da UFPE. E-mail: [email protected]
3 Especialista em Direito Educacional e em Administração e Planejamento Escolar; pedagoga da
Secretaria de Educação de Pernambuco, técnica educacional da Secretaria de Educação de Recife, professora das disciplinas Metodologia da Alfabetização e Princípios da Administração Escolar daFaculdade Santa Catarina. E-mail: [email protected]
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INTRODUÇÃO
A educação assume um papel estratégico na sociedade contemporânea, emespecial, quando o conhecimento se configura como “moeda de troca” nas
transações nacionais e internacionais e nos modos em que povos e nações
organizam e definem suas identidades no mundo globalizado.
Nesse cenário, as instituições de ensino superior, em especial, as
responsáveis pela formação de professores/as, vêm sendo colocadas em xeque, em
virtude da sua responsabilidade com a constituição de educadores/as- cidadãos/ãs
capazes de colaborarem com a construção de um projeto social comprometidocom a emancipação das classes trabalhadoras e de seus filhos e suas filhas, com
vistas à melhoria da qualidade social.
Problematizar a formação dos/as educadores e sua atuação como sujeitos
históricos, autores e/ou coautores desse projeto nos cursos de Licenciatura, com
foco no Curso de Pedagogia se faz emergente.
Este artigo parte do ensinamento freireano de que a educação não muda o
mundo, mas sem esta, a transformação não acontecerá (FREIRE, 2007). Parte-se
assim do pressuposto de que a educação substantivamente democrática pode ser
um dos pilares da construção de uma sociedade digna, fraterna e justa.
Neste contexto, a Instituição de Ensino Superior pode se constituir como um
dos importantes locus de formação de professores/as, desde que se transforme em
um espaço de problematização de seus fundamentos e práticas educativas. Há,
pois, necessidade de uma revisão curricular e da criação de novas oportunidades
de diálogo entre os professores/as professoras formadores/as e estudantes, no
cotidiano institucional, para que sejam revistos os processos de formação
instalados e novas estratégias educacionais em uma perspectiva emancipatória
possam surgir.
Este é o novo desafio que se impõe as Instituições de Ensino Superior, com
destaque para o Curso de Pedagogia: problematizar o conhecimento que nela é
veiculado, produzido, sob a forma de conhecimentos científicos, tecnológicos e
culturais, traduzidos em valores e atitudes, que se concretizam na IES e nas
instituições sociais a ela vinculadas. A questão que se coloca é a seguinte: em que
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medida a instituição colabora com a formação de professores/as para a educação
básica em uma perspectiva de democracia cidadã?
Este foi o contexto motivador, para três professores (uma professora de
Teoria e Prática de Ensino e Currículo e Avaliação no Ensino Fundamental, uma
professora de Música e um professor de Teatro) do Curso de Pedagogia da
Faculdade Santa Catarina, localizada no Bairro de Casa Amarela, Recife/PE
ousarem reinventar Paulo Freire e criar espaços para aprofundamento da seguinte
questão-problema: Como Paulo Freire pode contribuir para pensarmos a formação
e atuação dos profissionais de Educação em uma perspectiva emancipatória?
Construir uma metodologia de Oficina de Circo em que cada participante
fosse coautor da proposta; criar espaços de reflexão sobre a formação e atuação
do/a pedagogo/a à luz de Paulo Freire e demonstrar ser possível, no ensino
superior, a articulação entre a atividade lúdica e a reflexão crítica de natureza
acadêmica foram os principais objetivos deste trabalho.
1. Fundamentos teóricos e metodológicos
Ao se falar em formação docente e, em especial, dos processos de formação
de professores para a Educação Básica, chama-se a atenção tanto para a formação
sob a responsabilidade de uma instituição de ensino superior, como a que se
desenvolve em outros espaços formativos, articulados ou não a esta, como: os
processos de formação continuada no interior das escolas; aqueles coordenados
pelos poderes públicos, através de seus órgãos de gestão educacional, em níveis
municipal, estadual e governamental; e como parte das lutas de resistência ativa e
cidadania, nos movimentos sociais.
Nesse sentido, questiona-se a prática educativa que se realiza na instituiçãode ensino superior, em especial nos cursos de formação de professores/as, a
exemplo do Curso de Pedagogia, mas também em outros espaços extraescolares.
Porém, nesse momento, focam-se os desafios que estão postos para este curso e,
em sentido mais amplo, para a formação de educadores/as. Isto exige uma
reflexão profunda sobre o papel da educação na sociedade contemporânea e como
cada estudante e/ou professor se sente corresponsável pelo projeto emancipação
social.
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Paulo Freire tem contribuído com os seus exemplos de vida e suas obras
dentro e fora do Brasil, com destaque para a Educação como Prática da Liberdade,
Pedagogia da Autonomia, Educação na Cidade, Política e Educação, Essa Escola
Chamada Vida (coautoria com Frei Betto) e Sobre Educação Diálogos (em
parceria com Sergio Guimarães), para que se possa elaborar um arcabouço teórico
e metodológico profícuo para se pensar a formação de professores/as –
educadores/as em diferentes espaços sociais.
Partindo do pressuposto de que é possível articular uma reflexão científico-
pedagógica sobre a formação e atuação do/a pedagogo/a à luz de Paulo Freire com
uma atividade lúdica, construiu-se a metodologia da Oficina de Circo como um
momento privilegiado de reflexão e prática da Pedagogia de Paulo Freire. Os
conceitos-chave para a organização da fundamentação teórica e metodológica
foram: humanização, diálogo, criatividade, criticidade, ética, estética e esperança.
Este diálogo foi ampliado com outros autores na área de educação e de Artes, em
especial com estudiosos do Teatro e Circo, Caramês e Silva (2001), quando
demonstram como a história do circo transita entre os interesses do capital e uma
proposta emancipadora de transformação cultural e social. Hoje tem espetáculo?
A contribuição teórica de Caramês e Silva (2001) se dá nas aprendizagens
da Cultura Corporal a partir da vivência das artes circenses acrescidas de outras
aprendizagens no plano das relações sociais, afetivas e discussões de valores que
se efetivaram, sobretudo, no pleno desenvolvimento das habilidades motoras. O
circo, as cores, a alegria, a descontração, a magia. A arte circense os elementos
constitutivos da produção do espetáculo possibilitaram a construção da proposta
de extensão vivenciada pelas autoras na Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) na área de Educação Física Escolar.
Na Música, procurou-se estabelecer o diálogo com Brito (2011) queapresenta o educador musical Koellreuttter e a sua contribuição da prática
educativa focada na autonomia e humanização do/a estudante enquanto sujeito do
processo. Hans-Joachim Koellreutter era alemão, mas escolheu o Brasil como
pátria e aqui viveu entre os anos de 1937 a 2005. O educador musical muito
contribuiu para o ensino de música no país.
A proposta pedagógica pensada e desenvolvida por Koellreutter apresenta
como princípio fundante “a formação e exercício da cidadania do ser humanoíntegro e integrado” (Brito, 2011, p.28). O ser humano, portanto, constitui-se no
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objetivo maior da educação musical. Os princípios pedagógicos que orientam a
docência do educador musical dizem respeito à curiosidade epistemológica que se
constroi no diálogo, na escolha significativa do currículo e na prática do
questionamento constante.
Esse educador ainda propõe a atualização dos conceitos musicais de forma
que os elementos constitutivos da música do século vinte estejam presentes na
educação musical. Koellreutter propõe o aprendizado musical interdisciplinar em
diálogo com as outras áreas do conhecimento e elege a improvisação como
ferramenta para a construção do trabalho pedagógico musical (Brito, 2011, p.20).
O educador musical rompe com a proposta do ensino de música tecnicista,
racionalista e positivista. Nesse sentido, o educador dialoga com Paulo Freire no
que diz respeito ao pensamento epistemológico que corrobora para a
humanização.
2. Saberes necessários à formação de professores/as: contribuições de Paulo Freire
Quando abordamos a questão da formação docente, precisamos, em primeiro lugar,
responder à pergunta: qual o projeto de sociedade e de educação que sustenta esta formação?
Freire (2000b, p.101-2) nos ensina por qual educação/escola devemos lutar e como (re) criá-la
substantivamente democrática. Isto representa uma tela crítica para a leitura da qualidade da
escola. Ele coloca a formação de professores (as) como um de seus constitutivos básicos.
Ressalta que há “necessidade de formação permanente dos professores e professoras”, pois,
estes/as poderão ser os/as mediadores/as da transformação da escola, em parceria com os/as
educandos/as e suas famílias.
Como destaca Albuquerque (2006) em diálogo com Paulo Freire, é necessário garantir
uma formação aos (às) docentes, que além de possibilitar uma leitura crítica de mundo, os/asinstrumentalize a nele intervir, a partir de uma avaliação ética e crítica de “sua presença no
mundo”, das políticas, diretrizes e ações educacionais, possibilitando autonomia na
elaboração de projetos pedagógicos.
Reafirmamos, assim, ser necessária também a abertura constante da escola e de
seus/suas educadores/as à reorientação curricular, pois, a educação na sociedade
contemporânea exige um acompanhamento crítico das novas exigências sociais, para se
recriar e criar práticas pedagógicas, tendo como horizonte a transformação da sociedade e asuperação das injustiças.
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Os (As) professores (as) precisam reconhecer que a escola não é o único espaço de
veiculação do conhecimento, mas que esta representa um locus privilegiado de realização de
práticas pedagógicas que garantam aos (às) seus/suas estudantes o direito de aprender, em
consonância com uma perspectiva de formação do sujeito crítico, consciente de suas
possibilidades de atuação no contexto social.
Paulo Freire reforçava que a democratização do poder dos professores também, nos
seus modos de ensinar e avaliar, poderia abrir novas possibilidades de interação social,
dentro e fora de sala de aula. Isso promoveria aos estudantes oportunidades de preencher as
lacunas curriculares – herança histórico-cultural, concretizando ações pedagógicas voltadas à
superação dos obstáculos em seu processo de conhecer e restituindo-lhes o direito de
cidadania. (Freire, 2000a e 2000c).
A relação ensinar e aprender para Paulo Freire se constroi nesse contexto.
Ela precisa ser compreendida na sua historicidade (Freire, 2000b), pois, são seres
humanos que se constituem como tais num processo constante de solidariedade e
de múltiplas relações, portanto estar disponível a novas aprendizagens, no sentido
mais abrangente do termo, é condição fundamental ao ensino.
Nessa perspectiva, Freire (2000c) apresenta princípios para se compreender programas
e processos de formação de educadores (as) e orientar o exercício da ação docente. No
período em que foi gestor da Secretaria Municipal de Educação da cidade de São Paulo,
constituiu uma equipe multidisciplinar, para organizar um programa arrojado de formação de
educadores (as). Os princípios básicos que embasaram esse programa de formação de
educadores (as) foram:
1) O educador é o sujeito de sua prática, cumprindo a ele criá-la e recriá-la.
2) A formação do educador deve instrumentalizá-lo para que ele crie e recrie a sua
prática através da reflexão sobre o seu cotidiano.
3) A formação do educador deve ser constante, sistematizada, porque a prática se faz ese refaz.
4) A prática pedagógica requer a compreensão da própria gênese do conhecimento, ou
seja, de como se dá o processo de conhecer.
5) O programa de formação de educadores é condição para o processo de reorientação
curricular da escola.
6) O Programa de Formação de Educadores terá como eixos básicos: a fisionomia da
escola que se quer, enquanto horizonte da nova proposta pedagógica; a necessidade de suprirelementos de formação básica aos educadores nas diferentes áreas do conhecimento humano;
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a apropriação, pelos educadores, dos avanços científicos do conhecimento humano que
possam contribuir para a qualidade da escola que se quer. (FREIRE, 2000 c, p.80).
No livro: “Sobre Educação: Diálogos”, em parceria com Sérgio Guimarães, Paulo
Freire chama a atenção para o fato de que a instituição escolar tende a colocar os/as estudantes
em uma régua, ou mesmo, numa linha de partida, como se os sujeitos fossem iguais.
Isto também orienta os modos de ensinar e de aprender, muitas vezes, negando a cada
educando/a o direito de ser respeitado na sua singularidade e autonomia. É como se a escola
concebesse um aluno/uma aluna idealizado/a e quer que ele/ela se comporte de acordo com o
que se projetou para este/esta. (FREIRE e GUIMARÃES, 1982).
No livro Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática docente,
cuja primeira edição data de 1996, Paulo Freire destaca três eixos que foram
tomados como referência para este estudo: “Não há docência sem discência”;
“Ensinar não é transferir conhecimento” e “Ensinar é uma especificidade
humana”. Este livro, nas suas dimensões ontológica, epistemológica e política
sintetiza a essência da obra freireana elencando o conjunto de saberes necessários
aos docentes na construção da prática educativa humanizadora. O livro instiga o
movimento dialético entre o ensinar e o aprender que se dá na passagem da
curiosidade ingênua à curiosidade epistemológica sem abrir mão tanto das
dimensões éticas quanto estéticas. Para Freire, neste movimento de construção do
pensar certo, faz-se necessária a coerência na qual decência e boniteza estejam de
mãos dadas.
Na discussão estética que emerge em Educação como Prática de Liberdade,
Freire ressalta a necessidade de que a criticidade seja capaz de desencadear outros
atos criadores, numa perspectiva que possibilite a integração entre arte e
educação. Partindo da Antropologia, Freire articula os conceitos de cultura e
natureza, demonstrando que homens e mulheres são produtores de cultura, portanto capazes de transformar que está dado, em nível de natureza, e construir a
história. Nesse sentido, o autor discute a necessidade do diálogo na perspectiva de
que educadores e educandos assumam a coautoria do projeto educacional no qual
se inserem. Freire rejeita, portanto as fórmulas doadas, autoritárias, verticais.
No livro Pedagogia do Oprimido, Freire discute a humanização enquanto
categoria fundante da ação educacional. Pensar na educação com os homens e
mulheres e não para eles e elas só é possível através do diálogo, atividade
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essencialmente humana. Freire anuncia que sem a possibilidade do diálogo não
pode haver desenvolvimento humano, não pode haver educação.
Na perspectiva emancipatória de Freire, a educação se concretiza na
exposição da palavra de todos/as, pois é necessário considerar que os/as
educandos/as e educadores/as tem tanto algo a aprender e como também a ensinar.
O diálogo permite a construção da relação horizontal, nunca autoritária, muito
pelo contrário, democrática, solidária e participativa. Mas isso se realiza no
diálogo norteado pela crença do ser mais, sendo este um fundamento na ação de
educar:
O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para
pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu. “Esta é a razão por que não é possível o diálogo entre os que querem a pronúncia do mundoe os que não querem; entre os que negam aos demais o direito de dizer a
palavra e os que se acham negados deste direito” (Freire, 2005, p. 91).
Uma educação para transformação, para a liberdade e para a autonomia se
constrói na instauração do processo dialógico e humanizador que demanda
politicidade, já que não existe ação educativa neutra. Para Freire, educar é um ato
político, permeado de concepções, de ideiais, de interesses, de intenções, nunca
neutra, essa ação não pode ser dissociada da consciência crítica que permite alibertação e a transformação, uma educação problematizadora, questionadora,
livre para pensar e lutar pelo interesse do coletivo, nunca por interesses
individuais ou de grupos. A consciência crítico-reflexiva é a condição para que se
construa uma práxis emancipatória nas quais as ações são gestadas pela autoria e
coautoria dos sujeitos humanos envolvidos que possibilita uma nova práxis:
A consciência crítica é a representação das coisas e dos fatos como se dão naexistência empírica. Nas suas correlações causais e circunstâncias. Aconsciência ingênua, se crê superior aos fatos, dominando-os de fora e, porisso, se julga livre para entendê-los conforme melhor lhe agradar. Aconsciência mágica, por outro lado, não chega a acreditar-se superior aosfatos, dominando-os de fora, nem se julga livre para entendê-los comomelhor agradar. Simplesmente os capta, emprestando-lhes um poder superior,que a domina de fora e a que tem, por isso mesmo, de submeter-se comdocilidade. É próprio desta consciência o fatalismo que leva ao cruzamentode braços à impossibilidade de fazer algo diante do poder dos fatos, sob osquais fica vencido o homem (Freire, 2007, p.113).
Nesse sentido, a ação educativa se impõe enquanto utopia, como
possibilidade. É ingênuo pensar que a educação sozinha poderá suprimir as
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desigualdades sociais. No entanto, se entendemos o homem na sua incompletude,
como ser inconcluso que é, podemos afirmar que a educação problematizadora
possibilita que educador/a e educando/a reflitam e dialoguem sobre o objeto do
conhecimento de forma a recriá-lo. O pensar certo, na perspectiva freireana,
concretiza-se na profundidade, na compreensão e interpretação dos fatos.
Uma educação que pretende formar para a autonomia necessita acreditar no
futuro como algo que pode mudado e conceber a História como possibilidade e
não como determinação. O papel dos homens na sociedade não é o de constatação
da realidade, mas de indagação desta e intervenção para promover inovações. A
constatação serve e faz sentido, não apenas para adaptar os homens e mulheres,
mas para intervir na realidade. A força de desenvolver a autonomia exige a
superação de limites. Por isso, é preciso encarar o futuro como problema, que a
vocação ontológica para ser mais em processo, sejam fundamentos para não
aceitar as injustiças do mundo.
Uma educação que propõe desenvolver a criticidade e a criatividade não
pode estar a serviço da reprodução de uma sociedade desigual, injusta e que
perpetua a desumanização das pessoas. Se o que nos faz seres humanos é a
capacidade de ser mais, é isso que nos constituem homens e mulheres, então não
podemos aceitar uma educação que não seja para constante transformação de uma
sociedade que seja humana e ética.
A instituição de Ensino Superior, ao assumir a formação de educadores/as à luz de
Paulo Freire, seja em Curso de Pedagogia ou desenvolvendo processos de formação
continuada, precisa investir em um currículo emancipatório que se realize dentro e fora de
sala de aula. Nesse sentido, o desenvolvimento de metodologias que desafiem a concretização
do diálogo crítico acadêmico aliado à criatividade e a amplos processos de interação significa
também uma estratégia de formação de docentes em uma perspectiva freireana.A proposição de Oficinas pedagógicas, nas quais os/as participantes sejam autores e
coautores das ações planejadas e desenvolvidas significam espaços educativos, produtores de
aprendizagens articuladoras dos “saberes de experiência feitos” aos conhecimentos
acadêmicos; de histórias de vida à produção coletiva de novas vivências. Esta foi a base
teórica que orientou a organização da Oficina de circo: um locus de reflexão sobre a
formação e atuação do/a pedagogo/a à luz de Paulo Freire.
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3. Metodologia
A Oficina de Circo reuniu estudantes do Curso de Pedagogia da Faculdade
Santa Catarina durante a realização da Semana Pedagógica, que ocorre no mês de
maio de cada ano. Em 2012, participaram 20 estudantes e uma professora, além
dos três docentes coordenadores. Em 2013 a participação foi ampliada com 30
estudantes e quatro professores, dos quais dois de diferentes cursos da instituição.
Uma das docentes do Curso de Pedagogia (professora das disciplinas
Metodologia da Alfabetização e Teoria e Prática de Ensino nas primeiras séries da
Educação Fundamental), após o seu engajamento à proposta, participou da
pesquisa de avaliação da Oficina de Circo, integrando-se como coautora deste
artigo.
A metodologia da Oficina se caracterizou por oito movimentos:
1º) inscrição por adesão dos participantes;
2º) planejamento coletivo da oficina;
3º) exposição dialogada sobre a história do Circo e a sua relação com os
modos de organização e produção cultural e social;
4º) dinâmicas para reconhecimento de cada participante como coautor do
espetáculo (articulação dos saberes de experiência feitos);
5º) organização do espetáculo do Circo e vivência dos papéis assumidos e
6º) articulação entre a vivência e os fundamentos da Pedagogia de Paulo
Freire;
7º) Avaliação formativa com sistematização e análise dos depoimentos
registrados por escrito e,
8º) elaboração de artigo para a socialização com todos/as participantes edivulgação ampla para críticas, aperfeiçoamentos e reinvenção.
A seguir detalharemos as principais ações de cada “movimento”.
1º) Inscrição por adesão dos participantes – a inscrição foi realizada com
antecedência e aberta aos/às docentes do Curso de Pedagogia. Percebeu-se, no
entanto, que houve interesse tanto de docentes como estudantes dos três Cursos
que funcionam na instituição: Administração, Ciências Contábeis e Pedagogia.
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Por razões de choque de horário com as oficinas específicas, o grupo ficou
formado com alunos/as do Curso de Pedagogia e mais quatro professores/as (dois
de diferentes cursos e duas do Curso de Pedagogia), além das docentes que
coordenavam os trabalhos.
2º) Planejamento coletivo da oficina – As coordenadoras da Oficina
mobilizaram alguns/algumas estudantes a colaborarem com materiais que
poderiam ser utilizados na Oficina de Circo, além dos já existentes e fornecidos
pela instituição. A professora de Música levou alguns instrumentos de percussão
para a organização da “Bandinha do Circo”. Estas confirmaram a sua participação
na oficina. Foram apresentados ao grupo os passos da Oficina para que o grupo
tivesse a visão do trabalho em sua totalidade. A partir do diálogo sobre o título daoficina, construíram-se os principais objetivos da proposta e organizaram-se
alguns acordos de produção coletiva à luz de Paulo Freire.
3º) Exposição dialogada sobre a história do Circo e a sua relação com os
modos de organização e produção cultural e social – com o uso do Power Point
foram sendo projetadas lâminas que estimulava a reflexão sobre a história de
Circo e sua relação com os modos de organização social. O grupo participou de
uma viagem interativa sobre os diferentes tipos de espetáculos e personagens.
4º) Dinâmicas para reconhecimento de cada participante como coautor
do espetáculo (articulação dos saberes de experiência feita) – Foram
trabalhadas dinâmicas corporais e de relaxamento corporal e, especialmente,
facial, para facilitar a construção das personagens. Uma das dinâmicas que mais
atraiu o grupo foi “a construção de uma máscara que ia passando de mão em mão
e criando formas próprias, a partir da criatividade de cada sujeito singular”. Estadinâmica foi não verbal. Após a vivência, o grupo explicava sobre os seus
sentimentos e indagações. Nesse momento, cada participante relatou as suas
expectativas e expôs sobre como gostaria de atuar no circo.
5º) Organização do espetáculo do Circo e vivência dos papeis
assumidos – Foram colocados no chão, artefatos relacionados a um possível
espetáculo circense, entre vários adereços, adornos, objetos consagrados e
vestuário relacionados a personagens do Circo. Cada participante escolheu algum
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objeto que pudesse caracterizar a sua personagem. Foi sugerido que as pessoas
organizassem duplas, trio e colaborassem para que o espetáculo tivesse “a cara do
grupo” e divertisse a todos/as. O grupo foi questionado sobre quais as tarefas que
precisavam ser realizadas coletivamente para que o espetáculo acontecesse. A
partir das respostas, foi organizada uma planilha com as ações e os participantes
que seriam responsáveis por elas. Alguns exemplos podem ser destacados: a
decoração; a ordem de apresentação do espetáculo; a escolha do apresentador do
circo; a organização da “bandinha”, e assim por diante. Uma decisão coletiva foi a
tomada sobre o nome do CIRCO – a sua identidade. Foram sugeridos alguns
nomes e, por unanimidade, a escolha foi por: FASC CIRCUS em 2012 e CIRCO
E MAGIA em 2013.
Entre luzes e cores, animação, concentração, a alegria e o prazer se deram as
mãos... e o espetáculo que uniu mentes, corações e corpos.... aconteceu. O circo
viveu a sua experiência coletiva, respeitando a autonomia de cada sujeito que ali
marcou a sua presença.
6º) Articulação entre a vivência e os fundamentos da Pedagogia de
Paulo Freire – Nesse momento, se organizou uma roda de conversa e nela foram
sendo retomados os constitutivos da Pedagogia de Paulo Freire: politicidade,
criticidade, dialogicidade, criatividade, eticidade e estética, entre outros,
relacionando-os com as vivências e a metodologia da Oficina de Circo. A
mediação das coordenadoras foi fundamental para exercitar a pedagogia da
pergunta, com muitas problematizações a respeito da formação do/a pedagogo/a.
Após, a reflexão coletiva, cada participante se colocou sobre como tinha se
sentido como coautor daquela experiência e qual a relação das práticas vividas
com a sua atuação como profissional da educação básica.
7º) Avaliação formativa com sistematização e análise dos depoimentos
registrados por escrito – Após, a avaliação da Oficina na roda de conversa, foi
proposta uma pesquisa de avaliação na qual educandos/as que vivenciaram a
Oficina de Circo enunciaram as aprendizagens freireanas construídas. Dentre elas
destacam-se a possibilidade de se construir um trabalho lúdico no Ensino
Superior, articulando teoria e prática científica e pedagógica; reconhecer a
identidade de cada sujeito em um processo de formação de professores/as;vivenciar a alegria que energiza e levanta a autoestima, favorecendo aos (às) mais
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tímidos (as) se incluírem às atividades, sentindo-se parte do grupo e aprender a
trabalhar em equipe em uma perspectiva democrática. O material de pesquisa
envolve as visões dos grupos distintos que participaram das oficinas nos anos
2012 e 2013.
8º) Elaboração de artigo para a socialização com todos/as participantes
e divulgação ampla para críticas, aperfeiçoamentos e reinvenção – O grupo
coordenador da Oficina propôs ao grupo a elaboração de um artigo sobre a
experiência para registro “como memória” e para socialização com os/as demais
educadores/as do Curso de Pedagogia e de outros espaços. Reafirmamos, com a
produção deste artigo e a sua socialização interna e externa, que o movimento
dialógico da fase 8 foi realizado a contento.
4. Pesquisa de avaliação: uma análise sobre a visão dos/as estudantes
Assumindo uma perspectiva dialógica e democrática de avaliação (Freire e
Guimarães, 1982), foi realizada a pesquisa de Avaliação, envolvendo os
participantes do primeiro grupo (ano de 2012) e participantes do segundo grupo
(ano de 2013), considerados como um grupo singular em sua totalidade. É
importante ressaltar que a avaliação do primeiro grupo foi realizada na roda deconversa, oralmente, e através dos registros escritos num único momento, no final
da oficina; já no segundo encontro as questões avaliadas foram discutidas em dois
momentos distintos, oralmente no final da oficina e posteriormente foram feitos os
registros escritos.
As questões que permearam o processo avaliativo foram: O que foi
relevante na oficina de circo? Qual a importância dessa oficina para o/a estudante
de pedagogia? O que mudou após participar da oficina? Para a análise das
respostas dos/as estudantes utilizamos como base teórica os princípios da ética, da
estética, da criatividade, da criticidade, da autonomia e do diálogo da teoria de
Paulo Freire. A descrição dos achados permite compreender os constitutivos
freireanos no desenvolvimento de atividades acadêmicas no ensino superior.
Os/As estudantes que participaram da oficina ressaltaram que durante a
vivência foi possível perceber que o resultado final depende da colaboração e das
aptidões, do respeito aos saberes, das negociações de todos/as na construção do
coletivo. Nesse sentido, toda e qualquer forma de expressão humana se dá a partir
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da relação com os outros homens e mulheres e da compreensão do mundo, e isso
não pode ser privilégio de uma classe, mas a possibilidade real de crescimento,
enriquecimento e construção do ser mais, capacidade ontológica dos homens e
mulheres.
Na proposta do circo os participantes precisaram se lançar, assumirem a
autoria na construção do espetáculo. A experiência possibilitou que alguns
participantes superassem as situações limitantes a exemplo da timidez. De acordo
com as respostas dos educandos/as a oficina favoreceu romper com a ideia da
impossibilidade diante da dificuldade, porque foi possível reconhecer que os
obstáculos podem ser superados. Nesse sentido, Paulo Freire aponta a
possibilidade de superação da realidade e transformação da mesma:
A preocupação com os limites da prática, no caso, da prática educativa,enquanto ato político, significa reconhecer, desde logo, que ela tem uma certaeficácia. Se não houvesse nada a fazer com a prática educativa, não havia porque falar dos seus limites. Da mesma forma, não havia necessidade de falardos seus limites se ela tudo pudesse. Falamos dos seus limites precisamente
porque, não sendo a alavanca da transformação profunda da sociedade aeducação pode algo no sentido desta transformação (Freire, 2001, p.28).
A relevância da oficina para os estudantes que participaram da mesma se dá
na possibilidade de se aprender com ludicidade, prazer e alegria. Isso significa quequando se reconhece a sala de aula enquanto espaço democrático de aprendizagem
é possível o rompimento com a sisudez e o reconhecimento de que mesmo quando
o diálogo epistemológico se processa em torno de temas sérios é possível que
aprender de forma lúdica. A estudante Nº 1 afirma:
Esta oficina de circo foi muito rica para mim. Não fiquei envergonhada nem
surpresa com tudo que iria acontecer, foi tudo lúdico e prazeroso. Para mim
só veio a somar o pouco que sei e que aprendi vou tentar levar para minhavida profissional, junto com meus alunos de forma alegre e atenta a todos os
detalhes sem deixar escapar nada (Estudante Nº 1).
A política de educação que possibilitou a democratização do acesso no
ensino superior exige dos/das educadores/as a construção de estratégias e
situações de ensino e aprendizagem que sejam capazes de respeitar a diversidade e
singularidade de cada sujeito que nela está. Segundo as afirmações dos/as
estudantes, a oficina de circo permitiu que a diversidade e as individualidades
fossem respeitadas. Esta questão da diversidade e singularidade pode serobservada no depoimento do estudante de Nº 6:
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Pela primeira vez fui considerada como uma pessoa importante em um
grupo. Senti que eu fazia parte do espetáculo porque podia dar uma parte de
mim para realizá-lo. A nossa vida é como um espetáculo de circo. Seremos plateia assistindo o quê os outros fazem, ou seremos autores, atores e atrizes,
responsáveis pelo espetáculo. Senti que posso assumir ser diferente. Que não
preciso ser igual para ser aceita pelo grupo, nem para aceitar as pessoas
(Estudante Nº 6).
Desta forma, ressalta-se que os múltiplos saberes que existem na sala de
aula exigem de quem ensina a capacidade de ouvir e identificar o que o outro sabe
e mediar o aprendizado em atitude de respeito ao saber do outro. Já que a prática
pedagógica deve ser permeada pela tolerância, pela solidariedade e criatividade.
Os/As estudantes que participaram da oficina de circo ressaltaram que a
proposta possibilitou refletir sobre a escola como espaço para a construçãocoletiva na qual além do respeito aos saberes, o espaço da sala de aula possibilita
uma ação educativa dialógica, estética e ética, como se pode ver nos depoimentos
a seguir:
Esta oficina nos trouxe muitas oportunidades de refletir nossa prática ecomo podemos, como pedagogos, atuar nos mais diferentes espaços, além de
utilizarmos a arte em suas diversas possibilidades para enriquecer nossas
aulas ( Estudante Nº 3).
E ainda:
Foi um momento único, do qual eu nunca tinha participado e, como
pedagoga, irei levar muito em minhas conquistas daqui pra frente. Esses
conhecimentos são muito importantes, a vivência principalmente, e espero
que não só eu, mas todos que participaram levem as alegrias para o mundo.(Estudante Nº 16).
Os/As estudantes, coautores da oficina de circo, pontuaram a importância de
se oportunizar, de se favorecer a participação de todos e todas nos trabalhos de
produção do conhecimento, isso significa contemplar os diversos saberes,valorizar as individualidades e enriquecer os espaços de aprendizagem. A
estudante de Nº 15 também afirma que a experiência foi vivenciada contemplou
as aprendizagens elencadas: “ Ao participar dessa oficina do circo me surpreendi
com a interação que o grupo teve”. Todos se ajudavam, um torcia pelo outro. O
incentivo foi fundamental. Foi um trabalho muito proveitoso, estou saindo mais
leve do que cheguei (Estudante Nº15).
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A complexidade da docência pelos muitos e diversos elementos que
perpassam este trabalho e a urgência em promover um ensino de qualidade nos
remete, como disseram os/as estudantes participantes da oficina de circo, a
necessidade de se preparar os profissionais da educação permanentemente:
O espetáculo contribuiu para o meu crescimento como professora, pois pude
interagir de forma participativa junto com todos que estavam na oficina. E o
circo é uma forma animada de passar diversos conteúdos que irá contribuir
na minha formação (Estudante Nº 17).
A partir da reflexão de Paulo Freire que a educação se faz valorizando e
respeitando o saber do outro podemos dizer que as afirmações dos estudantes
sobre a oficina da qual participaram são fundamentais para que os professores (as)
formadores/as reflitam a prática docente a fim intervir de maneira critica
possibilitando aprendizagens significativas no ensino superior:
Esta oficina demonstrou que é possível o diálogo, a participação autêntica ea articulação teoria e prática com ludicidade no espaço acadêmico. Areflexão final com base em Paulo Freire me fez descobrir como podemos
reinventar a pedagogia de Paulo Freire na Universidade. Criar, dialogar,
participar e crescer foram coisas que aprendi na Oficina e vou levar para
minha formação como educadora (Estudante nº 6).
Nesse sentido, pensar na formação de pedagogos (as) prescinde refletir
sobre a diversidade de sujeitos envolvidos, isso nos força a prover um espaço de
aprendizagem com qualidade, que seja capaz de acolher e incluir todas as
diferenças, elaborando um projeto de ensino superior que possibilite um futuro
fértil no sentido da construção de uma sociedade justa, igualitária, democrática e
ética.
Considerações finais
A metodologia da Oficina de Circo constituiu-se em um momento
privilegiado de reflexão e prática da Pedagogia de Paulo Freire. Foram muitas as
aprendizagens que resultaram desta vivência e análise crítica dos depoimentos
avaliativos dos participantes, orais e escritos. Dentre elas: a comprovação de que
pode se construir um trabalho lúdico no Ensino Superior, articulando teoria e
prática científica e pedagógica; a possibilidade de se elaborar um plano coletivo eorganizar atividades, integrando estudantes e professores do Curso de Pedagogia;
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o reconhecimento da identidade de cada sujeito em um processo de formação de
professores/as em uma perspectiva freireana; a confirmação de que a alegria
energiza e levanta a autoestima, favorecendo aos (às) mais tímidos (as) se
incluírem às atividades, sentindo-se parte do grupo; a aprendizagem do trabalho
em equipe em uma perspectiva democrática; o acolhimento e o diálogo como
mediadores da proposta e a articulação entre ética e estética: aprendizagens que
dizem respeito a uma Pedagogia da Autonomia como possibilidade concreta no
ensino superior.
A oficina de circo suscitou muitas reflexões relativas às competências
dos/das professores/as, isso significa que é possível no ensino superior superar
paradigmas de uma educação tradicional e forjar uma prática pedagógica capaz de preparar os/as educadores/as de forma consciente do papel social que temos, se
desejamos uma sociedade ética e humana.
Portanto, a avaliação da Oficina de Circo pelos/as seus/suas participantes
informou que a sua validade como estratégia de mediação das relações
interpessoais no ensino superior; de articulação entre as bases teóricas da
formação do/da professor/a e uma práxis emancipadora, concretizada através do
diálogo e de ações criativas e, especialmente, de reconhecimento de cada um/a edo grupo como coautores da prática pedagógica.
REFERÊNCIAS
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necessária. Recife: Centro Paulo Freire e Editora Bagaço, 2006.
BRITO, Teca Alencar de. Koellreutter educador: o humano como objetivo da
educação musical . 2ª ed. São Paulo: Peirópolis, 2011.
CARAMÊS, Aline de Souza; SILVA, Daiane Oliveira. Atividades circenses como possibilidade para a Educação Física. Um relato de experiência. EFDeportes.com,
Revista Digital . Buenos Aires, Año 16, Nº 161, Octubre de 2011.http://www.efdeportes.com/
FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1967.
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___. Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
___. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
___. Pedagogia da Autonomia. 14 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000a.
___. Política e Educação. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2000b.
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___. Educação na Cidade. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2000c.
FREIRE, Paulo e GUIMARÃES, Sérgio. Sobre Educação: Diálogos. V 1. Rio deJaneiro: Paz e Terra, 1982.