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Rev. FAE, Curitiba, v.10, n.2, p.157-164, jul./dez. 2007 |157 Revista da FAE Roberto Candido* José Reinaldo Silva** José Alberto Coraiola*** Álvaro Guillermo Rojas Lezana**** Resumo Empresas que se posicionam na vanguarda precisam estar constantemente preocupadas com a continuidade no atendimento do mercado. Esta preocupação deve ser mais acentuada nas Empresas de Base Tecnológica (EBT), em que o principal ativo é a inovação. Neste cenário é vital que as microempresas de base tecnológica estejam em sintonia com as mudanças no mercado de seus produtos, serviços e tecnologias, uma vez que a precisão com que prospectam o futuro permite orientar novos desenvolvimentos e construir o sucesso. A Metodologia Delphi pode ser uma importante aliada para os trabalhos prospectivos, com a redução de custos e oferecimento de confiabilidade dos resultados. Palavras-chave: microempresas; base tecnológica; Método Delphi; prospecção. Abstract Businesses positioned at the forefront need to be constantly concerned with market service continuity. This concern needs to be even greater in the case of Technology Based Firms, in which the principal asset is innovation. Within this scenario it is vital that technology based micro enterprises be tuned into the changes of its products, services and technologies in the market, since the firms efficiency in prospecting the future allows them to orient new developments and to build their own success. Delphi methodology may be an important tool for prospecting jobs with reduction of costs and offering reliable results. Key words: microenterprises; technology based; Delphi Methods; prospecting. Método Delphi – uma ferramenta para uso em Microempresas de Base Tecnológica Delphi Method: A tool for use in Technology Based Micro Enterprises *Engenheiro Elétrico pela Universidade Federal do Paraná, Mestre em Engenharia Naval - Gestão de Projetos - pela USP, Doutorando em Engenharia Naval - pela USP. Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Gestor da Incubadora Tecnológica da UTFPR - Curitiba. E-mail: [email protected] **Físico pela Universidade Federal da Bahia, mestre em Física pela Universidade Federal de Pernambuco e doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professor assistente da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected] ***Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Doutorando em Engenharia de Produção pela UFSC, Professor de Graduação da UTFPR. E-mail: [email protected] ****Doutor em Engenharia Industrial pela Universidade Politécnica de Madrid, Professor de Graduação e Pós-graduação em Engenharia de Produção da UFSC. E-mail: [email protected]

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ROBERTO CANDIDO

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  • Rev. FAE, Curitiba, v.10, n.2, p.157-164, jul./dez. 2007 |157

    Revista da FAE

    Roberto Candido*Jos Reinaldo Silva**Jos Alberto Coraiola***lvaro Guillermo Rojas Lezana****

    Resumo

    Empresas que se posicionam na vanguarda precisam estar constantementepreocupadas com a continuidade no atendimento do mercado. Estapreocupao deve ser mais acentuada nas Empresas de Base Tecnolgica(EBT), em que o principal ativo a inovao. Neste cenrio vital que asmicroempresas de base tecnolgica estejam em sintonia com as mudanasno mercado de seus produtos, servios e tecnologias, uma vez que apreciso com que prospectam o futuro permite orientar novosdesenvolvimentos e construir o sucesso. A Metodologia Delphi pode seruma importante aliada para os trabalhos prospectivos, com a reduo decustos e oferecimento de confiabilidade dos resultados.

    Palavras-chave: microempresas; base tecnolgica; Mtodo Delphi;prospeco.

    Abstract

    Businesses positioned at the forefront need to be constantly concernedwith market service continuity. This concern needs to be even greater inthe case of Technology Based Firms, in which the principal asset is innovation.Within this scenario it is vital that technology based micro enterprises betuned into the changes of its products, services and technologies in themarket, since the firms efficiency in prospecting the future allows them toorient new developments and to build their own success. Delphimethodology may be an important tool for prospecting jobs with reductionof costs and offering reliable results.

    Key words: microenterprises; technology based; Delphi Methods;prospecting.

    Mtodo Delphi uma ferramenta para uso em

    Microempresas de Base Tecnolgica

    Delphi Method: A tool for use in Technology

    Based Micro Enterprises

    *Engenheiro Eltrico pelaUniversidade Federal do Paran,Mestre em Engenharia Naval -Gesto de Projetos - pela USP,Doutorando em EngenhariaNaval - pela USP. Professor daUniversidade TecnolgicaFederal do Paran, Gestor daIncubadora Tecnolgica daUTFPR - Curitiba. E-mail:[email protected]

    **Fsico pela Universidade Federalda Bahia, mestre em Fsica pelaUniversidade Federal dePernambuco e doutor emEngenharia Eltrica pelaUniversidade de So Paulo.Atualmente professorassistente da Universidade deSo Paulo. E-mail:[email protected]

    ***Mestre em Engenharia deProduo pela UniversidadeFederal de Santa Catarina(UFSC), Doutorando emEngenharia de Produo pelaUFSC, Professor de Graduaoda UTFPR. E-mail:[email protected]

    ****Doutor em EngenhariaIndustrial pela UniversidadePolitcnica de Madrid, Professorde Graduao e Ps-graduaoem Engenharia de Produo daUFSC. E-mail:[email protected]

  • 158 |

    O mercado tem imposto rigorosas condies de

    sobrevivncia s Empresas de Base Tecnolgica (EBT),

    que precisam conviver com a velocidade das mudanas.

    fundamental que estas empresas estejam preparadas

    para responderem imediatamente s solicitaes do

    mercado, que, sendo globalizado, de alguma forma

    encontrar meios para ser atendido.

    A vantagem competitiva de uma empresa de manufatura

    em uma economia globalizada est diretamenterelacionada com sua capacidade de introduzir novosprodutos no mercado, garantindo linhas de produtosatualizadas tecnologicamente e com caractersticas dedesempenho, custo e distribuio condizentes com o atualnvel de exigncia dos consumidores. (MUNDIN, 2002).

    Para que os produtos possam atingir o mercado

    preciso que as informaes sejam cada vez mais

    seletivas, garantindo qualidade nas decises.

    Hoje precisamos passar a ter a preocupao em obterqualidade de informao, e no quantidade. Este

    momento de muita informao precisa ser superadorapidamente, para no se perder tempo. O importante ter a informao certa, ou, melhor dizendo, adequada adeterminada necessidade, no tempo correto e a umcusto compatvel. (ALVIN, 1998).

    Este artigo busca caracterizar uma Microempresa

    de Base Tecnolgica e sugerir a Metodologia Delphi

    como ferramenta para prospeco e auxlio na tomada

    de deciso, a partir de uma pesquisa bibliogrfica

    dirigida sobre o tema.

    1 Microempresas de Base

    Tecnolgica

    Antes de uma abordagem sobre o ttulo,

    importante contextualizar as pequenas e microempresas

    no Brasil. Inmeras so as definies que podem ser

    atribudas a elas, sendo uma das mais aceitas a adotada

    pelo Sebrae, que as categoriza em funo do nmero

    de empregados, conforme a tabela 1.

    Outras classificaes utilizam o faturamento para

    categorizar as empresas, e so normalmente vinculadas

    ao fisco, no acrescentando maiores informaes para

    o foco deste texto.

    A partir do conceito de Pequenas e Micro-

    empresas, preciso conhecer sua importncia no

    contexto econmico brasileiro. Os dados obtidos pela

    Relao Anual de Informaes Sociais - RAIS 2001, do

    Ministrio do Trabalho e Emprego, mostravam que

    existiam no Brasil cerca de 5,6 milhes de empresas,

    das quais 99% eram micro e pequenas. Esta constatao

    era conhecida por Alvin (1998) quando mostrava as

    micro e pequenas empresas como responsveis por

    mais de 60% dos empregos formais; 42% dos salrios

    pagos; 21% da participao do PIB; e 96,3% do nmero

    dos estabelecimentos.

    Uma importante contribuio das Micro e Pequenasempresas no crescimento e desenvolvimento do Pas a de servirem de colcho amortecedor dodesemprego. Constituem uma alternativa de ocupaopara uma pequena parcela da populao que temcondio de desenvolver seu prprio negcio, e em

    uma alternativa de emprego formal ou informal parauma grande parcela da fora de trabalho excedente, emgeral com pouca qualificao, que no encontraemprego nas empresas de maior porte. (IBGE, 2003).

    A criao de novas microempresas pode constituir

    um passo importante para a soluo de grandes

    problemas sociais, por propiciar a diminuio do

    Introduo

    DENOMINAO INDSTRIA COMRCIO E SERVIOS

    ME - Microempresa 19 9

    PE - Pequena Empresa 20 a 99 10 a 49

    MDE - Mdia Empresa 100 a 499 50 a 99

    GE - Grande Empresa Acima de 499 Acima de 99

    FONTE: SEBRAE (2005)

  • Rev. FAE, Curitiba, v.10, n.2, p.159-164, jul./dez. 2007 |159

    Revista da FAE

    desemprego, a acelerao dos processos de redis-

    tribuio de renda e a criao de tecnologias nacionais

    a partir de boas idias.

    Novas empresas surgem a cada instante para disputaros consumidores e, entre elas, h muitas que so criadaspor pessoas que se arriscam, muitas vezesdespreparadas, a abrir suas prprias empresas com ointuito de ganhar dinheiro e fazer sucesso. Nisso resideo fato de muitos desses empreendedores no serembem-sucedidos, pois h uma grande diferena entreaqueles que tm grandes idias e aqueles com talentopara extrair lucro delas. (SHIMONAYA 2004).

    A citao acima mostra a dificuldade em obter

    sucesso das microempresas nascentes, que diariamente

    ingressam no mercado e padecem no incio do ciclo

    de vida. Segundo o Sebrae, a mortalidade das

    empresas, nos seus cinco primeiros anos de vida, gira

    em torno de 70%. O grfico 1 mostra o resultado de

    pesquisa realizada no Estado de So Paulo analisando

    a mortalidade ocorrida no perodo de cinco anos

    anteriores a 2004, confirmando a idia do autor.

    Essa situao mostra a necessidade de estudar

    profundamente as principais causas desta taxa de

    mortalidade precoce dos empreendimentos e de

    propor aes preventivas a ela.

    Os idelogos da poltica industrial enfatizam que osgargalos das pequenas empresas, responsveis pela altataxa de mortalidade, na maior parte das vezes no sotecnolgicos. Isso no quer dizer que elas prescindamda inovao para competir melhor, no Brasil ou noexterior mas sim que, para chegar a inovar em produtose processos, precisam primeiro aperfeioar o negciocomo um todo. (UNICAMP, 2004).

    Conforme levanta Cynthia Scheide (2004), existem

    erros clssicos que so cometidos pelos empreendedores

    frente de um negcio, que muitas vezes levam um

    bom projeto empresarial ao insucesso. Eis alguns fatores

    que devem ser considerados:

    n Experincia - a falta de experincia ocorre

    quando a abertura da empresa est motivada

    por fatores que no so estruturados no

    conhecimento do negcio.

    n Estudos e pesquisas - para aventurar-se na

    abertura de um negcio imprescindvel

    conhecer o mercado e os investimentos

    necessrios para a implantao. Portanto, um

    plano de negcios uma etapa indispensvel.

    n Capital de giro - so muito comuns falhas ao

    se dimensionar os valores que vo definir a

    sobrevivncia da empresa no seu dia-a-dia,

    antes da abertura do negcio.

    n Princpio da identidade - o empresrio precisa

    distinguir o seu dinheiro do dinheiro da

    empresa, pois ambos so identidades

    diferentes, que no podem ser confundidas.

    n Perfil dos clientes, fornecedores e concorrentes -

    o Mercado precisa ser conhecido, pois isto

    influencia diretamente na margem de lucro e

    na qualidade de vida da empresa.

    n Questes tributrias - a carga tributria existe

    antes da abertura do negcio. O empresrio

    precisa saber que estes compromissos devero

    ser cumpridos risca.

    n Crdito - os recursos so necessrios, porm a

    busca de emprstimos sempre deve ser

    precedida da avaliao da capacidade de

    endividamento da empresa.

    n Empreender x administrador - cuidar do seu

    negcio diferente de cuidar do negcio dos

    outros, portanto preciso a precauo do

    empreendedor na forma de gesto adotada.

    n Conhecimento dos aspectos legais - conhecer

    a legislao a que o negcio est submetido

    GRFICO 1 - MORTALIDADE DE EMPRESAS NO ESTADO DE SO PAULO - 1999-2005

    75

    50

    25

    0Emp. com 1 ano(fund. em 2003)

    Empresas encerradas

    FONTE: SEBRAE-SP - 2005

    Empresas em atividade

    Emp. com 2 anos(fund. em 2002)

    Emp. com 3 anos(fund. em 2001)

    Emp. com 4 anos(fund. em 2000)

    Emp. com 5 anos(fund. em 1999)

    100%

    71%

    29%

    58%

    42%

    47%

    53%

    44%

    56% 56%

    44%

  • 160 |

    fundamental para o seu sucesso. As leis

    trabalhistas so exemplos clssicos desta

    necessidade.

    n Necessidade de analisar friamente o projeto - a

    oportunidade de um negcio deve ser analisada

    com ressalvas, pois no pode ser questo de

    oportunismo.

    n Identificao dos verdadeiros problemas -

    o mpeto do empresrio em querer fazer o

    negcio dar certo pode lev-lo a minimizar os

    problemas, gerando dificuldades futuras.

    Por outro lado, inmeros so os fatores que

    podem contribuir para o sucesso das pequenas e

    microempresas. A tabela 2, com base em levantamentos

    do Sebrae, indica quais so os principais.

    Em relatrio do IBGE (2003) so apresentadas as

    principais caractersticas comuns s pequenas e

    microempresas no Brasil:

    n baixa intensidade de capital;

    n altas taxas de natalidade e de mortalidade;

    n forte presena de proprietrios, scios e

    membros da famlia como mo-de-obra

    ocupada nos negcios;

    n poder decisrio centralizado;

    n estreito vnculo entre os proprietrios e as

    empresas, no se distinguindo, principalmente

    em termos contbeis e financeiros, pessoa fsica

    e jurdica;

    n registros contbeis pouco adequados;

    n contratao direta de mo-de-obra;

    n utilizao de mo-de-obra no qualificada ou

    semiqualificada;

    n baixo investimento em inovao tecnolgica;

    n maior dificuldade de acesso ao financiamento

    de capital de giro; e

    n relao de complementaridade e subordinao

    com as empresas de grande porte.

    H controvrsia na definio de Empresa de Base

    Tecnolgica (EBT), portanto importante delimitar esse

    universo. Muitos autores a definem como Empresas

    de Alta Tecnologia com capacidade nica e exclusiva,

    viveis comercialmente, que incorporam grau elevado

    de conhecimento cientfico.

    Para Carvalho et al. (1998, p. 462), EBT so

    organizaes comprometidas com o projeto,

    desenvolvimento e produo de novos produtos e/ou

    processos, caracterizando-se ainda pela aplicao

    sistemtica de conhecimento tcnico-cientfico (cincia

    aplicada e engenharia). Embora estas no sejam

    obrigatoriamente as nicas possibilidades, as EBTs

    normalmente atuam nas reas de materiais,

    informtica, eletrnica, telecomunicaes, instrumen-

    tao e mecnicas de preciso, sendo um desafio, no

    Brasil, levar todas as microempresas a investirem em

    inovao tecnolgica. Conforme o estudo Como

    Alavancar a Inovao Tecnolgica nas Empresas, feito

    pela Associao Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento

    e Engenharia das Empresas Inovadoras (ANPEI),

    preciso, antes, atuar na soluo de problemas

    estruturais que as afetam.

    A inovao tecnolgica em EBTs ocorre em dois

    pontos de um ambiente inovativo, nas franjas ou

    ncleo, e, conforme a posio em que ela se d, existiro

    comportamentos especficos de desenvolvimento

    (figura 1).

    TABELA 2 - FATORES PARA O SUCESSO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

    FATORES %

    Perseverana e persistncia 20,3

    Boa administrao 14,2

    Dedicao do empresrio 13,5

    Boa estratgia de vendas 5,7

    Capital prprio 5,5

    Experincia no ramo 4,7

    Mercado favorvel a reinvestir na empresa 4,3

    Reinvestir na empresa 4,1

    Qualidade do produto 3,3

    nica fonte de renda 3,2

    FONTE: SEBRAE (2005)

  • Rev. FAE, Curitiba, v.10, n.2, p.161-164, jul./dez. 2007 |161

    Revista da FAE

    2 O Mtodo Delphi e a

    microempresa

    A tcnica Delphi foi usada pela primeira vez nos

    anos 1950 para ajudar a fora area dos EUA a identificar

    a capacidade sovitica em destruir alvos estratgicos

    americanos. A designao Delphi inspirou-se no antigo

    orculo de Delfos, e tornou-se popular quando aplicada,

    mais tarde, s previses tecnolgicas e ao planejamento

    corporativo. A tcnica existe atualmente em duas

    formas, sendo a mais comum em papel, chamada de

    Exerccio Delphi, e outra pela Internet, por meio de

    estudos atravs de questionrios on-line, com maior

    interao entre os intervenientes. Ento, esta tcnica

    definida como um mtodo para estruturar o processo

    de comunicao, permitindo a um grupo de pessoas

    lidar com um problema complexo.

    O mtodo Delphi especialmente recomendvelquando no se dispe de dados quantitativos ou estesno podem ser projetados para o futuro com

    segurana, em face de expectativa de mudanasestruturais nos fatores determinantes das tendnciasfuturas. (GIOVINAZZO, 2001).

    Delphi uma das poucas metodologias cientficas

    que permitem analisar dados qualitativos. Trata-se de

    um mtodo que permite, atravs de uma srie de

    questes, descobrir as opinies de especialistas

    construindo um cenrio denominado Painel Delphi.

    Inicia-se o processo apresentando-se proposies

    especficas aos participantes, para que estas sejam

    ordenadas mediante um critrio preestabelecido. Depois

    de agregados e tratados, os resultados so novamente

    remetidos aos especialistas para que estes reavaliem as

    respostas iniciais no novo contexto apresentado.

    O nmero de rodadas aplicadas varia de acordo

    com o grau de consenso atingido pelos especialistas,

    ou seja, se houver uma discrepncia muito elevada na

    opinio de um dado especialista em vrias rodadas,

    no se chegar ao consenso. As opinies podem, no

    entanto, variar de rodada para rodada, uma vez que

    so introduzidas novas questes em cada questionrio,

    e o especialista pode mudar de opinio em relao s

    questes que considera mais relevantes.

    Esse mtodo possui trs caractersticas marcantes,

    a saber, o anonimato, a interao com feedback

    controlado e as respostas estatsticas do grupo para

    identificar padres de acordo. A grande vantagem

    deste mtodo permitir que pessoas que no se

    conhecem desenvolvam um projeto comum. Na prtica,

    um estudo Delphi consiste na realizao de uma srie

    de questionrios, correspondendo cada um a uma

    rodada; em cada rodada, o especialista responder s

    questes formuladas, conforme orientao contida no

    prprio documento.

    Aps cada etapa, os questionrios sofrero

    avaliao estatstica do responsvel pela pesquisa,

    dando idia do consenso obtido. Conforme o grau de

    consenso encontrado, parte-se para a segunda rodada,

    deixando-se de lado as perguntas que tenham atingido

    o nvel desejado, enquanto as demais so reformuladas

    e novamente submetidas apreciao dos especialistas.

    Podero ser includas novas questes sobre o assunto,

    se for necessrio.

    importante, na elaborao e no envio do

    questionrio, que os especialistas deixem claros os

    objetivos da pesquisa, como ela est sendo feita e o

    tempo que o especialista deve gastar para participar,

    procurando, desta forma, evitar altos ndices de

    questionrios no respondidos.

    Campo de interao entre as EBTs,instituies de pesquisa edemais empresas

    Ncleo:- inovao significativa- intenso P&D- forte interao com universidades

    e centros de pesquisa- desenvolvimento de produtos em

    cooperao com outras firmas

    Franja:- inovao incremental(adaptao e melhorias)- transferncia e difuso de tecnologias- atividades de P&D ocasionais- relaes tnues com universidades

    e centros de pesquisa- processo de inovao isolado

    e assistemtico

    FIGURA 1 - POSICIONAMENTO DA INOVAO EM EBT

    FONTE: FERNANDES (2004)

  • 162 |

    Em cada nova rodada elaborada necessrio dar o

    retorno dos resultados da rodada anterior ao especialista,

    colocando-o a par de cada detalhe e, assim, afunilar as

    respostas na busca do consenso. Embora o nmero de

    rodadas possa ser ilimitado, deve-se evitar o excesso para

    no causar desinteresse na participao. recomendado

    que o nmero de rodadas no exceda a quatro.

    Outro item que deve ser avaliado com critrio a

    seleo dos especialistas, tanto no que se refere ao

    nmero de participantes, quanto especialidade

    envolvida, pois qualquer desvio pode comprometer a

    pesquisa. A figura 2 mostra a seqncia de execuo

    de uma Pesquisa Delphi.

    Wright e Giovinazzo afirmam que a escolha da

    metodologia Delphi em confronto com outras tcnicas

    de previso deve se dar em funo das caractersticas

    do estudo, tais como a inexistncia de dados histricos,

    a necessidade de abordagem interdisciplinar e as

    perspectivas de mudanas estruturais no setor. Esta

    uma situao comum nas Microempresas de Base

    Tecnolgica, pois, estando estruturadas com

    lanamentos de Tecnologia de Ponta, no dispem de

    dados histricos que permitam projees; logo, a

    Metodologia Delphi adequada.

    fundamental que os participantes do Painel

    Delphi sejam contatados previamente, se possvel

    pessoalmente, informando a importncia da sua

    participao, indicando j neste momento quais os

    objetivos da pesquisa. Depois deste contato prvio, os

    questionrios podem ser apresentados em mos pela

    equipe de pesquisa, enviados pelo correio ou

    utilizando-se da Internet.

    Geralmente o questionrio bastante elaborado,apresentando para cada questo uma sntese das

    principais informaes conhecidas sobre o assunto, eeventualmente extrapolaes para o futuro.(GIOVINAZZO, 2001).

    Deve ser uma preocupao da equipe de pesquisa

    o retorno dos questionrios. Alm disso, cabem os

    seguintes cuidados na elaborao destes:

    n Duplicidade - evitar questes que tenham, em

    sua estrutura, mais de um questionamento,

    levando o respondente a no dar respostas

    consistentes.

    n Interpretao - excluir casos de perguntas com

    duplo sentido ou ambigidade, levando o

    respondente a interpretar subjetivamente a

    pergunta.

    INCIO

    Tabulao e anlise dosquestionrios recebidos

    Elaborao do nvoquestionrio e envio

    A convergncia dasrespostas satisfatria

    Elaborao do questionrioe seleo dos painelistas

    sim

    sim

    no

    no

    necessriointroduzir questes

    Concluses gerais

    Relatrio final- FIM-

    Elaborao dasnovas questes

    Tabulao e anlise dedados recebidos

    Relatrio pararespondentes

    1 Rodada: Respostase Devoluo

    Nova rodada: respostase devoluo

    FIGURA 2 - SEQNCIA DE EXECUO DE UMA PESQUISA DELPHI

    FONTE: WRIGHT e GIOVINAZZO (2000)

  • Rev. FAE, Curitiba, v.10, n.2, p.163-164, jul./dez. 2007 |163

    Revista da FAE

    n Questionrios simples - a estruturao das

    perguntas deve levar a uma resposta direta

    sobre o que se est buscando conhecer,

    evitando-se, desta forma, que o respondente

    discorra sobre a resposta.

    n Nmero de questes - recomenda-se que,

    mesmo com seus desdobramentos, o total de

    questes no seja superior a 25.

    n Priorizao de alternativas - esta possibilidade gera

    dificuldade de posicionamento, comprometendo

    a objetividade exigida pelo mtodo.

    O Mtodo Delphi permite tratamentos estatsticos

    dando equipe de pesquisa condies de anlise de

    resultados. Um questionrio bem formulado permitir

    a obteno de mdia, medianas, extremos, quartis

    inferior e superior, garantindo qualidade. O uso de

    medianas, segundo Wright e Giovinazzo (2000),

    recomendado quando se oferece aos painelistas muitas

    opes de resposta, j os quartis permitiro avaliar a

    convergncia das respostas, indicando a necessidade

    de novas rodadas. Em alguns casos pode-se determinar

    os percentuais de respostas obtidas, levando

    obteno da freqncia de respostas. Em outros casos,

    em que existam respostas abertas, fica evidenciada a

    necessidade de fazer a anlise dos resultados para

    estruturar o relato das opinies de todos os

    participantes da pesquisa.

    importante fechar conclusivamente todas as

    respostas, com a emisso de relatrios, enviando-os

    aos participantes. Este procedimento permite a

    interao e o anonimato dos especialistas.

    Concluses

    As microempresas apresentam baixa intensidade

    de capital, dificultando a contratao de especialistas

    e consultores de forma permanente. Esta situao pode

    ser superada pela contratao de pesquisas

    especializadas, a partir da utilizao de fontes de

    fomento disponveis para prospeco tecnolgica.

    A metodologia busca a convergncia das

    respostas, permitindo alcanar uma nica proposio

    sobre o assunto estudado. A partir desta caracterstica,

    microem-presrios podem focar a aplicao de recursos.

    caracterstica das Microempresas de Base

    Tecnolgica a interao com Institutos de Pesquisa,

    Universidades e rgos Oficiais de Financiamento,

    facilitando a busca por especialistas para participar da

    prospeco.

    A utilizao intensiva dos Sistemas de Informao

    pelas Microempresas de Base Tecnolgica facilita a

    aplicao do Mtodo Delphi, reduzindo custos em

    relao ao mtodo convencional de aplicao

    As caractersticas da Microempresa de Base

    Tecnolgica convergem para a aplicao de ferramentas

    que construam cenrios prospectivos, e o Mtodo

    Delphi mostra-se adequado para solucionar este

    problema de forma simples e econmica.

    Recebido em: 05/12/2007 Aprovado em: 15/12/2007

  • 164 |

    Referncias

    ALVIN, Paulo Cezer Rezende de Carvalho. O papel da informao no processo de capacitao tecnolgica das micro epequenas empresas. Revista Cincia da Informao, Braslia, v. 27, n. 1 p. 28-35, jan./abr. 1998. Disponvel em:. Acesso em: 27 nov. 2005.

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