1370533939 arquivo artigoparaanpuh-revisto

18
Paternalismo, comissões de fábrica e consciência de classe: as reivindicações dos têxteis de Moreno-PE no ano de 1952. MÁRCIO ROMERITO DA SILVA ARCOVERDE1* Introdução Os anos 50 marcaram a diversidade e complexidade do cenário político de Moreno e foi bastante representativo para pensarmos as mudanças do período 1946-1964. Nesse período notamos insurgências mobilizadoras da classe trabalhadora em todo o país, diversos trabalhos (NEGRO, 2004; FONTES, 2008; LOPES, 1988) caracterizam esse período como de grande efervescência nas lutas e conflitos de classe, apontando a participação e organização direta dos trabalhadores. Em Moreno, no espaço fabril da Societé Cotoniére Belge Brésilienne S. A., observamos essas lutas sendo organizadas no chão da fábrica através de comissões de fábricas, aparecendo também, nesse contexto, a atuação do partido comunista, e das constantes tentativas de interlocução de políticos conservadores junto aos trabalhadores. Porém, a nossa abordagem recai sobre a maior força política em ascensão nesse momento: a classe operária, sua organização e mobilização em busca de direitos perdidos e novas reivindicações. A fábrica de Moreno era um investimento internacional, uma empresa belga que desde a sua fundação, em 1910, esteve sob gerência inglesa, uma parceria empresarial 2 firmada desde sua fundação (JEAN, 2011). A Societé Cotoniére Belge Brésilienne monta todo seu aparato característico das fábricas têxteis que se instalaram no interior de Brasil fazendo surgir o primeiro núcleo urbano da cidade de Moreno. Em finais do Século XIX e primeira metade do XX, são constantes os empreendimentos que montam a fábrica, a vila operária e diversas formas de controle no trabalho e sociabilidade dos operários. Nesse ínterim foram criados vários cotonifícios em Pernambuco: A ‘vila operária ‘da Tecelagem de seda e algodão de Pernambuco, localizada no centro do Recife; a da companhia de fiação e tecidos de Pernambuco S.A, situada no bairro da Torre; a do Cotonifício Othon Bezerra de Melo S. A. e a da *Mestrando pela Universidade Federal Rural de Pernambuco e bolsista CAPES. 2 Informações sobre essa parceria e de que forma se articulam com investidores brasileiros seja para definição do local de implantação ou como se processou as articulações para implementação da fábrica têxtil em Moreno ver JEAN, Suettinni. Um lugar belga em Pernambuco: o núcleo fabril da Societé Cotonniére Belge-Brésilienne S. A. e a consolidação em cidade de Moreno. Dissertação de mestrado CAC. Arquitetura. Recife, 2011.

Upload: monica-cecilia

Post on 17-Dec-2015

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Paternalismo, comisses de fbrica e conscincia de classe: as reivindicaes dos txteis de Moreno-PE no ano de 1952.

    MRCIO ROMERITO DA SILVA ARCOVERDE1*

    Introduo

    Os anos 50 marcaram a diversidade e complexidade do cenrio poltico de Moreno e foi bastante representativo para pensarmos as mudanas do perodo 1946-1964. Nesse perodo notamos insurgncias mobilizadoras da classe trabalhadora em todo o pas, diversos trabalhos (NEGRO, 2004; FONTES, 2008; LOPES, 1988) caracterizam esse perodo como de grande efervescncia nas lutas e conflitos de classe, apontando a participao e organizao direta dos trabalhadores. Em Moreno, no espao fabril da Societ Cotonire Belge Brsilienne S. A., observamos essas lutas sendo organizadas no cho da fbrica atravs de comisses de fbricas, aparecendo tambm, nesse contexto, a atuao do partido comunista, e das constantes tentativas de interlocuo de polticos conservadores junto aos trabalhadores. Porm, a nossa abordagem recai sobre a maior fora poltica em ascenso nesse momento: a classe operria, sua organizao e mobilizao em busca de direitos perdidos e novas reivindicaes.

    A fbrica de Moreno era um investimento internacional, uma empresa belga que desde a sua fundao, em 1910, esteve sob gerncia inglesa, uma parceria empresarial2 firmada desde sua fundao (JEAN, 2011). A Societ Cotonire Belge Brsilienne monta todo seu aparato caracterstico das fbricas txteis que se instalaram no interior de Brasil fazendo surgir o primeiro ncleo urbano da cidade de Moreno. Em finais do Sculo XIX e primeira metade do XX, so constantes os empreendimentos que montam a fbrica, a vila operria e diversas formas de controle no trabalho e sociabilidade dos operrios. Nesse nterim foram criados vrios cotonifcios em Pernambuco:

    A vila operria da Tecelagem de seda e algodo de Pernambuco, localizada no centro do Recife; a da companhia de fiao e tecidos de Pernambuco S.A, situada no bairro da Torre; a do Cotonifcio Othon Bezerra de Melo S. A. e a da

    *Mestrando pela Universidade Federal Rural de Pernambuco e bolsista CAPES. 2 Informaes sobre essa parceria e de que forma se articulam com investidores brasileiros seja para definio

    do local de implantao ou como se processou as articulaes para implementao da fbrica txtil em Moreno

    ver JEAN, Suettinni. Um lugar belga em Pernambuco: o ncleo fabril da Societ Cotonnire Belge-Brsilienne S. A. e a consolidao em cidade de Moreno. Dissertao de mestrado CAC. Arquitetura. Recife, 2011.

  • 2

    fbrica Tacaruna, localizadas na periferia da cidade. (...) proximos a pequenas cidades vila operaria da companhia Industrial Fiao e Tecidos Goyanna, na cidade de Goyanna; da Fiao e Tecelagem de Timbaba, em Timbaba; da

  • 3

    companhia Industrial Pirapama, em Escada, e do Cotonifcio Jos Rufino, na cidade do Cabo. Os situados em meio rural: a vila da Companhia de Tecido Paulista, em Paulista; Societ Cotonnire Belge- Brsilienne, em Moreno e a da companhia industrial pernambucana, em Camaragibe.( CORREIA, 2001: 05 )

    A Societ Cotonnire Belge Brsilienne configura-se dentro desse quadro de Empresa-cidade na parte rural do Estado, onde seus contornos urbanos do as diretrizes da estrutura da cidade criada em sua extenso, a cidade de Moreno em 1928. nesse espao que posicionaremos as nossas anlises sobre a classe operria, cuja identidade esteve em constante contato com a dominao patronal, seja no trabalho, na moradia ou no lazer. Uma caracterstica de fbricas com vila operria no interior do Brasil.

    Entre o paternalismo e o coronelismo: o cenrio e os trabalhadores grevistas

    Em 1949 a gerncia da Societ Cotonnire Belge Brsilienne3 que era, desde sua fundao exercida pelos ingleses, passa a ser exercida por belgas, sua administrao passa por modificaes administrativas que causam uma reduo significativa nos seus salrios dos operrios.

    (...) Em continuao a mencionada reforma, foi notado o afastamento do gerente tcnico o ingls John T. Walmsley, que ali vinha mantendo aquele cargo a mais de 30 anos, com a alegao do mesmo se encontrar com a sade abalada, criando o cargo de chefe de servio do pessoal, aproveitando no mesmo o escriturrio Sr. Valdemar de Holanda Vasconcelos, onde passou logo a ser adotado o incio da mecanizao da escrita, com a instalao e funcionamento dos relgios da I. B. M. , com a obrigao de todos os operrios e funcionrios sem nenhuma exceo (...) por intermdio da Folha do povo , nos dias do ms de abril prximo passado e em 22, 23 desse com alegaes que na seo e preparao os operrios trabalhavam de 70 a 80 horas por semana, passaram a trabalhar 60 horas, com esta reduo, deixou de pagar as gratificaes de 20, 30 e 50%, que vinham recebendo depois de ultrapassarem as 48 horas, provocando a falta de material para as outras sees4.

    As mudanas significaram para o operariado uma queda brusca nos salrios. Isso causou uma srie de mobilizaes e reivindicaes, o que vai nos servir de base para o tema central deste texto: as aes de reivindicaes e lutas de classe. Esse corte abrupto nos salrios vai ser o principal motivo das aes de resistncia, mas outro fator tambm

    3 Usaremos daqui em diante para nos referir a esta fbrica a abreviao SCBB.

    4 Relatrio 24/05/52. Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 03. Fundo SSP n 5825-B. Acervo DOPS- PE.

    APEJE.

  • 4

    determinante para o processo que leva a primeira grande crise entre empregados e empregadores da SCBB: a quebra de um modelo paternalista estabelecido baseado no direito e costume. As duas argumentaes se alinham e se justificam: de um lado a diminuio nos salrios, e consequentemente a dificuldade perante o mercado de alimentcios e o custo de vida de uma forma geral; de outro lado, a quebra do que era um direito para o operariado de Moreno: as longas jornadas de trabalho para conseguir horas extras legitimadas pelo empregador.

    A gerncia inglesa mantm desde seu princpio um modelo de paternalismo industrial onde a figura do gerente, o Mister Walmsley, o provedor da entrada na fbrica, dos auxlios diretos aos empregados, um paternalismo caracterstico de um lugar que permeia o mundo urbano e rural, seja na poltica local, seja na perspectiva do industrial. Para muitos operrios o Misti Homi o seu chefe, bom patro, que mantm uma relao que ultrapassa os muros do trabalho, indo ao ntimo das relaes paternalista da cidade-fbrica. na figura desse gerente que os operrios criam uma imagem do bom patro e do bom emprego.

    (...)Miste homi eu fui no escritrio dele. Ele era to bonzinho visse, aquela criatura deve ser santo l no cu. Ele era to bom, ele era um dos donos, sei la o que ele era. Sei que ele era ingls ele passava por la, o chapu dele ele pegava o chapu machucava o chapu todinho (gesticula como ele fazia) e saia, o cabelinho j ficando branco, ai passava fala com todo mundo, falava com todo mundo, pegava no nariz de um, no cabelo de outro, no ouvido. Ele era assim. Se ele visse voc dormindo ele no dizia uma nem duas ia la apertava seu nariz, ta com sono menino, ta com sono, va trabalhar, va trabalhar que voc esperta ( fala reproduzindo o sotaque do homem). Eu era pequenininha!! 14 anos, ai eu fui e j falei mesmo com miste homi. Ai quando chegou l o vigia deixava entrar eu e um colega meu, falei com ele na mesma hora ele mandou agente fazer um teste, ai eu fui fazer o teste no outro escritrio que era pegado falei com as moas l e fiz.5

    (...) isso era uma me moreno era outro moreno quando ela funcionava o societ cotonniere. A gesto dos ingleses foi a coisa mais linda que se podia ver em moreno os operrios tudo satisfeito trabalhando, ganhava dinheiro n? A vida de Moreno era outra coisa o povo era um povo feliz n?6

    5 Rosa Jos da Silva, ex-tecel, entrevista concedida em 06 de Maio de 2010.

    6 Maria Jos, ex- enfermeira, entrevista concedida em 15 de Junho de 2010.

  • 5

    Sendo uma fbrica com vila operria, a SCBB tem o domnio dos seus operrios no s dentro do trabalho, mais tambm na oferta da casa, do lazer, da vida alm-fbrica. Modelo de dominao fabrica com vila operria (LOPES,1988), assim caracterizou Leite Lopes se referindo a Companhia de Tecidos Paulista, caso de fabrica com vila operria no interior de Pernambuco. Se em Paulista existe a figura do coronel industrial, em Moreno a poltica local vai ter a influncia do provedor da economia local, a SCBB, com ares que permeiam o paternalismo rural, pois legitima a ascenso de polticos que so grandes proprietrios rurais. Os polticos da cidade ou so latifundirios locais ou comerciantes da elite da cidade, e o industrial, ofertando emprego, casa e lazer. No h interveno direta pelos industriais na poltica e sim o apoio camada mais elitizada. Desde a formao da cidade tm-se polticos representante, ora dos latifundirios, ora da elite comerciria local, exercendo cargos com o apoio dos industriais da SCBB. O que faz com que a poltica partidria tenha fortes caractersticas coronelistas e o paternalismo industrial exista sem conflitos com o poltico. No entanto, a quebra com este ltimo e um nvel crescente de conscincia de classe faz do ano de 1952 o ponto de partida das reivindicaes classistas.

    Opresso existiu com os ingleses, mobilizaes e resistncias perante a explorao capitalista tambm, mas, antes da crise de 1952 esteve no plano individual, no atingia uma parcela dos operrios para formao de comisses, de greves, protestos, mobilizaes como justificativa de direito de trabalhar. A crise, e a consequente mobilizao de 1952, tem a caracterstica de evidenciar um operariado politizado e organizado na busca de seus propsitos.

    Aes de comunistas, o apoio de polticos conservadores numa constante tentativa de aproximao com a classe operria, e tendncias de poltica com caractersticas paternalistas, coronelistas, tambm foi uma das caractersticas do perodo 1946-1964. Esse era o cenrio e os ingredientes que fomentaram e instrumentalizaram as aes dos operrios dando a caracterizao do perodo ps-45 e esto deveras explcitos nas reivindicaes de 1952.

    Na busca por direitos: as mobilizaes de 1952

    Em 17 de Maio de 1947 o Partido Comunista de Moreno sofreu interdio, j que havia sido posto na ilegalidade. O desmonte da seo do partido em Moreno feito pela

  • 6

    polcia poltica da DOPS onde encontra uma srie de materiais, agora subversivos, e alvo de intensas investigaes por parte do servio secreto. No existindo sede, funcionando em casa particular, apreendido os matrias que entre outras contava com: 14 folhas de reclame do quarto congresso do PCB; 6 exemplares de divulgao marxistas; 5 exemplares do fortalecimento sindical; 3 fotografias com lustro do senador Luiz Carlos prestes; 23 ditas sem lustro; 23 estatutos das ligas camponesas; 20 exemplares histria de um trabalhador comunista7. A retrica anticomunista se tornava, agora, mais agressiva, e com fora legal

    para pautar os adeptos do comunismo de criminosos subversivos. Para Paulo Fontes o decreto 23.0468 foi uma ofensiva anticomunista e anti-sindical (FONTES, 1997:115), uma forma de controle social de massas com justificativa no discurso anticomunista.

    Em Medo, comunismo e revoluo: Pernambuco (1959-1964) (PORFRIO, 2009) e Histria, memria e metodologia (MONTENEGRO, 20010), vemos discusses sobre como se criaram e se propagaram em Pernambuco os discursos anticomunistas atravs da imprensa, da DOPS, e de setores mais conservadores da sociedade. O medo, o ar subversivo- e consequentemente de carter ilegal- que servir, entre outras coisas, para a instalao da ditadura militar. Apontamos essas discurses no momento democrtico de 1946-1964 e concordamos com suas argumentaes. Porm, queremos mostrar como a efetivao do controle social baseado na represso do comunismo serviu de justificativa para reprimir as lutas de classes nesse momento, fazendo assim um dilogo com o argumento usado por Paulo fontes (FONTES, 1997:115), ultrapassando a argumentao discursiva dos usos dessas fontes e chegando a seus usos frente classe operria em Moreno. A presena perene de investigadores da DOPS ora procurando os cabeas das greves, ora intermediando junto justia ou gerncia, frequente, e nos servir de fonte documental para enxergarmos os dissdios e movimentaes diretas das comisses formadas por trabalhadores.

    Em Moreno a clula comunista estava articulada e infiltrada na fbrica, como consta os nomes e assinaturas dos comunistas no relatrio acima citado, sendo a sua maioria funcionrios da SCBB. Desencadeia-se uma corrida contra as aes desse partido em Moreno,

    7 Relatrio 17/05/47. Pronturio funcional municpio de Moreno. p. 01-02. Fundo SSP n 26717. Acervo DOPS-

    PE. APEJE. 8 Decreto que pe o PCB na ilegalidade

  • 7

    os investigadores da DOPS vo estar a todo o momento na busca por elementos subversivos, que segundo a viso policial, agitam os operrios e incitam greve. A todo o momento vamos perceber a relao dos movimentos grevistas aos comunistas. No podemos descartar a participao desse setor nas mobilizaes operrias, porm, apresentar as reivindicaes grevistas a um partido ou clula deveras reducionista e, fazendo isso, corremos o grande risco de cair num argumento de cupulismo da classe operria (TEIXEIRA, 1999). Marcar a presena dos comunistas sim, mas agregar o valor das lutas e mobilizaes somente a eles compactuar com os investigadores da DOPS, onde seus olhos estavam direcionados a procura do subversivo, agitador, e mesmo no estando ligado ao partido era tido como comunista. Tiveram, os comunistas, participao direta nos movimentos grevistas, porm, essas mobilizaes so representativas de toda uma classe em seu fazer-se, no nas aes isoladas de comunistas cooptando os operrios.

    Em 1951 foi assinado um acordo com os operrios da SCBB onde se estabelecia as 48 horas trabalhadas- ratificando as reformas administrativas dos belgas- e, para isso, trabalhavam aos sbados at s 22 horas. No entanto, no ano seguinte, alguns operrios rasgaram os avisos espelhados pela fbrica, como forma de mostrar a no aceitao do acordo estabelecido.9 Em janeiro de 1952 os operrios em comisso montam duas propostas para a fbrica; a primeira seria trabalhar 48 horas com um aumento de 100%; na segunda trabalhariam as horas necessrias contanto que as 48 horas e mais as horas excedentes tivessem um aumento de 30%10. Mas o acordo assinado pelo sindicato na delegacia regional do trabalho em 1951 dizia que os operrios no podiam pedir aumento ou reviso do acordo dentro de dois anos. A proposta dos operrios logo recebe uma contra proposta de 20% para 48 horas de servio ou 5% sobre todas as horas trabalhadas11. O que tambm no foi aceito pela comisso, mas abriu uma negociao.

    O que estamos vendo so os operrios da preparao- setor importante no sistema de produo, pois, sem os seus trabalhos outras partes da fbrica ficam impossibilitadas de

    9 Relatrio 13/02/51 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 01. Fundo SSP n 5825-B. Acervo DOPS- PE.

    APEJE. 10

    Relatrio 28/01/52 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 01. Fundo SSP n 5825-C. Acervo DOPS- PE.

    APEJE. 11

    idem

  • 8

    funcionar- reunidos em comisso exigindo um ajuste salarial que no faa tamanha diferena dos seus salrios, como era antes da reforma que os belgas empreenderam. Organizao no cho da fbrica levada gerncia para negociao direta, tendo como tentativa de interlocuo a figura do prefeito Ney Maranho que tenta a aproximao com os operrios na oferta de ajuda jurdica, disponibilizando um advogado e apresentando comisso.

    Casos de intermedirios so recorrentes nesse momento, ora pelos polticos locais, o prefeito Ney Maranho, seu pai e deputado estadual, Constncio, o vereador Adolfo Gomes; ora deputados representantes dos comunistas como o deputado Roberto Morena. O cenrio de luta classista dentro da fbrica tambm um cenrio de lutas e embates polticos; comunistas e suas lideranas polticas, imprensa como o jornal Folha do Povo- peridico ligado tambm ao partido comunista- e polticos locais de carter mais conservador como o prefeito Ney Maranho, que desenvolve uma poltica trabalhista paternalista12, sempre tentando uma interlocuo com a classe trabalhadora se colocando no papel de intermediador e exercendo uma poltica baseada no clientelismo. A politizao e organizao dos operrios, que geraram as demandas reivindicatrias, faz com que essas duas correntes polticas tentem se aproximar, se pondo como representantes legtimos das causas dos operrios. E em alguns momentos isso vai ser um recurso dos operrios frente s intermediaes tanto com a gerncia quanto com a justia do trabalho. Mas as formas de negociaes so primordialmente as aes diretas das comisses que vo diretamente gerncia.

    Enquanto os operrios puxaram a greve pela reivindicao dos ajustes de horas trabalhadas, se recusando a seguir o horrio estabelecido a partir do dia 19 de maio, a SCBB tratava o caso argumentando que os operrios agiam com evidente m vontade e indisciplina. 13 E que os operrios no atenderam aos apelos da fbrica, reduzindo o ritmo de produo praticando a greve branca causando a falta de fio para a seo de fiao. A SCBB 12

    Maiores consideraes sobre a aproximao dessa camada poltica representada por Ney Maranho com os

    operrios de Moreno est em processo de construo no meu projeto e pesquisa de mestrado em andamento.

    Analisamos a figura desse poltico, junto a seu pai, deputado Constncio Maranho, tendo uma aproximao

    muito forte com os trabalhadores, sendo um caso de polticos de direita nos meios trabalhistas. Tema j

    analisado por Paulo Fonte em Um Nordeste em So Paulo: Trabalhadores migrantes em So Miguel Paulista

    onde v a aproximao de Ademar e Barros e Jnio Quadros nas reivindicaes dos operrios, no cotidiano

    poltico dos moradores de So Miguel Paulista. 13

    Relatrio 15 /05/52 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 01-02. Fundo SSP n 5825-B. Acervo DOPS-

    PE. APEJE.

  • 9

    faz um apelo para que os operrios cumpram as novas regras. Mas os operrios esto

    determinados a no aderir s novas diligncias da fbrica, o que provocaria uma diminuio significativa nos seus salrios.

    Foi marcada uma reunio com a seo de preparao contando com a presena do diretor presidente da fbrica, Henri Van Den Bosch, gerente interino Felix De Vocht, subgerente Vernon Walmsley, advogado da fbrica, chefe do servio pessoal, Guilherme Cunha e diversos tcnicos de fabricao belgas, junto com o delegado do trabalho Ernesto Pinto, presidente do sindicato Hirton Barros de Vasconcelos, presidente da cmara municipal local Oseas Mendona, advogado do sindicato Dr. Felix de Lira14. E mais uma vez no foi resolvida a questo dos operrios, ficando acertado pelo delegado do trabalho que os operrios, junto com o seu sindicato, redigissem um memorial para a delegacia regional do trabalho, caso no solucionasse iria mandar a causa para a justia do trabalho. Na sada da reunio, na praa da cidade, vaias e uivos foram proferidos num protesto contra os belgas.

    Pela primeira vez as reivindicaes dos operrios da preparao ganha a esfera da justia, saindo da tentativa de conciliao direta com os gerentes e passando a ter com a delegacia regional do trabalho a tentativa de ajustes entre as partes. Sem resoluo frente gerncia, foi montado um dissdio junto justia do trabalho. O acesso aos aparelhos democrticos para resolver diligncias pendentes se tornar cada vez mais frequente nas reivindicaes e esta uma das marcas do perodo 1946-64. Esse intervalo democrtico proporciona a instrumentalizao de aparatos democrticos aos cidados, uma experincia inovadora do perodo.

    O clima em Moreno est tenso, as agitaes operrias, e as consequentes mobilizaes das foras policiais do Estado se dividem em uma clara luta de classes sem precedentes nesta cidade. Chegam a Moreno diversos carros da rdio patrulha15 na tentativa de coibir e apurar a situao. Radio Patrulha, agentes infiltrados da DOPS e foras tarefas com a polcia local so usadas, em parceria com as foras da SBCC, para tratar do caso. Pois a greve est sendo

    14

    Relatrio 25/05/52 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 01. Fundo SSP n 5825-B. Acervo DOPS- PE.

    APEJE. 15

    Relatrio 27/05/52 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 01-02. Fundo SSP n 5825-B. Acervo DOPS-

    PE. APEJE.

  • 10

    tratada, tambm, como caso de polcia a ser investigado e combatido. As foras policiais procuram os que mantm a orientao comunista, sendo que, os operrios quando indagados sobre as acusaes de um levante encabeado por comunistas, negam dizendo que as agitaes ocorrem pela maneira como os belgas estavam tratando a questo das horas e consequentemente os seus salrios.16 Esclarecendo que suas reivindicaes so formuladas a partir do descontentamento com a reduo dos salrios e levada efeito de greve pelos operrios que acharam feridos seus interesses, no contando com nenhuma cooptao por parte do partido comunista.

    Nesse clima de agitao vem o deputado Constncio Maranho e seu filho, Ney Maranho, se colocam diversas vezes como representantes dos operrios, se colocando a disponibilidade dos grevistas. Em 27 de maio vo administrao da fbrica declarando estar a mando do governador Agamenon Magalhes para resolver o caso17. Renem-se com a direo e articulam-se com o sindicato para mostrar aos operrios seus esforos na resoluo das demandas trabalhistas. Numa reunio marcada pelo rgo de classe declararam o resultado da conferncia com os belgas: que voltassem a trabalhar como antes. Pois conseguiram a anulao das reformas administrativas que reduzira o salrio. Logo que apresentada, a proposta foi rejeitada, alegando, os operrios, que queriam aumento de salrio de acordo com o memorial que foi encaminhado ao delegado do trabalho. Em seguida Constncio Maranho diz que isso no foi dito a ele e que agora os operrios deveriam ir justia do trabalho. As novas formulaes reivindicatrias eram por uma jornada de trabalho de 48 horas mais 60% de aumento, j reclamadas justia do trabalho.

    Em uma nova interveno, o deputado alegou ter conseguido a volta dos salrios como antes. No adiantou, pois os operrios reivindicam agora, reajuste salarial na base do tempo trabalhado, indo o dissdio caminhar na justia do trabalho, ficando a espera do retorno do memorial que est nas mos do delegado do trabalho pelas 48 horas trabalhadas e 60% de aumento. A interveno do deputado no surtiu o efeito esperado por ele, pois em sua negociao com os gerentes confirmou a volta dos antigos salrios, sendo que as pretenses

    16

    Idem 17

    Relatrio 27/05/52 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 01-02. Fundo SSP n 5825-B. Acervo DOPS-

    PE. APEJE.

  • 11

    dos operrios j ultrapassavam a volta dos antigos salrios. As aes dos polticos e a forma que a gerncia trata o movimento paredista nos evidenciam quanto de paternalismo, estava presente no trato com os operrios, formas paternais de resoluo, de intermediao para resolver o caso. Tanto por parte da gerncia, que truculenta e inflexvel, trata como questo de indisciplina as reivindicaes, quanto pelos polticos Maranho, que a todo o momento vo procurar intermediaes para resoluo consensual entre as partes de forma amigvel, de sua forma poltica.

    Fica evidente que os operrios, em unio nas comisses, se pem firmes nos seus propsitos, o sindicato, sob interveno, serve como ponto de reunies e apoio, partindo as decises do cho da fbrica. Em nova reunio no sindicato para tratar do memorial enviado ao delegado do trabalho, o presidente queria que os operrios voltassem a trabalhar s horas extraordinrias, at o mximo de 73 horas, o que no foi aceito. Eles querem, nesse momento, trabalhar 48 horas e aumento de 60%18 e se pem firmes nesse propsito. Nesse dia, por falta de matria prima, a SCBB parou e assim permaneceu, em algumas sees, por quinze dias.

    Durante o tempo que a fbrica permaneceu parada por falta de trabalho da seo de preparao, foi relatado pelos investigadores da DOPS, o estrago de duzentos metros de pano e a distribuio de vrios panfletos, de carter subversivo, incitando os operrios a continuar na luta. Os operrios estavam muito organizados, mantinham o movimento paredista de braos soltos pouco trabalhando, causando paralisao de outros setores. Consequentemente aumentava a presso em cima deles com mais operaes conjuntas dos belgas e polcia. Na sesso da cmara no dia 5 de junho o vereador Adolfo Gomes proferiu um discurso dizendo que os polticos de Moreno e a cmara deveriam mandar telegrama para o presidente da repblica e o ministro do trabalho para denunciar a explorao que estava fazendo os belgas em Moreno19. Este movimento grevista denuncia a explorao e o autoritarismo fabril, que agora passa pela sua primeira crise. A Folha do Povo denunciando tambm a explorao dos txteis publicou:

    18

    Relatrio 31/05/52 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 01. Fundo SSP n 5825-B. Acervo DOPS- PE.

    APEJE. 19

    Relatrio 06/06/52 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 01. Fundo SSP n 5825-B. Acervo DOPS- PE.

    APEJE.

  • 12

    Na cidade de Moreno prossegue a luta dos trabalhadores txteis, que enfrentam a explorao dos belgas e as ameaas de terrorismo da polcia de Agamenon Magalhes. Em consequncia das manobras dos patres, foram os salrios dos trabalhadores reduzidos de maneira verdadeiramente absurda. Na ltima semana, houve operrios que receberam apenas 190 cruzeiros e que antes recebiam, semanalmente 410 cruzeiros. Diante dessa situao, os operrios exigem 60 por cento de aumento com 48 horas trabalhadas20.

    Em novo relatrio de 18 de junho, o investigador tenta achar uma razo para a greve e diz ser essa motivada em primeiro lugar da presso da gerncia sobre o operariado e pelo aumento de 60% dos salrios e 48 horas de servio. Depois a paralizao acarretada pela falta de matria prima21. Mesmo fazendo uma justificativa dentro das demandas reclamadas pelos funcionrios, diz que todo esse movimento est sendo orientado pelos comunistas que lotam a cidade com boletins incitando a greve, atribuindo os boletins s aes comunistas. Vejamos um dos boletins:

    Companheiros, operrios e operrias da fbrica de Moreno:

    A misria nessa empresa est aumentando dia a dia para vocs. Os belgas enriquecendo cada vez mais custa da explorao desumana que vem empregando com o apoio do governo das classes dominantes. (...) o caminho que vocs tem para sair desta situao de misria a luta. (...) As condies esto para ns, precisamos est convencidos disto, que somos 10 vezes mais fortes que os belgas e podemos derrota-los imediatamente.

    Tudo pela vitria, tudo pela paz, tudo pela unio da classe operria!

    Tudo por aumento de 60% no salrio!

    Tudo por salrio mnimo de Cr$ 1.500,00!

    Tudo por eleies livres no sindicato!22

    Em ofcio dirigido delegacia regional do trabalho a SCBB pede interveno da polcia para acabar com a greve, uma vez que so os boletins subversivos dos comunistas que orientam a greve e por outro lado a Folha do Povo incentiva. Segundo a fbrica, os operrios vo ao trabalho e permanecem de braos cruzados agindo de forma intransigente23. V-se

    20

    Folha do Povo. 7/06/1952. P. 03. APEJE 21

    Relatrio 18/06/52 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 01. Fundo SSP n 5825-B. Acervo DOPS- PE.

    APEJE. 22

    Relatrio 6/06/52 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. Fundo SSP n 5825-B. Acervo DOPS- PE. APEJE. 23

    Relatrio 20/06/52 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 01. Fundo SSP n 5825-B. Acervo DOPS- PE.

    APEJE.

  • 13

    claramente como os investigadores e a prpria fbrica usam do discurso anticomunista para forar maior represso frente s reivindicaes operrias.

    Nem o partido comunista, nem os polticos- que se intitulavam representantes dos operrios- so os norteadores e atores ativos das mobilizaes operrias tanto no ano de 1952, quanto nos anos at 1964. Encontramos aqui uma mobilizao de massa guiada por um sentido de classe que surge entre os trabalhadores e que se articula de diversas formas para encontrar um caminho possvel na resoluo de suas reivindicaes.

    Em setembro sai o resultado Do Tribunal Regional do Trabalho sobre o dissdio dos txteis do Recife dando ganho de causa aos operrios tendo os empregadores que pagar 30% de aumento a contar daquele dia, juntamente com as horas trabalhadas reivindicadas24. Isso gera grande expectativa nos txteis de Moreno, uma vez que seu dissdio est na justia do trabalho e suas reivindicaes se assemelham aos dos de Recife.

    Tendo como base o dissdio dos operrios de Recife, uma reunio no sindicato no dia 4 de junho ficou decidiu que os operrios da preparao voltariam ao trabalho com o ajuste de 73 horas trabalhadas durante a semana sem nenhum reajuste nos salrios at que a justia do trabalho decida sobre a reclamao25. Esse acordo foi definido aps vitria dos txteis na justia local. E acrescenta o investigador: Espera-se na prxima segunda-feira a normalizao dos trabalhos, passando, desta maneira, a primeira crise sentida nas reformas ultimamente adotadas pela nova orientao dos belgas26.

    Aps grandes mobilizaes e intensos conflitos se encerra um ciclo de lutas com o desfecho favorvel para os txteis de Moreno, onde, em meio s intransigncias patronais, no deixaram as suas reivindicaes serem abaladas por intimidaes feitas pela polcia poltica e pelos empregadores. Moveram uma luta intensa contra os empregadores buscando um direito perdido com as reformas administrativas e articulando, no decorrer do movimento, novas possibilidades de aumento de salrios. Das articulaes politizadas das comisses aos usos de

    24

    Correio de Moreno. 28/09/1952. p. 04. APEJE. 25

    Relatrio 25/06/52 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 01. Fundo SSP n 5825-B. Acervo DOPS- PE.

    APEJE. 26

    Relatrio 28/07/52 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 02. Fundo SSP n 5825-B. Acervo DOPS- PE.

    APEJE.

  • 14

    mecanismos democrticos, os trabalhadores de Moreno se mantm coesos e buscaram direitos nas possibilidades estabelecidas pelo sistema democrtico vigente e na busca por novos meios criados pelas comisses de fbrica frente a justia do trabalho.

    A greve dos 32 mil

    No dia 13 de outubro h nova paralizao em solidariedade e para integrar o movimento grevista do Recife, a greve dos 32 mil. Os operrios param novamente o trabalho, uma vez que seu dissdio sobre as 48 horas trabalhas e 60 % de aumento no tinha sado, integrando uma grande greve que est ocorrendo com os txteis de Recife e Paulista. So 18 mil operrios do Recife, aos quais j se juntaram 10 mil de Paulista e 3 mil de Moreno perfazendo um total de 32 mil trabalhadores. E porque lutam esses 32 mil operrios pernambucanos? Lutam por tudo aquilo que lutamos todos ns: por melhores salrios27.

    Reunindo-se no sindicato comunicam sobre a greve na capital, organizam os piquetes, as comisses de finana e de vigilncia, arrecadam donativos, disponibilizando, o prefeito local, Ney Maranho, como uma forma de aproximao com o movimento dos trabalhadores, 8 bois e um carro a disposio da comisso para percorrer cidades adjacentes28.

    Os operrios de Moreno, neste instante entram numa reivindicao maior, fazendo ser representados e ouvidos pelos txteis de todo Pernambuco numa importante mobilizao da classe.

    A greve dos txteis de Pernambuco de 1952 um marco importante para o estudo dos momentos concretos em que se manifestam grupos da classe trabalhadora em movimentos reivindicatrios coletivos, reinterpretando e criando formas de organizao expondo publicamente sinais e indicaes de conscincia de classe. Do perodo anterior a 1964 foi mais estudada a greve dos 300 mil de 1953, dos operrios de So Paulo, envolvendo vrias categorias profissionais, onde destacada a importncia da formao de comisses de empresa associadas ao trabalho sindical. (Lopes, 1988: 408)

    27

    Folha do povo 14/10/52. p. 01. APEJE 28

    Relatrio 16/10/52 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 01, 02, 03. Fundo SSP n 5825-B. Acervo

    DOPS- PE. APEJE

  • 15

    Essa greve29 marca no setor txtil pernambucano, como nos diz Leite Lopes ao analisar o mesmo contexto na fbrica Paulista, uma demonstrao de conscincia de classe crescente no Estado. Foi alinhavada em Moreno tomando como base as greves que se arrastavam durante praticamente todo o ano contra o rebaixamento dos salrios provocado pela reforma administrativa.

    Depois de dias de greves, protestos e passeatas contra o autoritarismo belga, e a demora do resultado do dissdio, os operrios voltam ao trabalho com as garantias do aumento de 30% e o de recebimento das horas paradas30. Ficou assim resolvido o caso das reivindicaes dos txteis no ano de 1952. Saindo vitoriosos e mostrando uma grande mobilizao e conscincia de classe. Da participao ativas dos trabalhadores da SCBB surte o efeito para o ajuste nos seus salrios. Essa experincia vai dar flego s movimentaes pelo salrio mnimo.

    Por outro lado sofreram com as demisses de muitos dos envolvidos nos movimentos grevistas. Muitos dos envolvidos foram demitidos, alguns, com aes das comisses e do sindicato, voltaram. Outros no31. As intransigncias patronais se tornam mais fortes no propsito de coibir novas aes dos operrios, e um dos recursos era a demisso de funcionrios acusados de participarem da greve, mesmo com estabilidade garantida por lei.

    Consideraes finais

    Esta comunicao teve o papel de mostrar, pormenorizadamente, as movimentaes reivindicatrias dos txteis no ano de 1952. Entre piquetes, comisses e organizao da classe, esses operrios do uma imensa demonstrao de sua fora. Marcando os anos 50 naquela cidade, onde viro, posteriormente, novas greves e mobilizaes, sob outros propsitos.

    29

    Mais detalhes sobre essa greve e da participao dos operrios de Moreno encontra-se na nossa dissertao,

    que est em processo e construo. 30

    Relatrio 25/10/52 Pronturio funcional da fbrica de Moreno. p. 02, 03. Fundo SSP n 5825-B. Acervo DOPS-

    PE. APEJE. 31

    Folha do Povo 1/11/1952. APEJE

  • 16

    Houve muitas resistncias e reivindicaes nos anos anteriores a 1952, porm, aquele ano mostra toda a organizao da classe, que, com relativa liberdade democrtica32 se pem em cena com suas aspiraes, baseadas num direito adquirido que ganha novas formas concomitantemente se organiza as lutas e a classe. E o que vemos a insurgncia de uma clara demonstrao de conscincia de classe na luta por seus direitos.

    A nossa inteno foi detalhar os acontecimentos do ano de 1952 contextualizando-o ao perodo 1946-1964, quando h em todo o pas claras movimentaes trabalhistas de massa. De forma mais incisiva no sudeste do Brasil, eixo Rio-So Paulo, mas tambm em outras regies. Nossa pesquisa visa tanto demostrar essas lutas fora do eixo Rio-So Paulo, quanto trazer para a historiografia do trabalho, com vis social, os trabalhadores da Societ Cotonnire Belge Brsilienne, fbrica com vila operrio no interior de Pernambuco.

    Referncias bibliogrficas

    CORREIA, Telma de Barros. DE VILA OPERRIA A CIDADE-COMPANHIA: as aglomeraes criadas por empresas no vocbulo especializado e vernacular. R.B. estudos urbanos e regionais n 4, Maio 2001.

    FONTES, Paulo. Um nordeste em So Paulo: trabalhadores migrantes em So Miguel Paulista (1945-66)- Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.

    _____________. Trabalhadores e cidados: Nitro Quimca: a fbrica e as lutas operrias nos anos 50. So Paulo: Annablume, 19997.

    32

    Falamos em relativa porque h uma grande perseguio, entre os operrios, e na sociedade de uma forma

    geral, aos comunistas, ou aos supostos comunistas. V-se muitas vezes que reivindicar, fazer greves, foi

    sinnimo de ser subversivo, consequentemente, tratado como algo ilegal, criminoso. Muitos operrios foram

    perseguidos, presos para depoimentos, demitidos, com o uso desse argumento pelas foras policiais. De uma

    forma geral esse discurso anticomunista foi muito forte no Estado de Pernambuco, seja fazendo seu uso contra

    os operrios, seja nos movimentos das ligas camponesas.

  • 17

    FORTES. Alexandre [et al.]. Na luta por direitos: leituras recentes em histria social do trabalho. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1999.

    JEAN, Suettinni. Um lugar belga em Pernambuco: o ncleo fabril da Societ Cotonnire Belge-Brsilienne S. A. e a consolidao em cidade de Moreno. Dissertao de mestrado CAC. Arquitetura. Recife, 2011.

    LOPES, Jos Sergio Leite. A tecelagem dos conflitos de classe na cidade das chamins. So Paulo/ Braslia, Marco zero/ editora da UnB, 1988. MONTENEGRO, Antnio Torres. Histria, memria e metodologia. So Paulo: Contexto, 2010.

    NEGRO, Antnio Luigi. Linhas de montagem o industrialismo nacional

    desenvolvimentista e a sindicalizao dos trabalhadores, 1945-1978. So Paulo: Boitempo, 2004.

    _______________________. No trabalhou porque no quis: greve de trabalhadores txteis na justia do trabalho (Bahia, 1948). Revista Brasileira de Histria. So Paulo, v 32, n64, p101-128-2012.

    PORFRIO, Pablo F. de A.. Medo, comunismo e revoluo: Pernambuco (1959-1964). Recife. Ed. Universitria da UFPE, 2009.

    THOMPSON, E. P. A formao da classe operria Inglesa. Rio de Janeiro: Paz Terra, 1987. _________________. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. So Paulo : companhia das letras, 1998.

  • 18