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15 MINUTOS NEWTON SCHEUFLER Coordenador da Casa da Mão Coordenador da TV Universitária Professor da disciplina “Elementos de Estética e Comunicação” Do Curso de Comunicação ocial da UC! “A Pop Art expressa não a criatividade do povo, e sim a não-criatividade da massa.” "#iullio Carlo $r%an& “A incapacidade da crítica em reconhecer o valor da pintura impressionista, quando ela surgiu, gerou nos críti futuros um complexo de culpa e uma intimidação tal que, hoe, tudo o se anuncia como novidade a crítica se sente o!rigada a aprovar "'erreira #ullar& e%undo #iullio Carlo $r%an( em seu céle)re tratado so)re a $rte Moderna( “a Arte nasce na *n%laterra com +amilton e ,ita- e( posteriormente( na década de ./”( ass Estados Unidos0 1 %rande cr2tico italiano descreve3a como uma concepção “não ut4p até mesmo desalentada e passiva( da realidade social”0 Desconforto individual( individualismo( desesperança e sociedade de consumo( conf se nas manifestaç5es da arte pop0 $ face torpe do capitalismo e a dimensão %rotes Moderna estão nela presentes0 Mas000 6uem sou eu para falar de 2cones da cultura contempor7nea como 8asper 8o9ns( :o- ;ic9tenstein( $nd- <ar9ol ou :o)ert :auc9ens)er%= e6uer sa)oreei meus >? minutos de fama0 ou um simples professor d uma @ovem Universidade localiAada em terras )rasileiras centro3ocidentais( sou ta pintor "inclusive de paredes& descon9ecido0 Ten9o um estBma%o muito fraco( deter pelo café e pelo ci%arro dois praAeres imensuráveis ( suporto com muita dificul manifestaç5es art2sticas( em outras palavras simplesmente não consi%o “en%ulir” e tudo o 6ue ela representa0 1 6ue neste momento escrevo( se dá mais por um dese@ atender F solicitação de al%umas alunas 6ue( com a6uele ol9ar caracter2stico de e desesperado diante das o)ri%aç5esGatividadesGpraAeres da academia( pediam min9a contri)uição no preenc9imento de um espaço %ráfico no 8ornal ;a)orat4rio H Este Arte"#ato H de seu curso de Comunicação ocial0 !em sei 6ue a desimport7ncia do ten9o a diAer se6uer corresponde Fs eIi%Jncias da tarefa( mas não tive cora%em de decepcionar a6uele ol9in9os assustados0 Ka impossi)ilidade de livrar3me da cultura “norte3americana”( resi%no3me tentand aproveitar al%uns tesouros 6ue c9e%am das terras setentrionais0 1uço @aAA( )lues( H aprecio so)remodo( ve@am 6ue paradoIal( Velvet Under%round( a )anda 6ue faAia sonora da “'á)rica”( espécie de atelierG)oateGrefN%io 6ue $nd- <ar9ol montou em K OorL0 $doro !uLo sLi e ac9o os tJnis KiLe eItremamente confortáveis0 Confesso 6u Mac Donalds aceito apenas as )atatas fritas e( mesmo assim( imediatamente ap4s te

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Sobre a arte Pop

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15 MINUTOS

15 MINUTOS

NEWTON SCHEUFLER

Coordenador da Casa da Mo

Coordenador da TV Universitria

Professor da disciplina Elementos de Esttica e Comunicao

Do Curso de Comunicao Social da UCBA Pop Art expressa no a criatividade do povo,

e sim a no-criatividade da massa.

(Giullio Carlo Argan)

A incapacidade da crtica em reconhecer o valor

da pintura impressionista, quando ela surgiu, gerou nos crticos

futuros um complexo de culpa e uma intimidao tal que, hoje, tudo o que

se anuncia como novidade a crtica se sente obrigada a aprovar.

(Ferreira Gullar)

Segundo Giullio Carlo Argan, em seu clebre tratado sobre a Arte Moderna, a Arte Pop nasce na Inglaterra com Hamilton e Kitay e, posteriormente, na dcada de 60, assola os Estados Unidos. O grande crtico italiano descreve-a como uma concepo no utpica, e at mesmo desalentada e passiva, da realidade social.

Desconforto individual, individualismo, desesperana e sociedade de consumo, confundem-se nas manifestaes da arte pop. A face torpe do capitalismo e a dimenso grotesca da Arte Moderna esto nela presentes. Mas... quem sou eu para falar de cones da cultura contempornea como Jasper Johns, Roy Lichtenstein, Andy Warhol ou Robert Rauchensberg? Sequer saboreei meus 15 minutos de fama. Sou um simples professor de uma jovem Universidade localizada em terras brasileiras centro-ocidentais, sou tambm um pintor (inclusive de paredes) desconhecido. Tenho um estmago muito fraco, deteriorado pelo caf e pelo cigarro [dois prazeres imensurveis], suporto com muita dificuldade certas manifestaes artsticas, em outras palavras: simplesmente no consigo engulir a arte pop e tudo o que ela representa. O que neste momento escrevo, se d mais por um desejo de atender solicitao de algumas alunas que, com aquele olhar caracterstico de estudante desesperado diante das obrigaes/atividades/prazeres da academia, pediam minha contribuio no preenchimento de um espao grfico no Jornal Laboratrio Este Arte&Fato de seu curso de Comunicao Social. Bem sei que a desimportncia do que tenho a dizer sequer corresponde s exigncias da tarefa, mas no tive coragem de decepcionar aquele olhinhos assustados.

Na impossibilidade de livrar-me da cultura norte-americana, resigno-me tentando aproveitar alguns tesouros que chegam das terras setentrionais. Ouo jazz, blues, rockn roll aprecio sobremodo, vejam que paradoxal, Velvet Underground, a banda que fazia a trilha sonora da Fbrica, espcie de atelier/boate/refgio que Andy Warhol montou em Nova York. Adoro Bukowski e acho os tnis Nike extremamente confortveis. Confesso que do Mac Donalds aceito apenas as batatas fritas e, mesmo assim, imediatamente aps terem sido fritas. Tambm aprecio cigarros Malboro e Coca-Cola, fazer o qu?! Mas a arte pop mesmo, para usar uma expresso acadmica, de lascar. Como professor de esttica tenho a obrigao de compreender o movimento, ainda que no tenha sido exatamente um movimento, e de explicar a meus alunos a importncia referencial, para nossos tempos [ps-modernos????] da obra, p.ex., de Andrew Warhola (o nome de batismo de Andy Warhol), contudo, pessoalmente, considero aquelas manifestaes artsiticas, que ocorreram nos EUA na dcada de 60, lamentveis, tristes, angustiantes, oportunistas, medocres, pobres, grotescas, nada mais do que um amontoado de lixo cultural feito com lixo cultural que nos imposto, assim como os seriados de TV e uma boa parte dos filmes roliudianos.

A mostra de arte pop, que neste momento infecta o Centro Cultural Banco do Brasil serve apenas para confirmar minhas impresses. A sensao de que algum l do norte nos considera acrticosimbecisterceiromundistascucarachos muito forte. Toda pompa e circunstncia miditica que eleva a exposio de Warhol e Haring condio de grande evento cultural, faz-me sentir um tolo. Acho que estou ficando velho e ranzinza, mas, ainda no, cego. Sou daqueles que buscam um sentido propedutico para a arte, daqueles que acreditam na possibilidade de uma educao esttica do homem, sou daqueles que ainda tentam compreender Kant, Hegel, Goethe, Schiller e Nietzsche e Baudelaire e Guimares Rosa. Tenho olhos por demais sensveis e vejam que no saudosistas para gostar do que vi. Se pudesse dar um conselho a meus alunos diria: - V mostra, veja tudo atentamente e depois vomite no hall de entrada. Mais tarde, para aliviar seu esprito v at o Conjunto Cultural da Caixa lembrar de sua infncia com a Mnica e o Cebolinha.