19 aos - moodle usp: e-disciplinas

15
p Lagos duplos no Pantanal do Mato Grosso do Aul. Parque Estadual do Rio Negro – PERN – MS. J. B. Sigolo I18_4471_F002_ABERT_CAP – EM APROVAÇÃO P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2 Janete Bete 19. Lagos u Os lagos são fruto de uma depressão produzida na superfície da terra, de forma natural ou ar- tificial, os quais se encontram preenchidos por água confinada. u As águas dos lagos encontram-se praticamente paradas e, por tanto, tais meios físicos são conhe- cidos como Hábitats Lênticos. u A recarga de um lago provém das chuvas, de nas- centes, do derretimento de geleiras e das drena- gens superficiais, podendo também ser realizada por todos estes fatores simultaneamente. u A quantidade de água de um lago depende do clima regional e normalmente é doce, mas existem alguns lagos salgados importantes no mundo, como o Grande Lago Salgado do estado de Utah, EUA. u As formas, as profundidades e as extensões dos lagos são muito variáveis e representam feições de duração relativamente efêmera quando com- parada à escala de tempo geológico de dezenas a centenas de milhões de anos. u Em geral não há distinção clara no emprego das denominações lago e lagoa. Embora não exis- ta um limite entre lago e lagoa, comumente o termo lagoa refere-se a um lago de pequenas dimensões. Por outro lado, o termo laguna res- tringe-se a uma lagoa ou lago com comunicação restrita com o oceano. Principais conceitos LAGOS 321

Upload: others

Post on 20-Oct-2021

17 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

p Lagos duplos no Pantanal do Mato Grosso do Aul. Parque Estadual do Rio Negro – PERN – MS.

J. B.

Sig

olo

I18_4471_F002_ABERT_CAP – EM APROVAÇÃO

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

19. Lagos

u Os lagos são fruto de uma depressão produzida na superfície da terra, de forma natural ou ar-tificial, os quais se encontram preenchidos por água confinada.

u As águas dos lagos encontram-se praticamente paradas e, por tanto, tais meios físicos são conhe-cidos como Hábitats Lênticos.

u A recarga de um lago provém das chuvas, de nas-centes, do derretimento de geleiras e das drena-gens superficiais, podendo também ser realizada por todos estes fatores simultaneamente.

u A quantidade de água de um lago depende do clima regional e normalmente é doce, mas existem alguns lagos salgados importantes no

mundo, como o Grande Lago Salgado do estado de Utah, EUA.

u As formas, as profundidades e as extensões dos lagos são muito variáveis e representam feições de duração relativamente efêmera quando com-parada à escala de tempo geológico de dezenas a centenas de milhões de anos.

u Em geral não há distinção clara no emprego das denominações lago e lagoa. Embora não exis-ta um limite entre lago e lagoa, comumente o termo lagoa refere-se a um lago de pequenas dimensões. Por outro lado, o termo laguna res-tringe-se a uma lagoa ou lago com comunicação restrita com o oceano.

Principais conceitos

LAGOS 321

IG-USP
Strikeout
IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
Sul
IG-USP
Insert Text
Imagem aprovada pelos autores
IG-USP
Insert Text
do aporte de águas subterrâneas
IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
qualidade
Page 2: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

CAPÍTULO 19322

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

IntroduçãoNesta unidade foi apresentada a descrição

e importância de alguns ambientes aquáticos, principalmente os localizados em ambientes continentais. Dos diversos tópicos apresenta-dos, devem ser destacados os referentes à água subterrânea (Capítulo 15) e os sistemas fluviais (águas superficiais) (Capítulo 16). Tal impor-tância está ligada à crescente dependência do ser humano para com a utilização de água doce, essencial não só ao consumo humano, mas também ao desenvolvimento de ativida-des industriais e agrícolas, além de ser impor-tante aos ecossistemas e às atividades de lazer. Esses reservatórios por diversos motivos, que vão desde a industrialização até o uso e ocu-pação desordenada do solo, encontram-se al-terados química e biologicamente e, portanto,

A origem dos lagosNa natureza existem diversos tipos de lagos,

classificados segundo diferentes critérios, tais como: gênese, qualidade da água, regimes hidroló-gicos e regimes climáticos (Suguio, 2003).

Desses diversos tipos, será dada maior ênfase para os de origem geológica (relacionados com a gênese), dentre esses temos: 1) lagos tectônicos; 2) lagos vulcânicos; 3) lagos glaciais; 4) lagos flu-viais; 5) lagos eólicos; 6) lagos cársticos (ou de afundamento), 7) lagos deltaicos, 8) lagos reliquia-res e 9) lagos pluviais.

Os maiores e principais lagos conhecidos na superfície da Terra têm, em geral, origens glaciais, tectônicas e/ou vulcânicas. Os lagos de origem glacial são os mais numerosos do planeta, consti-tuindo cerca de 90% do total de lagos conhecidos na Terra. Esses lagos ocupam parte de vales mo-delados pelas geleiras e são resultantes da fusão do gelo. Os lagos formados por fenômenos gla-ciais estão localizados principalmente no Canadá, nos Andes (Titicaca e outros), Escandinávia e Rússia; esses cobrem cerca de 58% dos 2,5 mi-lhões de quilômetros quadrados da superfície da Terra. Há ainda lagos importantes existentes abaixo de camadas de gelo que cobrem áreas continentais, seja no continente Antártico (lago Vostok) seja em outras áreas continentais.

inadequados ao uso como fonte de água potá-vel. Essas alterações resultam principalmente da utilização e gestão impróprias dos recursos hídricos como, por exemplo, pelo lançamento indiscriminado de lixos domésticos e indus-triais, bem como esgotos sem tratamentos, além do uso de fertilizantes e agrotóxicos que, como destino final, chegam aos sistemas aquáticos. Consequentemente, é extremamente importan-te o estudo detalhado desses corpos de água, principalmente quanto à sua origem e dinâmi-ca. Dessa forma, este capítulo tem por finalida-de introduzir, como formação e informação na análise de um meio físico, os diversos processos existentes na dinâmica e gênese de sistemas la-custres, além de exibir as principais modifica-ções que podem surgir nesse meio.

Outro grande grupo de lagos encontra-se classificado nas chamadas bacias de subsidência ou em fossas de abatimento tectônico. Esses foram originados a partir de fenômenos tectô-nicos, como no caso dos lagos Turkana, Kivu, Tanganica e Malawi, na África e o Baikal, na Sibéria.

O grupo de lagos de origem vulcânica ocupa crateras ou caldeiras (ver Capítulo 8) de corpos vulcânicos extintos, sendo pouco numerosos e re-lativamente pequenos quando comparados com os de origem glacial e tectônica.

Além dos tipos acima mencionados, uma parte importante de lagos é originada pelo re-presamento de grandes volumes de água pro-duzidos pela ação do homem com diferentes propósitos, tal como irrigação, produção de energia elétrica, abastecimento doméstico e uso agrícola ou industrial. Esse tipo de lago acaba sendo denominado de lago artificial, pois possui uma origem antrópica.

No Brasil, a existência de lagos naturais re-centes é bastante restrita (existem lagos antigos, com mais de 30 milhões de anos, exibindo gran-des proporções como antigo lago existente no Vale do Paraíba – Formação Taubaté), tal as-pecto relaciona-se à inexistência de fenômenos

IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
lançamento de esgoto sem tratamento
IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
são destacados os seguintes:
IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
na área continental terrestre
IG-USP
Strikeout
IG-USP
Strikeout
IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
a Bacia sedimentar do Vale do Paraiba formada a partir de um antigo lago
IG-USP
Strikeout
Page 3: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

LAGOS 323

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

geotectônicos e climáticos capazes de propiciar à sua formação. Segundo Suguio (2003), o tipo de lago mais frequente na América do Sul, e es-pecialmente no Brasil, é o do tipo fluvial. Esses lagos foram originados em sua grande totalidade por meandros abandonados situados nas planí-cies de inundação dos rios Amazonas (em alguns de seus tributários, como o Tapajós e Negro), Paraná, Paraguai e inúmeros outros. Os maiores

exemplos de lagos naturais no Brasil encontram--se na região do Pantanal e nas áreas de planície de inundação existentes na Amazônia. Outra par-cela, menos expressiva que as anteriores são rela-tivas aos lagos existentes nas porções litorâneas (Lagoa dos Patos no Rio Grande do Sul, Região dos Lagos no Rio de Janeiro, lagos interdunas no nordeste brasileiro e na região dos Lençóis Maranhenses).

Principais tipos de lagosLagos tectônicos

Esses lagos são formados a partir de movi-mentos tectônicos atuantes no interior da crosta terrestre, capazes de causar descontinuidades verticais, representadas por falhas e fraturas (ver Capítulo 11). Tais descontinuidades ori-ginam porções de relevo mais elevadas de um lado e mais rebaixadas de outro, resultando

na aparição de um ou mais lagos, a partir do preenchimento por água da porção que sofreu rebaixamento (Figura 19.1). Nesses lagos, fre-quentemente, a margem é quase retilínea e a estrutura bastante simples, sendo que podem exibir grandes extensões e elevadas profundida-des (Suguio, 2003).

Conforme demonstram alguns pesquisado-res especialistas no estudo de lagos, os lagos tectônicos foram gerados principalmente a cerca de 12 milhões de anos, sendo considerados os mais antigos do globo. Eles estão localizados

nas chamadas fossas tectônicas (graben, em ale-mão ou rift valley, do inglês) Os exemplos mais representativos são: mar Cáspio, Tahoe, Rift Africano, Tanganyika, Victória (Figura 19.2), Baikal (Figura 19.3) etc.

p Figura 19.1 – Modelo esquemático de lagos tectônicos. (Dos autores.)

lago tectônico

I18_4471_I001_FIGURA1 – EM APROVAÇÃO Cré

dito

IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
Outros
IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
12
IG-USP
Insert Text
Figura aprovada pelos autores.
Page 4: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

CAPÍTULO 19324

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

p Figura 19.2 – Lago Victória, NASA.

Nas

a/W

ikim

edia

Com

mon

s

I18_4471_F004_FIGURA2– EM APROVAÇÃO

O lago Baikal é um dos mais antigos do mundo e tem sua origem a partir de fa-lhas tectônicas. Ele está localizado no sul da Sibéria-Rússia, entre Oblast e Irkutsk, no no-roeste, e Buryatia, no sudeste. Apresenta 636 km de comprimento e 80 km de largura, e em alguns pontos desse lago a profundidade ultrapassa os 1.600 m e exibe uma superfície de 31.500 km². É considerado o lago mais profun-do da Terra e contém cerca de 20% da água doce conhecida no planeta. Este lago é tão grande que, se ele estivesse vazio e todos os rios na Terra depositassem as suas águas no seu interior, levaria pelo menos um ano para enchê-lo.

Deságuam nele cerca de 300 rios. É o hábi-tat de 1.085 espécies de plantas e de 1.550 es- pécies e variedades de animais. p Figura 19.3 – Lago Baikal.

I18_4471_F005_FIGURA3– EM APROVAÇÃO

Cré

dito

s

Lago Baikal

IG-USP
Insert Text
Figura aprovada pelos autores.
IG-USP
Insert Text
figura aprovada pelos autores.
Page 5: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

LAGOS 325

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

Lagos de origem vulcânicaA maioria dos lagos vulcânicos é

formada principalmente a partir do cone de dejeção do vulcão (Capítu-lo 8), originando, dessa forma, três tipos distintos de lagos: 1) lagos de caldeira, 2) lagos de cratera e 3) la-gos do tipo Maar.

Os lagos de caldeiras (Figura 19.4) são formados quando a erupção vul-cânica é muito intensa, provocando a destruição do cone central do aparelho vulcânico (corpo do vul-cão). Neste caso, resta apenas uma depressão central denominada cal-deira. A Figura 19.4 retrata o lago Taal, lago de caldeira localizado nas Filipinas (exemplo clássico desse tipo de lago).

Os lagos de cratera (Figura 19.5) são originados no interior de cones de vulcões extintos apresentando pequena extensão, grande profun-didade e, em geral, formas circula-res. A Figura 19.5 exibe o lago Maly Semiachik, localizado na Rússia.

Os lagos do tipo Maar (Figu- ra 19.6) são gerados a partir de explosões gasosas subterrâneas, seguidas de afundamento da região atingida sem a existência de der-rames de lavas. A morfologia desse tipo é circular e apresenta grande profundidade em relação à sua área. Um exemplo desse tipo de lago é o Nyos (Figura 19.6), formado no in-terior de um “Maar”, situado no no-roeste dos Camarões.

p Figura 19.4 – Lago vulcânico do tipo Caldeira: lago Taal (Filipinas).

I18_4471_F006_FIGURA4 – EM APROVAÇÃO

Mik

e G

onza

lez

(The

Coff

ee)/

Wik

imed

ia C

omm

ons

p Figura 19.5 – Lago vulcânico do tipo cratera: lago Maly Semiachik (Rússia).

I18_4471_F007_FIGURA5 – EM APROVAÇÃO

Svic

kova

/Wik

imed

ia C

omm

ons

p Figura 19.6 – Lago vulcânico do tipo Maar: lago Nyos (Camarões).

I18_4471_F008_FIGURA6 – EM APROVAÇÃO

© C

orb

is.

All

Righ

ts R

eser

ved.

O lago Nyos é um lago vulcânico formado no interior de um “Maar”, situado no noroeste dos Camarões. Ele é profundo e situa-se a média alti-tude no flanco do Monte Oku, vulcão inativo per-tencente à Linha Vulcânica dos Camarões. Uma barragem natural, formada por rocha vulcânica, mantém o lago. A desgaseificação dos materiais

vulcânicos subjacentes faz com que as águas do lago sejam extremamente ricas em dióxido e mo-nóxido de carbono, o qual, quando liberado su-bitamente para a atmosfera, pode causar asfixia dos habitantes das áreas vizinhas. Esse fenômeno já ocorreu nesse mesmo lago em 1986, causando mais de 1.800 mortos.

Lago Nyos (Figura 19.6)

IG-USP
Insert Text
figura aprovada pelos autores.
IG-USP
Insert Text
figura aprovada pelos autores.
IG-USP
Insert Text
figura aprovada pelos autores.
Page 6: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

CAPÍTULO 19326

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

Lagos glaciaisComo mencionado anteriormente, os lagos

glaciais são os mais numerosos e sua origem, em grande parte, está vinculada à última glaciação pleistocênica, há aproximadamente 10.500 anos. Esse tipo de lago é encontrado com bastante frequência nas regiões de alta latitude (re giões temperadas).

De acordo com Esteves (1988), os tipos de la-gos glaciais mais frequentes são: 1) lago em circo, 2) lagos em vales barrados por morenas, 3) lagos de fiordes e 4) lagos em terrenos de sedimentação glacial.

Os lagos em circo são resultantes da ação de congelamento e descongelamento da água. Os lagos desse tipo, de maneira geral, são peque-nos e relativamente profundos, encontrados com frequên cia em regiões montanhosas. A forma des-te tipo de lago é circular ou em anfiteatro.

Os lagos em vales barrados por morenas (Figu- ra 19.7) são formados a partir da obstrução dos vales pelas morenas (sedimentos transportados por gelei-ras, normalmente blocos de diversos materiais rocho-sos [ver Capítulo 17]), ocasionando o aprisionamento da água resultante do derretimento das geleiras.

Os lagos de fiordes são resultantes da escavação de vales nas escarpas das montanhas pela ação da erosão glacial. Esses apresentam formas alonga-das, estreitas e profundas. Os melhores exemplos são encontrados na Groenlândia e na Noruega.

Lagos em terrenos de sedimentação glacial: as irregularidades em terrenos formados por morenas geram grandes quantidades de lagos.

Recebendo o nome genérico de “lagos de cal-deirão”, estes podem ter diferentes origens: de-pressões existentes em locais de antigas geleiras continentais preenchidas com água e/ou blocos de gelo desprendidos de geleiras e, posteriormen-te, transportados de maneira a servirem de ponto de apoio para o acúmulo de sedimentos que, em alguns casos, acabam aterrando o mesmo.

lago

frente da geleira

morenasfrontais

geleiras

p Figura 19.7 – Figura esquemática de lagos glaciais formados em vales barrados por morenas.

I18_4471_I002_FIGURA7 – EM APROVAÇÃO

Cré

dito

s

IG-USP
Strikeout
IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
Os
IG-USP
Insert Text
ATENÇÃO: A INDICAÇÃO DA COTA "MORENAS FRONTAIS" ENCONTRA-SE ERRADA. ELA DEVE INDICAR A BARREIRA QUE RETEM A ÁGUA DO LAGO E NÃO ESSA TRIPA QUE SAI DA GELEIRA PARA O LAGO.
IG-USP
Insert Text
figura aprovada pelos autores. DESDE QUE CORRIGIDA A COTA INDICADA.
Page 7: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

LAGOS 327

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

Lagos fluviaisOs lagos fluviais podem ser de três tipos:

1) lagos de barragem, 2) lagos de inundação e 3) lagos de ferraduras ou de meandros.

Os lagos de barragem são formados quan-do, em uma bacia hidrográfica, o rio principal transporta grande quantidade de sedimento que é depositado ao longo do seu leito. Tal deposição provoca uma elevação do nível do leito desse rio, causando eventualmente represamento nas con-fluências de seus afluentes, que assim represados acabam se transformando em lagos. Os afluentes geralmente são pobres em sedimentos aluvionares

e assim não acompanham a elevação do leito do rio principal.

Os lagos de inundação são formados em am-bientes de baixa declividade, com pouca oscilação vertical do relevo. Tais condições topográficas aca-bam por imprimir características peculiares a esses lagos, cuja variação de seu nível d’água encontra--se ditada pela maior ou menor precipitação das chuvas locais. O melhor exemplo desse tipo de lago é encontrado no Leque do Rio Taquari, na região da Nhecolândia, no Pantanal do Mato Grosso do Sul (Figura 19.9).

O lago Vostok é uma massa de água subglacial localizada no continente antártico, sobre o qual se encontra uma das estações da antiga Rússia na Antártida. Esse lago é coberto por quase quatro quilômetros de gelo (Figura 19.8). Por esse motivo, permaneceu desconhecido durante muito tempo e permanece como uma das últimas regiões por explorar no planeta Terra. No ano de 1996 foi de-limitada a sua verdadeira extensão. O lago Vostok possui forma elíptica com 250 km de comprimento e 40 km de largura, cobrindo uma área de 14.000 km2. O seu fundo é irregular e divide-se em duas bacias, a mais profunda com cerca de 800 m e a outra com 200 m. Calcula-se que o lago contenha um volume de 5.400 km3 de água doce. Ele não possui contato direto com a atmosfera. Segundo alguns cientistas, esse lago era um lago normal, coberto posterior-mente por gelo à medida que se desenvolveram as calotas polares da Antártida.

p Figura 19.8 – Figura esquemática do lago Vostok.

gelo glacial4 km

água líquida lago

Estação Russa Vostok

gelo do lago

sedimentos

I18_4471_I003_FIGURA8 – EM APROVAÇÃO Cré

dito

s

Lago Vostok

p Figura 19.9 – Lagos fluviais de inundação – Parque Estadual do Rio Negro, MS. (Fotografia: J. B. Sigolo).

I18_4471_F009_FIGURA9 – EM APROVAÇÃO

J. B.

Sig

olo

IG-USP
Insert Text
figura aprovada pelos autores.
IG-USP
Insert Text
classificados
IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
em
IG-USP
Insert Text
no Brasil
IG-USP
Insert Text
figura aprovada pelos autores.
Page 8: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

CAPÍTULO 19328

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

Os lagos de ferradura ou de meandros (Figura 19.10) são formados por rios localizados em regiões de planícies e que já atingiram o ponto limite abaixo do qual a erosão das águas corren-tes não é mais efetiva. Em algumas circunstân-cias, encontram-se na mesma altitude que o nível do mar (nível de base). Nessas condições, tais rios apresentam curso sinuoso, e essa sinuosidade re-cebe o nome de meandro. Pode ocorrer grande

número de lagos ao longo desse tipo de rio sinuoso (meandrantes). Esses lagos são formados através do isolamento de meandros por processos de ero-são e sedimentação das margens (Figura 19.10). Os lagos assim formados recebem o nome de lago de ferradura ou de meandro, e os exemplos mais mar-cantes desse tipo de lago são encontrados princi-palmente na região Norte do Brasil, em boa parte do Pantanal e no Vale do Paraíba – SP.

Lagos eólicos A deposição de sedimento (areia) em alguns

trechos do rio, pela ação do vento, pode originar lagos. Esse fenômeno ocorre com frequência no Nordeste brasileiro (Figura 19.11).

O exemplo mais representativo no Brasil é en-contrado no estado do Maranhão, na região de

Lençóis Maranhenses. Os ventos alísios, NE, típi-cos do Nordeste e outras regiões brasileiras, pro-movem o deslocamento das areias que formam as dunas, as quais, ao se acomodarem em um novo local, podem represar pequenos córregos, trans-formando-os em lagos (Figura 19.12).

p Figura 19.10 – Lagos fluviais de meandros. Imagem do Pantanal – MS.

I18_4471_F010_FIGURA10 – EM APROVAÇÃO

Imag

e co

urte

sy o

f the

Imag

e Sc

ienc

e &

& A

naly

sis

Lab

orat

ory,

NA

SA J

ohns

on S

pac

e C

ente

r

p Figura 19.11 – Lago formado pela atividade eólica, Dunas em Flexeiras, Ceará.

Wer

ner Z

otz/

Emb

ratu

r

I18_4471_F011_FIGURA11 – EM APROVAÇÃO

p Figura 19.12 – Lago formado pela atividade eólica, Lençóis Maranhenses.

Wer

ner Z

otz/

Emb

ratu

r

I18_4471_F012_FIGURA12 – EM APROVAÇÃO

IG-USP
Insert Text
figura aprovada pelos autores.
IG-USP
Strikeout
IG-USP
Insert Text
do Mato Grosso (MS)
IG-USP
Insert Text
figura aprovada pelos autores.
IG-USP
Insert Text
figura aprovada pelos autores.
IG-USP
Strikeout
Page 9: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

LAGOS 329

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

Lagos deltaicosEsse lago é formado ao longo da margem ou no

interior dos deltas como, por exemplo, pela cons-trução de barras arenosas através de embaiamentos ou pelo aprisionamento (barragem) de parte do mar pelas sedimentações deltaica (Suguio, 2003).

Lagos reliquiaresEsses lagos são formado em áreas submetidas

a transgressões marinhas, seguidas por regressões marinhas, em zonas costeiras. Os lagos reliquia-res são encontrados nas planícies costeiras das

desembocaduras dos rios Doce (ES) e Paraíba do Sul (RJ), representados respectivamente pelas la-goas Bonita e Feia.

Lagos pluviaisOs lagos pluviais estão inseridos na bacia inte-

rior de regiões secas e foram originados durante os períodos glaciais, quando a pluviosidade era mui-to maior que a atual, para uma mesma região. Um exemplo de lago pluvial é o lago Bonneville, que se estende por parte dos estados de Utah, Nevada oriental e sul de Idaho.

Lagos cársticos ou de afundamentoRelevo cárstico ou sistema cárstico é um tipo

de relevo caracterizado pela dissolução química das rochas cuja composição é predominantemente de minerais carbonatados (de fácil dissolução) (ver Ca-pítulo 15), levando ao aparecimento de uma série de feições, tais como cavernas, dolinas, dentre outras. O relevo cárstico ocorre predominantemente em terre-nos constituídos de rocha calcária, mas também pode ocorrer em outros tipos de rochas carbonáticas, como o mármore e rochas dolomíticas e de modo um pou-co menos frequente também em rochas sedimentares clásticas como arenitos.

Nesse tipo de formação, parte da água pode encontrar-se estacionada em depressão fecha-da, conhecida como dolina (ver Capítulo 15), o que resulta na formação de um lago cárstico. (Figura 19.13)

As dolinas variam muito de tamanho, de pou-co mais de um metro de diâmetro e com pequena profundidade a grandes crateras com centenas de metros de diâmetro e grandes profundidades; des-sa forma, esses tipos de lagos podem apresentar dimensões variadas de acordo com a configuração morfológica da dolina que o contém.

p Figura 19.13 – Lago cárstico. Dolina com água em seu interior.

I18_4471_F013_FIGURA13 – EM APROVAÇÃO

Mas

on B

erry

/Fun

daçã

o W

ikim

edia

IG-USP
Insert Text
figura aprovada pelos autores.
IG-USP
Insert Text
nos Estados Unidos da América.
Page 10: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

CAPÍTULO 19330

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

Lagos antropogênicos: represas, reservatórios e açudes

Os lagos artificiais brasileiros (Figura 19.14), formados pelo represamento de rios, recebem di-ferentes denominações, tais como represas, reser-vatórios e açudes, representando nesse caso nada mais que sinônimos, uma vez que esses ambientes têm a mesma origem e finalidade. No Brasil, fo-ram construídas inúmeras barragens, cujo objetivo principal é à geração de energia elétrica. A cons-trução dessas barragens resultou na formação de um grande número de lagos artificiais.

Os açudes são de elevada importância socio-econômica na região Nordeste. Através de sua construção (na maioria das vezes são formados por barragens construídas basicamente pelo acú-mulo e compactação de solo e rochas alteradas) é possível o armazenamento de água para forneci-mento à população humana e para diversos tipos de atividades agropastoris na zona rural.

A construção de barragens, com consequente formação de grandes lagos artificiais produz dife-rentes alterações não apenas no ambiente aquáti-co, mas também no ambiente terrestre circunscrito ao lago formado.

p Figura 19.14 – Represa de Guarapiranga.

I18_4471_F014_FIGURA14 – EM APROVAÇÃO

Puls

ar Im

agen

s Lt

da

Compartimentos de um LagoOs principais compartimentos de um sistema

lacustre são: coluna de água e sedimento.

Coluna de águaAs águas dos lagos contêm diversos elementos

e compostos químicos: cálcio, magnésio, sódio, po-tássio, ferro, manganês, cloreto, sulfato, carbonato e bicarbonato. Estes apresentam-se na forma de solutos, ou seja, na forma dissolvida. A concentra-ção de cada um desses elementos varia de um lago para outro, em função da composição das rochas existentes na bacia de drenagem (contexto litoló-gico) que alimenta e estabelece a recarga da bacia de acumulação, além do regime de chuvas no local de existência do lago. Além do contexto litológico e das chuvas, a composição das águas também é um reflexo da atividade humana realizada tanto no interior como no entorno do ambiente aquá-tico. Dentre os componentes da água, o oxigênio, o nitrato e o fósforo são importantes na dinâmica

e no metabolismo da vida contida no lago, como será descrito a seguir.

Oxigênio dissolvido: dentre os gases dissolvidos na água, o oxigênio representa o elemento básico na dinâmica e caracterização de ecossistemas aquá-ticos. As principais fontes de oxigênio para a água são: atmosfera e fotossíntese. A difusão de oxigênio dentro de um lago ocorre, principalmente, pelo seu transporte na massa de água.

Nitrogênio: o nitrogênio é o elemento fundamen-tal na participação do metabolismo de ecossistemas aquáticos. As principais fontes naturais de nitrogênio são: chuvas; materiais orgânicos e inorgânicos; fixa-ção de nitrogênio molecular dentro do próprio lago.

Fósforo: na maioria dos lagos, o fósforo é o principal fator limitante da produtividade de vida desse tipo de ambiente aquático. Este elemento tem sido apontado como o principal responsável pela eutrofização artificial ou não de lagos (vide box Eutrofização e Figura 19.15).

IG-USP
Insert Text
figura aprovada pelos autores.
IG-USP
Insert Text
e represas
IG-USP
Insert Text
e no entorno de grandes centros urbanos como a cidade de São Paulo.
IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
De modo simplificado os
IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
ver
Page 11: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

LAGOS 331

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

SedimentoOs sedimentos, embora encontrem ampla defi-

nição e descrição (Capítulo 10), podem ser resumi-damente definidos como sendo material sólido de origem orgânica e/ou inorgânica suspenso (sedimen-tos em suspensão) ou depositado (sedimentos de fun-do). De forma geral, o sedimento é considerado como uma mistura complexa de fases sólidas que incluem: argila, sílica, matéria orgânica, óxidos metálicos, car-bonatos, sulfetos, minerais e uma ampla população de organismos vivos, principalmente algas e bactérias.

As partículas que compõem os sedimentos detríticos são comumente grãos de quartzo, feldspato, argilas do tipo illita, montmorilonita, caolinita e minerais pe-sados ou resistentes à degradação tais como turmali-na, zircônio, rutilo e ilmenita. O quartzo, usualmente, é o mineral dominante nos sedimentos detríticos.

O compartimento biogênico pode conter ma-terial oriundo dos esqueletos calcários de diversos organismos ou silicosos, matéria orgânica fina-mente dispersa e populações de micro-organismos.

Eutrofização (Figura 19.15)

A eutrofização pode ser definida como o aumen-to da quantidade de nutrientes e/ou matéria orgâni-ca no ambiente aquático, resultando numa maior produtividade primária. Esse fenômeno altera o equi-líbrio desse ambiente, deteriorando a qualidade da água, o que limita a sua utilização para diversos fins. A eutrofização pode ser natural ou resultado da ativi-dade humana.

Quando a origem é natural, o sistema aquático torna-se eutrófico muito lentamente e o o equilíbrio é mantido. Geralmente a água mantém-se com boa qualidade para o consumo humano e a comunidade biológica continua a ser saudável e diversificada.

Por outro lado, quando a eutrofização é resultado do lançamento de diver-sos resíduos produzidos pelas atividades humanas, tais como despejo dire-to de esgoto e fluidos de orgem industrial, os ciclos biológicos e químicos são interrompidos e, muitas vezes, o sistema progride para um estado em que as condições naturais do ambiente lacustre são de-terioradas. A eutrofização induzida pelo homem de-senvolve-se rapidamente devido a fontes de nu-trientes geradas pelas ati-vidades humanas. Todas essas fontes provocam a libertação de grandes quantidades de nutrien-tes que ficam disponíveis

para o crescimento de fitoplânctons (conjunto de algas microscópicas com pouco ou nenhum poder de locomoção, deslocando-se segundo o movimento da água, que inclui as algas verdes e as cianobactérias) no interior dos sistemas aquáticos.

À medida que a produtividade do fitoplâncton aumenta, a transparência da água decai, o que pro-voca uma diminuição na penetração da luz, afetando a comunidade de macrófitas (formas macroscópicas de vegetação aquática) submersas que vivem na zona litoral do lago. Finalmente, pode também ocorrer grande acumulação de toxinas (produzidas pelas cia-nobactérias) e de parasitas, o que pode produzir fortes impactos à saúde pública.

p Figura 19.15 – Lago eutrofizado e hidróxidos.

Jeff

Sch

mal

tz, M

OD

IS R

apid

Res

pon

se T

eam

, NA

SA/G

SFC

I18_4471_F015_FIGURA15 – EM APROVAÇÃO

IG-USP
Strikeout
IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
origem
IG-USP
Insert Text
figura aprovada pelos autores.
IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
nas porções costeiras de coloração verde azulada.
IG-USP
Strikeout
IG-USP
Insert Text
de modo resumido
Page 12: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

CAPÍTULO 19332

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

Regiões de um lagoambiente terrestre), pelágica ou zona limnéti-ca (água aberta), profunda e bentônica (parte mais profunda do lago), (Figura 19.16).

Esses sistemas também são delimitados em regiões ou zonas, denominadas de: lito-rânea ou zona litoral (região de influência do

No âmbito da deposição lacustre, a classificação mais usada e, portanto, mais objetiva, é baseada em Reineck & Singh (1975). Tal classificação distingue dois grupos principais de depósitos lacustres: lagos clásti-cos e lagos químicos.

Lagos clásticos: a sequência vertical típica de depósitos lacustres clásticos constitui-se de empilha-mento de sedimentos fornecidos por um ou mais rios que deságuam no lago. Esse modelo é encontrado em regiões montanhosas com alta precipitação pluvio-métrica e erosão acelerada, onde as areias fluviodeltai-cas marginais progradam, recobrindo os sedimentos finos depositados a partir da carga em suspensão. As camadas intermediárias dessa sedimentação caracte-rizam-se pela sua natureza fluvial e as basais, por uma constituição de sedimentos tipicamente lacustre.

Além desse modelo apresentado para lagos clás-ticos, existem ainda mais três subtipos, de acordo com Kukal (1971). O primeiro é encontrado sobre terrenos planos em climas úmidos temperados a quentes, onde o fornecimento de sedimento provindo das áreas continentais de granulometria fina é pequeno,

podendo ocorrer sedimentação carbonática longe da desembocadura fluvial, tanto nas margens como no centro do lago. O segundo subtipo é representado por sapropelitos no centro e anel de sedimentos carbo-náticos de origem algálica e de moluscos. O terceiro subtipo é representado por pântanos marginais que progradam centriptamente para recobrir lamas orgâ-nicas depositadas na porção central dos lagos.

Lagos químicos: em geral, eles são compos-tos por lamito vermelho-acastanhado, contendo quantidades variáveis de argila, silte e carbonatos disseminados. Ocorrem em regiões desérticas e são efêmeros. Os lagos químicos ocupam áreas hidro-graficamente mais baixas de bacias de drenagem e são circundados por um conjunto de subambientes deposicionais, que dependem principalmente das características do influxo.

No Brasil, entre os depósitos lacustres mais co-nhecidos, embora não atuais, podem ser citados a Formação Tremembé, do Terciário da Bacia de Taubaté (SP) e a Formação Salvador do Cretáceo da Bacia do Recôncavo (BA).

Deposição lacustre

bentos

perifiton

necton

fitoplancton y zooplancton

neuston

zona limnéticazona litoral

psammon

macrófitas

p Figura 19.16 – Principais compartimentos de um lago.

Cré

dito

s

I18_4471_I004_FIGURA17 – EM APROVAÇÃO

TRADUZIR COTAS

IG-USP
Strikeout
IG-USP
Squiggly
IG-USP
Squiggly
IG-USP
Squiggly
IG-USP
Insert Text
figura aprovada pelos autores.
Page 13: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

LAGOS 333

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

Região litorâneaA região ou zona litorânea corresponde

ao compartimento do lago que está em conta-to direto com o ecossistema terrestre adjacente (Figura 19.16). Trata-se de região de baixa pro-fundidade e é caracterizada por possuir margem rasa e em transição entre o ecossistema terrestre e o lacustre, o que resulta em grande número de nichos ecológicos e cadeias alimentares. Essa re-gião apresenta todos os níveis tróficos de um ecossistema: produtores primários, consumidores e decompositores, sendo delimitada como uma re-gião autônoma dentro do ecossistema aquático.

Em alguns lagos, folhas provenientes das cir-cunvizinhanças podem desempenhar importante papel na formação de detritos na região litorânea.

Em muitos sistemas lacustres, a região litorâ-nea é pouco desenvolvida ou até mesmo ausente, como é o caso da maioria dos lagos de origem vul-cânica e represas.

Região limnética ou pelágicaA região ou zona limnética é encontrada

em quase todos os sistemas lacustres, ao con-trário do que ocorre com a região litorânea. Nessa existem dois grupos: plânctons e néctons (Figura 19.16). Os plânctons são constituídos por bactérias, algas (fitoplânctons) e invertebra-dos (zooplânctons), enquanto que os néctons são representados por peixes.

Região profundaA região ou zona profunda de um lago é ca-

racaterizada pela ausência de organismos fotoau-tróficos, em decorrência da não penetração de luz e por ser uma região totalmente dependente da produção de matéria orgânica na região litorânea e limnética. A comunidade de organismos vivos identificados e presentes nessa região é a bentô-nica, formada principalmente por invertebrados aquáticos. A densidade populacional dos organis-mos bentônicos e sua diversidade dependem prin-cipalmente da quantidade de alimento disponível e da concentração de oxigênio nessa região.

Região bentônicaEssa região corresponde à superfície coberta

pelo sedimento de fundo que compõe um lago (Figura 19.16).

Classificação dos lagos segundo sua produtividade

Com relação à produtividade podemos ter três tipos de lagos: 1) lagos eutróficos, 2) lagos oligo-tróficos e 3) lagos mesotróficos (Figura 19.17). Esses tipos de lagos também podem ser caracte-rizados por suas feições morfológicas e pela biota dominante neste sistema.

p Figura 19.17 – Comparação entre lagos oligo-tróficos e eutróficos.

I18_4471_I005_FIGURA17A – EM

APROVAÇÃO

I18_4471_I006_FIGURA17B – EM

APROVAÇÃO

Karin

a F.

/Con

exão

Edi

toria

lLagos eutróficos: são caracterizados pela eleva-

da concentração de nutrientes (principalmente fós-foro e nitrogênio) e alta produtividade biótica. Os lagos eutróficos exibem como características prin-cipais: baixa profundidade e águas relativamente mais quentes que os outros tipos de lagos.

Lagos oligotróficos: apresentam baixa concen-tração de nutrientes e baixa produtividade biótica. Os lagos oligotróficos são exatamente o inverso do anterior, ou seja, suas características princi-pais são: alta profundidade com águas mais frias, quando comparadas com a temperatura da água dos outros tipos de lagos.

Lagos mesotróficos: são lagos em que a con-centração de nutrientes e a produtividade biótica permanecem entre o eutrófico e o oligotrófico.

IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
caracterizada
Page 14: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

CAPÍTULO 19334

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

Uso e importância dos lagosA qualidade da água de um lago, seja ele

natural ou artificial, está relacionada ao uso desejável a ser dado a esse reservatório. As-sim, por exemplo, aquele usado para atividade de piscicultura deve ser rico em nutrientes que permitam abundante desenvolvimento do plâncton, pois este constitui o alimento básico natural para a nutrição de peixes. Esse emprego do reservatório pode ser perfeitamente conci-liado com a navegação ou prática de esportes náuticos e também com a produção de energia

hidrelétrica, mas pode apresentar sérios incon-venientes ao uso da água para abastecimento e consumo humano. As águas destinadas ao abas-tecimento (água potável) devem ser, tanto quan-to possível, isentas de matéria orgânica sujeita à decomposição e também pobres em plâncton, uma vez que este pode causar dificuldades de tratamento ou interferir diretamente na quali-dade da água, por produzir sabor, odor, e até mesmo substâncias tóxicas ou causadoras de distúrbios gastrointestinais.

As substâncias tóxicas encontradas em ambien-tes lacustres são geralmente oriundas de atividade humana (de caráter antrópico) e podem atingir os ecossistemas e organismos aquáticos, gerando im-pactos para a saúde (em alguns casos, variedades específicas de algas podem desenvolver e liberar no meio aquoso toxinas que podem comprometer a po-tabilidade da água e causar distúrbios gastrointesti-nais no ser humano).

Essas substâncias permanecem retidas por mais tempo nas águas e sedimentos de lagos e reservató-rios, do que na água corrente dos córregos e rios. Em decorrência de tal fato, nos lagos e reservatórios o ris-co à exposição em termos de concentração e duração de espécies tóxicas é maior, quer para a biota aquática quer para o homem, que utiliza essa água para beber ou para produção de alimentos por irrigação.

Por outro lado, o gerenciamento das substâncias tóxicas nos ecossistemas aquáticos é muito difícil e complexo. Esse deve ser feito a partir de análises quí-micas e físicas nos sedimentos (sedimentos de fundo e em suspensão) e água. Além de estudos detalhados de toxicidade nos organismos existentes no lago.

Os principais elementos tóxicos carreados para os lagos e reservatórios são: pesticidas e fertilizantes agrí-colas; metais tóxicos; substâncias orgânicas tóxicas; óleos e derivados.

Metais tóxicosOs metais tóxicos são componentes traços na-

turais de rochas e solos. Esses metais também são encontrados em águas superficiais não impactadas, em decorrência da sua presença nos solos e/ou ro-chas presentes nas proximidades ou na bacia de tal ambiente.

Determinados metais tóxicos, quando em peque-nas concentrações, são considerados essenciais para a sobrevivência dos organismos vivos. Esses metais, quando sofrem enriquecimento, principalmente, atra-vés de atividades humanas diversas, podem criar nes-se ambiente, condições de toxicidade para diversos organismos presentes.

Dentre os sistemas aquáticos continentais, os la-gos são considerados reservatórios potenciais de me-tais tóxicos por representarem bacia de sedimentação, exibindo características específicas de ambientes de-posicionais, podendo, em determinadas áreas, atingir níveis de contaminação bastante elevados. As princi-pais fontes de metais tóxicos nos lagos são: intempe-rismo de rochas ou erosão de solos ricos nestes metais e/ou atividade antrópica.

Os metais de origem antrópica são provenientes de esgotos domésticos, efluentes industriais, resídu-os sólidos acondicionados de maneira inadequada e emissões de poluentes atmosféricos que, uma vez descarregados em águas superficiais, são associados ao material particulado (sedimento em suspensão) ou transportados nas formas dissolvidas e finalmente de-positados no lago.

Dentro dos ecossistemas lacustres, a distribuição dos metais tóxicos provenientes de um meio natural ou an-trópico é muito diferenciada nos diversos compartimen-tos, refletindo assim a interação direta entre sedimentos e a hidrodinâmica da coluna de águas. O sedimento é o compartimento mais importante na retenção desses metais nos sistemas aquáticos, refletindo a qualidade da água e registrando os efeitos das emissões antrópicas.

Guimarães (2001)

Substâncias tóxicas em lagos

Page 15: 19 aos - Moodle USP: e-Disciplinas

LAGOS 335

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

P2 OS4471_I18_CT_UNID3_CAP19_P2Janete Bete

Revisão de conceitos

1. Qual a definição de um sistema lacustre?2. Qual o maior lago em área e volume?3. Quais são os tipos de lagos existentes, segun-

do sua origem geológica? Explique a forma-ção dos lagos tectônicos, vulcânicos e glaciais, resumidamente.

4. Que tipo genético de lago exibe maior profun-didade e qual tipo genético é mais frequente?

5. Quais os compartimentos e regiões de um lago?6. Definir sedimentos e explicar qual sua impor-

tância em estudos de detecção de metais tóxi-cos em ambientes lacustres.

7. O que são lagos oligotróficos, eutróficos e me-sotróficos? Qual a diferença entre oligotróficos e eutróficos?

8. O que é eutrofização de um lago?

Leitura recomendada

CABRERA, L. Sistemas lacustres: características ge-

nerales; factores de control; dispositivos deposicionales.

Barcelona. Guion de Exposición. Instituto de Geociencias.

Departament de Geologia Dinámica, 1996.

ESTEVES, F. A. Fundamentos de Liminologia. Rio de

Janeiro: FINEP, 1988. p. 60-89.

GUIMARÃES, V. Distribuição de metais provenientes

dos resíduos de lodo de esgoto em ambiente lacustre. Disserta-

ção de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade de

São Paulo, 2001. 111p.

HAMBLIN, W. K. The Earth’s Dynamic Systems: A

Textbook in Physical Geology. 5 ed. p. 295-300, 1989.

LERMAN, A.; IMBODEN, D. M.; GAT, J. R. Physics

and Chemistry of Lakes. 2 ed. New York, Springer, 1995. 334p.

SUGUIO, K. Geologia sedimentar. São Paulo: Edgard

Blucher, 2003. 400p.

IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
Considerando a área e o volume, qual o maior lago conhecido ?
IG-USP
Replace
IG-USP
Replace
de cada um