1942-norte-riograndense de mais de trezentos anos

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Norte-riograndense de mais de

trezentos anos

Jose Augusto

Houve entre 08 prlmelros babitantes do Rio-Grande do

Norte, entre os que acompanharam Mascarenhas Homero e Je-ronlmo de Albuquerque na reconquista da capitania,. entre osque obtiveram as primeiras concessoes de terras, entre osque povoaram, desbravaram e trabalharam 0 solo potlguar,alguns cuja descendencta, em boa parte, e em linhas gerais.

pode ser seguida ate hoje.Urn deles foi Joao Alustau (Lostdo era a gratia da epo-

ca inicial) Navarro.Os aeus serviens na rase do povoamento devern ter sido

consideraveis, a julgar pelas muitas partes de terra que lheforam concedidas pelos dois primeiros capitals-mores - JoaoRodrigues Colaco e Jeronimo de Albuquerque.

Ja a data n". 15, na ordem cronologtca, era destinada aAlustau em Marco de 1601, ao sa Inaugurar 0 regime de con-eessoes, visando Iixar a terra 0 elemento colonizador. Note-soque a data no. 1 e de 9 de Janeiro de 1600, apenas urn anoantes da primeira coneessao a Joao Alustau.

Foram as seguintes as datas deferidas a este desbrava ..dor ao despontur 0 Rio-Grande do Norte para a vida civilizada :

«1 - A data 15 - 1200 braeas ao largo do mar, no sitioque comeea no rio Canayri para 0 norte e para 0 sertao ou-tras tantas. Tern porto de pescaria, Em 1-3-1601. Concessaode Joao Rodrigues Colaco,

2 - A data 48 - 500 bracas por costa, comecando ondeacaba a primeira data para 0 Iado do sul e outras tantas parao sertao. Em 17-5-1603. Concessao de J. R. Colac;o.

3 - A data 56 - 500- bracas por costa na cabeceira dasua data e meia -Iegua para G sertao. Em 24-5-1604. Concessao

de Jeronimo deAlbuquerque.

4 - A data 107 - 3.000 braeas em quadra na testadada outra para a banda do rio onde reside, isto e " 3.000 por

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costa e outras 3.000 para 0 sertao. Em 7-1·1607. Coucessao deJ. de Albuquerque.

5 -- A data 108 - 600 bracas em quadrat comeeando deJequesipitanga, ao pe do rio pelo caminho que val para Arau-nu, Em 9-5-1607. Concessao de J. de Albuquerque.

6 - A data 131 ~ A terra que houver entre as suas da-tas e a de Joao Seremenlio. e para 0 sertao 40 bracas. Em15-8·1608. Concessao de J. de Albuquerque.» (1)

.Ioao de Alustau Navarro, ao que se evidencia de docu-mentos ulteriores, POYOOU e cultivou as suas terras, acresceu--as de novas aqutslcdes, estabeleceu criacao de gados e pos-suiu eugenho de acucar.

Ta vares de Lira sup5e que este engenho foi 0 Ferreiro-

-Torto, anterlormente pertencente a Franctsca Coelho, e tea-tro por v- zes de tragedies horripilantes. (2)

CAmara. Cascudo diz que «no mapa de Barleus A margemesquerda do Tareiru (Trairl) esta um a parte povoada comcinco casas, indice prestigioso de relativa populacao, e urnnome simples - Jtuio Lostdo, ~ a propriedade de Joao Lus-tan Navarro, mas DaO lui engenho». (3)

Nessas casas, como indaga Camara Cascudo, on no en-genho Ferreiro-Tcrto, como presumem outros historiadores,

entre eles Tavares de Lira, ocorreu em 1645, DO m e s de Se-ternbro, 0 assalto capitaneado pelo judeu holandes Jaco Rabt,e levado a effeito pela indiada bravia, contra os que, esea-pando no massacre de Cunha (Junho de 1645), e nao poden-do galgar 0 territ6rio paraibano ou pernambucano, havlamprocurado refugio nas propriedades de Joao de Alustau, entaourn dos mais abastados e prestigiosos habitantes do Rio-Gran ..de do Norte.

Esse assalto, seguido dOB massacres e crueldades co-

muns nas empreitadas sinistras de Rabl, terrnlnou, nao semluta renhida, pela capitulaeao dos refugiados, alguns dos quaisforam presos, entre eles 0 dono das terras, Joao de AlustauNavarro, recolhido ao forte de Ceulen.

Em 3 de Outubro de 1645, os prisioneiros e outras pes-Boas que hi haviam procurado abrigo para escapar as inves-tidas dos indios e de Jaco Rabl, Iorarn retirados do forte, deordem das autoridades holandesas, sob 0 pretexto de ,que osseus aervtcos eram imprescindiveis no eultivo das terras, nOB

(1) - Revista do Institute Hlstdrlco e Geograflco do Rio-Grande doNorte, 1909, Vol YIlI.

12) - - Tuvares de Lira - Historia do Rio-Grande do Norte, pag, 168.(3) Jurnul do Comercto, Rio-de-Janeiro, ll. 10-11·940.

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labores agricolas, mas na realidade para serem entregues a

Iuria e it ferocidade dos assa1tantes.A historia regista, com pormenores e minucias, as atro-

cidades de Uruacu, aldeia proxima a Natal, para onde Ioratn

couduzldos, .sendo entregues ao arbitrio assasslno dos [anduis,sob as vistas e direcao de Jaco Rabi.

Ha a respeito da chaclna entao verificada urn relate es·crito vinte dias ap6s a tragedia, por Lopo Curado Garro, queo ouviu de testemunhas presenciais, relato que foi transcrttona integra no Yaieroso Lucideno, de frei Manuel Calado, pu-blicado em 1668.

Joao de Alustau Navarro figurou entre as vltimas dessemorticinio.

Os historiadores daquela epoca sombria arrolarn 0 seunome entre os dos que toram mutilados e trucidados, mas naofazem relerenela a sua familia, nao se sabendo se era ou naonumerosa.

Provavelmente quase toda teria sofrido a mesms sorte doseu chefe on no assalto ao seu engenho ot! propriedades, ouna matanca de Uruacu.

o que e certo e que, 25 anos depots, isto e t em 1670, 0sargento-mor Francisco Lopes obtlnha do governador geralda Baia, Alexandre de Sousa Freire, urn alvara de contir na-

-;3.0 de datas de terras na capitania do Rio-Grande do Norte,alegando ser casado com Joana Dorneles, Iilha legltlma deManuel Rodrigues Pimentel e neta de Joao de Alustau Na var-ro, este «preso pelos flamengos e morto pelos tapuias co n amais gente da dita capitania», por cuja causa «se perde "amtodos os seus papeis de datas de sesmarias e de corupra : deterras que ocupou 0 dito avo e pal», e afirmando ser J anaDorneles unica e universal herdeira de Alustau Navarro.

No mesmo alvara ha uma passagem em que e feita refe-

rencia conjunta a Navarro e Lutz da Mota, dos quais JoanaDorneles seria herdeira. (4)Deve tratar-se de Luisa e DaD de Luiz, correndo a arlul-

teracao por conta do erro de copia, muito frequente no refe-rido alvara, no qual 0 nome da mulher de Francisco Lopes eescrito Jotio Dorneles e D a D Joana, e Alustau e substituidopor Estau.

Luisa da 1\1ota seria a esposa de Alustau Navarro ou asua filha casada com Rodrigues Pimentel, de qualquer manei-.

(4) - Documentos Historicos - Bib1ioteca Naclonal, Vol. XXIV, pags,50 e seguintes.

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ra ja falecida em 1670, pois Joana Dorneles era enta.o a her-deira universal.

Temos assim que em 1670 a mulher do sargento-morFrancisco Lopes, D. Joana Dorneles, era a unica desccudc n-

te viva de Alustau Navarro.Ha, no cart6rio de Golaninha, 0 Inventario e testamento

de urn Iilho do casal Francisco Lopes-Joana Dornele s,Trata-se do capltao Cipriano Lopes Pimentel. falecido em

1721, e cujo testamento Ioi Ietto em 19 de Dezernbro de 1720+Nesse testamento ha refer0llcia a dois dos seus irmaos=-

Francisco Dorneles e Joana Lopes.Em 1681, aparece urn alvara da coucessao de terras na

capitania do Rio-Grande do Norte a varlas pessoas, entre elas

o capitao Cipriano Lopes Pimentel e Tome Lopes Navarro. (5)Esse Tome Lopes Navarro, a [ulgar pelo seu nome, se ..ria provavelmente irmao de Cipriano Lopes Pimentel, tendorecolhido 0 Navarro do sobrenome de Joao de Alustau Na~varro, prcsumtdamente sen bisavo.

N ao tenho dados com que acornpanhar a descendenctade Alustau, senao atraves do seu bisneto, Cipriano Lopes Pi-mentel, que viveu e mnrreu em Goianinha, delxando os se-guintes filhos: Lazaro Lopes Galvao, Cipriano Lopes Galvao,

Jorge Lopes da Silva, Arcangelo Lopes Galvao, Estevao Lo-pes Galvao, Manuel Lopes Galvan e Luisa da Silva.Esta Iol casada com 0 sargento-mor Manuel Alvares Ma-

ciel; Lazaro com D. Isabel de Bezerril ; Cipriano com D. Adria-na de Holanda Vasconcelos; e Jorge (que na epoca do casa-mento ja se asslnava Jorge Lopes Galvao) com D. FrauciscaXavier de Sequeira.

Alguns tilhos de Cipriano Pimentel. que foi casado comD. Teresa da Silva, filha do alieres Filipe da Silva, residiramem Goiauiuha e outros pontos do litoral ncrte-riograndeuse, edales he. hoje numernsa deecendenola , sobretudo nos munici-pios de Gotaninha, Canguaretama, Ares, Papart, etc.

o de nome Cipriano Lopes Galvao, porem, fixou-se nazona do Cerido, em terras do atual municipio de Curraia-No-vos, contando-se hoje por muitas centenas, senao milhares, asseus descendentes, habitantes principalmente dos municipiosde Currais-Novos e Acari.

Todos os que descendem de Cipriano L. Pimentel, os dolitoral como os do Certdo, polo que fica evidenciado, proce-

dem dlretamente de Joao de Alustau Navarro, urn dos desbra-

(5) ~ Publlcacbes do Arqulvo Naeional, Vel. x.,.XVII,pag, 71.

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vadore s do solo potiguar, urn dos seus mais antigos h ab ttan-tes, urn dos sesmeiros iniciais do Rio-Grande de Norte (1601),urn dos marttres da matanca de Uruaeu (3 deOutubro de 1645).

Eu sou urn deles, e chego ate Alustau Navarro atravesdo meu pal, professor Manuel Augusto Bezerra de Araujo; este

Iilho do coronel Silvino Bezerra de Araujo Galvao ; este, Iilho docapitao Ci priano Bezerra Galvao ; este, filbo de Cipriano Lo-pes Galvao ; este, Iilho do capltao-mor Cipriano Lopes Gal-vao ; este, filho do coronel Cipriano Lopes Galvao ; este, lilhodo capitan Cipriano Lopes Pimentel; este, filho do sargento--mor Francisco Lopes e D. Joana Dorneles ; esta, Iilha de Ma-nuel Rodrigues Pimentel, casado com uma filha de Joao Alus-tau Navarro, cujo nome nao pude encoutrar, parecendo-meverosimil, entretanto, a hip6tese de ser Luisa da Mota.

Sou, assim, n orte-riograndense de mais de trezentos anos.