2 – elevaÇÃo nos preÇos dos produtos bÁsicos...

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ANO 3 NÚMERO 15 ABRIL DE 2013 • PROFESSORES RESPONSÁVEIS: FLÁVIO RIANI & RICARDO RABELO EXPEDIENTE Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais: Grão-Chanceler – Dom Walmor Oliveira de Azevedo | Reitor – Professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães | Vice-Reitora – Professora Patrícia Bernardes | Assessor Especial da Reitoria – Professor José Tarcísio Amorim | Chefe de Gabinete do Reitor – Professor Paulo Roberto Souza | Chefia do Departamento de Economia – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação do Curso de Ciências Econômicas – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação Geral – Professor Flávio Riani e Professor Ricardo F. Rabelo Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais: Prédio 14, sala 103 | Avenida Dom José Gaspar, 500 | Bairro Coração Eucarístico CEP: 30535-901 | Tel: 3319.4309 | www.pucminas.br/iceg/conjuntura | [email protected] 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS A trajetória crescente das taxas mensais de inflação colocou o governo em alerta, aumentando a preocupação em tentar evitar a tendência em direção ao topo da meta, como havia sido estabelecido poucos anos atrás. Tal mudança se deu na medida em que o governo percebeu o alcance político de uma inflação baixa e os problemas que poderiam surgir caso ela saísse do controle. Analisamos nesta Carta essa trajetória preocupante da inflação, cuja taxa acumulada nos últimos 12 meses alcançou 6,59%, superando, portanto, a meta mais alta estabelecida pelo governo que é de 6,5%. Por esta razão, a recente decisão do COPOM em elevar a taxa SELIC em 0,25% teve uma conotação muito mais de afirmação do Banco Central do que motivação efetivamente econômica já que as perspectivas são as de que a inflação deve diminuir ou manter num patamar próxima a observado março. Outro tópico imkportante da conjuntura, a produção Industrial, é analisado no seu desmepenho de uma recuperação do crescimento, mas ainda não o suficiente para se constituir em uma tendência para este ano. Constatamos uma grande instabilidade e algumas contradições no crescimento desigual em termos setoriais. 2 – ELEVAÇÃO NOS PREÇOS DOS PRODUTOS BÁSICOS CONTINUAM TENDO CONTRIBUIÇÃO SIGNIFICATIVA NA INFLAÇÃO Prof. Flávio Riani Na Carta de Análise Conjuntural anterior destacamos o descompasso entre a capacidade de consumo e a de geração de bens e serviços como fator preponderante na elevação dos preços no Brasil nos períodos mais recentes. Dentre os diversos componentes da inflação os preços dos alimentos têm se apresentado como um dos fatores mais contundentes. Foi esse o motivo pelo qual o governo promoveu uma desoneração em vários itens que compõem a cesta básica. A tabela 1 a seguir destaca as variações totais e os efeitos das desonerações fiscais no valor das cestas básicas em 18 capitais brasileiras. Os dados da referida tabela destacam o total das variações nos preços das cestas básicas no mês de março, decompondo os efeitos das desonerações sobre essas variações. Eles mostram que apesar dessas medidas, houve ainda elevação nos preços dos produtos desonerados em Florianópolis, Manaus e Rio de Janeiro. No que se refere aos produtos não desonerados, houve diminuição nos preços apenas em duas capitais, Florianópolis e Natal, com variações de -3,28% e 0,18% . Quando se considera as variações totais, incluindo produtos desonerados e não desonerados, apenas Florianóplois e Natal apresentaram quedas nos valores da cesta básica de Março de 2013 em relação ao mês anterior.

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Page 1: 2 – ELEVAÇÃO NOS PREÇOS DOS PRODUTOS BÁSICOS ...portal.pucminas.br/iceg/conjuntura/iceg_conjuntura_carta15.pdf · Abril-2011/Março-2013 O item Alimentação e Bebidas tem um

ANO 3 – NÚMERO 15 – ABRIL DE 2013 • PROFESSORES RESPONSÁVEIS: FLÁVIO RIANI & RICARDO RABELO

– EXPEDIENTE – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais: Grão-Chanceler – Dom Walmor Oliveira de Azevedo | Reitor – Professor Dom

Joaquim Giovani Mol Guimarães | Vice-Reitora – Professora Patrícia Bernardes | Assessor Especial da Reitoria – Professor José Tarcísio

Amorim | Chefe de Gabinete do Reitor – Professor Paulo Roberto Souza | Chefia do Departamento de Economia – Professora Ana Maria

Botelho | Coordenação do Curso de Ciências Econômicas – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação Geral – Professor Flávio Riani e

Professor Ricardo F. Rabelo

Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais: Prédio 14, sala 103 | Avenida Dom José Gaspar, 500 | Bairro Coração Eucarístico

CEP: 30535-901 | Tel: 3319.4309 | www.pucminas.br/iceg/conjuntura | [email protected]

1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS A trajetória crescente das taxas mensais de inflação colocou o governo em alerta,

aumentando a preocupação em tentar evitar a tendência em direção ao topo da meta, como

havia sido estabelecido poucos anos atrás. Tal mudança se deu na medida em que o governo

percebeu o alcance político de uma inflação baixa e os problemas que poderiam surgir caso ela

saísse do controle.

Analisamos nesta Carta essa trajetória preocupante da inflação, cuja taxa acumulada nos

últimos 12 meses alcançou 6,59%, superando, portanto, a meta mais alta estabelecida pelo

governo que é de 6,5%. Por esta razão, a recente decisão do COPOM em elevar a taxa SELIC em

0,25% teve uma conotação muito mais de afirmação do Banco Central do que motivação

efetivamente econômica já que as perspectivas são as de que a inflação deve diminuir ou manter

num patamar próxima a observado março.

Outro tópico imkportante da conjuntura, a produção Industrial, é analisado no seu

desmepenho de uma recuperação do crescimento, mas ainda não o suficiente para se constituir

em uma tendência para este ano. Constatamos uma grande instabilidade e algumas contradições

no crescimento desigual em termos setoriais.

2 – ELEVAÇÃO NOS PREÇOS DOS PRODUTOS BÁSICOS CONTINUAM TENDO CONTRIBUIÇÃO SIGNIFICATIVA NA INFLAÇÃO

Prof. Flávio Riani

Na Carta de Análise Conjuntural anterior destacamos o descompasso entre a capacidade de

consumo e a de geração de bens e serviços como fator preponderante na elevação dos preços no

Brasil nos períodos mais recentes.

Dentre os diversos componentes da inflação os preços dos alimentos têm se apresentado

como um dos fatores mais contundentes. Foi esse o motivo pelo qual o governo promoveu uma

desoneração em vários itens que compõem a cesta básica.

A tabela 1 a seguir destaca as variações totais e os efeitos das desonerações fiscais no valor

das cestas básicas em 18 capitais brasileiras.

Os dados da referida tabela destacam o total das variações nos preços das cestas básicas

no mês de março, decompondo os efeitos das desonerações sobre essas variações.

Eles mostram que apesar dessas medidas, houve ainda elevação nos preços dos produtos

desonerados em Florianópolis, Manaus e Rio de Janeiro.

No que se refere aos produtos não desonerados, houve diminuição nos preços apenas em

duas capitais, Florianópolis e Natal, com variações de -3,28% e 0,18% . Quando se considera as

variações totais, incluindo produtos desonerados e não desonerados, apenas Florianóplois e Natal

apresentaram quedas nos valores da cesta básica de Março de 2013 em relação ao mês anterior.

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Deve-se destacar ainda as elevadíssimas taxas apuradas em Vitória, Manaus , e Salvador,

respectivamentre 6,01%, 4,55% e 4,08%.

Tabela 1 - Cesta Básica - Variações nos Preços

Principais Capitais - Março 2013 - %

Capitias Total

Desonerados Demais

Aracajú 3,16 0,42- 3,58

Belém 1,80 0,38- 2,18

Belo Horizonte 3,35 0,93- 4,28

Brasília 1,42 1,12- 2,54

Campo Grande 2,62 0,40- 3,03

Curitiba 0,52 0,80- 1,32

Florianópolis 2,25- 1,02 3,28-

Fortaleza 1,34 0,20- 1,54

Goiânia 0,50 0,97- 1,47

João Pessoa 1,70 0,06- 1,76

Manaus 4,55 0,19 4,36

Natal 1,42- 1,25- 0,18-

Porto Alegre 1,19 0,50- 1,69

Recife 0,39 0,10- 0,49

Rio de Janeiro 2,66 0,39 2,27

Salvador 4,08 0,43- 4,51

São Paulo 2,96 0,39- 3,35

Vitória 6,01 0,86- 6,88

Média 1,92 0,40- 2,32

Fonte: DIEESE

Produtos

No que se refere ao valor da cesta básica, os dados do gráfico 1 mostram grande

dispersão nos seus valores, sendo que no mês de março o menor valor apurado foi em

Aracajú (R$ 245,94) e o maior em São Paulo ( R$ 336.26), com uma diferença de 36,7%.

245,94

336,26

240

250

260

270

280

290

300

310

320

330

340

Gráfico 1 - Brasil - Cesta Básica Março/2013

A inflação mensal de março de 2013 apresentou taxa inferior à observada nos

últimos meses. O percentual de 0,47% foi o menor apurado desde setembro-2012 quando

ficou em 0,57%.

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0,77

0,47

0,150,16

0,37

0,530,43

0,520,50,56

0,45

0,21

0,64

0,36

0,08

0,43 0,41

0,570,59 0,6

0,790,86

0,6

0,47

00,10,20,30,40,50,60,70,80,9

1ab

r/11

mai

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jun/

11

jul/

11

ago

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11

ou

t/11

nov/

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11

jan/

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ago

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nov/

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12

jan/

13

fev/

13

mar

/13

Gráfico 2 - Brasil : Evolução do IPCAAbril-2011/Março-2013

O item Alimentação e Bebidas tem um peso relativo elevado na apuração da

inflação. Em função das desonerações fiscais concedidas pelo governo o impacto desse

segmento foi menor no mês de março, contribuindo em parte pela queda observada na

taxa de inflação nesse mês. Conforme destacado na Tabela 1, as desonerações

diminuíram em 17% no peso da elevação dos preços (0,40 em 2,32).

Apesar disso, a taxa acumulada da inflação nos últimos 12 meses alcançou 6,59%,

superando a meta mais alta estabelecida pelo governo que é 6,5%.

6,516,556,71

6,87

7,237,31

6,97

6,646,5

6,22

5,84

5,245,10

4,994,92

5,2 5,245,285,455,53

5,84

6,15

6,31

6,59

4

4,5

5

5,5

6

6,5

7

7,5

abr/

11

mai

/11

jun/

11

jul/1

1

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11

set/

11

out/

11

nov/

11

dez/

11

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12

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12

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2

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12

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12

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12

nov/

12

dez/

12

jan/

13

fev/

13

mar

/13

Gráfico 3- Brasil: IPCA acumulado últimos 12 meses

Fonte: IBGE

Conforme mencionamos nas cartas mais recentes, havia um sentimento de que o

governo tinha abandonado a meta central da inflação, 4,5% , contentado-se com o teto

máximo.

Porém, ao ultrapassar este teto , o governo passou novamente a se preocupar com

a meta. A decisão de elevar a taxa SELIC em 0,25% se tornou mais um ato político do que

econômico, uma vez que o impacto dessa elevação será muito residual e diluído entre

outros condicionantes que reduzirão ou manterão as próximas taxas em patamares

próximos ao observado em março passsado.

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3- Produção Industrial: Acelerando, mas não muito

Prof. Ricardo F. Rabelo

A produção industrial apresentou crescimento de 0,7 em março demonstrando

ainda uma grande instabilidade pois foi registrada uma expansão de 2,7% em janeiro e

queda de 2,4% em fevereiro. Os dados fazem parte da Pesquisa Industrial Mensal -

Produção Física (PIM-PF) referente ao terceiro mês do ano, divulgada recentemente pelo

IBGE

O resultado ficou abaixo da previsão média de 15 consultorias e instituições

financeiras reportadas pelo Valor Data, do jornal Valor Econômico, que via a produção

industrial avançar 1,3% na passagem mensal. Comparando-se o resultado com igual mês

do ano anterior, constata-se uma redução , no total da indústria, de 3,3% em março de

2013.

Gráfico 4

-3

-2

-1

0

1

2

3

va

ria

çã

o p

erc

en

tua

l

mar/12 abr/12 mai/12 jun/12 jul/12 ago/12 set/12 out/12 nov/12 dez/12 jan/13 fev/13 mar/13

meses

Produção Industrial - Variação Mensal

Produção Industrial

Fonte: IBGE

O balanço do 1º. Trimestre de 2013 também apresenta um recuo, menor, de 0,5% e

também menor que os 0,8% de recuo registrado na comparação com o último trimestre

de 2012. No acumulado dos últimos 12 meses observou-se um recuo de 2,0% resultado

comparável às taxas anualizadas de janeiro (-2,0%) e Fevereiro ( -1,9%).

Do ponto de vista setorial, houve crescimento da indústria em 13 dos 27 setores

analisados. Como não poderia deixar de ser, a reação maior veio da indústria

automobilística, que cresceu 5,1% no mês, compensando assim parte da queda de 8,1%

contabilizada em fevereiro último. Outros setores com expressivo crescimento foram :

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refino de petróleo e produção de álcool (3,3%), máquinas para escritório e equipamentos

de informática (11,9%), bebidas (4,6%), fumo (33,4%), mobiliário (11,0%) e borracha e

plástico (2,7%).

Por outro lado, entre os setores que recuaram a produção, a maior queda se situou

no setor de alimentos (-2,7%), que apresentou o segundo resultado negativo

seguido, acumulando nesse período perda de 4,0%.

Gráfico 5

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

Variação Percentual

Bens d

e C

apital

Bens I

nte

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rios

Bens d

e C

onsum

o

D

urá

veis

S

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idurá

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e N

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Durá

veis

Indústr

ia G

era

l

Categorias

Indicadores Conjunturais da Indústria por Categoria de Uso

Variação (%) Mar 13 / Fev 13*

Variação (%) Mar 13 / Mar 12

Variação (%) Acumulado No Ano

Variação (%) Acumulado 12 meses

Fonte: IBGE

Analisando os resultados do ponto de vista das categorias de uso, ainda na

comparação com o mês imediatamente anterior, bens de consumo duráveis (4,7%)

assinalou a expansão mais elevada nesse mês, recuperando assim parte da queda de

7,3% registrada em fevereiro.

A produção dos segmentos de bens intermediários (0,8%) e de bens de capital

(0,7%) também mostraram crescimento em março de 2013, com o primeiro

compensando o recuo de 0,9% verificado no mês anterior, e o segundo somando ganhos

de 11,7% em três meses seguidos de taxas positivas.

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O setor de bens de consumo semi e não duráveis (-0,5%) registrou o único

resultado negativo entre as categorias de uso nesse mês, segundo recuo seguido

nesse tipo de confronto, acumulando nesse período perda de 2,9%.

No índice acumulado para o período janeiro-março de 2013, frente a igual

período do ano anterior, o setor industrial mostrou decréscimo de 0,5%, com

dezessete dos vinte e sete ramos investigados apontando queda na produção. A análise

dos resultados mostra uma leve recuperação, menor que o esperado, o que indica uma

debilidade relativa na recuperação.

Os resultados revelam uma contradição, ao mostrar crescimento de setores

geralmente vinculados ao investimento (como bens de capital e intermediários) e um

decréscimo no setor de bens de consumo semi e não duráveis. Já o setor de bens

duráveis mostra desempenho positivo, basicamente influenciado pelo crescimento da

produção automobilística, resultante do pelo forte estímulo fiscal por parte do governo.