2-expressionismo - die brucke
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Slides das aulas de História da Arte Contemporânea II da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de LisboaTRANSCRIPT
O EXPRESSIONISMOO GRUPO «DIE BRÜCKE» (A PONTE)
Próximos da alegria pictórica dos Fauves, os expressionistas da Die Brücke (A Ponte) transformaram essa alegria numa acção ética sobre os conteúdos, com consciência moral e histórica. Nascia também em 1905 em Dresden mas, ao contrário do fauvismo, com projectada noção de grupo e com específica intenção cultural de quatro jovens estudantes de arquitectura: Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938), Karl Schimdt-Rottluff (1884-1976), Erich Heckel (1883-1970) e Fritz Bleyel (1880-1966), a que se associaram outros nomes como Emil Nolde (1867-1956), Max Pechstein (1881-1955) ou Otto Müeller (1874-1930). As cores puras lançadas energicamente como mancha, na linha de Van Gogh, o arabesco agitado na linha de Munch, ou o interesse pela pureza primitivista como ética, à maneira de Gauguin, orientavam a acção do grupo no seu desejo de liberdade dionisíaca (segundo a noção de Nietzsche). Mais que os franceses do fauvismo, foram vanguardistas no sentido de uma intencional ruptura cultural, definindo uma coerência maior de grupo com continuidade nos percursos de cada um.
Ernst Ludwig Kirchner, Um Grupo de Artistas: Otto Mueller, Kirchner, Heckel, Schmidt-
Rottluff, 1926-1927, óleo sobre tela, 168x126 cm, Colónia: Museum Ludwig.
Vincent Van Gogh, Noite Estrelada, Saint-Rémy, Junho de 1889, óleo sobre tela,
73,7x92,1 cm, Nova Iorque, The Museum of Modern Art.
Edvard Munch, O Grito, 1893, óleo sobre tela, 91x74 cm, Oslo: Nasjnalgallerier
James Ensor, Máscaras a brigar por causa de um enforcado, 1891, óleo sobre tela 59x74 cm, Antuérpia: Koninklijk Museum voor Schone Kunsten.
Lovis Corinth (1858-1925), O Cristo Vermelho, 1922, óleo sobre madeira, 129x108 cm, Munique: Pinakothek der Moderne – Staatgalerie Moderner Kunst
Paul Gauguin (1948-1903), E o Dourado dos Seus Corpos [et l’or de leurs corps], 1901, óleo sobre tela, 67x76 cm, Paris: Musée d’Orsay.
«Apolo ergue-se diante de mim como o génio do princípio de individuação, aquele que pode realmente suscitar a felicidade liberatriz na aparência transfigurada; ao passo que pelos gritos de júbilo místico de Dionísios se quebra o jugo da
individuação e se abre novo caminho para as causas geradoras do Ser, para o fundo mais secreto das coisas» (Nietzsche, A Origem da Tragédia)
Apolíneo Dionisíaco
•Deus do dia; luz •Terra; Noite; sexualidade•Força trágica que se sobrepõe ao horror da existência•Cria ficções intensificadoras da vida
•Artes plásticas: formas belas •Música; dança: para além da beleza•(relação com a música como expressão da vontade de Schopenhauer)
•Sonho: «imagem onírica simbólica»•Simbolização imaginativa do significado do mundo – enigma e oráculo
•Inebriamento; embriaguês: magia, êxtase, arrebatamento•«O homem já não anda, dança» metamorfose em sátiro
•Beleza estática: medida: perfeição estável•Aparência•Revelação •Aspiração à perfeição: medida – vigoroso mas equilibrado
•Impulso: animação do universo: devir - «hora de Pan» (tempo suspende a respiração e o instante casa com a eternidade)•Atrás das aparências (apolíneas) - profundo•Mistério
•Princípio da individuação: culto da personalidade•«Apolo vence o sofrimento do indivíduo mediante a glorificação radiosa da eternidade da aparência» (Nietzsche, A Origem da Tragédia)
•Aniquila indivíduo num sentimento místico de unidade – quebra Princípio de individuação •Forças inconscientes: fim da medida apolínea; rompe limites do «eu»: sem limites o «eu»anula-se fundindo-se no todo; perde-se na unidade universal - harmonia universal – contacto com o uno primordial•Fim da individuação – homem idêntico a tudo o que vive (e sofre).
Teoria da «Einfühlung» (Empatia) – Worringer
Abstracção Empatia
•Extroversão•Inorgânico – formas regulares (busca essência)•Distancia-se da imediatez da situação concreta dada•brecha teórica entre percepção e pensamento•dimensão cognitiva que se relaciona com o sujeito como um todo separado do exterior caótico e ameaçador•Superar a aparência e o devir do mundo•estética da forma
•Introversão•Formas orgânicas•Ressonância da vida de um objecto no sujeito•Fusão sujeito/mundo•Relação de simpatia do sujeito com os processos orgânicos da natureza
•Intensificação da vida•Estética da vida
1. Psicologia experimental – Atribuir aos objectos a propriedade de agirem sobre as nossas reacções psicofísicas
2. Idealismo – Transposição do nosso sentimento para os objectos, que assim se tornam animados
3. Objecto (obra) expressiva por analogia com certos comportamentos psicofícos do observador
Wilhelm Worringer (1881-1965): «Abstraktion und Einfühung» (1908)
• «Introdução ao sentimento»• «intuição»• «simpatia simbólica»• «comunicação psicofisiológica»• «empatia»
• «Nada do que percebemos age por si próprio; tudo age em conjunto, como ressonância do que de semelhante existe em nós» (Nicco Fasola)
Erich Heckel, Retrato de Nietzsche, 1905
«Visão Dionisíaca do Mundo» – Friedrich Nietzsche (1844-1900)
• «Também a arte dionisíaca nos quer persuadir da eterna alegria que está ligada à existência; e que não devemos buscar essa alegria nas aparências, mas sim na fruição estética do que está por detrás das aparências». (Friedrich W. Nietzsche, A Origem da Tragédia, parte 17)
• Estética do feio: ridículo; cómico – náusea, feio, desarmónico como matérias-primas e impulsos criativos – deformação – (expressionismo)
• Estética do caos/destruição: inconsciente como mística: superioridade dos nervos: pensamento negativo (guerra e bélico) – (futurismo, expressionismo, accionismo vienense)
• Estética da amoralidade: artista amoral e anormal (transbordante): novo génio (super-homem): sem escrúpulos: intuição do artista penetra no essencial e cria vida: nova sensibilidade (visionário): arte como ritual da nova sensibilidade.
Erich Heckel, Cartaz para a exposição do «Die Brücke», 1910, xilografia, 82,2x59 cm
Otto Mueler, Cartaz para exposição de Pechstein, 1912, xilografia, 38x30,5 cm
Karl Schmidt-Rottluff, Quatro Banhistas na Praia [Vier Badende am Strande], 1913, óleo
sobre tela, 88x101 cm, Hanôver: Sprengel Museum.
Max Pechstein, Três nus em Paisagem [Drei Akte in einer Landschft], 1911, óleo
sobre tela, 75x100 cm, Paris: usée National d’Art Moderne, Centre Georges
Pompidou.
Ernst Ludwig Kircher, Banhistas em Moritzburg, 1909-1926
A Chronik KG Brücke, 1913, texto e xilogravuras de Kirchner, 67x51 cm cada folha.
Ernst Ludwig Kirchner, Erich Heckel e Modelo no Estúdio, 1905, óleo sobre cartão, 50x33,6 cm, Berlim: Brücke-Museum.
Ernst Ludwig Kirchner, Fränzi numa cadeira entalhada, 1910, óleo sobre tela, 70,5x89 cm, Madrid: Museo Thyssen-Bornemisza.
Ernst Ludwig Kirchner, Friedichstrasse, 1914, óleo sobre tela, 125x91 cm, Estugarda: Staatsgalerie Stuttgart.
Ernst Ludwig Kirchner, A Torre Vermelha em Halle, 1915, óleo sobre tela, 120x91 cm, Essen: Museum Folkwang.
«Estes quadros são um apelo directo e sugestivo, porque são criados com sangue e nervos e não através da razão fria»(Emil Nolde).
Karl Schmidt-Rottluff, Ruptura de Dique [Deichdurchbruch], 1910, óleo sobre tela 76x84 cm, Berlim: Brücke-Museum.
Karl Schmidt-Rottfuff, Rapariga em frente ao espelho, 1915
Erich Heckel, A Fábrica de Tijolos (Dangast) [Die Ziegeei (Dangast)], 1907, óleo sobre tela, 68x86 cm, Colecção Thyssen-Bornemisza.
Erich Heckel, Fränzi liegend, 1910, gravura, 23/20,7x40,7/41,6.
Erich Heckel, Fränzi com boneca, 1910
Erich Heckel, Retrato de Homem (Auto-retrato) [Männerbildnis (Selbstbildinis)], 1919, xilogravura a cores, 46x33 cm.
Emil Nolde, Árvores Brancas [Weiβe Stämme], 1908, óleo sobre tela, 67,5x77,5 cm.
«Gostaria muito que a minha obra brotasse do material, onde não há regras fixas (...). Pintando, quis sempre que as cores, através de mim como pintor, se propagassem na tela com a mesma
naturalidade com que a natureza cria as suas próprias figuras (...)»(Emil Nolde)
Emil Nolde, Jardim em Flor (Rapariga e Roupa) [Blumengarten (Mädchen und Wäsche)], 1908, óleo sobre tela 65,5x83 cm, Dusseldórfia: Kunstmuseum Düsseldorf.
Emil Nolde, Mar no Outono XI [Herstmeer XI], 1910, óleo sobre tela 73x88 cm, Zurique: Kunstauss Zürich.
«O imenso mar, rugindo, ainda se encontra num estado primitivo; o vento, o sol e até o céu estrelado continuam também quase na mesma como há cinco mil anos»
(Emil Nolde).
Emil Nolde, Dança em redor do bezerro dourado [Tanz um das Goldene Kalb], 1910, óleo sobre tela 88x105 cm, Munique: Galeria Municipal de Arte Moderna.
Emil Nolde, Dança em redor do bezerro dourado [Tanz um das Goldene Kalb], 1910, óleo sobre tela 88x105
cm, Munique: Galeria Municipal de Arte Moderna.
Mary Wigman
Emil Nolde, Dança em redor do bezerro dourado [Tanz um das Goldene Kalb],
1910, óleo sobre tela 88x105 cm, Munique: Galeria Municipal de Arte Moderna.
Henri Matisse, A Dança, 1910, óleo sobre tela, 260x288 cm, São Petersburgo: Museu do Ermitage.
Emil Nolde, Figura e Máscara, s.d
«Os homens primitivos vivem no meio da Natureza, formam um todo com ela, são parte do todo…»«Eu pinto e desenho e procuro fixar algo do ser primitivo»«Tudo o que é primitivo e original na sua essência sempre cativou os meus sentidos»(Emil Nolde).
Emil Nolde, Natureza Morta com Dançarinas [Stilleben mit Tänzerinnen], 1914, óleo sobre tela 73x89 cm, Paris: Musée d’Art Moderne, Centre George Pompidou.
Emil Nolde, Prisioneiro [Gefangene], 1906.
Emil Nolde, Trocando de Jesus [Verspottung Christi], 1909, óleo sobre tela 86x106,5 cm, Berlim: Brücke-Museum.
Max Pechstein, Paisagem Fluvil [Fluβlandschaft], 1907, óleo sobre tela, 53x68 cm, Essen: Museum Folkwang.
Max Pechstein, Das gelbschwarze Trikot, 1909, óleo sobre tela, 68x78 cm.
Max Pechstein, Mulher e Índio sobre um tapete, 1909
Max Pechstein, Tanzende und Bandende am Waldteich, 1912, litografia, 43,5x33 cm.
Henri Matisse, A Dança, 1910, óleo sobre tela, 260x288 cm, São Petersburgo: Museu do Ermitage.
Ernst Ludwig Kirchner, Cabeça enferma (Auto-retrato) [Kopf des Kranken (Selbstbildnis)], 1918,
gravura, 56,9x27,3 cm.
Erich Heckel, Zwei Verwundete [Dois Feridos de Guerra], 1915,
gravura, 34,3/35,3x28,6 cm.
Otto Mueller, Zwei bandende Mädchen, 1921, tinta desfeita em cola sobre estopa, 199x149 cm.
Erich Heckel, Mulher de joelhos, 1911
Fauves
Die Brücke
Intransitivo
Transitivo
Pesquisa pictórica
Pesquisa emocional
Equilíbrio Eu/Mundo
Tensão Eu/Mundo
Tudo fica no quadro
Quadro está entre o Eu e o
Mundo
FORMA
CONTEÚDO
significantes
significados
ordena sensações
acção/emoção
deformação é acção pictórica no quadro
deformação é acção sobre os conteúdos
tradição pictórica (Impressionismo, Nabis...)
tradição de pensamento (filosofia)
auto-expressiva
expressionista
rouba-se à referência
envia-se à referência
parte da realidade para o quadro (harmonia pictórica)
projecta-se do quadro para a realidade (desarmonia)
animacção do olhar
intensificação do olhar
acontecimento em torno dum acontecimento (exposição)
grupo em torno dum projecto
acção cultural ética, moral e histórica
acção cultural sem consciência ética e histórica