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2019 Literatura
Julho
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Literatura
Pré-modernismo
Resumo
O pré-modernismo
O pré-modernismo pode ser considerado um período de transição entre os movimentos literários situados
ao final do século XIX e início do século XX. Tal fato ocorre porque muitos autores daquele período passaram,
aos poucos, a se aproximarem de uma inovação temática, formal e linguística (características essas que só
se consolidarão na 1ª fase do Modernismo). No entanto, ao mesmo tempo, os autores ainda se sentiam
presos a valores conservadores que marcaram o século XIX (como exemplo, a valorização da linguagem
culta), por isso, a noção de transição. É muito importante observar como as obras pré-modernista
começaram a inserir, nos textos em prosa, uma preocupação com a identidade nacional.
Contexto histórico
O contexto histórico liga-se diretamente à produção literária, pois os ideais daquela época contribuíram para
a criação de textos com maior engajamento social. Além disso, tal período de transição começou próximo
ao início do século XX e terminou em 1922, ano da Semana de Arte Moderna. Entre os acontecimentos
históricos que motivaram uma maior preocupação social no âmbito literário, podemos destacar: A Revolta
de Canudos (1896-97), A Revolta da Vacina (1904), a Greve dos Operários (1917) e o período da República
Café Com Leite (1894- 1930).
Imagem da Guerra de Canudos. Disponível em: http://www.grupoescolar.com/a/b/915D6.jpg
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Literatura
Características do pré-modernismo
Conheça os principais aspectos que marcaram o pré-modernismo:
• Preocupação e denúncia social;
• Uso de dialetos regionais nas prosas;
• Linguagem coloquial;
• Foco na classe marginalizada;
• Foco na região Nordeste;
• Sincretismo literário;
• Romances com engajamento sociopolíticos;
• Interesse na realidade brasileira;
• Tendências deterministas (provindas do movimento Realista-Naturalista).
Além disso, não podemos esquecer dos autores que mais se destacaram neste momento: na prosa, temos
João do Rio, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha e Monteiro Lobato. Já no âmbito da poesia, o
autor Augusto dos Anjos se destaca por sua temática de cunho “orgânico”, fazendo alusão a micróbios,
decomposição orgânica e seu tom de intensa melancolia e pessimismo.
Textos de apoio
TEXTO I
[...] A entrada dos prisioneiros foi comovedora. [...]
Os combatentes contemplavam-nos entristecidos. Surpreendiam-se, comoviam-se. O arraial, in extremis,
punha-lhes adiante, naquele armistício, uma legião desarmada, mutilada, faminta e claudicante, num assalto
mais duro que os das trincheiras em fogo. Custava-lhes admitir que toda aquela gente inútil e frágil saísse
tão numerosa ainda dos casebres bombardeados durante três meses. Contemplando-lhes os rostos baços,
os arcabouços esmirrados e sujos, cujos molambos em tiras não encobriam lanhos, escaras e escalavros –
a vitória tão longamente apetecida decaía de súbito. Repugnava aquele triunfo. Envergonhava. Era, com
efeito, contraproducente compensação a tão luxuosos gastos de combates, de reveses e de milhares de
vidas, o apresamento daquela caqueirada humana – [...], entre trágica e imunda, passando-lhes pelos olhos,
num longo enxurro de carcaças e molambos...
Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender uma arma, nem um peito resfolegante de campeador
domado: mulheres, sem-número de mulheres, velhas espectrais, moças envelhecidas, velhas e moças
indistintas na mesma fealdade, escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris desnalgados, filhos
encarapitados às costas, filhos suspensos aos peitos murchos, filhos arrastados pelos braços, passando;
crianças, sem-número de crianças; velhos, sem-número de velhos; raros homens, enfermos opilados, faces
túmidas e mortas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante. [...]
[...] Uma megera assustadora, bruxa rebarbativa e magra [...] rompia, em andar sacudido, pelos grupos
miserandos, atraindo a atenção geral. Tinha nos braços finos uma menina, neta, bisneta, tataraneta talvez.
E essa criança horrorizava. A sua face esquerda fora arrancada, havia tempos, por um estilhaço de granada;
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Literatura
de sorte que os ossos dos maxilares se destacavam alvíssimos, entre bordos vermelhos da ferida já
cicatrizada… A face direita sorria. E era apavorante aquele riso incompleto e dolorosíssimo aformoseando
uma face extinguindo-se repentinamente na outra [...].
Aquela velha carregava a criação mais monstruosa da campanha. Lá se foi com seu andar agitante, [...]
seguindo a extensa fila de infelizes… [...]
CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. Edição Especial. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.
TEXTO II
Enfim, arrasada a cidadela maldita! Enfim, dominado o antro negro, cavado no centro de adusto sertão, onde
o Profeta das longas barbas sujas concentrava a sua força diabólica, feita de fé e patifaria, alimentada pela
superstição e pela rapinagem.
BILAC, Olavo. Cidadela maldita. In: Vossa insolência: crônicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
TEXTO III
[...] a verdade nua manda dizer que entre as raças de variado matiz, formadoras da nacionalidade e metidas
entre o estrangeiro recente e o aborígene de tabuinha no beiço, uma existe a vegetar de cócoras, incapaz de
evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna [preguiçosa], nada a põe de pé. [...]
Jeca Tatu é um piraquara [caipira] do Paraíba, maravilhoso epítome [resumo] de carne onde se resumem
todas as características da espécie.
De pé ou sentado as idéias se lhe entramam, a língua emperra e não há de dizer coisa com coisa.
De noite, na choça de palha, acocora-se em frente ao fogo para "aquentá-lo", imitado da mulher e da prole.
Para comer, negociar uma barganha, ingerir um café, tostar um cabo de foice, fazê-lo noutra posição será
desastre infalível. Há de ser de cócoras. [...]
[...]
Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!
Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...
Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço - e nisto vai longe. [...]
Um terreirinho descalvado rodeia a casa. O mato o beira. Nem árvores frutíferas, nem horta, nem flores -
nada revelador de permanência.
Há mil razões para isso; porque não é sua a terral porque se o "tocarem" não ficará nada que a outrem
aproveite; porque para frutas há o mato; porque a "criação" come; porque… [...]
"Não paga a pena".
Todo o inconsciente filosofar do caboclo grulha nessa palavra atravessada de fatalismo e modorra. Nada
paga a pena. Nem culturas, nem comodidades. De qualquer jeito se vive.
LOBATO, Monteiro. Urupês. 37 ed. São Paulo: Brasiliense, 2004.
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Literatura
TEXTO IV
Versos íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos
TEXTO V
“O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o
desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O
andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros
desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência um caráter de
humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que
encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos
estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória
retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico
os meandros das trilhas sertanejas. (…)
É o homem permanentemente fatigado.”
CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. Edição Especial. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.
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Literatura
Exercícios
1. Fragmento de Triste fim de Policarpo Quaresma "Policarpo era patriota. Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da Pátria tomou-o todo inteiro. Não
fora o amor comum, palrador e vazio; fora um sentimento sério, grave e absorvente. ( ... ) o que o
patriotismo o fez pensar, foi num conhecimento inteiro de Brasil. ( ... ) Não se sabia bem onde nascera,
mas não fora decerto em São Paulo, nem no Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse
encontrar nele qualquer regionalismo: Quaresma era antes de tudo brasileiro." BARRETO, Lima. "Triste fim de Policarpo Quaresma". São Paulo: Scipione, 1997.
Este fragmento de "Triste Fim de Policarpo Quaresma" ilustra uma das características mais marcantes
do Pré-Modernismo que é o:
a) desejo de compreender a complexa realidade nacional.
b) nacionalismo ufanista e exagerado, herdado do Romantismo.
c) resgate de padrões estéticos e metafísicos do Simbolismo.
d) nacionalismo utópico e exagerado, herdado do Parnasianismo.
e) subjetivismo poético, tão bem representado pelo protagonista.
2. Uma atitude comum caracteriza a postura literária de autores pré-modernistas, a exemplo de Lima
Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha. Pode ela ser definida como
a) a necessidade de superar, em termos de um programa definido, as estéticas românticas e
realistas.
b) pretensão de dar um caráter definitivamente brasileiro à nossa literatura, que julgavam por
demais europeizadas.
c) a necessidade de fazer crítica social, já que o realismo havia sido ineficaz nessa matéria.
d) uma preocupação com o estudo e com a observação da realidade brasileira.
e) aproveitamento estético do que havia de melhor na herança literária brasileira, desde suas
primeiras manifestações.
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3. Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de transição designada como pré-
modernista. Com relação à poética e à abordagem temática presentes no soneto, identificam-
se marcas dessa literatura de transição, como
a) a forma do soneto, os versos metrificados, a presença de rimas, o vocabulário requintado, além
do ceticismo, que antecipam conceitos estéticos vigentes no Modernismo.
b) o empenho do eu lírico pelo resgate da poesia simbolista, manifesta em metáforas como
“Monstro de escuridão e rutilância” e “Influência má dos signos do zodíaco”.
c) a seleção lexical emprestada do cientificismo, como se lê em “carbono e amoníaco”, “epigênesis
da infância”, “frialdade inorgânica”, que restitui a visão naturalista do homem.
d) a manutenção de elementos formais vinculados à estética do Parnasianismo e do Simbolismo,
dimensionada pela inovação na expressividade poética e o desconcerto existencial.
e) a ênfase no processo de construção de uma poesia descritiva e ao mesmo tempo filosófica, que
incorpora valores morais e científicos mais tarde renovados pelos modernistas.
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4. Negrinha Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e
olhos assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha,
sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na
igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na
sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma
virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”,
dizia o reverendo.
Ótima, a dona Inácia.
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva.
[...]
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de
escravos – e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e zera ao regime novo – essa indecência
de negro igual. LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000
(fragmento).
A narrativa focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição infere-
se, no contexto, pela
a) falta de aproximação entre a menina e a senhora, preocupada com as amigas.
b) receptividade da senhora para com os padres, mas deselegante para com as beatas.
c) ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crianças.
d) resistência da senhora em aceitar a liberdade dos negros, evidenciada no final do texto.
e) rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia tratá-los com castigos.
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5. TEXTO I O Morcego
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
"Vou mandar levantar outra parede..."
Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
ANJOS, A. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994.
TEXTO II
O lugar-comum em que se converteu a imagem de um poeta doentio, com o gosto do macabro e do
horroroso, dificulta que se veja, na obra de Augusto dos Anjos, o olhar clínico, o comportamento
analítico, até mesmo certa frieza, certa impessoalidade científica. CUNHA, F. Romantismo e modernidade na poesia. Rio de Janeiro:Cátedra, 1988 (adaptado).
Em consonância com os comentários do texto 2 acerca da poética de Augusto dos Anjos, o poema O
morcego apresenta-se, enquanto percepção do mundo, como forma estética capaz de:
a) reencantar a vida pelo mistério com que os fatos banais são revestidos na poesia.
b) expressar o caráter doentio da sociedade moderna por meio do gosto pelo macabro.
c) representar realisticamente as dificuldades do cotidiano sem associá-lo a reflexões de cunho
existencial.
d) abordar dilemas humanos universais a partir de um ponto de vista distanciado e analítico acerca
do cotidiano.
e) conseguir a atenção do leitor pela inclusão de elementos das histórias de horror e suspense na
estrutura lírica da poesia.
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6. Assinale a alternativa incorreta sobre o Pré-Modernismo:
a) Não se caracterizou como uma escola literária com princípios estéticos bem delimitados, mas
como um período de prefiguração das inovações temáticas e linguísticas do Modernismo.
b) Algumas correntes de vanguarda do início do século XX, como o Futurismo e o Cubismo,
exerceram grande influência sobre nossos escritores pré-modernistas, sobretudo na poesia.
c) Tanto Lima Barreto quanto Monteiro Lobato são nomes significativos da literatura pré-
modernista produzida nos primeiros anos do século XX, pois problematizam a realidade cultural
e social do Brasil.
d) Euclides da Cunha, com a obra "Os Sertões", ultrapassa o relato meramente documental da
batalha de Canudos para fixar-se em problemas humanos e revelar a face trágica da nação
brasileira.
e) Nos romances de Lima Barreto observa-se, além da crítica social, a crítica ao academicismo e à
linguagem empolada e vazia dos parnasianos, traço que revela a postura moderna do escritor.
7. "Iria morrer, quem sabe naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? nada. Levara toda ela
atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito bem, no intuito de contribuir para a
sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que
estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o condenava? matando-
o. E o que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não
amara – todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não
vira, ele não provara, ele não experimentara.
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades.
Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois se fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade
saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não.
Lembrou-se das suas causas de tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas... Restava disto tudo
em sua alma uma sofisticação? Nenhuma! Nenhuma!" Lima Barreto
As obras do autor desse trecho integram o período literário chamado Pré-Modernismo. Tal designação
para este período se justifica, porque ele:
a) desenvolve temas do nacionalismo e se liga às vanguardas europeias.
b) engloba toda a produção literária que se fez antes do Modernismo.
c) antecipa temática e formalmente as manifestações modernistas.
d) se preocupa com o estudo das raças e das culturas formadoras do nordestino brasileiro.
e) prepara pela irreverência de sua linguagem as conquistas estilísticas do Modernismo.
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8. Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades.
Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a
felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi?
Não. Lembrou-se das coisas do tupi, do folk-lore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo
em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção.
E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra
decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava
a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros,
inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de
decepções.
A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete.
BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 nov. 2011.
O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, foi publicado em 1911. No fragmento
destacado, a reação do personagem aos desdobramentos de suas iniciativas patrióticas evidencia
que
a) a dedicação de Policarpo Quaresma ao conhecimento da natureza brasileira levou-o a estudar
inutilidades, mas possibilitou-lhe uma visão mais ampla do país.
b) a curiosidade em relação aos heróis da pátria levou-o ao ideal de prosperidade e democracia que
o personagem encontra no contexto republicano.
c) a construção de uma pátria a partir de elemento míticos, como a cordialidade do povo, a riqueza
do solo e a pureza linguística, conduz à frustração ideológica.
d) a propensão do brasileiro ao riso, ao escárnio, justifica a reação de decepção e desistência de
Policarpo Quaresma, que prefere resguardar-se em seu gabinete.
e) a certeza da fertilidade da terra e da produção agrícola incondicional faz parte de um projeto
ideológico salvacionista, tal como foi difundido na época do autor.
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9. Adiante... Adiante... Não pares... Eu vejo. Canaã! Canaã!
Mas o horizonte da planície se estendia pelo seio da noite e se confundia com os céus.
Milkau não sabia para onde o impulso os levava: era o desconhecido que os atraía com a poderosa e
magnética força da Ilusão. Começava a sentir a angustiada sensação de uma corrida no Infinito...
— Canaã! Canaã!... suplicava ele em pensamento, pedindo à noite que lhe revelasse a estrada da
Promissão.
E tudo era silêncio, e mistério... Corriam... corriam. E o mundo parecia sem fim, e a terra do Amor
mergulhada, sumida na névoa incomensurável... E Milkau, num sofrimento devorador, ia vendo que
tudo era o mesmo; horas e horas, fatigados de voar, e nada variava, e nada lhe aparecia... Corriam...
corriam... ARANHA, G. Canaã. São Paulo: Ática, 1998 (fragmento).
O sonho da terra prometida revela-se como valor humano que faz parte do imaginário literário
brasileiro desde a chegada dos portugueses. Ao descrever a situação final das personagens Milkau e
Maria, Graça Aranha resgata esse desejo por meio de uma perspectiva
a) crítica, pois retrata o desespero de quem não alcançou sua terra.
b) idealizada, pois relata o sonho de uma pátria acolhedora de todos.
c) simbólica, pois descreve o amor de um estrangeiro pelo Brasil.
d) subjetiva, pois valoriza a visão exótica da pátria brasileira.
e) realista, pois traz dados de uma terra geograficamente situada.
10. A estrofe que NÃO apresenta elementos típicos da produção poética de Augusto dos Anjos é:
a) Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
b) Se a alguém causa inda pena a tua
chaga,
Apedreja a mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
c) Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora,
vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante
molho.
d) Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo…
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
e) Agregado infeliz de sangue e cal,
Fruto rubro de carne agonizante,
Filho da grande força fecundante
De minha brônzea trama neuronial.
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Gabarito
1. A
Durante o período de transição conhecido como pré-modernismo, os autores enfrentaram mudanças em
suas temáticas, níveis formais e características que somente se consolidaram na 1ª geração modernista.
Entretanto, é nesse momento que os autores começam a inserir uma preocupação com a identidade
nacional em seus textos.
2. D
No Pré-Modernismo, os autores começam a voltar seus olhares para as questões sociais, já que se trata
de um período marcado por revoltas, como a de Canudos, da Vacina, a Greve dos Operários.
3. D
Apesar de se voltar para a mudança e modernização, os pré-modernistas estavam ainda presos aos
modelos estéticos e formais de seus movimentos antecessores.
4. D
A questão atenta para a contradição entre a ideia de que a senhora era boa e bem vista aos olhos dos
outros, mas versava na arte da tortura, por ser herança do período escravocrata.
5. D
Baseando-se no texto 2, tem-se a análise de que Augusto dos Anjos teve sua criação de olhar clínico,
analítico e frio com certa impessoalidade científica omitido/escondido pela imagem que recebeu de
poeta com gosto pelo macabro.
6. B
A alternativa se refere à primeira fase do Modernismo.
7. C
O Pré-Modernismo se configura como um período de transição para o Modernismo.
8. C
Policarpo Quaresma possuía ideais irreais para a Pátria que tanto amava. Por exemplo, queria que o Tupi
se tornasse língua oficial do Brasil. Tais pensamentos se mostraram ilusórios e o levaram à frustração.
9. A
A questão aqui é a busca pela Terra prometida, pela pátria ideal, pelas questões sociais vividas.
10. D
A alternativa mostra certa sensualidade e idealização romântica. Augusto dos Anjos possuía gosto pelo
macabro, pelo obscuro e, em certos momentos, visão crítica e olhar clínico sobre a realidade.
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Literatura
Exercícios de revisão: pré-modernismo e vanguardas europeias
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Exercícios
1.
A história narrada em Triste fim de Policarpo Quaresma se passa no momento de implantação do
regime republicano no Brasil. Seu personagem principal, o Major Quaresma, defende alguns projetos
de reforma, um deles relatado no trecho citado.
A justificativa do personagem para a adoção do tupi-guarani como língua oficial brasileira baseia-se
na associação entre nacionalidade e a ideia de:
a) valorização da cultura local
b) defesa da diversidade racial
c) preservação da identidade territorial
d) independência da população autóctone
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Literatura
Texto para a realização das questões 2 e 3:
RECORDAÇÕES DO ESCRIVÃO ISAÍAS CAMINHA
A minha situação no Rio estava garantida. Obteria um emprego. Um dia pelos outros iria às aulas, e
todo o fim de ano, durante seis, faria os exames, ao fim dos quais seria doutor!
Ah! Seria doutor! Resgataria o pecado original do meu nascimento humilde, amaciaria o suplício
premente, cruciante e onímodo¹ de minha cor... Nas dobras do pergaminho da carta, traria presa a
consideração de toda a gente. Seguro do respeito à minha majestade de homem, andaria com ela mais
firme pela vida em fora. Não titubearia, não hesitaria, livremente poderia falar, dizer bem alto os
pensamentos que se estorciam² no meu cérebro.
O flanco, que a minha pessoa, na batalha da vida, oferecia logo aos ataques dos bons e dos maus,
ficaria mascarado, disfarçado...
Ah! Doutor! Doutor!... Era mágico o título, tinha poderes e alcances múltiplos, vários polifórmicos... Era
um pallium³, era alguma cousa como clâmide4 sagrada, tecida com um fio tênue e quase imponderável,
mas a cujo encontro os elementos, os maus olhares, os exorcismos se quebravam.
De posse dela, as gotas da chuva afastar-se-iam transidas5 do meu corpo, não se animariam a tocar-
me nas roupas, no calçado sequer. O invisível distribuidor de raios solares escolheria os mais meigos
para me aquecer, e gastaria os fortes, os inexoráveis6 , com o comum dos homens que não é doutor.
Oh! Ser formado, de anel no dedo, sobrecasaca e cartola, inflado7 e grosso, como um sapo-entanha
antes de ferir a martelada à beira do brejo; andar assim pelas ruas, pelas praças, pelas estradas, pelas
salas, recebendo cumprimentos: Doutor, como passou? Como está, doutor? Era sobre-humano!... BARRETO, Lima. In: VASCONCELOS, Eliane (org.). Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001.
Vocabulário:
1 - de todos os modos, irrestrito
2 -agitavam
3 - manto, capa
4 - manto
5 - assustadas
6 - inflexíveis
7 - vaidoso
2. O discurso do personagem-narrador manifesta uma ânsia de reconhecimento social expressa em
detalhes ou em pequenos objetos. Um exemplo desse procedimento narrativo está em:
a) “faria os exames, ao fim dos quais seria doutor!”
b) “Nas dobras do pergaminho da carta, traria presa a consideração de toda a gente.”
c) “Era mágico o título, tinha poderes e alcances múltiplos, vários polifórmicos...”
d) “era alguma cousa como clâmide sagrada,”
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Literatura
3. A realidade social compõe a obra literária sob diversas formas. No texto de Lima Barreto, o ponto de
vista do autor acerca dos efeitos da exclusão social revela-se por meio do seguinte procedimento
narrativo:
a) construção simbólica de problemas existenciais do personagem-narrador.
b) descrição pormenorizada das contradições do sistema de ensino pelo narrador.
c) representação caricatural das esperanças de um personagem de origem humilde.
d) referência metafórica às dificuldades de integração entre personagens de classes distintas.
4. TEXTO I
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Literatura
TEXTO II No verão de 1954, o artista Robert Rauschenberg (n.1925) criou o termo combine para se referir a suas
novas obras que possuíam aspectos tanto da pintura como da escultura.
Em 1958, Cama foi selecionada para ser incluída em uma exposição de jovens artistas americanos e
italianos no Festival dos dois Mundos em Spoleto, na Itália. Os responsáveis pelo festival, entretanto,
se recusaram a expor a obra e a removeram para um depósito.
Embora o mundo da arte debatesse a inovação de se pendurar uma cama numa parede, Rauschenberg considerava sua obra “um dos quadros mais acolhedores que já pintei, mas sempre tive medo de que alguém quisesse se enfiar nela”.
DEMPSEY, A. Estilos, escolas e movimentos: guia enciclopédico da arte moderna. São Paulo: Cosac e Naify, 2003.
A obra de Rauschenberg chocou o público na época em que foi feita, e recebeu forte influência de um
movimento artístico que se caracterizava pela
a) dissolução das tonalidades e dos contornos, revelando uma produção rápida.
b) exploração insólita de elementos do cotidiano, dialogando com os ready-mades.
c) repetição exaustiva de elementos visuais, levando à simplificação máxima da composição.
d) incorporação das transformações tecnológicas, valorizando o dinamismo da vida moderna.
e) geometrização das formas, diluindo os detalhes sem se preocupar com a fidelidade ao real.
5. “Todas as manhas quando acordo, experimento um prazer supremo: o de ser Salvador Dalí.” NERET, G. Salvador Dali. Taschen, 1996.
Assim escreveu o pintor dos “relógios moles” e das “girafas em chamas” em 1931. Esse artista
excêntrico deu apoio ao general Franco durante a Guerra Civil Espanhola e, por esse motivo, foi
afastado do movimento surrealista por seu líder, André Breton. Dessa forma, Dalí criou seu próprio
estilo, baseado na interpretação dos sonhos e nos estudos de Sigmund Freud, denominado “método
de interpretação paranoico”.
Esse método era constituído por textos visuais que demonstram imagens
a) do fantástico, impregnado de civismo pelo governo espanhol, em que a busca pela emoção e pela
dramaticidade desenvolveram um estilo incomparável.
b) do onírico, que misturava sonho com realidade e inconsciente como um universo único ou
pessoal.
c) da linha inflexível da razão, dando vazão a uma forma de produção despojada no traço, na
temática e nas formas vinculadas ao real.
d) do reflexo que, apesar do termo "paranoico", possui sobriedade e elegância advindas de uma
técnica de cores discretas e desenhos precisos.
e) da expressão e intensidade entre o consciente e a liberdade, declarando o amor pela forma de
conduzir o enredo histórico dos personagens retratados.
5
Literatura
6. No programa do balé Parade, apresentado em 18 de maio de 1917, foi empregada publicamente, pela
primeira vez, a palavra sur-realisme. Pablo Picasso desenhou o cenário e a indumentária, cujo efeito
foi tão surpreendente que se sobrepôs à coreografia. A música de Erik Satie era uma mistura de jazz,
música popular e sons reais tais como tiros de pistola, combinados com as imagens do balé de Charlie
Chaplin, caubóis e vilões, mágica chinesa e Ragtime. Os tempos não eram propícios para receber a
nova mensagem cênica demasiado provocativa devido ao repicar da máquina de escrever, aos
zumbidos de sirene e dínamo e aos rumores de aeroplano previstos por Cocteau para a partitura de
Satie. Já a ação coreográfica confirmava a tendência marcadamente teatral da gestualidade cênica,
dada pela justaposição, colagem de ações isoladas seguindo um estímulo musical. SILVA, S. M. O surrealismo e a dança. GUINSBURG, J.; LEIRNER (Org.). O surrealismo. São Paulo: Perspectiva, 2008
(adaptado).
As manifestações corporais na história das artes da cena muitas vezes demonstram as condições
cotidianas de um determinado grupo social, como se pode observar na descrição acima do balé
Parade, o qual reflete
a) a falta de diversidade cultural na sua proposta estética.
b) a alienação dos artistas em relação às tensões da Segunda Guerra Mundial.
c) uma disputa cênica entre as linguagens das artes visuais, do figurino e da música.
d) as inovações tecnológicas nas partes cênicas, musicais, coreográficas e de figurino.
e) uma narrativa com encadeamentos claramente lógicos e lineares.
6
Literatura
7. TEXTO I
TEXTO II
Ao ser questionado sobre seu processo de criação de ready-mades, Marcei Duchamp afirmou: — Isto
dependia do objeto; em geral, era preciso tomar cuidado com o seu look. É muito difícil escolher um
objeto porque depois de quinze dias você começa a gostar dele ou a detestá-lo. É preciso chegar a
qualquer coisa com uma indiferença tal que você não tenha nenhuma emoção estética. A escolha do
ready-made é sempre baseada na indiferença visual e, ao mesmo tempo, numa ausência total de bom
ou mau gosto. CABANNE, P Marcel Duchamp: engenheiro do tempo perdido. São Paulo: Perspectiva, 1987 (adaptado).
Relacionando o texto e a imagem da obra, entende-se que o artista Marcel Duchamp, ao criar os ready-
mades, inaugurou um modo de fazer arte que consiste em
a) designar ao artista de vanguarda a tarefa de ser o artífice da arte do século XX.
b) considerar a forma dos objetos como elemento essencial da obra de arte.
c) revitalizar de maneira radical o conceito clássico do belo na arte.
d) criticar os princípios que determinam o que é uma obra de arte.
e) atribuir aos objetos industriais o status de obra de arte.
7
Literatura
8. TEXTO I Também chamados impressões ou imagens fotogramáticas […], os fotogramas são, numa definição
genérica, imagens realizadas sem a utilização da câmera fotográfica, por contato direto de um objeto
ou material com uma superfície fotossensível exposta a uma fonte de luz. Essa técnica, que nasceu
junto com a fotografia e serviu de modelo a muitas discussões sobre a ontologia da imagem
fotográfica, foi profundamente transformada pelos artistas da vanguarda, nas primeiras décadas do
século XX. Representou mesmo, ao lado das colagens, fotomontagens e outros procedimentos
técnicos, a incorporação definitiva da fotografa à arte moderna e seu distanciamento da representação
figurativa. COLUCCI, M. B. Impressões fotogramáticas e vanguardas: as experiências de Man Ray. Studium, n. 2, 2000.
TEXTO II
No fotograma de Man Ray, o “distanciamento da representação figurativa” a que se refere o Texto I
manifesta-se na
a) ressignificação do jogo de luz e sombra, nos moldes surrealistas.
b) imposição do acaso sobre a técnica, como crítica à arte realista.
c) composição experimental, fragmentada e de contornos difusos.
d) abstração radical, voltada para a própria linguagem fotográfica.
e) imitação de formas humanas, com base em diferentes objetos.
8
Literatura
9. Assinale a alternativa INCORRETA sobre o Pré-Modernismo:
a) Não se caracterizou como uma escola literária com princípios estéticos bem delimitados, mas
como um período de preflguração das inovações temáticas e linguísticas do Modernismo.
b) Algumas correntes de vanguarda do início do século XX, como o Futurismo e o Cubismo,
exerceram grande influência sobre nossos escritores pré-modernistas, sobretudo na poesia.
c) Tanto Lima Barreto quanto Monteiro Lobato são nomes significativos da literatura pré-
modernista produzida nos primeiros anos do século XX, pois problematizam a realidade cultural
e social do Brasil.
d) Euclides da Cunha, com a obra "Os Sertões", ultrapassa o relato meramente documental da
batalha de Canudos para fixar-se em problemas humanos e revelar a face trágica da nação
brasileira.
e) Nos romances de Lima Barreto observa-se, além da crítica social, a crítica ao academicismo e a
linguagem empolada e vazia dos parnasianos, traço que revela a postura moderna do escritor.
9
Literatura
10. Oitocentos homens desapareciam em fuga, abandonando as espingardas; arriando as padiolas, em
que se estorciam feridos; jogando fora as peças de equipamento; desarmando-se; desapertando os
cinturões, para a carreira desafogada; e correndo, correndo ao acaso, correndo em grupos, em bandos
erradios, correndo pelas estradas e pelas trilhas que as recortam, correndo para o recesso das
caatingas, tontos, apavorados, sem chefes...
Entre os fardos atirados à beira do caminho ficara, logo ao desencadear-se o pânico – tristíssimo
pormenor! – o cadáver do comandante. Não o defenderam. Não houve um breve simulacro de repulsa
contra o inimigo, que não viam e adivinhavam no estrídulo dos gritos desafiadores e nos estampidos
de um tiroteio irregular e escasso, como o de uma caçada. Aos primeiros tiros os batalhões diluíram-
se.
Apenas a artilharia, na extrema retaguarda, seguia vagarosa e unida, solene quase, na marcha habitual
de uma revista, em que parava de quando em quando para varrer a disparos as macegas traiçoeiras;
e prosseguindo depois, lentamente, rodando, inabordável, terrível... [...]
Um a um tombavam os soldados da guarnição estoica. Feridos ou espantados os muares da tração
empacavam; torciam de rumo; impossibilitavam a marcha.
A bateria afinal parou. Os canhões, emperrados, imobilizaram-se numa volta do caminho...
O coronel Tamarindo, que volvera à retaguarda, agitando-se destemeroso e infatigável entre os
fugitivos, penitenciando-se heroicamente, na hora da catástrofe, da tibieza anterior, ao deparar com
aquele quadro estupendo, procurou debalde socorrer os únicos soldados que tinham ido a Canudos.
Neste pressuposto ordenou toques repetidos de “meia-volta, alto!”. As notas das cornetas,
convulsivas, emitidas pelos corneteiros sem fôlego, vibraram inutilmente. Ou melhor – aceleraram a
fuga. Naquela desordem só havia uma determinação possível: “debandar!”.
Debalde alguns oficiais, indignados, engatilhavam revólveres ao peito dos foragidos. Não havia contê-
los. Passavam; corriam; corriam doudamente; corriam dos oficiais; corriam dos jagunços; e ao verem
aqueles, que eram de preferência alvejados pelos últimos, caírem malferidos, não se comoviam. O
capitão Vilarim baterase valentemente quase só e ao baquear, morto, não encontrou entre os que
comandava um braço que o sustivesse. Os próprios feridos e enfermos estropiados lá se iam,
cambeteando, arrastando-se penosamente, imprecando os companheiros mais ágeis...
As notas das cornetas vibravam em cima desse tumulto, imperceptíveis, inúteis...
Por fim cessaram. Não tinham a quem chamar. A infantaria desaparecera... Os sertões, 2016.
No trecho, o estilo de Euclides da Cunha pode ser caracterizado, sobretudo, como
a) transgressor.
b) informal.
c) didático.
d) lacônico.
e) rebuscado.
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Literatura
Gabarito
1. A
Policarpo era patriota extremo, queria valorizar a cultura local e uma de suas ideias era a de implementar
o idioma Tupi como língua oficial do Brasil.
2. B
Note a especificidade de “dobras dos pergaminhos da carta”, são pequenos detalhes que contém muito:
“a consideração de toda a gente”.
3. C
O recurso alegórico da caricatura redimensiona os anseios e esperanças do personagem pobre.
4. B
O elemento “cama” é trabalhado de uma forma insólita, visto que sofre um deslocamento de seu espaço
habitual para um espaço inusitado, fazendo-o perder sua funcionalidade.
5. B
O surrealismo trabalhava os sonhos em fluxos livres de consciência.
6. D
O fragmento apresenta a descrição de um balé. Percebe-se, então, a representação das inovações
tecnológicas nas produções artísticas.
7. D
Marcel Duchamp, uma das maiores figuras vanguardistas da arte, trouxe esta nova interpretação da obra
artística por criticar seus processos e suas determinações, característica que contrapõe o molde de arte
formal e erudito.
8. C
O distanciamento da representação figurativa, devido à influência vanguardista, manifesta-se na
elaboração de uma obra experimental, na qual se percebe a perda de nitidez da imagem.
9. B
As Vanguardas Europeias influenciaram diretamente o Modernismo e não os artistas pré-modernistas.
10. E
O estilo de Euclides da Cunha pode ser caracterizado como rebuscado não só pelo uso de sintaxe de
acordo com a norma padrão da língua portuguesa, mas também pelo uso de vocábulos incomuns. Há a
excessiva preocupação em registrar os termos bem específicos ligados ao campo militar, no excerto, ao
campo geológico e antropológico, na obra como um todo. Esse preciosismo fez a crítica usar a expressão
“barroco científico” para denominar o estilo de “Os sertões”.
L
it.
Literatura
Semana de Arte Moderna
Resumo
Antecedentes da “revolução” estética
No início do século XX, apesar de algumas inovações dos pré-modernos, a literatura brasileira ainda
bebia nas fontes da tradição e do purismo das tendências clássicas, na essência e na linguagem,
principalmente com consonância com a linha parnasiana. Novas proposições estéticas eram raras e a arte
brasileira estava atrasada em relação aos movimentos das Vanguardas Europeias.
A mudança urgia, para que a arte do Brasil não ficasse para trás. Intelectuais brasileiros que tiveram
contato com ideias vanguardistas pretendiam realizar uma mudança drástica, mas encontraram grandes
obstáculos entre os tradicionalistas acadêmicos da arte. O jornalista Oswald de Andrade, que regressou da
Europa em 1912, foi um dos pioneiros a divulgar, através da imprensa paulista, os ideais de renovação artística.
“Nós não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos”, afirmava Andrade: jovens escritores
se organizaram para agredir o tradicionalismo do qual a Academia Brasileira de Letras era representante. As
ideias de atualização e renovação começaram a circular no ambiente artístico e, em janeiro de 1921, O Correio
Paulistano publicou um texto de Menotti Del Pecchia no qual se expunham as novas diretrizes do novo grupo
de escritores.
A Semana de Arte Moderna
A Semana de Arte moderna foi uma agressiva reação contra a monotonia sufocante das convenções
que regiam as artes — pintura, escultura, literatura, música. Ela serviu para que artistas se unissem em prol
de uma mesma causa, encorajando a cada um a ousar mais, a pensar criativa e independentemente.
Nos dias 13, 15 e 17 de Fevereiro de 1922, realizou-se, no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana de
Arte Moderna, organizada por Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Paulo Prado, Graça Aranha, Menotti del
Pecchia, Di Cavalcanti, Ronald Carvalho, entre outros escritores, músicos e pintores.
A Semana de Arte Moderna, apesar de ter sofrido duras críticas, obteve êxito e atingiu seus objetivos:
• divulgar os ideais de uma nova geração de artistas que lutava pela renovação da arte brasileira,
rejeitando o tradicionalismo e as convenções antiquadas;
• impulsionar decisivamente a atualização da cultura no Brasil;
• levar o país ao alinhamento com as novas coordenadas culturais, políticas e socioeconômicas da
nova era: o mundo moderno — técnica, mecanização e velocidade.
Revistas e Manifestos Brasileiros
A propagação dos princípios estéticos e a difusão das propostas de renovação artísticas, que foram
apresentados na Semana de Arte moderna, serviram de alicerce consistente para a incorporação do
modernismo no Brasil. Por meio de revistas e manifestos, grupos de diversos estados brasileiros aderiram às
novas ideias do fazer artístico.
L
it.
Literatura
• Revista Klaxon (1922) - publicação do grupo paulista da Semana de Arte Moderna, contou com
nove edições contendo artigos críticos, anúncios, gravuras, crônicas, etc. Klaxon é uma palavra
de origem francesa e significa buzina.
• Manifesto da poesia Pau-Brasil (1924) - organizada pelo grupo Pau-Brasil (Oswald de Andrade,
Tarsila do Amaral, Alcântara Machado, Raul Blopp e Mário Andrade), defendeu o apego ao que
era simples, ao primitivismo e a crítica ao nacionalismo ufanista. A obra mais famosa dessa
corrente foi o livro Pau-Brasil, de Oswald de Andrade.
• Revista Belo Horizonte (1925) - teve apenas três publicações (de julho de 1925 a janeiro de 1926).
Seu objetivo era deixar os mineiros atualizados acerca das novas tendências. Era organizada por
Carlos Drummond de Andrade e colaboradores.
• Grupo Verde-Amarelo (1925) - composto por Menotti del Picchia, Plínio Salgado, Guilherme de
Almeida, e Cassiano Ricardo. Fazia oposição ao grupo Pau-Brasil. Acreditavam num
nacionalismo primitivo de tendência ufanista. Em 1929, transformou-se em grupo Anta. a obra
mais representativa dessa corrente é Martim Cererê, livro de Cassiano Ricardo.
• Manifesto Regionalista (1926) - organizado pelo grupo de Recife sob o comando de Gilberto
Freire. Foi apresentado no primeiro Congresso Brasileiro de Regionalismo, em Recife.
• Revista Festa (1927) - Publicada no Rio de Janeiro e organizada por Tasso da Silveira, Murilo
Araújo, Gilka Machado, Cecília Meireles e Murilo Mendes. Rompeu com o radicalismo precursor
do Modernismo e apresentava pensamentos católicos, adaptados às temáticas modernas mais
moderadas e com forte carga espiritualista. Publicações em prosa e verso.
• Manifesto Antropofágico (1928) - Foi a proposta mais radical, que propunha devorar,
culturalmente, as ideias e técnicas importadas e reinventá-las com autonomia a fim de que se
pensasse em uma arte tipicamente brasileira: transformar o importado em exportável. Foi
lançado por Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Raul Blopp.
As Vanguardas Europeias
• Vanguarda: Conjunto de tendências que se opõem às vigentes.
• Futurismo: Exaltação da vida moderna, culto da máquina e da velocidade; vida urbana agitada
por causa do trabalho, o elogio da guerra é visto como única higiene possível para o mundo;
desprezo pelo passado e destruição dos meios tradicionais de expressão literária; defesa da
autonomia de expressão: palavras em liberdade, verso totalmente livre; preferência pela síntese
e desconstrução da sintaxe tradicional; desprezo pela arte clássica.
L
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Literatura
• Expressionismo: abandono do conceito clássico de beleza; Inquietação religiosa e social;
deformação do real em nome da expressividade e aumento da subjetividade; valorização do eu
artístico; Excesso de metáforas, vocabulário sugestivo.
• Cubismo: Começa na França, em 1907, com a pintura de Picasso; objetivava sugerir a coisa
retratada a partir de todos os seus ângulos possíveis; aspecto fracionado para a representação
do real; Destruição da perspectiva natural para a sua recriação geométrica; na literatura:
linguagem seca, recortada, angular, rápida.
• Dadaísmo: Terrorismo cultural; deboche, escárnio, humor grosseiro, niilismo (redução de tudo ao
nada); “dadá” não possui significado; destruição do presente, do passado, da sociedade; negação
de tudo, pois nada tem serventia, tentativa de abolir o futuro e a lógica; apologia do absurdo e do
incoerente; antiarte; antiliteratura.
• Espiritonovismo: fidelidade ao dever, à ordem; proposta de uma arte construtiva dentro de um
novo espírito estético; bom-senso herdado dos classicistas; surpresa ao recriar as coisas
tradicionais com uma visão moderna.
• Surrealismo: tentativa de elaborar uma nova cultura; método de escrita automática, sem
preocupações com a ordem, ilógica; liberdade de criação; o onírico é exaltado: no inconsciente,
real e irreal, lógico e ilógico coexistem perfeitamente; humor negro; anticonvencionalismo como
forma de reagir contra a realidade. Principais artistas: Salvador Dali e Frida Kahlo.
L
it.
Literatura
TEXTOS DE APOIO
TEXTO 1
Os sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os delumbra.
—
Em ronco que a terra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
—
O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado,
Diz: — ” Meu cancioneiro
É bem martelado.
—
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
—
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
—
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma
Reduzi sem danos
A formas a forma.
—
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”
—
Urra o sapo-boi:
— “Meu pai foi rei” — “Foi!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
—
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
— “A grande arte é como
Lavor de joalheiro
—
Ou bem de estatutário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo.”
—
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
–“Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!”
—
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
—
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
—
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio…
Manuel Bandeira
1
Literatura
TEXTO 2
Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem normalmente as coisas e em
conseqüência disso fazem arte pura, guardando os eternos rirmos da vida, e adotados para a concretização
das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres. Quem trilha por esta senda, se tem
gênio, é Praxíteles na Grécia, é Rafael na Itália, é Rembrandt na Holanda, é Rubens na Flandres, é Reynolds
na Inglaterra, é Leubach na Alemanha, é Iorn na Suécia, é Rodin na França, é Zuloaga na Espanha. Se tem
apenas talento vai engrossar a plêiade de satélites que gravitam em torno daqueles sóis imorredouros. A
outra espécie é formada pelos que vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias
efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura
excessiva. São produtos de cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins
de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz
de escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento.
Embora eles se dêem como novos precursores duma arte a ir, nada é mais velho de que a arte
anormal ou teratológica: nasceu com a paranóia e com a mistificação. De há muitos já que a estudam os
psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inúmeros desenhos que ornam as paredes internas
dos manicômios. A única diferença reside em que nos manicômios esta arte é sincera, produto ilógico de
cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles, nas exposições públicas, zabumbadas
pela imprensa e absorvidas por americanos malucos, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica,
sendo mistificação pura. Todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não
dependem do tempo nem da latitude. As medidas de proporção e equilíbrio, na forma ou na cor, decorrem de
que chamamos sentir. Quando as sensações do mundo externo transformam-se em impressões cerebrais,
nós "sentimos"; para que sintamos de maneiras diversas, cúbicas ou futuristas, é forçoso ou que a harmonia
do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja em "pane" por virtude de alguma grave
lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer anormalmente no homem, através da porta comum dos cinco
sentidos, um artista diante de um gato não poderá "sentir" senão um gato, e é falsa a "interpretação" que o
bichano fizer um "totó", um escaravelho ou um amontoado de cubos transparentes. Estas considerações
são provocadas pela exposição da Sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma
atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia.
LOBATO, Monteiro. “Paranoia ou mistificação”. São Paulo: Brasiliense, 1964
2
Literatura
Exercícios
1.
AMARAL, Tarsila do. O mamoeiro. 1925, óleo sobre tela, 65x70, IEB//USP.
O modernismo brasileiro teve forte influência das vanguardas europeias. A partir da Semana de Arte
Moderna, esses conceitos passaram a fazer parte da arte brasileira definitivamente. Tomando como
referência o quadro O mamoeiro, identifica-se que, nas artes plásticas, a
a) imagem passa a valer mais que as formas vanguardistas.
b) forma estética ganha linhas retas e valoriza o cotidiano.
c) natureza passa a ser admirada como um espaço utópico.
d) imagem privilegia uma ação moderna e industrializada.
e) forma apresenta contornos e detalhes humanos.
3
Literatura
2. Sobre a exposição de Anita Malfatti, em 1917, que muito influenciaria a Semana de Arte Moderna,
Monteiro Lobato escreveu, em artigo intitulado Paranóia ou Mistificação:
Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem as coisas e em conseqüência fazem arte
pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções estéticas,
os processos clássicos dos grandes mestres. (...) A outra espécie é formada dos que vêem
anormalmente a natureza e a interpretam à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica das
escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. (...). Estas considerações são
provocadas pela exposição da sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma
atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso & cia. O Diário de São Paulo, dez./1917.
Em qual das obras abaixo identifica-se o estilo de Anita Malfatti criticado por Monteiro Lobato no
artigo?
4
Literatura
3.
(Tarsila do Amaral, Operários, 1933, óleo sobre tela, 150x205 cm, (P122), Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo
do Estado de São Paulo)
Desiguais na fisionomia, na cor e na raça, o que lhes assegura identidade peculiar, são iguais enquanto
frente de trabalho. Num dos cantos, as chaminés das indústrias se alçam verticalmente. No mais, em
todo o quadro, rostos colados, um ao lado do outro, em pirâmide que tende a se prolongar
infinitamente, como mercadoria que se acumula, pelo quadro afora. (Nádia Gotlib. Tarsila do Amaral, a modernista.)
O texto aponta no quadro de Tarsila do Amaral um tema que também se encontra nos versos
transcritos em:
a) “Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas.”
(Vinícius de Moraes)
b) “Somos muitos severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima.”
(João Cabral de Melo Neto)
c) “O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada em arquivos.”
(Ferreira Gullar)
d) “Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os
sonhos do mundo.”
(Fernando Pessoa)
e) “Os inocentes do Leblon
Não viram o navio entrar (...)
Os inocentes, definitivamente
inocentes tudo ignoravam,
mas a areia é quente, e há um óleo
suave
que eles passam pelas costas, e
aquecem.”
(Carlos Drummond de Andrade)
5
Literatura
4. Cândido Portinari (1903-1962), em seu livro Retalhos de Minha Vida de Infância, descreve os pés dos
trabalhadores.
Pés disformes. Pés que podem contar uma história. Confundiam-se com as pedras e os espinhos. Pés
semelhantes aos mapas: com montes e vales, vincos como rios. (...) Pés sofridos com muitos e muitos
quilômetros de marcha. Pés que só os santos têm. Sobre a terra, difícil era distingui-los. Agarrados ao
solo, eram como alicerces, muitas vezes suportavam apenas um corpo franzino e doente. (Cândido Portinari, Retrospectiva, Catálogo MASP)
As fantasias sobre o Novo Mundo, a diversidade da natureza e do homem americano e a crítica social
foram temas que inspiraram muitos artistas ao longo de nossa História. Dentre estas imagens, a que
melhor caracteriza a crítica social contida no texto de Portinari é
a) c) e)
b) d)
5. A Semana de Arte Moderna, ou Semana de 1922, marcou a entrada do Modernismo artístico e literário no Brasil. Em 22/02/1922, A Gazeta publicou a seguinte notícia:
“Ao público chocado diante da nova música tocada na Semana, como diante dos quadros expostos e
dos poemas sem rima (...): sons sucessivos, sem nexo, estão fora da arte musical: são ruídos, são
estrondos; palavras sem nexos estão fora do discurso: são disparates como tantos e tão cabelos que
nesta semana conseguiram desopilar os nervos do público paulista [...]”. A Gazeta em 22-02-1922: In Emília Amarela e outros. Cit. Pág. 67
O teor de tal repercussão demonstra:
a) uma “demolição” das convenções estéticas tradicionais.
b) uma retomada da estética parnasiana, considerada superficial.
c) a modernidade urbana introduzida pelo crescimento industrial.
d) a relevância de aspectos nacionalistas vistos na quebra de antigos paradigmas.
6
Literatura
6. Cândido Portinari (1903-1962), um dos mais importantes artistas brasileiros do século XX, tratou de
diferentes aspectos da nossa realidade em seus quadros.
Sobre a temática dos “Retirantes”, Portinari também escreveu o seguinte poema:
(....)
Os retirantes vêm vindo com trouxas e embrulhos
Vêm das terras secas e escuras; pedregulhos
Doloridos como fagulhas de carvão aceso
Corpos disformes, uns panos sujos,
Rasgados e sem cor, dependurados
Homens de enorme ventre bojudo
Mulheres com trouxas caídas para o lado
Pançudas, carregando ao colo um garoto
Choramingando, remelento
(....)
Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1964.
Das quatro obras reproduzidas, assinale aquelas que abordam a problemática que é tema do poema.
a) 1 e 2
b) 1 e 3
c) 2 e 3
d) 3 e 4
e) 2 e 4
7
Literatura
7. Após estudar na Europa, Anita Malfatti retornou ao Brasil com uma mostra que abalou a cultura
nacional do início do século XX. Elogiada por seus mestres na Europa, Anita se considerava pronta
para mostrar seu trabalho no Brasil, mas enfrentou as duras críticas de Monteiro Lobato. Com a
intenção de criar uma arte que valorizasse a cultura brasileira, Anita Malfatti e outros modernistas
a) buscaram libertar a arte brasileira das normas acadêmicas europeias, valorizando as cores, a
originalidade e os temas nacionais.
b) defenderam a liberdade limitada de uso da cor, até então utilizada de forma irrestrita, afetando a
criação artística nacional.
c) representavam a ideia de que a arte deveria copiar fielmente a natureza, tendo como finalidade a
prática educativa.
d) mantiveram de forma fiel a realidade nas figuras retratadas, defendendo uma liberdade artística
ligada à tradição acadêmica.
e) buscaram a liberdade na composição de suas figuras, respeitando limites de temas abordados.
8. O trovador Sentimentos em mim do asperamente dos homens das primeiras eras… As primaveras do sarcasmo intermitentemente no meu coração arlequinal… Intermitentemente… Outras vezes é um doente, um frio na minha alma doente como um longo som redondo… Cantabona! Cantabona! Dlorom… Sou um tupi tangendo um alaúde!
ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mário de Andrade.
Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.
Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de
Andrade. Em O trovador, esse aspecto é
a) abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal” que, evocando o
carnaval, remete à brasilidade.
b) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade
em suas viagens e pesquisas folclóricas.
c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “Sentimentos em mim do asperamente”
(v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9).
d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional
que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade.
e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das primeiras eras” para mostrar
o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas.
8
Literatura
9.
LEIRNER, N. Tronco com cadeira (detalhe), 1964. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br. Acesso em: 27 jul. 2010.
(Foto: Reprodução/Enem)
Nessa estranha dignidade e nesse abandono, o objeto foi exaltado de maneira ilimitada e ganhou um
significado que se pode considerar mágico. Daí sua “vida inquietante e absurda”. Tornou-se ídolo e,
ao mesmo tempo, objeto de zombaria. Sua realidade intrínseca foi anulada. JAFFÉ, A. O simbolismo nas artes plásticas. In : JUNG, C. G. (org.). O homem e os seus símbolos . Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2008
A relação observada entre a imagem e o texto apresentados permite o entendimento da intenção de
um artista contemporâneo. Neste caso, a obra apresenta características
a) funcionais e de sofisticação decorativa.
b) futuristas e do abstrato geométrico.
c) construtivistas e de estruturas modulares.
d) abstracionistas e de releitura do objeto.
e) figurativas e de representação do cotidiano.
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Literatura
10. “O modernismo de 1922 quisera-se atual (aberto ao mundo) e nacional (ficando no solo pátrio), porém,
na prática, levou algum tempo até concretizar-se plenamente esse sonho bicéfalo. O fruto maduro da
semente então plantada foi a Antropofagia oswaldiana, para a formulação da qual a pintura de Tarsila,
sua companheira, contribui em primeiríssima linha, sobretudo a partir de 1924. Para Oswald, o Brasil,
rico de sua própria seiva (…), necessitava assumir a urgência de uma estratégia regeneradora.” PONTUAL, Roberto. In.: Modernidade: arte brasileira do século XX. São Paulo: MEC/MAM, 1988. p. 26.
O texto acima aponta uma estratégia regeneradora para o movimento modernista. Assinale a
alternativa que indica essa estratégia regeneradora proposta por Oswald de Andrade.
a) Absorver as novidades da vanguarda europeia, porém expressando a realidade brasileira.
b) Romper com os padrões de pensamento dos modernistas europeus.
c) Valorizar o pensamento racional e o caráter científico na estrutura da pintura.
d) Importar passivamente os modelos surrealista e cubista das vanguardas europeias.
e) Apropriar-se da estética naturalista e da concepção positivista da cultura.
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Literatura
Gabarito
1. B
Baseando-se na imagem, percebemos que não há uma preocupação com fidelidade de representar de
forma realista as figuras pintadas. Os traços apresentam muitos elementos cubistas, angulosos e
geométricos. A temática é de elementos do cotidiano.
2. E
A única imagem que foge dos padrões estéticos anteriores ao Modernismo é a representada na
alternativa E, por suas formas angulosas e deformadas.
3. B
Trecho de “Morte e Vida”, retrata a perda de identidade pessoal, social e individual pela qual o indivíduo
passa em meio a massificação e situações adversas.
4. E
A imagem modernista da alternativa E é a que mais representa o que é descrito no texto por sua carga
de crítica social.
5. A
A iconoclastia é a principal característica da primeira fase do Modernismo no Brasil, e a Semana de Arte
Moderna, considerada o marco desse movimento, representou bem essa atitude, causando, no entanto,
revolta e furor em grande parte do público. A depreciação da arte moderna pôde ser observada também
entre a crítica, como evidenciado na notícia de “A Gazeta”.
6. C
As imagens 2 e 3 mostram situações de miséria, de migração, de extrema pobreza.
7. A
É a única alternativa que apresenta as características e propostas modernistas. Não havia limitação de
cor, nem cópia fiel da natureza, nem limites temáticos.
8. D
O Manifesto Antropofágico tinha como objetivo deglutir e aglutinar as características e correntes
europeias para que se tivesse uma arte legítima brasileira, sem imitações.
9. D
A imagem mostra a intervenção e ressignificação de um objeto do cotidiano, a cadeira. É abstrata na
medida em que se relaciona ao Dadaísmo.
10. A
A alternativa apresenta as características do Movimento Antropofágico.
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Literatura
Modernismo: 1ª fase
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Resumo
A 1ª fase do Modernismo, ou também chamada de “fase heroica”, é considerada de suma importância
para a literatura e as outras manifestações de arte, principalmente, porque foi impulsionada após a Semana
de Arte Moderna, em 1922. A relevância desse novo momento para a construção da identidade brasileira é
ímpar. Isso se justifica porque, comparando aos movimentos literários anteriores, do século XIX, nota-se
que a forma, a linguagem e a temática ainda estavam muito vinculadas aos modelos europeus e o
Modernismo quer, justamente, negar os valores da sociedade patriarcal e da arte mimética.
Após a influência das vanguardas europeias, que romperam padrões artísticos e desconstruíram a
imagem prototípica do belo, dá-se início à valorização da liberdade de expressão. Influenciados pela criação
artística, autores literários brasileiros sentem a necessidade de desenvolver uma poesia mais criativa e
voltada para a realidade nacional. Neste sentido, a primeira fase do Modernismo, na poesia, tem o intuito de
ajudar a construir de - forma crítica - a identidade nacional, a partir do início do século XX.
Características do Modernismo
● Adoção de versos livres e brancos;
● Desvio das formas clássicas, como os sonetos;
● Valorização da linguagem coloquial;
● Nacionalismo crítico;
● Pluralidade cultural, fruto da miscigenação;
● Valorização do cotidiano;
● Dessacralização da arte;
● Liberdade artística;
● Poesia sintética;
● Tom prosaico;
● Valorização da originalidade.
Na poesia, os principais autores são Oswald de Andrade (criador do “Manifesto Pau Brasil” e do
“Manifesto Antropofágico”) e Manuel Bandeira. Já na prosa, destacam-se Mário de Andrade (autor de
“Macunaíma”) e Antônio de Alcântara Machado.
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Literatura
Textos de apoio
TEXTO 1
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(Manuel Bandeira)
TEXTO 2
3 de maio
Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que nunca vi
(Oswald de Andrade)
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Literatura
TEXTO 3
Descobrimento
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu.
(Mário de Andrade)
TEXTO 4
O capoeira
- Que apanhá, sordado?
- O que?
- Que apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
(Oswald de Andrade)
TEXTO 5
Erro de Português
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
(Oswald de Andrade)
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Literatura
Exercícios
1. Vei, a Sol
Ora o pássaro careceu de fazer necessidade, fez e o herói ficou escorrendo sujeira de urubu. Já era de
madrugadinha e o tempo estava inteiramente frio. Macunaíma acordou tremendo, todo lambuzado.
Assim mesmo examinou bem a pedra mirim da ilhota para vê si não havia alguma cova com dinheiro
enterrado. Não havia não. Nem a correntinha encantada de prata que indica pro escolhido, tesouro de
holandês. Havia só as formigas jaquitaguas ruivinhas. Então passou Caiuanogue, a estrela da manhã.
Macunaíma já meio enjoado de tanto viver pediu pra ela que o carregasse pro céu. Caiuanogue foi se
chegando porém o herói fedia muito.
— Vá tomar banho! — ela fez. E foi-se embora.
Assim nasceu a expressão “Vá tomar banho” que os brasileiros empregam se referindo a certos
imigrantes europeus.
ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
O fragmento de texto faz parte do capítulo VII, intitulado “Vei, a Sol”, do livro Macunaíma, de Mário de
Andrade, pertencente à primeira fase do Modernismo brasileiro. Considerando a linguagem
empregada pelo narrador, é possível identificar
a) resquícios do discurso naturalista usado pelos escritores do século XIX.
b) ausência de linearidade no tratamento do tempo, recurso comum ao texto narrativo da primeira
fase modernista.
c) referência à fauna como meio de denunciar o primitivismo e o atraso de algumas regiões do país.
d) descrição preconceituosa dos tipos populares brasileiros, representados por Macunaíma e
Caiuanogue.
e) uso da linguagem coloquial e de temáticas do lendário brasileiro como meio de valorização da
cultura popular nacional.
5
Literatura
2. “Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922.
No poema, o autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante
na época.
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
[...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: José Aguilar, 1974)
Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:
a) Critica o lirismo louco do movimento modernista.
b) Critica todo e qualquer lirismo na literatura.
c) Propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.
d) Propõe o retorno do movimento romântico.
e) Propõe a criação de um novo lirismo.
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Literatura
3. NAMORADOS
"O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
- Antônia, ainda não me acostumei com o seu
[corpo, com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
- Você não sabe quando a gente é criança e de
[repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
- A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
- Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
- Antônia, você é engraçada! Você parece louca."
(Manuel Bandeira. "Poesia completa & prosa". Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.)
No poema de Bandeira, importante representante da poesia modernista, destaca-se como
característica da escola literária dessa época
a) a reiteração de palavras como recurso de construção de rimas ricas.
b) a utilização expressiva da linguagem falada em situações do cotidiano.
c) a criativa simetria de versos para reproduzir o ritmo do tema abordado.
d) a escolha do tema do amor romântico, caracterizador do estilo literário dessa época.
e) o recurso ao diálogo, gênero discursivo típico do Realismo.
7
Literatura
4.
MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA. Oswald de Andrade: o culpado de tudo. 27 set.2011 a 29 jan. 2012. São Paulo: Prof.
Gráfica. 2012. (Foto: Reprodução)
O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de que a brasilidade está relacionada ao futebol.
Quanto à questão da identidade nacional, as anotações em torno dos versos constituem:
a) direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados histórico-culturais.
b) forma clássica da construção poética brasileira.
c) rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol.
d) intervenções de um leitor estrangeiro no exercício de leitura poética.
e) lembretes de palavras tipicamente brasileiras substitutivas das originais.
5. Assinale a alternativa correta para as características do Modernismo de 1922, também chamado de
“fase heroica”.
a) Espírito polêmico e destruidor, valorização poética do cotidiano, nacionalismo, busca da
originalidade a qualquer preço.
b) Temática ampla com preocupação filosófica, predomínio do romance regionalista, valorização do
cotidiano, nacionalismo.
c) Espírito polêmico, busca da originalidade, predomínio do romance psicológico, valorização da
cidade e das máquinas.
d) Visão futurista, espírito polêmico e destruidor, predomínio da prosa poética, valorização da cidade
e das máquinas.
e) Valorização poética do cotidiano, linguagem repleta de neologismos, nacionalismo e busca da
poesia na natureza.
8
Literatura
6. Cena
O canivete voou
E o negro comprado na cadeia
Estatelou de costas
E bateu coa cabeça na pedra
ANDRADE, O. Pau-brasil. São Paulo: Globo, 2001.
O Modernismo representou uma ruptura com os padrões formais e temáticos até então vigentes na
literatura brasileira. Seguindo esses aspectos, o que caracteriza o poema “Cena” como modernista é
o(a)
a) construção linguística por meio de neologismo.
b) estabelecimento de um campo semântico inusitado.
c) configuração de um sentimentalismo conciso e irônico.
d) subversão de lugares-comuns tradicionais.
e) uso da técnica de montagem de imagens justapostas.
9
Literatura
7. Sambinha
Vêm duas costureirinhas pela rua das Palmeiras.
Afobadas braços dados depressinha
Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros homens da rua.
As costureirinhas vão explorando perigos…
Vestido é de seda.
Roupa-branca é de morim.
Falando conversas fiadas
As duas costureirinhas passam por mim.
— Você vai?
— Não vou não!
Parece que a rua parou pra escutá-las.
Nem trilhos sapecas
Jogam mais bondes um pro outro.
E o Sol da tardinha de abril
Espia entre as pálpebras sapiroquentas de duas nuvens.
As nuvens são vermelhas.
A tardinha cor-de-rosa.
Fiquei querendo bem aquelas duas costureirinhas…
Fizeram-me peito batendo
Tão bonitas, tão modernas, tão brasileiras!
Isto é…
Uma era ítalo-brasileira.
Outra era áfrico-brasileira.
Uma era branca.
Outra era preta.
ANDRADE, M. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1988.
Os poetas do Modernismo, sobretudo em sua primeira fase, procuraram incorporar a oralidade ao fazer
poético, como parte de seu projeto de configuração de uma identidade linguística e nacional. No
poema de Mário de Andrade esse projeto revela-se, pois
a) o poema capta uma cena do cotidiano — o caminhar de duas costureirinhas pela rua das
Palmeiras — mas o andamento dos versos é truncado, o que faz com que o evento perca a
naturalidade.
b) a sensibilidade do eu poético parece captar o movimento dançante das costureirinhas —
depressinha — que, em última instância, representam um Brasil de “todas as cores”.
c) o excesso de liberdade usado pelo poeta ao desrespeitar regras gramaticais, como as de
pontuação, prejudica a compreensão do poema.
d) a sensibilidade do artista não escapa do viés machista que marcava a sociedade do início do
século XX, machismo expresso em “que até dão vontade pros homens da rua”.
e) o eu poético usa de ironia ao dizer da emoção de ver moças “tão modernas, tão brasileiras”, pois
faz questão de afirmar as origens africana e italiana das mesmas.
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Literatura
8. Camelôs
Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão:
O que vende balõezinhos de cor
O macaquinho que trepa no coqueiro
O cachorrinho que bate com o rabo
Os homenzinhos que jogam boxe
A perereca verde que de repente dá um pulo que engraçado
E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma.
Alegria das calçadas
Uns falam pelos cotovelos:
– “O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai buscar um
pedaço de banana para eu acender o charuto.
Naturalmente o menino pensará: Papai está malu…”
Outros, coitados, têm a língua atada.
Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino
ingênuo de
demiurgos de inutilidades.
E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da
meninice…
E dão aos homens que passam preocupados ou tristes
uma lição de infância.
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
Uma das diretrizes do Modernismo foi a percepção de elementos do cotidiano como matéria de
inspiração poética. O poema de Manuel Bandeira exemplifica essa tendência e alcança expressividade
porque
a) realiza um inventário dos elementos lúdicos tradicionais da criança brasileira.
b) promove uma reflexão sobre a realidade de pobreza dos centros urbanos.
c) traduz em linguagem lírica o mosaico de elementos de significação corriqueira.
d) introduz a interlocução como mecanismo de construção de uma poética nova.
e) constata a condição melancólica dos homens distantes da simplicidade infantil.
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Literatura
9. A discussão sobre gramática na classe está “quente”. Será que os brasileiros sabem gramática? A
professora de Português propõe para debate o seguinte texto:
PRA MIM BRINCAR
Não há nada mais gostoso do que o mim sujeito de verbo no infinitivo. Pra mim brincar. As cariocas
que não sabem gramática falam assim. Todos os brasileiros deviam de querer falar como as cariocas
que não sabem gramática.
- As palavras mais feias da língua portuguesa são quiçá, alhures e miúde. BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org: Emanuel de Moraes. 4ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1986. Pág. 19.
Com a orientação da professora e após o debate sobre o texto de Manuel Bandeira, os alunos
chegaram à seguinte conclusão:
a) Uma das propostas mais ousadas do Modernismo foi a busca da identidade do povo brasileiro e
o registro, no texto literário, da diversidade das falas brasileiras.
b) Apesar de os modernistas registrarem as falas regionais do Brasil, ainda foram preconceituosos
em relação às cariocas.
c) A tradição dos valores portugueses foi a pauta temática do movimento modernista.
d) Manuel Bandeira e os modernistas brasileiros exaltaram em seus textos o primitivismo da nação
brasileira.
e) Manuel Bandeira considera a diversidade dos falares brasileiros uma agressão à Língua
Portuguesa.
10. Segundo Alfredo Bosi, no seu livro “História concisa da literatura”: “Paralelamente às obras e nascendo
com o desejo de explica-las e justifica-las, os modernistas fundaram revistas e lançaram manifestos
que iam delimitando os subgrupos, de início apenas estéticos, mas logo portadores de matizes
ideológicos mais ou menos preciosos”.
A partir dessas considerações, assinale a alternativa correta.
I. A prática da escrita de manifestos se conecta exclusivamente aos movimentos de vanguarda
latino-americanos, pois as vanguardas europeias preferiram, no lugar do manifesto, o uso de
longos tratados estéticos.
II. “Klaxon”, publicada no ano de 1922 em São Paulo, e “Estética”, lançada em 1924 no Rio de Janeiro,
foram duas revistas que contribuíram para o debate modernista ao longo da década de 1920.
III. Os “Manifesto da poesia Pau-Brasil” e “Manifesto antropófago” contêm importantes diretrizes do
grupo modernista formado ao redor da ação cultural de Oswaldo de Andrade e Mário de Andrade.
a) Estão corretas as afirmativas I e II.
b) Estão corretas as afirmativas I e III.
c) Estão corretas as afirmativas II e III.
d) Todas as afirmativas estão corretas.
e) Nenhuma das afirmativas está correta.
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Literatura
Gabarito
1. E
A alternativa se sustenta por apresentar as características do fragmento, como a utilização de lendas
para justificar o uso coloquial de uma expressão popular.
2. E
O eu-lírico se diz farto do lirismo “enquadrado” em preocupações dicionarísticas e propõe a criação de
um novo modelo de poesia.
3. B
A representação da fala foi artigo importante para a expressividade da realidade no modernismo.
4. A
A inovação nesse poema de Oswald de Andrade é a presença de “comentários” sobre o que é escrito,
como em uma leitura guiada.
5. A
As demais alternativas caracterizam outros períodos da literatura no Brasil.
6. E
Considerando o poema, não apenas como pertencente ao modernismo, mas pela autoria de Oswald de
Andrade, a técnica de imagens justapostas compondo versos de um pequeno poema é uma
característica do poeta que também trouxe a fragmentação de imagens formando composições
cubistas com a linguagem.
7. B
O poema contempla tanto o cotidiano da cidade grande quanto a realidade multirracial da nação
brasileira. “Afobadas braços dados depressinha”: o andar apressado é sugerido pelos versos curtos e
pelos encadeamentos semânticos, isto é, o sentido do verso continua no próximo.
8. C
O poema apresenta elementos do cotidiano, pois Manuel Bandeira apresentou a realidade, a situação
corriqueira dos camelôs: com brinquedos de tostão nas calçadas, com crianças e pais.
9. A
A poesia da 1ª fase do Modernismo Brasileiros (1922-1930) foi marcada, sobretudo, pela liberdade de
estilo, aproximação com a linguagem falada e criação de novas formas de expressão que rompem com
a tradicional: utilização do verso livre, quase abandono das formas fixas – como o soneto, a fala
coloquial, ausência da pontuação, valorização do cotidiano, a paródia, etc.
10. C
A primeira proposição é incorreta porque, tal como no Brasil, os movimentos artísticos europeus do
início do século XX que tinham como objetivo o questionamento, a quebra dos padrões, o protesto
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Literatura
contra a arte conservadora e a criação de novos padrões estéticos, eram divulgados através de
manifestos, editoriais, prefácios, muros, jornais e revistas literárias.
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Literatura
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Resumo
O Modernismo – 1ª Fase
A 1ª fase do Modernismo, ou também chamada de “fase heroica”, é considerada de suma importância
para a literatura e as outras manifestações de arte, principalmente, porque foi impulsionada após a Semana
de Arte Moderna, em 1922. A relevância desse novo momento para a construção da identidade brasileira é
ímpar. Isso se justifica porque, comparando aos movimentos literários anteriores, do século XIX, nota-se que
a forma, a linguagem e a temática ainda estavam muito vinculadas aos modelos europeus e o Modernismo
quer, justamente, negar os valores da sociedade patriarcal e da arte mimética.
Após a influência das vanguardas europeias, que romperam padrões artísticos e desconstruíram a
imagem prototípica do belo, dá-se início à valorização da liberdade de expressão. Influenciados pela criação
artística, autores literários brasileiros sentem a necessidade de desenvolver uma poesia mais criativa e
voltada para a realidade nacional.
Neste sentido, a primeira fase do Modernismo, na poesia, tem o intuito de ajudar a construir de – forma crítica
– a identidade nacional, a partir do início do século XX.
Características do Modernismo
● Adoção de versos livres e brancos;
● Desvio das formas clássicas, como os sonetos;
● Valorização da linguagem coloquial;
● Nacionalismo crítico;
● Pluralidade cultural, fruto da miscigenação;
● Valorização do cotidiano;
● Dessacralização da arte;
● Liberdade artística;
● Poesia sintética;
● Tom prosaico;
● Valorização da originalidade.
Na poesia, os principais autores são Oswald de Andrade (criador do “Manifesto Pau Brasil” e do
“Manifesto Antropofágico”) e Manuel Bandeira. Já na prosa, destacam-se Mário de Andrade (autor de
“Macunaíma”) e Antônio de Alcântara Machado.
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Literatura
Exercícios
1. Baseando-se no trecho abaixo, responda:
"Trem de ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isto maquinista?"
(Manuel Bandeira)
I. A significação do trecho provém da sugestão sonora.
II. O poeta utiliza expressões da fala popular brasileira.
III. A temática e a estrutura do poema contrariam o programa poético do Modernismo.
a) se I, II e III forem corretas.
b) se I e II forem corretas e III incorreta.
c) se I, II e III forem incorretas.
d) se I for incorreta e II e III corretas.
e) se I e II forem incorretas e apenas III correta.
2. O alpinista
de alpenstock
desceu
nos Alpes
O texto acima, capítulo do romance “Memória Sentimentais” de João Miramar, exemplifica uma
tendência do autor de:
a) Procurar as barreiras entre poesia e prosa, utilizando estilo alusivo e elíptico.
b) Explorar o poema em forma de prosa, satirizando as manifestações literárias do Pré-modernismo.
c) Buscar uma interpretação lírica de seu país, explorando a forca sugestiva das palavras.
d) Utilizar o poema-piada, para satirizar tudo o que não fosse nacional.
e) Procurar “ser regional e puro em sua época”, negando influências das vanguardas europeias.
3
Literatura
3. Estrada
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar. (BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.)
A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos
do cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para
a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia
com relação à cidade.
b) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida
rural.
c) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança.
e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte.
4. ERRO DE PORTUGUÊS
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de Sol
O índio tinha despido
O português. (Oswald de Andrade. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.)
O primitivismo observável no poema anterior, de Oswald de Andrade, caracteriza de forma marcante:
a) o regionalismo do Nordeste.
b) o concretismo paulista.
c) a poesia Pau-Brasil.
d) o simbolismo pré-modernista.
e) o tropicalismo baiano.
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Literatura
5. MANIFESTO DA POESIA PAU-BRASIL (fragmento)
Lançado por Oswald de Andrade, no Correio da Manhã, em 18 de março de 1924.
Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o
naturalismo. Copiar. Quadro de carneiros que não fosse lã mesmo não prestava. A interpretação do
dicionário oral das Escolas de Belas-Artes queria dizer reproduzir igualzinho... Veio a pirogravura. As
meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica. E com todas as
prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade de olho virado – o artista
fotógrafo.
Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram pianistas.
Surgiu o piano de manivela, o piano de patas. A Playela. E a ironia eslava compôs para a Playela.
Stravinski.
A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas.
Só não se inventou uma máquina de fazer versos – já havia o poeta parnasiano.
(...)
Nossa época anuncia a volta ao sentido puro.
Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes sob a luz.
A poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida
das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal
anda todo o presente. (apud TELES, Gilberto M. Vanguarda Europeia e Modernismo Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1977.)
O texto de Oswald de Andrade critica a estética naturalista porque:
a) as pessoas que desejassem sair nas procissões poderiam fazer poesia e ingressar nas escolas
de Belas-Artes.
b) os novos meios técnicos tornaram acessível a todos a possibilidade de representação da realidade.
c) o fenômeno de democratização estética acarretou prerrogativas como a da misteriosa genialidade
de olho virado.
d) as meninas de todos os lares tiveram acesso às idéias naturalistas de representação da realidade
e viraram escritoras.
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Literatura
6. Uma linha de coerência se esboça através dos ziguezagues de sua vida. Ora espiritualista, ora
marxista, criando um dia o Pau-Brasil, e logo buscando universalizá-lo em antropofagia, primitivo e
civilizado a um tempo, como observou Manuel Bandeira, solapando o edifício burguês sem renunciar à
habitação em seus andares mais altos, Oswald manteve sempre intata sua personalidade, de sorte a
provocar, ainda em seus últimos dias, a irritação ou a mágoa que inspirava quando fauve modernista
de 1922. (Carlos Drummond de Andrade, Poesia e prosa.)
Carlos Drummond de Andrade, ao opinar sobre Oswald de Andrade, vale-se da ironia, que fica evidente
numa das observações que relaciona o lado político e ideológico, a personalidade e o comportamento
em termos de classe social. A ironia de Drummond se manifesta com clareza no segmento
a) Uma linha de coerência se esboça através dos ziguezagues de sua vida.
b) criando um dia o Pau-Brasil, e logo buscando universalizá-lo em antropofagia.
c) primitivo e civilizado a um tempo, como observou Manuel Bandeira.
d) solapando o edifício burguês sem renunciar à habitação em seus andares mais altos.
e) Oswald manteve sempre intata sua personalidade, de sorte a provocar, ainda em seus últimos
dias, a irritação ou a mágoa.
7. Estrada
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar. (BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.)
A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos
do cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para
a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia
com relação à cidade.
b) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida
rural.
c) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança.
e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte.
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Literatura
8. Escapulário
No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
De Cada Dia
(ANDRADE, Oswald de. In: Poesias reunidas. 5ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971, p. 75)
Escapulário: objeto de devoção formado por dois quadrados de pano bento, com orações ou uma
relíquia, que os devotos trazem ao pescoço.
A crítica literária considera que a poesia de Oswald de Andrade apresenta duas vertentes: uma
“destrutiva” e uma “construtiva”. Identifique de que modo esses dois traços aparecem, respectivamente,
na intertextualidade realizada por Oswald no poema Escapulário.
a) Desconstrução do “Pai Nosso” e reconstrução poética da prece.
b) Ironia em relação à oração e dimensão estética do poema.
c) Paráfrase da oração e acréscimo de novos elementos.
d) Comparação ao “Pai Nosso” e intertextualidade com a oração.
9. Arte de amar
Se querer sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas a almas não.
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974.)
O texto é representativo de um movimento estético-literário que rompe com a tradição lírica dominante
no Brasil até as duas primeiras décadas do século XX. Identifique um aspecto do texto que caracteriza
a referida ruptura.
a) Idealização amorosa.
b) Rejeição ao sentimentalismo.
c) Forma poética fixa.
d) Linguagem formal e erudita.
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Literatura
10. As dimensões continentais do Brasil são objeto de reflexões expressas em diferentes linguagens. Esse
tema aparece no seguinte poema:
“ (...)
Que importa que uns falem mole descansado
Que os cariocas arranhem os erres na garganta
Que os capixabas e paroaras escancarem as [vogais?]
Que tem se o quinhentos réis meridional
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?
Junto formamos este assombro de misérias e [grandezas]
Brasil, nome de vegetal” (...)”
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6ª ed. São Paulo: Martins Editora, 1980.)
O texto poético ora reproduzido trata das diferenças brasileiras no âmbito:
a) étnico e religioso.
b) linguístico e econômico.
c) racial e folclórico.
d) histórico e geográfico.
e) literário e popular.
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Literatura
Gabarito
1. B
A afirmativa III é incorreta porque a proposta do Modernismo era justamente a mescla do culto e coloquial,
era trazer o popular ao nível de arte.
2. A
A alternativa é correta porque há omissão de pontuação e alusão a uma cena narrativa em forma de
versos típicos da estrutura de um poema.
3. B
A efemeridade da vida é vista como uma fragilidade e a paralisia dos elementos textuais demonstra que
a vida passa, mas a inércia impede que qualquer coisa seja diferente.
4. C
O poema transcrito explora o primitivismo, característica marcante da 1ª fase Modernista brasileira e
que teve em Oswald de Andrade, através do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, o seu representante mais
radical. Valorizava a inocência dionisíaca dos primitivos, a liberação dos instintos (“O Carnaval. O
Sertão e a Favela. Pau-Brasil. Bárbaro e nosso”).
5. B
Oswald de Andrade critica a estética naturalista porque tem como objetivo democratizar a representação
da realidade, traço que não acontecia período romântico.
6. D
O efeito irônico que a alternativa contempla está na oposição entre a atitude antiburguesa de grande parte
da obra oswaldiana e o fato de que Oswald pertenceu aos quadros da alta burguesia paulistana. Falta,
contudo, rigor na tipificação da ironia como recurso retórico. No caso, a situação apresenta-se
contraditória, mas não se configura a antífrase, modalidade da ironia que consiste em dizer algo para
sugerir o seu oposto. A mera constatação de que Oswald era burguês e criticava a burguesia não implica,
por si mesma, ironia.
7. B
De acordo com a percepção do eu lírico, a vida no campo valoriza a individualidade de cada um que ali
vive, diferente da vida urbana, ambiente em que há uma “padronização” do jeito de ser. Além disso, a voz
lírica valoriza a efemeridade da vida, o que pode ser identificada nos versos “Que a vida passa! que a
vida passa!/ E que a mocidade vai acabar”.
8. A
Os dois traços aparecem na paródia do discurso religioso. A vertente “destrutiva” pode ser observada na
desconstrução do “Pai Nosso”; a “construtiva” fica evidente na reconstrução poética dessa prece,
acrescentando-lhe novos elementos, que garantem a dimensão estética do poema.
9. B
De acordo com o fragmento apresentado, um dentre os aspectos temáticos acerca do Modernismo de
1922 é a renúncia à idealização do amor; rejeição ao sentimentalismo.
10. B
O poema faz referência às variantes linguísticas do português do Brasil (“falem mole descansado/ Que
os cariocas arranhem os erres na garganta/ Que os capixabas e paroaras escancarem as [vogais?]) e à
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Literatura
nomenclatura usada para o dinheiro em diversas socioculturais (“quinhentos réis meridional/ Vira cinco
tostões do Rio pro Norte?”).