repositorio.pgsskroton.com · 2 tchoya gardenal fina do nascimento indústrias mineradoras de...
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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE
E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
TCHOYA GARDENAL FINA DO NASCIMENTO
INDÚSTRIAS MINERADORAS DE CORUMBÁ, MATO GROSSO DO SUL:
MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E O DESENVOLVIMENTO (IN)
SUSTENTÁVEL
CAMPO GRANDE – MS
2018
2
Tchoya Gardenal Fina do Nascimento
Indústrias Mineradoras de Corumbá, Mato Grosso do Sul: Meio Ambiente
do Trabalho e o desenvolvimento (in) sustentável
Tese apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional da
Universidade Anhanguera-Uniderp,
como parte dos requisitos para a
obtenção do Título de Doutor em Meio
Ambiente e Desenvolvimento Regional.
Orientação:
Profa. Dra. Rosemary Matias
Prof. Dr. Sandino Hoff
CAMPO GRANDE – MS
2018
3
4
Dedico
Aos meus filhos Lucas, João e Laís, futura geração já
presente, na esperança de um mundo melhor
À minha mãe Lia, por acreditar e não me deixar desistir
Ao meu pai Ruy, fonte de inspiração e conhecimento
A Luiz Francisco, meu companheiro de vida
5
AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi possível devido à colaboração de muitos amigos. Deixo
a todos eles meus agradecimentos e, em especial:
À minha orientadora, Profa. Dra. Rosemary Matias, pela amizade,
pela seriedade e competência imprescindíveis para a realização do
presente trabalho;
Aos professores do Doutorado da Anhanguera-Uniderp, pelos
ensinamentos;
Ao colega José Carlos Pina, pelas sugestões e revisão deste
trabalho;
Aos colegas de curso pelos momentos partilhados em sala de aula
e trocas de experiências;
Aos Professores Dra. Luciani Coimbra de Carvalho, Dra. Giselle
Marques de Araújo, Dr. José Paulo Gutierrez e Dra. Carla Letícia
Gediel, por aceitarem participar das bancas de qualificação e
defesa desta tese, sugerindo acréscimos valiosos para aprimorar o
trabalho científico;
A Luiz Francisco, companheiro e esteio para a realização dos meus
sonhos. Aos meus filhos Lucas, João e Lais, pela compreensão e
estímulo para a conclusão deste projeto de vida;
Aos meus pais, Ruy e Lia, trabalhadores incansáveis que me
ensinaram, com palavras e ações, o real sentido do trabalho, da
persistência e de lutar pelo que se quer;
A minha irmã Bruna, pela paciência e auxílio nas horas que mais
preciso;
Aos meus irmãos Mário e Gabriela, distantes fisicamente, mas
presentes em energias positivas e palavras de incentivo.
6
“Que se escute o grito de muitas pessoas, famílias e
comunidades que sofrem direta ou indiretamente as
consequências muitas vezes negativas das atividades de
mineração. Um grito pelas terras perdidas; um grito pela
extração das riquezas do solo que, paradoxalmente, não
produz nenhuma riqueza para a população local, que
permanece pobre; um grito de dor em reação às violências,
às ameaças e a corrupção; um grito de indignação e de
ajuda pelas violações dos direitos humanos, de forma
discreta ou descaradamente pisoteados no que diz respeito
à saúde das pessoas, às condições de trabalho, às vezes
pela escravidão e tráfico de seres humanos que alimenta o
fenômeno trágico da prostituição; um grito de tristeza e de
impotência pela poluição da água, do ar e do solo; um grito
de incompreensão pela falta de processos inclusivos e de
apoio por parte das autoridades civis, locais e nacionais,
que têm o dever fundamental de promover o bem comum”
Papa Francisco
7
LISTA DE FIGURAS – REVISÃO DE LITERATURA
Figura 1 Planície Pantaneira e Bacia do Alto Paraguai ..................... 27
Figura 2 Localização de Corumbá-MS .............................................. 28
Figura 3 Localização da borda oeste da Morraria - Maciço Urucum e
adjacências ........................................................................ 29
Figura 4 Mina de Urucum – Corumbá-MS ........................................ 33
Figura 5 Principais empreendimentos do polo minero-siderúrgico de
Corumbá ............................................................................ 35
Figura 6 Número de minas por porte e classe do mineral no Brasil -
metálicas e não metálicas .................................................. 36
Figura 7 Classificação de categoria de risco e dano potencial
associado às barragens ....................................................... 37
Figura 8 Barragem do Gregório, maior barragem de mineração de
Mato Grosso do Sul ............................................................. 39
Figura 9 Mosaico de imagens das mineradora de Corumbá-MS ...... 41
Figura 10 Volume de Receita das exportações do minério de ferro de
2012 a 2017 ........................................................................ 42
Figura 11 Mineradora e barragem – Corumbá-MS ............................. 44
Figura 12 Maciço de Urucum – Corumbá-MS ...................................... 45
Figura 13 Mineração Corumbá Reunida (MCR), responde por 10,29%
de tudo que deixa o Estado com destino ao exterior ............ 48
LISTA DE FIGURAS – ARTIGO I
Figura 1 Localização de Corumbá-MS ............................................. 101
Figura 2 Composição do PIB do município de Corumbá de 1980 a
2010, Mato Grosso do Sul .................................................. 106
Figura 3 Participação do PIB Industrial no PIB de Corumbá de 1980
A 2011, Mato Grosso do Sul .............................................. 107
Figura 4 Exportação do Minério de Ferro de Mato Grosso do Sul de
2012 a 2017 ....................................................................... 113
LISTA DE FIGURAS – ARTIGO II
Figura 1 Composição do PIB do município de Corumbá de 1980 a
2010, Mato Grosso do Sul .................................................. 137
Figura 2 Volume de Receita das exportações do minério de ferro de
2012 a 2017 ....................................................................... 139
Figura 3 Distribuição da arrecadação da Compensação Financeira
pela Exploração dos recursos minerais (CFEM) Brasil, Mato
Grosso do Sul ..................................................................... 143
8
Cont...
LISTA DE FIGURAS – ARTIGO III
Figura 1 Mina de Urucum – Corumbá-MS ........................................ 168
Figura 2 Distribuição de acidentes do trabalho motivo, no Estado de
Mato Grosso do Sul ............................................................. 185
Figura 3 Comunicação de acidentes de trabalho em Corumbá, 2015-
2016 .................................................................................... 185
Figura 4 Número de reclamações trabalhistas ajuizadas em desfavor
Das mineradoras de Corumbá, entre 2009 a 2018 .............. 190
LISTA DE FIGURAS – ARTIGO IV
Figura 1 Planície Pantaneira e Bacia do Alto Paraguai .................... 219
Figura 2 Mina de Urucum – Corumbá-MS ........................................ 222
Figura 3 Número de minas por porte e classe do mineral no Brasil
(metálicas e não metálicas) ................................................ 225
Figura 4 Classificação de Categoria de Risco e Dano Potencial
Associado ............................................................................ 226
Figura 5 Barragem do Gregório, maior barragem de. mineração de
Mato Grosso do Sul ............................................................. 228
9
LISTA DE TABELAS – REVISÃO DE LITERATURA
Tabela 1 Porte e modalidade de lavra das minas no Brasil- 2015 ..... 36
LISTA DE TABELAS – ARTIGO I
Tabela 1 PIB Municipal de Corumbá, Mato Grosso do Sul de 2002 a
2011 ................................................................................. 108
Tabela 2 Renda, pobreza e desigualdade - Município Corumbá, Mato
Grosso do Sul ..................................................................... 109
Tabela 3 PIB Municipal per capita de Corumbá, Mato Grosso do Sul
de 2002 a 2011 .................................................................. 109
Tabela 4 Admissão e demissão em Corumbá por setor (2007-2015) 110
Tabela 5 Número de empregos em diversos setores e atividades em
Corumbá-MS - 2016 .......................................................... 111
Tabela 6 Remuneração média de empregos formais de diversos
setores em Corumbá no ano de 2016, Mato Grosso do Sul 111
Tabela 7 Exportação de Produtos da Extração Mineral (2000-2014) 114
Tabela 8 Arrecadação da CFEM de 2010 até 2018, em milhões de
reais, entre os cinco maiores arrecadadores do Estado de
Mato Grosso do Sul .......................................................... 116
Tabela 9 Perfil dos empregrados formais no município de Corumbá,
Mato Grosso do Sul de 2010 a maio de 2018 .................... 116
9 Tabela 10 Perfil dos empregados na mineração em Corumbá, Mato
Grosso do Sul, de 2010 a maio 2018 .............................. 117
Tabela 11 IDH de Corumbá de 1991 a 2010 ..................................... 118
Tabela 12 IDH do município de Corumbá, Mato Grosso do Sul e seus
componentes ..................................................................... 119
Tabela 13 Longevidade, Mortalidade e Fecundidade - Município de
Corumbá, Mato Grosso do Sul ......................................... 119
Tabela 14 IFDM Corumbá no período de 2000 a 2011 ...................... 120
Tabela 15 Índice FIRJAN para Educação, Saúde, Emprego e Renda
para Corumbá, Mato Grosso do Sul, no período de 2010 a
2013 ................................................................................. 120
LISTA DE TABELAS – ARTIGO II
Tabela 1 Exportação de Produtos da Extração Mineral de Corumbá e
do Estado de Mato Grosso do Sul de 2000 a 2014 ............. 138
Tabela 2 Arrecadação da CFEM de 2010 até 2018, em milhões de
reais, entre os cinco maiores arrecadadores do Estado de
Mato Grosso do Sul .......................................................... 149
Tabela 3 Receita tributária e CFEM de Corumbá-MS, de 2013 a 2017 149
10
Cont...
LISTA DE TABELAS – ARTIGO II
Tabela 4 Índice de Desenvolvimento Humano de Corumbá – 1991,
2000 e 2010 ....................................................................... 151
Tabela 5 IFDM Corumbá no período de 2000 a 2011 ...................... 152
Tabela 6 Índice FIRJAN para Educação, Saúde, Emprego e Renda
para Corumbá, Mato Grosso do Sul, no período de 2010 a
2013 ................................................................................. 152
Tabela 7 Perfil dos empregados na mineração em Corumbá, Mato
Grosso do Sul, de 2010 a maio de 2018 ............................ 154
LISTA DE TABELAS – ARTIGO IV
Tabela 1 Porte e modalidade de lavra das minas no Brasil- 2015 ..... 225
11
LISTA DE QUADROS – REVISÃO DE LITERATURA
Quadro 1 Elementos do Programa da Comissão de Desenvolvimento
sustentável para os Indicadores de Sustentabilidade ......... 68
Quadro 2 Estrutura do Índice de Sustentabilidade Ambiental – ISA .... 69
Quadro 3 Alíquotas para fins de incidência da compensação financeira
pela exploração de recursos minerais (CFEM) .................. 75
LISTA DE QUADROS – ARTIGO II
Quadro 1 Alíquotas para a incidência da Compensação Financeira
pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) .................. 142
LISTA DE QUADROS – ARTIGO III
Quadro 1 Funções e Remunerações na Indústria de Extração Mineral
de Corumbá - 2017 ............................................................. 179
Quadro 2 Quantidade de acidentes do trabalho por situação de
registro e motivo, segundo Brasil e Região de Mato Grosso
do Sul - 2014-2016 ............................................................. 182
Quadro 3 Quantidade mensal de acidentes do trabalho, por situação
do registro e motivo, no estado do Mato Grosso do Sul - 2014
- 2016 .................................................................................. 184
Quadro 4 Ações Trabalhistas Brasil 2012-2016 ................................. 188
Quadro 5 Ações Trabalhistas Corumbá 2014-2018 ........................... 190
Quadro 6 Patologias na coluna vertebral ............................................ 199
Quadro 7 Processos Administrativos MPT de 2014 a 2018 ................ 204
LISTA DE QUADROS – ARTIGO IV
Quadro 1 Elementos do Programa da Comissão de Desenvolvimento
Sustentável para o Desenvolvimento de Indicadores de
Sustentabilidade ................................................................. 232
Quadro 2 Estrutura do Índice de Sustentabilidade Ambiental – ISA ... 233
12
Lista de Siglas e Abreviaturas
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade
AIA Avaliação de Impactos Ambiental
ANA Agência Nacional de Águas
art. artigo
BAP Bacia do Alto Paraguai
BR Brasil Brasider - Sociedade Brasileira de Siderurgia
CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
CAT Comunicação de Acidente de Trabalho
CBO Classificação Brasileira de Ocupações
CEREST Centro de Referência em Saúde do Trabalhador
CETEM Centro de Tecnologia Mineral
CF Constituição Federal
CID Código Internacional de Doenças
CDS Comissão de Desenvolvimento Sustentável
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CMN Confederação Nacional dos Municípios
CNAE Classificação Nacional de Atividades Econômicas
CNPS Conselho Nacional de Previdência Social
CNS Conselho Nacional de Saúde
COMIN Corumbá Mineração
COSIMAT Companhia Siderúrgica Mato-grossense
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
CVRD Companhia Vale do Rio Doce
DF Distrito Federal
DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral
DORT Doenças Osteoarticulares Relacionadas ao Trabalho
DPA Dano Potencial Associado
EIA Estudo de Impacto Ambiental
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EPI Equipamento de Proteção Individual
FAP Fator Acidentário de Prevenção
Fe Ferro
FOB Free on Board
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICP Injeção de Carvão Pulverizado
13
IMASUL Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul
inc. inciso
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
INSS Instituto Nacional do Seguro Social
JT Justiça do Trabalho
LER Lesões por Esforços Repetitivos
Lilacs Latin American and Caribbean Health Science
Literature LIMA Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente
MCR Mineração Corumbaense Reunida
MDIC Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviço
Metamat Companhia Mato-grossense de Mineração
MG Minas Gerais
MMA Ministério do Meio Ambiente
MME Ministério de Minas e Energia
MPS Ministério da Previdência Social
MP Ministério Público
MPE Ministério Público Estadual
MPF Ministério Público Federal
MPP Mineração Pirâmide Participações
MPT Ministério Público do Trabalho
MS Mato Grosso do Sul
MT Mato Grosso
MT Medicina do Trabalho
MTE Ministério do Trabalho e Emprego
NBR Norma Brasileira
NR Norma Regulamentadora
NTEP Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário
OIT Organização Internacional do Trabalho
ONG Organização não Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
Org. Organizado
p. página
PA PARÁ
PAIR Perda Auditiva Induzida por Ruído
PDV Plano de Demissão Voluntária
PIB Produto interno bruto
PLC Programmable Logic Controller
PNS Pesquisa Nacional de Saúde
PNSB Política Nacional de Segurança de Barragens
PNSST Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho
14
PRAD Plano de Recuperação de Áreas Degradadas
Qtde. Quantidade
RAIS Relação Anual de Informações Sociais
RAT Risco Ambiental do Trabalho
RDM Rio Doce Manganês
RE Recurso Extraordinário
RENAST Rede Nacional de Ação Integral à Saúde
RIMA Relatório de Impacto Ambiental
ROM Run of mine (produção bruta de minério)
RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural
S. A. Salário mínimo
Sal. min. Salário mínimo
SAT Seguro Acidente de Trabalho
Scielo Scientific Electronic Library Online
SEMA Secretaria Especial do Meio Ambiente (extinta)
SEMAC Secretaria de Estado do Meio Ambiente, das Cidades, do
Planejamento, da Ciência e Tecnologia
SENAI Serviço Nacional da Indústria
SEPROTU
R
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário, da
Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo
SIDERUN
A
Usina Sideruna Indústria e Comércio (em recuperação judicial)
SIM Sistema de Informações sobre Mortalidade
SNISB Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de
Barragens
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação
SO Saúde Ocupacional
SOBRAMI
L
Sociedade Brasileira de Mineração
SST Saúde e Segurança do Trabalho
STF Supremo Tribunal Federal
SUS Sistema Único de Saúde
TRT Tribunal Regional do Trabalho
TST Tribunal Superior do Trabalho
UC Unidade de Conservação
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura
UFMS Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
UNIDERP Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região
do Pantanal
UNIGRAN Centro Universitário da Grande Dourados
ZEE Zoneamento Ecológico Econômico
WWF World Wildlife Fund
15
SUMÁRIO
1. Resumo Geral ................................................................................... 17
2. General Summary ............................................................................. 19
3. Introdução Geral ............................................................................... 21
4. Revisão de Literatura ......................................................................... 24
4.1. Abordagem da temática como referencial teórico ............................ 24
4.2. Localização da área de pesquisa e legislações aplicáveis ............. 26
4.3. Das Mineradoras e barragens .......................................................... 31
4.4. Dos impactos ao meio ambiente ...................................................... 43
4.4.1. Impactos ao meio ambiente natural ............................................... 43
4.4.2. Impactos sociais ...........................................................................
..
48
4.4.3. Saúde do Trabalhador .................................................................. 49
4.4.3.1. Subnotificações de acidentes e doenças ocupacionais ........... 54
4.5. Desenvolvimento Sustentável e Crescimento Econômico ............... 62
4.5.1. Índice de Sustentabilidade ............................................................ 63
4.6. Compensação Financeira pela exploração Mineral - CFEM ........... 69
5. Referências Bibliográficas .................................................................. 81
6. Artigos ................................................................................................ 98
Artigo I .................................................................................................... 98
Impactos socioeconômicos da atividade mineradora em Corumbá, Mato
Grosso do Sul ......................................................................................... 98
Resumo .................................................................................................. 98
Abstract .................................................................................................. 99
Introdução ............................................................................................ 100
Material e Métodos ............................................................................... 100
Resultados e Discussão ....................................................................... 102
Conclusão ............................................................................................ 122
Referências Bibliográficas .................................................................... 123
Artigo II ................................................................................................ 130
Compensação Financeira pela exploração de Recursos Minerais em
Corumbá-MS: necessidade de regulamentação e criação de Fundo da
Mineração para recuperação ambiental ............................................... 130
Resumo ................................................................................................ 130
Abstract ................................................................................................ 130
Introdução ............................................................................................ 131
Material e Métodos ............................................................................... 134
Resultados e Discussão ....................................................................... 134
Conclusão ............................................................................................ 157
Referências Bibliográficas .................................................................. 158
16
Artigo III ................................................................................................ 165
As subnotificações das comunicações de acidentes de trabalho no setor
de mineração: análise da situação dos mineiros de Corumbá-MS ..... 165
Resumo ................................................................................................ 165
Abstract ................................................................................................ 166
Introdução ............................................................................................ 166
Material e Métodos ............................................................................... 167
Resultados e Discussão ....................................................................... 168
Conclusão ............................................................................................ 205
Referências Bibliográficas .................................................................. 207
Artigo IV ................................................................................................ 215
Mineração no Pantanal Sul-Mato-Grossense: conformidade legal
garante a sustentabilidade ambiental? ................................................. 215
Resumo ................................................................................................ 215
Abstract ................................................................................................ 215
Introdução ............................................................................................ 216
Material e Métodos ............................................................................... 217
Resultado e Discussão ......................................................................... 217
Conclusão ............................................................................................ 236
Referências Bibliográficas .................................................................... 236
7. Conclusão Geral ............................................................................. 244
17
1. Resumo Geral
Corumbá localiza-se na porção noroeste de Mato Grosso do Sul,
concentrando, dentro de seu território, 60% do Pantanal sul-mato-grossense. A
região possui como atividade econômica a extração de minério de ferro, a
terceira maior reserva do Brasil, e de manganês, a maior reserva do país. A
atividade extrativa mineral é a maior fonte de receita para o município, porém os
problemas ambientais desta atividade têm atraído a atenção e a preocupação de
vários seguimentos da sociedade sobre a necessidade de ações preventivas. O
objetivo geral do presente trabalho é analisar o impacto econômico, social e de
desenvolvimento que a atividade mineradora traz para o município de Corumbá-
MS, confrontando-os com os aspectos do desenvolvimento sustentável o que
contempla a linha de pesquisa Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento
Regional Sustentável. Esta pesquisa é de natureza quali-quantitativa, utilizando-
se, para a coleta de dados, revisão bibliográfica e análise documental, além de
processos trabalhistas, autuações e Termos de Ajustamento de Conduta em
desfavor das Mineradoras de Corumbá. Os dados coletados e a análise realizada
culminaram com quatro artigos. O artigo 1 tem como objetivo levantar e analisar
os índices econômicos e de desenvolvimento social do município de Corumbá e
relacionar com a atividade mineradora na região elegendo-se como parâmetros
o Produto Interno Bruto Municipal e Per capita, as informações constantes no
PNUD, informações sobre emprego, renda, número de admissões e demissões
no setor, o volume de exportação de produtos da extração mineral no período
de, os valores recebidos pelo município de CFEM, em contrapartida aos índices
de IDH (1991, 2000 e 2010) e IFDM (2000 a 2011). Apresenta-se como resultado
que atividade mineradora promove o crescimento econômico e não o
desenvolvimento humano traduzindo-se em concentração de riqueza, baixa
qualificação profissional, ausência de políticas de desenvolvimento e
degradação ambiental. O artigo 2 tem como objetivo identificar e avaliar os
valores arrecadados por Corumbá a título de CFEM entre 2010 a 2016 e analisar
se os valores arrecadados refletiram na melhoria na qualidade de vida da
população. Como resultado tem-se que a CFEM contribuiu para fortalecer as
finanças públicas, mas os valores não representaram a melhoria da qualidade
de vida da população. Como alternativa propõe-se a criação do “Fundo da
Mineração do município de Corumbá”. O artigo 3 tem como objetivo levantar e
18
analisar o número de acidentes de trabalho ocorridos no setor da mineração em
Corumbá durante o período de 2014 a 2018, traçando um comparativo entre os
acidentes/doenças do trabalho oficialmente notificados e as situações omitidas,
mas que diante das sequelas, acabam desembocando no Judiciário Trabalhista
e na Previdência Social, para diagnosticar as principais causas de acidentes e
adoecimentos do setor mineral de Corumbá-MS. Constatou-se que 20% dos
acidentes e doenças ocupacionais não são notificadas e que os acidentados são
trabalhadores jovens, com pouca qualificação e menores remunerações. As
principais causas dos infortúnios foram jornada excessiva de trabalho, falta de
treinamento adequado, falhas na estrutura do ambiente de trabalho e falta ou
insuficiência de EPI´S. O artigo 4 tem como propósito discutir a sustentabilidade
ambiental das empresas mineradoras no pantanal sul-mato-grossense,
propondo uma reflexão de que o cumprimento da legislação não garante a
sustentabilidade do empreendimento se isolada de melhorias na qualidade de
vida da população.
Palavras-Chave: Mineração, Meio Ambiente do Trabalho, Compensação
Ambiental, Sustentabilidade Ambiental.
19
2. General Summary
The Municipality of Corumba is located in the northwestern portion of Mato
Grosso do Sul, concentrating within its territory, 60% of Mato Grosso do Sul
Pantanal. The economic activity´s region is the extract of iron ore, the third largest
iron ore reserves in Brazil, and manganese, the country's largest manganese
reserves. The mining activity is the largest source of revenue for the municipality,
but environmental problems of this activity have attracted the attention and
concern of several segments of society about the need for preventive measures.
The goals of this research is to analyze economic, social and developmental
impact that mining activity brings to municipality of Corumbá-MS, confronting
them with the aspects of sustainable development which contemplates the line of
research in Society, Environment and Development Regional Sustainable. This
research is qualitative and quantitative nature, using data collection, bibliographic
review and documentary analysis, as well as labor lawsuits, notifications and
Terms of Conduct Adjustment in disadvantage Corumbá miners. The data
collected and analyzed culminated with four articles. The article 1 aimed to
analyze economic and social development indexes of the municipality of
Corumbá and relate it with mining activity in the region, using the Municipal Gross
Domestic Product and Per Capita, information on UNDP, information on
employment, income, numbers of admissions and dismissals in the sector, the
volume of exports of mineral extraction products in period from, the values
received by the municipality of CFEM, against the HDI indexes (1991, 2000,
2010) and IFDM (2000 a 2010). As a results the mining activity improve economic
growth but neither the human development, which is translates into concentration
of wealth, low professional qualification, ausence of policies of development and
environmental degradation. The 2 article aims to identify and evaluate the
amounts collected by Corumbá as CFEM between 2010 and 2016 and to analyze
if the values collected reflected in improvement in the quality of life of the
population. As a result, CFEM has contributed to strengthening public finances,
but the values did not represent an improvement in the population´s quality of life.
Alternatively, the creation of the “Mining Fund of the Municipality of Corumbá” is
proposed. The 3 articles aimed to verify and analyze the number of works
accidents in the mining sector in Corumbá in the period from 2014 to 2018,
drawing a comparison between the officially reported accidents/diseases of work
20
and the omitted situations, which in face of sequels, end up in the Labor Judiciary
and in Social Security, to diagnose the main causes of accidents and illnesses of
the sector in Corumbá. It was found that 20% of occupational accidents and
diseases are not reported and that the injured are young workers, with lower
qualification and remunerations. The main causes of the misfortunes were
excessive work hours, absence adequate training, failure of structure in work
environment and lack or insufficient PPE. The 4 article aimed to discuss the
environmental sustainability of mining companies in Pantanal sul-
matogrossense, proposing a reflection that compliance with the legislation does
not guarantee the sustainability of the enterprise if isolated from improvements in
the quality of life of population.
Keywords: Mining, Work Environment, Environmental Compensation,
Environmental Sustainability.
21
3. Introdução Geral
A presente pesquisa se insere na linha do programa, que objetiva a
Sustentabilidade Ambiental, vez que o conceito de sustentabilidade não se
restringe somente a um meio ambiente ecologicamente equilibrado como
também abrange a concreção de outros valores fundamentais que assegurem a
todos o bem-estar físico e psíquico, tais como a proteção da ordem econômica,
fundada na valorização do trabalho humano e livre iniciativa.
A indústria extrativista mineral é a principal fonte de riquezas para a cidade
de Corumbá, superando a arrecadação de impostos gerada pelos setores da
pecuária e agricultura considerada de fundamental importância sócio econômica
para Corumbá-MS, gerando aproximadamente 2000 empregos diretos e
representando a maior fonte de receita para o Município (MTE, 2015). Entretanto,
esta atividade acarreta severos efeitos ambientais, quer sobre o solo, ar, água,
biota, população do entorno e seus empregados, sendo considerada uma das
atividades mais perigosas à saúde humana (OLIVEIRA, 2001).
Os riscos ambientais de qualquer atividade minerária, tem elevada
magnitude e impactam diretamente a sustentabilidade ambiental da região. No
concernente ao meio ambiente do trabalho, há que se considerar o elevado
número de acidentes e doenças do trabalho (15.996 em 2015 em todo Brasil),
aposentadorias por invalidez e mortes, além da precarização de direitos
trabalhistas em decorrência da terceirização, trazendo repercussão de ordem
socioeconômica ambiental (MPS, 2015a).
Atualmente operam em Corumbá-MS cinco empresas mineradoras:
Companhia Vale do Rio Doce – Vale S/A., Mineradora Corumbaense Reunida –
MCR (subsidiária integral da Vale), Corumbá Mineração Ltda. – COMIN,
pertencente ao grupo Vetorial, Mineração Pirâmide Participações – MPP e
Granha Liga Ltda., terceira produtora de ferro-liga do Brasil.
Na região existem 20 barragens destinadas à disposição de rejeitos
resultantes da atividade, das quais 17 delas consideradas de pequeno porte e
apenas três de médio porte. Em razão de estarem localizadas no Pantanal, as
barragens do Estado receberam a classificação de Dano Potencial Associado (DPA),
que indica impactos sociais, ambientais e econômicos que um eventual vazamento
ou rompimento poderiam provocar, entre médio e alto.
22
Entretanto, as discussões acerca dos danos que essa atividade extrativa
causa aos trabalhadores nela inseridos, à sociedade e ao desenvolvimento
regional sustentável, são ainda incipientes.
Conhecer os efeitos que a atividade minerária representa para a realidade
socioeconômica e ambiental de Corumbá, analisando as formas de atuação das
Empresas minerárias no tocante a saúde do trabalhador do setor na região é
importante para estabelecer ações de promoção e prevenção mais focalizadas,
no sentido de erradicar ou ao menos controlar, de forma mais eficiente, os riscos
que resultam em doenças e acidentes de trabalho, bem como para melhorar as
condições do ambiente de trabalho das pessoas envolvidas nas atividades de
mineração, como uma necessidade ao desenvolvimento regional e à
sustentabilidade ambiental, diante do grave impacto que as doenças, os
afastamentos, aposentadorias e mortes acarretam para esses trabalhadores,
suas famílias, a Previdência Social, o meio ambiente e toda a sociedade.
O objetivo geral do presente trabalho é analisar o impacto econômico,
social e de desenvolvimento que a atividade mineradora traz para o município
de Corumbá-MS, confrontando-os com os aspectos do desenvolvimento
sustentável, sob a ótica do meio ambiente do trabalho.
Os objetivos específicos, que serão apresentados na forma de artigos científicos
são:
1) Levantar e analisar os índices econômicos (PIB, PIB per capita) do
município de Corumbá e relacionar com a atividade mineradora na região
e comparar com os índices de desenvolvimento índices de
desenvolvimento econômico (IDH, IFDM), apresentando os resultados
relativos a qualidade de vida da população, apurando-se as condições da
educação, saúde, emprego e renda, distribuição de renda, a média
remuneratória, bem como o volume de exportação e os royalties
recebidos pela exploração mineral, bem como a capacitação profissional
estimulada pelo setor minerador na região;
2) Identificar e avaliar os valores arrecadados pelo Município à título de
CFEM entre 2010 a 2016 e relacionar com a melhoria na qualidade de
vida da população, sustentando-se a criação de um Fundo da Mineração,
imprescindível para o desenvolvimento regional sustentável,
23
considerando que a Lei 7.990/89 instituiu a compensação financeira pelo
resultado da exploração da lavra - CFEM, como uma contraprestação pela
utilização econômica dos recursos minerais para a minimização dos
impactos causados pela atividade e Corumbá-MS possui a décima maior
arrecadação de CFEM entre os municípios do Brasil;
3) Levantar e analisar o número de acidentes de trabalho ocorridos no setor
da mineração em Corumbá, durante o período de 2014 a 2018, traçando
um comparativo entre os acidentes/doenças do trabalho oficialmente
notificados e as situações omitidas, mas que diante das sequelas, acabam
desembocando no Judiciário Trabalhista e na Previdência Social, para
diagnosticar as principais causas de acidentes e adoecimentos do setor
mineral de Corumbá-MS por meio da análise de processos judiciais
trabalhistas perante a Vara do Trabalho em Corumbá, bem como
emissões de CAT e autuações administrativas do Ministério Público do
Trabalho em desfavor das empresas mineradoras de Corumbá para
verificar as condições de saúde dos trabalhadores ativos, apurando-se o
número de acidentes e/ou doenças do trabalho, bem como afastamentos
para tratamento de saúde, apurando-se quais as doenças mais
recorrentes, o motivo da doença e/ou acidente; os riscos operacionais da
atividade mineradora de Corumbá, bem como o cumprimento das
obrigações trabalhistas e eventuais pedidos de indenizações por acidente
e doenças do trabalho;
4) Por fim o artigo 4 tem o propósito avaliar e discutir alguns parâmetros de
sustentabilidade ambiental das empresas mineradoras no pantanal sul-
mato-grossense, propondo uma reflexão de que nem sempre ser
legalmente sustentável é também ser ambientalmente sustentável. Assim,
questionar a concepção de sustentabilidade ambiental atrelada ao
conceito de sustentabilidade legal e propor uma reflexão de que a
sustentabilidade é mais que uma condicionante ambiental ou
conformidade legal e base de discussão desta tese o que contempla a
linha de pesquisa linha de pesquisa Sociedade, Ambiente e
Desenvolvimento Regional Sustentável.
24
4. Revisão de Literatura
4.1. Abordagem da temática como referencial teórico
As discussões acerca dos danos que a atividade extrativa causa à
sociedade, aos trabalhadores nela inseridos e ao desenvolvimento regional
sustentável são ainda incipientes.
As obras de suporte para a revisão da literatura, com investigação em
fontes secundárias, foram selecionadas por intermédio dos periódicos da
CAPES e das plataformas Scientific Electronic Library Online (Scielo), Latin
American and Caribbean Health Science Literature (Lilacs), Biblioteca Central da
UFMS e Biblioteca Uniderp, demonstrando a escassa abordagem regional do
assunto, pesquisadas por meio dos seguintes descritores:
a) CAPES: “mineração” (4.425 obras), “Corumbá” (1.444 obras), “mineração
Corumbá” (8 obras), “Desenvolvimento Corumbá” (363 obras),
“Desenvolvimento Corumbá mineração” (17 obras), “Acidente de
Trabalho” (1.467 obras), “acidente de trabalho mineração” (31 obras),
“acidente de trabalho Corumbá” (nenhuma obra); “CAT mineração” (16
obras), “Doenças Ocupacionais” (719 obras); “Doenças Ocupacionais
Corumbá” (3 obras), “Pantanal e Mineração” (64 obras); “mineradoras”
(300 obras), “Impactos ambientais e Mineração” (6 obras), “Impactos
ambientais e Pantanal” (17 obras);
b) Na plataforma Scielo: “mineração” (585 obras), “Corumbá” (285 obras),
“mineração Corumbá” (nenhuma obra), “Desenvolvimento Corumbá” (17
obras), “Desenvolvimento Corumbá mineração” (nenhuma obra),
“Acidente de Trabalho” (165 obras), “acidente de trabalho mineração”
(nenhuma obra), “acidente de trabalho Corumbá” (nenhuma obra); “CAT
mineração” (nenhuma obra), “Doenças Ocupacionais” (6 obras);
“Doenças Ocupacionais Corumbá” (nenhuma obra), “Pantanal e
Mineração” (1 obra); “mineradoras” (nenhuma obra), “Impactos
ambientais e Mineração” (6 obras), “Impactos ambientais e Pantanal”
(nenhuma obra);
c) Na plataforma Lilac´s: “mineração” (285 obras), “Corumbá” (40 obras),
“mineração Corumbá” (nenhuma obra), “Desenvolvimento Corumbá” (4
obras), “Desenvolvimento Corumbá mineração” (nenhuma obra),
25
“Acidente de Trabalho” (1.523 obras), “acidente de trabalho mineração” (9
obras), “acidente de trabalho Corumbá” (nenhuma obra); “CAT
mineração” (4 obras), “Doenças Ocupacionais” (2.533 obras); “Doenças
Ocupacionais Corumbá” (nenhuma obra), “Pantanal e Mineração” (4
obras); “mineradoras” (5 obras), “Impactos ambientais e Mineração” (15
obras), “Impactos ambientais e Pantanal” (1 obra);
d) Biblioteca UFMS (catálogo on line): “mineração” (4 obras), “Corumbá” (31
obras), “mineração Corumbá” (nenhuma obra), “Desenvolvimento
Corumbá” (4 obras), “Desenvolvimento Corumbá mineração” (nenhuma
obra), “Acidente de Trabalho” (1 obra), “acidente de trabalho mineração”
(nenhuma obra), “acidente de trabalho Corumbá” (nenhuma obra); “CAT
mineração” (nenhuma obra), “Doenças Ocupacionais” (1 obra); “Doenças
Ocupacionais Corumbá” (nenhuma obra), “Pantanal e Mineração”
(nenhuma obra); “mineradoras” (4 obras), “Impactos ambientais e
Mineração” (nenhuma obra), “ Impactos ambientais e Pantanal” (1 obra);
e) Biblioteca Uniderp (catálogo on line): “mineração” (39 obras), “Corumbá”
(104 obras), “mineração Corumbá” (nenhuma obra), “Desenvolvimento
Corumbá” (8 obras), “Desenvolvimento Corumbá mineração” (nenhuma
obra), “Acidente de Trabalho” (27 obra), “acidente de trabalho mineração”
(nenhuma obra), “acidente de trabalho Corumbá” (nenhuma obra); “CAT
mineração” (nenhuma obra), “Doenças Ocupacionais” (13 obras);
“Doenças Ocupacionais Corumbá” (nenhuma obra), “Pantanal e
Mineração” (nenhuma obra); “mineradoras” (39 obras), “Impactos
ambientais e Mineração” (nenhuma obra), “Impactos ambientais e
Pantanal” (2 obras).
Do ponto de vista da ética na pesquisa, e levando em consideração a
Resolução 196/96 (BRASIL, 1996), estabelecida pelo Conselho Nacional de
Saúde e o dever de confidencialidade imposto pela Resolução 466/2012,
(BRASIL, 2012) do Conselho Nacional de Saúde (CNS) os dados referentes aos
litigantes nos processos judiciais e administrativos não serão divulgados.
A presente pesquisa recebeu parecer favorável do Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Anhanguera–Uniderp em 29 de junho de 2018,
Processo-CAAE n. 92662518.0.0000.5161.
26
4.2. Localização da área de pesquisa e legislações aplicáveis
O Estado de Mato Grosso do Sul localiza-se no sul da Região centro-
oeste e limita-se com cinco estados brasileiros: Mato Grosso (norte), Goiás e
Minas Gerais (nordeste), São Paulo (leste) e Paraná (sudeste); e dois países sul-
americanos: Paraguai (sul e sudoeste) e Bolívia (oeste). A área objeto do
presente trabalho corresponde à Planície Pantaneira, que está inteiramente
contida na Bacia do Alto Paraguai (BAP), na região do maciço do Urucum.
A planície pantaneira, imensa área periodicamente alagada pela
inundação do rio Paraguai, é a maior área úmida tropical do planeta, reconhecida
nacional e internacionalmente pela exuberância de sua biodiversidade como
uma das áreas úmidas de maior importância do globo (ALHO et al., 2005). O
Pantanal foi declarado Patrimônio Nacional pela Constituição de 1988 (BRASIL,
2016a) sítio designado pela Convenção de Áreas Úmidas RAMSAR, em 1993 e
Reserva da Biosfera pela UNESCO, em 2000 (ANA, 2004). O bioma é
reconhecido por ser portador de extraordinária biodiversidade e rico criadouro de
espécies que dependem do regime natural dos pulsos de inundação do rio.
(MOTA, 2009).
O Pantanal é a maior planície inundável continental do mundo, com cerca
de 175.000 km2. Aproximadamente 10 milhões de pessoas dependem dos
serviços ecossistêmicos do Bioma. Na região do Pantanal, existem hoje 10 sítios
Ramsar (áreas úmidas de importância internacional) reconhecidos pela
Convenção. Três deles estão no Brasil: Parque Nacional do Pantanal Mato-
grossense; RPPN Sesc Pantanal e RPPN Fazenda do Rio Negro. O Pantanal
abriga rica biodiversidade: mais de 4 mil espécies de animais e plantas já foram
registradas. Assim como a fauna e flora da região são admiráveis, há de se
destacar a rica presença das comunidades tradicionais como, indígenas,
quilombolas, coletores de iscas ao longo do Rio Paraguai, Amolar e Paraguai
Mirim, dentre outras. No decorrer dos anos essas comunidades influenciaram
diretamente na formação cultural da população pantaneira.
Apesar de sua beleza natural exuberante o bioma vem sendo muito
impactado pela ação humana não sustentável. Apenas 4,6% do Pantanal
encontram-se protegidos por unidades de conservação, dos quais 2,9%
correspondem a UC’s de proteção integral e 1,7% a UC’s de uso sustentável
(WWF-BRASIL, 2018).
27
A bacia do rio Paraguai abrange uma área de 1.095.000 Km2 com 34% no
Brasil e o restante no Paraguai, Bolívia e Argentina. O rio percorre 2.550 km
desde a nascente no Estado de Mato Grosso, até a foz, na Argentina. Já a área
de drenagem referida como bacia do Alto Paraguai – BAP corresponde à região
hidrográfica da montante do rio Paraguai, que vai desde sua nascente, até a foz
do rio Apa, na fronteira entre Brasil e Paraguai, até aonde o rio percorre uma
extensão de 1.683 km. A partir da confluência com o rio Apa, o rio Paraguai
atravessa a fronteira, desenvolve-se no Paraguai e chega à Argentina, onde
deságua no rio da Prata. A BAP drena uma área de 496.000 km2 compartilhada
por Brasil, Paraguai e Bolívia. Em território brasileiro, a área é de 363.442 km2
(73,27%), alcançando os Estados de MT (48,2%) e MS (51,8%), onde 215.813
km² em área de planalto e 147.629 km² na planície, ou Pantanal, propriamente
dito. Aproximadamente 70% da planície pantaneira, em terras brasileiras, está
no MS e o restante em MT (Figura 1) (MOTA, 2009).
Figura 1. Planície Pantaneira e Bacia do Alto Paraguai. Fonte: WWF (2008).
O município de Corumbá está completamente inserido no ecossistema
pantaneiro, na fronteira do Brasil com a Bolívia e o Paraguai. Seu território
corresponde a 18% da área do Estado, com cerca de 65.000 km² (Figura 3). Por
outro lado, Ladário, município de apenas 342 km², está totalmente inserido nos
28
limites corumbaenses e as sedes de ambos constituem uma conurbação1. Em
meio à planície pantaneira, próximo às áreas urbanas de Corumbá e Ladário,
destaca-se a formação montanhosa, não inundável, denominada Borda Oeste
do Pantanal, correspondente ao Maciço do Urucum e áreas de morro adjacentes,
que abrigam os depósitos minerais de ferro e manganês.
Figura 2. Localização de Corumbá-MS. Fonte: IBGE (2000) apud Souchaud e
Baeninger (2008, p. 272).
O Maciço do Urucum agrupa um conjunto de morrarias, dentre as quais
se destacam a do Rabichão, Tromba dos Macacos, Santa Cruz e Jacadigo,
assim como a do Urucum, que, elevando-se a uma altitude de 1.050 m, constitui
o ponto mais alto da área. Com superfície de 131.105,5 ha, o Maciço do Urucum
é delimitado ao norte pelo Rio Paraguai e pela Lagoa Negra e do Arroz, a oeste
pela fronteira com a Bolívia e ao sul e a leste pelas áreas de inundação do
1 Conurbação é a unificação da mancha urbana de duas ou mais cidades, em consequência de seu crescimento geográfico.
29
Pantanal, Lagoa do Jacadigo, rio Verde, Baía de Albuquerque e Morraria do
Rabichão (LIMA, 2008).
Essa sequência de formações minerais estende-se em território boliviano,
no Morro do Mutum. Devido às formações cársticas2 do Grupo Corumbá,
destaca-se, também, as reservas de calcário na região (LIMA, 2008).
Figura 3. Localização da Borda Oeste da Morraria - Maciço Urucum e
Adjacências. Fonte: Lima (2008), com base em Silva (2000).
No cenário da borda oeste do Pantanal a grande demanda do mercado
internacional por produtos derivados de minérios, principalmente o aço, cuja
principal matéria-prima é o ferro, trouxe recentemente preocupações com a
conservação do Pantanal. Nos últimos anos, foram pedidos mais de cinco mil
2 Cárstico, é um tipo de relevo geológico caracterizado pela dissolução química (corrosão) das rochas, o que leva ao aparecimento de uma série de formações físicas, tais como cavernas, rios subterrâneos, paredões rochosos, dolinas (VIDE), etc.
30
requerimentos para pesquisa de minério de ferro, 600 para manganês e 600 para
calcário na região, representando uma extensa área para lavra. Nesse cenário,
as reservas localizadas no Morro do Urucum têm uma posição de destaque.
(ZERLOTTI, 2010).
A Lei Federal nº 9.985/00 (BRASIL, 2000) regulamentada pelo Decreto nº
4.340/02 (BRASIL, 2002), institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza – SNUC e estabelece critérios e normas para a
criação, implantação e gestão das unidades de conservação. Há que
acrescentar as portarias do IPHAN, nº 7 (IPHAN, 1988) e 230 (IPHAN, 2002)
reservadas à proteção arqueológica.
O licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto
ambiental tem como um dos requisitos a ser atendido pelo empreendedor o apoio
à implantação e manutenção de Unidades de Conservação do grupo de Proteção
Integral (BRASIL, 2000, art. 36).
O licenciamento ambiental foi instituído pela Lei nº 6.938/81 (BRASIL,
1981) como um dos instrumentos necessários à proteção e melhoria do meio
ambiente estabelecendo medidas necessárias para prevenção, reparação e
mitigação de impactos ambientais. A Resolução CONAMA nº 237/97 (MMA,
1997) define licenciamento ambiental como procedimento administrativo pelo
qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação
e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos
ambientais.
De acordo com a Portaria Interministerial nº 419/11 (BRASIL, 2011), cabe
à Fundação Nacional do Índio - FUNAI, à Fundação Cultural Palmares - FCP, ao
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN e ao Ministério da
Saúde, a elaboração de parecer e manifestação conclusiva sobre o Estudo de
Impacto Ambiental – EIA e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA
em processos de licenciamento ambiental de competência federal.
Em termos estaduais, a Lei nº 3.709/09 (MATO GROSSO DO SUL, 2009)
fixa a obrigatoriedade de compensação ambiental para empreendimentos e
atividades geradoras de impacto ambiental negativo não mitigável, e dá outras
providências. Já a Lei nº 2.257/01 (MATO GROSSO DO SUL, 2001), dispõe
sobre as diretrizes do licenciamento ambiental estadual, estabelece os prazos
para a emissão de licenças e autorizações ambientais, e dá outras providências.
31
Por sua vez, o Decreto nº 12.528/08 (MATO GROSSO DO SUL, 2008) institui o
Sistema de Reserva Legal (SISREL) no Estado do Mato Grosso do Sul, e dá
outras providências.
A Resolução SEMA-MS nº 004/89 (MATO GROSSO DO SUL, 1989),
disciplina a realização de Audiências Públicas no processo de Licenciamento de
Atividades Poluidoras e a Resolução Conjunta SEMA/IMAP nº 004/04 (MATO
GROSSO DO SUL, 2004) dispõe sobre o Manual dos Procedimentos de
Licenciamento Ambiental no âmbito do Instituto de Meio Ambiente Pantanal.
Em julho de 2001, foi aprovada a Lei Municipal nº 1.665/01 (CORUMBÁ,
2001a) que instituiu o Sistema Municipal de Licenciamento e Controle
Ambiental/SILAM, contendo a relação das atividades passíveis de licenciamento
municipal. Posteriormente, foi publicado o Decreto Municipal nº 150/01
(CORUMBÁ, 2001b) que regulamentou os dispositivos da Lei SILAM.
Em fevereiro de 2008, foi aprovada a Lei Municipal nº 2.028/08
(CORUMBÁ, 2008) que institui o procedimento administrativo de fiscalização
ambiental e de aplicação das penalidades às condutas e atividades lesivas ao
meio ambiente no município de Corumbá, e dá outras providências.
Atualmente, a Secretaria Executiva de Meio Ambiente – SEMAC, que
substituiu a SEMATUR, é a responsável pela coordenação e aplicação das
normas do SILAM, que emite quatro modalidades de licenças: Licença Prévia/LP
(fase preliminar, aprovando o local da atividade); Licença de Instalação/LI (fase
de aprovação do Plano de Controle Ambiental - PCA); Licença de Operação/LO
(fase de autorização do funcionamento da atividade) e Licença Ambiental
Simplificada (LAS) (para atividades dispensadas do PCA). Cabe salientar que,
outro fator norteador das atividades realizadas no município de Corumbá é o
Plano Diretor (IBAMA, 2016).
4.3. Das mineradoras e barragens
Atualmente, encontram-se operando na região de Corumbá as seguintes
empresas do setor de mineração:
1) Companhia Vale do Rio Doce (VALE) - com controle da Urucum
Mineração (UMSA), produziu nos primeiros nove meses de 2017 um total
de 1.77 milhão t ano-1 de minério de ferro, com licença para até 2.350.000
32
t ano-1 (LO), resultado 13,9% maior que o mesmo período de 2016, além
da produção de minério de manganês que chegou a 495 mil t ano-1,
podendo atingir 750.000 t ano-1 (LO).
Na cidade de Corumbá, a empresa explora jazidas de minério de ferro a
céu aberto, na Mina de Corumbá, e também uma jazida subterrânea de
manganês, na Mina de Urucum. A mina de Urucum se destaca pelo alto teor de
manganês extraído de seu minério. Este produto traz grande valor para os
negócios da Vale, pois o manganês é o quarto metal mais utilizado no mundo
(VALE, 2018).
As atividades da Empresa podem ser divididas em três operações
principais, a saber: lavra e beneficiamento de minério de ferro; lavra e
beneficiamento de minério de manganês; e produção de ferro-ligas de
manganês.
Na jazida subterrânea de manganês o método de lavra é o de câmaras e
pilares, com desmonte por explosivos. A operação é levada a efeito conforme a
sequência: cavilhamento (ancoragem do teto) - perfuração-carregamento
(explosivo) - desmonte (detonação) – limpeza minério-saneamento/scaler
(recomposição parede) - limpeza estéril.
Os equipamentos empregados são escavadeiras (LHD), scalers (máquina
que faz o acabamento da parede da mina), plataformas móveis, jumbos,
carregadores, parafusadores e caminhões. O minério, uma vez lavrado é
transportado por caminhões próprios de 22,5 t-1 de carga até a instalação de
beneficiamento, localizada na superfície. O minério proveniente da mina (ROM)
sofre apenas um beneficiamento simples, britagem, lavagem, peneiramento e
classificação.
2) Mineração Corumbaense Reunida (MCR/VALE S. A.) - empresa da
multinacional Rio Tinto do Brasil (RTB), subsidiária integral da Vale do Rio
Doce, com produção de 3 milhões de t ano-1, mas com anuência do
IBAMA para explorar até 6 milhões t ano-1. Sua produção é, atualmente,
destinada exclusivamente para o mercado externo. Prevê-se um aumento
da extração desse minério para 22,4 milhões de t ano-1 (EIA) e a produção
de 4,0 MM t ano-1 de laminados (ZERLOTTI, 2010). A operação consiste
33
do decapeamento da área a ser minerada com tratores de esteira,
desmonte mecânico da rocha com retroescavadeiras hidráulicas, que
também faz o carregamento do minério nos caminhões basculantes,
transportando até a planta de beneficiamento. O processo de
beneficiamento consiste, basicamente, de operações de britagem,
classificação por tamanho do minério, lavagem para retirada de lamas e
sílica e empilhamento do produto final. O processo tem por objetivo
produzir:
Minério granulado (lump ore), com tamanho médio, compreendido
entre 45,0 mm e 6,0 mm;
Minério fino (sinter feed) com granulometria abaixo de 6,0 mm e
maior que 0,125 mm.
O material de granulometria inferior a 0,125 mm é um dos rejeitos do
processo e vai para a barragem de rejeitos depois de passar por uma etapa de
separação água-sólido. Atualmente, o escoamento dos produtos até o pátio da
Estação Maria Coelho emprega caminhões, de onde é feito o transbordo para
vagões ferroviários, que o transferem para o porto (LIMA, 2008).
Figura 4. Mina de Urucum – Corumbá-MS. Fonte: Vale (2009) apud Brito (2011).
3) Corumbá Mineração Ltda. (COMIN) - empresa de mineração de ferro gusa
ligada ao Grupo Siderúrgico Vetorial, com a produção de 670.000 t ano-1,
posicionando a empresa entre as três maiores do Brasil. A unidade de
Ribas do Rio Pardo possui dois altos fornos com capacidade total de
34
produção de 300 mil toneladas por ano. Em Corumbá, a unidade possui
capacidade de produção de 370 mil toneladas de ferro gusa por ano e
também possui unidade termoelétrica (VETORIAL, 2018). O minério, uma
vez lavrado, é transportado por caminhões basculantes de 28 t-1 de carga
até a instalação de beneficiamento, que está localizada a,
aproximadamente, 1.500 metros da frente de lavra. O minério proveniente
da mina (ROM) sofre apenas um beneficiamento simples (LIMA, 2008).
Todas as unidades são dotadas de boa infraestrutura, inclusive com
terminais rodoviários próprios e sistema de injeção de carvão pulverizado (ICP).
Atualmente a empresa é responsável pela geração de mais de 650 empregos
diretos (VETORIAL, 2018).
4) Mineração Pirâmide Participações Ltda. (MPP) - lavra experimental, de
produção anunciada de 180.000 tonelada ano-1, podendo chegar a
1.440.000 t ano-1. É fornecedora da SIDERUNA, em Campo Grande,
empresa do Grupo Vetorial (LINS, 2015). A produção destinada à
siderúrgica é transferida da mina para o pátio da estação Maria Coelho,
de onde é carregado em vagões. O percurso entre a mina e o pátio é de
21 km (VETORIAL, 2018);
5) Granhas Liga Ltda: Reativada em Corumbá em 2016 é a terceira maior
produtora de ferroliga do Brasil, situada em Minas Gerais e Mato Grosso
do Sul, possuindo suas unidades em Conselheiro Lafaiete, São João Del
Rei e Corumbá. Seus principais produtos são o Ferro Sílico Manganês
(FeSiMn 12/16%Si) e Ferro Manganês Alto Carbono (FeMnAC), sendo
fabricados a partir de minérios de manganês, fundentes e redutores. Os
minérios são quase que em sua totalidade de minas pertencentes ao
grupo, localizadas em Minas Gerais e na Bahia (GRANHA LIGAS, 2018).
A Figura 5 revela a localização atual ou planejada dos empreendimentos
minero siderúrgicos que compõem o polo de Corumbá, além da Termo -Pantanal
e as manchas urbanas de Corumbá e Ladário.
35
Figura 5. Principais empreendimentos do polo minero-siderúrgico de Corumbá.
Fonte: MCR (2007).
A produção mineral brasileira exige licença prévia mineral do DNPM e, por
ser de grande impacto, licença ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Em 2010 foram identificadas 3.354 minas (metálicas e não metálicas) das quais
apenas 5% do total (159 minas) são de grande porte, com mais de 1 milhão de t
ano-1 de Run of Mine-ROM (produção bruta de minério); 24% (837 minas) são
de médio porte, na escala entre 1 milhão de t ano-1 e 100.000 t ano-1 ROM, e a
grande maioria (2.358 minas correspondente a 71% do total), é de pequeno porte
com teor menor de 100.000 t ano-1 ROM (PINHEIRO, 2011)3.
3 João César de Freitas Pinheiro, diretor da DIPLAM-DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral.
36
Figura 6. Número de minas por porte e classe do mineral no Brasil - metálicas e
não metálicas. Fonte: AMB (2010) apud Pinheiro (2011).
Especificamente com relação a substâncias metálicas, o Brasil possui 189
lavras em atividade, sendo 66 de minério de ferro e somente 8 de manganês. O
porte e modalidade de lavras das minas de ferro e manganês estão
demonstrados na Tabela 1, abaixo:
Tabela 1. Porte e modalidade de lavra das minas no Brasil- 20154
Substância Grande Médio Pequeno Total BR
Ferro 41 24 53 66
Manganês 1 2 5 8
Fonte: Adaptado de Brasil (2016).
No tocante as barragens destinadas à disposição de rejeitos resultantes
da atividade, a Lei 12.334, de 20 de setembro de 2010 (BRASIL, 2010),
estabeleceu a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) e criou o
Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens - SNISB,
estabelecendo um Plano de Segurança da Barragem (PSB) a ser implantado nas
barragens que apresentem uma das seguintes características:
4 NOTA: Grande: produção bruta (ROM) anual maior que 1.000.000 t-1; Média: maior que 100.000 t-1 até 1.000.000 t-1; Pequena: maior que 10.000 t-1 até 100.000 t-1.
37
I. Altura do maciço, contada do ponto mais baixo da fundação à crista, maior
ou igual a 15m (quinze metros);
II. Capacidade total do reservatório maior ou igual a 3.000.000m³ (três
milhões de metros cúbicos);
III. Reservatório que contenha resíduos perigosos conforme normas técnicas
aplicáveis (MME, 2017, p. 3);
IV. Categoria de dano potencial associado, médio ou alto, conforme definido
no inciso XIV do artigo 2º e no Anexo V.
Cabe ao DNPM classificar as barragens de mineração quanto a Categoria
de Risco e ao Dano Potencial Associado, em consonância com o art. 7º da Lei
nº 12.334/10 (BRASIL, 2010) e em acatamento a Portaria n. 70.389/17 (MME,
2017), com o objetivo de diferenciar o universo das barragens, quanto à
abrangência e frequência das ações de segurança a ANA elaborou uma Matriz
de Risco e Dano Potencial Associado (DPA) de maneira que as barragens sejam
agrupadas em cinco classes (A, B, C, D e E). Dessa forma, as que apresentam
uma classe maior, na escala de categoria de risco e dano potencial associado,
devem elaborar um Plano mais abrangente, bem como realizar a Revisão
Periódica de Segurança de Barragem com maior frequência (Figura 7).
Figura 7. Classificação de categoria de risco e dano potencial associado às
barragens. Fonte: MME (2017).
Segundo a ANA (2018), a Categoria de Risco de uma barragem diz respeito
aos aspectos da própria barragem que possam influenciar na probabilidade de um
acidente: aspectos de projeto, integridade da estrutura, estado de conservação,
operação e manutenção, atendimento ao Plano de Segurança, entre outros
aspectos.
38
Já o Dano Potencial Associado é o dano que pode ocorrer devido a
rompimento, vazamento, infiltração no solo ou mau funcionamento de uma
barragem, independentemente da sua probabilidade de ocorrência, podendo ser
graduado de acordo com as perdas de vidas humanas e impactos sociais,
econômicos e ambientais.
Em Corumbá existem atualmente 20 barragens de Mineração (19 em
atividade e uma não operando), sendo a barragem do Gregório a maior do Estado,
utilizada para armazenar os rejeitos da extração de ferro da mina de Santa Cruz,
operada pela Vale. Pertencem a empresa Urucum Mineração S/A. 14 dessas
barragens (MME, 2017).
Das 20 barragens, 17 são consideradas de pequeno porte e apenas três de
médio porte, entre elas a do Gregório (Figura 8). Em razão de estarem localizadas
no Pantanal, as barragens do Estado receberam a classificação de Dano Potencial
Associado (DPA), que indica impactos sociais, ambientais e econômicos que um
eventual vazamento ou rompimento poderiam provocar, entre médio e alto.
Com relação a Categoria de Risco, indicador utilizado para avaliar a
segurança das estruturas que aponta o risco de um vazamento, rompimento ou outra
situação deste tipo ocorrer e que leva em conta características técnicas, como altura
da barragem, comprimento, tipo de estrutura, tipo de fundação e idade da barragem,
entre outras, além de estado de conservação e a existência de plano de segurança,
para a maior parte das barragens foi considerado baixo.
As exceções são duas barragens da empresa Urucum Mineração S/A.,
companhia controlada pela Vale, chamadas de Bacia Pé da Serra 2 e Bacia Pé da
Serra 3-4, que foram enquadradas no Cadastro Nacional de Barragens, no patamar
máximo, alto, de Categoria de Risco e de Dano Potencial Associado.
Esse tipo de CRI (Categoria de Risco), de alto risco e alto potencial
danoso, só é verificado em quatro cidades do país: Ipixuna do Pará e Barcarena,
no Pará, Presidente Figueiredo, no Amazonas, e Corumbá em Mato Grosso do
Sul. Ou seja, se as barragens se romperem poderão causar sérios danos ao
Pantanal sul-mato-grossense, assim como ocorreu em Minas Gerais e no
Espírito Santo. De acordo com o CETEM (Centro de Tecnologia Mineral), do
Ministério da Tecnologia, a mineração, principalmente, de manganês, costuma
produzir como rejeito o arsênio, substância altamente tóxica.
39
Entretanto, a principal mineradora da região - Vale sustenta em sua defesa
que o reaproveitamento de água chega a 72% o que reduz o deslocamento de
resíduos em caso de um eventual vazamento ou rompimento, já que existe menor
quantidade de líquido.
Figura 8. Barragem do Gregório5, maior barragem de mineração de Mato Grosso
do Sul. Fonte: DNPM (2015) apud Viegas (2015).
Com relação barragem Gregório, a Vale informou para a Prefeitura de
Corumbá que se ocorresse um incidente o material, por conta de suas características
e pela geografia do local, atingiria no máximo 1,8 quilômetros de extensão, enquanto
que o curso de água mais próximo, o córrego Piraputangas, teria nascentes
localizadas a quase quatro quilômetros de distância da barragem. (VIEGAS, 2015).
A Norma Regulamentadora 22 (NR 22), que trata de Segurança e Saúde
Ocupacional na Mineração, sofreu várias mudanças a partir de 2000, sendo
atualizada e composta de vários capítulos, distribuídos em temas relacionados
às diversas atividades da mineração, abrangendo não apenas as minas a céu
aberto e subterrâneas, mas também os garimpos (sabidamente negligentes
quanto às ações de segurança e saúde no trabalho) e as atividades correlatas
como beneficiamento e pesquisa mineral (MTE, 2016).
5 Foto: Clóvis Neto/Prefeitura de Corumbá
40
Ainda, de acordo com MTE (2016), o subitem 22.26 da NR 22 estabelece
que os depósitos de estéril, rejeitos, produtos, barragens e áreas de
armazenamento, assim como as bacias de decantação, devem ser construídos
em observância aos estudos hidro geológicos e, ainda, atender às normas
ambientais e às normas reguladoras de mineração. E conforme o subitem
22.26.2, os depósitos de estéril, rejeitos ou de produtos e as barragens devem
ser mantidos sob a supervisão de profissional habilitado e dispor de
monitoramento da percolação de água, da movimentação e estabilidade e do
comprometimento do lençol freático.
Prevê ainda, em face do disposto no subitem 22.26.2.1 da NR 22 (MTE,
2016), que nas situações de risco grave e iminente de ruptura de barragens e
taludes, as áreas de risco devem ser evacuadas e isoladas; a evolução do
processo deve ser monitorada; e todo o pessoal potencialmente afetado deve
ser informado.
A indústria extrativista mineral é a principal fonte de riquezas para a cidade
de Corumbá, superando a arrecadação de impostos gerada pelos setores da
pecuária e agricultura. Contudo, o entendimento da atividade industrial de
Corumbá passa pela compreensão de inserção de seus produtos no mercado
internacional. As oscilações econômicas sofridas na conjuntura internacional e
nacional tornam suscetível a produção, o valor e importância da atividade em
nível de geração de impostos, renda e emprego (SOUZA et al., 2017).
A quase totalidade da produção de Fe é comercializada com a Argentina
e China. Quanto aos minérios de Mn, a maior parte é exportada para os países
supracitados, como também para a Europa. O restante é consumido no país, nas
regiões Sudeste e Sul.
A lavra do minério de Fe em toda região mineira de Corumbá é feita a céu
aberto e a lavra de Mn é subterrânea, através de galerias escavadas, segundo
o método de salões e pilares. As mineradoras possuem instalações eficientes
para o beneficiamento primário do Fe e do Mn, compreendendo lavagem,
britagem e estocagem para posterior transporte por caminhões aos pontos de
embarque, nas estações de estrada de ferro (Urucum e Maria Coelho), ou nos
portos de Corumbá e Esperança (privativo da Mineração Corumbaense S/A)
(ZANINI et al., 2002).
41
O processo produtivo do setor mineral em Corumbá segue todos os
estágios da indústria extrativa mineral até o beneficiamento, fase em que os
minérios são lavados para a separação de impurezas e lama e depois
classificados. A partir daí emergem duas possibilidades: a primeira é a
comercialização dos minérios in natura para compradores de fora do município
e a segunda é a interface com a indústria de transformação, quando os minérios
são aplicados como insumos associados a outros produtos para a produção de
ferro-gusa e ferro-ligas nas siderurgias, com a finalidade de serem
comercializados (MICHELS e YANAGUITA, 2004; SILVA, 2016) (Figura 9).
Figura 9. Mosaico de imagens das Mineradoras em Corumbá. Fonte: Adaptado
de Silva (2016).
De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços, em 2017, Mato Grosso do Sul exportou 3,742 milhões de toneladas de
minério de ferro, garantindo divisas de US$ 124,031 milhões. Alta ainda mais
expressiva foi registrada nas exportações de manganês. Embora com
participação inferior na balança comercial (1,89%), o minério gerou um
faturamento de US$ 90,615 milhões, 74,11% a mais em comparação a 2016.
No caso do manganês, Mato Grosso do Sul triplicou a lavra e atualmente
responde por 22% de toda produção brasileira. As maiores reservas estão em
42
Minas Gerais (87%), MS (6,5%) e Pará (4,3%). A principal aplicação do
manganês é na fabricação de ligas metálicas (ferro-liga) (MDIC, 2018).
Conforme se verifica na Figura 10, depois de um período de baixo
desempenho, em razão da queda da demanda mundial, em 2017 o minério de
ferro começou a recuperar os níveis de produção e exportação de Mato Grosso
do Sul, revertendo a queda de 2016 com considerável aumento e boas
expectativas para 2018. Em janeiro deste ano (2018) rendeu US$ 12 milhões,
com crescimento de 81% nas exportações em relação ao mesmo período do ano
passado.
Figura 10. Volume e Receita das exportações do Minério de Ferro de 2012 a
2017. Fonte: MDIC (2018).
No Brasil, em 2015, as substâncias da classe dos metálicos responderam
por aproximadamente 76% do valor total da produção mineral comercializada.
Dentre essas substâncias, oito destacam-se por corresponderem a 98,5% do
valor da produção comercializada da classe, quais sejam: alumínio, cobre,
estanho, ferro, manganês, nióbio, níquel e ouro. O valor da produção
comercializada dessas oito substâncias totalizou 67,5 bilhões de reais, com
destaque para a expressiva participação do ferro nesse montante (BRASIL,
2016b).
43
A estratégia neoextrativista6 adotada em alguns países da América e no
Brasil a partir dos anos 2000 se destaca pela exploração de grandes volumes de
recursos minerais, com a exportação de commodities, constituindo a “economia
do enclave”, monoindustrial7.
O neoextrativismo se caracteriza como uma faceta do modelo de
desenvolvimento cujo enfoque é o crescimento econômico baseado na
apropriação de recursos naturais, com cadeias produtivas curtas (extração,
transporte e eventual processamento) e pouco diversificadas. Nesse percurso,
sem o potencial agregador das indústrias de transformação, os níveis de
emprego direto tendem a reduzir. Ou seja, a economia mineral torna-se refém
das oscilações do mercado internacional de commodities mineral. Essa dinâmica
tem se mostrado concentradora de desigualdades e não geradora de alternativas
no território minerado (PEREIRA, 2016, p. 40).
4.4. Dos impactos ao meio ambiente
4.4.1. Impactos ao meio ambiente natural
A mineração é parte da história do Brasil e sempre simbolizou saque de
riquezas naturais, exploração de mão-de-obra e impactos ambientais.
Recentemente o discurso do desenvolvimento sustentável invadiu o campo dos
conflitos históricos da mineração no Brasil, insinuando-se como o novo conceito
regulador capaz de promover uma repartição mais justa dos benefícios da
mineração junto às comunidades mineiras (CHAGAS, 2013).
Complexos minero-siderúrgicos são extremamente delicados do ponto de
vista ambiental. A mineração do ferro ocasiona diversos impactos tais como
mudanças na paisagem, alteração do uso do solo e da drenagem natural,
aumento de particulados no ar, perda de biodiversidade e, em certos casos,
perdas arqueológicas. Dentre os impactos ambientais destacam-se emissões
6 O neoextrativismo é definido como um modelo de desenvolvimento focado no crescimento econômico e baseado na apropriação de recursos naturais, em redes produtivas pouco diversificadas e na inserção subordinada na nova divisão internacional do trabalho. 7 Casos exemplares de economia de enclave no Brasil são, entre outros, o de Itabira-MG, onde há mais de 70 anos a Vale extrai minério de ferro e c om registro de desenvolvimento socioeconômico pífio, com alto índice de suicídio de jovens nos anos 1990, coincidente com a notícia de fechamento da mina em alguns anos (ENRÍQUEZ, ALAMINO, 2011); o de Serra do Navio-PA, de extração de manganês, que o exaurimento da mina e a retirada da empresa, levou ao esvaziamento da cidade, deixando sério passivo socioambiental (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2016).
44
atmosféricas, descargas de efluentes contaminados e, sobretudo, a pressão
sobre recursos energéticos.
Zerlotti (2010) alerta que para cada tonelada de ferro produzido, são
consumidos mais de 600 quilos de carvão vegetal, ou, aproximadamente, uma
tonelada de árvores. Segundo o IBAMA, existem mais de 1.200 carvoarias
cadastradas e cerca de duas mil funcionam ilegalmente em Mato Grosso do Sul.
(ZERLOTTI, 2010).
A taxa de desmatamento na região do Pantanal de Mato Grosso do Sul
aumentou significativamente, passando de 0,46% nos anos 1990 para 2,3% em
2002 e aumentando para 3,1% de 2002 a 2008, de sua área de 89.826 km²
(IBGE, 2004) (Figura 11).
O Pantanal foi a segunda região mais atingida pelo desmatamento
quando comparado a outros três biomas. Proporcionalmente, o Cerrado teve
índice de desmate de 4,17%, seguido de Pantanal, Amazônia (2,54%) e
Caatinga (2,01%), segundo Dados do Sistema de Detecção de Desmatamento
em Tempo Real (Deter/Inpe) apresentados pelo Ministério do Meio Ambiente no
primeiro levantamento recente do bioma (MARFINATI, 2010).
Figura 11. Mineradora e barragem – Corumbá-MS. Fonte: Ecoa (2015).
As atividades mineradoras causam assoreamento e modificam a trajetória
dos corpos d’água, contaminando as bacias com dejetos de diferentes origens e
intensificando processos erosivos (ALMEIDA et al., 2000) e a inundação do
45
Pantanal depende das águas que são trazidas das cabeceiras dos rios do
planalto, são essas águas que garantem a inundação periódica do pantanal,
devido a característica morfológica da planície. O escoamento, ao deixar o
planalto, tem uma largura estreita, portanto, o rio tem uma baixa capacidade de
transporte de agua; com isso, o fluxo extravasa o leito inundando a planície e
preenchendo as depressões na qual formam as baias e lagoas (ALHO, 2005).
A quantidade de água de córregos da região, como o Piraputangas,
diminuiu nos últimos anos. O IBAMA investiga impactos no córrego Urucum, que
corre risco de secar e perdeu grande quantidade de água, afetando a vida de
moradores locais (ANA, 2018).
A região das cabeceiras, no planalto, onde nascem as águas que
abastecem o Pantanal, está em alto risco. Mais de 55% já foi desmatada e
enfrenta ainda outras graves ameaças como falta de saneamento básico, baixa
adoção de boas práticas agropecuárias e construção de hidrovias (WWF-
BRASIL, 2018) (Figura 12).
Figura 12. Maciço de Urucum – Corumbá-MS. Fonte: Ecoa (2015).
Em março de 2018, em uma decisão inédita e histórica, os ministros de
Meio Ambiente do Brasil e da Bolívia, e o ministro de Comércio Exterior do
Paraguai, assinaram durante o 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, uma
declaração trinacional de compromisso com a conservação e com o
desenvolvimento social, econômico e sustentável do Pantanal, pelo qual os três
países devem trabalhar de forma integrada na implementação de ações
coordenadas e conjuntas com foco na segurança hídrica, incluindo a redução e
o controle da poluição, fortalecimento da governança da água com vistas a
conservação dos ecossistemas e sua conectividade, adoção de medidas que
46
fortaleçam sistemas produtivos resilientes para mitigar os efeitos das mudanças
climáticas e a ampliação do conhecimento científico para o Pantanal. O
documento também faz referência ao respeito dos direitos humanos, em especial
aos direitos dos povos indígenas e populações tradicionais (WWF-BRASIL,
2018).
A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2016a), em seu artigo 2258, §
2o impôs ao explorador de recursos minerais a obrigação de recuperar o meio
ambiente degradado, por meio do Plano de Recuperação de Área Degradada –
PRAD, como parte do Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, podendo ser
empregado de forma preventiva ou corretiva, em áreas degradadas por ações
de mineradoras.
Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas - PRAD tem como objetivo
principal criar um roteiro sistemático, contendo as informações e especificações
técnicas organizadas em etapas lógicas, para orientar a tecnologia de
recuperação ambiental de áreas degradadas ou perturbadas para alcançar os
resultados esperados.
O Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas - PRAD deverá ser
apresentado em conjunto com o EIA-RIMA, dada às características de
degradação e impactos oriundos das atividades minerárias. Esse projeto deverá
ser implementado ao fim da exploração, visando o retorno a uma forma de
utilização do solo e estabilidade do meio ambiente como prevê o Art. 2º, inciso
VII da Lei nº 6.938/81 (BRASIL, 1981), regulamentado pelo Decreto nº 97.632/89
(BRASIL, 1989).
A importância do cumprimento da legislação pertinente às atividades
efetiva ou potencialmente poluidoras ou que causam degradação ambiental é
estabelecida pela Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais) (BRASIL, 1998)
que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Em seu Art. 55
diz que executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a
8 Art. 225, § 2º CF - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
47
competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo
com a obtida acarretará em detenção, de seis meses a um ano bem como multa9.
Para Almeida (2016), o maior problema das áreas após a mineração é a
presença de taludes com grandes declives, o que inviabiliza o estabelecimento
de muitas espécies; e, na maioria dos casos, esta inclinação não permite a
introdução de um componente arbóreo (Figura 13).
“As empresas estão utilizando, em sua maioria, apenas o
plantio de gramíneas e outras espécies herbáceas e
espécies exóticas (Pinus e Eucaliptus), poucas estão se
preocupando em recompor a vegetação original da área,
antes da mineração. Uma técnica empregada com muito
sucesso, neste caso, é o plantio misto de mudas
leguminosas herbáceas e arbóreas, fixadoras de nitrogênio
atmosférico, de preferência mudas micorrizadas e
inoculadas. Na etapa de seleção de espécies, devemos nos
preocupar em escolher espécies que nodulem e possam
crescer em condições de solos presentes nestas áreas”
(ALMEIDA, 2016, p. 154).
Chagas (2013) chama a atenção para o equívoco de PRAD´s que são
elaborados seguindo “receita de bolo” e que visam apenas pintar a paisagem de
verde sem uma preocupação utilitária ou socialmente benéfica dessas áreas.
De suma importância para a sustentabilidade ambiental é o Plano de
Fechamento de Mina, pois o conceito de fechamento de mina vai muito além do
conceito de recuperação das áreas degradadas pela mineração e da
implantação de outras medidas de proteção ambiental.
Para Flores e Lima (2012) o fechamento de mina deve ser compreendido
como um processo que se inicia na fase de estudos de viabilidade do projeto,
desenvolve-se durante toda a sua vida útil e só termina por ocasião da devolução
9 Lei 9.605/98 - Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão competente.
48
do sítio à comunidade, com os processos de reutilização do solo, reorganização
política, econômica e social da região onde a mineração operou.
Segundo Flores e Lima (2012), no Brasil as empresas e a sociedade se
ressentem da ausência de um arcabouço constituído por normas técnicas e
legais que regulamentem o fechamento das minas e a reintegração das áreas
trabalhadas às atividades da comunidade estabelecendo direitos, deveres e
obrigações das partes envolvidas nos processos de autorização, fiscalização,
fomento e extração dos recursos minerais, bem como dos órgãos encarregados
da proteção ambiental.
Figura 13. Mineração Corumbaense Reunida (MCR), responde por 10,29% de
tudo que deixa o Estado com destino ao exterior. Fonte: Nascimento (2011).
4.4.2. Impactos sociais
No âmbito social, observa-se uma tendência de aumento no afluxo
populacional para as sedes municipais mais próximas aos empreendimentos
minerários, podendo provocar o aumento da periferia urbana e acirramento de
inequidade econômica, desorganização no modo de vida da população local,
possibilidade de aumento de casos de violência, ocorrência de pressão sobre o
mercado imobiliário, entre outros (RIBEIRO, 2016).
A atividade pode gerar acidentes de trabalho, redução da capacidade de
diversificação econômica das comunidades vizinhas às instalações industriais,
bem como aumento de demanda sobre os serviços públicos. Além de energia
49
elétrica, o processo siderúrgico brasileiro depende, em grande medida, de
carvão vegetal para a realização de termo- redução nos altos-fornos, cuja
demanda pode levar ao desmatamento ilegal de matas nativas (MOTA, 2009).
Para Zerlotti (2010, p. 12):
“... São legítimas preocupações com a conservação do
Pantanal, mas também é preciso refletir sobre um novo
modelo de atuação econômica nesta região. A recente
ampliação da atividade trouxe conflitos, como o aumento da
demanda por carvão vegetal, principal combustível das
siderúrgicas, e problemas relacionados com a água ...”.
A discussão sobre o desenvolvimento sustentável das regiões mineiras
deve ser o primeiro passo para se proceder qualquer ajuste nas contas e rendas
da atividade mineral, pois há uma tendência de se reduzir esse conceito apenas
à luta pela preservação do meio ambiente, como acontece no Brasil, onde a
população, em muitas regiões não tem acesso ao mínimo existencial, tal como
educação, saúde e saneamento em condições dignas (CHAGAS, 2013).
O Amapá, estado que experimentou o primeiro e mais duradouro ciclo de
um empreendimento mineral de grande porte na Amazônia, encerrado após
quase cinquenta anos de exploração, tornou-se uma referência negativa sempre
citada na literatura como caso ilustrativo de perda irreversível de capital natural
e insustentabilidade (CAVALCANTI, 2001).
4.4.3. Saúde do Trabalhador
A Constituição Federal de 1.988, em seu art. 225, coloca o meio ambiente
do trabalho no mesmo patamar de importância e no mesmo contexto de proteção
e prevenção àquele reservado para o meio ambiente natural, além de dedicar
especial atenção a atividade mineradora, obrigando aquele que explorar
recursos minerais a recuperar o meio ambiente degradado, reconhecendo o
impacto ambiente dessa atividade ao meio ambiente, dentre os quais, o meio
ambiente do trabalho.
Sobre a previsão Constitucional, Costa e Rezende (2012, p. 772):
“... Essa advertência pode ser estendida à proteção a seus
trabalhadores, pois é recorrente que eles laboram em locais
50
inadequados, afetando indelevelmente a saúde,
principalmente quando a mineração é explorada em mina
subterrânea ...”.
Entretanto, além dos fatores externos (riscos físicos, químicos e
biológicos) contribuírem para o elevado número de infortúnios, percebe-se
também que o aumento de doenças laborativas e de acidentes de trabalho
decorre de significativas alterações nos padrões de organização do trabalho e
da produção.
Conforme enfatizado por Baumann (2005), diante da crescente
terceirização, jornadas exaustivas, polivalência e enfraquecimento dos
sindicatos profissionais, os operários são compelidos a enfrentar o paradoxo de
permanecer no mercado de trabalho em tempos de cultura do não emprego,
sujeitando-se a processos produtivos que esperam contar com mão-de-obra que
aceita quaisquer condições para atender o novo ritmo às rápidas mudanças
exigidas pelo capital.
No Brasil, o movimento de participação dos trabalhadores em busca de
mais segurança e saúde nos locais de trabalho surgiu durante o período de
redemocratização da política do país, na década de 1.980, trazendo um “novo
pensar” sobre o processo saúde-doença e o papel exercido pelo trabalho na sua
determinação e que culminaram por influenciar a Constituição Federal de 1.988,
que estabeleceu em seu artigo 6, a saúde como um direito social e fundamental
do trabalhador (MENDES e DIAS, 1991).
A saúde passa a ser compreendida como um fenômeno complexo que
transcende a mera eliminação de agentes patológicos, abrangendo também
fatores psicológicos e sociais (SILVA, 2016a, p. 34).
Segundo o artigo 19 da Lei nº 8.213 (BRASIL, 1991, Seção I, p, 1), de 24
de julho de 1991:
“... Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do
trabalho a serviço da empresa, ou de empregador
doméstico, ou pelo exercício do trabalho do segurado
especial, provocando lesão corporal ou perturbação
funcional, de caráter temporário ou permanente ...”.
51
Pode causar desde um simples afastamento, a perda ou a redução da
capacidade para o trabalho, até mesmo a morte do segurado.
Também são considerados como acidentes do trabalho:
a) O acidente ocorrido no trajeto entre a residência e o local de trabalho do
segurado;
b) A doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada
pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade; e,
c) A doença do trabalho, adquirida ou desencadeada em função de
condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione
diretamente.
Nestes dois últimos casos, a doença deve constar da relação de que trata
o Anexo II do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto no
3.048, de 6/5/1999 (BRASIL, 1999). Em caso excepcional, constatando-se que
a doença não incluída na relação constante do Anexo II resultou de condições
especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a
Previdência Social deve equipará-la a acidente do trabalho (AEAT, 2016).
Assim, a Lei Geral de Benefícios Previdenciários (BRASIL, 1991) além de
definir os acidentes de trabalho típicos, equiparou as doenças profissionais (art.
20) como acidente típico desencadeadas “em função de condições especiais em
que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente”, inclusive os
infortúnios ocorridos fora do local e horário de trabalho, desde que o empregado
esteja executando ordens ou a serviço do empregador (SILVA, 2016).
No mesmo diploma legal, o art. 21, I define que as concausas também se
equiparam a acidente de trabalho, sendo definidas como:
“O acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido
a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do
segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o
trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para
a sua recuperação” (BRASIL, 1991, RGPS)
No intuito de estabelecer o nexo de causalidade entre a doença/acidente
de trabalho e a atividade laboral foi instituído o Nexo Técnico Epidemiológico
52
Previdenciário (NTEP) pela Resolução 1.236 (MPS, 2004) do Conselho Nacional
de Previdência Social (CNPS), de 28/04/2004, associando o Código
Internacional de Doenças (CID) e a Classificação Nacional de Atividades
Econômicas (CNAE) de cada empresa para enquadrar os ramos de atividade
econômica por grau de risco, para fins de incidência de contribuição
previdenciária (AEPS, 2015).
Ao se adotar o CID e o segmento econômico (CNAE) como filtros para
identificar os benefícios previdenciários concedidos, tem-se, objetivamente,
como identificar o risco do trabalhador sofrer acidente ou apresentar uma
determinada doença, estabelecendo-se o nexo de causalidade. O cruzamento
de dados de CID com o CNAE permite associar diversas lesões, doenças,
transtornos de saúde e, inclusive morte com a atividade desenvolvida pelo
trabalhador, consistente do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário –
NTEP.
Para Verthein e Gomez (2011, p. 286) o cruzamento de dados entre CID
e CNAE é um indicador estatístico que “permite a visibilidade dos ramos de
atividade econômica que apresentam patologias acima da média da população
em geral, servindo, em plano paralelo, para o mapeamento de fatores de risco”,
independente da expedição de CAT pelo empregador.
A Norma Regulamentadora 22 (NR-22), que trata de segurança e saúde
ocupacional no setor da mineração estabelece claramente os deveres dos
empregadores e trabalhadores, e, pela primeira vez em uma norma de
segurança e saúde, fica claro o direito de recusa dos trabalhadores em exercer
atividades em condições de risco para sua segurança e saúde ou de terceiros,
cabendo aos empregadores garantir a interrupção das tarefas quando proposta
pelos trabalhadores. Tal direito inclusive está consagrado há muitos anos na
legislação de vários países e consta da Convenção 176 - Segurança e Saúde
nas Minas, da Organização Internacional do Trabalho (OIT)10, que foi ratificada
posteriormente pelo Brasil (SOUZA et al., 2017).
Segundo a OIT a precariedade das condições de trabalho no setor de
mineração, que emprega cerca de 1% da força de trabalho do mundo registra
8% dos acidentes fatais.
10 Convenção 176 OIT – disponível em: http://www.trtsp.jus.br/geral/tribunal2/LEGIS/CLT/OIT/OIT_176.html
53
Além do que, a NR 22, em seu subitem 22.36 trouxe importante inovação
ao criar Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho na Mineração
(CIPAMIN)11 que permite aos trabalhadores organizarem-se de maneira
autônoma, assumindo seu papel e responsabilidades no controle dos riscos
existentes nos ambientes de trabalho. Dentre as mais variadas atribuições da
CIPAMIN, destacam-se:
a) Elaborar o Mapa de Riscos, conforme prescrito na Norma
Regulamentadora nº.5 (CIPA), encaminhando-o ao empregador e ao
SESMT, quando houver;
b) Recomendar a implementação de ações para o controle dos riscos
identificados;
c) Analisar e discutir os acidentes do trabalho e doenças profissionais
ocorridos, propondo e solicitando medidas que previnam ocorrências
semelhantes e orientando os demais trabalhadores quanto à sua
prevenção.
Diversas atividades em mineração podem ocasionar a exposição dos
trabalhadores a riscos graves e iminentes para sua saúde e segurança,
determinando a suspensão imediata das atividades.
No caso da ocorrência de acidentes e doenças do trabalho o subitem da
NR 22.37.6.1 dispõe que:
“Os acidentes e doenças profissionais deverão ser
analisados segundo metodologia que permita identificar as
causas principais e contribuintes que levaram à ocorrência
do evento, indicando as medidas de controle para prevenção
de novas ocorrências” (MTE, 2016, NR 22).
E em caso de ocorrência de acidente fatal é obrigatória a adoção das
seguintes medidas:
11 22.36.1 A empresa de mineração ou Permissionário de Lavra Garimpeira que admita trabalhadores como empregados deve organizar e manter em regular funcionamento, na forma prevista nesta NR, em cada estabelecimento, uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA, doravante denominada CIPA na Mineração- CIPAMIN.
54
a) Comunicar de imediato, à autoridade policial competente e à DRT, a
ocorrência do acidente; (Alterado pela Portaria SIT nº 27, de1º de outubro
de 2002);
b) Isolar o local diretamente relacionado ao acidente, mantendo suas
características até sua liberação pela autoridade policial competente
(MTE, 2016).
O processo produtivo no setor mineral de Corumbá é altamente
mecanizado nas atividades de extração de minério e ferro-gusa e o uso intensivo
de equipamentos mecânicos e a manutenção das máquinas tem causado
acidentes de trabalho pela excessiva jornada exigida e falta de treinamento
(ALVES, 2013).
4.4.3.1. Subnotificações de acidentes e doenças ocupacionais
A comunicação de acidente de trabalho – CAT continua sendo uma
obrigação legal, mas não é mais imprescindível para a concessão de benefícios
previdenciários, considerando o grande número de acidentes e doenças que não
são informados. Tanto assim que nas tabelas que tratam de acidentes de
trabalho foi incluída uma coluna adicional sobre benefícios previdenciários
concedidos pelo INSS para os quais não foram registradas CAT, conforme
abaixo se demonstra.
O conjunto dos acidentes do trabalho passou a ser então a soma dos
acidentes e doenças do trabalho informados por meio da CAT com os acidentes
e doenças que deram origem a benefícios de natureza acidentária para os quais
não há CAT informada (AEAT, 2016, p. 11).
Segundo dados do último Anuário Estatístico da Previdência Social, no
ano de 2016 ocorreram 578.435 acidentes de trabalho no Brasil, sendo 31.131
acidentes somente no setor extrativista de mineração, o que significa mais de 43
acidentes por dia. Em Mato Grosso do Sul, no ano de 2016, foram registrados
9.546 acidentes de trabalho, sendo 1.531 sem a notificação - CAT, o que torna
o cenário alarmante (AEAT, 2016, p. 554).
Segundo Silva (2016), em Corumbá as subnotificações foram verificadas
em um dos casos analisados, sob a justificativa de a empresa não ter como
explicar para a matriz o alto índice de acidentes na filial de Corumbá e em outros
55
dois casos analisados, sob a justificativa de perda no plano de participação nos
lucros e resultados, vez que no caso de acidentes notificados o coletivo de
trabalhadores perderia o acréscimo remuneratório anual (SILVA, 2016).
A atividade no setor mineral de Corumbá é altamente mecanizada,
necessitando de trabalho vivo para operar as máquinas e dar manutenção,
transformando o homem em “vigia da máquina” e dependentes de treinamento,
o que, muitas vezes, não ocorre.
Em Corumbá as empresas de mineração e de siderurgia, mesmo sendo
formalmente distintas, desenvolvem atividades coordenadas e linearmente
sucessivas em suas operações técnicas e de produção, num regime de
conjugação de interesses produtivos, enquadrando-se, portanto, no conceito de
cadeia produtiva (SILVA, 2016).
O risco de acidente de trabalho (RAT) obriga o empregador a pagar um
seguro de acidente de trabalho (SAT) de 1%, 2% ou 3%, sobre a folha de
pagamento, dependendo se o risco é leve, médio ou alto, sendo que nas
atividades de extração de minério de ferro (CNAE 0710-3/01) (IBGE, 2018) e de
manganês (CNAE 0723-5/01) (IBGE, 2018) o percentual é de 2% (Anexo V, do
Decreto nº 3.048/99 (BRASIL, 1999) - Regulamento da Previdência Social,
vigente a partir de 01.06.2007.
Em 2010, como estímulo para que a empresas diminuam o potencial de
riscos de sua atividade foi instituído o FAP (Fator Acidentário de Prevenção), que
mede o histórico de uso dos benefícios previdenciários pelos empregados de um
determinado empregador e varia de 0,5 a 2% incidente sobre o SAT, podendo
reduzi-lo pela metade ou dobrá-lo, dependendo do número de
acidentes/doenças. O FAP varia anualmente e é calculado sobre os dois últimos
anos de todo o histórico de acidentalidade e de registros acidentários da
Previdência Social.
Assim, as empresas que registrarem maior número de acidentes ou
doenças ocupacionais, pagam mais e no caso de nenhum evento de acidente de
trabalho, a empresa é bonificada com a redução de 50% da alíquota.
O trabalho na mineração sempre foi considerado uma das atividades mais
perigosas à saúde humana e, justamente por isso, em tempos pretéritos, era
designado a escravos ou prisioneiros (SANTOS, 2012; RAMAZZINI, 2016) e
mesmo após a modernização industrial, situações inaceitáveis de riscos
56
operacionais são frequentes no ambiente de trabalho, colocando em perigo a
vida, o bem-estar e a saúde dos mineiros, afetando também sua família e toda a
sociedade, que paga os custos de uma “legião de aleijados” e mortos pela
atividade mineradora, afetando o meio ambiente e a sustentabilidade ambiental
(OLIVEIRA, 2001).
Considerando a dimensão do problema, a Legislação Previdenciária
(BRASIL, 1991), reconhece que vários transtornos mentais e de comportamento
tem nexo de causalidade presumida com a atividade extrativa mineral, dentre os
quais a demência (CID F02-8), transtorno cognitivo leve (CID F06.7), transtorno
de personalidade (CID F.07.0), transtorno mental orgânico ou sintomático não
especificado (CID F09), entre outros.
Conforme asseverado, esses acidentes de trabalho e o grande número
de adoecimentos no setor extrativo mineral produzem um enorme contingente
de mutilados, homens e mulheres extenuados, mirrados, precocemente
envelhecidos (OLIVEIRA, 2001), com a saúde consumida não só pela contínua
exposição a agentes insalutíferos, mas também agora, em razão do “novo
metabolismo social”, pelos métodos de administração by stress.
Esse “novo metabolismo social do trabalho” envolve novos métodos de
gestão e pessoas, sob novas condições salariais que incorporam a adoção de
remuneração flexível (atrelada a produtividade), jornada de trabalho flexível e
contrato de trabalho flexível, agravando ainda mais a situação dos trabalhadores
das minas, fazendo com que confunda o interesse da empresa com o seu próprio
interesse, permitindo que sua força de trabalho sofra maior exploração, gerando
adoecimentos.
Segundo Braga (2015) a taxa de mortalidade entre trabalhadores da
mineração por cada 100.000 habitantes foi de 28,1 trabalhadores em 2013,
quatro vezes mais do que a taxa de mortalidade de outras atividades industriais
no mesmo período. Entretanto, ressalta o autor, entraram nas estatísticas de
mortes apenas os casos de vítimas que tinham carteira de trabalho assinada
pelas mineradoras, ficando de fora os que trabalhavam nas empresas
terceirizadas, restando subestimado o número de mortes e a gravidade do
problema.
Assim, os acidentes ocorridos com trabalhadores terceirizados na
mineração e siderurgia são computados em outras atividades industriais.
57
Há que se ressaltar, ainda, a falta de emissão da CAT (Comunicação de
Acidentes de Trabalho) ou subnotificações, no claro intuito de maquiar a grave
realidade existente no setor mineral.
A informação sobre os acidentes de trabalho ocorridos em todo território
nacional é pouco confiável, seja no que concerne à quantidade ou no tocante
aos aspectos qualitativos das estatísticas desses eventos.
Para Maia et al. (2013), diversas causas concorrem para que a
subnotificação se perpetue. O sistema de informação da Previdência Social
abrange os trabalhadores com vínculo sob a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), segurados do Seguro de Acidente do Trabalho (SAT). Neste sistema, há
a premissa de que a empresa de vínculo deve fazer a notificação, mesmo que
esta seja facultada a outros atores. Com efeito, a legislação permite que a
comunicação de acidente de trabalho (CAT) seja feita pelo médico que atendeu
o trabalhador ou pelo sindicato, mas o procedimento costumeiro observado no
INSS é que a CAT deve ser emitida em primeiro lugar pela empresa. Somando-
se a um sistema pericial falho com baixa sensibilidade para captar as centenas
de tipos de adoecimentos ocupacionais previstos em legislação, há enorme e
persistente subnotificação de acidente de trabalho.
Os mesmos Autores observam que com a divulgação da Pesquisa
Nacional de Saúde (PNS) realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da
Saúde, relativo ao ano de 2013, pode-se verificar uma discrepância entre os
dados relacionados a acidentes de trabalho desta pesquisa e aqueles
registrados na base de dados do Ministério da Previdência Social.
“A comparação mostrou que a PNS aponta números de
quase 7 vezes os da Previdência, sendo que há maior
variação entre as Unidades da Federação da região Norte e
Nordeste. Sugere-se que essa diferença se deve à já
conhecida subnotificação do registro de acidentes, ao tipo
de dado resultante de cada pesquisa, e à baixa taxa de
formalização do emprego, sendo este último fator o
responsável pelas maiores razões entre as Unidades de
Federação da região Norte e Nordeste” (MAIA et al., 2013,
p. 1).
58
Os acidentes de trabalho devem ser notificados independentemente da
existência de vínculo empregatício formal. O SUS prevê a notificação
compulsória ao Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) de
diversos eventos ocupacionais independentemente da existência de vínculo
empregatício formal ou espécie de vínculo. Entretanto, a baixa capacidade
diagnóstica de eventos ocupacionais, mesmo com a existência dos centros de
referência em saúde do trabalhador, é um dos pilares da subnotificação no SUS.
O Decreto 3.048/99 (BRASIL, 1999), em seu anexo II, define as doenças e
respectivos agentes etiológicos ou fatores de risco de Acidentes do Trabalho
(Anexo II).
Parte destes infortúnios aporta na Justiça do Trabalho por meio de
Reclamações Trabalhistas nas quais os trabalhadores, muitas vezes inválidos e
praticamente descartados do mundo do trabalho, postulam reparações
financeiras em face dos (ex-) patrões, alegando que as enfermidades e os
acidentes têm nexo de causalidade com as condições laborativas desfavoráveis
(SILVA, 2016).
Para SILVA (2016), os trabalhadores procuraram a Justiça Especializada
como forma de resgatar a dignidade perdida ou aviltada, pretendendo uma
resposta do Estado para a violação de preceitos constitucionais básicos
relacionados à valorização do trabalho, ao direito à saúde e à vida.
Sob o aspecto individual, a Justiça do Trabalho tem a competência
atribuída pela CF/88 de julgar os litígios entre trabalhadores e empregadores
oriundos da relação de trabalho, aí inseridos os pedidos de indenização em
razão de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, nas hipóteses em que
for comprovada a culpa do empregador no infortúnio laboral.
A Justiça do Trabalho tem o poder de coercibilidade estatal, não atribuído
ao MPT, de compelir o empregador a cumprir as normas trabalhistas de saúde
e segurança do trabalho12. Nesse sentido, há um necessário e indissociável
entrelaçamento de atuação entre o MPT e Justiça Especializada, pois esta não
pode agir sem a provocação do MPT, ao passo que este não tem o poder de
12 De acordo com a Súmula 736 do Supremo Tribunal Federal, “compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores”
59
obrigar as empresas a cumprir a legislação sem que para isso exista uma
decisão judicial emanada da Justiça do Trabalho.
O Relatório Geral da Justiça do Trabalho de 2016 informa que a Justiça
do Trabalho recebeu 10.119.511 de ações trabalhistas entre os anos de 2012 a
2016, sendo que somente em 2016 foram ajuizadas 2.756.214 novas ações. Em
Mato Grosso do Sul, no ano de 2016, foram apresentadas 34.911 novas ações
trabalhistas.
No Brasil as Varas do Trabalho receberam 2.723.074 casos novos, 4,1%
a mais que em 2015. Os 3 estados com maior quantitativo de casos novos
ajuizados foram São Paulo, com 29,3%, Rio de Janeiro, com 10,1%, e Minas
Gerais, com 9,9%, todos estados da Região Sudeste, que, sozinha, ajuizou
50,7% dos casos novos no País (Quadro 6)
Quadro 6. Ações Trabalhistas no Brasil, no período de 2012 à 2016
Ano Ações trabalhistas
2012 2.254.355
2013 2.422.170
2014 2.530.691
2015 2.636.681
2016 2.723.074, sendo 34.911 (MS)
Fonte: Adaptado de TST (2017).
As atividades econômicas com maiores quantitativos de processos nas
Varas e Tribunais Regionais foram a Indústria, em segundo lugar os Serviços
Diversos e em terceiro lugar o Comércio. Ressalte-se que a Vale está incluída
como a 14a empresa com maior número de litígios trabalhistas (TST, 2017).
Segundo Silva (2016) em Corumbá, no período de 2009 a 2014, foi
verificada a existência de 36 (trinta e seis) ações trabalhistas ajuizadas com
pedidos de indenização por doença ou acidente do trabalho no setor mineral, já
sentenciadas ou ainda pendentes de julgamento (mas, quanto a estas últimas,
com fase concluída de coleta de provas testemunhais). Nesse universo, 69,44%
dos processos estão relacionados a acidentes de trabalho e 38,88% a doenças
ocupacionais, sendo que não houve constatação de nenhum acidente de trajeto.
Dos 36 processos trabalhistas analisados, 22 (61,12%) tinham no polo passivo
empresas relacionadas à indústria extrativa, dos quais 68,18% referiam-se a
60
acidentes de trabalho e 40,90% a doenças ocupacionais; os 14 processos
remanescentes (38,88%) englobaram empresas ligadas à indústria siderúrgica,
dos quais 71,42% diziam respeito a acidentes de trabalho e 35,71% a doenças
ocupacionais. Da totalidade das ações (36), 27 (75%) foram ajuizadas por
trabalhadores diretos, quer dizer, empregados das indústrias extrativas e/ ou
siderúrgica, ao passo que as outras 9 ações (25%) tiveram como autores
trabalhadores indiretos, isto é, terceirizados.
Em 2016 foram distribuídas 884 ações trabalhistas perante a Vara do
Trabalho em Corumbá, sendo 31 delas relativas a doenças e acidentes de
trabalho no setor da mineração de Corumbá-MS, das quais três ações em
desfavor da mineradora Vetorial e uma ação em desfavor da MCR Minerações
(TRT, 2017).
Chama atenção o comparativo entre os números oficiais de acidentes de
trabalho ocorridos em Corumbá em 2016 (9.546 acidentes) e o reduzido número
de ações trabalhistas por acidentes de trabalho relativas ao mesmo ano
impondo-nos a reflexão sobre os motivos dos trabalhadores não buscarem o
Judiciário. A primeira opção seria porque seus direitos foram integralmente
saldados e reparados pelas empresas. Outra opção seria a dificuldade do
trabalhador estabelecer o nexo de causalidade entre a sua doença e o trabalho
e a terceira (mais viável), se refere ao restrito mercado de trabalho a algumas
empresas e/ou setores específicos da economia, fazendo com que os
trabalhadores doentes e acidentados não busquem o Judiciário com receio de
não conseguirem outra colocação no mercado.
Ao longo dos anos o setor mineral foi responsável pelo bom desempenho
do produto interno bruto (PIB)13 per capita, pela elevação da média salarial14 e
13 Segundo o IBGE (2015), o PIB per capita de Corumbá (R$ 18.087,03) posiciona-se em quarto lugar no ranking do Estado, estando atrás do PIB de Três Lagoas (R$ 69.184,36), Campo Grande (R$ 28.417,05) e Dourados (R$ 34.219,12). Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/corumba/pesquisa/38/47001?tipo=ranking. Acesso em: 01 jun. 2018. 14 De acordo com o IBGE (2015), Corumbá é o quarto município em número de trabalhadores assalariados no Estado de Mato Grosso do Sul ficando atrás de Campo Grande (266.171), Dourados (56.130) e Três Lagoas (33.974). Entretanto, quanto à média de salários mínimos pagos aos trabalhadores, Corumbá (2,9 s. m.) se posiciona à frente de Dourados (2,5 s. m.) e de Três Lagoas (2,8 s. m.), ficando muito próxima do segundo lugar, que é de Campo Grande (3,6 s. m.) e bem distante do primeiro lugar que é Ladário (5,0 s. m.). Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/corumba/pesquisa/19/29765?tipo=ranking&ano=2010&indicador=29765>. Acesso em: 01 jun. 2018.
61
pelo pagamento de royalties15 para Corumbá, criando uma perspectiva que
relaciona o progresso da cidade à existência e à permanência das mineradoras
e das siderúrgicas no município (COSTA, 2013), fator político-econômico-social
que converge para uma importância material e simbólica deste seguimento
industrial na localidade (SILVA, 2016).
As situações de acidentes e doenças do trabalho sempre estiveram
presentes na atividade minerária. Ganne (2000) estudou as demandas de
serviços de saúde e custos decorrentes de acidente de trabalho na cidade de
Corumbá, baseando-se nas CAT´S registradas no posto do INSS entre 1.996 e
1.997. Na época Corumbá contava com duas empresas de extração de minerais
metálicos e uma siderúrgica. Do total de 252 acidentes de trabalho, constatou-
se que a siderurgia era responsável por 12,31% (31) e a extração de minerais
metálicos por 8,34% (21) dos acidentes registrados oficialmente.
Diante de tal quadro, emerge nítida e indiscutível a necessidade de se
pesquisar a situação dos trabalhadores das minas de Corumbá/MS,
preenchendo-se lacuna de pesquisas sobre essa realidade local, além de ser
imprescindível para a adoção de medidas preventivas e protetivas pelas
empresas, para trazer higidez para o ambiente de trabalho, diminuindo doenças,
acidentes, incapacidades laborativas e mortes oriundas da atividade profissional.
Assim, conforme ensina Thomé (2009, p. 3):
“É inegável, portanto, a importância da mineração para a
interiorização do desenvolvimento econômico do Brasil.
Todavia, uma característica inerente aos recursos minerais
não pode ser, em momento algum, desprezada: a sua
esgotabilidade. São recursos não renováveis que,
inevitavelmente, um dia se esgotarão. E então as inúmeras
vilas e cidades originadas e dependentes da mineração
poderão se deparar com inimagináveis impactos
socioeconômicos advindos do encerramento das
atividades mineiras, caso não providenciem a
diversificação de sua economia”.
15 Em 2017 a CFEM para Corumbá foi de R$ 3.053.352,12 e para Ladário R$ 5.647.883,57. Disponível em: https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/distribuicao_cfem_muni.aspx?ano=2017&uf=MS. Acesso em: 01 jun. 2018.
62
A exploração mineral pode se traduzir em melhorias sociais, embora estas
dependam da capacidade dos governos, empresas e outras partes interessadas
gerenciarem os impactos negativos mencionados anteriormente.
4.5. Desenvolvimento Sustentável e Crescimento Econômico
O desenvolvimento sustentável sob a tutela da Organização das Nações
Unidas (ONU) tornou-se o tema principal dos novos discursos da intelectualidade
global, incluindo a Amazônia, apresentando-se como alternativa ao modelo de
crescimento baseado na exploração ilimitada de recursos naturais sem,
entretanto, deixar de ser uma incógnita pela incapacidade de superar a lógica
capitalista e suas injustiças, expondo-se dessa forma a fortes ataques no plano
teórico (CASTRO, 2010).
Nos últimos anos, com os desdobramentos das conferências sobre o meio
ambiente e desenvolvimento sustentável promovido pela ONU (Estocolmo 1972,
Rio 1992 e Johanesburgo 2002), o setor mineral privado insurgiu-se contra um
campo da ciência que lhe atribuiu condição de insustentável e passou a
intensificar ações regulatórias de conduta ambiental e de responsabilidade
social, argumentando ter o setor capacidade de contribuir positivamente com os
governos e comunidades das regiões mineiras onde opera.
Existem comunidades científicas e segmentos sociais que refutam
qualquer abordagem sobre sustentabilidade na mineração, a considerar que, por
definição, os minérios são recursos não renováveis e, portanto, essa discussão
não faz sentido e que o desenvolvimento sustentável não passa de uma
“propaganda de mercado”.
Para Chagas, a quebra do paradigma da “maldição dos recursos minerais”
não é tarefa fácil e experiências tem refutado tal possibilidade, sobretudo quando
se avaliam casos de exploração mineral em regiões pobres do planeta, onde os
efeitos desenvolvimentistas não se concretizaram, além da herança de graves
passivos socioambientais (CHAGAS, 2013).
Soma-se ainda o atraso e desinteresse do governo federal pela ciência e
tecnologia que possam fazer frente aos problemas da região, e a consequente
crise do conhecimento, que não tem sido capaz de alavancar e modernizar a
economia em prol do desenvolvimento sustentável.
63
A pluralidade de saberes, condição endêmica da complexidade da ciência
das questões ambientais coloca em contradição comunidades que concorrem
pela verdade de explicações científicas, incluindo os campos com visões
imperativas de controle sobre o meio ambiente físico e biológico dissociado de
interpretações socioculturais (CHAGAS, 2013).
A Conferência Internacional da Organização das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, adotou a
Agenda 21 para transformar o desenvolvimento sustentável em uma meta global
aceitável e criou a Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CSD – Comission
on Sustainable Development), cuja principal responsabilidade é a de monitorar
os progressos que foram feitos no caminho de um futuro sustentável. As
necessidades de desenvolver indicadores de desenvolvimento sustentável estão
expressas na própria Agenda 21 em seus capítulos 8 e 40. A CSD, a partir da
Conferência no Rio de Janeiro, adotou um programa de cinco anos para
desenvolvimento de instrumentos apropriados para os tomadores de decisão no
nível nacional no que se refere ao desenvolvimento sustentável (VAN BELLEN,
2002).
Os estudiosos e cientistas têm se aventurado a investigar a vinculação de
temas relacionados ao crescimento econômico com o meio ambiente na busca
de métodos capazes de qualificar e/ou quantificar o desenvolvimento
sustentável.
Embora haja conflito aparente, os sistemas econômico e ecológico não
são conflitantes. Na verdade, “os sistemas econômicos dependem, para a sua
sobrevivência, dos sistemas ecológicos” (SACHS, 1993, p. 36).
Para Sachs (2008, p. 13), “... o crescimento é uma condição necessária,
mas de forma alguma suficiente (muito menos é um objetivo em si mesmo), para
se alcançar a meta de uma vida melhor, mais feliz e mais completa para todos
...”.
4.5.1. Índices de Sustentabilidade
Os indicadores que tem sido usado para mensurar o desenvolvimento são
o Produto Interno Bruto (PIB), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), considerado
duvidoso enquanto média aritmética de apenas três índices (renda, escolaridade
64
e longevidade), o IDH Municipal e ainda outros indicadores como o DNA – Brasil,
o índice de Desenvolvimento Social (IDS), entre outros (VEIGA, 2005).
Para Veiga (2010, p. 46-47), “... uma coisa é medir desempenho
econômico, outra é medir qualidade de vida (ou bem-estar), e uma terceira é
medir a sustentabilidade do desenvolvimento ...”.
Segundo o autor, não é mais possível falar a sério de indicadores de
sustentabilidade sem ter como ponto de partida as mensagens e recomendações
que estão no Report by the Commission on the Measurement of Economic
Performance and Social Progress (STIGLITZ et al., 2009), nos seguintes termos:
1) O PIB (ou PNB) deve ser inteiramente substituído por uma medida bem
precisa de renda domiciliar disponível, e não de produto;
2) A qualidade de vida só pode ser medida por um índice composto bem
sofisticado, que incorpore até mesmo as recentes descobertas desse
novo ramo que é a economia da felicidade;
3) A sustentabilidade exige um pequeno grupo de indicadores físicos, e não
de malabarismos que artificialmente tentam precificar coisas que não são
mercadorias.
Assim, o Relatório defende que o desempenho econômico e a qualidade
de vida sejam medidos por novos indicadores, que nada têm a ver com os atuais
PIB e IDH. Na lição de Veiga (2010):
“A avaliação, a mensuração e o monitoramento da
sustentabilidade exigirão necessariamente uma trinca de
indicadores, pois é estatisticamente impensável fundir em
um mesmo índice apenas duas de suas três dimensões. A
resiliência dos ecossistemas certamente poderá ser
expressa por indicadores não monetários relativos, por
exemplo, às emissões de carbono, à biodiversidade e à
segurança hídrica. Mas o grau de tal resiliência
ecossistêmica não dirá muito sobre a sustentabilidade se
não puder ser cotejado a dois outros. Primeiro, o
desempenho econômico não poderá continuar a ser
avaliado com o velho viés produtivista, e sim por medida da
65
renda familiar disponível. Segundo, será necessária uma
medida de qualidade de vida (ou bem-estar) que incorpore
as evidências científicas desse novo ramo que é a economia
da felicidade” (VEIGA, 2010, p. 49).
Atualmente existem mais de seis índices que, com diferentes graus e
formas de agregação, buscam fazer uma avaliação sintética da sustentabilidade
(ambiental ou do desenvolvimento).
Na prática, os únicos índices de sustentabilidade que adquiriram grande
visibilidade internacional são os divulgados pelo WWF (World Wide Fund for
Nature, anteriormente World Wildlife Fund), e pelo WEF (World Economic
Forum), estes calculados por duas das mais importantes instituições acadêmicas
da área: o Yale Center for Environmental Law and Policy, e o Center for
International Earth Science Information Network, da Universidade de Columbia
(VEIGA, 2009).
Conforme explica Veiga (2009), como o Índice Planeta Vivo (Living Planet
Index), da WWF - não chega a ser um indicador de sustentabilidade, pode-se
dizer, então, que existem hoje quatro índices de sustentabilidade ambiental com
ampla visibilidade global: dois do WWF e dois do WEF, que são a Pegada
Ecológica, o Índice da Vulnerabilidade Ambiental, o Índice de Sustentabilidade
Ambiental, o índice de Desenvolvimento Ambiental, além do Índice Planeta Vivo.
O Índice Planeta Vivo (LPI, sigla em Inglês) mede mais de 10.000
populações representativas de mamíferos, aves, répteis e peixes. O Relatório
Planeta Vivo® 2014 revela os efeitos da pressão que exercemos no planeta,
investiga as implicações para a sociedade e enfatiza a importância das escolhas
que fazemos e os passos que damos para assegurar que este planeta vivo
continue a sustentar todos nós, hoje e pelas próximas gerações.
No último Relatório, de 2014, um dado alarmante é que o número de
vertebrados diminuiu 52% desde 1970. Em outras palavras, em menos de duas
gerações, a quantidade de espécies de vertebrados existentes do mundo caiu
pela metade. Estes são os seres vivos que constituem a estrutura dos
ecossistemas que sustentam a vida na Terra – e é um indicador do que estamos
fazendo com nosso próprio planeta, nossa única casa. Ignorar este declínio é
correr um grave risco (MCLELLAN et al., 2014).
66
A Pegada Ecológica (Ecological Footprint) mede a pressão que a
humanidade está exercendo sobre a biosfera, representada pela área
biologicamente produtiva (tanto terrestre quanto marítima) que seria necessária
para a provisão dos recursos naturais utilizados e para a assimilação dos
rejeitos. Uma vez obtida essa "pegada", para qualquer unidade territorial
(localidade, região, país, etc.), ela pode ser comparada à "capacidade biológica"
(tanto média do planeta quanto específica), também apresentada em hectares
globais. Também inclui a pegada de carbono, que é a quantidade de floresta
necessária para absorver as emissões adicionais de dióxido de carbono que os
oceanos não conseguem absorver. A Biocapacidade e a Pegada Ecológica são
representadas utilizando-se uma unidade de medida chamada hectare global
(GHA, em inglês). O mais recente resultado dessa comparação é que até 2014,
a pressão exercida pela humanidade foi 50% superior à capacidade da biosfera
de atendê-la com serviços ecossistêmicos e absorção de seu lixo (MCLELLAN
et al., 2014).
O Índice da Performance Ambiental (Environmental Performance Index -
EPI) é um índice proposto pelas Universidades de Yale e Columbia, ambas dos
Estados Unidos, o qual faz a medição, em nível mundial, de como está a questão
ambiental em diversos países, elaborando um ranking que aponta em quais
países o meio ambiente está mais adequado ao desenvolvimento sustentável. É
produzido com vistas a oferecer subsídios para as políticas públicas. O EPI vem
sendo publicado desde 2006, a cada biênio, sendo uma derivação do ESI, que
será visto a seguir. Esse índice faz a comparação se houve progresso/regresso
na questão ambiental em cada país analisado (PEREIRA et al, 2016).
O Índice de Sustentabilidade Ambiental (Environmental Sustainability
Index - ESI) envolve cinco dimensões: sistemas ambientais, estresses,
vulnerabilidade humana, capacidade social e institucional e responsabilidade
global. O primeiro considera quatro sistemas ambientais: ar, água, solo e
ecossistemas. O segundo considera estresse algum tipo muito crítico de
poluição, ou qualquer nível exorbitante de exploração de recurso natural. No
terceiro, a situação nutricional e as doenças relacionadas ao ambiente são
entendidas como vulnerabilidades humanas. A quarta dimensão se refere à
existência de capacidade sócio institucional para lidar com os problemas e
67
desafios ambientais. E na quinta entram os esforços e esquemas de cooperação
internacional representativos da responsabilidade global (VEIGA, 2009)
O Índice de Desenvolvimento Sustentável é uma iniciativa do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com vista a espelhar a realidade
brasileira nas dimensões ambiental, social, econômica e institucional. Percebe-
se que possui uma estrutura análoga à estrutura proposta pela Comissão de
Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e do proposto nos Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio, considerando que é a proposta nacional para
atender a uma demanda global. Assim como o EPI e o Living Planet Report,
também é um relatório bianual, tendo sua primeira edição publicada em 2002. O
IDS também é conhecido por seus indicadores possuírem quatro diretrizes:
equidade, eficiência, adaptabilidade e atenção a gerações futuras. Com essas
diretrizes, este índice possui indicadores que contemplam as características
essenciais de um bom indicador (PEREIRA et al, 2016).
A importância dos indicadores é representar, de forma objetiva, racional e
lógica, uma realidade específica em um determinado período de tempo, fazendo
com que conceitos abstratos se tornem objetivos.
“Em resumo, os indicadores objetivam: explicitar uma
realidade em análise, fornecendo subsídios para sua
explicação; auxiliar na função controle, permitindo o
monitoramento da realidade estudada; transformar leituras
qualitativas, abstratas e subjetivas em análises
quantitativas, concretas e objetivas, facilitando a
compreensão e permitindo a medição, mantendo sua linha
de orientação; e apresentar-se como medida padronizada”
(PEREIRA et al, 2016, p. 329).
O desenvolvimento sustentável abrange uma gama de questões e
dimensões e para que se possa organizar a relevância dos indicadores em
relação aos seus aspectos específicos alguns elementos devem ser
considerados. O desenvolvimento sustentável deve ser entendido como
desenvolvimento econômico progressivo e balanceado, aumentando a equidade
social e a sustentabilidade ambiental, e os tomadores de decisão, que atuem nos
68
diferentes níveis de gestão (local, regional, nacional e internacional), precisam
de informações neste processo (VAN BELLEN, 2002, p. 43).
Para o Autor, os principais obstáculos, segundo a Comissão de
Desenvolvimento Sustentável - CDS, é o de construir um consenso relativo ao
conceito de sustentabilidade para iniciar um projeto de indicadores de nível
nacional. Deve-se promover a comparabilidade, a acessibilidade e a qualidade
dos indicadores. O programa da CDS estabeleceu os elementos principais que
devem ser considerados para o desenvolvimento e a utilização de indicadores
de sustentabilidade em nível nacional. Estes elementos são mostrados no
Quadro 1, adaptado da CDS:
Quadro 1. Elementos do Programa da Comissão de Desenvolvimento
Sustentável para o Desenvolvimento de Indicadores de Sustentabilidade
Melhoria da troca de informações entre os principais atores interessados no
processo;
Desenvolvimento de metodologias para serem avaliadas pelos governos;
Treinamento e capacitação nos níveis regional e nacional;
Monitoramento das experiências em alguns países selecionados;
Avaliação dos indicadores e ajustes quando necessários;
Identificação e avaliação das ligações entre os aspectos econômicos,
sociais, institucionais e ambientais do desenvolvimento sustentável;
Desenvolvimento de indicadores altamente agregados;
Posterior desenvolvimento de um sistema conceitual de indicadores
envolvendo especialistas da área econômica, das ciências sociais, das
ciências físicas e da área política incorporando organizações não
governamentais e outros setores da sociedade civil.
Fonte: Adaptado da Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS) (VAN
BELLEN, 2002).
Em inovadora proposta, Pereira et al. (2016) construíram um Índice de
Sustentabilidade Ambiental para Mato Grosso do Sul, para que se possa medir
em que nível se encontra a sustentabilidade ambiental no Estado, da forma como
apresentado a seguir, com as dimensões analíticas e suas respectivas variáveis
69
para utilização no cálculo do Índice de Sustentabilidade Ambiental, adaptadas a
Mato Grosso do Sul (Quadro 2).
Quadro 2. Estrutura do Índice de Sustentabilidade Ambiental – ISA
Indicador Dimensões analíticas Variáveis
Índ
ice d
e S
uste
nta
bili
da
de
Am
bie
nta
l
ISA
Acesso à água tratada
Água Acesso à água potável
Índice de Qualidade das Águas
Áreas de proteção ambiental
Biodiversidade Presença de espécies invasoras
Espécies ameaçadas de
extinção Emissão de gases do efeito
estufa Ar Partículas inaláveis
Utilização de veículos
Condição da terra
Solo Fertilizantes
Pesticidas
Subsídios à agricultura
Mudanças climáticas e energia Energia renovável
Áreas desmatadas
Fonte: Adaptado de Pereira et al. (2016).
Embora sirvam de parâmetro para medir sustentabilidade, os indicadores
de sustentabilidade são instrumentos imperfeitos que não podem ser aplicados
universalmente. É impossível mensurar o desenvolvimento sustentável a partir
de indicadores que representem as relações que são estabelecidas entre as
dimensões social, econômica, ambiental e institucional (CHAGAS, 2013).
Entretanto, muito embora imprecisos, expressam um compromisso na
compreensão das relações entre o homem e o meio ambiente dentro do campo
do desenvolvimento.
4.6. Compensação Financeira pela Exploração Mineral - CFEM
A Constituição Federal de 1988 foi a responsável por trazer ares ousados
e inovadores à proteção ambiental em nível constitucional, com a inclusão de
capítulo específico dentro do título “Da Ordem Social” que versa sobre o meio
ambiente, em seu art. 225 e parágrafos. O texto constitucional abarcou, de forma
70
detalhada, a proteção do meio ambiente. O caput do art. 225, por exemplo,
conferiu status de garantia constitucional ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, outorgado a todos, independentemente de nacionalidade, sexo, cor
ou raça. Foi ainda alçado a “bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida”:
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações. § 1º – Para assegurar
a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I –
preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e
prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II
– preservar a diversidade e a integridade do patrimônio
genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à
pesquisa e manipulação de material genético; [...] V – à
difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à
divulgação de dados e informações ambientais e à formação
de uma consciência pública sobre a necessidade de
preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio
ecológico; VI – promover a educação ambiental em todos os
níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente; [...].” (BRASIL, 2016a).
Importante o reconhecimento da distinção entre “bem público” e “bem
difuso” trazida pelo eminente Ministro Moreira Alves no julgamento do Recurso
Extraordinário - RE 300.244-9/SC pelo Supremo Tribunal Federal, ao interpretar
o sentido da proteção da Mata Atlântica enquanto “patrimônio nacional” e
redimensionando a competência legislativa de proteção ambiental, antes
privativa da União, tratando-a como matéria de “condomínio legislativo entre
União, Estados e Municípios”.
“A proteção e preservação do meio ambiente, para o
presente e para o futuro, são responsabilidade e obrigação
de todo ser humano, constituindo matéria de condomínio
71
legislativo entre União, Estados e Municípios (CF, art. 23),
não se justificando, desde aí, a exclusiva competência da
Justiça Federal na repressão aos delitos ambientais” (STF,
2001a).
No mesmo sentido Relatório do Ministro Celso de Mello na Ação Direta de
Inconstitucionalidade - ADI 3.540-MC, expondo que o direito à integralidade do
meio ambiente constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo,
dentro do processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão significativa
de um poder deferido, não ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas
num sentido verdadeiramente mais abrangente, atribuído à própria coletividade
social16.
Essa distinção é fundamental porquanto redimensiona a competência
legislativa de proteção ambiental, antes privativa da União, já que eram tais bens
entendidos como bens da União. E a compreensão de bem mineral como bem
ambiental de natureza difusa, extrapolando o conceito literal do art. 20 da CF/88
atribui o gerenciamento desses bens no interesse da coletividade17.
A Constituição de 1988 também promoveu a conciliação do
desenvolvimento econômico com o desenvolvimento ambiental com a inclusão
da proteção ambiental na ordem econômica constitucional, como corolário da
noção de desenvolvimento sustentável, que ganhou força na RIO-92, constando
expressamente na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(VALADARES, 2015).
16 ADI 3.540-MC, Rel.: min. Celso de Mello, julgamento em 01/09/2005, Plenário, DJ, de 03/ 02/2006. A questão controvertida nesta ADI se referia à inconstitucionalidade do art. 4º, caput e §§ 1º a 7º do Código Florestal, na redação dada pela Medida Provisória 2.166-67 em face do disposto no art. 225, § 1º, III, da CF/88. De acordo com o Procurador-Geral da República, autor da ADI, os dispositivos atacados tornariam possível a supressão de APP’s mediante mera autorização administrativa do órgão ambiental, quando a Constituição exige que tal supressão somente pode ocorrer por meio de lei formal. Durante o período de férias forenses, o ministro presidente do STF suspendeu cautelarmente a eficácia e a aplicabilidade do art. 1º da MP, na parte que alterava o mencionado art. 4º e seus parágrafos do Código Florestal. A matéria foi levada ao Plenário para referendo e, nesta oportunidade, o relator discorreu sobre o direito à preservação da integridade do meio ambiente à luz das normas constitucionais. Ao final, encabeçou o voto vencedor que propôs que a decisão que deferiu a medida cautelar não fosse referendada, ao fundamento de que o dispositivo examinado, “longe de comprometer os valores constitucionais consagrados no art. 225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário, mecanismos que permitem um real controle, pelo Estado, das atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente [...]”. 17 Art. 20. São bens da União: IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; § 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração
72
Em julgamento da já citada ADI 3.540-MC pelo STF, o Ministro relator
Celso de Mello também se manifestou sobre o suposto choque entre a
preservação do meio ambiente e a realização de atividade econômica:
“A atividade econômica não pode ser exercida em
desarmonia com os princípios destinados a tornar efetiva a
proteção ao meio ambiente. A incolumidade do meio
ambiente não pode ser comprometida por interesses
empresariais nem ficar dependente de motivações de índole
meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que
a atividade econômica, considerada a disciplina
constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros
princípios gerais, àquele que privilegia a “defesa do meio
ambiente” (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e
abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio
ambiente cultural, de meio ambiente artificial (urbano) e de
meio ambiente laboral. Os instrumentos jurídicos de caráter
legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a
tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as
propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que
provocaria inaceitável comprometimento da saúde,
segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além
de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental,
considerado este em seu aspecto físico ou natural” (STF,
2005).
Cumpre ao Estado fixar política ambiental tendente a proteger os recursos
naturais sem que se trave imotivadamente o desenvolvimento industrial, já que
este gera em grande medida a melhoria na qualidade de vida da população em
geral. O ideal a ser buscado é justamente o ponto de equilíbrio no qual os
recursos naturais sejam protegidos para que sua contaminação (muitas vezes
inevitável) se dê em nível aceitável, e que permita o desenvolvimento econômico.
Obviamente não é tarefa das mais simples, porém o Estado possui à sua
disposição série de ferramentas hábeis a proporcionar a devida intervenção na
esfera econômica para conseguir os objetivos desejados (LINS, 2016).
73
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 170, estabelece as bases da
ordem econômica e elenca entre os seus princípios a defesa do meio ambiente,
prevendo tratamento diferenciado de acordo com o impacto ambiental da
produção e do consumo de produtos e serviços, como técnica de defesa do meio
ambiente, a partir da promulgação da Emenda Constitucional 42/03 (BRASIL,
2003) que deu nova redação ao inciso VI do art. 170 da Carta Magna:
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar
a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios: VI - Defesa do
meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de
seus processos de elaboração e prestação” (BRASIL, 2003,
Seção I, p. 1).
A utilização de instrumentos jurídicos constitucionais e legais em prol da
tutela ambiental é permitido pela Suprema Corte e nesse sentido, o Estado passa
de mero expectador para agente transformador em busca dos ideais
consignados na Constituição da República.
Dentre esses instrumentos, a utilização de tributação com o fim de
preservação ambiental é tida como forma eficiente e viável de promover a
ingerência na liberdade individual do contribuinte, estimulando-o à tomada de
práticas preservacionistas e restringindo empreitas poluidoras. Essa função da
tributação, chamada de extrafiscal, quando voltada para o direito ambiental, e se
bem utilizada, alcança dupla finalidade: a de condicionar um comportamento
pretendido pelo legislador e a de incluir o valor das externalidades negativas
decorrentes da atividade produtiva no montante a ser recolhido ao erário
prestigiando o princípio ambiental do poluidor-pagador (LINS, 2016).
Na lição de Ribas e Silva (2011) a extrafiscalidade é um instrumento de
intervenção na sociedade, por intermédio de veículo tipicamente fiscal: a Lei
Tributária, para organizá-la de acordo com determinadas políticas e alcançar
determinadas finalidades. Para Ribas e Silva (2011) não é o tributo que é
extrafiscal. O tributo é um tributo. O que é extrafiscal, na verdade, são as
medidas, os modos como esta ferramenta é utilizada.
74
Consiste basicamente no emprego de fórmulas jurídico-tributárias para a
obtenção de metas que prevalecem sobre os fins simplesmente arrecadatórios
de recursos financeiros (CARVALHO, 2017).
Para Ribas (2005) os chamados tributos com fins ambientais vão além da
mera função arrecadatória e se prestam efetivamente a auxiliar na transição da
economia tradicional à sustentável. O sistema tributário, juntamente com o
arcabouço de licenças e autorizações presentes no sistema administrativo,
permite a consecução da vontade constitucional de promover o equilíbrio
ecológico, colaborando para a preservação ambiental.
A Constituição de 1988 reiterou o tratamento que as suas predecessoras
ofereciam aos recursos minerais taxando-os categoricamente como bens da
União. Como resultado – já que o produto da lavra passava à propriedade do
explorador – a Carta Magna instituiu a Compensação Financeira pela Exploração
dos Recursos Minerais, comumente chamada de CFEM, como alternativa de
receita originária diante da exploração por um terceiro através de concessão
(Constituição, art. 20, IX e § 1º).
O objetivo do Constituinte ao instituir a CFEM foi estabelecer uma
compensação pela degradação ambiental acarretada pela atividade mineradora,
bem como para que os seus valores fossem investidos no desenvolvimento de
potencialidades para a diversificação da economia do município, diminuindo a
dependência local em relação à atividade mineral, por se tratar de recurso não
renovável e que, ao longo do tempo, se esgotará (BRASIL, 1989b).
A Lei 7.990, de 28 de dezembro de 1989 (BRASIL, 1989b) que instituiu
a compensação financeira pelo resultado da exploração da lavra – CFEM prevê
uma contraprestação pecuniária pela utilização econômica dos recursos
minerais em seus respectivos territórios, definidas em princípio pela Lei 8.001
(BRASIL, 1990), de 13 de março de 1990 em até 4% sobre o valor do
faturamento líquido apurado com a venda do produto mineral.
Entretanto, em dezembro de 2017 a Lei 13.540/17 (BRASIL, 2017)
alterou as Leis nos 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e 8.001, de 13 de março
de 1990, no concernente a base de cálculo da CFEM (não mais sobre o
faturamento líquido)18, bem como no que se refere ao percentual de incidência
18 Nova Redação dada pela Lei 13.540/2017 para a Lei 8.001/90: Art. 2o As alíquotas da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) serão aquelas constantes do Anexo desta Lei, observado o limite de
75
da CFEM, de acordo com a substância mineral, constante do Anexo da Lei
(Quadro 3)
Quadro 3. Alíquotas para fins de incidência da compensação financeira pela
exploração de recursos minerais (CFEM)
Alíquota Substância mineral
(VETADO) (VETADO)
1% (um por cento)
Rochas, areias, cascalhos, saibros e demais
substâncias minerais quando destinadas ao
uso imediato na construção civil; rochas
ornamentais; águas minerais e termais
1,5% (um inteiro e cinco
décimos por cento) Ouro
2% (dois por cento) Diamante e demais substâncias minerais
3% (três por cento) Bauxita, manganês, nióbio e sal-gema
3,5% (três inteiros e cinco
décimos por cento) Ferro, observadas as letras b e c deste Anexo
Fonte: Brasil (2017, p. 7).
Enríquez (2007) explica que a taxa cobrada é baixa quando comparada
com os padrões internacionais e ao ser cobrada sobre o faturamento líquido isso
dificulta o recolhimento dos royalties, pois muitas empresas não têm dados
confiáveis. Além disso, os municípios que não têm exploração mineral, mas que
são afetados pelas externalidades negativas da mineração em um município
vizinho não recebem benefícios dos royalties. E mais importante, a União, os
Estados e municípios estão consumindo boa parte dos recursos ao invés de
reinvesti-los em setores produtivos, e uma vez que as prestações de contas do
4% (quatro por cento), e incidirão: : I - na venda, sobre a receita bruta da venda, deduzidos os tributos incidentes sobre sua comercialização; II - no consumo, sobre a receita bruta calculada, considerado o preço corrente do bem mineral, ou de seu similar, no mercado local, regional, nacional ou internacional, conforme o caso, ou o valor de referência, definido a partir do valor do produto final obtido após a conclusão do respectivo processo de beneficiamento; III - nas exportações, sobre a receita calculada, considerada como base de cálculo, no mínimo, o preço parâmetro definido pela Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério da Fazenda, com fundamento no art. 19-A da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, e na legislação complementar, ou, na hipótese de inexistência do preço parâmetro, será considerado o valor de referência, observado o disposto nos §§ 10 e 14 deste artigo; IV - na hipótese de bem mineral adquirido em hasta pública, sobre o valor de arrematação; ou V - na hipótese de extração sob o regime de permissão de lavra garimpeira, sobre o valor da primeira aquisição do bem mineral.
76
uso dos royalties em todos os níveis governamentais são falhas, isso dificulta
mais ainda a fiscalização.
A distribuição mensal da CFEM também mereceu recente alteração
trazida pela Lei 13.661, de 09 de maio de 2018 (BRASIL, 2018), devendo os
valores arrecadados serem divididos da seguinte forma:
I. 25% (vinte e cinco por cento) aos Estados;
II. 65% (sessenta e cinco por cento) aos Municípios;
III. 3% (três por cento) ao Ministério do Meio Ambiente;
IV. 3% (três por cento) ao Ministério de Minas e Energia;
V. 4% (quatro por cento) ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico – FNDCT.
A CFEM tem a vantagem de beneficiar majoritariamente o município
produtor (65%) e de não estar vinculada a gasto específico, possibilitando ao
gestor público usá-la em prol da sustentabilidade ambiental. O Brasil é um dos
poucos países que repassa os royalties para o município produtor. Caso a
extração abranja mais de um município, é observada a proporcionalidade da
produção efetivamente ocorrida em cada um deles. Assim, por ser o município o
ente que fica com a maior parcela da Compensação, ele é a parte mais
interessada na sua distribuição.
O município de Corumbá-MS possui a décima maior arrecadação de
CFEM entre os municípios brasileiros, compreendendo a maior arrecadação da
região Centro-Oeste (BRASIL, 2016b).
Convém esclarecer que a CFEM não é tributo e tampouco sanção por ato
ilícito, mas receita originária devida por ocasião da exploração de particulares
dos recursos minerais (de propriedade da União) nos termos do art. 20, IX e art.
176, ambos da CF19
A Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais
(CFEM), foi criada sob a ideia de uma compensação para toda a coletividade
afetada pelos efeitos maléficos produzidos pela atividade mineradora, mas foi
19 Art. 176 CF. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra.
77
compreendida pelo Supremo Tribunal Federal como “participação nos resultados
da exploração”, dando origem a uma série de discussões (BEZERRA, 2011).
No voto do Ministro Sepúlveda Pertence, relator do RE 228800, ficou
claramente consignado o entendimento da Corte Suprema a respeito:
“Na verdade – na alternativa que lhe confiara a Lei
Fundamental – o que a Lei n. 7.990/89 institui, ao
estabelecer no art. 6º que “a compensação financeira pela
exploração de recursos minerais, para fina de
aproveitamento econômico, será de até 3% sobre o valor do
faturamento líquido resultante da venda do produto mineral”,
não foi verdadeira compensação financeira; foi, sim, genuína
“participação no resultado da exploração”, entendido o
resultado não como o lucro do explorador, mas como aquilo
que resulta da exploração, interpretação que revela o
paralelo existente entre a norma do art. 20, § 1º, e a do art.
176, § 2º, da Constituição, verbis: ‘§ 2º É assegurada
participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra,
na forma e no valor que dispuser a Lei. Ora, tendo a
obrigação prevista no art. 6º da Lei n. 7.990/89 a natureza
de participação no resultado da exploração, nada mais
coerente do que consistir o seu montante numa fração do
faturamento” (STF, 2001b).
A arrecadação da CFEM também funciona como importante indicador de
desempenho econômico da mineração e tem sido apontada como um
instrumento de grande potencial para minimizar os problemas socioeconômicos
dos municípios de base mineira provocados pelo encerramento da mineração,
mas que ainda ressente de um aparato legal e institucional que discipline sua
aplicação para que os municípios não caiam na armadilha do “caixa único” e
equidade intergeracional (ENRÍQUEZ, 2007).
BORGES e BORGES (2011), em estudos que analisaram a utilização e
destino dos recursos provenientes dos royalties na promoção do
desenvolvimento social, constataram que a ausência de estratégias sólidas de
ação da gestão pública de Parauapebas (município paraense com maior receita
78
de royalties do estado), impediu que os recursos oriundos dos royalties minerais
se traduzissem organizadamente em desenvolvimento no campo social.
Enríquez (2000) constatou que o município de Oriximiná no Pará provavelmente
utilizou o dinheiro dos royalties da mineração para pagamento de funcionários,
pois a receita municipal sem royalties foi insuficiente para cobrir os gastos com
o funcionalismo. Já a pesquisa de Enríquez (2007) permitiu verificar que entre
os 15 municípios mineradores analisados (dentre os quais Corumbá-MS),
apenas dois deles, Itabira (MG) e Forquilhinha (SC) vinculara o recolhimento dos
royalties a uma estratégia de desenvolvimento sustentável mesmo após 14 anos
de efetivo recolhimento.
Quanto à aplicação da CFEM, o Art. 26 do Decreto 01/1991 determina
apenas que esses recursos não podem ser utilizados para pagamento de dívidas
ou no quadro permanente de pessoal. Segundo orienta o DNPM, as receitas da
CFEM devem ser aplicadas em projetos que, direta ou indiretamente, revertam
em prol da comunidade local, na forma de melhoria da infraestrutura, da
qualidade ambiental, da saúde e da educação. Nesse sentido, Enríquez (2007)
aponta que na maioria dos grandes municípios mineradores os recursos da
CFEM entram no caixa da prefeitura e são diluídos nas despesas correntes, não
desenvolvendo, com isso, oportunidades de geração de emprego e renda que
poderiam amenizar os efeitos da pobreza e da dependência excessiva da
mineração.
O trabalho de Enríquez (2007) realizou visitas aos 15 maiores municípios
de base mineradoras do Brasil (dentre eles Corumbá) e buscou verificar o uso
da renda mineral por estes. De acordo com o estudo, os grandes produtores (14)
têm uma grande dependência em relação à receita (40%) e empregos (47%)
proporcionados pela atividade minerária. Já a CFEM nesses municípios
corresponde, em média, a 16% das receitas municipais, com uma maior
dependência para os da região norte e nordeste. Esses números refletem as
situações de vulnerabilidade que passam vários municípios, e subestimam as
conjunturas graves de outros, que sofrem com os prestes esgotamentos de suas
jazidas.
É importante salientar que há uma demanda social (principalmente, de
ambientalistas) e das empresas produtoras, que percebem uma má aplicação da
CFEM, para uma regulamentação do uso. Enríquez (2007) sintetizou os
79
principais problemas da CFEM, de forma a apontar um diagnóstico e soluções
para uma futura reforma (regulamentação) da Compensação:
Alíquota – alguns produtos ligados ao potássio, sofrem dupla
interpretação quanto a aplicação de sua alíquota. Já que mais de 90%
deste minério é destinado à produção de fertilizantes, que possui uma
alíquota diferente;
Receita líquida – conceito a ser melhor definido, já que os custos
apontados pela lei não são exatamente descritos;
Uso – além da falta de fiscalização, não está claro na lei onde deve ser a
aplicação efetiva;
Fiscalização – compensação é cobrada das empresas legais, porém as
informais não repassam nenhum valor para os entes.
Dessa forma, há um descontentamento social a respeito do uso da CFEM,
que vem sendo aplicada à revelia em muitos municípios e estados, que incorrem
no problema do “caixa único”, empregando sua renda, inclusive, com despesas
pessoais (CNM, 2012).
Enríquez (2000, p. 12) conclui sua pesquisa sobre a CFEM sugerindo que:
“Os royalties sejam utilizados principalmente em
investimentos voltados ao desenvolvimento humano (saúde,
educação e saneamento) e sejam destinados à criação de
um fundo de empréstimos para a população mais carente e
para pequenas empresas. É preciso também, que haja uma
melhor participação da sociedade tanto no planejamento da
utilização dos royalties como na fiscalização deste recurso.
Para que essas mudanças ocorram, é necessária a
implementação de conselhos municipais formados pelos
representantes organizados da sociedade local. Com essas
modificações, os minérios poderão continuar sendo
explorados sem que haja preocupação com a finitude de
seus estoques e as futuras gerações não ficarão com suas
rendas comprometidas”.
80
É inegável que CFEM contribui para fortalecer as finanças públicas, mas
os municípios deveriam buscar outras fontes de receita, no intuito de diminuir a
dependência quanto a CFEM, considerando a instabilidade dessas rendas, seja
pela volatilidade dos preços das commodities minerais e pela esgotabilidade dos
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Segurança Regular e Especial, da Revisão Periódica de Segurança de Barragem
e do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração, conforme art.
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6. Artigos
Artigo I
Impactos socioeconômicos da atividade mineradora em Corumbá, Mato
Grosso do Sul
Tchoya Gardenal Fina do Nascimento
Resumo
O município de Corumbá localiza-se em Mato Grosso do Sul, na fronteira
com a Bolívia. Na região a atividade extrativa mineral de ferro e manganês é a
maior fonte de receita para o Município. Objetiva-se com o presente trabalho
levantar e analisar os índices econômicos do município de Corumbá e relacioná-
los com a atividade mineradora na região para comparar os índices de
desenvolvimento social do município, elegendo-se como parâmetros o Produto
Interno Bruto Municipal e Per capita de 2002 a 2011, as informações constantes
no PNUD com relação `a renda, pobreza e desigualdade no período de 1991,
2000 e 2010, as informações sobre emprego, renda, número de admissões e
demissões no setor durante o período de 2010 a 2018 (MTE, 2016), o volume de
exportação de produtos da extração mineral no período de 2010 a 2017, os
valores recebidos pelo município pela CFEM – Compensação financeira pela
exploração mineral de 2010 a 2018, em contrapartida aos índices de IDH (1991,
2000 e 2010) e IFDM do período de 2000 a 2011, que demonstram a situação
do município no tocante a educação, longevidade, mortalidade, saúde, emprego
e renda. A pesquisa é quali-quantitativa, realizando-se revisão bibliográfica e
análise documental. Apresenta-se como resultado das análises dos Índices
socioeconômicos IDHM e IFDM que os valores milionários de CFEM recebidos
pelo município não são revertidos em desenvolvimento humano. A atividade
mineradora promove o crescimento econômico e não o desenvolvimento
traduzindo-se em concentração de riqueza, baixa qualificação profissional,
ausência de políticas de desenvolvimento e degradação ambiental. Nos anos em
que os repasses da CFEM foram maiores, o índice de desemprego aumentou e
não houve investimento na saúde e educação proporcionais ao aumento de
arrecadação do município, demonstrando que a receita advinda da atividade
mineradora não promove o desenvolvimento local.
99
Palavras-chave: Mineração; Crescimento econômico; Desenvolvimento
econômico.
Abstract
Socioeconomic impacts of mining activities in Corumbá, Mato Grosso do
Sul. The municipality of Corumba is located in Mato Grosso do Sul, on the border
with Bolivia. In this region, the mineral extractive activity of iron and manganese
is the main source of revenue for the municipality. The goals of this work is to
identify and analyze the economic indexes of municipality of Corumbá and to
relate them to the mining activities in region to compare the social development
indices of municipality, being chosen as parameters the Municipal Gross
Domestic Product and per capita from 2002 to 2011, the UNDP information of
income, poverty and inequality in the period 1991, 2000 and 2010, information
on employment, income, number of admissions and dismissals in the sector
during the period from 2010 to 2018 (MTE, 2016), the volume of exports of
mineral extraction products in the period from 2010 to 2017, the values received
by municipality by CFEM – Financial compensation for mineral exploration from
2010 to 2018, as a counterpart to the HDI (1991, 2000 and 2010), and IFDM
indices from the period 2000 to 2011, which demonstrated the situation of the
municipality in terms of education, longevity, mortality, health, employment and
income. The research is quali-quantitative, being carried out bibliographical
review and documentary analysis. As a result of the analysis of the
socioeconomic HDI and IFDM indexes, that millionaire values of CFEM received
by municipality are not reverted in human development. The mining activity
promotes economic growths and not the development, translate into
concentration of wealth, low professional qualification, absence of policies of
development and environmental degradation. In the years in which CFSP
transfers were large, the unemployment rate increased and there was no
investment in health and education in proportion to the increase in municipal
revenue, demonstrating that revenue from mining activity does not promote local
development.
Keywords: mining, economic growth, economic development.
100
Introdução
O município de Corumbá, com uma população estimada em 109.899
habitantes (IBGE, 2018) desponta como um dos principais municípios
mineradores do país. Situado na região do Pantanal do Estado de Mato Grosso
do Sul, na fronteira com a Bolívia, abriga em seu território a terceira reserva de
minério de ferro do Brasil e a maior reserva de manganês do país. A maior jazida
de minério de ferro está localizada em Minas Gerais, no Quadrilátero do ferro, a
segunda maior localiza-se no Pará, na Serra dos Carajás e a terceira maior
jazida de ferro está no Mato Grosso do Sul, no Maciço do Urucum, em Corumbá-
MS. No maciço do Urucum encontra-se também a maior reserva de manganês
do país (BRITO, 2011a).
A indústria extrativista mineral é a principal fonte de riquezas para a cidade
de Corumbá/MS, superando a arrecadação de impostos gerada pelos setores da
pecuária e agricultura considerada de fundamental importância sócio econômica
para o município, gerando aproximadamente 2.000 empregos diretos e
representando a maior fonte de receita para o Município (MTE, 2016). Entretanto,
esta atividade acarreta severos efeitos ambientais, quer sobre o solo, ar, água,
biota, população do entorno e seus empregados, sendo considerada uma das
atividades mais perigosas à saúde humana (OLIVEIRA, 2001), além de impactos
sociais (LINS, 2015) e ao meio ambiente do trabalho (SILVA, 2016).
Objetiva-se com o presente trabalho levantar e analisar os índices
econômicos (PIB, PIB per capita) do município de Corumbá e relacionar com a
atividade mineradora na região e comparar com os índices de desenvolvimento
econômico (IDH, IFDM), apresentando os resultados relativos a qualidade de
vida da população, apurando-se as condições da educação, saúde, emprego e
renda, distribuição de renda, a média remuneratória, bem como o volume de
exportação e os royalties recebidos pela exploração mineral, bem como a
capacitação profissional estimulada pelo setor minerador na região.
Material e Métodos
O município de Corumbá localiza-se em Mato Grosso do Sul, na fronteira
com a Bolívia, distante 426 quilômetros de Campo Grande - MS, capital do
Estado. Em Corumbá está localizada a maior reserva de manganês e a terceira
maior reserva de minério de ferro do Brasil (Figura 1).
101
A pesquisa utilizou método quantitativo indireto, de natureza documental,
em fontes secundárias (livros, teses, dissertações, artigos e imprensa escrita).
As fontes bibliográficas de interesse foram analisadas e fichadas com o propósito
de verificar se a atividade mineradora traz desenvolvimento econômico para
Corumbá e região, elegendo-se como parâmetros o Produto Interno Bruto
Municipal e Per capita de 2002 a 2011, as informações constantes no PNUD com
relação a renda, pobreza e desigualdade no período de 1991, 2000 e 2010, as
informações sobre emprego, renda, número de admissões e demissões no setor
durante o período de 2010 a 2018 (MTE, 2016), o volume de exportação de
produtos da extração mineral no período de 2010 a 2017, os valores recebidos
pelo município pela CFEM – Compensação financeira pela exploração mineral
de 2010 a 2018, em contrapartida aos índices de IDH (1991, 2000 e 2010) e
IFDM do período de 2000 a 2011, que demonstram a situação do município no
tocante a educação, longevidade, mortalidade, saúde, emprego e renda.
Figura 1. Localização de Corumbá-MS. Fonte: IBGE (2000) apud Souchaud e
Baeninger (2008, p. 272).
102
Resultados e Discussão
A Atividade Minerária e o Desenvolvimento Local e Regional
O município de Corumbá possuía em 2010, ano do último censo, 103.703
habitantes, sendo a quarta cidade mais populosa do Estado e com uma variação
de 8,36% de crescimento populacional em relação ao censo de 2000. De acordo
com estimativas de 2017 do IBGE, atualmente Corumbá possui uma população
de 109.899 habitantes distribuídos por 32.259 domicílios, sendo o quarto
município mais populoso de Mato Grosso do Sul. É também o 18º mais populoso
do Centro-Oeste do Brasil, o 5º município fronteiriço mais populoso do Brasil
(IBGE, 2013).
A cidade possui aproximadamente 10 mil habitantes vivendo na zona rural
em decorrência do grande número de fazendas presentes na região. Em termos
econômicos, seu PIB, a preços correntes, em 2013, é o quarto maior do Estado
somando R$ 2.782.780.000 (dois bilhões e setecentos e oitenta e dois milhões
e setecentos e oitenta mil reais) (PNUD, 2013).
As explicações teóricas que procuram analisar o desenvolvimento de
regiões com base produtivas assentadas na extração de recursos naturais,
incluindo os minerais, representam formas de traduzir significados de ganhos e
perdas para essas regiões e sociedades que a vivenciam (CHAGAS, 2013).
Atualmente, encontram-se operando na região de Corumbá as seguintes
empresas do setor de mineração:
1) Companhia Vale do Rio Doce (VALE) - com controle da Urucum
Mineração (UMSA), produziu nos primeiros nove meses de 2017 um total
de 1.77 milhão t ano-1 de minério de ferro, com licença para até 2.350.000
t ano-1 (LO), resultado 13,9% maior que o mesmo período de 2016, além
da produção de minério de manganês que chegou a 495 mil t ano-1,
podendo atingir 750.000 t ano-1 (LO) (VALE, 2018);
2) Mineração Corumbaense Reunida (MCR/VALE S. A.) - empresa da
multinacional Rio Tinto do Brasil (RTB), subsidiária integral da Vale do Rio
Doce, com produção de 3 milhões de t ano-1, mas com anuência do
IBAMA para explorar até 6 milhões t ano-1 (ZERLOTTI, 2010);
3) Corumbá Mineração Ltda. (COMIN) - empresa de mineração de ferro gusa
ligada ao Grupo Siderúrgico Vetorial, com a produção de 670.000 t ano-1,
103
posicionando a empresa entre as três maiores do Brasil (VETORIAL,
2018);
4) Mineração Pirâmide Participações Ltda. (MPP) - lavra experimental, de
produção anunciada de 180.000 t ano-1, podendo chegar a 1.440.000 t
ano-1. É fornecedora da SIDERUNA, em Campo Grande, empresa do
Grupo Vetorial (LINS, 2015); e,
5) Granhas Liga Ltda: Reativada em Corumbá em 2016 é a terceira maior
produtora de ferroliga do Brasil, situada em Minas Gerais e Mato Grosso
do Sul, possuindo suas unidades em Conselheiro Lafaiete, São João Del
Rei e Corumbá (GRANHAS LIGAS, 2018).
Os principais problemas e preocupações da região de estudo foram
descritos por Azevedo e Delgado (2002), destacando como positivo o
desenvolvimento econômico, geração de emprego, geração de receita e
compromisso social das empresas mineradoras, mas com negativos impactos:
Ambientais: Desmatamento (vegetação nativa), Disponibilidade hídrica na
região da morraria, Dinâmica hidrológica, Degradação dos corpos d’água
associada à atividade de mineração, sensibilidade do ecossistema
Pantanal, especificidade da dinâmica hidrológica do pantanal, pesca
predatória (modalidade esportiva) e Poluição do ar e do solo associada à
atividade de mineração;
Sociais: Pobreza, baixa qualidade da educação, baixa taxa de
alfabetização, tráfico e consumo de drogas, prostituição (inclusive infantil)
e precariedade da infraestrutura de serviços;
Econômicos: Estagnação econômica, baixa qualificação profissional,
desemprego, poucas oportunidades de emprego e renda, ausência de
políticas de desenvolvimento regional e pouco investimento na vocação
turística da região;
Institucionais: Ausência de instrumentos e políticas de ordenamento
territorial, ausência de planejamento estratégico sistemático, baixa
capacitação dos órgãos de controle e fiscalização, legitimidade
insuficiente dos processos de licenciamento ambiental, pressão política
na tomada de decisões.
104
Para Hirschiman (1983), as economias extrativas não apresentam
capacidade de impulsionar processos dinâmicos de desenvolvimento, pois não
desencadeiam efeitos de “linkagem”, relações econômicas em cadeia “para
frente” e “para trás”, observadas em regiões industrializadas. O ideal seria a
implementação de indústrias que, ao mesmo tempo em que fossem produtoras
de bens finais, fossem fornecedoras de insumos.
Por crescimento econômico entende-se aquele que promove o
crescimento da população e da renda, enquanto o desenvolvimento promove a
elevação da vida da população (SANTOS e SANTOS, 2012).
A diferença entre crescimento e desenvolvimento é que o crescimento
não conduz automaticamente à igualdade nem à justiça social; o
desenvolvimento, por sua vez, preocupa-se com a geração de riquezas, mas tem
o objetivo de distribuí-las, de melhorar a qualidade de vida de toda a população,
levando em consideração, portanto, a qualidade ambiental do planeta (OLÍMPIO,
2012).
Para Veiga (2010, p. 46-47), “... uma coisa é medir desempenho
econômico, outra é medir qualidade de vida (ou bem-estar), e uma terceira é
medir a sustentabilidade do desenvolvimento ...”.
“Primeiro, o desempenho econômico não poderá continuar
a ser avaliado com o velho viés produtivista, e sim por
medida da renda familiar disponível. Segundo, será
necessária uma medida de qualidade de vida (ou bem-estar)
que incorpore as evidências científicas desse novo ramo que
é a economia da felicidade” (VEIGA, 2010, p. 49).
Nos municípios mineradores verifica-se a denominada “maldição da
mineração”, em que parcela do efeito positivo que decorre do incremento da
economia é absorvida pelos efeitos negativos da atividade que seriam os
impactos sobre o meio ambiente e sobre a saúde das pessoas, além de geração
de subempregos e má distribuição de renda.
Nas pesquisas realizadas em 18 municípios mineradores, Bernardo
(2018), constatou que nas regiões de base mineral, as taxas de crescimento são
inferiores às das regiões nas quais a atividade é inexpressiva. Os resultados
indicaram que, embora a atividade mineradora gere receitas para o município, a
105
presença dela tem um efeito negativo sobre o índice de desenvolvimento
municipal (BERNARDO, 2018).
Para Chagas, a quebra do paradigma da “maldição dos recursos minerais”
não é tarefa fácil e experiências tem refutado tal possibilidade, sobretudo quando
se avaliam casos de exploração mineral em regiões pobres do planeta, onde os
efeitos desenvolvimentistas não se concretizaram, além de herdar graves
passivos socioambientais (CHAGAS, 2013).
Embora haja conflito aparente, os sistemas econômico e ecológico não
são conflitantes. Na verdade, “os sistemas econômicos dependem, para a sua
sobrevivência, dos sistemas ecológicos” (SACHS, 1993, p. 36). Para Sachs
(2008, p. 13), “... o crescimento é uma condição necessária, mas de forma
alguma suficiente (muito menos é um objetivo em si mesmo), para se alcançar a
meta de uma vida melhor, mais feliz e mais completa para todos ...”.
É inegável que a indústria extrativa mineral gera um efeito multiplicador
na economia, tanto na produção como no emprego, pois os bens que extrai
fornecem insumos para a indústria de transformação e para o setor de
construção, e os seus empreendimentos geram, na sua esfera de influência,
amplo conjunto de atividades conexas de bens e serviços. Contudo, apesar de
gerar riqueza e crescimento econômico, sendo um dos importantes setores da
economia brasileira, a indústria extrativa mineral está entre as atividades
antrópicas que mais causam impactos socioeconômicos e ambientais negativos,
afetando o território onde se realiza a mineração (ENRÍQUEZ, et al, 2011).
Para avaliar o impacto da mineração sobre o desenvolvimento econômico,
na perspectiva de servirem como ponto de referência para demonstrar o
crescimento e/ou desenvolvimento da região, foram utilizados os seguintes
indicadores: PIB - produto interno bruto e os Índices IDHM – índice de
Desenvolvimento Humano Municipal, que congrega as dimensões longevidade,
educação e renda e o IFDM - Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal, que
congrega educação, saúde e o emprego e renda.
A modernização e industrialização da China trouxeram um ciclo de
expansão da indústria extrativista mineral brasileira, pois mesmo sendo a maior
produtora mundial de minério de ferro e aço, também é a maior compradora do
minério de ferro do Brasil. A demanda chinesa criou um superciclo da mineração
nos últimos anos (BRITO, 2011a).
106
Produto Interno Bruto - PIB
O aspecto econômico talvez seja a dimensão na qual mais claramente
evidencia-se o retorno positivo da atividade mineira, pela arrecadação de
impostos, dinamização das trocas comerciais locais, aumento do número de
emprego, etc. No entanto, mesmo nesta dimensão há desafios consideráveis, no
território minerado e no seu entorno, pois a mineração, ao atrair grandes
contingentes de trabalhadores de outras localidades, costuma provocar aumento
nos preços de bens e serviços locais, além de representar uma ameaça à
independência econômica da comunidade, se não houver diversificação
produtiva (ENRÍQUEZ et al., 2011).
O crescimento econômico do município está representado pelo aumento
do Produto Interno Bruto – PIB, que considera a soma (em valores monetários)
de todos os bens e serviços finais produzidos em determinado município, durante
um período de tempo (LINS, 2015). Esse indicador se presta a mensurar a
atividade econômica de uma região, por isso é um dos mais utilizados na
macroeconomia (Figura 2).
Figura 2. Composição do PIB do município de Corumbá de 1980 a 2010, Mato
Grosso do Sul. Fonte: Adaptado de IBGE (2013).
107
Na figura 2, ficou demonstrado que, na década de 80, Corumbá passou
de uma economia agroindustrial para uma economia voltada para o setor de
serviços e indústria.
Analisando as alterações do PIB conforme a figura 2, verifica-se que nos
últimos trinta anos o setor de serviços passou de 34% para 55%, enquanto que
o setor da Agroindústria diminuiu de 45% para 9% sua composição no PIB do
município.
A extração mineral em Corumbá contribui significativamente para o
crescimento do PIB do município de Corumbá (Figura 3).
Figura 3. Participação do PIB Industrial no PIB de Corumbá de 1980 a 2011,
Mato Grosso do Sul. Fonte: IBGE (2013).
Complementando as informações da Figura 2, que trata da composição
do PIB de Corumbá, a Figura 3 demonstra que a participação do PIB da
agroindústria diminuiu de 45% para 6% enquanto que o PIB dos serviços passou
de 34% em 1.980 para 58% em 2011. O PIB da Indústria, com constantes
alterações nos últimos trinta anos, em 2011 representou 17% do PIB do
município.
A Tabela 1 abaixo indica que o PIB de Corumbá cresceu 8,70% no período
de aproximadamente 10 anos (2002 a 2011), percentual bem superior ao PIB
108
brasileiro que foi de 3,78% (IBGE, 2013) e de Mato Grosso do Sul (SEMAD,
2016), ratificando o crescimento econômico no período.
Tabela 1. PIB Municipal de Corumbá, Mato Grosso do Sul de 2002 a 2011
Ano PIB municipal a preços de 2011 Taxa de crescimento (%)
Milhares de reais
2002 1.807.229,93
2003 2.091.712,23 15,74
2004 2.067.397,64 -1,16
2005 2.437.786,80 17,92
2006 3.028.510,74 24,23
2007 2.924.091,60 -3,45
2008 3.652.564,02 24,91
2009 3.188.996,35 -12,69
2010 3.539.535,90 10,99
2011 3.602.829,51 1,79
Média de crescimento 8,70
Fonte: IBGE (2013).
Segundo dados PNUD (2013), a renda per capita média de Corumbá
cresceu 75,88% nas últimas duas décadas, passando de R$ 356,56, em 1991,
para R$ 451,78, em 2000, e para R$ 627,10, em 2010. Isso equivale a uma taxa
média anual de crescimento nesse período de 3,02%.
O crescimento econômico demonstrado na Tabela 1 também repercutiu
no PIB per capita do Município, sempre ascendente, conforme Tabela 2. O PIB
per capita é definido como a divisão do valor corrente do PIB pela população
residente no meio do ano (IBGE, 2013).
A proporção de pessoas pobres, ou seja, com renda domiciliar per capita
inferior a R$ 140,00 (a preços de agosto de 2010), passou de 40,44%, em 1991,
para 32,24%, em 2000, e para 16,11%, em 2010. A evolução da desigualdade
de renda nesses dois períodos pode ser descrita através do Índice de Gini20, que
20 Índice Gini é um instrumento usado para medir o grau de concentração de renda. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de 0 a 1, sendo que 0 representa a situação de total igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda, e o valor 1 significa completa desigualdadede renda, ou seja, se uma só pessoa detém toda a renda do lugar (PNUD, 2013).
109
passou de 0,60, em 1991, para 0,61, em 2000, e para 0,55, em 2010 (PNUD,
2013) (Tabela 2).
Tabela 2. Renda, pobreza e desigualdade - Município Corumbá, Mato Grosso
do Sul
1991 2000 2010
Renda per capita 356,56 451,78 627,10
% extremamente pobres 16,57 12,58 4,34
% pobres 40,44 32,24 16,11
Índice de GINI 0,60 0,61 0,55
Fonte: PNUD (2013).
O PIB per capita é utilizado para medir o quanto do total de riqueza
produzida cabe a cada indivíduo, se todos tivessem partes iguais. Entretanto,
conforme se verifica pelo comparativo com demais índices sociais (IDHM e
IFDM), a desigualdade social da região é alta, demonstrando a concentração de
riqueza e má distribuição de renda no Município. (Tabela 3)
Tabela 3. PIB Municipal per capita de Corumbá, Mato Grosso do Sul de 2002 a
2011
Ano População (em habitantes) (PIB per capita (em r$)
2002 96.599 18.709
2003 97.235 21.512
2004 97.947 21.107
2005 99.441 24.515
2006 101.089 29.959
2007 96.373 30.341
2008 99.106 36.855
2009 99.467 32.061
2010 103.703 34.131
2011 104.317 34.537
Fonte: IBGE (2013).
110
Nas últimas duas décadas diminuíram na cidade o número de pessoas
pobres e extremamente pobres. A desigualdade na distribuição de renda
também diminuiu de 0,60 em 1991 para 0,55 em 2010, entretanto continua alta
se considerarmos a grande elevação do PIB per capta e Municipal no período,
comprovando a concentração e má distribuição de renda.
Emprego e remuneração
Em 2016 as indústrias mineradoras empregavam 6,96% do total de
trabalhadores formais em Corumbá (MTE, 2016). Em 2013 o percentual de
empregabilidade das indústrias mineradoras era de 8,5% do total de
trabalhadores (MTE, 2013), o que demonstra a oscilação da empregabilidade da
região, refém do ciclo do mercado de exportação de minério de ferro e
manganês.
Nos anos de 2003 a 2012 o município obteve nove anos de saldo positivo
na geração de empregos (2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2010, 2011 e
2012), mas a partir da metade do ano de 2013, registrou-se uma queda tanto
nas admissões como nas demissões, sendo esta maior que as admissões, fator
este devido à crise que a economia brasileira entrou desde 2013 (Tabela 4).
Tabela 4. Admissão e demissão em Corumbá por setor (2007-2015)
Setor Admissão Demissão Saldo
Extrativo mineral 2282 2111 171
Indústria de transformação 3460 3487 -27
Serviços industrial de utilidade pública 296 316 -20
Construção civil 4743 4655 88
Comércio 10911 10442 469
Serviços 15498 14929 569
Agropecuária, ext. vegetal, caça e pesca 8706 8726 -20
Fonte: MTE (2016).
Importante destacar que para cada emprego direto gerado pela atividade
mineradora são estimadas a geração de três empregos indiretos (Tabela 5).
111
Tabela 5. Número de empregos em diversos setores e atividades em Corumbá-
MS - 2016
Total das Atividades
IBGE setor Masculino Feminino Total
Extração mineral 1.023 113 1.136
Indústria de transformação 896 235 1.131
Serviços industrial de utilidade pública 168 17 185
Construção civil 229 20 249
Comércio 2.079 1.430 3.509
Serviços 2.591 2.118 4.709
Administração pública 1.245 1.979 3.224
Agropecuária, ext. vegetal, caça e pesca 1.824 389 2.213
Total 10.055 6.301 16.356
Fonte: MTE (2016).
A atividade mineradora é a que oferece melhor média remuneratória,
valores superiores, inclusive, que a média salarial do serviço público, conforme
dados do Ministério do Trabalho e Emprego ISPER/RAIS21 (Tabela 6).
Tabela 6. Remuneração média de empregos formais de diversos setores em
Corumbá no ano de 2016, Mato Grosso do Sul
Setores IBGE
Setor Masculino Feminino Total
Extração mineral 4.376,81 4.006,76 4.337,83
Indústria de transformação 2.120,33 1.585,64 2.007,03
Serviços industrial de utilidade pública 1.790,84 1.446,41 1.754,92
Construção civil 1.301,79 1.187,50 1.292,01
Comércio 1.551,14 1.394,73 1.487,54
Serviços 2.524,48 2.141,95 2.351,70
Administração pública 4.216,78 3.251,89 3.625,72
Agropecuária, ext. vegetal, caça e pesca 1.603,04 1.325,15 1.554,53
Total 2.483,11 2.287,42 2.407,18
Fonte: MTE (2016).
21 RAIS: instrumento de coleta de dados instituída pelo Decreto nº 76.900, de 23/12/75 e tem por objetivos o suprimento às necessidades de controle da atividade trabalhista no País, o provimento de dados para a elaboração de estatísticas do trabalho e a disponibilização de informações do mercado de trabalho às entidades governamentais (MTE, 2016)
112
Em artigo apresentado para o 8º Encontro Científico de Administração,
Economia e Contabilidade - ECAECO, Castelão (2016), identificou as principais
características do mercado de trabalho do município de Corumbá no período de
2003 a 2015, apresentando as principais ocupações pelo critério de admissão,
devidamente registradas perante o Ministério do Trabalho e Emprego,
identificando que “o setor de serviços (46% do total) consolida-se como o
principal gerador de novos postos de trabalho entre 2007 a 2015 seguido pelo
comércio (38%) e a indústria extrativa (14%)” (CASTELÃO, 2016, p. 10). E
constata que “o Trabalhador de Pecuária Polivalente, Motorista de Caminhão
(Rotas Regionais e Internacionais) e Servente de Obras, são as principais
ocupações no município nos últimos nove anos” (CASTELÃO, 2016, p. 10).
Os dados apresentados demonstram a importância econômica da
atividade mineradora na região gerando 14% dos postos de trabalho nos últimos
9 anos e representando a melhor remuneração média entre os diversos
empregos formais de Corumbá (MTE, 2016). Entretanto, ao se adotar na região
o neoextrativismo, cujo enfoque é o crescimento econômico baseado na
apropriação de recursos naturais, com cadeias produtivas curtas (extração,
transporte e eventual processamento) e pouco diversificadas sem o potencial
agregador das indústrias de transformação, os níveis de emprego direto tendem
a reduzir. Ou seja, a economia mineral torna-se refém das oscilações do
mercado internacional de commodity mineral. Essa dinâmica tem se mostrado
concentradora de desigualdades e não geradora de alternativas no território
minerado (PEREIRA, 2016, p. 40).
A constatação de Pereira (2016, p. 40) se coaduna com a conclusão
apresentada por Castelão (2016) no sentido de que a taxa de rotatividade do
município anual e por setor, durante o período estudado (2003 a 2015) foi de
29% enquanto que a do Brasil é de 58%, consequência do baixo dinamismo da
economia corumbaense, não oferecendo muitas opções de trabalho, além de ser
dependente do movimento da indústria e comércio.
Exportação de produtos da extração mineral – 2000 a 2017
A indústria extrativista mineral é a principal fonte de riquezas para a cidade
de Corumbá, com arrecadação maior do que a de impostos originados pela
pecuária e agricultura.
113
Entretanto, o entendimento da atividade industrial de Corumbá passa pela
compreensão de inserção de seus produtos no mercado internacional. As
oscilações econômicas sofridas na conjuntura internacional e nacional tornam
suscetível a produção, o valor e importância da atividade em nível de geração
de impostos, renda e emprego (SOUZA et al., 2017).
De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços, em 2017, Mato Grosso do Sul exportou 3,742 milhões de toneladas de
minério de ferro, garantindo divisas de US$ 124,031 milhões. Alta ainda mais
expressiva foi registrada nas exportações de manganês. Embora com
participação inferior na balança comercial (1,89%), o minério gerou um
faturamento de US$ 90,615 milhões, 74,11% a mais em comparação a 2016.
No caso do manganês, Mato Grosso do Sul triplicou a lavra e atualmente
responde por 22% de toda produção brasileira. As maiores reservas estão em
Minas Gerais (87%), Mato Grosso do Sul (6,5%) e Pará (4,3%). A principal
aplicação do manganês é na fabricação de ligas metálicas (ferro-liga) (MIDC,
2018) (Figura 4)
Figura 4. Exportações do Minério de Ferro de Mato Grosso do Sul de 2012 a
2017. Fonte: MDIC (2018).
114
O crescimento nas exportações é reflexo da abertura da economia chinesa ao mercado global e seu imenso mercado
interno (BRITO, 2011b). A Tabela 7 demonstra a exportação da indústria mineraria, de 2000 a 2014, em reais.
Tabela 7. Exportação de Produtos da Extração Mineral (2000-2014)
Corumbá Mato Grosso do Sul
Ano Exportação Importação Saldo Exportação Importação Saldo
2000 38.431.398 112.201.108 -73.769.710 253.238.706 159.999.362 -327.008.416
2001 30.634.867 225.479.457 -194.844.590 473.680.363 281.842.770 -668.524.953
2002 38.322.518 264.460.082 -226.137.564 384.238.042 423.908.242 -610.375.606
2003 51.388.269 348.134.747 -296.746.478 498.338.890 492.867.629 -795.085.368
2004 59.652.817 552.942.298 -493.289.481 644.754.039 771.953.910 -1.138.043.520
2005 82.341.115 764.301.423 -681.960.308 1.149.121.782 1.080.011.655 -1.831.082.090
2006 115.737.960 1.240.548.131 -1.124.810.171 1.004.338.508 1.725.836.632 -2.129.148.679
2007 96.749.503 1.447.963.930 -1.351.214.427 1.297.176.760 2.189.887.974 -2.648.391.187
2008 330.963.134 2.681.554.211 -2.350.591.077 2.095.551.415 3.682.565.087 -4.446.142.492
2009 173.931.519 1.593.523.540 -1.419.592.021 1.937.634.439 2.690.230.313 -3.357.226.460
2010 376.382.660 2.133.937.698 -1.757.555.038 2.960.507.709 3.382.661.700 -4.718.062.747
2011 687.375.080 2.739.952.650 -2.052.577.570 3.916.260.636 4.469.067.323 -5.968.838.206
2012 400.208.386 3.248.559.140 -2.848.350.754 4.212.756.213 5.113.970.906 -7.061.106.967
2013 501.574.203 3.671.699.578 -3.170.125.375 5.256.284.227 5.753.054.417 -8.426.409.602
2014 579.111.252 3.550.337.947 -2.971.226.695 5.245.499.753 5.237.139.718 -8.216.726.448
Fonte: MDIC (2018)
Em 2000 as exportações de produtos oriundos da extração mineral representavam 1,5% (um e meio por cento) de toda
a exportação do Estado do Mato Grosso do Sul e em 2014 já representava 11% (onze por cento) das exportações.
115
Compensação financeira pela exploração mineral (CFEN) – royalty mineral
A Lei 7.990/89 instituiu a Compensação financeira pela exploração dos
recursos minerais – CFEM, estabelecendo prestação pecuniária aos entes da
federação em que ocorrerem a exploração da atividade mineradora. Os cálculos
variam de acordo com os recursos minerais.
A distribuição mensal da CFEM mereceu recente alteração trazida pela
Lei 13.661, de 09 de maio de 2018 (BRASIL, 2018), devendo o valor arrecadado
ser dividido da seguinte forma:
VI. 25% (vinte e cinco por cento) aos Estados;
VII. 65% (sessenta e cinco por cento) aos Municípios;
VIII. 3% (três por cento) ao Ministério do Meio Ambiente;
IX. 3% (três por cento) ao Ministério de Minas e Energia;
X. 4% (quatro por cento) ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico – FNDCT.
A CFEM tem a vantagem de beneficiar majoritariamente o município
produtor (65%) e de não estar vinculada a gasto específico, possibilitando ao
gestor público usá-la em prol da sustentabilidade ambiental. Segundo orienta o
DNPM, as receitas da CFEM devem ser aplicadas em projetos que, direta ou
indiretamente, revertam em prol da comunidade local, na forma de melhoria da
infraestrutura, da qualidade ambiental, da saúde e da educação.
Os valores milionários arrecadados pelo município de Corumbá como
compensação pela exploração mineral – CFEM sofreram grandes oscilações
entre 2010 e 2018, não alcançando as cifras previstas por Brito (2011), mas
representando importante receita para o município. Enríquez (2007) aponta que
na maioria dos grandes municípios mineradores os recursos da CFEM entram
no caixa da prefeitura e são diluídos nas despesas correntes, não
desenvolvendo, com isso, oportunidades de geração de emprego e renda que
poderiam amenizar os efeitos da pobreza e da dependência excessiva da
mineração. Em 2010 o município recebeu R$ 10.629.267,15 e em 2011 o valor
praticamente dobrou para R$ 21.019.632,53 para no ano seguinte, em 2013, cair
pela metade, ficando em R$ 10. 595.992,01 (DNPM, 2018). Em 2017, à título de
exemplo, caiu de R$ 28.963.789,68 (valor em 2016) para R$ 5.118.922,16,
116
menor valor durante os últimos 8 anos. Em 2018, até o mês de maio, a
arrecadação já somava R$ 4.445,528,95, ou seja, quase o mesmo valor de 2017
(Tabela 8)
Tabela 8. Arrecadação da CFEM de 2010 até 2018, em milhões de reais, entre
os cinco maiores arrecadadores do Estado de Mato Grosso do Sul
Corumbá – Arrecadação no período de 2010 a 2018
Ano Operação Recolhimento %
2010 611.073.774,54 10.629.267,15 1,73%
2011 1.017.065.590,72 21.019.632,53 2,06%
2012 579.684.621,35 10.595.992,01 1,82%
2013 847.610.706,20 15.205.784,55 1,79%
2014 729.959.284,08 13.099.101,14 1,79%
2015 471.421.641,84 8.188.048,56 1,73%
2016 668.213.552,78 28.963.789,68 4,33%
2017 298.434.293,26 5.118.922,16 1,71%
2018 141.647.885,94 4.445.528,95 3,13%
Fonte: MME (2018).
Neste sentido, apresenta-se o perfil dos empregos formais na cidade de
Corumbá e, especificamente no setor de mineração (Tabela 9), no intuito de
traçar um comparativo com os valores arrecadados pelo município à título de
CFEM, na geração de emprego e renda.
Tabela 9. Perfil dos empregrados formais no município de Corumbá, Mato
Grosso do Sul de 2010 a maio de 2018
Movimentação agregada Admissões Desligamento Variação
2010 6.454 5.838 616
2011 6.697 5.751 946
2012 6.041 5.580 461
2013 5.899 5.814 85
2014 6.837 7.028 -191
2015 5.071 5.746 -675
2016 5.254 5.494 -240
2017 5.878 5.930 -52
Maio de 2018 2.540 2.455 85
Fonte: Adaptado de MTE (2013).
117
Os dados apresentados demonstram a arrecadação milionária anual que
o município de Corumbá recebe pela CFEM. Em simples análise tem-se que no
ano de 2013 o município recebeu R$ 15.205.784,55 de CFEM, valor 50% maior
que no ano de 2012 e esse acréscimo não repercutiu na geração de empregos,
restando, inclusive, saldo negativo em relação aos empregos na atividade
extrativa mineral (-150). Ratificando que a arrecadação de CFEM não gera mais
empregos e renda para o município tem-se o ano de 2016, quando foram
repassados para o município R$ 28.963.789,68, mas os empregos formais no
mesmo ano caíram no município (- 240) e no setor da mineração (-65).
Tabela 10. Perfil dos empregados na mineração em Corumbá, Mato Grosso do
Sul, de 2010 a maio 2018
Movimentação agregada Admissões Desligamento Variação
2010 378 199 179
2011 389 117 272
2012 295 212 83
2013 285 435 -150
2014 246 270 -24
2015 79 296 -217
2016 51 116 -65
2017 103 126 -23
Maio de 2018 36 33 3
Considerando que a CFEM é um excedente financeiro que somente
as cidades mineradoras fazem jus, o que se esperava é que elas, por terem uma
renda adicional e com isso uma vantagem econômica, tivessem um
desenvolvimento mais pujante do que as cidades não mineradoras. Mas o que
Bernardo (2018) observou ao analisar a CFEM dos 18 principais municípios
mineiros arrecadadores é que a CFEM funcionou mais como um contrapeso do
que um trampolim para o desenvolvimento e considera “razoável supor que, em
média, os benefícios econômicos gerados não são revertidos em
desenvolvimento humano” (BERNARDO, 2018, p. 2).
118
Índice de Desenvolvimento Humano – IDH e Índice Firjan de
Desenvolvimento Municipal
Dentre os indicadores propostos com o intuito de considerar, além dos
aspectos econômicos, os sociais e culturais tem-se Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD e o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM). O IDH, segundo
Minayo et al. (2000), por basear-se nas capacidades, seria um indicador sintético
de qualidade de vida, afinal a saúde e a educação são estados ou habilidades
que permitem uma expansão das capacidades.
Já o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), que acompanha
o desenvolvimento socioeconômico de todos os municípios brasileiros, se refere
a geração de Emprego e Renda, Educação e Saúde. Os dados são obtidos por
estatísticas públicas oficiais e considera de 0 (desenvolvimento nulo) a 1
(desenvolvimento perfeito).
O índice de desenvolvimento humano corumbaense é considerado alto de
acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - IDHM.
Segundo o último relatório, divulgado no ano de 2010, o IDHM passou de 0,584
em 2000 para 0,700 em 2010 - uma taxa de crescimento de 19,86%. O hiato de
desenvolvimento humano, ou seja, a distância entre o IDHM do município e o
limite máximo do índice, que é 1 foi reduzido em 72,12% entre 2000 e 2010
(PNUD, 2013).
Tabela 11. IDHM de Corumbá de 1991 a 2010
Ano IDH médio Posição Nacional Posição Estadual
2010 0,700 1904 26
2000 0,584 1879 21
1991 0,509 659 5
Fonte: PNUD (2013).
Os componentes analisados (educação, longevidade e, renda)
apresentaram melhora. No período, a Educação foi o índice que mais cresceu
em termos absolutos (crescimento de 0,188), seguida por Longevidade e por
Renda. Na composição da análise de longevidade o IDHM apresenta “esperança
de vida ao nascer” (Tabela 12)
119
Tabela 12. IDH do município de Corumbá, Mato Grosso do Sul e seus
componentes
IDHM e componentes 1991 2000 2010
IDHM Educação 0,304 0,398 0,586
% de 18 anos ou mais com fundamental completo 31,89 40,87 54,55
% de 5 a 6 anos na escola 43,46 51,66 85,71
% de 11 a 13 anos - anos finais do fundamental
regular seriado ou com fundamental completo
45,68 52,14 83,34
% de 15 a 17 anos com fundamental completo 20,00 33,64 41,93
% de 18 a 20 anos com médio completo 9,54 19,23 31,65
IDHM Longevidade 0,712 0,773 0,834
Esperança de vida ao nascer 67,69 71,35 75,06
IDHM Renda 0,610 0,648 0,701
Renda per capita 356,56 451,78 627,10
Fonte: PNUD (2013).
Em Corumbá, a esperança de vida ao nascer cresceu 3,7 anos na última
década, passando de 71,4 anos, em 2000, para 75,1 anos, em 2010. Em 1991,
era de 67,7 anos. No Brasil, a esperança de vida ao nascer é de 73,9 anos, em
2010, de 68,6 anos, em 2000, e de 64,7 anos em 1991. A mortalidade infantil
reduziu praticamente pela metade, sendo de 31,4 em 1991 para 17,8 em 2010
(Tabela 13).
Tabela 13. Longevidade, Mortalidade e Fecundidade - Município de Corumbá,
Mato Grosso do Sul
Ano 1991 2000 2010
Esperança de vida ao nascer 67,7 71,4 75,1
Mortalidade infantil 31,4 21,9 17,8
Mortalidade até 5 anos de idade 36,9 25,7 21,2
Taxa de fecundidade total 4,1 3,3 2,6
Fonte: PNUD (2013).
No presente trabalho também foi objeto de análise o Índice Firjan de
Desenvolvimento Municipal – IFDM, 2015, estudo que mede o nível de
desenvolvimento de todas as cidades do Brasil com base nos indicadores Saúde,
Educação e Emprego e Renda para complementar os dados obtidos com o
IDHM.
120
Conforme anteriormente exposto, sob os parâmetros de avaliação do
IDHM, o índice de desenvolvimento humano de Corumbá foi considerado alto
(0,700) enquanto que sob os parâmetros do IFDM, Corumbá foi avaliada com
nível de desenvolvimento moderado22 (0,6740), ocupando o 42º lugar entre os
79 municípios do Estado de Mato Grosso do Sul. A evolução do IFDM de
Corumbá encontra-se demonstrado na Tabela 14.
Tabela 14. IFDM Corumbá no período de 2000 a 2011
Ano IFDM Posição Nacional Posição Estadual
2011 0,6750 2048º 31º
2010 0,6806 2110º 25º
2009 0,6360 2835º 49º
2008 0,6825 1572º 16º
2007 0,7060 1127º 9º
2006 0,6946 1151º 11º
2005 0,7144 890º 5º
2000 0,5522 2414º 44º
Fonte: FIRJAN (2015).
Segundo o FIRJAN (2015), as condições relativas a Educação, Saúde e
Emprego e Renda em Corumbá também foram consideradas de
desenvolvimento moderado durante o período avaliado, exceção para o ano de
2013, em que o índice de emprego e renda caiu e foi considerado regular,
conforme Tabela 15.
Tabela 15. Índice FIRJAN para Educação, Saúde, Emprego e Renda para
Corumbá, Mato Grosso do Sul, no período de 2010 a 2013
2010 2011 2012 2013
IFDM 0,6593 0,6750 0,7043 0,6740
Educação 0,6374 0,6474 0,6698 0,6803
Saúde 0,6701 0,6753 0,7281 0,7441
Emprego renda 0,6706 0,7021 0,7148 0,5974
22 IFDM: o índice varia de 0 (mínimo) a 1 ponto (máximo) para classificar o nível de cada localidade em quatro categorias: baixo (de 0 a 0,4), regular (0,4 a 0,6), moderado (de 0,6 a 0,8) e alto (0,8 a 1) desenvolvimento. Ou seja, quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento da localidade (FIRJAN, 2015).
121
LINS (2015) ao analisar os valores recebidos pela CFEM e o número de
salas de aula e leitos hospitalares em Corumbá, constatou que houve pouco ou
nenhum investimento que se traduza em acréscimo referente à estrutura escolar
no período considerado nesta pesquisa (2006/2013). O número de escolas
municipais de Educação Básica se manteve constante, com um ligeiro acréscimo
no número de salas de aula existentes no município, assim como no número de
matriculados no sistema educacional, concluindo que:
“Entre 2000 e 2010, embora a população tenha aumentado
a uma taxa anual de 0,81%, passando de 95.701 habitantes
em 2000, para 103.703 habitantes em 2010 (PNUD, 2013),
verifica-se que apenas 37 novas salas de Aula foram
disponibilizadas à população corumbaense, no período
compreendido entre 2006 e 2013” (LINS, 2015, p. 51).
Com relação à saúde pública de Corumbá no período de 2007 a 2013,
Lins (2015, p. 52) constata que “a questão dos investimentos na saúde pública
tampouco difere da educação (...) ao invés de novos leitos disponibilizados à
população no decorrer do tempo, alguns foram reduzidos”.
“O número de leitos existentes em 2007 era de 196.
Incrivelmente, a despeito do crescimento populacional e do
aumento da arrecadação do município, os leitos existentes
em 2013 experimentaram uma redução em seu número
para 168, ou seja, 28 leitos foram fechados. Se analisados
os Hospitais Gerais, em 2007 o município contava com 2.
Em 2013, apenas 1 deles estava disponível à população.
Os leitos do Sistema Único de Saúde também foram
reduzidos. Em 2007 a população contava com 143; em
2013, apenas com 133” (LINS, 2015, p. 52).
Os dados oficiais são alarmantes no sentido de que mesmo com o
aumento populacional e valores milionários recebidos pelo município de royalties
da mineração não houve aumento na geração de emprego e investimentos na
educação e saúde da população.
122
Conforme leciona Enríquez et al. (2011), para se reduzirem os impactos
negativos de um empreendimento minerário, a atuação do Estado se faz
fundamental uma vez que cabe a ele assegurar a legalidade, promover a
resolução de conflitos e garantir que as conquistas obtidas não sejam
comprometidas no processo de sucessão política. Da mesma forma, a dimensão
territorial é vital, tendo em vista que a existência de recursos minerais pode ser
ao mesmo tempo dádiva, ao impulsionar o desenvolvimento, e maldição, ao
destruir meios de sobrevivência ou comprometer a saúde do meio natural e dos
indivíduos (ENRÍQUEZ et al., 2011).
Conclusão
O aspecto econômico é a dimensão na qual se evidencia o retorno positivo
da atividade mineira, quer pela arrecadação milionária de CFEM, pela geração
de empregos e serviços e pelas trocas comerciais locais. A extração mineral em
Corumbá contribui significativamente para o crescimento do PIB do município de
Corumbá que também repercutiu no PIB per capita do Município, sempre
ascendente. O PIB de Corumbá cresceu 8,70% no período de aproximadamente
10 anos (2002 a 2011), percentual bem superior ao PIB brasileiro que foi de
3,78% (IBGE, 2013) e de Mato Grosso do Sul (SEMAD, 2016).
Sob os parâmetros de avaliação do IDHM, o índice de desenvolvimento
humano de Corumbá foi considerado alto (0,700) enquanto que sob os
parâmetros do IFDM Corumbá foi avaliada com nível de desenvolvimento
humano moderado (0,6740), ocupando o 42º lugar entre os 79 municípios do
Estado de Mato Grosso do Sul. A desigualdade na distribuição de renda diminuiu
de 0,60 em 1991 para 0,55 em 2010, entretanto continua alta se considerarmos
a grande elevação do PIB per capita e municipal no período, comprovando a
concentração e má distribuição de renda.
Em 2016 as indústrias mineradoras empregavam 6,96% do total de
trabalhadores formais em Corumbá (MTE, 2016) enquanto que em 2013 o
percentual de empregabilidade das indústrias mineradoras era de 8,5% do total
de trabalhadores (MTE, 2013), o que demonstra a oscilação da empregabilidade
da região, refém do ciclo do mercado de exportação de minério de ferro e
manganês.
123
O município recebe milhões de reais como compensação ambiental pelos
impactos negativos acarretados pela atividade mineradora, mas esses valores
não repercutiram na geração de empregos. Como exemplo cita-se o ano de
2016, quando foram repassados para o município R$ 28.963.789,68 pela CFEM,
mas os empregos formais no mesmo ano caíram no município (-240) e no setor
da mineração (-65).
As análises dos Índices socioeconômicos IDHM e IFDM demonstram
que os valores milionários de CFEM recebidos pelo município não são revertidos
em desenvolvimento humano. Nos anos em que os repasses financeiros foram
maiores o índice de desemprego aumentou e não houve investimento na saúde
e educação proporcionais ao aumento de arrecadação do município,
demonstrando que a receita advinda da atividade mineradora não é revertida em
benefício da comunidade local.
Corumbá demanda um modelo de desenvolvimento que não apenas
retome a pujança econômica do município, mas que promova a diversificação da
atividade produtiva e assegure a qualidade de vida de seus moradores, trazendo
benefícios à sociedade, estimulando as vocações regionais e conservando o
meio ambiente e a cultura pantaneira.
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130
Artigo II
Compensação Financeira pela exploração de Recursos Minerais em
Corumbá-MS: necessidade de Regulação e criação de Fundo da Mineração
para recuperação ambiental
Tchoya Gardenal Fina do Nascimento
Resumo
O município de Corumbá localiza-se em Mato Grosso do Sul, na fronteira
com a Bolívia. Em Corumbá está localizada a maior reserva de manganês e a
terceira maior reserva de minério de ferro do Brasil. A Lei 7.990/89 instituiu a
compensação financeira pelo resultado da exploração da lavra – CFEM.
Corumbá-MS possui a décima maior arrecadação de CFEM entre os municípios
do Brasil. Objetiva identificar e avaliar os valores arrecadados pelo município a
título de CFEM entre 2010 a 2016 e relacionar com a melhoria na qualidade de
vida da população. A pesquisa é de natureza quantitativa, realizando-se revisão
bibliográfica e análise documental. Como resultado apresenta-se que a CFEM
contribui para fortalecer as finanças públicas, mas os valores não representaram
a melhoria da qualidade de vida da população corumbaense, medida pelo IDHM
e IFDM do período. O município deveria buscar outras fontes de receita, no
intuito de diminuir a dependência quanto à CFEM, considerando a instabilidade
dessas rendas, seja pela volatilidade dos preços das commodities minerais e
pela esgotabilidade dos recursos minerais, além dos graves impactos ao meio
ambiente natural e do trabalho. Como alternativa propõe-se a criação do “Fundo
da Mineração do município de Corumbá” para que a população e o poder público
gerenciem o destino e aplicação dos valores da CFEM, em beneficio do
desenvolvimento regional.
Palavras-chave: Extrativismo mineral, Compensação ambiental, Fundo da
mineração.
Abstract
Financial Compensation for the exploitation of Mineral Resources in
Corumbá-MS: need for Regulation and creation of Mining Fund for
environmental recovery.The city of Corumbá is located in Mato Grosso do Sul,
on the border with Bolivia. There has largest reserves of manganese and the third
131
largest iron ore reserves in Brazil. The Law 7.990/89 established the financial
compensation for the operate result of the mining - CFEM. Corumbá-MS has the
tenth largest collection CFEM among the Brazilian municipalities. The goal is to
identify and evaluate the values collected by the municipality to the title CFEM
between 2010-2016 are used to improve life quality of population. The research
is quantitative, carrying out a literature review and analysis of documents. As a
result, the CFEM contributes to strengthen public finances but the values didn´t
represent an improvement in the quality life of Corumbá population, as measured
by IDHM and IFDM at the period. The municipality should look for other sources
of income in order to reduce its dependence on CFEM, considering the instability
of these incomes, either due to the volatility of mineral commodity prices and the
depletion of mineral resources, in addition to the serious impacts on the natural
and work environment. As an alternative it is proposed to create the “Mining Fund
of Municipality of Corumbá”, so that the population and the public power manage
the destination and aplication of the CFEM values, for the benefit of regional
development.
Keywords: Mineral extractive, Environmental Compensation, Mining Fund.
Introdução
O município de Corumbá está na porção noroeste de Mato Grosso do Sul,
Brasil. Ali, se localiza a maior reserva de manganês e a terceira maior reserva
de minério de ferro do país. A atividade extrativa mineral é de fundamental
importância econômica para a região, sendo a maior fonte de receita para o
município, superando a arrecadação de impostos gerada pelos setores da
pecuária e agricultura (LAMOSO, 2001).
A Constituição Federal de 1988 foi a responsável por trazer ares ousados
e inovadores à proteção ambiental em nível constitucional, com a inclusão de
capítulo específico dentro do título “Da Ordem Social” que versasse sobre o meio
ambiente, em seu art. 225 e parágrafos. O texto constitucional abarcou, de forma
detalhada, a proteção do meio ambiente. O caput do art. 225, por exemplo,
conferiu status de garantia constitucional ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, outorgado a todos, independentemente de nacionalidade, sexo, cor
ou raça. Foi ainda alçado a “bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida”:
132
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações. § 1º – Para assegurar
a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I –
preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e
prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II
– preservar a diversidade e a integridade do patrimônio
genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à
pesquisa e manipulação de material genético; [...] V – à
difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à
divulgação de dados e informações ambientais e à formação
de uma consciência pública sobre a necessidade de
preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio
ecológico; VI – promover a educação ambiental em todos os
níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente; [...]” (BRASIL, 2016a).
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 170, estabelece as bases da
ordem econômica e elenca entre os seus princípios a defesa do meio ambiente,
prevendo tratamento diferenciado de acordo com o impacto ambiental da
produção e do consumo de produtos e serviços, como técnica de defesa do meio
ambiente, a partir da promulgação da Emenda Constitucional 42/03 (BRASIL,
2003) que deu nova redação ao inciso VI do art. 170 da Carta Magna:
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar
a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios; VI - Defesa do
meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de
seus processos de elaboração e prestação” (BRASIL, 2003,
Seção I, p. 1).
133
A utilização de instrumentos jurídicos constitucionais e legais em prol da
tutela ambiental é permitida pela Suprema Corte e nesse sentido, o Estado passa
de mero expectador para agente transformador em busca dos ideais
consignados na Constituição da República.
Dentre esses instrumentos, a utilização de tributação com o fim de
preservação ambiental é tida como forma eficiente e viável de promover a
ingerência na liberdade individual do contribuinte, estimulando-o à tomada de
práticas preservacionistas e restringindo empreitas poluidoras. Essa função da
tributação, chamada de extrafiscal, quando voltada para o direito ambiental, e se
bem utilizada, alcança dupla finalidade: a de condicionar um comportamento
pretendido pelo legislador; e a de incluir o valor das externalidades negativas
decorrentes da atividade produtiva no montante a ser recolhido ao erário,
prestigiando o princípio ambiental do poluidor-pagador (LINS, 2016).
Na lição de Ribas e Silva (2011) a extrafiscalidade é um instrumento de
intervenção na sociedade, por intermédio de veículo tipicamente fiscal: a Lei
Tributária, para organizá-la de acordo com determinadas políticas e alcançar
determinadas finalidades. Para Ribas e Silva (2011, p. 341), “... não é o tributo
que é extrafiscal. O tributo é um tributo. O que é extrafiscal, na verdade, são as
medidas, os modos como esta ferramenta é utilizada ...”.
Consiste basicamente no emprego de fórmulas jurídico-tributárias para a
obtenção de metas que prevalecem sobre os fins simplesmente arrecadatórios
de recursos financeiros (CARVALHO, 2017).
Para Ribas (2005) os chamados tributos com fins ambientais vão além da
mera função arrecadatória e se prestam efetivamente a auxiliar na transição da
economia tradicional à sustentável. O sistema tributário, juntamente com o
arcabouço de licenças e autorizações presentes no sistema administrativo,
permite a consecução da vontade constitucional de promover o equilíbrio
ecológico, colaborando para a preservação ambiental. Portanto, ao se instituir
um imposto com a finalidade de proteção ambiental, nada mais razoável que se
vincular a receita dele proveniente a ações ambientais. Sem tal vinculação, a
utilização desse instrumento perderia a razão.
A Constituição de 1988 reiterou o tratamento que as suas predecessoras
ofereciam aos recursos minerais taxando-os categoricamente como bens da
União. Como resultado – já que o produto da lavra passava à propriedade do
134
explorador – a Carta Magna instituiu a Compensação Financeira pela Exploração
dos Recursos Minerais, comumente chamada de CFEM, como alternativa de
receita originária diante da exploração por um terceiro através de concessão
(Constituição, art. 20, IX e § 1º) (BRASIL, 2016a).
O objetivo do Constituinte, ao instituir a CFEM foi estabelecer uma
compensação pela degradação ambiental acarretada pela atividade mineradora,
bem como para que os seus valores fossem investidos no desenvolvimento de
potencialidades para a diversificação da economia do município, diminuindo a
dependência local em relação à atividade mineral, por se tratar de recurso não-
renovável e que, ao longo do tempo, se esgotará (BRASIL, 1989).
Com isto o objetivo deste artigo é identificar e avaliar os valores
arrecadados pelo Município à título de CFEM entre 2010 a 2016 e relacionar com
a melhoria na qualidade de vida da população, sustentando-se a criação de um
Fundo da Mineração, imprescindível para o desenvolvimento regional
sustentável.
Material e Métodos
O município de Corumbá localiza-se em Mato Grosso do Sul, na fronteira
com a Bolívia, distante 426 quilômetros de Campo Grande - MS. Em Corumbá
está localizada a maior reserva de manganês e a terceira maior reserva de
minério de ferro do Brasil. Com isso, buscou-se através da utilização de método
quantitativo indireto, de natureza documental, em fontes secundárias (livros,
artigos, imprensa escrita e imprensa oficial - índices oficiais publicados),
demonstrar os valores arrecadados pelo município de Corumbá -Mato Grosso
do Sul, à título de Compensação Financeira pela Exploração Mineral – CFEM,
no período de 2010 a 2016 e verificar se repercutem em melhoria da qualidade
de vida da população e em investimentos em projetos ambientais, bem como se
os valores à título de CFEM são aplicados na recuperação e reparação
ambiental, favorecendo a sociedade local, ou somente representam pura
captação de receita para os cofres públicos.
Resultados e Discussão
A atividade mineradora em Corumbá - Mato Grosso do Sul
135
O município de Corumbá possuía em 2010, ano do último censo, 103.703
habitantes, sendo a quarta cidade mais populosa do Estado e com uma variação
de 8,36% de crescimento populacional em relação ao censo de 2000. De acordo
com estimativas de 2017 do IBGE, atualmente Corumbá possui uma população
de 109 899 habitantes distribuídos por 32.259 domicílios, sendo o quarto
município mais populoso de Mato Grosso do Sul. É também o 18º mais populoso
do Centro-Oeste do Brasil, o 5º município fronteiriço mais populoso do Brasil
(IBGE, 2013).
A cidade possui aproximadamente 10 mil habitantes vivendo na zona rural
em decorrência do grande número de fazendas presentes na região. Em termos
econômicos, seu PIB, a preços correntes, em 2013, é o quarto maior do Estado
somando R$ 2.782.780.000 (dois bilhões e setecentos e oitenta e dois milhões
e setecentos e oitenta mil reais) (PNUD, 2013).
Atualmente, encontram-se operando na região de Corumbá as seguintes
empresas do setor de mineração:
1) Companhia Vale do Rio Doce (VALE) - com controle da Urucum
Mineração (UMSA), produziu nos primeiros nove meses de 2017 um total
de 1.77 milhão tonelada ano-1 de minério de ferro, com licença para até
2.350.000 t ano-1 (LO), resultado 13,9% maior que o mesmo período de
2016, além da produção de minério de manganês que chegou a 495 mil t
ano-1, podendo atingir 750.000 t ano-1 (LO) (VALE, 2018);
2) Mineração Corumbaense Reunida (MCR/VALE S. A.) - empresa da
multinacional Rio Tinto do Brasil (RTB), subsidiária integral da Vale do Rio
Doce, com produção de 3 milhões de tonelada ano-1, mas com anuência
do IBAMA para explorar até 6 milhões t ano-1 (ZERLOTTI, 2010);
3) Corumbá Mineração Ltda. (COMIN) - empresa de mineração de ferro gusa
ligada ao Grupo Siderúrgico Vetorial, com a produção de 670.000
tonelada ano-1, posicionando a empresa entre as três maiores do Brasil
(VETORIAL, 2018);
4) Mineração Pirâmide Participações Ltda. (MPP) - lavra experimental, de
produção anunciada de 180.000 tonelada ano-1, podendo chegar a
1.440.000 t ano-1. É fornecedora da SIDERUNA, em Campo Grande,
empresa do Grupo Vetorial (LINS, 2015), e;
136
5) Granhas Liga Ltda: Reativada em Corumbá em 2016 é a terceira maior
produtora de ferroliga do Brasil, situada em Minas Gerais e Mato Grosso
do Sul, possuindo suas unidades em Conselheiro Lafaiete, São João Del
Rei e Corumbá (GRANHAS LIGAS, 2018).
O subsolo de Corumbá possui reservas expressivas de minerais como
ferro e manganês. As jazidas de minério de Corumbá foram descobertas no final
da Guerra do Paraguai, em 1870. A primeira concessão é outorgada ao Barão
de Vila Maria em 1876. Até a década de 1940, ocorreram sucessivas
transferências de concessão até que, em 1.970 é criada a Urucum Mineração,
em parceria com a Companhia Vale do Rio Doce, que permanece até os dias
atuais (LAMOSO, 2001).
O início da industrialização de Corumbá, na década de 1940, se deve à
implantação da siderurgia pelo grupo Chamma, que investindo em siderurgia de
beneficiamento de minério, criou a Sociedade Brasileira de Mineração –
SOBRAMIL.
Para beneficiar o minério, essas fábricas empregam energia elétrica e
carvão vegetal em seus fornos, emitindo grande quantidade de poluentes,
identificada visualmente sob a forma de nuvens de fumaça e pela camada de
poeira sílica lançada sobre a vegetação dos morros situados no entorno da
fábrica (MONTEIRO, 1997); além disso, a demanda por carvão vegetal causa o
desmatamento das áreas próximas: durante os anos 40, em Corumbá, a
atividade siderúrgica ligada à mineração levou ao desaparecimento das florestas
próximas ao Município (LAMOSO, 2001).
Entre 1980 e 2007 Corumbá registrou uma média de produção de 300 mil
toneladas, quase 13% da média brasileira do mesmo período, demonstrando a
sua importância na produção de minério, passando de uma economia
agroindustrial para uma economia voltada para o setor de serviços e indústria,
conforme se demonstra pelo gráfico abaixo (Figura 1):
137
Figura 1. Composição do PIB em Corumbá, Mato Grosso do Sul, de 1980 a
2010, Mato Grosso do Sul. Fonte: IBGE (2013).
Observa-se uma oscilação do índice do PIB, nos últimos trinta anos
(Figura 1). Pelo gráfico, fica evidente o crescimento do setor de serviços sobre o
setor industrial; ao mesmo tempo, constata-se que houve uma diminuição de
45% para 9% na relação da agroindústria para os serviços, enquanto o PIB da
Indústria (do qual participa o setor da mineração) sofreu constantes oscilações
desde 1.980, representando, em 2010, 18% do PIB de Corumbá.
Neste sentido, cabe destacar que o crescimento da indústria de
mineração trouxe um efeito multiplicador no setor de serviços, estimando-se que
para cada emprego direto, outros três empregos indiretos sejam gerados no
setor de serviço.
A exportação do minério de Corumbá, no século XXI, elevou-se de
38.431.398 para 579.111.252 dólares. A produção brasileira de minério de ferro
na última década manteve um acelerado ritmo de crescimento.
45%
35%
21%
18%14% 14% 13% 11% 12% 11%
8% 9% 9%10%
9%
21%
47%
20%
14%13%
10% 9% 8% 8% 8%10% 9% 14%
9%
18%
34%
18%
59%57%
59% 60% 61%63%
60% 59% 58%61%
55%
61%
55%
1980 1985 1996 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Composição do PIB - Corumbá
Agroindústria Indústria Serviço
Mudança na matriz
econômica
138
O processo de abertura da economia chinesa ao mercado global e seu imenso mercado interno e altas taxas de
crescimento aceleraram as importações de bens minerais (BRITO, 2011) (Tabela 1).
Tabela 1. Exportação de Produtos da Extração Mineral de Corumbá e do Estado de Mato Grosso do Sul de 2000 a 2014
Corumbá Mato Grosso do Sul
Ano Exportação Importação Saldo Exportação Importação Saldo
2000 38.431.398 112.201.108 -73.769.710 253.238.706 159.999.362 -327.008.416
2001 30.634.867 225.479.457 -194.844.590 473.680.363 281.842.770 -668.524.953
2002 38.322.518 264.460.082 -226.137.564 384.238.042 423.908.242 -610.375.606
2003 51.388.269 348.134.747 -296.746.478 498.338.890 492.867.629 -795.085.368
2004 59.652.817 552.942.298 -493.289.481 644.754.039 771.953.910 -1.138.043.520
2005 82.341.115 764.301.423 -681.960.308 1.149.121.782 1.080.011.655 -1.831.082.090
2006 115.737.960 1.240.548.131 -1.124.810.171 1.004.338.508 1.725.836.632 -2.129.148.679
2007 96.749.503 1.447.963.930 -1.351.214.427 1.297.176.760 2.189.887.974 -2.648.391.187
2008 330.963.134 2.681.554.211 -2.350.591.077 2.095.551.415 3.682.565.087 -4.446.142.492
2009 173.931.519 1.593.523.540 -1.419.592.021 1.937.634.439 2.690.230.313 -3.357.226.460
2010 376.382.660 2.133.937.698 -1.757.555.038 2.960.507.709 3.382.661.700 -4.718.062.747
2011 687.375.080 2.739.952.650 -2.052.577.570 3.916.260.636 4.469.067.323 -5.968.838.206
2012 400.208.386 3.248.559.140 -2.848.350.754 4.212.756.213 5.113.970.906 -7.061.106.967
2013 501.574.203 3.671.699.578 -3.170.125.375 5.256.284.227 5.753.054.417 -8.426.409.602
2014 579.111.252 3.550.337.947 -2.971.226.695 5.245.499.753 5.237.139.718 -8.216.726.448
Fonte: MDIC (2018).
139
Em dados mais atuais, de acordo com dados do Ministério da Indústria,
Comércio Exterior e Serviços, em 2017, Mato Grosso do Sul exportou 3,742
milhões de toneladas de minério de ferro, garantindo divisas de US$ 124,031
milhões. Alta ainda mais expressiva foi registrada nas exportações de
manganês. Embora com participação inferior na balança comercial (1,89%), o
minério gerou um faturamento de US$ 90,615 milhões, 74,11% a mais em
comparação a 2016 (MDIC, 2018) (Figura 2)
No caso do manganês, Mato Grosso do Sul triplicou a lavra e atualmente
responde por 22% de toda produção brasileira.
As maiores reservas estão em Minas Gerais (87%), MS (6,5%) e Pará
(4,3%). A principal aplicação do manganês é na fabricação de ligas metálicas
(ferro-liga) (MDIC, 2018).
Figura 2. Volume e Receita das exportações do Minério de Ferro de 2012 a
2017. Fonte: MDIC (2018).
Conforme se verifica na Figura 2, depois de um período de baixo
desempenho, em razão da queda da demanda mundial, o minério de ferro
começou a recuperar, em 2017, os níveis de produção e exportação de Mato
Grosso do Sul, revertendo a queda de 2016 com considerável aumento em 2017
e boas expectativas para 2018. Em janeiro deste ano (2018) rendeu US$ 12
milhões, com crescimento de 81% nas exportações em relação ao mesmo
período do ano passado.
140
A estratégia neoextrativista23 adotada em alguns países da América e no
Brasil a partir dos anos 2000 se destaca pela exploração de grandes volumes de
recursos minerais, com a exportação de commodities, constituindo a “economia
do enclave”, monoindustrial24.
O neoextrativismo se caracteriza como uma faceta do modelo de
desenvolvimento cujo enfoque é o crescimento econômico baseado na
apropriação de recursos naturais, com cadeias produtivas curtas (extração,
transporte e eventual processamento) e pouco diversificadas. Nesse percurso,
sem o potencial agregador das indústrias de transformação os níveis de emprego
direto tendem a reduzir. Ou seja, a economia mineral torna-se refém das
oscilações do mercado internacional de commodity mineral. Essa dinâmica tem
se mostrado concentradora de desigualdades e não geradora de alternativas no
território minerado (PEREIRA, 2016, p. 40).
De grande importância para a economia local e nacional, questiona-se o
desenvolvimento trazido pela mineração aos espaços territoriais onde ocorre a
atividade, pois dela decorrem sérios impactos negativos (externalidades), tanto
ao meio ambiente como sociais e econômicos. A mineração altera intensamente
a área minerada e as áreas vizinhas, onde são feitos os depósitos de estéril e de
rejeito (ENRÍQUEZ, 2007).
Não se pode desconsiderar também que uma das características
inerentes aos recursos minerais é a sua esgotabilidade. O impacto negativo
causado pelo fechamento da mina acarretará forte redução na capacidade
econômica e desemprego ao Município, diante da dependência existente em
relação à receita oriunda da atividade minerária (ENRÍQUEZ, 2007).
Corroborando, leciona Thomé (2009, p. 176):
“.... É inegável, portanto, a importância da mineração para
a interiorização do desenvolvimento econômico do Brasil e
seu relevante papel incentivador da criação de vilas e
23 O neoextrativismo é definido como um modelo de desenvolvimento focado no crescimento econômico e baseado na apropriação de recursos naturais, em redes produtivas pouco diversificadas e na inserção subordinada na nova divisão internacional do trabalho. 24 Casos exemplares de economia de enclave no Brasil são, entre outros, o de Itabira-MG, onde há mais de 70 anos a Vale extrai minério de ferro e c om registro de desenvolvimento socioeconômico pífio, com alto índice de suicídio de jovens nos anos 1990, coincidente com a notícia de fechamento da mina em alguns anos (FERNANDES, ENRIQUEZ, ALAMINO, 2011); o de Serra do Navio-PA, de extração de manganês, que o exaurimento da mina e a retirada da empresa, levou ao esvaziamento da cidade, deixando sério passivo socioambiental (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2016).
141
cidades no entorno das minas e jazidas. Todavia, uma
característica inerente aos recursos minerais não pode ser,
em momento algum desprezada: a sua esgotabilidade. São
recursos não renováveis que, inevitavelmente, um dia se
esgotarão. E então as inúmeras vilas e cidades originadas
e dependentes da mineração poderão se deparar com
inimagináveis impactos socioeconômicos advindos do
encerramento das atividades mineiras, caso não
providenciem a diversificação de sua economia ...”.
Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, a exploração do
manganês em Corumbá atingirá a exaustão em aproximadamente 30 anos e o
minério de ferro em 140 anos, se mantido o mesmo ritmo de exploração (MME,
2016).
Entretanto, a Vale pretende ampliar a lavra de minério na região em
138,6%, fazendo com que a produção atual, que é de 4,4 milhões de toneladas
de minério de ferro por ano, alcance 10,5 milhões. Já a mineradora Vetria
pretende atingir a capacidade máxima da usina de beneficiamento, com
produção de 28,5 milhões de toneladas/ano, fazendo com que a exaustão da
mina seja antecipada, caso não haja possibilidade de aumento da reserva (MPF,
2014).
As interferências causadas pela exploração mineral não impactam apenas
os recursos naturais, mas as comunidades locais onde são instalados os
empreendimentos e, longo prazo, toda coletividade. Neste sentido, foi criada a
CFEM – Compensação financeira pela exploração dos recursos minerais, no
intuito de minimizar os impactos negativos provocados pela atividade mineradora
e promover o “desenvolvimento econômico e ambiental da sociedade local”
(DNPM) e que abordaremos a seguir (MME, 2016).
A compensação financeira pela exploração dos recursos minerais –
royalties da mineração
A compensação financeira pela exploração de recursos naturais é o preço
pago pelo empreendedor ao proprietário do recurso natural pelo direito de
produzir e comercializar esse recurso (LIMA, 2010).
142
A Lei 7.990, de 28 de dezembro de 1989 (BRASIL, 1989) que instituiu a
compensação financeira pelo resultado da exploração da lavra – CFEM prevê
uma contraprestação pecuniária pela utilização econômica dos recursos
minerais em seus respectivos territórios, definidas em princípio pela Lei 8.001
(BRASIL, 1990), de 13 de março de 1990 em até 4% sobre o valor do
faturamento líquido apurado com a venda do produto mineral.
Entretanto, em dezembro de 2017 a Lei 13.540/17 (BRASIL, 2017)
alterou as Leis nos 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e 8.001, de 13 de março
de 1990, no concernente a base de cálculo da CFEM (não mais sobre o
faturamento líquido)25, bem como no que se refere ao percentual de incidência
da CFEM, de acordo com a substância mineral, conforme Quadro constante do
Anexo da Lei e representado abaixo (Quadro1).
Quadro 1. Alíquotas para a incidência da Compensação Financeira pela
Exploração de Recursos Minerais (CFEM)
Alíquota Substância Mineral
(Vetado) (Vetado)
1% (um por cento)
Rochas, areias, cascalhos, saibros e demais
substâncias minerais quando destinadas ao
uso imediato na construção civil; rochas
ornamentais; águas minerais e termais
1,5% (um inteiro e cinco
décimos por cento)
Ouro
2% (dois por cento) Diamante e demais substâncias minerais
3% (três por cento) Bauxita, manganês, nióbio e sal-gema
3,5% (três inteiros e cinco
décimos por cento)
Ferro, observadas as letras b e c deste Anexo
Fonte: Brasil (2017, p. 7).
25 Nova Redação dada pela Lei 13.540/2017 para a Lei 8.001/90: Art. 2o As alíquotas da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) serão aquelas constantes do Anexo desta Lei, observado o limite de 4% (quatro por cento), e incidirão: : I - na venda, sobre a receita bruta da venda, deduzidos os tributos incidentes sobre sua comercialização; II - no consumo, sobre a receita bruta calculada, considerado o preço corrente do bem mineral, ou de seu similar, no mercado local, regional, nacional ou internacional, conforme o caso, ou o valor de referência, definido a partir do valor do produto final obtido após a conclusão do respectivo processo de beneficiamento; III - nas exportações, sobre a receita calculada, considerada como base de cálculo, no mínimo, o preço parâmetro definido pela Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério da Fazenda, com fundamento no art. 19-A da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, e na legislação complementar, ou, na hipótese de inexistência do preço parâmetro, será considerado o valor de referência, observado o disposto nos §§ 10 e 14 deste artigo; IV - na hipótese de bem mineral adquirido em hasta pública, sobre o valor de arrematação; ou V - na hipótese de extração sob o regime de permissão de lavra garimpeira, sobre o valor da primeira aquisição do bem mineral.
143
Enríquez (2007) explica que a taxa cobrada é baixa quando comparada
com os padrões internacionais e ao ser cobrada sobre o faturamento líquido
dificulta o recolhimento dos royalties, pois muitas empresas não têm dados
confiáveis. Além disso, os municípios que não têm exploração mineral, mas que
são afetados pelas externalidades negativas da mineração em um município
vizinho não recebem benefícios dos royalties. E mais importante, a União, os
Estados e municípios estão consumindo boa parte dos recursos ao invés de
reinvesti-los em setores produtivos, e uma vez que as prestações de contas do
uso dos royalties em todos os níveis governamentais são falhas, isso dificulta
mais ainda a fiscalização.
A distribuição mensal da CFEM mereceu recente alteração trazida pela
Lei 13.661, de 09 de maio de 2018 (MME, 2018), devendo o valor arrecadado
ser dividido da seguinte forma
XI. 25% (vinte e cinco por cento) aos Estados;
XII. 65% (sessenta e cinco por cento) aos Municípios;
XIII. 3% (três por cento) ao Ministério do Meio Ambiente;
XIV. 3% (três por cento) ao Ministério de Minas e Energia;
XV. 4% (quatro por cento) ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico – FNDCT.
Figura 3. Distribuição da arrecadação da Compensação Financeira pela
Exploração dos recursos minerais (CFEM) Brasil, Mato Grosso do Sul. Fonte:
Brasil (2016b).
144
A CFEM tem a vantagem de beneficiar majoritariamente o município
produtor (65%) e de não estar vinculada a gasto específico, possibilitando ao
gestor público usá-la em prol da sustentabilidade ambiental. O Brasil é um dos
poucos países que repassa os royalties para o município produtor. Caso a
extração abranja mais de um município, é observada a proporcionalidade da
produção efetivamente ocorrida em cada um deles. Assim, por ser o município o
ente que fica com a maior parcela da Compensação, ele é a parte mais
interessada na sua distribuição.
O município de Corumbá-MS possui a décima maior arrecadação de
CFEM entre os municípios brasileiros, compreendendo a maior arrecadação da
região Centro-Oeste (BRASIL, 2016b).
Convém esclarecer que a CFEM não é tributo e tampouco sanção por ato
ilícito, mas receita originária devida por ocasião da exploração de particulares
dos recursos minerais (de propriedade da União) nos termos do art. 20, IX e art.
176, ambos da CF26
A Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais
(CFEM) foi criada sob a ideia de uma compensação para toda a coletividade
afetada pelos efeitos maléficos produzidos pela atividade mineradora, mas foi
compreendida pelo Supremo Tribunal Federal como “participação nos resultados
da exploração”, dando origem a uma série de discussões (BEZERRA, 2011).
Segundo Franck (2015):
“A natureza jurídica da CFEM gera uma discussão bastante
divergente pela doutrina. Nesse sentido, alguns autores a
consideram um tributo, outros um preço público, enquanto
outros ainda a consideram uma taxa ambiental de natureza
indenizatória. Ocorre que, mesmo diante de tantos
argumentos sustentados em cada uma das correntes
citadas, nenhuma delas se sustenta, se perdendo diante de
uma análise mais profunda das principais características de
cada instituto (tributo, preço público ou taxa) quando
26 Art. 176 CF. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra.
145
comparadas com as características da CFEM” (FRANCK,
2015, p. 1).
No voto do Ministro Sepúlveda Pertence, relator do RE 228.800, ficou
claramente consignado o entendimento da Corte Suprema a respeito:
“Na verdade – na alternativa que lhe confiara a Lei
Fundamental – o que a Lei n. 7.990/89 institui, ao
estabelecer no art. 6º que “a compensação financeira pela
exploração de recursos minerais, para fina de
aproveitamento econômico, será de até 3% sobre o valor do
faturamento líquido resultante da venda do produto mineral”,
não foi verdadeira compensação financeira; foi, sim, genuína
“participação no resultado da exploração”, entendido o
resultado não como o lucro do explorador, mas como aquilo
que resulta da exploração, interpretação que revela o
paralelo existente entre a norma do art. 20, § 1º, e a do art.
176, § 2º, da Constituição, verbis: ‘§ 2º É assegurada
participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra,
na forma e no valor que dispuser a Lei. Ora, tendo a
obrigação prevista no art. 6º da Lei n. 7.990/89 a natureza
de participação no resultado da exploração, nada mais
coerente do que consistir em seu montante numa fração do
faturamento” (STF, 2001).
A arrecadação da CFEM também funciona como importante indicador de
desempenho econômico da mineração e tem sido apontada como um
instrumento de grande potencial para minimizar os problemas socioeconômicos
dos municípios de base mineira provocados pelo encerramento da mineração,
mas que ainda ressente de um aparato legal e institucional que discipline sua
aplicação para que os municípios não caiam na armadilha do “caixa único” e
equidade intergeracional (ENRÍQUEZ, 2007).
BORGES e BORGES (2011), em estudos que analisaram a utilização e
destino dos recursos provenientes dos royalties na promoção do
desenvolvimento social, constataram que a ausência de estratégias sólidas de
146
ação da gestão pública de Parauapebas (município paraense com maior receita
de royalties do estado), impediu que os recursos oriundos dos royalties minerais
se traduzissem organizadamente em desenvolvimento no campo social.
Enríquez (2000) constatou que o município de Oriximiná no Pará
provavelmente utilizou o dinheiro dos royalties da mineração para pagamento de
funcionários, pois a receita municipal sem royalties foi insuficiente para cobrir os
gastos com o funcionalismo. Já a pesquisa de Enríquez (2007) permitiu verificar
que entre os 15 municípios mineradores analisados (dentre os quais Corumbá-
MS), apenas dois deles, Itabira (MG) e Forquilhinha (SC) vinculara o
recolhimento dos royalties a uma estratégia de desenvolvimento sustentável
mesmo após 14 anos de efetivo recolhimento.
Quanto à aplicação da CFEM, o Art. 26 do Decreto 01/91 (BRASIL, 1991)
determina apenas que esses recursos não podem ser utilizados para pagamento
de dívidas ou no quadro permanente de pessoal. As receitas devem ser
aplicadas em projetos que direta ou indiretamente revertam em prol da
comunidade local, na forma de melhoria da infraestrutura, da qualidade
ambiental, da saúde e educação.
Segundo orienta o DNPM, as receitas da CFEM devem ser aplicadas em
projetos que, direta ou indiretamente, revertam em prol da comunidade local, na
forma de melhoria da infraestrutura, da qualidade ambiental, da saúde e da
educação. Nesse sentido, Enríquez (2007) aponta que na maioria dos grandes
municípios mineradores os recursos da CFEM entram no caixa da prefeitura e
são diluídos nas despesas correntes, não desenvolvendo, com isso,
oportunidades de geração de emprego e renda que poderiam amenizar os
efeitos da pobreza e da dependência excessiva da mineração.
O trabalho de Enríquez (2007) realizou visitas aos 15 maiores municípios
de base mineradoras do Brasil (dentre eles Corumbá) e buscou verificar o uso
da renda mineral por estes. De acordo com o estudo, os grandes produtores têm
uma grande dependência em relação à receita (40%) e empregos (47%)
proporcionados pela atividade minerária. Já a CFEM nesses municípios
corresponde, em média, a 16% das receitas municipais, com uma maior
dependência para os da região norte e nordeste. Esses números refletem as
situações de vulnerabilidade que passam vários municípios, e subestimam as
147
conjunturas graves de outros, que sofrem com os prestes esgotamentos de suas
jazidas.
É importante salientar que há uma demanda social (principalmente, de
ambientalistas) e das empresas produtoras, que percebem uma má aplicação da
CFEM, para uma regulamentação do uso. Enríquez (2007) sintetizou os
principais problemas da CFEM, de forma a apontar um diagnóstico e soluções
para uma futura reforma (regulamentação) da Compensação:
Alíquota – alguns produtos ligados ao potássio, sofrem dupla
interpretação quanto a aplicação de sua alíquota. Já que mais de 90%
deste minério é destinado à produção de fertilizantes, que possui uma
alíquota diferente;
Receita líquida – conceito a ser melhor definido, já que os custos
apontados pela lei não são exatamente descritos;
Uso – além da falta de fiscalização, não está claro na lei onde deve ser a
aplicação efetiva;
Fiscalização – compensação é cobrada das empresas legais, porém as
informais não repassam nenhum valor para os entes.
Dessa forma, há um descontentamento social a respeito do uso da CFEM,
que vem sendo aplicada à revelia em muitos municípios e estados, que incorrem
no problema do “caixa único”, empregando sua renda, inclusive, com despesas
pessoais (CNM, 2012).
Enríquez (2000, p. 12) conclui sua pesquisa sobre a CFEM sugerindo que:
“Os royalties sejam utilizados principalmente em
investimentos voltados ao desenvolvimento humano (saúde,
educação e saneamento) e sejam destinados à criação de
um fundo de empréstimos para a população mais carente e
para pequenas empresas. É preciso também, que haja uma
melhor participação da sociedade tanto no planejamento da
utilização dos royalties como na fiscalização deste recurso.
Para que essas mudanças ocorram, é necessária a
implementação de conselhos municipais formados pelos
representantes organizados da sociedade local. Com essas
148
modificações, os minérios poderão continuar sendo
explorados sem que haja preocupação com a finitude de
seus estoques e as futuras gerações não ficarão com suas
rendas comprometidas”.
É inegável que CFEM contribui para fortalecer as finanças públicas, mas
os municípios deveriam buscar outras fontes de receita, no intuito de diminuir a
dependência quanto à CFEM, considerando a instabilidade dessas rendas, seja
pela volatilidade dos preços das commodities minerais e pela esgotabilidade dos
recursos minerais.
O município de Corumbá é o mais importante em termos de arrecadação
de CFEM no Estado de Mato Grosso do Sul. Em 2010 o município recebeu R$
10.629.267,15 e em 2011 o valor praticamente dobrou para R$ 21.019.632,53
para no ano seguinte, em 2013, cair pela metade, ficando em R$ 10. 595.992,01
(DNPM, 2018). Em 2017, a título de exemplo, caiu de R$ 28.963.789,68 (valor
em 2016) para R$ 5.118.922,16, menor valor durante os últimos 8 anos. Em
2018, até o mês de maio, a arrecadação já somava R$ 4.445,528,95, ou seja,
quase o mesmo valor de 2017.
As oscilações comprovam que os efeitos da participação da mineração
para economia de Corumbá são dependentes da conjuntura econômica nacional
e internacional. A mineração está atrelada aos movimentos cíclicos da economia
e a inserção de Corumbá no mercado internacional baseia-se somente na
exportação de matérias-primas.
Em 2015, Corumbá respondeu por 90% da produção mineral do Estado,
destacando-se entre os 10 Municípios do Brasil de maior arrecadação a título de
CFEM. Em 2016 houve um crescimento de 78,62% na arrecadação de CFEM no
Estado de Mato Grosso do Sul. Ao todo, somente com o setor de mineração,
Mato Grosso do Sul movimentou 1.151 bilhão com a extração, gerando R$
40.115.491,05 em CFEM, sendo que R$ 4.791 milhões foram destinados ao
Governo Federal, R$ 9.221 milhões para o Governo Estadual e R$ 26.061
milhões foram divididos entre os municípios mineradores do Estado.
A tabela 2 abaixo demonstra a arrecadação da CFEM de 2010 até 2018,
em milhões de reais, entre os cinco maiores arrecadadores do Estado de Mato
Grosso do Sul.
149
Tabela 2. Arrecadação da CFEM de 2010 até 2018, em milhões de reais, entre
os cinco maiores arrecadadores do Estado de Mato Grosso do Sul
Corumbá – arrecadação no período de 2010 a 2018
Ano Operação Recolhimento %
2010 611.073.774,54 10.629.267,15 1,73%
2011 1.017.065.590,72 21.019.632,53 2,06%
2012 579.684.621,35 10.595.992,01 1,82%
2013 847.610.706,20 15.205.784,55 1,79%
2014 729.959.284,08 13.099.101,14 1,79%
2015 471.421.641,84 8.188.048,56 1,73%
2016 668.213.552,78 28.963.789,68 4,33%
2017 298.434.293,26 5.118.922,16 1,71%
2018 141.647.885,94 4.445.528,95 3,13%
Fonte: MME (2018).
Com relação a participação das substâncias minerais, tem-se que o ferro
é responsável por quase 80% da arrecadação total de CFEM. As outras
substâncias são o manganês, areia, calcário e argila.
O orçamento público do Município de Corumbá tem alto grau de
dependência com a receita advinda da atividade mineradora a título de CFEM,
conforme demonstra a Tabela 3, em que são apresentados os valores referentes
a receita tributária e CFEM no período de 2013 a 2017.
Tabela 3. Receita tributária e CFEM de Corumbá-MS, de 2013 a 2017
Ano Receita Corumbá (r$) Valores CFEM (r$)
2017 54.868.875,71 5.118.922,16
2016 53.294.897,12 28.964.789,68
2015 55.940.327,98 8.186.610,37
2014 57.183.743,03 13.093.589,19
2013 53.221.510,67 15.205.784,55
Fonte: TCE (2016).
Em 2013, a receita tributada do município de Corumbá foi de R$
53.221.510,67 e a arrecadação de CFEM totalizou R$ 15.205.784,55, ou seja,
28,56% da receita a municipal. Em 2014 a receita tributada do município de
Corumbá foi de R$ 57.183.743,03 e a contribuição pela exploração mineral
150
alcançou R$ 13.099.101,14, ou seja, 22,89% da receita municipal. Em 2016 a
CFEM totalizou 54,34% da receita municipal que foi de R$ 53.294.897,12.
Ao se instituir a CFEM como contrapartida à exploração mineral o objetivo
do legislador foi diminuir o impacto socioeconômico do esgotamento da mina.
Assim, os Estados e Municípios devem aplicar os recursos advindos da CFEM
na recuperação do meio ambiente, no desenvolvimento da infraestrutura da
cidade e na atração de novos investimentos e atividades, buscando a
diversificação da economia do município (BRASIL, 1990).
Embora diante de valores tão expressivos (milhões de reais), os recursos
entram nos caixas das Prefeituras (e em Corumbá não é diferente) e se diluem
nas despesas correntes e necessidades imediatas. Não existe uma lei municipal
quanto ao uso específico desses valores em prol da recuperação ambiental.
Não existe vinculação legal definindo a aplicação da CFEM e nem
qualquer garantia de que os valores arrecadados serão transformados em
investimentos sociais, vez que a legislação correlata somente veda que aludido
recurso seja utilizado para pagamento de dívida e no quadro permanente de
pessoal. Assim, cada Município e Estado aplicam os valores de maneira variada
e, nem sempre, atendendo aos objetivos previstos.
É inegável que CFEM contribui para fortalecer as finanças públicas, mas
os Municípios deveriam buscar outras fontes de receita, no intuito de diminuir a
dependência quanto à CFEM, considerando a instabilidade dessas rendas, seja
pela volatilidade dos preços das commodities minerais e pela esgotabilidade dos
recursos minerais.
Com base nessas considerações, passaremos a analisar se os índices de
desenvolvimento humano do município e projetos ambientais desenvolvidos no
Município de Corumbá em contrapartida aos valores arrecadados à título de
CFEM.
Índice de Desenvolvimento Humano – IDH e Índice Firjan de
Desenvolvimento Municipal - IFDM
Dentre os indicadores propostos com o intuito de considerar, além dos
aspectos econômicos, os sociais e culturais tem-se Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD). Tal índice, segundo Minayo et al. (2000), por basear-se nas
151
capacidades, seria um indicador sintético de qualidade de vida, afinal a saúde e
a educação são estados ou habilidades que permitem uma expansão das
capacidades.
Já o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) é o resultado de
um estudo do Sistema FIRJAN que acompanha anualmente o desenvolvimento
socioeconômico de todos os mais de 5 mil municípios brasileiros nas áreas de
Emprego e Renda, Educação e Saúde, obtido, exclusivamente, com base em
estatísticas públicas oficiais, disponibilizadas pelos ministérios do Trabalho e
Previdência Social, da Educação e da Saúde. A leitura do IFDM varia entre 0
(desenvolvimento nulo) e 1 (desenvolvimento perfeito). Cada uma de suas três
dimensões é sintetizada em subíndices (IFDM Educação, IFDM Saúde e IFDM
Emprego e Renda) cujos valores também variam de 0 a 1.
O IDHM de Corumbá passou de 0,584 em 2000 para 0,700 em 2010 -
uma taxa de crescimento de 19,86%, sendo considerado alto de acordo com o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2013), segundo
o último relatório, divulgado no ano de 2010 (Tabela 4).
Tabela 4. Índice de Desenvolvimento Humano Corumbá – 1991, 2000 e 2010
Ano IDH médio Posição Nacional Posição Estadual
2010 0,700 1904 26
2000 0,584 1879 21
1991 0,509 659 5
Fonte: PNUD (2013).
Entretanto, ao se utilizar como parâmetro o IFDM, Corumbá foi avaliada
com nível de desenvolvimento moderado27 (0,6740), ocupando o 42º lugar entre
os 79 municípios do Estado de Mato Grosso do Sul.
A evolução do IFDM de Corumbá encontra-se demonstrado na Tabela 5,
abaixo:
27 IFDM: o índice varia de 0 (mínimo) a 1 ponto (máximo) para classificar o nível de cada localidade em quatro categorias: baixo (de 0 a 0,4), regular (0,4 a 0,6), moderado (de 0,6 a 0,8) e alto (0,8 a 1) desenvolvimento. Ou seja, quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento da localidade (FIRJAN, 2015).
152
Tabela 5. IFDM Corumbá no período de 2000 a 2011
Ano IFDM Posição Nacional Posição Estadual
2011 0,6750 2048º 31º
2010 0,6806 2110º 25º
2009 0,6360 2835º 49º
2008 0,6825 1572º 16º
2007 0,7060 1127º 9º
2006 0,6946 1151º 11º
2005 0,7144 890º 5º
2000 0,5522 2414º 44º
Fonte: FIRJAN (2015).
Segundo o FIRJAN (2015), as condições relativas a Educação, Saúde e
Emprego e Renda em Corumbá também foram consideradas de
desenvolvimento moderado durante o período avaliado, exceção para o ano de
2013, em que o índice de emprego e renda caiu e foi considerado regular (Tabela
6).
Tabela 6. Índice FIRJAN para Educação, Saúde, Emprego e Renda para
Corumbá, Mato Grosso do Sul, no período de 2010 a 2013
2010 2011 2012 2013
IFDM 0,6593 0,6750 0,7043 0,6740
Educação 0,6374 0,6474 0,6698 0,6803
Saúde 0,6701 0,6753 0,7281 0,7441
Emprego renda 0,6706 0,7021 0,7148 0,5974
Lins (2015) ao analisar os valores recebidos pela CFEM e o número de
salas de aula e leitos hospitalares em Corumbá, constatou que houve pouco ou
nenhum investimento que se traduza em acréscimo referente à estrutura escolar
no período considerado nesta pesquisa (2006/2013). O número de escolas
municipais de Educação Básica se manteve constante, com um ligeiro acréscimo
no número de salas de aula existentes no município, assim como no número de
matriculados no sistema educacional, concluindo,
“Entre 2000 e 2010, embora a população tenha aumentado
a uma taxa anual de 0,81%, passando de 95.701 habitantes
153
em 2000, para 103.703 habitantes em 2010 (PNUD, 2013),
verifica-se que apenas 37 novas salas de Aula foram
disponibilizadas à população corumbaense, no período
compreendido entre 2006 e 2013” (LINS, 2015, p. 51).
Com relação à saúde pública de Corumbá no período de 2007 a 2013,
Lins (2015, p. 52) constata que “... a questão dos investimentos na saúde pública
tampouco difere da educação (...) ao invés de novos leitos disponibilizados à
população no decorrer do tempo, alguns foram reduzidos ...”.
“O número de leitos existentes em 2007 era de 196.
Incrivelmente, a despeito do crescimento populacional e do
aumento da arrecadação do município, os leitos existentes
em 2013 experimentaram uma redução em seu número
para 168, ou seja, 28 leitos foram fechados. Se analisados
os Hospitais Gerais, em 2007 o município contava com 2.
Em 2013, apenas 1 deles estava disponível à população.
Os leitos do Sistema Único de Saúde também foram
reduzidos. Em 2007 a população contava com 143; em
2013, apenas com 133” (LINS, 2015, p. 52).
Os valores milionários recebidos pelo município pela CFEM também não
refletiram em aumento considerável de emprego e renda. Em de 2013 o
município recebeu R$ 15.205.784,55 de CFEM, valor 50% maior que no ano de
2012 e esse acréscimo não repercutiu na geração de empregos, restando,
inclusive, saldo negativo em relação aos empregos na atividade extrativa mineral
(-150). No ano de 2016, quando foram repassados para o município R$
28.963.789,68, os empregos formais no mesmo ano caíram no município (-240)
e no setor da mineração (-65), conforme demonstrado pela tabela 7.
Os dados oficiais são alarmantes no sentido de que mesmo com o
aumento populacional e valores milionários recebidos pelo município de royalties
da mineração não houve aumento na geração de emprego e investimentos na
educação e saúde da população.
154
Tabela 7. Perfil dos empregados na mineração em Corumbá, Mato Grosso do
Sul, de 2010 a maio de 2018
Movimentação agregada Admissões Desligamento Variação
2010 378 199 179
2011 389 117 272
2012 295 212 83
2013 285 435 -150
2014 246 270 -24
2015 79 296 -217
2016 51 116 -65
2017 103 126 -23
Maio de 2018 36 33 3
Fonte: MTE (2015) adaptado.
Projetos ambientais desenvolvidos no município de Corumbá-MS de 2010
a 2016
Considerando que o intuito da CFEM é promover o desenvolvimento
econômico e social da região, diante dos sérios e negativos impactos ambientais
causados pela atividade mineradora, uma das alternativas seria usar os recursos
no desenvolvimento de projetos ambientais que atendessem os anseios da
comunidade local.
Em visita a Fundação de Meio Ambiente de Corumbá, bem como por meio
de informações obtidas perante o site da Prefeitura Municipal de Corumbá,
verificou-se a existência de vários projetos ambientais que ocorrem de maneira
pontual, mas sem preocupação específica com a atividade mineradora e seus
impactos ambientais.
Tem-se como Projetos Ambientais relevantes, constantes do site da
Prefeitura, o Projeto Nosso Talento, que capacitou estudantes no combate à
dengue (03/01/2011); Projeto Vida Saudável, sobre alimentação saudável
(27/04/2011); Projeto de Coleta Seletiva (12/09/2011), Projeto Peixe Solidário e
Plano de Pesca, com a capacitação de pescadores e ribeirinhos (28/02/2013);
Projeto Agentes Ambientais, promovendo capacitação de 20 munícipes de cada
bairro escolhido (locais de difícil acesso) para atuarem na orientação da
população local sobre disposição inadequada dos resíduos sólidos, viabilizando
a coleta de lixo urbano (03/06/2013). (CORUMBÁ, 2013).
155
Assim, considerando os altos valores arrecadados pelo Município de
Corumbá pela CFEM tem-se que pouco ou quase nada desse valor é destinado
à melhoria da qualidade de vida da população, quer sob a forma de recuperação
ambiental, investimento na saúde e educação e geração de emprego e renda.
Conforme leciona Enríquez et al. (2011), para se reduzirem os impactos
negativos de um empreendimento minerário, a atuação do Estado se faz
fundamental uma vez que cabe a ele assegurar a legalidade, promover a
resolução de conflitos e garantir que as conquistas obtidas não sejam
comprometidas no processo de sucessão política. Da mesma forma, a dimensão
territorial é vital, tendo em vista que a existência de recursos minerais pode ser
ao mesmo tempo dádiva, ao impulsionar o desenvolvimento, e maldição, ao
destruir meios de sobrevivência ou comprometer a saúde do meio natural e dos
indivíduos (ENRÍQUEZ et al., 2011).
Os sócios ou acionistas de empresas de grande porte, nacionais ou de
capital estrangeiro, são os principais beneficiários da economia mineral e, de
fato, pouco fazem a favor das alternativas para redução dos impactos e para a
elaboração de estratégias de diversificação e prospectiva econômica nas
localidades e regiões em que atuam (PEREIRA, 2016b).
Fundo social de recursos minerais
A mineração é afetada pela existência de uma assimetria temporal entre
custos e renda obtida. Conforme enfatiza Chagas (2013, p. 183), “... o lucro está
no presente, e os custos localizam-se no futuro, principalmente pela não
disponibilidade dos recursos naturais ...”.
Conforme já asseverado, embora diante de expressiva arrecadação, não
existe vinculação específica para a utilização da CFEM na recuperação
ambiental ou em investimentos sociais, sendo arrecadada em regime de “caixa-
único”, ficando a critério do Administrador a destinação do recurso, havendo
apenas a vedação legal quanto a sua utilização para pagamento de pessoal e
dívidas, distanciando-a de seu real objetivo que é promover a sustentabilidade
local.
156
A compreensão de bem mineral como bem ambiental de natureza difusa,
extrapolando o conceito literal do art. 20 da CF/88 atribui o gerenciamento
desses bens no interesse da coletividade28.
Assim, o município é competente para legislar em matéria ambiental, no
interesse da coletividade, para criar um “Fundo da Mineração do município de
Corumbá”, em que a população e o poder público gerenciem o destino e
aplicação dos valores da CFEM, a exemplo do que ocorre no Alaska e na
Noruega.
O Fundo Mineral existente no Alaska e na Noruega são considerados
modelos de uso sustentáveis das rendas minerais. Neste sentido, leciona
Enríquez (2007, p. 115):
“.... As experiências dos fundos do Alaska, de Alberta e da
Noruega revelam a importância da participação efetiva da
sociedade na definição dos objetivos e critérios de partilha e
também da necessidade de uma gestão técnica dos
recursos. Todavia, os fins para os quais os atuais fundos
estão sendo usados são incompatíveis com as
necessidades das regiões pobres. Dessa forma, os
objetivos, os critérios de repartição dos benefícios e a forma
de administração devem ser adequadas ao contexto
socioeconômico a que o fundo está associado. Nas regiões
pobres, o exemplo de Gana revela a necessidade de regras
claras e transparentes, do controle social e da efetiva
participação dos stakeholders para a determinação do
melhor uso, do arranjo institucional e dos critérios que
possam potencializar os benefícios que proporcionam as
rendas mineiras gerenciadas por intermédio de um fundo ...”.
Segundo a Autora, os valores do fundo do Alaska (APFC) são aplicados
em títulos, ações e imóveis. Metade dos dividendos são distribuídos diretamente
28 Art. 20. São bens da União: IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; § 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.
157
aos cidadãos que vivem há pelo menos um ano no Alaska e a outra metade
continua aplicada com objetivo de capitalizar e ampliar os recursos. Já na
Noruega, os valores são utilizados para despesas nas áreas de saúde,
previdência, meio ambiente, entre outras (ENRÍQUEZ, 2007).
Recursos oriundos de receitas minerais, geridos por organizações
especificamente criadas para este fim, remontam pelo menos à década de 1950,
com a criação da The Alcoa Foundation e da Phelps Dodge Foundation e existem
em vários lugares do mundo (SANTOS, 2012) e o Corumbá poderia se tornar
pioneira na criação do Fundo mineral no município.
Conclusão
Corumbá é referência no setor de mineração, destacando-se entre os 10
Municípios do Brasil de maior arrecadação de Compensação pela exploração
Mineral - CFEM. Entretanto, os valores milionários de CFEM recebidos pelo
município não são revertidos em desenvolvimento humano. Nos anos em que os
repasses financeiros foram maiores o índice de desemprego aumentou e não
houve investimento na saúde e educação proporcionais ao aumento de
arrecadação do município, bem como projetos ambientais significativos,
demonstrando que a receita advinda da atividade mineradora não é revertida em
benefício da comunidade local.
Para agravar a situação, constatou-se a grande dependência econômica
do município com relação aos valores arrecadados de CFEM, que representa
mais de 20% da receita do município de Corumbá.
O fato dos valores da CFEM serem destinados a uma conta única da
Prefeitura dificulta a identificação dos valores destinados às questões ambientais
e melhoria da qualidade de vida da população, situação que ocorre na maioria
dos municípios brasileiros.
A criação de um Fundo Social da Mineração para o município de Corumbá
seria alternativa para que as populações locais, juntamente com o poder público,
pudessem decidir as prioridades na aplicação do dinheiro, tornando
transparentes os valores arrecadados e os investimentos realizados.
158
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Constitucionais nos 1/92 a 91/2016 e pelo Decreto Legislativo no 186/2008.
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165
Artigo III
As subnotificações das comunicações de acidentes de trabalho no setor
da mineração: análise da situação dos mineiros de Corumbá-MS
Tchoya Gardenal Fina do Nascimento
Resumo
O município de Corumbá está situado na região do Pantanal do Estado
de Mato Grosso do Sul, localizada a 426 km da capital possuindo em seu
território a maior reserva de manganês e a terceira maior reserva de minério de
ferro do Brasil. O setor de mineração é um dos maiores causadores de danos à
saúde do trabalhador diante do elevado número de acidentes de trabalho,
doenças e mortes dos empregados. Objetiva-se levantar e analisar o número de
acidentes de trabalho ocorridos no setor da mineração em Corumbá, no período
de 2014 a 2018, traçando um comparativo entre os acidentes/doenças do
trabalho oficialmente notificados e as situações omitidas, mas que diante das
sequelas, acabam desembocando no Judiciário Trabalhista e na Previdência
Social, para diagnosticar as principais causas de acidentes e adoecimentos do
setor em Corumbá. A pesquisa e´ de natureza quali-quantitativa, além de revisão
bibliográfica e coleta de dados por meio da análise de ações trabalhistas,
Comunicações de Acidentes de Trabalho e autuações do Ministério Público do
Trabalho. Como resultado obteve-se que as situações de acidentes e
adoecimentos nas mineradoras de Corumbá são subnotificadas e a CAT não é
emitida em 20% dos casos, maquiando grave realidade existente, isentando as
empresas de suas responsabilidades trabalhistas e sociais. Os acidentes e
doenças do trabalho atingem trabalhadores jovens, com pouca qualificação e
com menores remunerações acarretados por em jornada excessiva de trabalho,
falta de treinamento adequado, falhas na estrutura do ambiente de trabalho e
falta ou insuficiência de EPI´S. A análise dos processos demonstrou problemas
recorrentes e pontuais, de fácil identificação. A atuação mais efetiva do Poder
Público na fiscalização e autuação das empresas por violação as normas de
segurança e saúde do trabalhador diminuiria a ocorrência de acidentes e
adoecimentos laborais.
Palavras-Chave: Meio Ambiente do Trabalho, Mineração, Acidente de Trabalho;
CAT, Corumbá.
166
Abstract
The underreporting of communications of work accidents in the mining
sector: analysis of the situation of the miners of Corumbá-MS. The
municipality of Corumbá is located in the Pantanal region of Mato Grosso do Sul,
at 426 km from the capital, possessing in its territory the largest manganese
reserve and the third largest iron ore reserve of Brazil. The mining sector is one
of the major causes of damage to the health of the worker in the face of the high
number of accidents at work, illnesses and even deaths of employees. The goals
of this study is to verify and analyze the number of works accidents in the mining
sector in Corumbá in the period from 2014 to 2018, drawing a comparison
between the officially reported accidents/diseases of work and the omitted
situations, which in face of sequels, end up in the Labor Judiciary and in Social
Security, to diagnose the main causes of accidents and illnesses of the sector in
Corumbá. The research is qualitative and quantitative, using for the data
collection, analysis of labor lawsuits, work accidents communications and
notifications Public Employment Prosecutor's Office as well as bibliographic
research. As a result, the accidents and illnesses in the miner of Corumbá were
underreporting and CAT is not issued in 20% of the cases, masking serious reality
existing, exempting the companies from their labor and social responsibilities.
The accidents and work-related illnesses affect younger workers with low
qualification and lower wages cause by excessive hours of work, absence
adequate training, lack of work structure environment and lack or insufficient
PPE. Processes analyses showed recurrent and punctual problems, of easy
identification. A more effective actuation of Public Power on the inspection and
notification of the companies for violation in safety rules and health of employee
would reduce the occurrence of accidents and occupacional diseases.
Keywords: Work Environment, Mining, Accident at Work; CAT, Corumbá.
Introdução
O município de Corumbá, com população estimada em 109.899
habitantes (IBGE, 2018) desponta como um dos principais municípios
mineradores do país. Situado na região do Pantanal do Estado de Mato Grosso
do Sul, na fronteira com a Bolívia, abriga em seu território a terceira reserva de
minério de ferro do Brasil e a maior reserva de manganês do país. A maior jazida
167
de minério de ferro está localizada em Minas Gerais, no Quadrilátero do ferro, a
segunda maior localiza-se no Pará, na Serra dos Carajás e a terceira maior
jazida de ferro está no Mato Grosso do Sul, no Maciço do Urucum, em Corumbá-
MS. De acordo com o Ministério das Minas e Energia, em 2013, o setor de
mineração de Corumbá empregou 1.475 trabalhadores com carteira assinada,
colocando-a, neste quesito, em 14º lugar no rol de cidades mais importantes para
a indústria extrativa mineral brasileira. Em contrapartida, concernente ao meio
ambiente do trabalho, há que se considerar o elevado número de acidentes e
doenças do trabalho (22.758, em 2013 no Brasil), aposentadorias por invalidez
e mortes.
Entretanto, os dados oficiais não refletem a realidade, vez que nem
sempre há emissão da CAT – Comunicação de Acidentes de Trabalho, fazendo
com que a realidade dos acidentes fique mascarada.
Com base neste cenário este artigo tem como objetivo levantar e analisar
o número de acidentes de trabalho ocorridos no setor da mineração em
Corumbá, durante o período de 2014 a 2018, traçando um comparativo entre os
acidentes/doenças do trabalho oficialmente notificados e as situações omitidas,
mas que diante das sequelas, acabam desembocando no Judiciário Trabalhista
e na Previdência Social, para diagnosticar as principais causas de acidentes e
adoecimentos do setor mineral de Corumbá-MS, preenchendo lacunas de
pesquisas sobre essa realidade local, além de ser imprescindível para a adoção
de medidas preventivas e protetivas pelas empresas, para trazer higidez para o
ambiente de trabalho em benefício da sociedade.
Material e Métodos
O município de Corumbá localiza-se em Mato Grosso do Sul, na fronteira
com a Bolívia, distante 426 quilômetros de Campo Grande - MS. Em Corumbá
está localizada a maior reserva de manganês e a terceira maior reserva de
minério de ferro do Brasil. Com isso, buscou-se através da utilização de método
quantitativo indireto, de natureza documental, em fontes secundárias (livros,
artigos, imprensa escrita e imprensa oficial - índices oficiais publicados) e fontes
primárias (análise de processos trabalhistas ajuizados em desfavor das
mineradoras por acidentes de trabalho e análise de autuações do MPT
demonstrar o número de acidentes de trabalho e doenças ocasionados pela
168
atividade mineradora e as subnotificações ocorridas no período de 2014 a 2018
e os impactos que essa “legião” de aleijados acarreta na comunidade local e na
sociedade em geral.
Resultados e Discussão
Empresas Mineradoras em Corumbá, MS
Atualmente, encontram-se operando na região de Corumbá as seguintes
empresas do setor de mineração:
1) Companhia Vale do Rio Doce (VALE) - com controle da Urucum
Mineração (UMSA), produziu nos primeiros nove meses de 2017 um total
de 1.77 milhão tonelada ano-1 de minério de ferro, com licença para até
2.350.000 t ano-1 (LO), resultado 13,9% maior que o mesmo período de
2016, além da produção de minério de manganês que chegou a 495 mil
tonelada ano-1, podendo atingir 750.000 tonelada ano-1 (LO);
2) Mineração Corumbaense Reunida (MCR/VALE S. A.) - empresa da
multinacional Rio Tinto do Brasil (RTB), subsidiária integral da Vale do Rio
Doce, com produção de 3 milhões de tonelada ano-1, mas com anuência
do IBAMA para explorar até 6 milhões tonelada ano-1. Sua produção é,
atualmente, destinada exclusivamente para o mercado externo. Prevê-se
um aumento da extração desse minério para 22,4 milhões de tonelada
ano-1 (EIA) e a produção de 4,0 MM tonelada ano-1 de laminados
(ZERLOTTI, 2010);
Figura 1. Mina de Urucum- Corumbá. Fonte: Vale (2009) apud Brito (2011).
169
3) Corumbá Mineração Ltda. (COMIN) - empresa de mineração de ferro gusa
ligada ao Grupo Siderúrgico Vetorial, com a produção de 670.000
tonelada ano-1, posicionando a empresa entre as três maiores do Brasil.
A unidade de Ribas do Rio Pardo possui dois altos fornos com capacidade
total de produção de 300 mil toneladas por ano. Em Corumbá, a unidade
possui capacidade de produção de 370 mil toneladas de ferro gusa por
ano e também possui unidade termoelétrica (VETORIAL, 2018);
4) Mineração Pirâmide Participações Ltda. (MPP) - lavra experimental, de
produção anunciada de 180.000 tonelada ano-1, podendo chegar a
1.440.000 tonelada ano-1. É fornecedora da SIDERUNA, em Campo
Grande, empresa do Grupo Vetorial (LINS, 2015). A produção destinada
à siderúrgica é transferida da mina para o pátio da estação Maria Coelho,
de onde é carregado em vagões. O percurso entre a mina e o pátio é de
21 km (VETORIAL, 2018);
5) Granhas Liga Ltda: Reativada em Corumbá em 2016 é a terceira maior
produtora de ferroliga do Brasil, situada em Minas Gerais e Mato Grosso
do Sul, possuindo suas unidades em Conselheiro Lafaiete, São João Del
Rei e Corumbá. Seus principais produtos são o Ferro Sílico Manganês
(FeSiMn 12/16%Si) e Ferro Manganês Alto Carbono (FeMnAC), sendo
fabricados a partir de minérios de manganês, fundentes e redutores. Os
minérios são quase que em sua totalidade de minas pertencentes ao
grupo, localizadas em Minas Gerais e na Bahia (GRANHA LIGAS, 2018).
A quase totalidade da produção de Fe é comercializada com a Argentina
e China. Quanto aos minérios de Minério, a maior parte é exportada para os
países supracitados, como também para a Europa. O restante é consumido no
país, nas regiões Sudeste e Sul.
A lavra do minério de Ferro em toda região mineira de Corumbá é feita a
céu aberto e a lavra de Mn é subterrânea, através de galerias escavadas,
segundo o método de salões e pilares. As mineradoras possuem instalações
eficientes para o beneficiamento primário do Fe e do Mn, compreendendo
lavagem, britagem e estocagem para posterior transporte por caminhões aos
pontos de embarque, nas estações de estrada de ferro (Urucum e Maria Coelho),
170
ou nos portos de Corumbá e Esperança (privativo da Mineração Corumbaense
S/A.) (ZANINI et al., 2002).
O processo produtivo do setor mineral em Corumbá segue todos os
estágios da indústria extrativa mineral até o beneficiamento, fase em que os
minérios são lavados para a separação de impurezas e lama e depois
classificados. A partir daí emergem duas possibilidades: a primeira é a
comercialização dos minérios in natura para compradores de fora do município,
havendo ainda a possibilidade da matéria-prima servir de insumo para a
transformação, já que os minérios por si só não possuem serventia para
utilização isolada; e a segunda é a interface com a indústria de transformação,
quando os minérios são aplicados como insumos associados a outros produtos
para a produção de ferro-gusa e ferro-ligas nas siderurgias, com a finalidade de
serem comercializados (MICHELS e YANAGUITA, 2004; SILVA, 2016).
De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços, em 2017, Mato Grosso do Sul exportou 3,742 milhões de toneladas de
minério de ferro, garantindo divisas de US$ 124,031 milhões. Alta ainda mais
expressiva foi registrada nas exportações de manganês. Embora com
participação inferior na balança comercial (1,89%), o minério gerou um
faturamento de US$ 90,615 milhões, 74,11% a mais em comparação a 2016.
No caso do manganês, Mato Grosso do Sul triplicou a lavra e atualmente
responde por 22% de toda produção brasileira. As maiores reservas estão em
Minas Gerais (87%), MS (6,5%) e Pará (4,3%). A principal aplicação do
manganês é na fabricação de ligas metálicas (ferro-liga) (MDIC, 2018)29.
A estratégia neoextrativista30 adotada em alguns países da América e no
Brasil a partir dos anos 2000 se destaca pela exploração de grandes volumes de
recursos minerais, com a exportação de commodities, constituindo a “economia
do enclave”, monoindustrial31.
29 Segundo a Business Week (1984), o projeto Carajás é o último grande investimento mundial na mineração, numa área que contém 20 bilhões de toneladas do minério de ferro mais rico do mundo (LAROUSSE, 1998). 30 O neoextrativismo é definido como um modelo de desenvolvimento focado no crescimento econômico e baseado na apropriação de recursos naturais, em redes produtivas pouco diversificadas e na inserção subordinada na nova divisão internacional do trabalho. 31 Casos exemplares de economia de enclave no Brasil são, entre outros, o de Itabira-MG, onde há mais de 70 anos a Vale extrai minério de ferro e com registro de desenvolvimento socioeconômico pífio, com alto índice de suicídio de jovens nos anos 1990, coincidente com a notícia de fechamento da mina em alguns anos (FERNANDES, ENRÍQUEZ, ALAMINO, 2011); o de Serra do Navio-PA, de extração de manganês, que o exaurimento da mina e a retirada da empresa, levou ao esvaziamento da cidade, deixando sério passivo socioambiental (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2016).
171
O neoextrativismo se caracteriza como uma faceta do modelo de
desenvolvimento cujo enfoque é o crescimento econômico baseado na
apropriação de recursos naturais, com cadeias produtivas curtas (extração,
transporte e eventual processamento) e pouco diversificadas. Nesse percurso,
sem o potencial agregador das indústrias de transformação os níveis de emprego
direto tendem a reduzir. Ou seja, a economia mineral torna-se refém das
oscilações do mercado internacional de commodity mineral. Essa dinâmica tem
se mostrado concentradora de desigualdades e não geradora de alternativas no
território minerado (PEREIRA, 2016, p. 40).
Entretanto, o entendimento da atividade industrial de Corumbá passa pela
compreensão de inserção de seus produtos no mercado internacional. As
oscilações econômicas sofridas na conjuntura internacional e nacional tornam
suscetível a produção, o valor e importância da atividade em nível de geração
de impostos, renda e emprego (SOUZA et al., 2017).
Saúde do Trabalhador
O trabalho na mineração sempre foi considerado uma das atividades mais
perigosas à saúde humana e, justamente por isso, em tempos pretéritos, era
designado a escravos ou prisioneiros (SANTOS, 2012; RAMAZZINI, 2016) e
mesmo após a modernização industrial, situações inaceitáveis de riscos
operacionais são frequentes no ambiente de trabalho, colocando em perigo a
vida, o bem-estar e a saúde dos mineiros, afetando também sua família e toda a
sociedade, que paga os custos de uma “legião de aleijados” e mortos pela
atividade mineradora, afetando o meio ambiente e a sustentabilidade ambiental
(OLIVEIRA, 2001).
A Constituição Federal de 1.988, em seu art. 225, coloca o meio ambiente
do trabalho no mesmo patamar de importância e no mesmo contexto de proteção
e prevenção àquele reservado para o meio ambiente natural, além de dedicar
especial atenção a atividade mineradora, obrigando aquele que explorar
recursos minerais a recuperar o meio ambiente degradado, reconhecendo o
impacto ambiente dessa atividade ao meio ambiente, dentre os quais, o meio
ambiente do trabalho.
Sobre a previsão Constitucional, Costa e Rezende (2012, p. 772):
172
“... Essa advertência pode ser estendida à proteção a seus
trabalhadores, pois é recorrente que eles laboram em locais
inadequados, afetando indelevelmente a saúde,
principalmente quando a mineração é explorada em mina
subterrânea...”.
Entretanto, além dos fatores externos (riscos físicos, químicos e
biológicos) contribuírem para o elevado número de infortúnios, percebe-se
também que o aumento de doenças laborativas e de acidentes de trabalho
decorre de significativas alterações nos padrões de organização do trabalho e
da produção.
Conforme enfatizado por Baumann (2005), diante da crescente
terceirização, jornadas exaustivas, polivalência e enfraquecimento dos
sindicatos profissionais, os operários são compelidos a enfrentar o paradoxo de
permanecer no mercado de trabalho em tempos de cultura do não emprego,
sujeitando-se a processos produtivos que esperam contar com mão-de-obra que
aceita quaisquer condições para atender o novo ritmo às rápidas mudanças
exigidas pelo capital.
No Brasil, o movimento de participação dos trabalhadores em busca de
mais segurança e saúde nos locais de trabalho surgiu durante o período de
redemocratização da política do país, na década de 1.980, trazendo um novo
pensar sobre o processo saúde-doença e o papel exercido pelo trabalho na sua
determinação e que culminaram por influenciar a Constituição Federal de 1.988,
que estabeleceu em seu artigo 6º, a saúde como um direito social e fundamental
do trabalhador (MENDES e DIAS, 1991).
A saúde passa a ser compreendida como um fenômeno complexo que
transcende a mera eliminação de agentes patológicos, abrangendo também
fatores psicológicos e sociais (SILVA, 2016, p. 34).
Considerando a dimensão do problema, a Legislação Previdenciária
(BRASIL, 1991), reconhece que vários transtornos mentais e de comportamento
tem nexo de causalidade presumida com a atividade extrativa mineral, dentre os
quais a demência (CID F02-8), transtorno cognitivo leve (CID F06.7), transtorno
de personalidade (CID F.07.0), transtorno mental orgânico ou sintomático não
especificado (CID F09), entre outros.
173
Os acidentes de trabalho e o grande número de adoecimentos no setor
extrativo mineral produzem um enorme contingente de mutilados, homens e
mulheres extenuados, mirrados, precocemente envelhecidos (OLIVEIRA, 2001),
com a saúde consumida não só pela contínua exposição a agentes insalutíferos,
mas também agora, em razão do “novo metabolismo social”, pelos métodos de
administração by stress.
Acidente de Trabalho e/ou Doença Ocupacional
Segundo o artigo 19 da Lei nº 8.213 (BRASIL, 1991, Seção I, p. 1), de 24
de julho de 1991:
“Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do
trabalho a serviço da empresa, ou de empregador
doméstico, ou pelo exercício do trabalho do segurado
especial, provocando lesão corporal ou perturbação
funcional, de caráter temporário ou permanente”.
O acidente de trabalho pode causar desde um simples afastamento, a
perda ou a redução da capacidade para o trabalho, até mesmo a morte do
segurado. Também são considerados como acidentes do trabalho:
a) O acidente ocorrido no trajeto entre a residência e o local de trabalho do
segurado;
b) A doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada
pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade, e;
c) A doença do trabalho, adquirida ou desencadeada em função de
condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione
diretamente.
Nos casos de doença profissional, a doença deve constar da relação de
que trata o Anexo II do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo
Decreto no 3.048, de 6/5/1999 (BRASIL, 1999). Em caso excepcional,
constatando-se que a doença não incluída na relação constante do Anexo II
resultou de condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se
174
relaciona diretamente, a Previdência Social deve equipará-la a acidente do
trabalho (AEAT, 2016).
Assim, a Lei Geral de Benefícios Previdenciários (BRASIL, 1991) além de
definir os acidentes de trabalho típicos, equiparou as doenças profissionais (art.
20) como acidentes típicos desencadeados “em função de condições especiais
em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente”, inclusive os
infortúnios ocorridos fora do local e horário de trabalho, desde que o empregado
esteja executando ordens ou a serviço do empregador (SILVA, 2016).
O art. 21, I, do mesmo Diploma Legal define que as concausas também
se equiparam a acidente de trabalho, sendo definidas como:
“O acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido
a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do
segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o
trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para
a sua recuperação” (BRASIL, 1991, RGPS).
No intuito de estabelecer o nexo de causalidade entre a doença/acidente
de trabalho e a atividade laboral foi instituído o Nexo Técnico Epidemiológico
Previdenciário (NTEP) pela Resolução 1.236 (MPS, 2004) do Conselho Nacional
de Previdência Social (CNPS), de 28/04/2004, associando o Código
Internacional de Doenças (CID) e a Classificação Nacional de Atividades
Econômicas (CNAE) de cada empresa para enquadrar os ramos de atividade
econômica por grau de risco, para fins de incidência de contribuição
previdenciária (AEPS, 2015).
Ao se adotar o CID e o segmento econômico (CNAE) como filtros para
identificar os benefícios previdenciários concedidos, tem-se, objetivamente,
como identificar o risco de o trabalhador sofrer acidente ou apresentar uma
determinada doença, estabelecendo-se o nexo de causalidade. O cruzamento
de dados de CID com o CNAE permite associar diversas lesões, doenças,
transtornos de saúde e, inclusive morte com a atividade desenvolvida pelo
trabalhador, consistente do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário –
NTEP.
Para Verthein e Gomez (2011, p. 286) o cruzamento de dados entre CID
e CNAE é um indicador estatístico que “permite a visibilidade dos ramos de
175
atividade econômica que apresentam patologias acima da média da população
em geral, servindo, em plano paralelo, para o mapeamento de fatores de risco”,
independente da expedição de CAT pelo empregador.
A Norma Regulamentadora 22 (NR-22), que trata de segurança e saúde
ocupacional no setor da mineração estabelece claramente os deveres dos
empregadores e trabalhadores, e, pela primeira vez em uma norma de
segurança e saúde, fica claro o direito de recusa dos trabalhadores em exercer
atividades em condições de risco para sua segurança e saúde ou de terceiros,
cabendo aos empregadores garantir a interrupção das tarefas quando proposta
pelos trabalhadores. Tal direito inclusive está consagrado há muitos anos na
legislação de vários países e consta da Convenção 176 - Segurança e Saúde
nas Minas, da Organização Internacional do Trabalho (OIT)32, que foi ratificada
posteriormente pelo Brasil (SOUZA et al., 2017).
Segundo a OIT a precariedade das condições de trabalho no setor de
mineração, que emprega cerca de 1% da força de trabalho do mundo registra
8% dos acidentes fatais.
Além do que, a NR 22, em seu subitem 22.36 trouxe importante inovação
ao criar Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho na Mineração
(CIPAMIN)33 que permite aos trabalhadores organizar-se de maneira autônoma,
assumindo seu papel e responsabilidades no controle dos riscos existentes nos
ambientes de trabalho. Dentre as mais variadas atribuições da CIPAMIN,
destacam-se:
a) Elaborar o Mapa de Riscos, conforme prescrito na Norma
Regulamentadora nº.5 (CIPA), encaminhando-o ao empregador e ao
SESMT, quando houver;
b) Recomendar a implementação de ações para o controle dos riscos
identificados;
c) Analisar e discutir os acidentes do trabalho e doenças profissionais
ocorridos, propondo e solicitando medidas que previnam ocorrências
32 Convenção 176 OIT – disponível em: http://www.trtsp.jus.br/geral/tribunal2/LEGIS/CLT/OIT/OIT_176.html 33 22.36.1 A empresa de mineração ou Permissionário de Lavra Garimpeira que admita trabalhadores como empregados deve organizar e manter em regular funcionamento, na forma prevista nesta NR, em cada estabelecimento, uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA, doravante denominada CIPA na Mineração- CIPAMIN.
176
semelhantes e orientando os demais trabalhadores quanto à sua
prevenção.
Diversas atividades em mineração podem ocasionar a exposição dos
trabalhadores a riscos graves e iminentes para sua saúde e segurança,
determinando a suspensão imediata das atividades.
No caso da ocorrência de acidentes e doenças do trabalho o subitem
22.37.6.1 da Norma Regulamentadora 22 dispõe que:
“Os acidentes e doenças profissionais deverão ser
analisados segundo metodologia que permita identificar as
causas principais e contribuintes que levaram à ocorrência
do evento, indicando as medidas de controle para prevenção
de novas ocorrências” (MTE, 2016, NR 22).
E, em caso de acidente fatal, é obrigatória a adoção das seguintes
medidas:
a) Comunicar de imediato, à autoridade policial competente e à DRT, a
ocorrência do acidente (Alterado pela Portaria SIT nº 27, de1º de outubro
de 2002);
b) Isolar o local diretamente relacionado ao acidente, mantendo suas
características até sua liberação pela autoridade policial competente
(MTE, 2016).
O risco de acidente de trabalho (RAT) obriga o empregador a pagar um
seguro de acidente de trabalho (SAT) de 1%, 2% ou 3%, sobre a folha de
pagamento, dependendo se o risco é leve, médio ou alto, sendo que nas
atividades de extração de minério de ferro (CNAE 0710-3/01) (IBGE, 2018) e de
manganês (CNAE 0723-5/01) (IBGE, 2018) o percentual é de 2% (Anexo V
Decreto nº 3.048/99 (BRASIL, 1999) - Regulamento da Previdência Social,
vigente a partir de 01.06.2007.
Em 2010, como estímulo para que a empresas diminuíssem o potencial
de riscos de sua atividade foi instituído o FAP (Fator Acidentário de Prevenção),
que mede o histórico de uso dos benefícios previdenciários pelos empregados
177
de um determinado empregador e varia de 0,5 a 2% incidentes sobre o SAT,
podendo reduzi-lo pela metade ou dobrá-lo, dependendo do número de
acidentes/doenças. O FAP varia anualmente e é calculado sobre os dois últimos
anos de todo o histórico de acidentalidade e de registros acidentários da
Previdência Social.
Assim, as empresas que registrarem maior número de acidentes ou
doenças ocupacionais, pagam mais e no caso de nenhum evento de acidente de
trabalho, a empresa é bonificada com a redução de 50% da alíquota.
Processo Produtivo no setor mineral de Corumbá, MS
O processo produtivo no setor mineral de Corumbá é altamente
mecanizado nas atividades de extração de minério e ferro-gusa e o uso intensivo
de equipamentos mecânicos e a manutenção das máquinas têm causado
acidentes de trabalho, pela excessiva jornada exigida e falta de treinamento
(ALVES, 2013).
Na jazida subterrânea de manganês o método de lavra é o de câmaras e
pilares, com desmonte por explosivos. A operação é levada a efeito conforme a
sequência: cavilhamento (ancoragem do teto) - perfuração-carregamento
(explosivo) - desmonte (detonação) – limpeza minério-saneamento/scaler
(recomposição parede) - limpeza estéril e os equipamentos empregados são
escavadeiras (LHD), scalers (máquina que faz o acabamento da parede da
mina), plataformas móveis, jumbos, carregadores, parafusadores e caminhões.
(BRITO, 2011). O minério, uma vez lavrado é transportado por caminhões
próprios de 22,5 t-1 de carga até a instalação de beneficiamento, localizada na
superfície. O minério proveniente da mina (ROM) sofre apenas um
beneficiamento simples, britagem, lavagem, peneiramento e classificação (MCR,
2007).
A lavra do minério de ferro é feita exclusivamente a céu aberto, no sistema
de bancadas horizontais com formação de encostas, exploradas mediante
desmonte mecânico com máquinas escavadeiras, pás-carregadeiras ou tratores,
mas sem o uso de detonações (SILVA, 2016).
A atividade altamente mecanizada com uso intensivo de equipamentos
mecânicos e a manutenção de equipamentos transforma o homem em “vigia da
máquina” e dependentes de treinamento, o que, muitas vezes, não ocorre.
178
Esse “novo metabolismo social do trabalho”, envolve novos métodos de
gestão e pessoas, sob novas condições salariais que incorporam a adoção de
remuneração flexível (atrelada a produtividade), jornada de trabalho flexível e
contrato de trabalho flexível, agravando ainda mais a situação dos trabalhadores
das minas, fazendo com que confunda o interesse da empresa com o seu próprio
interesse, permitindo que sua força de trabalho sofra maior exploração, gerando
adoecimentos (VIZZACCARO-AMARAL, 2013).
O método de produção desenvolvido pelos empregados adota a divisão
de tarefas hierarquizadas e definidas conforme as fases do processo produtivo.
O controle do trabalho é realizado por profissionais de nível superior, na maioria
proveniente de outros Estados (principalmente Minas Gerais) e a execução do
serviço braçal e pesado é realizado pelos operários da região que possuem
menor qualificação e, consequentemente, recebem menores salários (MTE,
2013)
A remuneração de um empregado “qualificado”, ou seja, com nível
superior é mais de dez vezes a do empregado que exerce função “braçal” e que
representa a maioria das contratações das empresas. E são esses trabalhadores
de base que estão mais sujeitos aos acidentes e doenças ocupacionais.
Para demonstrar a diferença salarial existente entre os empregados de
nível superior e os trabalhadores braçais do setor extrativista mineral apresenta-
se o Quadro 1 abaixo, com informações obtidas perante o Ministério do Trabalho
e Emprego:
A rotatividade no setor mineral é ditada pelo valor comercial das matérias
primas no mercado mundial de commodities, sofrendo os impactos das
oscilações do mercado e, em momentos de crise ocorre a redução de postos de
trabalho e a cobrança por mais produtividade dos trabalhadores.
Neste sentido, considerando que a maioria dos empregados das
empresas de mineração é composta por trabalhadores com baixa qualificação,
em momentos de crise econômica, as demissões recaem sobre esses
empregados, mais numerosos e com verbas rescisórias de menor valor. Em
contrapartida, quando há recuperação no setor, a recontratação da mão-de-obra
é facilitada pela disponibilidade de trabalhadores reféns do afunilado mercado
de trabalho de Corumbá.
179
Quadro 1. Funções e Remunerações na Indústria de Extração Mineral de
Corumbá - 2017
Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) Salário Médio na
Admissão
711105 – Amostrador de Minério R$ 937,00
725010 – Ajustador mecânico R$ 937,00
911305 – Mecânico de manutenção de máquina R$ 1.576,40
910105 – Encarregado de manutenção mecânica de
sistema operacional R$ 2.271,33
213405 - Geólogo R$ 7.796,00
214405 – Engenheiro mecânico R$ 9.000,00
214705 – Engenheiro de minas R$ 10.214,20
710120 – Supervisor de produção na minerção R$ 10.000,00
Fonte: MTE (2013).
Castelão (2016) leciona no sentido de que a taxa de rotatividade do
município anual e por setor, durante o período estudado (2003 a 2015) foi de
29% enquanto que a do Brasil é de 58%, consequência do baixo dinamismo da
economia corumbaense, não oferecendo muitas opções de trabalho, além de ser
dependente do movimento da indústria e comércio.
Para Silva (2016, p. 79):
“O aumento da produtividade e da lucratividade não ocorre
apenas pela quantidade de minério extraído ou do ferro-gusa
produzido, mas também pela diminuição dos custos da força
de trabalho, na medida em que funções e tarefas mais
qualificadas no contexto do processo produtivo recebem
remunerações maiores em contraste com aquelas
consideradas mais braçais. A remuneração de um
profissional considerado “qualificado” pode ser de nove a 15
vezes maior do que aquela que é oferecida ou paga ao
trabalhador “desqualificado”, mesmo que a atividade deste
último esteja diretamente relacionada à produção, como é o
caso dos mineiros em relação aos engenheiros”.
180
Faria (2015, p. 1), médico auditor do MTE, constata que à medida que a
lucratividade diminui, as empresas “... precisam produzir mais para compensar
a queda de preço do minério. A pressão sobre o trabalhador aumenta o risco de
acidentes. Associado a isso, as empresas reduzem o investimento em
segurança ...”.
Subnotificações de acidentes e doenças ocupacionais
Segundo Braga (2015) a taxa de mortalidade entre trabalhadores da
mineração por cada 100.000 habitantes foi de 28,1 trabalhadores em 2013,
quatro vezes mais do que a taxa de mortalidade de outras atividades industriais
no mesmo período. Entretanto, ressalta o autor, que entraram nas estatísticas
de mortes apenas os casos de vítimas que tinham carteira de trabalho assinada
pelas mineradoras, ficando de fora os que trabalhavam nas empresas
terceirizadas, restando subestimado o número de mortes e a gravidade do
problema. Assim, os acidentes ocorridos com trabalhadores terceirizados na
mineração e siderurgia são computados em outras atividades industriais.
A comunicação de acidente de trabalho – CAT continua sendo uma
obrigação legal, mas não é mais imprescindível para a concessão de benefícios
previdenciários, considerando o grande número de acidentes e doenças que não
são informados. Tanto assim que nas tabelas que tratam de acidentes de
trabalho foi incluída uma coluna adicional sobre benefícios previdenciários
concedidos pelo INSS para os quais não foram registradas CAT.
O conjunto dos acidentes do trabalho passou a ser então a soma dos
acidentes e doenças do trabalho informados por meio da CAT com os acidentes
e doenças que deram origem a benefícios de natureza acidentária para os quais
não há CAT informada (AEAT, 2016, p. 11).
Os dados do último Anuário Estatístico da Previdência Social revelam que
no ano de 2016 ocorreram 578.435 acidentes de trabalho no Brasil, sendo
31.131 acidentes somente no setor extrativista de mineração, o que significa
mais de 43 acidentes por dia. Em Mato Grosso do Sul, no ano de 2016, foram
registrados 9.546 acidentes de trabalho, sendo 1.531 sem as notificações – CAT,
o que torna o cenário alarmante (AEAT, 2016, p. 554).
É incontroversa a falta de emissão da CAT (Comunicação de Acidentes
de Trabalho) ou subnotificações, no claro intuito de maquiar a grave realidade
181
existente no setor mineral. A informação sobre os acidentes de trabalho
ocorridos em todo território nacional é pouco confiável, seja no que concerne à
quantidade ou no tocante aos aspectos qualitativos das estatísticas desses
eventos.
Para Maia et al. (2013), diversas causas concorrem para que a
subnotificação se perpetue. O sistema de informação da Previdência Social
abrange os trabalhadores com vínculo sob a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), segurados do Seguro de Acidente do Trabalho (SAT). Neste sistema, há
a premissa de que a empresa de vínculo deve fazer a notificação, mesmo que
esta seja facultada a outros atores. Com efeito, a legislação permite que a
comunicação de acidente de trabalho (CAT) seja feita pelo médico que atendeu
o trabalhador ou pelo sindicato, mas o procedimento costumeiro observado no
INSS é que a CAT deve ser emitida em primeiro lugar pela empresa. Somando-
se a um sistema pericial falho com baixa sensibilidade para captar as centenas
de tipos de adoecimentos ocupacionais previstos em legislação, repercute em
enorme e persistente subnotificação de acidente de trabalho.
Os mesmos Autores observam que com a divulgação da Pesquisa
Nacional de Saúde (PNS) realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da
Saúde, relativo ao ano de 2013, pode-se verificar uma discrepância entre os
dados relacionados a acidentes de trabalho desta pesquisa e aqueles
registrados na base de dados do Ministério da Previdência Social.
“A comparação mostrou que a PNS aponta números de
quase 7 vezes os da Previdência, sendo que há maior
variação entre as Unidades da Federação da região Norte e
Nordeste. Sugere-se que essa diferença se deve à já
conhecida subnotificação do registro de acidentes, ao tipo
de dado resultante de cada pesquisa, e à baixa taxa de
formalização do emprego, sendo este último fator o
responsável pelas maiores razões entre as Unidades de
Federação da região Norte e Nordeste” (MAIA, et al., 2013,
p.1).
Os acidentes de trabalho devem ser notificados independentemente da
existência de vínculo empregatício formal. O SUS prevê a notificação
182
compulsória ao Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) de
diversos eventos ocupacionais independentemente da existência de vínculo
empregatício formal ou espécie de vínculo. Entretanto, a baixa capacidade
diagnóstica de eventos ocupacionais, mesmo com a existência dos centros de
referência em saúde do trabalhador, é um dos pilares da subnotificação no SUS.
O Decreto 3.048/99 (BRASIL, 1999), em seu anexo II, define as doenças e
respectivos agentes etiológicos ou fatores de risco de Acidentes do Trabalho
(Anexo II).
Subnotificações de acidentes e doenças ocupacionais em Mato Grosso do
Sul e em Corumbá, MS
As situações de acidentes e doenças do trabalho sempre estiveram
presentes na atividade minerária. Ganne (2000) estudou as demandas de
serviços de saúde e custos decorrentes de acidente de trabalho na cidade de
Corumbá, baseando-se nas CAT´S registradas no posto do INSS entre 1.996 e
1.997. Na época Corumbá contava com duas empresas de extração de minerais
metálicos e uma siderúrgica e do total de 252 acidentes de trabalho, constatou-
se que a siderurgia era responsável por 12,31% (31) e a extração de minerais
metálicos por 8,34% (21) dos acidentes registrados oficialmente (Quadro 2).
Quadro 2. Quantidade de acidentes do trabalho, por situação de registro e
motivo, segundo Brasil e Região de Mato Grosso do Sul - 2014 - 2016
Bra
sil
e M
ato
Gro
sso
do
Su
l
Anos
Quantidade de acidentes do trabalho
Total
Com CAT Registrada
Sem
CAT
Registrada Total
Motivo
Típico Trajeto
Doença
Do
Trabalho
Bra
sil 2014 71230
2
564238 430454 116230 17599 148019
2015 62237
9
507753 385646 106721 15386 114626
2016 57893
5
474736 354084 108150 12502 104199
MS
2014 10973 8524 6489 1829 206 2449
2015 9930 7933 6158 1571 204 1997
2016 9546 8015 6278 1585 152 1531
Fonte: AEPS (2016, p. 594-595).
183
Em Mato Grosso do Sul a situação de subnotificações de acidentes de
trabalho não é diferente das demais regiões do país, demonstrando dados
alarmantes de acidentes de trabalho e de subnotificações (Quadro 2).
O Quadro 2 demonstra o grande número de acidentes de trabalho e
doenças do trabalho que não foram notificadas, mas que desembocaram no
INSS diante da necessidade de auxílio-previdenciário (auxílio-doença,
aposentadoria por invalidez, pensão por morte acidentária), de acordo com a sua
gravidade e suas consequências.
No quadro 3 estão demonstrados o número de acidentes de trabalho
ocorridos mensalmente em Mato Grosso do Sul, nos anos de 2014 a 2016.
Em 2015, em Mato Grosso do Sul foram registrados 9.930 acidentes de
trabalho, dos quais 1.997 não foram notificados (Quadro 3), além da ocorrência
de 44 óbitos e em 2016 foram verificados 9.546, dos quais 1.531 sem a emissão
de CAT, e 32 óbitos, ou seja, uma média de 20% dos acidentes de trabalho não
foram formalizados e somente chegaram ao conhecimento do poder público
diante da necessidade de concessão de benefícios previdenciários decorrentes
dos infortúnios (AEAT, 2016).
184
Quadro 3. Quantidade mensal de acidentes do trabalho, por situação do registro e motivo, no estado do Mato Grosso do Sul – 2014
- 2016
Meses
Quantidade de acidentes do trabalho
Total
Com CAT Registrada Sem CAT
Registrada Total Motivo
Típico Trajeto Doença do
Trabalho 2014 2015 2016 2014 2015 2016 2014 2015 2016 2014 2015 2016 2014 2015 2016 2014 2015 2016
Total 10973 9930 9546 8524 7933 8015 6489 6158 6278 1829 1571 1585 206 204 152 2449 1997 1531
Janeiro 885 816 753 677 645 623 535 512 493 131 110 121 11 23 9 208 171 130
Fevereiro 900 763 734 673 581 586 514 467 462 145 100 111 14 14 13 227 182 148
Março 941 876 930 726 698 752 532 524 587 183 156 151 11 18 14 215 178 178
Abril 896 775 863 679 642 713 511 526 572 153 100 125 15 16 16 217 133 150
Maio 1019 815 776 773 657 630 592 520 461 167 126 162 14 11 7 246 158 146
Junho 839 822 835 653 684 684 511 497 536 129 173 133 13 14 15 186 138 151
Julho 976 891 870 755 699 747 656 521 575 168 157 160 22 21 12 221 192 123
Agosto 1032 908 900 799 705 781 611 550 604 167 134 157 21 21 20 233 203 119
Setembro 979 785 767 786 633 654 598 481 522 165 133 123 23 19 9 193 152 113
Outubro 1022 863 722 827 686 617 622 533 501 182 134 105 23 19 11 195 177 105
Novembro 827 834 753 655 663 658 505 529 534 132 123 109 18 11 15 172 171 95
Dezembro 657 782 643 521 640 570 393 498 431 107 125 128 21 17 11 136 142 73
Fonte: AEAT (2016, p. 262).
185
Figura 2. Distribuição de acidentes do trabalho, por motivo, no estado do Mato
Grosso do Sul – 2016. Fonte: AEAT (2016, p. 262).
Em Corumbá, em 2015 foram registrados 217 acidentes de trabalho,
sendo que 49 deles não foram devidamente notificados com a emissão de CAT,
além da ocorrência de 1 óbito. Em 2016, o cenário não apresentou melhora,
sendo registrados 223 acidentes de trabalho, dos quais 40 sem a formalização
da CAT e 1 óbito, situações identificadas no último Anuário Estatístico de
Acidentes de Trabalho de 2016, que apresenta as Estatísticas municipais de
acidentes do trabalho (AEAT, 2016, p. 582) (Figura 3).
Figura 3. Comunicações de acidentes de trabalho em Corumbá, 2015-2016.
Segundo Silva (2016), em Corumbá as subnotificações de acidentes e
doenças ocupacionais do setor de mineração foram verificadas em um dos casos
analisados, sob a justificativa de a empresa não ter como explicar para a matriz
186
o alto índice de acidentes na filial de Corumbá e em outros dois casos
analisados, sob a justificativa de perda no plano de participação nos lucros e
resultados, vez que no caso de acidentes notificados o coletivo de trabalhadores
perderia o acréscimo remuneratório anual (SILVA, 2016).
Em outro caso subnotificado, o trabalhador acidentado e sem CAT emitida
foi dispensado quando ainda estava em gozo de licença médica, portanto em
período estabilitário, e mesmo ciente desse fato o sindicato profissional
homologou a despedida sem justa causa, com o compromisso verbal feito pelo
representante da empresa de reintegrar o empregado caso o problema de saúde
se acentuasse (SILVA, 2016).
Assim, conforme ensina Thomé (2009, p. 3):
“É inegável, portanto, a importância da mineração para a
interiorização do desenvolvimento econômico do Brasil.
Todavia, uma característica inerente aos recursos minerais
não pode ser, em momento algum, desprezada: a sua
esgotabilidade. São recursos não renováveis que,
inevitavelmente, um dia se esgotarão. E então as inúmeras
vilas e cidades originadas e dependentes da mineração
poderão se deparar com inimagináveis impactos
socioeconômicos advindos do encerramento das
atividades mineiras, caso não providenciem a
diversificação de sua economia”.
A exploração mineral pode se traduzir em melhorias sociais, embora estas
dependam da capacidade dos governos, empresas e outras partes interessadas
gerenciarem os impactos negativos mencionados anteriormente.
Ao longo dos anos o setor mineral foi responsável pelo bom desempenho
do produto interno bruto (PIB)34 per capita, pela elevação da média salarial35 e
34 Segundo o IBGE (2015), o PIB per capita de Corumbá (R$ 18.087,03) posiciona-se em quarto lugar no ranking do Estado, estando atrás do PIB de Três Lagoas (R$ 69.184,36), Campo Grande (R$ 28.417,05) e Dourados (R$ 34.219,12). Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/corumba/pesquisa/38/47001?tipo=ranking. Acesso em: 01 jun. 2018. 35 De acordo com o IBGE (2015), Corumbá é o quarto município em número de trabalhadores assalariados no Estado de Mato Grosso do Sul ficando atrás de Campo Grande (266.171), Dourados (56.130) e Três Lagoas (33.974). Entretanto, quanto à média de salários mínimos pagos aos trabalhadores, Corumbá (2,9 s.m.) se posiciona à frente de Dourados (2,5 s.m.) e de Três Lagoas (2,8 s.m.), ficando muito próxima do segundo lugar, que é de Campo Grande (3,6 s.m.) e bem distante do primeiro lugar que é Ladário (5,0 s.m.). Disponível em:
187
pelo pagamento de royalties36 para Corumbá, criando uma perspectiva que
relaciona o progresso da cidade à existência e à permanência das mineradoras
e das siderúrgicas no município (COSTA, 2013), fator político-econômico-social
que converge para uma importância material e simbólica deste seguimento
industrial na localidade (SILVA, 2016).
Entretanto, os impactos negativos da atividade minerária sobre o meio
ambiente do trabalho merecem consideração vez que os empregados vítimas de
acidentes e doenças ocupacionais (aproximadamente 20% dos empregados do
setor) carregarão as sequelas do acidente/doença do trabalho prejudicando sua
vida pessoal, profissional, a comunidade local e a Previdência Social.
Processos Judiciais e Administrativos em desfavor das empresas
mineradoras em Corumbá, MS
Algumas situações de acidentes e doenças do trabalho são objeto de
Reclamações Trabalhistas perante a Justiça do Trabalho ou desencadeiam
autuações administrativas pelo Ministério Público do Trabalho.
Entretanto, as demandas judiciais e administrativas são muito inferiores
ao real número de ocorrências de acidentes e doenças ocupacionais trazendo a
reflexão sobre os motivos dos empregados não buscarem a reparação de seus
direitos na Justiça. A primeira opção seria porque seus direitos foram
integralmente saldados e reparados pelas empresas. Outra opção seria a
dificuldade de o trabalhador estabelecer o nexo de causalidade entre a sua
doença e o trabalho e a terceira (mais viável), se refere ao restrito mercado de
trabalho a algumas empresas e/ou setores específicos da economia, fazendo
com que os trabalhadores doentes e acidentados não busquem o Judiciário com
receio de não conseguirem outra colocação no mercado.
As subnotificações dos acidentes de trabalho e o reduzido número de
ações judiciais e autuações administrativas (se consideradas as ocorrências de
fato) demonstram o desconhecimento sobre a situação concreta de acidentes e
doenças do trabalho.
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/corumba/pesquisa/19/29765?tipo=ranking&ano=2010&indicador=29765>. Acesso em: 01 jun. 2018. 36 Em 2017 a CFEM para Corumbá foi de R$ 3.053.352,12 e para Ladário R$ 5.647.883,57. Disponível em: https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/distribuicao_cfem_muni.aspx?ano=2017&uf=MS. Acesso em: 01 jun. 2018.
188
Sob o aspecto individual, a Justiça do Trabalho tem a competência
atribuída pela CF/88 de julgar os litígios entre trabalhadores e empregadores
oriundos da relação de trabalho, aí inseridos os pedidos de indenização em
razão de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, nas hipóteses em que
for comprovada a culpa do empregador no infortúnio laboral.
A Justiça do Trabalho tem o poder de coercibilidade estatal, não atribuído
ao MPT, de compelir o empregador a cumprir as normas trabalhistas e saúde e
segurança do trabalho37. Nesse sentido, há um necessário e indissociável
entrelaçamento de atuação entre o MPT e Justiça Especializada, pois esta não
pode agir sem a provocação do MPT, ao passo que este não tem o poder de
obrigar as empresas a cumprir a legislação sem que para isso exista uma
decisão judicial emanada da Justiça do Trabalho.
O Relatório Geral da Justiça do Trabalho de 2016 informa que a Justiça
do Trabalho no Brasil recebeu 10.119.511 de ações trabalhistas entre os anos
de 2012 a 2016, sendo que somente em 2016 foram ajuizadas 2.723.074 novas
ações. Em Mato Grosso do Sul, no ano de 2016, foram apresentadas 34.911
novas ações trabalhistas. Os três Estados com maior quantitativo de casos
novos ajuizados foram São Paulo, com 29,3%, Rio de Janeiro, com 10,1%, e
Minas Gerais, com 9,9%, todos estados da Região Sudeste, que, sozinha,
ajuizou 50,7% dos casos novos no País (Quadro 4).
Quadro 4. Ações Trabalhistas Brasil 2012-2016
Ano Ações trabalhistas
2012 2.254.355
2013 2.422.170
2014 2.530.691
2015 2.636.681
2016 2.723.074, sendo 34.911 (MS)
Fonte: Adaptado de TST (2017).
As atividades econômicas com maiores quantitativos de processos nas
Varas e Tribunais Regionais foram a Indústria, em segundo lugar os Serviços
37 De acordo com a Súmula 736 do Supremo Tribunal Federal, “compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores”
189
Diversos e em terceiro lugar o Comércio. Ressalte-se que a Vale está incluída
como a 14a empresa com maior número de litígios trabalhistas (TST, 2017).
Segundo Silva (2016) em Corumbá, no período de 2009 a 2014, foi
verificada a existência de 36 (trinta e seis) ações trabalhistas ajuizadas com
pedidos de indenização por doença ou acidente do trabalho no setor mineral, já
sentenciadas ou ainda pendentes de julgamento (mas, quanto a estas últimas,
com fase concluída de coleta de provas testemunhais). Nesse universo, 69,44%
dos processos estão relacionados a acidentes de trabalho e 38,88% a doenças
ocupacionais, sendo que não houve constatação de nenhum acidente de trajeto.
Para Silva (2016), os trabalhadores procuraram a Justiça Especializada
como forma de resgatar a dignidade perdida ou aviltada, pretendendo uma
resposta do Estado para a violação de preceitos constitucionais básicos
relacionados à valorização do trabalho, ao direito à saúde e à vida. Assim,
ingressam com Reclamações Trabalhistas nas quais os trabalhadores, muitas
vezes inválidos e praticamente descartados do mundo do trabalho, postulam
reparações financeiras em face dos (ex-) patrões, alegando que as enfermidades
e os acidentes têm nexo de causalidade com as condições laborativas
desfavoráveis.
Em consulta geral ao site da Justiça do Trabalho de Corumbá e do
Ministério Público do Trabalho foram localizados 278 processos trabalhistas e 21
procedimentos administrativos em desfavor das mineradoras de Corumbá, no
período de 2014 a 2018. Após uma análise preliminar para identificar quais
tratam de saúde e segurança do trabalhador, principalmente situações que
envolvam acidentes e doenças do trabalho, identificou-se 60 processos
trabalhistas e 8 autuações sob a motivação de descumprimento de normas de
saúde e segurança do trabalhador.
O número de Reclamações Trabalhistas por acidentes ou doença do
trabalho ajuizadas em desfavor das mineradoras aumentou significativamente
entre 2014 e 2018. Enquanto que Silva (2016) apurou a existência de 36 ações
no período de 2009 a 2014 (período de 5 anos), a presente pesquisa
diagnosticou o ajuizamento de 278 Reclamações Trabalhistas em desfavor de
três empresas mineradoras de Corumbá, sendo 60 ações referentes a acidentes
e doenças ocupacionais entre 2014 a meados de 2018 (3 anos e 6 meses) (TRT,
190
2016), além de 21 autuações administrativas (MPT-MS, 2018), o que representa
21% das ações propostas (Figura 4)
Figura 4. Número de reclamações trabalhistas ajuizadas em desfavor das
mineradoras de Corumbá, entre 2009 a 2018.
O significativo aumento de Reclamações Trabalhistas em desfavor das
empresas mineradoras de Corumbá no período de 2014 a 2016, refletindo o
descumprimento das obrigações trabalhistas pelas empresas, com base no
último Relatório Anual do TRT da 24ª Região, publicado em 2017 estão
representadas no quadro 5.
Quadro 5. Ações Trabalhistas Corumbá 2014-2018
Ano Novas RT - Vara
Corumbá
Ações desfavoráveis às
mineradoras
Ações de acidentes e
doenças do trabalho
2014 844 26 11 (42%)
2015 914 68 15 (22%)
2016 884 79 10 (12%)
2017 Sem dados TRT 73 19 (26%)
2018 Sem dados TRT 32 6 (18%)
Fonte: Adaptado de TRT (2017). *RT = Reclamações Trabalhistas
191
As informações do quadro 5 demonstram o crescente número de
Reclamações Trabalhistas em desfavor das empresas mineradoras de
Corumbá-MS além de diagnosticar que mais de 20% (em 2014 chegando a mais
de 40%) das ações foram ajuizadas sob a motivação de ocorrência de acidente
ou doença do trabalho.
E mesmo em percentuais representativos, temos que esses dados estão
subestimados considerando que muitos trabalhadores não buscam seus direitos
perante o Judiciário quer por desconhecimento, quer por receio de não conseguir
se inserir novamente no restrito mercado de trabalho da cidade.
Não foram consideradas para efeito estatístico 14 novas Reclamações
Trabalhistas em relação as empresas mineradoras, ajuizadas até junho de 2018,
que não foram sentenciadas.
A análise dos 60 processos trabalhistas relativos a acidentes de trabalho
e doenças ocupacionais ocorridos com os trabalhadores das empresas
mineradoras de Corumbá-MS trouxe informações relevantes sobre as causas
dos acidentes e o desencadeamento de doenças ocupacionais, permitindo
delinear o impacto negativo que a atividade mineradora acarreta ao meio
ambiente do trabalho, com as seguintes especificidades:
1. Das 278 ações analisadas, 60 se referem a acidentes e doenças do
trabalho (21%), das quais 3 foram ajuizadas pelo Sindicato dos
empregados da Construção Civil (1,4%), além de 4 Ações Civis Públicas
(1,4% das ações propostas) e as 218 restantes tratam de pedido de
condenação das empresas no pagamento de horas-extras, intervalo intra
e intrajornada, feriados trabalhados, DSR em dobro e pedidos de
insalubridade e periculosidade, representando 78% das demandas;
2. A quase totalidade das ações (59 das 60) foi ajuizada por homens e a
única Reclamação Trabalhista ajuizada por mulher foi na condição de
viúva de vítima de acidente de trabalho;
3. Nos 60 processos os empregados exerciam atividade de menor
qualificação e de menores salários (motoristas/operadores de
equipamentos móveis, amostrador, mecânico, preparador de frente de
mina, oficial de manutenção, operador de patrola, entre outras);
192
4. A idade média dos acidentados e/ou adoecidos é de empregados com até
40 anos e, em sua maioria, foi considerado temporariamente incapacitado
para o exercício de qualquer atividade através de perícia realizada nos
processos;
Como resultado tem-se “o descarte de jovens trabalhadores que são
definitiva e precocemente alijados do trabalho” (SILVA, 2016), o que demonstra
que as vítimas do setor mineral são os trabalhadores mais jovens e sem
qualificação.
5. O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas de Corumbá, MS,
não ajuizou ações coletivas como substituto processual ou mesmo ações
individuais que buscassem reparar direitos violados pelas empresas
mineradoras. Das 278 ações trabalhistas analisadas, 218 tratavam das
mesmas situações vivenciadas pelos empregados (não pagamento de
horas-extras, intervalo intra e inter-jornada, feriados trabalhados, DSR em
dobro e pedidos de insalubridade e periculosidade) e que poderiam ser
objeto de ação coletiva proposta pela entidade laboral, diminuindo o
volume de ações no Judiciário Trabalhista local. Somente em 2018 consta
distribuição de uma ação trabalhista cujo cadastro por assunto no
Processo Judicial Eletrônico - PJE é de contribuição sindical. Entretanto,
diante da recente distribuição, a pesquisadora não pode confirmar se a
ação busca tão somente o recebimento de contribuições sindicais.
Para Carvalho (2013), a relação passiva e pacífica com as empresas
decorre de múltiplos fatores, tais como o pedido dos próprios trabalhadores que,
temendo o risco do desemprego em cidades de pequeno porte, pedem para que
os sindicatos sejam menos agressivos, além do cooptação de alguns
sindicalistas por parte das empresas com o objetivo de “esfacelar o movimento
sindical”. Os sindicalistas afirmam que a empresa busca “comprar” dirigentes
sindicais para esfacelar o movimento sindical, e que por isso hoje não existe
organização a nível nacional (CARVALHO, 2013, p. 107)
193
Causas de Acidente de Trabalho e Doenças Ocupacionais objetos de RT na
VT de Corumbá no período de 2014 a 2018
Antes de apresentar casos específicos extraídos dos processos judiciais
e autuações administrativas, importante o registro da ocorrência de quatro óbitos
de empregados das mineradoras de Corumbá, ou seja, praticamente um
acidente fatal por ano, durante o período de 2014 a 2017.
Os acidentes de trabalho fatais que constam no Anuário Estatístico de
Acidentes de Trabalho estão atualizados somente até 2016. Assim, no intuito de
fornecer informações mais atualizadas sobre acidentes de trabalho fatais
ocorridos no setor da mineração em Corumbá, buscou-se nos órgãos de
imprensa notícias nesse sentido, identificando as seguintes ocorrências:
Em dezembro de 2017 um trabalhador de 30 anos morreu ao desmaiar
durante o conserto de uma pane no topo do forno, ocasionada por descarga
elétrica ou intoxicação (PORTAL G1-MS, 2017);
Em novembro 2016 um motorista de 52 anos pulou do veículo em movimento,
que estava carregado de minério, em decorrência de falha na direção ou nos
freios do caminhão, sofrendo fratura nas duas pernas e falecendo no hospital
(MIDIAMAX, 2016);
Em abril de 2015 um motorista de 46 anos morreu quando perdeu o controle do
veículo no declive e saiu da pista passando pela barreira de contenção vindo a
cair no despenhadeiro com o caminhão carregado com 45 toneladas de minério
de ferro (SIKVA, 2015);
Em 2014 um empregado faleceu vítima de choque elétrico motivado pelo
desuso de EPI’s como, luvas, calçados de segurança ou, o uso de EPI’s
desgastados oriundos de laboral pregresso, conforme constante de ACP
ajuizada pelo MPT (MPT, 2014, p. 41).
A análise dos Processos Judiciais e Administrativos permitiu as seguintes
constatações e considerações: condições inseguras, descumprimento da
legislação trabalhista e violação da dignidade da pessoa humana, que geraram
Ações Civis Públicas.
O Ministério Público do Trabalho- MPT 24ª Região ajuizou perante a
Justiça do Trabalho de Corumbá 4 (quatro) Ações Civis Públicas no período de
194
2013 a 2017 questionando as condições inseguras do ambiente de trabalho nas
empresas mineradoras e descumprimento de obrigações trabalhistas, com
pedido de condenação das Empresas em obrigação de fazer e danos morais,
buscando a melhoria no ambiente laboral, inclusive no concernente a dignidade
do trabalhador, em consonância com a NR 22, específica sobre Segurança e
Saúde Ocupacional na mineração, a NR 06, que aborda que aborda a
importância do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) pelos
trabalhadores para protegerem sua segurança e saúde de riscos suscetíveis,
durante o processo de trabalho e a NR 24, que trata das condições sanitárias e
de conforto nos locais de trabalho (MTE, 1978a; MTE, 1978b; MTE, 2016)
Para demonstrar a gravidade da situação e o descaso das empresas
mineradoras de Corumbá, transcreve-se parte da sentença proferida nos autos
de uma das Ações Civis Públicas:
“Ademais, há outras ações civis públicas em face da 1ª ré,
inclusive por acidentes de trabalho decorrentes de falha no
meio-ambiente laboral. A ausência de zelo por parte da
referida empresa está lesionando de forma reiterada a
dignidade e a incolumidade física dos trabalhadores. Por
essas razões, entendo que as rés excederam
manifestamente os limites do contrato de trabalho mantido
com a coletividade de seus empregados, fatos devidamente
comprovados pelas provas dos autos, cometendo ato ilícito,
nos termos do artigo 187 do Código Civil” (MPT, 2014, p.
41).
A Ação Civil Pública apresentada pelo MPT, Processo n. 8000008-
xx.2014.5.24.0041, ajuizada após acidente de trabalho com vítima fatal em
decorrência de choque elétrico, buscava a adequação da empresa com relação
aos itens de segurança do trabalho, como:
1) Exigir que o trabalhador use o EPI durante a execução das atividades
laborais, nos termos da NR 6 – item 6. 6. 1. b;
195
2) Elaborar procedimentos de trabalho e segurança específicos,
padronizados, com descrição detalhada de cada tarefa, passo a passo, a
partir da análise de risco, nos termos da NR 12 – item 12.130;
3) Proibir a operação com máquinas e equipamentos sem que tenham sido
tomadas precauções especiais quando da movimentação nas
proximidades a redes elétricas, nos termos da NR 22 – item 22.11.19, “d”;
4) Não permitir a existência de instalações e serviços de eletricidade sem
que tenham sido projetados, executados, operados, mantidos, reformados
e ampliados para uma adequada distribuição de energia e isolamento,
uma correta proteção contrafugas de corrente, curtos-circuitos, choques
elétricos e outros riscos decorrentes do uso de energia elétrica, nos
termos da NR 22 – item 22.20.2. O MPT alegou que a rede elétrica onde
ocorreu o acidente narrado na inicial não possuía proteção coletiva, a qual
foi instalada após o acidente;
5) Não permitir a existência de cabos, instalações e equipamentos elétricos
sem a devida proteção contra água, nos termos da NR 22 – item 22.20.5
(MPT, 2014, p. 41).
Na fundamentação, o MPT sustentou que o ambiente laboral da primeira
ré continuava ocasionando graves acidentes, inclusive fatais. Narrou que em
outras ações a reclamada já foi condenada em obrigações de fazer, sem,
contudo, ter garantido segurança no trabalho a seus empregados, vindo a
ocasionar novo acidente fatal, ficando evidenciada a responsabilidade das rés
no acidente de trabalho que causou a morte do empregado da 2ª reclamada e
que prestava serviços para a 1ª reclamada.
A perícia apontou as seguintes causas para a ocorrência do acidente
supracitado (MPT, 2014, p. 551):
“O desuso de EPI’s como luvas calçados de segurança ou,
o uso de EPI’s desgastados, oriundos de laboral pregresso
pode ter sido causa severidade do choque elétrico sofrido
pelo de cujus (MPT, 2014, p. 551). As rés não elaboraram,
implantaram e/ou estabeleceram junto ao de cujus e demais
trabalhadores, da época, competentes Ordens de Serviço,
em conformidade como os subitens 1.7 e 1.8, da NR-1 –
196
Disposições Gerais, cuja existência jurídica é assegurada,
termos de legislação ordinária, pelos artigos 157 e 158 da
CLT [...]. A ausência destas ações preventivas reforça a
crença de que, o acidente de trabalho não ocorreu por
acaso; que suas causas transitaram bem longe do que,
comumente se convenciona, atribuindo-se como sendo obra
do acaso, do destino ou resultado de ato ou conduta
insegura do trabalhador. Esta assertiva é reforçada pela
ausência, na época, de qualquer regramento disciplinando,
por exemplo, a movimentação máquinas, equipamentos de
trabalho e implementos, meios maneiras e práticas
permitidas ou proibidas, bem como, a vedação expressa “dar
carona” em máquinas operatrizes ou equipamentos móveis
diversos” (MPT, 2014, p. 551/552).
A conclusão do laudo pericial foi que “as rés foram relapsas no
cumprimento das normas de higiene, saúde e segurança no trabalho estão
contemplados pelo presente laudo técnico” (MPT, 2014, p. 41).
Em outra Ação Civil Pública, Processo n. 051.xx.2013.5.24.0041, houve
questionamento sobre itens básicos de segurança do trabalho, principalmente
com relação a iluminação e sinalização do ambiente, considerando que os
empregados atuam em turnos ininterruptos, em jornada exaustivas de trabalho
e a pouca iluminação ocasionou acidente fatal (MPT, 2013, p. 3-18):
1. Iluminação da área de descarregamento;
2. Transporte em minas de céu aberto obedecendo requisitos previstos na
NR-22, item 22.7.6;
3. Sinalização luminosa em condições de visibilidade adversa e à noite;
4. Placas de sinalização de velocidade máxima;
5. Treinamento introdutório para os Trabalhadores;
6. Treinamento específico na função;
7. Jornadas exaustivas.
197
Da mesma forma que o item anterior, ficou evidenciada a
responsabilidade das rés no acidente de trabalho que causou a morte de
empregado da 2ª reclamada e que prestava serviços para a 1ª reclamada.
O Relatório da ação indica como fatores determinantes para a ocorrência
do acidente foram a combinação de ausência de iluminação eficiente e falta de
sinalização, seja por meio de placas refletivas ou por funcionário com atribuição
de sinalizar ao condutor de veículo o limite do recuo.
“O acidente em questão seria totalmente evitável caso a
empresa tivesse estabelecido, primeiramente, competente
Procedimento Operacional Padrão para as operações de
remoção/carregamento, movimentação e descarregamento
(basculamento) de material” (MPT, 2013, p. 534-535).
Nesse sentido, a perícia concluiu que "não resta dúvidas de que a
inexistência de iluminação e de sinalização de segurança contribuíram
decisivamente para o acidente de trabalho que resultou no falecimento do
motorista”.
A Ação Civil Pública ajuizada em 2016 questionava as condições de
higiene dos banheiros da empresa e a dificuldade de acesso aos sanitários
quando o trabalhador estava dentro da mina, além do armazenamento de água
para consumo em local inapropriado, ou seja, condições básicas para a
dignidade dos trabalhadores (MPT, 2016).
A perícia técnica constatou que:
“Apesar da existência conjuntos sanitários em quantidade
compatível com os termos do 24.1.8, da R-24; em razão da
imensidão das áreas objeto das atividades de preparação de
frente e lavra, propriamente dita, bem como, da existência
do citados veículos de apoio, nem sempre era possível ou
factível a utilização destes, tornando-se imperativo os
deslocamentos a pé, conforme observado em relação aos
trabalhadores que realizavam a preparação de frente de
furação para carregamento de explosivo, na região das
Marias "24", cuja distância para o banheiro mais próximo, no
caso, o banheiro das Marias, era de 980 (novecentos e
198
oitenta) metros. Esta condição adversa evidencia
quantidade insuficiente de banheiros, afrontando, por
conseguinte, os parâmetros do item 22.37.2, da NR-22. As
áreas destinadas à instalação dos conjuntos sanitários eram
constituídas de iluminação geral. Contudo, o interior dos
gabinetes deste eram desprovidos de iluminação local,
denotando descumprimento dos parâmetros dos subitens
24.1.22 e 24.1.23, NR 24, fazendo com que os trabalhadores
suprissem tal deficiência com suas lanternas fixadas nos
capacetes” (MPT, 2016, p. 10-11).
Em sentença de primeira instância a MMª. Juíza do Trabalho do Processo
n. 24100-xx.2016.5.24.0041, p. 32, condenou a empresa no pagamento de
danos morais, sob a seguinte motivação:
Não é compreensível que uma empresa do porte da
reclamada não possa promover mudanças em sua estrutura
para oferecer a seus empregados o mínimo de dignidade no
seu labor. Considerar aceitável que um ser humano tenha
que se privar de condições de higiene utilizando um banheiro
em que não havia manutenção e limpeza ou tendo que se
socorrer no chão da mina, quando da necessidade de
descargas fisiológicas é um verdadeiro ultraje, vez que é
perfeitamente possível a instalação de sanitários próprios
para uso, até mesmo os químicos, perto da entrada da mina
e a disponibilização de mais veículos para transportar os
trabalhadores a este local, primando-se pela permanência
de local higiênico para necessidades fisiológicas ao
trabalhador, como é de norma elementar de saúde e higiene
do trabalho (TRT, 2018, p. 32).
Em 2017 o MPT ajuizou Ação Civil Pública, Processo n. 0024457-
xx.2017.05.24.0041 questionando o excesso de jornada de trabalho, intervalos
intra e inter jornada, descanso semanal remunerado e pagamento de horas-
199
extras. Referido processo encontra-se em fase de julgamento limitando a análise
para a presente pesquisa (MPT, 2017).
Problemas na coluna
A análise dos processos permitiu identificar que os problemas na coluna
cervical e lombar são a maior causa de adoecimentos e afastamentos no setor
de mineração de Corumbá. Dos 60 processos sobre acidentes e doenças
ocupacionais foram identificadas 29 (vinte e nove) situações que envolvem dores
e problemas na coluna (Quadro 6).
Quadro 6. Patologias na coluna vertebral
Patologia Número de casos
Hérnia de Disco 9
Hérnia Inguinal 2
Hérnia Cervical Lombar 1
Artrose Lombar 2
Transtorno de disco lombar e de outros discos com
radiculopatia, síndrome cervicobraquial, dor articular e
espondilose
1
Dor na coluna 7
Dor na coluna – postura forçada 3
Dor na coluna – excesso de peso 4
Para a real compreensão da gravidade do problema, apresentam-se
situações extraídas das Reclamações Trabalhistas38:
A) RTOrd39 0024xxx-06.2015.5.24.0041 - hérnia discal lateral esquerda em
L5/S1; Motorista de caminhão articulado/reboque, permanecia várias
horas sentado e realizava esforços repetitivos. A perícia médica constatou
que o reclamante é portador de lesão degenerativa de disco vertebral
L5/S1, hérnia discal lateral esquerda em L5/S1 e estenose parcial do
forâmen de conjugação esquerda L5/S1 alterações degenerativas
crônicas na coluna vertebral (ID. 895ca3e - p. 5);
38 As informações processuais foram consultadas no site do TRT24 mediante a introdução do número dos processos - Reclamações Trabalhistas-RT 39 RTOrd = Rito ou procedimento ordinário
200
B) RTOrd 0024xxx-45.2014.5.24.0041 - Discopatia Degenerativa em Coluna
Lombar - CID M51 - adquirida devido a exposição do obreiro ao ambiente
de trabalho que se apresentou propício ao surgimento da patologia
(manobrar equipamentos pesados durante toda sua jornada de trabalho);
C) RTOrd 0024xxx-38.2015.5.24.0041 - Discopatia degenerativa - protusão
discal cervical. Patologia de aspecto degenerativo e crônico. Golpear a
massa de minério com uma alavanca de sete quilos, para que esta se
destravasse e caísse em um silo e fosse levada para o pátio por meio de
esteiras. A realização deste serviço repetitivo e penoso causou danos ao
ombro e ao punho do reclamante. Afastamento por dois anos pelo INSS;
D) RTOrd 0024xxx-04.2016.5.24.0041 - portador de lesão de menisco medial
com CID S83.2, visto em ressonância nuclear magnética, dores
esporádicas com piora nas atividades " (ID n. 5516051 - p. 6) e que está
"física temporariamente e parcialmente incapacitado de exercer
atividades laborais" (ID n. 5516051 - p. 11);
E) RTOrd 0024xxx-92.2015.5.24.0041 - discopatia degenerativa em coluna
lombar (CID M51.1) e tendinite em ombro direito M75 o que lhe causa
limitações em determinados tipos de movimentos e que há incapacidade
temporária e parcial para atividades laborativas (ID 2753f89 pág 14).
Afastamento pelo INSS;
F) RTOrd 0024xxx-98.2017.5.24.0041 - patologias na coluna, estando
incapacitado para atividades que demandem esforço físico;
G) RTOrd 0024xxx-39.2015.5.24.0041 - Discopatia Degenerativa em Coluna
Lombar - CID M51.1 e que está "temporariamente e parcialmente
incapacitado de exercer " (ID n. 4b03fd7 - p. 9) atividades laborais;
H) RTOrd 0024xxx-93.2016.5.24.0041 – Dores na coluna - excesso de peso
– Manipulava pneus de máquina (em quatro trabalhadores) que pesam
aproximadamente 600 kg quando calibrados.
Silva (2016) apurou em sua pesquisa (2009 a 2014) que o
descarregamento manual do carvão era o trabalho braçal desempenhado pelos
empregados que mais acarretaram doenças ocupacionais/acidentes de trabalho
diante dos movimentos ante ergonômicos e da exposição à poeira do carvão em
suspensão no ar.
201
Atualmente, pela análise dos 60 processos ajuizados no período de 2014
a 2018 constatou-se que o maior número de acidentes e adoecimentos ocorreu
com os motoristas/manobradores de máquinas pesadas, pelos solavancos e
movimentos repetitivos durante toda a jornada de trabalho, sendo que dos 29
processos por problemas na coluna 14 foram ajuizados por
motoristas/manobradores.
As operações de equipamentos móveis, como caminhões e escavadeiras,
expõem o corpo do trabalhador a vibrações contínuas, assim, afetando as
condições da coluna dos mesmos, podendo causar distúrbios espinais como a
síndrome cervicobranquial e lesões no ombro.
Na frente de lavra, a possibilidade de o trabalhador desenvolver
problemas posturais ocorre quando a máquina carregadeira despeja o mineral
na caçamba dos caminhões. Esse processo pode causar solavancos no veículo
que recebe a carga, movimentando bruscamente o motorista dentro da cabine
(SILVA, 2016).
Quedas
Foram identificados 3 (três) acidentes de trabalho envolvendo queda dos
empregados. A falta de iluminação no ambiente de trabalho, considerando que
exercitam suas atividades em turnos ininterruptos de revezamento foi objeto de
Ação Civil Pública pelo MPT. Apresenta-se breve histórico das condições em
que as quedas ocorreram:
A) RTOrd 0024xxx-26.2016.5.24.0041 – queda do caminhão do terceiro
degrau que quebrou;
B) RTOrd 0024xxx-81.2015.5.24.0041 – queda no fosso sofrendo lesão na
perna esquerda. Afastamento pelo INSS por 11 meses;
C) RTOrd 0024xxx-30.2015.5.24.0041 – queda. “O acidente aconteceu
quando a chave se rompeu durante o afrouxamento de uma porca com
força do impacto o reclamante e o depoente foram lançados de uma altura
de 2 metros”.
202
Lesão corporal por falha mecânica ou falha humana
Foram identificados 9 (nove) acidentes de trabalho por falha humana ou
falha mecânica, especificados:
a) Esmagamento do dedo polegar;
b) Lesão no aparelho extensor do 5° dedo esquerdo;
c) Perda do dedo;
d) Lesão na mão 3;
e) Fratura do pé.
Para melhor demonstrar, apresentam-se duas situações extraídas dos
Processos Trabalhistas:
D) RTOrd 0024xxx-19.2015.5.24.0041 - Acidente causado por problema no
freio do caminhão conduzido pelo reclamante (ID Num. 04c7dfd - Pág. 3).
Lesão na mão direita do reclamante, com a "presença de corpo estranho
hiperecogenico de forma piramidal com 2,0 mm de base x 2,0 mm de
altura, na face palmar ao nível da prega de flexão e do Tendão flexor
superficial do 4º dedo". Cirurgia e afastamento pelo INSS;
E) RTOrd 0024xxx-68.2014.5.24.0041 – amputação da 2ª falange do dedo
médio da mão direita. Cirurgia e afastamento pelo INSS.
Excesso de Ruído – Perda da audição/ hipoacusia
O ambiente de trabalho na mineração é muito ruidoso e embora a
empresa forneça EPI´s, 8 (oito) trabalhadores apresentaram perda auditiva nos
últimos cinco anos, conforme análise dos processos ajuizados. A deficiência
auditiva está relacionada com a exposição a um alto nível de ruído durante as
atividades de mineração, tais como perfuração e o barulho causado pelo
maquinário usado.
Dentre as situações pesquisadas, transcreve-se trecho da ação
trabalhista: RTOrd 0024709-60.2015.5.24.0041 - deficiência auditiva
neurossensorial de grau moderado a profundo para à orelha direita e limiares
auditivos normais para a orelha esquerda com queda leve.
203
Condições Inseguras – EPI não fornecido ou fornecido parcialmente
Em 3 (três) processos ajuizados foram denunciados o não fornecimento
de EPI´s ou o fornecimento insuficiente para minimizar os riscos da atividade.
Para melhor ilustrar as situações vivenciadas pelos empregados, apresenta-se:
A) Na RTOrd 0024834.xx.2015.5.24.0041, o Reclamante informou operar
máquina empilhadeira desprovida de amortecimento e sem EPI;
B) A RTOrd 0024476.xx2017.5.24.0041, busca reparação por doença do
trabalho pela não utilização de cinto de proteção para a coluna.
Após a análise das 60 ações ajuizadas, apurou-se que 8 (13,3%) foram
consideradas procedentes, 36 (60%) foram consideradas parcialmente
procedentes, 15 (25%) foram julgadas totalmente improcedentes e um processo
foi objeto de acordo (1,6%).
As perícias médicas realizadas nos Reclamantes, em sua maioria,
consideraram que não existe nexo de causalidade entre as doenças
ocupacionais e a atividade desenvolvida pelo obreiro, mesmo constatando-se 29
casos de lesões e dores na coluna dos empregados que exercem as mais
variadas atribuições. Em alguns casos a perícia indica a existência de doença
degenerativa que foi agravada pela atividade, mas não o nexo de causalidade.
As empresas se defendem com relação aos acidentes e doenças do
trabalho alegando o cumprimento integral das normas de saúde e segurança do
trabalho ou a culpabilidade exclusiva da vítima na ocorrência dos acidentes.
Silva (2016, p. 70) sobre a estratégia adotada pelas empresas na
culpabilização do trabalhador nos ensina que:
“É disseminada no campo jurídico a ideia da culpabilização
do trabalhador, seja para não expor a fragilidade da gestão
de segurança da empresa, seja porque, vingada essa tese
em juízo, não caberá indenização alguma ao acidentado ou
aos seus familiares, contribuindo para esterilizar o alcance
das normas de proteção social que atribuem aos
empregadores o dever de zelar pela higidez dos ambientes
laborativos”.
204
A MMª. Juíza do Trabalho, em todos os casos analisados, acatou o
Parecer do Laudo Pericial, julgando as ações trabalhistas procedentes ou não
de acordo com o resultado da perícia.
Autuações, termos de ajustamento de conduta e multas aplicadas pelo
Ministério Público do Trabalho no período de 2014 a 2018
Na esfera administrativa a pesquisa identificou 21 (vinte e um) processos
em desfavor das empresas mineradoras de Corumbá nos últimos 5 (cinco) anos,
dos quais 15 (quinze) se encontram arquivados.
Para efeito da pesquisa, passaremos a identificar o objeto dos 21 (vinte e
um) processos administrativos, mesmo os arquivados, como informação
relevante para a compreensão do meio ambiente do trabalho no setor da
mineração em Corumbá.
Quadro 7. Processos Administrativos MPT de 2014 a 2018
Objeto/motivação Números/situação Ano
Jornada Extraordinária, férias e
irregularidades com
remuneração ou benefícios.
000438.2014.24.xxx/9
000063.2015.24.xxx/2
2014 - Arquivado
2015 - Arquivado
Atraso ou não pagamento de
verbas rescisórias
000011.2015.24.xxx/7
000671.2017.24.xxx/8
2015 - Arquivado
2017 - Arquivado
Extinção do contrato de trabalho,
atraso ou não pagamento das
verbas rescisórias, remuneração
e Benefícios
000521.2015.24.xxx/8 2015 - Ativo
Condições de Trabalho,
Atividades e Operações
perigosas, Meio Ambiente do
Trabalho.
000007.2014.24.xxx/4
000061.2015.24.xxx/8
2014 - Ativo
2015 - Arquivado
Abuso no exercício de
Prerrogativas Sindicais,
Irregularidades em Assembleias
sindicais, Conduta antissindical
000348.2014.24.xxx/8
000074.2015.24.xxx/8
000028.2016.24.xxx/3
000268.2018.24.xxx/5
2014 - Arquivado
2015 - Arquivado
2016 - Ativo
2018 - Ativo
205
Condições Sanitárias e de
conforto nos Locais de Trabalho
000366.2014.24.xxx/0
000023.2016.24.xxx/3
000600.2017.24.xxx/0
2014 - Arquivado
2016 - Ativo
2017 - Ativo
Acidente de trabalho típico ou por
equiparação
000028.2015.24.xxx/6
001161.2017.24.xxx/9
001172.2017.24.xxx/0
2015 - Arquivado
2017 - Ativo
2017 - Arquivado
Assédio Moral 000957.2017.24.xxx/6 2017 - Ativo
Alimentação do trabalhador,
atraso no pagamento, décimo
terceiro e vale-transporte
000088.2015.24.xxx/5
000003.2016.24.xxx/6
2015 - Arquivado
2016 - Ativo
Greve 000161.2018.24.xxx/02 2018 - Arquivado
Fonte. Adaptado de MPT-MS (2018).
A desativação da Procuradoria do Trabalho no Município de Corumbá
(PTM- MPT) em 2016 dificulta a fiscalização e autuações. Entretanto, embora a
distância da capital seja um entrave físico, sua atuação se mostra mais efetiva
do que a verificada pelo Sindicato da categoria na busca da melhoria das
condições de trabalho dos empregados da mineração.
Conclusão
O acidente e a doença do trabalho repercutem além do ambiente do
trabalho, impactando a vítima, os seus familiares, o orçamento financeiro da
família, a Previdência Social e a sociedade em geral. As situações de acidentes
e adoecimentos em decorrência do exercício da atividade profissional nas
mineradoras de Corumbá é ignorada, vez que somente chegam ao
conhecimento os dados oficiais relativos as CAT´s formalizadas e estas não
refletem a realidade do ambiente laboral de Corumbá.
O Anuário Estatístico da Previdência Social juntamente com o Anuário
Estatístico de Acidentes de Trabalho, demonstram oficialmente a quantidade de
acidentes e doenças ocupacionais que não foram comunicadas, mas que
necessitaram de amparo de benefícios previdenciários, traçando um panorama
com relação as subnotificações ocorridas na região. Os empregados sofrem
acidentes e desenvolvem doenças ocupacionais e a CAT não é emitida, quer por
206
ignorância do trabalhador, quer para não perder a participação nos lucros das
empresas ou até mesmo com receio de não conseguir se inserir no restrito
mercado de trabalho de Corumbá. A pouca rotatividade de empregos
relacionada ao baixo dinamismo da economia corumbaense é um agravante nas
denúncias de acidente e doenças do trabalho.
Os trabalhadores deixam para buscar seus direitos trabalhistas e
previdenciários após as demissões, quando percebem os impactos negativos
que a atividade na mineração causou para a sua saúde e as dificuldades em se
inserir em novo emprego diante da redução de sua capacidade laboral. O volume
de ações ajuizadas pelos empregados perante a Justiça do Trabalho não reflete
a realidade dos problemas vivenciados no meio ambiente laboral se comparados
aos índices oficiais dos Anuários Estatísticos, mas servem de parâmetro para
identificar quais as principais causas de acidentes e adoecimentos.
Por meio da análise dos processos judiciais e administrativos a pesquisa
diagnosticou que os acidentes de trabalho e doenças ocupacionais atingem
trabalhadores jovens, com pouca qualificação e que recebem menores
remunerações, criando na região, uma “legião de aleijados”, que a sociedade
local terá que assimilar. As causas dos acidentes e adoecimentos se resumem
em jornada excessiva de trabalho, falta de treinamento adequado, falhas na
estrutura do ambiente de trabalho (iluminação, barreiras de contenção, entre
outras) e falta ou insuficiência de EPI´S. Entretanto, mais da metade das perícias
médicas realizadas nos processos judiciais não reconheceram o nexo de
causalidade entre as doenças e a atividade profissional, dificultando acesso dos
trabalhadores aos benefícios previdenciários e estabilidade acidentária.
O Sindicato da categoria não apresente postura combativa em prol dos
direitos e segurança da categoria e o MPT não possui escritório na região,
dificultando denúncias e autuações.
A análise dos processos judiciais e administrativos demonstram que os
problemas são recorrentes e pontuais, de fácil identificação. A atuação mais
efetiva do Poder Público na fiscalização e autuação das empresas por violação
as normas de segurança e saúde do trabalhador obrigaria a adoção de posturas
mais cuidadosas em relação ao meio ambiente do trabalho e ao trabalhador,
diminuindo a ocorrência de acidentes e adoecimentos laborais.
207
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215
Artigo IV
Mineração no Pantanal Sul-Mato-Grossense: conformidade legal garante a
sustentabilidade ambiental?
Tchoya Gardenal Fina do Nascimento
Resumo
O presente artigo tem o propósito avaliar e discutir alguns parâmetros de
sustentabilidade ambiental das empresas mineradoras no pantanal sul-mato-
grossense, propondo uma reflexão de que nem sempre ser legalmente
sustentável é também ser ambientalmente sustentável. Para tanto, o presente
trabalho abordará a mineração desenvolvida no Pantanal Sul-Mato-Grossense e
suas peculiaridades em desencontro a sustentabilidade ambiental. O bioma
pantaneiro foi considerado patrimônio nacional pela Constituição Brasileira de
1988 e também tem reconhecimentos internacionais como Reserva da Biosfera
pela UNESCO e pela Convenção sobre Áreas Úmidas (Decreto 1905/96). A
atividade minerária é de grande importância econômica para o município de
Corumbá e região, mas causadora de grandes impactos ao meio ambiente e o
desenvolvimento sustentável pressupõe a utilização dos recursos minerais para
atender as necessidades do homem moderno sem que isso comprometa o
ambiente para as futuras gerações. A atividade mineradora é causadora de
impactos ambientais irreversíveis e, embora cumpridos os requisitos legais, não
pode ser considerada sustentável.
Palavras-Chave: Mineração; Pantanal Sul-Mato-Grossense; insustentabilidade
ambiental.
Abstract
Mining in Pantanal sul-mato-grossense: legal compliance guarantees
environmental sustainability? This article objective to avaliate and to
discussion some environmental sustainability parameters of miner´s companies
on Pantanal Sul-Mato-Grossense, proposing the reflection that what is legally
sustainable not always is also environmentally sustainable. So, this research will
address the mining developed in the Pantanal Sul-Mato-Grossense and its
peculiarities in disagreement with environmental sustainability. The pantanal
biome was considered national patrimony by the Brazilian Constitution of 1988
216
and also has international recognition as Biosphere Reserve by UNESCO and by
the Convention on Wetlands (Decree 1905/96). The mining is the most important
economic activity for municipality of Corumba and this region but causing great
impacts to the environment and sustainable development presupposes the use
of mineral resources to attend the needs of atualhuman without this compromise
the environmental for future generations. The mining activity causes irreversible
impacts in environment and althrought legal requirements are met, could not be
considered sustainable.
Keywords: Mining; Pantanal Sul-Mato-Grossense; environmental
unsustainability.
Introdução
O município de Corumbá está situado na região do Pantanal do Estado
de Mato Grosso do Sul, localizada a 426 km da capital possuindo em seu
território a maior reserva de manganês e a terceira maior reserva de minério de
ferro do Brasil. O minério é considerado de alta pureza, com teor comparado ao
de Carajás, no Estado do Pará.
O pantanal é um bem comum a todos os habitantes do País e refúgio de
muitas espécies de animais, plantas e aves migratórias transfronteiriças. Por sua
vez, a atividade mineradora é um tipo de empreendimento que gera grandes
impactos ambientais uma vez que muda por completo a paisagem local ao retirar
matéria prima não renovável e traz como consequência o esgotamento do
recurso mineral em curto prazo, caso não siga as observações exigidas.
Entretanto é considerada pela Constituição como atividade de interesse
nacional que gera desenvolvimento para o País e nesse sentido impera o conflito
de interesses, mormente quando a atividade minerária ocorre em área de
preservação, como é o caso das mineradoras no pantanal.
A suposta busca pelo equilíbrio, onde um interesse não deve prevalecer
diante de outro, na prática não acontece. O crescimento econômico
proporcionado pela atividade mineradora na região, com a geração de
empregos, renda e arrecadação para o município de Corumbá e Ladário faz com
que a questão ambiental não alcance a importância esperada, colocando em
risco a sustentabilidade ambiental da região. Geralmente, quando há confronto
entre desenvolvimento e preservação do meio ambiente, opta-se pela
217
degradação do meio em favor do desenvolvimento. O cumprimento da legislação
é somente um dos aspectos relevantes para se garantir da sustentabilidade do
empreendimento devendo ser assimilada juntamente com a adoção de
processos de produção organizados de maneira sustentável tais como gestão
energética, controle na emissão de gases, destino dos resíduos sólidos,
diminuição de acidentes e doenças do trabalho, entre outros.
Assim, o presente artigo tem o propósito avaliar e discutir alguns
parâmetros de sustentabilidade ambiental das empresas mineradoras no
pantanal sul-mato-grossense, propondo uma reflexão de que nem sempre ser
legalmente sustentável é também ser ambientalmente sustentável.
Material e Métodos
O município de Corumbá localiza-se em Mato Grosso do Sul, na fronteira
com a Bolívia, distante 426 quilômetros de Campo Grande - MS. Em Corumbá
está localizada a maior reserva de manganês e a terceira maior reserva de
minério de ferro do Brasil. Com isso, buscou-se através da utilização de método
qualitativo, de natureza documental, em fontes secundárias (livros, artigos,
imprensa escrita) questionar a concepção de desenvolvimento sustentável
atrelado aos critérios de sustentabilidade estabelecidos pelas Leis.
Resultados e Discussão
Pantanal Sul-Mato-Grossense
O Estado de Mato Grosso do Sul localiza-se no sul da Região centro-
oeste e limita-se com cinco estados brasileiros: Mato Grosso (norte), Goiás e
Minas Gerais (nordeste), São Paulo (leste) e Paraná (sudeste); e dois países sul-
americanos: Paraguai (sul e sudoeste) e Bolívia (oeste). A área objeto do
presente trabalho corresponde à Planície Pantaneira, que está inteiramente
contida na Bacia do Alto Paraguai (BAP), na região do maciço do Urucum.
A planície pantaneira, imensa área periodicamente alagada pela
inundação do rio Paraguai, é a maior área úmida tropical do planeta, reconhecida
nacional e internacionalmente pela exuberância de sua biodiversidade como
uma das áreas úmidas de maior importância do globo (ALHO et al., 2005). O
Pantanal foi declarado Patrimônio Nacional pela Constituição de 1988 (BRASIL,
2016a) sítio designado pela Convenção de Áreas Úmidas RAMSAR, em 1993 e
218
Reserva da Biosfera pela UNESCO, em 2000 (ANA, 2004). O bioma é
reconhecido por ser portador de extraordinária biodiversidade e rico criadouro de
espécies que dependem do regime natural dos pulsos de inundação do rio.
(MOTA, 2009).
O Pantanal é a maior planície inundável continental do mundo, com cerca
de 175.000 km2. Aproximadamente 10 milhões de pessoas dependem dos
serviços ecossistêmicos do Bioma. Na região do Pantanal, existem hoje 10 sítios
Ramsar (áreas úmidas de importância internacional) reconhecidos pela
Convenção. Três deles estão no Brasil: Parque Nacional do Pantanal Mato-
grossense; RPPN Sesc Pantanal e RPPN Fazenda do Rio Negro. O Pantanal
abriga rica biodiversidade: mais de 4 mil espécies de animais e plantas já foram
registradas. Assim como a fauna e flora da região são admiráveis, há de se
destacar a rica presença das comunidades tradicionais como as indígenas,
quilombolas, os coletores de iscas ao longo do Rio Paraguai, comunidade
Amolar e Paraguai Mirim, dentre outras. No decorrer dos anos essas
comunidades influenciaram diretamente na formação cultural da população
pantaneira.
A bacia do rio Paraguai abrange uma área de 1.095.000 Km2 estando 34%
no Brasil e o restante no Paraguai, Bolívia e Argentina. O rio percorre 2.550 km
desde a nascente, no Brasil, no Estado de Mato Grosso, até a foz, na Argentina.
Já a área de drenagem referida como bacia do Alto Paraguai – BAP corresponde
à região hidrográfica da montante do rio Paraguai, que vai desde sua nascente,
até a foz do rio Apa, na fronteira entre Brasil e Paraguai, até aonde o rio percorre
uma extensão de 1.683 km. A partir da confluência com o rio Apa, o rio Paraguai
atravessa a fronteira, desenvolve-se no Paraguai e chega à Argentina, onde
deságua no rio da Prata. A BAP drena uma área de 496.000 km2 compartilhada
por Brasil, Paraguai e Bolívia. Em território brasileiro, a área é de 363.442 km2
(73,27%), alcançando os Estados de MT (48,2%) e MS (51,8%), onde 215.813
km² em área de planalto e 147.629 km² na planície, ou Pantanal, propriamente
dito. Aproximadamente 70% da planície pantaneira, em terras brasileiras, está
no MS e o restante em MT. Os limites da BAP, as áreas de planalto (cerrado) e
planície (o Pantanal) e os demais biomas contidos na região estão demonstrados
na Figura 1 (MOTA, 2009).
219
Figura 1. Planície Pantaneira e Bacia do Alto Paraguai. Fonte: WWF-BRASIL
(2008).
O município de Corumbá está completamente inserido no ecossistema
pantaneiro, na fronteira do Brasil com a Bolívia e o Paraguai. Seu território
corresponde a 18% da área do Estado, com cerca de 65.000 km². Por outro lado,
Ladário, município de apenas 342 km², está totalmente inserido nos limites
corumbaenses e as sedes de ambos constituem uma conurbação. Em meio à
planície pantaneira, próximo às áreas urbanas de Corumbá e Ladário, destaca-
se a formação montanhosa, não inundável, denominada Borda Oeste do
Pantanal, correspondente ao Maciço do Urucum e áreas de morro adjacentes,
que abrigam os depósitos minerais de ferro e manganês.
O Maciço do Urucum agrupa um conjunto de morrarias, dentre as quais
se destacam a do Rabichão, Tromba dos Macacos, Santa Cruz e Jacadigo,
assim como a do Urucum, que, elevando-se a uma altitude de 1.050 m, constitui
o ponto mais alto da área. Com superfície de 131.105,5 ha, o Maciço do Urucum
é delimitado ao norte pelo Rio Paraguai e pela Lagoa Negra e do Arroz, a oeste
pela fronteira com a Bolívia e ao sul e a leste pelas áreas de inundação do
Pantanal, lagoa do Jacadigo, rio Verde, baía de Albuquerque e morraria do
Rabichão (LIMA, 2008). Essa sequência de formações minerais estende-se em
220
território boliviano, no Morro do Mutum. Devido às formações cársticas do Grupo
Corumbá, destaca-se, também, as reservas de calcário na região (LIMA, 2008).
Apesar de sua beleza natural exuberante o bioma vem sendo muito
impactado pela ação humana não sustentável. Apenas 4,6% do Pantanal
encontram-se protegidos por unidades de conservação, dos quais 2,9%
correspondem a UC’s de proteção integral e 1,7% a UC’s de uso sustentável
(WWF-BRASIL, 2018).
A Lei Federal nº 9.985/00 (BRASIL, 2000) regulamentada pelo Decreto nº
4.340/02 (BRASIL, 2002), institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza – SNUC e estabelece critérios e normas para a
criação, implantação e gestão das unidades de conservação. Há que
acrescentar as portarias do IPHAN, nº 7 (IPHAN, 1988) e 230 (IPHAN, 2002)
reservadas à proteção arqueológica.
No cenário da borda oeste do Pantanal a grande demanda do mercado
internacional por produtos derivados de minérios, principalmente o aço, cuja
principal matéria-prima é o ferro, trouxe recentemente preocupações com a
conservação do Pantanal. Nos últimos anos, foram pedidos mais de cinco mil
requerimentos para pesquisa de minério de ferro, 600 para manganês e 600 para
calcário na região, representando uma extensa área para lavra. Nesse cenário,
as reservas localizadas no Morro do Urucum têm uma posição de destaque.
(ZERLOTTI, 2010).
Licenciamento Ambiental Federal, Estadual e Municipal de Corumbá, MS
O licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto
ambiental tem como um dos requisitos a ser atendido pelo empreendedor o apoio
à implantação e manutenção de Unidades de Conservação do grupo de Proteção
Integral (BRASIL, 2000, art. 36).
O licenciamento ambiental foi instituído pela Lei nº 6.938/81 (BRASIL,
1981) como um dos instrumentos necessários à proteção e melhoria do meio
ambiente estabelecendo medidas necessárias para prevenção, reparação e
mitigação de impactos ambientais. A Resolução CONAMA Nº 237/97 (MMA,
1997) define licenciamento ambiental como procedimento administrativo pelo
qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação
221
e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos
ambientais.
De acordo com a Portaria Interministerial nº 419/11 (BRASIL, 2011), cabe
à Fundação Nacional do Índio - FUNAI, à Fundação Cultural Palmares - FCP, ao
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN e ao Ministério da
Saúde, a elaboração de parecer e manifestação conclusiva sobre o Estudo de
Impacto Ambiental – EIA e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA
em processos de licenciamento ambiental de competência federal.
Em termos estaduais, a Lei nº 3.709/09 (MATO GROSSO DO SUL, 2009)
fixa a obrigatoriedade de compensação ambiental para empreendimentos e
atividades geradoras de impacto ambiental negativo não mitigável, e dá outras
providências. Já a Lei nº 2.257/01 (MATO GROSSO DO SUL, 2001), dispõe
sobre as diretrizes do licenciamento ambiental estadual, estabelece os prazos
para a emissão de licenças e autorizações ambientais, e dá outras providências.
Por sua vez, o Decreto nº 12.528/08 (MATO GROSSO DO SUL, 2008) institui o
Sistema de Reserva Legal (SISREL) no Estado do Mato Grosso do Sul, e dá
outras providências.
A Resolução SEMA-MS Nº 004/89 (MATO GROSSO DO SUL, 1989),
disciplina a realização de Audiências Públicas no processo de Licenciamento de
Atividades Poluidoras e a Resolução Conjunta SEMA/IMAP Nº 004/04 (MATO
GROSSO DO SUL, 2004) dispõe sobre o Manual dos Procedimentos de
Licenciamento Ambiental no âmbito do Instituto de Meio Ambiente Pantanal.
Em julho de 2001, foi aprovada a Lei Municipal nº 1.665/01 (CORUMBÁ,
2001a) que instituiu o Sistema Municipal de Licenciamento e Controle
Ambiental/SILAM, contendo a relação das atividades passíveis de licenciamento
municipal. Posteriormente, foi publicado o Decreto Municipal nº 150/01
(CORUMBÁ, 2001b) que regulamentou os dispositivos da Lei SILAM.
Em fevereiro de 2008, foi aprovada a Lei Municipal nº 2.028/08
(CORUMBÁ, 2008) que institui o procedimento administrativo de fiscalização
ambiental e de aplicação das penalidades às condutas e atividades lesivas ao
meio ambiente no município de Corumbá, e dá outras providências.
Atualmente, a Secretaria Executiva de Meio Ambiente – SEMAC, que
substituiu a SEMATUR, é a responsável pela coordenação e aplicação das
normas do SILAM, que emite quatro modalidades de licenças: Licença Prévia/LP
222
(fase preliminar, aprovando o local da atividade); Licença de Instalação/LI (fase
de aprovação do Plano de Controle Ambiental - PCA); Licença de Operação/LO
(fase de autorização do funcionamento da atividade) e Licença Ambiental
Simplificada (LAS) (para atividades dispensadas do PCA). Cabe salientar que,
outro fator norteador das atividades realizadas no município de Corumbá é o
Plano Diretor (IBAMA, 2016).
Atividade das Empresas Mineradoras em Corumbá, MS
Atualmente, encontram-se operando na região de Corumbá as seguintes
empresas do setor de mineração:
1) Companhia Vale do Rio Doce (VALE) - com controle da Urucum
Mineração (UMSA), produziu nos primeiros nove meses de 2017 um total
de 1.77 milhão t ano-1 de minério de ferro, com licença para até 2.350.000
t ano-1 (LO), resultado 13,9% maior que o mesmo período de 2016, além
da produção de minério de manganês que chegou a 495 mil t ano-1,
podendo atingir 750.000 t ano-1 (LO);
2) Mineração Corumbaense Reunida (MCR/VALE S. A.) - empresa da
multinacional Rio Tinto do Brasil (RTB), subsidiária integral da Vale do Rio
Doce, com produção de 3 milhões de t ano-1, mas com anuência do
IBAMA para explorar até 6 milhões t ano-1. Sua produção é, atualmente,
destinada exclusivamente para o mercado externo. Prevê-se um aumento
da extração desse minério para 22,4 milhões de t ano-1 (EIA) e a produção
de 4,0 MM t ano-1 de laminados (ZERLOTTI, 2010);
Figura 2. Mina de Urucum- Corumbá. Fonte: Vale (2009) apud Brito (2011).
223
3) Corumbá Mineração Ltda. (COMIN) - empresa de mineração de ferro gusa
ligada ao Grupo Siderúrgico Vetorial, com a produção de 670.000 t ano-1,
posicionando a empresa entre as três maiores do Brasil. A unidade de
Ribas do Rio Pardo possui dois altos fornos com capacidade total de
produção de 300 mil toneladas por ano. Em Corumbá, a unidade possui
capacidade de produção de 370 mil toneladas de ferro gusa por ano e
também possui unidade termoelétrica (VETORIAL, 2018);
4) Mineração Pirâmide Participações Ltda. (MPP) - lavra experimental, de
produção anunciada de 180.000 t ano-1, podendo chegar a 1.440.000 t
ano-1. É fornecedora da SIDERUNA, em Campo Grande, empresa do
Grupo Vetorial (LINS, 2015). A produção destinada à siderúrgica é
transferida da mina para o pátio da estação Maria Coelho, de onde é
carregado em vagões. O percurso entre a mina e o pátio é de 21 km
(VETORIAL, 2018);
5) Granhas Liga Ltda: Reativada em Corumbá em 2016 é a terceira maior
produtora de ferroliga do Brasil, situada em Minas Gerais e Mato Grosso
do Sul, possuindo suas unidades em Conselheiro Lafaiete, São João Del
Rei e Corumbá. Seus principais produtos são o Ferro Sílico Manganês
(FeSiMn 12/16%Si) e Ferro Manganês Alto Carbono (FeMnAC), sendo
fabricados a partir de minérios de manganês, fundentes e redutores. Os
minérios são quase que em sua totalidade de minas pertencentes ao
grupo, localizadas em Minas Gerais e na Bahia (GRANHA LIGAS, 2018).
A quase totalidade da produção de Fe é comercializada com a Argentina
e China. Quanto aos minérios de Mn, a maior parte é exportada para os países
supracitados, como também para a Europa. O restante é consumido no país, nas
regiões Sudeste e Sul.
A lavra do minério de Fe em toda região mineira de Corumbá é feita a céu
aberto e a lavra de Mn é subterrânea, através de galerias escavadas, segundo
o método de salões e pilares. As mineradoras possuem instalações eficientes
para o beneficiamento primário do Fe e do Mn, compreendendo lavagem,
britagem e estocagem para posterior transporte por caminhões aos pontos de
embarque, nas estações de estrada de ferro (Urucum e Maria Coelho), ou nos
224
portos de Corumbá e Esperança (privativo da Mineração Corumbaense S/A.)
(ZANINI et al., 2002).
Minas e Barragens em Corumbá, MS - Categoria de Risco e Dano Potencial
Associado
Apesar da mineração ser uma ocupação superficial temporária na área,
ela causa impacto ambiental importante associado à movimentação do solo
superficial, estradas de acesso, superfícies sem vegetação, rejeitos e pilhas de
estocagem (CURI, 2001). O Autor nos ensina que:
“A qualidade e a quantidade de água tanto superficial quanto
subterrânea é afetada se medidas mitigadoras não forem
praticadas. Os cursos de água podem ser afetados e a
vazão dos mesmos alterada. A erosão pode ser excessiva e
a água superficial e subterrânea pode atingir níveis de
mineralização indesejáveis. A topografia, drenagem,
vegetação e paisagem do local minerado podem ser
seriamente impactados. A inclinação das pilhas de
estocagem do material estéril pode tornar a topografia
inadequada para uma utilização futura do local (WILLIAMS,
et al., 1997). Os impactos da mineração incluem também a
degradação da paisagem, destruição de terras
agriculturáveis e de floresta e degradação de terrenos
utilizáveis para recreação. Provavelmente, os impactos mais
graves e mais duradouros originados pela mineração sejam:
(a) destruição do habitat natural das espécies em função da
implantação de toda a infraestrutura da mina (escritórios,
oficinas, barramentos de rejeito, estradas, etc.); (b) os
efeitos da drenagem ácida de mina na qualidade da água e
na vida silvestre, incluindo os peixes; (c) os grandes
acidentes como o rompimento de barramentos de rejeitos ou
pilhas de estéril que podem acontecer, inclusive, após o
abandono do empreendimento” (CURI, 2002, p. 51).
225
A produção mineral brasileira exige licença prévia mineral do DNPM e, por
ser de grande impacto, licença ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Em 2010 foram identificadas 3.354 minas (metálicas e não metálicas) das quais
apenas 5% do total (159 minas) são de grande porte, com mais de 1 milhão de t
ano-1 de Run of Mine-ROM (produção bruta de minério); 24% (837 minas) são
de médio porte, na escala entre 1 milhão de tano-1 e 100.000 t ano-1 ROM, e a
grande maioria (2.358 minas correspondente a 71% do total), é de pequeno porte
com teor menor de 100.000 t ano-1 ROM (PINHEIRO, 2011)40 (Figura 3).
Figura 3. Número de minas por porte e classe do mineral no Brasil (metálicas e
não metálicas). Fonte: AMB (2010) apud Pinheiro (2011).
Especificamente com relação a substâncias metálicas, o Brasil possui 189
lavras em atividade, sendo 66 de minério de ferro e somente 8 de manganês. O
porte e modalidade de lavras das minas de ferro e manganês estão
representadas na tabela 1:
Tabela 1. Porte e modalidade de lavra das minas no Brasil- 201541
Substância Grande Médio Pequeno Total BR
Ferro 41 15 10 66
Manganês 1 2 5 8
Fonte: Adaptado de Brasil (2016).
40 João César de Freitas Pinheiro, diretor da DIPLAM-DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral. 41 NOTA: Grande: produção bruta (ROM) anual maior que 1.000.000 t; Média: maior que 100.000 t até 1.000.000 t; Pequena: maior que 10.000 t até 100.000 t.
226
No tocante as barragens destinadas à disposição de rejeitos resultantes
da atividade, a Lei Nº 12.334, de 20 de setembro de 2010 (BRASIL, 2010),
estabeleceu a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) e criou o
Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens - SNISB,
estabelecendo um Plano de Segurança da Barragem (PSB) a ser implementado
nas barragens que apresentem uma das seguintes características:
V. Altura do maciço, contada do ponto mais baixo da fundação à crista, maior
ou igual a 15m (quinze metros);
VI. Capacidade total do reservatório maior ou igual a 3.000.000m³ (três
milhões de metros cúbicos);
VII. Reservatório que contenha resíduos perigosos conforme normas técnicas
aplicáveis (MME, 2017, p. 3);
VIII. Categoria de dano potencial associado, médio ou alto, conforme definido
no inciso XIV do artigo 2º e no Anexo V.
Cabe ao DNPM classificar as barragens de mineração quanto a Categoria
de Risco e ao Dano Potencial Associado, em consonância com o art. 7º da Lei
Nº 12.334/10 (BRASIL, 2010) e em acatamento a Portaria n. 70.389/17 (MME,
2017), com o objetivo de diferenciar o universo das barragens, quanto à
abrangência e frequência das ações de segurança a ANA elaborou uma Matriz
de Risco e Dano Potencial Associado (DPA) de maneira que as barragens sejam
agrupadas em cinco classes (A, B, C, D e E). Dessa forma, as que apresentam
uma classe maior, na escala de categoria de risco e dano potencial associado,
devem elaborar um Plano mais abrangente, bem como realizar a Revisão
Periódica de Segurança de Barragem com maior frequência (Figura 4).
Figura 4. Classificação de Categoria de Risco e Dano Potencial Associado.
Fonte: MME (2017).
227
Segundo a ANA (2018), a Categoria de Risco de uma barragem diz respeito
aos aspectos da própria barragem que possam influenciar na probabilidade de um
acidente: aspectos de projeto, integridade da estrutura, estado de conservação,
operação e manutenção, atendimento ao Plano de Segurança, entre outros
aspectos.
Já o Dano Potencial Associado é o dano que pode ocorrer devido a
rompimento, vazamento, infiltração no solo ou mau funcionamento de uma
barragem, independentemente da sua probabilidade de ocorrência, podendo ser
graduado de acordo com as perdas de vidas humanas e impactos sociais,
econômicos e ambientais.
Em Corumbá existem atualmente 20 barragens de Mineração (19 em
atividade e uma não operando), sendo a barragem do Gregório a maior do Estado,
utilizada para armazenar os rejeitos da extração de ferro da mina de Santa Cruz,
operada pela Vale. Pertence a empresa Urucum Mineração S/A. 14 dessas
barragens (MME, 2017).
Das 20 barragens, 17 são consideradas de pequeno porte e apenas três de
médio porte, entre elas a do Gregório (Figura 5). Em razão de estarem localizadas
no Pantanal, as barragens do Estado receberam a classificação de Dano Potencial
Associado (DPA), que indica impactos sociais, ambientais e econômicos que um
eventual vazamento ou rompimento poderiam provocar, entre médio e alto.
Com relação a Categoria de Risco, indicador utilizado para avaliar a
segurança das estruturas que aponta o risco de um vazamento, rompimento ou outra
situação deste tipo ocorrer e que leva em conta características técnicas, como altura
da barragem, comprimento, tipo de estrutura, tipo de fundação e idade da barragem,
entre outras, além de estado de conservação e a existência de plano de segurança,
para a maior parte das barragens foi considerado baixo.
As exceções são duas barragens da empresa Urucum Mineração S/A.,
companhia controlada pela Vale, chamadas de Bacia Pé da Serra 2 e Bacia Pé da
Serra 3-4, que foram enquadradas no Cadastro Nacional de Barragens, no patamar
máximo, alto, de Categoria de Risco e de Dano Potencial Associado.
Esse tipo de CRI (Categoria de Risco), de alto risco e alto potencial
danoso, só é verificado em quatro cidades do país: Ipixuna do Pará e Barcarena,
no Pará, Presidente Figueiredo, no Amazonas, e Corumbá em Mato Grosso do
Sul. Ou seja, se as barragens se romperam poderão causar sérios danos ao
228
Pantanal sul-mato-grossense, assim, como ocorreu em Minas Gerais e no
Espírito Santo. De acordo com o CETEM (Centro de Tecnologia Mineral), do
Ministério da Tecnologia, a mineração, principalmente, de manganês, costuma
produzir como rejeito o arsênio, substância altamente tóxica.
Figura 5. Barragem do Gregório42, maior barragem de mineração de Mato
Grosso do Sul. Fonte: DNPM (2015) apud Viegas (2015).
Entretanto, a principal mineradora da região – Vale apresenta em sua defesa
que o reaproveitamento de água chega a 72% o que reduz o deslocamento de
resíduos em caso de um eventual vazamento ou rompimento, já que existe menor
quantidade de líquido. Com relação barragem Gregório, a Vale informou para a
Prefeitura de Corumbá que se ocorresse um incidente o material, por conta de suas
características e pela geografia do local, atingiria no máximo 1,8 quilômetros de
extensão, enquanto que o curso de água mais próximo, o córrego Piraputangas, teria
nascentes localizadas a quase quatro quilômetros de distância da barragem.
(VIEGAS, 2015).
42 Foto: Clóvis Neto/Prefeitura de Corumbá
229
Desenvolvimento Sustentável e Índices de sustentabilidade
O desenvolvimento sustentável sob a tutela da Organização das Nações
Unidas (ONU) tornou-se o tema principal dos novos discursos da intelectualidade
global, incluindo a Amazônia, apresentando-se como alternativa ao modelo de
crescimento baseado na exploração ilimitada de recursos naturais sem,
entretanto, deixar de ser uma incógnita pela incapacidade de superar a lógica
capitalista e suas injustiças, expondo-se dessa forma a fortes ataques no plano
teórico (CASTRO, 2010).
Nos últimos anos, com os desdobramentos das conferências sobre o meio
ambiente e desenvolvimento sustentável promovido pela ONU (Estocolmo 1972,
Rio 1992 e Johanesburgo 2002), o setor mineral privado insurgiu-se contra um
campo da ciência que lhe atribuiu condição de insustentável e passou a
intensificar ações regulatórias de conduta ambiental e de responsabilidade
social, argumentando ter o setor capacidade de contribuir positivamente com os
governos e comunidades das regiões mineiras onde opera.
A Conferência Internacional da Organização das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, adotou a
Agenda 21 para transformar o desenvolvimento sustentável em uma meta global
aceitável e criou a Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CSD – Comission
on Sustainable Development), cuja principal responsabilidade é a de monitorar
os progressos que foram feitos no caminho de um futuro sustentável. As
necessidades de desenvolver indicadores de desenvolvimento sustentável estão
expressas na própria Agenda 21 em seus capítulos 8 e 40. A CSD, a partir da
Conferência no Rio de Janeiro, adotou um programa de cinco anos para
desenvolvimento de instrumentos apropriados para os tomadores de decisão no
nível nacional no que se refere ao desenvolvimento sustentável (VAN BELLEN,
2002).
Os estudiosos e cientistas têm se aventurado a investigar a vinculação de
temas relacionados ao crescimento econômico com o meio ambiente na busca
de métodos capazes de qualificar e/ou quantificar o desenvolvimento
sustentável.
Os indicadores que tem sido usado para mensurar o desenvolvimento são
o Produto Interno Bruto (PIB), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), considerado
230
duvidoso enquanto média aritmética de apenas três índices (renda, escolaridade
e longevidade), o IDH Municipal e ainda outros indicadores como o DNA – Brasil,
o índice de Desenvolvimento Social (IDS), entre outros (VEIGA, 2005).
Para Veiga (2010, p. 46-47), “... uma coisa é medir desempenho
econômico, outra é medir qualidade de vida (ou bem-estar), e uma terceira é
medir a sustentabilidade do desenvolvimento ...”.
Segundo o autor, não é mais possível falar a sério de indicadores de
sustentabilidade sem ter como ponto de partida as mensagens e recomendações
que estão no Report by the Commission on the Measurement of Economic
Performance and Social Progress (STIGLITZ et al., 2009), nos seguintes termos:
1) O PIB (ou PNB) deve ser inteiramente substituído por uma medida bem
precisa de renda domiciliar disponível, e não de produto;
2) A qualidade de vida só pode ser medida por um índice composto bem
sofisticado, que incorpore até mesmo as recentes descobertas desse
novo ramo que é a economia da felicidade;
3) A sustentabilidade exige um pequeno grupo de indicadores físicos, e não
de malabarismos que artificialmente tentam precificar coisas que não são
mercadorias.
Assim, o Relatório defende que o desempenho econômico e a qualidade
de vida sejam medidos por novos indicadores, que nada têm a ver com os atuais
PIB e IDH. Na lição de Veiga (2010):
“A avaliação, a mensuração e o monitoramento da
sustentabilidade exigirão necessariamente uma trinca de
indicadores, pois é estatisticamente impensável fundir em
um mesmo índice apenas duas de suas três dimensões. A
resiliência dos ecossistemas certamente poderá ser
expressa por indicadores não monetários relativos, por
exemplo, às emissões de carbono, à biodiversidade e à
segurança hídrica. Mas o grau de tal resiliência
ecossistêmica não dirá muito sobre a sustentabilidade se
não puder ser cotejado a dois outros. Primeiro, o
desempenho econômico não poderá continuar a ser
231
avaliado com o velho viés produtivista, e sim por medida da
renda familiar disponível. Segundo, será necessária uma
medida de qualidade de vida (ou bem-estar) que incorpore
as evidências científicas desse novo ramo que é a economia
da felicidade” (VEIGA, 2010, p. 49).
Atualmente existem mais de seis índices que, com diferentes graus e
formas de agregação, buscam fazer uma avaliação sintética da sustentabilidade
(ambiental ou do desenvolvimento).
Na prática, os únicos índices de sustentabilidade que adquiriram grande
visibilidade internacional são os divulgados pelo WWF (World Wide Fund for
Nature, anteriormente World Wildlife Fund), e pelo WEF (World Economic
Forum), estes calculados por duas das mais importantes instituições acadêmicas
da área: o Yale Center for Environmental Law and Policy, e o Center for
International Earth Science Information Network, da Universidade de Columbia
(VEIGA, 2009).
O desenvolvimento sustentável deve ser entendido como
desenvolvimento econômico progressivo e balanceado, aumentando a equidade
social e a sustentabilidade ambiental, e os tomadores de decisão, que atuam nos
diferentes níveis de gestão (local, regional, nacional e internacional), precisam
de informações neste processo (VAN BELLEN, 2002, p. 43).
Para o Autor, os principais obstáculos, segundo a Comissão de
Desenvolvimento Sustentável - CDS, é o de construir um consenso relativo ao
conceito de sustentabilidade para iniciar um projeto de indicadores de nível
nacional. Deve-se promover a comparabilidade, a acessibilidade e a qualidade
dos indicadores. O programa da CDS estabeleceu os elementos principais que
devem ser considerados para o desenvolvimento e a utilização de indicadores
de sustentabilidade no nível nacional. Estes elementos são mostrados no quadro
1, adaptado da CDS.
Embora sirvam de parâmetro para medir sustentabilidade, os indicadores
de sustentabilidade são instrumentos imperfeitos que não podem ser aplicados
universalmente. É impossível mensurar o desenvolvimento sustentável a partir
de indicadores que representem as relações que são estabelecidas entre as
dimensões social, econômica, ambiental e institucional (CHAGAS, 2013).
232
Quadro 1. Elementos do Programa da Comissão de Desenvolvimento
Sustentável para o Desenvolvimento de Indicadores de Sustentabilidade
Melhoria da troca de informações entre os principais atores interessados no
processo;
Desenvolvimento de metodologias para serem avaliadas pelos governos.
Treinamento e capacitação nos níveis regional e nacional;
Monitoramento das experiências em alguns países selecionados;
Avaliação dos indicadores e ajustes quando necessários;
Identificação e avaliação das ligações entre os aspectos econômicos,
sociais, institucionais e ambientais do desenvolvimento sustentável;
Desenvolvimento de indicadores altamente agregados;
Posterior desenvolvimento de um sistema conceitual de indicadores
envolvendo especialistas da área econômica, das ciências sociais, das
ciências físicas e da área política incorporando organizações não
governamentais e outros setores da sociedade civil.
Fonte: Van Bellen (2002), adaptado da CDS.
Entretanto, muito embora imprecisos, expressam um compromisso na
compreensão das relações entre o homem e o meio ambiente dentro do campo
do desenvolvimento.
Em inovadora proposta, Pereira et al. (2016) construíram um Índice de
Sustentabilidade Ambiental para Mato Grosso do Sul, para que se possa medir
em que nível se encontra a sustentabilidade ambiental no Estado da forma como
apresentado a seguir, com as dimensões analíticas e suas respectivas variáveis
e que serão utilizadas no cálculo do Índice de Sustentabilidade Ambiental,
adaptadas a Mato Grosso do Sul (Quadro 2)
233
Quadro 2. Estrutura do Índice de Sustentabilidade Ambiental para MS
Indicador Dimensões analíticas Variáveis Ín
dic
e d
e S
uste
nta
bili
da
de
Am
bie
nta
l
ISA
Acesso à água tratada
Água Acesso à água potável
Índice de Qualidade das Águas
Áreas de proteção ambiental
Biodiversidade Presença de espécies invasoras
Espécies ameaçadas de
extinção Emissão de gases do efeito
estufa Ar Partículas inaláveis
Utilização de veículos
Condição da terra
Solo Fertilizantes
Pesticidas
Subsídios à agricultura
Mudanças climáticas e energia Energia renovável
Áreas desmatadas
Fonte: Adaptado de PEREIRA et al. (2016).
A conformidade legal garante a sustentabilidade ambiental?
Para Bello (1998), o conceito de desenvolvimento sustentável, deve-se
fundamentar em políticas públicas. É necessário que os governos e as empresas
tomem decisões que considerem o equilíbrio nos aspectos de desenvolvimento
e crescimento da economia, atendimento das necessidades humanas e
capacidade de recuperação do ambiente.
Para Chagas, a quebra do paradigma da “maldição dos recursos minerais”
não é tarefa fácil e experiências tem refutado tal possibilidade, sobretudo quando
se avaliam casos de exploração mineral em regiões pobres do planeta, onde os
efeitos desenvolvimentistas não se concretizaram, além de herdar graves
passivos socioambientais (CHAGAS, 2013).
Soma-se ainda o atraso e desinteresse do governo federal pela ciência e
tecnologia que possam fazer frente aos problemas da região, e a consequente
crise do conhecimento, que não tem sido capaz de alavancar e modernizar a
economia em prol do desenvolvimento sustentável.
234
Existem comunidades científicas e segmentos sociais que refutam
qualquer abordagem sobre sustentabilidade na mineração, a considerar que, por
definição, os minérios são recursos não renováveis e, portanto, essa discussão
não faz sentido e que o desenvolvimento sustentável não passa de uma
“propaganda de mercado”.
Ursaia (2013, p. 1) defende que erroneamente, investimentos são
chamados “sustentáveis”, indústrias de papéis recebem prêmios de
sustentabilidade por reciclar águas residuais, entre outras aberrações,
distorcendo o seu real significado.
Segundo o autor, para que se possa falar em sustentabilidade devemos
atender a dois requisitos básicos:
1. O primeiro diz respeito à retirada de energia e materiais da natureza;
2. O segundo diz respeito ao retorno a natureza dos produtos e dos resíduos
resultantes da utilização de energia e materiais.
Apenas para exemplificar, as reservas de carvão, petróleo, gás natural e
urânio são limitadas. Em nossa escala de tempo elas não regeneram, podemos
usá-las somente enquanto duram. Suas emissões de dióxido de carbono e dos
resíduos radioativos não podem ser absorvidas pela natureza, assim, nenhuma
destas fontes de energia pode satisfazer ambos os critérios de sustentabilidade.
Assim, somente processos podem ser organizados de maneira
sustentável, através de iniciativas transversais, como a gestão energética, de
resíduos, hídrica, de emissões de gases de efeito estufa, de stakeholders, de
governança corporativa e de tecnologia da informação verde ou Green IT.
Não há como se considerar a atividade mineradora sustentável, mas é
possível aperfeiçoar o processo de extração do minério, tornando-o menos
impactante ao meio ambiente.
A sustentabilidade é mais que uma condicionante ambiental ou
conformidade legal e sim um plano de ações adequadas que garantam eficiência
e melhoria no processo produtivo. Quando acontece a aproximação da empresa
com os princípios e fundamentos da sustentabilidade, motivado ou não pela
conformidade legal, começa um novo ciclo na organização.
235
A legislação brasileira para questões ambientais é considerada uma das
mais avançadas do mundo estando à frente de muitas nações desenvolvidas,
mas não estamos deixando de ameaçar o meio ambiente e desrespeitar as leis.
O problema, certamente, não é a falta de uma legislação que estabeleça regras
rígidas e penas pesadas para os criminosos ambientais. O grande entrave é a
falta de estrutura para fiscalizar e punir aqueles que não cumprem a lei (CURI,
2002, p. 59).
“Ter uma legislação avançada, no campo civil, administrativo
e penal, não garante o fim da agressão ao meio ambiente.
Entretanto, os mais otimistas veem solução a médio prazo.
Não que se acredite que, repentinamente, o Estado irá
construir uma estrutura de gestão dos seus recursos
naturais condizente com o alto nível de sua legislação
ambiental. Mas há aqueles que apostem em outras forças
capazes de fazer o empresário cumprir integralmente as leis
ambientais do país. Uma delas, vem do próprio mercado”
(CURI, 2002, p. 61).
Torres (2016) demonstra ser indispensável na atividade de mineração, a
adoção, pelas empresas que consomem os recursos minerais, de métodos
sustentáveis para tornar a extração do minério menos agressiva ao meio
ambiente, utilizando-se de todas as tecnologias e estudos disponíveis no
mercado para a minimização e compensação dos impactos gerados somado à
efetiva fiscalização por parte do Poder Público, além do repasse de verbas aos
órgãos responsáveis pela fiscalização da atividade, assim como uma rigorosa
dinâmica destinada à aquisição das licenças ambientais, necessárias para que
um determinado empreendimento possa ser iniciado (TORRES, p. 94)
As iniciativas legais são determinantes para o setor empresarial realizar
investimentos em gestão ambiental, melhorando o processo de produção,
trazendo benefícios sociais, ambientais e econômicos de forma integrada. Assim
sendo, o cumprimento da legislação não garante a sustentabilidade do
empreendimento se isolada de melhorias na qualidade de vida da população.
236
Conclusão
Primordialmente defende-se que a exploração mineral deveria ser
proibida em áreas protegidas como o Pantanal, ecossistema único e altamente
vulnerável a ação antrópica, onde os objetivos de conservação não sejam
compatíveis com a atividade de mineração. Entretanto, diante da realidade
apresentada, em que se encontram operando na cidade de Corumbá 5 (cinco)
empresas mineradoras, não há como defender a exclusão da atividade da
região.
O fato das empresas mineradoras estarem legalmente formalizadas e
cumprirem as exigências das legislações ambientais não transforma a atividade
em sustentável. As reservas minerais são limitadas, não se regeneram e os
resíduos da atividade mineradora não são absorvidos pela natureza.
A atuação mais efetiva do Poder Público para fiscalizar os processos de
produção e punir as empresas que descumprirem as normas e legislações
ambientais traria maior segurança e transparência na divulgação de dados.
Propõe-se reflexão sobre a necessidade da proibição de novas
autorizações para explorações minerais no Pantanal e a limitação das lavras já
existentes, como forma de minimizar os impactos negativos já acarretados.
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238
resíduos industriais, cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança
de Barragens e altera a redação do art. 35 da Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de
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244
7. Conclusão Geral
O aspecto econômico é a dimensão na qual se evidencia o retorno positivo
da atividade mineira sustentado pela arrecadação milionária de CFEM, geração
de empregos e serviços e pelas trocas comerciais locais. A extração mineral em
Corumbá contribui significativamente para o crescimento do PIB do municipal e
também repercute no PIB per capita do município, sempre ascendente na última
década. O PIB de Corumbá cresceu 8,70% no período de aproximadamente 10
anos (2002 a 2011), percentual bem superior ao PIB brasileiro que foi de 3,78%
(IBGE, 2013) e de Mato Grosso do Sul (SEMAD, 2016).
Entretanto, considerando os índices de desenvolvimento humano em
comparação ao aumento do PIB na última década constata-se que, muito
embora a qualidade de vida da população tenha melhorado, a desigualdade na
distribuição de renda continua alta, comprovando a concentração e má
distribuição de renda na região.
As análises dos Índices socioeconômicos IDHM e IFDM demonstram que
os valores milionários de CFEM recebidos pelo município não são revertidos em
desenvolvimento humano. Nos anos em que os repasses financeiros foram
maiores o índice de desemprego aumentou e não houve investimento na saúde
e educação proporcionais ao aumento de arrecadação do município,
demonstrando que a receita advinda da atividade mineradora não é revertida em
benefício da comunidade local. O município recebeu milhões de reais como
compensação ambiental pelos impactos negativos acarretados pela atividade
mineradora, mas esses valores não repercutiram na geração de empregos.
Com relação a geração de emprego, constatou-se que a empregabilidade
no setor mineral é refém do ciclo do mercado de exportação do minério de ferro
e manganês, havendo oscilação da empregabilidade da região. Em 2016 as
indústrias mineradoras empregavam 6,96% do total de trabalhadores formais em
Corumbá (MTE, 2016) enquanto que em 2013 o percentual de empregabilidade
das indústrias mineradoras era de 8,5% do total de trabalhadores (MTE, 2013).
A maioria dos empregados das empresas de mineração é composta por
trabalhadores com baixa qualificação e em momentos de crise econômica as
demissões recaem sobre esses empregados, mais numerosos e com verbas
rescisórias de menor valor. Em contrapartida, quando há recuperação no setor,
245
a recontratação da mão-de-obra é facilitada pela disponibilidade de
trabalhadores reféns do afunilado mercado de trabalho de Corumbá.
E são esses empregados, trabalhadores jovens, com pouca qualificação
e com menores remunerações a maioria das vítimas de acidentes de trabalho e
doenças ocupacionais.
As situações de acidentes e adoecimentos em decorrência do exercício
da atividade profissional nas mineradoras de Corumbá é ignorada, vez que
somente chegam ao conhecimento os dados oficiais relativos às Comunicações
de acidentes de Trabalho - CAT formalizadas e estas não refletem a realidade
do ambiente laboral de Corumbá.
Em Corumbá, em 2015 foram registrados 217 acidentes de trabalho,
sendo que 49 deles não foram devidamente notificados com a emissão de CAT,
além da ocorrência de 1 óbito. Em 2016, o cenário não apresentou melhora,
sendo registrados 223 acidentes de trabalho, dos quais 40 sem a formalização
da CAT e 1 óbito, situações identificadas no último Anuário Estatístico de
Acidentes de Trabalho de 2016, que apresenta as Estatísticas municipais de
acidentes do trabalho.
As subnotificações dos acidentes de trabalho e o reduzido número de
ações judiciais e autuações administrativas (se consideradas as ocorrências de
fato) demonstram o desconhecimento sobre a situação concreta de acidentes e
doenças do trabalho. As demandas judiciais e administrativas são muito
inferiores ao real número de ocorrências de acidentes e doenças ocupacionais.
A pouca rotatividade de empregos relacionada ao baixo dinamismo da economia
corumbaense é um agravante nas denúncias de acidente e doenças do trabalho.
A presente pesquisa diagnosticou o ajuizamento de 278 Reclamações
Trabalhistas em desfavor de três empresas mineradoras de Corumbá, sendo 60
ações referentes a acidentes e doenças ocupacionais entre 2014 a meados de
2018 (3 anos e 6 meses) (TRT, 2016), além de 21 autuações administrativas
(MPT-MS, 2018), o que representa 21% das ações propostas perante a justiça
especializada de Corumbá-MS .
A análise dos 60 processos trabalhistas relativos a acidentes de trabalho
e doenças ocupacionais ocorridos com os trabalhadores das empresas
mineradoras de Corumbá-MS trouxe informações relevantes sobre as causas
dos acidentes e o desencadeamento de doenças ocupacionais, permitindo
246
delinear o impacto negativo que a atividade mineradora acarreta ao meio
ambiente do trabalho, com as seguintes especificidades:
1. Das 278 ações analisadas, 60 se referem a acidentes e doenças do
trabalho (21%), das quais 3 foram ajuizadas pelo Sindicato dos
empregados da Construção Civil (1,4%), além de 4 Ações Civis Públicas
(1,4% das ações propostas) e as 218 restantes tratam de pedido de
condenação das empresas no pagamento de horas-extras, intervalo intra
e intrajornada, feriados trabalhados, DSR em dobro e pedidos de
insalubridade e periculosidade, representando 78% das demandas;
2. A quase totalidade das ações (59 das 60) foi ajuizada por homens e a
única Reclamação Trabalhista ajuizada por mulher foi na condição de
viúva de vítima de acidente de trabalho;
3. Nos 60 processos os empregados exerciam atividade de menor
qualificação e de menores salários (motoristas/operadores de
equipamentos móveis, amostrador, mecânico, preparador de frente de
mina, oficial de manutenção, operador de patrola, entre outras);
4. A idade média dos acidentados e/ou adoecidos é de empregados com até
40 anos e, em sua maioria, foi considerado temporariamente incapacitado
para o exercício de qualquer atividade através de perícia realizada nos
processos;
5. O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas de Corumbá, MS,
não ajuizou ações coletivas como substituto processual ou mesmo ações
individuais que buscassem reparar direitos violados pelas empresas
mineradoras. Das 278 ações trabalhistas analisadas, 218 tratavam das
mesmas situações vivenciadas pelos empregados (não pagamento de
horas-extras, intervalo intra e inter-jornada, feriados trabalhados, DSR em
dobro e pedidos de insalubridade e periculosidade) e que poderiam ser
objeto de ação coletiva proposta pela entidade laboral, diminuindo o
volume de ações no Judiciário Trabalhista local. Somente em 2018 consta
distribuição de uma ação trabalhista cujo cadastro por assunto no
Processo Judicial Eletrônico - PJE é de contribuição sindical. Entretanto,
diante da recente distribuição, a pesquisadora não pode confirmar se a
ação busca tão somente o recebimento de contribuições sindicais.
247
As causas dos acidentes e adoecimentos se resumem em jornada
excessiva de trabalho, falta de treinamento adequado, falhas na estrutura do
ambiente de trabalho (iluminação, barreiras de contenção, entre outras) e falta
ou insuficiência de EPI´S. Entretanto, mais da metade das perícias médicas
realizadas nos processos judiciais não reconheceram o nexo de causalidade
entre as doenças e a atividade profissional, dificultando acesso dos
trabalhadores aos benefícios previdenciários e estabilidade acidentária.
Corumbá demanda um modelo de desenvolvimento que não apenas
retome a pujança econômica do município, mas que promova a diversificação da
atividade produtiva e assegure a qualidade de vida de seus moradores, trazendo
benefícios à sociedade, estimulando as vocações regionais e conservando o
meio ambiente e a cultura pantaneira.
O desenvolvimento sustentável deve ser entendido como
desenvolvimento econômico progressivo e balanceado, aumentando a equidade
social e a sustentabilidade ambiental. A atuação mais efetiva do Poder Público
para fiscalizar os processos de produção e punir as empresas que descumprirem
as normas e legislações ambientais obrigaria a adoção de posturas mais
cuidadosas em relação ao meio ambiente.
A exploração mineral deveria ser proibida em áreas protegidas como o
Pantanal, ecossistema único e altamente vulnerável a ação antrópica. As
reservas minerais são limitadas, não se regeneram e os resíduos da atividade
mineradora não são absorvidos pela natureza. Entretanto, diante da realidade
apresentada, em que se encontram operando cinco empresas de mineração no
município de Corumbá, não há como defender a exclusão da atividade da região,
mas é possível cobrar ações no sentido das empresas aperfeiçoarem o processo
de extração do minério, tornando-o menos impactante ao meio ambiente. A
implantação de plano de ações adequadas que garantam eficiência e melhoria
no processo produtivo diminuiria os impactos negativos do empreendimento em
benefício da sustentabilidade ambiental.
Direciona-se subsídios à reflexão sobre a proposição da proibição de
novas autorizações para explorações minerais no Pantanal e a limitação das
lavras já existentes, como forma de minimizar os impactos negativos já
acarretados.
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A ativação da Procuradoria do Trabalho (desativada desde 2016) com a
designação de um Procurador do Trabalho fixo para atuar no Ministério Público
do Trabalho em Corumbá, bem como a designação de Auditor Fiscal do Trabalho
é medida urgente, considerando as peculiaridades da região, que além dos
impactos da atividade mineradora ainda enfrenta a exploração da mão-de-obra
boliviana, trabalho escravo, tráfico de pessoas e atualmente a imigração de
refugiados, necessitando de atuação e fiscalização pelo Poder Público.