200 anos de imprensa no brasil
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Revista laboratorio produzida por alunos de Jornalismo do curso de Comunicaçao Social da Universidade Veiga de Almeida.TRANSCRIPT
ANÚNCIOPágina inteira - Comunicação Social
200 anos da Imprensa no Brasil Revista VEIGA MAIS 33333
EditorialOs 200 anos de imprensa estão aí e,
ao longo desse tempo, muito aconteceu
na mídia brasileira. Foram muitas
mudanças e o surgimento de novos
conceitos no mundo da comunicação.
Carreiras, que antes não existiam,
surgiram para atender às necessidades
dos meios de comunicação que, cada
vez mais, estão tendo que se atualizar
para não perder seu prestígio. Isto se
dá porque estamos vivendo em uma
época em que somos bombardeados a
todo instante por notícias, campanhas
publicitárias e toda forma de
entretenimento que, cada vez mais,
chegam aceleradamente ao nosso
conhecimento.
Nesta edição da revista VEIGA +,
abordamos assuntos que fazem parte
dessa trajetória, como a criação de
algumas especializações dentro do
Jornalismo, fatos que marcaram a
história da imprensa, o surgimento de
novos profissionais nesse meio, as
adaptações pelas quais os veículos de
comunicação tiveram que passar —
incluindo as reformas gráficas e de
conteúdo — entre outros temas
relacionados ao universo da
comunicação.
Muitos nomes que marcaram época
e os que ainda continuam atuando
nessa área contam suas experiências
pessoais e profissionais, o que nos
permite entender um pouco mais sobre
o mundo midiático e seus
desdobramentos. São histórias
importantes e surpreendentes que, de
alguma forma, contribuíram para esses
200 anos de imprensa e que ficarão
registrados nesta edição.
Imprensa no Brasil, uma história de combate à censura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
ABI: patrimônio nacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Após 200 anos, mulheres conquistam seu lugar na imprensa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
A imprensa é feminina, mas o ganho é para todos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Premiando talentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Portas abertas para o jornalismo social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
A imprensa amarela que se tornou marrom . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Quando a vida pessoal de artistas vira notícia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
O difícil caminho da imprensa esportiva até a atualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Com a palavra, os especialistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
A imprensa na era da internet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Profissionais de comunicação se atualizam para a mídia digital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Computador substitui a máquina de escrever e modifica a rotina do profissional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Informação e opinião no telejornalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Diploma de jornalista é alvo de discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Charge: muito mais que um desenho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Tirinhas de jornal: humor para crianças e para adultos também . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Sumário
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
Revista Veiga MaisCurso de Comunicação Social
Ano XI • nº 20 • 1º semestre de 2008
Reitor: Dr. Mario Veiga de Almeida JúniorVice-Reitor: Prof. Tarquínio Prisco Lemos da SilvaPró-Reitor Acadêmico: Arlindo Cardarett ViannaPró-Reitor Comunitário: Dr. Antônio Augusto deAndrade MagaldiDiretor Administrativo-Financeiro: MauroRibeiro LopesDiretor de Planejamento: Arlindo Cardarett ViannaDiretor do Campus Tijuca: Prof. Abílio Gomes deCarvalho JúniorDiretora Acadêmica: Mônica Aragon
Curso de Comunicação Social reconhecido peloMEC em 07/07/99, parecer CES 694/99
Coordenador: Prof. Luís Carlos BittencourtCoordenadora de Publicidade: Profa. Ediana Avelar
Revista Veiga MaisOrientação de reportagens: Profa. MaristelaFittipaldi e Profa. Luiza CruzRevisão: Profa. Sandra MachadoOrientação AgênciaUva: Érica RibeiroEdição e Diagramação: AgênciaUvaReportagens: Alunos do 7º período deJornalismo (2007)
Tiragem: 2.000 exemplaresImpressão: Tipológica
Redação AgênciaUvaTelefone: 21 2574-8800 (ramal 416)www.agenciauva.com • [email protected] de Propaganda - OP :[email protected]
44444 Revista VEIGA MAIS 200 anos da Imprensa no Brasil
IPRENSA NO
BRASIL
Uma história decombate à
censura
Em 1808, com a chegada da corte
portuguesa ao Brasil, surgiram os
primeiros jornais, que foram o Correio
Braziliense e a Gazeta do Rio de
Janeiro. O primeiro, publicado por
Hipólito José da Costa e lançado no dia
1º de junho, foi editado e impresso
clandestinamente em Londres devido
à censura. Já a Gazeta do Rio de Janeiro
foi lançada em 10 de setembro do
mesmo ano e publicava notícias sobre
a natureza européia, documentos
oficiais, enfim, divulgava pontos a
favor da família real e suas origens.
Até 1808 eram proibidas a impressão
e a circulação de qualquer tipo de jornal
ou livro no Brasil. O Correio Braziliense
entrava clandestinamente através dos
porões dos navios que transportavam
mercadorias e escravos. Toda a Coroa
Portuguesa temia a propagação de ideais
de liberdade, igualdade e fraternidade
que eram comuns na Europa,
especialmente na França, com os quais
Hipólito mantinha uma certa identidade.
Com o passar do tempo, vários
jornais surgiram para defender idéias
liberais, como o Malagueta, criado em
1820. Às vésperas da independência,
surgiram também várias publicações
como o Revérbero Constitucional
Fluminense, que teve papel importante
na convocação da Assembléia
Constituinte de 1823. Ainda em 1821,
Dom Pedro I decretou o fim da censura
prévia, que levou à criação do Diário
do Rio de Janeiro, considerado o
primeiro jornal informativo do país.
Em 1839, surgiu o primeiro jornal
de humor no Brasil, em São Paulo. O
Pensador tinha por programa o combate
aos falsos devotos e à maneira como
eram praticadas certas cerimônias da
Igreja Católica àquela época. A partir
de 1840, começam a se multiplicar as
tipografias na cidade, o que originou
um número cada vez mais crescente de
jornais. Esse movimento se intensificou
ao longo do século XIX e envolvia jornais
de orientação política, sobretudo os
fundados por alunos ou ex-alunos da
Faculdade de Direito.
Em 1876, era publicada a Revista
Ilustrada, semanal, cujo destaque era o
desenhista Ângelo Agostini. Já o jornal
A República foi lançado no Rio de
Janeiro em 1870 e ficou famoso pela
publicação do manifesto republicano.
Mais tarde, em 1907, surgia o primeiro
jornal editado em cores, o carioca
Gazeta de Notícias.
Entre as décadas de 1930 e 1950,
ainda numa fase de primeiros passos
para o crescimento da imprensa no
Brasil, em especial durante o período
conhecido como Estado Novo, Getúlio
Vargas criou o Departamento de
Imprensa e Propaganda, DIP, que
censurou e vetou o registro de 420
jornais e de 346 revistas. Em 1959,
ocorreu a reforma do Jornal do Brasil,
que viria a mudar o modelo feito até
então. Na década de 1960 começam a
aparecer vários jornais em oposição ao
regime militar, instaurado a partir do
golpe de 1964, como O Pasquim,
Opinião, Movimento e Em Tempo. Nessa
época também foi criado o Conselho
Superior de Censura.
Um fato marcante na década de
1970 foi o assassinato do jornalista
Wladimir Herzog nas dependências do
DOI-CODI, em São Paulo. A morte de
Herzog produziu uma grave crise na
ditadura militar, provocando reações da
sociedade civil e também expondo o
que de pior ocorria durante o regime
instalado em 1964: prisão, tortura e
morte de militantes de esquerda.
Já na década de 1980 ocorreu uma
grande mudança na liderança de vendas
dos jornais impressos. O jornal Folha de
S. Paulo assumiu a campanha Diretas
Já, pela eleição para a presidência da
República por voto popular. Dois anos
depois, alcançou o posto de primeiro
jornal do país em volume de vendas,
desbancando, assim, O Globo, que
mantinha a liderança desde a década
de 1930. Anos depois, a Folha de S.
Paulo conseguiu uma grande conquista:
no dia 12 de maio de 1990, alcançou a
maior circulação da história da imprensa
brasileira, com 1.613.872 exemplares
vendidos, empurrada pelo lançamento
de um atlas histórico que acompanhava
a publicação.
200 anos da Imprensa no Brasil Revista VEIGA MAIS 55555
ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE
IMPRENSA
por
Tamara Russo
Para comemorar os 200 anos de
imprensa no Brasil, nada melhor do que
conhecer um pouco mais sobre a
Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
Situada no centro do Rio de Janeiro, teve
como idealizador Gustavo de Lacerda e
foi criada em 7 de abril de 1908. Tinha
como principal objetivo assegurar à classe
jornalística os direitos assistenciais,
tornando-se um poderoso centro de ação.
Atualmente, a ABI tem como princípios
fundamentais a defesa dos direitos
humanos, da liberdade de imprensa e
democrática e também dos interesses
nacionais, sendo considerada um
patrimônio para toda a classe jornalística.
Segundo Joseti Marques, membro do
Conselho Administrativo da ABI, a
instituição permanece fiel a seus
princípios fundamentais, apesar de passar
por mudanças de caráter administrativo.
“Nossa eleição, em 2004, trouxe avanços
e reformas importantes e, principalmente,
uma disposição de trabalhar pelo
desenvolvimento e pelo futuro da
entidade, aproximando-a dos jovens
estudantes de Comunicação e dos
jornalistas que estão hoje nas redações.”
Ela diz, ainda, que esta nova gestão,
comandada pelo presidente Maurício
Azedo, tem um compromisso ético
solidamente fundado. “Todas as vezes em
que ocorre um fato que abala
profundamente a vida do País, a ABI é
uma das primeiras instituições a serem
consultadas por toda a imprensa e pelas
organizações da sociedade civil.”
Atualmente, a ABI vem oferecendo
diversos cursos relacionados à área para
os jovens jornalistas. A entidade também
possui outros canais de comunicação —
um jornal, uma revista e um site — em
que oferece notícias e, sobretudo, muita
informação ao público em geral. Para a
estudante de jornalismo Gabriela Torres,
a ABI é um local de grande importância,
não só para estudantes, mas para toda
pessoa interessada em saber um pouco
mais sobre os acontecimentos que
marcaram época e que fizeram a história
da imprensa. “Todo mundo deve conhecer
este lugar, porque nele podemos
encontrar muita coisa boa relacionada à
nossa cultura”, diz.
Mas, não é só a estudante que possui
esta opinião. Com ela concorda Edna
Felix, jornalista, que freqüenta a ABI há
cinco anos e adora o lugar. “Sempre que
posso, dou uma passadinha lá. É muito
bom para me manter atualizada. De vez
em quando, faço alguns cursos que a ABI
oferece. Além disso, a biblioteca é ótima.”
Sempre que conhece algum estudante
de Comunicação, Edna aconselha a
conhecer a ABI.
A associação já foi palco de grandes
acontecimentos que marcaram a história:
o discurso de Robert Kennedy na porta do
prédio; familiares de desaparecidos em
busca de jornalistas que lhes advogassem
as causas, em 1979; o nascimento da
campanha em defesa do monopólio
estatal do petróleo; o discurso de Tancredo
Neves durante sua campanha à Presidência
da República, em 1984; a presença de
Daniel Ortega, ex-presidente da Nicarágua,
e do Governador Leonel Brizola, na
comemoração do aniversário de Barbosa
Lima Sobrinho, em 1986. Ao completar seu
centenário, a ABI é uma instituição que
contribui inegavelmente para o
crescimento e aperfeiçoamento pessoal e
profissional dos cidadãos brasileiros.
“Todas as vezes emque ocorre um fato
que abalaprofundamente a
vida do País, a ABI éuma das primeiras
instituições a seremconsultadas”
Joseti Marques
O Jornal da ABI está entre as publicação da Associação Brasileira de Imprensa
66666 Revista VEIGA MAIS 200 anos da Imprensa no Brasil
Calcula-se que hoje existam cerca de
40 mil jornalistas em atividade no país e
que quase a metade desses profissionais
sejam do sexo feminino. Porém, alguns
anos atrás essa realidade era muito
diferente — em 1986 representavam
apenas 36% — e isso só mudou devido à
entrada do movimento feminista no país.
Essa parte da história se confunde com
a da imprensa que, em 2008, completa
200 anos no Brasil.
O primeiro jornal, que se chamava
Correio Braziliense, foi lançado em 1808,
após a chegada da família real. Mas os
registros da primeira mulher nos antigos
folhetins só foram surgir 25 anos depois,
em 1833. Seu nome era Maria Josefa
Barreto Pereira Pinto e, na época, ela
editava o Bellona, em Porto Alegre. Porém,
isso não significa que as redações
mantinham já as portas abertas para elas.
Segundo a historiadora Cristiane de
Jesus, as mulheres começaram de fato a
chegar às redações junto com o jornalismo
feminista, no final do século XIX, para
tentar se libertar da condição de submissão
que existia nesse período. Inspiradas em
associações de trabalhadores e
organizações políticas, elas reivindicavam
capacitação profissional, educação e
direitos civis e políticos. Mas, para
conseguirem alcançar essas conquistas,
ainda levou algum tempo.
Inicialmente, as jornalistas eram
empregadas, em sua maioria, apenas
para escrever colunas sobre culinária,
beleza e bem-estar. Exatamente por isso,
nos primeiros impressos, que tratavam
apenas de assuntos de economia e
mercado, como a venda de escravos e a
chegada de navios, por exemplo, elas não
podiam exercer a profissão, que era
tipicamente masculina.
Somente no século XX, mais
especificamente na década de 1930, as
mulheres começaram a ter destaque no
mercado de trabalho. Apesar das operárias,
até então, terem vindo das camadas mais
baixas da sociedade, o movimento contra
a desigualdade era mais forte entre a classe
média e as mulheres com mais anos de
estudo. No jornalismo, esse crescimento
começou junto com o nascimento do curso
superior, em 1947.
A não consolidação da profissão — até
hoje existe um briga na justiça para saber
se existe ou não a necessidade do diploma
para o exercício do jornalismo — ajudou o
ingresso feminino. Mas, mesmo assim,
durante muito tempo, existiram editorias
em que as mulheres não eram bem-vindas,
como a de economia e a de esportes.
Marina Perin, 32 anos, viveu o final
dessa época quando estava se formando
na faculdade e começou seu primeiro
estágio. Filha de um conhecido jornalista,
Orivaldo Perin, ela iniciou sua carreira no
Jornal do Commércio, em 1995. “Quando
entrei havia muitas mulheres começando,
como eu, mas a maioria dos editores e
chefes ainda eram homens.” A jornalista,
que hoje trabalha com assessoria de
imprensa, diz que nunca sofreu
preconceito por ser do sexo feminino.
“Eles já estavam no mercado há um bom
tempo e aprendi muito”, lembra ela, com
a ressalva de que, algumas vezes, os
editores foram um pouco indelicados.
Hoje já há mulheres em cargos de
chefia. A última pesquisa sobre o assunto,
em 1996, apontou que, a cada dez
profissionais, quatro eram mulheres. No
entanto, ainda persistiam diferenças nos
cargos e nos salários. Passados 12 anos, nas
faculdades de jornalismo, a maioria dos
alunos são do sexo feminino.
Após 200
anos,
mulheres
conquistam
seu lugar na
imprensa
por
Adriane Moutinho
Constante
200 anos da Imprensa no Brasil Revista VEIGA MAIS 77777
Com o fim do século XIX, as
mulheres conquistaram as uni-
versidades. Nos anos 1930, obtiveram
o direito ao voto. E, com o início da
Segunda Guerra Mundial, ganharam
as ruas, abandonando os lares e
engrossando o mercado de trabalho.
As informações ajudavam a expandir
seus horizontes com a ajuda dos meios
de comunicação de massa que
começavam a se desenvolver. O
mercado passou a ver nas mulheres
possíveis consumidoras que abririam
um novo nicho. Chegaram ao Brasil
os suplementos femininos, ou seja, as
editorias dos jornais voltadas para
mulheres.
A revista O Espelho Diamantino,
de 1827 (ano em que se lançou o
serviço regular de vapores entre as
cidades do Rio de Janeiro e de Santos,
o que contribuiu para a distribuição
das publicações), abriu um novo
espaço para a leitura feminina e foi
seguida posteriormente por muitas
outras. A Fluminense Exaltada, de
1832, consta como o primeiro jornal
brasileiro feminino. Na seqüência, em
Recife e São Paulo, foram sendo
lançados cadernos com assuntos
como artes , variedades e , prin-
cipalmente, moda.
Em meados do século XIX, outro
gênero passou a ser consumido em
larga escala: o folhetim, forma de
edição seriada de obras literárias que
vinha anexado ao periódico. Com um
dado curioso. O folhetim era
originalmente destacado no rodapé
dos jornais , mas acabou se
apropriando de todo o espaço de
variedades, pelo sucesso que fez junto
às leitoras. Muitos títulos de autores
A imprensa
é feminina,
mas o ganho
é para todos
por
Sheila Fernandez
de romance de renome foram
publicados pela primeira vez nas
páginas desses periódicos. A moda e
a literatura representaram o alicerce
de sustentação das publicações para
mulheres da época.
Anos depois, o segmento passou
por algumas alterações. O fato de as
mulheres expressarem o que
pensavam abertamente, sem se
importar com o que a sociedade exigia
delas, fez crescer sua participação
também na produção e na direção de
jornais, sem a intervenção do sexo
masculino. Vários jornais dirigidos por
homens e com a participação de
mulheres também passaram a existir.
Um título que marcou a imprensa
feminina foi O Jornal das Senhoras,
de 1852. O periódico, por meio de
críticas, abordava a necessidade da
emancipação das mulheres. O Belo
Sexo, de 1862, era um periódico de
domingo, surgido no Rio de Janeiro,
e abordava a religião e a ascensão
social da mulher. Em São Paulo, no
ano seguinte, em contrapartida, surgia
o jornal A Família, que se dedicava a
ensinar às mulheres a serem do “lar”,
numa doutrinação para casar, ou
melhor, para que fossem “prendadas”.
A imprensa dita feminina, com o
passar dos anos, mudou. Atualmente
ela não se limita só a esses assuntos e
outros começaram a fazer sucesso. As
mulheres não são mais apenas donas
do lar: elas trabalham, estudam, são
independentes financeiramente, mães
solteiras e assuntos diversos fazem
parte de seu cotidiano. A jornalista
Vanessa Candia, do jornal Canal da
Imprensa, acredita que essa nova
abordagem tem grande impacto sobre
as suas atitudes. “Em pleno século XXI,
quando as mulheres estudam,
trabalham e têm responsabilidades
com suas famílias, ainda existem
pessoas que insistem em limitar este
universo somente à preocupação com
beleza, moda e cozinha.” E completa,
dizendo: “A principal função de um
jornal é a de informar. Cultura, lazer
e outros assuntos contidos nestes
suplementos os tornam ainda mais
interessantes. Entretanto, o que
precisa estar bem claro para a leitora
é a realidade”.
Hoje os homens também escrevem
sobre moda e assuntos ditos femininos
ou feministas. Como Fernando Junior,
repórter freelancer do Diário de
bordo. “A padronização, o estereótipo
do que é dito feminino ou masculino
é que faz as pessoas acreditarem que
tudo tem que ser só de um jeito, nada
pode ser um assunto em comum para
os dois sexos. Mas o conceito de
metrossexual está aí pra provar o
contrário: há homens interessados em
moda, em cuidados com a pele, com
a saúde, onde eles vão encontrar isso,
numa revista masculina? Pelo
contrário: numa feminina, que está
abrindo espaço para eles.”
O modismo e o moderno passam,
o que é bom fica. As mulheres se
tornaram especial istas nisso .
Revistas, jornais, cadernos há tempos
acharam na mulher um consumidor
especial e crítico, mas capaz de expor
suas angústias e experiências através
de depoimentos, entrevistas e até nas
roupas. Um “pretinho básico” sempre
resolve a situação. No mais, só o
tempo dirá a moda da próxima
estação.
88888 Revista VEIGA MAIS 200 anos da Imprensa no Brasil
Premiando
talentos
por
Lívia Canavarro
Eles podem não ter o glamour da
cerimônia de entrega do Oscar, mas
sua importância é enorme. Os
prêmios dedicados à imprensa
brasileira se multiplicaram nestes 200
anos de história e vêm ganhando
destaque no cenário nacional. Não
servem apenas como recompensa por
um trabalho bem realizado, pois vão
além e buscam dar o prest ígio
merecido para os jornalistas que se
esforçam muito para levar
informações que sejam relevantes ao
povo deste país.
São reportagens premiadas pela
importância que têm perante a
sociedade. Ainda que os prêmios
sejam oferecidos por diversas
instituições, os critérios para o
julgamento sempre envolvem o que
o bom jornalista deve levar em
consideração como prior idade
durante a apuração da matéria: o
interesse público.
São muitas as empresas que
oferecem prêmios aos profissionais
da imprensa. O mais tradicional deles
é o famoso “Prêmio Esso” que, criado
em 1955, carrega o nome do primeiro
notic iár io do radiojornal ismo
brasileiro: “Repórter Esso”. Ganha
destaque não só por homenagear os
jornalistas há mais de 50 anos, mas
também pela seriedade do evento.
Fato que é confirmado por Rosane
Tremea, julgadora da edição 2006 e
editora do jornal Zero Hora. “É tudo
feito com muito cr itér io e
organização.”
Outro evento que se destaca é o
“Prêmio Imprensa Embratel”. De
acordo com seus organizadores, a
premiação reconhece trabalhos
Profissionais daimprensa são
homenageados
jornalísticos sobre temas brasileiros
de interesse da sociedade e que
contr ibuam para a solução de
problemas, possibilitando a melhoria
da qualidade de vida no país. Este
evento é recente — em 2008, ocorre
sua décima edição — mas já
conquistou uma grande importância
entre os profissionais.
Existem muitas entidades que
prestam sua homenagem à imprensa
brasileira e seus profissionais. A Caixa
Econômica Federal é uma delas. Há
quatro anos, a empresa promove o
“Prêmio Caixa de Jornalismo Social e
Negócios em Turismo”, que seleciona
reportagens sobre pautas sociais
como: habitação, saneamento, meio
ambiente, saúde preventiva, educação
e, claro, turismo.
Para André Duarte, do Diário de
Pernambuco, trata-se de um estímulo
necessário à profissão. “Numa fase
em que as grandes reportagens se
tornaram artigo de luxo, iniciativas
como o Prêmio Caixa acabam
proporcionando uma sobrevida ao
jornalismo de fôlego, ainda mais para
os veículos localizados fora do eixo
Rio-São Paulo. Trata-se de um
estímulo fundamental, ainda mais
quando a pauta social é o foco dos
trabalhos.”
Já Conceição Freitas, premiada na
ultima edição do “Prêmio Esso”,
acredita que o prêmio é um alento para
os agraciados. Ela afirma que a
homenagem traz reconhecimento ao
jornalista, mas que este é passageiro.
“Continuo jornalista como antes, só
que um pouco mais acarinhada”,
afirma Conceição, que há onze anos
trabalha no Correio Braziliense. Além
200 anos da Imprensa no Brasil Revista VEIGA MAIS 99999
Portas abertas para o jornalismo social
destes prêmios, existem aqueles criados
para homenagear grandes nomes do
jornalismo brasileiro. Caso do “Prêmio
Tim Lopes”, dado a trabalhos de
natureza investigativa, ou do “Prêmio
Vladimir Herzog” que, de acordo com
Questões como a diversidade,
desenvolvimento sócio-ambiental,
violência, racismo, discriminação,
direitos humanos e elaboração do
orçamento público são objeto de
divulgação do profissional de
comunicação. Mas, ainda hoje, a
imprensa cobre de modo
insuficiente a área social.
O jornalista é um mobilizador
social e que pode colaborar na
construção de um mundo mais justo
e democrático. O Fórum Social
Mundial consagrou a expressão
"outro mundo é possível", mas é no
jornalismo que essa discussão
precisa ser diária. Parte da
responsabilidade pela aceleração
das mudanças está na mão de
repórteres e editores. Para que isso
ocorra, os jornalistas devem repensar e
reinventar a própria profissão.
O jornalismo social surgiu da
necessidade de tornar públicos problemas
sociais alarmantes. Realidades que
demandam ações urgentes por parte do
poder público e da sociedade civil, mas
passam despercebidas pela mídia. Dessa
forma, dificilmente conseguem fazer
parte de planos dos governos ou dos
debates da opinião pública. São casos que
se repetem insistentemente em todo o
território, tornando o problema nacional.
Nas universidades, a questão da
responsabilidade jornalística tem
ganhado cada vez mais espaço. Um bom
exemplo é a Universidade Federal do Rio
de Janeiro, UFRJ, que já possui uma
disciplina voltada para área chamada
Jornalismo de Políticas Públicas Sociais.
a Associação Brasileira de Imprensa, é
o principal do país voltado para a
questão de direitos humanos. Todas
estas homenagens são um
reconhecimento dos belos trabalhos
prestados por profissionais que
A nova matéria foi criada pela UFRJ em
parceria com a Agência de Notícias dos
Direitos da Infância (ANDI) e é
ministrada pelo professor Evandro Vieira
Ouriques. Já a Universidade de Brasília,
UnB, tem pelo terceiro semestre a
disciplina Crítica da Mídia, ministrada
pelo professor Luiz Gonzaga Motta e
que também é fruto de parceria com a
ANDI. A Universidade Veiga de Almeida
(UVA) também ministra matérias
voltadas para aspectos sociais, como a
disciplina chamada Projeto Social e
Crítica de Mídia, sob a supervisão do
coordenador do Curso de Comunicação
Social, professor Luís Carlos Bittencourt.
A Caixa Econômica Federal lançou
também o Prêmio Caixa de Jornalismo
Social para valorizar os profissionais da
área. A novidade homenageou matérias
colocam o interesse público como
principal objetivo na hora de apurar
uma matéria. Pessoas que acreditam
que sua profissão pode e deve melhorar
o mundo, deixando a sociedade
consciente dos seus problemas para
que esta possa buscar soluções. Rosane
concorda: “Eu sempre acreditei que o
jornalismo é capaz de ajudar a
transformar o mundo para melhor ou,
no mínimo, retratá-lo, fazer com que
as pessoas o enxerguem tal como é”.
relacionadas a temas como
habitação, saneamento básico,
meio ambiente, saúde preventiva,
ensino fundamental e inclusão
bancária. Pedro Dória, repórter do
site No Mínimo, já ganhou o
prêmio. Ele se aventurou pela divisa
entre o Mato Grosso e o Pará.
Percorreu trechos por onde passa
boa parte da soja que engorda o
PIB e alguns dos piores conflitos
agrários do país acontecem, como
a morte da missionária Dorothy
Stang. A matéria lhe rendeu o
primeiro lugar, na categoria web,
da 2ª edição do prêmio. O repórter
apontou problemas ligados ao meio
ambiente, irregularidades na
compra e venda de terras e
violência no campo.
Especiais da Veiga Mais e do Folha da Veiga produzidos pelos alunos de Comunicação Social da UVA e focados na área de responsabilidade social
1010101010 Revista VEIGA MAIS 200 anos da Imprensa no Brasil
A imprensa
amarela que
se tornou
marrom
por
Viviane Garcia Costa
Prática dejornalismo é
questionada porrazões éticas e
sensacionalismoexagerado
Ao longo dos 200 anos de imprensa
no Brasil, muitas vertentes do jornalismo
foram se formando, de acordo com o ponto
de vista de culturas locais. Na verdade, não
se sabe qual foi o pontapé inicial, ou seja,
se foi uma necessidade requerida pelos
leitores ou se foi uma oferta dos veículos.
Com o tempo, surgiram editorias variadas
e denominações referentes a certas práticas
jornalísticas. Dentre elas, uma ficou
bastante conhecida: a imprensa marrom,
que é a publicação de escândalos, marcada
pelo sensacionalismo e considerada por
muitos como antiética.
A expressão original não é exatamente
essa, mas sim a yellow press, que nasceu
do New York World, jornal de grande
circulação nos Estados Unidos, controlado
por Randolph Hearst e Joseph Pulitzer. Com
a invenção das máquinas de quatro cores,
as charges de humor tornaram-se bastante
populares. Daí, um desenhista foi
contratado por esse jornal para fazer tiras
criticando os imigrantes nos EUA, que
supostamente transformavam a imagem
das cidades. Um dia, o controlador da
impressora optou por usar um amarelo
forte na blusa de um menino. A partir de
então, houve muita polêmica, devido ao
fato de o amarelo ter a conotação de
covardia para os americanos e então o caso
obteve grande repercussão.
Apesar de a expressão “amarelar”
também ter o sentido de “acovardar-se”
no Brasil, não foi dessa forma que essa
prática sensacionalista ficou conhecida
aqui. Em 1960, o jornal Diário da Noite,
no Rio de Janeiro, publicaria uma notícia
sobre um jovem que cometera suicídio por
se sentir pressionado com as chantagens
que sofria por revistas de grandes
escândalos. O jornalista que preparava a
matéria pensava em escrever o título
referindo-se ao jornalismo amarelo,
quando seu chefe entrou na sala e decidiu
inovar já que, para ele, o amarelo era uma
cor bonita. Então pensou no marrom, que
remetia à sujeira e tinha mais a ver com o
caso em questão.
A partir daí, a expressão passou a ser
mais usada e a prática repreendida. O
jornalismo marrom entrou para o
dicionário da Língua Portuguesa como o
“jornalismo que explora o sensacionalismo,
dando larga cobertura a crimes, fatos
escabrosos e anomalias sociais”. Hoje, são
muitas as reações a essa prática, que vão
desde manifestos em blogs, como em
artigos e críticas em geral.
O blog Imprensa Marrom, de Fernando
Gouveia, mas conhecido como Gravataí
Merengue (pseudônimo usado quando
escrevia textos para o jornal da
universidade), foi criado em 2001, em
parceria com o amigo Marcos Lúcio, que
era estudante de jornalismo na época.
Gravataí é advogado, pós-graduado e
trabalha na sua área, mas teve a idéia de
lançar o site pela indignação sobre matérias
redigidas por grandes veículos. A intenção
do advogado era fazer seus comentários
sobre o que era publicado, interagindo com
os internautas. “Como não existe uma
profissão chamada ‘crítico da imprensa’,
tenho uma isenção para fazer minhas
análises sobre a imprensa”, diz ele.
Uma das vertentes mais questionadas
no blog é o conteúdo da revista Veja. Seu
maior problema com o público é o fato de
assumir posições ideológicas, com nítida
parcialidade partidária, o que acaba
gerando muitas críticas nas mídias em
geral. O assunto é bastante criticado no
site de Gravataí: “a publicação é dividida
entre o conteúdo informativo e opinativo
— em sua maior parte, mesmo que nas
entrelinhas. As pessoas precisam de uma
revista semanal, então vão lá e compram a
Veja. É fato que ela possui a maior estrutura
do Brasil e conta com um grupo de
profissionais muito qualificados. Mas, para
mim, vendagem não significa credibilidade”.
Outra publicação bastante ques-
tionada pelo blog é a revista Caros Amigos.
Esta é mantida com anúncios de
prefeituras e empresas públicas, que são
gerenciadas pela administração petista,
com clara dependência editorial.
“Praticamente toda imprensa é ‘marrom’.
Há veículos ricos e outros mais pobres mas,
sem dúvida, todos atendem a um interesse
— e esse, quase sempre, coincide com o
dos principais financiadores do veículo. Isso
é um absurdo quando se pensa nos
leitores”, completa o advogado.
Apesar do aparente sucesso de Gravataí
— o blogueiro é referência para o assunto
em outras páginas e artigos — ele revela
não receber nenhum incentivo financeiro.
Pelo contrário: conta que só teve gastos
com o site. Há três anos, foi processado
por causa de um comentário feito por um
internauta anônimo, criticando uma
empresa específica em seu blog. Esta
empresa, por sua vez, não fez contato com
o blogueiro e entrou com uma ação
judicial. Ele foi condenado a pagar uma
indenização de R$ 3.500 por danos morais
e ainda teve gastos com advogados.
Gravataí critica a Imprensa em blog
200 anos da Imprensa no Brasil Revista VEIGA MAIS 1111111111
Quando a
vida pessoal
de artistas
vira notícia
por
Camilla Rodrigues
Falar da vida privada de pessoas
públicas está cada vez mais na moda.
Manchetes como “Confirmado: galã da
novela das oito está namorando a
mocinha das seis” vêm ganhando cada
vez mais espaço nos veículos de
comunicação. A tendência, conhecida
como imprensa rosa, nasceu na segunda
metade do século XX e ganhou espaço
em jornais, revistas, programas de tv e
sites. O investimento está dando tanto
retorno que alguns veículos têm apenas
a fofoca como proposta editorial e estão
vendendo mais que muitas revistas
semanais de informação.
A jornalista e professora da
Universidade Veiga de Almeida, Luiza
Cruz, acredita que este tipo de trabalho
é jornalístico. “Daqui a pouco vamos
achar que só quem cobre Caso
Watergate é ‘jornalista de verdade’.
Jornalista de verdade é quem está nas
ruas atrás das notícias. Seja sobre quem
ganhou o último Oscar ou sobre quem
teve sua cabeça cortada na Baixada.”
Luiza também acredita que essa
invasão ocorre com a permissão o
artista. “Quem está nas páginas de
revistas de celebridades são pessoas
públicas que almejam sucesso e fama
e que devem aprender que, junto com
eles, vêm os deveres.”
Enquanto alguns vêem a imprensa
rosa com maus olhos, Luiza tem uma
percepção diferente. “Muitos a
consideram espetacularização da notícia
e, até mesmo, uma banalização, mas, na
verdade, nada mais é do que um
resultado natural da segmentação do
mercado e, também, oportunidade de
trabalho.” Para ela, a fofoca além de fazer
parte da realidade do ser humano, pode
se tornar um aliado de quem a cobre. “É
um mal necessário. E, quando bem
apurada, pode virar ótimas matérias.”
Se a opinião em relação à imprensa
rosa varia de jornalista para jornalista,
entre os estudantes também não muda
muito. Karina Rocha, da Faculdade
Hélio Alonso, diz ficar impressionada
com o rendimento e sucesso da
cobertura da vida alheia. “É triste saber
que, enquanto ótimos jornalistas estão
usando seu talento para ‘noticiar’
fofocas, várias pessoas estão alienadas
em relação a questões como educação,
economia, política. O mais triste é ver
como a população consome esse lixo.”
Enquanto Karina não simpatiza
nem um pouco com a indústria da
fofoca, a estudante Rosana Mattos, da
Universidade Estácio de Sá, aprova a
idéia. “Quem é que não sente um
pouquinho de curiosidade de saber da
vida dos outros? Ainda mais quando é
alguém que tem um trabalho legal, que
se destaca. Acho muita hipocrisia dizer
que só acho interessante revistas como
Veja, Época e Isto é. Nem todo dia
estamos com vontade de ler coisas
sérias.” Rosana gostaria de trabalhar
em algum veículo que fizesse este tipo
de cobertura. “Além de poder conhecer
um monte de gente que eu admiro,
ainda ia poder mostrar que escrevo
bem até fazendo fofoca.”
“Quem é que nãosente um
pouquinho decuriosidade de
saber da vida dosoutros?”Rosana Mattos
Israel Tabak, professor da Pontifícia
Universidade Católica, PUC, e ex-
redator do Jornal do Brasil, pensa
diferente. “O papel do jornalista é
apurar e divulgar informações de
utilidade pública e, sinceramente, não
acredito que saber com quem a Giselle
Bündchen está namorando vá alterar ou
melhorar a vida de alguém.” Sua colega
de redação, Rozane Ribeiro, pensa o
mesmo. “Chamar revistas como ‘Tititi’ e
‘Fuxico’ de jornalismo é ferir a imagem
do jornalista que se desdobra em mil
para criar pautas que provoquem
alguma mudança de vida do seu leitor.”
Há quem acredite que essa nova
tendência é um meio de desviar a
atenção de fatos que mereciam ser
observados e encarados. A jornalista
Cláudia Rodrigues é uma das que pensam
assim. “A mídia da fofoca não se interessa
em acompanhar o destino das famílias
que foram bombardeadas numa guerra,
mas quer saber os bilhões de dólares que
serão investidos para os remendos.”
1212121212 Revista VEIGA MAIS 200 anos da Imprensa no Brasil
O difícil
caminho da
imprensa
esportiva até
a atualidade
por
Gabriel Peres
A imprensa esportiva, atualmente
um dos ramos que mais desperta
interesse nos formandos do curso de
Jornalismo, vem passando por grandes
mudanças e superou muito preconceito,
que ainda não está completamente
extinto. Nesses 200 anos de imprensa
brasileira, a serem comemorados dia 1º
de junho, data da criação do Correio
Braziliense (1808) por Hipólito da Costa,
a editoria também fez sua história.
No Brasil, a publicação da colônia
italiana em São Paulo, Fanfulla, de 1893,
pode ser considerada a primeira a
noticiar fatos esportivos. Poucos anos
após a chegada do futebol no país, que
tinha como principais esportes o remo
e o críquete, na década de 1910, o jornal
de língua italiana trazia informações
sobre o futebol e, inclusive, teve
fundamental importância na fundação
do Palestra Itália, que atualmente é o
time do Palmeiras.
Nos anos 1930 foi dado um passo
fundamental na estruturação da área com
a fundação do Jornal dos Sports, primeiro
diário voltado exclusivamente ao
desporto. Nesse momento, porém, o
principal motivo da estabilização da
cobertura esportiva acabou também
prejudicando. Com o interesse das classes
mais baixas da sociedade pelos esportes,
a mídia esportiva passou a sofrer com o
preconceito de que apenas os mais pobres
se interessavam pelo assunto, o que podou
precocemente diversos projetos durante
os anos que se seguiram.
Tendo em vista esse enorme alcance
às massas, o esporte passou a ser usado
politicamente. Enquanto na Alemanha,
Hitler apostava na imprensa esportiva
para divulgação da dita superioridade
ariana, nos Jogos Olímpicos de Berlim,
no Brasil, anos mais tarde, as conquistas
no futebol eram supervalorizadas com o
intuito de abafar as mazelas da ditadura.
A década de 1960 se tornou um marco
para o jornalismo esportivo, com a adição
dos cadernos de esportes nos jornais e a
ascensão da televisão, que cada vez mais
vem reservando seus horários nobres a
programas sobre o assunto.
Atualmente, novas mídias abrem
espaço para novos profissionais. Com o
advento da internet, o jornalismo em
geral e, principalmente, o esportivo,
ideal para divulgação de informações
em tempo real e até transmissões on-
line para todo o mundo, ganharam
ainda mais destaque. Antes reservados
aos jornais e aos programas
especializados, hoje em dia é possível
acompanhar qualquer vertente do
esporte 24 horas por dia, de casa, do
trabalho, da faculdade, bastando apenas
o acesso a um computador ligado à
rede. “Os profissionais ganharam muito
mais respeito pela velocidade com que
as informações se propagam e o
trabalho triplicou", afirma o
coordenador de esportes da Rádio
Manchete, Cesar Mocarzel.
Sem se esquecer dos prós, o repórter
Leonardo Velasco do UOL – Esportes
lembra que também há desvantagens.
“A maior é não ter fechamento. O
jornalista de web acaba tendo que
trabalhar com uma grande pressão, já
que o tempo real é muito importante.”
O crescimento do setor de assessoria
de imprensa no esporte também é um
grande responsável pelo aumento do
profissionalismo na cobertura esportiva.
Se antes as informações desencontradas
e lentas diminuíam o grau de
confiabilidade dos textos, hoje é possível
confirmar tais assuntos com um
profissional preparado para ajudar o
jornalista. “O contato com os desportistas
ficou muito mais profissional. Por outro
lado, hoje é muito mais complicado falar
diretamente com um atleta, seja ele de
qualquer esporte, sem passar pela
assessoria de imprensa”, garante Mocarzel.
Sócia da C2 Comunicação, Claudia
Abreu Campos lembra, ainda, da
importância do assessor nas redações de
esporte e em geral, tendo em vista a
tendência de enxugar profissionais dos
veículos de imprensa. "Em um mercado
onde as redações trabalham cada vez
com menos pessoal, um bom assessor
pode agilizar todo o processo, pois ele
sabe o que é ou não notícia e pode
viabilizar personagens."
Seja em jornal, rádio, tv, internet ou
qualquer outro veículo de comunicação
que esteja por vir, a imprensa esportiva
conquistou seu espaço no mercado e,
conforme o tempo, a tendência é que o
respeito por ela aumente cada vez mais.
“Hoje é muito maiscomplicado falardiretamente comum atleta, seja ele
de qualqueresporte, sem passarpela assessoria de
imprensa”Cesar Mocarzel
200 anos da Imprensa no Brasil Revista VEIGA MAIS 1313131313
Com a palavra,
os especialistaspor
Luiz Maurício Monteiro
Assim como o jornalismo de uma
forma geral, a editoria de esportes
evoluiu bastante com a passagem
dos anos. Além de maior visibilidade,
ganhou um caderno exclusivo. Tanto
progresso, é responsabilidade do que
se pode chamar de um pioneiro,
como conta o repórter do jornal O
Globo e autor do livro “Futebol Brasil
Memória”, Cláudio Nogueira. “O
jornal impresso começou falando de
esportes na década de 1910 através
apenas de notas. O remo era o mais
importante. O Mário Filho, que hoje
dá nome ao Maracanã, foi um dos
jornalistas que deram maior
importância para o futebol e outros
esportes”, afirma.
Para Lina Marques, editora do
jornal Extra, a evolução da cobertura
esportiva é de extrema importância.
“Nos jornais de segunda-feira o
esporte disputa a capa com outras
editorias.” E completa: “Quando o
Expresso foi lançado, não possuía
uma editoria dessas. Menos de um
mês depois, ele já tinha o seu
suplemento esportivo.”
Profissionalismo lembra trabalho.
E é por isso que a vida do jornalista
esportivo ficou mais dura nos últimos
tempos. É assim que pensa a editora
do caderno de esportes do jornal
Expresso, Ana Cora Lima. “Repórter
é quase um atleta. Ele tem que
acompanhar os treinos. Se for treino
integral, tem que ficar no clube o dia
todo. Se o time for jogar do outro
lado do país, o repórter tem que ir
junto”, explica ela, que já trabalhou
na editoria de esportes de vários
outros jornais.
Para Cláudio, a vida é menos
dura. “No futebol é cobertura diária.
Cada clube possui seu repórter fixo.
Mas nos esportes amadores, cada
repórter acompanha um grupo de
modalidades. Eu, por exemplo,
cubro só automobilismo e
basquete”, enumera, explicando
que as pautas são escolhidas em
grupo, de acordo com o esporte que
está se destacando mais no
momento.
Já na opinião de Lina, o
profissional precisa estar bem
consciente da escolha que fez, pois
vida de jornalista esportivo nem
sempre é fácil. “Às vezes se perde
o fim de semana inteiro. Porque
tudo de importante ocorre nos fins
de semana.” A despeito das
dificuldades, a rotina de um
jornalista esportivo jamais pode
incomodá-lo. Afinal, são poucos os
que conseguem unir a paixão pelo
trabalho e o amor pelo esporte
numa profissão só.
A imprensa
na era da
internet
por
Érica Paiva
A internet surgiu no Brasil na
década de 1990 como um novo meio
de comunicação de massa. Logo em
seguida passou a ser vista também
como o mais recente símbolo da
modernidade. Foi entre os anos de
1995 e 1996 que ocorreu o “boom” dos
diários digitais. E é por reunir
elementos de todos os veículos
existentes, que vão desde o texto
escrito até o som e a imagem, que a
internet coloca novamente em
discussão o fato de uma mídia mais
completa e eficaz poder extinguir
outra já existente.
A primeira vez que esta dúvida
esteve presente foi com o
aparecimento da televisão, que fez
com que muitos afirmassem que o
rádio seria rapidamente extinto, o que
não aconteceu. Agora é a tecnologia
digital que está colocando em
discussão a permanência dos jornais
impressos no mercado. “Foi assim com
o rádio e a TV e vai ser assim com
qualquer nova mídia que apareça”,
afirma a professora de jornalismo
digital, Érica Ribeiro. De acordo com
ela, o impresso está bem adaptado e
foi a internet que teve que adequar o
texto dos impressos para a web. Já a
professora de novas tecnologias, Luiza
Cruz, acha que as matérias da internet
fazem com que você tenha que acessar
vários sites. “O texto da web é curto e
relata o fato sem complementos. Por
isso, acho que não tem como o
impresso ser substituído.”
Da mesma opinião que ela é a
professora de jornalismo digital Sandra
Machado. Para ela, não existe a menor
possibilidade de os on-line eliminarem
os impressos porque são publicações de
1414141414 Revista VEIGA MAIS 200 anos da Imprensa no Brasil
Profissionais de comunicação se
atualizam para a mídia digital
Rejane dos Santos Moura
Computador substitui a máquina de
escrever e modifica a rotina do
profissional
Paloma Simonetti
natureza diferente. “O que vejo é uma
complementaridade entre ambos. A idéia
é somar, e não reduzir espaços.” E é isso
que, segundo o jornalista do Globo
Online, Antônio Lisboa, já vem
acontecendo nas redações. “Trabalhamos
muito com o conceito de convergência
de mídias. Nas matérias baseadas em
informações de O Globo impresso
colocamos um link para O Globo digital.
Acredito que o caminho é esse, um meio
complementando o outro.”
O surgimento da mídia digital veio
não só para proporcionar outros
mecanismos e alternativas nos meios de
comunicação, mas também para
favorecer novas articulações sociais. Pelo
menos é assim que pensa o professor de
novas tecnologias, Antônio Queiroga.
Segundo ele, não há a possibilidade, no
panorama de médio e longo prazo, de
desaparecerem os jornais impressos. “O
que acontecerá é uma acomodação das
tiragens e rearranjos dos veículos na
preferência dos consumidores.”
Prova disso são os veículos impressos
que colocam à disposição dos internautas
páginas virtuais de informação. De
acordo com a jornalista do Globo Online,
Luisa Guedes, muitas matérias do on-line
são mandadas pela versão impressa.
“Repórteres do impresso nos mandam
informações, que são fundamentais para
a editoria de política, por exemplo. Além
disso, nossa equipe é reduzida e, pela
natureza do trabalho, muitas vezes,
acaba faltando tempo para termos uma
apuração própria e o jornal impresso
ajuda bastante.”
Outro motivo para esse trabalho em
equipe entre impresso e on-line está na
agilidade de acesso às informações
praticamente em tempo real da web, o
que não acontece nos impressos. E é por
isso que já há quem prefira ler somente
notícias on-line, como a estudante de
Jornalismo Vanessa Pereira. “Acho o on-
line mais ágil, o texto é mais curto. Além
disso, não tenho paciência para ficar
folheando o impresso e sempre me perco
quando me atrevo a ler.”
Mas existem também aquelas pessoas
que não abrem mão de ler jornais
impressos diariamente e que,
diferentemente de Vanessa, não acham
os jornais on-line tão atrativos. Esta é a
visão da professora de Ensino
Fundamental Lourdes do Nascimento.
Segundo ela, as notícias na web
raramente chamam a sua atenção. “Eu
gosto mesmo é de mexer no jornal,
folhear as notícias.”
A estudante de Jornalismo Patrícia
Seixas também pensa da mesma maneira.
Para ela, os jornais on-line são mais rápidos,
mas os impressos são muito mais
completos. “Prefiro ler o impresso porque
as matérias falam mais sobre o tema
enquanto o on-line dá só o fato, por isso,
acho que não tem como o impresso ser
eliminado”. O jornalista Antônio Lisboa
explica o motivo para a diferença na
transmissão de informações por um
profissional da web. “Além de apurarmos
as matérias, temos que saber mexer com
ferramentas da tecnologia para montar as
páginas e publicar as fotos. É tudo muito
corrido e, por isso, o texto é curto e direto.”
Porém, o número de usuários da
internet no Brasil também pesa no
questionamento sobre a permanência dos
impressos, como explica Érica Ribeiro.
“Apenas 6% da população tem acesso à
banda larga e 20% à internet. Não tem
como o impresso acabar. Se isso acontecer,
é só daqui a muito tempo.”
Uma das adaptações mais complicadas foi a do jornal impresso para o
on-line, visto com desconfiança no início não somente pelos leitores, mas
também por muitos profissionais da área, principalmente os mais
conservadores. No país, um dos primeiros a experimentar uma versão on-
line foi o Jornal do Brasil, que se diz pioneiro. Mas foi pouco antes, também
em 1995, que a Folha de S. Paulo criou a empresa Universo Online (UOL),
associando conteúdo jornalístico e acesso à web.
“Trabalho na revista Turf Brasil há seis anos, mas há três passamos a ter
o formato da revista on-line. Existe uma diferença no tamanho das notícias
— as do site não são longas — mas é impossível não comparar que a visita
é bem maior do que o número de vendas”, revela a editora Karol Loureiro.
“Vejo um futuro promissor na imprensa digital, mas não acho que seja
o fim do impresso. Ainda temos muito o que aprender e explorar. A rapidez
e interatividade atraem cada vez mais os profissionais”, pensa a recém-
formada jornalista Carla Freitas, que escreve para o site Raia Leve.
Além de escrever, o jornalista de internet deve possuir outras
habilidades, como ter criatividade e conhecimento para uma composição
visual, corte e edição de fotos, áudio e vídeo, para ilustrar bem uma matéria.
Hoje o mercado de trabalho exige o inglês e outras aptidões e o profissional
deve estar sempre aberto às novidades que surgirem.
Os recursos tecnológicos mais ágeis
do que a antiga máquina de escrever
tornam difícil imaginar como a mídia
impressa se organizava diariamente. Não
faz muito tempo, os jornalistas
precisaram passar por essa
transformação. Elifas Levi, 52 anos, chefe
de redação da Tribuna da Imprensa foi
um deles. Ele pegou a era da máquina
de escrever e, hoje, trabalha como editor
de conteúdo da Tribuna on-line. Para o
profissional, com a entrada do
computador — e, conseqüentemente, da
Internet — a mudança foi positiva. “Até
porque foi uma mudança para melhor.
Com a informatização das redações, tudo
mudou, um novo mundo surgiu.” Para
ele, os jornais continuarão a existir, desde
que incorporem mudanças às suas
estruturas. “Já imaginou viver sem
celular e outras parafernálias dessa era
tecnológica? Não dá mais. As coisas hoje
200 anos da Imprensa no Brasil Revista VEIGA MAIS 1515151515
acontecem de forma muito rápida e
precisamos ter armas para trabalhar isso.”
Andréa Cursino também acredita
que, com a chegada da informatização,
os jornais se tornaram muito mais ágeis.
Para a jornalista, o computador é
fundamental para todo o trabalho, seja
nas redações, seja nas assessorias de
imprensa. “Hoje a internet proporciona
uma comunicação instantânea e isso é
maravilhoso. O céu é o limite.”
Mas para que esse céu não se torne
um inferno, alguns cuidados devem
ser tomados por quem usa a internet
como fonte de informação. Todos os
dados devem ser checados antes de
serem publicados. “Dependendo do
que se procura, existem sites oficiais,
como o do IBGE, IBASE, SENAI e por
aí vai”, lembra a jornalista Érica
Ribeiro, especial ista em novas
tecnologias. Para Érica, a melhor
maneira de o jornalista obter suas
informações é a entrevista. “A internet
deve servir para você se familiarizar
com um determinado assunto.”
Elifas, hoje, editor do Tribuna On-line,
começou com a máquina de escrever
O telejornalismo já não é mais o
mesmo. Desde 1950, quando foi ao ar o
primeiro telejornal brasileiro, o Imagens do
Dia, da TV Tupi, ele vive passando por
intensas transformações. No início, não
existiam apresentadores, e sim locutores,
que não eram jornalistas e apenas liam as
matérias. Depois veio a era dos âncoras e,
hoje, os apresentadores já não são mais
aqueles jornalistas que apenas passam as
notícias. A relação apresentador-
telespectador se estreita cada dia mais.
O Jornal Hoje é um exemplo disso. Os
atuais apresentadores Sandra Annenberg
e Evaristo Costa conversam sobre o assunto
tratado e dão suas opiniões. No Jornal
Nacional, em fevereiro de 2007, William
Bonner entrevistou sua companheira de
bancada e esposa, Fátima Bernardes
durante uma edição. Mas será que isso não
influencia na compreensão da notícia?
O repórter dos jornais de rede da TV
Globo, André Luiz Azevedo, acha que isso
é apenas uma questão de estilo e que, nos
dois casos, o jornalismo pode ser feito de
maneira correta ou não. “Há sempre uma
tentativa de transformar o noticiário numa
conversa informal, de forma a se aproximar
do telespectador. A apresentação e mesmo
Informação
e opinião no
telejornalismo
por
Camila Freitas dos
Santos
a notícia não tem que ser sisuda e mal-
humorada para ser séria. Mau humor não
quer dizer seriedade e alegria e
descontração não necessariamente signi-
ficam superficialidade”, pondera.
Já Christiane Pelajo, apresentadora do
Jornal da Globo, acredita que isso seja um
desenvolvimento do próprio telejornalismo.
“O papel do âncora mudou muito nos
últimos anos. Cada vez mais repórteres
sentam na bancada para apresentar
telejornais. O envolvimento é muito maior.
O âncora vai para a rua, faz matéria e
participa da edição do jornal. Antigamente,
muitos apresentadores não eram nem
jornalistas”, diz.
Então, o telejornalismo poderia deixar
de ser informativo para ser opinativo?
Christiane Pelajo não acredita nisso. “O
jornalismo tem obrigação de ser
informativo. Nós vivemos de contar
histórias reais. Temos que mapear os
problemas do Brasil, levantar os temas,
mostrar o que há de errado. No Jornal da
Globo, nós aprofundamos e analisamos os
assuntos do dia. É o que o nosso
telespectador espera de nós”, garante, ao
explicar que o trabalho do âncora é muito
mais de aprofundamento da notícia do que,
propriamente, uma questão de opinião.
Segundo André Luiz, há espaço e
interesse para tudo: informação, inter-
pretação e opinião. O importante é que o
público seja informado claramente de que
se trata de um texto informativo ou de
um texto com opinião. “Eu, como repórter,
pratico o jornalismo informativo, mas
tenho consciência de que, em toda
reportagem que faço, há sempre uma carga
de opinião, seja através das entrevistas,
pautas ou da edição.” Para o jornalista, mais
importante que a isenção é a honestidade
de princípios. Azevedo acredita na informalidade
1616161616 Revista VEIGA MAIS 200 anos da Imprensa no Brasil
Existe uma grande polêmica quando
o assunto é a necessidade do curso
superior para exercer a profissão de
jornalista. O Brasil é o único país que tem
essa exigência, em vigor desde o fim da
década de 1960. Surgiu como uma
tentativa do governo militar de
identificar os veículos e profissionais de
comunicação e exercer sobre eles a
censura e o patrulhamento ideológico.
Como contrapartida, o decreto tornou-
se um grande atrativo para uma parte
expressiva dos profissionais da imprensa,
com medidas de natureza corporativista
— já que trouxe uma série de melhorias
trabalhistas, como aposentadorias
precoces e vantajosas, jornada de
trabalho de cinco horas diárias e, por
último, uma reserva de mercado até
então inexistente no Brasil.
Alguns defendem que a lei, que tem
como base o Ato Institucional número
cinco (AI-5), é uma marca do
autoritarismo no país e que, por isso, deve
ser abolida. Outros pensam que a
formação acadêmica é imprescindível
para o exercício da profissão, apesar de
saberem que, por melhores que sejam a
faculdade e o aluno, ao começar a
trabalhar numa redação todo jornalista
ainda tem muito que aprender.
Estudante do 4º período de
publicidade, Diogo Batalha pretende
fazer faculdade de jornalismo, pois se
familiarizou bastante com a profissão.
O rapaz gosta tanto de escrever que tem
uma coluna, “Politicando na Batalha”, no
site Agência UVA. Contudo, ele só quer
fazer a graduação por ser uma exigência
da lei. “Acho que para ser um bom
jornalista não é necessário diploma. O
importante é ler muito para saber do que
se fala e ter senso crítico.” Diogo acredita
Diploma de
jornalista é
alvo de
discussão
por
Vanessa Pereira dos
Santos
Depois de 200anos de
imprensa, tudoindica que o
assunto aindavai render muito
que a faculdade pode ajudar, mas que
não é tudo. “Obviamente é possível
aprender como se redigir corretamente
um texto jornalístico e todas as técnicas
e nuances da profissão, por exemplo. Mas
isso não é nada que não possa ser
aprendido na prática”.
Foi o que pensou Fernanda Gualda.
Ela chegou a estudar jornalismo até o 5°
período. Contudo, um amigo que já era
jornalista resolveu criar uma revista
independente, e a chamou para trabalhar.
Fernanda largou tudo para embarcar no
sonho, já que acreditava ser impossível
conciliar as duas responsabilidades. Hoje,
passados dois anos, ela continua na
publicação e com o curso trancado.
“Sinceramente não me sinto menos capaz
por não ser formada. Acho que faço muito
bem o meu trabalho. A prática foi uma
ótima professora.” Mas, apesar de pensar
dessa forma, ela pretende voltar a estudar.
“Essa vontade existe muito mais para
formalizar minha profissão do que para
qualquer outra coisa. Não acredito que
precise disso.”
O jornalista Bartholomeu Brito
partilha da mesma opinião. Ele exerce a
profissão há pouco mais de 40 anos, ou
seja, desde a época em que o diploma
ainda era uma opção. Trabalhou em
diversos jornais, muitos dos quais nem
existem mais, e hoje escreve para o jornal
O Dia. Segundo ele, o curso de graduação
não lhe fez a menor falta. “Aprendi com
a prática e garanto que meu texto e meu
faro jornalístico são impecáveis. É um
absurdo querer exigir a volta de uma lei
que veio à tona em pleno AI-5. É um
verdadeiro retrocesso. Reconheço o valor
da faculdade e acredito ser possível
aprender muita coisa lá. Mas isso deveria
ser facultativo.”
Mas, como em toda polêmica que se
preze, essa não é uma opinião
compartilhada por todos. Fernanda
Puntar está prestes a concluir a graduação
de jornalismo e diz que o diploma é muito
importante. “Ele não deve ser visto apenas
como uma espécie de status para exercer
a profissão. É um comprovante de que
você estudou e sabe o mínimo para ser
capaz de trabalhar em uma redação.” A
estudante acredita no poder da prática,
mas ainda assim crê que isso não é o
suficiente. “Claro que nada supera a
experiência de uma redação mas, se fosse
assim, qualquer um poderia ser jornalista
e alegar que só vai aprender as coisas
quando trabalhar.”
Estudante do 5° período de
jornalismo, Luis Ricardo Cunha
compartilha da mesma opinião. “Na
imprensa existem espaços destinados
para que os não-jornalistas se
expressem.” Luis Ricardo acredita ainda
que o papel da faculdade vai mais
além. “O curso de graduação é
importante porque aprendemos a lidar
com a responsabilidade de sermos
comunicadores, que é enorme.”
Parece que os estudantes de
jornalismo realmente confiam no poder
do diploma. Vivian De Luca é recém-
formada e também acha o curso de
graduação importante. “Aprendi tanto
na faculdade que não consigo imaginar
alguém exercendo a profissão sem
nunca ter assistido a uma aula.” Para
ela, pensar que qualquer um pode ser
repórter, mesmo sem ter estudado, é
desmerecer a classe. “Para ser qualquer
coisa é preciso ter estudo: médico,
professor, advogado, administrador. Por
que com o jornalista tem que ser
diferente?”
200 anos da Imprensa no Brasil Revista VEIGA MAIS 1717171717
Rir é o melhor remédio. Então, por
que não rir dos assuntos mais sérios que
preocupam a população? Esse é o
objetivo das charges. Com papel e caneta
na mão, os chargistas conseguem
combinar em poucos traços um tipo de
humor zombeteiro, crítica e muita
informação. Além disso, por serem de
fácil entendimento, as charges caíram no
gosto do povo e hoje se firmam como
uma das mais populares formas de
manifestação da opinião de um jornal.
Ao longo dos 200 anos da imprensa no
Brasil, as charges foram conquistando
seu espaço e hoje ocupam um lugar de
destaque nos principais veículos de
circulação nacional: a primeira página.
Mas no começo era bem diferente.
Em meados do século XVIII e começo
do século XIX, apareceram as primeiras
charges no país. Elas zombavam dos
costumes da corte real de D. Pedro II e
até mesmo do próprio Imperador e
ocupavam um lugar singelo nos jornais,
nos quais os principais assuntos eram
as disputas políticas, a economia do país
e as dificuldades enfrentadas pela
população. A partir das charges, nomes
como o de Araújo Porto Alegre ficaram
conhecidos na imprensa nacional.
Mas foi no século XX que as charges
ganharam força e foram criados
personagens com os quais o povo
consegue se identificar, como a
Melindrosa, o Juca Pato e muitos outros.
Nem mesmo durante o período em que
o mundo passava por uma grande
guerra as charges se renderam. Elas
satirizaram tanto Hitler quanto os
aliados. Mais tarde, com a ditadura
militar, elas tiveram um papel muito
importante na esfera pública brasileira.
A imprensa sofria com uma forte
Charge:
muito mais
que um
desenho
por
Bruno Coelho
censura por parte do governo e as
charges foram um caminho pelo qual
os jornais puderam expor seus ideais e
pensamentos sem o uso de palavras,
mas de uma forma mais discreta e com
“graça”. Com o aparecimento da
imprensa alternativa e jornais como O
Pasquim, as charges entraram em sua
fase áurea.
As charges de hoje não são mais
simplesmente para atingir o governo e
sua política. Elas tratam de diversos
assuntos atuais, como esporte. No
entanto, o alvo principal ainda é o
governo. Uma outra mudança que
ocorreu ao longo dos anos e que se pode
perceber com facilidade é que,
atualmente, os veículos não mais
utilizam charges com personagens que
imitam a realidade, como as do início
do século XX. Nos dias atuais, a própria
imagem da pessoa é usada, porém ela é
modificada por meio da caricatura, que
é um outro tipo de desenho que a
charge utiliza.
Leonardo Costa é chargista desde
1997 e seu trabalho já ilustrou as
páginas dos jornais Bela Vista e Fla São
João, em Porto Alegre. "Hoje as charges
servem para retratar com bom humor
as diversas situações em que as pessoas
se metem." No entanto, ressalva, a
técnica em si não mudou muito. "Eu uso
materiais bem simples, como o lápis
grafite, a caneta hidrocor e o lápis
pastel. Não uso o computador. Acho que
as charges feitas à mão ficam muito
mais bonitas."
Mas não é só nos veículos impressos
que as charges conquistaram um lugar de
destaque. Existem inúmeros sites na rede
voltados unicamente para esse tipo de
humor, como o www.chargeonline.com.br,
o www.charges.uol.com.br e o
www.cambito.com.br/tiras. Os autores dos
traços afiados também se modernizaram
e muitos deles já possuem sites próprios
onde exibem seus trabalhos.
Um deles é José Luiz Benício, que
começou na Rio Gráfica Editora e é um
dos mais conhecidos cartunistas
publicitários. ”Vi muita gente fazendo
isso e agora que estou trabalhando
apenas no meu ateliê, no Leblon. É bom
ter um site para divulgar minha
criação.” Assim como Benício, o
paraense Ubiratan Nazareno Borges
Porto também possui um site com esse
mesmo intuito. “Muita gente não sabe
quem eu sou, mas quando vê as minhas
animações me reconhece.”
1818181818 Revista VEIGA MAIS 200 anos da Imprensa no Brasil
Tirinhas dejornal: humorpara crianças epara adultostambém
Pablo Picasso, o artista plástico que
mais produziu obras em todos os
tempos, declarou certa vez que uma de
suas mágoas era jamais ter feito
histórias em quadrinhos. Aparentadas
com elas, as tirinhas de jornal acabam
se confundindo com os próprios gibis.
De fato, algumas HQs, assim como as
tirinhas, são adoradas por legiões de fãs
em todo mundo, resistem à morte de
seus criadores e seguem se
transformando em grandes impérios
comerciais. Nas comemorações dos 200
anos de imprensa no Brasil, nada mais
justo que reconhecer e relembrar o
vínculo afetivo que os quadrinhos
criaram com os leitores de jornais.
Não há como negar que o
primeiro contato com o jornal
impresso, para muitos le itores ,
começou ali, nos balõezinhos de falas
e pensamentos de personagens na
seção de t ir inhas . Enquanto as
matérias para gente adulta não
costumam despertar o interesse das
crianças, a arte de fazer rir em três
quadros promove no púbico infantil
o estímulo intelectual necessário para
quem está iniciando uma busca por
conhecimento. Do jornal para o gibi,
do gibi para o livro. Dificilmente se
reconhece a importância que tiveram
por
Raphael Nercessian
os super-heróis e personagens
cômicos dessa nobre arte que está
completando um século.
Foi no time talentoso de O
Pasquim que os rabiscos e o humor
intelectualmente ácido e avantajado
de Henfil se tornaram públicos. Hoje,
seu trabalho continua sendo
publicado pelo jornal O Globo, que
não aceitava nenhum quadrinho
brasileiro na época em que nascia o
personagem Zeferino.
Estar nos jornais no formato de
tirinhas tem, para os quadrinhos, uma
importância vital. O que seria da Radical
Chic sem sua página cativa na última
folha da revista de Domingo do Jornal
do Brasil nos anos 1980? Foi graças à
Folha de S. Paulo que muitos vieram a
conhecer Bob Cuspe, Rê Bordosa e os
Skrotinhos. Além das tiras para o jornal,
Angeli passou para a revista Chiclete
com Banana seu material mais
impublicável. Outra figura difícil de
imaginar no ambiente contido dos
jornais é o Ota. Em seu blog, entre uma
mulher pelada e outra, Ota presenteia
seus fiéis seguidores com uma vasta
série de tiras de Dom Ináfio e mostra
que sabe o limite do escracho permitido
na Mad ou na internet e que não é no
JB, onde assina uma coluna.
Na luta pelo bem dos quadrinhos
no Brasil, o vilão parece transitar
alternadamente entre editores,
público e governo. Histórias em
quadrinhos podem ir muito além
dos três quadros aperitivos dos
jornais, basta dar uma chance para
descobrir sua cara-metade nas HQs.
Se o Brasil ainda não tem tantas
livrarias quanto a capital argentina,
não é de espantar uma menina
cabeluda e estranha, a Mafalda
(Quino, 1964) conquistando o
mundo. Mas é bom lembrar que o
Brasil também tem talento de sobra
para ser um exportador desse
produto de alto nível.
Nessa longa relação entre
leitores de jornais e os quadrinhos,
desenhistas nacionais e tradutores
foram responsáveis por educar e
divertir gerações. Como uma
fagulha que acende a fogueira do
gosto pela leitura, os personagens
das histórias em quadrinhos são
verdadeiros heróis para aqueles que
foram acolhidos ainda dando seus
primeiros passos. Se até as
bibliotecas estão se abastecendo
desses produtos culturais, talvez a
sua prateleira de livros também
mereça receber esse ilustre acervo.
Opinião
QUADRINHO? ANÚNCIO?
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