2009 - comunicação alternativa no estado do tocantins.pdf

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Comunicação Alternativa no Estado do Tocantins: uma análise dos fan- zines Paralelopípedo e Aperitivos Alternative Communication in Tocantins State: an analysis of Paralelopípedo and Aperitivos fanzines Liana Vidigal Rocha* Patrícia Ströher** Ana Carolina Costa dos Anjos*** Jeferson Lima Barbosa**** Resumo O Tocantins foi criado legalmente em 5 de outubro de 1988 com a promulgação da nova Constituição brasileira. Baseada em manifestações híbridas, a cultura tocantinense, aos poucos, vai ganhando publicações e produções artísticas que buscam o reforço de sua identidade regional. Contudo, nem sempre os produtos alcançam esse objetivo, mostrando que a presença de outras culturas ainda é muito forte no jovem Estado. Esta pesquisa procurou analisar o conteúdo da produção dos fanzines Paralelopípedo (2004) e Aperitivos (2008) a fim de mostrar que, mesmo o meio alternativo, ainda não possui uma produção com características essencialmente da cultura regional. Abstract Tocantins was legally established on October 5, 1988 with the promulgation of the new Brazilian Constitution. Based on demonstrations hybrid culture of Tocantins, little by little, winning publications and artistic productions that seek to reinforce its regional identity. However, not all products reach their goal, showing that the presence of other cultures is still very strong in the young state. This study sought to analyze the content of the production of fanzines Paralelopípedo (2004) and Aper- itivos (20No que diz respeito ao formato08) to show that even the alternative means, does not have a production features mainly the regional culture. Palavras-chave: comunicação alternativa; fanzine; comunicação, Tocantins. Keywords: alternative communication; fanzine, communication and Tocantins * Professora-adjunta do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Tocantins. Doutora em Ciências da Comunicação pela ECA/USP e líder do grupo de pesquisa (CNPq) Jornalismo e Multimídia | liana- [email protected] ** Aluna de graduação do curso de Comunicação Social/Jornalismo, da Universidade Federal do Tocantins e membro do grupo de pesquisa (CNPq) Jornalismo e Multimídia | [email protected] *** Aluna de graduação do curso de Comunicação Social/Jornalismo, da Universidade Federal do Tocantins e mem- bro do grupo de pesquisa (CNPq) Jornalismo e Multimídia | [email protected] **** Aluno de graduação do curso de Comunicação Social/Jornalismo, da Universidade Federal do Tocantins e mem- bro do grupo de pesquisa (CNPq) Jornalismo e Multimídia | [email protected]

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  • Comunicao Alternativa no Estado do Tocantins: uma anlise dos fan-zines Paraleloppedo e AperitivosAlternative Communication in Tocantins State: an analysis of Paraleloppedo and Aperitivos fanzines

    Liana Vidigal Rocha*

    Patrcia Strher**

    Ana Carolina Costa dos Anjos***

    Jeferson Lima Barbosa****

    ResumoO Tocantins foi criado legalmente em 5 de outubro de 1988 com a promulgao da novaConstituio brasileira. Baseada em manifestaes hbridas, a cultura tocantinense,aos poucos, vai ganhando publicaes e produes artsticas que buscam o reforo desua identidade regional. Contudo, nem sempre os produtos alcanam esse objetivo,mostrando que a presena de outras culturas ainda muito forte no jovem Estado.Esta pesquisa procurou analisar o contedo da produo dos fanzines Paraleloppedo(2004) e Aperitivos (2008) a fim de mostrar que, mesmo o meio alternativo, ainda nopossui uma produo com caractersticas essencialmente da cultura regional.

    AbstractTocantins was legally established on October 5, 1988 with the promulgation of thenew Brazilian Constitution. Based on demonstrations hybrid culture of Tocantins,little by little, winning publications and artistic productions that seek to reinforceits regional identity. However, not all products reach their goal, showing that thepresence of other cultures is still very strong in the young state. This study soughtto analyze the content of the production of fanzines Paraleloppedo (2004) and Aper-itivos (20No que diz respeito ao formato08) to show that even the alternative means,does not have a production features mainly the regional culture.

    Palavras-chave: comunicao alternativa; fanzine; comunicao, Tocantins.

    Keywords: alternative communication; fanzine, communication and Tocantins

    * Professora-adjunta do Curso de Comunicao Social/Jornalismo da Universidade Federal do Tocantins. Doutoraem Cincias da Comunicao pela ECA/USP e lder do grupo de pesquisa (CNPq) Jornalismo e Multimdia | [email protected]

    ** Aluna de graduao do curso de Comunicao Social/Jornalismo, da Universidade Federal do Tocantins e membrodo grupo de pesquisa (CNPq) Jornalismo e Multimdia | [email protected]

    *** Aluna de graduao do curso de Comunicao Social/Jornalismo, da Universidade Federal do Tocantins e mem-bro do grupo de pesquisa (CNPq) Jornalismo e Multimdia | [email protected]

    **** Aluno de graduao do curso de Comunicao Social/Jornalismo, da Universidade Federal do Tocantins e mem-bro do grupo de pesquisa (CNPq) Jornalismo e Multimdia | [email protected]

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    Introduo

    Ao longo de dois sculos, os povos que habitavam a regio do Tocantins travarammuitas lutas para conseguir a separao do Estado de Gois. Finalmente, em 5 deoutubro de 1988, o Tocantins (ex-regio Norte de Gois) alcanou a independnciacom a promulgao da nova Constituio brasileira. Cerca de 40 dias aps a criaodo Estado, foram realizadas as primeiras eleies que escolheriam o governo da uni-dade federativa. Jos Wilson Siqueira Campos, deputado, e Darcy Coelho, juiz fede-ral aposentado, foram escolhidos pela populao como os novos governador evice-governador do Estado que surgia. J Moiss Abro Neto, Carlos Patrocnio eAntnio Luiz Maya foram eleitos senadores em conjunto com mais oito deputadosfederais e 24 deputados estaduais. A cidade de Miracema do Norte foi designadacomo capital provisria do Tocantins at que uma nova fosse construda.

    Em julho de 1989, a Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins aprovou umprojeto de lei que criava a cidade de Palmas para ser a nova capital definitiva doEstado e abrigar a sede do governo estadual. A cidade foi construda em um localconsiderado estratgico, chamado de Centro Geodsico do Brasil e por se encontrarexatamente no centro do Tocantins. O nome da capital foi escolhido em homenagemao lugar onde nasceu o movimento emancipacionista do Estado, a Comarca dePalma. Em 1 de janeiro de 1990, foi instalada a capital.

    Figura 1. Localizao do Tocantins Figura 2. Estado do Tocantins

    O Estado do Tocantins, assim como boa parte do territrio brasileiro, formadopor diferentes etnias. Negros, ndios e brancos (portugueses e franceses) so a baseda ascendncia do povo tocantinense. A cultura indgena est presente principal-mente no folclore, na culinria, nas lendas, nos costumes e nas danas do Tocantins.Um exemplo so os nomes de alguns rios e municpios da regio, como: Araguaia (o

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    rio das araras); Tocantins (rio dos tucanos); Pium (o que come a pele); Xambio (aveveloz) e Tupirama (ptria dos Tupis) (Halum, 2008). Atualmente, vivem no Estadosete etnias indgenas diferentes. So elas: os Xerente (povo Akwen), os Karaj, Javae Xambio (povo Iny), os Apinaj (povo panhi) e os Krah (povo Meri).

    Em relao aos negros, possvel afirmar que foram trazidos para a regio com oobjetivo de trabalharem nos garimpos que extraam, sobretudo, ouro. Algumas cida-des como Dianpolis, Natividade, Monte do Carmo, Almas e Arraias tiveram a sua ori-gem nas minas do metal precioso e, consequentemente, os negros escravos como foraprincipal de trabalho. Como em outras regies do Brasil, os negros rebeldes fugiampara lugares isolados e distantes a fim de obterem a to sonhada liberdade. A maio-ria acabava se refugiando nos chamados quilombos, uma espcie de comunidade queabrigava os negros fugitivos e que na lngua africana Iorub significa habitao1.Atualmente, existem no Estado cerca de 15 comunidades quilombolas, que foramreconhecidas em 2003 por um decreto do presidente da Repblica, Luis Incio Lulada Silva. Uma das mais conhecidas a comunidade Barra de Aroeira, localizada nomunicpio de Santa Tereza do Tocantins e que abriga 350 pessoas.

    Assim como os indgenas, os negros tambm contriburam para a formao dacultura tocantinense. Nas antigas senzalas, era comum a prtica da capoeira (umamistura de luta, dana, msica e jogo) e do candombl (religio). A influncia dos por-tugueses fez com que as culturas de fundissem e algumas das comemoraes reli-giosas do Estado do Tocantins so originadas a partir dessa fuso. A festa tpica deNossa Senhora do Rosrio (considerada protetora dos negros) acontece sempre noms de julho e composta por outra manifestao cultural tradicional do povo negro,o congo (mescla de elementos religiosos e histricos).

    J os portugueses influenciaram a cultura tocantinense com a religio, trazidapelos jesutas. Um exemplo a celebrao da Festa do Divino Esprito Santo, quetem origem no catolicismo lusitano. No Tocantins, a festa no possui uma data fixa,podendo ocorrer entre os meses de janeiro a julho nos vrios municpios do Estado.Em relao aos franceses, possvel afirmar que eles foram responsveis pela colo-nizao da regio Norte do Brasil. Primeiro, chegaram ao litoral do Maranho edepois desceram at o serto do Tocantins a fim de explorar o local. Uma de suasmaiores descobertas foi a foz do rio Tocantins, em 1610.

    Alm da contribuio das diferentes etnias, o Tocantins, desde a sua criao, sofreinfluncia de povos de outros Estados do Brasil. comum encontrar na regio hbi-tos culturais advindos de localidades como Par, Mato Grosso, Gois, Rio Grande doSul, Pernambuco e Maranho. Contudo, as maiores interferncias so feitas pelasculturas das populaes nordestinas. Como exemplo possvel citar a literatura decordel2, tipo de produo alternativa que publica poesias populares. No Tocantins, o

    1 Informao obtida no site http://www.cohre.org/ (acesso em: 30/10/2009).2 A literatura de cordel uma espcie de poesia popular que impressa e divulgada em folhetos ilustrados com o pro-

    cesso de xilogravura. Tambm so utilizados desenhos e clichs zincografados. Ganhou este nome, pois, em Portu-gal, eram expostos ao povo amarrados em cordes, estendidos em pequenas lojas de mercados populares ou atmesmo nas ruas. Disponvel em: http://www.suapesquisa.com/cordel/ (acesso em: 30/10/2009).

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    cordel foi um dos principais veculos de comunicao nas ribeiras em uma poca emque as notcias s chegavam atravs dos barqueiros e tropeiros. Portanto, o cordelpode ser considerado como importante meio de comunicao alternativo.

    Em se tratando de meios alternativos, possvel afirmar que a comunicao alter-nativa surge a fim de suprir e complementar o contingente de informaes mera-mente factuais e jornalsticas veiculadas por meios mercadolgicos. Em virtude dessanecessidade, surgem tambm os fanzines, tipo de revista alternativa produzida porfs de assuntos variados. A criao de fanzines no Tocantins se deve especificamentea essa realidade e tambm liberdade de expresso, produo e distribuio ofere-cida por essa mdia, alm da necessidade dos autores em criar produtos que possibi-litem a publicao de textos literrios e experimentaes estticas.

    Fanzines do conceito produo

    A palavra fanzine um neologismo que surgiu a partir da contrao de duas palavrasinglesas, fanatic +magazine, que em traduo livre, pode ser entendida como revistado f. De acordo com Magalhes (1993: 09), fanzine uma publicao de carter alter-nativo e amador, lanado, geralmente, em pequena tiragem e que impresso de formaartesanal. Os responsveis por sua produo e edio so, na maioria das vezes, indi-vduos, grupos ou fs-clubes de determinado segmento (arte, msica, cinema, litera-tura, poltica, HQ, poesia etc), aficionados pelo tema em questo.

    Os fanzines so veculos amplamente livres de censura. Neles seus autores divul-gam o que querem, pois no esto preocupados com grandes tiragens nem com lucro;portanto, sem as amarras do mercado editorial e de vendagens crescentes (Maga-lhes, 1993: 10)

    Para Arago (1999: 15), o fanzine um misto de carta e revista, que d a palavraa indivduos que, muitas vezes, sequer tm intimidade com ela. A autora ressalta quepor esse motivo erros de Portugus e frases truncadas so facilmente encontrados nosfanzines, mas que so desculpados devido boa inteno do fanzineiro. Outro problemaapontado o fato dos fanzines trazerem resenhas que no possuem qualquer rigor jor-nalstico, baseando-se apenas no gosto pessoal do escritor. Geralmente a base para asanlises so bem pessoais, algo como: eu gostei, ento talvez voc goste (1999: 15).

    Segundo Magalhes (2003), apesar de no serem consideradas publicaes pro-fissionais, os fanzines possuem uma significativa relevncia no cenrio editorial bra-sileiro, pois seriam os responsveis pela difuso e renovao das histrias emquadrinhos, alm de criar e manter um espao de debates e avaliao desses mes-mos quadrinhos enquanto expresso artstica.

    Os fanzines representam, para os quadrinhos brasileiros, o espao da reflexo, dacrtica e da experimentao; tambm uma forma de resistncia indiferena das

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    grandes editoras frente aos quadrinhos nacionais e massificao dos quadrinhosestrangeiros.3

    No Brasil, o pioneirismo dos fanzines atribudo a Edson Rontani que, em 1965,funda o Intercmbio Cincia-Fico Alex Raymond (desenhista de Flash Gordon) eedita um boletim cujo objetivo era o de informar sobre quadrinhos e reunir os afi-cordelcionados por essa arte. Batizado com o nome de Fico, o boletim foi publi-cado pela primeira vez em outubro do mesmo ano.4 Ele era impresso em mimegrafoa lcool, no formato ofcio e tinha de dez a doze pginas por edio. A tiragem eraem torno de 300 exemplares e no tinha uma periodicidade determinada. A tem-tica principal versava sobre fico cientfica (Magalhes, 1993: 39).

    O fanzine Fico era mais voltado para as histrias em quadrinhos e foi editado a par-tir de outubro de 1965 por Edson Rontani, que tambm coordenava o clube. Na mesmapoca, alguns jornais da imprensa alternativa nacional, notadamente o Pasquim, come-aram a fazer uma ponte entre a cultura brasileira em meio ditadura militar e ounderground americano, que fervilhava com a contracultura (Arago, 1999: 23).

    Os fanzines, nessa poca, eram uma espcie de boletins mimeografados e impres-sos de forma bastante rudimentar. O seu desenvolvimento deu-se a partir do aperfei-oamento tecnolgico, principalmente com o surgimento das mquinas fotocopiadorase, mais tarde, das impressoras offset.

    De acordo com Calazans5, dando continuidade a uma tradio de charge polticalocal, surge, em 1972, na Universidade de So Paulo a revista underground Balo,considerada por muitos pesquisadores o primeiro fanzine universitrio. A revistaabordava, sobretudo, os problemas em pegar carona e outras atribulaes dos estu-dantes (HQ). Vale lembrar que era o perodo da ditadura militar e a charge sub-versiva estava na moda.

    No Brasil, o fanzine vai ganhar fora somente nos anos de 1980 com o rock nacio-nal. Influenciados pelo movimento punk, os fanzines seguiam, em um primeiromomento, o formato de publicaes norte-americanas e europias. Com o tempo, aspublicaes brasileiras foram desenvolvendo um estilo prprio e singular, incorpo-rando facetas nacionais. O rock brasileiro dos anos 80 se caracterizava por ser con-testativo e independente, e isto refletia nos fanzines da poca.6

    3 Magalhes, H. (2003) A mutao radical dos fanzines. Artigo apresentado no XXVI Congresso Brasileiro de Cin-cias da Comunicao Belo Horizonte/Minas Gerais.

    4 Negri, A. C. (2005) Quarenta anos de fanzine no Brasil: o pioneirismo de Edson Rontani. Trabalho apresentado aoNP Histrias em Quadrinhos, V Encontro dos Ncleos de Pesquisa da Intercom. Rio de Janeiro.

    5 Calazans, F. A. (2004) As Bandas Desenhadas brasileiras contemporneas. Actas do III Sopcom, VI Lusocom e IIIbrico Volume I. Covilh.

    6 Siqueira, J. O. (2003) O fanzine como fator de identificao cultural. Monografia de Concluso de Curso do cursode Comunicao Social, da Universidade de Fortaleza UNIFOR. Fortaleza.

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    J nos anos de 1990, o fanzine sofre um golpe: a crise econmica. O preo dos mate-riais e servios (papel, fotocpia e postagem) sobe e afeta a produo brasileira. Apenasas publicaes com custo muito baixo conseguem sobreviver. Magalhes aponta outroproblema que os faneditores enfrentaram naquela poca: transformar o zine7 em revista.

    Se num primeiro momento, o fanzine representa a possibilidade de veiculao deinformaes em quadrinhos, para muitos editores cujo objetivo final era conquistaro grande pblico e a profissionalizao, logo ele se torna um veculo limitado. O cr-culo vicioso do pblico, que o mesmo a consumir quase todos os fanzines, tambmlevou a fanediao ao esgotamento por falta de perspectivas de conquistar maioreshorizontes (Magalhes, 1993: 51 e 52).

    O fanzineiro o nico e principal responsvel pela elaborao da publicao. A suapaixo faz com que arque com todas as despesas e, no pior das hipteses, com os pre-juzos tambm. Segundo Negri8, a produo pode ser de um nico f ou de um grupode aficionados pelo mesmo tema. O que mais chama a ateno justamente o pro-cesso de elaborao de um fanzine, pois todas as etapas geralmente ficam a cargo deum editor ou de um grupo seleto, levando-se em considerao o tempo, o investimentoe at mesmo o interesse dos fs pelo tema e pelo produto. Magalhes (2003) afirma queos novos autores encontram nos fanzines um dos nicos espaos para publicao desua obra, visto que o mercado no disponibiliza veculos que dem vazo ao fluxo daproduo dos autores nacionais, muito menos os trabalhos dos novos artistas.

    Devido praticidade e o custo reduzido, os fanzines, na maioria das vezes, soconfeccionados em papel sulfite, no formato Ofcio ou A4, colorido ou P&B, compos-tos por colagens, fotos, ilustraes ou desenhos. O que chama a ateno que, parase produzir um fanzine, no h um padro a ser seguido. O modelo vai depender dacriatividade do seu editor. J a tiragem e a periodicidade so outras caractersticasque no seguem regras. Enquanto um exemplar pode ter 50 unidades, outros fanzi-nes podem alcanar entre 250 e 300 unidades, dependendo sempre do poder aqui-sitivo do editor e do processo de impresso disponvel.

    (...) se antes os fanzines eram impressos em mimegrafos, hoje comum usar foto-copiadoras, impressoras caseiras e at impressoras offset. Muitos deles j nem maisso impressos por estarem sendo disponibilizados via internet (os chamados e-zines). O formato tambm varia muito, dependendo da ousadia de cada editor: cola-gem de textos, poesias, trechos de msica; aplicao de imagens de jornal, revista ouqualquer tipo de informao visual e, claro, o desenho de prprio punho.9

    7 O fanzine tambm chamado por muitos autores de zine.8 Negri, A. C. (2005) Quarenta anos de fanzine no Brasil: o pioneirismo de Edson Rontani. Trabalho apresentado aoNP Histrias em Quadrinhos, V Encontro dos Ncleos de Pesquisa da Intercom. Rio de Janeiro.

    9 Negri, A. C. (2005) Quarenta anos de fanzine no Brasil: o pioneirismo de Edson Rontani. Trabalho apresentado aoNP Histrias em Quadrinhos, V Encontro dos Ncleos de Pesquisa da Intercom. Rio de Janeiro.

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    De acordo com Siqueira10, produzir um fanzine no difcil. Primeiro precisa tera vontade de se manifestar e saber sobre o que quer discorrer na revista. Emseguida, necessrio escolher um nome criativo e decidir sobre o formato. A pr-xima etapa diz respeito ao contedo do fanzine e composio grfica.

    Muitos fanzineiros utilizam recortes de revistas para fazerem montagens e trans-mitir uma nova mensagem; ou transcrevem algo que acham relevante de algumoutro fanzine ou publicao. Textos de autoria prpria, de autores conhecidos ouno, desenhos, charges, crticas ou mesmo fofocas.11

    A produo de fanzine no Tocantins diversificada, mas, ao mesmo tempo, con-centrada pois so poucos os autores desse tipo de mdia. Um dos autores mais conhe-cidos no meio alternativo tocantinense Thiago Ramos Frana, acadmico daUniversidade Federal do Tocantins. Por meio da publicao Paraleloppedo, que con-tou com seis edies espordicas, Thiago Ramos Frana, juntamente com AntnioFabrcio Evangelista Barbosa, deram incio a sua produo de fanzines que seriamreconhecidos primeiro no meio acadmico e em seguida no meio alternativo do Estado.

    Ao longo da elaborao dos produtos, alguns colaboradores foram incorporados,como: Tcio Pimenta, Auro Silvestre, Natalia Ferraciolie e Lorena Rodrigues. Seucontedo enquadra-se dentro do formato experimental de ilustraes e colagensartesanais, fundindo textos poticos, atemporais e literrios.Em 2008, surge o fanzine Aperitivos, segunda criao de Thiago Ramos Frana. Nototal, foram produzidos cinco exemplares que, de acordo com o editor, a morosidadeproporciona a criatividade, por isto Aperitivos no possui periodicidade definida12.O Aperitivos encaixa-se do estilo fanzine devido a sua diagramao, nmero de pgi-nas e diversidade no contedo textual.

    Procedimentos Metodolgicos

    Este artigo prope-se a analisar o contedo da produo de fanzines do editor ThiagoRamos Frana, acadmico de Jornalismo da Universidade Federal do Tocantins, noperodo entre 2004 e 2008. Como alvo da anlise esto os elementos textuais e gr-ficos, as tcnicas e os recursos utilizados para a elaborao dos produtos, alm doestilo e das principais temticas abordadas nas revistas. O grupo de pesquisadoresprocurou concentrar sua ateno nos tipos de textos presentes nas publicaes assimcomo na forma e no estilo com que foram desenvolvidos. No que diz respeito aos ele-

    10 Siqueira, J. O. (2003) O fanzine como fator de identificao cultural. Monografia de Concluso de Curso do cursode Comunicao Social, da Universidade de Fortaleza UNIFOR. Fortaleza.

    11 Idem12 Entrevista concedida ao grupo de pesquisadores no ms de Maio de 2009 na cidade de Palmas - TO.

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    mentos visuais importante frisar que foram apenas categorizados como desenho,fotografia e ilustrao. Uma anlise mais aprofundada poder ser realizada emoutro artigo, utilizando a semitica como base para sua anlise.Portanto, este trabalho pode ser classificado como uma pesquisa do tipo descritiva, cujoobjetivo o de mostrar que a cultura tocantinense ainda no se faz presente de formaintensa nas publicaes alternativas aqui representadas pelos fanzines ParaleloppedoeAperitivos.A seguir esto as anlises da edio Zero do fanzine Paraleloppedo (2004)e a edio Cinco do Aperitivos (2008). Essas edies foram escolhidas, porque, nomomento do seu lanamento, obtiveram maior repercusso no meio alternativo.

    Anlise dos fanzines Paraleloppedo e Aperitivos

    Com aspectos diferentes do tipo de escrita convencional, o texto no fanzine muitopeculiar, sendo fruto da particularidade estilstica de quem escreve. Isto significaque um dado fanzine um territrio particular que, quando habitado por vriaspessoas, aglomera diversos estilos. Como lembra Discini (2003), o estilo funcionacomo uma repetio de traos de expresso que produz um efeito de individualidade.Assim, o estilo uma ferramenta que permite a construo e o reconhecimento daidentidade de um corpus. fundamental ainda lembrar que no estilo esto impli-cadas a unidade e a totalidade (Discini, 2003). A totalidade corresponde a um car-ter genrico que faz com que dois ou mais objetos compartilhem de um mesmoterritrio. Isto quer dizer que supostamente dois objetos podem ter um ponto emcomum que os faz compartilhar um carter geral e que por isso, os tornam partes deum mesmo segmento.

    O estilo, por sua vez, reconhecido dentro de uma totalidade, um conjunto decaractersticas que particularizam determinada coisa. O estilo separa as coisas deseu territrio em comum e desta maneira, as faz construir suas identidades parti-culares. Portanto, o estilo constri o ator da enunciao que em seus discursos nodeixa de recorrer as suas caractersticas genricas e individuais. (Discini, 2003)

    O fanzine, desta forma, em seu aspecto geral, permite aos escritores uma maiorliberdade estilstica. Nesse sentido, se destaca o elemento implcito ao estilo que setrata do efeito de individualidade como fator para a construo do ator da enun-ciao (Discini, 2003: 31). Isto quer dizer que a construo (ou uso) de traos quedelineiam um estilo permite que o sujeito (que fala) se faa presente no mundo.Portanto, a presente anlise ir se voltar, em especfico, para o carter geral de cadaum dos fanzines: Paraleloppedo (2004) e Aperitivos (2008).

    O fanzine Paraleloppedo, idealizado por Antnio Fabrcio13 e Thiago RamosFrana14, j carrega no ttulo um conceito que explicado no editorial da primeira

    13 Jornalista e ex-aluno da Universidade Federal do Tocantins.14 Aluno do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Tocantins.

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    edio do fanzine. Segundo os editores, a construo deste material fruto de umlapso de identidade que os motiva, desafiando suas inteligncias.15

    Ns acreditamos que tudo na vida est em paralelo, e todas as coisas trazem den-tro de si uma infinidade de pequenos smiles. Destinos que se repetem, vidas quese cruzam, amores que se confundem e interesses que se chocam ou coagem so alegitimao da nossa afirmao. (Paraleloppedo, 2004: 3)

    O estilo do fanzine Paralelopdedo agrega em si uma linguagem pessoal e idios-sincrtica.16 Em meio a diversos estilos discursivos um ponto em comum deve serdestacado: a linguagem potica que permite que o discurso transite entre o tipo for-mal e o informal. Desta forma, possvel perceber a valorizao da lngua formal emalguns textos como o caso dos editoriais e de curiosidades transmitidas com baseem revistas ou outras fontes publicadas em nvel nacional.

    A linguagem de tipo informal ganha espao nas entrevistas publicadas, nas quaisse obedecem rigorosamente o modo de expresso do entrevistado e do entrevistador.Portanto, comum encontrar nas entrevistas expresses como nis na ta e c(corruptela da palavra voc), como forma de garantir a mxima autenticidade domaterial (informao) coletado. Contudo, importante ressaltar que tais expressesno fazem parte da linguagem regionalista. Ao contrrio, so termos utilizados emtodo o territrio brasileiro, sobretudo, pela populao jovem.

    A seo destinada s entrevistas possui um nome inusitado, mas, ao mesmotempo, de fcil reconhecimento, pois faz aluso a um lme norte-americano degrande sucesso (Olha quem est falando). Os autores no s deram um nome seocomo tambm um subttulo, como forma de explicar a escolha do entrevistado: Olhacom quem estamos falando entrevistas legais com pessoas que pouca genteconhece. Como possvel perceber, a opinio domina o ttulo, mostrando que a esco-lha do entrevistado parte de um gosto bem pessoal e que o contedo, independentedo que est escrito, interessante e vale a pena ser lido. Mais uma vez possvel per-ceber a falta de regionalismo na publicao. Ao invs de escolherem um ttulo quezesse aluso cultura tocantinense, os editores preferiram uma expresso maisconhecida, inclusive, internacionalmente.

    O fanzine Paraleloppedo contou tambm com a participao de colaboradores,como Auro Silvestre, e Railton de Sousa. Vale destacar que todos os textos foramcolocados de forma manuscrita, sem a utilizao de computadores ou mquinas deescrever. O fanzine traz em suas pginas uma fuso de estilos e tipos de textos. Oponto em comum entre todos os autores a escolha do poema como forma predomi-nante de expresso de ideias. Com temas diversicados, os poemas publicados noParaleloppedo reetem, sobremaneira, a opinio, o gosto e a experincia do autor.

    15 Observao importante que pode estimular o entendimento acerca do tema identidade.16 Caracterstica do estilo fanzine em sua concepo geral.

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    Uma prtica muito comum nos fanzines, visto que uma mdia marcada pela cria-o autoral e colaboracional. No entanto, os temas no tratam tambm da realidadedo Tocantins, mas somente prpria realidade do autor sem fazer referncias aolocal onde vive e a cultura que o cerca. Abaixo, trechos de alguns poemas.

    Exemplo 1:

    Predicando com o verbo predicativoEu sou assim desde meninoVou levando o meu sofrerPredicativo com o pronome pejorativoEu no gosto, me redimo, vou falando de vencer

    (Thiago Ramos Frana)

    Apesar dos autores terem dado nfase ao estilo potico, h espao tambm paratextos jornalsticos, sendo utilizados de maneira recorrente. Retirados de jornais erevistas, Paraleloppedo apresenta pequenas informaes curiosas e que, na visodos autores, esto relacionadas com o cotidiano deles prprios e do pblico-leitor.Vale ressaltar que a escolha do material independe da data em que foi publicado, oque refora a idia de identificao com o contedo. Outra particularidade que podeser destacada o fato dos textos terem sido retirados de uma revista publicada emnvel nacional pela maior editora do pas. Nesse caso, importante dizer que a pro-duo impressa do Tocantins ainda pequena, o que refora a falta de identidadecom a cultura local. Exemplo:

    Ingerir lcool faz voc achar as outras pessoas mais atraentes. A descoberta foi feitapor um psiclogo da Universidade de Glasgow, na Esccia, em estudo com 120 pes-soas. Segundo o pesquisador, 1 litro de cerveja ou quatro de copos de vinho aumen-tam o sex appeal das outras pessoas em cerca de 25%.17

    Outro aspecto do fanzine que merece destaque a ilustrao. A linguagem visualda produo tambm obedece ao conceito de idiossincrasia. Deste modo, os desenhosapresentam significados implcitos e explcitos18, variando de acordo com a inteno doautor. importante dizer que no h uma s pgina do fanzine em que os desenhosno estejam presentes. Eles esto na maioria dos poemas como forma de complemen-tao ao contedo. Outro ponto relevante o fato de todas as ilustraes, sem exceo,terem sido feitas mo, sem a utilizao de qualquer equipamento e/ou tecnologia.Paraleloppedo no apresenta fotografias. No h fotomontagens e nem colagens.

    A predominncia , como dito anteriormente, do desenho mo livre. Essa caracte-

    17 Material retirado da revista Superinteressante, da Ed. Abril - edio 181, outubro de 2002.18 Este artigo no abordar a questo da significao dos desenhos nos fanzines. Contudo, o tema poder ser alvo de

    anlise em um outro momento.

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    rstica remete questo autoral. Fica evidente apreocupao dos autores em explorar toda a suacapacidade de elaborar e produzir um materialartesanal, deixando bem claro quais so as idias,as opinies, a criatividade e, inclusive, a habilidadede cada um.

    Paraleloppedo (2004): valorizao do desenho mo livre

    No que diz respeito ao formato, o fanzine foi pro-duzido em folhas de papel sulfite no tamanho A3dobrado. As cpias foram xerocadas, totalmente empreto e branco. Em nenhum momento, a revistaapresenta cores. A organizao do contedo , namaioria das pginas, linear, mas feita de forma nomuito organizada. Isto , no apresenta a sequncia padro das revistas comerciaiscom os textos em colunas e fotos/ilustraes adequados ao espao. Paraleloppedoapresenta ilustraes representativas e concatenadas com os textos, mas de maneiralivre e irregular sem fazerem aluso cultura do Tocantins.

    Criado pelo mesmo editor, Thiago Ramos Frana, em 2008,Aperitivos apresenta-se no mesmo formato que o Paraleloppedo, em papel sulfite A3 dobrado ao meio eposteriormente fotocopiado. A escolha por este formato, segundo o faneditor, se deudevido praticidade da encadernao e ao custo reduzido.

    As ilustraes do fanzine so todas realizadas mo, tal como os textos. Destaforma os desenhos (em alguns casos) so complementos dos textos (a recproca tam-bm verdadeira). Este formato remete ao fanzine um carter extremamente per-sonalizado e estilizado, segundo as perspectivas e vivncias do autor (faneditor).Expressos no texto s minhas maiores musas... onde A APERITIVOS uma des-culpa-bem arquitetada- para descarregar um pouco da minha enorme arrogncia eprepotncia. (Aperitivos, 2008: 20).

    Aperitivos (2008): Imagem como informao principal

    Segundo Siqueira (2003), o contedo aliado arte grfica do fanzine traduz a per-sonalidade do autor, j que parte de suas escolhas. Portanto, a partir dessa afir-mao, possvel assegurar que o contedo de Aperitivos autoral, reflete a visode mundo do editor. O fanzine no apresenta textos longos, baseados em reporta-gens jornalsticas e/ou crnicas. Ao contrrio, aposta no texto curto inspirado empoemas e pequenos aforismos.

    Paraleloppedo (2004):valorizao do desenho mo livre

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    Os textos so colocados entre as figuras, demonstrando,de alguma forma, ligao em relao aos temas. Aperitivosapresentou assuntos diferentes, mas em pequeno nmero.No interior do fanzine, so encontrados trechos de poemasescritos pelo editor junto com textos de outros autores comtemas variados: drama, amor, poltica e experincia pessoal.

    Um exemplo de experimentao esttica encontrado quanto diagramao (especificamente a disposio do textona pgina), na edio nmero 5, de 2008, o autor brinca coma continuidade do poema. Um poema disposto no meio dafolha em uma nica linha que segue de um lado ao outro deduas pginas, de maneira que d ao leitor a sensao de ciclo,no qual o poema, ao mesmo tempo que acaba, recomea.

    Aperitivos (2008): Poema - texto e imagem

    Em todo o fanzine Aperitivos existe essa ligao entre o texto e a imagem, o que ressaltado pelo contraste preto e branco das fotocpias. Outro elemento utilizadopela Aperitivos so as stiras. Um exemplo o horscopo sexual, no qualo autor fazcomentrios descritivos, em tom cido, sobre as caractersticas de signo do zodaco.Em um trecho, possvel ler: capricorniana facilmente manipulvel. Sem ofensas.Em relao aos temas,Aperitivos apresenta assuntos recorrentes em todas as edies.Todavia, so acrescidas novas temticas. O ttulo da revista sugestiona o contedoencontrado na mesma, ou seja, dilogos descompromissados acerca de assuntos coti-dianos. Ao exemplo de Paraleloppedo, o fanzine no faz meno aos assuntos da cul-tura regional. Uma escolha particular do autor, visto que se baseou apenas na suaidentidade (pessoal) sem levar em considerao a cultura da qual faz parte.

    Ante os fanzines analisados, Aperitivos se destaca quanto linearidade do con-tedo e apresentao em todas as edies. Como a maioria dos fazines, seu nmerode pginas depende exclusivamente do(s) contedo(s) abordado(s), portanto podendovariar a cada edio.

    Consideraes finais

    A pesquisa tinha como objetivo analisar o contedo da edio zero do fanzine Para-leloppedo e da quinta edio do Aperitivos ambos produzidos pelo editor e acadmicoThiago Ramos Frana. Esses fanzines foram escolhidos por expressarem ideias,opinies e sentimentos pessoais, que refletem, em parte, o perfil do editor de origemtocantinense. Os elementos visuais foram trabalhados de forma nica e diferenciada.Tanto Paraleloppedo quanto Aperitivos tiveram o desenho mo livre como marca

    Aperitivos (2008):Imagem como informao

    principal

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    registrada, imprimindo um carter pessoal, e por que no personalizado, s men-sagens visuais. Portanto, fica evidente o talento artstico do autor e sua intimidadecom a arte do desenhar.

    No que tange produo, os fanzines foram elaborados utilizando recursos man-uscritos, o que evidencia a opo do faneditor por uma determinada tcnica, semseguir um comportamento (ou estilo) padro. Ao que parece, Frana segue apenas oseu gosto pessoal e utiliza os recursos disponveis desprezando o uso da tecnologiapara elaborar os seus produtos. Vale ressaltar que o editor no contrrio ao uso docomputador ou qualquer outro recurso tecnolgico, mas a no disponibilidade dessasfacilidades no impede o desenvolvimento e a concluso do seu trabalho.

    Os tipos de textos tambm variaram de um fanzine para o outro. Da poesia aosdilogos despretensiosos, as publicaes trabalharam elementos textuais de maneiradiferente: ora com ironia e sobriedade, ora com humor e crtica. A linguagem pre-dominante foi a coloquial com trechos de poemas um pouco mais rebuscados, mas defcil compreenso.

    Foi possvel verificar que os modelos possuem estilos diferentes, apresentandoaspectos textuais distintos, representando a percepo de mundo do editor. Ao elab-orar um fanzine, o editor o principal responsvel pelo contedo, pelo estilo e pelastemticas. Apesar de serem variados, alguns temas so recorrentes nas publicaes,como informaes do cotidiano, amor e experincias pessoais. Apesar de terem sidoproduzidos no Tocantins, por um editor tocantinense, os fanzines no apresentamcaractersticas especficas de regionalismo. A sua leitura pode ser feita facilmentepor qualquer leitor de outra regio do pas.

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