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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Jéssica Guerra Inácio de Oliveira Responsabilidade Social da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e suas externalidades negativas na saúde da população do município de Volta Redonda, no período de 2008 a 2012. Volta Redonda 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Jéssica Guerra Inácio de Oliveira

Responsabilidade Social da Companhia Siderúrgica Nacional

(CSN) e suas externalidades negativas na saúde da população do

município de Volta Redonda, no período de 2008 a 2012.

Volta Redonda

2013

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Jéssica Guerra Inácio de Oliveira

Responsabilidade Social da Companhia Siderúrgica Nacional

(CSN) e suas externalidades negativas na saúde da população do

município de Volta Redonda, no período de 2008 a 2012.

Monografia apresentada ao Curso de Administração

Pública, modalidade presencial, do Instituto de

Ciências Humanas e Sociais da Universidade

Federal Fluminense, como requisito parcial para a

obtenção do título de Bacharel em Administração

Pública.

Orientador: Profº. Dr. Luis Henrique Abegão

Volta Redonda

2013

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Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca do Aterrado de Volta Redonda da UFF

O48 Oliveira, Jéssica Guerra Inácio de.

Responsabilidade Social da Companhia Siderúrgica Nacional

(CSN) e suas externalidades negativas na saúde da população do

município de Volta Redonda, no período de 2008 a 2012. – 2013.

72 f.

Orientador: Luis Henrique Abegão.

Trabalho (Conclusão de Curso) – Instituto de Ciências Humanas

e Sociais, Universidade Federal Fluminense,Volta Redonda, RJ,

2013.

1. Responsabilidade Social. 2. Saúde. 3. Companhia Siderúrgica

Nacional (CSN). I. Abegão, Luis Henrique. II. Título.

CDD 658.408

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TERMO DE APROVAÇÃO

Jéssica Guerra Inácio de Oliveira

Responsabilidade Social da Companhia Siderúrgica Nacional

(CSN) e suas externalidades negativas na saúde da população do

município de Volta Redonda, no período de 2008 a 2012.

Monografia aprovada pela Banca Examinadora do Curso de Administração Pública da

Universidade Federal Fluminense – UFF.

Volta Redonda, .......... de ........................................ de .................

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________

Prof. Dr. Luis Henrique Abegão

Universidade Federal Fluminense

___________________________________________________________

Prof. Dr. Virgílio Cézar da Silva e Oliveira

Universidade Federal de Juiz de Fora

____________________________________________________________

Prof. Carlos Frederico Bom Kraemer

Universidade Federal Fluminense

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Dedico este trabalho a minha irmã

Vanessa, que mesmo não estando mais

presente fisicamente, sempre esteve em

meu coração, norteando minha trajetória

acadêmica.

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, por me abençoar e me proporcionar viver

esse momento.

Aos meus preciosos pais, Sandra e Walmir que me acompanharam cada dia

dessa trajetória, sempre me incentivando e apoiando com carinho e dedicação.

Ao apoio indispensável da minha amada irmã Michelen e sem deixar de

mencionar minha querida irmã Vanessa, que embora tenha partido esteve sempre

presente em minha memória durante toda essa etapa da minha vida.

Ao meu querido e muito amado esposo Diego, que durante todos esses anos

me apoiou incondicionalmente, o que me deu força para seguir em frente.

Aos meus familiares e colegas por me ajudarem e me apoiarem.

Ao meu orientador Luis Henrique Abegão pela sua disponibilidade e pelo

acompanhamento exercido durante a execução desse trabalho. Agradeço também a

todos os professores que fizeram parte da minha trajetória acadêmica, me

proporcionando ver o mundo de outra forma. Obrigada a todos!

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“A Terra provê o suficiente para

satisfazer as necessidades de todos os

homens, mas não sua ganância."

Mahatma Gandhi

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RESUMO

Este trabalho se propõe a analisar as atividades referentes à responsabilidade

social (RS) da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e seus impactos na saúde da

população do município de Volta Redonda, compreendendo o período de 2008 a 2012.

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que utiliza dados quantitativos para fins

descritivos. Tendo como objetivo geral entender, por meio de uma análise comparativa

entre as ações sociais da CSN e suas externalidades negativas se existe um papel

compensatório das primeiras sob as últimas. Constatou-se que o foco das ações sociais

da CSN está concentrado nas áreas educacional, cultural e áreas relacionadas ao esporte.

Não foi verificada nenhuma ação voltada para área da saúde por parte da organização,

mesmo considerando que a empresa contribui significativamente para o aumento da

poluição, prejudicando a qualidade de vida da população local. Os resultados

demonstraram a desproporcionalidade entre os impactos negativos, que realmente

contribuem para a degradação da qualidade de vida, e a ações sociais desenvolvidas pela

Fundação CSN de Volta Redonda.

Palavras -chave: Responsabilidade social, Saúde, Volta Redonda e CSN.

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ABSTRACT

This study aims to analyze the activities regarding social responsibility ( SR) of

the National Steel Company ( CSN ) and health impacts of the Volta Redonda

population , comprising the period from 2008 to 2012 . This is a qualitative research

that uses quantitative data for descriptive purposes . Having as main objective to

understand , through a comparative analysis of the social actions of the CSN and its

negative externalities if there is a compensatory role in the last of the first . It was found

that the focus of social actions CSN is focused on educational, cultural and sport-related

areas. There was no any action towards health by the organization , even considering

that the company contributes significantly to the increase in pollution , damaging the

quality of life of local people . The results showed the disparity between the negative

impacts that actually contribute to the degradation of quality of life , and social actions

undertaken by the CSN Foundation Volta Redonda .

Keywords : Corporate Social Responsibility , Health , Volta Redonda and CSN .

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1

2. SETOR SIDERÚRGICO NO BRASIL .................................................................... 3

2.1. Trajetória da siderurgia ...................................................................................... 3

2.2. Etapas da produção do aço ................................................................................. 7

2.3. Poluentes advindos da produção do aço ............................................................ 9

3. VOLTA REDONDA E A COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL ............ 11

3.1. Volta Redonda, a “Cidade do Aço” ................................................................. 11

3.2. Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda ...................................... 16

3.2.1. Contexto histórico da empresa ................................................................. 16

3.2.2. Externalidades negativas causadas pela CSN ........................................... 22

4. RESPONSABILIDADE SOCIAL ......................................................................... 28

4.1. Responsabilidade Social da CSN ................................................................. 38

5. FUNDAÇÃO CSN ................................................................................................. 38

6. SAÚDE NO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA............................................. 46

6.1. Breve histórico da saúde no Brasil .................................................................. 46

6.2. A Saúde no município de Volta Redonda ........................................................ 48

7. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 55

8. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 58

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1. INTRODUÇÃO

O Brasil, bem como outros países, teve seu grande “boom” com o processo

de industrialização. No primeiro governo de Vargas (1930-1945) a indústria no país

ganhou uma força eminente. Durante esse período buscou-se estabelecer a

industrialização no país, por meio de indústrias nacionais de base, o que ajudaria o

Brasil a não incorrer em dependência externa, uma vez que poderia reduzir sua

importação, estimulando a produção nacional de bens de consumo.

Com a crise de 29 e a consequente Revolução de 1930, a economia passa

assumir um caráter mais nacionalista e industrialista, característico do governo Vargas.

Entre as empresas estatais criadas por Vargas em seu primeiro governo, pode se citar a

Companhia Siderúrgica Nacional (1941), a Companhia Vale do Rio Doce (1942), a

Fábrica Nacional de Motores (1943) e a Hidrelétrica do Vale do São Francisco (1945)

(SOUSA, s/d).

A CSN, objeto de estudo do presente trabalho, foi uma das indústrias

criadas na Era Vargas, a fim de promover e fortalecer a indústria nacional. Sua

construção teve como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial.

A Companhia foi fundada em 1941, em Volta Redonda, enquanto ainda era

distrito do município de Barra Mansa, que tinha como nome Santo Antonio de Volta

Redonda. O distrito só se emancipou em 1954 devido à necessidade de ter “alguém” que

realmente estivesse olhando pelo futuro do lugar e pelas pessoas que ali estavam,

cuidado este que não havia quando a cidade era apenas um distrito, sem nenhum poder

político e econômico.

Junto com a criação da CSN, a menina dos olhos do processo de

industrialização, vieram os benefícios, mas também muitos problemas, que são

vivenciados até hoje pela população local. Com a implantação da empresa, criaram-se

bairros inteiros, a fim de abrigar seus funcionários, mas com a ampla divulgação para

atrair mão-de-obra, o município se viu em uma situação complicada. Volta Redonda

havia sofrido um inchaço populacional, uma vez que a maioria dos trabalhadores

vinham com toda sua família. Mas o maior problema foi que a empresa não absorveu a

quantidade de trabalhadores que vinham em busca de um bom emprego, dando origem

às “favelas” da cidade, bairros desorganizados, sem planejamento, totalmente diferente

dos bairros criados pela CSN. Nascia assim uma clara divisão territorial e social.

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Além de problemas sociais, a “mãe da cidade” trouxe também outros

problemas de igual relevância, como: problemas ambientais, econômicos (uma vez que

a empresa visa lucro, e o mesmo é obtido através do aumento da produtividade, isso

acarreta em cortar gastos com mão-de-obra, gerando assim desemprego) e na saúde da

população de Volta Redonda. É sobre este último problema que o presente trabalho visa

discutir.

A companhia possui uma Fundação, que é seu “braço social”, é nela que são

tocados vários projetos sociais. Este trabalho possui como objetivo geral entender

através de uma análise comparativa entre as ações sociais da CSN e suas externalidades

negativas na saúde, se existe um papel compensatório das primeiras sobre as últimas.

Para isso os objetivos específicos aqui buscados foram: apresentar os projetos

desenvolvidos pela Fundação CSN; apresentar dados referentes às internações e óbitos

de maior incidência no município; mostrar os poluentes advindos do processo

siderúrgico bem como suas consequências na saúde; e comparar Volta Redonda com

Petrópolis a fim de mostrar a contribuição da CSN na saúde da população da cidade de

Volta Redonda.

Pretende-se atentar aqui para o fato de que sob a lógica de uma política

nacionalista e desenvolvimentista o país cresceu, porém, junto com esse crescimento

veio também uma série de problemas sociais e ambientais, que se não forem analisados

de forma adequada, podem se agravar cada vez mais com o passar do tempo.

A escolha desse tema é fruto da interferência positiva de uma pesquisa de

iniciação científica, na qual instigou a elaboração desse trabalho. Este visa contribuir

para o desenvolvimento de novos projetos sociais plausíveis frente aos malefícios

específicos causados pela CSN. Novos papéis também são necessários, pois, diante de

um novo cenário, marcado pela “saturação” do modelo hegemônico de

desenvolvimento, deve-se pensar em um desenvolvimento mais sustentável, e a empresa

nesse contexto deve se ver como corresponsável, logo este trabalho possui grande

relevância social, uma vez que procura sensibilizar e incentivar a criação/adoção de

novas relações institucionais entre empresa, governo e sociedade civil, onde haja um

esforço de todos os atores a fim de minimizar os impactos negativos do agente

econômico. A partir deste trabalho, podemos pensar uma nova maneira para continuar

desenvolvendo o município de Volta Redonda, tendo em mente que pensar em/no

coletivo se torna mais relevante do que perpetuar práticas individualistas, ainda mais

quando tratamos de desenvolvimento e não simplesmente crescimento.

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Utiliza-se aqui uma pesquisa qualitativa que se vale de dados quantitativos

para fins descritivos. Este estudo envolveu coleta de dados. Esses foram coletados

através de análise documental e realização de entrevistas com atores da área do meio

ambiente (um representante do INEA e um representante da SMMA). Também foi

utilizado nesse trabalho à observação direta.

Além dessa introdução o trabalho está estruturado em mais seis seções: na

primeira aborda-se o setor siderúrgico no Brasil, sua trajetória, etapas do processo

produtivo e poluentes advindos da produção do aço; na segunda concentra-se em contar

a história da “cidade do aço”, bem como o histórico da CSN, mostrando os impactos

negativos da empresa; na terceira seção é abordado o conceito responsabilidade social; a

quarta seção trata da RS da CSN, mediada pela Fundação CSN; na quinta é apresentado

um breve histórico da saúde no Brasil, logo em seguida trata-se especificamente da

saúde no município de Volta Redonda; e; por último; tem-se a conclusão do trabalho.

2. SETOR SIDERÚRGICO NO BRASIL

2.1. Trajetória da siderurgia

Antes de adentrarmos no respectivo assunto, é de extrema relevância

caracterizar o conceito de siderurgia. Para Caron e Pereira (1967, p. 15), “siderurgia,

palavra que deriva do grego sideros – ferro e ergon – trabalho, é a arte de fabricar o

ferro”. Ainda conforme o autor, o minério de ferro é o que dá sustentação à indústria

siderúrgica, pois é matéria-prima essencial no processo.

O Brasil começou sua relação com a siderurgia ainda quando colônia. Nesse

período as atividades produtivas envolvendo o ferro eram restritas aos anseios da coroa.

O início da trajetória da siderurgia brasileira começa pela descoberta da existência de

minérios de ferro no interior da capitania de São Vicente (São Paulo), no século XVI,

pelo padre jesuíta José de Anchieta, que comunica o descobrimento à Corte Portuguesa

(BAER, 1970).

De acordo com Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

(ICMBio), o país teve sua primeira experiência no setor siderúrgico, no século XVI,

quando Afonso Sardinha, em uma de suas buscas por pedras preciosas e ouro, descobre

o minério de ferro no interior de São Paulo, em Araçoiaba da Serra. Essa descoberta

passa a ter significativa relevância para os colonizadores. Mas além da existência da

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matéria-prima do ferro, outros fatores foram incisivos para que ali começasse a ser um

locus para exploração, tais como: presença abundante de água e madeira para alimentar

os fornos.

A vinda da Corte Portuguesa, em 1808, deu início a grandes mudanças no

Brasil colônia, a começar pela criação da Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema,

em 1810, em Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo. Esse feito foi precedido pelas

experiências que começaram com Afonso Sardinha ainda no século XVI, com a

exploração do minério de ferro e com a fabricação de ferro. Embora seja aceito que a

fábrica de Ipanema iniciou a trajetória da siderurgia, e preciso salientar que já existiam

atividades relacionadas à fabricação de ferro (BAER, 1970).

Somente no início do século XIX, com a vinda da Família Real, as fábricas

de ferro começaram a receber relevância. Conforme Moreira (2004), a Real Fábrica de

Ferro Gaspar Soares (chamada também de Real Fábrica de Ferro do Morro do Pilar); a

Fábrica Patriótica de Congonhas do Campo, ambas em Minas Gerais, e a Real Fábrica

de Ferro de São João de Ipanema, localizada na região de Sorocaba (São Paulo), além

do alto-forno construído por João Monlevade em Caeté (Minas Gerais), são frutos do

esforço despendido na época, a fim de impulsionar a siderurgia.

A Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, considerada o começo da

siderurgia nacional, encontra-se, desde 2007, sob a administração do ICMBio, por estar

no meio da Floresta Nacional de Ipanema, que abrange parte dos municípios de Iperó,

Araçoiaba da Serra e Capela do Alto (São Paulo). A Fábrica que funcionou por mais de

oitenta anos foi desativada em 1895.

Já a Real Fábrica de Ferro do Morro do Pilar, também chamada de Fábrica

do Morro do Gaspar Soares, localizada em Minas Gerais, não teve uma experiência tão

longa, foi inaugurada em 1814 e foi desativada em 1831.

Em 1811, foi instalada em Congonhas do Campo, Minas Gerais, a Usina

Patriótica, sob os olhos do barão Wilhelm Ludwig Von Eschwege, engenheiro

contratado pelo governo português para executar diversas atividades ligadas à

siderurgia. Após dez anos da construção da Usina, Eschwege abandona suas atividades

no Brasil, e em 1822 a Usina encerrou suas atividades.

Foi criada em 1876, a Escola de Minas de Ouro Preto, em Minas Gerais,

com intuito de formar profissionais para exploração de minas e em transformação de

minérios em produtos industrializados (MOREIRA, 2004), para suprir a escassez de

mão-de-obra existente, em um período em que predominava a importância da lavoura,

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em seus diferentes ciclos como o do açúcar e o café. A criação dessa escola foi um

avanço importante para o país, pois passaria o Brasil a qualificar sua própria mão-de-

obra, e portanto o progresso da siderurgia tendia a ser alavancado.

Como pode ser observado, a implantação de siderurgicas começa bem antes

da Era Vargas, ainda quando o Brasil era colônia, porém as tentativas de fundição de

ferro não traziam maiores impacto para a economia colonial. Esse fato aconteceu devido

às medidas tomadas pela metrópole com relação a construções de forjas, que na maior

parte do tempo proibiu a produção de ferro. Apesar da criação das fábricas, o Brasil

continuava muito dependente de aços importados.

Nota-se, nas primeiras décadas do século XX, outros avanços no setor,

considerados muito importantes para a história da siderurgia brasileira. Em 1921, foi

criada a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, em Sabará (Minas Gerais), resultado da

associação da Companhia Siderúrgica Mineira com a empresa Belgo-luxemburguesa

ARBED. A empresa passa a ser responsável pelo desenvolvimento de uma tecnologia

própria de alto-forno convencional a carvão vegetal. Em 1939 foi inaugurada a segunda

usina da Companhia, em Monlevade (Minas Gerais), para a produção e transformação

de ferro metálico (BAER, 1970). De acordo com Moreira (2004) a Companhia

Siderúrgica Belgo-Mineira “(...) nada produziu de concreto até agosto de 1939 (...)”.

O contexto brasileiro da siderurgia até 1941 revela que, apesar de o país

possuir Companhias e Usinas, ainda permanecia nele uma relação de dependência para

com os produtos siderúrgicos importados. Esse cenário começa a se transformar no

início da década de 30, com a chegada de Getúlio Vargas no poder, pois já no seu

governo provisório Vargas dava grande relevância à siderurgia, pois considerava que

uma grande indústria era sinônimo de independência, soberania, liberdade nacional

(MOREIRA, 2004).

Segundo Moreira (2004), a transição realizada pelo Brasil, de uma

economia substancialmente agroexportadora para uma economia voltada para a

substituição de importações, é sem dúvida um grande momento para a economia

brasileira.

Para Vargas, o maior problema da economia brasileira era o siderúrgico,

como descrito abaixo:

O problema máximo [...] da nossa economia é o siderúrgico. Para o Brasil, a

idade do ferro marcará o período de sua opulência econômica. No amplo

emprego desse metal [...] se expressa a equação de nosso progresso. [...] O

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6

ferro é fortuna, conforto, cultura e padrão [...] da vida em sociedade

(GETÚLIO VARGAS, 1931, apud MOREIRA, 2004, p. 16).

Esse novo modo de pensar, novo modo de fazer, foi aos poucos fazendo

com que no Brasil se desenvolvesse na sociedade como um todo um espírito

industrial/operacional. Começou então a busca, apoiada incessantemente por Vargas,

em industrializar o país, para que o mesmo se desenvolvesse em sua plenitude.

Com esse novo panorama, foram inauguradas muitas indústrias, entre elas: a

Companhia Ferro e Aço de Vitória (COFAVI), inaugurada em 1942, em Vitória,

Espírito Santo; Aços Especiais Itabira (Acesita) fundada em 1944, em Coronel

Fabriciano, Minas Gerais; a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), criada em 1941,

em Volta Redonda, Rio de Janeiro, sendo esta sem dúvida o grande marco para a nova

fase da siderurgia no Brasil; a Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA), criada em

1953, em Cubatão, São Paulo; a Usina Siderúrgica de Minas Gerais (USIMINAS)

também fundada em 1956; a Usina Siderúrgica da Bahia (USIBA), inaugurada em

1973; em 1983, foi inaugurada a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), em Vitória,

Espírito Santo; a Açominas começou a funcionar em Ouro Branco, em 1986, Minas

Gerais.

A partir da década de 90, todo este cenário começa a ser transformado. O

Estado que antes agia como regulador de diversas atividades, e tinha a preocupação em

definir um planejamento econômico global (MOREIRA, 2004), começa a ser

questionado, devido o surgimento da crise econômica da década de 80.

Com a ascensão de Fernando Collor de Mello, em 1989, à presidência da

República, prevaleceu a tese do Estado mínimo. Como destacado por Moreira (2004, p.

142), “em 16 de março de 1990, por meio da Medida Provisória nº155, foi criado o

Programa Nacional de Desestatização (PND), sancionado com poucas modificações em

12 de abril do mesmo ano como a Lei nº 8.031”.

A ideia era que o ajuste fiscal, para frear a crise econômica, só seria

palpável com a retirada da presença do Estado na economia, isso se deu através das

privatizações das empresas estatais, para conseguir diminuir o déficit público, ou seja, o

PND fazia parte do esforço para estabilizar a economia (MOREIRA, 2004). Muitos

foram os embates, de um lado existiam os liberais, que defendiam fervorosamente as

privatizações e de outro os nacionalistas estatizantes, que acreditavam que o Estado

deveria manter seu perfil de importante agente econômico (MOREIRA, 2004).

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O quadro 1 mostra as empresas siderúrgicas que foram privatizadas no

Brasil. Segundo Andrade et al (2001, p. 3), “a produção siderúrgica privatizada foi de

19 milhões de t, representando, à época, 65% da capacidade total de produção de aço

brasileira”.

Quadro 1: Empresas Siderúrgicas Privatizadas no Brasil

Fonte: BNDES apud ANDRADE et al, 2001.

2.2. Etapas da produção do aço

As usinas siderúrgicas possuem três classificações conforme o seu processo

produtivo, são elas: usinas integradas, semi-integradas e não integradas (SCHEID,

2010). Segundo Caldas (2011), as usinas integradas são aquelas onde há desde o

tratamento da matéria-prima até a laminação, que é onde sai o produto final, e as usinas

semi-integradas utilizam como insumo básico a sucata, diferente das integradas que

utilizam o coque e o minério de ferro, seu processo produtivo começa na aciaria e não

na coqueria. Por último as usinas não-integradas que apresentam apenas uma etapa da

produção do aço (SCHEID, 2010).

De acordo com Baer (1970), a produção do aço em usinas integradas,

envolve quatro etapas básicas, são elas: 1) a mineração e tratamento de matérias-primas;

2) redução de minério de ferro a ferro gusa; 3) transformação do ferro gusa em aço e 4)

Laminação dos lingotes.

Para Scheid (2010), nas usinas integradas os insumos básicos consistem em

o minério de Ferro, o carvão mineral e os fundentes. Nas primeiras etapas do processo

siderúrgico as matérias-primas são preparadas para o carregamento dos altos-fornos. O

carvão mineral passa por um processo chamado coqueificação, onde são retirados os

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elementos voláteis (como benzeno e alcatrão) gerando um componente poroso rico em

carbono, o coque. Já o minério de ferro é peneirado e as partículas menores são

separadas e passam por um processo de sinterização, onde são aglomeradas com os

fundentes (principalmente o calcário) e finos de coque (BAER, 1970).

Na segunda etapa da produção do aço, o coque, o sinter (resultado do

processo de sinterização) e o minério de ferro são transportados até o alto-forno e

depositados em camadas alternadas. É nesta fase do processo que ocorre a redução do

minério de ferro, que se dá pelas reações químicas geradas pela a introdução de ar

quente soprado no interior do alto-forno. Os produtos dessas reações são: gases, poeira,

escória e o ferro-gusa (CALDAS, 2001).

O gusa é um aço com alto teor de carbono e impurezas, que deve ser

refinado na aciaria, a fim de ganhar características comerciais. É na aciaria onde o aço

tem sua quantidade de carbono ajustada a fim de obter proporções desejadas. O refino é

realizado em fornos especiais chamados conversores, onde além de diminuir a

proporção de carbono, também são reduzidos a níveis aceitáveis os elementos como

fósforo, enxofre e nitrogênio (BAER, 1970).

Após o aço estar com a composição química desejada ele sofre um processo

de conformação mecânica onde é moldado e resfriado na forma de placas espessas,

chamadas lingotes. Esses lingotes já são considerados produto final do processo

siderúrgico, pois já podem ser comercializados (CALDAS, 2011). A partir dos lingotes

o aço pode ser laminado, gerando produtos como: bobinas a quente, bobinas a frio,

bobinas revestidas, folhas metálicas, entre outros produtos planos. A figura 1 demonstra

de modo simplificado o processo de produção do aço.

Figura 1: Fluxo Simplificado de Produção

Fonte: IBS, 2011 apud CALDAS, 2011, p. 25.

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2.3. Poluentes advindos da produção do aço

A siderurgia merece um lugar de destaque quando o debate permeia

questões ambientais. Nesse setor as externalidades negativas ocorrem em muitas etapas

do processo, e mesmo antes do início do mesmo, como o transporte de matéria-prima.

Segundo Milanez (2008), as indústrias siderúrgicas, além de gerarem

grandes riscos ocupacionais, como, por exemplo, os acidentes industriais e o

benzenismo – intoxicação ocupacional pelo benzeno -, elas geram também

externalidades no território onde se encontra e na sociedade onde são realizadas as

atividades do processo de produção do aço.

A atividade industrial siderúrgica pode ser considerada muito poluente.

Dentre os tipos de poluição estão: atmosférica, sonora, visual, hídrica e do solo. Bem

como o uso bastante expressivo de energia, principalmente na forma de carvão mineral

(MILANEZ, 2008).

De acordo com Saar (2004), “o poluente atmosférico é qualquer substância

presente no ar que pela sua concentração possa torná-lo impróprio, nocivo ou ofensivo à

saúde, inconveniente ao bem-estar público”.

Para Milanez (2008), a emissão de poluentes como gás sulfídrico (H2S),

óxidos de enxofre (SOx), dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), etano (C2H6),

óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO), diferentes hidrocarbonetos

orgânicos (principalmente o benzeno) e material particulado (poeira, fuligem, finos de

minério, entre outros) é característico do processo de produção do aço realizado em

indústrias siderúrgicas, contribuindo para a poluição atmosférica, e consequentemente

doenças respiratórias.

O aumento da emissão de gases estufa, como o dióxido de carbono (esse

poluente tem origem na queima de fósseis) e o metano contribuem para a ocorrência do

aquecimento global, e consequentemente a frequência de mudanças climáticas também

ocorrerá (SAAR, 2004).

O óxido de enxofre e óxido de nitrogênio reagem quando se misturam com a

umidade atmosférica, dando origem aos ácidos, são eles: ácido sulfúrico e ácido de

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nitrogênio, quando isso ocorre forma-se então a chuva ácida (MILANEZ, 2008). A

chuva ácida contribui decisivamente para a degradação/destruição ambiental, ela

prejudica plantas, lagos, rios, bem como causa estragos em construções (casas, prédios),

o aumento da mortandade de peixes e outros animais pode ser em consequência do

aumento da acidez em rios e lagos. Além de causar esses danos a chuva ácida também

desorganiza a cadeia alimentar, uma vez que plantas, insetos e outras vidas são mortas

em decorrência dela (SAAR, 2004).

O óxido de nitrogênio também é responsável pela baixa imunidade e

irritações nos pulmões. Outro gás que agride o sistema respiratório é o dióxido de

enxofre, os danos dele podem ser irreversíveis, ou seja, pode causar a morte em pessoas

com histórico de doenças respiratórias e cardiovasculares (SAAR, 2004).

No setor siderúrgico, outro problema aparece na produção de coque, onde é

produzido o hidrocarboneto cíclico aromático (produto secundário), o benzeno. Esse

poluente tende a ser bem problemático, uma vez que é altamente inflamável, volátil e

incolor (MILANEZ, 2008). A exposição contínua a ele pode gerar externalidades

negativas, no sistema imunológico nervoso, endócrino, podendo também causar

doenças como a leucemia e a leucopenia (MIRANDA et al., 1999 apud MILANEZ,

2008).

Segundo Saar (2004), o material particulado é o transportador de poluentes

para o organismo humano mais eficiente. As partículas são muito pequenas (diâmetro

igual ou menor a 10 µm) facilitando sua penetração nos alvéolos pulmonares, o que é

um problema, pois causa uma série de danos ao indivíduo, tais como: probabilidade

maior de incidência de câncer e problemas respiratórios (GIODA et al., 2004 apud

MILANEZ, 2008).

O monóxido de carbono advém da queima de combustíveis, esse gás

prejudica a oxigenação dos tecidos, podendo ser classificado como asfixiante sistêmico.

Isso acontece por que a hemoglobina não consegue realizar a troca por oxigênio, e não

consegue expulsar o CO. Se houver saturação do monóxido de carbono na hemoglobina

de até 60%, podem ocorrer desde a perda da consciência até a morte (SAAR, 2004).

Podemos constatar que o processo de produção do aço em indústrias

siderúrgicas geram inúmeras externalidades negativas tanto ao meio ambiente como

também à sociedade. Esses impactos vão desde o consumo exorbitante de recursos

hídricos até a emissão de poluentes no ar, no solo, nos rios e lagos. Apesar das empresas

investirem em tecnologias para melhorar essas questões, como o reaproveitamento da

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11

água, reduzindo assim seu impacto neste aspecto, ela ainda sim não consegue

compensar seus impactos da produção de forma que eles sejam sanados e não apenas

mitigados (MILANEZ, 2008).

3. VOLTA REDONDA E A COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL

3.1. Volta Redonda, a “Cidade do Aço”

Antes de sua emancipação, em 1954, o município de Volta Redonda era

chamado de povoado de Santo Antônio de Volta Redonda, sendo o 8° distrito de Barra

Mansa. O município recebeu este nome devido ao desenho geográfico de uma curva no

Rio Paraíba. No século XIX foi cenário da economia cafeeira, tendo naquela época

considerável crescimento devido à expansão da navegação no Rio Paraíba e da malha

ferroviária, que cortava as duas maiores cidades do país São Paulo e Rio de Janeiro

(SOUTO, 2007).

De acordo com Souto (2007), com a crise de 1929 toda a região sentiu as

consequências da decadência do café, o que gerou estagnação no crescimento, porém

devido sua posição privilegiada, o povoado despertou no governo profundo interesse de

construir ali a grande indústria siderúrgica do país.

A relação entre o distrito e o município era complicada, uma vez que pouco

era investido no povoado. Esse contexto se agrava e sofre consequentes transformações

devido ao modelo de desenvolvimento econômico adotado em 1930, com Vargas no

poder, já que o povoado foi escolhido para abrigar uma grande indústria nacional, a

Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) (MOREIRA, 2004).

Criada em 1940, pelo decreto-lei nº 2.054, a Comissão Executiva do Plano

Siderúrgico Nacional, foi incumbida de organizar questões ligadas ao programa adotado

pelo governo, de criar indústrias de base. Para atender questões de defesa militar,

facilidade de transporte e abundância de água, a comissão chegou à conclusão de que a

indústria siderúrgica deveria se instalar na região fluminense, entre Barra do Piraí e

Barra Mansa, especificamente em Volta Redonda (MOTTA, 2007).

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12

Figura 2: Região Sul Fluminense

Fonte: www.citybrazil.com apud MOTTA, 2007.

Para Motta (2007), além das características geográficas, a escolha do lugar

foi feita também por motivos simbólicos, onde a implantação de um novo modelo

econômico representaria a ruptura com o antigo modelo praticado no país, o modelo

agrário-exportador. A ideia de uma nova fase reinaria nesse lugar, uma vez que a região

era pouco habitada, facilitando o surgimento de uma nova sociedade, a industrial.

Com a vinda da CSN, em 1941, começa a ser desenhada a história de Volta

Redonda. Segundo Bedê (2004), antes da chegada da empresa não havia nada que

representasse grande importância no até então povoado.

Para receber esse investimento, o lugar, que não era provido de muita (quase

nenhuma) infraestrutura, sofreu adaptações. A empresa precisava de um local onde seus

funcionários teriam acesso a serviços básicos, para isso, junto com a empresa foram

criados bairros, hospital, escola, banda de música, hotel, clubes (dos Funcionários e

Umuarama), estrutura que também garantia aos trabalhadores da usina, serviços

fundamentais, como água, esgoto, limpeza, distribuição e manutenção de energia

elétrica, transportes coletivos, polícia e corpo de bombeiro. Todo esse aparato

contribuiu para o crescimento da estratificação social, uma vez que a empresa

proporcionava aos funcionários o que o povoado não tinha, gerando grandes diferenças

entre moradores de um mesmo lugar, nesse contexto surgiu uma nova cidade, chamada

“nova Volta Redonda” (MOREIRA, 2004).

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13

Os bairros construídos serviam para acolher os funcionários da empresa,

mas o que determinava quem ficaria em cada bairro era a hierarquia de funções

praticada dentro da empresa (SOUTO, 2007). Para Fontes e Lamarão (1986), o que

ocorreu foi à estratificação do espaço conforme sua profissão e faixa salarial. Os bairros

como Vila Santa Cecília, criado em 1942, Laranjal e Bela Vista, criados em 1945 eram

destinados aos funcionários com cargos superiores, já o bairro Conforto, criado em

1942 e logo depois os demais como: Jardim Paraíba, Sessenta, Nossa Senhora das

Graças e Monte Castelo seriam para utilização dos operários com menor qualificação

profissional (MOREIRA, 2004).

A construção da CSN era assunto Nacional, o que contribuiu para que

viessem homens de vários lugares do país, estes com a esperança de que no povoado de

Santo Antônio de Volta Redonda estaria o futuro do país (MOREIRA, 2004). Conforme

aponta Motta (2007), a companhia empregou 13.064 pessoas em seu processo de

construção, porém esse número começa a diminuir em 1948, chegando a 8.914 de

funcionários.

Essa queda no número de funcionários refletiu negativamente na questão

habitacional da cidade. Muitos que foram demitidos não tinham como voltar para o

lugar de onde vieram, a alternativa encontrada por eles foi a de ocupar áreas distantes da

empresa, fato este que contribuiu para que casas e bairros fossem construídos sem

planejamento nenhum. Este problema se agravava ainda mais, pois não paravam de

chegar pessoas em Volta Redonda em busca de um “bom” emprego (MOTTA, 2007).

As pessoas que chegavam tinham a expectativa de conseguir emprego e

moradia além da infraestrutura proporcionada pela CSN, porém não era fácil nem para

os funcionários da empresa conseguirem moradia. O quadro 2 mostra que companhia

não conseguiu acolher nem mesmo todos os seus trabalhadores.

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14

Quadro 2: População de Volta Redonda e empregados atendidos pelas habitações da

empresa

Fonte: Piquet, Roselia. Moradia Operária em Volta Redonda: de Símbolo do Populismo à lógica

capitalista. Espaço & Debates, São Paulo. Ano V nº 16, 1985 apud MOTTA, 2007.

O crescimento desordenado, deu origem a uma cidade desvinculada dos

interesses da companhia, a “cidade extra-CSN”, chamada de “Volta Redonda velha”. As

terras que eram ocupadas pelos trabalhadores dispensados ficavam na margem esquerda

do Rio Paraíba, “afastadas” da empresa (MOREIRA, 2004).

Mesmo com a instalação da siderúrgica e com o inchaço populacional em

que se via o lugar, com duas cidades totalmente divididas, uma com tudo e outra com

nada, Volta Redonda ainda era distrito de Barra Mansa. Esse contexto se agrava ainda

mais, pois mesmo recebendo tributos advindos do povoado o município de Barra Mansa

não investia o recurso no local, fazendo com que os problemas continuassem sem

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15

solução, já que os tributos recolhidos eram utilizados no centro de Barra Mansa

(MOREIRA, 2004).

Devido a esse cenário, em 1952 foi formado um Centro Cívico Pró

Emancipação Política de Volta Redonda (BEDÊ, 2004). Todavia, esse movimento não

foi à primeira tentativa do povoado conseguir maior autonomia, pois, segundo Costa

(2004) essa vontade surgira primeiramente em 1874, quando os habitantes do local

reivindicaram que o povoado se elevasse a condição de freguesia, mas a tentativa não

obteve êxito devido a decisões políticas da época.

De acordo com Moreira (2004), a emancipação política do povoado só se

tornou politicamente possível mediante a inserção de Sávio Gama nas reivindicações,

uma vez que ele, junto ao seu partido PSD, iria representar e reivindicar a autonomia de

Volta Redonda na Assembléia Legislativa do Estado, sem ameaça da Câmara Municipal

de Barra Mansa vetar. O decreto que visava estabelecer a realização de um plebiscito

em Volta Redonda foi aprovado garantindo à população escolher sobre a emancipação

da localidade.

O plebiscito foi realizado somente em junho de 1954, onde a emancipação

de Volta Redonda foi aprovada por 2.809 votos a favor e somente 24 contra. O novo

município foi criado 17 de julho, e já no dia 6 de fevereiro de 1955 já tinham um

prefeito tomando posse, era Sávio Gama. O primeiro prefeito do município teve

relevante contribuição com relação à emancipação política do povoado de Santo

Antônio de Volta Redonda, pois mediante articulações políticas obteve êxito nas

reivindicações, fato esse que refletiu no desenho da tão sonhada emancipação

(MOREIRA, 2004).

O processo emancipatório sem dúvidas deu início a muitas transformações,

porém apesar da criação do município a companhia detinha um poder paralelo. Essa

perpetuação finda em um segundo momento quando a empresa entrega à prefeitura toda

a responsabilidade que detinha antes (MOREIRA, 2004).

Segundo Souto (2007), em 1973 o município de Volta Redonda foi

considerado área de segurança nacional, esse cenário se prolongou até o desfecho do

regime militar.

Em 80, com o estouro da crise econômica, o Estado buscou se reinventar, ou

seja, se reformular. A consequência disso é que o Estado passaria a interferir o mínimo

na economia nacional. Dentro das primeiras atitudes tomadas em prol do modelo de

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16

Reforma do Estado encontra-se o ajuste fiscal e as privatizações de empresas estatais,

dentre elas a Companhia Siderúrgica Nacional – CSN (COSTA et al, 2013).

Antes da privatização da CSN, em 1993, Volta Redonda foi palco de uma

histórica greve, que ocorreu em 1988, esta demonstrava que a relação entre empresa,

município e funcionários não estava satisfatória (SOUTO, 2007).

Para Souto (2007), a privatização da companhia inaugurou um novo cenário

no município. As demissões consequentes do processo de desestatização teve muito

impacto na cidade. O município que estava acostumado com a relação de dependência

que existia entre empresa e cidade sofreu grande abalo, sendo que após este processo

Volta Redonda precisou reorganizar suas estratégias em prol de seu desenvolvimento.

Com a “onda” de desemprego que se estabeleceu no município, parte das

pessoas saem do local para buscar melhores alternativas de emprego e a outra parte fica

e muda o foco de suas atividades, especialmente para o setor de serviços (SOUTO,

2007). A tabela 1 mostra o reflexo pós-privatização quanto ao déficit de empregos

industriais.

Tabela 1: Desempregados e Admitidos na Indústria, Volta Redonda 2002-2006.

Fonte: Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro – CIDE apud SOUTO, 2007.

3.2. Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda

3.2.1. Contexto histórico da empresa

Impossível falar de Volta Redonda e não falar da CSN, e vice-versa. Afinal

as histórias das duas estão conectadas em um laço que transcende tudo que possamos

falar ou escrever. É verdade quando Moreira (2004) diz que a cidade e a empresa estão

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umbilicalmente ligadas, tal como mãe e filho, pois é esta a imagem que a empresa até

antes de sua privatização representava/passava ao município de Volta Redonda.

Após a crise de 29, com Vargas no poder, começou a ser traçada uma nova

fase para o Brasil e especificamente para Volta Redonda. A criação de indústrias de

base como siderurgia e expansão da malha ferroviária eram apontadas em seu governo

como indispensáveis. Para que a criação das indústrias de base se concretizasse foram

realizadas pelo Estado diversas avaliações com intuito de verificar a viabilidade do

investimento e os meios para sua realização, logo foram criadas várias comissões com

essa finalidade, até que se chegou à criação da tão sonhada CSN (MOREIRA, 2004).

Para que esse sonho fosse concretizado, longas negociações foram travadas

entre governo brasileiro e Estados Unidos. O resultado dessas negociações foi à

concessão do empréstimo de 20 milhões de dólares para a obtenção de equipamentos e

máquinas essenciais para a criação da indústria, pelo banco Eximbank. Mas esse

empréstimo estava condicionado aos anseios de Washington, que pediu que portos,

aeroportos, estradas de ferro e de rodagem e meios de comunicação do Brasil fossem

colocados a sua disposição em tempos de crise. Além da condição de ser criado um

comitê executivo, composto por engenheiros de ambos os países, com finalidade de

coordenar os cálculos finais e a compra de equipamentos, e também um conselho

consultivo para dar o parecer sobre os recursos adquiridos, este seria formado

principalmente por técnicos norte-americanos. Mesmo não muito contente com as

exigências Vargas concordou, e nos dias 25 e 26 de 1940, a partir de correspondências

trocadas entre representantes dos dois países foi oficializado a concessão do empréstimo

(MOREIRA, 2004).

Com o empréstimo as obras são iniciadas. O lugar onde a siderúrgica se

instalou foi em uma área onde ficavam duas grandes fazendas, a Santa Cecília e a

Retiro, ambas foram desapropriadas para esse fim, os dois terrenos juntos mediam mais

de três mil metros quadrados (MOREIRA, 2004). O quadro 3 abaixo mostra a

participação de cada agente na constituição do Capital da CSN.

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Quadro 3: Participação no Capital da CSN

Fonte: MOREIRA, 2003 apud MOTTA, 2007.

Em 9 de abril de 1941 foi fundada a Companhia Siderúrgica Nacional, a

CSN, porém a empresa só começou a operar no final de 1946. Para muitos, a CSN é

considerada um marco no processo de industrialização do país. Sua criação teve grande

relevância para o Brasil, pois foi à primeira usina siderúrgica integrada do país. Em

1961 a companhia foi denominada Usina Presidente Vargas e neste mesmo ano foi

incorporada à companhia a mineradora de fundentes, Arcos/ MG e a mineração de

minério de ferro na Casa de Pedra/MG. (CARVALHO, 2008).

O período entre 1956/1961 compreende o governo de Juscelino Kubistchek.

Com seu plano de metas, Juscelino, em prol do desenvolvimento, realizou várias

tomadas de empréstimos de capital externo. Esse fato só fez agravar ainda mais a dívida

externa bem como a inflação no país (COSTA et al, 2013). Seu governo marcou

grandes expansões na CSN como também marcou o surgimento de outras indústrias. O

cenário de crises econômicas que assolavam o país bem como as políticas praticadas por

Quadros (1961) e Goulart (1961/1964) fomentou condições para o golpe militar

(MOREIRA, 2004).

Com o golpe militar (1964/1985), houve muitas transformações na

autonomia da CSN, esta agora passa ser alvo de medidas de intervenção estatal. A

posição do governo militar frente à crise instalada na siderurgia foi a de controlar os

custos, reduzir quadro de funcionários, alterações na forma de gestão e arrocho salarial

(MOREIRA, 2004). Nesse período boa parte do patrimônio da CSN foi vendido, como

terrenos e casas. A empresa passou a financiar além da compra das casas a compra de

materiais de construção, foi nessa época que a CSN transferiu à Prefeitura da Cidade de

Volta Redonda a responsabilidade sobre “seu” patrimônio público (COSTA et al, 2013).

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Esses fatos deram origem ao que Costa et al (2013) aponta como “desresponsabilização

social da CSN com o território da cidade de Volta Redonda”.

No início da década de 70 a crise mundial do petróleo pois fim a um período

de relevante crescimento econômico, chamado “milagre econômico”. Nesse contexto o

Brasil se viu na necessidade de repensar seu modo de governo, ou seja, o país começou

a entrar em processo de redemocratização, devido à situação econômica e política em

que se encontrava (COSTA, 2013).

Segundo Moreira (2004), as crises vividas na economia brasileira no

período de 1970 até o final dos anos 1980 somou com a crise específica da CSN. A

diminuição do crescimento da economia e a já instalada crise social agregou-se com a

expansão do movimento grevista, que acabaria culminando na greve de 1988.

Volta Redonda foi palco da histórica greve de 1988. Antes da posse de

Juarez Antunes, em 1983, a atuação do sindicato se restringia a assuntos burocráticos,

não havia atitudes do sindicato em prol da mobilização do operariado. Fato que deu

origem a um movimento livre do sindicato, que realmente tinha como objetivo lutar

pelo e com os operários da companhia (MOREIRA, 2004).

Conforme Moreira (2004), a primeira greve aconteceu em 1984 e foi um

ensaio para a que estaria por vir em 1988. Os trabalhadores reivindicavam na greve de

1984 a correção de salários, a perda de vantagens e a diferença exorbitante de salário

entre CSN e Cosipa1. Entre 84 e 88 houve muitas paralisações, mas nenhuma com a

relevância e proporção da ocorrida em 1988.

A greve de 88 se diferencia de todas as outras pela proporção da violência

que marcou o movimento desde seu início. O sindicato, além de enfrentar a empresa, e

os representantes do governo, também teve que enfrentar as tropas federais que estavam

ali para garantir a reintegração de posse pedida pela empresa na justiça. Entre as

reivindicações estava reajuste salarial e readmissão de funcionários demitidos por causa

da greve anterior (MOREIRA, 2004).

Moreira (2004) aponta que o embate travado culminou em três mortes e

deixou muitos feridos. No ano seguinte foi criado o “Memorial 9 de novembro” em

homenagem aos mortos na greve. A figura 3 mostra o monumento no dia de sua

inauguração, antes de sofrer o atentado à bomba.

1 A Companhia Siderúrgica Paulista – COSIPA foi fundada em 1953, porém só foi inaugurada em 1963

pelo então presidente João Goulart. Em 1966, transformou-se em uma usina siderúrgica integrada a

coque.

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20

Figura 3: Memorial 9 de novembro

Fonte: site da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Em 1980, com a crise instalada, o Estado brasileiro não conseguia mais

sustentar a função de propulsor do crescimento econômico, fato que acabou, mediante

pressão internacional, por fazê-lo reformular seu modo de gestão. As privatizações e o

ajuste fiscal foram às primeiras práticas visando colocar em prática o novo modelo de

gestão (COSTA et al, 2013).

Com o Programa Nacional de Desestatização (PND) adotado no governo de

Fernando Collor de Melo, foram iniciadas as privatizações. A CSN foi incluída

somente em 1992 ao programa e no ano seguinte foi concretizada a sua venda. Esse

enxugamento da máquina estatal refletiria, claro, em Volta Redonda, pois a companhia

na época era considerada por muitos como a “mãe da cidade”, agindo como provedora

de serviços que eram precários naquela localidade. Esse rompimento com a cidade

inaugurou um novo momento.

Hoje a Companhia atua em cinco segmentos, são eles: siderurgia,

mineração, logística, cimento e energia. As ações da empresa estão pautadas em sua

missão e valores. Machado (2009) diz que a junção de missão, visão e valor só é útil se

sua prática foi realmente efetiva. A missão de uma empresa deve poder responder ao

que a instituição se oferece a executar, e para quem. De acordo com seu relatório anual

a CSN possui como missão:

Destacar-se como um ícone de empreendedorismo e cidadania para o Brasil e

aumentar o valor da empresa para os acionistas de forma sustentável, por

meio do foco na indústria siderúrgica, mineração e infraestrutura que propicie

vantagem competitiva para o crescimento da empresa, oferecendo produtos e

serviços de qualidade, atuando de forma ética com empregados,

fornecedores, clientes e comunidades onde opera em harmonia com o meio

ambiente (RELATÓRIOS ANUAIS CSN 2008, 2009, 2010, 2011, 2012).

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Segundo Machado (2009), os valores de uma empresa são convicções,

crenças que norteiam o comportamento de todas as pessoas envolvidas no esforço da

busca pela concretização de seus objetivos e na prática de suas responsabilidades. O

quadro 4 mostra que valores orientam as ações da CSN. No que se refere à visão da

companhia, a partir da análise de seus relatórios anuais bem como pesquisa em seu site,

não se encontrou de forma explícita e clara sua visão como foi encontrado sua missão e

valores.

Quadro 4: Valores da CSN

Valores da CSN

• Pautamos nossas ações pela ética e pela transparência

• Incentivamos o respeito às pessoas e a confiança mútua

• Zelamos por um ambiente seguro e saudável

• Defendemos uma atuação social e ambiental responsável

• Valorizamos a gestão integrada e o trabalho em equipe

• Priorizamos o compromisso com os acionistas

• Buscamos a satisfação e o reconhecimento dos clientes

• Estimamos a parceria com os fornecedores

• Consideramos a cultura da CSN o alicerce de nossa atuação

Fonte: RELATÓRIOS ANUAIS DA CSN 2008, 2009, 2010, 2011, 2012.

De acordo com seus relatórios anuais a receita líquida da empresa é

crescente, exceto pelo ano de 2009, onde a crise econômica refletiu negativamente nos

ganhos da empresa. O quadro 5 e a figura 4 ilustram este cenário.

Quadro 5: Receita Líquida da CSN

Receita Líquida da CSN

Ano (R$ Bilhões)

2008 14

2009 10,98

2010 14,5

2011 16,5

2012 16,9 Fonte: Elaborado pela autora com base nos relatórios anuais – 2008 a 2012.

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Figura 4: Receita Líquida da CSN

Fonte: Elaborado pela autora com base nos relatórios anuais – 2008 a 2012.

3.2.2. Externalidades negativas causadas pela CSN

É sabido que as ações das pessoas tem a capacidade de atingir direta ou

indiretamente, positivamente ou negativamente a vida de outros indivíduos. Um

exemplo simples e notório que pode ser descrito aqui é o caso de pessoas fumantes que

fumam em locais inapropriados, que por sua vez afeta negativamente muitos não

fumantes. Uma organização também impacta outrem, porém nesse caso a abrangência

do dano é maior, pois afeta a comunidade local como um todo. Para Knight e Young

(2006):

As ações de alguns agentes interferem no bem-estar dos demais, sem que

haja a devida incorporação dos benefícios ou custos criados por parte dos

responsáveis por essas ações. No primeiro caso, a externalidade é dita

positiva e no segundo é negativa. (KNIGHT; YOUNG, 2006, p.3).

Vale ressaltar que em uma empresa siderúrgica a externalidade positiva

mais “visível” é a geração de emprego, numa perspectiva de que contribui para o

desenvolvimento do país; porém, se for analisado o âmago da indústria, impregnada por

práticas individualistas veremos que sua lógica é e sempre será aumentar seu lucro,

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

2008 2009 2010 2011 2012

(R$

Bil

es)

Receita Líquida da CSN

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23

buscando aumentar a produtividade da empresa. Esse aumento da produtividade esta

quase sempre relacionado ao uso de novas tecnologias em processos produtivos, o que

por sua vez contribui significativamente para o desemprego no país. A pergunta que se

deve fazer é até que ponto essa externalidade positiva específica atende os anseios da

sociedade? E até que ponto pode ser sustentado uma vez que visa mais e mais

produtividade?

No caso da CSN não poderia ser diferente. Desde sua privatização a

empresa busca sempre reduzir seu quadro de funcionários, o que acaba gerando mais

um impacto negativo na comunidade local. O quadro 6 evidencia alguns impactos

desfavoráveis à população de Volta Redonda.

Quadro 6: Impactos negativos da CSN no território de Volta Redonda

SÓCIOAMBIENTAIS

A privatização da CSN gerou um grande excedente de mão de obra (desemprego).

Poluição atmosférica e visual: a Usina está localizada no centro da cidade.

Aumento da temperatura no centro da cidade, onde está localizada a indústria,

causando pela elevada temperatura dos fornos da Usina.

Despejo de 540 mil toneladas de resíduos perigosos em aterro na entrada da cidade de

Volta Redonda, realizada nos anos setenta e oitenta. Resíduos descobertos somente em

2010 pelo Ministério Público.

Vazamento de material oleoso de material carboquímico e benzeno que atinge o Rio

Paraíba do Sul.

Emissão de poeira (pó de ferro) causada pela escória, que gera sérios problemas

respiratórios.

Grande emissão de gás carbônico na cidade, gerado pela Usina e pela grande

circulação de veículos.

Emissão de resíduos (chumbo e cádmio) no solo, que provoca toxidade à agricultura.

Forte odor: liberação de fumaça (gás sulfrídico e sulfeto de nitrogênio).

Propriedade de áreas/solos/espaços na cidade, que não são utilizados.

Ocupação do solo de maneira desorganizada.

Utilização excessiva de energia, principalmente de água.

Geração de altos riscos ocupacionais e de saúde nos trabalhadores, onde a maioria vive

em Volta Redonda.

Fonte: COSTA et al (2013).

Para Milanez (2008), o setor siderúrgico gera muitos impactos no território

onde se insere, bem como na saúde da população local. As atividades desenvolvidas em

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uma empresa siderúrgica pode ser considerada bastante poluente, sendo os principais

tipos de poluição: atmosférica, sonora, visual, hídrica, e do solo.

Segundo Milanez (2008), a emissão de poluentes como gás sulfídrico

(H2S), óxidos de enxofre (SOx), dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), etano

(C2H6), óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO), diferentes

hidrocarbonetos orgânicos (principalmente o benzeno) e material particulado (poeira,

fuligem, finos de minério, entre outros) é característico do processo de produção do aço

realizado em indústrias siderúrgicas, contribuindo para a poluição atmosférica, e

consequentemente doenças respiratórias. A figura 5 revela alguns poluentes advindos do

processo de fabricação do aço. Já o quadro 7 mostra os efeitos da poluição do ar na

saúde humana.

Figura 5: Poluentes advindos do processo de fabricação do aço

Fonte: BONEZZI et al (2004) adaptada de SAMPAIO (1999).

Quadro 7: Efeitos da poluição do ar na saúde humana.

Monóxido de Carbono (CO)

A exposição ao CO resulta numa redução

do suprimento do oxigênio para os tecidos

do corpo devido a menor quantidade de

oxigênio transportado dos pulmões para

os tecidos. Os danos são causados pela

intoxicação por CO devido à diminuição

da liberação de oxigênio para os tecidos e

células. Assim, o cérebro e outras partes

do sistema nervoso são afetados

rapidamente pela intoxicação por CO.

Atua no sangue reduzindo a sua

oxigenação.

Dióxido de Carbono (CO2)

A exposição ao CO2 torna a respiração

rápida e profunda, transpiração e dor de

cabeça. Pode ocasionar perda de

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consciência ou até mesmo morte.

Ozônio (O3)

A exposição ao O3 danifica os tecidos

pulmonares diminuindo a resistência às

doenças infecciosas. Estima-se que a

exposição crônica a altos níveis de Ozônio

pode levar ao envelhecimento prematuro

dos tecidos pulmonares. Provoca irritação

nos olhos e nas vias respiratórias e

diminuição da capacidade pulmonar.

Associam-se exposições ao O3 com o

aumento de admissões hospitalares.

Óxidos de Nitrogênio (NOx)

NO2 é um intenso irritante dos brônquios

e alvéolos. Podem aparecer conjuntivites,

tosse, asma e bronquite. Dependendo do

nível de exposição pode resultar em

edema pulmonar e morte prematura. É o

responsável pela formação do “smog”

fotoquímico.

Óxidos de Enxofre (SOx)

Em altas concentrações causa inflamações

graves nas mucosas e das vias

respiratórias, podendo ser fatal em alguns

casos. Especula-se que a exposição ao

SO2 diminua a resistência ao câncer.

Material Particulado (MP)

As partículas grossas são filtradas pelo

organismo e não chegam a atingir o

pulmão. As partículas Inaláveis, pelo

contrário, chegam até os pulmões e podem

ser absorvidas na superfície das células

agravando os quadros alérgicos e de

bronquite. Geram mal-estar, asma,

irritação nos olhos, pele, dor de cabeça e

câncer pulmonar

Compostos Orgânicos Voláteis (COVs)

Provocam irritação nos olhos, nariz, pele e

aparelho respiratório. Alguns desses

compostos podem provocar danos

celulares, sendo alguns cancerígenos.

Dentre os mais críticos estão o Benzeno e

alguns aldeídos Fonte: Knight e Young (2006).

Percebe-se a partir da análise do quadro 7 que os poluentes que mais afetam

a saúde, e que são advindos do processo siderúrgico, são: Óxidos de Enxofre (SOx),

Óxidos de Nitrogênio (NOx), Monóxido de Carbono (CO), Ozônio (O3), Material

Particulado (MP), Dióxido de Carbono (CO2), Metano (CH4) e os hidrocarbonetos

orgânicos (KNIGHT e YOUNG, 2006). Nota-se que o setor siderúrgico é bastante

nocivo à saúde da população, logo uma das maiores siderúrgicas do Brasil, a CSN não

podia ficar de fora dessa questão, pois gera externalidades negativas para a comunidade

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26

local. Sabe-se que a empresa impacta de diversas formas a população, porém esse

trabalho concentra seu olhar na poluição atmosférica gerada por ela.

Segundo Peiter e Tobar (1998) “a cidade vem enfrentando, desde sua

fundação, inúmeros problemas ambientais decorrentes de seu grande polo siderúrgico,

liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional – CSN”. Os autores apontam alguns

desses problemas, são eles: poluição do ar por gases e partículas emitidas no processo

produtivo da empresa, a poluição das águas originada do não tratamento dos efluentes,

como também aquela que advém dos esgotos domiciliares despejados no rio Paraíba do

Sul, e por último a contaminação ambiental advinda da disposição incorreta dos

resíduos sólidos, tanto do lixo industrial quanto do domiciliar. Para Peiter e Tobar

(1998) esses problemas afetam de maneira desigual o espaço da cidade de Volta

Redonda, ocasionando áreas críticas com diferentes intensidades.

Percebe-se que há uma relação entre a segregação espacial originada no

início da construção da CSN com os lugares mais poluídos do município de Volta

Redonda. Segundo Moreira (2004) os bairros construídos para os funcionários

reproduziam a hierarquização existente na fábrica. Sobre esse fato, Peiter e Tobar

(1998) afirmam que a população de baixa renda foi, no que se refere à ocupação do

território da cidade, prejudicada em dobro, cenário este que “seguramente se reflete na

sua situação de saúde”. Na cidade a população de baixa renda se localiza em diferentes

espaços, sendo estes a “periferia recém-formada” (formada por bairros do extremo leste

e extremo norte do município) e a “periferia antiga” (formada por bairros do noroeste)

(PEITER e TOBAR, 1998).

Na periferia recente os impactos da poluição atmosférica são menos

sentidos em razão da maior distância da principal fonte emissora. Já na periferia antiga

(Retiro, Belo Horizonte, Vila Brasília e Açude) o cenário é outro, a população esta mais

vulnerável aos efeitos da poluição atmosférica, e o que a torna mais vulnerável é a

proximidade com a Companhia Siderúrgica Nacional, bem como sua posição não

favorável com relação à dispersão de poluentes (PEITER e TOBAR, 1998). A figura 6

ilustra esse cenário.

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27

Figura 6: Dispersão de poluentes em Volta Redonda

Fonte: PEITER e TOBAR, 1998.

A partir de 1984 em Volta Redonda, foi verificado um aumento de pessoas

com os mesmos sintomas: naúseas, vômitos, fraquezas e cânceres. Foi identificado que

se tratava de uma “doença” chamada Leucopenia, que é a diminuição na quantidade de

leucócitos circulantes no sangue, essa diminuição coloca a pessoa sob risco mais

elevado a doenças infecciosas. A doença é o primeiro estágio da contaminação por

benzeno, gás produzido no processo de queima de coque, e é em sua maioria

irreversível, podendo avançar para a leucemia (AARÃO, 2010). A CSN tudo fazia para

negar sua participação nesse cenário, como faz até hoje, não só com a leucopenia mais

com outras doenças associadas aos poluentes produzidos por ela.

Conforme entrevista realizada no Instituto Estadual do Ambiente - INEA de

Volta Redonda, percebe-se hoje, que mesmo com os investimentos da CSN para

controlar a emissão de poluentes, ainda sim ela gera poluentes atmosféricos prejudiciais

à saúde do ser humano. As “práticas ruins” na área do meio ambiente têm ligação direta

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28

com as externalidades negativas na saúde, pois tudo começa no ambiente, ou seja, a

forma como ele é tratado influenciará na qualidade de vida da população.

4. RESPONSABILIDADE SOCIAL

A Responsabilidade Social Empresarial – RSE não é uma prática tão recente

como muitos pensam, é tão antiga como o empreendimento empresarial (SMITH e

WARD, s/d). Para Carvalho (2008) a RSE seria um caminho para melhorar a condição

em que a sociedade contemporânea se encontra, já que esta possui em seu âmago

desigualdades tanto econômicas e sociais como também ambientais que só tendem a

crescer cada vez mais, colocando muitas pessoas em situações degradantes.

Hoje, com a globalização, há o surgimento de várias tecnologias e avanços

nos meios de comunicação, logo as empresas passaram a ter mais cuidado com a

imagem que transmitem ao público (sociedade, clientes, funcionários), pois seus atos

passaram a ser mais divulgados, publicados, e, logo, mais sujeito ao controle da

comunidade. Nesse contexto, passou-se a discutir temas como responsabilidade social e

ambiental, bem como buscar inseri-los na gestão das empresas (COSTA, 2006). É

relevante pontuar que a RSE ainda está em fase de amadurecimento em muitos países,

inclusive no Brasil (MARSON e AMARAL, 2012).

A perspectiva adotada neste trabalho é a de que a empresa é uma instituição

social, que cria espaços para além do econômico, gerando regras e valores que

transcende a empresa (COSTA, 2006). Para Kirschner (1998 apud COSTA, 2006) a

empresa pode ser vista como uma microsociedade, logo o relacionamento dela para com

a sociedade não deve se resumir somente às questões meramente econômicas.

Corroborando a ideia de que a empresa é uma microsociedade, Philippe

Bernoux (1995) e Sansaulieu (1997), citados por Costa (2006), estudaram a empresa

como objeto sociológico. A partir da ideia desses autores é possível ver a empresa como

um fato social, ultrapassando assim a ideia de lugar central do capitalismo, e vendo-a

como uma microssociedade, onde possui autonomia e capacidade de influenciar as

estruturas sociais e políticas. Devemos ver a empresa não como parte isolada, mas como

parte constitutiva do território, pois ela produz relações sociais (CAPPELLIN;

GIULIANI, 2002 apud COSTA, 2006).

Segundo Tenório (2004) a atuação social das empresas surgiu no início do

século XX, com as práticas de filantropia. Costa (2006) diz que nessa época a atuação

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29

das empresas em ações de cunho social não era encorajada, limitando apenas ao

filantropismo, que são ações onde predomina a caridade e assistência.

Hoje a Responsabilidade Social Empresarial diferencia-se da filantropia,

pois a última limita-se à doação de recursos à comunidade, ou seja, à caridade, enquanto

a RSE compartilha projetos com as partes interessadas da empresa e da sociedade. A

RSE é uma estratégia da empresa, ela faz parte de seu gerenciamento, para desenvolver

projetos, implementá-los e controlá-los (COSTA, 2006).

Conforme Mendonça (s/d), a responsabilidade social faz parte da gestão

estratégica da empresa, e busca atingir uma gama maior de stakeholders2, já a

filantropia da ênfase principalmente às ações sociais praticadas externamente pela

empresa. Logo, as organizações, segundo o conceito atual de RSE, devem identificar as

demandas dos agentes com os quais estabelece relações e buscar inseri-las nos seus

negócios.

A empresa deve responder socialmente, ambientalmente, politicamente à

sociedade, uma vez que está inserida nela. Uma organização é parte constitutiva do

território de uma sociedade, sendo esse o espaço onde diversos agentes exercem poder.

A corporação, ao passo que se insere no território de uma da sociedade civil, deve

responder a possíveis externalidades que possam trazer algum prejuízo para o território.

Cada agente da sociedade (governo, sociedade e empresa) é responsável pelo território

onde se insere; a sociedade é responsável, no que concerne a seus atos, pela conservação

do espaço; o governo é responsável pelo todo da sociedade, formulando e fiscalizando

políticas públicas visando o Welfare State, já a empresa é responsável pelos danos por

ela causados no território (COSTA, 2006). Para Reilly (1999) a ideia de

responsabilidade compartilhada pode ser visualizada no âmago da reforma do Estado.

A figura 7 demonstra essa relação.

2 Stakeholders diz respeito a todas as partes interessadas, todos os agentes envolvidos direta ou

indiretamente com a empresa.

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30

Figura 7: Responsabilidade Compartilhada

Elaborado pela autora

Mesmo com a ideia de que a empresa faz parte da comunidade, no Brasil

ainda pode ser notada uma relutância por parte de tais organizações em se envolver em

questões sociais, pois consideram ser somente obrigação do Estado lidar com problemas

sociais, ou seja, não enxergam que essa responsabilidade deve ser compartilhada e não

subtraída (CARVALHO, 2008).

Para Carvalho (2008) a RSE é consequência da modificação da postura das

empresas mediante aos problemas sociais que crescem com o passar do tempo. Esse

despertar para a mudança ocorreu após a Segunda Guerra Mundial (COSTA, 2006).

A responsabilidade social é vista por muitos como uma estratégia que tem

por objetivo minimizar os problemas sociais ao mesmo tempo em que a empresa

promove sua imagem mediante a sociedade (CARVALHO, 2008). Para Smith e Ward

(s/d), em um contexto geral, a responsabilidade social empresarial pode estar associada

ao desenvolvimento de uma sociedade mais justa e desenvolvida.

Costa (2006) diz que a responsabilidade social empresarial se refere às

obrigações das organizações com a sociedade, sendo que pode haver diferenças entre

essas obrigações de acordo com cada empresa. Corroborando a autora, Borger (2001,

apud CARVALHO, 2008) diz que:

As questões éticas e sociais são complexas e voláteis, sendo extremamente

difícil definir o que é um comportamento socialmente responsável, com uma

percepção clara do que é certo ou errado, preto ou branco; as decisões são

dicotômicas. Depende do momento histórico, varia de cultura para cultura,

constituindo-se num desafio para gestão empresarial e determina a busca de

modelos teóricos para se engajar na responsabilidade social. Algumas

perguntas são levantadas: As empresas devem ser responsáveis pelo quê?

Mercado Sociedade

Estado

Page 41: 2013-Administração-Jéssica Guerra.pdf

31

Quanto é o suficiente? E quem decide? Não há respostas para essas

perguntas, não podemos apertar os botões automáticos e detonar um processo

de reconstrução moral e social para resolvemos os problemas sócio-

ambientais que as empresas e a sociedade enfrentam; não existe um modelo

que sirva para todos.

A norma ISO 26000:2010 diz ser duas as ações essenciais na área de

responsabilidade social, são elas: “o reconhecimento pela organização de sua

responsabilidade social e a identificação e o engajamento pela organização com suas

partes interessadas” (ABNT NBR 26000, 2010). A empresa deve identificar os

possíveis problemas advindos de suas atividades produtivas bem como verificar a

melhor forma de atuar neles, não deixando de envolver e escutar todos seus

stakeholders.

As normas servem para que a empresa oriente seu comportamento em

princípios morais aceitos. A ISO 26000:2010 diz que a RS deve atender a sete

princípios, são eles: i) Accountability, ou seja, que a empresa faça prestação de contas e

se responsabilize por algum impacto oriundos de seu processo; ii) Transparência, a

empresa deve ser transparente em suas decisões, uma vez que estas impactam tanto a

sociedade como o ambiente; iii) Comportamento ético, a organização deve se comportar

eticamente; iv) Respeito pelos interesses das partes envolvidas, a empresa deve tanto

respeitar, considerar como responder aos interesses de seus stakeholders; v) Respeito

pelo estado de direito; vi) Respeito pelas normas internacionais de comportamento; e

vii) Respeito pelos direitos humanos, uma empresa deve respeitar e reconhecer os

direitos humanos (ABNT NBR 26000, 2010).

O sociólogo Herbert de Souza, citado por Costa (2006), afirmou no artigo

do livro: O empresário e o espelho da sociedade (1994) que:

Toda grande empresa é, por definição, social. Ou é social ou é absolutamente

anti-social e, portanto, algo a ser extirpado da sociedade. Uma empresa que

não leve em conta as necessidades do país, que não leve em conta a crise

econômica, que seja absolutamente indiferente à miséria e ao meio ambiente,

não é uma empresa, é um tipo de câncer (SOUZA, 1994, p. 22 apud COSTA,

2006).

Para Kreitlon (2004) existe um entendimento consensual nos dias de hoje

que uma organização responsável socialmente deve possuir três atributos essenciais, são

eles:

a) reconhecer o impacto que causam suas atividades sobre a sociedade na

qual está inserida; b) gerenciar os impactos econômicos, sociais e ambientais

de suas operações, tanto a nível local como global; c) realizar esses

Page 42: 2013-Administração-Jéssica Guerra.pdf

32

propósitos através do diálogo permanente com suas partes interessadas, às

vezes através de parcerias com outros grupos e organizações.

Conforme Marson e Amaral (2012), os anos 70 e 80 foram marcados pelo

surgimento de movimentos em prol da RS, por exemplo, a Fundação Instituto de

Desenvolvimento Empresarial e Social – FIDES e a criação do Instituto Brasileiro de

Análises Sociais e Econômicas – IBASE, que possui como objetivo a “radicalização da

democracia e a afirmação de uma cidadania ativa” (IBASE, disponível em:

<http://www.ibase.br/pt/quem-somos/>, acessado em outubro de 2013). Em 1997 o

sociólogo Herbert de Souza lançou um modelo de balanço social, criando também junto

à Gazeta Mercantil o selo do Balanço Social, visando incentivar as empresas a tornarem

públicas suas ações sociais.

Segundo Souza (2004), citado por Marson e Amaral (2012), o Balanço

Social serve para mostrar o que a organização vem desenvolvendo no que se refere à

questão social, tanto qualitativamente quanto quantitativamente, sua realização reforça a

ideia de uma sociedade mais democrática. Para o sociólogo são vários os pontos que

podem ser verificados, como: saúde, educação, meio ambiente, melhoria tanto na

qualidade de vida de todos quanto na melhoria do trabalho de seus empregados, além de

apoio a projetos comunitários visando à diminuição da pobreza, geração de novos

postos de trabalho e geração de renda.

Conforme Costa (2006), o balanço social visa demonstrar o nível de

compromisso da empresa para com a sociedade, os empregados e o meio ambiente. É

uma forma da sociedade avaliar o gerenciamento da empresa em questões sociais a

partir de resultados disponibilizados em seu balanço social.

Para Siqueira et al (2007), citados por Costa et al (2013), no balanço social

não deve constar apenas os resultados positivos da organização, mas também os danos

que o processo da atividade cause no território, como: emissão de poluentes e a

consequente poluição do ar. Conforme os autores o documento deve ir além do interesse

da empresa em propagar uma imagem positiva e isenta de malefícios, deve acoplar

todos os efeitos, tanto os positivos como os negativos.

Os movimentos em prol da RSE foram sem dúvida relevante para a

propagação da ideia, inclusive no Brasil, mas foi em 1998 com a formação do Instituto

Ethos de Empresas e Responsabilidade Social que as questões referentes à RSE se

tornaram mais divulgadas (MARSON e AMARAL, 2012). É por meio de publicações,

programas e eventos voltados para esse tema e apresentados às pessoas envolvidas que a

Page 43: 2013-Administração-Jéssica Guerra.pdf

33

organização cumpre seu papel de “espalhar” a ideia de RSE (FÁVERO e CASTILHO,

s/d).

O Instituto vê como característica essencial da RSE relações pautadas em

princípios morais visando o desenvolvimento de todos os atores envolvidos. Para o

Instituto Ethos, a responsabilidade social é uma maneira de coordenar os trabalhos da

empresa, tornando-a mais próxima e corresponsável pelo aprimoramento social. A

organização deve estar aberta a ouvir os interesses de seus stakeholders, buscando

inseri-los em seu planejamento organizacional, sendo assim, deve procurar satisfazer

não somente a demanda vinda dos acionistas, mais sim de todos os envolvidos

(QUINTELLA et al, 2004).

Fávero e Castilho (s/d) apontam que o Instituto Ethos de Empresas e

Responsabilidade Social tem como escopo auxiliar as empresas a serem mais

responsáveis socialmente. Através dele as empresas podem conseguir certificados

dizendo que as mesmas possuem um compromisso com o referido tema. É interessante

e relevante citar aqui que a organização desenvolveu indicadores para avaliar em qual

estágio as ações voltadas para RSE se encontram, são os Indicadores Ethos. Em

pesquisa no site do Instituto Ethos é possível encontrar qual finalidade dos indicadores:

Os Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis têm como

foco avaliar o quanto a sustentabilidade e a responsabilidade social têm sido

incorporadas nos negócios, auxiliando a definição de estratégias, políticas e

processosm(ETHOS,mdisponívelmem:m<http://www3.ethos.org.br/conteudo

/iniciativas/indicadores/#.UqZhbvRDtTI>, acessado em outubro de 2013).

As certificações surgem nesse contexto como forma das empresas obterem o

reconhecimento de que são responsáveis socialmente, e que cumprem as normas de

RSE. Essas certificações são expedidas por institutos e fundações (FÁVERO E

CASTILHO, s/d). Para Gruninger e Oliveira (2002), as certificações são diferentes das

normas, pois a primeira tem como finalidade afirmar se a empresa está ou não em

conformidade com padrões aceitos (norma).

Para Barbieri & Cajazeiras (2005), citados por Melo e Gomes (2006), a

normalização trás vantagens como: a melhor comunicação, simplificação, adoção de

símbolos e códigos que facilitam a relação da empresa para com o “resto” do mundo.

Melo e Gomes (2006) dizem que essa normalização da RSE tem por finalidade

padronizar práticas, conceitos, definições nas organizações, e ela é um sinal de que

responsabilidade social possui reconhecimento mediante as sociedades contemporâneas.

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34

Conforme o documento de referência disponibilizado pela ABRH/RJ –

Associação Brasileira de Recursos Humanos, Diretoria de Responsabilidade Social, as

organizações podem ter benefícios com relação à aquisição de certificações,

primeiramente por terem suas ações reconhecidas pelo mercado, principalmente

internacional, que é o caso de empresas brasileiras, o que melhora sua imagem no meio

competitivo, fator essencial para se manterem no mercado.

Algumas certificações e selos merecem destaque na área de

responsabilidade social e ambiental, são eles: o selo Balanço Social/Betinho, para

empresas que elaboraram seu balanço social conforme o modelo sugerido pelo IBASE;

selo Empresa Amiga da Criança, para empresas que não utilizam trabalho infantil e

visam à melhoria das condições de vida das crianças e adolescentes, criado pela

Fundação Abrinq; a ISO 14.000/NBR 14.001, essa norma trata das ações ambientais

realizadas pelas organizações, e emite certificação caso esteja em conformidade, foi

criada pela International Organization for Standardization (ISO); outra certificação

importante foi criada pelo Institute of Social and Ethical Accountability, é a AA1000

que tem um caráter social, trata sobre a relação entre organização e seus stakeholders; a

SA8000 é uma das normas mais conhecidas e que apresenta maior adesão internacional,

trata das relações trabalhistas, foi criada pelo Council on Economic Priorities

Accreditation Agency (CEPAA); a ABNT/NBR 16001, é uma norma certificadora que

objetiva auxiliar às organizações para que o sistema da gestão da responsabilidade

social seja eficaz; por último, mas não menos importante esta a ISO 26.000:2010,

diferente das demais citadas acima essa norma, não é certificadora, fornece diretrizes na

área de responsabilidade social, a fim de auxiliar as empresas a contribuírem para o

desenvolvimento.sustentávelm(Disponívelmem:m<www.abrhrj.org.br/typo/fileadmin/u

ser_upload/REFTEMA/Social.pdf>, acessado em outubro de 2013).

É relevante dizer que o grupo responsável pela preparação da ISO

26000:2010, foi conduzido pelo Instituto Sueco de Normalização (SIS - Swedish

Standards Institute) em conjunto com a Associação Brasileira de Normas Técnicas

(ABNT). Fato histórico para o Brasil na área de RS, pois junto da Suécia liderou de

forma compartilhada o grupo responsável pela norma internacional de Responsabilidade

Social, que estabelece formas para a empresa implementar a Responsabilidade Social

em seu negócio (MELO E GOMES, 2006).

Conforme Oliveira et al (2008), a ISO tem como finalidade elaborar e

divulgar padrões mundiais, visando auxiliar as relações comerciais internacionais. A

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diversidade das normas se dá devido ao fato da ISO buscar se manter atualizada, fato

este que justifica algumas semelhanças entre as normas.

De acordo com a ISO 26000:2010 a responsabilidade social é a

responsabilidade que uma empresa possui pelos impactos gerados por suas atividades e

decisões na comunidade e no ambiente, que através de um comportamento transparente

e ético possa contribuir para o desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento

sustentável é a capacidade de “satisfazer as necessidades do presente dentro dos limites

ecológicos do planeta sem comprometer a capacidade das futuras gerações de suprir

suas próprias necessidades” (ABNT NBR 26000:2010). A RSE está profundamente

conectada ao desenvolvimento sustentável, pois ela trata não somente das

responsabilidades da empresa para com a comunidade local, mas também para com o

meio ambiente.

Furtado (2003), citado por Quintella et al (2004), revela que pela

complexidade que existe em desagregar o social do meio ambiente o autor chama não só

de responsabilidade social, mas de responsabilidade socioambiental.

Borger (2001), citada por Quintella et al (2004), expressa que a definição de

RSE é abrangente, ou seja, engloba não só os acionistas como também a sociedade

local e o ambiente, uma vez que todas as decisões e atividades da empresa geram uma

consequência.

Percebe-se que as empresas estão cada vez mais buscando adotar um

comportamento mais consciente em relação ao meio ambiente e com a sociedade onde

está inserida, seja por querer melhorar sua imagem ou por realmente notarem ser

relevante tratar desses assuntos a fim de zelar por sua sobrevivência no mercado

(COSTA, 2006). O que é mais corriqueiro é a empresa que através da criação de sua

própria fundação, instituição busca reforçar sua marca. A maioria das empresas, quando

montam seu próprio “braço social”, foge de projetos que envolvam problemas sociais, a

organização não quer ter associada à sua marca, à sua imagem, problemas reais e que

muitas vezes podem ser causadas pela atividade produtiva da empresa. Problemas como

hanseníase, prostituição infantil, abuso sexual, deficiência mental, autismo, Aids,

discriminação racial, velhice, doenças terminais como câncer, dependência química,

violência infantil geralmente não são apoiados pelas empresas, pois são considerados

“mercadologicamente incorretos”, conforme diz Melo Neto e Fróes (2001, p.38), citado

por Carvalho (2008):

Page 46: 2013-Administração-Jéssica Guerra.pdf

36

Melhora a imagem institucional da empresa, o que se traduz na melhoria de

sua reputação. Portanto, quando as empresas decidem por um projeto próprio,

muitas preferem não apoiar causas como hanseníase, prostituição infantil,

abuso sexual, velhice, cegueira, porque são considerados

mercadologicamente incorretos (CARVALHO, p. 35, 2008).

Nota-se que as empresas preferem associar sua marca a projetos que

envolvam educação, geração de renda, esporte, lazer, ecologia, sendo preferência atuar

com o público infantil, pois esses projetos não causam “problemas” à empresa, o que foi

constatado também na empresa que é objeto de estudo desse trabalho, a CSN. A

responsabilidade social das empresas deveria contribuir para o desenvolvimento do país,

mas o que se nota é a relutância em assumir problemas reais da sociedade, tudo para que

a sua imagem não seja afetada, pois mais vale para a empresa estampar imagens de

pessoas felizes em seus projetos do que “sujá-lo” com imagens chocantes da realidade

(CARVALHO, 2008). A figura 8 mostra que há um direcionamento quase que uniforme

nas práticas de responsabilidade social das empresas brasileiras para algumas áreas.

As empresas devem demonstrar respeito aos direitos humanos, logo, não

violá-lo. A saúde é um direito humano incontestável e merece atenção especial, pois

uma vez ameaçada pode inibir o desenvolvimento da comunidade. Devido a esse fato, a

cooperação tanto da sociedade, Estado e empresas deve existir em prol de contribuir

significativamente para a saúde da população. Mesmo que seja responsabilidade

essencial do Estado assegurar que esse direito seja respeitado, a empresa deve

considerar as externalidades negativas que advém de seu processo produtivo e estar

aberta a colaborar para que esse direito seja garantido e não corrompido.

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Figura 8: A Gestão da Responsabilidade Social Empresarial nas Empresas Brasileiras Fonte: Adaptado de

Melo Neto e Fróes (2001, p.190) apud Carvalho, 2008.

Para Carvalho (2008), os impactos causados tanto no presente quanto no

passado devem ser alvo de medidas a fim de mitigar ou acabar com o dano, a empresa

deve ser responsável pelo território onde está praticando sua atividade produtiva.

Segundo Marson e Amaral (2012), a RSE deve representar uma

transformação no comportamento da empresa, visando melhoria para todos os

stakeholders. As práticas de responsabilidade social empresarial devem ir além do que é

legal, filantrópico ou caridade. Fávero e Castilho (s/d) corroboram a ideia de que a RSE

é aquilo que a organização faz além do que é obrigatório em lei, e quando isso acontece

a empresa soma mais valores à sua marca, fazendo com que ganhe ou permaneça no

mercado.

Conforme Fávero e Castilho (2008), o que antes era entendido como custo

com gestão ambiental, hoje é lançado um novo olhar sob esse prisma, o de que o

investimento na área ambiental sem dúvida reflete em oportunidades para a empresa,

principalmente no mercado internacional.

As empresas estão adotando uma postura diferente quando o assunto é meio

ambiente, pois a degradação do mesmo causa impacto tanto para a empresa quanto para

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38

a sociedade, a diferença é que uma ganha em cima da outra, devendo a primeira ser

socialmente responsável a fim de mitigar seu real impacto no território onde pratica suas

atividades produtivas. Várias são as empresas que estão se “renovando” com relação à

responsabilidade tanto com o ambiente como com a sociedade, cabe ao setor siderúrgico

notoriedade devido a seu elevado impacto ambiental, o objeto de estudo do presente

trabalho faz parte desse ramo produtivo, é a Companhia Siderúrgica Nacional.

4.1. Responsabilidade Social da CSN

Antes de 1990 as ações na área social realizadas pelas organizações eram

voltadas mais para o trabalhador, e na CSN não foi diferente. A partir dessa década esse

cenário começa a ser transformado pelo “furacão” das privatizações, quando as

empresas passaram a focalizar como beneficiários adotantes de seus projetos pessoas

com baixa renda (COSTA, 2006).

A Companhia Siderúrgica Nacional já desenvolvia ações sociais antes de ser

privatizada. A empresa passou a desenvolver seus projetos através da Fundação General

Edmundo de Macedo Soares e Silva – FUGEMSS, criada em 1961 em Congonhas/MG,

seu objetivo era unicamente promover o ensino técnico na localidade. Na década de 90

a Fundação foi transferida para o município de Volta Redonda/RJ, com objetivos

diferenciados ela passou a atuar não somente no ensino técnico, mas também nas áreas

da saúde, cultura, lazer e esporte (FUNDAÇÃO CSN, Disponível em:

http://historiasqueficam.com.br/fundacao-csn/, acessado em junho de 2013).

Em 1998, após a privatização da CSN, a FUGEMSS teve seu nome

modificado para Fundação CSN para o Desenvolvimento Social e a Construção da

Cidadaniam(FUNDAÇÃOmCSN,mDisponívelmem:mhttp://historiasqueficam.com.br/f

undacao-csn/, acessado em junho de 2013). Fica evidente que essa alteração teve como

finalidade reforçar o nome da empresa junto aos projetos desenvolvidos por ela.

A responsabilidade social da CSN hoje se limita a projetos desenvolvidos

pela Fundação CSN (CARVALHO, 2008).

5. FUNDAÇÃO CSN

A Fundação CSN é uma entidade de direito privado sem fins lucrativos, é

considerada o “braço social” da empresa, tem como finalidade realizar ações sociais

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voltadas para sociedade local que é atingida pelas suas atividades produtivas (COSTA,

2006). De acordo com seu site, a Fundação é o elo social da CSN, onde atua nas áreas

de educação, cultura, esporte e como agente de transformação social, tendo como maior

objetivo “oferecer oportunidades para o desenvolvimento da cidadania” (FUNDAÇÃO

CSN, Disponível em: http://historiasqueficam.com.br/fundacao-csn/, acessado em junho

de 2013).

A CSN bem como outras organizações divulga suas ações sociais para todos

os seus stakeholders através da elaboração e publicação de relatórios anuais (COSTA,

2006).

A Fundação possui em Volta Redonda/RJ a Escola Técnica Pandiá

Calógeras – ETPC e em Congonhas/ MG o Centro de Educação Tecnológica General

Edmundo de Macedo Soares Silva – CET, ambas com o intuito de preparar os jovens

para o mercado de trabalho. A ETPC em 2010 ofereceu 407 bolsas, e teve um total de

1.073 de alunos matriculados, já em 2012 dos 1.667 matriculados, 456 receberam bolsas

(parciais ou integrais).

A cidade também dispõe do Hotel-Escola Bela Vista, que tem como

objetivo capacitar jovens em situação de vulnerabilidades social, entre 18 a 25 anos em

serviços de hotelaria, sendo o curso com duração de seis meses. Os jovens são

selecionados a cada semestre para preencher as 80 vagas disponibilizadas pelo projeto,

através da parceria com os Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) das

prefeituras da Região do Sul Fluminense.

Serão analisados aqui somente os projetos que envolvem a Fundação CSN

da cidade de Volta Redonda, a fim de que se possa mensurar o que é realizado no

município, como demonstra o quadro 8.

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Quadro 8: Projetos desenvolvidos na Fundação CSN em Volta Redonda

Projetos desenvolvidos na Fundação CSN em Volta

Redonda

Ano Projetos

2008

Projeto Garoto Cidadão

Um Caminhão Para Ziraldo – Ziraldo de A a Z

Projeto Galeria de Arte

Projeto "terça cultural"

Orquestra Experimental da Fundação CSN

Projeto Fonoteca

Núcleo de Badminton

Núcleo Viva

Projeto Oficinas comunitárias

2010

Projeto Garoto Cidadão

Um Caminhão para Jorge Amado

Projeto Galeria de Arte

Orquestra Sinfônica Jovem da Fundação CSN

Orquestra de Tambores de Aço

Projeto Oficinas culturais

Programa Esportivo Social (PES)

Projeto Fonoteca

2011

Programa Esportivo Social (PES)

Projeto Garoto Cidadão

Um Caminhão para Jorge Amado

Projeto Galeria de Arte

2012 Projeto Garoto Cidadão

Um Caminhão para Jorge Amado Fonte: Elaborado pela autora com base nos relatórios anuais – 2008 a 2012.

*Não há relato de projetos sociais no relatório anual de 2009.

Conforme os relatórios publicados pela CSN, o quadro 8 relaciona os

projetos desenvolvidos no município de Volta Redonda pela Fundação CSN. Percebe-se

que o projeto Garoto Cidadão possui continuidade ao longo do tempo. Ele foi criado em

1999 com o objetivo de incentivar o aperfeiçoamento tanto social como educacional e

emocional de seu público-alvo, que são crianças e adolescentes matriculados na rede

pública de ensino, com faixa etária entre 6 e 16 anos, em condição de risco social,

visando colaborar para a formação cidadã do indivíduo, através de atividades culturais.

Page 51: 2013-Administração-Jéssica Guerra.pdf

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Este projeto acontece com o apoio do Ministério da Cultura, através da lei

de incentivo à cultura, conhecida como Lei Rouanet, que regulamenta a política de

incentivos fiscais na área da cultura, e com apoio do Fundo municipal dos direitos da

Criança e do Adolescente, além das parcerias com governos locais.

A partir da análise realizada nos relatórios anuais da empresa (2008 a 2012)

o custo per capita mensal do referido projeto caiu de R$ 221,47 no ano de 2007 para R$

172,78 em 2008, chegando a R$ 136,10 no ano de 2010. Fica evidente que a empresa

procura reduzir o custo per capita mensal do projeto, apesar da mesma afirmar nos

relatórios que não há comprometimento da qualidade. Com relação ao número de

atendidos, no relatório de 2008 diz ter crescido o número de beneficiários para 845,

porém no relatório de 2012 diz que em 2008 foram 638 atendidos pelo projeto,

revelando uma contradição com respeito ao número de beneficiários.

É válido destacar que não é discriminado nos relatórios quanto cada cidade

que possui o projeto Garoto cidadão possui de beneficiários, bem como não é

discriminado quanto cada uma recebeu de investimento do total despendido em cada

ano para a área de Responsabilidade Social, o que dificulta saber se a quota parte

recebida em cada cidade é plausível ao impacto causado no respectivo território.

De acordo com a ISO 26000:2010 os informes sobre as práticas de

responsabilidade social devem ser: completos; compreensíveis; responsivos; exatos;

equilibrados; tempestivos e acessíveis. As informações devem versar sobre todas as

práticas e impactos associados a RS, o material divulgado bem como a linguagem

utilizada devem estar de acordo com o conhecimento de todos os stakeholders, as

informações devem também estar corretas, atualizadas e acessíveis a todos. É relevante

que as empresas não deixem de abordar além das informações positivas as negativas

também, como por exemplo, os danos causados pela atividade da empresa.

Em seus relatórios fica evidente que a empresa procura sempre diminuir os

custos em projetos e aumentar o número de beneficiários com o discurso que a

qualidade não sofrerá com tal atitude, porém é preciso refletir até que ponto o “menos é

mais” na área social. Nota-se que a procura em diminuir custos não se limita a um

projeto mais sim ao investimento como um todo, como mostra o quadro 9.

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Quadro 9: Investimentos em projetos socioculturais

Investimentos em projetos socioculturais

Ano 2008 2009 2010 2011 2012

R$ Milhões 24,6 * 14,9 * 8,1 Fonte: Elaborado pela autora com base nos relatórios anuais – 2008 a 2012.

*Não há essa informação no relatório anual.

Segundo a ISO 26000:2010 esses investimentos na área social acontecem

quando a empresa aplica capital em práticas que tenham por finalidade desenvolver e

melhorar as condições sociais da sociedade. Dentre os tipos de investimentos sociais

estão ações voltadas para educação, saúde, cidadania, geração de renda, acesso à

informação, esporte ou outras práticas que contribuam para o objetivo do investimento

social.

Figura 9: Projeto Garoto Cidadão

Fonte: Fundação CSN.

O projeto “Um Caminhão Para Ziraldo – Ziraldo de A a Z”, tem como

finalidade levar cultura a regiões do País através de um caminhão que se transforma em

palco de teatro para levar a obra de Ziraldo. Em 2010 o projeto teve sua segunda série,

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inspirada no escritor Jorge Amado, o projeto foi intitulado de “Um Caminhão para

Jorge Amado”.

Figura 10: Projeto “Um Caminhão Para Ziraldo – Ziraldo de A a Z”.

Fonte: Fundação CSN.

Volta Redonda abriga também o Centro Cultural da Fundação CSN que tem

como finalidade contribuir para o acesso à cultura, visando à mudança social a partir de

atividades culturais, como concertos, recitais, oficinas, exposições e workshops. O

centro mantém um projeto chamado “Terça Cultural”, onde é disponibilizado o espaço

aos artistas locais para a realização de apresentações culturais. O Projeto Galeria de Arte

também faz parte do centro, acolhendo artistas com talento para a arte contemporânea e

promovendo e incentivando o mesmo através de exposições, cursos, seminários e

oficinas comunitárias.

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Figura 11: Projeto Galeria de Arte.

Fonte: Fundação CSN.

O projeto Orquestra Sinfônica Jovem e Orquestra Experimental seleciona

seus integrantes via edital público, todos em situação de risco social. Os beneficiários

são inseridos na formação orquestral, onde aprendem várias técnicas musicais. Os

integrantes se apresentam em eventos, a fim de levar música à comunidade. Em 2008

surgiu a Orquestra de Tambores de Aço da Fundação CSN, formada por integrantes da

Orquestra Sinfônica Jovem e da sociedade, vindos principalmente de projetos culturais

desenvolvidos na Fundação.

Figura 12: Projeto Orquestra Sinfônica Jovem e Orquestra Experimental.

Fonte: Fundação CSN.

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45

As oficinas culturais e comunitárias visam favorecer o acesso de crianças,

adolescentes e adultos com pouca renda a atividades culturais como: teatro, música e

artes visuais. O projeto Fonoteca também possui esse viés de fomentar a cultura, através

de um acervo fonográfico que é disponibilizado para a população para fins de lazer,

pesquisa e preservação da memória do rádio. Segundo o relatório, o projeto conta com

uma rádio na internet, sob este endereço: <www.radiofundacaocsn.org.br>. Porém em

pesquisa a este endereço, percebe-se que não esta disponível na web.

Figura 13: Oficinas Comunitárias.

Fonte: Fundação CSN.

Existem dois projetos esportivos de cunho social, chamados de Núcleo de

Badminton e o Núcleo Viva Vôlei, seu público-alvo também são jovens em situação de

risco social. É disponibilizado aos beneficiários uniforme e vale-transporte para garantir

a assiduidade nas atividades. Em 2010 foi iniciado com o apoio do Conselho Nacional

dos Direitos da Criança e do Adolescente - CONANDA e do Ministério do Esporte o

PES - O Programa Esportivo Social da Fundação CSN, que visa levar atividades

esportivas a crianças e adolescentes entre 7 e 17 anos vindos da rede pública de ensino

das cidades de Barra Mansa, Barra do Piraí e Volta Redonda, por meio de atividades

como: futebol, voleibol, badminton, tênis e judô, além de cursos, palestras, oficinas

educativas. Essas atividades são desenvolvidas no Recreio do Trabalhador, espaço que a

Fundação CSN mantém no município Volta Redonda.

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Figura 14: Núcleo Viva Vôlei

Fonte: Fundação CSN.

Com relação a certificações da CSN os relatórios anuais da empresa revelam

que a mesma possui Certificação Ambiental pela norma ISO 14.001, porém não foi

verificada nenhuma certificação ou selo de cunho social na CSN.

6. SAÚDE NO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA

6.1. Breve histórico da saúde no Brasil

Na época em que o Brasil era colônia a assistência à saúde quase não

existiu. Ela se restringia aos boticários e pajés que percorriam a Colônia, essas eram as

únicas maneiras de atendimento à saúde (VARGAS, 2008).

Polignano (2008) diz que foi somente em 1808, com a vinda da família real,

que se originou a urgência de uma estrutura sanitária, ainda que mínima, para dar apoio

ao poderio que se acomodava na cidade do Rio de Janeiro. Indriunas (2008), citado por

Vargas (2008), revela que as necessidades da família real pressionaram a criação de

escolas de medicina, duas, para ser mais exato: a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro e

o Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade de Salvador, essas

foram às únicas ações governamentais até a República. A forma de atuação não era

estruturada, era realizada de maneira pontual, por exemplo, em casos de epidemias.

Apenas no século XX, que se iniciaram efetivamente políticas voltadas para área de

saúde, a fim de enfrentar o cenário sanitário do país.

Segundo Almeida (s/d), a situação do modelo de saúde antes da

Constituição Federal de 1988, era conhecido por seu acesso restrito à assistência

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médico-hospitalar e fragmentação institucional com gestão centralizadora. A assistência

à saúde nessa época possuía íntima relação com as atividades previdenciárias, sendo que

seu caráter contributivo gerava, sem dúvida nenhuma, uma clara divisão da sociedade

brasileira, de um lado os previdenciários e do outro lado os que não eram

previdenciários. Os contribuintes da previdência social tinham mais acesso à assistência

à saúde, podendo contar com serviços ambulatoriais e hospitalares. Já a assistência do

restante da população que não tinha dinheiro para arcar com uma assistência médico-

hospitalar, era prestada na forma de caridade e filantropia (CONOF/CD, 2011).

Conforme a Nota Técnica nº 10, de 2011 – CONOF/CD, antes da criação do

Sistema Único de Saúde - SUS, o Ministério da Saúde, juntamente com os Estados e

Municípios, realizou essencialmente ações voltadas para a prevenção de doenças e

promoção da saúde. Como exemplo estão às campanhas de vacinação e controle de

endemias.

O Sistema Único de Saúde - SUS foi criado pela Constituição Federal de

1988, marco histórico no processo de redemocratização do país, e regulamentado

pela Lei Federal nº 8.080 de 19 de setembro de 1990 e pela Lei de Criação do Conselho

Nacional de Saúde nº 8.142 de 28 de dezembro de 1990, que versa sobre a participação

da população na administração do SUS, a partir de duas instâncias, a Conferência e o

Conselho de Saúde, e também sobre os critérios e formas de transferência dos recursos

financeiros (Portal da Saúde/SUS, 2013, disponível em:

<http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=24627>). O SUS

vem alterar o cenário de desigualdade com relação à assistência à Saúde da sociedade,

para isso o mesmo coloca como obrigatório o atendimento público gratuito a toda e

qualquer pessoa. O sistema é financiado pelas três esferas de governo com recursos

advindos de arrecadação de impostos e contribuições sociais, pagos pela sociedade.

Com a Constituição Federal de 1988 a saúde foi reconhecida como direito

social universal, onde é dever do Estado e direito de todos.

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante

políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de

outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua

promoção, proteção e recuperação.

Almeida (s/d) diz que saúde vai além da simples ausência de doença, deve

abranger um conjunto de condições básicas para o bem estar da população que

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assegurem condições de vida digna e fortaleçam a autonomia dos sujeitos sociais

beneficiários. A saúde envolve o acesso a bens e serviços essenciais, como alimentação,

moradia, saneamento básico, trabalho, renda, educação, meio ambiente, lazer e

transporte. Segundo o artigo 3º da Lei 8.080/90 “os níveis de saúde da população

expressam a organização social e econômica do país”.

Conforme o artigo 200 da Constituição, compete ao SUS a prestação de

serviços de assistência a pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e

recuperação da saúde. De acordo com Almeida (s/d), os princípios desse sistema são: a

universalidade, que consiste na garantia, a todo e qualquer cidadão, a atenção à saúde

por parte do sistema; a integralidade, que considera a pessoa como um todo, visando

atender a todas as suas necessidades, mas para que isso ocorra é preciso à integração de

ações, incluindo a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a

reabilitação; a igualdade, princípio que busca diminuir desigualdades; a

descentralização político-administrativa, que trata da direção única em cada esfera de

governo; a participação da comunidade, que garante a inserção da população na forma

de um controle social, para melhorar a prestação do serviço e controlar a gestão.

6.2. A Saúde no município de Volta Redonda

Volta Redonda está situada no Sul do Estado do Rio de Janeiro, no trecho

inferior do médio vale do Rio Paraíba do Sul, entre as serras da Mantiqueira e do Mar

(PORTAL de VOLTA REDONDA, 2013). A origem da prestação de serviços de

saúde no município se deu com a vinda da CSN para o então Povoado de Santo

Antônio de Volta Redonda.

Sendo peça principal do projeto de industrialização do país, a CSN começa

suas atividades moldando não só os aspectos econômicos do local, mais também

contribuindo para uma “nova cultura”. Pode-se dizer que a saúde nesse período (bem

como outros serviços básicos) teve uma clara e profunda divisão (MOREIRA, 2004).

Os bairros escolhidos para abrigar funcionários com mais status, ficavam (ficam) fora

da zona afetada diretamente pela poluição, uma vez que a direção do vento “jogava” e

ainda “joga” a poluição para os bairros mais periféricos de Volta Redonda, sobretudo

aqueles localizados na margem esquerda do Paraíba do Sul (PEITER e TOBAR,

1998).

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Hoje a gestão dos serviços públicos fica a cargo do poder público local.

Conforme o discurso do poder executivo local à saúde da cidade foi apontada como

sendo umas das melhores do estado do Rio de Janeiro. O município foi criado por

causa da CSN e por ela é impactado negativamente, porém em um mundo totalmente

capitalista em que se vive hoje, a divisão existente entre o poder público e o

empresariado se torna comum. Nesse contexto atual, o poder público arca com todo o

“ônus” (ambiental e social) da atividade produtiva da empresa, enquanto a mesma fica

com os “bônus” de sua atividade. Essa relação é complicada, a cidade deve levar em

conta a influência de uma grande indústria no local, e cobrar ações mais responsáveis

da empresa.

Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, no ano de 2009, na

Região do Médio Paraíba, a média de material particulado com diâmetro aerodinâmico

de 10 microns - MP10, foi de 28 µg/m³ (microgramas por metro cúbico). Porém, a

recomendação da OMS é que média anual seja de 20 µg/m³. Nota-se que a região

ultrapassou o valor anual recomendado, sendo que o município de Volta Redonda

contribuiu significativamente para esse valor, uma vez que possui uma indústria

siderúrgica de grande porte, a CSN (OMS, 2011. Disponível em:

<http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs313/es/index.html>).

O material particulado impacta mais pessoas do que qualquer outro

poluente, pois consiste na mistura de várias substâncias orgânicas e inorgânicas

(sulfatos, nitratos, amônia, cloreto de sódio, carbono, pó mineral, água e outros). Os

materiais particulados são classificados conforme seu diâmetro aerodinâmico, o MP10

são partículas com um diâmetro aerodinâmico de 10 microns e o MP2,5 possui

diâmetro aerodinâmico inferior a 2,5 microns. Este último é mais fino, logo quando

inalado pode atingir os alvéolos pulmonares, e os MP10 são partículas mais grossas que

ficam retidas na parte superior do sistema respiratório, o que também é prejudicial. A

exposição crônica ao material particulado eleva o perigo de incidência de doenças

cardiovasculares, respiratórias e câncer de pulmão (OMS, 2011. Disponível em:

<http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs313/es/index.html>).

Sabe-se que a poluição atmosférica contribui significativamente para o

agravamento da qualidade do ar. Levando em conta o modelo de desenvolvimento

adotado pelo Brasil, o “boom” industrial que seria uma solução (e realmente o foi em

um dado período), hoje revela o quão essa forma de se “desenvolver” é prejudicial

para a saúde da população. Arruda (2008) corrobora essa ideia dizendo que “a

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50

revolução industrial está intimamente relacionada com a deteriorização da qualidade

do ar”.

A deteriorização da qualidade do ar esta relacionada com doenças no

aparelho respiratório, neoplasias e algumas doenças no aparelho circulatório. A fim de

estabelecer uma relação entre deteriorização da qualidade do ar e incidência de

doenças advindas desta, o quadro 10 mostra as internações hospitalares segundo causa

em Volta Redonda.

Quadro 10: Internações hospitalares segundo causa em Volta Redonda.

Internações hospitalares segundo causa por capítulo, Volta Redonda

2008 2009 2010 2011 2012 TOTAL %

I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 847 698 820 1049 688 4102 5,7%

II. Neoplasias (tumores) 562 603 671 776 881 3493 4,8%

III. Doenças sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns

transtornos imunitários 195 153 230 236 197 1011

1,4%

IV. Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 473 430 501 401 312 2117 2,9%

V. Transtornos mentais e comportamentais 940 910 685 606 600 3741 5,2%

VI. Doenças do sistema nervoso 249 260 339 428 325 1601 2,2%

VII. Doenças do olho e anexos 19 30 21 22 28 120 0,2%

VIII. Doenças do ouvido e da apófise mastóide 15 19 14 17 15 80 0,1%

IX. Doenças do aparelho circulatório 2393 2090 2085 2116 2092 10776 14,8%

X. Doenças do aparelho respiratório 1509 1556 1404 1540 1350 7359 10,2%

XI. Doenças do aparelho digestivo 1659 1799 1788 1849 1584 8679 12%

XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo 188 231 278 189 233 1119 1,5%

XIII. Doenças do sistema osteomuscular e do tecido

conjuntivo 203 220 427 578 546 1974

2,7%

XIV. Doenças do aparelho geniturinário 1017 1248 1177 1183 1181 5806 8%

XV. Gravidez, parto e puerpério 1733 2077 2189 2254 2075 10328 14,3%

XVI. Algumas afecções originadas no período perinatal 154 155 217 223 190 939 1,3%

XVII. Malformações congênitas, deformidades e anomalias

cromossômicas 118 124 93 76 65 476

0,7%

XVIII. Sintomas, sinais e achados anormais de exames

clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte 154 213 127 97 118 709

1%

XIX. Lesões, envenenamento e algumas outras

conseqüências de causas externas 1196 1151 1183 1227 1171 5928

8,2%

XX. Causas externas de morbidade e de mortalidade - 1 2 4 3 10 0,01%

XXI. Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato

com os serviços de saúde 529 361 292 456 439 2077

2,9%

Total 14153 14329 14543 15327 14093 72445 100%

Fonte: SES/RJ.

O total de internações por doenças respiratórias em Volta Redonda

representa um número considerável, de 7.359, no período de 2008 a 2012, ocupando a

4ª posição de maior incidência de internações no período, representando 10,2% delas. A

3ª posição fica com as doenças no aparelho digestivo, já a segunda fica com gravidez

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parto e puerpério. A 1ª posição fica com as internações por doenças no aparelho

circulatório, que também são influenciadas pela poluição atmosférica, esta representa

14,8% do total de internações. É relevante destacar que as internações por neoplasias

são sempre crescentes nesse período.

Para César et al (1997, p. 54) “As infecções respiratórias agudas são

responsáveis por um terço das mortes e metade das hospitalizações e consultas médicas

entre menores de cinco anos nos países em desenvolvimento”. O público mais afetado

pelas doenças respiratórias são as crianças e os idosos.

O quadro 11 mostra o número de óbitos por causa - foram separadas nessa

tabela apenas as doenças possivelmente afetadas pela péssima qualidade do ar. Do total

de 3.493 internações por neoplasias, 658 foram a óbito, sendo a neoplasia maligna da

traqueia, brônquios e pulmões responsável por 68 deles (2% do total de internações),

número considerável que fica atrás somente da categoria: restante de neoplasias

malignas, responsável por 108 óbitos. Com relação às doenças no aparelho circulatório

das 10.776 internações, 1.146 foram a óbito. As doenças respiratórias foram

responsáveis por 383 óbitos (5% do total de internações) de um total de 7359

internações, onde destaca-se a pneumonia com 172, as doenças crônicas das vias aéreas

inferiores com 123 e a categoria: restante de doenças no aparelho respiratório, com 88

dos óbitos.

Para KLIEGMAN et al (2006), citado por Machado et al (2010), a

pneumonia é uma infecção do trato respiratório inferior, que compromete o parênquima

e as vias aéreas.

Segundo Ferreira e Brito (2003) nos países mais pobres, 10% a 20% de

todas as crianças menores de cinco anos apresentam pneumonia aguda a cada ano. De

acordo com Fernandes (2004), citado por Machado et al (2010), a pneumonia no Brasil

é a terceira causa da mortalidade infantil.

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52

Quadro 11: Causa do óbito em Volta Redonda

Causa do óbito - Volta Redonda

2008 2009 2010 2011 2012 Total %

032-052 NEOPLASIAS 142 99 132 140 145 658 100%

. 032 Neoplasia maligna do lábio, cavidade oral e faringe 6 5 1 5 3 20 3%

. 033 Neoplasia maligna do esôfago 7 9 12 11 8 47 7,1%

. 034 Neoplasia maligna do estômago 18 9 9 7 16 59 8,9%

. 035 Neoplasia maligna do cólon, reto e ânus 10 6 14 12 14 56 8,5%

. 036 Neoplasia maligna do fígado e vias bil intrahepát 3 1 5 8 6 23 3,5%

. 037 Neoplasia maligna do pâncreas 2 1 4 9 7 23 3,5%

. 038 Neoplasia maligna da laringe 10 8 5 2 5 30 4,6%

. 039 Neoplasia maligna da traquéia, brônquios e pulmões 15 9 13 15 16 68 10,3%

. 040 Neoplasia maligna da pele 1 - 1 - - 2 0,3%

. 041 Neoplasia maligna da mama 11 8 2 14 6 41 6,2%

. 042 Neoplasia maligna do colo do útero 3 2 4 3 - 12 1,8%

. 043 Neoplasia maligna de corpo e partes n/esp útero 4 3 3 4 5 19 2,9%

. 044 Neoplasia maligna do ovário 1 1 3 3 3 11 1,7%

. 045 Neoplasia maligna da próstata 14 4 2 6 8 34 5,2%

. 046 Neoplasia maligna da bexiga - 2 5 6 3 16 2,4%

. 047 Neoplasia maligna meninge, encéf alo e outras partes SNC 13 8 10 9 5 45 6,8%

. 048 Linfoma não-Hodgkin 1 2 - - 1 4 0,6%

. 049 Mieloma múltiplo e neoplasia maligna de plasmócitos 3 1 1 2 4 11 1,7%

. 050 Leucemia 5 3 5 2 3 18 2,7%

. 051 Neoplasias in situ, benignas, comportamento incerto 3 - 3 1 3 10 1,5%

. 052 Restante de neoplasias malignas 12 17 30 21 29 108 16,4%

066-072 DOENÇAS DO APARELHO CIRCULATÓRIO 200 230 252 230 234 1146 100%

. 066 Febre reumática aguda e doenças reumáticas crônicas do coração - 1 - 1 1 3 0,3%

. 067 Doenças hipertensivas 39 48 63 30 40 220 19,2%

. 068 Doenças isquêmicas do coração 41 55 63 51 60 270 23,6%

... 068.1 Infarto agudo do miocárdio 33 44 49 40 52 218 19%

. 069 Outras doenças cardíacas 29 42 44 45 36 196 17,1%

. 070 Doenças cerebrovasculares 85 71 69 93 75 393 34,3%

. 071 Aterosclerose - - - - - - -

. 072 Restante de doenças do aparelho circulatório 6 13 13 10 22 64 5,6%

073-077 DOENÇAS DO APARELHO RESPIRATÓRIO 66 66 71 82 98 383 100%

. 073 Influenza (gripe) - - - - - - -

. 074 Pneumonia 30 26 30 41 45 172 44,9%

. 075 Outras infecções agudas das vias aéreas inferiores - - - - - - -

... 075.1 Bronquiolite - - - - - - -

. 076 Doenças crônicas das vias aéreas inferiores 20 28 22 22 31 123 32,1%

... 076.1 Asma - 3 - 1 1 5 1,3%

. 077 Restante doenças do aparelho respiratório 16 12 19 19 22 88 23%

Fonte: SES/RJ

Page 63: 2013-Administração-Jéssica Guerra.pdf

53

É fundamental para uma boa gestão da poluição do ar não só a definição das

áreas mais impactadas, como também a identificação das fontes emissoras de poluentes

atmosféricos (INEA, 2009).

Este trabalho considera a CSN como a maior fonte emissora de poluentes,

pelo fato de ser responsável pela maior parte da poluição atmosférica de Volta Redonda

(PEITER e TOBAR, 1998). Conforme entrevista realizada no INEA de Volta Redonda,

devido ao “porte, potencial e por sua longa data”, considera-se a CSN como maior fonte

emissora.

Porém, não se desconsidera aqui a poluição advinda da frota de veículos que

circulam na cidade, e que possui grande participação dos muitos caminhões que fazem o

transporte de mercadorias da CSN. Para dar maior credibilidade a essa afirmação, foi

realizada uma breve comparação com uma outra cidade do estado do Rio de Janeiro,

que não possui uma indústria tal como Volta Redonda. A cidade escolhida para a

comparação foi Petrópolis, considerando para a escolha do município a quantidade de

habitantes, de 295 mil, que embora seja um pouco maior que em Volta Redonda, poderá

dar uma posição parcial da situação da mesma. Foi considerado também a frota de

veículos de ambas cidades e o número de internações e óbitos por doenças respiratórias,

circulatória e neoplasias. Os quadros 12 e 13 mostram a quantidade da frota que ambos

municípios possuem.

Quadro 12: Frota de Veículos do Município de Volta Redonda

Frota de Veículos do Município de Volta Redonda

Ano Frota de veículos

2008 91.048

2009 97.025

2010 102.439

2011 110.227

2012 117.943 Fonte: Detran/RJ.

Quadro 13: Frota de Veículos do Município de Petrópolis

Frota de Veículos do Município de Petrópolis

Ano Frota de veículos

2008 108.580

2009 114.467

2010 120.568

2011 128.125

2012 135.597 Fonte: Detran/RJ.

Page 64: 2013-Administração-Jéssica Guerra.pdf

54

Podemos notar que a frota de veículos em Petrópolis é crescente e maior que

a de Volta Redonda, porém o número de internações referentes às mesmas categorias

analisadas no município de Volta Redonda é menor (salvo em doenças circulatórias,

sendo que a maioria das doenças nessa categoria podem não estar diretamente ou

indiretamente relacionada com a poluição), mesmo ela possuindo uma frota maior e um

quantitativo de habitantes maior. Nota-se então a clara influência de outro fator em

Volta Redonda, fator esse podendo ser atribuído à CSN.

Quadro 14: Internações hospitalares segundo causa por capítulo, Petrópolis.

Internações hospitalares segundo causa por capítulo, Petrópolis.

2008 2009 2010 2011 2012 Total %

I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 759 767 791 819 631 3767 5,1%

II. Neoplasias (tumores) 481 533 688 485 527 2714 3,7%

III. Doenças sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns

transtornos imunitários 88 107 121 101 98 515

0,7%

IV. Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 335 365 379 333 292 1704 2,3%

V. Transtornos mentais e comportamentais 940 895 646 409 214 3104 4,2%

VI. Doenças do sistema nervoso 1388 1329 793 621 430 4561 6,1%

VII. Doenças do olho e anexos 1 9 6 6 315 337 0,5%

VIII. Doenças do ouvido e da apófise mastóide 10 11 17 15 12 65 0,1%

IX. Doenças do aparelho circulatório 2311 2423 2819 2616 1929 12098 16,3%

X. Doenças do aparelho respiratório 1034 1092 1108 1074 948 5256 7,1%

XI. Doenças do aparelho digestivo 1016 1270 1451 1269 1255 6261 8,4%

XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo 251 360 572 378 341 1902 2,6%

XIII. Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo 389 433 529 454 409 2214 3%

XIV. Doenças do aparelho geniturinário 746 835 851 790 746 3968 5,3%

XV. Gravidez, parto e puerpério 2445 2617 2583 2115 1268 11028 14,9%

XVI. Algumas afecções originadas no período perinatal 450 322 333 266 189 1560 2,1%

XVII. Malformações congênitas, deformidades e anomalias

cromossômicas 74 78 57 40 35 284

0,4%

XVIII. Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos

e de laboratório, não classificados em outra parte 126 273 655 689 443 2186

2,9%

XIX. Lesões, envenenamento e algumas outras conseqüências

de causas externas 1845 1852 1807 1672 1701 8877

11,9%

XX. Causas externas de morbidade e de mortalidade 10 2 3 - 2 17 0,02%

XXI. Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato

com os serviços de saúde 418 138 453 373 403 1785

2,4%

Total 15117 15711 16662 14525 12188 74203 100%

Fonte: SES/RJ

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55

7. CONCLUSÃO

Este trabalho abordou a temática da Responsabilidade Social no contexto do

setor siderúrgico brasileiro, analisando as ações sociais desenvolvidas pela Usina

Presidente Vargas, da CSN, bem como suas externalidades negativas na saúde da

população da cidade Volta Redonda.

Ao analisar a relação entre as externalidades negativas provocadas pela

CSN as ações sociais por ela desenvolvidas, não foi identificada nenhuma iniciativa

voltada para a área da saúde em Volta Redonda. Logo, pode-se dizer que existe uma

desproporcionalidade entre os impactos negativos, que realmente contribuem para a

degradação da vida humana, e a ações desenvolvidas pela Fundação CSN de Volta

Redonda.

A partir da análise dos Relatórios Anuais da CSN de 2008 a 2012, pode-se

afirmar que os projetos desenvolvidos pela Fundação CSN focam em ações voltadas

para esporte, cultura, educação, não que estas áreas não tenham sua relevância, pois é

nítido que sim, porém o que se tenta discutir aqui é que estes projetos não suprem a

lacuna deixada pela empresa, ou seja, não atendem à reversão do quadro de degradação

provocado por sua atividade industrial.

Os dados divulgados pela CSN sobre suas ações sociais demonstram a

preocupação da usina em projetar uma imagem positiva de sua atividade para seus

stakeholders. No entanto, no que diz respeito à divulgação dos projetos para a

sociedade, o que se percebe é que não existe uma ampla divulgação dos mesmos. A

empresa deve levar em consideração que nem todas as partes afetadas pertencem a

grupos organizados que têm o propósito de representar seus interesses perante

organizações específicas. Muitas delas podem não estar organizadas de forma alguma, o

que pode acabar por perpetuar a situação desfavorável de grupos vulneráveis. Todavia, a

divulgação dos impactos de suas decisões e atividades é muito importante, pois facilita

a identificação, por parte da sociedade, de possíveis danos causados pela empresa. Vale

mencionar, ainda, que ao analisar os relatórios nota-se que a empresa divulga

informações contraditórias com relação aos projetos sociais.

Devido a toda sua história, mesmo embora tendo sido privatizada, a empresa

é responsável pelo impacto que gera na sociedade e em seu território. Como já mostrado

neste trabalho, o setor siderúrgico emite no seu processo produtivo muitos poluentes

que são prejudiciais à saúde da população. Mesmo com as medidas ambientais

Page 66: 2013-Administração-Jéssica Guerra.pdf

56

realizadas pela CSN, ainda sim ela contribui significativamente para a situação

degradante da qualidade do ar em Volta Redonda.

A fim de corroborar a ideia de que a empresa contribui significativamente

para o aumento da poluição atmosférica na cidade, foi realizada uma breve comparação

com uma outra cidade do estado do Rio de Janeiro, que não possui uma indústria, tal

como Volta Redonda. A cidade escolhida para a comparação foi Petrópolis,

considerando para a escolha desse município a população e a frota de veículos, que

embora sejam um pouco maior que a de Volta Redonda, podem ser consideradas de

mesma ordem de grandeza. Foi considerado também o número de internações por

doenças respiratórias, circulatória e neoplasias. Não se pode considerar essa conclusão

de forma categórica, mas há uma forte evidência de que a CSN contribui para o

aumento de doenças respiratórias na cidade de Volta Redonda, sobretudo, quando

comparado com a realidade do município de Petrópolis, que, apesar do clima, apresenta

um total de internações decorrentes de doenças respiratórias 30% inferior ao de Volta

Redonda no período de 2008 a 2012.

Hoje a realidade no município é outra, diferente da época antes da

privatização. A CSN não presta mais serviços básicos à população, pois quem o faz é o

poder público local, que acaba por ficar com todo o ônus provocado pelas

externalidades da empresa, e esta fica com os bônus de sua atividade. Pretende-se aqui

incitar que é necessário haver uma sinergia entre esses atores (sociedade, CSN,

prefeitura) a fim de que todos ganhem em longo prazo, como propõe a perspectiva mais

atual da Responsabilidade Social Empresarial. Desta forma, uma vez que as doenças

citadas nesse trabalho são em grande medida causadas pela CSN, ela deve responder

pelos seus impactos perante a sociedade. A relação entre eles pode ser explorada sob a

forma de parceria. Parceiras? Sim, parceria por que não? Estamos no mesmo lugar

embora com interesses diferentes, devemos nos exercitar a fim de dirimir conflitos

sociais para então se chegar a um resultado bom para todos (maioria). Que resultado é

esse? O desenvolvimento social. Muitos vão dizer que isso é utópico por serem céticos

ao extremo com relação à sinergia entre esses atores, mas o exercício da

responsabilidade social implica necessariamente em proporcionar tal sinergia, com o

propósito de se assumir uma orientação mais sustentável para todos.

A empresa possui muitos processos (Relatório Anual da CSN), e recebe

muitas multas seja por dano direto ao meio ambiente (vazamentos de poluentes) ou por

descumprir acordos ambientais, que visam prevenir danos. Essas multas são aplicadas,

Page 67: 2013-Administração-Jéssica Guerra.pdf

57

em sua maioria, pela Superintendência Regional do Médio Paraíba do Sul, do Instituto

Estadual do Ambiente – INEA, em Volta Redonda, que tem por missão “proteger,

conservar e recuperar o meio ambiente para promover o desenvolvimento sustentável”,

possuindo atuação descentralizada, e sendo responsável, dentre outras funções, por

fiscalizar práticas, atividades de empresas de grande porte que contribuam para

degradação ambiental, aplicando multas quando não houver enquadramento de

atividades produtivas e emissão de poluentes. Conforme entrevista ao instituto, mesmo

aplicando multas à CSN, a empresa possui um corpo jurídico muito grande e

“qualificado” para defender os interesses da organização, bem como baixar o valor das

multas ou até tentar extingui-las.

Todos os membros da sociedade têm direitos econômicos, sociais e culturais

que são fundamentais para seu desenvolvimento pessoal, entre os quais estão: direito a

educação; trabalho em condições dignas; liberdade de associação; um padrão

adequado de saúde. Convém que as empresas, considerem a adoção e/ou manutenção

de políticas específicas para assegurar a distribuição de bens e serviços essenciais onde

essa distribuição estiver ameaçada por ela (ISO 26.000,

disponívelmem:<http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquiv

os/[field_generico_imagens-filefield-description]_65.pdf>).

Percebe-se hoje que o território de Volta Redonda enfrenta consequências

socioambientais derivadas da atuação da CSN e que a mesma possui um “braço social”

para realizar sua “Responsabilidade Social”, que é a Fundação CSN. Sabe-se que a RSE

propõe que haja um retorno efetivo à sociedade, demostrando os esforços por minimizar

os impactos gerados pela empresa, mas esse retorno não pode ser meramente uma forma

de autopromoção da empresa via discurso da RSE, mas deve ser de fato algo que

demonstre sua preocupação para com a sociedade.

Será que o “descaso” em desenvolver projetos na área de saúde esta

associada à ideia da empresa não querer associar sua marca, seu nome com doenças,

mesmo estas sendo causadas por ela? Ou será que não dão a devida importância a essas

ações por ser uma empresa de comodities, onde não seria tão relevante desenvolver

projetos realmente necessários, pois o produto dela não chega diretamente até o

consumidor final, sendo seus clientes outras empresas?

Esse trabalho apresentou algumas limitações, como: o acesso a dados

referente ao nível de poluição emitida da CSN. Também foi programado nesta pesquisa

que seriam feitas outras entrevistas além das citadas na introdução, uma com um

Page 68: 2013-Administração-Jéssica Guerra.pdf

58

representante da área ambiental da CSN e outra com um representante da Fundação

CSN, foram várias tentativas frustadas em entrevistar essas pessoas, embora houvesse

resposta por parte de ambos, as entrevistas não foram realizadas. No caso da Fundação

CSN, em um primeiro momento, foi feita uma visita ao local, a fim de marcar a

entrevista, porém pediram que fosse feito o contato via e-mail para pedir “permissão” à

outra pessoa. O contato foi feito, e foi solicitado que se enviasse um roteiro da pesquisa,

sendo que o mesmo foi enviado, e após algum tempo de espera veio a resposta que

poderia ir até a Fundação CSN para dar prosseguimento à pesquisa. Novamente foi feita

outra visita à Fundação CSN, nessa foi procurada uma pessoa específica citada no e-

mail, mas quando comecei a fazer as perguntas ela disse que não saberia responder a

maioria, pois era responsável por um projeto especifico. Novamente me encaminharam

para outra pessoa que saberia responder os questionamentos, porém até o presente

momento não houve resposta alguma. A burocratização tanto para coletar dados quanto

para realização de entrevistas foi uma limitação desse trabalho.

Este trabalho não visa restringir o debate em torno desta temática, mas sim

contribuir para a reflexão ampliada sobre um processo complexo e abrangente, que é a

RSE. Acredita-se que outros estudos possam ser desenvolvidos, na tentativa de

responder outros questionamentos e complementar a análise acerca dessa prática. Pode-

se, por exemplo, buscar entender mais a dinâmica da CSN, o motivo de não investir na

área de saúde em Volta Redonda, bem como também entender se há alguma relação

com a incidência de determinadas internações com os bairros periféricos.

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