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VIDA LÍQUIDA

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VIDA LÍQUIDA

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Livros do autor publicados por esta editora:

• Amor líquido• Comunidade• Em busca da política• Europa• Globalização: as conseqüências humanas• Identidade• O mal-estar da pós-modernidade• Modernidade e ambivalência• Modernidade e Holocausto• Modernidade líquida• Vidas desperdiçadas

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Zygmunt Bauman

VIDA LÍQUIDA

Tradução:Carlos Alberto Medeiros

Rio de Janeiro

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Título original:Liquid Life

Tradução autorizada da primeira edição inglesa,publicada em 2005 por Polity Press,

de Cambridge, Inglaterra

Copyright © 2005, Zygmunt Bauman

Copyright da edição em língua portuguesa © 2007:Jorge Zahar Editor Ltda.rua México 31 sobreloja

20031-144 Rio de Janeiro, RJtel.: (21) 2108-0808 / fax: (21) 2108-0800

e-mail: [email protected]: www.zahar.com.br

Todos os direitos reservados.A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo

ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98)

Capa: Sérgio CampanteFoto na capa (túnel): Athewma Athewma

Bauman, Zygmund, 1925-B341v Vida líquida / Zygmund Bauman; tradução Carlos

Alberto Medeiros. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007

Tradução de: Liquid lifeInclui índiceISBN 978-85-7110-969-8

1. Pós-modernismo – Aspectos sociais. 2. Mudançasocial. 3. Liberdade de movimento. 4. Individualismo. 5.Consumo (Economia). I. Título.

CDD 303.40106-4470 CDU 316.733

CIP-Brasil.Catalogação-na-fonteSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

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� Sumário �

IntroduçãoSobre a vida num mundo líquido-moderno 7

1. O indivíduo sitiado 25

2. De mártir a herói e de herói a celebridade 55

3. Cultura: rebelde e ingovernável 71

4. Procurando refúgio na Caixa de Pandora – 91

ou medo, segurança e a cidade

5. Os consumidores na sociedade 106

líquido-moderna

6. Aprendendo a andar sobre a areia movediça 152

7. O pensamento em tempos sombrios 168

(Arendt e Adorno revisitados)

Notas 199

Agradecimentos 205

Índice 207

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� Introdução �

Sobre a vida nummundo líquido-moderno

Quando se patina sobre o gelo fino, a se-gurança está na nossa velocidade.Ralph Waldo Emerson, Sobre a prudência

A “vida líquida” e a “modernidade líquida” estão intimamente li-gadas. A “vida líquida”é uma forma de vida que tende a ser levadaà frente numa sociedade líquido-moderna. “Líquido-moderna” éuma sociedade em que as condições sob as quais agem seus mem-bros mudam num tempo mais curto do que aquele necessáriopara a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir. Aliquidez da vida e a da sociedade se alimentam e se revigorammutuamente. A vida líquida, assim como a sociedade líquido-moderna, não pode manter a forma ou permanecer em seu cursopor muito tempo.

Numa sociedade líquido-moderna, as realizações individuaisnão podem solidificar-se em posses permanentes porque, emum piscar de olhos, os ativos se transformam em passivos, e as ca-pacidades, em incapacidades. As condições de ação e as estraté-gias de reação envelhecem rapidamente e se tornam obsoletasantes de os atores terem uma chance de aprendê-las efetivamente.Por essa razão, aprender com a experiência a fim de se basear emestratégias e movimentos táticos empregados com sucesso nopassado é pouco recomendável: testes anteriores não podem dar

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conta das rápidas e quase sempre imprevistas (talvez imprevisí-veis) mudanças de circunstâncias. Prever tendências futuras apartir de eventos passados torna-se cada dia mais arriscado e, fre-qüentemente, enganoso. É cada vez mais difícil fazer cálculosexatos, uma vez que os prognósticos seguros são inimagináveis: amaioria das variáveis das equações (se não todas) é desconhecida,e nenhuma estimativa de suas possíveis tendências pode ser con-siderada plena e verdadeiramente confiável.

Em suma: a vida líquida é uma vida precária, vivida em con-dições de incerteza constante. As preocupações mais intensas eobstinadas que assombram esse tipo de vida são os temores de serpego tirando uma soneca, não conseguir acompanhar a rapidezdos eventos, ficar para trás, deixar passar as datas de vencimento,ficar sobrecarregado de bens agora indesejáveis, perder o mo-mento que pede mudança e mudar de rumo antes de tomar umcaminho sem volta. A vida líquida é uma sucessão de reinícios, eprecisamente por isso é que os finais rápidos e indolores, sem osquais reiniciar seria inimaginável, tendem a ser os momentosmais desafiadores e as dores de cabeça mais inquietantes. Entre asartes da vida líquido-moderna e as habilidades necessárias parapraticá-las, livrar-se das coisas tem prioridade sobre adquiri-las.

Como diz o cartunista Andy Riley, do Observer, o que abor-rece é “ler artigos sobre as maravilhas de se largar tudo, em buscade melhor qualidade de vida, quando ainda nem se alcançou otudo”1. É preciso acelerar o “alcançar”, caso se deseje provar dasdelícias do “largar”. Preparar o local para o “largar” confere signi-ficado ao “alcançar”, que se torna seu principal propósito. É peloalívio trazido por um “largar” suave e indolor que se julga, em úl-tima instância, a qualidade do “alcançar”...

A instrução de que mais necessitam os praticantes da vida lí-quido-moderna (e que mais lhes é oferecida pelos especialistasnas artes da vida) não é como começar ou abrir, mas como encer-rar ou fechar. Outro colunista do Observer, em tom meio irônico,lista as últimas regras para se “chegar ao fim” das parcerias (semdúvida os episódios mais difíceis de serem “encerrados”, princi-

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palmente aqueles que os parceiros desejam e lutam muito paraque acabem, os quais provocam, sem surpresa alguma, uma de-manda particularmente ampla pela ajuda de especialistas). A listacomeça com: “Lembre-se das coisas ruins. Esqueça as boas”; etermina com: “Conheça outra pessoa”, depois de passar por“apague toda a correspondência eletrônica”. Do princípio aofim, a ênfase recai em esquecer, apagar, desistir e substituir.

Talvez a descrição da vida líquido-moderna como uma sériede reinícios seja um cúmplice desavisado de algum tipo de cons-piração. Replicar uma ilusão compartilhada, ajuda a ocultar seusegredo mais íntimo (vergonhoso, ainda que apenas um resíduo).Talvez, uma forma mais adequada de narrar essa vida seja contara história de sucessivos finais. E talvez a glória de uma vida líquidade sucesso seja mais bem transmitida pela invisibilidade das tum-bas que assinalam seu progresso do que pela ostentação das lápi-des que celebram os conteúdos dessas tumbas.

Numa sociedade líquido-moderna, a indústria de remoçãodo lixo assume posições de destaque na economia da vida líquida.A sobrevivência dessa sociedade e o bem-estar de seus membrosdependem da rapidez com que os produtos são enviados aos de-pósitos de lixo e da velocidade e eficiência da remoção dos detri-tos. Nessa sociedade, nada pode reivindicar isenção à regrauniversal do descarte, e nada pode ter permissão de se tornar in-desejável. A constância, a aderência e a viscosidade das coisas,tanto animadas quanto inanimadas, são os perigos mais sinistrose terminais, as fontes dos temores mais assustadores e os alvos dosataques mais violentos.

A vida numa sociedade líquido-moderna não pode ficar pa-rada. Deve modernizar-se (leia-se: ir em frente despindo-se acada dia dos atributos que ultrapassaram a data de vencimento edesmantelamento, repelindo as identidades que atualmente estãosendo montadas e assumidas) ou perecer. Cutucada pelo horrorda expiração, a vida na sociedade líquido-moderna não precisamais ser empurrada pelas maravilhas imaginadas no ponto finaldos trabalhos modernizantes. A necessidade aqui é de correr com

Sobre a vida num mundo líquido-moderno 9

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todas as forças para permanecer no mesmo lugar, longe da lata delixo que constitui o destino dos retardatários.

“Destruição criativa”é a forma como caminha a vida líquida,mas o que esse termo atenua e, silenciosamente, ignora é queaquilo que essa criação destrói são outros modos de vida e, por-tanto, de forma indireta, os seres humanos que os praticam. Avida na sociedade líquido-moderna é uma versão perniciosa dadança das cadeiras, jogada para valer. O verdadeiro prêmio nessacompetição é a garantia (temporária) de ser excluído das fileirasdos destruídos e evitar ser jogado no lixo. E com a competição setornando global a corrida agora se dá numa pista também global.

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