2ª promotoria de justiÇa da comarca de irati · do paraná, art. 5º da lei 9394/96, combinados...
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2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
EXCELENTÍSSIMO DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE
IRATI - PARANÁ
Que inclusão é esta? Aqueles que podem caminhar com suas próprias pernas estão incluídos na política municipal do transporte escolar. Que exclusão é esta? Aqueles que não podem caminhar com suas próprias pernas estão excluídos da política municipal do transporte escolar.
QUE DISCRIMINAÇÃO É ESTA?
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por sua
Promotora de Justiça adiante assinada, em exercício junto a 2ª Promotoria de
Justiça da Comarca de Irati, com atribuições na área de Direitos e Garantias
Constitucionais do Cidadão, de Proteção à Educação e de Proteção dos
Direitos das Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais, onde pode ser
pessoalmente intimada, agindo na defesa dos interesses dos alunos da
ESCOLA JOSÉ DUDA JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO
FUNDAMENTAL, NA MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL (doc. 01), escola
esta mantida pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcioniais de Irati –
APAE -, situada na Rua Dr. Correa, 471, Caixa Postal 40, CEP 84.500-000,
Centro, Irati/PR, neste ato representada por sua Presidente Sra. EVA DIRCE
PORTELA, CPF n. 595.558.319-04, residente e domiciliada à Rua João
Wasilewski, n. 1841, Bairro Rio Bonito, nesta Comarca de Irati, (doc.02), vem,
com fulcro no art. 129, III, da Constituição Federal, art. 3º da Lei n.º
7.853/99, art. 201, V, da Lei 8069/90, art. 120, III, da Constituição do Estado
do Paraná, art. 5º da Lei 9394/96, combinados com o art. 282, do Código de
Processo Civil e demais diplomas normativos pertinentes a espécie, e com
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base na inclusa documentação, propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA,
com pedido de antecipação de tutela,
contra o MUNICÍPIO DE IRATI, pessoa jurídica de direito
público, ora representado pelo Prefeito Municipal, Sr. Sergio Stoklos, com
endereço na Rua Coronel Emilio Gomes, nº 22, centro, nesta cidade e
Comarca de Irati, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:
I. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO
A Constituição Federal, ampliando o campo de atuação do
Ministério Público, atribui-lhe a incumbência da defesa da ordem jurídica, do
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art.
127), ao mesmo tempo em que, dentre outras funções institucionais, confiou-
lhe o zelo pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de
relevância pública aos direitos nela assegurados, promovendo as
necessárias medidas a sua garantia (art. 129, inc. II e III). No mesmo sentido
é o art. 120, inc. II, da Constituição Estadual.
Consoante se exporá, a presente ação é voltada à tutela dos
direitos de pessoas portadoras de necessidades especiais, dos direitos
afetos à educação e do subsequente direito de acesso à educação, cujos
substituidos são destinatários legais da prioridade absoluta na gestão e
implantação de políticas públicas de atendimento, sendo o Ministério Público
órgão legítimo para a defesa dos direitos difusos, coletivos e indisponíveis
afetos as referidas eras de interesse.
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É o que prevê o art. 3º da Lei n.º 7.853/99, segundo o qual as
ações civis públicas destinadas à proteção de interesses coletivos ou
difusos das pessoas portadoras de deficiência poderão ser propostas pelo
Ministério Público, pela União, Estados, Municípios e Distrito Federal, e o art.
201, V, da Lei 8069/90, que dispõe ser competência do Ministério Público
promover a ação civil pública para a proteção dos interesses individuais,
difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência.
No mesmo sentido, o texto da Lei nº. 7853/99 que, por sua
vez, dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, e aponta em
seu art. 3º que as ações civis públicas destinadas à proteção de interesses
coletivos ou difusos das pessoas portadoras de deficiência poderão ser
propostas pelo Ministério Público.
Diante desse contexto, extrai-se que o Parquet, de modo
genérico, pode e deve promover todas as medidas necessárias –
administrativas e/ou jurídicas – para a restauração do respeito dos poderes
públicos aos direitos constitucionalmente assegurados aos cidadãos, no
presente caso, os direitos sociais relativos à educação (especificamente ao
seu acesso), e aos direitos das pessoas portadoras de deficiência.
Portanto, assentada a legitimidade do Ministério Público
para o desencadeamento da Ação Civil Pública no caso em tela, imperativa
é a desincumbência desse mister pela Promotoria de Defesa dos Direitos e
Garantias Constitucionais do Cidadão, de Proteção à Educação e de
Proteção dos Interesses das Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais.
II. ACESSO À EDUCAÇÃO
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Nos termos do art. 1º da Lei nº. 9.394/96, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional, “a educação abrange os processos
formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana,
no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais
e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”.
Trata-se a educação de direito social previsto no caput do
art. 6º da Constituição Federal, sendo determinado pelo art. 23 a
competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios de
proporcionar os meios para o seu acesso:
Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010)
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência.
A Constituição do Estado do Paraná, mantem o pensamento
constitucional, e defende o dever do Estado em assegurar os direitos relativos
à educação, e a proteção especial às crianças e adolescentes:
Art. 165. O Estado, em ação conjunta e integrada com a União, Municípios e a
sociedade, tem o dever de assegurar os direitos relativos à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à capacitação para o trabalho, à cultura
e de cuidar da proteção especial da família, da mulher, da criança, do
adolescente, do idoso e do índio.
Muito embora haja essa ideia de competência comum, há
uma divisão entre os entes federados, cabendo aos Municípios manter
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programas de educação infantil e de ensino fundamental que, nos termos
do art. 21 da Lei nº. 9394/96, compõe a educação básica1. É essa a
inteligência do art. 30, VI e do §2º do art. 221 da Constituição Federal, e § 3º
do art. 179 da Constituição do Estado do Paraná:
Art. 30. Compete aos Municípios:
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
programas de educação infantil e de ensino fundamental;
Art. 221. § 2º. Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e
na educação infantil.
Art. 179. § 5º. Os municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e
na educação infantil.
Com relação ao provimento da educação básica pelo Estado,
o art. 208 da Constituição Federal expressa a obrigatoriedade de tal medida,
inclusive àqueles que não tiveram acesso na idade própria:
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia
de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos
de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59,
de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta
irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.
Especificamente com relação às crianças e adolescentes, tem-se
como prioridade absoluta por parte do Estado assegurar o direito à educação.
É isto o que determina o art. 227 da Constituição Federal:
1 Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio;
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Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.
Não obstante o artigo 208, inciso I da Carta Magna assegure a
obrigatoriedade e gratuidade da educação básica às crianças e
adolescentes (dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)), o Decreto nº. 7.611
de 17 de novembro de 2011 (doc. 07), que dispõe sobre a Educação
Especial, o atendimento educacional especializado e dá outras
providências, assim estabelece:
Art. 1º. O dever do Estado com a educação das pessoas público-alvo da
educação especial será efetivado de acordo com as seguintes diretrizes:
I – (...)
II – aprendizado ao longo de toda a vida;
(...)
Em outros termos, através do referido decreto, restou
estabelecido que o dever do Estado para com a educação das
pessoas público-alvo da educação especial deve ser ao longo de
toda a vida.
Ora, a educação é direito de todos, dever do Estado e da
família, e será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho (art. 205, da Constituição
Federal).
O art. 206 do texto constitucional aponta os princípios a serem seguidos
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no ensino, dentre os quais se destacam os seguintes:
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
Essa igualdade de condições é também princípio apresentado pela
Constituição do Estado do Paraná:
Art. 178. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condição para acesso e permanência na escola, vedada qualquer
forma de discriminação e segregação;
Como se observa, a igualdade de condições para acesso e
permanência à escola deve ser preservada. Entretanto, isso deve ser feito
igualitariamente, na medida das desigualdades existentes, de maneira a
preservar as especificidades, em especial as dos portadores de
necessidades especiais.
Nesse sentido, a legislação brasileira aponta para o dever do
Estado em garantir a acessibilidade à educação aos portadores de
necessidades especiais. O texto constitucional é claro:
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
O mesmo acontece na Constituição do Estado do Paraná,
conforme previsão do art. 17, VI, art. 173, caput, e art. 179, IV:
Art. 17. Compete aos Municípios:
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
programas de educação pré-escolar, de educação especial e de ensino
fundamental;
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Art. 173. O Estado e os Municípios assegurarão, no âmbito de suas competências,
a proteção e a assistência à família, especialmente à maternidade, à infância, à
adolescência, e à velhice, bem como a educação do excepcional, na forma da
Constituição Federal.
Art. 179. O dever do Poder Público, dentro das atribuições que lhe forem conferidas,
será cumprido mediante a garantia de:
IV - atendimento educacional especializado gratuito aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
É este, também, o entendimento da Lei 9394/96, a Lei de
Diretrizes e Bases Nacional:
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a
garantia de:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria;
III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com
necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino;
Com relação à obrigatoriedade do Município em fornecer a
educação e seu acesso, inclusive ao portador de necessidades especiais, a
própria lei orgânica do Município de Irati estabelece tal dever:
Art. 160 – O Município receberá assistência técnica e financeira do Estado e da
União, para seu desenvolvimento do ensino fundamental, pré-escolar e de
educação especial, em consonância com o sistema estadual de ensino.
§ 1º – O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direto público subjetivo.
§ 2° - O não fornecimento de ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua
oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3° - O Município atuará, prioritariamente, no ensino fundamental e pré-
escolar.
Ora, por todo exposto, resta comprovado pela Lei Maior,
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Constituição Estadual, Lei Orgânica do Município de Irati, Estatuto da
Criança e do Adolescente, Lei de Diretrizes e Bases, a OBRIGATORIEDADE
da educação básica, a ser provida pelo Município.
Ocorre que, não basta que seja fornecida a educação, é
preciso fornecer, também, os MEIOS QUE POSSIBILITEM O ACESSO das
crianças, jovens, adolescentes e adultos, principalmente aos portadores de
necessidades especiais, a instituição de ensino.
A Constituição Federal não passou omissa neste ponto. O inciso
VII do art. 208, impõe o dever de fornecimento do transporte para o acesso à
educação:
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio
de programas suplementares de material didático escolar, TRANSPORTE,
alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
59, de 2009)
A Lei de Diretrizes Básicas, assinala que o transporte dos alunos
será uma das formas pela qual o Estado irá efetivar a garantia da educação
escolar pública, sendo competência dos Municípios o fornecimento do
transporte aos alunos da rede municipal. Em seu art. 70, ainda, trata das
despesas com o ensino e, inclui nesta lista, a manutenção de programas de
transporte escolar:
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante
a garantia de:
VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de
programas suplementares de material didático-escolar, TRANSPORTE, alimentação
e assistência à saúde;
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
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VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal.
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino as
despesas realizadas com vistas à consecução dos objetivos básicos das instituições
educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam a:
VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de
TRANSPORTE ESCOLAR.
A Constituição do Estado do Paraná, a partir da redação do
inciso VIII do art. 179, adota o mesmo pensamento da Constituição Federal e
da Lei de Diretrizes e Bases Nacional:
Art. 179. O dever do Poder Público, dentro das atribuições que lhe forem conferidas,
será cumprido mediante a garantia de:
VIII - atendimento ao educando, no ensino pré-escolar, fundamental, médio e de
educação especial, através de programas suplementares de material didático
escolar, TRANSPORTE, alimentação e assistência à saúde;
O Município de Irati, ao seu tempo, deixa clara a obrigatoriedade
do transporte escolar, e mais, tem em sua Lei Orgânica dispositivo exclusivo
aos portadores de necessidades especiais:
Art. 161 – O Município destinará verbas, recursos materiais e humanos às escolas
especializadas sem fins lucrativos, voltados à educação do excepcional, garantindo
à este transporte escolar gratuito.
Pelo que se observa, resta devidamente comprovado o direito à
educação a todos os cidadãos brasileiros, bem como o transporte gratuito
àqueles que necessitem, inclusive, aos indivíduos portadores de necessidades
especiais, o qual deve ser provido integralmente pelo Poder Público, e no caso
do ensino fundamental, especificamente pelos Municípios.
Entretanto, apesar de todos os dispositivos legais que obrigam os
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Municípios a garantirem o transporte escolar como forma de garantir o acesso
à educação, não é isso o que vem ocorrendo com os alunos da ESCOLA JOSÉ
DUDA JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL, NA
MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL.
E para dirimir quaisquer dúvidas acerca da responsabilidade do
município em arcar com o transporte escolar adequado das pessoas portadoras
de necessidades especiais, o Decreto nº. 7.612, de 17 de novembro de
2011, que instituiu o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência
– Plano Viver sem Limite, assim estabelece (doc. 07.1):
Art. 1º Fica instituído o Plano Nacinal dos Direitos da Pessoa com
Deficiência – Plano Viver sem Limite, com a finalidade de promover, por
meio da integração e articulação de políticas, programas e ações, o
exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com deficiência, nos
termos da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo, aprovados por meio do Decreto
Legislativo nº. 186, de 9 de julho de 2008, com status de emenda
constitucional, e promulgados pelo Decreto nº. 6.949, de 25 de agosto de
2009.
Parágrafo único. O Plano Viver sem Limite será executado pela União em
colaboração com Estados, Distrito Federal, Municípios, e com a sociedade.
Art. 2º São consideradas pessoas com deficiência aquelas que têm
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir
sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições
com as demais pessoas.
Art. 3º São diretrizes do Plano Viver sem Limite:
I – garantia de um sistema educacional inclusivo;
II – garantia de que os equipamentos públicos de educação sejam acessíveis
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para as pessoas com deficiência, inclusive por meio de transporte
adequado;
III. ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO
ESPECIAL
Com o objetivo de concretizar a oferta de escolarização e
educação a jovens, adultos e idosos com deficiência intelectual e múltiplas
deficiências que, independente das causas ou motivos, apresentam
necessidades educacionais especiais, intensas e contínuas requerendo
interdisciplinaridade e intersetorialidade nas práticas do contexto de
ensino-aprendizagem, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná, por
sua Superintendência da Educação, e pelo Departamento de Educação
Especial e Inclusão Educacional, elaborou uma proposta objetiva visando
materializar a referida intenção (doc. 04).
A partir de tal documento, buscava-se proporcionar a oferta de
Educação de Jovens, Adultos e Idosos Fase I nas Escolas de Educação Básica
– Modalidade de Educação Especial, uma instituição destinada a prestar
serviço especializado de natureza educacional, a alunos com necessidades
especiais com graves comprometimentos, múltiplas deficiências ou
condições de comunicação ou sinalização diferenciadas quando o grau
desse comprometimento não lhes possibilite ter acesso ao currículo
desenvolvido no ensino comum, pelo fato de requererem também
atendimentos complementares/terapêuticos dos serviços especializados da
área da saúde quando se fizerem necessários (doc. 04).
Como base legal para a oferta da referida modalidade de ensino,
utilizou-se inclusive da Constituição Federal de 1988, que estendeu o direito
ao ensino fundamental aos cidadãos de todas as faixas etárias, de modo
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que, aplicado ao presente caso, estabelece o imperativo de ampliar as
oportunidades educacionais para aqueles que já ultrapassem a idade de
escolarização regular.
Considerando o contido na justificativa supracitada, elaborada
pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, por sua Superintendência
da Educação, e pelo Departamento de Educação Especial e Inclusão
Educacional (doc. 04), foi assinado pelo Secretário de Estado da Educação do
Paraná em 18 de agosto de 2011 a Resolução nº 3600/2011 da Secretaria de
Estado da Educação (SEED) que resolveu alterar a denominação das Escolas
de Educação Especial para Escolas de Educação Básica, na modalidade de
Educação Especial, com oferta de Educação infantil, Ensino Fundamental –
anos iniciais, Educação de Jovens e Adultos – Fase I, e Educação
Profissional/Formação inicial (doc. 05):
Art. 1.º Autorizar a alteração na denominação das Escolas de Educação Especial
para Escolas de Educação Básica, na modalidade de Educação Especial, com
oferta de Educação infantil, Ensino Fundamental – anos iniciais, Educação de
Jovens e Adultos – Fase I, e Educação Profissional/Formação inicial, a partir do
início do ano letivo de 2011.
Prosseguindo-se, pela Resolução nº 3600/2011 da Secretaria de
Estado da Educação do Paraná, foi expedida também pela SEED, por sua
Superintendência de Educação, em 23 de agosto de 2011, a Instrução nº
012/2011 – SUED/SEED (doc. 06), a fim de levar ao conhecimento de todos os
cidadãos, em especial à antiga “Escola Especial Nossa Escola” as alterações e
procedimentos a serem tomados pelas Escolas em virtude da Resolução.
In casu, através da RESOLUÇÃO Nº 4962/11, a antiga escola
mantida pela APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais),
denominada “Escola Especial Nossa Escola”, teve alterada a sua
denominação e também a sua função na sociedade, vez que foi, através de
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dita Resolução, credenciada para a oferta da Educação Básica na Modalidade
Educação Especial. (doc. 06.1).
Conforme a Instrução nº 012/2011 – SUED/SEED (doc. 06), a
SEED expediria ato oficial de credenciamento, às Escolas, para oferta de
Educação Básica na Modalidade de Educação Especial e a autorização de
funcionamento da Educação Infantil, Ensino Fundamental Anos Iniciais e
Educação de Jovens e Adultos – Fase I, cessando, voluntária e
definitivamente as Escolas de Educação Especial.
Ficou definido, ainda, que “a partir da expedição do ato oficial
de credenciamento e autorização de funcionamento das Escolas de
Educação Básica na Modalidade de Educação Especial ESTAS PASSARÃO A
INTEGRAR O SISTEMA ESTADUAL DE ENSINO ofertando a escolarização e
garantindo a certificação aos seus alunos”. (doc. 06).
E mais, foi determinado que “as Escolas de Educação Básica na
Modalidade de Educação Especial mantidas por entidades que
comprovarem finalidade não lucrativa e conveniadas com a SEED terão
garantido TRATAMENTO IGUAL ao dispensado às demais escolas da Rede
pública, conforme critérios estabelecidos pela SEED”. (doc. 06).
E não foi apenas isso. A partir do item 12 da Instrução nº
012/2011 – SUED/SEED, ficou estabelecido que “os alunos das escolas de
educação básica, na Modalidade Educação Especial, terão ACESSO E
GARANTIA DE TRANSPORTE ESCOLAR ADEQUADO E COM AS ADAPTAÇÕES
NECESSÁRIAS, considerando suas necessidades específicas”. (doc. 06).
Como se observa, a partir da Proposta elaborada pela SEED (doc.
04), que resultou na Resolução nº 3600/2011 (doc. 05) e na Instrução nº
012/2011 – SUED/SEED (doc. 06), o Estado do Paraná concretizou no cenário
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nacional uma necessidade que há muito já estava em pauta, qual seja a de
garantir as crianças, jovens, adultos e idosos com necessidades especiais,
as mesmas garantias de ensino em Escolas de Educação básica adaptadas
para o ensino adequado destes indivíduos.
Por fim, a Resolução nº. 4962/11 da SEED (doc. 06.1) e o
Parecer nº. 1461/2011 da SEED (doc. 06.2), veio credenciar e autorizar o
funcionamento da ESCOLA JOSÉ DUDA JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL E
ENSINO FUNDAMENTAL, NA MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL para a oferta
da Educação Básica. Com isso, comprovado restou que referida escola, de
Educação Especial, e que realiza ensino fundamental na modalidade de
educação básica, DEVE SER INCLUÍDA NA POLÍTICA PÚBLICA MUNICIPAL DO
TRANSPORTE ESCOLAR. Referida Resolução Estadual vem de encontro ao
Decreto de nº 7.611, promulgado em 17 de novembro de 2011 pela
Presidete Dilma Roussef, que dispõe sobre a educação especial, o
atendimento educacional especializado e dá outras providências. (doc.
07).
A partir do recente Decreto, ficou estabelecido o dever do
Estado em garantir ao público-alvo da educação especial o aprendizado por
toda a vida, dentre outras diretrizes a serem seguidas:
Art. 1º O dever do Estado com a educação das pessoas público-alvo da educação
especial será efetivado de acordo com as seguintes diretrizes:
I - garantia de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem
discriminação e com base na igualdade de oportunidades;
II - aprendizado ao longo de toda a vida;
III - não exclusão do sistema educacional geral sob alegação de deficiência;
IV - garantia de ensino fundamental gratuito e compulsório, asseguradas
adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais;
V - oferta de apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a
facilitar sua efetiva educação;
VI - adoção de medidas de apoio individualizadas e efetivas, em ambientes que
maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de
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inclusão plena;
VII - oferta de educação especial preferencialmente na rede regular de ensino; e
VIII - apoio técnico e financeiro pelo Poder Público às instituições privadas sem
fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial.
Quanto aos objetivos do atendimento educacional especializado
contidos no Decreto nº. 7.611/2011, de 17 de novembro de 2011, está o de
prover as condições para o acesso ao ensino:
Art. 3º São objetivos do atendimento educacional especializado:
I - prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e
garantir serviços de apoio especializados de acordo com as necessidades
individuais dos estudantes;
E o Decreto nº. 7.612, de 17 de novembro de 2011, que
instituiu o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano
Viver sem Limite, assim estabelece (doc. 07.1):
Art. 1º Fica instituído o Plano Nacinal dos Direitos da Pessoa com
Deficiência – Plano Viver sem Limite, com a finalidade de promover, por
meio da integração e articulação de políticas, programas e ações, o
exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com deficiência, nos
termos da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo, aprovados por meio do Decreto
Legislativo nº. 186, de 9 de julho de 2008, com status de emenda
constitucional, e promulgados pelo Decreto nº. 6.949, de 25 de agosto de
2009.
Parágrafo único. O Plano Viver sem Limite será executado pela União em
colaboração com Estados, Distrito Federal, Municípios, e com a sociedade.
Art. 2º São consideradas pessoas com deficiência aquelas que têm
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir
sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições
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com as demais pessoas.
Art. 3º São diretrizes do Plano Viver sem Limite:
I – garantia de um sistema educacional inclusivo;
II – garantia de que os equipamentos públicos de educação sejam acessíveis
para as pessoas com deficiência, inclusive por meio de transporte
adequado;
Diante da promulgação do Decreto nº. 7.611/2011 e do Decreto
7.612/2011, a Federação das APAEs do Estado do Paraná, emitiu o Ofício
Circular nº 098/2011 (doc. 08), em 22 de novembro de 2011, direcionado aos
Presidentes das APAEs e das Coirmãs filiadas, Diretores(as), funcionários(as)
das Escolas de Educação Especial e Famílias, considerando uma conquista para
todas as entidades filantrópicas do país, tais como as APAEs, Pestalozzis,
Escolas de Surdos e Cegos e outras instituições.
Nos termos do Oficio Circular, “o dia 17 de novembro foi um
dia histórico para o Brasil, pois agora será criada uma Secretaria
Especial da Pessoa com Deficiência e nos próximos anos o governo prevê
investir, até 2014, o montante de 7,5 milhões de reais, para os
programas de acesso à Educação, Saúde, Inclusão Social e
Acessibilidade”.
IV. ESCOLA JOSÉ DUDA JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO
FUNDAMENTAL, NA MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL
Inicialmente, para fins de esclarecimento, faz-se necessário
realizar uma consideração acerca da atual denominação da substituída.
Até o último mês de agosto do ano de 2011, a Escola José
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
Duda Júnior – Educação Infantil e Ensino Fundamental, na Modalidade
Educação Especial possuía a alcunha de Escola Especial Nossa Escola.
A APAE de Irati – associação civil, filantrópica, de caráter
assistencial, educacional, cultural, de saúde, de estudo e pesquisa, sem fins
lucrativos –, tinha como um de seus principais objetivos promover a
melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência,
preferencialmente mental, buscando assegurar-lhes o pleno exercício da
cidadania, a partir do ensino especial.
Ocorre que, conforme já exposto no item anterior, no Estado
do Paraná, a partir da Resolução nº. 3600/2011 – GS/SEED, publicada no dia
18 de agosto de 2011, as Escolas de Educação Especial (mantidas pelas APAEs -
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), tiveram a sua denominação
alterada para “Escola de Educação Básica na Modalidade de Educação
Especial”, passando, ainda, a oferecer aos seus alunos a Educação Infantil,
Ensino Fundamental – anos iniciais, Educação de Jovens e Adultos – Fase I,
e Educação Profissional/Formação Inicial (doc. 05).
A partir desta mudança, e com a expedição de ato oficial de
credenciamento e autorização de funcionamento, as Escolas de Educação
Básica na Modalidade de Educação Especial passaram a integrar o Sistema
Estadual de Ensino ofertando a escolarização e garantindo a certificação de
seus alunos.
Assim, a Escola de Educação Especial Nossa Escola passou a
ser chamada de Escola José Duda Júnior Educação Infantil e Ensino
Fundamental , na modalidade Educação Especial com a oferta das etapas:
Educação Infantil, Ensino Fundamental – Anos Iniciais e Educação de
Jovens e Adultos – Fase I/Educação Profissional Formação Inicial,
integrando o Sistema Educacional do Estado do Paraná, conforme
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
DECLARAÇÃO anexa (doc. 09).
E é na busca pelo direito de acesso à educação dos alunos da
Escola José Duda Júnior –Educação Infantil E Ensino Fundamental, Na
Modalidade Educação Especial que o Ministério Público do Estado do Paraná,
representado pela 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Irati, com
atribuições na área de Direitos e Garantias Constitucionais do Cidadão, de
Proteção à Educação e de Proteção dos Interesses das Pessoas Portadoras de
Necessidades Especiais, apresenta esta ação civil pública, conforme os fatos e
fundamentos que passa a expor.
V. BREVE SÍNTESE DOS FATOS
A Escola José Duda Júnior – Educação Infantil E Ensino
Fundamental, Na Modalidade Educação Especial (a seguir, chamada apenas
de Escola José Duda Jr) tem, atualmente, 154 alunos especiais, os quais
necessitam fazer uso de transporte escolar para se deslocarem até o
estabelecimento de ensino. Conforme relação anexa (doc. 15), i) 41 alunos
fazem uso de cadeira de rodas, ii) 11 alunos necessitam de acompanhamento
durante o trajeto; e iii) 3 alunos precisam de transporte individual.
Para que os alunos portadores de necessidades especiais
(crianças, adolescentes, adultos) possam se deslocar até à Escola José Duda
Jr, faz-se necessário transporte adequado as suas limitações. Ocorre que
este transporte não está sendo oferecido pelo Município de Irati, uma vez
que estes alunos especiais não estão incluídos na política pública de
transporte escolar do município, de modo que a própria entidade
mantenedora (APAE DE IRATI), às suas próprias expensas, vem arcando
com os valores, de maneira a onerar excessivamente a instituição,
impedindo-a de prestar melhores serviços aos seus alunos.
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
Diante da necessidade imperiosa em ter o transporte escolar
fornecido aos seus alunos, e uma vez que é constitucionalmente garantido às
pessoas com deficiência a igualdade de oportunidades e acesso a todos os
serviços garantidos às pessoas ditas “normais”, a Escola José Duda Jr, em
28 de dezembro de 2010 (à época ainda chamada de “Escola Especial Nossa
Escola”), protocolizou junto à Secretaria Municipal de Educação de Irati, o
Ofício de nº 124/2010, no qual solicitou que os alunos e alunas
matriculados na Escola José Duda Jr fossem incluídos no sistema de
transporte escolar do Município de Irati, propiciando condições de
igualdade no acesso ao serviço de transporte escolar mantido pela
Prefeitura Municipal de Irati (doc. 10).
Como complemento ao Ofício de nº 124/2010, a Escola José
Duda Jr, protocolizou o Ofício de nº 008/2011, em 02 de fevereiro de 2011,
no qual apresentou informações referentes ao número de veículos utilizados
pela instituição, distância percorrida, número de motoristas e auxiliares,
quantidade de alunos transportados (e acompanhantes), e custo do quilômetro
rodado (doc. 11).
Por não ter obtido qualquer resposta aos Ofícios
protocolizados junto à Prefeitura de Irati nos meses de Dezembro do ano
de 2010, e Fevereiro do ano de 2011, a Escola José Duda Jr, no dia 03 de
novembro de 2011, protocolizou o Ofício de nº 076/2011 (doc. 12), no qual
juntou cópias dos ofícios enviados anteriormente e fez um convite aos
responsáveis pela logística do transporte escolar do Município de Irati para
uma reunião na sede da Escola José Duda Jr a fim de tratar dos assuntos
relativos ao transporte escolar dos alunos para o ano de 2012.
A reunião foi realizada no dia 16 de novembro de 2011,
entretanto, conforme a Ata de Reunião (doc. 13), não compareceram nem a
Secretária Municipal de Educação, a Sra. Zenilda Alice Stroparo, tampouco
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
qualquer outro representante do Município ou da Secretaria de Educação.
E muito embora a Sra. Zenilda Alice Stroparo, Secretária
Municipal de Educação, não tenha comparecido à reunião acima mencionada,
em entrevista concedida ao Jornal Centro Sul, publicado em 08 de fevereiro
de 2012 (doc. 16), deixou claro que os alunos objeto desta ação NÃO ESTÃO
INCLUÍDOS NA POLÍTICA PÚBLICA MUNICIPAL DO TRANSPORTE ESCOLAR,
uma vez que não incluiu os alunos da APAE na conta dos ônibus destinados
ao transporte escolar. Senão vejamos:
(...)
“As 30 escolas que compõe a rede municipal do município
comportam cinco mil alunos, conduzidos diariamente em 45 ônibus. Tivemos
que contratar mais dois ônibus para esse ano devido ao aumento da demanda
de alunos a serem transportados.”.
Prosseguindo, visando garantir o transporte necessário para
os seus alunos no ano de 2012, a Escola José Duda Jr protocolizou o Ofício
de nº 93/2011 (doc. 14), em 18 de novembro do corrente mês, junto a esta
Promotoria, apresentando documentação com o objetivo de possibilitar a
tomada de providências pelo Ministério Público em relação a negativa de
concessão pelo município de TRANSPORTE ESCOLAR dos alunos matriculados
na Escola José Duda Jr, vez que o Judiciário restou como o único meio
visualizado passível de garantir o direito ao transporte escolar gratuito
para os alunos.
VI. O DIREITO APLICADO À ESPÉCIE
A atual Constituição Federal consagrou a prevalência de
determinados direitos fundamentais que, no caso concreto, foram
flagrantemente vulnerados. A mera leitura dos dispositivos constitucionais
que seguem, em confronto com a hipótese dos autos, revela de pronto a lesão
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
em causa:
Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de
direito e tem como fundamentos:
II - a dignidade da pessoa humana;
Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade
e quaisquer outras formas de discriminação.
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)
No que se refere, especificamente, ao presente caso, que diz
respeito ao DIREITO AO ENSINO E AO TRANSPORTE ESCOLAR NECESSÁRIO
aos alunos da Escola José Duda Jr, devem ser observados os seguintes
dispositivos constitucionais:
Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança,
a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos
de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria;
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
preferencialmente na rede regular de ensino;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio
de programas suplementares de material didático escolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde.
§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta
irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental,
fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à
escola.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação (...).
Ora, os cidadãos devem usufruir de todos os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo assegurado por lei ou por
outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de possibilitar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de
liberdade e de dignidade.
Quanto à educação básica, tem caráter OBRIGATÓRIO e
GRATUITO dos 4 aos 17 anos de idade, sendo assegurado a oferta gratuita
para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria, e com a
ressalva de que EM SE TRATANDO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, A OFERTA DEVE
SER AO LONGO DE TODA A VIDA (doc. 07).
Entretanto, a simples disponibilização do ensino gratuito
não é suficiente para assegurar o acesso e a permanência do aluno na
escola. Diante disso, o legislador atrelou ao dever de educação outras
prestações obrigacionais, como é o caso da obrigação de transportar o aluno
até a escola, visando assegurar o acesso à educação.
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
Assim, NÃO BASTA DISPONIBILIZAR O ENSINO, É PRECISO
PROVER AS CONDIÇÕES PARA O ACESSO ATÉ A ESCOLA. É isto o que prevê o
art. 178 da Constituição do Estado do Paraná e o art. 3º da Lei 9394/96:
Constituição do Estado do Paraná.
Art. 178. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condição para acesso e permanência na escola, vedada qualquer
forma de discriminação e segregação;
Lei 9394/96.
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
E o Decreto nº. 7.612, de 17 de novembro de 2011, que
instituiu o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano
Viver sem Limite, assim estabelece (doc. 07.1):
Art. 1º Fica instituído o Plano Nacinal dos Direitos da Pessoa com
Deficiência – Plano Viver sem Limite, com a finalidade de promover, por
meio da integração e articulação de políticas, programas e ações, o
exercício pleno e equitativo dos direitos das pessoas com deficiência, nos
termos da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo, aprovados por meio do Decreto
Legislativo nº. 186, de 9 de julho de 2008, com status de emenda
constitucional, e promulgados pelo Decreto nº. 6.949, de 25 de agosto de
2009.
Parágrafo único. O Plano Viver sem Limite será executado pela União em
colaboração com Estados, Distrito Federal, Municípios, e com a sociedade.
Art. 2º São consideradas pessoas com deficiência aquelas que têm
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir
sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições
com as demais pessoas.
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
Art. 3º São diretrizes do Plano Viver sem Limite:
I – garantia de um sistema educacional inclusivo;
II – garantia de que os equipamentos públicos de educação sejam acessíveis
para as pessoas com deficiência, inclusive por meio de transporte
adequado;
No presente caso, observa-se claramente que os direitos dos
alunos atendidos pela Escola José Duda Jr não vem sendo respeitados, isso
porque, o Município de Irati, e sua Secretaria de Educação, não estão
fornecendo o TRANSPORTE ESCOLAR ADEQUADO, que é condição
necessária para que possa ser garantido o acesso dos alunos especiais à
educação básica, de caráter OBRIGATÓRIO E AO LONGO DE TODA A VIDA.
Conforme já explicitado, a partir da Resolução nº
3600/2011 – GS/SEED, as Escolas de Educação Básica na modalidade de
Educação Especial, passaram a oferecer, efetivamente, a Educação
Infantil, Ensino Fundamental – anos iniciais, Educação de Jovens e Adultos
– Fase I, e Educação Profissional/Formação Inicial tendo sido determinado,
em seu art. 3º, o dever em “dar condições ao acesso, permanência na
escola e atendimento educacional gratuito, na forma da Lei” (doc. 05).
Nesse sentido, uma vez que as APAEs, agora mantém escolas
credenciadas para funcionar como Escolas de Educação Básica, e em sendo
dever constitucional do Estado o fornecimento gratuito e obrigatório
transporte escolar para essas Escolas (tanto por serem de educação básica,
quanto por se tratarem de instituições de educação especial), EVIDENTE É
O DIREITO DOS ALUNOS DA ESCOLA JOSÉ DUDA JR. EM SEREM INCLUÍDOS NA
POLÍTICA PÚBLICA MUNICIPAL DO TRANSPORTE ESCOLAR GRATUITO ORA
PLEITEADO.
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
Não bastasse a legislação estadual, conforme já citado, foram
publicados em âmbito nacional os Decretos nº 7.611 e 7.612 que dispõem
sobre a educação especial e o atendimento educacional especializado e o
direito ao transporte escolar a ser fornecido pelos municípios.
Conforme o inciso VII do artigo 1º do Decreto nº. 7.611
supracitado, poderiam os alunos especiais ser incluídos na rede regular de
ensino, contudo, no presente caso, as escolas da rede regular do município
de Irati não possuem as condições suficientes para garantir o atendimento
adequado a todos os alunos da Escola José Duda Jr, os quais superam o
número de 150 alunos.
A Escola de Educaçao Básica na Modalidade de Educação
Especial José Duda Jr. proporciona o atendimento especializado aos alunos
com necessidades especiais, garantindo a educação básica a sujeitos que,
em virtude do grau de comprometimento mental, não acompanhariam
adequadamente o currículo desenvolvido no ensino comum.
Dispõe a Lei nº. 7.883/89, em seu art. 2º, que ao Poder
Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência
o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à
educação. Complementa o parágrafo único, I, que para o fim estabelecido no
caput do artigo, os órgãos e entidades da administração direta e indireta
devem dispensar, no âmbito de sua competência e finalidade, aos assuntos
objetos esta Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente a viabilizar,
sem prejuízo de outras:
e) o acesso de alunos portadores de deficiência aos benefícios
conferidos aos demais educandos, inclusive material escolar,
merenda escolar e bolsas de estudo.
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
No que se refere de forma específica a acessibilidade à
educação aos portadores de deficiência, a Constituição Federal, a
Constituição do Estado do Paraná e a Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases
Nacional) são claros:
Constituição Federal. Art. 208.
O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino.
Constituição do Estado do Paraná. Art. 173.
O Estado e os Municípios assegurarão, no âmbito de suas competências, a
proteção e a assistência à família, especialmente à maternidade, à infância, à
adolescência, e à velhice, bem como a educação do excepcional, na forma da
Constituição Federal.
Constituição do Estado do Paraná.
Art. 179. O dever do Poder Público, dentro das atribuições que lhe forem conferidas,
será cumprido mediante a garantia de:
IV - atendimento educacional especializado gratuito aos portadores de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
Lei 9.394/96. Art. 4º.
O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia
de:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria;
III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com
necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino;
Ainda, no que tange à obrigação de conceder o TRANSPORTE
aos alunos, inclusive os portadores de necessidades especiais, há os seguintes
dispositivos na legislação brasileira:
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
CF. Art. 208.
O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio
de programas suplementares de material didático escolar, TRANSPORTE,
alimentação e assistência à saúde.
Lei 9.394/96.
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante
a garantia de:
VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de
programas suplementares de material didático-escolar, TRANSPORTE, alimentação
e assistência à saúde.
Lei 9.394/96.
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvimento do ensino as
despesas realizadas com vistas à consecução dos objetivos básicos das instituições
educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se destinam a:
VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção de programas de
TRANSPORTE ESCOLAR.
Constituição do Estado do Paraná.
Art. 179. O dever do Poder Público, dentro das atribuições que lhe forem conferidas,
será cumprido mediante a garantia de:
VIII - atendimento ao educando, no ensino pré-escolar, fundamental, médio e de
educação especial, através de programas suplementares de material didático
escolar, TRANSPORTE, alimentação e assistência à saúde;
Por tudo o que foi apresentado, em especial, pelos Decretos
nº. 7611 e 7.612 de 17.11.2011, tem-se EVIDENCIADA A OBRIGAÇÃO DO
MUNICÍPIO DE IRATI EM CONCEDER O TRANSPORTE ESCOLAR ESPECIAL ORA
PLEITEADO, INCLUINDO OS ALUNOS DA APAE NA POLÍTICA PÚBLICA DO
TRANSPORTE MUNICIPAL.
Até mesmo porque, tal garantia encontra-se na própria LEI
ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE IRATI, EM SEU ART. 161, o qual determina que
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
“O MUNICÍPIO DESTINARÁ VERBAS, RECURSOS MATERIAIS E HUMANOS ÀS
ESCOLAS ESPECIALIZADAS SEM FINS LUCRATIVOS, VOLTADOS À EDUCAÇÃO
DO EXCEPCIONAL, GARANTINDO A ESTE TRANSPORTE ESCOLAR GRATUITO”.
Nos termos do art. 211, parágrafo segundo, da Constituição
Federal, consta que “os Municípios atuarão prioritariamente no ensino
fundamental e na educação infantil”. Assim, considerando-se que a Escola
José Duda Júnior – Educação Infantil E Ensino Fundamental, Na Modalidade
Educação Especial, fornece Educação Infantil e Ensino Fundamental –anos
iniciais aos seus alunos, não há que se discutir quanto à legitimidade
passiva do Município de Irati no presente caso.
A Constituição do Estado do Paraná, a Lei de Diretrizes e Bases
Nacionais, e a Constituição Federal reiteram em seus artigos a
obrigatoriedade por parte dos Municípios de responsabilidade com a educação
básica e educação especial:
CF. Art. 30.
Compete aos Municípios:
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
programas de educação infantil e de ensino fundamental;
CF. Art. 221. § 2º.
Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação
infantil.
Constituição do Estado do Paraná. Art. 179. § 5º.
Os municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação
infantil.
Constituição do Estado do Paraná. Art. 17.
Compete aos Municípios:
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado,
programas de educação pré-escolar, de educação especial e de ensino
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
fundamental;
Lei 9.394/96. Art. 11.
Os Municípios incumbir-se-ão de:
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal.
É impostergável a obrigação do Município de Irati em
fornecer o transporte escolar adequado a fim de garantir o acesso dos
alunos da APAE à educação. Desta forma, muito embora já comprovado que
na presente situação o Município é o responsável pela concessão do transporte
escolar, caso venha a declarar a impossibilidade material para não cumprir
com a obrigação, ou mesmo repassar a obrigação aos outros entes federativos,
tais alegações não merecerão prosperar. Nesse sentido, preleciona VALTER
KENJI ISHIDA, fazendo referência à obrigatoriedade disposta no art. 208 do
Estatuto da Criança e do Adolescente, com relação ao ensino obrigatório, e
programas de transporte para o acesso à educação:
“Não cabe ao Estado alegar a impossibilidade material para não
cumprir obrigação de fazer estipulada no art. 208. É o que se
decidiu na Apelação Cível n° 50.966 de Porto União, Rel. Des. Anselmo
Cerello, DJ 15-8-96, p.12: Ação civil pública – Criança e Adolescente –
Ação civil pública intentada pelo Ministério Público estadual,
objetivando o cumprimento pelo Município das disposições constantes
no art. 208 do ECA – Pretensão amparada pela Lei n° 8.069 –
Pretensão acolhida liminarmente e devidamente cumprida pela
municipalidade – Alegações do ente público demandado,
comprovado que indispõe de meios materiais necessários para dar
cumprimento a tais disposições – Remessa oficial desprovida.”
(Estatuto da Criança e do Adolescente – Doutrina e jurisprudência,
Atlas, 2006, p. 357)
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
Ainda, deve-se fazer referência a jurisprudência, que impõe
ao Município a obrigação de garantir o transporte escolar, inclusive aos
portadores de deficiência mental:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA - CONSTITUCIONAL - TRANSPORTE ESCOLAR - DEVER
LEGAL DO MUNICÍPIO. O transporte escolar é dever do Município, imposto
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, pela Lei de Diretrizes Básicas
da Educação e pela Constituição da República, sendo de se confirmar a
decisão que julgou procedente ação civil pública movida pelo Ministério
Público Estadual, com vistas a compelir a municipalidade a fornecê-lo às
suas crianças. (TJMG. 7ª C. Civ., Ap. Civ. n° 1.0417.04.910506-3/001, Rel.
Des. Edivaldo George dos Santos. J. 29/06/2004, DJ em 24/09/2004).
AÇÃO CIVIL PÚBLICA ENSINO FUNDAMENTAL TRANSPORTE RESPONSABILIDADE
DO MUNICÍPIO PROVIMENTO LIMINAR MANTIDO. Nos termos dos artigos 30,
VI e 211, § 2º, da Constituição Federal, é dever prioritário do Município a
atuação no ensino fundamental, não se exonerando de arcar com o
transporte das escoas que se dedicam a tal mister pelo simples fato de
pertencerem ao Estado. Recurso a que se nega provimento. (TJMG, Autos nº
1.0000.00.336065-8/000, Rel. Des. Kildare Carvalho) 06.11.2003)
APELAÇÃO - Imposição de obrigação de fazer à Administração Pública, fruto
de atividade jurisdicional - Possibilidade, desde que visando a satisfação de
direito subjetivo garantido pelo Ordenamento Jurídico - Compatibilidade
com o poder discricionário de que é investido o Poder Público - Legitimidade
do Ministério Público para o ajuizamento de demanda individual em
benefício de criança ou de adolescente - Reconhecimento, no mérito, do
direito das crianças e dos adolescentes, portadores de deficiência
mental, ao transporte especializado e gratuito aos estabelecimentos de
ensino - Sujeição do ente público à multa cominatória para o caso de
descumprimento da obrigação - Recursos improvidos (TJSP Câmara Especial
Apelação Cível nº 110.125-0/8-00, de São Paulo. Rel. Roberto Vallim
Bellocchi. J. em 17 de maio de 2004)
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
Excelência. Conforme já exposto, o transporte aos alunos vem
sendo arcado pela Escola José Duda Jr, às suas próprias expensas,
onerando excessivamente a instituição, e impedindo-a de prestar melhores
serviços aos alunos.
Muito embora tenha a Escola José Duda Jr protocolizado três
ofícios junto ao Município de Irati, e sua Secretaria de Educação, visando
solucionar o problema do transporte, não obteve retorno em nenhuma das
oportunidades, mostrando o total descaso do Município com o problema
enfrentado pela Escola José Duda Jr e seus alunos especiais, bem como
desrespeitando dispositivos constitucionais, legislação federal, além da
própria lei orgânica do Município. Mais que isso: pela reportagem do Jornal
Centro Sul de 08 de fevereiro de 2012, restou comprovada a exclusão dos
alunos da APAE da política pública do transporte escolar do município de
Irati.
O descaso citado pode ser verificado e comprovado, inclusive,
a partir de reportagem veiculada no dia 08 de fevereiro de 2012, na página 24
da Edição Semanal do Jornal Hoje Centro Sul (doc. 16). Nesta, a Secretária
Municipal de Educação, a Sra. Zenilda Stroparo (a mesma Secretária que,
muito embora devidamente convidada a comparecer em reunião na Escola
José Duda Jr. e discutir a questão relativa ao transporte dos alunos, não se
fez presente – docs. 12 e 13), indica conquistas para o ano letivo, excluindo
os alunos da APAE.
Consta da notícia que “as 30 escolas que compõe a rede
municipal do município comportam cinco mil alunos, conduzidos diariamente
em 45 ônibus”, e que, nas palavras da própria Secretária, o Município
contratou mais dois ônibus “devido ao aumento da demanda de alunos a
serem transportados”.
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
Em momento algum se cita na reportagem a situação da
Escola José Duda Jr., tampouco se incluem os seus alunos na contagem
geral realizada.
A Escola José Duda Júnior – Educação Infantil E Ensino
Fundamental, Na Modalidade Educação Especial é totalmente excluída do
transporte escolar, restando configurada a violação ao princípio da
igualdade, não garantindo o Município de Irati, por sua Secretaria de
Educação, o acesso à educação, com o provimento de transporte escolar
adequado às necessidades dos alunos da Escola José Duda Jr..
TAL SITUAÇÃO DE ABANDONO PREJUDICA CADA DIA MAIS OS
ALUNOS DA ESCOLA JOSÉ DUDA JR, E NÃO PODE PERDURAR POR MAIS
TEMPO.
Assim, por todo o exposto, necessário se faz seja dado
cumprimento a todos os dispositivos legais expostos nesta Ação Civil
Pública, de modo a conceder MEDIDA DE URGÊNCIA, que determine ao
Município de Irati que cumpra com o seu dever legal e garanta o
TRANSPORTE ESPECIAL ESCOLAR GRATUITO AOS ALUNOS DA ESCOLA JOSÉ
DUDA JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL, NA
MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL, atendendo as suas respectivas
necessidades, utilizando-se, para isso, de listagem e parâmetros a ser
repassado pela Escola José Duda Júnior – Educação Infantil E Ensino
Fundamental, Na Modalidade Educação Especial ao Município de Irati, com
a indicação do número exato de alunos a serem atendidos, bem como o
meio de transporte adequado a ser utilizado (uso de cadeira de rodas,
acompanhamento durante o trajeto; transporte individual).
VII. A TUTELA ANTECIPADA
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
Para a concessão da liminar devem concorrer dois requisitos
legais, ou seja, o fumus boni iuris e o periculum in mora.
O fumus boni iuris é a existência e ocorrência do direito
substancial invocado por quem pretende a segurança, o que já foi castamente
demonstrado pelas razões de direito apresentadas. Na espécie, inclusive, mais
do que sinais do bom direito, há a sua concreta e indiscutível existência.
O periculum in mora se configura em um dano potencial, um
risco que corre o processo principal de não ser útil ao interesse demonstrado
pela parte, e que, no caso em questão, se caracteriza pela necessidade de
ser providenciado transporte especial gratuito aos alunos da Escola José
Duda Júnior – Educação Infantil E Ensino Fundamental, Na Modalidade
Educação Especial, condição esta necessária para que possa ser garantido o
acesso e a permanência dos alunos na escola especial, proporcionado a
educação (ensino básico obrigatório e gratuito) e desenvolvimento
psicológico e motor adequados.
Restando provada a ilegalidade, pois a fumaça do bom direito,
agasalha a pretensão desta ação e existindo periculum in mora, na razão do
dano potencial irreparável aos alunos da Escola José Duda Jr, requer-se, com
fulcro no art. 12, caput, da Lei n.° 7.347/85 (Ação Civil Pública), o
deferimento de mandado liminar, devendo ser DETERMINADO ao Município
de Irati A INCLUSÃO DA ESCOLA JOSÉ DUDA JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL
E ENSINO FUNDAMENTAL, NA MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA
POLÍTICA PÚBLICA MUNICIPAL DO TRANSPORTE ESCOLAR, fornecendo
transporte escolar especial adequado aos alunos da Escola José Duda
Júnior – Educação Infantil E Ensino Fundamental, Na Modalidade Educação
Especial, atendendo às suas necessidades especiais, com espaço adequado
para cadeirantes, lugares destinados para acompanhantes, bem como o
transporte individual aos alunos que dele precisarem, conforme lista dos
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE IRATI
alunos anexa (doc. 15), a qual será constantemente atualizada pela
direção da Escola José Duda Jr e repassada ao Município de Irati quando
sofrer alterações.
VIII. O PEDIDO
Em face do exposto, diante de tudo o que foi apresentado,
requer-se de Vossa Excelência:
a) LIMINARMENTE, inaudita altera pars, a antecipação de
tutela, com o fim de ordenar judicialmente ao Município de Irati, para que
SEJA DETERMINADO ao Município de Irati A INCLUSÃO DA ESCOLA JOSÉ
DUDA JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL, NA
MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA POLÍTICA PÚBLICA MUNICIPAL DO
TRANSPORTE ESCOLAR, fornecendo transporte escolar especial adequado
aos alunos da Escola José Duda Júnior – Educação Infantil E Ensino
Fundamental, Na Modalidade Educação Especial, atendendo às suas
necessidades especiais, com espaço adequado para cadeirantes, lugares
destinados para acompanhantes, bem como o transporte individual aos
alunos que dele precisarem, conforme lista dos alunos anexa (doc. 15), a
qual será constantemente atualizada pela direção da Escola José Duda Jr e
repassada ao Município de Irati quando sofrer alterações;
b) fixação de multa diária, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil
reais), para garantia da execução da tutela concedida antecipadamente;
c) a citação do réu para que, querendo, conteste a presente
ação e a acompanhe, até final sentença, sob pena de revelia;
d) a produção de todas as provas admitidas em direito,
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especialmente inquirição de testemunhas, cujo rol será oportunamente
indicado, juntada de documentos e exames periciais que se fizerem
necessários;
e) ao final, a procedência do pedido, nos termos da
antecipação de tutela retro, com a condenação do réu, para que SEJA
DETERMINADO ao Município de Irati A INCLUSÃO DA ESCOLA JOSÉ DUDA
JÚNIOR – EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL, NA MODALIDADE
EDUCAÇÃO ESPECIAL NA POLÍTICA PÚBLICA MUNICIPAL DO TRANSPORTE
ESCOLAR, fornecendo transporte escolar especial adequado aos alunos da
Escola José Duda Júnior – Educação Infantil E Ensino Fundamental, Na
Modalidade Educação Especial, atendendo às suas necessidades especiais,
com espaço adequado para cadeirantes, lugares destinados para
acompanhantes, bem como o transporte individual aos alunos que dele
precisarem, conforme lista dos alunos anexa (doc. 15), a qual será
constantemente atualizada pela direção da Escola José Duda Jr e
repassada ao Município de Irati quando sofrer alterações;
f) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros
encargos, nos termos do art. 18, da Lei Federal nº 7347/85.
Dá-se à causa o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), ainda
que inestimável o objeto tutelado, apenas para efeitos fiscais.
Nestes termos, pede deferimento.
Irati-PR, 22 de março de 2012.
Maria Luiza Correa de Mello
Promotora de Justiça