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Trabalho Ciclo II – Turma Quarta-feira Manhã
Aluno: Christian Mathias Fernandez 1
2º Semestre de 2013
Ciclo II – Quarta-feira – Manhã
Aluno: Christian Mathias Fernandez
Tema: O FIM DE UMA ANÁLISE:
• Prólogo:
Na hora clinica da turma do segundo ciclo do curso de Psicanálise
levantou-se a seguinte questão: Como o analista deve trabalhar a decisão de
alta de um paciente. Caso esse paciente resolva voltar, deve/pode o analista
retomar o trabalho? E no caso dos pais não terem condições de custear a
análise de dois filhos. Deve-se colocar um por algum tempo (até um ano de
tratamento) e depois retirá-lo a fim de que o outro possa ter a mesma
oportunidade.
Levantada esta questão passamos a comentar nossa visão sobre o
assunto. A primeira colega disse que acredita que o trabalho analítico, uma vez
iniciado, reverbera por toda a vida. Assim, mesmo que a pessoa encerre o
tratamento seu interlocutor interno, que foi desenvolvido na análise, o
acompanhará. O assunto prosseguiu de maneira bem instigante.
Achei que foi uma hora clínica bastante rica, talvez por que tenha
suscitado em mim tantas emoções e a possibilidade de ouvir diversas visões
Trabalho Ciclo II – Turma Quarta-feira Manhã
Aluno: Christian Mathias Fernandez 2
do assunto e ver como aquelas visões e percepções a posteriori reverberavam
em mim.
Após essa breve introdução procuraremos abordar o tema do fim da
análise em Freud em com base no que aprendemos até o presente momento e
em alguns textos que não tivemos em nossa bibliografia, mas que fazem
menção ao assunto tratado em nossa hora clinica.
• A análise terminável e interminável:
Em 1937 Freud publicou “Análise terminável e interminável”, juntamente
com o texto “Construções em analise”. Vale ressaltar que esses textos foram
um dos últimos escritos do grande fundador desta nova forma de conhecimento
que ele nomeou de Psicanalise. O editor da edição standard chamou a atenção
para mudança de percepção de Freud em relação ao “poder profilático” ou a
cura completa da neurose tratada neste texto. Em sua nova visão, Freud
mudou sua percepção a esse respeito neste último texto e acreditava que não
há garantias de que o paciente que teve alta, que conseguiu passar pelo
tratamento terapêutico, apesar do fortalecimento do ego no processo, não corra
o risco de ter alguma recaída, dada a condições novas da realidade.
Quando Freud iniciou seu trabalho, por meio da clínica com casos de
histeria, o médico neurologista buscou uma maneira mais eficaz que as
praticadas pelos seus contemporâneos de curar a histeria e, depois, a neurose.
Este era, portanto, o objetivo inicial da psicanalise. Na época da publicação
deste texto, Freud o inicia com o seguinte trecho:
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Aluno: Christian Mathias Fernandez 3
“A experiência nos ensinou que a terapia psicanalítica
– a libertação de alguém de seus sintomas, inibições
e anormalidades de caráter neuróticas – é um assunto
que consome muito tempo.”
O leitor perceber qual o escopo da terapia analítica para Freud –
“Libertação de alguém de seus sintomas, inibições e anormalidades de caráter
neuróticas” - bem como sua percepção de que este tratamento consome muito
tempo. Sabendo que a psicanalise fora criada por um médico e tinha como
escopo a cura e, ademais, quando buscou um reconhecimento internacional
teve uma boa repercussão nos Estados Unidos, país conhecido pelo
pragmatismo e pela busca de resultados sempre rápidos; percebemos que
ainda hoje há um enorme resquício desta origem e da influencia americana,
não só na psicanalise como também na nossa cultura. A cultura do fast-food,
dos tratamentos breves e de um sentimento de pressa, de urgência desmedida
tem influenciado a discussão sobre o lento processo da analise e maneiras de
acelera-lo.
Hoje já podemos afirmar com mais convicção que não há uma cura
neste processo. Até por que não mais vemos as manifestações, inibições e
sintomas como doença. Há casos de doença, sem dúvida, que hoje são
Trabalho Ciclo II – Turma Quarta-feira Manhã
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descritos pelo DSM e são trabalhados com a psicanálise, mas há também
assuntos abordados na análise que não se configuram como doença no
sentido técnico do termo. Há pessoas que não estão enfermas com algum
sintoma postulado no DSM e que ainda assim buscam análise e tem nela um
caminho de autoconhecimento e descobertas que muito contribuem para uma
significativa melhora na qualidade de vida.
Isto posto, não há que se falar em um neurótico curado. E podemos
dizer que a psicanalise, antes usada para curar neuróticos, tem sido uma
ferramenta muito útil e aceita no tratamento de diversas estruturas, tais como
psicóticos, perversos, etc.
Ainda em relação ao texto, Freud, talvez seduzido pela busca de
agilidade no tratamento, de um modelo mais curto, empregou uma nova técnica
a fim de acelerar o tratamento de seus pacientes. Sua justificativa para a nova
técnica foi a de que um sucesso parcial de tratamento deixava o analisando em
uma zona de conforto que o impedia de avançar.
Assim, buscando agilidade e quebra de resistências fixou um limite de
tempo para o fim da análise e comunicou ao analisando. Fez isso mais de uma
vez e conclui que ele tem uma eficácia no sentido de acelerar e “quebrar”
algumas resistências, mas não se pode garantir a realização completa da
tarefa. Percebeu também que uma parte do material ficou acessível frente à
chantagem enquanto que outra “ficará sepultada”. Um erro de calculo não pode
ser retificado. Sua conclusão não foi favorável ao emprego da nova técnica.
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• O que é de fato o término da análise?
No segundo capítulo do texto Freud inicia da seguinte maneira:
“A discussão do problema técnico de saber como
acelerar o lento progresso de uma análise nos conduz
a outra questão, mais profundamente interessante:
existe algo que se possa chamar de término de uma
análise – Há alguma possibilidade de levar uma
análise a tal término?”
Por meio desta colocação, se amplia um pouco o horizonte da questão
inicial e busca-se determinar o que se poderia chamar de fim de análise. Freud
coloca que uma resposta inicial, prática e objetiva seria de que o fim da análise
se dá com o fim das sessões entre analista e analisando. Isso pode ocorrer de
duas formas; A primeira, para chegar a este fim, o paciente deve ter superado
suas ansiedades, inibições e não apresentar seus antigos sintomas. Mais que
isso, é necessário que o analista acredite que tenha vencido diversas
resistências, tornado muito material consciente ao analisando que o risco de
uma repetição do processo patológico é pequeno.
Num segundo fim de análise, sem que este quadro acima tenha sido
preenchido, pode ocorrer em função de dificuldades externas (financeira, de
mobilidade, de agenda...) tornando o processo de analise "incompleto” ou
"inacabado”, frente um fim desta natureza.
Em seguida Freud coloca um sentido mais ambicioso no termo fim da
analise, qual seja: chegar a uma “normalidade psíquica absoluta”. Ele coloca
Trabalho Ciclo II – Turma Quarta-feira Manhã
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esta ideia para refletirmos, contudo acha que isso seria o ideal, mas não
alcançável. Neste ponto há uma alteração de percurso. Freud coloca que a
busca não deveria se dar na cura pela análise, mas sim nos obstáculos que se
colocam no caminho da cura. Apresenta dois casos clínicos de alta de
pacientes que teve ao longo de sua carreira e que anos mais tarde tiveram
recaídas.
Coloca-se que há quem defenda que a analise da época dos exemplos
avançou muito e que hoje pode curar completamente as pessoas e há aqueles
que acreditam que não há garantias. Contudo, Freud diz que independente da
corrente otimista ou cética não há espaço para buscar um abreviamento do
tratamento, em especial para aqueles que buscam um término de análise do
primeiro tipo – Sem sofrimentos de sintomas, superação de ansiedades e
inibições.
• A saúde e as possibilidades advindas de um tratamen to analítico:
No terceiro capítulo deste interessante ensaio Freud, em nota de rodapé, faz
uma colocação em relação à saúde:
“É impossível definir saúde, exceto em termos
metapsicológicos, isto é, por referência às relações
dinâmicas entre as instâncias do aparelho psíquico
que foram identificadas – ou (se preferir) inferidas ou
conjecturadas – por nós.”
Em seguida coloca-se que o tratamento psicanalítico produz um estado no
analisando que nunca surge espontaneamente, criando uma diferença
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essencial naqueles que tiveram a chance de passar por este processo. Em
relação a isto, podemos retomar a colocação de nossa colega na hora clínica
que afirmou que mesmo com uma interrupção na análise há, uma vez que o
analisando tenha iniciado seu tratamento, um novo interlocutor interno que faz
as vezes do analista por toda a vida. É claro que este interlocutor terá uma
força frente os impulsos e as pulsões diretamente proporcional à eficácia do
trabalho analítico pelo qual o analisando passou. Também se considera que
este interlocutor permite um controle sobre o instinto melhor que antes deste
ferramental. Contudo ele é imperfeito, pois é sempre incompleto.
Na abertura do VII capítulo Freud, em citação à Ferenczi, coloca que “a
análise não é um processo sem fim, mas um processo que pode receber um
fim natural, com perícia e paciência suficientes por parte do analista”. E sua
percepção é de um trabalho longo e não de uma chance de abreviação como
no discutido no início.
Ele coloca a importância da saúde mental do analista para a correta
execução de sua função, contrapondo com a função de um médico que,
mesmo sofrendo do coração pode atender um paciente sem causar danos a
este em função de seu problema. Esta é uma introdução da importância da
análise para aqueles que buscam ser analistas. Sabe-se que o tripé de um bom
analista é analise pessoal, conhecimento acadêmico e supervisão.
O texto diz da importância da manutenção da analise enquanto este
estiver na prática. Assim, já se percebe que a resposta objetiva de um término
de análise para aqueles que praticam é, ao ver de Freud, algo que não é
saudável.
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• Conclusão
Com base no texto acima podemos perceber que a resposta à questão
de nosso colega sobre o fim da análise é complexa e muito trabalhada ao
longo de vários anos.
Podemos inferir que se um analisando apresenta uma vontade de
interromper ou finalizar a análise é fundamental tratar deste assunto de
maneira analítica. Analisar se é uma questão de resistência ou se a
demanda do analisando foi alcançada ao longo do tratamento e se, neste
caso, há um possível fim de relação que deve ser tratada com muito
respeito.
Caso haja um fim nesta relação, acredito que isso não signifique que o
analisando esteja “curado” e que não possa mais desfrutar das benesses de
uma analise. Pode-se buscar um novo analista que poderá, com outro
repertório, trabalhar pontos nunca antes analisados.
De maneira objetiva, em resposta à primeira questão do presente
trabalho, o fim de analise é material para a própria analise. O analista pode
retomar um processo de analise interrompido e, por fim, o tema de
interromper um tratamento infantil para que outra criança seja atendida é
um tema extremamente delicado. Isto por que o momento da interrupção
por vezes é dado pelos pais e com base em um calendário gregoriano (1
ano, seis meses etc) e não com base na realidade do atendimento do
paciente/analista.
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Aluno: Christian Mathias Fernandez 9
É mister que os pais busquem conversar com o analista para saber
como anda o tratamento de seu filho e estudar o momento desta
interrupção, haja vista uma interrupção abrupta pode trazer grandes
prejuízos ao analisando.
Durante meus estudos para a produção do presente trabalho me veio à
cabeça o poema de Vinicius de Moraes chamado “O operário em
construção”. Penso que a análise é uma excelente ferramenta para
fortalecer o ego e permitir que este não seja submetido e “atravessado” pelo
ID ou Superego e por vontades alheias. Este poema trata do processo de
tomada de consciência de um operário que partindo de uma completa
alienação à conscientização individual.
OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO
“Era ele que erguia casas Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas Ele subia com as asas
Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia De sua grande missão: Não sabia por exemplo
Que a casa de um homem é um templo Um templo sem religião Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia Sendo a sua liberdade Era a sua escravidão.
...
Mas ele desconhecia Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa E a coisa faz o operário. De forma que, certo dia À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
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Era ele quem fazia Ele, um humilde operário
Um operário em construção. Olhou em torno: a gamela Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário Soube naquele momento
Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia De que sequer suspeitava.
O operário emocionado Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário De operário em construção
E olhando bem para ela Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro dessa compreensão
Desse instante solitário Que, tal sua construção
Cresceu também o operário Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração E como tudo que cresce Ele não cresceu em vão Pois além do que sabia
- Exercer a profissão - O operário adquiriu
Uma nova dimensão: A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava: O que o operário dizia
Outro operário escutava. E foi assim que o operário Do edifício em construção
Que sempre dizia "sim” Começou a dizer "não”
...
Disse e fitou o operário Que olhava e refletia
Mas o que via o operário O patrão nunca veria
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O operário via casas E dentro das estruturas
Via coisas, objetos Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via Misteriosamente havia A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão. Um silêncio povoado
De pedidos de perdão Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão Um silêncio de torturas
E gritos de maldição Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão E o operário ouviu a voz De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram Por outros que viverão
Uma esperança sincera Cresceu no seu coração E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera Em operário construído
O operário em construção”
Retirei alguns pequenos trechos deste longo poema. Vejo nele muitas ligações da construção em psicanalise, que por acaso (ou não) foi o tema do outro texto de Freud (construção em analise) do qual mencionamos no início do trabalho. E também desta possibilidade de sair de uma alienação que o processo de analise permite.
Deixarei o poema aberto aos leitores para fazerem dele sua melhor tradução. Assim, termino minha breve apresentação deste importante tema, que é o fim da análise.
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BIBLIOGRAFIA
• FREUD S. [1939], Analise Terminável e Interminável, in Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud, vol. XXIII, Rio de Janeiro, Imago, 1996
• FREUD S. [1939], Construções em Analise, in Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud, vol. XXIII, Rio de Janeiro, Imago, 1996
• MORAES V. [1956], “Operário em Construção” (Poema)
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2º Semestre de 2013
Ciclo II – Quarta-feira – Manhã
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Tema: O FIM DE UMA ANÁLISE:
• Prólogo:
Na hora clinica da turma do segundo ciclo do curso de Psicanálise
levantou-se a seguinte questão: Como o analista deve trabalhar a decisão de
alta de um paciente. Caso esse paciente resolva voltar, deve/pode o analista
retomar o trabalho? E no caso dos pais não terem condições de custear a
análise de dois filhos. Deve-se colocar um por algum tempo (até um ano de
tratamento) e depois retirá-lo a fim de que o outro possa ter a mesma
oportunidade.
Levantada esta questão passamos a comentar nossa visão sobre o
assunto. A primeira colega disse que acredita que o trabalho analítico, uma vez
iniciado, reverbera por toda a vida. Assim, mesmo que a pessoa encerre o
tratamento seu interlocutor interno, que foi desenvolvido na análise, o
acompanhará. O assunto prosseguiu de maneira bem instigante.
Achei que foi uma hora clínica bastante rica, talvez por que tenha
suscitado em mim tantas emoções e a possibilidade de ouvir diversas visões
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do assunto e ver como aquelas visões e percepções a posteriori reverberavam
em mim.
Após essa breve introdução procuraremos abordar o tema do fim da
análise em Freud em com base no que aprendemos até o presente momento e
em alguns textos que não tivemos em nossa bibliografia, mas que fazem
menção ao assunto tratado em nossa hora clinica.
• A análise terminável e interminável:
Em 1937 Freud publicou “Análise terminável e interminável”, juntamente
com o texto “Construções em analise”. Vale ressaltar que esses textos foram
um dos últimos escritos do grande fundador desta nova forma de conhecimento
que ele nomeou de Psicanalise. O editor da edição standard chamou a atenção
para mudança de percepção de Freud em relação ao “poder profilático” ou a
cura completa da neurose tratada neste texto. Em sua nova visão, Freud
mudou sua percepção a esse respeito neste último texto e acreditava que não
há garantias de que o paciente que teve alta, que conseguiu passar pelo
tratamento terapêutico, apesar do fortalecimento do ego no processo, não corra
o risco de ter alguma recaída, dada a condições novas da realidade.
Quando Freud iniciou seu trabalho, por meio da clínica com casos de
histeria, o médico neurologista buscou uma maneira mais eficaz que as
praticadas pelos seus contemporâneos de curar a histeria e, depois, a neurose.
Este era, portanto, o objetivo inicial da psicanalise. Na época da publicação
deste texto, Freud o inicia com o seguinte trecho:
Trabalho Ciclo II – Turma Quarta-feira Manhã
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“A experiência nos ensinou que a terapia psicanalítica
– a libertação de alguém de seus sintomas, inibições
e anormalidades de caráter neuróticas – é um assunto
que consome muito tempo.”
O leitor perceber qual o escopo da terapia analítica para Freud –
“Libertação de alguém de seus sintomas, inibições e anormalidades de caráter
neuróticas” - bem como sua percepção de que este tratamento consome muito
tempo. Sabendo que a psicanalise fora criada por um médico e tinha como
escopo a cura e, ademais, quando buscou um reconhecimento internacional
teve uma boa repercussão nos Estados Unidos, país conhecido pelo
pragmatismo e pela busca de resultados sempre rápidos; percebemos que
ainda hoje há um enorme resquício desta origem e da influencia americana,
não só na psicanalise como também na nossa cultura. A cultura do fast-food,
dos tratamentos breves e de um sentimento de pressa, de urgência desmedida
tem influenciado a discussão sobre o lento processo da analise e maneiras de
acelera-lo.
Hoje já podemos afirmar com mais convicção que não há uma cura
neste processo. Até por que não mais vemos as manifestações, inibições e
sintomas como doença. Há casos de doença, sem dúvida, que hoje são
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descritos pelo DSM e são trabalhados com a psicanálise, mas há também
assuntos abordados na análise que não se configuram como doença no
sentido técnico do termo. Há pessoas que não estão enfermas com algum
sintoma postulado no DSM e que ainda assim buscam análise e tem nela um
caminho de autoconhecimento e descobertas que muito contribuem para uma
significativa melhora na qualidade de vida.
Isto posto, não há que se falar em um neurótico curado. E podemos
dizer que a psicanalise, antes usada para curar neuróticos, tem sido uma
ferramenta muito útil e aceita no tratamento de diversas estruturas, tais como
psicóticos, perversos, etc.
Ainda em relação ao texto, Freud, talvez seduzido pela busca de
agilidade no tratamento, de um modelo mais curto, empregou uma nova técnica
a fim de acelerar o tratamento de seus pacientes. Sua justificativa para a nova
técnica foi a de que um sucesso parcial de tratamento deixava o analisando em
uma zona de conforto que o impedia de avançar.
Assim, buscando agilidade e quebra de resistências fixou um limite de
tempo para o fim da análise e comunicou ao analisando. Fez isso mais de uma
vez e conclui que ele tem uma eficácia no sentido de acelerar e “quebrar”
algumas resistências, mas não se pode garantir a realização completa da
tarefa. Percebeu também que uma parte do material ficou acessível frente à
chantagem enquanto que outra “ficará sepultada”. Um erro de calculo não pode
ser retificado. Sua conclusão não foi favorável ao emprego da nova técnica.
Trabalho Ciclo II – Turma Quarta-feira Manhã
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• O que é de fato o término da análise?
No segundo capítulo do texto Freud inicia da seguinte maneira:
“A discussão do problema técnico de saber como
acelerar o lento progresso de uma análise nos conduz
a outra questão, mais profundamente interessante:
existe algo que se possa chamar de término de uma
análise – Há alguma possibilidade de levar uma
análise a tal término?”
Por meio desta colocação, se amplia um pouco o horizonte da questão
inicial e busca-se determinar o que se poderia chamar de fim de análise. Freud
coloca que uma resposta inicial, prática e objetiva seria de que o fim da análise
se dá com o fim das sessões entre analista e analisando. Isso pode ocorrer de
duas formas; A primeira, para chegar a este fim, o paciente deve ter superado
suas ansiedades, inibições e não apresentar seus antigos sintomas. Mais que
isso, é necessário que o analista acredite que tenha vencido diversas
resistências, tornado muito material consciente ao analisando que o risco de
uma repetição do processo patológico é pequeno.
Num segundo fim de análise, sem que este quadro acima tenha sido
preenchido, pode ocorrer em função de dificuldades externas (financeira, de
mobilidade, de agenda...) tornando o processo de analise "incompleto” ou
"inacabado”, frente um fim desta natureza.
Em seguida Freud coloca um sentido mais ambicioso no termo fim da
analise, qual seja: chegar a uma “normalidade psíquica absoluta”. Ele coloca
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esta ideia para refletirmos, contudo acha que isso seria o ideal, mas não
alcançável. Neste ponto há uma alteração de percurso. Freud coloca que a
busca não deveria se dar na cura pela análise, mas sim nos obstáculos que se
colocam no caminho da cura. Apresenta dois casos clínicos de alta de
pacientes que teve ao longo de sua carreira e que anos mais tarde tiveram
recaídas.
Coloca-se que há quem defenda que a analise da época dos exemplos
avançou muito e que hoje pode curar completamente as pessoas e há aqueles
que acreditam que não há garantias. Contudo, Freud diz que independente da
corrente otimista ou cética não há espaço para buscar um abreviamento do
tratamento, em especial para aqueles que buscam um término de análise do
primeiro tipo – Sem sofrimentos de sintomas, superação de ansiedades e
inibições.
• A saúde e as possibilidades advindas de um tratamen to analítico:
No terceiro capítulo deste interessante ensaio Freud, em nota de rodapé, faz
uma colocação em relação à saúde:
“É impossível definir saúde, exceto em termos
metapsicológicos, isto é, por referência às relações
dinâmicas entre as instâncias do aparelho psíquico
que foram identificadas – ou (se preferir) inferidas ou
conjecturadas – por nós.”
Em seguida coloca-se que o tratamento psicanalítico produz um estado no
analisando que nunca surge espontaneamente, criando uma diferença
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essencial naqueles que tiveram a chance de passar por este processo. Em
relação a isto, podemos retomar a colocação de nossa colega na hora clínica
que afirmou que mesmo com uma interrupção na análise há, uma vez que o
analisando tenha iniciado seu tratamento, um novo interlocutor interno que faz
as vezes do analista por toda a vida. É claro que este interlocutor terá uma
força frente os impulsos e as pulsões diretamente proporcional à eficácia do
trabalho analítico pelo qual o analisando passou. Também se considera que
este interlocutor permite um controle sobre o instinto melhor que antes deste
ferramental. Contudo ele é imperfeito, pois é sempre incompleto.
Na abertura do VII capítulo Freud, em citação à Ferenczi, coloca que “a
análise não é um processo sem fim, mas um processo que pode receber um
fim natural, com perícia e paciência suficientes por parte do analista”. E sua
percepção é de um trabalho longo e não de uma chance de abreviação como
no discutido no início.
Ele coloca a importância da saúde mental do analista para a correta
execução de sua função, contrapondo com a função de um médico que,
mesmo sofrendo do coração pode atender um paciente sem causar danos a
este em função de seu problema. Esta é uma introdução da importância da
análise para aqueles que buscam ser analistas. Sabe-se que o tripé de um bom
analista é analise pessoal, conhecimento acadêmico e supervisão.
O texto diz da importância da manutenção da analise enquanto este
estiver na prática. Assim, já se percebe que a resposta objetiva de um término
de análise para aqueles que praticam é, ao ver de Freud, algo que não é
saudável.
Trabalho Ciclo II – Turma Quarta-feira Manhã
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• Conclusão
Com base no texto acima podemos perceber que a resposta à questão
de nosso colega sobre o fim da análise é complexa e muito trabalhada ao
longo de vários anos.
Podemos inferir que se um analisando apresenta uma vontade de
interromper ou finalizar a análise é fundamental tratar deste assunto de
maneira analítica. Analisar se é uma questão de resistência ou se a
demanda do analisando foi alcançada ao longo do tratamento e se, neste
caso, há um possível fim de relação que deve ser tratada com muito
respeito.
Caso haja um fim nesta relação, acredito que isso não signifique que o
analisando esteja “curado” e que não possa mais desfrutar das benesses de
uma analise. Pode-se buscar um novo analista que poderá, com outro
repertório, trabalhar pontos nunca antes analisados.
De maneira objetiva, em resposta à primeira questão do presente
trabalho, o fim de analise é material para a própria analise. O analista pode
retomar um processo de analise interrompido e, por fim, o tema de
interromper um tratamento infantil para que outra criança seja atendida é
um tema extremamente delicado. Isto por que o momento da interrupção
por vezes é dado pelos pais e com base em um calendário gregoriano (1
ano, seis meses etc) e não com base na realidade do atendimento do
paciente/analista.
Trabalho Ciclo II – Turma Quarta-feira Manhã
Aluno: Christian Mathias Fernandez 9
É mister que os pais busquem conversar com o analista para saber
como anda o tratamento de seu filho e estudar o momento desta
interrupção, haja vista uma interrupção abrupta pode trazer grandes
prejuízos ao analisando.
Durante meus estudos para a produção do presente trabalho me veio à
cabeça o poema de Vinicius de Moraes chamado “O operário em
construção”. Penso que a análise é uma excelente ferramenta para
fortalecer o ego e permitir que este não seja submetido e “atravessado” pelo
ID ou Superego e por vontades alheias. Este poema trata do processo de
tomada de consciência de um operário que partindo de uma completa
alienação à conscientização individual.
OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO
“Era ele que erguia casas Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas Ele subia com as asas
Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia De sua grande missão: Não sabia por exemplo
Que a casa de um homem é um templo Um templo sem religião Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia Sendo a sua liberdade Era a sua escravidão.
...
Mas ele desconhecia Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa E a coisa faz o operário. De forma que, certo dia À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
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Era ele quem fazia Ele, um humilde operário
Um operário em construção. Olhou em torno: a gamela Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário Soube naquele momento
Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia De que sequer suspeitava.
O operário emocionado Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário De operário em construção
E olhando bem para ela Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro dessa compreensão
Desse instante solitário Que, tal sua construção
Cresceu também o operário Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração E como tudo que cresce Ele não cresceu em vão Pois além do que sabia
- Exercer a profissão - O operário adquiriu
Uma nova dimensão: A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava: O que o operário dizia
Outro operário escutava. E foi assim que o operário Do edifício em construção
Que sempre dizia "sim” Começou a dizer "não”
...
Disse e fitou o operário Que olhava e refletia
Mas o que via o operário O patrão nunca veria
Trabalho Ciclo II – Turma Quarta-feira Manhã
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O operário via casas E dentro das estruturas
Via coisas, objetos Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via Misteriosamente havia A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão. Um silêncio povoado
De pedidos de perdão Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão Um silêncio de torturas
E gritos de maldição Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão E o operário ouviu a voz De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram Por outros que viverão
Uma esperança sincera Cresceu no seu coração E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera Em operário construído
O operário em construção”
Retirei alguns pequenos trechos deste longo poema. Vejo nele muitas ligações da construção em psicanalise, que por acaso (ou não) foi o tema do outro texto de Freud (construção em analise) do qual mencionamos no início do trabalho. E também desta possibilidade de sair de uma alienação que o processo de analise permite.
Deixarei o poema aberto aos leitores para fazerem dele sua melhor tradução. Assim, termino minha breve apresentação deste importante tema, que é o fim da análise.
Trabalho Ciclo II – Turma Quarta-feira Manhã
Aluno: Christian Mathias Fernandez 12
BIBLIOGRAFIA
• FREUD S. [1939], Analise Terminável e Interminável, in Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud, vol. XXIII, Rio de Janeiro, Imago, 1996
• FREUD S. [1939], Construções em Analise, in Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud, vol. XXIII, Rio de Janeiro, Imago, 1996
• MORAES V. [1956], “Operário em Construção” (Poema)