3. oração (d. manuel clemente e santa teresa)

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Criado cardeal a 14 de Fevereiro, D. Manuel Clemente está ainda mais vinculado ao Papa Francisco, como ele mesmo afirmou: Para mim é um gosto colaborar ainda mais diretamente com o Papa Francisco, cujo pontificado e pensamento me identifico absolutamente. […] Esta é uma oportunidade para reforçar mais a minha presença e o meu compromisso no pontificado do Papa Francisco. ” Por isso, neste espaço dedicado ao Papa Francisco, damos voz ao 4º cardeal português do século XXI. Numa entrevista concedida ao jornal Público, publicada a 28 de Dezembro de 2014, D. Manuel Clemente dizia: A minha oração é muito simples. Está muito marcada pela liturgia da igreja. Portanto, os textos da missa de cada dia. Alargada com aquilo a que chamamos a liturgia das horas, que antigamente se chamava Breviário. Na oração pessoal, que faço todos os dias, há muitos anos que rezo o rosário completo. Dantes havia três séries de orações: os mistérios gozosos, lembrando a infância de Jesus, os mistérios dolorosos, sobre a paixão de Jesus, e os mistérios gloriosos sobre a ressurreição. O Papa João Paulo II juntou os mistérios luminosos, que dizem respeito à vida pública de Jesus. Isto dá duzentas Avé Marias, mais os Pai Nossos. Não deve haver muitos dias que não reze [todos]. Aproveito o tempo. As deslocações. Questionado pela jornalista sobre o porquê desta sua maneira de rezar, esclareceu: “Para que a minha imaginação não dispare e eu permaneça sempre ligado, com a recitação dessas orações, aos episódios da vida de Jesus. As cenas em que medito são as do dia-a-dia. Por exemplo, no tráfico de Lisboa, a conduzir o carro. Penso no mistério da visitação. Maria leva Jesus até Isabel. Rezo para que a vida das pessoas, dos carros, dos autocarros, seja também uma visitação. Que levem Jesus umas às outras. Essas cenas evangélicas contracenam com a vida das pessoas. Saem das páginas bíblicas para o dia a dia. E ajudam-me a interpretar a vida, na sua tragédia e na sua glória. As crianças que nascem, as pessoas que sofrem, os outros que a gente encontra, os momentos de festa. [riso] Eu sou muito simples, como vê. Gosto muito de ver estas coisas que, acredito, Deus representou na terra.” Este testemunho orante do bispo de Lisboa é digno de figurar numa antologia de espiritualidade e os paralelos com a experiência teresiana de oração são imensos. Para Teresa a oração é “tratar de amizade, estando muitas vezes a sós com quem sabemos que nos ama” (v 8,5). E dado que estamos em terrenos de amor, de amizade, “triste coisa seria que, só pelos cantos, se pudesse fazer oração pois o verdadeiro amante em toda parte ama e sempre se lembra do Amado. ” (F 5,16). Assim, a oração é representar (ou seja, fazer presente a Jesus)

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Uma aproximação à oração.

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Criado cardeal a 14 de Fevereiro, D. Manuel Clemente est ainda mais vinculado ao Papa Francisco, como ele mesmo afirmou: Para mim um gosto colaborar ainda mais diretamente com o Papa Francisco, cujo pontificado e pensamento me identifico absolutamente. [] Esta uma oportunidade para reforar mais a minha presena e o meu compromisso no pontificado do Papa Francisco. Por isso, neste espao dedicado ao Papa Francisco, damos voz ao 4 cardeal portugus do sculo XXI.

Numa entrevista concedida ao jornal Pblico, publicada a 28 de Dezembro de 2014, D. Manuel Clemente dizia:A minha orao muito simples. Est muito marcada pela liturgia da igreja. Portanto, os textos da missa de cada dia. Alargada com aquilo a que chamamos a liturgia das horas, que antigamente se chamava Brevirio. Na orao pessoal, que fao todos os dias, h muitos anos que rezo o rosrio completo. Dantes havia trs sries de oraes: os mistrios gozosos, lembrando a infncia de Jesus, os mistrios dolorosos, sobre a paixo de Jesus, e os mistrios gloriosos sobre a ressurreio. O Papa Joo Paulo II juntou os mistrios luminosos, que dizem respeito vida pblica de Jesus. Isto d duzentas Av Marias, mais os Pai Nossos. No deve haver muitos dias que no reze [todos]. Aproveito o tempo. As deslocaes.Questionado pela jornalista sobre o porqu desta sua maneira de rezar, esclareceu: Para que a minha imaginao no dispare e eu permanea sempre ligado, com a recitao dessas oraes, aos episdios da vida de Jesus. As cenas em que medito so as do dia-a-dia. Por exemplo, no trfico de Lisboa, a conduzir o carro. Penso no mistrio da visitao. Maria leva Jesus at Isabel. Rezo para que a vida das pessoas, dos carros, dos autocarros, seja tambm uma visitao. Que levem Jesus umas s outras. Essas cenas evanglicas contracenam com a vida das pessoas. Saem das pginas bblicas para o dia a dia. E ajudam-me a interpretar a vida, na sua tragdia e na sua glria. As crianas que nascem, as pessoas que sofrem, os outros que a gente encontra, os momentos de festa. [riso] Eu sou muito simples, como v. Gosto muito de ver estas coisas que, acredito, Deus representou na terra.Este testemunho orante do bispo de Lisboa digno de figurar numa antologia de espiritualidade e os paralelos com a experincia teresiana de orao so imensos. Para Teresa a orao tratar de amizade, estando muitas vezes a ss com quem sabemos que nos ama (v 8,5). E dado que estamos em terrenos de amor, de amizade, triste coisa seria que, s pelos cantos, se pudesse fazer orao pois o verdadeiro amante em toda parte ama e sempre se lembra do Amado. (F 5,16). Assim, a orao representar (ou seja, fazer presente a Jesus) diante de si Jesus nos mistrios da sua vida e dialogar com Ele, adentrar-se numa relao com Ele, mais tecida de amor do que de pensamentos e palavras. Teresa procurava o mais que podia trazer Jesus Cristo, nosso Bem e Senhor, presente dentro de mim (V 4, 7). Fica o desafio: fazer contracenar a vida de cada dia com a atitude orante de quem se sabe amado e esperado, a cada momento, por Jesus.