3.1 teoria vantagem comparativa e competitiva

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V.1.204-10-2005 DISCIPLINA: Gesto e Planeamento Estratgico Parte 3 A Teoria da Competitividade 3.1 Teoria da Vantagem Comparativa e Teoria da Vantagem Competitiva 3.1.1 Indicadores de Vantagem Comparativa e de Vantagem Competitiva Sumrio Aprocuradacompetitividadetemrazesnagnesedaeconomiaenquanto cincia, e nomeadamente foi objecto de anlise no tratado de Adam Smith Da RiquezadasNaes,incorporadonoconceitodevantagemabsolutadas naesparacriaremriquezaeseespecializarem,eusaremosexcedentes para trocar com outros pases. Posteriormente, teve o seu desenvolvimento na teoriadevantagemcomparativadeDavidRicardoenosculoXX,nos contributos de Heckscher e Ohlin. Mas o que competitividade? Esta abordagem pode ser feita com base na distino entre duas perspectivas distintas:umavisotradicional,baseadanasteoriasdavantagem comparativa; uma viso actual, baseada na teoria da vantagem competitiva Adquirir competitividade para superiorizar a oferta das empresas num contexto deglobalizao,alis,umacondioaverificar.paraselograrumabase sustentvel da competitividade. Acompetitividadetraduz-sepelaaptidoparaalcanarumprodutividadealta, com base no emprego inovador de recursos humanos, capital e activos fsicos. Enestecaso,acompetitividadepodeserdefinidacomoacapacidadepara criarvalorparaclientessofisticadoseprogressivamentemaisexigentes,que estodispostosapagarpreospremiumpelovaloracrescentadoqueeles percepcionam nos bens e servios adquiridos. Mas,aprodutividadeumacondionecessriamasnosuficienteparaa competitividade.Osucessocompetitivosocorrequandosecombinaa optimizao da produtividade com a qualidade das estratgias empresarias. Podemosentonotarqueacompetitividadesignificahojealgodedistintodo que se entendia no passado: a)Aabordagemdacompetitividadebaseava-senosprimrdios da economia, na comparao das economias nacionais. Hoje, pacfico que quem compete so as empresas, e por isso, as condiesdedesenvolvimentodacompetitividadeesto intrinsecamenterelacionadascomasempresaseassuas formas de integrao de recursos para maximizarem a criao V.1.204-10-2005 devalordealgumclienteousegmentodemercado, independentemente do pas onde a procura se localiza. b)Oslderesdasempresasquepossamacederagenerosos recursosnacionaisparadesenvolverteronopresente,e ainda maisno futuro, deabraarestratgiasqueprosseguem aconstruodassuasvantagensnaturais,paracriar vantagens competitivas baseadas em conhecimento, e de uma forma sustentvel. As teorias da economia clssica desde Adam Smith at David Ricardo e mais tardedeEliHeckschereBertilOhlin,afirmamqueaprosperidadeeconmica dependefortementedaabundnciadefactoresdeproduotaiscomo,terra, custosdotrabalho,capitais,edemaisrecursosnaturais.Nestaperspectiva, umaregioouumanaotmumavantagemcomparativaaoproduzirbens quefazemumbomusodaquelesfactoresexistentesemabundncia,epor serem abundantes, serem acessveis a preos baixos. Emparticular,AdamSmithproclamavaqueumpasganhavavantagem absoluta pela concentrao das suas exportaes num bem onde o pas seja produtor a custos inferiores ao resto do mundo. David Ricardo prosseguiu esta linhaterica(clssica)defendendoqueasnaessedeveriamfocalizarem reas onde elas pudessem produzir bens mais eficientemente (mesmo que no fossemmelhoresquequalqueroutropas,centrando-senaproduodoque fosse menos mau) e trocando os excedentes nesses bens com outros que no pudessemser produzidoscomigualeficincia.Na prtica,setodosos pases actuassemassim,todosganhariam,porqueaproduomundial aumentariae pelo comrcio internacional todos ganhariam. Finalmente,HeckschereOhlinaprofundaramateoriadeDavidRicardo afirmandoqueavantagemcomparativaexistenopasondeaprodutividade das empresas possa ser mais eficientemente mobilizada para alavancar o valor do stock nacional em recursos naturais. A consequncia natural desta linha de pensamento conduziu valorizao de polticasnacionaisorientadasparaagestoprimordialdosrecursos naturais para manter a competitividade nacional. Ainda hoje, encontram-se polticasdestetipoempasesquelimitamo comrciointernacionalporviada regulamentao de quotas exportao ou direitos sobre a exportao. E esta ptica revela-se em trs tipos de constrangimentos criao de riqueza (valor) e de competitividade: a)Ocorre uma presso para manter os custos do recurso abundante em nvelbaixo,deumaformaartificial,oquelimitaosaumentosde custos do trabalho e impede os trabalhadores de beneficiarem com o crescimento da economia; b) Competir com empresas noutras naes na base de salrios baixos equantobastaparacomprometernumabatalhaadisputaparaver qual o pas que fica mais pobre; V.1.204-10-2005 c)Seumpasexportaosseusrecursosnaturaiscomumamoeda depreciada, ento h um prejuzo duplo: os recursos do pas so desbaratados sem criar um valor real; osconsumidoresmaisricosdospasesdesenvolvidossoos destinatriosdeuminesperadosubsdioefectivo,porque pagamassuasexportaesapreosinferioresaoreal,s custas dos trabalhadores dos pases pobres. Pelocontrrio,acompreensodateoriadavantagemcompetitivafacilitaa compreensodacriaodevalordasempresasdospasesdesenvolvidos,e porquequeessasvantagenssocriadasnalgumounalgunspaseseno em todos. Verifica-se que os pases que exportam produtos complexos so mais ricos do queaquelesqueexportammateriaissimples.Omercadopagaumprmio aosprodutosmanufacturadosqueincorporemalgumsaber.Porisso, aqueles que desejarem criarem valor numa economia nacional devem focar-se na aprendizagem micro-econmica! A aprendizagem micro-econmica deve informar as decises que os lderes de empresa e governos devem comear a tomar. E para melhorar a qualidade de vida do cidado mdio em todos os pases em desenvolvimento, o crescimento econmicodeveseraltoesustentvel.Ento,osdoiscaminhosparase alcanar o crescimento assentam nas seguintes opes: mobilizar recursos superiores para impulsionar o crescimento; promover a produtividade; Ariquezadasnaesmuitodistintaemtermosderecursosnaturais, estruturas macro-econmicas e culturas de gesto, mas tm em comum o facto deaaprendizagemeainovaoanveldaempresaeoclusterda competitividade industrial poder induzir a competitividade. Acompetitividadedoclusternopodeserexplicadaefectivamentenuma perspectivanacional.Emseulugar,acompetitividadeinduzidapelocluster podesermelhorentendidanumaperspectivaregional,(isto,aonvelda cidadeoudodistrito).Porexemplo,osE.U.Anoumpascompetitivo quandotomadocomoumtodo.Mas,umrazovelnmerodeclusters, localizadosemregiesespecficasaolongodopas,construiuumaexpertise especial(saberinovador)quepermiteaestepassercompetitivo.Eem consequncia,aquelasregiesalcanaramumcrescimentoeconmicoeum altopadrodevidaparaaspessoas,pelasustentaodeumambiente competitivo no mbito dos clusters. 3.1.1IndicadoresdeVantagemComparativaedeVantagem Competitiva Apercepodotipodevantagensdeumaeconomia,relativamenteaum qualquerpadrodeespecializao,podesercompreendidopelaanlisedos V.1.204-10-2005 fluxosdecomrcioexterno,traduzidosnautilizaodeindicadoresdistintos, cujo significado vamos a seguir explicitar. Oindicadordevantagemcomparativa1caracterizaopotencialde competitividadedecadapas,emcadaprodutoouactividade,baseadona disponibilidadederecursos,aptidesderecursoshumanosetecnologias empregues. O seu valor pode ser positivo ou negativo, (varia de -1, +1). I V C=Exportaes - Importaes (do bem ou actividade) Exportaes + Importaes Umpastemvantagemcomparativanaproduodeumbemquandoo indicadordevantagemcomparativadessebempositivo.Dizendodeoutra forma, um pas que tenha uma vantagem comparativa num bem dever ser um exportador lquido desse bem, de contrrio ser um importador. Denotarqueumvalordesteindicadoriguala1,significarqueopasprobe importaesdessebem,peloquetodoocomrcioexternobaseadona exportao. O valor simtrico traduziria uma proibio das exportaes. Porm,emfunodassuasvantagenscompetitivas,ospasestendema realizar exportaes de bens que so substitutos prximos entre si, porque se baseiamemaspectosdiferenciadoresepercepcionadospelosmercados.Por exemplo, um pas pode ser um exportador lquido de um bem identificado com umagamadequalidadealtaeimportarosquesodegamabaixa,ouvice-versa,emconsequnciadasdistinesentreopadrodeproduoede consumo nacional. Ora,ocomrciointernacionalquereflecteacapacidadedediferenciaode produtosdeumaindstriacaracterizadopeloIndicadordecomrciointra-industria(T).Porexemplo,vriospaseseuropeusproduzemconfecopara osmaioressegmentosdeconsumidoreslocais,masimportamosprodutos paraossegmentosdeconsumidoresdeartigosdeluxodasorigensondese localizam as empresas que dominam esta gama. Paraavaliarestecomrciovamosadoptaro ndice T2, que dado pela expresso: Onde: X representa as Exportaes M representa as Importaes i refere-se a um pasj refere-se a uma categoria de produtos n identifica o nmero de pases considerados na avaliao

1 Ver Adriano Freire, Estratgia, 1997, p. 329 2Dominick Salvatore, International Economics, 1995, Prentice Hall, Inc., 5th ed., p. 163 Nota. O ndice T foi inicialmente apresentado por Grubel e Lloyd (1975) in David Greenaway & P.K.M.Tharakan,ImperfectCompetitionandInternationalTrade,WheatsheafBooks,Sussex, 1986, p.129 ni=1( Xij + Mij ) -ni=1| ( Xij - Mij ) |ni=1( Xij + Mij ) V.1.204-10-2005 DadoqueovalordeTresultadoconjuntodepasesenvolvidosemcada anlise comparativa, pode-se usar, em alternativa, o seu valor absoluto, que dado por:

+ =

Imediatamente se constata que a ausncia de comrcio conduz a um valor nulo deste ndice, e que se a exportao igualar a importao o valor do ndice a unidade. Um valor prximo da unidade significa que os determinantes deste comrcio se fundamentamnadiferenciaodosprodutos,pordiferenasnaqualidade, economiasdeescalaeoutrasvantagensmicroeconmicas.Pelocontrrio, valoresprximosdezerosignificaqueocomrciodeverser,sobretudo,do tipointer-industrialeassuasdeterminantessedevemradicaremvantagens comparativas dos pases. Vejamosumexemplo aplicado sindstrias deprocessamentodocouroede calado: Tabela 1 ndices de Comrcio Intra-industrial (ITT) Fonte: 1997 International Trade Statistics Yearbook, United Nations, New York. Anlise do autor Tabela 2 Vantagem Comparativa Revelada siaAmricaAmrica exceptoMdio U.E Europa Ex- URSS Oceaniado Norte Latina ex-URSS Oriente Oriental Europa211 - Peles virgens sem plo 0,79 -0,36 0,35 -0,37 -0,08 -0,29 0,90 0,94212 - Peles com pelo -0,69 0,23 -0,50 -0,60 0,93 0,92 1,00 1,00611 - Couro -0,17 0,52 -0,04 -0,25 0,09 -0,61 0,23 0,63851 - Calado -0,91 0,32 0,31 -0,53 -0,01 0,32 -0,49 -0,79Vantagem Comparativa Revelada na indstria de peles e calado, em 1997ndices de Comrcio Intra-indstria, em 1996Regies Peles de bovino Curtume de bovino CaladoX+M |X-M| T X+M |X-M| T X+M |X-M| TMundo 4.294,40 2.151,60 0,50 15.921,40 2.538,80 0,84 3.502,00 1.502,20 0,57Paises em desenvolvimento 1.257,90 860,70 0,32 10.081,90 1.788,70 0,82 1.594,10 834,30 0,48Amrica Latina 117,00 26,40 0,77 920,60 456,00 0,50 175,20 121,20 0,31frica 43,30 29,10 0,33 81,60 0,40 1,00 16,10 7,50 0,53Prximo Oriente 71,50 28,50 0,60 470,00 339,20 0,28 19,20 0,40 0,98Extremo Oriente 1.026,10 776,70 0,24 8.609,70 993,10 0,88 1.383,60 705,20 0,49 Pases desenvolvidos 3.036,50 1.290,90 0,57 5.839,50 750,10 0,87 1.907,90 667,90 0,65Amrica do Norte 907,00 701,40 0,23 1.207,20 228,00 0,81 650,70 612,50 0,06Europa 1.710,30 225,70 0,87 4.328,20 339,20 0,92 1.213,30 18,50 0,98Regio da ex-URSS 268,70 232,70 0,13 10,40 8,40 0,19Ocenia 121,20 117,40 0,03 216,00 110,00 0,49 23,10 20,10 0,13Outros pases desenvolvidos 29,30 13,70 0,53 88,10 72,90 0,17 10,40 8,40 0,19Fonte: FAO 1998Anlise do autorV.1.204-10-2005 Analisandoporpases,paracadafasedacadeiadevalor,revelam-seos pasesmaiscompetitivosinternacionalmenteeosmaiorescompradores. Para esteefeito,seleccionamosnumatabelaosprincipaispasesintervenientesno comrcioexterno(exportadoresouimportadores),emcadacategoriade produtos, aps o que relacionamos os valores encontrados em VCR com os do ndice T. Neste caso, os 6 pases com maior VCR so responsveis por mais de metade daspelesembrutosemploexportadas,comdestaqueparaosEUA,que representam metade desse valor. Como se pode observar no Grfico 1, elaborado com base nos indicadores de VCR e ndice T, identificam-se 4 situaes distintas: 1)PasescomelevadondiceTeVCRpositivaoupouconegativa: Frana, Reino Unido, Hong Kong e Espanha; 2) PasescomndiceTbaixo,maselevadaVCR:Austrlia, FederaoRussa(comaprocurainternaemrecuperao),e EUA; 3)Pasestipicamenteimportadores:RepblicadaCoreia,Itlia, China e Japo;4)Pasescominterdiesexportao,parapromoode indstrias de maior valor acrescentado: Turquia. Tabela 3 Maiores Exportadores ou Importadores de Peles em Bruto sem Plo 211- Peles em bruto sem plo 1997MundoValor em US$ 000 000ExpImpVCR% Exp% Imp Turquia0585,1-1,009,58%0,00% Federao Russa307,405,400,975,03%0,09% Estados Unidos1513,40131,700,8424,77%2,19% Frana419,20156,100,466,86%2,60% Austrlia403,70156,100,446,61%2,60% Reino Unido287,1149,70,314,70%2,49% Espanha130,5252,6-0,322,14%4,21% China28,60360,90-0,850,47%5,50% Hong Kong122,80169,10-0,162,01%2,82% Japo83,80339,70-0,601,37%5,66% Itlia82,201211,00-0,871,35%20,17% Repblica da Coreia14,30856,80-0,970,23%14,27% Fonte: 1997 International Trade Statistics Yearbook, U.N., N.Y., 1999V.1.204-10-2005 De facto, quanto mais direita do Grfico estiver um pas representado, maior a vantagem comparativa das suas empresas nesta produo, ou actividade. Quantomaisaltoestiverumpasrepresentado,maiorseravantagem competitiva das suas empresas nesta produo. Emconcluso,aaplicaocombinadadosindicadoresdevantagem comparativacomondiceTpermiteinterpretaranaturezadosfluxosde comrcioexternodecadacategoriadebenstransaccionveis internacionalmente e perceber os determinantes desse comrcio, relacionando-os com o tipo de vantagem explorada pelas empresas de cada pas. Grfico 1 Especializao de Comrcio de Peles em Bruto sem Plo, em 1997 0,00,51,0-1,2 -0,6 0,0 0,6 1,2VCRTAustrliaFed. RussaEUAFrana Reino UnidoHong KongEspanhaJapoItliaChinaRep. CoreiaTurquia Nota: A dimenso das bolhas proporcional ao volume relativo de operaes internacionais, de cada pasidentificado.AsposiesdaAustrliaedaFederaoRussacoincidem,peloqueesto sobrepostas. Fonte: 1997 International Trade Statistics Yearbook, U.N., New York, 1999