37800343-aristoteles-introducao-geral

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INTRODUÇÃO GERAL INTRODUÇÃO GERAL ARISTÓTELES OBRAS COMPLETAS OBRAS COMPLETAS ANTÓNIO PEDRO MESQUITA ARISTÓTELES ANTÓNIO PEDRO MESQUITA

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CFULINCMOBRAS COMPLETAS DE ARISTTELESINTRODUO GERALINTRODUO GERALOBRAS COMPLETAS DE ARISTTELESARISTTELESO presente volume constitudo por quatro sec-es. Aprimeira,maiscurta,tratadaediodas Obras Completas. A segunda correspondea um breve conspecto da biografia aristotlica,ondeseprocurareuniramelhorinformaodisponveleidentificaralgumasdasdvidasque a este respeito ainda permanecem. A ter-ceirapartepreenchidaporquatroestudos,quetratamsucessivamentedahistria,estru-turaenaturezadacolecoaristotlica,daevoluo e linhas de fora do seu pensamento,decertosproblemasdedataodassuasobras principais e, finalmente, das dificuldadesprovocadas pela traduo de alguns conceitoscentrais. No final do volume, e como quarta eltima seco, encontra-se uma bibliografia se-leccionada,ondesoreunidasasfonteseasobras auxiliares ou instrumentais utilizadas naelaboraodasversesportuguesas,bemcomoaliteraturasecundriamaisgeraloumais relevante sobre as obras traduzidas e ostemas nelas abordados.INCMO objectivodestaedioconsisteemtornaracessvelaoleitorportugus,tantodopontode vista da lngua como do do esclarecimentodotexto,atotalidadedacolecoaristotlica,a includos no s os cerca de trinta tratadoscompletosquesubsistiramataosnossosdias, como tambm todos os outros textos que,de modo mais ou menos fragmentrio e/ou fi-dedigno,foramtransmitidospelatradiosobo nome de Aristteles.Estacolecoengloba,assim,paraalmdosescritosreunidosporImanuelBekker,em1831,naprimeiraediomodernadaobraaristotlica,edotextoposteriormentedesco-bertodaConstituiodosAtenienses,atota-lidade dos fragmentos (autnticos, suspeitos eesprios) e ainda as sete obras apcrifas quecircularamempocatardiasobonomedeAristteles, designadamente o Livro da Causa,o Segredo dos Segredos ou a Teologia.Ao levar a cabo a traduo colectiva deste con-junto,aspresentesObrasCompletas soasprimeiras a englobar a integralidade do legadoaristotlico.COORDENAO DE ANTNIO PEDRO MESQUITACOORDENAO DE ANTNIO PEDRO MESQUITAFCT Fundao para a Cincia e a TecnologiaMINISTRIO DA CINCIA E DO ENSINO SUPERIOROBRAS COMPLETASOBRAS COMPLETASANTNIO PEDRO MESQUITAARISTTELESARISTTELESARISTTELESINTRODUO GERALINTRODUO GERALANTNIO PEDRO MESQUITAANTNIO PEDRO MESQUITAANTNIO PEDRO MESQUITATtulo: IntroduoGeralAutor: AntnioPedroMesquitaEdio: ImprensaNacional-CasadaMoedaConcepogrfica: BrancaVilallonga(DepartamentoEditorialdaINCM)Revisodotexto: LeviCondinhoTiragem: 800exemplaresDatadeimpresso: .evereirode2005ISBN: 972-27-1371-XDepsitolegal: 221 446/05OBRAS COMPLETAS DE ARISTTELES OBRAS COMPLETAS DE ARISTTELESCOORDENAO DE ANTNIO PEDRO MESQUITA COORDENAO DE ANTNIO PEDRO MESQUITAVOLUME ITOMO IProjectopromovidoecoordenadopeloCentrode.ilosofiadaUniversi-dadedeLisboaemcolaboraocomoCentrodeEstudosClssicosdaUniversidadedeLisboa,oInstitutoDavidLopesdeEstudosrabeseIslmicoseosCentrosdeLinguagem,Interpretaoe.ilosofiaedeEstu-dosClssicoseHumansticosdaUniversidadedeCoimbra.Este projecto foi subsidiado pela .undao para a Cincia e a Tecnologia.CENTRO DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOAIMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDALISBOA2003INTRODUO GERALINTRODUO GERALANTNIO PEDRO MESQUITAANTNIO PEDRO MESQUITACENTRO DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOAIMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDALISBOA20059Aedio,queoraseinicia,dasObrasCompletasdeAristtelesarranca de uma constatao: o nmero extremamente insuficiente de tra-duesportuguesasdosescritosaristotlicos(apenasseispublicadasataomomento:Categorias,SobreaAlma,Poltica,ConstituiodosAtenienses,RetricaePotica)e,emconsequncia,ofraconveldeinteressedacomunidadefilosficaportuguesapeloautoreomuitodefi-citriograudeconhecimentodopblicoemgeralemrelaoobraeaopensamentodestegrandefilsofo.Emconformidade,oseuobjectivoconsisteemtornaracessvelaoleitorportugus,tantodopontodevistadalnguacomododoesclarecimentodotexto,atotalidadedacolecoaristotlica,aincludosno s os cerca de trinta tratados completos que subsistiram at aos nos-sosdias,comotambmtodososoutrostextosque,demodomaisoume-nosfragmentrioe/oufidedigno,foramtransmitidospelatradiosobonomedeAristteles.Esta coleco engloba, portanto, para alm dos escritos reunidos porImanuelBekker,em1831,naprimeiraediomodernadaobraaris-totlica(aqualincluitantotratadosautnticos,comoesprioseduvido-sos) e do texto posteriormente descoberto da Constituio dos Atenien-ses(literalmentedesenterradoemfinaisdosculoXIX),atotalidadedosfragmentos (uma vez mais, autnticos, suspeitos e pseudepgrafos) e ain-daasseteobrasapcrifasquecircularamempocatardiasobonomedeAPRESENTAO10Aristteles,designadamenteoLivrodasCausas,oSegredodosSe-gredosouaTeologia.Aopropor-selevaracaboatraduocolectivadesteconjunto,aspresentesObrasCompletassero,assim,anvelinternacional,aspri-meiras e, at ao momento, as nicas a englobar a integralidade do legadoaristotlico,umavezquenenhumaoutraincluiestasltimas.Naturalmente,todasastraduesnelasdadasestampaserofei-tasdirectamenteapartirdooriginal.*Sendo este projecto movido pelo intento de garantir o acesso do leitorportugusaopensamentoeobradeAristteles,assimcontribuindoparaageneralizaodoseuconhecimentoentrens,compreensvelquesetenhadecididoreduziraomnimotodasasexignciastcnicas,restrin-gindo o aparato ao que simplesmente permita cumprir aqueles desideratosdemodocompatvelcomaqualidadeeorigordastradues.Em consequncia, as publicaes includas nas Obras de Aristte-lesobedeceroaummodelosimpleseregular:umaintroduocomoenquadramentohistricoefilosficodotextotraduzido;atraduodaobra;eaquelasnotasdeesclarecimentoquepermitamaoleitorseguiropensamento de Aristteles onde ele se torna mais difcil de apreender, ouqueotradutor,emabonodatransparnciadasuatarefa,entendadeverincluirparajustificarassuasopesouparaalertaroleitordaexistn-ciadeleiturasalternativasque,porestaouaquelarazo,forampreteri-dasemfavordaconsagradanatraduooferecida.11Nestesentido,notemosapretensodeesgotardeumavezportodasainvestigaoemtornodasobrasaquitraduzidas,oudeteraltimapalavrasobrecomplicadasdecisestcnicas,lingusticasoufilo-sficas,deinterpretao.Pelocontrrio,onossointentoode,aodisponibilizaraopblicotraduescompetentesefidedignasdaobraintegraldeAristteles,feitaspor investigadores de indiscutvel autoridade cientfica nesta rea, favorecerointeresseacercadonossoautor,demodoque,embreve,floresammui-tas outras, eventualmente melhores do que as que agora lhe so entregues.Por maioria de razo, com absoluta abertura e humildade que aguar-damososreparoseascrticas.Sassimsepodermelhorareprogredir.Estamos,nestecaso,emsituaosemelhantequeseviveucomojmencionadoImanuelBekker,notvelfillogoalemoque,noinciodosculoXIX,tomouainiciativapioneiradeeditaratotalidadedostrata-dosaristotlicosparaaAcademiadeBerlim.Hoje,nenhumadassuasediesconsideradaderefernciae,por-tanto,nenhumautilizadaanoserpormotivosarqueolgicos.Mas,seporventuraelenosetivesselanadonaquelainiciativapioneira,nenhumadasediessubsequentesteriamsidopossveis eopanoramadosestudosaristotlicosnolimiardosculoXXIestariadoissculosatrasado.Assim, se alguma coisa os promotores deste projecto podem almejarquenotardemuitoomomentoemquetodasastraduesqueagorasecomeamapublicartenhamsidosubstitudasporoutras,maisclaraseincisivasnocontedo,maisfelizesesaborosasnovernculo,maisou-sadas nas interpretaes assumidas ou avanadas. Isso quereria dizer queonossoobjectivotinhasidoplenamenteatingido.12*AiniciativadestaediopartiudoCentrode.ilosofiadaUniversi-dadedeLisboa,queasseguraigualmenteasuapromooecoordenao.Rapidamente,contudo,passouacontarcomacolaboraoinstitu-cionaldeoutrosinstitutoscientficosnacionais,nomeadamenteoCentrode Estudos Clssicos da Universidade de Lisboa, o Instituto David Lopesde Estudos rabes e Islmicos e os Centros de Linguagem, Interpretaoe.ilosofiaedeEstudosClssicoseHumansticosdaUniversidadedeCoimbra.Porestarazo,podedizer-sequeelemobilizaagorapraticamentetodososinvestigadoresnacionaisnasreasdafilosofiaantiga,dosestu-dosclssicosedosestudosrabeseislmicos,queentusiasticamenteseassociaram ao projecto e nele esto j a trabalhar, de forma que o perododeexecuoprevisto,dedozeanos,possaserefectivamenteutilizadonasuaconcluso.Todavia, de elementar justia que se frise que ele tambm no teriasidopossvelsemaelevadacompreensoqueospromotoresencontraramna Imprensa Nacional-Casa da Moeda, a qual imediatamente entendeu aimportnciaculturaldesteprojectoenohesitouemapostarnacon-cretizaodoprogramaeditorialqueeleenvolve.Atodosdevidaumagrandeesentidapalavradereconheci-mento.Ao Centro de .ilosofia da Universidade de Lisboa, na pessoa do seuDirector, Professor Doutor Carmo .erreira, pela viso e pela coragem naassunodainiciativa.13ImprensaNacional-CasadaMoeda,eemespecialaoseuPresi-dente,Dr.BrazTeixeira,pelaconscinciaqueestainstituiocontinuaademonstrardasuaaltaresponsabilidadecultural.A todos os colaboradores envolvidos, pelo esforo, pela entrega e peloempenhamentodasuaadeso.Umaespecialpalavradeagradecimentodevidaainda,contudo,aosProfessoresDoutoresJosRibeiro.erreiraeMrioSantiagodeCar-valho,professorescatedrticosda.aculdadedeLetrasdaUniversidadedeCoimbra,peladisponibilidademanifestadaparaprocederrevisocientficadepartesdestevolume,semqueesteagradecimentooscom-prometadenenhummodocomqualquererrooulapsoqueporventuranelesecontinueaencontrar.AindatambmaoDr.PedroBraga.alco,jovem investigador dos estudos clssicos, que assegurou a reviso do textoe a elaborao dos ndices, coadjuvado, numa segunda fase, pelo Dr. JosLusPerez,estudantedemestradoem.ilosofiana.aculdadedeLetrasdaUniversidadedeLisboa,bemcomoaactualizaodabibliografiafun-damental,nestecaso,comacolaboraodaDr.MarianaMatias,daUniversidadedeCoimbra,aquem,naturalmente,seestendeestepreitoespecial.Lisboa,31deMarode2004.OCOORDENADORSOBREAEDIO17CARACTERIZAOGERAL1. EstruturadaedioA edio encetada no presente volume est dividida em qua-tro partes, agrupando respectivamente os tratados conservados deAristteles,asobrasfragmentrias,osapcrifoseabibliografiaendices.Asquatropartessubdividem-seemcatorzevolumes,cadaumdosquaiscomumnmerovariveldetomos,quetotalizam,noconjunto,quarentaetrs,deacordocomoesquemaconstantenoprximocaptulo.Na primeira fase, que terminar em 2005, publicar-se-o, paraalmdestevolumeintrodutrio,osseguintestextos:Vol.I,tomoIV:SegundosAnalticos;Vol.I,tomoV:Tpicos;Vol.II,tomoIII:SobreaGeraoeaCorrupo;Vol.VII,tomoII:OsEconmicos;Vol.VIII,tomoI:Retrica;Vol.X,tomoI:.ragmentosdosDilogosedasObrasExor-tativas.Asrestantesediesseropublicadasnumperodotemporalqueseestenderentre2006e2014,sendotodaselaspreparadasexpressamenteparaoprojecto,tantodopontodevistadatradu-ocomododocomentriodeesclarecimento,pelosseuscolabo-radorescientficos.18Exceposeroalgumastraduesdegrandequalidadere-centementepublicadas,bemcomoaquelasque,dandotodasasgarantiasdeidoneidadecientfica,seencontramemfasedepre-paraooudeultimaodemodoindependentedesteprojecto,queseprocurarintegrarnoprogramaeditorialmedianteaauto-rizaodosautoreseacelebraodeprotocolosdearticulaocomasentidadeseditorase/oututelares.2. ColaboradoresdaedioOeixosobreoqualrepousaodesenvolvimentodotrabalhoprevistonesteprojecto,dirigidoporumcoordenador,constitu-dopelosseusinvestigadores,coadjuvados,semprequetalsejus-tifique,pelosconsultorescientficos.OcoordenadordoprojectorepresentaparatodososefeitosoCentrode.ilosofia,enquantosuaentidadepromotora,ecom-pete-lheprogramarecoordenarasactividadesprevistas,tendoem vista a sua adequada consecuo, dentro das normas oportu-namente estipuladas. Junto do coordenador funciona uma comis-soderepresentantesdosdemaisinstitutosecentrosqueinte-gramoprojecto,deformaagarantiraarticulaoinstitucionalentreeles.Aosinvestigadoresenvolvidoscompetetraduzir,introduzireanotarasobrasquelhesforamdistribudasequeaceitaramtrabalhar,complenaautonomiacientfica,ressalvadasasneces-sidadesdeuniformizaodecorrentesdaunidadedoprojecto,aintervenoquepossasersolicitadaaosconsultorescientficoseotrabalhodeplaneamentotransversalqueincumbeaocoor-denador.Aosconsultorescientficoscabedarparecer,porsolicitaodos investigadores e/ou do coordenador do projecto, em todos oscasosdedvidafilosfica,histricaoufilolgica,quandosurjamdiferentesverses,argumentosoudoutrinasemrelaoaummesmotpicoesemprequeseverifiqueminterpretaesantag-nicasqueponhamemcausaaunidadedoprojecto.Oreferidoparecer ser levado em devida conta pelo investigador ou investi-gadoresenvolvidos,quedecidironamatriacontrovertidadeharmoniacomocoordenador.193. CaractersticasdaedioTodaainvestigaoconducenteelaboraodostextosdainteiraresponsabilidadedoscolaboradoresepauta-sepelamaisrigorosaautonomiacientfica.Estesseroconstitudosporintroduo,traduoenotas,acompanhadosdeumglossriocomostermosprincipaisdotextotraduzido,nooriginalena(s)traduo(es)adoptada(s),umndiceremissivo dos autores citados e uma bibliografia contendo todas asobrasmencionadas,semprejuzodabibliografiafundamentalquefinalizaopresentevolumeedabibliografiageral,actualizadaecomentada,queconstituiroobjectodopenltimotomo.Aintroduosersemprecurta,claraeinformativa,orien-tando-sefundamentalmente,deacordocomosobjectivosquenorteiam a edio, para o esclarecimento do texto traduzido e doscritriosseguidosnatraduo.Em conformidade, e de acordo com as caractersticas de cadatexto,aintroduoconstartipicamentede:umbreveenquadra-mentohistricodaobratraduzida;umaexplicitaodoscritriosseguidosnatraduo;umesquemadaestruturadotexto,umaapresentaogeraldosseuscontedos;eumabreveintroduofilosfica.Por seu lado, as tradues sero feitas a partir das edies derefernciaadianteindicadas,independentementedasdemaisedi-esetraduescompulsadas.A diviso tradicional da obra em livros e captulos integral-menterespeitada,tendootradutoraliberdadedelhesatribuirttulos,entreparntesisrectos,desdequeestaoposejaexpres-samentemencionadaejustificadanaintroduo.Algumassugestesdeuniformizaogeraldoscritriosdetraduo,noquetocaaosconceitoscentraisdeAristteles,soapresentadas,discutidasejustificadasnoltimoestudoincludonopresentevolume..inalmente,aindadentrodoespritoqueenformaoprojecto,as notas de rodap sero exclusivamente reservadas para: esclare-cimentodenomes,citaes,episdioshistricos,etc.,menciona-dosporAristteles;remissoparaoutraspassagensdamesmaobraouparaoutraobra;identificaodeexpresseseconceitosintroduzidos;esclarecimentodetermos,formaselocues;eluci-dao de passagens e argumentos pouco claros ou controvertidos;indicaes bibliogrficas complementares; curtas interpretaes decontedos;sugestodepistasdedesenvolvimento.20Qualquerinterpretaomaisextensaserremetida,emnota,paraumapndice,afigurarnofinaldovolume.Noquerespeitascitaes,comexcepodaquelasfeitasapartirdocastelhano,dofrancs,doitalianooudoingls,cujodomniopodesersupostonoleitor,todasasefectuadasnasnotasou introdues viro acompanhadas, entre parntesis curvos, pelarespectivatraduo.Poroutrolado,quando,nasnotasouintrodues,forneces-srio ou conveniente citar uma passagem em grego, esta ser apre-sentada no referido alfabeto, seguida de traduo entre parntesiscurvos,comoindicadoacima.Nocasodarefernciadepalavrasisoladas,emqueambasasprticastmsidoadoptadaspelaliteratura,combonsfunda-mentosdeumladoedeoutro,ficaraocritriodotradutororecursoaooriginaloutransliteraoemcaractereslatinos,deacordocomasnormasinternacionaisouportuguesasaplicveis.Emqualquerdascircunstncias,otermoassimintroduzidoserexplicitadocircunstancialmenteouremeterparaoglossriofinal,salvoquandoocorrerparaindicarooriginaldeumaexpresso traduzida no texto ou se tratar de um termo de conhe-cimentocorrente.4. SobreopresentevolumeOpresentevolumeconstitudoporquatroseces.Aprimeira,maiscurta,tratadaediodasObrasCompletas.Apsacaracterizaogeral,emquenosencontramos,segue-seadiscriminaodoprogramaeditorialcompletoequatrocaptulosmaistcnicos,abrangendo:oelencodasediesderefernciauti-lizadasparaefeitosdetraduo;afixaodassiglasadoptadasnarefernciadasobrasdeAristtelesedePlato;aindicaodomododecitaodasfontes;eaexplicitaodanotaoespecialutilizadanosvriosvolumes.Asegundapartecorrespondeaumbreveconspectodabio-grafiaaristotlica,ondeseprocurareuniramelhorinformaodisponvelsobreestetpicoeidentificaralgumasdasdvidaseenigmasqueaesterespeitoaindapermanecem.Aterceirapartepreenchidaporquatroestudos,quetratamsucessivamentedahistria,estruturaenaturezadacolecoaris-totlica,daevoluoelinhasdeforadoseupensamento,decer-tos problemas de datao das suas obras principais, e, finalmente,21dasdificuldadesprovocadaspelatraduodealgunsconceitoscentrais,seguidas,emcadacaso,deumasugestodeversoemlnguaportuguesa.Podemserlidosquerpeloleitordescomprometido,apenasinteressado nos tpicos neles focados e nas informaes neles reu-nidas,querpelosestudiososeinvestigadoresdopensamentoan-tigo.Noprimeirocaso,recomenda-sequeseignoremasnotasderodap.Oltimoestudo,relativoaovocabulrioaristotlico,subs-tancialmentemaiscomplexoepresume,dapartedoleitor,algu-maformaoespecficaprvia.Podeseromitidosemperdaporquemanotenha.Deregistarqueassugestesdetraduoneleavanadasscomprometemoautoredevemserentendidascomorecomenda-es informadas e fundamentadas no sentido de uma uniformiza-odolxicoconceptualaristotlico,nocomodirectivasaseremautomaticamenteassumidasnastradues.Quemoentendadeoutromodosentir-se-inutilmentedefraudadoporaquelasouporestas.Comosecompreender,algumasdasnormasacimamencio-nadasnoseroobservadasnesteconjuntodeestudose,portan-to,porrazodeuniformidade,noconjuntodoprimeirovolume.Taldeve-seaocarctermaisacadmicodequeserevestemdeterminados desenvolvimentos dos Estudos, com os quais se pre-tendeunoapenassatisfazeracuriosidadedoleitorinteressadoeminformar-sesobreaobra,opensamentoeovocabulriodonossoautor,comotambmfornecerpistaseelementosparaain-vestigao dos estudantes da rea e at avanar algumas interpre-taesinditasemmatriapolmica.Onicocasorelevantededivergnciadenaturezaformalenocolidecomnenhumadasregrasatrsapontadas.Aocontrriodoquesucedernosvolumesdedicadostra-duodasobrasdeAristteles,emqueseadoptarosistemabi-bliogrfico autor-data (vulgo, sistema anglo-saxnico), o presen-te volume seguir, incluindo na bibliografia fundamental com quetermina,aregracontinental.Estedesviopermiteacitaoextensivadosttulosdostextosreferidosnasnotas,evitandoqueoleitortenhaderecorrerbi-bliografiaparaobtertodaainformaodequenecessita.Estaarazoporquefoiadoptado.Nofinaldovolume,ecomoquartaeltimaseco,encon-trar-se-umabibliografiaseleccionada,ondesoreunidasasfon-22tes e as obras auxiliares ou instrumentais utilizadas na elaboraodasversesportuguesas,bemcomoaliteraturasecundriamaisgeraloumaisrelevantesobreasobrastraduzidaseostemasne-lasabordados.Oconhecimentodestaserpressupostonosprximosvolu-mes,peloqueosttulosareferidosnoseronovamentecitadosnasrespectivasbibliografias,salvosetiveremsidomencionadosnasuaintroduoe/ounassuasnotas.23PLANODAEDIOParteI:TRATADOSCONSERVADOSVolumeI:LGICATomoIIntroduoGeral.TomoIICategorias.DaInterpretao.TomoIIIPrimeirosAnalticos.TomoIVSegundosAnalticos.TomoVTpicos.TomoVIRefutaesSofsticas.VolumeII:.SICATomoI.sica.TomoIISobreoCu.TomoIIISobreaGeraoeaCorrupo.TomoIVMeteorolgicos.VolumeIII:PSICOLOGIATomoISobreaAlma.TomoIISobre a Sensao (= Parva naturalia, 1).Sobre a Memria (= Parva naturalia, 2).SobreoSonoeaViglia(= Parvanatu-ralia,3).SobreosSonhos(= Parvanaturalia,4).SobreaPrediopelosSonhos(= Parvanaturalia,5).SobreaLongevidadeeaBrevidadedaVida(= Parvanaturalia,6).SobreaJuventudeeaVelhice(= Parvanaturalia,7).Sobre a Respirao (= Parva naturalia, 8).VolumeIV:BIOLOGIATomoIHistriadosAnimais,I-VI.TomoIIHistriadosAnimais,VII-X.TomoIIIPartesdosAnimais.24TomoIVMovimentodosAnimais.ProgressodosAnimais.TomoVGeraodosAnimais.VolumeV:META.SICATomoIMetafsica,A-E.TomoIIMetafsica,Z-I.TomoIIIMetafsica,K-N.VolumeVI:TICATomoIticaaNicmaco.TomoIIGrandeMoral.TomoIIIticaaEudemo.VolumeVII:POLTICATomoIPoltica.TomoIIOsEconmicos.TomoIIIConstituiodosAtenienses.VolumeVIII:RETRICAEPOTICATomoIRetrica.TomoIIPotica.VolumeIX:ESPRIOSTomoISobreoUniverso.SobreoAlento(=Parvanaturalia,9).TomoIISobreasCores.SobreaquiloqueseOuve..isiognomnicos.SobreasPlantas.SobreosProdgiosEscutados.TomoIII[Problemas]Mecnicos.TomoIVProblemas[.sicos].TomoVSobreasLinhasIndivisveis.SobreosLugareseNomesdosVentos.SobreMelisso,XenfaneseGrgias.VirtudeseVcios.RetricaaAlexandre.ParteII:OBRAS.RAGMENTRIASVolumeX:AUTNTICOSTomoIDilogoseObrasExortativas.TomoIITratados,Monografias,RecolhaseTex-tosPrivados.VolumeXI:ESPRIOSEDUVIDOSOSTomoIMedicina.ApologiacontraEurimedonteaprop-sitodaAcusaodeImpiedade.Agricultura.Mgico.TomoIIEptomedaArtedeTeodectes.Sobrea.ilosofiadeArquitas.Problemas.sicosem38(68)(78)li-vros.SobreasCheiasdoNilo.25VolumeXIVTomoIBibliografiageral.TomoIIndices.ParteIII:APCRI.OSVolumeXII:LGICA,.SICAEMETA-.SICATomoIDivises[Pseudo-]Aristotlicas.ProblemasInditos[deMedicina].SobreaPedra.TomoIILivrodaCausa.LivrodaMa.VolumeXIII:TEOLOGIATomoISegredodosSegredos.TomoIITeologia.ParteIV:BIBLIOGRA.IAENDICES27EDIESDERE.ERNCIASemprejuzodasrestantesediesconsultadas,asutilizadascomoderefernciaparaefeitosdetraduosoasseguintes:CategoriaeL.Minio-Paluello(OxfordClassicalTexts).DeinterpretationeL.Minio-Paluello(OxfordClassicalTexts).AnalyticaprioraW.D.Ross(OxfordClassicalTexts).AnalyticaposterioraW.D.Ross(OxfordClassicalTexts).Topica,I-IVJ.Brunschwig(BellesLettres).Topica,V-VIIIW.D.Ross(OxfordClassicalTexts).SophisticielenchiW.D.Ross(OxfordClassicalTexts).PhysicaW.D.Ross(OxfordClassicalTexts).DecaeloP.Moraux(BellesLettres).DegenerationeetcorruptioneH.H.Joachim(ClarendonPress).Meteorologica..H..obes(HarvardUniversityPress).(Ps.Arist.)DemundoW.L.Lorimer(BellesLettres).DeanimaW.D.Ross(OxfordClassicalTexts).ParvanaturaliaW.D.Ross(OxfordClassicalTexts).(Ps.Arist.)DespirituW.W.Jaeger(Teubner).Historiaanimalium,I-VIL.Dittmeyer(Teubner).Historiaanimalium,VII-XD.M.Balme(LoebClassicalLibrary).DepartibusanimaliumA.L.Peck(LoebClassicalLibrary).DemotuanimaliumM.Nussbaum(PrincetonUniversityPress).DeincessuanimaliumW.Jaeger(Teubner).DegenerationeanimaliumH.J.DrossaartLulofs(OxfordClassicalTexts).(Ps.Arist.)DecoloribusC.Prantl(Teubner).(Ps.Arist.)DeaudibilibusC.Prantl(Teubner).(Ps.Arist.)PhysiognomonicaR..rster(Teubner).(Ps.Arist.)DeplantisU.C.Bussemaker(Aristotelis.Operaomnia,IV).(Ps.Arist.)DemirabilibusO.Apelt(Teubner).(Ps.Arist.)[Problemata]MechanicaO.Apelt(Teubner).28(Ps.Arist.)Problemata[Physica]C.E.Ruelle-H.Knoellinger(Teubner).(Ps.Arist.)DelineisinsecabilibusM.TimpanaroCardini(IstitutoEditorialeCisalpino).(Ps.Arist.)VentorumsitusetcognominaO.Apelt(Teubner).(Ps.Arist.)DeMelissoXenophaneGorgiaH.Diels(AcademiaRegiaBo-russica).MetaphysicaW.D.Ross(OxfordUniversityPress).EthicaNicomacheaI.Bywater(OxfordClassicalTexts).MagnaMoralia..Susemihl(Teubner).EthicaEudemiaR.Walzer-J.Mingay(OxfordClassicalTexts).(Ps.Arist.)Devirtutibusetvitiis..Susemihl(Teubner).PoliticaA.Dreisehnter(Wilhelm.ink).OeconomicaB.vonGroningen-A.Wartelle(BellesLettres).ArsRhetoricaR.Kassel(WalterdeGruyter).(Ps.Arist.)RhetoricaadAlexandrumM..uhrmann(Teubner).PoeticaR.Kassel(OxfordClassicalTexts).AtheniensiumrespublicaM.Chambers(Teubner)..ragmenta(selecta)Ross(OxfordClassicalTexts)..ragmenta(omnia)Rose (Teubner).(Ps.Arist.)DivisionesAristoteleaeMutschmann(Teubner).(Ps.Arist.)ProblemataineditaMarenghi(IstitutoEditorialeItaliano).(Ps.Arist.)DelapidibusRuska(CarlWinterUniversittsverlag).(Ps.Arist.)LiberdecausisPattin(TPh,28,1966).(Ps.Arist.)LiberdepomoMargoliouth(JRAS,24,1892).(Ps.Arist.)SecretumsecretorumManzaloui(OxfordUniversityPress).(Ps.Arist.)TheologiaDietrich(J.C.Hinrichs).29SIGLASI. ARISTTELES1. ColecoaristotlicaAPo.Analyticaposteriora.APr.Analyticapriora.Ath.Atheniensiumrespublica.Aud.Deaudibilibus(pseudepgrafo).Cael.Decaelo.Cat.Categoriae.Col.Decoloribus(pseudepgrafo).Dean.Deanima.DivSomn.Dedivinationepersomnia.EEEthicaEudemia.ENEthicaNicomachea.GADegenerationeanimalium.GCDegenerationeetcorruptione.HAHistoriaanimalium.IADeincessuanimalium.Insomn.Deinsomniis.Int.Deinterpretatione.Juv.Dejuventuteetsenectute.Devitaetmorte.LIDelineisinsecabilibus(pseudepgrafo).Long.Delongaevitateetbrevitatevitae.MADemotuanimalium.Mech.Mechanica(pseudepgrafo).Mem.Dememoriaetreminiscentia.Metaph.Metaphysica.Mete.Meteorologica.Mir.Demirabilibusauscultationibus(pseudepgrafo).30MMMagnaMoralia.Mu.Demundo(pseudepgrafo).MXGDeMelissoXenophaneGorgia(pseudepgrafo).Oec.Oeconomica.PADepartibusanimalium.Ph.Physica.Phgn.Physiognomonica(pseudepgrafo).Pl.Deplantis(pseudepgrafo).Po.Poetica.Pol.Politica.Pr.Problemata(pseudepgrafo).Resp.Derespiratione.Rh.Rhetorica.RhAl.RhetoricaadAlexandrum(pseudepgrafo).SESophisticielenchi.Sens.Desensuetsensibilibus.SomnVig.Desomnoetvigilia.Spir.Despiritu(pseudepgrafo).Top.Topica.VVDevirtutibusetvitiis(pseudepgrafo).Vent.Ventorumsitusetcognomina(pseudepgrafo).2. JuveniliaAlx.AlexandersiveDecolonis.Amt.Amatorius.Bn.Debono.Cv.Convivium.Dv.Dedivitiis.Eud.EudemussiveDeanima.Grl.DerhetoricasiveGryllus.Id.Deideis.Ins.Deinstitutione.Iust.Deiustitia.Mn.Demonarchia.Mx.Menexenus.Nb.Denobilitate.Nrt.Nerinthus.Phil.Dephilosophia.Plt.Politicus.Prc.Deprecatione.Prt.Protrepticus.Pt.Depoetis.Sph.Sophista.Vl.Devoluptate.313. ApcrifostardiosPrInProblematainedita[demedicina].LCLiberdecausis.LPLiberdepomo.SSSecretumsecretorum.Lap.Delapidibus.Th.Theologia.II. PLATOAlc.IAlcibiadesI.Ap.ApologiaSocratis.Chrm.Charmides.Cra.Cratylus.Cri.Crito.Crt.Critias.Def.Definitiones.Ep.Epistulae.Euthd.Euthydemus.Euthphr.Euthyphro.Grg.Gorgias.HpMa.Hippiasmaior.HpMi.Hippiasminor.La.Laches.Lg.Leges.Ly.Lysis.Men.Meno.Mx.Menexenus.Phd.Phaedo.Phdr.Phaedrus.Phlb.Philebus.Plt.Politicus.Prm.Parmenides.Prt.Protagoras.R.Respublica.Smp.Symposium.Sph.Sophista.Tht.Theaetetus.Ti.Timaeus.32ABREVIATURASUTILIZADAS1. SriesCAGCommentariainAristotelemgraeca.CAG-SASupplementumAristotelicum.CLCAGCorpusLatinumCommentarioruminAristotelemGraecorum.CLCAG-S Corpus Latinum Commentariorum in Aristotelem Graecorum. Supple-menta.CSELCorpusScriptorumEcclesiasticorumLatinorum..dVDie.ragmentederVorsokratiker.PGPatrologiaeCursusCompletus.PatresGraeci.PLPatrologiaeCursusCompletus.PatresLatini.PL-SPatrologiaeCursusCompletusaJ.-P.Migneeditus.SeriesLatina.Supple-mentum.2. RevistasepublicaesperidicasACLAntiquitClassique,Louvain-la-Neuve.AGPhArchivfrGeschichtederPhilosophie,Berlin.AIV Atti dellIstituto Veneto di Scienze, Lettere ed Arti, Classe di Scienze moralieLettere,Venezia.AJPhAmericanJournalofPhilology,Baltimore.ALMAArchivumLatinitatisMediiAevi(BulletinDuCange),Leiden.AncPhilAncientPhilosophy,Pittsburgh.ANRWAusstiegundNiedergangderrmischenWelt.GeschichteundKulturRomsimSpiegelderneueren.orschung,Berlin.APh.Actaphilosophica.ennica,Helsinki.BAGBBulletindelAssociationGuillaumeBud(RevuedeCultureGnrale),Paris.33BALLCBulletinoftheAssociationforLiteraryandLinguisticComputing.BDPhBltterfrDeutschePhilosophie,Berlin.C.Classical.olia.C&MClassicaetMediaevalia.RevueDanoisedHistoireetdePhilologiepubliepar la Socit Danoise pour les tudes Anciennes et Mdivales, Kbenhavn.CPhClassicalPhilology,Chicago.CQClassicalQuarterly,Oxford.CRClassicalReview,Oxford.EosEos.CommentariiSocietatisPhilologaePolonorum,Wroclaw.EranosEranos.ActaPhilologicaSuecana,Uppsala.GHArssGteborgHgskulasArsskrift,Gteborg.GMGiornalediMetafisica,Genova.G&RGreeceandRome,Oxford.HermesHermes.ZeitschriftfrKlassischePhilologie,Wiesbaden.HistoriaHistoria.Revuedhistoireancienne,Wiesbaden.HSPhHarvardStudiesinClassicalPhilology,Cambridge(Mass.).InquiryInquiry,Oslo.JHSJournalofHellenicStudies,London.JPhJournalofPhilosophy,NewYork.JPhilJournalofPhilology,London.JRASJournaloftheRoyalAsiaticSociety,London.KantStudKant-Studien.PhilosophischeZeitschrift,Berlin.LECLestudesclassiques.Revuetrimestriellederechercheetdenseignement,Namur.LThPhLavalThologiqueetPhilosophique,Qubec.MeanderMeander.Revuedecivilisationdumondeantique,Varsovie.MHMuseumHelveticum.RevueSuissepourltudedelAntiquitClassique,Ble.MindMind.AQuarterlyReviewofPsychologyandPhilosophy,London.MnemosyneMnemosyne.BibliothecaClassicaBatava,Leiden.Monist The Monist. An International Quarterly Journal of General PhilosophicalInquiry,LaSalle.NRSNuovaRivistaStorica,Roma.OSAPhOxfordStudiesinAncientPhilosophy,Oxford.PBAProceedingsoftheBritishAcademy,Oxford.PCPhSProceedingsoftheCambridgePhilologicalSociety,Cambridge.PhilologusPhilologus.ZeitschriftfrKlassischePhilologie,Berlin.PhilosophicaPhilosophica,Lisboa.PhilosQThePhilosophicalQuarterly,UniversityofSt.Andrews.PhRPhilosophicalReview,NewYork.PhronesisPhronesis.AJournalforAncientPhilosophy,Assen.PhSPhilosophicalStudies,Dublin.PlatonH6ty.ArtIcytvcLteterIecLvyy4tceyy.A0vyet.RCCMRivistadiCulturaClassicaeMedioevale,Roma.REPaulysRealencyclopdiederklassischenAltertumswissenschaft,Stuttgart.REGRevuedestudesGrecques,Paris.R.ICRivistadi.ilologiaediIstruzioneClassica,Torino.34RhMRheinischesMuseum,.rankfurtamMain.RMReviewofMetaphysics,Washington(D.C.).RMMRevuedeMtaphysiqueetdeMorale,Paris.RNeoscRevuenoscholastiquedephilosophie,Louvain.RPhARevuedePhilosophieAncienne,Bruxelles.RPhLRevuePhilosophiquedeLouvain,Louvain.RS.RivistacriticadiStoriadella.ilosofia,.irenze.RSPhRevuedesSciencesPhilosophiquesetThologiques,Paris.RThPhRevuedeThologieetdePhilosophie,Lausanne.SAWWSitzungsberichtedersterreichischenAkademiederWissenschafteninWien,Philosophisch-historischeKlasse,Wien.SHMStudiesinHistoryofMedicine,Tuglagabad.SOSymbolaeOsloenses,auspiciisSocietatisGraeco-Latinae,Oslo.SophiaSophia,Napoli-Padova.WSWienerStudien.ZeitschriftfrKlassischePhilologieundPatristik,Wien.3. LivrosderefernciaBekkerAristotelisOpera.BonitzIndexAristotelicus.Liddell-Scott Greek-English Lexicon. Ninth Edition with a Revised Supplement.35APARATOCRTICOI. CitaodostratadosdeAristtelesSiglaseguidadonmerocorrespondenteaolivro(emnumeraoro-mana)[quandoexista]seguidadonmerocorrespondenteaocaptulo(emnumeraorabe),pginaBekker,colunaBekker,linha(s)Bekker.Porexemplo:Cat.5,3a8;Metaph.I1,983b25-28.II. CitaodosfragmentosdeAristtelesSiglacorrespondenteaottulo,abreviaturadoeditor,nmerodofrag-mentonarespectivaedio.Asabreviaturasdoseditoressoasseguintes:R2=Rose,Aristotelisquiferebanturlibrorumfragmenta,1870;R3=Rose,Aristotelisquiferebanturlibrorumfragmenta,1886;W=Walzer,Aristotelisdialogorumfragmenta,1934;R=Ross,Aristotelis.ragmentaSelecta,1955;C=Chroust,AristotlesProtrepticus,1964;D=Dring,DerProtreptikosdesAristoteles,1969.III. Citaodetextosfilosficospr-socrticosNomedofilsofo,DKA/B/C,nmerodofragmentoemDiels-Kranz,linhasouversos.36Porexemplo:Heraclito,DKB50;Parmnides,DKB2,vv.5-8.IV. CitaodetextosdePlatoSiglaseguidadonmerocorrespondenteaolivro(emnumeraoro-mana)[quandoexista],pgina,coluna(s),linha(s).Porexemplo:Phd.,98a7;R.IV,436e-437a.V. CitaodoscomentaristasTodososcomentadoresgregosdeAristtelesserocitadosapartirdosCommentaria in Aristotelem graeca. A citao dos outros comentadores ser feitaapartirdarespectivaediodereferncia.Acitaodoscomentadoressegueaseguinteregra:Autor,In(siglacorrespondenteobradeAristteles),editorPorexemplo:AlexandredeAfrodsias,InMetaph.Hayduck;.ilpono,InAPo.Wallies;Bocio,InCat.Migne.Entreottulodocomentrioeonomedoeditorfiguramaspginaselinhas da edio (por exemplo, In Metaph. 439.4-440.17 Hayduck), ou as pgi-naseascolunas(porexemplo,InCat.169b-170aMigne),conformeascon-veneshabitualmenteadoptadas.AmesmaregraseguidaparaosprolegmenosfilosofiaaristotlicaeoscomentriosIsagogedePorfrio(quecomosalexandrinospassaramafigurar como introduo ao comentrio do Organon) e bem assim no caso doscomentadoresdePlato.VI. CitaodeoutrostextosEm todos os outros casos, a citao dever ser feita a partir das ediesdereferncia,seguindo-se,nacitao,asconvenesinternacionalmenteadoptadas.Semprequefornecessrioadoptarummododecitaoespecial,esteserclaramenteexplicitadonoincio.37NOTAOESPECIAL1. Nasilogsticaenateoriadademonstraoaristotlicas,adopta-seohbitoestabelecidoderepresentarasproposiespredicativasSPouPpertenceaSpelaformaAB,emqueAeBpodemsersubstitudosportermosgerais.2. NumaproposiodeformaAB,segue-seaordemtradicional(SP)enoaaristotlica(PpertenceaS),peloqueAosujeitoeBopre-dicado.3. Deacordocomosquatrotiposdeproposiosilogstica,representa-dosemgeralporAxB,i) auniversalafirmativarepresentadaporAaB(comosignifi-cadoTodooAB);ii) auniversalnegativarepresentadaporAeB(comosignifi-cadoNenhumAB);iii) aparticularafirmativarepresentadaporAiB(comosignifi-cadoAlgumAB);iv) aparticularnegativarepresentadaporAoB(comosignifi-cadoAlgumAnoB).4. Noquadrodossilogismosmodais:i)nAaBsignificanecessrioquetodooAsejaB(respectiva-mentepara nAeB, nAiBe nAoB);ii)cAaBsignificacontingentequetodooAsejaB(respecti-vamentepara cAeB, cAiBe cAoB);iii)pAaBsignificapossvelquetodooAsejaB(respectiva-mentepara pAeB, pAiBe pAoB);iv) quandoamodalidadeforassociadaaumtermo,empregar--se-,poranalogia,nAparanecessariamenteA,cAparacontingentementeA,epAparapossivelmenteA.385. No contexto da demonstrao, AaB tem sempre o valor de nAaB, peloqueestaexpresso,nestecaso,livrementesubstitudaporaquela.6. Astrsproposieseostrstermosconstitutivosdosilogismosorespectivamentedesignadosassim:PM(premissamaior) Pm(premissamenor) C(concluso)TM(termomaior) Tm(termomenor) M (termo mdio)7. Narepresentaodosilogismo,logorepresentadopor|=.8. Paraosoperadoresdalgicaelementar,adopta-seanotaounni-meoumaiscomummenteutilizada,nomeadamente:paraanegao;paraaconjuno;paraadisjunoinclusiva;paraocondicionalma-terial; para o bicondicional; "x para o quantificador universal; $x paraoquantificadorexistencial.9. Aestesacrescentam-se,comosmbolosparaosoperadoresmodais,paraanecessidadeeparaapossibilidade.Anotaocannicadateo-riadeconjuntosseraadoptada.10. Utiliza-seigualmente,deacordocomanotaogenericamenteperfilhada,|-comosinaldederivabilidade.Aequivalncialgica,isto,aderivabilidade recproca de duas proposies, ser introduzida pelo sinal .11. Nocasodostermosgregos,nosedistingueamenopelautili-zaodeaspas.12. Todaanotaointroduzidadenovoenomencionadaaquiserexplicitadaadloc.BREVECONSPECTODABIOGRA.IAARISTOTLICArouryy6eackevurtctrcc.Ph.II2,194a35.1.ONTES43IELEMENTOSBIOGR.ICOSANTIGOS1ASANTIGASVITAEARISTOTELISO nosso conhecimento da biografia aristotlica repousa essen-cialmentenocontedodasantigasVidasdeAristtelesquechega-ramatns1.Dozenotciasestonessascircunstncias:1) AbiografiadeAristtelesintegradanolivroVdaobraVidaeDoutrinasdosReputadosem.ilosofiadeDigenesLarcio[DL](sculoIII)2;2) AVitaHesychii[VH],assimdesignadaporqueasuaorigem atribuda ao verbete Aetotctrvc do Onoma-1DringeditoutodasasgregaselatinasemAristotleintheAncientBio-graphicalTradition,apresentandoatraduoousumariandodesenvolvidamenteassiracaseasrabes;ocontedodasmesmas,bemcomoodostestemunhosantigosdequedaremoscontanoprximocaptulo,poderserconsultadodirec-tamentenestaobra.Paraalmdestas,existemtambmdiversasbiografiasme-dievais(queDringenumeraecaracterizanaspp.164-179);massasquease-guirsereferempodem,pelasuaorigem,dizer-serigorosamenteVidasantigas.2Destemomentoemdiante,acompanharemosaprimeiraocorrnciadecada uma dasVidascomasiglaidentificativaqueapartirdelapassamosaadop-tar,indicadaentreparntesisrectos.Paraesclarecimentodosautoresmenciona-dos,deverconsultar-seoglossrioconstantedoapndiceI,bemcomo,noquerespeitaaoscomentadoresdeAristteles,osapndicesIIeIII.44tlogo de Hesquio de Mileto (sculo VI)3, reproduzidapelaSuda(semocatlogo)eeditadamodernamentepela primeira vez (com o catlogo) por Gilles Mnageem1663,comoapndicesuaediodeDigenesLarcio(razopelaqualtambmhabitualmenteco-nhecidaporVitaMenagiana);3) AVitaMarciana(nomederivadodonicomanuscri-toemqueseencontra,Marc.gr.257)[VM],obraco-lectiva da escola alexandrina, cuja data poder remon-taraofinaldosculoV;4) A Vita Vulgata [VV], tambm de origem neoplatnica,masprovavelmenteumpoucomaistardia(meadosdosculoVI)4;5) AVitaLascaris(nomedoautorqueaacrescentou,emapndice,aummanuscritodaVitaVulgata)[VLasc.],que um mero conjunto de excertos da Vita Marciana5;6) A VitaLatina[VL], correspondendo em grande medi-daaumatraduo,frequentementeverbatim,daVitaMarcianaoudoseuoriginal(feitaprovavelmenteporvoltadosculoXII);7) Duasbiografiassiracas[VSIeVSII],dedataindeter-minada,querepousamsobreomesmooriginaldasneoplatnicas;8) Quatrobiografiasrabes,tambmderivadasdames-ma fonte, a saber, a includa no Kitab al-.ihrist de Ibnal-Nadim(sculoX)6,adaSelectadaSabedoriaeBelosDitosdeal-Mubassir(sculoXI),adaCrnicadosS-biosdeIbnal-Qifti(sculoXIII)eadoLivrode.ontesdeInformaosobreasEscolasMdicasdeIbnAbiUsaibia(sculoXIII)7.3Tese proposta pela primeira vez por Rose em De Aristotelis librorum ordineetauctoritatecommentatio,pp.48-50.4EstabiografiaporvezesdesignadaVitaAmmoniana,porseratribudaaocrculodeAmnioHermeu,fundadordaescolaneoplatnicadeAlexandria.5Respectivamente: VLasc 1 = VM 10; VLasc 2 = VM 9 e 25; VLasc 3 = VM4.6OKitabal-.ihristumabiodoxografiaemqueserenemosmaisricosmateriaisparaoconhecimentodatradiorabedereflexo,comentrioetradu-onoperodoaqueserefere.Estaeasrestantesbiografiasrabesseroindica-das,deaquiemdiante,pelonomedoautor.7Aestasnecessrioacrescentaraversoinditaatribudapelomanuscri-toIstambulAyaSofya4833aPtolemeual-GaribequepoderseraversointegraldasuaVita.45Asduasprimeirasparecemcorresponderaversesinde-pendentesdabiografiadeAristtelescompostaporHermipodeEsmirna,autormenordoperipatetismoantigo,alguresnos-culoIIIa.C.8Todasasrestantes,asaber,ostrseptomesgreco-latinos,asduasversessiracaseasquatrobiografiasrabes,provmdaobraperdidadeumcertoPtolemeu9,autorneoplatnicodos-culoIVdanossaera,provavelmenteoriundodaescolasriadeJmblico10.AsnotciasdeDigenesedeHesquiomostram-senotavel-menteisentasdostiqueseexageroshagiogrficosquecaracteri-zamotratamentoalexandrinodosmateriaisbiogrficos,oquereforaaconjecturadequecorresponderoaodesenvolvimentoindependentedeumantigofiloperipattico,designadamenteradicandonaobra,hojeperdida,deHermipo.Todas as outras denunciam uma forte influncia neoplatnica.Oseptomesgregosprimitivos,aincludoooriginalgregodaVitaLatina,poderotersidoredigidosaolongodosculoV,inspirando-sedirectamente,sebemquedemodoindependente,naVidaperdidadePtolemeu.Estforadedvidaquetodosserviramoensinooraldaes-cola alexandrina desde o fundador, Amnio Hermeu, at aos doisescritorescristosDavideElias,nosculoVI,passandoporSim-plcio,Joo.ilponoeOlimpiodoro,oqueconstituiumelementodecisivoemabonodadataindicadacomoprovvelparaasuaredaco,entreooriginaldePtolemeu,alguresnosculoIV,eoinciodainstruoregulardeAmnio,nofinaldosculoV.Nodescabidopensar-sequeostrseptomestenhamsidoinclusivecompostosnaescoladeAlexandriaequepelomenosomaisantigotenhasidopessoalmenteredigidopeloprprioAmnio.Asduascurtasnotciassiracassoprovavelmentemaistar-dias,sendopossvelqueremontemaossculosVIIouVIIIdanos-saera,sejaporviadaescoladeQennesrin,naqual,emmeadosdosculoVII,pontificavaobispoSeveroSebokht,sejaatravsdaescoladeEdessa,onde,umsculomaistarde,sedestacavaTiago8Paraumatentativadereconstituio,veja-seoapndiceIV.9Trata-sedoclebrePtolemeual-Garibdosrabes,cujoeptetosignifica,sugestivamente,odesconhecido.Voltaremoscommaisdetalheaestafiguranocap.IIdonossoprimeiroestudo.10Umensaiodereconstituioencontra-seinfra,noapndiceV.46deEdessa,metropolitadestacidade.AmbossobonscandidatosautoriadooriginalsiracodoeptomedaVitadePtolemeu,emboraasduassoluestambmpossamsercumulativas,umavezqueasversessubsistentesdenotamumpercursoindepen-dente.Aapontar-separaumadatamaisprecoce,asnicasalterna-tivaspossveisteriamdeserencontradasentreosautoressiracosprimitivos, como Probo (sculo V) ou Srgio de Resaina (sculos V--VI),aquematradioatribuitraduese/oucomentriosdosprimeirostratadosdoOrganon,osquais,naordempedaggicaneoplatnica, confinavam com a exposio da vida e obra de Aris-ttelesedaIsagogedePorfrio,oquejustificariauminteresseparticularporpartedelesnadivulgaodabiografiaaristotlica.Aocontrriodoquesucedecomastradiesgregaesiraca,atradiobiogrficarabecorrespondeaumanicalinhagem,cujaorigemsedesconhececomsegurana,mascujoprimeirotes-temunhosubsistenteoverbetedo.ihristdeal-Nadim.Comefeito,aVidadeal-QiftiumatranscriodestaobraeasdeMubassiredeUsaibiacorrespondemaduasdiferentesse-lectasdelaretiradas.Uma hiptese forte para a autoria do original rabe que eletenhasidocompostoporHunaynIbnIshaq(sculoVIII),notvelerudito cristo siraco do tempo dos califas abssidas de Bagdade,queiniciouatraduosistemticaparaosiracoeparaorabedediversasobrasdeAristteles,ouentoqueeletenhatidoori-gem na sua Escola, em que se distinguiu igualmente o filho, IshaqIbnHunayn,tambmeletradutordediversostratadosdoOrga-non,oque,pelarazoatrsrecordada,otornaumcandidatona-turalparaesteefeito.Curiosoofactodeoseptomesrabesseremmuitomaisricosemdetalhesdoqueoscorrespondentesgregosesiracos,oquefazsuspeitarqueosseusautoresterotidoacessoaumaversomaiscompletadabiografiaptolemaica,ouexperimentadoumamaiorpreocupaocomafidelidadeaotexto,ouainda,coi-saquenopodesercompletamentedescartada,adespeitodareconhecidacompetnciacientficaeprobidadeintelectualdosputativos autores do original, descoberto uma noo mais criativadoquesejaotrabalhoeditorial11.11ParaumasmuladasinformaescontidasnasantigasVidasdeAristte-les,veja-seoapndiceVI.472OSPRIMEIROSTESTEMUNHOSParaalmdosimportantesdocumentosindicadosatrs,en-contram-seavulsamente,porumlargoperododetempo,nume-rosostestemunhosantigossobreepisdiosdavidaecaractersti-casdapersonalidadedeAristteles,emregra,masnosempre,sobaformadelendas,curiosidadeseanedotas.Os elementos certamente mais aliciantes primeira vista, mastambmmaisdecepcionantessegunda,soosescritosprivadosdoprprioAristteles,entreosquaissecontamotestamento,dequeadiantefalaremoscommaisdetalhe,ascartasquepodemserreputadascomoautnticaseosepigramas,hinosepoemasdedi-cadosadeterminadaspersonalidadesdapoca,designadamenteaPlatoeaHermiasdeAtarneu.Deresto,entreosescritoscontemporneosdeAristteles,quasenadahderelevantenestedomnio.Asnicasrefernciascomalgumvalorbiogrficosoosfrag-mentospreservadosdoElogioaHermiasdeCalstenesdeOlinto,sobrinhoecolaboradordeAristteles,e,eventualmente,seainter-pretarmoscomovisandoonossofilsofo,oqueestlongedeserseguro,ahistriacontadaporAristxenodeTarentonasuaVidade Plato, de acordo com a qual certos discpulos teriam comeadoa ensinar na Academia (sem a sua autorizao e contra a sua orien-tao,subentende-se)duranteaausnciadePlatoemSiracusa.H,noentanto,umaimportanteexcepo.Trata-sedapolmicamovidacontraAristtelesporumdis-cpulodeIscrates,CefisodorodeAtenas,enquantoaqueleeraainda membro da Academia, de que se conhecem abundantes por-menores,conservadosporautoresmaisrecentes,osquaispermi-temreconstituiralgunsdadospreciososarespeitodaobrajpu-blicada pelo Estagirita, dos interesses que ento o animavam e dastendnciasparaqueoseupensamentoseorientava,bemcomoinferirdiversasinformaescolaterais,nomeadamenteacercadequalseriaj,cercade360a.C.,oestatutointelectualeanotorie-dadepblicadoEstagiritacomomestreeescritoracadmico.Poroutrolado,imediatamenteaseguirmortedeAristte-les,ou,aindaemvida,nolanceemqueelesevforadoaoptarpelasegundaeltimavezpeloexlio,encontram-seimportantesdocumentos,todoselesnegativos,arespeitodofilsofo.Vemosentoerguerem-seduasgrandescorrenteshostisaoEstagirita,asquaisrecorrematodososmeios,legtimosouileg-48timos,elanammodetodososindcioserumores,verdicosoufictcios,paradenegrirasuaimagemedestruirasuacredibi-lidade.Deumlado,motivadaporantagonismopoltico,agrandepliadedepublicistasantimacednios,quepolarizamtodooseudio e ressentimento em Aristteles, cuja ligao pessoal e afectivacortedePlaerabemconhecida,aindaque,dopontodevistapoltico,onofossemaisdoqueaquevinculavaasdemaisesco-lasatenienses,nomeadamenteaisocrticaeaplatnica,aopro-jectoimperialde.ilipeeAlexandre..oioquesentiramalguns,assimqueanotciadamortedeAlexandrechegouaAtenaseoscidadosviramboaaocasioparamostrarnovamenteopundonorcomqueoeram.Nestecaptulo,coubeaumdesconhecido,denomeEurime-donte,abrirashostilidades,levandoAristtelesatribunalporimpiedade,comfundamentonohinoporeleescritoemhonradeHermias.ParecequefoiesteprocessoquelevouAristtelesaes-colheroscaminhosdaemigrao,cansado,desiludidooudesgos-tadocomobaixonvelaqueacoisatinhachegado.Maistarde,beneficiandodeumanovaerupodoespritoautonomista,comasubstituiodeumgovernoprporumgo-vernoantimacednio,ocorridanaPrimaverade306a.C.,umoutrodesconhecido,denomeDemcares,dirigeumaacolegalcontraosfilsofos,aincludos,comparticulardestaque,osperipatticos, todos mais ou menos comprometidos com o inimi-go,acomearporDemtriode.alera,membrodaEscolaentoacabado de cair em desgraa depois de, por um largo perodo, tergovernadoAtenasemnomedaMacednia.Aristteles, pai espiritual dos discpulos do Liceu e, como tal,responsvelporassimdizergenticoportodososseusactos,eraumalvofcil portersidoamigopessoaldemuitosdosdetes-tadosintervenientesnoprocesso,porterprivadocomosreisegovernantesdaMacednia,portersidoprofessordemuitosdosseuscolaboradores,porestaraservtima,aomesmotempo,deoutras acusaes e, no menos, por estar morto, o que facilita sem-preextraordinariamenteascoisas.OlibeloqueaesterespeitoDemcaresredigiuincluaasin-sinuaessuficientesparasetornar,deaemdiante,numadasfontesinesgotveisdostroposemexericosqueenxamearamatradiodifamatria.Bemmaisimportantesdoquequalquerdosanteriores,so,todavia, nem que seja pelos efeitos duradouros das suas interven-49es,doiscidadosdeQuo(noporacasoumEstadoreduzidopelas tropas de .ilipe Magno), a quem se devem algumas das maisbem-sucedidastorpezasusadascontraamemriadeAristteles,emespecialaquelheassacavaoengenhodeterfeitocarreiracomofavoritodeHermiasdeAtarneu.SoelesTecritodeQuo,escritormenordapocadeAris-tteles,dequesesabeapenastersidouminimigofigadaldaMacedniaehaverescritoumepigramainfamantesobreasale-gadasrelaesdoEstagiritacomHermias,eTeopompodeQuo,historiadorgregodaescoladeIscrates(oquenoaquidespi-ciendo),emcujasobrasseabreespaoparaasmesmasrefern-ciascaluniosas.Expressandodiscordnciasdoutrinais,porvezescomumavivacidadequeroavaoinsultoe,numcaso,pelomenos,comorecurso sistemtico a baixas invectivas pessoais, Aristteles encon-tra,noentanto,nestapoca,umoutroconjuntopoderosodead-versriostenazes.esseocasodeLcon,umfilsofopitagricocontempor-neodoEstagirita,dequenadamaissesabe,masquetercontri-budo para alimentar as acusaes de impiedade que, como vimos,desdeentolheforamfeitas,comumaligeirezanomnimosus-peita.Mas as escolas filosficas de onde, mais cedo e de modo maisconsistente, partiram as crticas a Aristteles foram a megrica, emquesedestacaramEublidesdeMileto,ofamosoautordepara-doxos,eAlexinodelis,queparecetersidoumseudiscpulomais ou menos insignificante, a quem, segundo Digenes Larcio,os contemporneos preferiam chamar rryctycc (quezilento, numevidentetrocadilhocomoseunome),esobretudoaepicurista,ondelogoosprimeirosmestres,EpicuroeMetrodoro,serevela-ram como os mais ferozes e violentos crticos do aristotelismo, nohesitandoemutilizarnassuasdiatribesasinjriaspostasjacircularpelopartidoantimacednioeporalgunsmembrosdaescolaisocrtica.Umpoucomaistarde,umdiscpulodeEpicuro,denomeColotes,acorreuasalv-lodestamancha,preferindoaargumen-tao calnia na desmontagem mais penetrante e consistente atento efectuada do sistema aristotlico, e tambm do platnico, emalgunsaspectoscentraisemqueambosdivergemdoepicurista.GraasaPlutarco,asuaanlisefoiemgrandepartepreservada,oquenospermiteficarcomumaideiarazoavelmententidadascrticasquedirigeaAristteles,bemcomo,oquenodesome-50nos,daimagemqueumobservadoridneo,masinteligente,po-deriaterpocadosignificadoedovalordoaristotelismo12.Numasegundagerao,continuaaverificar-seatendnciapara um debate fortemente polarizado na, e envenenado pela, sim-patiaouantipatiasuscitadasnosescritorescoevosporAristteleseocrculoperipattico.Deentreosautoreshostis,destacam-se,emespecial:Timeude Tauromnio, um historiador siciliano radicado em Atenas apsadeposiodeseupaidotronodasuacidade;Tmonde.liunte,famoso sequaz do cepticismo pirrnico que optou por filosofar emversossatricoscontraasescolasdogmticas;eHermarco,epi-curistadasegundagerao,quepareceterescritoumpanfleto,HecAetotctrvy,hojeperdido.Noentanto,nestapoca,comosnimosumpoucomaisserenadospelaestabilizaopolticaqueacivilizaohelensticasedimentar,findaaguerradosDidocos,quesurgemtambmasprimeirasreacescontraassimplificaes,injustiaseexage-ros que haviam caracterizado a primeira fase da recepo de Aris-tteles.A primeira, no tempo e em importncia, protagonizada por.ilcorodeAtenas,que,apesardeferozmenteantimacednio,procedeunasuaHistriadatica(dequesubsistemnumerososfragmentos) a um estudo isento dos documentos, da resultando acompleta absolvio de Aristteles e do Perpato das acusaes detraiopostasacircularcontraeles,designadamentepelolibelodeDemcares,bemcomoadennciadafalsidadedeoutrasinvectivasinfundadascontraoEstagirita.Nestecontexto,.ilcoropodebemserhonradocomoomaisantigorepresentantedalinhaderesistnciaeinflexocontraamaledicncialanadacontraAristteles.Aeleficamosadever,paraalmdomais,acronologiadavidadeAristtelesqueApo-lodorofixouehojeconhecemosatravsdeDionsiodeHalicar-nassoedeDigenesLarcio13.Outrosnomesareternesteperodocomoprimeirasfigurasdareacoperipattica,agoraacentuadamenteapologtica,soEumelo,cujaobrapraticamenteseperdeu,Dicearco,peripattico12Estepontoimportanteparaoestabelecimentodoestadodocorpusnomomentoemqueoepicurismoantigoformulaasuacrtica,comoteremosoca-siodevernonossoprimeiroescrito.13Podever-seumatranscrionoapndiceVII.51dasegundageraodequemseconservamalgunscurtosfrag-mentos,eprincipalmenteArstondeCs,escolarcadoLiceuen-tre225e190a.C.,quefoioverdadeirofundadordahistriadoPerpatoecujotrabalho,emboranopossahojesercompulsadodirectamente,estdecertonabasedemuitodoqueatradiosubsequente, de Hermipo a Digenes e Hesquio, nos veio a trans-mitir.Entreosdetractorescontumazesdoperipatetismoeosadep-tosincondicionaisdaEscola,asfontesidneasmaisantigasaps.ilcoroencontram-senosdoxgrafosdescomprometidosdopri-meirohelenismo.Duas figuras avultam especialmente no perodo: Antgono deCaristo,autordasVidasdos.ilsofos,obradequeAteneupreser-vadiversosfragmentos;eoautordesconhecidodotratadoDeelocutione,ondeserenemalgunstestemunhosrelevantessobreavidaeapersonalidadedoEstagirita.3ALITERATURABIOGR.ICAHELENSTICAENEO-HELENSTICAPorm,agoraestamosjemplenapocaflorescentedalite-raturabiogrficahelenstica.Nela,distinguem-seosescritoresdeentretenimento,interes-sadossobretudoemcomporobrasligeiras,recheadasdehistriasvariadas(actkIvtotceIe)epolvilhadasdeanedotassaborosasepormenorespicantes,eosautoresdosurye3t3Ie,livrosmaissrios,depropsitoerudito.Deentreosltimos,sobreleva,comoespecialmenteimpor-tante para o caso de Aristteles, o estudioso Hermipo de Esmirna,bibliotecrioperipatticodeAlexandriaduranteosculoIIIa.C.,que comps a mais antiga biografia aristotlica conhecida, incluin-dootextodotestamentoeoinventriodosescritos,acervopelomenosparcialmenteconservadoporDigenesLarcioeHesquiodeMileto.Outros nomes importantes no perodo so Apolodoro de Ate-nas (sculo II a. C.), gramtico radicado em Alexandria, a quem sedeve,comademuitosoutros,afixaodacronologiadavidadeAristteles, e .ilodemo de Gdaros (sculo I a. C.), autor de ASu-cessodos.ilsofosedondicedos.ilosficosAcadmicos,obrasqueconservam informaes de qualidade transcritas a partir de fontes52mais antigas, designadamente no que respeita polmica de Cefi-sodorocomAristteles,acercadaqualconstituiumadasprinci-paisautoridades.De entre os coleccionadores de actkIv totceIe, o mais antigoeinfluentenestapocaJernimodeRodes,escritorperipatticodotempodeLconedeArston,quedeterminou,pelocontedoepeloestilo,sucessivasgeraesdeliteratosdoperodohele-nstico.Dois sculos mais tarde, Dionsio de Halicarnasso vir a con-tribuirtambm,nassuasnumerosasobras,paraapreservaodemuitostestemunhosantigossobreabiografiaaristotlica.NosculoIa.C.abre-se,noentanto,umanovafasenacom-preensodafiguradeAristteles,bemcomonarecepoetrans-missodoseupensamento,dosseusescritosetambmdosele-mentosquecirculavamsobreasuavidaeasuapersonalidade.Trata-sedoprimeirorenascimentoaristotlico,promovidopelaredescobertadacolecoaristotlica,emquetomaramparteimportanteApelicontedeTeo,biblifilogregoqueaterresgata-do no incio do sculo, e Tirnio de Amiso, gramtico romano, emcuja biblioteca vir a entrar algumas dcadas mais tarde, e marca-dopelaprimeiraediosistemticadasobrasdeAristteles,em-preendidaemRomaporAndronicodeRodes.Aesteincansveleruditosedeve,paraalmdareferidaedi-o,arecuperaoeadivulgaodostratadosacromticos,quecomamortedeAristteleshaviamdeixadodecircular,eafixa-odocnonedaobraaristotlica,dotando-adeumaestruturamuitoaproximadadaqueconhecemoshoje.O seu labor em prol do renascimento dos estudos aristotlicosfoicontinuadoporcolegasediscpulos,entreosquaiscumprereferirBociodeSdon,ArstondeAlexandria,Eudoro,Xenarco,Atenodoroe,principalmente,NicolaudeDamasco.Outromem-brodaEscolaemcujasobrasseconservamtestemunhosrelevan-tessobreabiografiaaristotlicaofamosogegrafoEstrabo.Numdomnioaparentado,tambmporessapocaquertemondeCassandreiaprocedeediodacorrespondnciadeAristteles,publicandoumaextensacolecodecartasdirigidaspelo filsofo a diversas personalidades, elemento de especial inte-ressebiogrfico.Porm,preparatriadoambientequehaviadepropiciareacolhertodoesteintensotrabalhoeditorialaemergnciadoeclectismo,introduzidonaAcademiapor.londeLarissa,chefedaEscolanoinciodosculoIa.C.,emsubstituiodocptico53Carnades,dequemforaaluno,econtinuadopeloseudiscpuloesucessorAntocodeAscalo,verdadeiroresponsvelpelacon-solidao do iderio filosfico que ir marcar toda a IV Academia.Ambosfavoreceroointeressepelopensamentoaristotlicoedeterminaroindirectamenteofavorexegticoqueapartirdanuncamaislheirfaltar.Umaoutrafiguracoevadoeclectismoemergente,estedeinfluncia predominantemente estica, foi Possidnio de Apameia(sculos II-I a. C.), em cujos textos se encontram, alis, alguns, pou-cos,testemunhosbiogrficosrelevantes.Beneficiandodoconvviocomtodosesteshomens,cujasli-esescutouemRoma,AtenaseRodes,omaisfamosoepgonodaviragemeclctica,e,comela,doretornoaAristteles,serCcero,emcujasobrasseencontramnumerosasrefernciasaoEstagirita,algumascomgrandeinteressehistrico,emespecialquando citam, descrevem ou comentam os escritos exotricos, cujocontedo s conhecemos hoje pelas notcias que ele, e outros comoele,noslegaram.Estaveiaharmonizadoradospensamentosplatnicoearistotlico,porumavezsimpticafrequnciadosescritosdonossofilsofo,sercontinuada,eataprofundada,nosdoiss-culosseguintes,pelosautoresdoplatonismomdio.EdefactoamembrosdestaEscola,comoAlbino,ApuleioouMximodeTiro,todosdosculoIId.C.,que,noperodo,podemosirbuscarelementosinformativosderecortemaiserudi-tocomimplicaodirectaouindirectasobreAristteles.JosseuscontemporneosecorreligionriosCalvinoTauroe tico, sobretudo sensveis s diferenas doutrinrias entre Platoe Aristteles, procuraro antes contrariar a tendncia eclctica do-minantenaAcademia,oqueostornarparticularmenteatreitos,emespecialnoltimocaso,aservirdeveculosreinvestidasdaantigatradiohostil.Contudo,agrandefiguradesteperodo,indiscutivelmente,PlutarcodeQueroneia(sculosI-II),prolixohistoriadoreensastagrego,emcujasobrasseencontraumautnticomanancialdedetalhessobreavidaeaobradoEstagirita,emboranemtodosmerecedoresdeuniformeaudincia.Aindanapocaimperial,ofilsofoneopitagricoNumniode Apameia (sculo II) regista alguns dados de relevo sobre a bio-grafiaaristotlica,aomesmotempoque,comoutroflego,omdico e filsofo cptico Sexto Emprico (sculo III) dedica, ora emcontraponto exposio do pirronismo, ora a propsito da refuta-54odascorrentesdogmticas,algumaspginasextremamenteimportantes para o conhecimento das escolas filosficas preceden-tes,entreasquaisadeAristteles.Todavia,nomesmoperodo,aliteraturaregressatambmaocultivodasactkIvtotceIe(ou,agora,dasvariahistoria),recrian-doumaespciedeneo-helenismorefinadoecomoquebarroco.nelaquevamosencontrarboapartedainformaodispo-nibilizadanapocaarespeitodopontoquenosocupa.certoquejantes,noprimeirosculodanossaera,inves-tigadores como Plnio, o Antigo,haviamcontribudoparareteral-gumasrefernciasimportantesbiografiadeAristteles.Mas sobretudo no perodo da segunda sofstica que se des-cobremosmelhoresexemplosdestegneroliterrioetambmasmaissubstanciaisinformaesconservadaspelatradio.De entre os escritores de entretenimento com importncia nes-teponto,destacam-se:lioAristides(sculoII),clebreoradorgre-goemcujosdiscursossopreservadosalgunstestemunhosimpor-tantessobreoEstagirita;oescritorgregodeorigemsriaLuciano,contemporneo do anterior; o filsofo cptico .avorino, tambm damesmapoca,que,paraalmdosoutroscontributosdecarcterbiogrficoqueavanou,pareceserafontedirectadeDigenesLarcionoestabelecimentodacronologiadeAristteles;oescritorligeiroAuloGlio,aindadosculoII,emcujasNoitesticassore-colhidasdiversasanedotasrelativasaAristteles;umpoucomaistarde,ogramticoeoradorgregoAteneudeNucratis,autordamonumental antologia dialogada que ficou conhecida pelos Dipnoso-fistas; e Cludio Eliano, escritor e professor de retrica romano, cujasVariahistoriapreservamdiversostestemunhossobreavida,aper-sonalidade,osditoseasobrasdeAristteles.4DOCOMENTARISMOSRECOLHASBIODOXOGR.ICASTARDIASEis,contudo,queintervmomomentograndedosegundorenascimentoaristotlico,aindanossculosII-III,marcadopeloinciodocomentarismoecentradonostrabalhospioneirosdeAlexandredeAfrodsias,dosseusmestresAdrasto,Hermino,SosgenesesobretudoArstoclesdeMessina,dealgunsdosseuscondiscpulos,comoGalenodePrgamo,figurampardamedi-cinaedalgicaocidentais,ebemassimdosseuscontinuadores,55emquesedestacar,sculoemeiomaistarde,TemstiodeCons-tantinopla,ltimogranderepresentantedocomentrioaristot-licoforadainfluncianeoplatnica.Deentretodos,indiscutivelmenteAlexandrequesobrele-va, quer pelo volume conservado dos comentrios que dedicou sobrasdeAristteles,emespecialnasreasdalgica,dafsica,dapsicologia e da metafsica, quer pelos enormes conhecimento e pe-netraoanalticaqueelesrevelam,athojenoexcedidospornenhumcomentrioposterior.Todavia,nodomniopropriamentedoxogrfico,foisobretu-doofilsofoperipatticoArstoclesdeMessinaquedesenvolveuotrabalhomaisinteressante,procurando,nasuaobraDephiloso-phia (quase integralmente perdida), impugnar as informaes e osargumentostransmitidospelatradiohostilaAristteles.Aindanamesmapoca,assiste-seaotrabalhomaissistem-ticonodomniodahistriadafilosofiaantiga,querdopontodevistaterico,emquesedestacaSciondeAlexandria(sculoII),doxgrafogregodaescolaperipattica,responsvelpelaintrodu-odomtododassucesses,querdopontodevistahistoriogr-fico,emqueograndenomeindiscutivelmenteDigenesLar-cio,emcujolivroVidaeDoutrinasdosReputadosem.ilosofiasosucessivaeexaustivamenteabordadostodososfilsofosdesdeoprincpiodostempos(literalmente)atEpicuro,aoestiloneo--helensticodanarrativaanedtica.Aesteltimoautorsedevepartemuitosignificativadasin-formaesdequehojedispomosacercadafilosofiagregaedassuasprincipaisfiguras,correntes,obrasefeitos.NocasodeAris-tteles,atravsdeDigenesqueacedemossinformaescon-tidasnaVidadeHermipo,naspassagensatinentesdasCrnicasde Apolodoro, ao texto do testamento de Aristteles e ao catlogoperipatticoantigodassuasobras,muitoprovavelmentederiva-doultimamentedeArston.Nosprimeirossculosdanossaera,acivilizaoocidentalassistira,porm,aumadecisivarevoluocultural.O cristianismo e, com ele, um componente importante da sen-sibilidade e da mentalidade judaica e oriental, havia penetrado nosespritos,dominadoospovos,influenciadoascamadasilustradase,numprimeiromomento,obrigadoasmentesinclinadasespe-culaoatomaremumaposio.Comefeito,aatitudeinicialdaPatrsticacristforamarcadapelarejeioemblocodetodososvestgiosdopaganismo,nelesincluda,muitoparticularmente,afilosofia.56Comoseestmesmoaver,paraassimrejeitarafilosofia,osqueaqueriamexcluirtiveramdeaconhecere,oquemais,deapraticar14.Os grandes padres apologetas dos sculo II-IV foram um bomexemplodestainexorabilidade,convertendo-seinvoluntariamenteemveculosdepreservaodenumerososlivrosantigosoumui-totcnicos,e,comotal,poucoapetecveis,que,porpraticamenteforadecirculao,estavam,poca,emriscosdeseperder,masaque,paraefeitospolmicos,precisavamderecorrernosseusopsculosesermes,demodoaestigmatizarasdoutrinasnefas-tasquecontinhamou,ento,ademonstrarasoperaesmisterio-sasdoSenhorpatenteadasnasproximidadessurpreendentesdecertasintuiespagscomaverdaderevelada.Por uma ironia do destino (mas o destino frtil em ironias),os primeiros Padres da Igreja vm, assim, a tornar-se nos grandesresponsveis pela conservao de um enorme volume de informa-osobreopensamentoantigo,justamenteaquelequedesejavamcontrariar, o que, alis, atesta bem a sua honestidade cientfica e asualealdadeintelectual.No que a Aristteles concerne, os nomes mais relevantes des-tacorrentesoodeSoClementedeAlexandria(sculosII-III),incansvel pregador cristo que preserva nas suas obras Protrptico,PedagogoeMiscelneasnumerososfragmentosetestemunhosanti-gos,odoseudiscpuloOrgenes,paraalmdomaistambmumgrandefilsofo,emcujolivropolmicointituladoContraCelsofi-camregistadasalgumasrefernciasbiogrficasaAristteles,odeEusbiodeCesareia(sculoIV),aquemafilosofiaantigatemaagradecerasmuitaspginasquelhededicanasuamonumentalHistriaEclesistica,e,finalmente,odeSoGregriodeNazianzo(tambmdosculoIV),emcujossermessotranscritasdiversasinformaesrelevantessobreosautoresantigos.Todavia,jnofinaldaAntiguidade,afilosofiapagtemumltimosoprodeindependnciaedecriatividade,talocantodocisnedequePlatofalano.doncomoguardandoparaavizi-nhanadamorteoseumaisbelocntico.Oneoplatonismo,fundadoporPlotino,comocorrentedepensamento,alguresnosculoIIId.C.,masstransformadoem14AacreditaremElias,oprprioAristteleshaviajintudoestaverdadesegundoaqual,seoquedefilosofardefilosofar,oquenodefilosofartambmdefilosofar(InPorph.3.17-23Busse=Prt.R2,R250,R351,W2).57movimentofilosficopeloseudiscpuloPorfrio,terumapala-vra decisiva a dizer na divulgao e na transmisso do pensamen-topregresso,comespecialdestaqueparaPlatoeAristteles.Paratalcontribuiunoapenasaimportnciaqueavultanoneoplatonismohistricodoprojectodecompatibilizaroriginaria-menteospensamentosdestesdoisautores,comoofactodesehaverinstitucionalizadoemtornodeumaescolaqueassegurouininterruptamente, ao longo de trs sculos, um modelo de ensinoemqueosdoisfilsofosconstituamparteessencialdocurrculo.Ora,umavezquepossumosinformaesdirectasefidedig-nas a este respeito15, sabemos que a apresentao do pensamentodePlatoedeAristteleserainvariavelmenteprecedidaporumaexposiodasrespectivasbiografias,paraaqualcontavamcomumeptomepreviamenteelaborado.Ptolemeuodesconhecido,autor,comoveremos,deidenti-ficao muito controversa16, ser aqui o nome-chave, uma vez quelhedevemosamatrizdetodasasVitaeAristotelissubsistentesdefeioneoplatnica,asaber,aquelasjustamentecombasenasquaiseraproduzidooensinamentodentrodasescolas.Semserdesejvel,paraj,procederaumadiscussoacercadesteautor,convenienteficarasaberopoucoque,daAntigui-dade,nostransmitidosobreele.sobretudonatradiorabe,emqueostrabalhosdePtole-meuteroumaenormeutilizao,queseencontramasparcasrefernciasprimriasaobigrafo.Assim,al-Nadim,nofinaldaentradasobreAristtelesdo.ihrist,introduzumalistaintitulada.ilsofosdanaturezacujadataesucessonoconhecemos,ondesurgeestaobservaoesclarecedora:Ptolemeual-GaribfoiumadeptodeAristteleseespalhouoconhecimentoacercadosseusmritos;oautordolivroAcercadaVidadeAristteles,aSuaMorteeaClassificaodosSeusEscritos.17JoverbetededicadoaPtolemeupelaenciclopdiaTabaqatal-hukamadeal-Qiftirezaassim:Esteinvestigadorfoidurante15Utiliz-las-emosmaisamplamentenocaptuloIVdonossoprimeiroestudo.16VoltaremosquestonapartefinaldocaptuloIIdonossoestudosobreOCorpusAristotlico.17TraduzimossempreapartirdeDring,AristotleintheAncientBiographi-calTradition:aquiapp.194-195.58todaasuavidaumfilsofonopasdosGregosenoomesmoqueoautordoAlmageste18.[]MuitostiposdeinvestigadoressoconhecidospelonomedePtolemeu.Eramdistinguidosunsdos outros pelo acrescento de um nome especial, para que pudes-semserconhecidosporessenome.Comointuitodemostrarasua solicitude para com Aristteles, este investigador escreveu umlivroAcercadaVidadeAristteles,aSuaMorteeaClassificaodosSeusEscritos.19.inalmente,oartigodeUsaibiasobreAristtelescomeadoseguintemodo:AssimfalaPtolemeunoseulivrodedicadoaGalosobreavidaeahistriadeAristteles,oseutestamentoealistadosseuslivrosfamosos.20Deresto,encontram-seapenasmaisduasreferncias,umaincompletaeoutraequivocada,aPtolemeu,aolongodetodaatradiogrega:umapassagemdaVitaMarciana13,emqueelesurgemencionadoapenaspelonome(aoinvsdoqueal-Qiftiseafadigavaemexplicar);eumtrechodeDavid21,queoconfundecomoimperadorPtolemeu.iladelfo,oquemostra,comoDringcorrectamenterefere,queasuaidentidadejeradesconhecidaporvoltade500d.C.22.NohnenhumoutrotestemunhoantigosobrePtolemeu.Estasituaoraraeembaraosanoautorizagrandesconjec-turas,paraalmdaquelasqueDringsumarianosseguintester-mos23:Em suma: a minha prpria concluso provisria, atquemaiselementosemirjam,quePtolemeueraumneoplatnicoalexandrino,influenciadopela,ouperten-cendo,escoladeJmblico(sculoIVd.C.),equeoso-brenomeal-Garibfoi-lhedadopeloescritorannimodosumriorabe(= Ishaq?)paraodistinguirdofamo-soPtolemeu,autordoAlmageste.18Oautordo AlmagesteoastrnomoperipatticoCludioPtolemeu,con-temporneomaisvelhodeAlexandredeAfrodsiasnoLiceu.19Op.cit.,p.209.20Op.cit.,p.212.21OlimElias,InCat.107.11Busse.22AristotleintheAncientBiographicalTradition,p.210.23Op.cit.,pp.210-211.59AcercadastendnciasecaractersticasdaVitadePtolemeu,tal como elas resultam de um cotejo dos numerosos eptomes exis-tentes,damos,umavezmais,apalavraaDring24:OcarctergeraldabiografiadePtolemeu,comoaquidescrita,implicaquenuncasedeveconfiarnele. preciso suspeitar sempre de que as suas afirmaes soinfluenciadasporzeloapologtico.Masseriainjustoig-noraraquestodeque,porvezes,transmitefactosquecontmacrescentosvaliosostradiobiogrfica.Isto, no que diz especificamente respeito tradio biogrfica.Mas as escolas neoplatnicas fizeram muito mais do que sim-plesmenterecolherabiografiaaristotlica:dedicaram-sesobretu-doaocomentrioaturadoeexigentedosseusescritos.E,nostextosdestanatureza,htambmbastasrefernciascom impacto no ponto em apreo: no perodo anterior a Ptolemeu,atravsdoensinamentoedostrabalhosdidcticos,exegticosefilosficosdePorfrioedeJmblico;depoisdesseperodo,umavezqueoscomentriosdeProcloeDamscioaopensamentodeAristtelesseperderam,especialmenteatravsdosproduzidospelaEscoladeAlexandria,fundadaporAmnioHermeunofinaldo sculo V e continuada por Simplcio, .ilpono, Asclpio, Olim-piodoro, David, Elias e Estvo de Alexandria, todos eles, emborademododesigual,autoresnomenosimportantesdopontodevistahistoriogrficodoquedopontodevistafilosfico.A nossa histria termina com as recolhas doxogrficas tardias,emque,nalgunscasos,repousaboapartedainformaodirectadequedispomossobreopensamentoantigoe,nocasovertente,sobreavidadoEstagirita.Contam-seespecialmentenestelote:asclogaseo.lorilgiodeJooEstobeu(sculosV-VI),ondeserenemmilharesdefrag-mentosdeescritoresantigos,algunscomrefernciasbiogrficasimportantesaAristteles;aNomenclatura,oudicionriobiogrfi-co,deHesquiodeMileto(sculoVI),cronistadeConstantinoplasobJustiniano,cujotrabalhosobrevivenosverbetesdaSuda,designadamentenoquerespeitanotciasobreavidaeocatlo-goantigodasobrasdeAristteles;aprpriaSuda,monumental24Op.cit.,p.472.60enciclopdiadopensamentoantigocompostaalguresnosculoXporumlexicgrafobizantinodesconhecido;e,natradiorabe,a mais influente das suas doxografias, o Kitab al-.ihrist de Ibn AbiIacubal-Nadim,contemporneodoautordaSuda,ondeseincluia primeira verso rabe da Vita Aristotelis de Ptolemeu, com trans-criodotestamento.61IIACIDENTESEVCIOSDETRANSMISSO1TRADIODI.AMATRIA,REACOPERIPATTICAE.ONTESINDEPENDENTESComo resultar decerto do percurso anterior, a historiografia,noquerespeitaaAristteles,raramentefoiisenta.Violentas paixes ideolgicas, polticas, filosficas e, o quenomenos,oquehojesechamariaacadmicas agitarampor diversas vezes, embora com maior vivacidade na primeira fasedarecepodomagistrioaristotlico,oshomensquesededica-ramaestudarAristteles,ousimplesmenteafalardele,epertur-baram a neutralidade e a iseno com que os factos, mormente osbiogrficos,queso,nestedomnio,osfactosporantonomsia,haviamdetersidoporelestratados.Comoevidente,estacircunstnciaaumentadrasticamenteos riscos de contaminao, logo na origem, da documentao exis-tentesobreofilsofo,umavezquenelasemisturamsemcritrionempejoinformaesfidedignasenotciasinventadas,factosau-tnticosedadosforjados,relatosinocenteseimparciaiscomrepositrios caluniosos, mal-intencionados, ou feridos por indciosdeliberadamentemalinterpretados.Vimos j que as primeiras motivaes para a tradio biogr-fica hostil a Aristteles radicaram no dio poltico e no antagonis-modoutrinal.Deentreosinspiradospordiopoltico,contam-seosdiver-sosadversriosdaMacedniaquejreferimos,masaqueconvir62acrescentar, ainda no sculo III a. C., Bron de Quo, que, num ops-culosobreoseuconterrneoTecrito,preservouoepigramadestesobreasalegadasrelaesentreAristteleseHermias,bemcomo,doissculosvolvidos,Ddimo,autordeumcomentriosobreDe-mstenes onde so conservados alguns trechos com o mesmo efeito.Josdetractoresmovidosporantagonismodoutrinalpare-cemterpercorridoquasetodaagamadeescolasdisponvelnapoca: isocrticos como Cefisodoro e Teopompo; pitagricos comoLcon;megricoscomoEublidesdeMiletoeAlexinodelis;cpticoscomoTmonde.liunte;especialmenteepicuristas,comoo prprio Epicuro e os seus colaboradores e discpulos Metrodoro,ColoteseHermarco;eatumplatnicotardiocomotico.Com raras excepes, por exemplo Cefisodoro e Colotes, nodemodoalgumaconselhvelatenderdemasiadamenteaostes-temunhostransmitidosporsemelhantevia,umavezquelhefaltaaimparcialidademnimaqueatornassecredoradeconfiana.Omesmosucede,emboraemsentidocontrrio,nocasodosrepresentantesdatradiofavorvel..ilcorodeAtenas,comovimos,umautorfivel,atpor-quenoescreveemfavordeAristteles,massimnoexercciodoseumisterdehistoriador.Mas j no que se refere aos peripatticos de segunda e tercei-rageraes,comoEumelo,DicearcoeArstondeCs,ouaosapologetas tardios, como Arstocles de Messina, a prudncia , denovo,aatituderecomendvel.Dosrestantesescritoresfavorveis,osquepoderiamgarantirmaioriseno,comooseclcticos(.londeLarissa,AntocodeAscalo, Possidnio de Apameia), os editores romanos (AndronicodeRodes,BociodeSdon,NicolaudeDamasco),umououtroplatnico(AlbinoeApuleio,porexemplo)eoconjuntoderes-ponsveispelosegundorenascimentoaristotlico(Adrasto,Her-mino,SosgeneseAlexandredeAfrodsias),nadaouquasenadaadiantaramsobreabiografiaaristotlica(umainteligentereser-va?).Eosqueofizeram,comoPlutarcoouMximodeTiro,so,adespeitodasobriedadedassuasfiliaesfilosficas,sobretudohomensdohelenismo,aquemarejeiodequalquernotcia,ain-daqueeventualmentefalsa,setornariainsuportvel.Quantoaosneoplatnicos,sabemosjdatendnciaradical-mente hagiogrfica que orientava a sua viso dos antigos Mestres,cegando-osparaosaspectosmaishumanoseimpressionando-ossobretudocomtudooqueparecesseumsinalexteriordesubli-midadeouumsmboloincarnadododivinomanifestando-se.63Poucos,enfim,comoCceroouEstrabo,ou,muitomaistarde,Temstio,emboraclaramentefavorveisaAristteles,man-tiveramsemprealgumdistanciamentocomosexagerosapolog-ticos,oquetornaosseustestemunhosessencialmentemaiscredveis..inalmente,deentreasfontesindependentes,aliteraturadeentretenimentodohelenismo(AntgonoCarstios,JernimodeRodes, Demtrio, Dionsio de Halicarnasso) e da segunda sofstica(lioAristides,Luciano,AuloGlio,AteneudeNucratis,Clu-dioEliano),bemcomoalgunsautoreseruditosquesedeixaramcontaminarpelosgostosetendnciasdapoca,comoHermipode Esmirna, no tempo daquele, ou talvez .avorino, no desta, exi-gemumcuidadosomanuseamentodassuasdeclaraesouda-quelasquelhessoatribudas,porformaacontrolarafidedig-nidadedelas.Assim, ressalvados alguns casos excepcionais (.ilodemo?), sosautoresqueestodeforaenadatmquever,nemcomosconflitos dos outros, nem com o seu tipo de paladar, como sucedecomoshomens(esantos)daPatrstica,doalgumagarantiaantecipadadesobriedadeprpria,aindaquandoonopossamfazerpelaalheia,noquesereferesfontesqueseviramconfi-nadosautilizar.2UMACONCLUSOEALGUNSENSINAMENTOSComosev,ostestemunhosbiogrficosantigossodetalmododependentesunsdosoutroseestodetalformainterliga-dos entre si que, frequentemente, no possvel seleccionar os ele-mentossosdeentreoscontaminados,nemtirarumabissectrizdebomsensonamassadeinformaesdisponveis.Asprpriasfontesindependentesnoso,apenasporose-rem, necessariamente mais fiveis e isentas, visto que tambm elassoobrigadasarecorreratestemunhosmaisantigos,onderara-menteimperouoequilbrioeasensatez.Estaconclusoparticularmenteaplicvelnocasodoses-critoresdeentretenimentodosdoishelenismos,mesmoquandoaparentementevinculadosaescolasidneasereputadas(ogostopelasactkIvtotceIepenetroutransversalmente,deAntgonoaPlutarcoedeHermipoaAteneueEliano,aliteraturabiogrficadestelongoperodo),umavezqueatentaoparaaproveitarto-64dasasnotciasepararechearomaispossvelanarrativadepor-menoresinteressantesfalouquasesempremaisaltodoqueasobrigaesdeverificao.,pois,deelementarprudnciaretirardestepriplomaisuma preveno do que uma lio: o alerta para que nenhum dadoa respeito da biografia aristotlica seja admitido a no ser quandoconfirmadodefinitivaeinequivocamentediantedoconjuntodeelementosconhecidos.Nesteemaranhadoperigosoearriscadodeinformaesemexcesso e de indcios por vezes contraditrios, o ensaio de recons-tituiobiogrficaquesesegue,pois,comrecursoaosdadosantigosmaissegurosesanlisesmodernasmaissabedoraseequilibradas,umatentativadeapreenderoquedemaisslidosepode conjecturar, ou de mais frgil se deve duvidar, a respeito davidaedapersonalidadedeAristteles.2VIDADEARISTTELES67IOSPRIMEIROSTEMPOS1NASCIMENTOAristteles nasceu em Estagira (hoje Stavro), cidade do Norteda Grcia continental, junto Trcia e Macednia1, em 384 a. C.,primeira metade do primeiro ano da nonagsima nona olimpada2,soboarcontadodeDitrefes3.Acidade,situadanazonacosteiralestedaCalcdica,doladoopostoaOlinto,ametrpolemaispoderosadapennsula,eraumaantiga colnia, resultante das primeiras vagas de emigrantes jnicosqueasehaviamestabelecidoemmeadosdoprimeiromilnio.1Paraaexactalocalizaogeogrfica,consulte-seafigura1.2DeacordocomacronologiadeApolodoro,aindaadoptadanoqueconcerneaesteeoutrosdetalhesdedatao(paraosquaisconvirircotejandoosapndicesVII,VIIIeXIII).3ParaumanarrativamaisdetalhadadavidadeAristteles,aconselhamosvivamentealeituradolivrodePierreLouis,ViedAristote(384-322avantJsus--Christ), Paris, Hermann, 1990. O presente resumo deve-lhe, alis, bastante da suainspirao, em especial no que concerne organizao dos materiais. Importa, noentanto,sublinharque,emborarelativamentefidedignoquantoaosaspectosbiobibliogrficos,oseurelatoaltamenteromanceado,optandoporumtomdogmticomesmoquandoasinformaessopolmicaseassentamempressu-postosespeculativosouconjecturais.Maiserudita,mastambmmaisrigorosaeactualizada,anotciaredigidaporBernardettePuechparaoDictionnairedesphilosophesantiques(pp.417-423),quereputamoscomoamelhoremaisfivelnoseugnero,peloquenosfoiigualmentemuitotilnobalanodepartedosda-dosaquiapresentados.68Ao invs do que foi muito cedo posto a correr, nomeadamen-tepelosdetractoresdeAristteles,Estagiraera,datadoseunascimento, uma cidade grega independente e no uma provnciadaMacednia.Smaistarde,aquandodacampanhade.ilipecontraOlinto,aCalcdicapassarparaadependnciadestereinoeEstagira,aoqueparecedestrudapelastropasmacednias,serassimiladaaoseuterritrio(349-348).Porumacuriosidadehistrica,ofamosooradorDemstenes,omaisinfluentedosprceresticosdopartidoantimacednioe,nessaqualidade,naturalopositordeAristteles,nasceuemAte-nasnessemesmoanoeviramorrer,emcircunstnciastrgicas,namesmadataqueassistiragoniadofilsofo.2.AMLIAO pai de Aristteles, Nicmaco de Estagira, era mdico e per-tenciaaumaantigafamliaasclepada,linhagemtradicionalmen-tedestinadaaocultivodaarteclnica.Asnumerosaseprofusasreferncias aristotlicas medicina, nomeadamente como exemploemblemticodeconhecimentopoitico4,comomodeloepistemo-lgicoparaomtodoemtica5,ecomotipodeactividadequevisaoindividual6,ofactodeostestemunhosantigoslheatribu-remseistratadosperdidosnestedomnio7enomenosacentralidade com que o singular avulta na sua ontologia, na estei-radoestmulohipocrticoparaaatenoaoindivduo,nodei-4Cf.Top.V7,136b35-137a1;Metaph.Z7,1032b2-14;eEEI5,1216b10-19.5TpicoparticularmentebemestudadoporW.JaegeremAristotlesUseof Medicine as a Model of Method in his Ethics (JHS, 77, 1957, pp. 54-61) e G. E.R.LloydemTheRoleofMedicalandBiologicalAnalogiesinAristotlesEthics(Phronesis,13,1968,pp.68-83).Masvertambm:J.Owens,AristotelianEthics,Medicine,andtheChangingNatureofMan,Aristotle.TheCollectedPapersofJ.Owens,pp.169-180;V.P.Vizgin,HippocraticMedicineasaHistoricalSour-ceforAristotlesTheoryofDynameis,SHM,4,1980,pp.1-12;..Wehrli,EthikundMedizin:zurVorgeschichtederaristotelischenMesonlehre,MH,8,1951,pp.36-62.6Amedicinatrataoindivduo:ver,porexemplo,Metaph.A1,981a18--21,eENI4,1097a11-14.7Algunsdelesinegavelmenteesprios,comoosProblemasInditosdeMedi-cina. Para esta questo, veja-se o conspecto geral da obra de Aristteles, em apn-diceaonossoestudoOCorpusAristotlico.69xamdvidasacercadaprofundainflunciaqueestafiliaotevesobreasuaorientaofilosficaedovestgioqueelagravounoseupensamento.Porseulado,.stis,suame,nasceraemClcis,naEubeia8,porcoincidncia(outalvezno),terradeorigemdoscolonosquehaviamdefundaraCalcdicanapennsularecortadaanordestedoMonteOlimpo.Poucosesabederestoacercadasuafamliadenascimento.Os testemunhos subsistentes e, em primeiro lugar, os indcioscontidosnotestamentodeAristteles,cujaautenticidadenor-malmente aceite, permitem-nos, no entanto, dar alguns dados porbemestabelecidos.Emprimeirolugar,osaspectosmaisseguros:1) Aristteles teve uma irm mais velha, chamada Arim-nesta,eumirmo,Arimnesto,quemorreusemdes-cendncia;2) ArimnestacasoucomumcertoPrxenodeAtarneu,npciasdequenasceuNicanor9.A par destes, h, no entanto, algumas hesitaes importantesareferir:3) Apesar do que surge com alguma frequncia na maisrecenteliteraturadedivulgao10,nenhumtestemu-nhoantigoenenhumareconstituiomodernaassi-nalamaexistnciadequalqueroutrairmmaisve-lhadeAristtelesparaalmdeArimnesta;4) Pelocontrrio,aArimnestaquesoatribudos,paraalm do matrimnio com Prxeno, mais um ou mesmodoiscasamentos,respectivamenteanterioreposterior;5) Assim,omalogradohistoriadorperipatticoCalste-nesdeOlinto,cujoparentescocomAristtelesest8Verafigura2.9Estainformaosugerida,emboranoafirmada,pelaordemdostrspersonagens,Nicanor,PrxenoeamedeNicanor,notestamentodeAristte-les,talcomoconstaemDLV15.VeraesterespeitoC.M.Mulvany,NotesontheLegendofAristotle,CQ20,1926,pp.157-160,eA.H.Chroust,Aristotle.ANewLightonHisLifeandSomeofHisLostWorks,I,pp.77,83,n.7,189,195,337,n.5epassim.10ocaso,porexemplo,dolivrodeP.Louisjreferido.70bematestado,noseriafilhodeoutrairmdeAris-tteleseseusobrinhodirecto,comoselporvezes,mas sim neto de Arimnesta, atravs de sua filha Hero,porsuaveznascidadeumprimeiromatrimnioda-quelacomumindivduodesconhecido11;6) Para alm deste, a tradio rabe estabelece ainda re-laesdeparentescoentreAristteleseTeofrasto.Segundo os bigrafos rabes, Teofrasto seria sobrinhodeAristtelesporumairmouumacunhada,oquelevaChroust12aatribu-loaumterceirocasamentodeArimnesta,asaber,comMelantodeEreso,queDigenesLarciomencionataxativamentecomopaideTeofrasto13.Certamentequetodaestareconstituiogenealgica14lar-gamenteconjectural.Noentanto,comosublinhaBernardettePuech,nogratuitaeapoia-seemdadosjurdicosexcelente-menteexploradosporChroust15.3IN.NCIAAprimeirainfnciadeAristtelesfoipassadanacorterealda Macednia, onde Nicmaco fora chamado a exercer as funesdemdicodafamliadeAmintasIII16,decertoapenasdepoisda11Estatese,emborahojegeralmenteaceite,emtodoocasomoderna:cf.W.Kroll,Kallisthenes,REX1,1919,col.1675;C.M.MulvanyeA.H.Chroust,op.eloc.cit.Atradioantigaafastaaindamaisosdoishomens:segun-doaSuda,CalstenesseriafilhodeumprimooudeumaprimadeAristteles,que Plutarco (Alex. 55) identifica com Hero, prima de Aristteles e mulher de umcertoDemtimoouCalstenesdeOlinto.12Op.cit.,pp.77-78.13Cf.DLV36.Mas,paraDring,trata-seaquideumameratransfernciada relao Espeusipo/Plato feita pelo compilador rabe: cf. Aristotle in the AncientBiographicalTradition,p.197.14Paraaqual,veja-seoapndiceIX.15Dictionnairedesphilosophesantiques,p.421.16Amintas III, pai de .ilipe II e av de Alexandre Magno, noutras nume-raestambmconhecidoporAmintasII(ver,porexemplo,aEncyclopediaBri-tannica, bem como, para uma explicao possvel, o quadro da dinastia macedniaconstantenoapndiceX).71segundasubidaaotronodestemonarca,nasequnciadasviolen-tasperturbaesqueagitaramopasnesteperodo.provvelqueasuaintimidadecomofuturorei.ilipeII,bemcomocomosseusdoisirmosmaisvelhos,AlexandreePerdicas,queantesdeleocuparamefemeramenteotrono,remon-te a estes tempos, em que as relaes mais fortes se estabelecem easgrandesamizadessesedimentam. tambm provvel que tenha iniciado ento a sua convivn-ciacomAntpatro,queviraserministrode.ilipe,regentedaMacedniaaquandodaexpedioorientaldeAlexandreechefedogovernoimediatamenteapsamortedoimperador.Noporacaso,suaprotecoqueimplicitamenteentre-garafamliaemcasodemorte,nomeando-oexecutortestamen-trio,comotambmcomeleque,deacordocomoscatlogosantigos,trocaacorrespondnciamaisvultuosae,acrernosfrag-mentossubsistentes,porventuraamaisinteressante.EstarelaochegadacomosprncipesdaMacedniaecomaltosdignatriosdacorte,apardavinculaoasclepadae,maistarde,daconvivnciacomoensinamentoplatnico,constituiumdosprincipaisfactoresestruturantesdasuapersonalidade.Nestecaso,todavia,ainflunciavaiincidirsobretudonasvicissitudesbiogrficasemenosnaformaodoseupensamento,emqueaquelesdoisfactoresforammaisdecisivos.Comefeito,osdoisexliosdeAtenasderam-sesemprenasequnciadechegadasaopoderdopartidoantimacednioeforam,comforteverosimilhana,determinadosambospelasuaembaraosaesuspeitaproximidadecomamonarquiamace-dnia.Entretanto,emdatadesconhecida,d-seumareviravoltado-lorosanavidadeAristteles.Provavelmenteaindaantesdaadolescncia,v-serfodepaieme,tendodeacolher-sejuntodairm,Arimnesta,edocunhado,Prxeno,emAtarneu.Entraentoemcenaumoutropersonagemqueexercerumduradouroascendentesobreasuavida,tantoporboascomoporms razes: Hermias de Atarneu, o antigo servidor de Eubulo queotiranofarseuvalido.juntodelequeAristtelesseacolherquandotiver,pelaprimeiravez,defugirdeAtenas.ComotambmaelequeosautoreshostisaAristtelesre-correroparaimputarascalniasmaisinfamantes,acusandoofilsofodemantercomoeunucoHermiasalgomaisdoque72umaamizade(quederestonadamaistestemunha),graasaumepigrama verrinoso de Tecrito de Quo profusamente citado pelatradio.Voltaremos,frente,aouvirfalardele.DestasuaprimeiraestadaemAtarneu,nadamaissabemossenoqueterduradoatidaparaAtenas.Podemos,noentanto,inferircombastanteseguranaqueasuarelaocomArimnestaePrxenofoimuitoprximaecerta-mentemuitocalorosa.Um indcio nesta direco a relao que Aristteles por suavezestabelecercomofilhodeambos,Nicanor17,aquemdesti-naasuaprpriafilhaemcasamento18eque,acrernatradiobiogrficaneoplatnica,termesmochegadoaadoptar19.17AidentificaodestecomogeneralhomnimodeAlexandrefoidesa-creditadaporDring(AristotleintheAncientBiographicalTradition,p.271).18Trata-seapenasdeumadisposiotestamentria,quenosabemossechegouasercumprida,emboraSextoEmpricoasseverequesim(Adv.Math.I258).Verinfraocaptulosobreotestamento.19Alm dos testemunhos de VM 3, VV 2 e VL 3, esta lenda baseia-se numainscriodefeso,provavelmentedatadade318a.C.,emhonradeNicanordeEstagira, filho de Aristteles. Ver a este respeito R. Merkelbach, J. Noll, H. Engel-mann,B.Iplikcioglu,D.Knibbe(ed.),DieInschriftenvonEphesos,VI(2001-2958),Bonn,Habelt,1980,n.2011,eR.Heberdey,NIkANCl' AlI1C1LACY1AiLIlI1B,.estschriftfrTheodorGomperz.DargebrachtzumSiebzigstenGeburtstageam29.Maerz1902.VonSchuelern.reundenKollegen,Wien,1902,pp.412-416.Alendatemsido,noentanto,rejeitadaporalgunsautores,nomea-damenteMulvany(NotesontheLegendofAristotle,CQ20,1926,p.159),Dring (Aristotle in the Ancient Biographical Tradition, pp. 62-63) e Gottschalk (No-tes on the Wills of the Peripatetic Scholars, Hermes, 100, 1972, p. 322). Para todosestesaspectos,veja-seaindainfraocaptulosobreotestamento.73IIDEESTUDANTEAPRO.ESSOR1AACADEMIAChegadoaAtenas,alguresaolongodoanode367a.C.,possvelqueAristtelestenhacomeadoporfrequentaroscursosministradosnaescoladeIscrates,clebreoradoreprofessorderetricaateniense,rodeadopeloenormeprestgiodeumalongacarreira e pelos louros a que os seus mais de 60 anos de idade lhedavamdireito.Poressapoca,aEscolaeoseuchefeeram,paraalmdomais,simpticoscausamacednia,oquepodetersidoumele-mento suplementar a favorecer esta primeira aproximao de Aris-ttelesaosinstitutosqueentofloresciamemAtenas.Nodeixa,todavia,desercuriosoque,dalongasriedediatribes que, ao longo de toda a sua vida, lhe sero movidas, seraummembrodaescoladeIscrates,comgrandeprobabilidadeem nome dela, que caber a duvidosa honra de abrir as primeirashostilidades,logoem360a.C.,comumapolmicasobreanatu-rezadaretrica.Ofactoque,seAristteleschegouaparticiparnostraba-lhosdestaescola,foidurantemuitopoucotempoe,qui,numregimeprximoaoquehojechamaramosumcursolivre,defre-qunciaaberta.Poroutrolado,napressuposiodequeAristtelesvieraparaAtenascomaintenojtomadadeingressarnaAcademia,odesviopeloensinoisocrtico,aterexistido,podetercorrespon-74didoaointeressedesefamiliarizardirectamentecomumareadeestudoquemanifestamenteointeressava,nummomentoemqueaescolaplatnicaseencontravatemporariamenteprivadadealgunsdosseusmestresmaisclebres,emespecialoprprioPla-to,emviagemaSiracusa.Ocertopareceserque,datadaentradadeAristtelesnaAcademia,apsocursodeVeroisocrtico,aEscolaencontra-va-seentregueaEudoxodeCnido,umdosmaisheterodoxosco-laboradoresdePlato,emquemestehaviadelegadoadirecoduranteasuaausncia1.AinflunciadestefilsofosobreoEstagirita,nosesabeseherdadadesteprimeiroencontro,foifundaeprofcua.Aelasedeve,expressamente,partefundamentaldosistemacosmolgicoqueexporemSobreoCuenosMeteorolgicos,emmatriaque,como sabido, Plato, pelo menos por essa poca, soberanamentemenosprezava.AssuasrefernciasaonomedeEudoxoso,almdisso, sempre respeitosas e admirativas, o que bem mais do quesepodedizerdeoutrosautores,mesmodaquelesquecomeleprivaramnocrculontimodaAcademia.Acercadoqueteraprendido,comoteraprendidoecomquemteraprendidoaolongodosquasevinteanosemqueper-maneceu na Academia, nada se sabe, porque nada, desde logo, sesabesobreomodelodeensinoadoptadonaAcademia.Existem,decerto,algunsexercciospioneirossobreestetpi-co,cabeaofamosoensaiodeGilbertRylesobreaevoluodopensamentoplatnico2.Mas a metodologia e os resultados so altamente conjecturaiseespeculativos,dispensandoemesforodeimaginaoecriativi-dadeoquenogastamnorecursoaosmeiosdeprovahabitual-menteperfilhados.H,noentanto,umaintuiopenetranteevaliosadeentreashiptesesqueRylepsacircular,atentaabizarrainconformi-dadeentreasexposiesaristotlicaseadoutrinadePlato,bemcomoaflagrantemiopiaexegticaqueseapossadeAristteles1Estatesebaseia-seunicamentenodepoimentodeVM11eVL11(queasustentam,porsuavez,nacronologiaperdidade.ilcoro),mashojegenerica-menteaceite.2PlatosProgress,Cambridge,AttheUniversityPress,1966.Apardestaobra,RylededicaraindaumacomunicaointituladaDialecticintheAcade-my,aqueadiantenosreferiremos,aoproblemaespecficodarelaodojovemAristtelescomoensinoministradonaAcademia.75semprequedcontadaontologiaplatnica:adequeAristte-lesnoteriasidonuncadiscpulodirectodePlato,conhecendoapenas o seu pensamento, tal como ns, atravs dos dilogos, aquiouacolinterpretados,acrescentamosagora,luzdaderivapitagorizantequeosescritosdeEspeusipoedeXencrates,con-temporneos,condiscpulosedepoisadversriosdeeleiodeAristteles,impuseramaodestinodoplatonismoantigo.Esta ideia, que no nova3, peca sem dvida mais pela faltadeindciosobjectivosdoqueporinpciaoudislate.E,nestesen-tido,comtodasascautelasquedevemrodearumaexplicaoprivadadeelementoshistoriogrficosatinentes,podeseraceitecomoumaboahiptesedetrabalho,atqueoutramelhor,ouaemergnciadetaiselementos,venhamdecidiremcontrrio.2OLEITOREntretanto,afazerfnoqueatradiotardiapsacircular,parecequePlatoteriaemaltoapreoasqualidadesdesteseucolaboradortalentoso.NasantigasVidasneoplatnicas,atribuem-seaoMestreateniense duas alcunhas saborosas que este costumaria atribuir aodiscpulo.Aprimeira,quedebomgradosecompreende,seriaainte-ligncia(eNcuc),outambm,maisinterpretativamente,ainte-lignciadaaulaoudadisputa(eycuctvctetet3vc)4.Asegundatemmaisforteressonnciacultural.Ainda de acordo com os depoimentos de origem alexandrina,PlatochamariaaAristtelesoleitor(eyeyyotvc),repetindofrequentemente:Vamosacasadoleitor.5O interesse desta tirada, a ser verdadeira, no reside tanto noapontamentodeumaidiossincrasiadoEstagirita,deumtraoda3PermeiadecaboacaboaexigenteinvestigaodeH.ChernissemAristotlesCriticismofPlatoandtheAcademy.4Com uma notvel constncia nas verses, os testemunhos referem: Platochamava-lhetambmaInteligncia,dizendoquandoelefaltavalio:aInte-lignciaestausente,oauditrioestsurdo(koey).(VM7,VL7,VSI5;Mubashir12;al-Qifti;Usaibia29).5VM6,VV5,VL6.Cf.Mubashir38eUsaibia36.76suapersonalidadeoudeumseucostumeabsorvente,masnaapreensodeumaprofundaalteraonoshbitosdeleituraqueofilsofointroduziunaculturagrega.Com efeito, at Aristteles, os livros no eram lidos, mas simescutados6.OGregocoevonoliaseguindoeleprpriocomosolhosasmasculasdotexto,ousoletrandoemsurdinaasletrasqueiade-senrolandonopapiro,muitomenos,comoevidente,folheandoaspginasinexistentesdosvolumososcilindros.Reclinava-sepassivamenteparasaborear,comonumarepre-sentaoteatral,asfrasesqueumservoeducadorecitava7.AnovidadeintroduzidaporAristtelesfoiadeacumularnumaspessoaaduplafunoderecitadoredeouvinte,fazen-doassimevoluiranooarcaicadeleitorcomoaquelequelaltoparaoutremefundandoapartirdelaanoomodernadeleitorcomoalgumquelbaixo,ouempensamento,parasimesmo.Nestesentido,chamaraAristtelesoleitor,comofaziaPlato,significavaassinalar,equiestranhar,estamudana,se-noverberarironicamenteumaexcentricidadedemeteco.Comefeito,noregimeculturalemquecobrasentidooeyeyyotvc,oleitorumescravoelerumaocupaoservil8.NoeptetodePlato,podia,pois,irtambminsinuadoumferretejocosocontraasprefernciascaprichosasdoaluno,sendocertoquenelenosoava,comoimediatamenteparans,aideiadeumleitorcuriosoediligente,masaassimilaodegradanteaumserviodomsticoemenor.6OTeetetodePlatod-nosummagnficoexemplodisso,comprovando,ao mesmo tempo, como este estilo era ainda o que se aplicava na Academia; paraumaoutraocorrnciaplatnica,cf.Phd.97b.AntesdeAristteles,Eurpidespa-recetersidoumaexcepo:cf.fr.910Nauck.7EsteaspectoestbemdocumentadonaAntiguidade.Diversosestudosmodernosdo-lhealgumaateno.Vejam-se,emespecial:T.Birt,DasantikeBuchweseninseinemVerhltnisszurLitteratur,Berlin,Hertz,1882;D.Diringer,TheBookBeforePrinting:Ancient,Medieval,andOriental,NewYork,Dover,1982;D.C.Greetham, Textual Scholarship, New York-London, Garland, 19942; L. D. ReynoldseN.G.Wilson,ScribesandScholars,Oxford,ClarendonPress,19913;J.E.Sandys,AHistoryofClassicalScholarship.I:.romtheSixthCenturyB.C.totheEndoftheMiddleAges,Cambridge,CambridgeUniversityPress,19083;W.Schubart,DasBuchbeidenGriechenundRmern,Berlin,G.Reimer,19623.8Maisumavez,oTeetetoplatnicoumailustraodestarealidade.77Pergunta por isso Dring, com razo, se devemos interpretarestes apelidos platnicos como expresses de aprovao ou comocrticashumorsticas9.Elogoresponde10:Vulgarmente,umapelidoatribudopararidicula-rizar. Se assim , estes apelidos deviam implicar que Pla-todesaprovavaoapetitevorazdeAristtelespelalei-tura e que o considerava demasiado ladino e impetuoso.Seassimouno,poucoimporta.Oqueimportaque,apartirdeAristteles,deparamo-noscomummodointeiramentenovodeinvestigar,defazercinciaedeproduzircultura.Eaanedotarelativaaoditoplatnicosur-preendejustamenteestarevoluoinfieri11.H,pois,razoemdeclararque12comAristteles,omundogregopassoudoensinooralparaohbitodeler.Ora,estelanceproduzirtodaumacatadupademudanasradicaisnaactividadecientfica.Noexagerodizer-seque,comela,aprprianoomo-dernadeinvestigadorquesurge.EmAristteles,ainstitucionalizaoderotinasdepesquisa,aatenorecolhadedados,opendorparaocoleccionismohis-tricoouerudito13,acriaodatransmissoescolaredaprosacientfica,ointeressesistemticopelatradiodasdisciplinas14,sodirectamentedevedoresdestaprimeirainovao.Nodevemosesquecerque,numtratadodetantarelevnciame