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cditai immanuel kant

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  • Griot Revista de Filosofia v.7, n.1, junho/2013 ISSN 2178-1036

    A crtica de Emmanuel Mounier ao problema do homem singular no marxismo Antonio Glauton Varela Rocha

    Griot Revista de Filosofia, Amargosa, Bahia Brasil, v.7, n.1, junho/2013/www.ufrb.edu.br/griot 26

    A CRTICA DE EMMANUEL MOUNIER AO

    PROBLEMA DO HOMEM SINGULAR NO

    MARXISMO

    Antonio Glauton Varela Rocha1 Faculdade Catlica Rainha do Serto (FCRS)

    RESUMO: Emmanuel Mounier busca um possvel dilogo entre o personalismo e o marxismo. Este dilogo ciente dos pontos de contato e de afastamento entre as duas teorias. Mounier no aceita o que ele chama de reduo materialista do ser pessoal e insiste na considerao do esprito como constituinte da pessoa tanto quanto a matria. Um reforma da sociedade precisa estar atenta tanto ao aspecto material como espiritual e moral da pessoa e da sociedade em que ela est situada. No projeto de revoluo personalista e comunitria Mounier afirma ser fundamental que a questo do homem singular nunca seja considerada adivel, mas como uma preocupao simultnea s de ordem poltica e econmica.

    PALAVRAS-CHAVES: Comunidade; Marxismo; Personalismo; Singularidade.

    EMMANUEL MOUNIERS CRITICS TO THE

    PROBLEM OF THE SINGULAR MAN IN MARXISM

    ABSTRACT: Emmanuel Mounier looks forward a possible dialogue between personalism and Marxism. This dialogue is aware of the contact and removal points between the two theories. Mounier does not accept what he calls of materialistic reduction of personal being and insists in the consideration of the spirit as constituent of the person as the matter. A reform of society must look even to the material, spiritual and moral of the person and the society where it is situated. In the process of personalist and communitarian revolution, Mounier states that it is fundamental that the question of singular man may never be considered deferrable, but as a simultaneous concern for the political and economic ones.

    1 Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Cear ( UFC), Cear Brasil. Professor e

    coordenador do curso de filosofia da Faculdade Catlica Rainha do Serto ( FCRS) Brasil. E-mail: [email protected]

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    A crtica de Emmanuel Mounier ao problema do homem singular no marxismo Antonio Glauton Varela Rocha

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    KEY WORDS: Community; Marxism; Personalism; Singularity

    Introduo

    Mounier sempre se esforou por um dilogo entre os personalistas e os marxistas (esforo mal recepcionado por alguns marxistas que o consideravam espiritualista e pela Igreja Catlica que poca no via possibilidades de dilogo com o marxismo). O motivo deste esforo era que para Mounier qualquer tentativa de exaltao da dignidade humana, e especialmente aquelas que so bem recebidas pelos menos favorecidos, no pode ser simplesmente ignorada. Mounier reconheceu em toda a sua vida que o marxismo tinha um potencial de personalizao, mas tambm era firme em apontar o seu potencial de despersonalizao. Para Mounier a pessoa igualmente corpo e esprito, portanto o materialismo unilateral (assim como o espiritualismo), por isso o marxismo, enquanto, materialista, inevitavelmente incompleto em seu propsito de personalizao e construo de uma sociedade mais justa. O desafio do dilogo proposto por Mounier o de superar (dentro do que for possvel) as dificuldades deste unilateralismo de modo a preservar o valor da singularidade humana. Como ponto de apoio para um dilogo frutfero entre personalismo e marxismo, Mounier aponta a seguinte ideia: no fim de toda proposta de revoluo deve haver, a preocupao com a dupla dimenso da pessoa, o material e o espiritual.

    A questo da singularidade humana adivel?

    Apesar de Mounier considerar o marxismo como uma teoria que representa em certos elementos um espao de despersonalizao (pelos motivos que veremos em breve), no deixava de reconhecer que nele haviam sementes de servio humanidade e por isso esperava superar certos problemas de ordem filosfica a fim de conseguir um dilogo mais amplo entre o personalismo e os marxistas. Por isso Mounier sempre afirmou a necessidade de no se cair num anti-marxismo ingnuo que cai por terra ante as primeiras leituras de Marx. A superficialidade destas crticas rasteiras acabam por confundir algumas questes:

    O anti-marxismo confunde comumente uma srie de realidades que nem sempre se encontram reunidas e que muitas vezes divergem: o movimento proletrio; a sua sistematizao no pensamento de Marx; a deturpao deste pensamento pelo marxismo que corre s ruas; a corrupo em segundo grau deste marxismo vulgar pelas exposies ilustres, reveladoras de incompetncia ou de m f, que deles fazem os seus adversrios; o comunismo russo; o que nele comunista e o que russo; enfim, a direo dada ao comunismo por novas equipes e dirigentes (MOUNIER, 1967, p. 56).

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    Mounier entendia que ... a essncia do cristianismo oferece um dilogo mais aberto aos materialistas contemporneos [entenda-se aqui especialmente os marxistas] do que as sutilezas e as evases idealistas (MOUNIER, 1956, p. 108), e aqui se refora o fato de que Mounier realmente era avesso aos pseudo-espiritualismos (espiritualismos sem vida) e que se aproximava do marxismo enquanto este apontava para a necessidade de pensar o mundo em suas relaes concretas, para alm das abstraes idealistas. Parte da teoria da alienao em Marx (a alienao do trabalhador que v o produto de sua ao como algo estranho a si prprio; e a noo do possuidor que na realidade possudo por suas posses) profundamente elogiada por Mounier, tanto que ele identifica aqui um dos pontos em que o marxismo mais se aproxima do personalismo2.

    Atrai-lhe a aspirao marxista de desalienar ao homem devolvendo-lhe a propriedade de sua vida, de seu trabalho, de sua atividade criadora e o exerccio da responsabilidade no gozada solitariamente, mas comprometida numa aventura audaz de transformao da histria, para devolver ao homem o protagonismo do qual foi expulso (LOPEZ, 1989, p. 106).

    Segundo Mounier, o objeto imediato deste processo de desalienao ... a subverso do capitalismo e o estabelecimento de uma nova infra-estrutura econmica (MOUNIER, 1967, p. 63). Mas a partir deste passo, como se deveria pensar o problema do homem singular, do homem como pessoa, a partir do marxismo?3 Mounier reconhece que Marx e o marxismo primitivo no foram to insensveis a esta questo como se costuma acus-los.

    ... o marxismo sempre apontou como fim ltimo da revoluo a libertao do indivduo, o reino da liberdade e o desaparecimento do Estado. Estas frmulas, com efeito, muito mais vivas e orgnicas no marxismo primitivo do que nos defensores de uma ditadura provisria que j dura desde a vinte anos, testemunham que o problema da pessoa

    2 Parece que num momento do seu pensamento Marx tenha ficado to prximo quanto possvel de

    uma dialtica personalista, em sua anlise da alienao. Alienao do trabalhador em um trabalho estranho, do burgus nas posses que o possuem, do consumidor em um mundo de mercadorias desumanizadas pela avaliao comercial, ao nosso ver, tantas formas de despersonalizao, quer dizer, de uma desespiritualizao progressiva que substitui um mundo de liberdades vivas por um mundo de objetos. (MOUNIER, 1967, p. 76-77).

    3 As crticas que Mounier destina ao marxismo so dirigidas menos a Marx do que aos marxistas. No

    podemos ignorar importantes crticas de Mounier viso de Marx sobre o homem, mas de modo geral a sua preocupao maior era um enfrentamento honesto com os comunistas (para Mounier o fenmeno do comunismo tinha um peso muito grande na Europa para ser tratado com indiferena ou com superficialidade) e com os tericos marxistas de sua poca.

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    foi entrevisto por ele, ao passo que um fascista conseqente se recusa a p-lo (Ibidem, p. 63-64).

    De fato, para Mounier o problema do homem singular no foi completamente esquecido por Marx e o marxismo primitivo, o que j um avano, por exemplo, em relao ao fascismo, onde a questo nem mesmo posta. O problemtico a questo foi apenas entrevista, pois a preocupao com o homem em sua singularidade foi tratada como um problema de segunda ordem, passvel de adiamento. Na citao que vemos acima, fica claro que para Mounier o socialismo real (especificamente o que foi efetivado na Rssia) entendeu menos ainda a questo, e acabou por distorcer esta frmula, numa ditadura provisria que j durava mais de 20 anos. justamente desta perspectiva do marxismo que ficou conhecido como marxismo ortodoxo (especialmente na figura dos leninistas) que Mounier ir se afastar com mais intensidade e dirigir suas mais severas crticas (Cf. LOPEZ, 1989, p. 107; 109). No difcil entender o porqu da intensidade destas crticas. Um socialismo que se centra na esfera do Estado e degenera seus revolucionrios numa burocracia que detm a posse dos meios de produo no lugar do povo e engendra uma nova opresso sobre a pessoa, representa, para Mounier, a forma mais dura da contribuio para o processo de despersonalizao que se pode observar no universo marxista.

    Mas voltando a questo do adiamento do problema do homem singular, diante de um Henri Lefebvre, que afirmara que ... durante cinqenta anos os problemas do homem no se poro (MOUNIER, 1967, p. 58), Mounier responde que no h tempo a esperar, preciso desde j centrar toda a revoluo no valor da pessoa. Este adiamento foi pretexto para o totalitarismo comunista poca de Mounier, mas j em Marx representava problemas, de tal modo, vemos que para Mounier este processo de despersonalizao no est presente somente no socialismo real. Por mais que Marx no apontasse para tamanhas concesses que o socialismo real deu ao Estado (em outras palavras: o endeusamento do Estado), tal adiamento nos remete, inicialmente, ao questionamento sobre o problema da possibilidade de se educar para a liberdade numa ditadura (mesmo que provisria); e tambm nos remete ao fato, no menos problemtico, de que no era da pessoa que Marx partia em sua proposta de revoluo. Por tudo isto, o fato de Marx no ter excludo o homem singular de seu projeto filosfico no impediu Mounier de apontar srios problemas antropolgicos que esto na base do marxismo.

    O espiritual tambm uma infraestrutura

    A existncia do homem pessoal est, para o marxismo, ... inteiramente enraizada na infra-estrutura econmica do seu meio e do seu tempo (Ibidem, p. 61). A base material rege todo o universo do homem, uma vez que a matria o princpio constitutivo de tudo. Mas, ao menos em Marx, o materialismo marxista no to reducionista quanto aos temas da autoconscincia, da liberdade, da linguagem (realidades humanas mais complexas do que as demais atividades [ou caractersticas] fsicas do homem); estas so na realidade, as caractersticas pelas quais, segundo

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    Marx, o homem encontra sua especificidade em relao aos outros animais (Cf. VAZ, 2004, p. 119). A ressalva de Marx seria a de que estas atividades ou caractersticas so apenas aspectos mais complexos da matria; ou seja, no existe outro princpio ao qual elas sejam atribudas e que na verdade foi o costume idealista de romper com as amarras do mundo concreto que acabou gerando a convico de que tais atividades e caractersticas seriam atribudas ao esprito.

    A base de tal sistema a realidade material/econmica; esta a infra-estrutura que determina as demais realidades humanas, as diversas super-estruturas sociais (a poltica, o direito, a arte, a religio...) (Cf. MORAES in: AGUIAR, 2003, p. 26.). Mounier reconhece que em Marx esta relao no de pura passividade, pois

    ... a interao (...) da infra-estrutura (econmica) e da super-estrutura (ideolgica: filosofia, moral, religies, direito, etc.) no em sentido nico. Marx e Engels vrias vezes afirmaram que os reflexos ideolgicos (a que ns chamamos o espiritual), conquanto no tenham realidade prpria e sejam apenas produto dos processos econmicos, reagem, todavia, por seu turno, sobre esses processos materiais (MOUNIER, 1967, p. 59-60).

    Mas apesar disto, no se pode negar que no fim das contas o fator determinante a infra-estrutura; as condies materiais da produo social objetivas so determinantes em ltima instncia (Ibidem, p. 65)4. Por mais rodeios que se queira fazer, no pensamento de Marx o primado do econmico o ponto chave para todas as questes que envolvem o homem. Diante deste quadro, Mounier aponta qual para o marxismo o motor essencial da histria: ... o trabalho infalvel da razo cientfica prolongada pelo esforo industrial para tornar o homem, segundo o ideal cartesiano (...), mestre e senhor da natureza (Ibidem, p.66). Mounier apresenta claramente este projeto e ideal de Marx e, diante de tal explicao podemos nos surpreender, crendo ou que Marx foi muito ingnuo ou que Mounier exagerou em sua crtica. Mas isso acontece porque esquecemos que a maturao histrica dos fatos nos permite julgar com mais clareza certos acontecimentos passados, mas enquanto eles esto acontecendo nem sempre to fcil fazer um bom discernimento sobre as influncias que nos atingem ou sobre os fatos que temos de julgar. Hoje parece a (quase) todos que a viso de uma razo cientfica onipotente e garantidora do progresso incessante bastante limitada, mas no sculo XIX era difcil para Marx, como para a maioria dos pensadores, ficar imune confiana positivista nos poderes da razo e da cincia (Cf. EAGLETON, 1999, p. 12). Por isso, para o marxismo:

    4 Ver tambm: MORAES, Joo de Quirino. A teoria marxista na histria do pensamento poltico, in:

    AGUIAR, Odlio Alves; OLIVEIRA, Manfredo Arajo de; NETTO, Luiz Felipe (Orgs). Filosofia Poltica Contempornea, p. 27.

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    ... a imperfeio das condies econmicas a nica fonte do mal entre os homens e no prprio homem. Desenvolvamos a cincia, organizemos o trabalho, Graa operria da salvao coletiva, e pouco a pouco iro sendo debeladas a misria, a doena, o dio e talvez a morte. A insuficincia das condies materiais de vida o nico obstculo ao desenvolvimento do Homem Novo (MOUNIER, 1967, p. 66-67).

    Da que, poca de Mounier, para os marxistas no restava outra convico sobre a crise da sociedade: ... crise econmica clssica, crise de estrutura. Opera sobre a economia, o enfermo se restabelecer (Idem, 1956, p.20). uma posio natural para um sistema materialista, sistema que, como acenamos acima, sofre forte influncia de um contexto histrico positivista5. Mas o fato de haver explicao para tal convico, no significa necessariamente que h tambm justificao (fundamento). Segundo Mounier, o marxismo acertou quando falava da urgncia de uma transformao econmica, mas errou ao supervalorizar os valores econmicos.

    No podemos deixar de dar razo ao marxismo quando afirma um certo primado do econmico. Geralmente s despreza o econmico aqueles que deixaram de ser perseguidos pela neurose do po cotidiano. Em vez de argumentos, um passeio pelos subrbios talvez fosse prefervel para os convencer. Na ainda to primria fase da histria em que vivemos, as necessidades, os hbitos, os interesses e preocupaes econmicas determinam maciamente os comportamentos e opinies dos homens. Daqui no resulta que os valores econmicos sejam exclusivos ou sequer superiores a outros: o primado do econmico uma desordem de que urge libertarmo-nos (Idem, 1976, p. 179-180).

    Para Mounier ... a lacuna essencial do marxismo a de ter desconhecido a realidade ntima do homem, a da vida pessoal (Idem, 1967, p. 76). A insero do homem na histria para o marxismo uma questo fundamental, e Mounier no discorda, no entanto, para Mounier, esta viso no estava aberta para outras realidades humanas, em especial a interioridade e acabou por gerar no marxismo, uma viso unilateral do homem. De tal modo, o marxismo buscou a soluo biolgico/econmica para os problemas humanos, mas como a realidade humana no se esgota nestes aspectos esta soluo invariavelmente frgil se desvinculada das mais profundas dimenses do homem. Mounier questiona ao marxismo sobre o papel da pessoa no projeto revolucionrio que ele almeja.

    5 Ainda sobre a influncia positivista no marxismo, ver: O humanismo marxista aparece, com efeito,

    como a filosofia ltima de uma era histrica que viveu sob o signo das cincias fsico-matemticas, do racionalismo particular e estreitssimo que delas se originou, da forma industrial, inumana, centralizada, que encarna provisoriamente a suas aplicaes tcnicas. A assimilao, freqente nos espritos marxistas, do espiritual, do eterno ou do individual ao biolgico, significativa desse preconceito de base (MOUNIER, 1967, p. 67).

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    O erro dos matemticos, escrevia Engels, foi o de crerem que um indivduo pode realizar por sua prpria conta o que unicamente pode ser feito por toda a humanidade no seu desenvolvimento contnuo. Ns propagamos que o erro do fascismo e do marxismo o de crer que a nao, ou o Estado, ou a Humanidade, pode e deve assumir no seu desenvolvimento coletivo o que s cada pessoa pode e deve assumir no seu desenvolvimento pessoal (MOUNIER, 1967, p. 97).

    Por isso, segundo Mounier por trs do projeto marxista da construo de um homem novo e, antes, uma sociedade nova, h um pessimismo radical em relao pessoa, disfarado de otimismo pelo homem coletivo (Cf. Ibidem, p. 77). Este projeto do marxismo nasce da sua viso sobre a alienao. Por mais que Mounier elogie muitos aspectos desta teoria, no deixa de denunciar que h aqui o pressuposto de que o despertar humano de sua condio de expropriado no possvel a partir do homem singular, este precisa ser visto como parte da massa, a verdadeira instncia firme, slida e criadora (a massa acaba sendo entendida como o instrumento de formao da pessoa) (Ibidem, p. 77). Mounier, como dizia Jean Lacroix, ... no caminhou do personalismo pessoa, mas da pessoa para o personalismo (MOIX, 1968, p. 131); deste modo, querer construir toda uma nova civilizao para depois pensar no homem novo, seria, para Mounier, inverter a ordem das mudanas necessrias6. Justamente por esta necessidade de se ter a pessoa como o ponto de partida, Mounier insistia que o marxismo ... no tem direito, mesmo a pretexto de criar o homem novo, de aviltar o homem presente (Ibidem, 252). Este aviltamento (degenerao) da pessoa visvel tanto na teoria marxista quando esta desconfia da liberdade, da responsabilidade e da capacidade de cada pessoa de assumir seu destino (e junto com isso desconfia que tal passo leve ao progresso humano no aspecto comunitrio) , como na prtica marxista, quando sob o pretexto de uma necessria ditadura provisria, a vida das pessoas ... sofre o peso de um regime econmico e social que apenas deixa liberdade um mnimo de exerccio (MOUNIER, 1967, p. 72). Para Mounier a revoluo deve ser personalista e comunitria, e deve tambm unir a busca pela mudana das estruturas busca pela mudana do homem, mas esta busca no deve partir de um adiamento da questo do homem singular7. Eis um ponto decisivo de distanciamento entre o personalismo mounieriano e o marxismo.

    6 salutar esclarecer que quando Mounier afirma que a pessoa o ponto de partida, no est dizendo

    que seria necessrio esperar que a reforma espiritual estivesse pronta para ento se pensar nas mudanas estruturais (veremos esta discusso com mais detalhes no captulo seguinte). Para Mounier a reforma das estruturas polticas e econmicas deve ser o primeiro passo prtico da revoluo, mas sempre tendo por base a referncia da pessoa como um absoluto. Ou seja, as reformas mais urgentes no mbito estrutural devem ser buscadas de modo urgente, mas se logo no incio de tais reformas o absoluto da dignidade pessoal j est fincado no projeto da revoluo almejada, no se corre o risco de adiar para um futuro incerto tais questes, e, o mais importante, a pessoa ser respeitada em todos passos da revoluo. Claro que algumas mudanas no mbito moral, especialmente no que se refere educao, devem ser efetivadas junto das primeiras iniciativas, e sero paulatinamente reforadas medida que o ordenamento social seja reconfigurado num contexto de mais justia social. 7 Sobre esta posio de Mounier, num artigo sobre a filosofia personalista, Paul Ricoeur observa:

    Com o que contam os marxistas para fazer o homem novo? Com o efeito futuro das mudanas

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    O trabalho revolucionrio profundo no se resume ento a despertar no homem oprimido a conscincia da sua opresso, impelindo-o assim para o dio e para a reivindicao exclusivas, aps uma nova evaso de si; mostrar-lhe primeiro como fim ltimo desta revolta a aceitao de uma responsabilidade e a vontade de uma superao, sem o que todos os aparelhos no passaro de bons instrumentos nas mos de maus operrios; e educ-lo desde logo [grifo nosso] para uma ao responsvel e livre em vez de dissolver a sua energia humana numa boa conscincia coletiva e na esperana, mesmo exteriormente ativa, do milagre das condies materiais. Ao lado das oposies doutrinais, este desde logo a principal divergncia ttica que nos separa dos melhores dos marxistas (MOUNIER, 1967, p. 74-75).

    Vemos ento que apesar do personalismo de Mounier e o marxismo possurem pontos comuns, estes no so suficientes para tornarem as suas diferenas apenas aspectos superficiais. Marx dizia que ... o homem um ser natural, mas um ser natural humano (Idem, 1976, p. 43), com isso quer dizer que um ser inserido na natureza, mas com especificidades em relao aos demais animais (como a auto-conscincia e a linguagem). Se lembrarmos todo o desenvolvimento do pensamento de Mounier sobre o tema da encarnao, a primeira vista poderemos concluir que a viso de homem nos dois autores muito semelhante, mas aos nos determos sobre a anlise marxista da crise social e sua proposta de revoluo (analise e proposta que no do a nfase questo da interioridade e do homem singular no nvel que Mounier entende ser necessrio), veremos que o fato de Mounier atribuir os elementos especificadores da pessoa a um outro princpio constitutivo do humano (o esprito) e em Marx estes elementos especificadores serem classificados como caractersticas mais elevadas da matria, representam diferenas no simplesmente superveis e que de fato culminaro em anlises e propostas de solues bem diferentes. Para Mounier o espiritual tambm uma infra-estrutura (Ibidem, p. 49), e isso se faz certamente muito presente em sua viso de mudana social.

    Revoluo econmica e espiritual

    Mounier defende uma interveno no campo estrutural e moral, ou seja, preciso mudar a estrutura econmica e atingir tambm a base dos valores, e no se trata de tal questo com uma calculadora, no se pode reduzir o problema a uma questo de economia. Mounier no esquece que em muitos casos a questo material mais urgente, seria hipocrisia censurar um homem por no exaltar os valores pessoais

    econmicas, polticas, e no com a atrao exercida desde agora pelos valores pessoais sobre os homens revolucionrios. S uma revoluo material enraizada num despertar personalista teria um sentido e uma oportunidade (RICOEUR in: MOIX, 1968, p. 252).

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    quando ele se aflige pela falta do po cotidiano. Fora alguns casos de herosmo, no se pode pensar em ver nos homens a busca pelos valores antes de terem ao menos o mnimo para a sua sustentao biolgica a comida, a moradia, por exemplo (MOUNIER, 1976, p.49). Mas depois desde passo, a revoluo material deve ser animada desde logo por valores pessoais8. Pelo mesmo motivo que Mounier discordou de Peguy9 quando este dizia que a revoluo deveria ser moral ou no seria, discordava dos marxistas quando estes reduziam a revoluo almejada a uma mudana estrutural. Para Mounier a necessidade de se compreender o homem como uma unidade fundamental entre matria e esprito deveria est sempre presente na teoria e na prtica em prol de qualquer soluo que se busque para sanar os problemas da sociedade, por isso, quando se falava da crise de seu tempo. Era preciso pensar sobre o modo de vida10, o posicionamento que a cada homem seria proposto, no adiantando muito garantir condies justas e dignas de vida se o jeito de viver escolhido continuasse a ser o da mediocridade, pois no duraria muito tempo para que esse jeito de viver nos levasse ao ponto inicial, com os mesmos problemas de ordem econmica.

    A atividade industrial e cientfica do homem no pois intil, mesmo ao espiritual. (...) Mas que ela domine inteiramente a vida do homem e constitua a sua nica metafsica, isso que no podemos admitir. Basta olharmos em torno de ns para nos darmos conta de que o desaparecimento da angstia primitiva, o acesso a melhores condies de vida no acarretam infalivelmente a libertao do homem, mas mais comumente talvez o seu emburguesamento e a sua degradao espiritual (...). Eis porque todo o progresso material constitui para ns o fundamento

    8 Neste contexto, a pedagogia se torna um tema central, no apenas na revoluo, mas na continuidade

    da sociabilidade que se segue. No se trata de uma pedagogia dogmtica com aspectos curriculares pr-determinados, mas de uma pedagogia que observasse sim certas linhas orientadoras que ajudasse no a moldar, mas em despertar pessoas livres, responsveis, criadoras e que assumissem seu papel na sociedade como seres autnomos ( sempre bom lembrar que quando se fala autonomia em Mounier, no se est falando de individualismo) e no como partes de uma massa uniformizante. Este tema assim como o tema dos valores ser tratado com mais detalhes no prximo captulo. 9 Segundo Fernando Vela Lopez, Charles Peguy foi, entre todas as influncias que Mounier recebeu,

    aquela que mais marcou sua atitude e sua obra (Cf. LOPEZ, 1989, p. 66).

    10 Quando se fala de modo de vida no se est querendo falar de um comportamento cultural

    especfico que se sobreponha aos outros, mas um modo de vida compatvel com as dimenses bsicas da pessoa. um conceito geral, que pode abarcar as mais diversas manifestaes de sociabilidade e culturas humanas, encontrando limite em sua abertura somente a partir do momento em que a dignidade da pessoa ameaada. Este ponto , sem dvida, polmico, uma vez que os adeptos de uma filosofia desconfiada de qualquer tipo de perspectiva de uma natureza humana podem afirmar que em nome de uma pretensa natureza humana se podem legitimar sistemas opressores e exclusivistas. Mas como nada garante que uma perspectiva que retira a natureza humana do vocabulrio filosfico previna o surgimento de sistemas opressores (se no h uma perspectiva a ser seguida, qualquer perspectiva pode ser justificada inclusive as mais opressoras , especialmente se estiver amparara pela mo pesada do poder), a colocao das duas posies no debate legtima. Mounier fez uma escolha clara, que no foi a da neutralidade.

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    e a condio necessria, mas de forma alguma suficiente, de uma vida mais humana e de maneira alguma a sua realizao ou o seu alimento. Uma revoluo para a abundncia, o conforto e a segurana, se os mbeis no forem mais profundos, conduz mais seguramente, aps as febres da revolta, a uma universalizao do execrvel ideal pequeno-burgus do que a uma autntica libertao espiritual (MOUNIER, 1967, p. 73).

    Mounier reconhece que existem alguns marxistas que almejam a uma renovao espiritual do homem, mas a confuso sobre o espiritual que est na base do marxismo sempre os leva para solues unicamente estruturais; na perspectiva de Mounier o problema continua, pois ele no acreditava ... que de um arranque puramente econmico possam sair outros valores alm do conforto e do poder (Ibidem, p. 74). Esta confuso sobre o espiritual mina a proposta marxista de revoluo11. Para Mounier, tal confuso se deve primeiramente devido a um contexto histrico fortemente influenciado pelo positivismo (como j foi dito acima), mas tambm por culpa das omisses do cristianismo de sua poca. Mounier sempre denunciou a complacncia de grande parte dos cristos com a desordem capitalista12, e ao lado disto via como a concepo do espiritual era propagada por eles num molde de abstrao e idealismos tais, que no sem certa razo alguns autores como Nietzsche e Feuerbach (a anlise deste influenciou decisivamente a posio de Marx) analisaram o cristianismo como uma religio de fracos e iludidos. Isto no implica dizer que para Mounier o cristianismo seja o que eles pensaram que fosse, por isso ele enfrentou tais posicionamentos nas obras referidas e em toda sua obra em geral.

    11 Nos volvimos, pues, hacia los marxistas y les dijimos: Por ms sutil que sea vuestro materialismo,

    por ms dialctico y por ms alejado del materialismo vulgar, del cual los defendeis, mientras quede un materialismo se que afirmais se mutila al hombre y se compromete la revolucin (MOUNIER, 1956, p. 21). 12

    Mounier vrias vezes criticou a postura de boa parte dos cristos por viverem uma f muito desligada da realidade concreta, alheia aos sofrimentos dos que padeciam nas dificuldades materiais, alm de no estarem atentos ao dialogo necessrio com a modernidade. Desta crtica no isentou a Igreja Catlica, apesar de ser um

    catlico praticante. Esta crtica est presente especialmente nas obras O Afrontamento Cristo (onde enfrenta as crticas de Nietzsche ao Cristianismo) e Quando a Cristandade Morre. Esta postura gerou inicialmente uma reao eclesistica negativa, mas posteriormente a Igreja Catlica reconheceu os mritos das denncias de Mounier. Dolores Conesa Lareo aponta que este reconhecimento se fez sentir claramente em alguns documentos do Conclio Vaticano II, especialmente na Gaudium et Spes: El Concilio explica que el centro de la dignidad de la persona es la conciencia moral, pero que esta se encuentra ante normas objetivas de moralidad. Habr que ver hasta qu punto el personalismo francs influy en esta nueva perspectiva de la moral conciliar. Mons. Delhaye atestigua que Haubtmann redact la primera parte de la Gaudium et spes inspirado por el personalismo de Lacroix y Mounier. Adems, segn Delhaye, esta influencia del personalismo mantiene vigente la definicin de persona de Boeccio: rationalis naturae individua substantia. Para Gaudium et spes, como para Ndoncelle, Mounier, Lavelle y Le Senne, la persona ya es una realidad objetiva (LAREO, 2007, p. 228-229).

  • Griot Revista de Filosofia v.7, n.1, junho/2013 ISSN 2178-1036

    A crtica de Emmanuel Mounier ao problema do homem singular no marxismo Antonio Glauton Varela Rocha

    Griot Revista de Filosofia, Amargosa, Bahia Brasil, v.7, n.1, junho/2013/www.ufrb.edu.br/griot 36

    Apesar de se explicar tal confuso, ela no deixa de se tratar de uma confuso. O aspecto material/econmico , portanto, importante, mas no suficiente, para Mounier ... no h revoluo material fecunda cujas razes no sejam espirituais... (MOUNIER, 1967, p. 74). Por isso, podemos dizer que o personalismo mounieriano reconhece os mritos do marxismo, reconhece inclusive certa dvida em relao s idias de Marx, mas isso no apaga suas importantes e decisivas distines, o prprio Mounier explicita isto muito claramente: Nossa filosofia, que deve parte de sua sade s guas marxistas, no recebeu contudo dele o batismo. Mesmo que ela recubra muitas perspectivas do marxismo, outros so os seus fundamentos e da tudo se modifica (Idem, 1971, p. 193).

    Concluso

    O dilogo personalismo-marxismo no parece ser impossvel, haja vista que a dignidade da pessoa humana est certamente entre os valores fundamentais para ambos. No entanto, o caminho proposto pelos dois grupos para efetivao desta dignidade possui considerveis diferenas. A proposta de Mounier no resume a resoluo dos problemas da pessoa transformao econmica da sociedade; mesmo se esta for tomada pelo incio da revoluo, precisa ser movida pelos valores pessoais e ter como foco a realizao da pessoa de modo integral; de modo mais simples: no possvel uma revoluo realmente emancipatria se a preocupao apenas com a comida e o salrio, preciso que junto destas questes (desde o incio da proposta de mudana da sociedade) seja pensado como levar as pessoas a realmente serem livres, de modo a no serem apenas parte de uma massa, preciso que seja pensado como levar as pessoas ao conhecimento das possibilidades de realizao do ser humano. Dizer que estas possibilidades se encerram na autonomia de bens materiais (em outros termos, a independncia financeira), mesmo que em moldes no individualistas, no seria ir muito alm dos ideais capitalistas (quem em tese so alvos de crticas tanto dos personalistas como dos marxistas). Uma viso mais ampla sobre esta realizao passa pela viso da pessoa em todas as suas dimenses. Diante disto, a proposta de revoluo feita por Mounier (revoluo personalista e comunitria) parece mais lcida (ou pelo menos de maior alcance) que a proposta feita pelo marxismo.

    Referencias bibliogrficas:

    AGUIAR, Odilio Alves; OLIVEIRA, Manfredo Arajo de; SAHD, Luiz Felipe Netto de Andrade e Silva. (Orgs). Filosofia Poltica Contempornea. Petrpoles: Vozes, 2003. EAGLETON, Terry. Marx e a Liberdade. So Paulo: Editora UNESP, 1999. MOUNIER, Emmanuel. O Compromisso da F. So Paulo: Duas Cidades, 1971. ___________________. O Personalismo. So Paulo: Martins Fontes, 1976. ___________________. Manifesto ao Servio do Personalismo. Lisboa: Moraes, 1967.

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    A crtica de Emmanuel Mounier ao problema do homem singular no marxismo Antonio Glauton Varela Rocha

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    ___________________. Qu es el Personalismo? Buenos Aires: Ediciones Critrio, 1956. LAREO, Dolores Conesa. Persona, Vocacin y amor en el pensamiento de Louis Lavelle.. 2007. 305f. Tese (Doutorado em Teologia) Facultad de Teologia, Universidad de Navarra, Pamplona, 2007. Disponvel em: < http://dspace.unav.es/dspace/handle/10171/6736>. Acesso em: 12 de Mai/2010. LOPEZ, Fernando Vela. Persona, Poder, Educacion: Una lectura de E. Mounier. Salamanca: Editorial San Esteban, 1989. MOIX, Candide. O Pensamento de Emmanuel Mounier. So Paulo: Paz e Terra, 1968. ROCHA, Aclio da Silva Estanqueiro. Personalismo e Europesmo: Pessoa, Cultura, Europa, in: Jos Lus Brando da Luz. Caminhos do Pensamento. Lisboa: Edies Colibri/Universidade dos Aores, 2006. VAZ, Henrique de Lima. Antropologia Filosfica. v. 1. 7. ed. So Paulo: Loyola, 2004.