3_a&d_cidades gestão e realidades urbanas_2009
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Revista temática que teve seu primeiro exemplar publicado em 1991. Com uma média de quatro lançamentos anuais, a publicação aborda temas atuais, de forma contextualizada, retratando a realidade do estado. Através de artigos e entrevistas, elaborados por colaboradores externos e especialistas da SEI, a revista proporciona uma reflexão sobre questões de interesse da sociedade.TRANSCRIPT
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ISSN 0103 8117
BAHIA ANLISE & DADOSSalvador SEI v. 19 n. 3 p. 635-886 out./dez. 2009
Foto:SueAnnaJoe/Stock.X
CHNG
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Governo do Estado da BahiaJaques Wagner
Secretaria do Planejamento SeplanWalter Pinheiro
Superintendncia de Estudos Econmicose Sociais da Bahia SEI
Jos Geraldo dos Reis Santos
Diretoria de Pesquisas DipeqThaiz Silveira Braga
Diretoria de Estudos DirestEdgard Porto
Coordenao de Pesquisas Sociais Copes/DipeqLaumar Neves de Souza
Coordenao de Estudos Especiais Coesp/DirestThiago Reis Ges
BAHIA ANLISE & DADOS uma publicao trimestral da SEI, autarquia vinculada Secretaria do Planejamento. Divulga a produo regular dos tcnicos da SEI e de colabo-radores externos. Disponvel para consultas e download no site http://www.sei.ba.gov.br.
As opinies emitidas nos textos assinados so de total responsabilidade dos autores.
Esta publicao est indexada no Ulrichs International Periodicals Directorye na Libraryof Congress e no sistema Qualis da Capes.
Conselho EditorialAndr Garcez Ghirardi, ngela Borges, ngela Franco, Antnio WilsonFerreira Menezes, Ardemirio de Barros Silva, Asher Kiperstok, CarlotaGottschall, Carmen Fontes de Souza Teixeira, Cesar Vaz de Carvalho
Junior, Edgard Porto, Edmundo S Barreto Figueira, Eduardo L. G. Rios-Neto, Eduardo Pereira Nunes, Elsa Sousa Kraychete, Guaraci AdeodatoAlves de Souza, Inai Maria Moreira de Carvalho, Jair Sampaio SoaresJunior, Jos Eli da Veiga, Jos Geraldo dos Reis Santos, Jos Ribeiro
Soares Guimares, Lino Mosquera Navarro, Luiz Antnio Pinto de Oliveira,Luiz Filgueiras, Luiz Mrio Ribeiro Vieira, Moema Jos de Carvalho
Augusto, Mnica de Moura Pires, Ndia Hage Fialho, Nadya ArajoGuimares, Oswaldo Guerra, Renata Prosrpio, Renato Leone MirandaLda, Ricardo Abramovay, Rita Pimentel, Tereza Lcia Muricy de Abreu,
Vitor de Athayde Couto
Conselho TemticoAna Clara Torres Ribeiro (IPPUR/UFRJ), Ana Fernandes (UFBA), HeloisaSoares de Moura Costa (UFMG), Luiz Cesar Queiroz Ribeiro (IPPUR/UFRJ),
Pedro de Almeida Vasconcelos (UCSal/UFBA), Rosa Moura (Ipardes)
EditorFrancisco Baqueiro Vidal
Coordenao EditorialPatricia Chame Dias, Ilce Carvalho
Reviso de LinguagemCalixto Sabatini (port.), Christiane Eide June (ing.)
Coordenao de Biblioteca e Documentao CobiAna Paula Sampaio
NormalizaoRaimundo Pereira Santos, Eliana Marta Gomes da Silva Souza
Coordenao de Disseminao de Informaes CodinMrcia Santos
Padronizao e Estilo/Editoria de ArteElisabete Cristina Teixeira Barretto, Aline Santana (estag.)
Produo ExecutivaAnna Luiza Sapucaia
Capa
Julio VilelaEditorao
Agap Design
Bahia Anlise & Dados, v. 1 (1991- ) Salvador: Superintendncia de Estudos Econmicos eSociais da Bahia, 2009.
v.19 n.3TrimestralISSN 0103 8117
CDU 338 (813.8)
Impresso: EGBATiragem: 1.200 exemplares
Av. Luiz Viana Filho, 4 Av., n 435, 2 andar CABCEP: 41.745-002 Salvador Bahia
Tel.: (71) 3115-4822 / Fax: (71) [email protected]
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SUMRIO
Apresentao 639
GESTO E INSTRUMENTOS 641
Cidades, tecnologias de informao ecomunicaes e planejamento urbano
Othon Jambeiro
643
Plano diretor no Estatuto da Cidade eperspectivas atuais do planejamento urbano
Glria Ceclia dos Santos Figueiredo
655
O Estatuto da Cidade e a ZEIS: estudoda regulamentao e aplicabilidade do
instrumento urbanstico no BrasilAparecida Netto Teixeira
667
A participao do Estado nas mais-valiasurbanas: perspectivas para Salvador
Lesdli Carneiro de Jesus
679
Discutindo parmetros urbanos para oEstudo de Viabilidade Municipal
Nathan Belcavello de Oliveira
693
Operaes urbanas a produo e o controledo espao pblico em diferentes escalas
Ludmila Dias Fernandes
707
EXPRESSES DAREALIDADE URBANA
717
O retorno da questo habitacionalnas polticas do Estado brasileiro:
elementos para uma reexo sociolgicaBrasilmar Ferreira Nunes
Joo Maurcio Martins de Abreu
719
Os condomnios residenciais fechados naRegio Metropolitana de Salvador
Rafael de Aguiar ArantesInai M. M. de Carvalho
735
Segregao residencial no oeste baiano:o planejamento urbano no municpio
Lus Eduardo MagalhesAntonio Muniz dos Santos Filho
Jorge Ney Valois Rios Filho
747
Intervenes urbanas e unidadesexistenciais: o Projeto Rio Cidade
como um estudo de casoCarlos Fernando Gomes Galvo de Queirs
759
Centralidade na cidade contempornea,novos sujeitos e projetos:
o caso das universidades narea central do Rio de Janeiro
Rachel Torrez
777
As ruas da cidade tradicional:
a morfologia do centro de uma cidade mdia -Campina Grande, Paraba, BrasilDoralice Styro Maia
791
Autoconstruo em Salvador:a moradia possvel
Maria Raquel Mattoso Mattedi
805
Os edifcios So Vito e Mercrio:uma histria que no se conta
Clara Passaro
817
QUESTES SOBREO DIREITO CIDADE
833
Cultura e direito cidade: espaos pblicosde comunicao popular em Salvador,
na BahiaAngelo Serpa
835
Consideraes sobre algumas dinmicassocioespaciais encontradas
em festas populares do candombl:A participao nos espaos pblicos
Thais de Bhanthumchinda Portela
849
Cidades inacessveis: uma violaoao direito experimentao dos centrosurbanos pelas pessoas com decincia
Paulo Roberto Neves SantosJos Bezerra Viana Neto
863
Circulads urbano-educacionais:a cidade como metapedagogia
Climrio Manoel Macdo Moraes
877
Foto:Agecom
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APRESENTAO
As cidades desempenham um papel essencial na elaborao e difusodos modos de vida, produo e consumo da sociedade. Comportam,
atualmente, mais da metade da populao mundial e so, potencialmen-
te, territrios com grande riqueza e diversidade econmica, ambiental, poltica
e cultural. Desse modo, so tambm locais caracterizados por revelar eleva-
dos nveis de concentrao de renda e poder, e por possurem elementos que
contribuem para perpetuar, e mesmo agravar, os processos que produzem as
desigualdades sociais e espaciais e que geram a degradao ambiental.
Nos pases subdesenvolvidos, nos quais a urbanizao ocorreu de forma ace-
lerada e desordenada, as cidades rapidamente cresceram e se modicaram,assumindo um aspecto resultante da combinao da imagem da prosperidade
dada pela ampliao da complexidade econmica e social e sosticao das
estruturas e servios com aquela do chamado caos urbano resultante da
exacerbao da concentrao de riqueza e pobreza, da carncia de servios e
equipamentos pblicos de qualidade, do desemprego e subemprego, da violn-
cia etc. Assim, os centros de comando do territrio passaram, tambm, a ser o
palco principal das demandas da sociedade.
Nas ltimas dcadas, independente do pas e da amplitude do seu desenvol-
vimento econmico e tecnolgico, o movimento global do capitalismo incidiufortemente nas estruturas e processos das cidades, o que pode ser observado
na tendncia reproduo de padres e formas, promovendo a homogenei-
zao dos lugares. Assim, ainda que se propague a ideia da necessidade da
valorizao das especicidades locais, seja no planejamento, na organizao
ou na gesto do espao, essa dinmica pressiona, e por vezes suplanta, a his-
tria e cultura dos lugares. Em verdade, ao preparar a cidade para a expanso
do capital, e no necessariamente para a melhoria das condies de vida dos
seus habitantes, alteram-se as prticas cotidianas, a percepo, a valorizao
e a relao das pessoas com o seu lugar.
As distintas anlises e abordagens apresentadas tm o propsito de alimentar
o debate acerca dos processos, gestes e dinmicas ocorridos, sobretudo, no
espao intra-urbano. Com isso, a Bahia Anlise & Dados espera fornecer ele-
mentos que possam subsidiar a pauta de discusses do planejamento urbano.
A Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia agradece aos
autores por sua colaborao e aos integrantes do conselho editorial temtico
que muito contriburam para a qualidade desta Revista.Foto:MarceloTerraza/Stock.X
CHNG
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Gesto e instrumentos Foto:AlexandreCaliman/Stock.X
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APhD em Communication Studies pela University of Westminster, em Londres; mestreem Cincias Sociais pela Universidade de So Paulo (USP); professor titular do Institutode Cincia da Informao (ICI) da Universidade Federal da Bahia (UFBA); pesquisa-dor 1-B do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientco e Tecnolgico (CNPq)[email protected]
BAHIAANLISE & DADOS
Cidades, tecnologias de informao ecomunicaes e planejamento urbano
Othon JambeiroA
Resumo
Este trabalho argui que a anlise do desenvolvimento dachamada sociedade da informao torna necessrio examinaros recortes desse fenmeno, no nvel das cidades, particular-
mente quanto aos servios de informao e comunicaes. Isto, necessita-se compreender se e como as municipalidadesmunem-se ou no de polticas e proposies objetivas no quese refere regulao e explorao desses servios. Em termosconceituais, o trabalho opera na perspectiva terica da relaoentre cidades, cidadania, desenvolvimento e tecnologias de in-formao e comunicaes. As instituies polticas e sociais domunicpio so focadas comolociprimrios de prtica democrti-ca e, como tais, formadoras de cidados. Informao e comuni-caes so consideradas fatores-chave para o desenvolvimentosocioeconmico, o exerccio da cidadania, a ampliao e o apro-fundamento da democracia.
Palavras-chave: Cidades. Tecnologias de Informao e
Comunicaes. Planejamento Urbano.
Abstract
This work argues that in order to analyze the developmentof the Information Technology society it is necessary to inves-
tigate this phenomenon locally, at the level of the city, speci-
cally regarding information and communication services. Thatis, it is necessary to understand whether and how municipalities
provide themselves with policies and objective propositions interms of the regulation and exploitation of these services. Inconceptual terms, the work comes from the theoretic perspec-
tive of the relationship between cities, citizenship, developmentand information and communication technologies. It focuses onthe municipalitys political and social institutions as the primary
loci of democratic practices and, therefore, as the constructorsof citizens. Information and communication are taken as keyfactors in socio -economic development, the exercise of citizen-
ship and the broadening and deepening of democracy.
Keywords: Cities. Information and communication tech-
nologies. Urban planning.
.
INTRODUO
A cidade contempornea , por natureza, ob-
jeto de estudos complexos, e, em consequncia,
multidisciplinares. A eles tm-se dedicado, tradi-
cionalmente, sobretudo urbanistas, economistas,
socilogos e gegrafos. Mais recentemente, con-
tudo, a cidade passou a ser analisada tambm
por outros grupos de estudiosos, entre os quais
os que se dedicam s infraestruturas, processos e
produtos comunicacionais e informacionais. Gera-
dora e receptora histrica de uxos de informao
e comunicao, a cidade o espao fsico onde
se concentram os aparatos humanos e tecnolgi-
cos de codicao, decodicao e recodicao
desses uxos. Graas ao intenso e continuado
desenvolvimento cientco e tecnolgico das tele-
comunicaes, da informtica e da indstria ele-
troeletrnica, esses aparatos vm permitindo e
estimulando a virtualizao de vrios aspectos da
vida humana, inclusive da vida urbana.
Esse fenmeno da emergente virtualizao de
vrias de suas atividades como o trabalho online,
o comrcio eletrnico, a educao distncia e jo-gos em rede , ao invs de enfraquecer, fortaleceu
as cidades. Na verdade, alm de continuarem a se
constituir em polos de desenvolvimento econmico,
social e cultural, e centros de poder, com aspiraes
de crescente autonomia, transformaram-se tambm
em sede dos ns das diversas redes que transmi-
tem informao ou propiciam comunicaes.
O acompanhamento e anlise do vertiginoso
e convergente desenvolvimento tecnolgico das
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CIDADES, TECNOLOGIAS DE INFORMAO E COMUNICAES E PLANEJAMENTO URBANO
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reas de telecomunicaes e informtica pas-
saram a ser, portanto, importantes focos de in-
teresse dos formuladores de polticas urbanas
na contemporaneidade. E no poderia ser outra
a postura, dado que as mudanas nesta rea
tm tido consequncias al-tamente significativas nos
conceitualmente abrangen-
tes servios de informao
e comunicaes. A inte-
grao dessas tecnologias
est mudando a maneira
pela qual se produzem,
distribuem e consomem produtos e servios
de toda natureza, sejam virtuais ou materiais.
Essas transformaes levantam importantes
questes no campo das polticas pblicas e dasestratgias empresariais, sobre demandas de
infraestruturas e servios de comunicaes, sua
distribuio e acesso, e impactos sobre as v-
rias camadas da populao.
Tradicionalmente locadas nos governos cen-
trais, as questes relativas a essas infraestruturas
e servios vm sendo objeto, crescentemente, so-
bretudo nos Estados Unidos e na Europa Ocidental,
de estudos sistemticos sobre suas relaes com
as municipalidades (GRAHAM; MARVIN, 1996;
CARLSON, 1999; WHEELER; AOYAMA; WARF,
2000; GRANT; BERQUIST, 2000; GILLET, 2004;
FORD, 2004; entre muitos outros). As razes so,
prioritariamente, de ordem econmico-nanceira
(particularmente recolhimento de impostos e o fa-
moso dueto emprego e renda), mas tm tambm
levado em conta o fato de as instituies polticas
e sociais das cidades constiturem os loci prim-
rios de formulao de projetos e propostas de de-
senvolvimento e de prtica democrtica e, como
tais, propulsoras de progresso e formadoras decidados. No contexto da chamada sociedade da
informao as aes vinculadas a esses projetos
e propostas dependem fortemente de infraestru-
turas e servios de informao e comunicaes,
que so, na contemporaneidade, fatores-chave
para o desenvolvimento, aumento da arrecadao
de impostos, emprego e renda, exerccio da cida-
dania e, consequentemente, ampliao e aprofun-
damento da democracia.
Embora possam existir outros, somente esses
aspectos so sucientes para tornar necessrio
examinar os recortes locais dos papis e aes
do poder pblico e das empresas concessionrias
desses servios. Isto , necessita-se compreender
se e como as cidades podemmunir-se de polticas que
lhes permitam beneciar-se,
com autonomia, do desen-
volvimento cientco e tec-
nolgico. necessrio, em
consequncia: (I) conhecer
conceitos e disposies le-
gais, polticas e econmicas que atribuem, retiram,
condicionam ou limitam os poderes da cidade para
lidar com infraestruturas e servios de informao
e comunicaes; e (II) formular proposies ob-jetivas, consistentes com o cenrio real de suas
relaes econmicas, polticas e culturais com as
estruturas de poder nacionais e subnacionais, no
novo contexto internacional.
Isso essencial para que a identidade cultu-
ral e os modos de agir, ver, sentir, expressar das
diversas regies possam beneciar-se da acele-
rao, globalizao e acirramento do cruzamento
de culturas, propiciado pelas novas tecnologias.
tambm crucial para que a compreenso dos cida-
dos reita, a um s tempo, a contemporaneidade
de seu pensamento e a realidade objetiva local,
onde vivem, na qual se reetem as relaes entre
os grupos de interesse nacionais e internacionais,
governos e pessoas.
As bases contextuais e conceituais a seguir
postas buscam estabelecer balizas que ajudem a
criar condies para a objetividade das formula-
es e a acuidade de seus resultados.
O trabalho est dividido em trs partes. A pri-
meira aborda a cidade como organizao poltica,econmica, social e cultural, nas suas relaes
de poder e de governo. Na segunda, as muni-
cipalidades so analisadas dentro do contexto
das tecnologias avanadas de informao e co-
municaes. Na terceira, so expostas algumas
linhas de ao julgadas adequadas ao planeja-
mento das cidades. E, nalmente, na concluso,
se retoma a questo do poder da cidade sobre
seu prprio destino.
Necessita-se compreender se ecomo as cidades podem
munir-se de polticas que lhespermitam beneciar-se, com
autonomia, do desenvolvimentocientco e tecnolgico
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OTHON JAMBEIRO
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AS CIDADES NA CONTEMPORANEIDADE
Formadas a partir da concentrao espacial
das atividades de governo (as cortes, a nobre-
za, as foras armadas), do comrcio, de cultura
(teatros, arenas etc.) e de
religio (templos, espaossagrados etc.), as cidades
consolidaram-se e expandi-
ram-se concomitantemente
com o aparecimento e cres-
cimento da chamada burgue-
sia urbana, responsvel pelo
comrcio intra e interaglomerados urbanos e zo-
nas rurais. Como arma Graziano (2006):
A velha ordem siocrata, dominada pela no-
breza sobre o campesinato, comeou a sedesmantelar com o orescimento das antigas
cidades medievais. O nascente comrcio ori-
ginou a burguesia urbana. No sculo 18, a
vitria da urbe sobre o campo se consagrou
com a industrializao capitalista.
Sola Pool entende que o mundo de lugares co-
nectados, que decorre da urbanizao, somente
provocou alteraes substanciais na vida das ci-
dades com a chegada do telgrafo e do telefone.
Nas fbricas, por exemplo, o escritrio separou-
se da rea de produo, indo para o centro da ci-
dade. Isto porque o telefone permitia o contato,
distncia, entre os gerentes e o proprietrio que,
estabelecido na cidade, negociava pessoalmen-
te com fornecedores, bancos e clientes (SOLA
POOL, 1990, p. 68-69). A consequncia foi a trans-
formao dos centros das cidades em locais para
instalao de escritrios de negcios, cando as
fbricas nas periferias urbanas.
As cidades so hoje caracterizadas por enorme
disparidade de dimenso, nmero de habitantes edesenvolvimento socioeconmico, entre outros fa-
tores. So dspares em tal magnitude que o termo
cidade deixou de ter unidade conceitual. Pelo con-
trrio, adquire signicado muito particular quando
aplicado a cada aglomerado urbano que a ele faz
jus. H cidades com milhes de habitantes e com
menos de uma dezena de milhares; h cidades to
vastas que englobaram outras cidades, formando
metrpoles ou regies metropolitanas; h cida-
des pobres, ricas, situadas em zonas de atividade
econmica predominantemente rural; outras mar-
cadamente industriais e outras ainda nitidamente
comerciais e de servios.
H cidades que ultrapassaram as demais, em
termos de populao, aglu-tinao de servios, volume
de negcios, e consolida-
ram uma cultura prpria, da
qual emergem cidados cujo
comportamento e modo de
vida adquirem caracters-
ticas singulares. So urbanos em plenitude, no
sentido de que se nutrem social, cultural e eco-
nomicamente de valores em cuja constituio
predominam as relaes urbanas, citadinas. So
chamadas de metrpoles, destacando-se entreelas cidades como Londres, Paris, Berlim, Ma-
dri, Frankfurt, Roma, Milo, Tquio, Beijing, Nova
Iorque, Los Angeles, Mxico, So Paulo, Rio de
Janeiro. Elas hospedam atividades econmicas
centrais no mundo dos negcios, alm de con-
centrar importantes instituies governamentais,
organizaes culturais e polticas e estabeleci-
mentos educacionais (WHEELER, 2000, p. 5).
Os governos das cidades tm sido tradicional-
mente provedores de servios infraestruturais,
como coleta de lixo, pavimentao de ruas, ilumi-
nao pblica e estradas vicinais. No que se re-
fere a infraestruturas e servios de informao e
comunicaes, contudo, o poder pblico municipal
atua exclusivamente no licenciamento de obras e
de enterramento de cabos. Mesmo no que se re-
fere ao posteamento, o poder pblico municipal
solicitado apenas quando se trata de xao de
novos postes, porque quando j existem, geral-
mente para eletricidade, a empresa que os xou
originalmente e no a prefeitura que autori-za seu uso para outros ns. Quem delineia toda
a infraestrutura e o padro de servios de comu-
nicaes a serem prestados no municpio so as
operadoras desses servios, em conjunto com o
governo central.
uma situao contraditria, vez que as comu-
nicaes passaram a ser um importante fator para
as economias urbanas. Um municpio que dispe
de um eciente sistema de comunicaes, para
As cidades so hojecaracterizadas por enorme
disparidade de dimenso, nmerode habitantes e desenvolvimento
socioeconmico
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CIDADES, TECNOLOGIAS DE INFORMAO E COMUNICAES E PLANEJAMENTO URBANO
646 BAHIA ANLISE &DADOS, Salvador, v.19, n.3, p.643-653, out./dez. 2009
uso tanto da gesto pblica quanto da iniciativa
privada, pode ter vantagem na competio por in-
vestimentos, na identicao e busca de recursos
pblicos e mesmo no fomento de atividades econ-
micas, culturais e sociais entre os seus muncipes.
Isto tem sido demonstradoem vrias investigaes so-
bre a vida econmica das
cidades (MOSS; TOWN-
SEND, 2000).
Apesar dessa contradi-
o sabe-se pouco sobre
como vereadores, prefeitos e seus executivos
avaliam o fato de no terem nenhum controle so-
bre este potencial fator de desenvolvimento. Isto
, sobre no terem voz nas decises que confor-
mam a infraestrutura e os servios de comunica-es nos municpios que governam. Que papel
os governos municipais procuram ter na discus-
so e planejamento do desenvolvimento local
das comunicaes? Tentam intermediar ou lide-
rar as partes interessadas, situadas em seus ter-
ritrios (organizaes de cidados, operadoras,
homens de negcio, empresas cujas atividades
dependem fortemente de comunicaes, como
bancos), no planejamento de infraestruturas e
servios? Como as TIC aparecem em seus proje-
tos de desenvolvimento?
notrio que cabe aos poderes pblicos mu-
nicipais buscar o desenvolvimento econmico e
social de seus muncipes, por meio do fortale-
cimento dos sistemas educacional e de sade,
do aperfeioamento dos servios de transporte,
moradia, gua, esgoto, coleta de lixo, entre ou-
tros. Muitos tm tambm se mostrado interessa-
dos na revitalizao das culturas locais, inclusive
na criao de bibliotecas pblicas municipais, na
modernizao da gesto administrativa e mesmono incremento do uxo de informaes para os
cidados.
Ocorre que tudo isto depende, hoje e cada
dia mais , de tecnologias de informao e co-
municaes. No s os processos de gesto das
prprias prefeituras. Tambm os que decorrem de
compromissos, convnios e acordos com a Unio
e os estados, todos necessitam crescentemente
de basear-se naquelas tecnologias. A pergunta,
central e recorrente, pois, como podem e o que
esto fazendo os municpios para desempenhar
seus papis, num novo contexto que inclui, no
apenas inovaes tecnolgicas, avanados uxos
e redes de informao e comunicaes, mas, so-
bretudo, forte competio porrecursos pblicos e investi-
mentos privados.
Mitchell argui que os limi-
tes e outras denies das
cidades so contestados de
duas formas: de um lado,
os uxos globais de informao esto reduzindo
a importncia dos antigos limites polticos e dimi-
nuindo a efetividade do espao fsico pblico para
produzir e representar a integrao social da ci-
dade. De outro, a privacidade eletrnica e as tec-nologias de gesto de interao esto criando a
possibilidade de novos cismas e subdivises nos
ambientes urbanos (MITCHELL, 2000, p. 96). Por
isso, argumenta ele, preciso criar novas fontes
de vitalidade econmica para as cidades. Para um
crescimento seguro e vigoroso, elas sempre tive-
ram necessidade de combinar recursos naturais e
transportes com disponibilidade de terra, trabalho
e capital. Agora, diz ele, com o surgimento da revo-
luo digital, tudo isso est mudando (MITCHELL,
2000, p. 110).
Na mesma direo, Egler arma que no se
pode mais considerar o que chama de redes lo-
gsticas (energia, transportes, comunicaes)
como redes separadas. A atrao de investimen-
tos de capitais globais para qualquer regio de-
pende da consolidao e operao dessas redes,
que devem ser tratadas como [...] uma estrutura
integrada, multimodal e interdependente, que
fundamental para garantir o controle sobre por-
es selecionadas do territrio, que constituemos novos domnios, de onde se projetam ramos
ou linhas de expanso que abrem fronteiras em
novas zonas de inuncia no mercado mundial
(EGLER, 2006, p. 25). O problema est em que,
alm de as redes virtuais de informao e co-
municaes estarem se transformando em im-
portantes vias de negcios e servios pblicos,
elas apresentam signicativa distino das redes
tradicionais. Diferentemente das rodovias, rios
Muitos tm tambm se mostradointeressados na revitalizao das
culturas locais, inclusivena criao de bibliotecas
pblicas municipais
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OTHON JAMBEIRO
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e mares, com suas estaes e portos, que so
geogracamente localizados, as infovias virtu-
ais fazem a conexo entre pessoas e mquinas
sem qualquer submisso a critrios geogrcos
(GRANT; BERQUIST, 2000, p. 100).
preciso, contudo, des-vendar como as cidades se
mantero, inclusive em ter-
mos econmicos, culturais e
polticos, num mundo de per-
manentes uxos virtuais de
informao. Mitchell (2000, p. 14) acredita que in-
vestimentos, empregos e poder econmico devero
migrar para os lugares que rapidamente criarem as
infraestruturas digitais necessrias e efetivamente
passarem a explor-las. Isto , avanaro aquelas
cidades que compreenderem o fenmeno mais sig-nicativo da contemporaneidade: o surgimento das
mquinas de guardar, transmitir, conectar e proces-
sar informao, associadas com os softwarese as
interfaces necessrios para faz-las operar. Ele ad-
verte que a informao tornou-se desmaterializada
e desincorporada, circulando pelo mundo em enor-
mes quantidades, por meio de redes de computa-
dores (MITCHELL, 2000, p. 13). Arma tambm
que, em consequncia dessa desincorporao, a
vida social, econmica e cultural baseia-se, agora,
no s em movimentos e reunies, mas tambm na
produo, reproduo, guarda, distribuio e uso
de informao (MITCHELL, 2000, p. 131).
Schmandt (1990) lembra que, por causa do
efeito que as mudanas nesse cenrio podem
ter na infraestrutura e nos servios de comunica-
es, em termos locais, o poder pblico municipal
deve acompanhar os debates regulatrios bem de
perto, buscando assegurar a qualidade dos ser-
vios, inclusive em perodos de transio tecno-
lgica ou organizacional. Um dos meios para secolocar como agente facilitador de negociao de
interesses distintos a promoo de fruns sobre
planejamento de comunicaes, reunindo opera-
doras e os vrios grupos de interesse do munic-
pio. Alm de propiciar ambiente para negociaes,
tais eventos servem para melhorar a qualicao
dos funcionrios e tcnicos municipais no que se
refere s comunicaes. Alm disso, como enten-
de Southern (2000, p. 250), [] the local govern-
ance of ICTs is an attempt to impose a local logic
to the space of ows, and this in effect is its politi-
cal salience1.
Em suma, as cidades so concentraes de
conhecimento, lugares privilegiados do desenvol-
vimento da chamada eco-nomia da informao, que
caracteriza o mundo dos
negcios contemporneos.
So tambm centros avan-
ados de inovao e os prin-
cipais espaos humanos em que as informaes
so interpretadas (BERG; WINDEN, 2002, p. 264),
como, alis, destaca Epstein (2002, p. 28), quando
analisa a indstria editorial: Os livros so escri-
tos em todos os lugares, mas sempre precisaram
das culturas complexas das grandes cidades nasquais pudessem reverberar. Na verdade, a era
das comunicaes terminou se caracterizando no
apenas por criar um sistema de informao inde-
pendente de distncias, mas tambm por concen-
trar em um limitado nmero de cidades as fontes
bsicas de informao e conhecimento avanado
(WHEELER; AOYAMA; WARF, 2000, p. 6).
TECNPOLES E VIDA URBANA
Graham e Marvin chamam a ateno para o
fato de que os avanos em comunicaes so
um fenmeno dirigido predominantemente pelo
dinamismo econmico das cidades, particular-
mente as metrpoles. Elas tm interesses envol-
vidos na economia internacional, que baseada
cada vez mais em uxos de informao, servios
e produtos simblicos como mdia, publicidade,
entretenimento eletrnico, servios culturais, as-
sim como movimento de pessoas, bens e merca-
dorias (GRAHAM; MARVIN, 2000, p. 76). Tendointeresses na economia internacional, devem es-
tar cnscias das necessidades de comunicaes
de potenciais negcios e oportunidades nesse
nvel. Usualmente, so menos dependentes das
economias locais e regionais porque conseguem
colocar-se bem no mercado internacional assim
preciso, contudo, desvendarcomo as cidades se mantero,num mundo de permanentesuxos virtuais de informao
1A governana local de TIC uma tentativa de impor uma lgica local ao espao deuxos e esta , de fato, sua importncia poltica (traduao livre, de responsabilidadedo autor).
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como no nacional em funo de terem capaci-
dade de oferecer avanados servios de comu-
nicaes, isto , de propiciar aos negcios nelas
situados a participao nos uxos virtuais de in-
formao.
Uma das grandes trans-formaes trazidas pelas co-
municaes para as cidades
contemporneas foi o au-
mento da possibilidade de as
pessoas melhor controlarem
suas relaes pessoais. Mitchell reala que nos
primrdios da urbanizao, quando uma pessoa
queria encontrar outra, ia para a praa, a rua prin-
cipal, o bar, a loja, onde, contudo, podia encontrar
tambm quem no desejava. Com o aparecimento
dos meios eletrnicos de comunicao, um encon-tro dessa natureza pode ser marcado por telefone
ou por e-mail, no tempo e no lugar precisos, onde
quem marcou o encontro encontrar apenas a
quem quer encontrar. Da mesma forma, as tecno-
logias avanadas de comunicaes podem refor-
mular interdependncias entre cidades e regies.
Estar na faixa horria correta, falar a lngua apro-
priada, ter adequado softwaree ser competitivo no
mercado global de mo de obra podem ser mais
importantes do que estar na mesma rea metropo-
litana dos seus concorrentes. Basta que se tenha
conexes de voz e vdeo de boa qualidade e baixo
custo para poder prestar certos tipos de servios a
grandes distncias:
Thus telephone and video call centers in Syd-
ney can serve customers who want to make
airline reservations in Hong Kong. Similarly,
stenographers in Hyderabad can transcribe
dictation from doctors in Chicago (exploiting
the time zone difference to provide overnight
service), draftsmen in Manila can produceCAD documents for London architectural
and engineering rms, and very-low wage
workers in Africa can watch video monitors
connected to security cameras in New York2
(MITCHELL, 2000, p. 20, 94).
Na verdade, segundo Mosco, com a integra-
o de computadores para processar informao,
de satlites e cabos de bra tica para intensiva
distribuio e de monitores de alta denio, o
mundo dos negcios d mais um passo para a
realizao do que foi previs-to por Marx:
Capitalism by its nature drives be-
yond every spatial barrier. Thus the
creation of the physical conditions
of exchange of the means of
communication and transport the annihila-
tion of space by time, becomes an extraor-
dinary necessity for it3 (MARX, 1973, p. 524
apud MOSCO, 1993, p. 136).
As cidades tm sua dinmica alterada pela
rede mundial digital em muitos aspectos. Berg eWinden realam que os sistemas de informao
sobre o trfego urbano contribuem para a reduo
de congestionamentos, assim como o chamado
home workingreduz o uso de transportes. A inter-
net reduz o isolamento e oferece oportunidades de
relacionamento, inclusive para pessoas impedidas,
por doena, idade ou outra razo, de locomover-
se para espaos de sociabilidade. Ela pode tam-
bm melhorar a qualidade de vida na cidade por
meio de servios como o teleconsulta, para quem
necessita de atendimento mdico, ou divulgando
eventos culturais e permitindo reservas online.
Alm disso, o uso de tecnologias de informao
e comunicaes tem ajudado o poder pblico mu-
nicipal a governar pelo chamado e-governo, por
intermdio do qual os cidados podem ter acesso
a servios oferecidos pela prefeitura, assim como
podem elevar seus nveis de participao social e
poltica (BERG; WINDEN, 2002, p. 265-267).
Graham e Marvin vem positivamente as tec-
nologias de informao e comunicaes porque,segundo arguem, interaes virtuais so intrin-
secamente ligadas vida metropolitana contem-
pornea, e tambm porque so baseadas numa
compreenso mais sofisticada das complexas
relaes entre as novas mdias e a vida urba-
na. Alm disso, as articulaes entre os espaos
As tecnologias avanadasde comunicaes podem
reformular interdependnciasentre cidades e regies
2 Deste modo, o telefone e os call centerscom vdeo em Sydney podem atender osclientes que querem fazer reservas de passagens areas em Hong Kong. Igualmente,estengrafos em Hyderabad podem copiar ditados de mdicos em Chicago (explorandoa diferena de fuso horrio para fornecer servio durante a noite), desenhistas em Manilapodem produzir documentos em CAD para empresas de arquitetura e engenharia emLondres e trabalhadores com salrios muito baixos na frica conseguem assistir monito-res de vdeos conectados a cmeras em Nova Iorque.
3O capitalismo por sua natureza conduz alm de toda barreira espacial. Por-tanto, a criao das condies fsicas da troca dos meios de comunicao etransporte a aniquilao do espao pelo tempo, torna-se uma extraordinrianecessidade para ele.
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OTHON JAMBEIRO
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urbanos e as novas tecnologias criam oportuni-
dade para intervenes inovadoras, planejadas
e locais, mais propensas a trazer benefcios do
que as foras do mercado e as distantes hierar-
quias do governo central (GRAHAM; MARVIN,
2000, p. 90).Os municpios tm de estar atentos tambm
ao que se refere aos meios de comunicao de
massa locais. A lgica da globalizao est a cada
dia mais presente em praticamente todas as ati-
vidades do ser humano. Mas ela se estabeleceu
mais velozmente naquelas diretamente ligadas s
tecnologias de informao e comunicaes. No
caso das cidades, isso se d tanto com mais velo-
cidade quanto com mais intensidade e amplitude.
A mdia, evidentemente, expressa muito fortemen-
te esta situao, tanto do ponto de vista de seucontedo quanto de sua forma de organizao.
Mas os jornais e rdios comunitrios ressentem-
se duramente da concorrncia que lhes faz a cha-
mada grande mdia. Graham e Marvin advertem
que as necessidades sociais, as particularidades,
a liberdade de expresso e a diversidade cultural
local das cidades s podero sobreviver com ativa
e progressiva resistncia globalizao e coloni-
zao dos espaos locais pela mdia global. E isto
tem de ser feito por meio de estratgias criativas
de carter local, baseadas nas tecnologias de
informao e comunicaes (GRAHAM; MARVIN,
2000, p. 93).
Chambers, por exemplo, diz que o grupo que
controla um jornal, uma radio, uma TV comunitria
representa uma voz independente no que chama
mercado local de idias. Ele aponta para o fato
de que crticos das polticas de desregulamenta-
o tm arguido que o localismo vem sendo sa-
cricado em favor de competio entre grandes
corporaes com pouca ou nenhuma ligao comas comunidades (CHAMBERS, 2003, p. 45). Com
isso reduz-se a competio entre provedores de
informao, limitando-se as possibilidades de ex-
presso de muitas vozes da comunidade.
A questo da mdia local tambm realada
quando se toma os estudos de Smythe sobre a
relao entre a mdia e a populao, em termos
de agendamento dos assuntos que entram em dis-
cusso na sociedade. Ele arma que
For most people, much of the time, they are
instructed in the meaning of the daily agenda
through their contacts with work, religious, po-
lice, school, etc. organizations. But for virtually
all of the people, all of the time, the agenda
which directs their attention is that which, per-
haps mostly in their so-called leisure time,comes to them from the mass media seg-
ment of the conscious industry. Priorities in
their agenda tend to be set by the priorities
assigned to topics or themes in the mass me-
dia. The informal daily education of the popu-
lation is conducted by the mass media, which
tend to select some topics and ignore others,
give precedence to some and not others, and
frame contexts and select content all accord-
ing to standards which perhaps owe more to
custom than to malevolent design, and more to
unconscious synchronization of decisions thanto conspiracy4 (SMYTHE, 1994, p. 248).
Santos (2004, p. 53) com base no estudo que
realizou sobre uma emissora de rdio municipal,
na Bahia, arma que [...] a radiodifuso comuni-
tria local aponta para a possibilidade de que as
comunidades possam olhar mais para seus pro-
blemas e necessidades, sem deixarem de estar
conectadas com as questes que afetam os de-
mais cidados em nvel nacional ou mesmo fora
das fronteiras de seu pas. Na verdade, pode-seir adiante de Santos e armar que a rdio comu-
nitria se constitui num ltro que se soma aos
demais, com eles competindo para acessar tam-
bm informaes no-locais.
ALGUMAS LINHAS DE AO
Apesar da importncia dessas tecnologias para
quase todas as suas atividades, as municipalida-
des brasileiras praticamente no interferem nos
processos decisrios relativos infraestrutura eaos servios de informaes e comunicaes es-
tabelecidos em seu territrio.
4 A maioria das pessoas, na maior parte do tempo, instruda na sua acepo do coti-diano pelos contatos religiosos, legal, escola, trabalho, organizaes, etc. Porm, parapraticamente todas as pessoas, o tempo inteiro, a agenda que direciona sua ateno aquela que, talvez principalmente na maior parte de seu chamado tempo de lazer, vemat elas do segmento da mdia de massa da indstria consciente. As prioridades em suasagendas tendem a ser estabelecidas pelas prioridades ditadas por tpicos ou temas damdia de massa. A educao informal cotidiana da populao conduzida pela mdia demassa que tende a selecionar alguns tpicos e ignorar outros, dar primazia para algunse outros no, e moldar contextos e selecionar contedos todos de acordo com padresque talvez se devam mais prtica do que a um esquema malevolente, e mais a umasincronizao inconsciente do que uma conspirao.
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Excludas desses processos, no se preparam
para neles atuar nem mesmo para negociar com
os provedores de tais infraestrutura e servios.
Schmandt (1990, p. 299) aponta, com razo, entre
outros, um motivo forte para que esses temas no
estejam includos com fre-quncia nas estratgias de
desenvolvimento econmico
de longo prazo das cidades:
os tcnicos em planejamen-
to dos municpios no esto
acostumados a tratar com
infraestrutura de informao e comunicaes e,
quando muito, apenas o fazem com relao s
necessidades da prpria administrao munici-
pal. Uma situao que difere da de outros servi-
os pblicos: excluindo-se os casos em que soprovedoras exclusivas (caso de educao bsica
e coleta de lixo), seus tcnicos e executivos esto
normalmente preparados para interferir, reivindicar
e negociar em nome de seus muncipes, no que se
refere, por exemplo, aos servios de sade, forne-
cimento de gua e energia eltrica.
Considerando esse contexto, no qual as comu-
nicaes passaram a ser um importante fator para
a vida em geral e, particularmente, para as econo-
mias urbanas, pelo menos duas grandes questes
podem ser formuladas.
A primeira diz respeito ao papel que devem ter
as tecnologias de informao e comunicaes nas
estratgias de desenvolvimento das cidades, a
curto, mdio e longo prazos, considerada a forte
competio por recursos pblicos e investimentos
privados, suas vinculaes com o setor de ser-
vios, particularmente turismo, e as crescentes
exigncias de ecincia administrativa e transpa-
rncia de gesto.
A segunda relaciona-se com o papel que deveter a prefeitura nos processos decisrios (projetos,
regulamentos e execuo) relativos infraestrutu-
ra e aos servios de informao e comunicaes.
possvel construir linhas de ao em respos-
ta a essas questes. Para isso, o ponto inicial
compreender que infraestruturas e servios de
informao e comunicaes so essenciais s in-
teraes virtuais, que, por sua vez, so intrinseca-
mente ligadas vida urbana contempornea. Alm
disso, as articulaes entre os espaos urbanos e
as novas tecnologias criam oportunidade para in-
tervenes inovadoras, planejadas e locais, mais
propensas a trazer benefcios do que as foras do
mercado e as distantes hierarquias do estado cen-
tral. Da segue-se que:Quanto primeira questo:
A Parece bvio que
no se pode mais consi-
derar as chamadas redes
logsticas (energia, trans-
portes, comunicaes) como
redes separadas. A atrao de investimentos de
capitais nacionais e multinacionais depende da
consolidao e operao dessas redes, que de-
vem ser tratadas como uma estrutura integrada,
multimodal e interdependente. Esta uma con-dio sine qua non para integrar-se aos fluxos
globais que estruturam e fomentam o capitalis-
mo avanado.
B Parece tambm evidente que os sistemas
de informao sobre o trfego urbano contribuem
para a reduo de congestionamentos, assim
como o chamado home working reduz o uso de
transportes. A internet reduz o isolamento e ofe-
rece oportunidades de relacionamento, direto e
instantneo, do poder pblico com os cidados.
Num estgio mais avanado, esse relacionamen-
to virtual pode ajudar o poder pblico municipal
a governar, por meio do incremento da oferta de
servios pblicos, assim como pode elevar o nvel
de participao social e poltica, e estimular eci-
ncia, eccia e transparncia da gesto.
C As tecnologias avanadas de comunicaes
podem tambm reformular interdependncias en-
tre cidades e regies. Basta que haja conexes de
voz e vdeo de boa qualidade e baixo custo para
poder prestar certos tipos de servios a grandesdistncias. Exemplo disso so os chamados call
centers, que podem estar situados em uma cidade
e servir a clientes de todo um pas. Ou designers
residentes numa cidade desenhando plantas e pro-
jetos arquitetnicos para arquitetos e engenheiros
trabalhando milhares de quilmetros distantes. Ou
mesmo situaes como a que ocorre em Nova Ior-
que, onde cmeras de segurana, controladas via
web, so monitoradas por funcionrios sediados
A internet reduz o isolamentoe oferece oportunidades
de relacionamento, direto einstantneo, do poder pblico
com os cidados
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na frica, onde a mo de obra muito mais barata
(MITCHELL, 2000, p. 20).
D Na verdade, embora algumas estruturas de
produo ainda necessitem de se localizar perto
de suas fontes de matria-prima, muitas outras
dependem basicamente douso coordenado de comuni-
caes e redes de transpor-
tes que as liguem a sistemas
de distribuio, de suprimen-
to e fornecedores. E, nesses
casos, para estabelecer as
ligaes entre essas redes,
softwarescompatveis so muito mais importantes
do que proximidade. Com a integrao de compu-
tadores para processar informao, de satlites,
cabos de bra tica e monitores de alta denio, oparadigma do mundo dos negcios deixa cada dia
mais de ser o espao e passa a ser o tempo.
Quanto segunda questo:
A A prefeitura deve atuar como catalisadora
dos distintos grupos sociais, econmicos e cultu-
rais, no sentido de agir e entrar no debate sobre
os processos decisrios relativos infraestrutura
e aos servios de comunicaes. Para tanto, deve
ampliar e aprofundar sua compreenso sobre
esses fatores essenciais ao desenvolvimento do
municpio e seu entorno socioeconmico, e apren-
der a formular proposies objetivas sobre o local
dentro do global, no contexto da chamada socie-
dade da informao.
B Seu principal objetivo deve ser assegurar
a qualidade e a ampliao dos servios, inclusive
em perodos de transio tecnolgica ou organi-
zacional (TV digital, banda larga, wi-max). Um dos
meios para se colocar como agente facilitador de
negociao de interesses distintos a promoo
de fruns sobre planejamento de comunicaes,reunindo operadoras e os vrios grupos de inte-
resse do municpio. Aes dessa natureza, alm
de propiciar ambiente para negociaes, contri-
buiro para: (1) melhorar a qualicao de fun-
cionrios, tcnicos e executivos municipais neste
campo de conhecimento; (2) comear a impor uma
lgica local nos processos decisrios relativos s
infraestruturas e servios de informao e comu-
nicaes.
C Cidades tursticas e de economia baseada
em servios tm interesses envolvidos na econo-
mia internacional, que baseada cada vez mais
em uxos de informao, produtos simblicos
como mdia, publicidade, entretenimento eletrni-
co, servios culturais, assimcomo movimento de pesso-
as, bens e mercadorias. Seu
desenvolvimento depende,
portanto, em relativamente
alto grau, de: (1) formao
de mo de obra de base
tecnolgica; (2) organizao
espacial do territrio, de forma que seja possvel
implantar infraestruturas integradas, multimodais
e interdependentes (energia, transporte e comu-
nicaes), diferenciadas entre reas residenciais,industriais e servios de informao e comunica-
es. Isto essencial para poder competir numa
economia crescentemente globalizada.
D Isto se torna to mais crucial quanto se
sabe que se encerra rapidamente o ciclo de de-
senvolvimento baseado exclusivamente na com-
binao de recursos naturais e transportes com
disponibilidade de terra, trabalho e capital. Com
o surgimento da revoluo digital, as cidades de-
vem se preparar para se desenvolver num mundo
de permanentes uxos virtuais de informao e
comunicaes. Investimentos, empregos e poder
econmico devero migrar para os lugares que
rapidamente criarem as infraestruturas digitais ne-
cessrias e efetivamente passarem a explor-las.
CONCLUSO
Muitas cidades, reconhecendo o valor do de-
senvolvimento cientco e tecnolgico na rea de
informao e comunicaes, vm se propondo aagir e a entrar no debate sobre os processos de-
cisrios deste setor. Elas comearam a despertar
para o fato de que a conglomerao de empresas,
nos nveis nacional e internacional, impede que
haja oferta signicativa de servios diversicados
no nvel local. Isto , que o controle total da infra-
estrutura e de parcela signicativa dos servios,
por parte daqueles conglomerados, deixa pouca
margem para a criao e desenvolvimento de ser-
As cidades devem se prepararpara se desenvolver num mundo
de permanentes uxos virtuais deinformao e comunicaes
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vios e produtos, fora do eixo formado por empre-
sas nacionais e multinacionais.
fato conhecido que as leis e regulamentos
que expressam as polticas pblicas brasileiras
para o setor no estabelecem mecanismos de
proteo nem de estmulo produo local e re-gional de informao por meios eletrnicos, em
qualquer de suas formas. Mesmo a disposio
constitucional, de regionalizao da produo
dos programas de rdio e TV, no foi ainda re-
gulamentada, 20 anos depois de promulgada a
Constituio Federal, cujo Artigo 221 determina
expressamente a [...] regionalizao da pro-
duo cultural, artstica e jornalstica, confor-
me percentuais estabelecidos em lei. Alm do
mais, a globalizao do controle da infraestru-
tura e dos servios do setor impe padres deproduo e gesto baseados na economia de
mercado global, que demandam o uso de tec-
nologia de ponta e grande volume de recursos
financeiros. Assim, servios e produtos de infor-
mao, criados no nvel local, so obrigados a
seguir um alto padro operacional e de gerao
e comercializao de seus produtos, sob pena
de serem levados extino. A questo de na-
tureza poltica e tem relao direta com a cultura,
a identidade, a autonomia e o desenvolvimento
econmico, cientfico e tecnolgico, como colo-
ca Schiller (1993, p. 205):
[] how much power do we wish to cede to
private corporations in the determination of
our economic, political, and overall cultural
life? Information is, as we know, a generic
term covering everything from bank checking
data to television shows and from govern-
ment data bases to education, to plant and
animal genes. Over what stretch of this giant
range do we want the corporate economy to
reign? Over what span should private judg-
ments about resource allocation and use be
permitted to become dominant?5
As l imitaes ao exerccio do poder municipal,
no que diz respeito infraestrutura e aos servios
de informao e comunicaes, so muitas. A dis-
posio de venc-las depende apenas em parte
das manifestaes documentais de propsitos.
necessrio e, na verdade, crucial que s ex-
presses de documentos analticos e propositivos
se sigam atos e movimentaes que levem ocu-pao de espaos institucionais. S assim ser
possvel s cidades manterem perto de si e sob
seu controle ainda que parcial processos deci-
srios sobre esta questo.
Abandonando a crena de grande parte dos
administradores municipais de que a regulao
e a explorao de infra-estruturas e servios de
informao e comunicaes so inalcanveis
por polticas municipais, as prefeituras tero de
buscar competncia no s para traar polticas
consistentes, como para negociar com detentoresdessas infraestruturas e provedores desses ser-
vios. Sem isso, e sem o conhecimento pleno de
seus poderes e limitaes, dicilmente reuniro
condies objetivas para realizar estratgias de
desenvolvimento compatveis com o mundo con-
temporneo.
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BAHIA ANLISE &DADOS, Salvador, v.19, n.3, p.655-666, out./dez. 2009 655
AMestranda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA);graduada em Urbanismo pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb)[email protected] aqui como referncia a conceituao de Villaa (2004, p. 173-180), quedistingue planejamento urbano como ao do Estado sobre a organizao do espaointraurbano; o urbanismo enquanto mero discurso, conjunto de cincias e supostascincias (ideologia); e as polticas urbanas como referentes s reais aes e s pro-postas consequentes de ao do Estado sobre o urbano.2 Artigos 182 e 183 da Constituio Federal de 1988 (BRASIL, 2008a).3 Lei Federal N 10.257, de 10 de Julho de 2001 (BRASIL, 2001).
4Lei Federal N 11.124, de 16 de junho de 2005 (BRASIL, 2005a).5Lei Federal N 11.445, de 5 de janeiro de 2007 (BRASIL, 2007).
BAHIAANLISE & DADOS
Plano diretor no Estatuto daCidade e perspectivas atuais
do planejamento urbanoGlria Ceclia dos Santos FigueiredoA
Resumo
O presente artigo busca compreender a concepo diferen-ciada de plano diretor, consagrada com a aprovao do Estatutoda Cidade, considerando que o plano diretor, nas suas varia-das formas histricas, permanece como elemento central dasdiversas abordagens do planejamento urbano brasileiro. Sendoassim, busca-se identicar as linhas de continuidade e/ou rup-tura com essas formas precedentes e as novas perspectivas nombito do planejamento urbano que se colocam atualmente apartir dessa concepo.
Palavras-chave: Plano diretor. Planejamento urbano. Esta-tuto da Cidade. Reforma urbana. Polticas Urbanas.
Abstract
This article seeks to understand the different concep-tions of the urban master plan that was set up by approval of
the City Statute, and considers that this plan, in its diversehistorical forms, remains a central element in the varied ap-
proaches to Brazi lian urban planning. As such, the ar tic le
seeks to identify lines of continuity and/or discontinuity withpreced ing forms of planning and new perspecti ves in theplanning envi ronment that are cur rently inf luenced by this
conception.
Keywords: Urban master plan. Urban planning. CityStatute. Urban reform. Urban policies.
PLANO DIRETOR NA HISTRIA DO PLANEJA-MENTO URBANO BRASILEIRO
inegvel que se tem constitudo no Brasil, no
perodo recente, uma nova ambincia legal, norma-
tiva e institucional na rea do planejamento urbano,
do urbanismo e das polticas urbanas1, cuja emer-
gncia remonta s experimentaes municipais,
na dcada de 1990, de utilizao dos dispositivos
constitucionais contidos no captulo da poltica ur-
bana2. Esse processo se intensica com a apro-
vao do Estatuto da Cidade3 no ano de 2001; a
criao do Ministrio das Cidades e do Conse-
lho Nacional das Cidades (principal instncia de
controle social das polticas urbanas) em 2003; a
realizao de conferncias das cidades, a partir
de 2003 com denio participativa da Poltica
Nacional de Desenvolvimento Urbano ; a aprova-
o da lei federal de iniciativa popular que institui
o Sistema Nacional de Habitao de Interesse So-
cial, o Fundo Nacional de Habitao de Interesse
Social e seu respectivo conselho gestor em 20054;
e a aprovao do marco regulatrio do saneamen-
to bsico5.
No contexto apresentado acima, atualiza-se aconcepo de planejamento urbano, em descr-
dito, j que a matriz vigente no perodo anterior
dava evidncias de crise, conforme arma Ermnia
Maricato:
Aps um sculo e meio de vida, a matriz de
planejamento urbano modernista (e mais tar-
de funcionalista), que orientou o crescimento
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das cidades dos pases centrais do mundo
capitalista, passou a ser desmontada pelas
propostas neoliberais que acompanham a
reestruturao produtiva no nal do sculo
XX. Em se tratando de pases da semipe-
riferia, como o
caso do Brasil ede outros pases
da Amrica Latina,
esse modelo, de-
nidor de padres
holsticos de uso e
ocupao do solo,
apoiado na centralizao e na racionalidade
do aparelho de Estado, foi aplicado a ape-
nas uma parte das nossas grandes cidades:
na chamada cidade formal ou legal. A im-
portao dos padres do chamado primeiro
mundo, aplicados a uma parte da cidade (ouda sociedade) contribuiu para que a cidade
brasileira fosse marcada pela moderniza-
o incompleta ou excludente (MARICATO,
2007, p. 123).
Considerando que o plano diretor, nas suas
diversas formas histricas, permanece como ele-
mento central das diversas abordagens do plane-
jamento urbano brasileiro, que se inicia por volta
da dcada de 1940 com os planos de embeleza-
mento, interessa aqui compreender o que especi-ca a nova concepo de plano diretor consagrada
no Estatuto da Cidade, sem deixar de identicar
as linhas de continuidade e/ou ruptura com essas
formas precedentes.
Com a perspectiva colocada acima, adota-se a
compreenso de Villaa de que o planejamento ur-
bano strictosenso a corrente que teve como eixo
as atividades e discursos que vieram a desembo-
car nos atuais planos diretores, diferenciando-se
do zoneamento, do planejamento de cidades no-
vas e do urbanismo sanitarista (VILLAA, 2004,p. 175). Segundo esse autor:
A partir da dcada de 1950 desenvolve-se
no Brasil um discurso que passa a pregar
a necessidade de integrao entre os v-
rios objetivos (e aes para atingi-los) dos
planos urbanos. Esse discurso passou a
centrar-se na gura do plano diretor e a re-
ceber, na dcada de 1960, o nome de pla-
nejamento urbano ou planejamento urbano
(ou local) integrado. A conscincia da ne-
cessidade de integrao na verdade pode
ser detectada desde o incio deste sculo e
passou a ser o denominador comum desse
tipo de planejamento. Isso no quer dizer
que a integrao tenha sido con-
seguida; muito pelo contrrio, naquase totalidade dos casos no
foi alm do discurso, exceo
feita ao zoneamento, que aqui
considerado outra corrente.[...] A
partir da palavra plano foi escolhi-
da a expresso planejamento ur-
bano para designar essa forma especca
de ao ou de discurso do Estado sobre o
espao urbano, caracterizada por uma su-
posta viso geral ou de conjunto (VILLAA,
2004, p. 177- 181).
Do planejamento de origem renascentista, cuja
expresso foi o embelezamento urbano e sua n-
fase na esttica monumental usada para impor o
Estado e a classe dirigente capitalista, frequente
at a dcada de 1940 (VILLAA, 2004, p. 192),
passando pelo perodo do plano intelectual6 (1930-
1990) de base cientca e que no se preocupa
com sua operacionalizao e sua exequibilidade,
o planejamento urbano centrado no plano diretor
representa um instrumento de dominao ideol-
gica das elites econmicas, usado com o sentidode renovao e manuteno da sua hegemonia
nos termos abaixo:
[...] somente entendida, enquanto ideolo-
gia, possvel compreender a produo
e principalmente a reproduo no Brasil,
nos ltimos 50 anos, do planejamento ur-
bano, cristalizado na gura do plano dire-
tor. Sustenta-se tambm que as constantes
mudanas de nome, de metodologia de ela-
borao e de contedo dos planos ao longo
de sua histria, foram estratagemas dosquais as classes dominantes lanaram mo
para renovar a ideologia dominante e com
isso contrabalanar a tendncia de enfra-
quecimento de sua hegemonia, contribuin-
do assim para sua manuteno no poder e
para o exerccio da dominao (VILLAA,
2004, p. 182).
Oplano diretor, permanece comoelemento central das diversasabordagens do planejamento
urbano brasileiro
6O perodo de 1930-1990 pode ser dividido em trs subperodos: o do Urbanismo e doPlano Diretor (1930-1965), precursores do Planejamento Integrado, o dos Superplanos(1965-1971) e o do Plano sem Mapa (1971-1992) (VILLAA, 2004, p. 199-221).
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GLRIA CECLIA DOS SANTOS FIGUEIREDO
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Contraditoriamente e a despeito da no aplica-
o majoritria dos planos diretores gestados entre
1940 e 1990, a ideia de plano diretor obteve uma in-
crvel credibilidade e autonomia (VILLAA, 2004, p.
224-230), que s veio a perder importncia no pro-
cesso de reestruturao pro-dutiva ocorrida sob a gide
da desregulamentao esta-
tal que vigorou na dcada de
1990 com a implementao
do neoliberalismo na Amrica
Latina. De acordo com Bassul (2005, p. 77):
Essa perda de importncia do planejamento
regulatrio deu ensejo sua gradativa subs-
tituio por propostas, ora comprometidas
com processos ditos democrticos e parti-
cipativos, ora por formatos mais vinculadosa conceitos empresariais privados. Em am-
bos os casos, em contraponto ao enfraque-
cimento da idia de planejamento, ganhou
relevncia o termo gesto. Num dos plos,
para designar modelos fundados na idia de
participao direta da populao urbana na
denio dos problemas, na propositura de
solues e nas prprias aes administrati-
vas. Noutro, para dar vazo a propostas de
empresariamento das cidades no mbito da
competitividade da economia globalizada.
Para Villaa, esse momento corresponde ao
[...] m de um perodo na histria do planeja-
mento urbano brasileiro porque marca o incio do
seu processo de politizao, fruto do avano da
conscincia e organizao populares [...], quando
emergem os conitos antes dissimulados (VILLA-
A, 2004, p. 235-236).
Sendo assim, por um lado, a prxis do planeja-
mento e gesto urbanos no Brasil contemporneo
est impregnada do tipo de urbanismo operado
em decorrncia da grande difuso do planeja-mento estratgico nas metrpoles desindustriali-
zadas aps 1970, com a mobilizao de valores
e elementos culturais que conferem uma identi-
dade local, combustvel da estratgia de insero
competitiva na economia globalizada (ARANTES,
2007). Por outro lado, constitui-se um campo de
fora diferenciado, derivado de um intenso pro-
cesso de mobilizao poltica e popular, con-
substanciado no Movimento Nacional de Reforma
Urbana (MNRU)7, reconhecido pela proposio da
emenda popular da reforma urbana, que deu origem
ao captulo da poltica urbana na Constituio de
1988. No processo constituinte, a emenda rejeitou
o plano diretor e seu carter ideolgico, apresentan-
do, em contraponto, propos-tas estruturantes, sobretudo
no campo da gesto, para
aplicao direta. Essas pro-
postas foram fundamentadas
na democratizao do acesso
terra urbanizada e no cumprimento da funo so-
cial da propriedade urbana, nos termos abaixo:
Mais do que planos diretores as entidades
sociais (prossionais e de movimentos po-
pulares) que elaboraram a iniciativa de Re-
forma Urbana deram prioridade conquistade instrumentos especcos garantidores da
funo social da propriedade. Buscava-se
uma forma de superar o discurso cheio de
boas intenes e inecaz, para ir direto aos
objetivos centrais dessa promessa no rea-
lizada, quilo que constitua o n de toda a
resistncia sua realizao: o controle sobre
a propriedade fundiria e imobiliria visando
sua funo social. A rejeio ao plano signi-
cou a rejeio ao seu carter ideolgico e
dissimulador dos conitos sociais urbanos.
Alm de ignorar a proposta de plano diretor,
a iniciativa popular destacou a gesto de-
mocrtica das cidades, revelando o desejo
de ver aes que fossem alm dos planos
(MARICATO, 2007, p. 175).
No obstante a isso, a correlao de foras
desfavorvel no legislativo federal, de maioria con-
servadora, no s ressuscitou o plano diretor, re-
metendo para ele o cumprimento da funo social
da propriedade urbana, como postergou ao mximo
a efetividade das propostas oriundas da emenda dareforma urbana. Fez isso exigindo, pelo texto cons-
titucional, uma lei regulamentadora que s viria a
ser aprovada 13 anos depois da promulgao da
Constituio Federal de 1988. Sendo assim:
Essas propostas foramfundamentadas na democratizaodo acesso terra urbanizada e no
cumprimento da funo social
7O MNRU surgiu na dcada de 1980 articulando um conjunto signicativo de organi-zaes do movimento popular e entidades tcnicas e prossionais ligadas luta pelaReforma Urbana, tendo como pano de fundo as lutas pela democratizao do pasem reao ao derradeiro regime da ditadura militar. Foi responsvel pela propostade Emenda Popular da Reforma Urbana (N 63/1987), que obteve o maior nmerode assinaturas no processo da Assemblia Constituinte 131 (cento e trinta e um) mil,quando o mnimo exigido foi de 30 (trinta) mil.
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Parcialmente derrotado pela vinculao da
funo social da propriedade urbana ao
plano diretor e aprovao de uma lei fe-
deral da poltica urbana, o Movimento Na-
cional pela Reforma Urbana (MNRU) passa
a dirigir seus esforos para a elaborao
da norma fede-ral exigida pela
Constituio e das
leis orgnicas mu-
nicipais (j que os
municpios pas-
saram a ser con-
siderados entes
federativos autnomos), assim como, mui-
to especialmente, para a formulao dos
novos planos diretores. Os princpios da
democracia participativa e da gesto de-
mocrtica, incorporados ao texto consti-tucional, e, principalmente, a estratgia
de superar a cultura patrimonialista sedi-
mentada nas elites brasileiras que havia
tisnado o captulo constitucional sobre a
poltica urbana ganharam novos foros
institucionais. O campo principal da luta
deslocou-se do Congresso Nacional para
as prefeituras e cmaras de vereadores
(BASSUL, 2005, p. 83).
PLANO DIRETOR NO ESTATUTO DA CIDADE:UMA NOVA CONCEPO
O plano diretor ressurge ento na Constituio
Federal de 1988, que o dene como o principal
instrumento da poltica desenvolvimento e expan-
so urbana. A partir da, a propriedade urbana
passa a cumprir sua funo social quando atende
s exigncias fundamentais de ordenao da ci-
dade expressas no plano, sendo sua elaborao
e aprovao obrigatrias para os municpios compopulao com mais de 20 mil habitantes (artigos
182 e 183). Como se constata, o cumprimento do
princpio da funo social da propriedade urbana
ca condicionado existncia e implementao
do plano diretor.
Na regulamentao da poltica urbana estabele-
cida pelo Estatuto da Cidade, tm-se as seguintes
disposies acerca do plano diretor, sintetizadas
pelo Instituto Polis (2001, p. 223):
- Obrigatoriedade de denir o aproveitamento mnimo doimvel urbano: artigo 5, pargrafo 1, inciso I;
- delimitao das reas de incidncia do direito de preemp-o: artigo 25, pargrafo 1;
- faculdade de xar reas de exerccio do direito de cons-truir acima do coeciente de aprovei-
tamento bsico adotado: artigo 28,caput;
- faculdade de xar o coecientede aproveitamento bsico ni-co: artigo 28, pargrafo 2;
- denio dos limites bsicos docoeciente de aproveitamento:artigo 28, pargrafo 3;
- faculdade de xao das reas de permisso de alteraodo uso de solo: artigo 29;
- delimitao de reas para aplicao de operaes consor-ciadas: artigo 32, caput;
- possibilidade de autorizao de exerccio do direito deconstruir em outro local: artigo 35, caput;
- exigncias fundamentais de ordenao da cidade:artigo 39;
- conceito: artigo 40;
- obrigatoriedade de incorporar o plano plurianual, as dire-trizes oramentrias e o oramento anual: artigo 40, pa-rgrafo 1;
- dever de englobar o territrio do Municpio como um todo:artigo 40, pargrafo 2;
- prazo para reviso: artigo 40, pargrafo 3;- garantias no processo de elaborao: artigo 40, pargrafo
4, incisos I, II e III;
- obrigatoriedade: artigo 41, incisos I, II, III, IV e V;
- mnimo que deve conter: artigo 42, incisos I, II, III;
- prazo para aprovao: artigo 50;
- improbidade administrativa em caso de no aprovao noprazo previsto: artigo 52, VII.
Cabendo destacar que o Estatuto da Cidade de-
ne em relao ao plano diretor:
a) Que a propriedade urbana cumpre sua funosocial quando atende s exigncias fundamen-
tais de ordenao da cidade expressas no pla-
no diretor, respeitando-se as diretrizes previstas
no Art. 2 desta lei (Art. 39), quais sejam:
I - garantia do direito a cidades sustentveis, entendidocomo o direito terra urbana, moradia, ao saneamen-to ambiental, infraestrutura urbana, ao transporte e aosservios pblicos, ao trabalho e ao lazer, para as presen-tes e futuras geraes;
O plano diretor ressurge ento naConstituio Federal de 1988, que odene como o principal instrumento
da poltica desenvolvimento eexpanso urbana
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GLRIA CECLIA DOS SANTOS FIGUEIREDO
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II - gesto democrtica por meio da participao da po-pulao e de associaes representativas dos vriossegmentos da comunidade na formulao, execuo eacompanhamento de planos, programas e projetos dedesenvolvimento urbano;
III - cooperao entre os governos, a iniciativa privada e os
demais setores da sociedade no processo de urbaniza-o, em atendimento ao interesse social;
IV - planejamento do desenvolvimento das cidades, da dis-tribuio espacial da populao e das atividades eco-nmicas do Municpio e do territrio sob sua rea deinuncia, de modo a evitar e corrigir as distores docrescimento urbano e seus efeitos negativos sobre omeio ambiente;
V - oferta de equipamentos urbanos e comunitrios, trans-porte e servios pblicos adequados aos interessese necessidades da populao e s caractersticas lo-cais;
VI - ordenao e controle do uso do solo, de forma aevitar [...]
VII - integrao e complementaridade entre as atividadesurbanas e rurais, tendo em vista o desenvolvimentosocioeconmico do Municpio e do territrio sob suarea de inuncia;
VIII - adoo de padres de produo e consumo de bense servios e de expanso urbana compatveis com oslimites da sustentabilidade ambiental, social e econ-mica do Municpio e do territrio sob sua rea de in-uncia;
IX - justa distribuio dos benefcios e nus decorrentes doprocesso de urbanizao;
X - adequao dos instrumentos de poltica econmica, tri-butria e nanceira e dos gastos pblicos aos objetivosdo desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar osinvestimentos geradores de bem-estar geral e a fruiodos bens pelos diferentes segmentos sociais;
XI - recuperao dos investimentos do Poder Pblico deque tenha resultado a valorizao de imveis urba-nos;
XII - proteo, preservao e recuperao do meio ambien-te natural e construdo, do patrimnio cultural, histri-co, artstico, paisagstico e arqueolgico;
XIII - audincia do Poder Pblico municipal e da popula-o interessada nos processos de implantao deempreendimentos ou atividades com efeitos poten-cialmente negativos sobre o meio ambiente naturalou construdo, o conforto ou a segurana da popu-lao;
XIV - regularizao fundiria e urbanizao de reas ocu-padas por populao de baixa renda mediante o es-tabelecimento de normas especiais de urbanizao,uso e ocupao do solo e edicao, consideradas asituao socioeconmica da populao e as normasambientais;
XV - simplicao da legislao de parcelamento, uso eocupao do solo e das normas edilcias, com vistasa permitir a reduo dos custos e o aumento da ofertados lotes e unidades habitacionais;
XVI - isonomia de condies para os agentes pblicos e pri-vados na promoo de empreendimentos e atividades
relativos ao processo de urbanizao, atendido o inte-resse social.
b) Que a lei que instituir o plano diretor dever
ser revista, pelo menos, a cada 10 anos (Art.
40, 3).
c) Que no processo de elaborao do plano
diretor e na scalizao de sua implemen-
tao, os poderes Legislativo e Executivo
municipais garantiro a promoo de audi-
ncias pblicas e debates com a participao
da populao e de associaes representa-
tivas dos vrios segmentos da comunidade;a publicidade quanto aos documentos e in-
formaes produzidos; o acesso de qualquer
interessado aos documentos e informaes
produzidos (Art. 40, 4, incisos I a III).
d) A obrigatoriedade do plano para cidades
com mais de 20 mil habitantes; integrantes
de regies metropolitanas e aglomeraes
urbanas; onde o poder pblico municipal
pretenda utilizar os instrumentos previstos
no 4 do art. 182 da Constituio Federal;integrantes de reas de especial interesse
turstico; inseridas na rea de inuncia de
empreendimentos ou atividades com signi-
cativo impacto ambiental de mbito regional
ou nacional (Art. 41, incisos I a V).
e) O contedo mnimo do plano diretor, qual
seja: a delimitao das reas urbanas onde
poder ser aplicado o parcelamento, edi-
cao ou utilizao compulsrios, consi-
derando a existncia de infraestrutura e de
demanda para utilizao; as disposies re-queridas pelos arts. 25, 28, 29, 32 e 35 desta
lei; sistema de acompanhamento e controle
(Art. 42, incisos I a III). As disposies re-
queridas pelos artigos listados no Inciso II
do Artigo 42, que integram o contedo m-
nimo do plano diretor referem-se respectiva-
mente: ao direito de preempo; reas nas
quais o direito de construir poder ser exer-
cido acima do coeciente de aproveitamento
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bsico adotado, mediante contrapartida a
ser prestada pelo benecirio; reas nas
quais poder ser permitida alterao de uso
do solo, mediante contrapartida a ser pres-
tada pelo benecirio; delimitao de rea
para aplicao de operaes consorciadas;transferncia do direito de construir.
Como se pode inferir pelo exposto anterior-
mente, a concepo do plano diretor denida pelo
Estatuto da Cidade vincula-se aos princpios da
reforma urbana de garantia do direito cidade,
gesto democrtica, recuperao da mais-valia
urbana e distribuio equitativa de recursos no es-
pao das cidades. Outro aspecto importante que
o Estatuto da Cidade dene a obrigatoriedade de
incorporao de suas diretrizes e prioridades pelos
instrumentos oramentrios, estabelecendo, as-sim, as condies para a sua exequibilidade. Alm
disso, a referida lei federal exige que se estabe-
leam, no plano, os limites bsicos do coeciente
de aproveitamento, o que implica a explicitao da
denio dos totais de rea construda passveis
de utilizao pelos diversos usos, permitindo pre-
cisar as implicaes dos parmetros urbansticos
estabelecidos na produo e acesso do espao
construdo.
importante destacar que, apresentando umaperspectiva de consolidao institucional da con-
cepo do plano diretor denida no Estatuto da
Cidade, o Conselho Nacional das Cidades8(Con-
cidades) aprovou duas resolues. Uma que emi-
te orientaes e recomendaes sobre o processo
de elaborao, implementao e execuo do pla-
no diretor, conforme expresso abaixo:
RESOLUO N 25, DE 18 DE MARO DE 2005
[...]
Art. 3 O processo de elaborao, implementao e execu-o do Plano diretor deve ser participativo, nos termos doart. 40, 4 e do art. 43 do Estatuto da Cidade.
1 A coordenao do processo participativo de elaboraodo Plano Diretor deve ser compartilhada, por meio da efetivaparticipao de poder pblico e da sociedade civil, em todasas etapas do processo, desde a elaborao at a deniodos mecanismos para a tomada de decises.
2 Nas cidades onde houver Conselho das Cidades ou si-milar que atenda os requisitos da Resoluo N 13 do CON-CIDADES, a coordenao de que trata o 1, poder serassumida por esse colegiado;
Art. 4 No processo participativo de elaborao do plano di-retor, a publicidade, determinada pelo inciso II, do 4 do
art. 40 do Estatuto da Cidade, dever conter os seguintesrequisitos:
I - ampla comunicao pblica, em linguagem acessvel,atravs dos meios de comunicao social de massa dis-ponveis;
II - cincia do cronograma e dos locais das reunies, daapresentao dos estudos e propostas sobre o plano di-retor com antecedncia de no mnimo 15 dias;
III - publicao e divulgao dos resultados dos debates edas propostas adotadas nas diversas etapas do pro-cesso;
Art. 5 A organizao do processo participativo dever ga-
rantir a diversidade, nos seguintes termos:
I - realizao dos debates por segmentos sociais, por te-mas e por divises territoriais, tais como bairros, distri-tos, setores entre outros;
II - garantia da alternncia dos locais de discusso.
[...]
Art. 8 As audincias pblicas determinadas pelo art. 40, 4, inciso I, do Estatuto da Cidade, no processo de elabo-rao de plano diretor, tm por nalidade informar, colhersubsdios, debater, rever e analisar o contedo do PlanoDiretor Participativo, e deve atender aos seguintes requi-sitos:
I - ser convocada por edital, anunciada pela imprensa localou, na sua falta, utilizar os meios de comunicao demassa ao alcance da populao local;
II - ocorrer em locais e horrios acessveis maioria dapopulao;
III - serem dirigidas pelo Poder Pblico Municipal, que apsa exposio de todo o contedo, abrir as discussesaos presentes;
IV - garantir a presena de todos os cidados e cida-ds, independente de comprovao de residnciaou qualquer outra condio, que assinaro lista de
presena;V - serem gravadas e, ao nal de cada uma, lavrada a res-
pectiva ata, cujos contedos devero ser apensados aoProjeto de Lei, compondo memorial do processo, inclu-sive na sua tramitao legislativa.
Art. 9 A audincia pblica poder ser convocada pelaprpria sociedade civil quando solicitada por no mnimo1% (um por cento) dos eleitores do municpio (BRASIL,2005b).
E outra que trata sobre o contedo mnimo do
plano diretor, nos termos abaixo:8Principal instncia nacional de controle social das polticas urbanas, sendo formadomajoritariamente por representantes da sociedade civil.
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RESOLUO N 34, DE 01 DE JULHO 2005
[...]
Art. 1 O Plano Diretor deve prever, no mnimo:
I - as aes e medidas para assegurar o cumprimento dasfunes sociais da cidade, considerando o territrio rural e
urbano;II - as aes e medidas para assegurar o cumprimento dafuno social da propriedade urbana, tanto privada comopblica;
III - os objetivos, temas prioritrios e estratgias para o de-senvolvimento da cidade e para a reorganizao territorialdo municpio, considerando sua adequao aos espaosterritoriais adjacentes;
IV - os instrumentos da poltica urbana previstos pelo art. 42do Estatuto da Cidade, vinculando-os aos objetivos e estra-tgias estabelecidos no Plano Diretor;
Art. 2 As funes sociais da cidade e da propriedade urbana
sero denidas a partir da destinao de cada poro do ter-ritrio do municpio bem como da identicao dos imveisno edicados, subutilizados e no utilizados, no caso desua existncia [...]
Art. 3 Denidas as funes sociais da cidade e da proprie-dade urbana, nos termos do artigo 2, o Plano Diretor de-ver:
I - determinar critrios para a caracterizao de imveisno edicados, subutilizados, e no utilizados;
II -