40 anos icbaspress escpecial especial - sigarra.up.pt andrade em 1944, aos microfones de uma rádio...
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ICBASPRESSESPECIAL
REVISTA DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA · EDIÇÃO Nº 35
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É a mais atribulada história do ensino superior
em Portugal. O Instituto de Ciências Biomédicas
Abel Salazar nasceu há 40 anos literalmente num
vão de escada, em condições muito adversas, na
conturbada época “pós-25 de abril”. Só a firme
determinação de gente que viveu as agruras do
Estado Novo, da ditadura e da repressão, supe-
rou uma série de obstáculos e contrariedades, de
forma a manter intacto o sonho da criação de uma
escola inovadora de Medicina, vocacionada para
a investigação e a multidisciplinariedade, num
contexto mais abrangente das Ciências da Saúde.
As ideias já tinham sido difundidas por Corino de
Andrade em 1944, aos microfones de uma Rádio
Club Lusitânia muito controlada pela PIDE. Mas,
como o ensino em Portugal era muito autoritário
e conservador, de cartilha única, não surpreende
que as propostas tenham ficado na gaveta durante
30 anos.
Só com o “25 de abril” foi possível Corino de
Andrade reencontrar um até então ostracizado
Ruy Luís Gomes, primeiro reitor da Universidade
do Porto após a revolução de 74 e que serviu de
“fiel da balança” nas relações com a Faculdade
de Medicina. A eles juntou-se Nuno Grande,
regressado de Angola e que foi o executor de um
projeto que já estava por ele a ser ensaiado e
prestes a ser inaugurado no Huambo. Neves Real,
Pereira Guedes, Aloísio Coelho e João Monjardino
completaram o grupo de fundadores da escola.
Abel Salazar foi o nome escolhido para patrono
porque as ideias de um ensino com novos métodos
e uma nova filosofia já tinham sido germinadas
pelo mestre. Por isso, ele gostava de citar o velho
aforismo que “o médico que só sabe de medicina
nem de medicina sabe”.
A 5 de maio de 1975 concretizou-se, finalmente, o
sonho. Foi publicada no Diário do Governo (Diário
da República a partir de 1976) a portaria nº 293/75,
que oficializou o Instituto de Ciências Biomédicas
Abel Salazar da Universidade do Porto. «Escola
nova voltada para a investigação» foi o lema esco-
lhido, tendo como principal objetivo a formação
básica dos estudantes que se destinavam a cursos
de Medicina e afins, como Veterinária ou Biologia.
Do estrangeiro, incluindo as antigas colónias, vie-
ram investigadores de grande prestígio, trazendo
ideias refrescantes e vanguardistas. Muitos
deles foram recebidos numa sala com um sofá
de apenas três pernas, obrigando Nuno Grande
a levantar-se e a colocar-se de maneira a que
não se percebesse que faltava a quarta perna. A
precariedade das instalações nunca arrefeceu o
entusiasmo de docentes e alunos, unidos numa
missão de vida que superou completamente as
divergências e as querelas partidárias dos pós-25
de abril. Enquanto noutros estabelecimentos de
ensino se suspendiam as aulas devido a confli-
tos, no ICBAS o ambiente era pacífico porque as
atenções estavam focadas na viabilidade do curso.
O ensino básico arrancou em outubro de 1976, com
grande expetativa por parte de 200 alunos. Três
anos depois surgiu o momento de maior impasse.
O ciclo clínico esteve em risco porque os sucessivos
governos provisórios tardavam em viabilizar o
protocolo com o Hospital Geral de Santo António,
que se prontificara a ser parceiro do ICBAS para
recuperar o que tinha perdido em 1959, quando
a Faculdade de Medicina passou para o Hospital
de S. João.
Muitas vezes acompanhado por alunos, Nuno
Grande deslocou-se aos ministérios, em Lisboa,
para tentar desbloquear a situação. No auge
do dilema e perante a crescente ansiedade dos
estudantes houve mesmo uma reunião histórica
em que foi colocada a hipótese de se transferi-
rem para a Faculdade de Medicina. “Não!”, foi
a resposta da maioria, que se manteve firme
perante a ameaça de, no mínimo, perder um
ano ou, na pior das hipóteses, o instituto fechar
pura e simplesmente.
Ao fim de quase 50 deslocações a Lisboa, Nuno
Grande lá conseguiu fazer valer a sua persistência
e astúcia. O protocolo com o Hospital de Santo
António foi homologado no dia 12 de março de
1980, uma quarta-feira. Exatamente uma semana
depois arrancaram as aulas do ciclo clínico.
Poderia pensar-se que o ICBAS tinha encontrado,
finalmente, o caminho da paz e da tranquilidade
mas as reações adversas não tardaram. Os detra-
tores plantaram na imprensa uma campanha
bastante agressiva contra a escola. Houve de tudo
um pouco: desde chamar aos docentes “profes-
sores de aviário”, até dizer que os alunos eram
“comunistas”, cuja missão consistia em disseminar
a “ótica marxista” em ações na periferia.
Os ataques serviram, no entanto, para cerrar
fileiras entre todos, da direita à esquerda. Os pio-
neiros do ICBAS ficaram, assim, para a história,
com uma interação e uma mística ainda mais
fortes. A prova disso é que, no ano seguinte, foi
criada uma licenciatura inovadora, a de Ciências
do Meio Aquático. O curso também provocou
alguns anticorpos, ao ponto de o governo ter
ordenado o seu “congelamento”. Mas como os
alunos, uma vez mais, resistiram firmemente ao
“convite” para se transferirem para a Faculdade de
Ciências, a licenciatura acabou por ser viabilizada,
colmatando uma grande lacuna no espaço profis-
sional português - permitiu a formação de técnicos
essenciais para melhorar as potencialidades dos
nossos recursos hídricos e neles produzir proteínas
alimentares de baixo custo.
Também em 1981, o ICBAS deu mais um impor-
tante passo ao encontro das caraterísticas multi-
disciplinares e de investigação que estiveram na
sua origem, com a criação do curso de Bioquímica.
Hoje olha-se para a carreira dos alunos com o
orgulho de trabalharem nos melhores laboratórios
mundiais e de terem desenvolvido estudos com
cientistas consagrados, incluindo alguns “prémios
Nobel”.
A partir de 1984, os mestrados em Imunologia,
Enfermagem, Oncologia, mais o doutoramento
numa tese que visou a “identificação de uma
mutação que leva à paramiloidose” marcaram o
início de um profícuo ensino pós-graduado e nem
um violento incêndio em 1992 deitou por terra o
progresso das “Biomédicas”. Dois anos depois foi
criada a licenciatura em Medicina Veterinária, o
que veio acentuar a interação multidisciplinar entre
a saúde humana, a produção animal e gestão de
recursos do meio aquático, e ainda a bioquímica,
no que respeita à especialização em indústrias
alimentares.
Mais tarde, o ICBAS deu mais um importante
passo em frente na abordagem multidisciplinar e
multiprofissional do ensino. Juntou-se à Faculdade
de Engenharia para criar um mestrado integrado
de cinco anos, designado Bioengenharia.
No dia 20 de janeiro de 2012 foram inauguradas
as novas instalações, junto ao Palácio de Cristal,
num esforço evolutivo que permite mais e melhor
investigação científica. O complexo de edifícios,
partilhado com a Faculdade de Farmácia, cons-
titui o maior polo de saúde e ciências da vida da
Península Ibérica. Ou, como o prof. Nuno Grande
gostava de dizer aos alunos, “se tivesse tempo,
ainda havia tudo para fazer”.
Rui Martins
Jornalista
Nota: Texto escrito segundo o Acordo Ortográfico
40º ANIVERSÁRIO DO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS ABEL SALAZAR
DE UM VÃO DE ESCADA… AO MAIOR POLO IBÉRICO DE SAÚDE E CIÊNCIAS DA VIDA
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Ruy Luís GomesNasceu no Porto em 1905 e concluiu a licencia-tura em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra em 1926 com 20 valores. Passados dois anos doutora-se e no ano seguinte torna-se professor catedrático da Faculdade de Ciências de Coimbra, onde exerce durante alguns anos até regressar ao Porto. Foi co-fundador do Obser-vatório Astronómico do Porto e da Sociedade Portuguesa de Matemática. Esteve preso entre 1945 e 1957 pela sua polémica actividade política na altura. Exilou-se na América do Sul, tendo sido professor universitário no Brasil e Argentina. Em 1974 regressa para ser reitor da UP e funda o ICBAS no ano seguinte, presidindo à sua Comissão Ins-taladora. Morre em 1984.
Mário Corino de AndradeNasceu em Beja em 1906 e em 1929 licencia-se em Medicina e Cirurgia em Lisboa, especializando-se em Neuropatologia. Estagiou com Egas Moniz e tornou-se o primeiro cientista a identificar e carac-terizar a Paramiloidose. Funda o ICBAS em 1975, tornando-se o seu primeiro director. Foi director dos Serviços de Neurologia do Hospital Geral de Santo António. Em 1988 recebe um doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Aveiro. É uma das personalidades da neurologia portuguesa do século XX. Morreu em 2005.
Nuno GrandeNasceu em Vila Real em 1932 e formou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da
Universidade do Porto com 19 valores. Após o doutoramento, foi mobilizado pelo Exército para o Hospital Militar de Luanda, tendo depois acumu-lado várias funções ao longo dos anos seguintes, como director da Faculdade de Medicina da Uni-versidade de Luanda. Regressa a Portugal em 1975 e funda o ICBAS. Foi regente de Anatomia Sistemática, realizando trabalhos e investigações reconhecidas mundialmente. Morreu em 2012.
Luís Neves RealNasceu em 1910 e licenciou-se em Ciências Mate-máticas, em 1932, e em Engenharia Eletrotécnica, 1937, pela Universidade do Porto. Criou em 1941, com o Prof Ruy Luís Gomes, o Centro de Estudos Matemáticos do Porto. Fez parte e colaborou com a Junta de Investigação Matemática e Sociedade Portuguesa de Matemática. Foi professor na Facul-dade de Ciências e era ativista do movimento estudantil contra a Ditadura, no início dos anos 30 na UP.
Joaquim Pereira GuedesNasceu no Porto em 1923 e licenciou-se pela Faculdade de Medicina do Porto (FMUP) em 1946. Trabalhou desde cedo com o Prof. Corino de Andrade no Hospital Geral de Santo António, que entretanto fazia parte da FMUP, no serviço clínico de Neurologia e no laboratório de Anato-mia Patológica. Tornou-se, anos depois médico do Hospital Militar e director clínico da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Trabalhou no Serviço de Anatomia Patológica da Post-Graduate Medical
School no Hammersmith Hospital, na área da histoquímica. Foi director do Serviço de Anatomia Patológica e vogal da então criada Comissão de Coordenação Oncológica do HGSA. Funda em 1975 o ICBAS, tornando-se o primeiro regente da cadeira de Anatomia Patológica até à sua aposentação.
Aloísio CoelhoNasceu no Porto em 1925 e conclui a licenciatura em Medicina pela FMUP em 1950. Em 1975 funda o ICBAS, iniciando a sua actividade pedagógica na Escola de Saúde Pública. Foi subdirector do Insti-tuto Nacional de Saúde Ricardo Jorge e consultor da Organização Mundial de Saúde, também para a área da Saúde Pública. Presidiu a Sociedade Por-tuguesa de Imunologia e a ASPHER (Association of the Schools of Public Health in the European Region). Morreu em 1998.
João MonjardinoNasceu em Lisboa em 1942 e licenciou-se em Medicina pela Universidade de Lisboa com 19 valores. Tornou-se mestre em Bioquímica e dou-torou-se em Virologia, ambos pela Universidade de Londres em 1973. Durante o seu percurso académico, esteve sempre dentro das áreas de virologia, biologia e patologia molecular dos vírus (associado ao Imperial College London). Em 1975 funda o ICBAS, onde ainda é professor associado. É actualmente sénior investigador da Escola Médica do Royal Free Hospital de Londres.
1975 - Criação do ICBAS e nomeação da Comissão Instaladora.
1979 - Criação da Licenciatura em Medicina.
1981 - Criação da Licenciatura em Bioquímica. Criação da Licenciatura em Ciências do Meio Aquático.
1984 - Criação do Mestrado em Imunologia.
1992 - Incêndio em parte do edifício ICBAS.
1993 - Criação do Mestrado em Ciências de Enfermagem.
1994 - Criação da Licenciatura em Medicina Veterinária. Criação do Mestrado em Oncologia. Criação do ICAV.
1995 - Criação do Mestrado em Saúde Pública. Criação do Mestrado em Ciências do Mar – Recur-sos Marinhos.
1998 - Inauguração Clínica UPVET.
1999 - Criação do Mestrado em Medicina Legal.
2000 - Criação do Mestrado em Medicina de Catástrofe. Criação da Pós-Graduação em Enfermagem em Anestesiologia.
2003 - Criação da Pós-Graduação em Acupunctura Lançamento do concurso público para o projecto do novo edifício do ICBAS ganho pela equipa do Arq.to José Manuel Soares.
2004 - Inauguração do Diagnóstico de Instabili-dade Cromossómica (DIC).
2005 - Criação do Mestrado em Prevenção e Reabilitação Cardiovascular. Inauguração do Centro de Reprodução Animal de Vairão.
2006 - Criação do Mestrado Integrado em Bioengenharia.Criação da Pós-Graduação em Medicina Tradi-cional Chinesa.
2007 - Lançamento do concurso público para construção do novo edifício do ICBAS, na rua D. Manuel II. Implementação das primeiras adequações dos cursos ao processo de Bolonha.
2008 - Adjudicada obra do novo edifício do insti-tuto, que deverá estar pronto em 2011.
2012 - Inauguração das novas instalações, parti-lhadas com a Faculdade de Farmácia, onde em tempos foi a Reitoria da UP, estreitando ainda mais a colaboração com o Centro Hospitalar do Porto, ampliando as valências do Hospital Geral de Santo António, do Centro Integrado de Cirurgia de Ambulatório e do Centro Materno-Infantil do Norte.
2013 - Abertura do Laboratório de Investigação de Medicina Regenerativa (LIMR), sob direcção do Prof Mário Barbosa.
2014 - Inauguração Centro Biomédico Simulação (CBS).
CRONOLOGIA
BIOGRAFIA COMISSÃO INSTALADORA
HISTORIALICBA
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SERVIÇOS A COMUNIDADE
CENTRO BIOMÉDICO DE SIMULAÇÃO (CBS)Desde 2014 que o ICBAS dispõe de um Centro de
Simulação Biomédica, acessível aos estudantes
do ciclo clínico e docentes do ICBAS e a profissio-
nais do Centro Hospitalar do Porto, de forma a
disponibilizar uma aprendizagem contínua, per-
mitindo que testem e experimentem intervenções
e tratamentos em simuladores que aparentam as
condições reais de pacientes em determinadas
patologias.
Dispõe de simuladores únicos no país, como por
exemplo o de patologia cardiovascular. As insta-
lações incluem modelos de simulação de suporte
básico e imediato de vida, de exame ao fundo dos
olhos e aos ouvidos, de toque retal, de patologias
cardiorrespiratórias, de intubação orotraqueal de
doentes, uma sala de bloco operatório, uma sala
de simulação de partos, uma enfermaria, uma
sala de treino de competências técnicas e uma
sala de reuniões, onde é possível monitorizar tudo
o que ocorre nas restantes salas de simulação.
Está também disponível uma ambulância para
treino de transporte de doentes. Está prevista a
abertura do CBS para fazer formação a grupos
alvo da população.
CENTRO DE ATENDIMENTO 50+A Unidade de Investigação e Formação sobre
Adultos e Idosos - UNIFAI, sediada no ICBAS
desde 2004, desenvolveu um serviço de excelên-
cia especializado na área do envelhecimento, o
Centro de Atendimento 50+. Tem como missão
a promoção de saúde e do envelhecimento ativo,
a nível cognitivo-comportamental, de saúde e
bem-estar das pessoas com 50 ou mais anos;
também com serviços dirigidos a profissionais,
equipamentos sociais e municípios.
Conta com um atendimento personalizado nos
domínios da Psicologia, Gerontologia e da Saúde
e disponibiliza serviços ao nível da consulta indi-
vidual, estimulação cognitiva, grupos de ajuda
mútua, intervenção psicoeducativa ateliers de
actividades. Presta ainda serviços dirigidos aos
profissionais e equipamentos sociais, tais como
formação, workshops e avaliações multidimen-
sionais, e o serviço de desenvolvimento de planos
gerontológicos dirigidos aos municípios.
CENTRO CLÍNICO E DE INVESTIGAÇÃO VETERINÁRIA DE VAIRÃO (CCIVV)O Centro Clínico e de Investigação Veterinária de Vairão engloba a prestação de serviços veteriná-rios a animais de espécies pecuárias e equinos e presta apoio na área da investigação e experimen-tação animal, dispondo para isso de instalações e equipamentos apropriados às diversas valências dos serviços prestados. Os serviços do Centro Clinico de Equinos de Vairão (CCEV), integrado no CCIVV, é uma das suas princi-pais valências, prestam cuidados e serviços médi-co-cirúrgicos intra-hospitalares em Equinos. Atua como centro de atendimento médico-veterinário universitário com a participação de alunos da área de Medicina Veterinária da UP. Dispõe de serviços de consulta, farmácia e bloco operatório. Possui também equipamentos de diagnóstico ao nível da radiologia e imagiologia, com tecnologias de radiologia digital computorizada, ultrasonografia e videoendoscopia. Na área da cirurgia, trabalha nas áreas de cirurgia geral, ortopédica, abdominal, neonatal, castrações e do aparelho respiratório.O serviço clinico à área das espécies pecuárias, em particular ruminantes, permite uma resposta a casos clínicos referenciados e oferece aos estu-dantes do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária do ICBAS-UP, um contacto com estas espécies num contexto hospitalar.O apoio e as parcerias do CCIVV, com outros gru-pos de investigação e outras faculdades, permitem a realização de trabalhos de investigação com um forte componente na experimentação animal.
CENTRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL DE VAIRÃO (CRAV)Criado em 2005, disponibiliza serviços de repro-dução animal à comunidade, particularmente à indústria equina e a criadores de cães, sendo que conta com a colaboração de estudantes e docentes de Medicina Veterinária, para um ensino de maior qualidade e investigação aplicada a problemas reais. O trabalho com equinos desenvolve-se no centro, preparado para receber garanhões e para receber éguas com e sem poldros, e em serviços de extensão em coudelarias. A reprodução assistida de cães conta com um laboratório específico para esta espécie. Em bovinos o trabalho incide funda-mentalmente na produção in vitro de embriões.
O objectivo do Centro de Reprodução Animal de
Vairão é providenciar aos criadores e proprietários
de animais um serviço de excelência na medicina
reprodutiva e na aplicação de biotecnologias
reprodutivas, e simultaneamente providenciar
uma grande variedade de casos clínicos para a
formação dos estudantes do Mestrado Integrado
em Medicina Veterinária do ICBAS.
DIAGNÓSTICO DE INSTABILIDADE CROMOSSÓMICA (DIC)Iniciado em 2004, o DIC destina-se ao diagnóstico
de doenças de instabilidade cromossómica, em
particular ao diagnóstico de Anemia de Fanconi
(AF). As análises são realizadas no Laboratório de
Citogenética do Instituto de Ciências Biomédicas
Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS-
-UP), trabalhando para a comunidade. Conta
com profissionais das áreas da Genética, Biologia
(Molecular e Celular) e Anatomia Patológica, rece-
bendo amostras de sangue e/ou medula óssea de
doentes provenientes de Centros Hospitalares do
Norte ao Sul do país.
UPVETA Clinica Veterinária da UP, localizada no ICBAS, foi
criada em 1998 com o objectivo de proporcionar o
ensino prático em contexto real da Medicina Vete-
rinária de animais de companhia. Reconhecida
como Clínica pela Ordem dos Médicos Veterinários
de Portugal em maio de 2003 e confirmada pela
Direcção Geral de Veterinária em 2010, presta
serviços clínicos à população geral e apoio aos
Médicos Veterinários privados.
Com a mudança para as novas instalações, junto
ao Palácio de Cristal, e a recente abertura do ser-
viço permanente de urgência, é intenção da UPVet
constituir-se brevemente em Hospital Veterinário.
Presta serviços de clínica geral, cardiologia, neuro-
logia, dermatologia, pneumologia, oftalmologia,
pneumologia, urologia, endocrinologia, ortope-
dia e oncologia. A clínica está apetrechada com
equipamentos de radiologia, ultra-sonografia,
eletro e ecocardiografia, endoscopia digestiva
e respiratória e tomografia computorizada. Na
área da cirurgia, actua nas especialidades de
ortopedia, cardio-torácica, oncologia, tecidos
moles e neurocirurgia.
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Fazendo uma retrospectiva destes 40 anos do ICBAS… o que pode dizer de
evolução e excelência? O que mudou?
Não será exagero dizer que o ensino no ICBAS começou em pouco mais
que um vão de escada nas velhas instalações do seminário de Vilar então
cedido para inicio do ensino graças á influencia e intervenção de então bispo
do Porto, D. António Ferreira Gomes. Daí até onde estamos hoje volvidos
40 anos muito aconteceu. Somos hoje, com orgulho, uma Escola líder nas
preferências dos estudantes que pretendem fazer um curso superior na
área das ciências da vida e da saúde. Também na investigação temos um
papel relevante. Nos últimos dez anos praticamente duplicamos o número
de publicações científicas internacionais subscritas por investigadores do
ICBAS o que nos coloca na linha da frente a nível nacional quer no número
absoluto de publicações quer no número de papers produzidos por doutorado
o que obviamente nos deixa orgulhosos. Acresce a tudo isto, que já não é
pouco, que docentes do ICBAS tiveram um papel fundamental na criação de
numerosos laboratórios associados de que salientam o IBMC, o IPATIMUP, o
INEB, e o CIMAR mas também o REQUINTE e o CIBIO, tudo instituições que
são referência na investigação científica em Portugal. Podemos assim sem
qualquer dúvida afirmar, 40 anos depois da sua criação, que se se quiser
apontar uma instituição universitária de excelência inquestionável o ICBAS
será certamente uma das primeiras a figurar na lista.
A sua presença no ICBAS… De docência e direcção. Quais pensa serem os
valores da Instituição que guarda consigo para o exercício das suas funções?
Tive o privilégio de viver o ICBAS em tempos de enorme dificuldade. É bom
recordar que os primeiros tempos do Instituto foram difíceis não só porque as
instalações eram absolutamente precárias mas fundamentalmente porque
houve muita gente que tentou boicotar a consolidação do ICBAS como uma
Escola nova. O sentir dessas dificuldades criou naqueles que viveram esses
tempos um sentido de corpo que ainda se mantem hoje em todos aqueles
que restam desses tempos iniciais. Fundamentalmente desses tempos ficou
uma postura que é a de permanentemente colocar a interrogação sobre o
que se pode fazer pela Escola. Por outro lado desde sempre e apesar das
dificuldades logísticas as preocupações dos responsáveis do ICBAS estiveram
centradas nos alunos que aceitaram sempre, de uma forma notável, estudar
em condições que os que frequentam as atuais instalações nem de longe
conseguem imaginar. Apesar da falta de condições logísticas a força de
vontade, principalmente dos estudantes, fez com que os diferentes cursos se
afirmassem e o prestígio do ICBAS enquanto escola com valores éticos e de
ensino se consolidasse. Foi muito esta vivência de enfrentar as dificuldades
enquanto coletivo e encará-las como oportunidades de mudança, que quer
queiramos quer não molda a maneira de ser e de estar, que contribui para
aquilo que sou hoje, para o bem e para o mal, espero que mais para o bem.
Qual o futuro das biomédicas em Portugal, na investigação, no ensino e
profissão?
O modelo de escola que foi introduzido em Portugal com a criação do ICBAS
longe de estar esgotado é hoje uma realidade que está a ser adotado em
múltiplos locais espalhados pelo mundo e particularmente na Europa. A
abordagem multidisciplinar na área das ciências da vida e da saúde é hoje
incontestada como modelo quer de aprendizagem quer de desenvolvimento
pelo que antevejo que o ICBAS esteja colocado numa posição de excelência
que lhe permita continuar na linha da frente, quer na produção cientifica quer
nas preferências dos estudantes que pretendem tirar um curso superior que
lhes permita uma abordagem moderna aos problemas que se nos colocam
hoje em dia e que são sempre melhor abordados quando essa abordagem
se faz numa perspectiva multidisciplinar.
Profissionalmente os estudantes formados no ICBAS tem tido um enorme
sucesso quer a perpetiva de análise seja nacional quer internacional. Temos
detentores de graus obtidos no ICBAS espalhados um pouco por todo o
mundo o que nos torna conhecidos e abre a porta a que aqueles que
formamos tenham um mercado alargado e de prestigio fruto em grande
parte da ação dos que os antecederam e prestigiaram o nome do ICBAS.
O que significa, a nível pessoal, o peso destes 40 anos, fazendo parte de
uma instituição de excelência e dirigi-la – poder contribuir para a sua
evolução e inovação?
Mentiria se dissesse que não tenho um enorme orgulho por ter a opor-
tunidade de estar a dirigir o ICBAS, principalmente sabendo que sucedi
ANTÓNIO SOUSA PEREIRADIRETOR
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ENTREVISTAS
António Manuel de Sousa Pereira é licenciado em Medicina, dou-
torado em Ciências Médicas e agregado em Medicina pelo ICBAS. É
professor no ICBAS desde 1990 e tornou-se presidente do Conselho
Pedagógico em 1997 até 2004, em que assumiu o cargo de pre-
sidente do Conselho Diretivo, agora executivo, que ainda ocupa.
uma plêiade de líderes verdadeiramente notáveis que passaram pela
direção do ICBAS. Ter a oportunidade de ocupar o lugar previamente
ocupado por Nuno Grande, Eurico de Figueiredo, Paulo Mendo e Corália
Vicente acarreta uma grande responsabilidade a que tento corresponder
no dia-a-dia. Felizmente temos na escola um ambiente verdadeiramente
fantástico em que para além das naturais e salutares divergências, que
para quem observa de fora podem por vezes parecer exageradas, todos
se empenham na afirmação do ICBAS quer ao nível da formação quer
ao nível da investigação o que é extremamente gratificante. Por outro
lado tenho a noção clara de que há hoje uma gestão mais participada
e eficaz, com grande transparência na tomada de decisão o que se tem
traduzido em ótimos resultados do ponto de vista financeiro com uma
situação tranquila e contas saudáveis o que contribui para uma sensação
de bem-estar que se torna particularmente evidente quando visitamos e
falamos com colegas de outras faculdades.
Qual o futuro do ICBAS? Como vê os próximos 40 anos?…
Penso que o ICBAS tem um futuro de grandes desafios pela frente. A evolução
ao nível das ciências biológicas está a acontecer a um ritmo estonteante e
temo que os entraves burocráticos possam facilitar uma certa décalage entre
as necessidades que a sociedade e a evolução do conhecimento científico
determinam e a nossa capacidade de lhes dar resposta em tempo útil. Hoje
como há 40 anos Portugal continua muito burocratizado (com tendência
para piorar) e acho que vencer a burocracia vai ser o principal desafio que
iremos enfrentar. Existem contudo competências para ultrapassar estas
dificuldades e a plasticidade do projecto ICBAS vai permitir-nos continuar
na linha da frente. Acho que mais cedo do que tarde iremos ser copiados
na forma como nos organizamos e escolas multidisciplinares como o ICBAS
irão aparecer um pouco por todo o lado. Os próximos 40 anos serão assim
anos de desafio permanente que espero consigamos enfrentar como
forma não só de nos continuarmos a afirmar mas também como forma
de dar resposta aos problemas que irão surgir em termos de ciências da
vida e da saúde e em cuja resposta queremos estar envolvidos de forma
determinante e decisiva.
O que lhe vai na alma quando pensa no ICBAS?
Que foi bom lutar pela implementação e consolidação do projecto pensado
pelos criadores do ICBAS. Somos hoje uma instituição prestigiada e todos
os nossos alunos, seja qual for o curso que frequentam ou frequentaram,
podem sentir um enorme orgulho por terem estudado no ICBAS já que
terão um diploma respeitado em todo o lado. Isso é o melhor que se pode
esperar quando se dirige uma instituição de ensino superior. Tenho pena
que os mentores da nossa Escola em particular o Professor Nuno Grande,
meu mestre, não estejam entre nós para o testemunhar.
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O facto de o ICBAS ainda incluir a designação de
Instituto é um forte sinal, a meu ver, da vontade
de realçar a componente de investigação nas
actividades da Escola desde a primeira hora.
Tenho evocado a propósito nos últimos dias, a
primeira entrevista que me fez o Dr. Corino de
Andrade, em 1978, por ocasião do convite que
me foi feito então para integrar o corpo docente
em formação (na altura como Monitor): era
bem nítida a preocupação em recrutar jovens e
menos jovens apostados numa carreira de ensino
e investigação, nomeadamente em fazer o dou-
toramento, grau que, na altura, exigia quase
inevitavelmente a saída para o estrangeiro. Assim
haveria de acontecer, dois anos mais tarde, com
a ida para Paris onde obtive o Doctorat d’État.
Refira-se, para contemporizar, que até ao final
dos anos 80 o número de doutorados nas uni-
versidades portuguesas era muito reduzido, só
tendo dado um salto significativo a partir de
1990 com o Programa Ciência.
Mas o ICBAS não se esgota no binómio ensino-
-investigação e soube desde a criação apelar à
participação cívica da sua comunidade, procu-
rando incutir nos seus colaborares e formandos
os valores de uma participação activa na socie-
dade como algo intrínseco à condição de “ser
do ICBAS”.
Viver os primórdios do crescimento do ICBAS,
com todas as vicissitudes e incertezas associadas
a uma situação politica, económica e institu-
cional altamente instável mas com um espirito
de união fortíssimo entre professores, alunos e
funcionários é algo dificilmente narrável por-
que único. Os nossos primeiros estudantes de
Medicina Veterinária ou de Bioengenharia (em
épocas mais próximas) poderão compreender
um pouco melhor esta vivência pois estou certo
de ter revisto neles o espirito de união necessário
para enfrentar as incertezas de um curso que
tiveram o privilégio de “inaugurar”!
Nestes 38 anos que me ligam ao ICBAS muito
mudou!
Temos instalações maiores e melhores, muito
mais estudantes, cursos e docentes e não
docentes. Crescemos, diversificamos e estamos
diferentes: eu seguramente mais velho e rabu-
gento mas também eternamente sonhador e
inconformado.
A minha dificuldade em exprimir aquilo que
penso do ICBAS advirá provavelmente da impossi-
bilidade de dissociar aquilo que sou daquilo que
é o ICBAS: o ICBAS será, espero eu, um pouco
daquilo que aqui fiz, eu sou certamente muito
do que o ICBAS me deu.
Como diria Chico Buarque: foi bonita a festa, pá...
Luís Baldaia, Decano
José Luís de Jesus Baldaia é licenciado em Biologia pela FCUP e
doutorado em Fisiologia (Doctorat d’État – Universidade de Paris VI). É
atualmente subdirector do ICBAS desde 2010 e professor associado de
Fisiologia Geral e foi presidente do Conselho Pedagógico entre 1990
e 1998 e vice-presidente do Conselho Diretivo entre 1998 e 2004.
LUÍS BALDAIA
SUB-DIRETOR
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Fernando Sollari Allegro licenciou-se em Medicina na Faculdade de
Medicina da Universidade do Porto e especializou-se em Gastren-
terologia. Efectuou uma pós-graduação em Gestão e Economia
da Saúde na Faculdade de Economia da UC. Foi director do Centro
de Endoscopia Digestiva do Serviço de Gastrenterologia do HGSA e
membro do Programa de Transplantação Hepático e prestou cola-
boração docente no ICBAS. É, desde 1999, presidente do Conselho
de Administração do Hospital Geral de Santo António, agora Centro
Hospitalar do Porto.
Corália Vicente licenciou-se em Matemática pela Faculdade de
Ciências da Universidade do Porto em 1976. Começou no ICBAS no
ano seguinte como professora de Biomédicas. Esteve mais de uma
década no Conselho Diretivo e atualmente acumula os cargos de
presidente do Conselho de Representantes e Conselho Pedagógico,
diretora do departamento de Estudos da População e do Mestrado
e Doutoramento em Ciências da Enfermagem.
SOLLARI ALLEGROPRESIDENTE CHPORTO
CORÁLIA VICENTEPRESIDENTE DO CONSELHO PEDAGÓGICO
Como antigo aluno da FMUP e atual
director do CHP, qual pensa ser a
importância da ponte a nível de
ensino e investigação entre institui-
ções médicas e de ensino?
O desenvolvimento técnico e cien-
tífico das instituições médicas está
profundamente ligado à investigação
e ensino pelo estabelecimento de
metodologias de trabalho científico
e aperfeiçoamento técnico que tais
metodologias trazem.
Ao longo destes 40 anos, a que nível
a ligação com o ICBAS ajudou o CHP,
ex-HGSA, a evoluir?
Melhorou a preparação dos profissio-
nais mantendo-os mais actualizados.
Que valores de formação pessoal
e profissional são transmitidos aos
estudantes-médicos?
Rigor na informação, comportamento
de acordo com princípios de correcção
científica e técnica.
O que significa, a nível pessoal, o
peso destes 40 anos na história da
Medicina em Portugal?
Foi o readquirir um estatuto de que
dispusemos muitas dezenas de anos.
A medicina hoje em dia e o ensino em
Portugal… Qual pensa ser o futuro do
ensino e prática das Biomédicas em
Portugal?
O ensino ligado à pratica tal como
é praticado no ICBAS irá moldar o
futuro das outras escolas servindo de
exemplo.
O que lhe vai na alma quando pensa
no ICBAS?
Satisfação pelo dever cumprido na
transmissão do saber.
Enquanto Presidente do Conselho Pedagógico e
ex-presidente do ICBAS, qual pensa ser a importân-
cia da ponte com o CHP, não só a nível de ensino,
mas também de investigação?
A criação do ICBAS teve uma filosofia de base
que podemos encontrar no texto: A investiga-
ção Científica ao serviço da Saúde de Corino
de Andrade, datada de 10 de Junho de 1944,
onde podemos ler “Ao lado da Universidade,
diferencia-se actualmente uma organização que
tem como objectivo a investigação científica. É
na investigação, na vivência dos problemas, que
se formam os homens capazes de resolverem os
problemas que surgem.” E ainda “A investigação
científica tem... Uma função pedagógica. Fazer
observar, refletir sôbre os dados da observação,
formular hipóteses de trabalho baseadas sôbre
esses dados...”. Portanto a ligação com o CHP
foi fundamental na nossa criação e continua
fundamental para prosseguirmos os nossos
objectivos como unidade de investigação e
ensino superior.
Quais pensa serem os valores que o ICBAS tenta
passar aos estudantes e trabalhadores docentes
e não docentes?
Novamente voltamos aos fundadores e à filo-
sofia inerente à criação do ICBAS, valores éticos
e morais. Uma veneração pela vida e a noção
de que não estamos sózinhos, que vivemos em
sociedade, e que não só a nossa liberdade acaba
quando colide com a liberdade do outro, mas
também que nesta vivência em sociedade nos
devemos esforçar para atingirmos a felicidade
em conjunto.
Ao fazer uma retrospectiva deste anos… Que
palavras usaria para descrever o funcionamento
e evolução do Instituto?
Para mim, é um sentimento profundo mas muito
pessoal . O ICBAS sempre significou para mim a
defesa de ideais e valores que nem sempre serão
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os mais “politicamente correctos”. Portanto a s
palavra s que me surge m é LUTA por esses ideais
e a sua defesa.
O que significa, a nível pessoal, o peso destes 40
anos, sabendo-se parte de uma instituição de
excelência e de renome como o ICBAS e poder
contribuir para a sua evolução e inovação?
Peso? Pessoal, não sinto! São 40 anos, dos quais
estive ligada ao ICBAS durante 38 (oficialmente,
1 de Abril de 1977, data do meu primeiro con-
trato com o ICBAS). O que sinto é que dei o meu
contributo, e continuo a dar a uma Escola em
que acredito. Acredito na sua ideia inicial, que
é intemporânea. Não passou de moda. Na sua
base teve sempre a missão de fazer o mais que
podia e sabia para com a sociedade, e para mim
continua a ser esta a ideia fundamental, não
esquecendo contudo que a sociedade começa
em casa. Portanto continuo a defender os direitos
de todos no ICBAS, alunos, professores e técnicos,
administrativos (o chamado pessoal não docente
nem investigador), não esquecendo que onde
há direitos há deveres e o ICBAS tem pugnado
ao longo destes 40 anos pelos direitos e deveres
de todos.
Qual o futuro do ensino e investigação das biomé-
dicas e das matemáticas em Portugal?
Para ser franca não faço ideia. O que sei é que já
houve tempos em que se fez muito com pouco e
provavelmente agora estamos outra vez nessa
fase. Perceber que havendo crise financeira não
há razão nenhuma para haver crise de ideias, de
engenho e arte que é aquilo que faz de nós por-
tugueses o que somos: o povo das descobertas!
Para além disso lembro-me quando nos queixá-
vamos ao Prof Nuno Grande que não tínhamos
laboratórios, ele punha a mão na testa e dizia
“O melhor laboratório é aqui”. Portanto, que tal
pensarmos, termos ideias e trabalharmos com
aquilo que temos à nossa disposição!
O que lhe vai na alma quando pensa no ICBAS?
Um sentimento de enorme saudade pelos que
nos deixaram e uma lágrima que fica ao canto
do olho, pelos que nos marcaram| Para não me
esquecer de ninguém vou apenas referir, como
representando todos, o Prof Nuno Grande, que
me inspira constantemente, e as palavras com que
finalizei o meu discurso na sua festa de jubilação
a 23 de Fevereiro de 2002:
“Prof. Nuno Grande obrigado por existir. É um
privilégio, um dom, uma fortuna a convivên-
cia com tão nobre criatura. Muito gostamos
de si. Muito esperamos de si e até sempre,
Professor! “
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Álvaro Moreira da Silva é licenciado em Medicina pela FMUP e dou-
torado em Ciências Médicas pelo ICBAS. Estagiou no Health Research
Service Unit do University Hospital of Groningen, Holanda, onde
completou a sua formação em Medicina Intensiva. Especialista de
Pneumologia e subespecialista em Medicina Intensiva, é professor
catedrático convidado e diretor do Mestrado Integrado em Medicina.
É também actualmente membro do conselho científico e da Assem-
bleia de Representantes do ICBAS -UP.
ÁLVARO MOREIRA DA SILVADIRETOR DO MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA
Qual foi a evolução – do curso e da área – nestes
40 anos?
O Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar
cumpre os seus 40 anos de existência, facto que
nos obriga a reviver a personalidade de Abel
Salazar, notável cientista e investigador, no seu
humanismo e na sua universalidade. Abel Salazar
(...) não foi apenas um homem do seu tempo,
buscou tempos futuros e, por isso, continua a ser
do nosso tempo, e como legado, deixou a pro-
cura constante da inovação, estado que o ICBAS
preserva como seu património e motivação.
Ao longo dos últimos 40 anos o ICBAS e o
seu curso de Medicina assistiram a profundas
mudanças sociais e económicas, a alterações
demográficas, diversidade e mobilidade estu-
dantil, e ainda, à consolidação do Sistema
Nacional de Saúde, adicionadas à explosão de
descobertas científicas e sistemas de informa-
ção e a novos conhecimentos de complexidade
crescente.
Todas estas variáveis exigem uma evolução
constante do ensino médico pré-graduado, a
novos paradigmas não só no ensino como no
exercício da profissão, em que a multidiscipli-
naridade é o denominador comum.
Os médicos de hoje precisam de uma ampla
base de conhecimentos e fortes competências
clínicas para entrar na prática. Através da
aprendizagem ao longo da vida, o médico do
século XXI será um clínico qualificado, capaz de
adaptar-se a novos conhecimentos e mudança
de padrões das doenças, bem como a novas
intervenções e a terapêuticas personalizadas.
Os médicos terão de ser pensadores indepen-
dentes e críticos, capazes de avaliar evidências
livres, enviesamento de pessoal e influência
inadequada.
Nos nossos dias é exigido, como traço essencial
do médico, um nível elevado de profissiona-
lismo, conceito que abrange competência
médica, profundo entendimento do doente, da
família e da população, comunicação excelente
e interações produtivas com os pares, restantes
profissionais de saúde e com a sociedade.
Dos médicos é também esperado que traba-
lhem de forma inovadora com outras áreas do
conhecimento, tanto como membros da equipe
como líderes para a gestão dos sistemas de
saúde, e num ambiente em constante mudança
o que obriga a uma contínua aprendizagem.
À medida que o papel do médico evoluiu, tam-
bém a formação médica pré-graduada do ICBAS
foi-se mobilizando para garantir uma melhor
resposta à evolução dos saberes médicos e
tecnológicos, cultivando e reforçando o conceito
de formação multidisciplinar e a cultura da
melhoria contínua da qualidade e da segurança
do doente.
Reconhecendo a amplitude de papéis que os
médicos têm de assumir, o sistema educacional
deve assegurar que as competências chave são
atingidas por todos os estudantes, fornecendo
uma variedade de caminhos e tecnologias de
aprendizagem que preparam os estudantes
para diversos papéis nas suas carreiras futuras.
Ao longo destes 40 anos, o MIM do ICBAS foi
evoluindo para um sistema de educação médica
pré-graduada ágil e adaptável, promovendo as
bases para os futuros médicos, cientistas da saúde,
investigadores e defensores da reforma do sistema
de saúde.
O MIM do ICBAS conquistou junto dos estudantes
o prestígio que pertence ao grupo das Escolas
Médicas favoritas aquando das opções entre as
diferentes instituições nacionais de ensino médico.
O que pensa da importância da relação entre a
investigação e o ensino, patente no ICBAS?
Os jovens estudantes encaram hoje a Medicina
de uma forma diferente, sem uma investigação
sólida e consistente, não há uma formação clínica
de excelência e humanizada. A investigação no
ICBAS é estimulada desde os primeiros anos do
curso de Medicina, não comprometendo em nada
a formação clínica, mas procurando estabelecer
uma relação de sinergia. Não estamos a criar uma
geração de médicos desumanizados. A medicina
que se pratica em Portugal é ainda muito huma-
nizada, com excelente capacidade técnica. Os
nossos melhores estudantes fazem exactamente
o mesmo que os melhores de outros países, do
ponto de vista científico e social.
Do ponto de vista da relação médico-doente, preci-
samos de facto de melhorar muito. Os alunos são
formados num hospital, aprendem a ver doentes
deitados numa cama. Contudo 80% dos doentes
vão chegar junto dos futuros médicos irão pelo
seu pé, sendo que esse tipo de ensino clínico está,
possivelmente menos desenvolvido entre nós.
A que acha que se deve o sucesso e a inovação
do ICBAS, a nível de investigação e formação?
Toda a inovação é, em princípio, boa. O uso é que
pode não ser o correcto. E o sistema de ensino
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profissionalizante também. Actualmente a inteli-
gência humana é potenciada pelos sistemas de
informação, disponíveis de forma generalizada e
ao alcance de todos. Não é um mal, é um bem.
Se quisermos saber tudo sobre a doença mais
rara, num instante temos acesso a uma vasta
informação científica, mas acrítica. Um pro-
fessor a ensinar numa aula não passa de um
ser humano. Por vezes, pode ainda estar a usar
uma metodologia de ensino e investigação que
hoje não serve ou é insuficiente. Uma coisa é a
informação, que está disponível em todo lado,
e outra coisa é a aprendizagem pelo contacto
pessoal. O problema prende-se com o facto de
os estudantes terem tempo para interiorizar a
cultura do método científico.
O forte componente multidisciplinar de áreas
do conhecimento, presente no ICBAS, potencia
a aprendizagem da capacidade crítica, do gosto
pela investigação, o inconformismo e a procura
da inovação. Este trabalho potencia a formação
contínua.
Qual o futuro da área e da importância do ICBAS
para a mesma?
As Escolas Médicas têm hoje e no futuro, a
obrigação de direccionar as suas actividades
de ensino, formação, investigação e serviço no
sentido de abordar e tentar resolver os problemas
de saúde prioritários da comunidade, região e/
ou país, pois têm um mandato social a cumprir.
As preocupações de saúde prioritárias devem
ser identificadas em conjunto com governos,
profissionais de saúde, cuidados de saúde
e a sociedade. Será este o futuro do MIM do
ICBAS, que não poderá ignorar e que irá cum-
prir com a excelência que a sua juventude lhe
permite.
O que significa, a nível pessoal, o peso destes
40 anos, fazendo parte de uma instituição
de renome e excelência? Qual o futuro das
Biomédicas?
A natureza da formação médica pré-graduada e
da prática clínica não é estática. Mudanças no
âmbito do ensino e da prática dos prestadores
de cuidados de saúde, bem como o surgimento
de novas profissões na área da saúde e afins,
requerem um currículo focado na prática inter
e intra-profissional.
Como as equipas de prestação de cuidados de
saúde se tornaram mais complexas, os médicos
terão de ser capazes de funcionar em ambiente
colaborativo, a fim de assegurar melhores resul-
tados para os doentes, muitas vezes individuali-
zados. Novos modelos de cuidados colaborativos,
devidamente coordenados, irão promover e criar
uma maior eficiência e melhorar o acesso aos
cuidados de saúde.
As competências relacionadas com os cuidados
de saúde colaborativos devem ser integrados em
todas as unidades curriculares e, naturalmente,
em todo o espectro da educação e formação
médica, desde o pré-graduado até à pratica
clínica e à investigação.
Esta recomendação exige mudança cultural
significativa dentro das Escolas Médicas e em
outras profissões da saúde.
Atitudes positivas em relação à educação inter-
e intra-profissional e à prática terão de ser
mais cultivadas dentro da profissão e entre os
médicos e alunos. Esta recomendação também
exigirá a renegociação dos tradicionais limites
departamentais.
O que lhe vai na alma quando pensa no ICBAS?
Em primeiro lugar, a de ser capaz de em equipa
continuarmos a promover a mudança, o contínuo
florescer da capacidade crítica e interventiva
junto dos estudantes do MIM do ICBAS.
Em segundo lugar, existe uma necessidade arti-
culada para definir um conjunto de competências
essenciais exigidas ao estudante de medicina,
que lhe permitam encarar com tranquilidade um
programa do internato complementar.
Em terceiro lugar, a necessidade de criar um
sistema de educação e formação médica que
possa ser suficientemente flexível para acomodar
a natureza específica de estilos de aprendizagem,
interesses e ritmos de aprendizagem dos estu-
dantes, de forma individualizada.
Do ensino médico é esperado preparar os alunos
para dominar toda uma série de domínios do
conhecimento contemporâneo, tais como, a
saúde pública, o profissionalismo, o inter-pro-
fessionalismo, as competências culturais, melhor
comunicação e tecnologias novas e emergentes.
Essas pressões curriculares ocorrem num
momento em que as escolas de medicina são
obrigadas a formar mais e mais estudantes
dentro da duração dos programas existentes.
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Alexandre Quintanilha é licenciado e doutorado em Física pela
Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo. Trabalhou durante
vários anos na Universidade da Califórnia e é, desde 1991 professor
catedrático no ICBAS, altura em que foi nomeado diretor do Centro
de Citologia Experimental. Coordenador do Instituto de Biologia
Molecular e Celular e co-diretor do curso de Bioengenharia, irá
jubilar este ano.
ALEXANDRE QUINTANILHACO-DIRETOR DO MESTRADO INTEGRADO EM BIOENGENHARIA
Qual foi a evolução – do curso e da área – nestes
40 anos?
O curso é relativamente recente; ainda não com-
pletou 10 anos de existência. Mas continuamos
a atrair ótimos estudantes com os interesses
multidisciplinares que são essenciais em Bioen-
genharia. O curso exige uma formação sólida em
matemática, física, química e biologia, o que vai
ao encontro dos objetivos fundadores do ICBAS.
O casamento entre a engenharia e a biologia
é milenar, mas os avanços extraordinários na
biologia celular e molecular dos últimos 40
anos abriram novos horizontes na prática da
engenharia. Espero que os desafios aumentem
nas próximas décadas e que as interfaces deste
curso com os outros cursos oferecidos no ICBAS
possam ser reforçadas.
O que pensa da importância da relação entre a
investigação e o ensino, patente no ICBAS?
A investigação é a melhor forma de ensinar. Feliz-
mente este conceito esteve na base da criação do
ICBAS e dos recursos humanos que foi recrutando.
Os vários institutos de interface que muitos dos
docentes do ICBAS ajudaram a criar tiveram um
papel fundamental nas fortes ligações que esta-
beleceram com investigadores de outras escolas
e centros de investigação da UPorto. E facilitaram
a contratação de muitos investigadores a nível
nacional e internacional.
A que acha que se deve o sucesso e a inovação
do ICBAS, a nível de investigação e formação?
Á qualidade dos seus recursos humanos e à sua
criatividade, imaginação e dedicação.
Qual o futuro da área e da importância do ICBAS
para a mesma?
Não sou bom profeta, mas suspeito que os desa-
fios planetários que se avizinham, como os da
sustentabilidade do planeta e das sociedades,
do envelhecimento da nossa população, das
alterações climáticas e dos seus efeitos sobre as
doenças, a nutrição e os movimentos migratórios,
vão necessitar de novas capacidades multidis-
ciplinares para os resolver. A Bioengenharia é
um bom exemplo da forma como os problemas
podem e devem ser analisados e das soluções a
serem testadas.
O que significa, a nível pessoal, o peso destes
40 anos, Fazendo parte de uma instituição de
renome e excelência?
Só estou na escola desde 1990, mas acompanhei
desde o início o sonho de Corino de Andrade e de
Nuno Grande. Tenho muito orgulho em ter aju-
dado a consolidar esse sonho. Não só quando me
envolvo no ensino, na investigação e na inovação,
como também quando me envolvo em iniciativas
do foro social, sinto que estou a dar continuidade
aos objectivos do ICBAS e dos seus fundadores.
Qual o futuro das Biomédicas?
Será certamente brilhante se não se afastar dos
objectivos iniciais. A de formar cidadãos que
saibam como se realizar pessoal e profissional-
mente, e que tenham a confiança necessária para
seguirem os seus sonhos, mesmo quando parecem
difíceis de alcançar.
O que lhe vai na alma quando pensa no ICBAS?
Uma enorme sensação de gratidão pelos muitos
alunos e colegas extraordinários que tive o privi-
légio de conhecer.
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Alexandre Lobo da Cunha é licenciado em Biologia pela Faculdade
de Ciências da Universidade de Lisboa e doutorado em Ciências
Biomédicas (Biologia Celular) pelo ICBAS, do qual é diretor do curso
de Ciências do Meio Aquático desde 2010 e professor catedrático na
área da Biologia Aquática.
ALEXANDRE LOBO DA
CUNHADIRETOR DA LICENCIATURA DE CIÊNCIAS DO MEIO AQUÁTICO
Qual foi a evolução – do curso e da área – nestes
40 anos?
A Licenciatura em CMA passou por grandes
transformações desde a sua criação em 1981,
não tendo ainda 40 anos. Inicialmente, pensou-se
que a aquacultura seria uma área que teria uma
grande expansão em Portugal e por isso, numa
primeira fase, o curso estava muito focado nesta
temática. Como as expectativas mais otimistas
para esta área não se concretizaram, o curso foi-se
enriquecendo com o desenvolvimento de outras
temáticas, de modo a ficar mais diversificado em
saídas profissionais. Atualmente penso que temos
um bom equilíbrio entre a formação dirigida para
a aquacultura, as tecnologias alimentares e o
ambiente. Estas alterações também refletem a
evolução da área, com uma importância crescente
dada às questões ambientas de modo a se atingir
um desenvolvimento sustentado. Além destas
áreas mais aplicadas, o curso confere também
uma sólida formação em biologia geral e aquá-
tica. Uma grande mudança ocorreu recentemente
com a implementação do programa de Bolonha.
O curso começou por ser de 4 anos, por um curto
período foi de 5 anos, voltou a 4 e atualmente é
de apenas 3 anos. O programa de Bolonha, com
formação inicial de 3 anos seguida de 2 anos
de mestrado, foi bem aproveitado para se fazer
uma reforma mais profunda do curso. Adotámos
um sistema de disciplinas trimestrais para um
ensino mais intensivo e sequencial, em vez do
sistema clássico de 5 ou 6 disciplinas semestrais
em paralelo e por isso sem sequência de conteú-
dos. Uma consequência desta alteração foi a total
autonomia em relação aos outros cursos do ICBAS,
tendo terminado as disciplinas comuns.
O que pensa da importância da relação entre a
investigação e o ensino, patente no ICBAS?
Em qualquer instituição de ensino universitário
é indispensável existir uma estreita relação entre
ensino e investigação. A investigação obriga-nos
a manter uma atualização constante dos conhe-
cimentos e muitos dos resultados da investigação
podem ser incluídos no ensino. Uma vez que o
ICBAS tem uma boa produção científica isso, certa-
mente, reflecte-se de forma positiva na qualidade
do ensino.
A que acha que se deve o sucesso e a inovação
do ICBAS, a nível de investigação e formação?
Considero que a produção científica dos docentes
do ICBAS é em média bastante boa, comparativa-
mente aos valores de outras faculdades nacionais.
Ao longo do tempo, temos adquirido algum
equipamento indispensável á investigação e ao
ensino de qualidade e atualmente dispomos de
instalações muito melhores que as anteriores. As
condições materiais e financeiras que temos dão
uma boa ajuda, mas a motivação e a capacidade
dos docentes são fatores igualmente importantes.
A ligação dos docentes a centros de investigação
de elevado mérito contribui também de forma
decisiva para este sucesso.
Qual o futuro da área e da importância do ICBAS
para a mesma?
A área das Ciências do Meio Aquático terá sem-
pre futuro em Portugal. O nosso país tem uma
extensa zona marítima que devemos aproveitar
melhor. O ICBAS tem já uma tradição de ensino
e investigação nesta área que deverá continuar a
ser desenvolvida, contribuindo para a formação
de especialistas que possam aplicar e desenvolver
tecnologias ligadas ao mar e zonas costeiras e aos
respetivos recursos biológicos.
O que significa, a nível pessoal, o peso destes
40 anos, Fazendo parte de uma instituição de
renome e excelência?
Para mim os 40 anos do ICBAS não são de modo
nenhum um peso, aliás somos uma escola relati-
vamente nova na UP. Não estou no ICBAS desde a
fundação, mas já cá estou desde 1982 o que faz de
mim um dos antigos na casa. Tenho muito orgulho
em pertencer ao ICBAS e procuro, na medida das
minhas possibilidades, contribuir para o sucesso
da nossa escola.
Qual o futuro das Biomédicas?
O futuro é sempre difícil de prever; umas vezes a
realidade ultrapassa a nossa imaginação, outras
vezes não se concretizam as expectativas. Eu pre-
firo apostar em previsões moderadas por conside-
rar os cenários mais extremistas menos prováveis.
No início, o futuro do ICBAS era bastante incerto
e alguns teriam apostado que não chegaríamos
a celebrar 40 anos. Ultrapassadas as dificuldades
iniciais, graças ao esforço e dedicação dos nossos
fundadores, o ICBAS consolidou-se e cresceu tendo
atingido uma estabilidade institucional que nos dá
boas perspetivas futuras. No entanto, é importante
continuarmos a evoluir e a inovar, não ficando
presos ao passado. Certamente que não pode-
remos crescer muito mais em número de cursos
e estudantes, nomeadamente, por limitações ao
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Maria do Rosário Martins é licenciada em
Ciências Farmacêuticas pela Faculdade
de Farmácia da Universidade de Lisboa e
mestrada e doutorada pela Universidade
de Évora. É professora associada no depar-
tamento de Biologia Molecular e diretora
do curso de Bioquímica.
MARIA DO ROSÁRIO MARTINS DIRETORA DA LICENCIATURA EM BIOQUÍMICA
Quando me pediram para participar neste número
do ICBAS Press comemorativo dos 40 anos do ICBAS
comecei a fazer contas e cheguei à conclusão de
que há 33 anos que a minha vida passa pelo ICBAS.
Na realidade comecei no ICBAS como estudante da
licenciatura em Bioquímica, em 1982, na 2ª edição
do curso. Nessa altura havia apenas 15 vagas para
o curso de Bioquímica. Sabia-se muito pouco acerca
do curso e das possíveis saídas profissionais, a
investigação não era ainda comum como atividade
profissional a não ser associada à carreira acadé-
mica. Tive o privilégio de usufruir de um ensino per-
sonalizado, ministrado por docentes empenhados
e entusiasmados com o seu percurso académico e
de investigação. É verdade que ao contrário do que
já acontecia com outros cursos com mais alunos,
tudo era pouco formal. Lembro-me que os horários
eram frequentemente alterados de acordo com as
necessidades para realizar determinados trabalhos
práticos, não havia épocas de exames muito bem
estabelecidas e poucas regras eram conhecidas. Os
professores vinham de escolas diferentes da UP ou
de outras universidades para nos falarem daquilo
em que trabalhavam e eram especialistas. Havia
muito poucos formalismos. Eramos poucos alunos
e quase tudo se combinava no corredor e de mútuo
acordo. Muitas das aulas teóricas eram comuns
a vários cursos, nomeadamente, à Medicina, às
Ciências do Meio Aquático, à Educação Física,
à Química e à Biologia. Tínhamos colegas com
formações e interesses diversos. Era um curso ino-
vador, também por ser partilhado por duas escolas,
a FCUP e o ICBAS, único nessa altura. O empenho
e o entusiasmo dos nossos professores, que em
muitos casos tinham regressado há pouco tempo
do estrangeiro, onde tinham desenvolvido os seus
trabalhos de doutoramento, eram contagiantes. O
estágio da licenciatura, era o expoente máximo
do curso. Desenvolvido durante o último ano do
curso, 4º ano, era assumido como um verdadeiro
projecto de investigação em que quase todos os
estudantes e orientadores se empenhavam de
«alma e coração». Penso que foi esta formação
empenhada e apaixonada que me motivou, a
mim e a muitos outros que prosseguiram na car-
reira académica e na investigação. É este espírito
de entrega e de envolvimento pessoal que vivi
durante a licenciatura que me inspira até hoje e
me continua a motivar no ensino e na investigação.
Não consigo mesmo separar estas duas vertentes
e acho que este é o segredo para o sucesso de
qualquer curso. A investigação que cada um de
nós, docentes, desenvolve permite-nos transmitir
conhecimento de uma forma fundamentada,
aberta, sem restrições e partilhando também as
dúvidas que estimulam a reflexão e que nos fazem
querer avançar e evoluir cada vez mais. Penso que
isto, que é hoje em dia comum a quase todas as
escolas de ensino superior, existe no ICBAS desde
que ele foi formado e isso fez com que a Bioquímica
que era um curso que ninguém conhecia, seja hoje
número de docentes e espaço nas instalações.
Apesar destas limitações, espero que continuemos
a progredir tanto no ensino como na produção
científica, embora as restrições orçamentais e as
dificuldades no acesso a verbas para investigação
possam colocar algumas dificuldades.
O que lhe vai na alma quando pensa no ICBAS?
O ICBAS tem uma grande relevância na minha
vida. Entrei para o ICBAS como assistente esta-
giário no ano em que concluí a licenciatura em
Biologia na Universidade de Lisboa, e foi no ICBAS
que fiz toda a carreira académica. O ICBAS propor-
cionou-me condições que, possivelmente, não
teria em algumas outras faculdades nacionais.
Para além dos aspetos profissionais, também nas
relações de amizade que fui estabelecendo ao
longo dos anos fazem com que me sinta particu-
larmente feliz por pertencer ao ICBAS.
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um curso de prestígio, com licenciados, mestres e
doutorados espalhados pelo país e pelo mundo,
nos melhores centros de investigação e ensino. Isto
implica uma grande responsabilidade para todos
os que estão envolvidos no curso hoje. Têm que
se manter os padrões de qualidade, e a «fasquia»
está alta. Temos mais alunos, muitos (85 vagas),
e queremos apesar disso manter o ensino o mais
personalizado possível, privilegiar o contacto com
os alunos nas aulas teóricas e nas aulas práticas.
Isto implica uma grande carga horária prática, para
os alunos mas também para os docentes. Mas
penso que é isto que faz a diferença no curso de Bio-
química do ICBAS e FCUP. A maioria dos professores
continua a dar testemunho da sua investigação e
estimular os alunos a fazer apresentações orais de
trabalhos científicos. Com a implementação do
processo de Bolonha introduziram-se alterações
significativas. O curso, primeiro ciclo, passou a
ser de três anos, embora a maioria dos alunos
continue a sua formação frequentando mestrados
ainda em Bioquímica ou em áreas relacionadas.
O estágio, embora mais curto (semestral), e teori-
camente com um pouco menos de peso, continua
a ser encarado pelos alunos como fundamental
para a sua formação. Para isso tem contribuído
a colaboração de todos os investigadores que, de
uma forma totalmente gratuita e profundamente
empenhada, têm colaborado connosco recebendo
e orientando alunos de estágio nos seus labo-
ratórios de investigação e a quem agradecemos
sinceramente. Esta é uma colaboração preciosa que
temos tido e que queremos manter para garantir
a qualidade de formação dos nossos estudantes.
Por isso também, continuamos a privilegiar a apre-
sentação e discussão dos trabalhos de estágio, de
uma forma mais ou menos formal na presença
de investigadores, valorizando assim uma fase
importante da licenciatura. Ainda na sequência do
processo Bolonha devemos salientar a importân-
cia dos programas de intercâmbio internacionais,
como é o caso do programa ERASMUS, que possibi-
litam que os alunos frequentem algumas unidades
curriculares ou desenvolvam o projecto de estágio
em universidades europeias alargando os seus
horizontes a nível pessoal e científico. Embora em
menor número e ainda ao abrigo deste e de outros
programas temos também recebido alunos de
outros países que contribuem para este intercâmbio
cultural tão importante.
A Bioquímica foi e continua a ser crucial para todas
as actividades na área das ciências biológicas, da
saúde e do ambiente e na indústria alimentar,
farmacêutica e cosmética. É por isso fundamental
manter e reforçar a qualidade deste curso, que é da
responsabilidade partilhada entre o ICBAS e a FCUP.
Numa escola com abordagens multidisciplinares
em quase todas as áreas das ciências biológicas e
da saúde, como é o ICBAS, penso que a Bioquímica
constitui um importante contributo para que seja
uma escola «diferente» e plural e por isso o ICBAS
deve continuar a desenvolver, apoiar e valorizar
estas áreas, que são básicas e estruturantes.
Qual foi a evolução – do curso e da área – nestes
40 anos?
Se me cingir à idade formal do nosso curso em
Medicina Veterinária (iniciado em Outubro de
1994), temos apenas 20 anos. Porém, o caráter
pluridisciplinar da nossa formação está de tal
forma alinhado com uma perspetiva biomédica,
que a integração ocorreu rápida e naturalmente,
saldando-se por um enriquecimento mútuo, para
o nosso Instituto e para a nossa profissão. Esta
sinergia e, também, a energia dos nossos estudan-
tes são elementos fundamentais para a qualidade
da nossa formação.
Atualmente, a Medicina Veterinária é exercida
num ambiente complexo e dinâmico, ao qual
se tem de adaptar e, simultaneamente, ajudar
a transformar para melhor. E são muitos os
domínios onde estas competências são neces-
sárias, cada um com as suas especificidades
bem vincadas. Por exemplo, quando assistimos
animais de companhia (aqueles que temos em
nossa casa, como o cão e o gato, a que vão agora
acrescendo outros animais, ditos exóticos) teremos
que pensar em cada animal individualmente e
lançar mão em todos os recursos diagnósticos e
terapêuticos que os donos estiverem na disposição
Paula Proença licenciou-se em Medicina Veterinária pela Universidade
de Lisboa em 1995. No mesmo ano torna-se docente de anatomia
no curso de Medicina Veterinária do ICBAS e em 2005 doutora-se
em Ciências Veterinárias. É atualmente Professora Associada de
Anatomia e Diretora do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária
[responsabilidade que compartilha com o Prof. Augusto Ferreira de
Matos (Diretor Adjunto) e com os Colegas Membros da Comissão
Científica (Prof. António Rocha, Prof. Ana Lúcia Luís e Prof. Paulo
Martins da Costa) e da Comissão de Acompanhamento (Prof. Ana
Patrícia Sousa e estudantes Joana Pedro Oliveira e Micael Costa)].
PAULA PROENÇA
DIRETORA DO MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA
VETERINÁRIAIC
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de suportar. Inversamente, no que concerne às
espécies pecuárias (e.g. bovinos, suínos ou aves
de produção) a assistência médica é feita com
base no grupo de animais (o que atualmente se
pode chamar medicina ou saúde de populações),
e tendo como principais objetivos a prevenção de
doenças, a otimização das performances produ-
tivas e a salvaguarda do bem-estar animal e do
meio ambiente. Mais a jusante, o veterinário volta
a estar presente na transformação dos géneros
alimentícios de origem animal (carne, pescado,
ovos e leite), desempenhando aí funções insti-
tucionais de avaliação e controlo dos riscos de
origem alimentar para a saúde humana.
Toda esta polivalência alarga o nosso campo de
intervenção mas torna, inevitavelmente, a aprendi-
zagem um processo complexo pelo esforço muito
intensivo e pela multiplicidade de ambientes peda-
gógicos a frequentar durante a formação. A par
do nosso Hospital Veterinário para a assistência
clínica aos animais de companhia, do Campus
Agrário de Vairão, onde se localiza o Centro Clínico
de Equinos, o Centro de Reprodução Animal, e
que ainda se prolonga por uma unidade clínica
ambulatória de bovinos, dos muitos protocolos
de cooperação que celebrámos com empresas do
ramo alimentar, explorações agrícolas e pecuárias
de várias espécies, estamos empenhados na cons-
trução no concelho da Maia de um novo Centro
dedicado a animais de produção, onde se incluirá
um Hospital de Cavalos.
O que pensa da importância da relação entre a
investigação e o ensino, patente no ICBAS?
É sem dúvida biunívoca e ambas são muito
relevantes para a sociedade e economia. Se a
investigação deve suportar a excelência da for-
mação que queremos para os nossos estudantes,
também o ensino estimula e suporta a investi-
gação. Dentro do nosso MIMV, têm emergido
diversas linhas de investigação científica que,
partindo de temáticas veterinárias, se projetam
por todo o campo biomédico. Paulatinamente,
este corpo de conhecimento vai também sendo
transferido para a comunidade, sendo paradig-
mático o envolvimento de grupos de investigação
com parceiros da indústria farmacêutica e bio-
tecnológica e com diferentes fileiras agro-pecuá-
rias para apoio técnico, prestação de serviços,
desenvolvimento de novas técnicas e formação
nas áreas do melhoramento e produção animal,
nutrição e técnicas reprodutivas.
A que acha que se deve o sucesso e a inovação
do ICBAS, a nível de investigação e formação?
Indubitavelmente que o sucesso do ICBAS em
todos os domínios se deve à circunstância de dois
extraordinários professores há 40 anos – Prof.
Corino de Andrade e Prof. Nuno Grande – terem
fervorosamente acreditado que formações diver-
sas, a trabalharem em conjunto, o fazem muito
melhor – a tão atual multidisciplinaridade. Ao
terem ligado à vertente científica, outras verten-
tes como a cultural, cívica e humanista – bem
patentes na obra do nosso patrono e no lema da
nossa escola – conseguiram, diria eu, a fórmula
perfeita para o sucesso do ICBAS.
Qual o futuro da área e da importância do ICBAS
para a mesma?
Como referi anteriormente, a formação em
Medicina Veterinária tem vindo sucessivamente
a alargar o seu perímetro de forma a albergar
todas as competências médicas necessárias à
proteção da saúde dos animais e à proteção da
saúde humana nas diversas formas em que o
Homem pode interagir com os animais. Neste
contexto, há quem advogue a inevitabilidade
do nosso ensino pré-graduado deixar de assu-
mir o leccionamento de todos os campos de
intervenção veterinária, passando a concentrar
os seus recursos pedagógicos numa formação
mais especializada e, necessariamente, orientada
para determinados domínios específicos. Neste
debate, estou convencida que o nosso ICBAS
poderá dar um contributo impar, precisamente
pela sua divisa fundadora ser a integração
de matérias e especialidades, i.e. uma escola
que, ao centrar-se no Homem, no Animal e no
Ambiente – perspetiva atualmente consagrada
no mote “Uma só saúde” – invoca que o bom
exercício de qualquer profissão na área da saúde
transcende a mera interação técnica com os
pacientes, não podendo ser desligado de uma
compreensão mais abrangente do objetivo final
dos seus atos, nem das implicações futuras.
O que significa, a nível pessoal, o peso destes
40 anos, fazendo parte de uma instituição de
renome e excelência?
Uma extraordinária responsabilidade pois fazemos
parte desta história que continuará a ser contada
daqui a 40 anos…
Qual o futuro das Biomédicas?
Procurar a excelência e continuar a demonstrar
que a ideia fundacional continua operante ao
serviço da ciência e da comunidade.
O que lhe vai na alma quando pensa no ICBAS?
A minha outra casa…
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Pedro Moradas Ferreira licenciou-se em Química (Orgânica e Bio-
química) pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Em
1977 fez o doutoramento em Bioquímica na University of London e
fez treinos pós-doutoramento na Universidade Livre de Bruxelas e
Universidade Livre de Amesterdão. Foi diretor de curso de Bioquímica
e é hoje Professor Catedrático de Bioquímica do ICBAS e director do
Grupo Microbiologia Celular e Aplicada do IBMC.
PEDRO MORADAS FERREIRA
ANTIGO DIRETOR DO CURSO DE BIOQUÍMICA
Qual foi a evolução – do curso e da área nestes
40 anos?
O curso de Bioquímica começou por ser uma licen-
ciatura de 4 anos e com o processo de Bolonha foi
convertido num primeiro ciclo de 3 anos e num
2º ciclo de 2 anos. A procura pelos estudantes
é superior ao número de vagas. Atualmente a
licenciatura oferece 93 vagas, o que na minha
opinião é um número demasiado elevado e que
compromete a qualidade do curso, nomeada-
mente no ensino laboratorial. A formação dos
licenciados é de qualidade reconhecida e a carreira
de investigação é um dos alvos. É significativo o
número de bioquímicos da UPorto a terem grande
sucesso na investigação quer aqui em Portugal
quer no estrangeiro. A licenciatura e o mestrado
permitem a formação em tópicos actuais e o
plano curricular destes cursos reflete a evolução
da biologia molecular. Posso afirmar que quer
os licenciados quer os mestres saem da UP com
formação avançada e bem atualizada, para a qual
contribui a qualidade dos docentes, a maioria
trabalha em investigação
O que pensa da importância da relação entre a
investigação e o ensino, patente no ICBAS?
Qualquer instituição de ensino universitário
tem por inerência desenvolver investigação, e o
ICBAS tal como outras unidades orgânicas numa
Universidade cumpre com a missão de gerar
novos conhecimentos. Não creio que o ICBAS
tenha uma abordagem diferente. A articulação
do conhecimento passa pelo ensino ser feito
por investigadores. Mas isto não significa que os
docentes só ensinam o que investigam, há que
formar os estudantes nos conceitos fundamentais.
A que acha que se deve o sucesso e a inovação
do ICBAS, a nível de investigação e formação?
O sucesso do ICBAS tem um princípio que foi
política da comissão instaladora: estimular as
iniciativas quer a nível de ensino novo quer de
investigação científica. A filosofia sempre foi de
apoiar quem quer fazer. E esta atitude nunca
deixou de existir.
Qual o futuro da área e da importância do ICBAS
para a mesma?
A Bioquímica/Biologia Molecular procura descobrir
os mecanismos moleculares da vida quer sejam
em células normais, quer quando envelhecem ou
quando de uma patologia. Os sistemas biológicos
podem ser o homem, os seres marinhos ou os
animais. Isto significa que a bioquímica tem a
plasticidade para integrar estudos em qualquer
sistema biológico ou seja é importante numa
escola de ciências biológicas/ biomédicas e se con-
siderar a medicina molecular ou a bioengenharia
não tenho duvida que estamos a falar do futuro.
O que significa, a nível pessoal, o peso destes
40 anos. Fazendo parte de uma instituição de
renome e excelência?
Estou satisfeito em pertencer ao corpo docente
de uma instituição que tem prestígio. As circuns-
tâncias levaram a desenvolver a investigação
noutra instituição: o IBMC, que tem sido um
centro de grande qualidade científica em que
me sinto muito bem. As novas instalações do
ICBAS chegaram muito tarde para os que como
eu iniciámos o trabalho nos finais dos anos 70…
trabalhava-se em condições muito más. Mas não
desistimos de fazer o melhor e fizemos muito
bom trabalho.
Qual o futuro das Biomédicas?
Esta é a pergunta que quem tiver a resposta certa
ganha o prémio do milhão de euros! O futuro
depende de tantos factores! O que posso dizer
é qual o futuro que gostaria que acontecesse:
continuar com ensino de exigência de qualidade,
ter um corpo docente com uma atividade de inves-
tigação científica de alto nível, ser pioneiro na
missão para o qual foi criado: gerar conhecimento
e formar profissionais competentes.
O que lhe vai na alma quando pensa no ICBAS?
É o local de trabalho, a instituição que ajudei a
construir desde outubro 1977 e que me paga o
ordenado que é essencial para viver.
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João Coimbra licenciou-se em Biologia pela Universidade de Coimbra
e doutorou-se em Ciências pela Universidade de Nice. Estagiou no
Comissariado da Energia Atómica Francês. Foi, durante 20 anos diretor
de curso de Ciências do Meio Aquático e é actualmente vice-presidente
da Ordem dos Biólogos e professor jubilado do ICBAS.
JOÃO COIMBRA ANTIGO DIRETOR DO CURSO CIÊNCIAS DO MEIO AQUÁTICO
Qual foi a evolução – do curso e da área – nestes
40 anos?
O perfil definido para os licenciados em Ciências
do Meio Aquático correspondeu, no início, ao
conferido por uma licenciatura de tipo técnico,
equivalente nas atividades aquáticas ao agró-
nomo, veterinário, ou engenheiro de produção
animal. A tónica do curso centrava-se na aptidão
técnica, capacidade de decisão, de investigação
e de resolução prática de problemas, fazendo uso
dos princípios científicos adquiridos no curso.
As primeiras análises à situação do emprego dos
licenciados em CMA (realizadas em 1985 e 198e a
experiência do ensino durante os primeiros anos
de funcionamento, aconselharam a realização de
uma primeira reforma curricular.
O facto mais marcante foi o aumento da oferta
de empregos na indústria, não tanto na área
das pescas e da aquacultura, como tínhamos
imaginado, não obstante o investimento que
começava a aparecer, mas sim na área da trans-
formação do pescado. Deste facto e da procura
crescente dos alunos por um estágio profissional,
resultou uma revisão curricular na qual: a) se
passou a licenciatura para 5 anos, tornando o
estágio obrigatório; b) se reforçaram as discipli-
nas que conferiam uma formação de gestores
aos licenciados (Economia e Contabilidade e
Gestão de Empresas); c) se ampliava o tempo
dedicado às disciplinas básicas de aquacultura
(Engenharia Aquática e Sistemas de Produção);
e d) se incluía um estágio anual no 5º ano,
acompanhado por duas disciplinas opcionais e
duas disciplinas obrigatórias, uma de Legislação
sobre Recursos Hídricos e outra sobre Maquinaria
e Equipamento, esta última proposta pelos nossos
consultores ligados à indústria.
Esta revisão curricular, preparada entre 1987 e
1988, só foi publicada em 1990, pelo que os pri-
meiros alunos a concluir a licenciatura de acordo
com o novo currículo, só saíram para o mercado
do trabalho em 1995! Nessa altura já a situação
do emprego tinha mudado substancialmente,
sobretudo após a entrada de Portugal na CEE (em
1986), pelo que se começou imediatamente a pre-
parar uma nova reforma que entraria em vigor no
ano letivo de 1999/2000. Felizmente, o currículo
da licenciatura foi sempre muito abrangente e
possuía um curso básico muito forte, comum a
outras licenciaturas, em particular à medicina,
mas a experiência dos primeiros anos mostrou
quão importante é a rapidez na efetivação dos
ajustamentos e, sobretudo a realização de um
bom exercício de prospetiva. Este exercício rara-
mente é feito nas nossas universidades, onde se
dá em regra uma importância maior aos núme-
ros do emprego “que existe” e às opiniões dos
empresários do momento. No nosso caso, por
exemplo, quando os primeiros alunos saíram licen-
ciados segundo o novo currículo, já a maioria das
empresas de transformação do pescado estavam
falidas ou tinham deslocalizado as suas atividades
para o Norte de África. Não só as nossas, bem
como a maioria das empresas europeias. Outras
alterações profundas ocorreram igualmente,
com grande rapidez, após a nossa adesão à CEE,
nomeadamente na área da proteção ambiental,
alterando muito, não só a oferta de emprego
como as ambições dos estudantes.
O esquema de tronco comum inicialmente
estabelecido no ICBAS foi entretanto alterado de
forma a evitar a transferência massiva de alunos
das outras licenciaturas para Medicina, situação
generalizada no país. Desta forma, as revisões cur-
riculares subsequentes sofreram alguma alteração
estrutural, mantendo embora todas as valências
dos licenciados em Ciências do Meio Aquático. A
utilização intensiva do programa Erasmus/Sócrates
contribuiu largamente para uma diversificação dos
perfis e constituiu uma mais-valia considerável em
termos de competição do mercado de trabalho.
Acompanhando a evolução da economia do país
e a tendência atual para uma re-industrialização,
grande número de alunos voltou a ter preferência
por áreas mais ligadas à produção, nomeada-
mente aquacultura, transformação do pescado
e biotecnologia.
O que pensa da importância da relação entre a
investigação e o ensino, patente no ICBAS?
A relação íntima entre a investigação e o ensino
foi sempre a marca de água da atividade do
ICBAS. A este respeito eu destacaria os seguintes
aspetos que terão contribuído para que a inves-
tigação tenha tido, desde sempre, um impacto
positivo no ensino que se ofereceu - e oferece
- no ICBAS:
– a maior parte dos docentes integra, ou criou
mesmo, centros de investigação nas áreas de
atuação da Escola, desenvolvendo neles intensa
atividade científica, e não há, como se sabe,
verdadeiro ensino universitário sem docentes/
investigadores atualizados. E hoje o paradigma
do ensino passou, como é comum dizer-se, da
aquisição de dados ou conhecimentos (cada vez
mais rapidamente perecíveis), para a aquisição
de aptidões;
– as sucessivas direções mantiveram sempre uma
relação saudável com estes centros, acarinhan-
do-os e protocolando inclusivamente acordos de
cooperação para o ensino pós-graduado, o que
ainda hoje não é muito comum;
– o contacto com docentes/investigadores de áreas
diferentes da Biologia Básica e Aplicada, dá aos
alunos uma perspetiva mais rica e abrangente,
estimulando a diversidade e fortalecendo a
individualidade.
– Com docentes/investigadores habituados a lidar
com temas pluri e transdisciplinares, foi possível
criar mesmo “laboratórios” práticos comuns
a diversas disciplinas e cursos, na chamada
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“reforma Quintanilha”, situação que ainda se
mantém;
– a colaboração do ICBAS com um número elevado
de instituições e empresas, permite aos alunos
verificar o interesse da investigação para as ati-
vidades económicas e sociais e compreender o
valor da ciência e do método científico;
– finalmente, sendo certo que em cada época
a universidade mimetiza a sociedade e a sua
forma de produzir riqueza, e estando a universi-
dade hoje no centro da nossa forma de produzir
riqueza, através da inovação (o conhecimento
novo), é importante que os alunos apreendam a
forma de trabalho e de organização das unidades
de investigação e das instituições associadas ao
ICBAS em contacto com as quais estão, através
dos docentes;
A que acha que se deve o sucesso e a inovação do
ICBAS, a nível de investigação e formação?
Uma boa parte desta questão está já respondida
em 2. Gostaria apenas de acrescentar dois pontos
que correspondem ao ADN do ICBAS:
- O primeiro ponto diz respeito à importância
atribuída à investigação biológica comum a várias
áreas, desde a medicina às ciências marinhas,
passando pela veterinária e pela agronomia. A
este respeito, cito dois parágrafos de um relatório
produzido na altura do começo do ICBAS por três
consultores do presidente da república francesa,
François Gros, François Jacob e Pierre Royer (os
dois primeiros prémio Nobel), e que correspondem
exatamente à filosofia do ICBAS:
“Não existe uma situação evidente de hierarquia
entre uma Biologia de base dadora de conceitos
e de técnicas e uma Biologia Aplicada recetora em
Medicina, Agronomia e Bio-oceanografia. É pre-
ferível imaginar o sistema relacional das Ciências
da Vida como uma imbricação muito estreita dos
temas, das equipas e dos homens numa unidade
cada vez maior – e móvel – dos conceitos e dos
métodos.”
“As transformações rápidas dos conhecimentos
e das aplicações que se podem imaginar, deve vir
a manifestar-se neste lapso de tempo nos setores
considerados, dependem certamente, e antes
de mais, dos progressos da Biologia Básica. Elas
serão também o resultado da própria dinâmica das
investigações orientadas em cada um dos setores,
mais vigorosa para já em Medicina e Agronomia do
que em Bio-ocenaografia. Elas decorrerão, enfim,
dos progressos dos outros setores da Ciência e
Tecnologia.”
- A segunda foi a decisão, à época pouco comum,
de estabelecer protocolos de ensino com institui-
ções exteriores à escola, com o objetivo de tornar
o ensino das disciplinas de natureza profissionali-
zante mais forte e adequado à realidade da vida
económica e social. Foi assim, desde o início com
o HGSA (Medicina) e com o INIP hoje IPMA (CMA
e depois Mestrado em Ciências do Mar: Recursos
Marinhos), e é assim ainda hoje com um número
elevado de instituições (incluindo empresas) que
participam no ensino, desde o primeiro ao terceiro
ciclos. Noutros casos, como nas lic em Bioquímica
e em Engenharia Biomédica, foi estabelecida cola-
boração com outras faculdades (FCUP e FEUP)
com o objetivo de tirar partido das respetivas
complementaridades.
Qual o futuro da área e da importância do ICBAS
para a mesma?
É sempre difícil fazer previsões, sobretudo numa
área de natureza tão pluridisciplinar como é a das
Ciências do Mar (ou as Ciências do Meio Aquático),
tão dependente dos avanços, tantas vezes inespera-
dos, dos diversos ramos da ciência e da tecnologia.
Pondo de parte os avanços imprevistos, é contudo
possível levantar um pouco o véu do futuro pró-
ximo, olhando para o que são os principais desa-
fios que se colocam hoje à humanidade e para o
impacto que o desenvolvimento económico e social
trará para o meio aquático. Logo à partida, o pri-
meiro problema que existe é o da sustentabilidade
do desenvolvimento económico. O efeito de estufa,
devido à utilização de combustíveis fósseis, e o
consequente aumento de temperatura e do nível
médio do mar, aliados ao enorme aumento da
poluição aquática devida às atividades industriais,
e a sobrepesca, tem levado à exaustão de muitos
stocks de peixes e de outros animais aquáticos
e a uma perda constante de biodiversidade. Na
próxima década assistiremos a um enorme desen-
volvimento da exploração do mar no domínio das
energias renováveis (energia eólica off-shore, das
ondas, correntes e marés, dos gradientes térmicos
e da extração de combustíveis a partir das algas);
da abordagem ecossistémica na gestão das pescas;
da aquacultura sustentável; das biotecnologias
marinhas e do tratamento químico e biológico
dos efluentes urbanos e industriais. Haverá pois
necessidade de quadros competentes em todas
estas áreas. A recente revolução no domínio das
TIC faz diminuir constantemente o preço dos equi-
pamentos e a potência dos computadores. Os
sistemas de GPS generalizar-se-ão e tornarão mais
precisos os equipamentos de deteção remota. Estes
avanços permitirão monitorizar e modelar cada vez
melhor os fenómenos atmosféricos e oceânicos
melhorando as previsões. O papel dos navios de
investigação será cada vez mais complementado
por uma panóplia de instrumentos de observação,
colheita, registo, transmissão, armazenamento
e gestão de dados oceanográficos (ROVs, AUVs,
Gliders, satélites, boias, radares, sensores variados,
supercomputadores).
A associação do gene ao computador permitirá
avanços ainda maiores no domínio da genómica
e da proteómica. Estes avanços conduzirão a um
grande desenvolvimento da biologia e da biotec-
nologia marinhas. Juntamente com o progresso da
oceanografia e da química bem como das técnicas
de modelação e gestão de sistemas complexos,
permitirá avançar nos estudos do funcionamento
dos ecossistemas (ou biodiversidade funcional),
bem como do planeamento espacial do meio
marinho e gestão integrada da zona costeira.
A avaliação do risco ecológico associada às ativi-
dades marítimas será igualmente uma área de
grandes progressos e de investigação pluridiscipli-
nar onde os biólogos terão o seu papel.
Neste contexto, o ICBAS terá sempre a possibilidade
de desempenhar um papel importante, sobretudo
se se mantiver fiel à sua vocação de plataforma de
investigação e ensino da Biologia Básica e Apli-
cada, favorecendo as transferências de conceitos
e de tecnologias da Medicina, onde as novidades
acontecem sempre primeiro pela enorme pressão
social sobre os problemas da saúde, e da veteriná-
ria e agronomia, onde as questões da alimentação
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são também alvo de grande pressão, para a bio-
oceanografia, de desenvolvimento mais recente.
Em troca as ciências do mar irão contribuir com as
questões ligadas ao equilíbrio ambiental e com o
estudo de modelos biológicos diferentes, bem
como com a descoberta de novas moléculas de
interesse farmacêutico e industrial.
Na minha opinião, contudo, será importante, para
além do reforço das suas capacidades internas,
que o ICBAS alargue igualmente a cooperação
externa a outras faculdades (FCUP, FEUP, FEP e a
FDUP) e com outros parceiros no sentido se dar
aos seus alunos a perspetiva multidisciplinar que
a área exige.
O que significa, a nível pessoal, o peso destes 40
anos, fazendo parte de uma instituição de renome
e excelência?
Sinceramente, nunca pensei muito nisso. Procurei
ser sempre um ator neste papel de contribuir
para o sucesso do projeto do ICBAS, onde entrei
em 13 de agosto de 1975, poucos dias após a
sua criação oficial. O que eu senti com alguma
frequência é que o sucesso de outros colegas,
mesmo de áreas diferentes, se refletia por vezes
positivamente na minha ação junto de entidades
exteriores à escola, o que era muito agradável.
Nos anos de “brasa” da implantação da licencia-
tura em CMA, como mais tarde, nas comissões de
especialidade da FCT, na redação de programas
de investigação a nível nacional ou europeu, na
representação em Bruxelas, nas assembleias da
COI da Unesco, no Marine Board da European
Science Foundation ou nas atividades das institui-
ções de que fui Director Fundador, só pensava em
fazer o melhor possível, e defender os interesses
do ICBAS, quando estivessem em causa. Não
havia tempo para pensar em mais nada, sob
pena de ficar parado…
Qual o futuro das Biomédicas?
O Professor António Câmara escreveu um livro
que eu tive a oportunidade de oferecer aos
meus colaboradores mais próximos quando era
diretor do CIIMAR, e que se intitula: “O futuro
inventa-se”. É o que eu penso. Compete às novas
gerações “inventar” o futuro ICBAS. Para já têm
um belo ponto de partida e algumas vantagens
competitivas que derivam do posicionamento da
escola no domínio da Biologia Básica e Aplicada.
Mas o mundo continua a girar e os outros não
estão parados. O mais importante é pois manter
a capacidade de inovar. A autossatisfação é em
regra fatal!
O que lhe vai na alma quando pensa no ICBAS?
Após estes quarenta anos em que, sempre ligado
ao ICBAS, criei algumas instituições (associações
privadas sem fins lucrativos) que atuaram, ou
atuam, em áreas complementares da atividade
do ICBAS no domínio das Ciências e Tecnologias
do Mar (CIIMAR-Centro Interdisciplinar de Investi-
gação Marinha e Ambiental, CIMAR- Laboratório
Associado. IDCEM- Instituto para o Conhecimento
e a Economia do Mar e OCEANO XXI- Cluster do
conhecimento e da economia do mar), penso
sempre no ICBAS como se pensa na casa dos pais
e, no meu caso, na casa materna: um ecossistema
onde se cresceu e se foi feliz.
António Rocha licenciou-se em Medicina Veterinária pela Universidade
Eduardo Mondlane, Moçambique. Mestreou-se e doutorou-se em
Fisiologia Reprodutiva na Universidade de Texas A&M e fez um
pós-doutoramento em biotecnologias reprodutiva na Louisiana State
University. Actualmente pertence ao Colégio Europeu de Reprodução
Animal (ECAR) e é Professor Catedrático de Teriogenologia no ICBAS
e responsável pelo Centro de Reprodução Animal de Vairão (CRAV),
tendo sido também diretor do curso de Medicina Veterinária.
ANTÓNIO ROCHAANTIGO DIRETOR DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
Qual foi a evolução – do curso e da área – nestes
40 anos?
O curso, que está longe de ter 40 anos, evoluiu
muito em termos de infra-estruturas e de quali-
ficação académica do corpo docente. Tornou-se
uma referência nacional em algumas áreas.
Como seria de esperar, perdeu-se um pouco o
espírito de equipa e diminuiu a disponibilidade
dos estudantes em relação aos dos anos iniciais.
Em relação à Medicina Veterinária em geral as
mudanças tecnológicas vistas nestes 40 anos
foram dramáticas, fazendo esta área ainda mais
fascinante do que era.
O que pensa da importância da relação entre a
investigação e o ensino, patente no ICBAS?
É seguramente um dos pontos fortes do ICBAS.
A Veterinária beneficiou (incluindo na minha
área, reprodução assistida) da colaboração
com fortes grupos de investigação já instituídos
quando o nosso curso se iniciou. Hoje o potencial
de investigação multidisciplinar do ICBAS está
claramente incrementado com o desenvolvimento
da Medicina Veterinária e ainda está muito longe
de ser plenamente explorado, nomeadamente no
que diz respeito á saúde dos sistemas de produção
aquáticos. Creio que o ICBAS, com um curso de
Medicina Veterinária e de Medicina Humana,
pode e deve ser um líder na investigação da
chamada “One Health”. Por outro lado temos
de assegurar que não se criam assimetrias na
investigação em Medicina Veterinária que podem
ter reflexos menos positivos na relação entre
investigação e o ensino, e mesmo na prática
clínica veterinária.
A que acha que se deve o sucesso e a inovação
do ICBAS, a nível de investigação e formação?
Um corpo de estudantes intelectualmente muito
capaz, um corpo docente técnica e cientificamente
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É uma das mais antigas funcionárias do ICBAS: o seu primeiro
emprego foi na Universidade de Luanda como Auxiliar de
Laboratório em Bacteriologia. Ingressa no ICBAS em 1976
como Auxiliar de Laboratório para o Departamento de Fisiolo-
gia. Em 1982 começou a dar apoio ao Ensino e Investigação,
tornando-se técnica auxiliar de 1ªclasse no Laboratório de
Nutrição. É, desde 1984, técnica especialista no Laboratório
de Farmacologia do ICBAS.
bem formado e com uma origem variada e
multidisciplinar, uma filosofia que premeia a
investigação, e muito provavelmente as bases de
responsabilidade social e científicas deixadas pelos
seus fundadores, bem representadas pelo único
que eu tive o privilégio de conhecer, o Professor
Nuno Grande.
Qual o futuro da área e da importância do ICBAS
para a mesma?
Tudo indica que o ICBAS vai continuar a ser uma
instituição de referência na área das Ciências Bio-
médicas, e que irá expandindo e solidificando o
seu papel na área da Medicina Veterinária.
O que significa, a nível pessoal, o peso destes
40 anos?
Fazendo parte de uma instituição de renome e
excelência? O peso para mim é menor – próximo
dos 20 anos! E não tem sido um peso mas sim
uma honra e um desafio, com os seu altos e bai-
xos, com sucessos e ocasionais frustrações, mas
sempre uma aventura.
Qual o futuro das Biomédicas?
A vida ensinou-me que sou péssimo a prever o
futuro, mas neste caso parece inevitável concluir
que vai continuar a ser uma instituição de renome
nacional e internacional na área das Ciências Bio-
médicas em geral, e na da Medicina Veterinária
em particular.
MARIA HELENA COSTA SILVA
COLABORADORA
Qual foi a evolução do ICBAS nestes 40 anos?
Foi excelente e muito rápida… E tudo se deve à
Ciência e Inovação praticada por todos os que
passaram por esta Instituição: Professores Inves-
tigadores, Técnicos e Administrativos.
A que acha que se deve todo este sucesso?
Deve-se a uma visão diferente dos seus fundado-
res e a um espírito de equipa de todo o pessoal
incluindo todos os Professores e funcionários.
O que significa, a nível pessoal, o peso destes
40 anos, fazendo parte de uma instituição de
renome e excelência?
Significa muito trabalho, muito esforço (mesmo
fora de horas), para que esta Instituição fosse
aprovada e desse os frutos que hoje se estão a
colher.
O que lhe vai na alma quando pensa no ICBAS?
Uma sensação de saudade e de bons momentos
que passei e, apesar de se trabalhar muitas horas
existia um espírito de alegria e de confraterniza-
ção entre todos. Tudo passou muito rápido e ainda
hoje é um orgulho trabalhar no ICBAS.
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É também das mais antigas funcionárias do ICBAS: entrou em
1977 para o seu primeiro emprego, na Repartição de Alunos da
Universidade do Porto com funções relacionadas com inscrições e
exames, etc. de estudantes do ICBAS, até 1985. Desde então até 2001
desempenhou, no Departamento de Ensino Pré Graduado no HGSA,
entre outras, as funções de coordenação do serviço de Secretariado
da Direção, Comissão Científica e Comissão Pedagógica. Tomou posse
como chefe de secção dos Serviços Académicos do Porto em 2003,
onde ainda se encontra atualmente.
MARIA MANUELA FRIASCOLABORADORA
Qual foi a evolução do ICBAS nestes 40 anos?
Comecei as minhas funções no ICBAS há precisa-
mente 37 anos e meio e embora, inicialmente, tenha
sido colocada nos Serviços Centrais da Universidade
do Porto, havia uma relação próxima e de amizade
com os estudantes, funcionários e Docentes do Ins-
tituto. Noto que de alguns anos a esta parte, com
imensa pena minha, as relações entre as pessoas
tornaram-se diferentes, já não são tão humanas,
alegres e bem dispostas, como eram!
Tínhamos um convívio muito saudável com os
estudantes, desde a hora de almoço com Tor-
neios de Ping-Pong, Natação ao fim de semana,
passeios de lazer e Festas de Fim de Ano e Carnaval
com muita alegria e boa disposição.
A evolução do ICBAS é de certa forma positiva na
aprendizagem e no desenvolvimento como Escola,
mas nalguns pontos não é tão positiva assim, em
comparação com os 1ºs anos em que havia mais
companheirismo.
A que acha que se deve todo este sucesso?
O sucesso deve-se essencialmente à luta e per-
sistência das pessoas que estavam à frente da
Escola, bem como os estudantes do 1ª Curso que
lutaram contra tudo e todos a continuidade do
curso de Medicina, quando havia interesses de
fora para que o Ciclo Clinico não abrisse e assim
o Protocolo ICBAS-HGSA teve muitas dificuldades
para que os respetivos Ministérios da Educação e
Saúde o assinassem.
O que significa, a nível pessoal, o peso destes
40 anos, fazendo parte de uma instituição de
renome e excelência?
A nível pessoal, sinto uma felicidade imensa
por pertencer ao grupo dos que de certa forma
colaboraram e deram tudo para que o ICBAS
seja o que é hoje, uma Instituição de renome
e Excelência.
O que lhe vai na alma quando pensa no ICBAS?
Fazendo uma retrospetiva na minha caminhada
no ICBAS, sinto um carinho muito especial pela
Escola que é presentemente e uma Felicidade
imensa por pertencer ao grupo dos que ajudaram
nesta caminhada.
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SARAH MOTA DE OLIVEIRAPRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO
DE ESTUDANTES
O ICBAS assumiu-se desde a criação como uma
escola multidisciplinar e transversal a diversas
áreas da ciência da vida e é nesse mesmo
âmbito que a associação de estudantes se
insere. Desde os primórdios da sua criação a
Associação de Estudantes aliada ao conceito
no qual a escola foi fundada assumiu-se como
representantes dos vários cursos fazendo jus à
citação “o Médico que só sabe Medicina nem
Medicina sabe”. Atualmente, o ICBAS é reco-
nhecido nacionalmente e internacionalmente
pela sua qualidade de formação e pela sua
investigação científica.
A qualidade dos vários cursos que leciona é indu-
bitável. Apesar de haver ainda muito caminho a
percorrer, é sem dúvida um orgulho para todos
os estudantes do ICBAS estudar numa instituição
de tão elevado prestígio.
Aluna do 4º ano do Mestrado Integrado em Medicina.
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Ricardo Ribas Santos, aluno finalista do ICBAS em Medicina Vete-
rinária em 2000 e doutorado pelo Roslin Institute em Edimburgo,
trabalha actualmente no Institute of Cancer Research, na área de
Endocrinologia Molecular.
RICARDO RIBAS SANTOS ANTIGO ALUNO
Qual o peso pessoal e profissional de 40 anos de
história do ICBAS?
Desde a sua criação que o ICBAS se posicionou
na vanguarda das faculdades em Portugal, con-
tribuindo para a formação de várias gerações
de profissionais que se projectaram quer a nível
nacional quer internacional. Mas não é só em
termos académicos que o ICBAS se destacou.
Também cientificamente, se distinguiu na área das
ciências biomédicas, contribuindo para um vasto
número de estudos e publicações de alto calibre. O
património criado pelo ICBAS nos últimos 40 anos
teve um peso pessoal e profissional extraordinário.
Que outros 40 anos sucedam!
Em que medida acha importantes os valores que
recebeu no ICBAS?
Os valores adquiridos durante o período em que
estudei no ICBAS foram imprescindíveis para o meu
crescimento profissional e pessoal. Foi aqui que
adquiri os conhecimentos que me permitiram pro-
gredir na carreira de investigação científica, assim
como foi aqui que conheci colegas e profissionais
que para sempre permanecerão ligados a mim.
Além disso, o facto de ter ingressado no ICBAS
no ano em que o curso de medicina veterinária
foi inaugurado, ensinou-me a ter perseverança e
paciência. Cada dia era uma surpresa, o que nos
deixava a todos um pouco ansiosos. Foram tempos
difíceis, mas muito divertidos e a cooperação e
trabalho árduo e mútuo entre alunos, professores
e profissionais do ICBAS, culminaram no actual
sucesso desta licenciatura.
De que forma a formação recebida no ICBAS o
ajudou no seu percurso profissional?
Extremamente! O facto de ter estudado numa
faculdade com um grande componente científico,
semeou em mim uma grande vontade de seguir
a carreira de investigação. Após ter trabalhado
durante alguns anos como médico veterinário,
decidi seguir o meu sonho, e com o apoio de
vários professores do ICBAS, tentei a minha sorte
e concorri para uma bolsa de doutoramento. Foi
com grande surpresa que fui selecionado, o que
me permitiu iniciar a carreira que sempre sonhei.
Desde então, finalizei o meu doutoramento na
área da clonagem de animais num dos laborató-
rios mais famosos do mundo, e subsequentemente
tenho vindo a trabalhar como investigador no Ins-
titute of Cancer Research em Londres, um dos mais
prestigiados institutos de investigação na área do
cancro. Nada se deveu ao acaso! Sem a minha
licenciatura e o apoio constante desta faculdade
e dos seus profissionais, nunca teria alcançado
tal sucesso. É no entanto importante realçar que
não foi só em termos profissionais que o ICBAS
delineou a minha vida. Concomitantemente,
conheci pessoas sensacionais e memoráveis que
ficarão enlaçadas à minha vida eternamente.
Muito obrigado por tudo, ICBAS!
Qual o futuro das Biomédicas em Portugal?
Com o apogeu da investigação na área das
biomédicas assim como a introdução de novas
tecnologias de diagnóstico e tratamento de
doenças, a formação específica de profissionais
na área da saúde é de primordial importância
no futuro de Portugal. Desde sempre, o ICBAS
tem injetado no mercado grande número de
excelentes profissionais, altamente familiarizados
nas mais recentes tecnologias, demonstrando a
enorme contribuição desta instituição. É portanto
de primordial importância que o ICBAS continue
a exercer este excelente trabalho nos anos que
se seguem.
O que lhe vai na alma quando pensa no ICBAS?
Aprendizagem, divertimento, camaradagem,
felicidade, amizade e muitas, muitas memórias.
Foi durante a minha passagem pelo ICBAS que
vivi alguns dos momentos mais felizes da minha
vida e que permanecerão para sempre na minha
memória. Parabéns ICBAS!
ICBA
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NURIA BAYLINA
ANTIGA ALUNA
Qual o peso pessoal e profissional de 40 anos de
história do ICBAS?
Conheço o ICBAS desde que pensei ir para lá
estudar, em 1988. Gostei muito dos anos em que
frequentei o ICBAS, tanto no aspeto pessoal de
contacto com os professores e restantes alunos
como da formação que me permitiu seguir a vida
profissional que tenho hoje.
Em que medida acha importantes os valores que
recebeu no ICBAS?
Os anos de Universidade são muito importantes
na formação pessoal de cada um pois é uma idade
em que se fazem escolhas importantes na vida
e obviamente eu não sou exceção. Os valores
que recebi no ICBAS, tanto da própria Instituição
como das pessoas com quem me cruzei, foram
importantes na minha formação e nas escolhas
que fiz a nível profissional (e também pessoal).
De que forma a formação recebida no ICBAS o
ajudou no seu percurso profissional?
Teve toda a influência. Não tive qualquer dúvida
na escolha do curso que queria tirar mas o tipo
de formação que recebi foi muito importante
para o meu futuro profissional. A escolha da
área dos Aquários Públicos surgiu também
durante a frequência do curso pois foi durante
uma apresentação do Dr. Mike Weber, sobre uma
viagem que fez ao Japão, que tive o primeiro
contacto com a realidade dos Aquários Públicos
de grandes dimensões e que me fez dirigir a
minha formação para essa área. Foi também
o Dr. Mike Weber que me ajudou na escolha do
Aquário Público em que estagiei após a conclu-
são da licenciatura. A bolsa que consegui para
fazer o meu estágio em Itália só foi possível com
o apoio institucional do ICBAS mesmo após o
término da Licenciatura.
Qual o futuro das Biomédicas em Portugal?
Não é a minha área de atividade mas penso que
é uma área em expansão em Portugal e com
bastante sucesso. Espero que assim continue.
O que lhe vai na alma quando pensa no ICBAS?
O ICBAS traz-me boas recordações! Foram anos
importantes da minha vida durante os quais
conheci pessoas que foram determinantes na
minha vida.
Nuria Baylina licenciou-se em Ciências do Meio Aquático pelo ICBAS
em 1993 e é actualmente curadora no Oceanário de Lisboa, há já
18 anos.
PAULO CUNHA E SILVA ANTIGO ALUNO
Qual o peso pessoal e profissional de 40 anos de
história do ICBAS?
Um peso leve e denso simultaneamente. A leveza
de poder pensar sem amarras, mas a presença
permanente da densidade do conhecimento. Ou
seja, a demonstração de que o pensamento é livre
mas não é libertino.
Paulo Cunha e Silva é um antigo aluno
de Medicina do ICBAS e atual vereador
da cultura da Câmara Municipal do
Porto. Foi professor associado de Pensa-
mento Contemporâneo na FADEUP e é
produtor de trabalhos teóricos de artes
plásticas e contemporâneas.
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Celebrou-se no passado dia 10 de abril, o 40ºani-
versário do ICBAS, que contou com a presença de
variadas individualidades das biomédicas, ensino,
política e cultura portuguesas.
Pelas dez horas de sexta-feira, dia 10, começaram
a chegar os primeiros convidados. O evento era
aberto a toda a comunidade académica e entre
ela encontrava-se a ex-equipa reitoral, os represen-
tantes das entidades com protocolos com o ICBAS
e das restantes unidades orgânicas da UPorto,
docentes e não-docentes da UP, estudantes, jor-
nalistas, entre muitos outros.
O evento contou com a intervenção e presença
na mesa presidencial, do Ministro da Saúde,
Dr. Paulo Macedo, o Secretário de Estado do
Ensino Superior, Prof Dr. José Ferreira Gomes, a
vereadora e vice-presidente da Câmara Municipal
do Porto, Dr.ª Guilhermina Rego e o reitor da
Universidade do Porto, Prof Dr. Sebastião Feyo
de Azevedo. Também pertenceram à mesa da
presidência e tiveram o dom da palavra, o diretor
do ICBAS, Professor Dr. António Sousa Pereira, e a
presidente da AEICBAS e atual aluna do Mestrado
Integrado em Medicina, Sarah Oliveira. Marcou
também presença na mesa o Presidente do
Conselho de Administração do Centro Hospita-
lar do Porto, Dr. Sollari Allegro. Foram também
oradores o 16º reitor da UPorto, Prof Dr. Alberto
Amaral e o vereador da cultura, antigo aluno
de medicina do ICBAS e professor da UP, o Prof
Dr. Paulo Cunha e Silva.
Durante a sessão discutiu-se a evolução do ensino
e investigação das biomédicas em Portugal e no
ICBAS, o estado da medicina e das ciências na
actualidade, a acção do governo na educação
e investigação e o contributo do ICBAS para a
sociedade desde a sua fundação até aos dias de
hoje e no futuro.
De realçar o discurso do diretor do ICBAS, Prof
Sousa Pereira, que sublinhou que “com quarenta
anos de idade, o ICBAS é uma instituição jovem e
onde ainda se cultiva a irreverência”, sendo que
“inovar hoje em dia em investigação está, con-
tudo, para lá de nos relacionarmos apenas com
as ciências da vida”. Assegurou ainda que “temos
já um passado de que nos podemos orgulhar e
que é garantia de que estamos dispostos a encarar
de frente os desafios que se avizinham. Haja da
parte de quem detém o poder a vontade de nos
dar as condições mínimas para um funcionamento
digno”, mostrando pessoalmente que “Podem
contar connosco sempre”.
O elemento-surpresa foi a entrega da Medalha
de Serviços Distintos Grau “Ouro” pelo Dr. Paulo
Macedo ao ICBAS. Recebeu-a o diretor da ins-
tituição e a decisão do governo baseou-se na
“contribuição dada [pelo ICBAS] no ensino e
40º ANIVERSÁRIO ICBAS ICBAS EM DIA DE FESTA NOS 40 ANOS
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formação de médicos e os resultados atingidos no
âmbito da investigação científica”, sublinhando “a
oferta de serviços especializados à comunidade”
e os resultados produzidos por “investigadores de
renome internacional, que desenvolvem um tra-
balho significativo em múltiplas áreas científicas”.
No final do evento houve espaço para uma entrega
de pequenas lembranças por parte do ICBAS. O
pisa-papéis, peça em cristal da Atlantis (Vista Ale-
gre) com o emblema dos 40 anos, foi entregue às
personalidades mais emblemáticas da história do
ICBAS e que contribuíram ativamente para o seu
crescimento: aos membros convidados da mesa da
presidência, aos oradores, ao Prof Novais Barbosa,
Prof António Cardoso, Prof Marques dos Santos e
à Prof Dr.ª Catarina Grande, filha Prof Dr. Nuno
Grande, como forma de tributo à memória do
co-fundador do ICBAS.
A Sessão Comemorativa marca o arranque de um
conjunto alargado de eventos que decorrerão ao
longo deste ano, de forma a assinalar o aniversário
e fazer jus à importância na sociedade das ciências
da vida e investigação.
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“Agradeço o convite para a celebração dos 40 anos do ICBAS, o qual tem
particular significado para mim devido à minha participação nas fases
iniciais do projeto, quer como docente, quer como diretor da Faculdade de
Ciências. Data desse período a criação da licenciatura em Bioquímica, entre
a Faculdade de Ciências e o ICBAS, na altura considerado quase um atentado
aos bons costumes de separação das escolas então em vigor.
É incontornável recordar dois nomes, Corino de Andrade e Nuno Grande.
Nuno Grande foi o grande implementador do projeto que Corino de Andrade
sonhou – a criação de um grande instituto de investigação e ensino na área
das ciências da vida de onde emergiriam diversas formações: Medicina,
Medicina Veterinária, Biologia, Bioquímica, Biofísica, Ciências do Meio
Aquático, etc.
Esse sonho não se concretizou plenamente mas foram sendo dados passos
importantes, quer na formação pós-graduada (exemplo o GABA) e na inves-
tigação, tal como se materializou no I3S.
Mas antes de prosseguir permitam-me uma digressão pela formação em
Medicina. Portugal é um País muito especial em que a incapacidade de
Alberto Manuel de Sampaio e Castro Amaral é licenciado em
Engenharia Químico-Industrial pela FEUP em 1965 e doutorado
em Química Quântica pela Universidade de Cambridge em 1968.
Nesse ano integra o corpo docente da FCUP e, após 5 anos na
Universidade de Lourenço Marques, Moçambique, regressa
tornando-se professor catedrático e presidente do conselho
diretivo da Faculdade de Ciências.
Reitor da UP entre 1985 e 1998, a sua passagem foi marcante
pelo programa de transformação e expansão que iniciou – cons-
trução de edifícios para as faculdades, abertura de residências
universitárias e centros de investigação, entre muitos outros.
Dirigiu o Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior
(CIPES) e é atualmente presidente da Agência de Avaliação e
Acreditação do Ensino Superior (A3ES).
ALBERTO AMARAL DISCURSO NA SESSÃO COMEMORATIVA DOS 40 ANOS ICBAS
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planear a médio e longo prazo com base em informação credível e cienti-
ficamente aceitável é uma quase inevitabilidade. Foi assim que, nos finais
dos anos 90, de repente tocaram as campainhas de alarme face à falta de
médicos, resultado de uma política irresponsável de limitação das vagas de
ingresso em níveis demasiado baixos e por demasiado tempo.
A Resolução do Conselho de Ministros nº 45/98, de 28 de março, nomeou
um Grupo de Trabalho para estudar soluções para os problemas da previsível
escassez de médicos para fazer face às necessidades do País, num futuro não
muito distante. O Grupo de Trabalho, partindo provavelmente da norma
internacionalmente aceite de que 2 milhões de habitantes justificam uma
Escola de Medicina recomendou que os problemas fossem, de preferência,
resolvidos pela adequação do numerus clausus das Escolas de Medicina já
existentes. Não foi este o caminho seguido pelo Governo.
O Grupo de Trabalho admitiu, no entanto, a criação de uma nova Faculdade
de Medicina, desde que a sua criação não tivesse objectivos meramente
quantitativos, mas pretendesse, pelo contrário, “iniciar uma experiência
fortemente inovadora e que possa ter um impacto sistémico relevante”,
pelo que, concluiu o Grupo de Trabalho: “este projeto só se justifica se para
ele forem estabelecidas metas verdadeiramente exigentes em termos da
sua qualidade científica, pedagógica e de gestão, quer interna, quer no
que diz respeito às relações com as unidades de saúde em que se apoie
para o seu ensino”.
São particularmente relevantes algumas das considerações desse relatório
que se transcrevem, por balizarem as condições para a criação de novas
Escolas de Medicina, servindo, também, de orientação para a avaliação de
propostas nesta área:
“...uma faculdade de medicina não pode ser uma instituição académica
que viva isolada do resto da universidade. Deverá estar integrada numa
estrutura universitária que permita uma fertilização cruzada dos saberes
e tecnologias. A medicina moderna depende cada vez mais de disciplinas
como a biologia molecular e a biofísica, das tecnologias de comunicação
e das múltiplas disciplinas das áreas das ciências sociais. Daqui decorre
que uma faculdade de medicina não pode ser uma excrescência de um
hospital, por melhor que seja o seu nível técnico”.
A sustentação de um ensino de elevado calibre intelectual só pode
ser garantida estimulando programas de investigação autónomos de
indiscutível qualidade. Na investigação, tal como no ensino, a integração
num ambiente académico mais vasto tem a maior das importâncias e
constitui um elemento potenciador da garantia de qualidade.
A “comissão instaladora” deve ser formada por personalidades que acei-
tem passar para a nova instituição. Uma péssima solução seria deixar que
esta funcionasse como uma “colónia” ou extensão de outras unidades já
instaladas ou como um agrupamento de professores reformados os quais,
independentemente do seu prestígio, nunca poderiam assegurar uma
solução estável a médio prazo. A experiência e o conhecimento valiosos
do pessoal que se reformou de lugares académicos a tempo inteiro daria
apoio a um corpo académico estabelecido, mas não o podem substituir.
A existência de um hospital com as valências necessárias para o ensino
universitário é uma condição crucial da viabilidade do projeto. Uma Uni-
dade de Saúde que se proponha ser a base da formação clínica dos alunos
de um curso de Medicina, deve projetar-se, também, como uma unidade
de formação pós-graduada, dado que um projeto assistencial e académico
só faz sentido se englobar o continuum da formação médica. Não basta
apenas a estrutura física e a atribuição da designação de “hospital escola”,
é necessário constituir um corpo clínico robusto, dedicado e estável, que
associe experiência e juventude, e dispor de um projeto assistencial com
uma casuística sólida e diversificada, capaz de dotar o futuro médico de
uma formação pré-graduada e pós-graduada de qualidade, permitindo a
aquisição de competências específicas fundamentais, que o tornem capaz
da prática da medicina em qualquer outra circunstância assistencial.
Não é verdade que qualquer clínico, mesmo que competente no exercício
da profissão, esteja em condições de ser um docente e investigador. São
atividades que requerem o desenvolvimento de capacidades diferentes, e
que pressupõem uma certa vocação, que não tem que estar presente num
médico cuja escolha profissional foi determinada por outras motivações.
Isto significa que a gestão da carreira docente e o” staffing” das unidades
de ensino têm de estar articulados e constituem um desafio formidável.
A resolução conveniente deste desafio é uma das chaves do sucesso
deste projeto e aí um modelo de gestão privada pode permitir soluções
inovadoras e eficazes”.
A Resolução do Conselho de Ministros nº 140/98, de 19 de novembro,
segue as recomendações do Grupo de Trabalho ao estabelecer normas
exigentes para a aprovação de novas escolas ou cursos de medicina, de
que destacamos:
a) Garantia de uma liderança técnica e científica de qualidade e empenho
incontestáveis, com plena disponibilidade e continuidade;
b) Desenvolvimento de modelos inovadores de formação, pautados por
padrões científicos, pedagógicos e assistenciais de elevada qualidade
e que satisfaçam aos requisitos adoptados pelas instâncias nacionais,
comunitárias e internacionais relevantes;
c) Promoção de investigação científica de elevada qualidade, em especial
nas áreas biomédicas, clínicas, epidemiológicas e de promoção da saúde;
d) Adopção de uma organização interna inovadora e eficaz para servir os
objectivos deste tipo de ensino;
e) Adopção de um modelo organizacional inovador na articulação com as
unidades de prestação de cuidados de saúde em conjunto com as quais
será assegurado o ensino;
f) Desenvolvimento de um sistema de acreditação periódica das unidades
referidas na alínea e) e dos seus recursos humanos tendo em vista a
participação nas atividades de ensino;
g) Garantia de recrutamento de docentes e clínicos de elevada qualidade
residentes em Portugal ou no estrangeiro e da sua fixação no local e
elaboração de um plano de formação de recursos humanos para a
instituição.
Estes princípios de exigência foram o padrão utilizado desde então e serão,
provavelmente, a explicação para a forma como se conteve a explosão de
projetos nesta área que teriam degradado a qualidade das formações e
criado problemas idênticos aos sentidos noutras áreas de expansão pouco
controlada: Gestão, Arquitetura, Psicologia, Enfermagem e algumas Tecnolo-
gias da Saúde, Agricultura, etc. Portugal tem um ensino de Medicina de alta
qualidade e produz diplomados suficientes para satisfazer as necessidades
do País, como provado por sucessivos estudos, estudos que iremos atualizar
mais uma vez. Não faz, assim, qualquer sentido permitir a emergência de
formações de menor qualidade.
Iremos em breve, de novo na sequência do que determina a Resolução de
1998, implementar, com o apoio das diversas faculdades de medicina, um
sistema de acreditação para as unidades de saúde que pretendam estar
envolvidas na formação de novos diplomados em Medicina.
Em resumo: uma Faculdade de Medicina não nasce num deserto ou mesmo
num hospital, tem de estar integrada numa instituição (Universidade) que
assegure as inúmeras áreas que integram uma boa formação em Medicina.
O corpo docente tem de ser robusto, altamente qualificado e empenhado
em investigação de ponta. A sabedoria de alguns mais velhos tem de ser
potenciada pelo entusiasmo de um corpo docente jovem, entusiasta e
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qualificado. As unidades de saúde devem integrar um projeto assistencial e
académico que englobe o continuum da formação médica, dispor de um
excelente corpo clínico e oferecendo uma casuística apropriada. Não basta
ter um edifício a que se chama “Hospital escola”, com menos de 200 camas,
1/3 das quais para cuidados continuados.
Mas voltemos agora ao ICBAS e às suas características relevantes. Ao longo
dos anos apostou num corpo docente muito qualificado e diversificado,
combinando o saber clínico com a excelência nas áreas científicas de base
e oferecendo uma mescla de cursos – Medicina, Veterinária, Bioquímica,
Ciências do Meio Aquático. Participa e desenvolve investigação ao mais
alto nível. A aproximação das Ciências Farmacêuticas é mais um exemplo
da criação de uma base diversificada de saberes complementares. Dispõe
de uma invejável rede de unidades de saúde onde desenvolve atividades de
ensino e investigação e estabeleceu um modelo inovador de relacionamento
entre Faculdade e Hospital que tem evitado alguns dos problemas detetados
em instituições com uma estrutura mais clássica. Assim, a situação do ICBAS
corresponde, plenamente, ao recomendado na Resolução do Conselho de
Ministros.
O modelo do ICBAS segue, em muitos aspectos, alguns dos melhores padrões
internacionais. Tendo feito o meu doutoramento na Universidade de Cam-
bridge não resisti a apresentar aqui o modelo desta conhecida universidade
de excelência.
O ensino começa na FACULDADE DE BIOLOGIA onde os estudantes que querem
tornar-se médicos ou veterinários frequentam um ciclo pré-clínico, o Medical
and Veterinary Sciences Tripos (MVST). Nos dois primeiros anos alguns dos
cursos são comuns aos dois tipos de estudantes e outros são paralelos. No
terceiro ano a maioria dos estudantes de medicina e veterinária segue um dos
cursos também frequentados pelos estudantes de Ciências Naturais. Porém,
podem também seguir um dos 1 year Tripos oferecidos pela universidade
como História da Arte, Filosofia, Estudos de Gestão, Engenharia, Ciências
Sociais e Políticas ou Antropologia.
A partir daqui mudam para a Escola de Medicina Clínica para três anos
adicionais:
• Ano 4 – Core clinical practice
• Ano 5 – Specialist clinical practice
• Ano 6 – Applied clinical practice
Mas o que mais inveja faz é saber que esta Escola integra o Biomedical Cam-
pus de Cambridge onde se reúnem espantosos meios de investigação, onde
está localizado um dos 5 Biomedical Research Centres do UK, especializado
em investigação translacional na transformação de investigação biomédica
fundamental em investigação clínica para benefício dos pacientes. E que
em 2011 viu garantido por mais 5 anos o seu orçamento de 100 milhões de
libras. Também localizado nesse campus está um dos cinco Academic Health
Science Centres reconhecidos pelo Departamento de Saúde como centros
de excelência, internacionalmente competitivos na prestação de cuidados
integrados de saúde, investigação em saúde e educação de profissionais
de saúde.
Claro que a comparação é impossível e injusta. Mas há que reconhecer que,
apesar de tudo, se fazem em Portugal verdadeiros milagres, quer no ensino
superior, quer na investigação. Os médicos formados em Portugal não têm
qualquer dificuldade em obter emprego no estrangeiro (como, aliás, muitos
outros profissionais de saúde) e a investigação produzida compete com o
que de melhor de faz internacionalmente. E Portugal tem necessidade de
apostar num modelo que produz conhecimento e inovação abandonando,
de vez, algo que herdamos dos tempos de Salazar: competir com base em
baixa formação e baixos salários.
Para terminar interessa perceber que, tal como em Cambridge, o ICBAS,
adoptou um modelo inovador que em Portugal se tem revelado como
um projeto exemplar. Projeto que nunca nos deixará esquecer as duas
personalidades que, em minha opinião, estão na sua origem, Corino de
Andrade e Nuno Grande.”
(Prof Doutor Alberto Amaral, ICBAS – 10/04/2015)
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PROGRAMA
SESSÃO COMEMORATIVA 40 ANOS ICBAS
10 DE ABRIL DE 2015 • 10H00SALÃO NOBRE • Complexo ICBAS/FFUP, Edifício A, Piso 4
– ABERTURA –
PROF. DOUTOR SEBASTIÃO FEYO DE AZEVEDO
Reitor da Universidade do Porto
PROF. DOUTOR ANTÓNIO DE SOUSA PEREIRA
Diretor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar
SARAH MOTA DE OLIVEIRA
Presidente AEICBAS, Aluna do Mestrado Integrado em Medicina
– CONFERENCISTAS CONVIDADOS –
PROF. DOUTOR ALBERTO AMARAL
16.º Reitor da UP (1985-1998), Presidente da A3ES
PROF. DOUTOR PAULO CUNHA E SILVA
Antigo Aluno ICBAS, Vereador da Cultura Câmara Municipal Porto
– ENCERRAMENTO –
DR. PAULO MACEDO
Ministro da Saúde
FICHA TÉCNICA
EDIÇÃO
GABINETE DE COMUNICAÇÃO ICBAS
Instituto Ciências Biomédicas Abel Salazar – ICBAS
Rua Jorge Viterbo Ferreira, 228
4050-313 Porto
Telf. +351 220 428 000
e-mail: [email protected]
website: www.icbas.pt
FOTOGRAFIA
Joana Carvalheiro
DATA DE EDIÇÃO
Maio 2015
NÚMERO/ANO
Nº 35 · ESPECIAL ANIVERSÁRIO 40 ANOS
CONCEPÇÃO GRÁFICA, IMPRESSÃO E ACABAMENTO
Clássica Artes Gráficas, SA
TIRAGEM
250 exemplares
DEPÓSITO LEGAL
364089/13
COPYRIGHT
Todos os direitos resevados ao ICBAS