46560810 watzlawick paul pragmatic a da comunicacao humana

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    I P R A G M A T I C AD AC O M U N I C A C A Oi

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    PRAGMATICA:; DA COMUNICAQAO HUMANA

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    Titulo do 'original:PRAGMATICS OF HUMAN COMMUNICATION

    A Study of Interactional Patterns,'Pathologies, and Paradoxes

    Copyright 1967 by W . W . Norton & Compa,ny, Inc.

    E

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    ! ~I';~ GREGORY BATESONII"i AMIGO E MENTOR"

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    2.4 A Pontua~ao da Sequencia de Eventos 502.41 A Pontuacso Organiza as Seqiiencias de

    Comportamento 502.42 Dlferentes "Realidades" Devidas a Diferente

    Pontuacao 512.43 As Series Oscilantes, Infinitas, de Bolzano 532.44 Definicao do Axioma 54

    2.5 Comunicacao Digital e Anal6gica 552.51 Em Organismos Naturals e Artificiais (Fet-

    tos pelo Homem) 552.52 Na Comunica~ao Humana 562.53 0 Uso Exelusivamente Humano de Ambos

    os Modas 582.54-Problemas de Tradu~ao de urn Modo no

    ~a "2.55 Definiciio do Axioma 612.6 Intera~ao Sim etrica e C omplem entar 62

    2.61 Cismogenese 622.62 Definicso de Simetria e Comp lementa rid ade 632.63 Metacomplementaridade 63.2.64 Definicao do Axioma 64

    2.7 Resume 64Capitulo J - COMUNICAC;XO PATOWCICA 66

    3.1 Introducdo 66 .3 .2 A Impossibilidade de Nao Comunicar 673.21 Recusa de Comun1cacao na Esquizofrenia 67

    3.22 0 Seu Inverse 683.23 Implicacoes Mais Vastas 683.231 "Rejei~o" de Comunics\lio 693.232 Aceita\ao da Comunicaciio 693.233 Desqualificacao da Comunka\ao 693.234 0 Sintoma como Comunicacio 72

    3 .3 A Estrutura dos Nfveis de Comunlcacdo (C9n-teddo e Rela\ao) 7)3.31 Confusao no Mesnio Nlvel 743.32 Discordancia 753. 33 Dcfini~ao de Eu e Outro 76

    3.331 Confirmacao 773.332 Rejeicio 783.333 Desconfirmacao 78

    3.34 Nlveis de Percepcac Interpessoal 81

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    3.35 Impermeabilidade 823.4 A Pontua~o da Sequencia de Eventos 84

    3.41 Pontua~a:o Discrepante 853.42 Pontuacao e Realidade 863.43 Causa e Efeito 873.44 Profc:cias Que Promovem Sua Propria Rea-

    lizaCiio 883.5 Erros 01 1 Traducao Entre Material Ana16gico e

    Digital 893.51 A Ambigiiidade da Comunicacao Anal6gica 893.52 A Comunicacao Ana16gica Invoca Relacao 913.53 A Carencia de "Njic" em Comunicacso A aa-

    16gicll 913.531 Expressso- de "Nao" Atraves da Niio--Occrrencia 923.532 Ritual 93

    3.54 As Outras Funes de Verdade em Comuni-c l lCao Anal6gica 94

    3.55 Sintomas Histericos como Retraducdes paraoA~~~ "3.6 Patologias Potenciais da Interaciio Simetrica e

    Complementar . 963.61 ~calacao Simerrica 963.62 Complementaridade Rrgida 973.63 0 Efeito Mutuamente Estabilizador dos

    Dois Modes 983.64 Exemplos 98.3 .65 ConcIus5es 105

    Capitulo 4 - A ORGANlZA~XO DA INTERA~Xo HUMANA 1074.1 Introducao 1074. 2 Inteta~ao como Sistema 108

    4.21 0 Tempo como Variavel 1094.22 Definicao de Urn Sistema 1094.23 Meio e Subslstemas 1104.3 As Propriedades dos Sistemas Abertos 1124.31 Globalidade 112

    4.311 Niio-Sumatividade 1134.312 Nao-Unilateralidade 1144.32 Renoalimentacao (Feedback) 115

    4. 33 Eqtilfinalidade 1154 .4 Sistemas Interacionais em Desenvolvimento 117

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    4.41 Rdllea em Des eavc lv imea tc 1184.411 Descricao versus Expli~ 1184.42 Lim itacao 1194.43 Regras de Relacao 1214.44 A F amilia como Sistema 1224.441 Globalidade 122

    4.442 Nao-Sumatividade Il}4 .44} Re troal imenb lc iio , c Homeostase 1264.444 Calihracao e FuncOes Escalcnadas

    (Step-Functions) 1}24.5 Resumo 1}}CapEtulo 5 - UMA ABORDAGIW. CoMUNlCACIONAL DA ~ "QuEM

    TEM MEDO DIt VUGINIA WOOLP?"5 .1 Introducao

    5 .11 Sinopsc do Enredo .5.2 A Intera~ao como Sistema

    5.21 Tempo e Ordem, ACao e Rea~io5 .2 2 De inicao do Sistem a5.23 Sistemas e Suhsiste=5.3 As Propriedades de um Sistema Aberto5 .31 G lobalidade5.32 Rctroalimentacao5.33 Eqilifinalidade

    5.4 Um Sistem a Interacional Perm aneate5 .41 0 "Jogo" de George e Martha

    5.411 0 Esdlo DcJes5.420 Filho5 . 43 Metacom unica~ao Entre G eorge e Martha5 .44 Lim itaciio na Com unica~ao5.45 Resumo

    5.451 Estahilidade5.452 CaIihra~ao 5. 453 Recalihra~o

    Capitulo 6 - CoMUNlCAcAO PARADOXAL6.1 A Natureza do Paradoxo6.11 D e inicao

    6. 12 Os Tr!s Tipes de Paradoxos6 .2 P arad ox es L 6g ic o-Matcmatic os6.3 Dcfinies ParlldoxaU

    1 3 4134l351 3 7DB1 } 81 4 01 4 11411 4 21431451 4 51 ' 21541 6 01 6 41 6 51 6 61 6 61 6 7168

    ", 1681 6 91701 7 117}

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    6.4 Paradoxos Pra&!llil:ticos 1756.41 Injun_~5es Paradoxals 1756.42 Exemplos de Paradoxes Pragm'ticos 1766.43 A Teoria da Dupla Vincula~ao In

    6.431 Os Ingredientes de uma Dutila Yincula~o 1916.4}2 A Parogeaiddade da Dupla Y in

    cula~o 1926.433 Suas Ligaes com a Esquizofrenla 1946.434 Injuo~ Contradit6rw versus In-

    juot&s P~doxais 1956.435 Efeitos d a s Duplas Vincula~ sobre

    o Comportam en to 1976.44 Predi~ Paradoxais 1986.441 0 An1lnc io do Diretor de Escola 1996.442 A Des vanta gem do Peasam ento Claro 2006.443 A Desvantagem de Confiar 2026.444 A Impossibilidade de Deeisfo 2026.445 Um Exemplo Pra!:tico 2036. 446 Confian~a - 0 Dilema do Prlsio-

    neiro 204207209209209

    6.5 ResumoCapitulo 7 - PAltAllOXO EM PsICOTERAPIA

    7. 1 A Ilusiio de Alternativas7.11 A Est6ria da Mulher de Bath7.12 Defini9(o 210

    7.2 0 "Jogo S e m Fim" 2117 .21 Tres Solues Possfveis 2137.22 Um Paradlgma da Interven~e Psicotera-

    ~utica 2147.3 Presai~1io do Sintoma 215

    7.31 0 Sintoma como Comportameatc Esponta-neo 215

    7.32 Sobre a Rem~iio do Sintoma 2177.33 0 Sintoma em seu Contexte Interpessoal 2187.34 Uma Breve Recapitula)ao 218

    7.4 Duplas VincuIa~5es Terapeuticas 2197.5 Exemplos de Duplas VincuIa~5es Terapeuticas 2217.6 Paradoxc no Jogo, no Humor e na Criatividade 231

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    EpU ogo - 0 ExISTENCIALISMO E A TeORlA DE COMUNICA

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    AGRADECIMENTOS

    Os nossos agradecimentos especiais vio para muitos autorese editores que' nos autorizaram a transcrever excertos de suasobras.Chamamos a atencao para os seguintes copyrights especi-ficos:Para 0 material de Who's A/raid 0/ Virginia Wool/?, dr:Edward Albee: "Copyright 1962 by Edward Albee. Repro.ducao autorizada pelo autor e Atheneum Publishers. ADVERT~NCIA: Profissionais e amadores sao por este rneio adver-tides de que \Vho's A/raid 0 / Virginia Wooll?, estando prote-

    gida no todo OU em parte pelas leis de copyright dos EstadosUnidos, Imperio Britanico, incluindo 0 Domfnio do Canada, etodos os outros paises signataries das Convencoes de Berna ede Direitos Universals, estd sujeita ao pagamento de direitos.Todos as direitos, incluindo profissionais, amadores, cinemato-graficos, recitativos, leituras piiblicas, radio e televisao, e 0 direitode traducdo para lfnguas estrangeiras, estao estritamente reser-vados. E dada particular enfase a questao de recitais, para osquais deve ser obtida autorizacao por escrito do agente do autor,Todas as consultas devem ser enderecadas a William MorrisAgency, 1740 Broadway, New York, N.Y., 10019".

    Para as materials da revista Psychiatry, cujos direitos estaoreservados pela William Alanson White Psychiatric FoundationExcertos de Marriage Lines, por Ogden Nash, 'por permlssaode Little, Brown &Co., copyright 1940 by The Curtis PublishingCompany.o material de Nineteen Eighty-Fol", por George Orwell,Harcourt, Brace & World, Inc. Copyright 1949 by Harcourt,Brace & Company, Inc. Reproduzido com autorlzacao de Brandt

    & Brandt.11

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    (Oconto Subjugatiol1 0 / a Ghost e , originalmente, de ZenF lesh , Z en Bones, de Paul Reps. Copyright 1957 Charles E.Tuttle Co., Rutland, Vt. e T6quio, ]apao.Para as transcricdes de uma crftica de Howard Taubman

    1962, by The New York Times Company. Reproduciio auto-rizada.

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    INTRODU

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    Poder-se-a argurnentar que este livro lgnora importantesestudos que estiio diretamente relac lonados com 0 seu tem a, Aeseassez de referencias expllcitas a comunlcacso nao-verbal podeset uma dessas crfticas, a ausencia de, referencias a semdnticageral pode ser outra. Mas este livro nao' pode ser mais do queuma introdudio a pragmdtica da comunicacso humana (uma areaque, ate. agora, recebeu, noto riamen te ," re du z id a atenc;ao) e, per-tanto, nao pode assinalar todas as aflnldades existentes comoutros campos de pesquisa sem fiear enciclopedico, no mau sen-tido da palavra. Pela mesma razao, teve de ser imposta uma Iimi-tac;ao as referencias a muitas outras obras sabre a teoria da cornu-nica~o humana, especialmente quando essas obras se restringemao estudo da comunicacao como fenOmeno unilateral (do elocutorpara 0 ouvinte) e Hearn aquem do estudo da comunicacdo comourn processo de in terarao.

    As implicacces interdisciplinares do tema estao refletidas namaneira da sua apresenraeio. Os exernplos e analogias foramescolhidos de uma vasta gama de assuntos, segundo nos pareciamaplicaveis, embora a prepondersncia flcasse no terreno da psico-patologia, Especialmente quando se recorreu a matemat ica paraanalogia, deve ficar claramente entendido que ela foi Fao-s6 usadacomo uma l inguagem que e notavelmente adequada a expressjiode re1ac;oes intricadas e que 0 seu uso nao pretendeu subentenderque consideramos os nossos dados prontos para quantificacao.Inversamente, 0 usa bastante liberal de exemplos extraldos daliteratura pode parecer cientiicamente objetdvel para muitosIeitores, pois demonstrar alguma coisa por referenda aos frutosda imaginacao ardstica talvez pareca uma prova deveras fnigil.Contudo, nao a prova mas a ilustrac;ao e elucida\ao de urn pontotea rico, mediante a sua apresentacao numa Iinguagern mais fad-mente compreensivel, foi 0 que se pretendeu com essas citacdesextraldas da literatura; nao esta lmplfcito que elas provem coisaalguma em si (e por si ) mesmas. Em resume, esses exemplos eanalogias sao, pais, modelos de de/inirao e nao modelos preditivos( assertivos ) .

    Em varios pontos deste livro, os conceitos basicos de umavariedade de outros campos requerem definicoes que serao desne-cessdrias para qualquer especialista nesse campo particular. Parapreveni-lo, mas tarnbem para a conveniencia do leitor cornum,em geral, dames em seguida urn breve resume dos capltulos esuas sec;oes.14

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    o Capitulo 1tenta descrever 0 quadro de referenda. Apre-senta nocces basicas como a unc;ao (s. 1.2 *) e postula a exis-tenchl de urn ccdigo ainda nao formalizado, urn cslculo (s. 1.5)de comunicacao humana cujas regras sao observadas na comuni-cac;ao bern sucedida mas que sao violadas quando a comunicacdoe perturbada.o Capitulo 2 define alguns des axiomas desse calculo hipo-tetico, enquanto que as patologias potenciais, implicitas nessesaxiomas, sao examinadas no Capitulo 3.o Capitulo 4 amplia essa teoria da comunicacao ao nivelorganizacional ou estrutural, baseado num modelo de relacoeshumanas como sis temas; assim, a maioria do capitulo dedica-seao exame e aplicaciio dos principles de Sistemas Gerais.a Capitulo 5 e pura exernplificacao material dos sistemas,pretendendo insuflar alguma vida no carater especlfico dessateoria, a qual, em ultima instdncia, se interessa pelos efeitos ime-diatos dos seres humanos uns sobre os outros.a Capitulo 6 trata dos efeitos comportamentais do para-doxo. Isto requer uma definic;ao do conceito (s. 6.1,6.2 e 6.3),que pode ser omitida pelo leitor famiHarizado com a literaturasobre antinomias e, especialmente, com 0 paradoxo russelliano.A Sec;a:o6.4 apresenta 0menos conhecido conceito de paradoxespragrndticos, especialrnente a teoria da Dupla Vinculac;ao e a suacontribuicao para 0 cntendimento da comunicacao esquizofrenica.o C(lpJtulo 7 dedica-se aos efeitos terapeuticos do paradoxo,Excetuando as consideracces teoricas nas sec;6es 7.1 e 7.2, estecapitulo oi especialmente escrito com vista a aplicacao clinicados padrdes paradoxais de comunicacao. 0 capitulo termina comuma breve excursao pelo papel do paradoxo no jogo, humor ecriatividade (5.7.6).

    Urn Bpi /ago que trata da comunicacao do hornem com arealidade, em sua mais ampla acepcao, nao pretende ser rnais doque uma perspectiva geral, a traces largos. Postula que umaordem, analoga a estrutura uniforme dos Tipos L6gicos, impregnaa consciencia humana de existencia e deterrnina a cognoscibilidadefundamental do seu universe,(*) A subdivisao decimal des capltulos foi introduzlda nao para con-fundir ou irnpressionar 0 leiter mas para lndicar, claramente, a estrutura

    d o l organizacao de urn capitulo e facilitar, dentro do livre, as rernissoes.15

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    Quando 0 manuscrito estava sendo criticamente examinadopor uma diversidade de especialistas, desde pslquiatras e biologosate engenheiros eletricistas, tornou-se evidente que qualquerse~ao dada poderia ser considerada primitiva e rudimentar, poruns, e excessivamente especializada, par outros. Do mesmomodo, a inclusao de defini~5es - tanto no texto como em notasde p e de pagina - poderia ser considerada oensivamente inspi-rada par urn complacente ar de superioridade para aqueles aquem 0 termo faz parte da linguagem pro fissional cotidiana, aopasso que, para 0 leitor comum, a falta de defini~oes parece tera irritante implica~ao de que "Se voce nao sabe 0 que isso querdizer, n6s nao podemos perder tempo em explicar-lhe". Portanto,oi decidido incluir, no final do livro, urn Glossir io que contemapenas aqueles termos inexistentes nos diciondrios comuns eque, alem disso, MO foram definidos no decorrer do rexto.

    as autores querem expresser seus agradecimentos as rnuitaspessoas que leram todo ou partes do manuscrito e proporcio-naram ajuda, es tlm ulo e c ons elhos , especialmente aos Drs, PaulS. Achilles, John H. Weakland, Carlos E. Sluzki, A. Russell Lee,Richard Fi sch e Arthur Bodin, todos colegas nossos no Menta lR ese arc h In stitute ; aos Drs. Albert E. Scheflen, do EasternP e nn sy lv an ia P sy ch ia tr ic In stitute e. da Temple U n iv ersity S choo lo f M ed ic ine . Karl H. Pribram, Ralph I. Jacobs e William C.Dement. da S tan ford U n iv ersity S choo l 01 Medic ine ; ao Eng."Henry Longley, Engenheiro de Projetos dos lY le ste rn D ev elo p-m en t La bo ra tories (Philco); ao medico e engenhelro, Dr. NoelP. Thompson, Chefe da Divisao de Eletrdnica Medica da Medica lR ese arc h F o un da tio n. Palo Alto; e ao Dr. John P. Spiegel, doCentro de Pesquisas sobre a Personalidade da Universidade deHarvard. A responsabil idade pelas posi~oes assumidas e pelosenos que possam ter sido cometidos cabe exc1usivamente, eclare, aos autores.

    Esta obra foi patrocinada pelo N ationa l In stitute o f M en ta lHealth (Bolsa MH 07459-01). pela Rober t C. Wheeler P oun -dat ion , a Jam es McKeen Ca tte ll F und e a Na tio na l A sso cia tio nlo r M en ta l Hea lth , cujos auxfllos sao reconhecidos com gratidao.Palo Alto, marco de 1966

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    Capitulo Io QUADRO DE REFERtNCLA

    1.1

    Consideremos as seguintes situa~oes diversas:A popula~o de raposas de uma CCJ:ta a r e a do C a n a d a seten-trional mostra uma notavi:l periodicldade no aumeato e decl1nionumericos. Num cicio de quatro anos, atinge um pica, declina atei\ quase extin~o e, finalmente, comeca sub indo de novo. Se aaten~ao do bldlogo se limitasse a s raposas, esses ciclos permanecerlaminexplicavels, pois nada existe na natureza -d a raposa ou de todaa especie que justifique tais mudaacas, Contudo, quando se levaem conta que as raposas vivem quase exdusivamente da ca~ ao

    coelho selvagem e que estes coelhos nlio tem, praticamente, outreinimigo natural, essa rela,iio entre as duas especies fornece umaexplica~o satisfat6da para um fenomeno que, caso contrarlo, seriamisterioso. Pais verltica-se que os coelhos ttm um cido Identico,mas com 0 recrudescimeato e 0 decl1nio invcrtidos: quanta maisrapcsas lui, mais coelhos sao mottos por elas, de modo que, f ina l -mente, 0 alimento tcrna-se escasso para as ISPOSas. 0 seu mimerodecresce, dando aos coelhos sobreviventes uma oportunidade de semultiplicarem e prosperarem na virtual ausencia de suas inimigas,as raposas, A nova abundaacla de coelhos favorece a sobrevivenciae recrudescimeato da quaatidade de raposas etc.Um homem desmaia e e levado para 0 hospital. 0 medicoque 0 examina observa 0 estado de inccnsciencia, a pressiio sangulneaextremamente baixa e 0 quadro cllnico de aguda intoxi.ca~o peloalcool ou droga. Contudo, as analises nao reve1am vestigio algumde tais substancias, 0 estado do paciente continua iaexplicdvel ateque e le recupera a consciencia e revela SCI um engenheiro de minasque aeabara de regressar de dois anos de trabalho numa mina decobre sltuada numa altitude de 15 000 pes, nos Andes. Esta agoraesclarecido que 0 estado do pacienre nao 6 uma doenca no sentidohabitual de uma deficlencia organica ou nos tecidos mas, outrossim,

    o problema de adapta~ao de um organismo clinicameate saudavela om meio drasticamente alterado, Se a aten~ao do Uledico penna-necesse exclusivameate conceatrada no paciente e se apeaas a ecolo-gia do meio habitual do medico fosse Ievada em conta, 0 estado dohomem contlnuaria sendo om misterio.17

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    No jardim de uma casa de campo, ii vista de quem transitarpclo passelo fronteiro, pede ser observado um homem barbudo,rastejando, agachando-se, espiando entre os arbustos e percorrendoas veredas em forma de oito, olhando constantemente per clma doombro e grasnindo scm interrupcio. Assim e como 0 etologistaKonrad Lorenz descreve 0 seu necessdrio compcrtarnento durante urndos experimentos de Impressao (imprbtting) com os seus patinhos,depois que se substituiu a maepata. "Eu estava me fellcitando",escreve Lorenz, "pela obediencla e exatidao com que os mcus pad-nhos me seguiam quando levantei os olhos, de subito, e v i a cercado jardim coroada por urna fila de rostos de urns palidez funerea:um grupo de turistas plantara-se ao longo da cerca e observava-me,de olhos arregalados", Os pates estavam ocultos pela grama altae tudo 0 que os turistas viam era 0meu comportamento totalmentcInexplicsvel e, de fato, aparentemente Iouco, (96, pag. 4.3)Estes exemplos aparentemente sem rela~ao alguma entre sitern um denominador comum: urn fenomeno permanece inexpli-cavel enquanto 0ambito de observacao nao for suflcientementeamplo para Incluir 0 contexto em que 0 fencm eno ocorre.Quando nao se apercebe das complexidades das relacdes entreurn even to e a matriz em que ele acontece, entre um organismoe 0 seu meio, observador .ou depara-se com alga "misterioso"ou e induzido a atribuir ao seu objeto de estudo certas proprie-

    dades que 0 objeto nao possui. Em comparacao com a aceita~aogeral desse fato na biologia, as ciencias do comportamento aindaparecem basear-se, em larga m edida, numa visao monadica doindlvlduo e no metoda tradiclonal de isolar varidveis. Isto tor-na-se particularmente 6bvio quando 0 objeto de estudo e 0 com-portamento perturbado. Se uma pessoa que manifesta umcomportamento perturbado (psicopatologia) for isoladamenteestudada, entao a investigacao deve se interessar pela naturezada condicao e, num sentido mais late, pela natureza da mentehumana. Se os Iimites da investigacao forem ampliados de modoa incluir as efeitos desse comportamento sabre outros, as reaccesdestes aquele eo contextoem que tudo isso ocorre, 0 foco trans-fere-se da monade artificlalmente isolada para as relaciies entreas partes de urn sistema muito mais vasto. Assim, 0 observadordo comportamento humano passu de urn estudo inferencial damente para 0 estudo das manifestacoes observdveis da relacdo.

    o uelculo dessas maniles ta (oes e comunicacdo .Querernos sugerir que 0estudo da comunicacao hurnana podeser subdividido nas mesmas tres areas de sintaxe, sernantica epragmatics estabelecidas por Morris (106) e adotadas pOI Carnap(33, pdg, 9) para 0 estudo da semi6tica (a teoria geral de sinais1 8

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    e linguagens ), Aplieada a estrutura da comunicacao hurnana,portanto, pode-se dizer que a primeira dessas tres areas abrangeos problemas de transmissao de informacao e C , entao, 0 domlnioprimordial do teorico da inforrnacao. 0 seu interesse reside noproblema de e6digo, canals, capacidade, ruldo, redunddncia eoutras propriedades estatlsticas da linguagem, Esses problemassao primariamente sintqtieos e 0 te6rico da informacao nao estainteressado no significado dos slmbolos da mensagem. 0 signi-ficado e 0principal interesse da semdnt ica . Conquanto seja perfei-tamente possivel transmitir series de slmbolos com exatidaosintarica, eles perrrianeceriam desprovidos de significado se 0emissor e 0 receptor nao tivessem antecipadamente concordadosabre a sua significacao. Neste sentido, toda a informacao compar-tilhada pressupoe uma convencao semdntica, Finalmente, a comu-nicacao afeta 0 comportamento e este e 0 seu aspecto pragma -tico, Assim, embora seja posslvel uma nltida separa-rao conceitualdas tres areas, elas sao, nao obstante, interdependentes. Comoassinalou George (55, pag. 41), "em muitos aspectos, e validoafirmar que a sintaxe e 16gica matemdtica, que a serndntica efilosofia, au filosofia da ciencia, e que a pragmdtica e psicologia,mas esses campos nao sao, realrnente, todos distintos",

    Este livro abordara as tres areas mas ocupar-se-a principal-mente da pragmatica, isto e , os efeitos comportarnentais, dacomunicacao. A este respeito, deve ficar esclarecido desde 0comeco que as dois termos, comunicacao e comportamento, saousados, virtualmente, como sinonimos. Pois os dados da pragmd-rica sao, nao 56, as palavras, suas configura-roes e significados,que constituem os dados da sintaxe e da semantica, mas tambemos seus concomitantes nao-verbais e a linguagem do corpo. Aindamais, n6s aerescentarfamos as a~oes comportamentais pessoaisas pistas de comunicacao inerentes ao contexte em que eia ocorre.Assim, desde esta perspectiva da pragrnatica, todo 0 comporta-mento, nao s6 a faIa, e comunicacao; e toda a comunicacaomesmo as pistas comunicacionais num contexte impessoal -afeta 0 comportamento.

    Alem disso, nao estamos unicamente interessados, como apragrnatica geralmente esta, no efeito de urn item de comuni- .ca~ao sabre 0 receptor mas tambem, inseparavelmente ligadoaquele, no efeito da rea\:ao' do receptor sobre 0 ernissor. Assim,preferiremos focalizar menos as relacdes ernissor-sinal au receptor--sinal e mais a relarao em isso r-receptor, ta l como e m ediada pelacomunicacdo .

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    Como esta abordagem comunicacional dos fen8menos docomportamento humane, normal e anormal, esta baseada 08:0 ;manifestacdes observaveis da relarao, no mais ample sentido, elaesta, portanto, conceitualmente mais pr6xima da matemdtica doque da psicologia tradicional, visto que a matematica e a disci-plina mais im ediatamente interess ada nas relacoes entre entidades- nao na natureza destas. A psicologia, por outro lado, terndemonstrado, tradidonalmente, uma forte inclina~ao para umac onc epc ao monadl ca do homem e, por conseguinte, para uma coisi-fica~ao do que hoje se revel a ser, cada vez mais, complexospaclroes de rela~o e intera\lio.

    A ainidade das nossas hip6teses com a matemdtica seraassinalada sempre que possfvel, Isto nao deve desanimar 0 leitorque nao possua conhecimentos especiais no campo, pols nao terade se defrontar com f6rmulas ou qualquer outro simbollsmoespeclico. Se bern que Q comportamento humano possa, umdia, encontrar sua expresslio adequada no slmbolismo materna-tico, nao e , definitivamente, a nossa inten~ao tentar uma talquantificaciio, Nao deixaremos, porem, de nos referir ao enormeact1mulo de trabalho realizado em certos ramos da matemdtica,sempre que esses resultados prornetam fornecer uma linguagemutil para a descri~lio dos fen8menos da comunicacao humana.

    1.2A N~o DE FUNc;AO E RELAt;AO

    A principal razao pela qual a matematica deve ser invocadapara analogia ou como principio explicativo reside na utilidadedo conceito matemdtico de funfao. Para explicar isto, requer-seuma breve excursao na teoria do mimero,Os il6sofos da clencia parecem concordar em que 0 passomais significativo no desenvolvimento do moderno pensamentomatematico foi 0 surgimento gradual de um novo conceito demimero, de Descartes ate ao presente. Para as matemdticosgregos, os rnimeros eram grandezas concretes, reais, perceptlveis,entendidas como propriedades de objetos igualmente reais.Assim, a. geometria dedicava-se a medi\lio e a aritmetlca a conta-gem. Oswald Spengler, em- seu hicido capitulo "On the Mellllingof Numbers" (146). mostra-noa nao s6 como a n~o de zero

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    como urn mimero era impensavel mas tambem que as grandezasnegatives niro tinham Iugar na realidade do mundo cldssico:"As graadezas negativas niro tern existencia. A expressao(- 2) X (- 3) = + 6 nilo e algo perceptfvel nem uma repre-sentacfo de grandeza" (pag. 66). A ideia de que os mimerosexam a expressao de grandezas permaneceu dominante durantedois mil anos e, como Spengler dlscorre:

    Em toda s. hist6ria, ate agora, nio existe um 'segundo exemplode uma cultura prestar a uma outra cu1tura w : muito extinta umatal reverends. e submissio, em quest5es de ciencia, como a que anossa tcm trihutado a CIassica. Foi precise multo tempo ate encon-trarmos coragem para raciocinar de acordo com 0 nosso propriopensamento. Mas, embora 0 dese]o de rivalizar com 0 CIassicoestivesse ccnstantemente presente, cada passe da tentativa nos levou,na realldade, cada vez mais longe do ideal imaginado. A histdriado conhecimento ocidental e , 'assim, a de uma ema nc ipa ,a o pro g re sosiva do pensamento cldsslco, uma emancipa~ao jamais vcluntarla masimposts. desde as profundezas do inconsciente. E, ess im, desenvol v im en to Ja nova matematiea conslste num long a, sec reta e , {ina lmen te , uitoriosa bata lha con tra a no ,;W de g ranJeza . (pag. 76)Nao e preciso entrar em deta1hes sobre 0 modo como essa

    vit6ria 0 1 alcancada, Bastard dizer que 0 acontecimento decisivoocorreu em 1591, quando Vieta introduziu as notacces com Ietrasem vez de- algarismos, Com isso, a Ideia de mimeros como gran-dezas distintas foi relegada para urn lugar secundario e nasceuo poderoso conceito de variavel, urn conceito que, para 0 mate-matico grego da epoca classica seria tao irreal quanto uma aluci-na~ao. Pois, em contraste com urn mimero significative de urnagrandeza perceptfvel , as variaveis naQ_possuem significado prd-prio; elas s6 sao significativas em suas relac des rm ituas , Umanova dimenslio de informac;ao foi obtida com a introducao devaridveis e assim se formava a nova matemdtica. A relac;ao entrevaridvels (usualmente, mas nao necessariamente, expressa comouma equaeao] constitui 0 conceito de fun~ao. Citando uma vezmais Spengler, as func;5es

    niio sao mimeros, no scntido plastico, mas sinais que representamuma liga~ao destitufda de todas as caracterfsticas de grandeza, for-mato e significado singular, uma infinidade de posi~5es posslveisde carater andlogo, UIll conjunto unificado e assim ganhando exls-tends. como UIll ndmero, Toda a equal,;ao, embora escrita em nossiineliz nota~o como uma plutalidade de iermos, e realmeate urnunieo mimero, mo sendo x , 'Y , % mais mimercs do que + e = 0sao. (pag. 77)21

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    ( ... ) suponhamos que eu estou na casa de urn amigo e, aopassar um carro Ia fora, 0 c a ? da casa se precipita para urn ca~toda sala e se agacha. Para 1IUIll, esse comportamento e desprovldode uma causa e inexplicivel, Entao 0 meu amigo diz: "Ele foi atro-pelado por urn carro ha sels meses". 0 comportamento estd agoraexplicado POI referenda a urn evento de seis meses atras. Se disser-mos que 0 c a o mostra "memoria", referimo-nos ao mesmo fato -que 0 seu comportamento pode set explicado, nao por referendaao seu estado agora mas ao que a seu estado era ha seis meses,Se nao tivermos cuidado, diremos que 0 clio "tern" mem6ria e,depois, eoaceberemos 0 clio como tendo alguma coisa , tal como pode-ria ter uma mancha de pelo preto, Poderemos SCI entjo tentadosa procurar essa colsa; e talvea se descubra que essa -"coisa" possuialgumas propriedades multo curlosas.

    Evidentemente, a "mem6tia" nao e alguma coisa objetiva queurn sistema possui ou nao possui; e um conceito que 0 observadorinvoca para preencher II lacuna causada quando parte do sistemae Inobservavel, Quanto menos sao as variaveis observavels, maiso observador sera for~do a encarar os eventos do passado comose desempenhassem urn papel no comportamento do sistema. Assim,a "memoria" no cerebra e apenas parcialmente objetlva, Nao admita que as suas propriedades tenham sido, por vezes, conslderadas inco-muns au mesmo paradoxais, E evidente que a questiio requerurn reexame complete desde as seus pr~cipios bisicos. (5, pag. 117)Tal como" interpretamos, este trecho na~ nega, de maneira

    alguma, os impressionantes progresses da pesquisa neurofisio-Iogica sobre a frmazenagem cerebral de informacao. Obviamente,o estado do a~lmal e diferente desde 0acidente; deve ter ocorridoalguma muda ~ molecular, algum circuito- deve ter sido recen-temente est~ elecido, enfim, "alguma coisa" que 0 cachorro"tern" agora. Mas Ashby discorda, claramente, do construto ede sua cois~ica~ao. Uma outra analogia, fornecida por Bateson(17). e a do desenvolvimento de urn jogo de xadrez, Em qual-quer pontodeterminado, a situacdo do [ogo s6 pode ser enten-dida Pellliconfiguracao presente das pecas no tabuleiro (sendo 0xadrez ~ jogo com inforrnacao completa ), sern qualquer registroau "mein6ria" dos movimentos passados, Mesmo que se inter-prete essa configuracao como sendo a memoria do jogo, ela euma interpretacdo puramente atual e observavel. do termo.Quando, Iinalmente, 0 vocabulario da psicologia experi-mental foi ampliado aos contextos interpessoais, a linguagem dapsicologia ainda se manteve monadica. Conceitos tais como osde lideranca, dependencia, extroversao e introversao, aprendi-zagem e.educacao, alem de muitos outros, passaram a ser objetode estudo minucioso. 0 perigo, e claro, e que todos esses termos,se forem pensados e repetidos bastantes vezes, acabam assumindo

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    uma pseudo-realidade propria e, finalmente, "lideranca", 0 cons-truto, converte-se em Lideranca, uma quantidade mensurdvel namente humana que e , eia propria, concebida como urn fenomenoisolado. Consumada essa coisificacdo, deixa de ser: reconhecidoque 0 termo e apenas uma ezpressao abreviada de urna formaparticular de rela~ao em curso.Todas as crianeas aprendem na escola que 0 movimento ealga relative, que 56 pode ser percebido em rela~o a urn pontede referenda. 0 que _nao e percebido por todos e que. essemesmo prindpio tambem e valida para, virtualmente, toda equalquer perce~ao e, portanto, para a experiencia humana derealidade, As pesquisas sensoriais e cerebrais provaram, de

    maneira concludeate, que s6 podem ser. percebidas rela!;oes epadrdes de rela~oesJ e que estas constituem a essencia da expe-rienda. Assim, quando, por urn engenhoso dispositivo, se impos-sibilita 0movimento do olho, para que a mesma imagem continuesendo percebida pelas mesmas areas da retina, urna clara perce~aovisual deixa de Set possfvel, Do mesmo modo, urn som constantee Inalterado e diffcil de se perceber e pode ate deixar de sernotado. E se quisermos explorar a resistencla e contextura deuma superficie, 000 colocaremos apenas urn dedo nessa super-rciemas move-Io-emos de urn lado para 0 outre, pois se 0 dedoficar im6vel num determinado ponto nenhuma inforrna~ao uti!sera obtida, exceto, talvez, uma sensa~ao de temperatura, a qualseria devida tambem a diferenca relativa entre as temperaturesda superficie do objeto e do dedo. Estes exemplos poderiarn serfaci1mente multiplicados e todos apontariam 0 fato de que, deurn modo au outro, um processo de mudanca, movimento auexplora~ao esta envolvido em toda a percepcao (132, pag. 173).Par outras palavras, uma rela~ao e estabeledda, testada numambito tao vasto quanta uma dada' contingencla permits e, f ina l-mente, obtem-se uma abstra~ao que, sustentamos n6s, e identice.80 conceito matemdtico de fuo~ao. Assim, nao sao as "coisas"mas as un!;Oesque constituem a essencia das nossas percepcoes;e as un~Oes,como vimos, nao sao grandezas isoladas mas "slnalsrepresentando uma liga~ao ( .. ) urna infinidade de posi~5espos-siveis de carater semelhanre ( ... )n Mas, sendo assim, entilo000 deveria causar mais surpresa que ate a consciencla de s~mesmo do homem seja, essencialmente, uma, consciencia deun~oes, de rela~oes em que ele esta envolvido, por muito queele, subseqiientemente, coisifique essa consciencia. Todos esses24

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    fatos, diga-se de passagem, desde os disnirbios do sensorial ateaos problemas de consciencia de si pr6prio, estao corroboradospela extensa literatura atual sobre priva~ao sensorial.

    1.3INFOruMAcAO E RETROALlMENTA~AO (FEEDBACK)

    Freud rompeu com muitas das coisiica~5es da psicologiatradicional quando apresentou a sua teoria psicodindmica docomportamento humano. Suas realizacdes nao tem pot que setdestacadas aqui. Um aspecto, porem, e de particular importdnciapara 0 nosso t6pico.A teoria psicanalltica basela-se fium modelo conceitual emconsonancia com a epistemologia vigente na epoca de sua formu-l~~ao. Postula que 0comportamento e , primordialmente, 0 resul-tado de uma interaciio hipotetica de forcas intrapsfquicasj que

    essas forcas obedecem estreitamente as leis da ccnservacao etransformacao da energia, na ffsica, quando, para citar NorbertWiener, alando sobre essa era, "0materialismo tinha, ao queparece, colocado a sua gramatica em ordem e essa gramatica eradominada pelo conceito de energia" (166, pag. 199). Em seutodo, a pslcanalise classlca perrnaneceu, primordialmente, umateoria de processos Intrapsiquicos, de modo que, mesmo quandoa interafiao com forcas externas era evidente, consideravam-nasecunddrla, como, por exemplo, no conceito de "ganho secun-dario".l De urn modo geral, a Interdependencia entre 0 indi-vfduo e 0 seu meio continuou sendo urn campo menosprezadoda explora~ao psicanaHtica e e precisamente af que 0 conceitode troca de injorma(aO, isto e , de comunicacdo, torna-se indls-pensdvel , H a uma dlferenca decisiva entre 0 modelo psicodinfl-mico [pslcanalitico ), por uma parte, e qualquer conceltualizacdode intera~ao organismo-meio, por outra, e essa diferenca podetornar-se mais clara a luz da seguinte analogia (12) Se 0 pede um homem bater, enquanto passeia, numa pedra, a energiae transfetida do pe para a pedra; esta sera deslocada e, inalmente,voltara a parar numa posi~ao que e totalmente determinada por

    (1) e n "neofreudianos" atribulram, e claro, muito maior enfase aintera~iio Indlvfduo-melc.25

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    fatores tais como 0 montante de energia transferida, 0 {ormatae a peso da pedra, a natureza da superflcie em que ela rola. Se,par outro lado, 0 homem der urn pontape num cao, em vez dena pedra, 0animal podera saliar e morde-Io, Neste caso, a relacdoentre 0pontspe e a mordida e de uma ordem diferente, E 6bvioque 0 c a o recebe a energia, para a sua rea~ao, do seu propriometabolismo e nao do pontape. Portanto, 0 que e transferidonao e energia mas informacdo. Por outras palavras, 0 pontapee urn item de comportamento que comunica algo ao cao e estereage a comunicacao com urn outro item de comportamento--comunicacao, Eis al, essencialmente, a diferenca entre a psicodi-'mimica freudiana e a teoria de comunicacao, como princlplosexplicativos do comportamento humano. Como se ve, des per-tencem a dlferentes ordens de complexidade; 0 primeiro naopede abranger 0 segundo nem 0 segundo pade ser derivado doprimeiro: rnantem-se numa rela\;ao de descontinuidade conceitual,

    Essa mudanca conceitual de energia para inforroa\;ao e essen-cial pam Urn desenvolvimento quase vertiginoso na filosofia daciencia, desde 0 final da !I Guerra Mundial, e tem tido urnirnpacto muito especial sobre 0 nosso conhecimento do homem.A compreensso de que a informacao a respeito de um efelto, sefor adequadamenje retroalimentada ao 6rgao motor, garantid aestabilidade deste e a sua adaptacao a rnudanca- ambiental, naos6 abriu as portas para a construcao de maquinas de ordem supe-rior (isto e , de erro controlado e orientadas para uma meta espe-dfica) e levou a postulacao da cibernetica como uma nova episte-mologia mas tambem proporcianou vislumbres completamentenovos do funcionamento de sistemas de interacao muito comple-xos na biologia, psicalogia, sociologia, ecanomia e auttos doml-nios. Conquanto 0 significado da cibernetica nao possa ser, dememento, pelo menos, avaliado, nem mesmo conjeturalmente, osprindpios fundamentals envolvidos sao surpreendentemente sim-ples e 'exarnind-Ios-emos aqui sucintamente.

    Enquanto a ciencia se preocupou com a estudo de relacdeslineares, unidirecionais e progressivas de causa-efeito, urn certornimero de fenornenos sumarnente importantes manteve-se forado imenso rerritorio conquistado pela ciencia durante os ultimosquatro seculos, Talvez seja uma .excessiva mas uti! simplificacaodizer que esses fenomenos tem' seu denominador comum nosconceitos 'aparentados de crescimento e muJam;a. Para incluiresses fenomenos numa visao unificada 90 mundo, a ciencia teve26

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    de recorrer, desde 0 tempo dos antigos gregos, a conceitos diversa-mente definidos mas sempre nebulosos e incomodos, assentes nano~aQ de que existe lntencao au prop6sito no curso dos aconte-cimentos e que 0 resultado final determina, "de algum modo",as passos que culminaram nele; au entao, esses fenomenos erarncaracterizados por alguma forma de "vitalismo" e, portanto,excluidos da ciencia. Assim, ha cerca de 2 500 anos, a palcoicou montado para uma das grandes controversias epistemo16-gicas, que continuou lavrando. impetuosarnente ate aos nossosdins: a disputa entre determinismo e teleologia. Voltando, umavez mais, ao estudo do hornem, a psicanalise pertence, claramente,a escola determinista, ao passo que, par exemplo, a psicologiaanalftica de Jung assenta, em consideravel rnedida, no pressu-posta de uma "entelequia" imanente no homem.o advento da cibernetica mudou tudo isso, a provar queas dais prindpios podiam ser reunidos nurna estrutura maisabrangente, Essa concepcao tornou-se POSSIVe! atraves da desco-berta da retroalimentacao (feedback). Uma cadeia em que aevento a gera 0 evento b, e b gera entao c , e c , por sua vez,provoca d etc.,_ teria as propriedades de urn sistema linear deter-minfstico. Se, porem, d conduzir de volta a a , a sistema e circulare funciona de urn modo inteiramente diferente. Manifesta urncomportamento que 1 6 , essencialmente, analogo ao daqueles feno-menos que tinham desafiado a analise em termos de urn estritodeterminismo linear.

    Sabe-se que a retroalimentacao e positiva au negativa; estaultima sera mencionada mais reqiientemente neste livro, vistoque caracteriza a homeostase (estado cons tan te} e, portanto,desempenha urn papel irnportante na realizacao e manutencao daestabilidade de relacdes. A. retroalimentacao positiva, por outrolado, conduz a mudancas, isto e , a perda de estabilidade ou equi-lfbrio, E r n ambos os casas, parte do produto de urn sistema 1 6reintroduzida no sistema como lnformacao sobre 0 produto resul-tante, A diferenca esta em que, no caso de retroalimentacdonegativa, essa informacao e usada para diminuir 0 desvio do pro-duto de urn con junto de norm as ou tendencies - dai 0 adjetivo"negative" - enquanto que, no caso de retroallmentacao posi-tiva, a mesma informacdo atua como medida para ampliar 0desvio do produto e, por conseguinte, e positiva em rela

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    Iclaro que seria premature e inexato concluir, simplesmente, quea retroalimentacao negativa e desejavel e a retroalimentadio posi-tiva desintegradora. 0 nosso ponto principal e que as sistemasinterpessoais - grupos de estranhos, pares conjugais, famllias,relacdes psicoterapeuticas ou ate internacionais etc. - podem serencarados como circuitos de retroalimentacao, dado que a compor-tamento de cada pessoa afeta e e afetado pelo comportamento decada uma das outras pessoas. A admissdo (input) num tal sistemapode ser ampliada e redundar em mudanca ou pede ser neutra-lizada para manter a estabilidade, segundo os mecanismos retroa-limentadores sejam positives ou negatives. Pelos estudos feitoscom familias que continham um membro esquizofrenico, poucasduvidas restam de que a existencia do doente e essencial paraa estabilidade do sistema familiar e de que 0 sistema reaglrdrapida e eficazmente a quaisquer tentativas intern as ou externaspara mudar a sua organizadio. Evidentemente, trata-se, nessecase, de urn tipo indesejavel de establlidade. Como as manifes-ta~6es da vida se distinguem, evidentemente, pela estabilidade ea mudanca, os mecanismos de retroalimentacac positiva e nega-tiva devem ocorrer nelas em formas especfficas de interdepen-dencia ou complementaridade. Pribram (117) mostrou recente-mente que. a realiza~ao da estabilidade e propfcia a novas sensibi-lidades e que novos mecanismos se diferenciam para enfrenta-Ias.Assim, a estabilidade nao e um esteril "fim de linha" nem mesmonum meio relativamente constante mas, pelo contrario, nas conhe-cidas palavras de Claude Bernard, "a estabilidade do meio internoe a condicao para a existencia da vida livre".

    A retroallmentacao foi corretamente definida como0 segredoda atividade natural. Os sistemas dotados de retroalimentacaodistinguem-se nao 56 por um grau quantitativamente superior decomplexidade; eles tambem sao qualitativamente diferentes detudo 0 que se situa no domlnlo da mecdnica classlca. 0 seuestudo requer novas estruturas conceituais; sua 16gica e episte-mologia sao descontinuas, em rela~ao a alguns principios tradi-clonais da analise cientffica, como a.abordagem da "variavel iso-lada" au a crenca laplaceana de que 0 completo conhecimentode todos as fates, num determinado ponto do tempo, habilitarda previsdo de todos os estados futures. Os sistemas auto-regu-Iadores - sistemas com retroalimentacao - requerem urna fila-sofia pr6pria, em que as conceitos de modele e in larma{Ja saotao essencials quanto as de materia e energia no comeco doseculo atual. As pesquisas sabre eases sistemas sao grandemente28

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    dificultadas, pelo menos de momenta, pelo fato de que nao exlsteurea linguagem cientffica suficientemente sofisticada para ser 0vefculo de sua explica~ao; e foi sugerido, por exempJo, por Wieser(167, pag. 33), que os pr6prios sistemas cons tiruem a sua maissimples explica~ao.

    1.4REDUNDANCIA

    "A nossa enfase. sabre a des con tinu idade c i a teorla de sistemase das tradicionais teorias monad ic es au Iineares nao deve seririterpretada como uma declaracdc de desespero , Se es tam os subli-nhando aqui as d lfic uld ad es c on ce iru ais e taO-56 para assinalarque novas abordagens tem que ser descobertas, simplesmenteporque os quadros tradicionais de Iee~encia sao .nitidamenteinadequados. Nessa procura de novas abordagens, verificamosterem sido feitos progresses em outros campos que sao de impor-tinda imediata para a estudo da comunicacao humana; e essasisomorias constituem' 0 principal foco de exame neste capitulo.o homeostato de Ashby (4, pags, 93 e segs.) e um excelente eadequado exemplo e, portanto, sera aqui mencionado, pelo menos ,sucintamente. Esse dispositive consiste em quatro subsistemasauto-reguladores idsnricos que estao totalmente interligados, demodo que urna perturhadio causada em qualquer deles afeta osoutros e, par seu turno, e afetado pela rea~ao destes. Isto signi-fica que nenhum subsistema pode alcancar 0 seu pr6prio equill-brio isolado dos demais e Ashby pede provar urn cerro mimerode caracterfsticas "comportamentais" sumamente notavels dessamaquina, Embora 0 circuito do homeostato seja muito simples,quando comparado com 0 cerebra humane au mesmo com outrosdispositivos fabricados pelo homem, e1e e capaz de 390625combina.;oes de valores parametr icos ; ou, para dizer 0 mesmoem termos mais antropom6rficos, possui aquele mimero de pos-s lv eis a titu de s adaptativas a quaisquer mudancas que se. operemem seu meio interno au externo, 0 homeostato logra a suaestabilidade passando par uma exploracao casual de todas as suascombinacdes , ate ser alcancada a configuracac interna apropriada.Isto e identico ao comportamento de tentativa-e-erro de muitosorganismos sob tensao. No caso do homeostato, 0 tempo reque-rido para essa explora~ao pode variar entre segundos e horas.

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    E fUci l perceber que, para organismos vivos, essa defasagem seria,quase invariavelmente, excessiva e constituiria urn serio incon-veniente para a sobrevlvencia. Ashby leva esse pensarnento aoseu extremo 16gico quando escreve:Se n6s fOssemos como homeostatos, aguardando ate que' urncampo nos desse, de urn golpe, toda a nossa adapta)ao adults, fica-rlamos esperando etemamente. Mas hebe nao espera indeflnl-damente; pelo contrdrio, a probabilidade de que de desenvolva umacompleta adapta\,ao adults dentro de vinte anos esta proxima daunidade, (4 , pig. 136). -

    Passa entao a mostrar-nos que, nos sistemas naturals, umacerta conservacao da adapta~ao e conseguida. Isto significa queas antigas adapta~i5es nao sao destrufdas quando se eneontramas novas e que a exploracilo nao tern por que ser toda recomecada,como se uma solucao nunea tivesse sido concretizada antes.o que tudo isto tern a ver com a pragmatica da ccmunicacaohumana ficara mais claro depois das seguintes consideracoes. Nohorneostato, qualquer uma das 390 625 configuracdes internastern, em qualquer altura, uma probabilidade igual de ser postaem execucao, em virtude da interacao dos quatro subsistemas.Assim, a ocorrencia de urna dada configuracao nao tem efeitoalgum, em absoluto, sobre a ocorrencia da configuracao ou seqiien--cia de configuracoes seguintes. De uma cadeia de eventos emque cada elemento tern, 0 tempo todo, .uma probabilidade igualde ocorrencia, diz-se que manifesta "casualidade", Nenhuma con-clusao pode set extraida dessa ocorrencia fortuita nem pode serfeita qualquer previsao sabre a sua sequencia futura . Isto e outramaneira de dizer que nao comporta Informacao alguma. Contudo,se urn sistema como 0 homeostato for dotado da capacidade dearmazenar adaptacoes previas para uso futuro, entao a probabi-lidade inerente nas seqiiencias de coniiguracdes internas sofrerauma ddstica rnudanca, no sentido de que certos agrupamentosde configuracdes tornar-se-ao repetitivos e, portanto, mais provd- .veis do que outros. Convem assinalar, neste ponto, que nao epreciso atribuir qualquer significado a esses agrupamentos; a suaexlstencia e a sua melhor explicacao. Uma cadeia do tipo queacabamos de descrever e urn dos ccriceitos mais fundamentais nateoria da Informacao e denomina-se' urn processo estocsstico.Assim, 0 processo estocastko refere-se a legitimidade inerentenuma seqiiencia de sfmbolos ou eventos, quer a seqiiencia sejatao simples quanta os resultados de tirar bolas brancas e pretas3 0

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    de uma caixa, au tao cornplexa quanta as padr6es especlicosdos elementos tonais e orquestrais empregados por urn compo-sitar) 0 uso idicssincrdslco de elementos. da llnguagem no estilode um autor au padrao. de grande importancia diagn6stica,contido no gIMko de um eletroencefalograma. Segundo ateoria da- informaciio, as processes estocdsticos 'mostram redun-ddncia ou limita~ao espediic, dois termos que podem setusados lntermutavelmente com 0 conceito de padrao que -temside livremente empregado no acima exposto. Correndo arisco de excessiva redundsncla, sublinharemos uma vez maisque esses padrdes nao t e r n , nem precisam ter, qualquer signi-ficado explicative ou simb6lico. Isto nao exdui, 6 . claro, apossibllldade de que possam estar correlacionados com outrasocorrencias, como, por exemplo, e 0 caso do eletroencefalogramae de algumas condic;oes medicas,

    A redundilncia foi extensarnente estudada em duas das tresareas da comunicacdo humana, a sintaxe e a semdntica] a obrapioneira de Shannon, Carnap e Bar-Hillel deve ser meacionadaa esse respeito. Uma das conclusoes que pode set deduzida dessesestudos e que cada urn de n6s possui uma enorme soma de conhe-cimentos sabre a legitimidade e a probabilidade estatlstica ineren-tes a sintaxe e a semdntica das comunicacdes humanas. Psicologi-camente, esse conhecimento e de uma especie multo interessante,pais esta quase totalmente fora da consciencia humana. Nlnguem,exceto urn especialista em inarmac;ao. talvez, pode indicar asprobabilidades seqiienciais au as ordens hierarquicas de letras epalavras numa dada Iinguagem; entretanto, todos n6s somascapazes de Iocalizar e corrigir urn erro de impressao, substituituma palavra em falta e fazer 0 desespero de urn gaga, comple-tando para ele as suas frases. Mas conhecer uma linguagem esaber alga sobre -uma linguagem sao duas ordens de conhecimentomuito diferentes. Assim, uma pessoa pode .saber usar correta efluenternente a sua lingua materna e, no entanto, nao possuirurn conhecimento de gramatica e de sintaxe, isto e , desconheceras regras que ela respeita ao falar a sua llngua, Se essa pessoafosse aprender- uma outra linguagem - exceto pela mesma aqul-si~ao emplrlca da sua lingua materna - teria de aprender tam-bern, explicitamente, algo sobre linguagens.:l .

    (2) Benjamin Wharf, 0 grande Iingiilsta, aisinalou repetldameate essefenomeno, por exemplo, no capftulo "Science and Linguistics":3 1

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    Passando agoia aos problemas de redundancia ou limita~i'ioespecffica na pragmdtica da c9munica~ao humana, uma recspitu-la~ao da literatura mostra-nos ter sido, ate hoje, publicado multopouco sobre este assunto, especialmente no que d . i z respeito apragmdtica como fenemenos interacionals , Queremos dizer ,comisto que a maloria dos estudos existentes parece Iimitar-se, priaci-palmente, aos efeitos da pessoa A sobre a pessoa B. scm tomarigualmente em consideracdo que tudo 0 que B fizer influencia 0movimento seguinte de A e que ambos sao predominantementeinluenciados pelo (e, por seu turno, influenciam 0) contexteem que as suas intera~oes ocorrem,Nao e diffcll perceber que a redunddncla pragmdtica e essen-dalmente semelhante a redundancia slntatica e semantica. Tam-bern nesta esfera possufmos um a vasta soma de conhecimentosque nos habilitarn a avaliar, influendar e prever 0 comporta-mento, De fato, nessa area. somas particularmente suscetfveisa Incoerencias: 0 comportamento que esta fora de contexte auque manifesta certas outras especies de casualidade au caranciade- limita~ao especica imediatamente nos impressiona comomuito mais inadequado do que os meros erros sintaticos auiemanticos na comunica~ao. E, no entanto, e nessa a r e a queestamos particularmente inconscientes das regras que devem setseguidas na comunicacso bern sucedida ou violadas na comuni-ca~ao perturhada. Somas constantemente afetados pela cornual-ca~ao; como sugerimos antes, ate a nossa consclencia de n6spr6prias depende da comunlcaelo. Isto foi convincentementeenunciado por Hora: "Para entender-se a si mesmo, 0 homemprecisa ser enrendido par urn outro, Para ser entendido pot urnoutre, ele precisa entender 0 outre" (65. pag. 237). Mas se 0entendimento l ingtilstico se baseia .nas regras da gramatlca, sin-taxe, semdntica etc., entao 'quais sao as regras para ~ especie deentendimento proposto por Hara? Mais uma vez, parece queconhecemos essas regras sem saber que as conhecemos. Estamosem constante comunicadio e. nao obstante, somas quase comple-tamente incapazes de comun lc ar sa bre! c am un ic afa o. Este pro-blema sera um dos temas principais de presente livr

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    A busca de um padrao, ou modele, e a base de toda a inves-tiga~ao cientffica, Onde ex is tir um padriio existe significado;esta maxima epis temol ogic a tambem e vdlida para 0 estudo daintera~ao hum ana, Tal estudo seria relativamente Hell se consis-tisse tao-s6 em interrogar aqueles que estao empenhados numaintera~ao e em aprender deles , ass im , que padroes eles habitual-mente adctamou, per outras palavras, que regras de comporta-mento estabeleceram entte eles. Uma aplica~ao comum dessaideia e 0 ques tiond rio . te cn lc o, Contudo, um a-v ez compreen did oque os.enunclados nao podem ser sempre aceitos pelo seu valoraparente, muito menos na presenca da psicopatologia - que aspessoas podem mul to bem dizer um a colsa-e signi/ icar um a outracoisa - e, como acabamos de ver, que ex is tem ' questdes, cujasrespostas podem estar inteiramente fora do ambito da nossaconsciencla, ent~o a necessidade de diferentes abordagens toma-se6bvia. Em termos gerais, as regras de comportamento e inte-ta~ao de uma pessoa podem manifestar os mesmos graus deconsciencia que Freud postulou para os lapsos e enos: (1) podemestar claramenre dentro 'da consciencia de. uma pessoa, em cujccaso 0questiondrio e outras tecnlcas simples de pergunta-respostapodem ser usados; (2) uma pessoa pode. estar inconsciente delesmas ser capaz de reconhece-los quando lhe sao'assinalados; ou(3) podem estar tao longe da consciencia da pessoa que mesmosendo corretamente deinidos e levados a sua aten~ao, ela sejaainda incapaz de percebe-Ios. Bateson aperfeicoou esta analogiacom a introdu~ao de nfveis' de consciencia e enunciou 0 problemaem termos da nossa' presente estrutura coneeitual:

    ( . . . ) a medida que subimos na escala de ordeas de ajlrcndi.zagem, entramos em regidea cada va mais abstraiamcnte padroni-zadas, as quais esmo cada vcz menos sujeitas a uma inspe~o cons-ciente, Quanto mais abstratas - mais I1cnerkas e formals sao aspremlssas em que baseamos a nossa co~bll la~ao d e padOOes - maisprofundamcnte estes mergu lham .no s n1veis psico16gico ou neurolo-gico e menos acessfveis sao ao controle consclente, 'o habi lo de dependencla ~ muito menos perceptlvel para 0indlvlduo do que 0 fato de que, numa dada ocasiiio, de obtcveajuqa, Isto tainb6n de pode Set eapaa de reconhecer mas reco-nhccer 0 mais complexo padraQ seguinte, de que, tendo procuradoaiuda, usuaImcnte morde a mao que 0 allmentou, talvcz seja esces-sivamente di(qI para ele pcrsctUt~ na consciSncla. (16)Felizmente para a nossa compreensfo da intera~ap humana.o quadro e diferente para urn observador de fora, Ele e comoalguem que se senta ao lade de urn tabulc;iro de xadrez sem

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    entender as regras nem 0 objetivo do jogo que estd se desenro-lando a sua frente, entre dois parcelrcs, Representemos, nestemodelo conceitual, a inconsciencia dos "jogadores", na vida real,pela suposi~ao simplificada de que 0 observador nao fala nementende a Ilnguagem dos jogadores e, portanto, nao pode pedir--lhes explica~oes. Logo se tornani claro para 0 observador quea comportamento dos parceiros revela varios graus de repeti~ao.de redundancia, dos quais algumas conclusdes conjeturais podemser deduzidas. Por exemplo, ele notara que, quase invariavel-mente, urn movimento de urn jogador e seguido de urn movi-~mento do outre. Assim, sera flicil deduzir desse comportamentoque os jogadores estio obedecendo a uma regra de alterna~odos lances. As regras que governam os movimentos de cada pecanao podem ser tio facilmerite inferidas, em parte por causa dacomplexidade dos movimentos c ; , tambem em parte. por causadas freqiiendas muito diferentes com que as varias pecas saosingularmente deslocadas. Por exemplo, sera .mais flicil inferira regra subentendida nos lances 40s bispos do que nos movi-mentos 'Incomuns e pouco freqiientes das torres, que podem. atenao ocorrer durante. um jogo. Note-se tambem que a torreenvolve dois movimentos consecutivo'S pelo mesmo jogador e,por conseguinte, parece invalidar a regra de altema~o de movi-mentos. Entretanto, a, muito maior redundanda da alterna~aode, movimentos prevalecera na formula~ao .te6riqt do observadorsobre a Menor redundsncla dos movimentos das torres e. mesmoque a aparente contradiefo fique por resolver. as hip6teses fOIOlU-ladas ate aqui qao t e r n par que' ser necessariamente abandonadaspelo observador, Do que precede podemos concluir que, ap6sobservar uma serie de jogos, 0 espectador icarla apto, com todaa probabilidade, a formular com urn elevado grau de exatidao asregras do xadrez, inclulndo 0 ponto final do jogo, 0cheque-mate.Sublinhe-se que ele poderia chegar a esse resultado sem a possibi-lidade de pedir informacdes.

    Significara tudo Isto que 0observador "explicou" 0 compor-tamento dos jogadores? N6s preferirfamos dizer que ele identi-!cou urn padrao complexo de redundancias. 3 E . para. se ele(3) Semelhantes padr5es complexes e padr5es dentro de padr5es, nonlvel Interpessoal (numa s6-ie de eatrevistas pskoterap!uticas) foramextensamente estudados POl' Scheflen (139). A sua obra pioneira demons-tta nio s6 que essespadnks existem mas t a a i h C m que sio de uma natu-reza incrivc1m~te repetitiva e esttuturada.

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    sentisse inclina~iio para lsso, poderia atribuir um signif icado acada p~a e a cada regra do jogo. De fato, pod~ria criar' Ulnaelaborada rnltologia sabre a jogo e seu significado mais "pro-funda" au "real", incluindo versdes fantasiosas sabre a origemdo jogo, como tern, de Iato, .sido feito, Mas tudo isso e desneces-sdrio para 0 estudo do pr6pdo jogo e uma tal explicacao oumitologia teria com 0 xadrez a mesma re1a~ao da astrologia com~ astronomia . .f .Urn exemplo final pode unlficar a nossa dlscussfo da redun-dancia na pragmdtica da comunicacdo humana. Como a leitordeve saber. a programa~ao de computadores consiste na orde-n~~ao de urn mimero relativamente pequeno de regras (pro-grama}; essas regras guiam entao 0 computador para um grandemimero de operacdes padronizadas e multo flexfvels. Aconteceprecisamente 0 oposto se, como sugerimos acima, observarmos aintera~ao humana, no tocante a redundsncla. Partindo da obser-va~ao do sistema particular em operacso, tenta-se entao postularas regras subjacentes no seu fundonamento, a seu "programa",na nossa analogia do computador.

    I . S

    A ME.TACOMuNICACAO E 0 CO~CEITO DE CALCULOo corpo de. conhecimentos adquirido pelo nosso observadorhipotetico, ao estudar a redundancia pragmdtica do fen8menocomportamental "jogar xadrez", revela uma sugestiva analogia

    ( .f. ) Que nao existe uma re1a~aonecessaria entre fato e explica~ofoi ilustrado num recente experlmento por Bavelas (20): Foi dito a cadasujeito que ele estava patticipando numa invc:stiga~aoexperimental de "for-ma~ao de conceito" e recebia 0 mesmo cartao clnzento e aspero sobre 0qual iria "formular conceltos", De cada par de sujeitos (vistas separadamas concorrentemente), dizia-se a om deles, oito em cada dez vezes aoacaso, que 0 que ele dissera sobre 0 carmo estava certo. As Idelas dosujeiro que era "reeompensado" com uma ireqiiencia de 80% mantinham-senum nfvel simples, ao passe que 0 sujeito que 's6 era "recompensado" comuma freqi.iencia de 50% dc:senvolviacomplexes, abstrusas e suds teoriassabre 0 cartile, Ievando em conta os mais Insignificantes e mlntisculosdetalhc:sda composi~aodo cartao. Quando os dois suieitos cram reunidose solicitados a discutir suns ccnclusoee, 0 Indivlduo com as id8as maissimples Imedlatamente sucumbia ao "bdlhantismo" des conceitos do 'outree concordava em que este ultimo analisara minuclosamente 0 carmo.35

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    com 0 conceito matemdtico de calculo. Urn calculo, segundoBoole (31, pag. 4) e "urn metoda que assenta no emprego desfmbolos, cujas leis de' comblnacao sao conhecidas e gerais; ecujos resultados admitem uma interpretacao coerente" . N6s jlideixamos subentendido que urna tal representacao formal e conce-bfvel na comunicacao humana mas tambem foram evidenciadasalgumas das diiculdades do discurso sabre esse calculo, Quandoos matemdticos deixam de usar 'a matematlca como uma ferra-menta de calculo mas fazem dessa ferramenta 0 obieto de seuestudo - como acontece, par exemplo, quando poem em dtiv ldaa coerencla da aritmetica como urn sistema _..;. usam uma lingua-gem que nao faz parte 'da matematica mas e sabre a ma te rndtic a,Segundo David Hilbert (64), essa linguagem tem 0 nome demetematematica. A estrutura formal da matematlca e urn calculo:a metamatemdtica e esse cdlculo expresso, Nagel e Newman defl-niram a diferenca entre as dais conceitos com admidvel clareza:

    A imponAncia do nosso problema de rec onh ec imenro d a dlstin-~o entre :natematica e metamatemdtica nao pode deixar de sercnfatizada. 0 la lo de n ilo se respe lta r essa d istin fao tem causadopa ra do xo s e c on lusiio . 0 reconhecimento do s eu s ignif ic ado possibi-litou que se expusesse com nitidez l um .ino sa a estrutura 16gica dota cio cWlo ma tematic o. 0 mento da distin~ao e que acaneta umacuidadosa codifica~o dos varios sinais que patt1 cip am. na e labo ra~ode um cdlculo formal. livre de pressupostos ocu1tos e de irrelevantesassoc ia fi Je s de . s ign i fi cado. Al6n disso, requer dcfinies esatas dasopera~es e regras 16gicas de constru9io e deduo matematlcas, mui-tas das quais o s matematie:os tin ham a plic ad o scm eS la r explic itamen tec6nsc io$ do que estavam usando. (l08, p a g . 32. 0 grifo e nossc]Quando deixamos de usar a comunicadlo para comunicarmas a empregamos para comunicar sabre comunicacao, como

    inevitavelmente acontece na pesquisa de comunicacso, entiio recor-remos a conceltualizacdes que nao sao parte da comunicacao massabre esta, Em analogi a com a matemdtica, isso tern 0 nome demetacomunicacao. Comparada com a metarnatemdtica, a pesquisaem metacomunicacao padece de duas significativas desvantagens.A primeira e que, no campo da com,unicac;ao humana ainda nadaexiste compardvel com 0 sistema formal de urn calculo. Comosera demoosttado daqui a pouco, essa dificuldade nao anula autilidade do conceito. A segunda dificuldade esta intimamenterelacionada com a primeira: enquanto que as matematicos pos-suem duas Iinguagens (mimeros e sfmbolos algebricos para expres-sar a matemadca e a linguagem natural para as express6es dametamatemdtica), n6s estamos limitados, em grande parte, a36

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    linguagem natural como vefculo tanto da comunicacao como dametacomunicacao. Este problema surglra repetidamente nodecurso das nossas conslderacces,Qual e , entao, a utilidade da no\aa de -um calculo de cornu-nicacao humana, se as caracterlsticas espedficas de semelhantecalculo sao, reconhecidamente, uma coisa do distante futuro?Em nossa opiniso, a sua utilidade imediata reside no fato de apropria no~ao fornecer um poderoso modele da natureza e grausde abstracao dos fenomeuos que queremos identificar. Recapi-tulemos: estamos procurando redundancias pragmatlcas; sahemosque nao serao grandezas simples ou qualidades estaticas maspadrdes de intera~aa analogos ao conceita matemdtico de un~ao;e, finalmente, prevemos que esses padrdes teraa as caracterfsticasgeralmente encontradas nos sistemas de erro contralado e orien-tados em fun~ao de urn objetivo. Assim, se com estas premissasem mente explorarmos as cadeias de comunicacso entre dais oumais comunicantes, chegaremos a .certos resultados que, segura-mente, nao podem ainda pretender que sejam um sistema formalmas que ja sao da mesma natureza dos axiomas e tearemas deurn calculo.Na sua obra acima citada, Nagel e Newman descrevem aanalogia entre urn joga como 0 xadrez e urn cdlculo matemdticoformalizado. Explicam des como

    as pecas e os quadrados do tabuleiro correspondem 1105 sinais elemea-tares do- calculo; as posi~5es legals das pe~ no tabulelro, a s f6r-mulas do calculo; as posi~5es inicials das pe ..as no tabuleiro aosaxiomas ou f6rmulas inicials do d:Jculo; as posi ..5es subseqiientesdas pecas no tabuleiro as f6rmulas derivadas dos axiomas (isto e ,aos teoremas); e as regras do jogo a s regras de inferencia (ouderiva ..ao) para 0 cdlculo, (108, pag . .35)Os autores passam depois a mostrar como as configuracdesdas pecas no tabuleiro sao "an6dinas" em si, enquanto que osenunciados sabre essas configuracces sao muito significativos. Osenunciados dessa ordem de abstracao foram descritos. pelos auto-res acima mencionados da seguinte maneira:( ) os teoremas gerais do "meta-xadrez" podem ser estabeleddcs,1 1 prova des quais envolve apenas um mimero finito de configurat;5esadmlssfveis no tabuleiro. 0 teorema de "meta-xadrea" sobre 0mimerc de posslveis aberturas para as pedras brancas pode serestabelecldo dessa maneira; e asslm pede ser formulado 0 teoremade "meta-xadrez" segundo 0 qual, se as brancas tem apenas doiscavalos e 0 rei e as pretas apenas 0 seu rei, e -impcsslvel a s brancasfor ..ar um mate contra as pretas, (108, pag .35)

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    Citamos extensamente. esta analogia porque ela ilustra 0concelto de calculo nao s6 na metamatematica mas tambem nametacomunlcacao, Pais se ampliarmos a analogia de modo alncluir os dois jogadores, jli nao -estamos estudando um jogoabstrato mas, outrossim, seqUencias de interadlo humana que saoestritamente governadas par um complexo conjunto de regras,A iin ic a d ife renca e que preferirlamos usar a expressao "Ionnal-mente Indeterminavel", em vez de "anddino", quando em refe-rencia a um item isolado de comportamento (um "lance", naanalogi a do jogo). Um tal item de comportamento, digamos,a, pode ser devido a urn aurnento de saldrio, ao conflito deEdipo. ao alcool au a uma tempestade de granizo, e quaisquerargumentos sabre qual.a razao que "realmente" se aplica tenderaoa rnostrar as mesmas qualidades de uma disputa escoldst lca sobreo sexo dos anjos. A menos que - e ate que - a mente humanaseja franqueada a inspe~ao de fora, as Inferenclas e depoimentospessoais sao tudo 0 que temos, e ambas as coisas sao nctoria-mente inidoneas, Contudo, se notarmos que 0 comportamentoa - sejam quais forem as suas "razdes" - por um comunicantegera 0 comportamento b, c, d ou e no outre, ao mesmo tempoque exclui, evidentemente, os comportamentos x, y e % , entaapode ser postulado um teorema de meracomunlcacao. 0 quesugerimos aqui, pols, e que toda a intera~ao e suscetlvel de defi-ni~ao em termos da analogia do [ogo, isto e , como seqiiencias de"lances" estritamente governados por regras a cu]o respeito naointeressa saber se estiio dentro au fora da consc lencia dos comuni-cantes mas sabre as quais e posslvel formulae enunciados metaco-municaclonais significativos. Isto significaria que, como foi suge-rido em 1.4, existe urn calculo ainda nao interpretado da pragma-tica da comunicacao humans cujas regras sao observadas na cornu-nica~ao bern sucedida e violadas na comunicacao desordenada. Aexistencia desse cdlculo pode, na fase atual dos nossos cohheci-mentos, ser comparada a uma estrela cuja existencia e posi\aoforam postuladas pda astronomia te6rica mas ainda nao desco-berta pelos observatories,

    1.6CoNCLUSOES

    Se abordarmos a comunicacao humana com os criterios acimaem mente, numerosas mudancas conceituais se imp5em. Estas38

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    serao agora sucintamente descritas, dentro do contexto da psico-patologia. Esta referenda a psicopatologia nao significa queesses pontos 56 tenham validade em tal contexte mas, simples-mente. que os consideramos particularmente evidentes e imp or-tantes nessa area.1.61 - 0 CONCEITO DE CAIXA ESCURA (BLACK BOX)

    Conquanto a existencia da mente humana seja unicamentenegada por pensadores particularmente radicals, a pesquisa dosfenomenos mentais, como e penosarnente sabido de todos osinvestigadores nesse campo, e tremendamente difkil por causada ausencia de urn ponto arquimedeano fora da mente. Multomais do que quaisquer outras disciplinas, a psicologia e a psiquia-tria sao, fundamentalmente, auto-refIexivas: sujeito e ohjeto saoidenticos e quaisquer hip6teses manifestam uma tendencia inevi-tavel para a autovalidacao. A Impossibilidade de ver a mente"em funcionamento" levou, em anos recentes, a ado~ao do can-ceito de Caixa Escura, inspirado no campo da te lecomunlcacso.Aplicado originalmente a certos tipos de equipamento eletronicocapturado ao Inimigo e que nao podia ser aherto para estudo porcausa da possibilidade da exis ten cia de cargas de destruicao noseu interior. 0 conceito e mais geralmente aplicado ao fato deo equipamento eletronico (hardware) ser hoje tao complexo que,por vezes, e mais conveniente esquecer a estrutura interna de urnaparelho e concentrar 0 estudo nas relacdes espedicas de admis-sao e salda (input-output), Se hem que seja verdade que essasrelacoes podem perrnitir deducoes au Inferencias sobre a que"realmente" se passa dentro da caixa, 0 seu conhecimento naoe essencial para 0 estudo da /um;ao do dispositive no sistemap,-a ior de que ele [az parte . Este conceito, se aplicado aos pro-blemas psico16gicos e psiquiatricos, tern a vantagem heurlsticade que nao e preciso recorrer a hip6teses intrapslquicas inteira-mente inverlficaveis, e de que podemos limiter-nos as relac;5esobservaveis de admissdo-safda, isto e . a comunica{ao. Tal abor-dagem caracteriza, acreditamos, uma irnportante tendencia recentena psiquiatria, no sentido de considerar os sintomas como umaespecie de admlssao no sistema familiar. em vez de serem umaexpressdo' de conflito intrapsiqulco.

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    1 .62 - CONSCI~NCIAE INcoNsClftNcIASe nos interessarmos em observar 0 comportamento humanoem termos da hip6tese da Caixa Escura, veremos que a safda deuma Caixa Escura e a admissjo de uma outra, A questdo de saber

    se uma ta l troca de informa~iio e consciente ou inconsciente perdea importdncia suprema que possui num contexto pslcodinsmico.Nao se deve interpreter isto como significando que, no tocantea s rea~oes a um item especlfico de comportamento, nao faz dife-renca alguma se esse comportamento e tido como consdente ouinconsciente, voluntarlo, Involuntdrlo ' au sintometico. Se nosplsarem, faz muita diferenca sabermos se 0 comportamento dequem nos pisou foi intencional ou inadvertido. Esse conheci-mento, entre tanto, baseia-se em nossa avalia~ao dos motivos daoutra pessoa e, portanto, em suposicdes sobre 0 que se passadentto da cabeca. dela. E, e clare, se perguntdssemos a quemnos pisou os motives por que 0 fez, mesmo assim nao pede-rlamos estar cettos, porquanto 0 outro indivduo poderia jurarque foi sem querer quando nos pisou deliberadamente ou ateairmar que tinha sido de prop6sito quando 0 seu comportamentofora acldental, Tudo isto nos devolve a atribui~ao de "signifi-cado". uma no~iio que e essencial a experiencia subjetiva deeomunicar com outros mas que conclufmos ser objetivamenteIndetermlnavel para os fins de pesquisa em comunlcacdo humana.1.63 - PRESENTE versus PASSADO

    Conquanto nao padeea drividas que 0 comportamento e,pelo menos em parte, determinado pela experiencia previa. abusea de causas no passado earece, notoriamente, de idoneidade.'Os comentdrios de Ashby sabre as peeuliaridades da "memdria"como urn construto jli oram assinalados antes- (5. 1.2). Naos6 se baseia, principalmente, em provas subjetivas e, portanto,suscetfveis da mesma distor~ao que a explora~ao pretendia, hipote-ticamente, eliminar mas tudo 0 que uma pessoa A relatar sabreo seu passado apessoa B esta inseparavelmente vincu1ado a srela~5es existentes entre essas duas pessoas e e determinado palessas rela~5es. Se, par outro lado, a comunicacao entre 0 indi-vlduo e os outros slgnificantes em sua vida for diretamenteobservada - como foi sugerido na analogia do xadrez e e feitona psicoterapia conjunta de casais ou de familias inteiras - ospadrdes de comunicacso que forem finalrnente identifieados saoimportantes, do ponto de vista diagn6stico, e permitem 0 plane.40

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    jamento da estrategia mais apropriada de Intervencao terapeutica.Esta abordagem constltui, pois, uma exploracao que visa mais abusca de urn padriio "aqui e agora" do que de urn significadosimbolico, causas passadas ou motiva~ao.1 .64 - EFEITO oersus CAUSA

    Vistas a esta luz, as causas possfveis ou hipoteticas docomportamento assumem uma importancia secundaria mas 0efeito do cornportamento surge como urn criterio de sjgniica~aoprimordial na interadlo de individuos intimamente relacionados.Por exemplo, podernos ver repetidamente que urn sintoma quese manteve refratarlo a psicoterapia, apesar da analise intensivada sua genese, revela subitamente 0 seu significado quando vistono contexto da iiitera~ao marital em curso do indivfduo com 0seu conjuge, 0 sintoma pode entao manifestar-se como urna limi-ta~ao imposta, como urn regra do seu particular "jogo" intera-donal, fi em vez do resultado de urn conflito naoresolvido entrehipoteticas forcas intrapslquicas, De urn modo geral, achamosque urn sintoma e urn item de comportamento que se reveste deprofundos efeitos, ao influendar 0meio circundante do padente.Uma regra emplrica 'pode ser enunciada a este respeito:_ Sempreque 0por que? de urn item de comportamento permanece obscure,a quesrao para qun pode ainda fornecer urna resposta valida.1.65 - A CIRCULARIDADE DOS PADR6ES DE COMUNICACAO

    Todas as partes do organismo formam umclrculo. Portanto, toda e qualquez parte e umprinc!pio e um fim. - Hip6crates

    Enquanto que nas cadeias lineares e progressivas e signifi-cativo falar sobre 0 prindpio e 0 fim de uma cadeia, esses termossao desprovidos de significa~ao em sistemas dotados de circuitosde retroalimentacao. Nao existe principio e fim num clrculo.Pensar em fun~ao de tais sistemas Iorca-nos a abandonar a no~aode que, por exernplo, 0 evento a ocorre primeiro e 0 evento b(fi) Nunca sera demais enfatizar que, neste livro, a termo "jogo" naodeve ser interpretado no sentido de qualquer conota~ao lLidlcamas derivada Teoria Matematica dos Jogas e refere-se a seqiiencias de comportamentoque sao governadas per' regras,

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    e determinado peIa ocorrencia de a, visto que, pel a mesrna 16gicadefeituosa, poder-se-ia afirmar que 0 evento b precede a, depen-dendo donde escolhessemos, arbitrarlamente, romper 1 1 continul-dade do drculo. Mas, como se vera no pr6ximo capitulo, essa16gica defeituosa e constantemente usada pelos participantesindividuais na intera~ao humana, quando ambas as pessoas A e Bpretendem estar apenas reaglndo ao comportamento do parceiro,sem se aperceberem de que, par seu turno, influenciam tambemo parcelro peia sua reac;ao. A mesma especie de raciodnio se aplleaa es ta in so hiv el controv ersia: A comunicac;ao de uma determinadafamilia e patol6gica porque um dos seus membros e psicotico,ou um dos seus membros e psic6tico porque a comunicacao Cpato16gica?1.66 - A RELATIVIDADF: DE "NORMAL" E "ANORMAL"

    As primeiras pesquisas psiquldtrices oram realizadas emhospitals mentais e visavam a classiicac;iio dos pacientes, Essaabordagem teve numerosos vaIores praticos, dos quais nao oium dos de somenos importancia a descoberta de certas condlccesorganicas, como a paralisia geral, A iniciativa pdtica seguintefoi a Incorporaelo dessa dlferenciacso conceitual de normalidadee anormalidade na linguagem juddica; dal as term os "sanidade"e "insanldade", Contudo, uma vez aceito 0 prlnclpio de que, doponto de vista comunicacional, urn item de comportamento s6pode ser estudado no contexto em que ele figura, os termos"sanidade" e "insanidade" perdem, praticamente, todo 0 seusignificado como atributos dos indivfduos. Analogamente, todaa noc;ao de "anormalidade" torna-se muito discutivel, dado sergeralm en te aceito , hoje em dia, que. a condkao do paciente nao eestatica mas varia com a situac;ao interpessoal, assim como comas In cl in ac des p es so ais do observador. Aiem disso, quando ossintomas pslquldtr lcos sao vistos como comportamento apropriadoa uma interac;ao em curso, surge um quadro de referenda quee diametralmente oposto a c on cep cao c ld ss ic a da psiquiatria. Essamudanca de enfase e de uma Importflncia superlative, Assim,a "esquizofrenia", vista como uma doenca incuravel e progres-siva da mente de urn indivfduo e a "esquizofrenia" vista comoa unica reac;ao possfvel a urn contexte absurdo ou lnsustentavelde comunicacac (uma reac;ao que obedece e, portanto, perpetuaas regras de tal contexto) sao duas coisas inteiramente diferentes;e, no entanto, a diferenca reside na incompatibilidade das duas42

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    estruturas c on ceitu ais , en qu an to que 0 quadro clfnico a que e1asse aplicam e 0 mesmo em ambos os casos. As implicacces paraa etiologia e a terapia que decorrem desses diferentes pontos devista tambem sao sumamente discrepantes; dar resulta que 0nosso interesse em examinar e salientar 0 ponto de vista da cornu-nicac;aoDao e urn mero exerdcio academico.

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    Capltulo 2ALGUNS AXIOMAS CONJE'l'URAlS DE COMUNICACAO

    2.1INTRODUt;AO

    As conclusoes a que chegamqs no primeiro capitulo salien-taram, geralmente, a inaplicabilidade de muitas no~oes psiquia-tricas tradicionais ao quadro de referenda por n6s ,eroposto e,assim, parecera, talvez, sobrar muito pouca coisa em que se possabasear 0 estudo da pragmdtica da comunicacao humana. Quere-mos demonstrar agora que essa impressao e errcnea, Contudo,para faze-Io, temos de cornecar por algumas propriedades simplesda comunicacao que tern implicicoes interpessoais fundamentais.Verse-a que essas propriedades sao da natureza dos axiomas,dentro do nosso calculc hipotetico de comunicacdo humana,Quando eles tiverem sido definidos, estaremos entiio em 5itua~aode examinar algumas de suas posslveis patologias, 0 que sedfeito no Capitulo 3.

    2.2A IMPOSSIBILIDADE DE NAO CoMUNICAR

    2.21Em primelro lugar, temos uma propriedade do comport a-

    mento que dificilmente poderia ser mais basica e que. no entanto,e freqiientemente menosprezada: 0 cornportamento 000 ternoposto, Por outras palavras, nao existe urn naocomportarnentoou, ainda em termos mais simples. urn indlvlduo ,nao pode naose eomportar. Ora, se estd aceito que todo 0 comportamento,44

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    numa situacao interacional, 6 tern valor de mensagem, isto e, ecomunicacao, segue-se que, por rnuito 'que 0 individuo se esforce,e-Ihe impossfvel nao comunicar. Atividade au inatividade, pala-vras au silenclo, tudo possui um valor de mensagem; influenciamoutros e estes OUtIOS,pOI sua vez, nao podern ndo responder aessas comunicacoes e, portanto, tambem estao comunicando.Deve ficar cIaramente entendido que a mera ausencia de faIarou de observar nao constitui exce~ao ao que acabamos de dizer,o homem que num congestionado l;:Ialcao de lanchonete oIhadiretamente em frente ou 0 passageiro de aviao 'que se senta deoIhos fechados estfio ambos comunicando que nao querem falara ninguem nem que falem com des; e, usualrnente, os seus vlzi-nhos "recebem a rnensagem" e respondem .adequadamente, dei-xando-os sozinhcs, Isto, obviamente, e tanto urn Intercambio decomunicacao como a mais animada das discussces. rTampoueo podemos dizer que a "comunicacao" sp acontecequando e intendonal, eonsciente ou bern sucedida, isto e, quandooeorre urna compreensao mutua. Se a rnensagem enviada- igualaa mensagem recebida e uma importante mas diferente ordem de

    (6) Podedamos acrescentar que um indivlduo, mesmo sozinho . terna possibilidade de dialogar em fantasia, com as suas alucina~es (15) oucom a vida (s. 8.3)~ Talvez essa "comunlcacso" Intema obedeca a algumasdas mesmas regras que governam a comunicacOO,interpessoal; contudo, taisfen6menos Inobservaveis estao fora do Ambito do significado que damos11 0 termo,

    (1) Pesquisas ~uito in te re ss an te s n es te campo foram realizadas pOILuft (98), que estudou aquilo a que chama "priva~ao de estfmulo social".Reuniu dois estranhos numa sala, fe-los sentarem-se diante um do outree iastrulu-os "para que nao falassem nem comunicassem um com 0 outro,de maneira alguma", As entrevistas subseqiientes revelaram a naturezaaltamente tensa dessa sjtua~iio. Citando 0 anton

    ( ... ) ele tern a sua frente 0 outro individuo, com, seu comports-mente manifesto, embora mudo, Neste ponto, e postulado, temlugar a verdadeira ptova interpessoal e 56 parte da mesma podeser realizada conscientemente, Por exemplo; como reage 0 outresujelto ao primeiro indiv!duo e as pequenas plstas nao--verbais queeste lhe cnvia? Havera uma tentativa de compreender seu olharInterrogative, ou sera friamente lgnorado? ,0 outro sujeito exibirliplstas posturais de tensdo, indicando Ii existencia de algwna aflieaoao conftonta-Io? Ficara cada vez m ais 1vontade, indicando algumaespecie de aceitacao. ou 0 outre trata-Ie-a como se fosse uma colsa,algo que nao existe? Estas e muitas outras especies de comporta-m ente facilm ente discernlvel parecern ter lugar .4 5

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    analise, pais que deve assentar, Iundamentalmente, nas avaliaccesde dados especlficos, introspectivos, relatados pelo sujeito, asquais preerimos negligenciar para a exposicio de uma teoria-comportamental da comunicacso. Sobre a questao da incom-preensao, 0 nosso interesse, dadas certas propriedades formais dacomunicacao, vai para. 0 desenvolvitnento de patologias afins, amargem das motiva~oes ou inten~Oes dos comunicantes (na vet-dade, a despeito das-jnesmas).2.22

    No que precede, 0 termo "comunlcacao" foi usado de duasmaneiras: como titulo generico do nosso estudo e como umaunidade vagamente definida de comportamento. Sejamos agoramais precisos. Continuarernos, e clare, a referir-nos ao aspectopragmdtico da tearia de;. comunicacao humana, simplesmente,como "com unicacao" , Q uante a s varias unidades de comunicacao(c omportamento ). procuramos s el ec ionar termos que ja sao geral-mente compreendidos. Uma unidade comunicacional isalada serachamada f1{ensagem au, quando nao houver possibilidade de con-fusao, uma comunlcacao, A uma serie de mensagens trocadasentre pessoas chamaremos intera,ao. (Para as que anseiam paruma quantificadlo mais precisa, diremos apenas que a sequenciaa que nos referimos pelo termo "interacao" e maier do queuma mensagem mas nao infinita.) Finalmente, nos Capltulos4-7. acrescentaremos as pad10e s d e in te ra ,a o, que constituern umaunidade de comunicaCao de nfvel ainda superior.

    AIelIl disso, mesmo a respeito da unldade mais simplespossfvel, sera 6bvio que, uma vez aceito todo a comportamentocomo comunicacao, nao estaremos lidando com uma unidade demensagem monofonica mas com urn complexo Iluido e multifa-cetado de numerosos modes de comportamento - verbals, tonais,posturais, contextuais, etc. - que, em seu conjunto, condidonamo significado de todos os outros. Os varios elementos desse com-plexo rconsiderado como um , todo ) sao capazes de permutasmuito variadas e de grande complexidade, que van desde 0 con-- gruente ao incongruente e paradoxal .. 0efeito pragmaticc dessascombinacdes, nas situa~oes interpessoais, sed de interesse aqui.2.23A impossibilidade de nao cornunicar e um fen6meno de inte-resse mais do que simplesmente te6iico. Par exemplo, faz partedo "dilema" esqulzofrenlco. Se 0 comportamento esquizofrenico46

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    for observado .pondo de lado consideracces etiologicas , parecerdque 0 esquizofrenicc.tenta nao c omun lc ar. Mas como 0 disparate,a silencio, 0 ensimesmamento, a imobilidade (silencio postural)ou qualquer outra forma de rernincia. ou nega~1io e , em si, umacomunicac;1io, 0 esqulzofrenico defronta-se com a tarefa impos-sfvel de negar que. esta comunicando e, ao mesmo tempo, negarque a sua negac;1io e uma comunicacao. A compreenslio dessedilema basico e uma chave para numerosos aspectos da cornu-nicac;ao esquizofrenica que, de outre modo, permaneceriamobscuros. Como qualquer comunicacso, como veremos, implicaurn compromisso e, par conseguinte, define a concepdio do emis-sor de suas telac;oes com a receptor, podemos formular a hip6tesede que o equizofrenico se compona C01110 se evltasse qualquercomprom isso - naa comunicando. Se e essa a sua finalidade, nosentido causal, e irnposslvel provar, evidentemente; que esse eo efeito do comportamento esquizofrenico sera abordado emrnaior detalhe na s. 3.2.2.24

    Em resume, podemos postular urn axioma metacomunica-donal da pragmatica de cornunicacao: nao se pode nao comun icar .

    2 . 3o CoN'I'EUDO E NivEIS DE RELAC;AO DA COMUNICAC;XOUm outro axiom a oi insinuado acima, quando sugerimos

    que qualquer comunlcacio implica urn cometimento, um compro-misso; e, por conseguinte, define a relac;ao. Isto e outra'maneirade dizer que uma comunieacdo nao s6 transmite informac;ao mas,ao mesmo tempo, impde urn comportamento, Segundo Bateson(132, pags. 17981), essas duas operacdes acabaram sendo conhe-cidas como as aspectos de "relata" e de "ordem", respective-mente, de qualquer comunicacdo. Bateson exemplifica esses daisaspectos pot meia de uma analcgia fisiologica: Sejam A, B e Cuma cadeia linear de neuronlos, Entao, a disparo do neuronicB e 0 "relate" que 0 neuronic A lhe enviou, ao disparar, e urna"ordem" enviada ao neuronic C para que dispare.o aspecto "relata" de uma rnensagem transmite informacaoe, portanto, e sinonimo, na comunicacao .humana, do conteddo

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    da mensagem, Pede ser sabre qualquer coisa que e comunlcavel,independentemente de essa infarma~ao particular ser verdadeiraou falsa, valida, invalida ou indeterminavel. 0 aspecta "ordern",por outro lado, refere-se a especie de mensagem e como deve serconsiderada; portanto, em ultima instancia, refere-se as relafoesentre as comunicantes. Todas estas definlcdes de rela~5es gravi-tam em torno de uma ou vadas das seguintes assercces: "Isto ecomo eu me vejo. . Isto e como eu vs:jo voce... Isto e comoeu vejo que voce me ve ... " etc., numa regressao teoricamenteinfinita. Assim, por exem plo, as rnensagens "E importante soltara embreagem gradual e suavemente" e "Solte a embr