496.a natureza da depravação total do homem, cap. 6, the total depravity of man, por a. w. pink
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A Natureza da Depravação Total do Homem
A. W. Pink
Issuu.com/oEstandarteDeCristo
Traduzido do original em Inglês
The Total Depravity of Man
By A. W. Pink
A presente tradução consiste somente no Capítulo 6, Nature, da obra supracitada
Via: EternalLifeMinistries.org
Tradução por José Antônio de Araújo Neto
Revisão por Camila Almeida
Capa por William Teixeira
1ª Edição: Janeiro de 2016
Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
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Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, com a devida permissão
do ministério Eternal Life Ministries (EternalLifeMinistries.org), sob a licença Creative Commons
Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.
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A Natureza da Depravação Total do Homem Por Arthur Walkington Pink
[Capítulo 6 do Livro The Total Depravity of Man]
No capítulo da pregação mostramos como a Escritura lança luz sobre o grande problema
moral de como uma natureza inerentemente corrupta se origina em cada criança desde o
início de sua existência sem que o seu Criador seja o Autor do pecado. Davi declarou: “Eis
que eu fui formado em iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmos 51:5).
Ele descreveu sua depravação como inata e não criada, derivada de sua mãe e não do seu
Criador, mostrando que a corrupção é transmitida diretamente de Adão através da via da
propagação humana. O mesmo fato foi expresso por nosso Senhor quando Ele disse: “O
que é nascido da carne é carne” (João 3:6). No Antigo Testamento, a palavra “carne” é
usada como um termo geral para a natureza humana ou a humanidade: “Que toda a carne
bendiga o Seu santo nome”, ou seja, todos os homens (Salmos 145:21). “Toda a carne é
erva” (Isaías 40:6). A vida de cada membro de nossa raça é frágil e inconstante. O termo
ocorre no Novo Testamento no mesmo sentido: “Se aqueles dias não fossem abreviados,
nenhuma carne seria salva” (Mateus 24:22); “Pelas obras da lei nenhuma carne será
justificada diante dele” (Romanos 3:20). Por sua própria obediência nenhum homem pode
merecer a aceitação de Deus.
A Corrupção da Carne
Mas, visto que a humanidade está caída e a natureza humana depravada, o termo “carne”
se torna a expressão desse fato; e cada vez que é usado na Escritura em um sentido moral
se refere à corrupção de nossos seres inteiros, sem qualquer distinção entre as nossas
partes visíveis e invisíveis — corpo e mente. Isto é evidente a partir das passagens onde
“a carne” é contrastada com “o espírito” ou a nova natureza (Romanos 8:5-6; 1 Coríntios
2:11; Gálatas 5:17). Quando o apóstolo declarou: “Porque eu sei que em mim (isto é, na
minha carne), não habita bem algum” (Romanos 7:18), ele referiu-se a muito mais do que
seu corpo com seus apetites, ou seja, o seu homem natural inteiro, com todas as suas
faculdades, poderes e propensões. O conjunto foi contaminado, e, portanto, nada de bom
poderia resultar dele até que a graça Divina fosse comunicada. Mais uma vez, quando en-
contramos “ódio, emulações, iras e invejas” inscritos nessa lista incompleta das “obras da
carne” horríveis fornecida por Gálatas 5, fica bastante claro que essa palavra envolve muito
mais do que os membros do nosso corpo físico; ainda mais quando descobrimos que essas
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obras são colocadas contra “o fruto do espírito”, cada um dos quais consiste no exercício
de alguma qualidade interna ou graça.
Assim, fica evidente que, quando Cristo declarou: “O que é nascido da carne é carne”, Ele
quis dizer que o que é propagado pelo homem caído é depravado, que tudo o que vem a
este mundo por geração ordinária é carnal e corrupto, fazendo com que o coração seja
enganoso acima de todas as coisas, e desesperadamente perverso. Também fica evidente
do contexto imediato (João 3:3-5), que o que Ele afirmou no versículo 6 visava demonstrar
a necessidade absoluta da regeneração. Nosso Senhor contrastou o primeiro nascimento
com o novo nascimento, e mostrou o quão imperativo é este último porque estamos radical-
mente maculados desde o princípio. Todos por natureza são essencialmente maus, nada
além de “carne”; tudo em nós é contrário à santidade. Nossa própria natureza está viciada,
e nenhum processo de educação ou cultura pode refiná-la e torná-la apta para o reino de
Deus. As faculdades que os homens recebem ao nascer têm um viés carnal, uma tendência
terrena, uma repulsa pelo celeste e pelo Divino, e estão inclinadas apenas para objetivos
egoístas e atividades vis. Numa sociedade mais polida ou religiosa, em igualdade com o
vulgar e o profano, “o que é nascido da carne é carne” e nunca poderá ser qualquer coisa
melhor. Você poderá podar uma árvore estragada, mas jamais a fará produzir bons frutos.
Todo homem deve nascer de novo antes que possa tornar-se aceitável a um Deus santo.
Tentaremos agora responder uma pergunta ainda mais difícil: Em que consiste a corrupção
do homem em decorrência da Queda? Exatamente qual é a natureza da depravação
humana? Isso é muito mais do que uma questão de interesse acadêmico que diz respeito
somente a professores de teologia. É um ponto de profunda importância doutrinária e prá-
tica. Todos nós, especialmente os pregadores, devemos ser muito claros neste ponto, pois
um erro aqui é susceptível de levar a conclusões errôneas e a sérias consequências. De
fato este tem sido o caso, pois muitos que eram sóbrios e ortodoxos em muitos outros
aspectos responderam a esta pergunta de uma maneira que inevitavelmente levou-os a
enfraquecer, se não repudiar totalmente, a completa responsabilidade do homem caído, e
fez com que eles se tornassem hiper-Calvinistas e Antinomianos. Faremos todos os esfor-
ços com cuidado para definir e descrever a atual condição do homem natural, começando
com o lado negativo e apontando uma série de coisas em que a depravação humana não
consiste.
Em primeiro lugar, a Queda não resulta na extinção daquele espírito que fazia parte do
complexo ser do homem quando criado por Deus. Nem no caso de nossos primeiros pais
ou de qualquer um de seus descendentes. Tem, no entanto, sido discutido a partir da
ameaça Divina feita a Adão: “No dia em que dele comeres certamente morrerás”, que assim
ocorreu, porém, dado o fato de que Adão não morreu imediatamente fisicamente, ele deve
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ter morrido espiritualmente. Certamente isso é um fato, ainda assim, exige ser interpretado
pela Escritura. É muito errado supor que, porque o corpo de Adão não morreu, seu espírito
tenha morrido. Não foi algo em Adão morreu, mas o próprio Adão em sua relação com
Deus. O mesmo é verdadeiro quanto à sua prole. Eles estão de fato “mortos em delitos e
pecados” para Deus, desde o início de sua existência, mas nada dentro deles está positiva-
mente morto no sentido comum da palavra. No sentido bíblico do termo, a “morte” nunca
significa aniquilação, mas separação. No momento da morte física, a alma não se extingue,
mas é separada do corpo; e a morte espiritual de Adão não foi a extinção de qualquer parte
de seu ser, mas o rompimento de sua comunhão com um Deus santo. O mesmo é verdade
para todos os seus filhos. A força exata da declaração solene de que eles estão “mortos
em delitos e pecados” é divinamente definida por nós sendo “alheios à vida de Deus pela
ignorância que há neles, pela dureza do seu coração” (Efésios 4:18). Quando Cristo repre-
sentou o pai como dizendo: “Este meu filho estava morto, e reviveu” (Lucas 15:24), Ele
certamente não queria dizer que o filho pródigo tinha deixado de existir, mas que, enquanto
ele permaneceu “num país distante”, ele foi separado do seu pai, e que agora ele tinha
voltado para ele. O lago de fogo em que os ímpios serão lançados é designado “a segunda
morte” (Apocalipse 20:14), não significando que deixarão então de existir, mas que eles
serão “punidos com a destruição eterna da presença do Senhor, e da glória do seu poder”
(2 Tessalonicenses 1:9). Que o homem caído é possuidor de um espírito é claro: “O
Senhor... que formou o espírito do homem dentro dele” (Zacarias 12:1); “Quem sabe as coi-
sas do homem, senão o espírito do homem que nele está?” (1 Coríntios 2:11); “O espírito
volte a Deus, que o deu” (Eclesiastes 12:7). O homem foi criado um ser tripartido, composto
de espírito, alma e corpo (1 Tessalonicenses 5:23), e nenhuma parte dele deixou de existir
quando ele caiu.
Em segundo lugar, a Queda não resultou na perda de qualquer faculdade humana. Não
privou o homem da razão, consciência ou discernimento moral, pois teria se transformado
em uma outra espécie de ser. Como a razão permaneceu, ele ainda tinha o poder de
distinguir entre a verdade e a mentira; a consciência ainda lhe permitiu distinguir entre o
que era certo e o errado, entre o que era dever e o crime; e o discernimento moral capacitou-
o a perceber os contrastes na esfera do excelente e do belo. É mais importante ser claro
sobre este ponto: A Queda não tocou a substância da alma, a qual permanece inteira com
todos os dotes originais do intelecto, da consciência e da vontade. Estes são os elementos
característicos da humanidade, e privar o homem deles seria abatê-lo. Eles existem no
criminoso, bem como no santo. Todos eles têm uma unidade essencial na totalidade da
pessoa humana. Ou seja, são faculdades coordenadas, embora cada uma tenha sua esfera
peculiar. Coletivamente, eles constituem o ser responsável, moral e racional. Não é a mera
posse que torna o homem bom ou mau; a forma e a motivação tornam as ações santas ou
pecaminosas.
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A Corrupção do Espírito Humano
A Queda não privou o homem de nenhuma de suas faculdades mentais ou morais, mas
tirou-lhe o poder de usá-las da maneira correta. Estas faculdades ficaram sob a influência
maligna do pecado, de maneira que o homem já não era capaz de praticar qualquer coisa
agradável a Deus. A depravação é total: penetrante, extensiva ao homem inteiro. Não ficou,
como diferentes teóricos têm suposto, confinada a um departamento do seu ser — a vonta-
de contrária ao entendimento, ou o entendimento contrário à vontade. Não se restringiu aos
apetites mais inferiores, em contraste com os nossos princípios mais elevados. Nem afetou
o coração somente, considerado como a sede dos afetos. Pelo contrário, é uma doença
que atingiu cada órgão. Quanto ao entendimento, consiste em ignorância espiritual, ceguei-
ra, trevas, loucura. Quanto à vontade, é rebelião, perversidade, espírito de desobediência.
Quanto às afeições, é dureza de coração, total insensibilidade e falta de discernimento das
coisas espirituais e Divinas. A entrada do pecado na constituição humana não só afetou
todas as suas faculdades, de modo a produzir uma desqualificação completa para qualquer
forma de exercício espiritual, mas a tem mutilado e debilitado em seu exercício dentro da
esfera da verdade e da santidade. Ficaram corrompidas em relação a tudo o que esmaece
a imagem de Deus, a imagem da bondade e da excelência.
E terceiro lugar, a Queda não resultou na perda da liberdade da vontade, o seu poder de
volição como uma faculdade moral. É certo que este é um ponto muito mais difícil de enten-
der do que qualquer um dos anteriores. Não porque a Escritura seja ambígua no seu ensino,
nem mesmo porque contém quaisquer aparentes contradições, mas por causa das dificul-
dades filosóficas e metafísicas que levantam-se nas mentes daqueles que o consideram
cuidadosamente. A Queda certamente não reduziu o homem à condição de uma planta ou
pedra, ou mesmo um animal irracional. Ele manteve essa força racional de vontade que é
uma parte de sua constituição original, de modo que ele ainda é capaz de escolher esponta-
neamente. É igualmente certo que o homem não é livre para fazer o que quiser em sentido
absoluto, pois então ele seria um deus, onipotente. Em seu estado não-caído, Adão tornou-
se submisso e dependente do Senhor. Assim é com Seus filhos. Suas vontades devem ser
totalmente subordinadas à do seu Criador e Governador. Além disso, a liberdade deles é
estritamente limitada pela regra suprema da providência Divina, a qual abre portas para
eles ou as fecha contra eles.
Como apontado, embora cada uma das faculdades distintas da alma tenha sua esfera pecu-
liar, continuam coordenadas; portanto, a vontade não deve ser entendida como uma entida-
de independente e autodeterminada, ficando separada das outras faculdades e superior a
elas, capaz de reverter as sentenças da mente ou de contrariar os desejos do coração. Pelo
contrário, a vontade é influenciada e determinada por eles. Como G. S. Bishop proveitosa-
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mente apontou: “A verdadeira filosofia da ação moral e seu processo é a de Gênesis 3:6.
‘E quando a mulher viu que a árvore era boa para se comer [percepção sensorial, inteligên-
cia], e árvore desejável [afeições], ela tomou e comeu dela [a vontade]’”. Assim, a liberdade
da vontade também é limitada pelas fronteiras das capacidades humanas. Não pode, por
exemplo, ir além da extensão do conhecimento possuído pela mente. É impossível para eu
observar, amar e escolher qualquer objeto que não me seja familiar. Assim, é a compre-
ensão, em vez da vontade, que é a faculdade e o fator dominante. Assim, quando a Escritu-
ra delineia a condição dos homens caídos, ela atribui essa alienação de Deus à “ignorância
que há neles” (Efésios 4:18), e fala de homens regenerados como sendo “renovados no
conhecimento” (Colossenses 3:10).
As limitações da liberdade humana salientadas acima referem-se tanto ao homem não-
caído quanto ao caído, mas a entrada do pecado na constituição humana impôs limitações
muito maiores. Embora seja verdade que o homem é verdadeiramente livre agora, como
Adão era antes de sua apostasia, mas ele não é tão moralmente livre quanto ele era. O ho-
mem caído é livre no sentido de que ele tem a liberdade de agir de acordo com sua própria
escolha, sem compulsão de fora; ainda que, uma vez que sua natureza tenha sido conta-
minada e corrompida, ele já não é livre para fazer o que é bom e santo. Grande cuidado
deve ser tomado para que a nossa definição da liberdade do homem caído não confronte
textos como Salmo 110:3; João 6:44; Romanos 9:16; pois ele só deseja agora de acordo
com os ditames de seu mau coração. Tem sido bem dito que a vontade do pecador é como
um prisioneiro algemado em uma cela. Seus movimentos são dificultados por suas corren-
tes, e ele é impedido pelas paredes que lhe confinam. Ele é livre para andar, mas de forma
restrita e dentro de um espaço tão limitado que a sua liberdade é uma servidão — servidão
ao pecado.
Se compreendemos “a vontade” como simplesmente a faculdade da volição pela qual a
alma escolhe ou rejeita, ou se a consideramos como a faculdade da volição junto com tudo
mais dentro de nós que afeta a escolha — a razão, a imaginação, o desejo — o homem
caído ainda é bem livre no exercício da volição conforme sua principal disposição e desejo
no momento. Aqui a liberdade interior é utilizada em contraste com a restrição externa e a
compulsão. Quando a última está ausente, o indivíduo tem a liberdade de decidir de acordo
com sua vontade. Onde os Arminianos erram quanto a este ponto é confundir poder com
“querer”, insistindo que o pecador é igualmente capaz de escolher o bem como o mal. Isso
é um repúdio de sua depravação total ou vassalagem completa para o mal. Pela Queda o
homem submeteu-se à escravidão do pecado, e se tornou cativo do Diabo. Ainda assim,
ele cede voluntariamente às tentações de seus próprios desejos antes de cometer qualquer
ato pecaminoso, e nem Satanás pode levá-lo a qualquer pecado sem o seu próprio consen-
timento.
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O homem natural age como lhe agrada, mas ele agrada a si mesmo em uma única direção
— para si e para baixo, nunca para Deus e para cima. Como Romanos 6:20 diz dos santos,
enquanto em seu estado não-regenerado, “Porque, quando éreis servos do pecado, éreis
livres da justiça”. Em toda a sua vida o homem pecador age como um agente livre, pois ele
não é forçado nem por Deus nem por Satanás. Quando ele quebra a lei, ele o faz por sua
própria opção, e não por coerção de outro. Ao fazê-lo, ele está agindo livremente por sua
própria natureza caída. Assim, é um erro dizer que uma tendência da mente ou uma pro-
pensão de coração é destrutivo de sua vontade. Ambos devem ser automovidos para que
haja responsabilidade e culpa, e ambos são automovidos. O assassino não é obrigado a
odiar sua vítima. Embora ele não possa impedir o seu ódio interior por qualquer mero exer-
cício de vontade, no entanto, ele pode abster-se do ato externo de assassinato por sua pró-
pria vontade; portanto, ele é censurável quando ele não consegue fazê-lo. Estes são fatos
indiscutíveis de nossa própria consciência.
Em quarto lugar, a Queda não resultou em qualquer redução, menos ainda, a destruição,
da responsabilidade do homem. Se tudo o que precede este parágrafo for cuidadosamente
ponderado, isto deve ser bastante evidente. A responsabilidade humana é o corolário ne-
cessário da soberania Divina. Uma vez que Deus é o Criador, o Governante supremo sobre
tudo, e desde que o homem é apenas uma criatura e um súdito, não há como escapar de
sua responsabilidade para com o seu Criador e Senhor de direito. Pelo que é o homem
responsável? O homem é obrigado a responder à relação que existe entre ele e seu Criador.
O homem ocupa o lugar de criação, subordinação, dependência absoluta em cada respira-
ção, e, portanto, deve reconhecer o domínio de Deus, submeter à Sua autoridade, e amá-
lO com toda a sua força e coração. A responsabilidade humana é exercida através do reco-
nhecimento dos direitos de Deus e agindo em conformidade, prestando-Lhe o que é devido.
Este é o reconhecimento prático de Sua propriedade e governo. Estamos justamente
obrigados a estar em constante submissão à Sua vontade, a exercer em Seu serviço as
faculdades que Ele nos deu, usar os meios que Ele designou, melhorar as oportunidades e
vantagens que Ele nos concedeu. Todo o nosso dever é o de glorificar a Deus.
A partir da definição acima, deve ficar bem claro que a Queda não o fez, e não poderia ao
menor grau, cancelar ou prejudicar a responsabilidade humana. A Queda não alterou a
relação fundamental entre o Criador e a criatura. Deus é o dono do homem pecador como
verdadeiramente e, tanto quanto Ele era do homem sem pecado. Deus ainda é o nosso
Soberano, e nós, Seus súditos. Além disso, como já foi referido, o homem caído ainda está
na posse de todas as faculdades que o qualificam para cumprir sua responsabilidade. É
certo que o bebê nos braços e o débil mental não são moralmente responsáveis por suas
ações. Mas é razoável que aqueles que tenham atingido a idade quando eles são capazes
de distinguir entre o certo e o errado sejam moralmente responsáveis por suas ações. O
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homem caído, embora o seu entendimento seja obscurecido espiritualmente, ainda possui
racionalidade. O homem caído, embora sob o domínio do pecado, tem o seu poder de
volição, e está sob a obrigação de fazer uma escolha boa e direita toda vez, resistir às
tentações e se abster da maldade, como qualquer tribunal de justiça humano insiste.
Por mais dificuldades que possam estar teoricamente envolvidas no fato de que a natureza
do homem é agora totalmente depravada e que ele está em escravidão no pecado, Deus
ainda não perdeu Seu direito de comandar porque o homem perdeu o seu poder para obe-
decer. O fato da Queda lançar-nos fora do favor de Deus, não nos libertou de Sua autorida-
de. Não foi Deus que tirou do homem a sua força espiritual e privou-o da sua capacidade
de fazer o que é agradável à Sua vista. O homem foi originalmente investido de poder para
cumprir as exigências de seu Criador. Foi por sua própria loucura e maldade que ele jogou
fora seu poder. Como um monarca humano não perde os seus direitos à lealdade de seus
súditos quando eles se tornam rebeldes, mas mantém a sua prerrogativa, exigindo que eles
deixem sua insurreição e retornem à sua fidelidade, assim o Rei dos reis tem um direito
infinito de exigir que os rebeldes se tornem súditos leais. Se Deus poderia justamente exigir
de nós mais do que nós agora somos capazes de prestar-Lhe, se seguiria que quanto mais
nós nos escravizamos pelos maus hábitos, menor seria a nossa responsabilidade — um
absurdo palpável!
Não somente é a responsabilidade do homem afirmada insistentemente em toda a Escritura
do Gênesis ao Apocalipse, mas também é afirmada pela própria consciência do homem.
Qualquer que seja a desculpa que o indivíduo levante para a sua depravação, e que argu-
mente a partir de sua impotência moral que as suas obras não são criminosas, ele repudia
tal raciocínio quando seus companheiros pecadores estão em causa. Quando os outros
erram, ele não nega sua responsabilidade nem oferece desculpa para eles. Se ele é cruel-
mente caluniado, roubado de suas posses ou maltratado, em vez de dizer do culpado,
“Coitado, ele não se conteve; a culpa é de Adão”, ele prontamente apela para a polícia e
pede uma indenização nos tribunais. Além disso, quando o pecador é despertado pelo
Espírito Santo, longe de protestar contra as justas exigências de Deus, ele se considera
merecedor de ser eternamente condenado por sua rebelião vil. Ele se reconhece totalmente
responsável e “sem desculpa”. Ele sente o fardo de sua culpa, e se humilha diante de Deus
em arrependimento sincero.
Sob este aspecto de nosso assunto estamos nos esforçando para fornecer uma resposta
para a pergunta: O que significa o termo “depravação total”? Onde reside a diferença essen-
cial ou diferenças entre o homem como não-caído e caído? Precisamente o que é a nature-
za desse terrível mal que nos aflige? Nós consideramos em que não consiste, mostrando
que o homem não deixou de ser um ser completo e tripartido, que ele está na posse desse
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espírito que é uma parte necessária da sua constituição; que a Queda não resultou na perda
de quaisquer faculdades de sua alma; que ele não tem sido privado da liberdade de sua
vontade ou o poder da volição; e que não houve diminuição da sua responsabilidade como
criatura responsável perante Deus. Voltando agora ao que resultou da Queda, descobrimos
que há um lado negativo e um positivo, que havia certas coisas boas de que fomos privados,
e que havia algumas coisas más que nos foram procedentes. Apenas quando ambas forem
levadas em consideração é que poderemos obter uma resposta completa à nossa pergunta.
Em primeiro lugar, pela Queda o homem perdeu a imagem moral de Deus. Como breve-
mente apontado anteriormente, a “imagem de Deus”, em que o homem foi originalmente
criado, refere-se à sua natureza moral. Foi isso que fez dele um ser espiritual. Como Calvino
expressou, “Isto inclui todas as excelências em que a natureza do homem supera todas as
outras espécies de animais”. Em que esta “imagem” consistia é indicado em Efésios 4:24 e
Colossenses 3:10, onde um resumo detalhado do que seja a imagem nos é fornecido.
Nosso ser “renovado” na imagem (na regeneração) claramente implica que seja a mesma
imagem Divina em que o homem foi feito no início. Nestas duas passagens é descrita como
consistindo de “verdadeira justiça e santidade” e o “conhecimento de Deus”. Vamos agora
nos estender sobre cada um desses componentes.
Por “justiça” devemos entender, como em toda parte nas Escrituras, a conformidade com a
lei Divina. Antes da Queda, havia total harmonia entre toda a natureza moral do homem e
todos os requisitos da lei que é “santa, justa e boa” (Romanos 7:12). Isto era muito mais do
que uma inocência meramente negativa ou a liberdade de tudo o que é pecaminoso (ou
mesmo da inclinação ou tendência para isto, que é tudo o que os Socinianos admitem), ou
seja, algo mais nobre, mais alto e mais espiritual. Havia perfeito acordo entre a constituição
de nossos primeiros pais e a regra de conduta definida diante deles, não só em suas ações
externas, mas também nas próprias fontes dessas ações, na parte interior de seus seres
— em seus desejos e motivações, em todas as tendências e inclinações de seus corações
e mentes. Como Eclesiastes 7:29 declara, Deus “fez o homem reto”, que não se refere tanto
ao seu corpo quanto à sua excelência moral. Essa justiça foi perdida com a Queda, mas é
em princípio restaurada na regeneração, quando Deus escreve suas leis em nossos
corações e as coloca em nossas mentes, quando Ele nos concede amor e gosto por elas,
e torna-nos de bom grado sujeitos à autoridade delas.
Por “santidade” devemos entender castidade e pureza do ser. Como a justiça dava a Adão
relacionamento com a lei Divina, assim a santidade era o que o tornava apto para a
comunhão com o seu Criador. Havia nele essa pureza imaculada da natureza que o tornava
apto para a comunhão com o Santo, pois a santidade não é apenas um relacionamento,
mas uma qualidade moral também; não é apenas uma separação de tudo o que é mau,
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mas a investidura e posse do que é bom. Yahwéh é o “glorioso em santidade” (Êxodo
15:11), portanto, aqueles com quem Ele conversa devem ser pessoalmente adequados
para Ele. Ninguém senão os puros de coração verão a Deus (Mateus 5:8). É inconcebível
que Deus por um ato imediato tivesse criado qualquer outro tipo de ser racional e respon-
sável que não fosse aquele que era puro e perfeito, especialmente porque ele deveria ser
o arquétipo da humanidade. Como Thornwell tão bem expressou: “Santidade foi a herança
da natureza dele [do homem] — o direito de primogenitura de seu ser. Era o estado em que
todas as suas faculdades receberam a sua forma”. Essa santidade foi perdida quando o
homem caiu, mas pela regeneração e santificação é restaurada para os eleitos que são
feitos “participantes da sua santidade” (Hebreus 12:10). Este princípio de santidade, que
lhes é comunicado no novo nascimento, desenvolve-se à medida que crescem na graça e
no conhecimento do Senhor.
Por “conhecimento” devemos entender o conhecimento do próprio Deus. Como a santidade
ou pureza de coração de Adão capacitou-o para “ver Deus” no sentido espiritual da palavra,
ele também foi capaz de conhecer a Deus pela habitação nele do Espírito Santo. Como
Goodwin assinalou, “Onde estava a santidade, podemos ter certeza de que o Espírito esta-
va também... O mesmo Espírito (como no regenerado) estava no coração de Adão para
assisti-lo com Suas graças, e para movê-lo a viver de acordo com esses princípios de vida
dados a ele”. É claro que assim como Adão foi criado em maturidade do corpo, ele deve ter
sido criado em maturidade de mente, e que havia então nele o que podemos adquirir lenta-
mente apenas pela experiência. Adão foi capaz de apreender e apreciar a Deus pelo que
Ele é em Si mesmo. Ele tinha um verdadeiro e intuitivo conhecimento das perfeições da
Deidade, a realização sincera de Sua excelência. Esse conhecimento de Deus foi perdido
na Queda, por Adão e sua descendência, mas é restaurado para os eleitos na regeneração,
quando Ele brilha “em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de
Deus, na face de Jesus Cristo” (2 Coríntios 4:6).
Em segundo lugar, pela Queda o homem perdeu a vida de Deus. A alma não só foi feita
por Deus, mas para Deus, equipada para conhecer, desfrutar e comungar com Ele; e sua
vida está nEle. Mas o mal nos separa do Santo. Então, em vez de estar viva em Deus, a al-
ma está morta no pecado. Não que a alma tenha deixado de existir, pois a Escritura distin-
gue claramente entre a vida e a existência: “Ela que vive em prazeres está morta enquanto
vive” (1 Timóteo 5:6). Esta é a morte moral ou espiritual, não do ser, mas do bem-estar.
“Aquele que tem o Filho tem a vida; e aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida”
(1 João 5:12). Ter o Filho de Deus para mim é ter tudo o que realmente vale a pena ter;
estar sem Ele, não importa que coisas temporais eu possa possuir momentaneamente, é
ser um mendigo total. “Vida” — a vida espiritual e eterna — é uma expressão ampla que in-
clui toda a bem-aventurança que o homem é capaz de desfrutar aqui e no futuro. O que
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tem “vida” é eternamente salvo, aceito no Amado, admitido no favor Divino, feito participante
da natureza Divina, feito justo e santo aos olhos de Deus. Aquele que está sem “vida” está
destituído de todas estas coisas.
Ser separado de Deus é necessariamente ser privado de tudo o que faz valer a pena viver,
pois Ele é “a fonte da vida” (Salmos 36:9), e, portanto, de luz, de glória, de bem-aventuran-
ça. Nenhum espírito finito pode conceber — e ainda menos pode qualquer caneta humana
expressar — a plenitude dessas palavras, “a fonte da vida”. Nós só podemos comparar
outras passagens da Escritura que dão a conhecer algo do seu significado. Ao fazermos
isso, nós aprendemos que há pelo menos uma vida tripla que o povo de Deus recebe dEle.
Em primeiro lugar, Sua aprovação benigna: “no seu favor está a vida” (Salmos 30:5). Em
Levítico 1:4 a palavra é traduzida como “aceito” e em Deuteronômio 33:16, “benevolência”.
Mas o versículo que melhor permite-nos compreender a sua força é “Farta-te, ó Naftali, da
benevolência, e enche-te da bênção do Senhor” (Deuteronômio 33:23). Aqueles que são
favoravelmente considerados por Deus não precisam de nada mais, não podem desejar
nada melhor. Ter a boa vontade do Senhor Triuno é a verdadeira vida, o apogeu da bem-
aventurança. Estar fora do Seu favor é estar morto para tudo o que vale a pena.
Em segundo lugar, alegria e bem-aventurança da alma. “Ó Deus, tu és o meu Deus, cedo
te busco... para ver o teu poder e a tua glória... porque a tua benignidade é melhor do que
a vida” (Salmos 63:1-3). A vida de Deus em Seu povo torna-os aptos para deleitarem-se
nEle. Assim foi aqui. Davi estava em adoração extasiada dos atributos Divinos. Sua alma
desejava ter mais comunhão com Deus, e ele resolveu buscá-lO diligentemente, para ter
visão ampliada das perfeições Divinas e descobertas experimentais de Sua excelência, em
antecipação da bem-aventurança do Céu. Ele prezou por isso mais do que qualquer outra
coisa. O homem natural valoriza sua vida acima de tudo. Não é assim o homem espiritual.
Para ele, a benevolência de Deus é melhor do que todos os confortos e luxos de vida
temporal, melhor do que a vida natural mais longa e próspera. A benevolência de Deus é a
própria vida espiritual do santo, como também é uma verdadeira antecipação da vida
eterna. Ela refrigera seu coração, fortalece sua alma e envia-o em seu caminho cheio de
alegria.
Milhares de pessoas estão cansadas da vida, mas nenhum Cristão já esteve cansado da
benevolência de Deus. Ela é infinitamente melhor do que a “vida” de um rei ou de um milio-
nário, pois ela não tem tristeza adicionada a ela, nenhum inconveniente, nenhum mal que
a acompanhe. A morte física colocará o ponto final para a existência terrena dos mais privi-
legiados, mas isso não dará fim à benevolência de Deus, porque é de eternidade a eterni-
dade. Ela é estimada pelo crente acima de tudo mais, pois é a fonte da qual todas as
bênçãos procedem. Na bondade amorosa de Deus o Pacto da Graça se originou. Sua
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benevolência deu Cristo ao Seu povo e eles para Ele. Por Sua benignidade eles são atraí-
dos para Ele (Jeremias 31:3), recebem um conhecimento salvífico dEle, são trazidos para
conhecer pessoalmente o amor que Ele tem por eles. Sem a bondade amorosa de Deus a
vida não é nada além de morte. Bem pode cada crente exclamar: “Porque a tua benignidade
é melhor do que a vida os meus lábios te louvarão”. Em outras palavras: “Eu me deleitarei
com Tuas perfeições e exultarei em Ti. Buscarei prestar algo da honra que Te é devida”.
Essa vida que Deus dá aos Seus filhos consiste não só em serem objetos de Sua benigna
aprovação, no gozo experiencial da Sua bondade amorosa, mas também na recepção de
um princípio de justiça e santidade pela qual eles são capacitados a apreciá-lO e, por falta
disso os não-regenerados não podem desfrutá-lO, pois eles estão “alienados da vida de
Deus” (Efésios 4:18). Está claro, tanto a partir do contexto imediato e do restante do verso,
que a “vida de Deus” tem uma referência especial à santidade, pois o oposto aparece no
versículo 17: “De agora em diante não andem como andam os gentios, na vaidade da sua
mente”. O contraste é ainda apontado no versículo 18: “Tendo o entendimento obscurecido,
alheios à vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração”. Os não-
convertidos são inteiramente dominados pela sua natureza depravada. Suas mentes estão
em um estado de pobreza moral, envolvidas somente com coisas vãs; seus entendimentos
são desprovidos de inteligência espiritual, desprovidos de qualquer poder para apreender
a verdade ou apreciar as belezas da virtude; suas almas estão afastadas de Deus, com
uma aversão inveterada dEle; seus corações estão calejados, endurecidos contra Ele.
Assim, a corrupção e depravação do homem natural estão opostas à graça e santidade
comunicadas no novo nascimento, aqui chamado de “a vida de Deus”.
Em terceiro lugar, pela Queda o homem perdeu seu amor por Deus. Há duas emoções
fundamentais que influenciam a ação: amor e ódio. Uma não pode existir sem a outra, pois
o que é contrário ao desejado será repelente: “Vós, os que amais o Senhor, odiai o mal”
(Salmos 97:10). Do Homem perfeito o Pai disse: “Tu amas a justiça e odeias a impiedade;
por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria mais do que a teus companheiros”
(Salmos 45:7). O Senhor disse: “Amei Jacó, mas odiei a Esaú” (Romanos 9:13). A grande
obra da graça nos redimidos é dirigir e firmar esses afetos em seus objetos próprios.
Quando colocamos corretamente nosso amor e ódio, prosperamos na vida espiritual. O
homem caído difere do homem redimido nisto: Ambos têm os mesmos sentimentos, mas
eles estão deslocados em nós, de modo que agora nós amamos o que deveríamos odiar,
e odiamos o que deveríamos amar. Nossos afetos são como membros do corpo fora do
lugar, como se os braços pendessem para trás. Dirigir o nosso amor e ódio da maneira
correta é a própria essência da verdadeira espiritualidade: amar tudo o que é bom e puro,
e odiar tudo o que é mau e vil; pois o amor nos motiva a buscar a união com o que é bom
e torná-lo nosso, enquanto o ódio repele e abandona o que é repugnante.
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Ora, o amor foi feito para Deus, pois só Ele é o seu objeto adequado, bem como a sua
Fonte. O amor é inerente em Seus atributos, Sua lei, Suas ordenanças, Seu lidar conosco.
Mas o ódio foi feito para a serpente e o pecado. Deus é infinitamente amoroso em Si
mesmo, e se as coisas devem ser valorizadas de acordo com a grandeza e excelência
delas, então Deus deve ser valorizado supremamente, pois cada centro de perfeição é
encontrado totalmente nEle. Amá-lO acima de tudo é um ato de honra devida a Ele, por
Quem e pelo que Ele é. Há tudo em Deus para inspirar estima, adoração e afeto. A bondade
não é um objeto de temor, mas de atração e deleite.
Deus supriu livremente Adão com tudo o que Ele requeria dele. Desde que Adão foi criado
com retidão moral perfeita de coração e com um estado santo de mente, ele era plenamente
competente para amar a Deus com todo o seu ser. Ele viu as perfeições Divinas brilhando.
Os céus declaravam a glória de Deus, o firmamento mostrava a Sua obra e Sua excelência
estava espelhada em tudo ao redor de Adão. Ele percebia o que Deus merecia dele, e ficou
impressionado com tamanha benção. O coração de Adão foi preenchido com um senso de
beleza inefável do Senhor, e pensamentos de admiração e adoração inspirados por Deus
encheram sua mente, levando-o a dar-Lhe a adoração e a submissão de que Ele é
infinitamente merecedor.
O amor a Deus deu unidade de ação a todas as faculdades da alma de Adão; porque desde
que esse amor era o princípio dominante nele, ele usou todas essas faculdades para ex-
pressar sua devoção a Deus. Assim, quando o amor a Deus morreu dentro de Adão, suas
faculdades perderam não só a sua unidade original e ordem, mas o poder para usá-las
direito. Todas as suas faculdades caíram sob uma influência má e hostil, e foram aviltadas
em sua ação. O homem natural não possui uma única centelha de verdadeira afeição por
Deus. “Mas eu vos conheço”, disse o onisciente examinador de corações para os judeus
religiosos “que não tendes o amor de Deus em vós” (João 5:42). Sem qualquer amor a
Deus, todos os atos externos do homem natural são inúteis diante dEle: “Os que estão na
carne não podem agradar a Deus” (Romanos 8:8), pois eles não têm a raiz da qual eles
devem proceder para que qualquer fruto seja desejável a Ele. O amor é o que anima a
obediência que é agradável a Deus: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra” (João
14:23). O amor é a própria vida e substância de tudo o que é gratificante para Deus.
Como o princípio da obediência, o amor tem a precedência, pois a fé opera pelo amor
(Gálatas 5:6). Observe a ordem na injunção, “Consideremo-nos uns aos outros, para nos
estimularmos ao [1] amor e às [2] boas obras” (Hebreus 10:24). Mexa com os afetos e as
boas obras seguirão, como a movimentação dos carvões faz com que as chamas subam.
É o amor que faz com que todos os mandamentos Divinos “não sejam pesados” (1 João
5:3). Nós concordamos plenamente com Charnock: “Nessa simples palavra, amor, Deus
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embrulhou toda a devoção que Ele exige de nós”. Certamente nossas almas devem ficar
arrebatadas por Ele, pois Ele é infinitamente digno de nossos mais seletos afetos e desejos
mais fortes. O amor é uma coisa aceitável em si, mas nada pode ser aceitável a Deus sem
ele. “Aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade” (João 4:24). As for-
mas mais decorosas e meticulosas de devoção são inúteis se não têm vitalidade e sinceri-
dade. A adoração verdadeira procede do amor, pois é o exercício das afeições celestes, o
derramamento de sua homenagem Àquele que é “totalmente desejável”. O amor é a melhor
coisa que podemos prestar a Deus, e o que Lhe é devido em cada serviço. Sem ele nós
somos uma abominação a Ele: “Se alguém não ama o Senhor Jesus Cristo, seja anátema.
Maranata!” (1 Coríntios 16:22).
Em quarto lugar, pela Queda nossos primeiros pais e toda a humanidade perderam a comu-
nhão com Deus. Esta foi desfrutada no início, porque Deus fez o homem com faculdades
capazes desse privilégio e projetou-o para ter santa conversação com Ele. Na verdade,
esta foi a bênção fundamental desse pacto em que Adão foi colocado e foi um prenúncio
daquela comunhão mais íntima que teria sido sua porção eterna se ele vencesse a tenta-
ção. Mas a apostasia de Adão e Eva privou-os e a sua posteridade deste privilégio inestimá-
vel. Este foi o resultado imediato e inevitável da sua revolta, se nós contemplarmos a partir
da perspectiva Divina e humana, “pois que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que
comunhão tem a luz com as trevas?” (2 Coríntios 6:14). Dois não podem andar juntos se
não estiverem de acordo (Amós 3:3). O Santo não Se manifestará favoravelmente a
rebeldes ou admiti-los à Sua presença como amigos. Depois de sua Queda nossos
primeiros pais já não tinham o desejo de que Ele o fizesse. Depois de ter perdido todo o
amor a Deus, eles não tinham nenhum desejo por Ele, mas odiavam-nO e temiam-nO.
Aqui, então, está a natureza terrível da depravação humana. Do lado negativo é composta
por perda do homem da imagem moral de Deus — conscientemente sentida pelos nossos
primeiros pais no sentido vergonhoso que eles tinham de sua nudez. Eles também perde-
ram a vida de Deus, de modo que eles se tornaram alienados de Seu favor, desprovidos de
alegria, esvaziados de santidade — fracamente percebido por eles, como era evidente a
partir de sua tentativa de tornarem-se mais apresentável pela fabricação de aventais de
folhas de figueira. O amor a Deus foi perdido, de modo que eles não mais O reverenciavam
e O adoravam, mas foram repelidos por Suas perfeições — manifestado por eles em sua
fuga assim que perceberam Sua aproximação. Eles perderam a comunhão com Deus, de
modo que ficaram totalmente indignos diante de Sua presença, finalizando com sua
expulsão do Éden. Somente o regenerado pode estimar o quanto foi irreparável a perda do
homem por causa da Queda, e quão terrível é a condição do homem natural.
Nós já apontamos uma série de coisas que a depravação da natureza humana não
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consiste, e algumas das bênçãos inestimáveis da qual o homem foi privado pela Queda.
Passamos agora para o lado afirmativo, ou a uma consideração daqueles males que se
abateram sobre a natureza humana como resultado da apostasia dos nossos primeiros
pais. Nós não concordamos com aqueles que ensinam que algo meramente negativo — a
ausência do bem — é transmitido de Adão e Eva para seus descendentes, através da via
da geração natural e da propagação. Em vez disso, estamos plenamente convencidos de
que algo de positivo — um princípio ativo do mal — é transmitido de pai para filho. Enquanto
consideramos que o pecado não é uma substância ou uma coisa material, temos a certeza
de que é muito mais do que uma mera abstração e nulidade. A própria natureza do homem
é corrompida; o vírus do mal está em seu sangue. Embora haja privação no pecado — uma
não-conformidade à lei de Deus —, há também uma potência positiva real nela para o mal.
Assim como a santidade, o pecado é um poder, mas um poder que opera a desordem e a
morte.
Tem sido dito por alguns que “a natureza do homem não foi tornada agora pecaminosa por
colocar qualquer coisa nela para contaminá-la, mas por tomar algo dela que deveria tê-la
preservada santa”. Mas nós preferimos a declaração do Catecismo de Westminster: A pe-
caminosidade daquele estado em que o homem caiu consiste na culpa do primeiro pecado
de Adão, a falta de justiça em que ele foi criado, e a corrupção de sua natureza, pela qual
ele é totalmente indisposto e incapaz, e feito inimigo de tudo o que é espiritualmente bom,
e inteiramente inclinado a todo o mal, e isto continuamente, o que é comumente chamado
de pecado original, e do qual procedem todas as transgressões.
Que a natureza humana caída não é apenas destituída de toda a piedade, mas é também
completamente impregnada com tudo o que é diabólico, pode certamente ser constatado a
partir dos dois diferentes tipos de pecado de que todo homem é culpado: o de omissão, em
que há falta de realizar boas obras, e o de comissão, ou desprezo da lei de Deus. Algo
responsável por ambos deve existir em nossa natureza pecaminosa, caso contrário, nós
declaramos a causa inadequada para produzir o efeito. Embora a ausência de santidade
explique o primeiro, somente a presença do mal conta para o último.
Sola Scriptura!
Sola Gratia!
Sola Fide!
Solus Christus!
Soli Deo Gloria!
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10 Sermões — R. M. M’Cheyne
Adoração — A. W. Pink
Agonia de Cristo — J. Edwards
Batismo, O — John Gill
Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo
Neotestamentário e Batista — William R. Downing
Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon
Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse
Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a
Doutrina da Eleição
Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos
Cessaram — Peter Masters
Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da
Eleição — A. W. Pink
Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer
Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida
pelos Arminianos — J. Owen
Confissão de Fé Batista de 1689
Conversão — John Gill
Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs
Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel
Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon
Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards
Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins
Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink
Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne
Eleição Particular — C. H. Spurgeon
Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —
J. Owen
Evangelismo Moderno — A. W. Pink
Excelência de Cristo, A — J. Edwards
Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon
Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink
Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink
In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah
Spurgeon
Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —
Jeremiah Burroughs
Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação
dos Pecadores, A — A. W. Pink
Jesus! – C. H. Spurgeon
Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon
Livre Graça, A — C. H. Spurgeon
Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield
Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry
Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill
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— Sola Scriptura • Sola Gratia • Sola Fide • Solus Christus • Soli Deo Gloria —
Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —
John Flavel
Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston
Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.
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Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.
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Oração — Thomas Watson
Pacto da Graça, O — Mike Renihan
Paixão de Cristo, A — Thomas Adams
Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards
Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —
Thomas Boston
Plenitude do Mediador, A — John Gill
Porção do Ímpios, A — J. Edwards
Pregação Chocante — Paul Washer
Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon
Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado
Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200
Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon
Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon
Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.
M'Cheyne
Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer
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Semper Idem — Thomas Adams
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Owen e Charnock
Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de
Deus) — C. H. Spurgeon
Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.
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Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina
é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen
Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos
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Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de
Claraval
Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica
no Batismo de Crentes — Fred Malone
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2 Coríntios 4
1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;
2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,
na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está
encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória
de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo
Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,
que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,
para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;
10 Trazendo sempre
por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
se manifeste também nos nossos corpos; 11
E assim nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na
nossa carne mortal. 12
De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13
E temos
portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,
por isso também falamos. 14
Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará
também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15
Porque tudo isto é por amor de vós, para
que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de
Deus. 16
Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o
interior, contudo, se renova de dia em dia. 17
Porque a nossa leve e momentânea tribulação
produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18
Não atentando nós nas coisas
que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se
não veem são eternas.