4b - rudÉ, g. - a multidão na história (18 cps)

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    A Joan e Gwen

    H iST C o v 1 E r t 1 i f o f ? A N E h , If l O ~ . e A U \ { ).----,(i~~o ~s),~-.~

    .'f/'

    /r :GEORGE RUUE

    A_~M U L T I D A ONA HISTORIAEstudo dos MovimentosPopulares na Francae na Inglaterra 1730-1848 _._~....

    TraduC80Waltensir Dutra

    TOMEO: :1.38251 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

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    CAPiTULO orroA Revolucao Francesa: (3)A Disputa Trabalhista ...;.. 133CAPiTULO NOVEOs Motins "Igreja e Rei" ................. 147CAPiTULO DEZo "Capitao Swing" e as "Filhas de Rebeca" 163CAPiTULO ONZEA Revolucao Francesa de 1848 179CAPiTULO DOZEOCartismo .. . 195S egu n da Pa rt e.A MULTIDAO PRE-INDUSTRIAL 209CAPiTULO TREZEOs Rostos na Multidao . . .................... 211CAPiTULO QUATORZEMotivos e Crenc;as . . .................... 231CAPiTULO QUINZEoPadrao de Disttirbios e0Comportamentodas Multidoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 255CAPiTULO DEZESSEISOs Sucessos e Fracassos da MultidaoBibliografia . . . .Indice Remissivo

    .279

    .291

    .295

    fNTRODUC;Ao

    (

    oAssunto e Seus ProblemasT alvez nenhum fenomeno historico tenha sido tao negIigen-ciado pelos historiadores quanto a multidao. Poucos nega-riam ter ela desempenhado, sob varias formas, urn papel signifi-cativo na Historia. Nao obstante, a multidao foi, durante muitosanos, considerada urn assunto digno deser estudado pelos psi-cologos ou pelos sociologos, e nao pelos historiadores. Este livroe a tentativa de urn historiador de restabelecer 0equilfbrio.

    E claro que nao pretendo tratar da multidao como urn todo,e cornecarei explicando meu assunto e definindo-lhe os Iimites.Em primeiro lugar, considero multidao aquilo que ossociologoschamam de grupo "frente-a-frente", ou de contato direto/ e naoqualquer outro tipo de fenomeno coletivo, como a nacao, 0cla, acasta, 0partido politico, a comunidade aldea, a classe social, 0"publico" em geral ou qualquer outra "coletividade demasiadoampla para agregar-se. Isto seria bern evidente se alguns autoresda area (entre os quais ha nomes eminentes) nao tivessem prefe-rido estender oslimites da multidao, abrangendo horizontes bernmais amplos. Gustave Le Bon, por exemplo, 0 criador da moder-na psicologia das multidoes, preocupando-se mais com-os esta-dos mentais do que com os fenornenos fisicos, inclui em suamultidao nao apenas castas, clas e classes, mas tarnbem "multi-does" eleitorais, juris criminais e assembleias parlamentares.? E -o Dr. Canetti, em incursoes ocasionais nesse campo, analisa a "rnul-

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    tidao na historia" (e0subtitulo de urn de seus capitulos) em tennosdos varies simbolos nacionais que considera mais adequados aosingleses, franceses, holandeses, alemaes, judeus e italianos.'

    Isso, porem, so pode constituir urn primeiro passo no pro-:cess_ode delimitacao. Qualquer tipo de multidao pode, excepcio-.nalmente, ser considerado material adequado na Historia: naoobstante, a multidao "historica" encontra-so mais provavelmen-te entre algumas das categorias bern definidas dos sociologos doque entre outras. Digo "mais provavelmente" de maneira propo-sital, pois veremos que qualquer tipo de multidao e passivel de,pela intrusao do imprevisto ou de forcas exteriores a ela, trans-forrnar-se em outro. Nao obstante, de maneira geral, podemosexcluir de nossas consideracoes multidoes que se formam casual-mente, como os excursionistas; multidoes que se reunern emocasioes puramente cerimoniais, ou que participam de procis-soes religiosas ou desfiles academicos: e multidoes de "audien-cia" (como foram chamadas) que se reunem em teatros ou salasde conferencia, em jogos de beisebol ou em touradas, ou que iamver os enforcarnentos em Tyburn Fair, em Londres, ou na Placede Greve, em Paris. Da.mesma forma, excluiriamos geralmenteas multidoes mais atiyas, ou "expressivas", que se reunem parao carnaval, participam de orgias dancantes ou de "brincadeiras"estudantis, ou comparecem a reunif ies evangelicas para ouvirBilly Graham ou Father Divine, tal como ouviam, ha 200 anos,George Whitefield e osWesleys. Certas multidoes "escapistas" ou"~ panico", (usando mais uma vez 0jargao sociologico) tern maisprOIJa6ihdade de se enquadrar em nossa area: essas manif~~~Oesacompanharam por vezes os motins da fome e corridas aos bancos,e poae~-cons~EiIr~~~e~~noestbfo daiusrona:-oocial. O u t r a s - ; x p l o -soes de histeria da massa :_aasconvursoesem-v6Ifa do tumulo deSt.Medard no seculo XVIII,em Paris, ou mais orgias de auto-imo-lacao dos Velhos Crentes, na Russia, ate asloucuras mais recentesprovocadas pela ernissao radiofonica de Orson Welles sobre os"rnarcianos" - constituem material fascinante para 0estudiosoda psicologia da multidao, mas so podem ter urn interesse casualpara 0historiador. De fato, nossa atencao principal sera dada asmanifestacoes politicas e ao que os sociologos chamaram de"!!!!!!ti

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    imaginacao popular, tanto quanto os temidos "bandidos" doGrande Medo de 1789.E se nccessitassemoe de outro lembrete deque formas passadas ou "arcaicas" podem estender-se ate 0presente, bastaria que nos voltassemos para os estudos do dr.Hobsbawm sobre os movimentos do tipo milenarista, "popu-lista-Iegitimista" e "Robin Hood" no suI da Europa de hoje."A sobreposicao dos periodos e,portanto, consideravel, e esten-de-se a campos que sao de interesse tanto do historiadorcomo do sociologo. Mesmo assim, em minha opiriiao, essasobreposicao nao basta para invalidar a distincao geral quetento estabelecer.

    A "rnultidao" da era "industrial" tern a vantagem de tersido relativamente bern servida pelos historiadores (e, mais re-centemente, pelos sociologos): a historia trabalhista e os movi-mentos populares desse periodo atrairam urn numero razoavelde historiadores de reputacao, desde os Webbs eCole, na Ingla-terra, ate Duveau, See e Dolleans, na Franca. A multidao "pre-industrial" foi, sob esse aspecto, menos feliz. Ha honrosas exce-coes: os Hammonds, na Inglaterra, e jaures e Lefebvre, naFranca, sao as que nos ocorrem. Mas, de modo geral, 0 trata-mento desses movimentos foi prejudicado por uma ou outradas duas abordagens estereotipadas. Uma delas - a maisliberal humanistica e 1democratica" - tomou uma das duasfor~a~, a primeira da;q~ais e l-~~~historia de tras para a frentee atribuir tais atividades, sem maior investigacao, it "classe~I~~:--TM~lhompson, na -iilglaterra; Tade, na Uniao.Sovietica; e Levasseur, na Franca, f izeram isso, de uma formaou de outra. Mais freqiientemente, 0 autor mostl:!L~JJ

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    afixados peIos historiadores liberais aos rebel des nacionalistasgregos, i talianos e espanhois do seculo XIX e, se sua causa econsiderada justa (mas so nesse caso), aos "patriotas" e "Iuta-dores da liberdade" de hoje.o outro estere6tipo - mais ern moda entre os autoresconservadores - e pregar 0 rotulo de "turba" ou "rale", semdiscriminacao, a todos osparticipantes da agitacao popular. Essecostume remonta ao seculo XVII, pelo menos, mas nao procura-remos localizar suas origens. Ja era moda, certamente, nessa era"pre-industrial" na Franca e Inglaterra, quando amotinados eoutros perturbadores da paz eram geralmente desprezados peloscontem poraneos como" banditti", "desperadoes", "rale", "conde-nados" ou "canaille": E ate mesmo urn democrata revoluciona-rio como Robespier.r.e, embora apaixonadamente dedicado ao"povo", in~L~aya,:~.~ ver_C!~.~!!!()tLn_a.d

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    tamento ou crencas subjacentes.? E sua preocupacao com asitifudes cof~tivas das multidoes ~urn lembrete salutar aos histo-riadores liberais, para os quais a multidao surge apenas como urnajuntamento de indivfduos, de que 0 todo MOe, com freqiiencia,apenas a soma total de suas partes. Nao obstante, os psicologos damultidao tern sido, muitas vezes, culpados pela criacao de seusproprios estere6tipos. LeBon admitia que asmultidoes diferem deacordo com a "raca" (e, com freqiiencia, ele parece querer dizernacionalidade) e tanto podem ser heroicas como covardes, podendoate mesmo possuir virtu des negadas a muitos dos indivfduos quea compoern. Mas ele se inclinava a tratar a multidao em termos apriori: como irracional, instavel e destrutiva; como intelectual-mente iI:tferioLE~u~ comQ!}~!}!_es;como priffiitiva~ou~comtendencia a reverter a uma condicao animal." Seus preconceitoslevaram-no a equacionar a "rnultidao" com as classes mais bai-xas da sociedade; e, embora criticasse Taine sob certos aspectos,copiou dele 0 quadro imaginoso da multidao revolucionariafrancesa que (como afirmava LeBon)costumava ser formada porelementos criminosos, degenerados e pessoas com instintos des-trutivos, que reagiam cegamente aos cantos de sereia dos "Iide-res" ou "demagogos"." Assim, embora pretenda distinguir entreurn e outro tipo, 0autor chega a uma concepcao geral da multidaoque, ignorando toda a evolucao social e historic a, seria igualmen-te adequada a todas as epocas e a todos os lugares.

    Seria absurdo, e claro, dizer que 0estudo do comportamen-to da multidao permaneceu estacionario desde que LeBon escre-veu, ha mais de 60 anos; e, embora ele ainda seja admirado porseu esforco pioneiro, muitos de seus preconceitos aristocraticose de suas nocoes raciais foram rejeitados pOl'seus sucessores. Atemesmo sua insistencia no comportamento "Irracional" da multi-dao (embora 0tema tivesse sido desenvolvido por Freud e Pare-to) foi questionada: Dan Katz prefere identificar as multidoes deacordo com a classe e insistiu para que sejam levadas em contarealidades historic as constantes, como a privacao e a persegui-

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    atividades da multidao? Isto tambern e importante, pois podeajffiIar a lan~ar ~;;;h.zes sobre 0 fato em si e dizer-nos algumacoisa dos objetivos sociais e politicos dos que participaram dele:Mais especificamente, precisamos tarnbem perguntar: quais, asfinalidades, motivos e ideias subjacentes a essas atividades? E afque-en-trama-s-ilcren~as-ge;_leraiizadas/i ~doprolessor-Smelser:sem essa investigacao, teremos de depender das explicacoespuramente "psicol6gicas" e "behavioristas" da multidao, Umaoutra indagacao relevante e: ~al a eficiencia d~s fo,:,~as.~~~e-pressao, ou da lei e da ordem? E evidente que, em greves, motinsou situacoes revolucionarias, 0 sucesso ou fracasso das ativida-des da rnultidao podem depender em grande parte da resolucaoou relutancia dos magistrados, ou do grau de fidelidade oudescontentamento dos guardas, da policia ou dos militares. Fi-nalmente: motivos ou comportamento dos que deles participaram mais.Esses participantes, infelizmente, quase nunca deixam registrosproprios na forma de mernorias, folhetos ou cartas; e para iden-tifica-los - e a suas vitimas - e investigar seus motivos ecomportamento, temos de recorrer a outros materiais. Entre estespodem estar os ~ da policia, das pr~s5es, dos hospitais eos arquivos judiciais; documentos d01VIlllisterio do ~ntenor e~gIStroshiWbinarios, rera:tonosao-procurad()r dp TIfsOuro,list~sde contribuintes, ae eleltores, e peti~5es; r~g!tr()~_A~_!l()l

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    fragmentarios e incompletos pOl' outra razao, respeitavel em simesma, mas com conseqiiencias frustrantes para 0pesquisador.Enquanto 0sistema policial frances do seculo XVIII ja era alta-mente desenvolvido, 0 sistema Ingles, empenhado em protegero acusado contra a auto-incriminacao, nao permitia que ele fosseinterrogado pela parte adversa, nem mesmo num tribunal publi-co. Em conseqiiencia, os registros ingleses de tribunais superiores,de tribunais trimestrais inferiores e de tribunais eclesiasticos naose comparam em valor, para 0pesquisador nessa area, com osencontrados nos arquivos nacionais e departamentais franceses.

    Mesmo quando tais documentos sao razoavelmente com-pletos, nao nos podem ajudar a identif icar todos os "rostos namultidao". Isto s o pode ser feito naquelas raras ocasioes em queos nomes e descricoes de todas aspessoas em causa aparecem emalguma lista ou registro conternporaneo. Sabemos, pOl'exemplo,pelas listas existentes nos Arquivos Nacionais franceses, os no-mes, enderecos e ocupacoes de todos os cerca de 800 cidadaosque puderam comprovar a alegacao de que participaram ~tiva-mente do ataque f inal a Bastilha. E se estivermos dispostos aseguir Le Bon na extensao do significado de "rnultidao" alern denossas limitacoes anteriores, podemos dizer, pelos registros elei-torais de 1768e 1769, osnomes e par6quias de todos os que votarama favor do radical John Wilkes nas eleicoes realizadas noMiddlesexnaqueles anos e,pelos livros do Imposto Imobiliario ou do Impostode Assistencia Publica, podemos dizer que propriedades tinham ouarrendavam. sao, porem, casos excepcionais. Para identificar a mul-tidao, temos em geral de complementar 0que podemos apurar nosrelatos unilaterais de testemunhas oculares com amostragens dosmortos, feridos ou pl'esos em agitacoes, existentes em registros dapolicia, dos hospitais ou dos tribunais. Essas amostras devem sertratadas com cuidado, pois quase sempre sao demasiado pequenaspara que possamos tirar delas conclusoes gerais; e ha, muitas vezes,poucas informacoes quanto ao fato de os mortos .ou presos seremobservadores curiosos ou participantes ativos. Alem disso, mesmoque a amostra seja adequada, podemos ficar em duvida, como aoestudar documentos judiciaries ingleses, se a palavra "laborer" (tra-balhador) indica um assalariado, um empregado domestico ou umpequeno comerciante; ou se 0 termo "yeoman" indica um pequenoagricultor, um pastor ou um trabalhador agricola." A tarefa de iden-tificar os "rostos" esta cheia de, no minimo, obstaculos e problemas.

    Problemas ainda maiores podem estar a nossa espera aotentarmos estabelecer as causas, motivos e atitudes mentais esociais que estao pOl' tras das atividades da multidao. Mas taisproblemas se tornarao evidentes, sem duvida, pelo que dizemosem capttulos posteriores, e nao falarei deles aqui. Talvez ja tenha-mos dito 0suficiente para convencer 0leitor de que, nesse campode investigacao, 0historiador precisa andar com cuidado, estaratento as armadilhas constantes, evitar julgamentos apressadose ser menos def initivo em suas conclusoes do que 0historiadordos movimentos trabalhistas e, mais ainda, do moderno pesqui-sador de campo, cujo material nao e constituido de frageis per-gaminhos, e sim de seres humanos vivos. Mas0historiador deveusar as provas que puder encontrar; e documentos como esses,com todas as suas imperfeicoes, permitem-Ihe encher pelo menosparte do quadro e responder a algumas perguntas, se nao a todas,com as quais comecamos.

    Neste livro, foi com a ajuda de material semelhante, obtidode minhas proprias pesquisas e da pesquisa de outros, queprocurei retratar a multidao "pre-industrial" em acao e analisarseus componentes e caracteristicas. Para isso dividi, em primeirolugar, suas atividades em algumas categorias escolhidas, para emseguida tratar os motins rurais e provinciais franceses e inglesesdo seculo XVIII, os motins urbanos franceses e ingleses, a multi-dao na revolucao francesa de 1789, os motins "Igreja e rei", osmovimentos rurais ingleses do princtpio do seculo XIX, a multi-dao na Revolucao Francesa de 1848 e 0Cartismo na Inglaterra.Nao atribuf qualquer virtu de particular a essas divisoes precisas,que sao fatalmente um tanto arbitrarias e refletem "valores" econcepcoes que podem eer aceitaveis para alguns, e para outros,nao. Alem disso, sao evidentemente os valores do historiador, enao do sociologo. Enquanto outros poderiam preferir classificaras multidoes exclusivamente segundo seu comportarnento oumotivos e crencas, preferi levar em conta nao so tais fatores, masoutros tambern, como 0pais e0perfodo no qual as perturbacoesocorreram, alern da cornposicao de seus participantes: pOl'exem-plo, eram camponeses ou residentes urbanos? Isso pelo menosajudara a situar a rnultidao em seu ambiente geograf ico e hist6-

    Minha consideravel divida para com outros autores que se ocuparam doassunto ficara evidente pelas referencias e bibliografia.12 13

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    rico, bern como em seu meio puramente behaviorista ou sociolo-gico. Alem disso, MO e uma classificacao rfgida, e 0 leitor verafacilmente onde ha uma superposicao entre categorias seleciona-das. Isso ficara mais claro na Segunda Parte, onde tentei umaanalise critica da multidao em suas varias manifestacoes, estudeio papel desempenhado pelas forcas da leie da ordem e os aliadosda multidao em outras classes sociais, e cheguei a algumas con-clusOes gerais a partir da totalidade de meu campo de pesquisa.Tais conclusoes nao pretendem, certamente, ter validade univer-sal: sao, no maximo, relevantes para a multidao numa certa fasede sua historia. Espero, porern, que possam tam bern estimularoutros a estudar a multidao em outros periodos e outros luga-res.P Assim, pela cornbinacao desses esforcos, a multidao podeacabar surgirido nao como uma formula abstrata, mas como urnfenomeno historico vivo e multifacetado.

    13. Smelser, op . c i t. , p. 16.14. Sobre 0que se segue, ver meu artigo "The Study of Popular Distur-

    bances in the 'Pre-Industrial' Age", Hi st or ic a l S tud ie s (Melbourne),maio de 1963, pp. 457-69.

    15. Sobre as modificacoes ocorridas sob esse aspecto, particularmenteentre os historiadores, ver 0Prefacio,

    REFERENCIAS1. Ver artigos de L.L. Bernard sobre"Crowd" e "Mob" na Encyclopaediao f So c ia l S c ie n ce s (15 vols. Nova York, 1931-5), N,612-13; X, 552-4.2. Gustave Le Bon, T he C ro wd : A S tu dy o f th e P op ula r M in d (traducaoinglesa, 64imp ressao, Londres, 1909) pp. 181 ss. [Titulo original: LaPs ycho log ie de s Fou le s , 1895.}3. Elias Canetti, C row ds and P ow er (Londres, 1962), pp. 169-200.

    Nenhum desses dois autores tern hoje muitos seguidores.'4. Ver R.W. Brown, "Mass Phenomena", em Hand bo o k o f S o c ia l P sy c ho -logy (2 vols., Cambridge, Mass., 1954), II, 847-58; e N.J. Smelser,Theor y o f Co ll ec t iv e Behav io r (Londres, 1962), pp. 222-69.5. E.J. Hobsbawrn, P rim itiv e R eb els : S tu die s in A rc ha ic F or ms o f S oc ia lM ov em en t i n th e 1 9th a nd 2 0t h C en tu rie s (Manchester, 1959).6. J.Michelet, La Revo l ut ion f ran coi se (9 vols., Paris, 1868-1900), 1, 248.7. E. Burke, R ef le ct io ns o n th e R ev olu tio n in F ra nc e (Londres, 1951), pp.

    66-9.8. H. Taine, Les or igines d e l aFranct ' conientporaine. La Revolut ion (3 vols.,

    Paris, 1878), 1, 18, 53-4, 130, 272.9. Ver R.W. Brown, 0 1 ' . cit., pp. 840-67 (especialmente 0quadro de"variedades de multidoes", p. 841); e N . T . Smelser, op . c it ., pp. 4-22.o dr. Canetti (que talvez dificilmente seja sociologo) tern seu pro-prio rnetodo peculiar de classificacao ( op. c i t. pp. 48-63).

    10. Le Bon, 0 1 ' . cit., pp. 25-88.11. Le Bon, La Revolut ion f ra nc oi se e t l apsyc i lOlogie des revolu t ions (Paris,

    1912), pp. 55-61, 89-93.12. Ver Brown, o p. c it ; pp. 842-5.14 15

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    se a operacao como um todo? Um dos pretendentes'favodtos aesse titulo foi Hugh Williams, advogado dos agricultores, refor-mador radical, cartista e cunhado de Richard Cobde 1da LigaContra a Lei dos Cereais. as historiadores de Rebe a, porem,tendo examinado todas as provas, rejeitam a ideia.12

    No Pais de Gales, os motins rurais das deca as de 1830 e1840 foram 0estertor final deuma classe socialag izante: numaocasiao, os trabalhadores, e na outra, os agri ltores, tinhamassumido a lideranca, mas 0problema, emam os os casos, era 0mesmo. A medida que a industria e a agric tura capitalista sedesenvolviam, 0campones, como0tecelao tear manual, esta-va inevitavelmente condenado. as nomes os her6is Iendarios,Rebeca, Ned Ludd, e mesmo 0capitao S g, viveriam e cresce-riam, como Robin Hood, no folclore. Se s feitos, porem, nao serepetiriam e nao teriam maior futuro do que as classes cujosprotestos expressaram por um breve omento.

    1. P.G. Rogers, Battle in Bossenden ood.TheStrange Story ofSir WilliamCourtenay (Londres, 1%1). .2. W.W. Rostow, British Econ y of the Nineteenth Century (Oxford,1948), p. 124; G.M. Youn Victorian England. Portrait of an Age(Londres, 1961), p. 27.3. Sobre os mot ins , ver J .L. .Hammond, The VillageLabourer (2vols.,Londres, 1948) e E.J .H sbawm e G. Rude, Captain Swing (Londres,1969).4. E . Gibbon Wakefiel ,Swing Unmasked, orthe Causes ofRural Incen-diarism (Londres, 831); Halevy, op . cii., pp. 6-9.5. Gentleman's Mag .

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    Prim6rdios do movimento operario: teceloes ci a seda de LyonIevantam-se emnovembro de 1831.

    cada patrao, e os principais centros da populacao trabalhadoraeram ainda os velhos bairros e mercados de 1789, embora agorase estendessem para norte, sul e leste, em direcao aos suburbiosindustriais, que eram aldeias meio seculo antes.' A era dograndeempregador industrial, como a do trabalhador de fabrica, aindaestava para chegar. Eram0banqueiro, 0comerciante manufatu-rador, 0especulador e 0dono de terras, e nao0industrial, quedavam as cartas e formavam a espinha dorsal do que Marxchamou de "a sociedade anonima para a exploracao da riquezanacional da Franca" (e Tocqueville disse a mesma coisa) e aosquais Guizot dera seu reconfortante remedio para os males 50-ciais: "Enrichissez-ooue!"

    Embora a transformacao social e industrial fosse lenta, asnovas ideias nasciam depressa; ea decada de1830viu urn notaveldesenvivimento da educacao polftica da populacao industrialfrances .Na revolucao de1830,os trabalhadores tinham deixadosuas 0.cinas para pegar em armas e derrubar a monarquia deCarlos X; e, pelo que se pode dizer a partir dos registros, haviamuitos trabalhadores eartesaos entre osque foram condecoradospor sua participacao nesses acontecimentos e entre os mortoseenterrados soba "coluna de julho"," Nao obstante, isso foi apenasuma repeticao, embora emmaior escala, do que tinha acontecidoem1789eem1792;eostrabalhadores nao tinham condicoes, umavez feita a revolucao, de modificar seu curso/oque havia denovo na decada de1830,depoisdaexperien-cia de julho, era o fato de ostrabalhadores e~tarem come~aIl~o,as e a S s o c l a r e 1 l \ ~ ~ p ; ; 6 ' ~ g ; ~ i z - ; ' d o s - - - n i i ( ) p e n a s - a e n t r o d ~ ~ I T " m aofiCinae-!;ol?~~lls~~~s'l!ei~~a'fiffi' de participar das questoespolfticas. Os primeiros jornais de trabalhaaores;'-cq'ifumaT71es-'"tru1ffters, 0Artisan e Le Peuple , apareceram emsetembro de 1830;e a primeira das duas grandes insurreicoes dos tecelces da sedade Lyon irrompeu em novembro de 1831, sob 0 lema V iv re e nt ra vai ll an t ou mour ir en comba tt an t. Tinha objetivos sociais muitomais profundos do que urn simples aumento de salaries e aexistencia de empregos e, emboraconstitufsse urn movimentoconjunto dos pequenos mestres e dos jornaleiros, e consideradoem geral como 0nascimento do moderno movimento trabalha-

    _ dor. Ocorreu numa epoca em que a habitacao era miseravel, ossalaries eram baixos, e a depressao predominava, e foi seguido,em Paris, por uma serie de motins e insurreicoes armadas quevisavam nao principal mente aos comerciantes emanufatureiros,

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    mas aoproprio govemo. Entre ospresos nomais violento dessesmovimentos - 0de5-6dejunho de1832,nasarcadas deSt.Mery,onde 70 soldados e 80 amotinados foram mortos - encontramosvaries artesaos e jomaleiros, cujos nomes reapareceram em mo-tins posteriores: e urn - padeiro jornaleiro - que foi novamentepreso pouco depois por participar de uma coal i tion ouuriere, oumovimento salarial," Pode parecer trivial, mas e urn aspecto degrande significacao: pela primeira vez, encontramos osmesmostrabalhadores empenhados em sucessivas manifestacoes polfti-!cas, em reivindicacces salariais apresentadas num momento de \depressao economica, e osassalariados participando com a mes- \rna facilidade em movimentos economicos e politicos. Isso nao Iera visto nas revolucoes anteriores e representa urn marco na )historia da acao e das ideias da classe trabalhadora.L Y o N -p Logo depois do segundo levante de Lyon, emabril de 1834,/essa fase de motins politicos terminou, mas a fermentacao dasideias polfticas continuou. No mesmo ano, a palavra "socialis-mo" foi usada pela primeira vez por Pierre Leroux, e asideias deBabeuf (atraves de seu velho discipulo Buonarotti), Blanqui,Barbes, Blanc, Cabet, Proudhon e dos saint-simonianos comeca-ram a circular entre os trabalhadores.~us."rem~diQsiam dellledidas reformistas llloderada.s ~tea g\len:a~~-~!asse e i~s~rl'ei-"~al:)~fopiiIar reg

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    Assim, osassalariados nao s6 tinham, comoem 1789 e 1830,ajudado a fazer uma revolucao mas tambem, uma vez obtida avitoria inlcial, continuaram a deixar sua marca sobre ela. gr orevo l l : !S.~s . , ! ! I1~~E: '?! "~ . f I I .inh~!!L~gy.!g,Q,.~_if!,~Yt~,l em~!?_g~J: )J! , r -.&ue!i~,me_sm.~q~andocas.!,?!,allP:~,~!~.?s ~~~J!Yil~.Pilril,seu,~!2.!!. ,D,ef l~. ,Y,-=,~d~!~V~q,rg~!z,~~,?~_m~.R~ . .~,! ! !. " 'e sJ'0lfti~os e asS

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    Tropas dogovemo atacam a barricada na Place de la Bastille, na fase final dainsurreicao dos trabalhadores de Paris, em junho de 1848. (Verpp. 188-189).

    dos trabalhadores foi menosprezada e recebida aos gritos de"abaixo os comunistas!". 0rompimentoentre 0govemo e ossocialistas era agora complete.As eleicoes nacionais realizaram-se uma quinzena depois eforam um triunfo para os repubIicanos moderados de Lamartine,que conquistaram mais de 500 Iugares. Ate mesmo a combinacaode monarquiatas-orleanistas e legitimistas conquistou 300 luga-res, enquanto os socialistas e seus aIiados ficaram com menos de100 membros. 0 resultado foi saudado pelo Le National, 0ornalde Lamartine; e seu rival radical, La R e J o r m e , viu nele, francamen-te, "a derrota da Republica democratica e social". Numa tentati-va de restabelecer 0equilfbrio, os Itderes dos clubes resolverampromover outra "insurreicao". Em 15 de maio ~u~jgg~t;.~desa~~dos, a~l~~~"~J'~~~~"~,mP}J~g~4Qdas oficinas naciom~t~A

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    essa foi a centelha que a provocou. Os mais vigorosos lfderestrabalhadores estavam na prisao; outros, como Blanc, que tinhamescapado a prisao em maio, pediam cautela; assim, a falta demelhor lideranc;a, foi urn estranho mfstico (auto-intitulado "pro-feta da desgrac;a" e dos "dias de sangue") e capataz de oficina,Louis Pujol, quem se tornou porta-voz dos trabalhadores. Em 22de junho, entre 1.200 e 1.500 trabalhadores, com bandeiras des-fraldadas, reuniram-se no Pantheon e mandaram uma repre-sentacao de 56 delegados para parlamentar com 0governo, noPalacio do Luxemburgo. Marie, que recebeu Pujol e 5 outros,tratou-os com pouca cortesia e respondeu as ameacas de Pujolcom outras ameacas. Naquela mesma noite, realizou-se na Bas-tilha urn comfcio de archotes, onde falou Pujol; urn outro, namartha seguinte, adotou 0conhecido lema "Liberdade ou Mor-te!" Enquanto os manifestantes voltaram pelas avenidas, surgiuo grito /Ias armas!", e a primeira barricada, feita de 6nibus derru-bados, colchoes e pedras da pavimentacao, foi levantada pertoda Porte St. Denis, no Boulevard Bonne-Nouvelle.A insurreicao durou 3 dias e estendeu-se muito alem das,, fileiraS"dOs'1rabaIFta'aon;'s"'d;;~'O'fi~h1is:~seU'S-'rincT~ar;~~;tr;;;'\, "-"'-,. ,. -----.= ~ ""'' '' ''' '' '' .-- .-.--,~.~;-"~:!,.__.'''-.'''.~''_',iforatp_os"y~lhQsdi!lttiJQs,1~9R!!b!I~~,cl

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    martha do dia 26, uma comissao oferecia a deposicao de armasem troca da anistia. Cavaignac, porem, insistiu na rendicao in-condicional e, pouco depois de reiniciada a batalha, conseguiu,-I' iml1Q-Ia.A insurreicao estava terminada.< . . i ~ I ' : ) ; > ' A Assembleia e as classes abastadas se tinham alarmado~tmuito, e a repressao foi igualmente severa. Muitos foram mortosdurante a lutaou massacrados pela Guarda Movel: a contagemde 2.000 mortos e feridos, feita pela pohcia, e provavelmente uma

    su~mativa. Qu~ ..es~~~9,~1!!P~:t:E:fI{l~'1lli:!,S"SOII\(),ui-tas .~"'!!!!l?~i!i:!,!t"R~1Q..$imFlesJatQ"de,u$i:!,r,.,a".blol.(5.~".4Q~~trgl"~-lha~g~~l.,,.974..f,orClll\,..~eR.~~. 4~"jJ;l,!errQgadas,..libertadas ..seJ.p.'juI~a~elltQ.ou.se~ten~a.-Mais de 4'000 foram condenadas a.p r lLsao;~:pil1~~:~m'f.Q~~1~~!i."Q1L

    de citar provas disso) que a revolta de junho foi urn protestoarmado dos trabalhadores de Paris, senao contra os capitalistas,pelo menos contra os donos de propriedades, ou "os ricos".Sera essa interpretacao igualmente aceitavel para nos, ouprecisara ser revista? 0confli to nao foi, certamente, entretrabalhadores de fabric a e seus empregadores: isso teria sidoimpossfvel nas circunstancias da epoca.Paris, como ja vimos,era ainda uma cidade de pequenas oficinas e artesanatos, quepouco tinha mudado, sob esse aspecto, desde a primeira gran-de revolucao de 1789. Seexaminarmos as ocupacoes das 11.693pessoas processadas no caso, encontraremos uma notavel se-melhanca com os offcios daqueles que atacaram a Bastilha etomaram as Tulherias, 60 anos antes. Encontramos entre elesnada menos de 554 pedreiros, 510 carpinteiros de construcao,416 sapateiros, 321 marceneiros, 286 alfaiates, 285 serralheiros,283 pintores, 140 carpinteiros, 187 torneiros, 119 ourives e 191negociantes de vinho: e a maioria dessas ocupacoes esta entreas 12 maiores categorias a que pertenciam os presos. E atemesmoJ!,Q.y'cly:gL.::::'_,gm.hQr.cL9Ai:t1dt(,;i9~.~J;l,~Q_~ej~J.p.~Q.

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    assalariados) contra lojistas e comerciantes, e contra donos deterras e "principais" locatarios (com freqiiencia, lojistas) e naocontra donos de fabricas,mestres e empregadores industriais.l!

    Esses pontos merecem atencao e sugerem que, pelo menossob certos aspectos, a insurreicaode junho volta-se para as for-mas mais antigas de protesto social pelos pequenos consumido-res e produtores, observadas em capftulos anteriores. Por maisnotaveis que sejamcertas semelhancas entre asmultidees de 1789e dejunho de 1848,porem, asdiferencas sao igualmente grandes.~_.E. t l l .U!7i ro, ,lug!!~!,.!):~."r~y~~~s.U!l~l!~~tigi!t",,~J!):!~"!!!!Y~,.f~!-~oo::dd~~~;1}'i~~~~if!~tfi~t~q,~~~;~;~::!~za~:~~~~,",~,,,~,,-,,,"-,,,,,,,,.,,,,;"~,",,,,,,,,,,,_,~,,,.,,,"."i~O'ii""""'W--""""",~_""~~c;c N~l2 ~t ~ ~:::;:(~~ .~ - . _. - _;E -"" ""~"" . . - , " . o . l _~~,m~!1;e~,q!!~,J~",,,.,,,",~-~.,,,,,,",,,,;,","

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    11. R. Gossez, "Diversite des antagonismes sociaux vers le milieu duXIXe siecle", Revu e ec on om iq u e, I (1956), 439-58.12. G.Duveau, L a v i e o uo ri er e e n F ra nc e s ou s l e S e co nd E mp ir e (Paris, :l,946,pp. 42-3; L is te g en er al e .. . d es inculpie d e j uin 1 84 8.13. R.Gossez, "L'organisation ouvriere 1\ Paris sous la Seconde Repu-blique", em 1848. R ev ue d es r ev ol ut io ns c on iem po ra in ee , XLI (1949),31-45; "Diversite des antagonismes sociaux.;", p. 451.

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    CAPiTULO DOZE

    ASSim como 1848foi um divisor e aguas na Fr an c a , 0Cartis-mo na Gra-Bretanha marcou rna transicao semelhante dasformas mais antigas de movime to popular para asmais novCi.s:o Cartismo foi 0 primeiro m imento .independente dacl~ .....trabalhadora britanica; tend