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TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Registro: 2011.00000 03096 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0003260- 25.2005.8.26.0030, da Comarca de Apiaí, em que é apelante PEDRO AUGUSTO DE SOUZA MELLO sendo apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 1ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao apelo, a fim de absolver o recorrente por atipicidade de conduta. V.U. ", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MARCO NAHUM (Presidente), FIGUEIREDO GONÇALVES E MÁRCIO BARTOLI. São Paulo, 17 de janeiro de 2011. MARCO NAHUM PRESIDENTE E RELATOR Assinatura Eletrônica

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Apelaçãonº 0003260-25.2005.8.26.0030 Apiaí VOTO Nº 2/6

Apelação Criminal nº 990.10.395107-7 – ApiaíApelante: Pedro Augusto de Souza MelloApelado: Ministério PúblicoVoto nº 19.570 - Relator MARCO NAHUM

“Apelação. Artigo 229, “caput”. do CP. Ausência de

exploração de menores ou adolescentes no local.

Adequação social da conduta. Absolvição, nos termos do

artigo 386, inciso III, do CPP. Recurso provido.”

Pedro Augusto de Souza Mello foi condenado à pena de 02anos e 08 meses de reclusão, em regime fechado, e 20 dias-multa, piso,por infração ao artigo 229, “caput”, do Código Penal.

Apelou, a fim de que seja absolvido nos termos do artigo 386,inciso VII, do Código de Processo Penal (fls. 179/182).

Houve contrarrazões (fls. 185/186).

A Procuradoria de Justiça é pelo provimento do recurso (fls.218/219).

É o relatório.

1. O apelante foi processado porque, segundo a denúncia, nodia 30 de setembro de 2005, por volta das 17h, na Rua 15 de Novembro,359, Apiaí, mantinha, por contra própria, local destinado a encontros

libidinosos.

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Apelaçãonº 0003260-25.2005.8.26.0030 Apiaí VOTO Nº 3/6

Segundo consta, o acusado costumava alugar quatro quartosnos fundos de um bar para prostituição.

2. O acusado, em juízo, negou os fatos. Afirmou que alugavaos quartos para pernoite e não se destinavam ao incentivo da prostituição(fls. 73).

Terezinha Aparecida Hoffman afirmou que foi com o ex-marido, José Freitas de Lima ao local a fim de manter relacionamento maisíntimo, pois no bar pertencente ao acusado, havia quartos que podiam seralugados (fls. 74).

Domingos Batista de Oliveira (fls. 95) e Valdir Martins (fls. 96)

desconhecem os fatos.

Não há, portanto, provas suficientes para caracterização dodelito atribuído ao acusado.

3. Por outro lado, ainda que assim não fosse, considerando

que o legislador da década de 1940 tenha proibido penalmente a “casa deprostituição” (e até hoje a conduta continue a ser tipificada), a doutrina atualentende que, em casos como o presente, pode-se admitir a “adequaçãosocial”, demonstrado inequivocamente que menores não frequentem olocal.

Esta interpretação evita que a sociedade, de maneira cínica,

continue a tratar esta mazela social como crime, ao mesmo tempo em quedeixa de punir apenas pessoas desprovidas de maiores recursos, enquanto

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nas grandes metrópoles a mesma atividade é desenvolvida “por todos oscantos” e “a olhos vistos”.

Os tempos atuais, especificamente em nosso país, nãopermitem mais esse tipo de hipocrisia. Neste sentido entende-se que aconduta do recorrente há que ser admitida como adequada socialmente,uma vez que, insiste-se, não há provas de que menores tenham sidoexploradas.

Registre-se à exaustão, não se está a pregar a derrogação danorma, mas sim a se adotar um critério restritivo da norma penal em razãodo caso concreto, e por conta da extensão excessiva da descrição típica,adotada na década de 1940.

Por isso, Francisco Munõz Conde e Mercedes García Arán, aodefinir a teoria da adequação social, explicam que“... Ciertamente, lo que

es adecuado socialmente, es decir, los comportamiento habituales en la

sociedad aceptados y practicados por la mayoría, no deberían ser

generalmente típicos, es decir, penalmente relevantes. Pero sucede

muchas veces que existe un desfase entre lo que las normas penales

prohíben y lo que socialmente se considera adecuado. Este desfase puede

llevar inclusive a la derogación de hecho de la norma jurídica ya a proponer

su derogación formal... Lo que la adecuación social puede ser es un criterio

que permita, en algunos casos, una interpretación restrictiva de los tipos

penales que, redactados con excesiva amplitud, extienden en demasía el

ámbito de prohibición. Pero ésta es una consideración fáctica que no puede

pretender validez general…” 1 (grifei).

1 Derecho penal. Parte general. 2ª edición. 1996.

Tirant lo Blanch. Valencia. p. 272.

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Também neste sentido é a opinião de vários doutrinadoresbrasileiros:“Ao comentar a questão Guilherme de Souza Nucci diz não ser

possível 'fechar os olhos para a realidade, pois a prostituição, queiramos ou

não, está presente e atuante, além de existirem lugares apropriados para o

seu desenvolvimento'... os tribunais não têm condenado os proprietários ou

mantenedores de locais que tenham o nome de 'motel, casa de

massagem, bares ou cafés de encontros, saunas mistas, dentre outros'

condizem com os lugares mencionados no tipo penal. Acresce Nucci que

não se critica a jurisprudência, 'ao contrário, deve-se censurar a lei,

persistindo em impingir um comportamento moralmente elevado ou eleito

como tal à coletividade através de sanções penais' e, após fundamentado

arrazoado, postula a descriminalização do delito de casa de prostituição

(Código Penal Comentado. 7. Ed. São Paulo: RT, 2007, p. 853-854).

Pierangeli caminha no mesmo sentido...Também postulando a revogação

do art. 229, cf. Julio Fabbrini Mirabete; Renato N. Fabbrini, ob. cit. p. 463;

Paulo José da Costa Júnior ob. cit. p. 745; Ariosvaldo Campos Pires. Casa

de Prostituição. RT 703/406-407) 2 .

Insiste-se, no caso presente, não se pretende a revogação danorma penal do artigo 229 do Código Penal. Ao contrário, adota-se umainterpretação que torna a norma jurídica atual, em especial pela excessivaamplitude da sua descrição típica.

Portanto, não demonstrada a exploração de menores ouadolescentes no local, absolve-se o apelante nos termos do artigo 386,inciso III, do Código Penal.

2 Alberto Silva Franco e outros.Código Penal e sua

Interpretação. Doutrina e Jurisprudência. 8ª Ed. São Paulo. RT Editora Revista dosTribunais. p. 1132-1133.

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Pelo exposto, deram provimento ao apelo, a fim de absolver orecorrente por atipicidade de conduta.

MARCO NAHUM