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TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO
São Paulo
Apelaçãonº 0003260-25.2005.8.26.0030 Apiaí VOTO Nº 2/6
Apelação Criminal nº 990.10.395107-7 – ApiaíApelante: Pedro Augusto de Souza MelloApelado: Ministério PúblicoVoto nº 19.570 - Relator MARCO NAHUM
“Apelação. Artigo 229, “caput”. do CP. Ausência de
exploração de menores ou adolescentes no local.
Adequação social da conduta. Absolvição, nos termos do
artigo 386, inciso III, do CPP. Recurso provido.”
Pedro Augusto de Souza Mello foi condenado à pena de 02anos e 08 meses de reclusão, em regime fechado, e 20 dias-multa, piso,por infração ao artigo 229, “caput”, do Código Penal.
Apelou, a fim de que seja absolvido nos termos do artigo 386,inciso VII, do Código de Processo Penal (fls. 179/182).
Houve contrarrazões (fls. 185/186).
A Procuradoria de Justiça é pelo provimento do recurso (fls.218/219).
É o relatório.
1. O apelante foi processado porque, segundo a denúncia, nodia 30 de setembro de 2005, por volta das 17h, na Rua 15 de Novembro,359, Apiaí, mantinha, por contra própria, local destinado a encontros
libidinosos.
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Segundo consta, o acusado costumava alugar quatro quartosnos fundos de um bar para prostituição.
2. O acusado, em juízo, negou os fatos. Afirmou que alugavaos quartos para pernoite e não se destinavam ao incentivo da prostituição(fls. 73).
Terezinha Aparecida Hoffman afirmou que foi com o ex-marido, José Freitas de Lima ao local a fim de manter relacionamento maisíntimo, pois no bar pertencente ao acusado, havia quartos que podiam seralugados (fls. 74).
Domingos Batista de Oliveira (fls. 95) e Valdir Martins (fls. 96)
desconhecem os fatos.
Não há, portanto, provas suficientes para caracterização dodelito atribuído ao acusado.
3. Por outro lado, ainda que assim não fosse, considerando
que o legislador da década de 1940 tenha proibido penalmente a “casa deprostituição” (e até hoje a conduta continue a ser tipificada), a doutrina atualentende que, em casos como o presente, pode-se admitir a “adequaçãosocial”, demonstrado inequivocamente que menores não frequentem olocal.
Esta interpretação evita que a sociedade, de maneira cínica,
continue a tratar esta mazela social como crime, ao mesmo tempo em quedeixa de punir apenas pessoas desprovidas de maiores recursos, enquanto
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nas grandes metrópoles a mesma atividade é desenvolvida “por todos oscantos” e “a olhos vistos”.
Os tempos atuais, especificamente em nosso país, nãopermitem mais esse tipo de hipocrisia. Neste sentido entende-se que aconduta do recorrente há que ser admitida como adequada socialmente,uma vez que, insiste-se, não há provas de que menores tenham sidoexploradas.
Registre-se à exaustão, não se está a pregar a derrogação danorma, mas sim a se adotar um critério restritivo da norma penal em razãodo caso concreto, e por conta da extensão excessiva da descrição típica,adotada na década de 1940.
Por isso, Francisco Munõz Conde e Mercedes García Arán, aodefinir a teoria da adequação social, explicam que“... Ciertamente, lo que
es adecuado socialmente, es decir, los comportamiento habituales en la
sociedad aceptados y practicados por la mayoría, no deberían ser
generalmente típicos, es decir, penalmente relevantes. Pero sucede
muchas veces que existe un desfase entre lo que las normas penales
prohíben y lo que socialmente se considera adecuado. Este desfase puede
llevar inclusive a la derogación de hecho de la norma jurídica ya a proponer
su derogación formal... Lo que la adecuación social puede ser es un criterio
que permita, en algunos casos, una interpretación restrictiva de los tipos
penales que, redactados con excesiva amplitud, extienden en demasía el
ámbito de prohibición. Pero ésta es una consideración fáctica que no puede
pretender validez general…” 1 (grifei).
1 Derecho penal. Parte general. 2ª edición. 1996.
Tirant lo Blanch. Valencia. p. 272.
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Também neste sentido é a opinião de vários doutrinadoresbrasileiros:“Ao comentar a questão Guilherme de Souza Nucci diz não ser
possível 'fechar os olhos para a realidade, pois a prostituição, queiramos ou
não, está presente e atuante, além de existirem lugares apropriados para o
seu desenvolvimento'... os tribunais não têm condenado os proprietários ou
mantenedores de locais que tenham o nome de 'motel, casa de
massagem, bares ou cafés de encontros, saunas mistas, dentre outros'
condizem com os lugares mencionados no tipo penal. Acresce Nucci que
não se critica a jurisprudência, 'ao contrário, deve-se censurar a lei,
persistindo em impingir um comportamento moralmente elevado ou eleito
como tal à coletividade através de sanções penais' e, após fundamentado
arrazoado, postula a descriminalização do delito de casa de prostituição
(Código Penal Comentado. 7. Ed. São Paulo: RT, 2007, p. 853-854).
Pierangeli caminha no mesmo sentido...Também postulando a revogação
do art. 229, cf. Julio Fabbrini Mirabete; Renato N. Fabbrini, ob. cit. p. 463;
Paulo José da Costa Júnior ob. cit. p. 745; Ariosvaldo Campos Pires. Casa
de Prostituição. RT 703/406-407) 2 .
Insiste-se, no caso presente, não se pretende a revogação danorma penal do artigo 229 do Código Penal. Ao contrário, adota-se umainterpretação que torna a norma jurídica atual, em especial pela excessivaamplitude da sua descrição típica.
Portanto, não demonstrada a exploração de menores ouadolescentes no local, absolve-se o apelante nos termos do artigo 386,inciso III, do Código Penal.
2 Alberto Silva Franco e outros.Código Penal e sua
Interpretação. Doutrina e Jurisprudência. 8ª Ed. São Paulo. RT Editora Revista dosTribunais. p. 1132-1133.