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Cadernos Noroeste, Vol. 7 (2), 1994, 5·18 A VERDADE E A FUNCAO DE VERDADE NAS ClENCIAS SOCIAlS MOISES DE LEMOS MARTINS * RESUMO: Partindo da ideia de «verdade» como origem e fim de uma hist6ria de senti do, em que a origem e desocultada na forma de uma arqueologia e 0 fim antecipado na forma de uma escatologia representacionista da pro· curo esclarecer a de de verdade», imposta pela invasao da totali- dade do campo do conhecimento pela lingua gem nao representacionista da 1. A do conceito de verdade 1.1. A assunfiio da categoria de historicidade o sobre a verda de nao pode ser outra coisa que 0 debate sobre a natureza e 0 estatuto do nosso conhecimento. A tradi<;ao filos6fica ocidental, que se organiza em torno da procura da verdade, Richard Rorty (1994) chama-a de paradigma fundacionalista. l * Instituto de Ciencias Sociais da Universidade do Minho. 5

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Cadernos Noroeste, Vol. 7 (2), 1994, 5·18

A VERDADE E A FUNCAO DE VERDADE NAS ClENCIAS SOCIAlS

MOISES DE LEMOS MARTINS *

RESUMO:

Partindo da ideia de «verdade» como origem e fim de uma hist6ria de senti do, em que a origem e desocultada na forma de uma arqueologia e 0 fim antecipado na forma de uma escatologia (concep~ao representacionista da significa~ao), pro· curo esclarecer a no~ao de «fun~ao de verdade», imposta pela invasao da totali­dade do campo do conhecimento pela lingua gem (concep~ao nao representacionista da significa~ao)

1. A desfundamenta~ao do conceito de verdade

1.1. A assunfiio da categoria de historicidade

o deQat~ sobre a verda de nao pode ser outra coisa que 0 debate sobre a natureza e 0 estatuto do nosso conhecimento.

A tradi<;ao filos6fica ocidental, que se organiza em torno da procura da verdade, Richard Rorty (1994) chama-a de paradigma fundacionalista.

l * Instituto de Ciencias Sociais da Universidade do Minho.

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Neste paradigma razao e verdade fazem urn caminho comum: instancia soberana de decisao, a razao e una; por sua vez a verdade e (mica e eterna. Escreve Rorty (1994, p. 37): «Em larga medida, a retorica da vida inte­lectual contemporanea mantem como evidente que a finalidade da pesquisa cientifica cujo objecto e 0 homem consiste em compreender as 'estruturas subjacentes', os 'invariantes culturais' ou os 'modelos biologicamente deter­minados'». E explicita melhor 0 seu ponto de vista: aqueles que aspiram a fundar a solidariedade na objectividade interpretam a verdade como a correspondencia com a realidade (Ibidem).

Nesta tradi<;ao, que se estende da filosofia grega ate as Luzes, a ideia de verdade aparece como algo que deve ser procurado por si mesmo, e nao porque e born para alguem ou para uma comunidade, real ou imagimiria. Confrontando 0 desejo de solidariedade com 0 desejo de objectividade, Rorty e de parecer que se trata de distintas historias, que se excluem recipro­camente. Quem procura a solidariedade nao se interroga sobre a rela<;ao entre as pniticas de uma comunidade e «uma realidade independente do espirito e da linguagem». Por sua vez, quem procura a objectividade distancia-se das pessoas que 0 rodeiam e relaciona-se com uma especie de «realidade nao humana», isto e, com qualquer coisa insusceptivel de ser descrita em referencia a seres humanos particulares (Ibid., p. 35).

A esta procura da verdade, entendida como correspondencia com a realidade, contrap6e Rorty 0 pragmatismo. Para os pragmatistas, «0 desejo de objectividade nao se confunde com 0 desejo de se subtrair aos limites da comunidade; trata-se simplesmente do desejo de estender 0 mais possivel o entendimento intersubjectivo, de estender 0 mais longe possivel a refe­rencia ao 'nos'» (Ibid., p. 38). E explicita: a verdade toma como modelo a formula de James: «aquilo que nos e util acreditar» (Ibid., p. 37). Em consequencia, 0 sentido passa a ser pens ado «como desprovido de outro fundamento que urn fundamento 'puramente' etico», assente em raz6es pniticas e crente na esperan<;a partilhada e na confian<;a dai resultante (Ibid., pp. 53-54).

Foi no entanto Nietzsche quem, no seculo XIX, contrariou antes de mais ninguem 0 paradigma fundacionalista. Nietzsche esfor<;a-se, com efeito, por emancipar 0 pensamento, ou melhor, a nossa maneira de pensar, daquilo que chama de metafisica. E 0 que e a metafisica para Nietzsche? E urn principio, que prevaleceu de PIa tao a Schopenhauer, segundo 0 qual pensar e para os homens descobrir 0 fundamento que lhes permita falar de acordo com 0 verdadeiro e agir de acordo com 0 bern e com 0 justo.

Ora, para Nietzsche, nada hit «de acordo com», uma vez que nada hit que seja urn principio primeiro ou originitrio, urn «Grund», como 0 pode

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ser a Ideia de Bern em Platao ou, em Leibniz, 0 principio da razao sufi­ciente. Todo 0 discurso, mesmo 0 da ciencia ou 0 da filosofia, e apenas uma perspectiva, uma «Weltanschauung»; a verdade inscreve-se pois numa historia da verdade.

E, com efeito, a categoria de historicidade que fractura a tradicional afinidade entre a razao e a verdade. Esta categoria da historicidade do conhecimento vern a ser desenvolvida neste seculo sobretudo por Gadamer e Heidegger.

Segundo Gadamer (1988, p. 101), por exemplo, tomar em considera<;ao a historicidade significa introduzir no pensamento «urn tema autocritico que contesta a velha pretensao metafisica de conseguir atingir a verdade». Nao que Gadamer abandone, de forma alguma, 0 problema da verdade. Aquilo que a considera<;ao da historicidade vern sublinhar e 0 vinculo, in de­level, entre compreensao e situa<;ao, interpreta<;ao e preconceito, conhe­cimento e cren<;a, teo ria e pratica (Gadamer, 1976, p. 139). Quer isto dizer que tanto 0 lado inacabado da nossa reflexao, como a impossibilidade de urn recome<;o radical e absoluto, sao a propria condi<;ao do nosso ser historico.

Ser historico significa nao se esgotar nunca num saber total de si proprio. 0 principio da historicidade do ser implica que a existencia seja essencialmente uma experiencia e que a verdadeira experiencia seja expe­riencia dos limites ou da finitude humana. 0 modo de ser da razao nao e pois a intui<;ao (que justificaria as suas pretensoes dogmaticas), mas a interpreta<;ao '.

A ideia nao fundacionalista da verdade e uma conquista do nosso tempo, embora desde sempre tenha sido anunciada e trabalhada. Se no entanto quisermos indicar os nomes mais emblematicos desta conquista, talvez seja justo referir Nietzsche (e a sua critica da metafisica, 0 que quer dizer, a sua ideia de jogo, de interpreta<;ao e de signo sem verdade presente); assim como Freud (e a sua critica da presen<;a-a-si-proprio, quer dizer, a critica da consciencia, do sujeito, da identidade em si proprio, da proximidade e da propriedade de si proprio); e ainda Heidegger (e a destrui<;:ao da meta­fisica, a destrui<;ao da onto-teologia, a destrui<;ao da determina<;ao do ser como presen<;a) (Derrida, 1967, p. 412).

, Note·se, a proposito, que em A filosofia e 0 espeZho da natureza (1988), Richard Rorty niio contrap6e ainda a ideia de solidariedade a de objecfividade, mas sim a ideia de herme­neutica a de epistemologia. Veja-se sobretudo 0 cap. VII: «Da epistemologia a hermeneutica».

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1.2. A omnipresenfa do discurso

A ideia nao fundacionalista da verdade e, to davia, uma conquista de toda uma epoca, da nos sa epoca, porque 0 fundacionalismo e derrubado no preciso momenta em que a linguagem invade a totalidade do campo do conhecimento, a ponto de tudo se tornar discurso. Com efeito, ao estabe­lecer-se como casa comum para as ciencias sociais e humanas, 0 «linguistic turn», nas suas versoes estruturalista e pragmatica, faz ruir 0 fundacio­nalismo 2. E fa-lo ruir, porque 0 «linguistic turn» traduz uma preocupa~ao pela forma na prodw;:ao do sentido, ou seja, uma preocupac;ao refract aria a concepc;ao representacionista da realidade, uma preocupac;ao refractaria a qualquer tipo de descric;ao factual da realidade. De Saussure a Levi­-Strauss e de Wittgenstein a Derrida, a Foucault e a Ducrot, nega-se que os componentes semanticos dos sistemas de significac;ao se fundamentem na presenc;a de qualquer tipo de realidade, fisica ou mental. Todo 0 sistema de significac;ao, e portanto tambem a ciencia, produz-se «no elemento do discurso» (Derrida, 1967, p. 414).

Quer isto dizer que cai por terra «a determinac;ao do ser como pre­senc;a», e que com ela caem tambem todos os nomes que designaram a inva­riancia duma presen~a plena (de urn fundamento): essencia, existencia, substancia, sujeito, transcendencia, consciencia, Deus, homem ... Isto e, a verdade deixa de poder ser pensada na forma de urn ente-presente, e deixa tambem de ter urn lugar natural e fixo, cuja origem possa sempre ser deso­cult ada na forma de uma arqueologia e cujo fim possa igualmente ser ante­cipado na forma de uma escatologia, para ser entendida como uma fun~ao, uma especie de nao-Iugar, que torna possivel uma pratica e urn jogo infi­nitos, tanto de substituic;oes de signos (perspectiva estruturalista), como de usos de signos (perspectiva pragmatic a) 3.

Em pinceladas rapidas,vou caracterizar esta preocupac;ao pel a forma nas duas tradic;oes linguisticas referidas. Para 0 estruturalismo, 0 texto e urn «discurso fixado pel a escrita» (Derrida, 1967; Ricoeur, 1970; Barthes, 1976). E a escrita e urn sistema de formas, ordenadas no espa<.;:o e no tempo, a que chamamos significantes. Na irnpossibilidade de significado central,

2 Podiamos ainda talvez assinalar a tradic;:ao pos-estruturalista de Derrida e Foucault, nalguns casos muito proxima do estruturalismo, com 0 qual compartilha alias alguns pres­supostos, nomeadamente: 0 caracter relacional das totalidades; a ideia da arbitrariedade dos signos; a natureza diferencial do sentido. Veja-se, por exemplo; a este proposito, Giddens (1990).

3 Este paragrafo e, em larga medida, uma glosa a Derrida (1967, pp. 410-411).

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origimirio ou transcendental, a significa<;ao resulta da articula<;ao e do funcionamento sincronico destas formas. Ela e dada por urn sistema de diferen<;as. A linguagem e forma, nao e substancia, pelo que apenas pode gerar sentido mediante urn jogo de diferen<;as internas 4.

Quanto a pragmatica, sabemos 0 privilegio que concede as praticas discursivas dos agentes sociais. E na impossi bilidade de dizer uma reali­dade fisica ou mental, a linguagem argumenta e apresenta pontos de vista (necessariamente subjectivos) sobre nos e sobre as coisas. Ora, e da natu­reza da argumenta<;ao procurar 0 convencimento, a adesao do auditorio. Dai que ela se associe a poetica e modele a forma, no sentido de melhor seduzir e de melhor convencer.

o «linguistic turn» (estruturalista e pragmatico) foi uma opera<;ao a que todas as ciencias sociais e humanas se sujeitaram no correr deste seculo. A interpreta<;ao que as ciencias sociais e humanas tern dado da realidade, e nalguns casos a interpreta<;ao das proprias ciencias naturais, tern sido uma interpreta<;ao metodologicamente analoga aquela que a linguistica tern dado da linguagem.

No que respeita a tradi<;ao estruturalista, lembro que Levi-Strauss e Barthes reconheceram varias vezes que 0 principio basico do estrutura­lismo consiste na aplica<;ao de procedimentos linguisticos a outras areas cientificas que nao a linguistica. Em Les structures elementaires de la parente, Levi-Strauss com para explicitamente os seus objectivos com os da linguistica fonologica e assinala que os linguistas e os cientistas sociais nao apenas aplicam os mesmos metodos como estudam 0 mesmo objecto (Levi-Strauss, 1967, p. 520). Com efeito, a linguistica estrutural permite distinguir aquilo que, na Anthropologie structurale, este antropologo chama de «realidades objectivas, que consistem em sistemas de rela<;oes produ­zidas pela actividade inconsciente do espirito» (Levi-Strauss, 1974, p. 67).

Ja no que respeita a Roland Barthes, ha mesmo uma radicaliza<;ao da tese linguistica. Contra Saussure, propoe Barthes (1989, p. 9) que «a linguis­tica nao e uma parte, mesmo privilegiada, da ciencia geral dos signos, e a semiologia que e uma parte da linguistica: mais precisamente a parte que tom a a seu cargo as grandes unidades significantes do discurso» 5.

4 Esta concep9ao do sentido relaciona-se directamente com a ideia da natureza arbi­traria do signo linguistico, que pode interpretar-se, por sua vez, como uma critica das teorias objectivas do significado e como uma critica das teorias da referencia ostensiva (Giddens, 1990, p. 261).

5 Noutro passo, Barthes diz mesmo que «actualmente 0 saber semiologico so pode ser uma copia do saber linguistico» (Barthes, 1989, p. 9).

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E que unidades sao essas? Nao se trata da linguagem-objecto, da lingua­gem que diz as coisas e que tern por unidade de analise a Frase. Trata-se antes de «uma linguagem segunda, cujas unidades nao sao ja os monemas ou os fonemas, mas fragmentos mais extensos do discurso que remetem para objectos ou episodios que significam sob a linguagem, mas nunca sem ela» (Ibid., p. 8). Neste sentido, a materia da semiologia «tanto pode ser 0 mito, a narrativa, 0 artigo de imprensa, como os objectos da nossa civilizac;ao, contanto que sejam falados (atraves da imprensa, do prospecto, da entrevista, da conversa e talvez mesmo da linguagem interior, de ordem fantasmatica)>> (Ibid., p. 9) 6.

Quanto a tradic;ao pragmatica, limito-me a urn exemplo e fac;o-me eco do espanto com que Stephen Toulmin ve 0 Centro de Filosofia da Univer­sidade de Pittsburgh chamar a urn encontro cientifico, que se realizou em 1992, «A retorica das ciencias naturais» (Toulmin, 1994, p. 19).

E verdade que nao e consensual 0 meu ponto de vista. A ideia de que o estruturalismo participa do «linguistic turn», caracteristico da filosofia e da teoria social modernas, e contraditada, por exemplo, por Anthony Giddens (1990, p. 259). Numa linha rortyana, entende Giddens que 0

«linguistic turn» nao implica uma extensao das ideias tomadas do estudo da linguagem a outros aspectos da actividade humana; explora, sim, a inter­secc;ao da linguagem com a constituic;ao das praticas sociais. Por «linguistic turn» entende Giddens «a critica da linguistic a estrutural como processo de analise da propria linguagem e a avaliac;ao critica da importac;ao de noc;6es tomadas da linguistica por outras areas de explicac;ao do compor­tamento humano».

Tambem Alain Boyer (1988, pp. 154-155) afina por este diapasao. «Fala-se hoje, a partir de Peirce e Frege, no 'linguistic turn'», nota Boyer, «depois do qual nao mais seria possive! conceber a filosofia como ontologia nem mesmo como teo ria do conhecimento, mas unicamente como teoria da significac;ao».

Em termos convergentes, argument a ainda Karl- Otto Apel (1988a), ao incluir 0 «hermeneutic pragmatic turn» da filosofia americana, e especi-

6 Nao posso deixar, no entanto, de chamar a aten<;ao para 0 facto de Barthes acabar por impor ao signa semiologico urn desvio, que 0 afasta do signa linguistico. Assim, enquanto que 0 signa linguistico tern como primeira e unica fun<;ao significar, em muitos sistemas semio· logicos (objectos, gestos, imagens), como sao os casos do vestuario e da alimenta<;ao, 0 signa (que e uma «fun<;ao-signo») so cumulativamente significa. 0 vestuario serve-nos de protec<;ao e a alimenta<;ao de sustento. Mas «0 uso e convertido em signa desse uso», fundindo-se a fun<;ao (utilitaria) e 0 sentido (Barthes, Ibid., p. 34).

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ficamente de Rorty (1967), no desafio actual de uma «critica total da razao», e ao explicitar do seguinte modo «a viragem pragmatica» da filosofia analitica: trata- se de uma perspectiva «em que 0 conceito de racionali­dade da sintaxe logica e da semantica logic a dos sistemas de linguagem foi integrado ou ultrapassado pelo conceito de racionalidade do uso humano da linguagem, quer dizer, pelo conceito de racionalidade argumentativa» (Ape!, 1988b, p. 479). 0 «pragmatic turn» tern com efeito como referencia, antes de mais, a direc<;ao inaugurada pelo segundo Wittgenstein, a orien­ta<;ao da ordinary language philosophy, centrada no uso da linguagem, e neste contexto, a teoria dos actos de fala, fundada por Austin e Searle.

2. A verdade, a separa'rao e 0 compromisso

Texto e textualidade, por urn lado, acto discursivo e pratica discursiva, por outro, enfim forma na linguistica. E analogicamente, texto e textua­lidade, e tambem acto discursivo e pr:itica enunciativa, enfim forma nas ciencias sociais e humanas. E este 0 meu ponto de vista. Creio, no entanto, que e caso para dizer como Derrida (1967, p. 11), urn textualista pouco dado a efeitos litenirios 7, que a forma apenas fascina «quando nao temos ja a for<;a de compreender a for<;a no seu fundo». Interroguemos pois a forma ate chegarmos ao fundo.

Conhecemos 0 desafio das tres teses de Gorgias. A primeira e a de que nao existe nada. A segunda e a de que, mesmo que existisse alguma coisa, nao po de ria ser conhecida. Finalmente, a terceira tese: mesmo que pudesse ser conhecida, nao poderia ser comunicada.

A este desafio ceptico, 0 «linguistic turn», na sua dupla tradi<;ao, da uma dupla resposta. Se me permitem a ousadia da compara<;ao, diria que a tradi<;ao estruturalista da uma resposta numa linha platonica, enquanto que a tradi<;ao pragmatica 0 faz numa linha aristotelica.

E passo a explicitar os termos da compara<;ao. Os aristotelicos reco­nhecem a insuficiencia das argumenta<;6es quotidianas, mas acreditam que elas tern uma utilidade pratica, acreditam que elas concorrem para melhorar as coisas, desde que utilizadas de maneira adequada. Em termos latos, os aristotelicos fazem compromissos com 0 mundo. Exemplificando,

7 Giddens (1990, p. 270) notou-o bern, ao assinalar a afinidade dos varios tipos de inova90es gr<ificas, a que se entrega Derrida, com a aversao de Wittgenstein a escrever em estilo narrativo e com a aparente desordem das suas Investiga~oes filosoficas.

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para Aristoteles 0 grande erro de Socrates foi 0 de ter permitido que os atenienses 0 condenassem a morte, em vez de os procurar convencer da legitimidade do seu procedimento.

Este compromisso com 0 mundo e inconcebivel em Platao. A sua pro­posta e a separac;:ao, nao 0 compromisso. 0 aperfeic;:oamento da argumen­tac;:ao quotidiana nao nos conduz a verdade. A verdade encontra-se sim na recusa do compromisso, eo ponto extremo desta atitude esta em Socrates, que diz aos juizes que 0 condenam a morte: «Adeus, vos partis para a vida; eu parto para a morte. Ninguem pode saber quem escolheu melhor».

Claro que nao tenho nenhuma intenc;:ao de me envenenar com cicuta, mas a atitude filosofica que me interessa e a de Socrates 8. Por essa razao, aqueles que me conhecem sabem das minhas simpatias criticas, no passado e no presente, pela tradic;:ao estruturalista. Nao espanta, pois, que de alguma forma corrobore 0 protesto de Bourdieu contra 0 absoluto favor que cada vez mais e dadoa pragmatica: «0 espac;:o em que se situa 0 investigador», diz Bourdieu, <mao e 0 da 'actualidade', seja ela a actualidade politica ou a actualidade 'intelectual'».E 0 espac;:o relativamente intemporal que Marx e Weber, Durkheim e Mauss, Husserl e Wittgenstein, assim como Goffman e Cicourel ajudaram a criar: «a capacidade de dar respostas precisas e verificaveis as questoes que somos capazes de construir cien­tificamente» (Bourdieu e Wacquant, 1992, p. 160).

Mas ponhamos de lado a comparac;:ao e voltemos a centrar a atenc;:ao no «linguistic turn». Ao desafio das tres teses de Gorgias, a tradic;:ao estru­turalista responde do seguinte modo. Primeiro, nao existe nada fora do texto. Segundo, nao existindo nada fora do texto, aquilo que po de ser conhe­cido e apenas aquilo que dizemos. Ha urn «mundo do texto», urn mundo de enunciados, aberto a explicac;:ao do seu funcionamento. Em terceiro lugar, os textos nao comunicam, uma vez que, na melhor das hipoteses, suspendem a presenc;:a dos sujeitos; apenas significam e se significam uns aos outros.

A tradic;:ao estruturalista, que se constroi na base do principio saussu­reano da oposic;:ao entre lingua (objecto teorico construido) e fala (conjunto de dados observaveis) exprime uma atitude platonica, pois subscreve uma filosofia de separac;:ao.

Quanto a tradic;:ao pragm<itica, a resposta e a seguinte. Primeira tese: nao existe nada fora das pr<iticas dos agentes sociais (fora do processo que

8 Este exemplo foi·me sugerido por uma passagem de Oswald Ducrot (1990, p. 181), em que este linguist a contraria a teoria argumentativa de Perelman e justifica as suas pr6-prias posi<;6es argumentativas.

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e usar signos). Segunda tese: a ser assim, nao existindo nada fora das pnhicas dos agentes sociais, aquilo que pode ser conhecido e apenas aquilo que fazemos ao dizer. Do mundo dos enunciados, passamos pois ao acto de enuncia<;:ao e a analise centra-se nos actos de linguagem e na argumen­ta<;:ao. Terceira e ultima tese: nao comunicamos no sentido de transmitirmos mensagens objectivas. Comunicamos apenas no sentido de que significamos pontos de vista e de que argumentamos em determinada perspectiva.

A tradi<;:ao pragmMica, que se funda numa posi<;:ao hermeneutica menos preocupada com aquilo que os discursos dizem e mais com aquilo que os discursos fazem (for<;:a ilocucionaria) e com aquilo que nos fazemos com os discursos (argumentamos, exprimimos pontos de vista), manifesta uma atitude aristotelica, pois subscreve uma filosofia de compromisso.

3. A significacrao e a representacrao

3.1. Quando significar nao e representar

Passemos agora ao pormenor de uma e outra tradi<;:ao linguistica. Come­cemos pela tradi<;:ao estruturalista. Tendo por decisao epistemologica evacuado a presen<;:a das coisas e a presen<;:a do sujeito, 0 estruturalismo remete para urn modelo transcendental das ocorrencias empiricas, para urn modelo de rela<;:oes sincronicas, e atraves dele explica as constantes, as redundancias, as repeti<;:oes. A significa<;:ao nao e, neste entendimento, o suplemento de urn material semiotico (a presen<;:a de qualquer tipo de realidade, fisica ou mental). E sim 0 efeito de uma estrutura<;:ao dos significantes, quee urn sistema de diferen<;:as e de oposi<;:oes.

Na tradi<;:ao pragmatica, em Ducrot, por exemplo, tambem a linguagem nao espelha as coisas. As palavras nao representam a realidade em termos de verdade ou falsidade: 0 sentido das palavras e argumentativo. A pro­posito de urn estado de coisas, 0 enunciador convoca urn principio argu­mentativo, uma opiniao colectiva, isto e, urn topos, que the permite justificar tal ou tal conclusao, 0 que quer dizer, colo car as coisas em perspectiva e assim orientar a rela<;:ao com os outros (Ducrot, 1990, pp. 163-164).

Podemos, alias, assinalar afinidades entre a perspectiva de Ducrot e o sentido geral das Investiga90es filosoficas de Wittgenstein (1995), cuja preocupa<;:ao e interrogar 0 processo de usar palavras e frases em contextos de conduta social. A sua concep<;:ao primeira, expressa no Tratado Zogico­-filosofico, de que a significa<;:ao dos nossos enunciados e dada em condi<;:6es que determinam a sua veracidade ou a sua falsidade, Wittgenstein contra-

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poe mais tarde nas InvestigaQoes filosoficas a ideia de que a significa<;ao so pode ser explicada em fun<;ao daquilo que podemos considerar como a justificaQdo de uma enuncia<;ao.

Mas enquanto que na tradi<;ao estruturalista ser significativo se reduz a ser distintivo (sendo 0 jogo dos significantes que constitui a significa<;ao), na tradi<;ao pragmatica das teorias de Wittgenstein e de Ducrot, por exemplo, a significa<;ao e construida pela intersec<;ao da produ<;ao de signi­ficantes com objectos e acontecimentos do mundo, produ<;ao essa que em Ducrot e perspectivada e organizada pelo individuo que age, mas que em Wittgenstein nao pode interpretar-se em fun<;ao dos significados subjec­tivos dos agentes individuais, uma vez que a linguagem e concebida como uma experiencia publica, interactiva, 0 que quer dizer, em certa medida, sem sujeito.

Nao se pense, no entanto, que constitui urn retorno a uma disfar<;ada concep<;ao representacionista da realidade a ideia de a significa<;ao das palavras e das proposi<;oes consistir no seu uso. Na pragmatica nao sao concebidos objectos nem acontecimentos a que correspondam palavras, nem 0 uso aparece em substitui<;ao dos objectos e dos acontecimentos, com identica fun<;ao representacionista (neste sentido, nos nao usamos pala­vras como se existissem objectos e acontecimentos). Ja 0 dissemos, as teorias pragmaticas da significa<;ao de Wittgenstein e de Ducrot nao se centram no uso, assim entendido, mas no processo behaviorista de usar enunciados em contextos de conduta social. Quer isto dizer que, em nenhuma delas, existem essencias apreensiveis mediante formula<;oes linguisticas apropriadas.

Especifiquemos urn e outro caso. Em Ducrot, 0 sentido de urn enun­ciado e «uma especie de dialogo cristalizado», onde se confrontam varias vozes que se sobrepoem ou respondem umas as outras (Ducrot, 1990, p. 160). Tratando-se no entanto de urn dialogo ou de uma conversa<;ao, 0 que quer dizer que 0 sentido e dialogico, nao pode 0 enunciado ser encarado em termos de verdade e falsidade. Toda a palavra, antes de designar urn con­ceito, remete para urn topos, que pode ser, por exemplo, 0 principio de avalia<;ao positiva das ac<;oes humanas, ou para urn conjunto de topoi, constituindo entao a enuncia<;ao desses topoi, num momenta dado de uma sociedade, a unica descri<;ao exacta daquilo que a palavra significa nessa sociedade (Ducrot, 1990, p. 164). Por sua vez, em Wittgenstein, deixamos de ouvir falar, ai por meados de 1935 (altura do Livro azul), da suposta primazia da proposi<;ao (<<Satz») como uma imagem (<<gleichnis») para representar (<<darstellen») urn facto, ou estado de coisas (<<Tatsache»), em favor dos «jogos de linguagem», que sao caracterizados em termos

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behavioristicos. Por forc;a da sua inserc;ao em «formas de vida», todos os «jogos de linguagem» adquirem senti do contextual. E como consequencia, mesmo as descric;6es factuais sao reinterpretadas e contextualizadas, integrando-se na actividade de construir e fornecer descric;6es factuais, sendo esta actividade consider ada como mais urn jogo de linguagem (Toulmin, 1994, pp. 26-27).

3.2. Apesar de tudo, a representariio

Avaliemos melhor estas duas tradiC;6es. Do estruturalismo se disse que era urn fundacionalismo da letra, uma «ideologia do texto absoluto» (Ricoeur, 1970, p. 184), uma «obsessao sintactica» (Meyer, 1992, p. 118), urn «terrorismo epistemo16gico» (Frade, 1991, p. 49). «Extra textus nulla salus»: objectivista e desmistificador, 0 estruturalismo exilou-nos, sem duvida, do misterio da nossa existencia. Pode dizer-se que a tradic;ao estru­turalista, ao encarar a linguagem, com Saussure, a escola de Praga e Chomsky, entre outros, como urn objecto aut6nomo e auto-suficiente, acei­tando a separac;ao radical entre a ciencia da lingua e a ciencia dos usos sociais da lingua, nao s6 omite a questao das condic;6es sociais de possi­bilidade da lingua, 0 que faz da linguistica a mais natural das ciencias sociais, como tambem generaliza esse «efeito ideo16gico» as demais cien­cias sociais (Bourdieu, 1982, pp. 8-9). Aceitar a separac;ao radical entre a ciencia da lingua e a ciencia dos usos sociais da lingua e condenarmo-nos a procurar nas palavras 0 poder das palavras, isto e, condenarmo-nos a procura-lo la onde ele nao esta. 0 poder das palavras e apenas 0 poder delegado do porta-voz. A autoridade chega de fora a linguagem; esta apenas a representa, a manifesta, a simboliza (Ibidem).

Nao e de facto a linguistica que oferece urn modelo para a analise da acc;ao social e das instituiC;6es sociais. Pelo contrario, sao estas que explicam a linguistica. Ha, sem duvida, uma articulac;ao mutua entre lingua gem e pratica (social), mas e inexacto dizer, como 0 faz Levi-Strauss na «Intro­duction a l'ceuvre de Marcel Mauss» (1980, pp. XXXI e XXXII), «que a vida social e como uma linguagem». A vida social s6 po de entender-se pelas multiplas e reciprocas relac;6es entre individuos, que se movimentam no espac;o e no tempo, que conjugam a acc;ao e 0 contexto e que diferenciam os contextos (Giddens, 1990, p. 279). Ora a tradic;ao estru turalista substima tanto a «consciencia pratica» (que alguns denominam «competencia prag­matica»), como a contextualidade da acc;ao, ou seja, substima 0 conjunto de convenc;6es relativas ao que «ocorre» nos contextos quotidianos da acc;ao social (Ibid., pp. 278 e 280).

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Sabemos, por outro lado, como a pragmatica esta inquinada pela suspeita de empiria e de vassaliza<;:ao a doxa. Convertida a retorica, a pragmMica ve-se amea<;:ada pela possibilidade de se esgotar na astucia, de se esgotar em tornar forte 0 argumento mais fraco, at raves de uma sedu<;:ao enganadora, que desvie, que encante, que calcule. E que argu­mentamos nao apenas para comunicarmos. Argumentamos tambem para nos distinguirmos, para nos fazermos obedecer, para que nos acreditem.

A pragmatica, que esta centrada, nuns casos na experiencia individual, noutros na experiencia comunitaria da prMica discursiva, e existencialista, subjectivista, dialogica, remitificadora, assim reintroduzindo 0 misterio na nossa vida. Mas remetida para questoes retoricas, como 0 sao as questoes sobre as circunsHlncias em que os argumentos sao apresentados, ou sobre os auditorios a que estes se dirigem, a pragmatica descura a ordem do discurso e a ordem social, pretendendo uma verdade sem 0 poder 9.

Nao que as situa<;:oes da ac<;:ao e da interac<;:ao, distribuidas no tempo e no espa<;:o, e reproduzidas no «tempo reversivel» das actividades quoti­dianas, nao sejam essenciais para a estrutura<;:ao da vida social e da lingua­gem. Sao-no, sem duvida (Giddens, 1990, p. 279). Mas elas sao igualmente estruturadas por uma ordem (discursiva e social), que nao lhes e por inteiro subsumivel, a semelhan<;:a do que acontece com os elementos de uma sintaxe ou de urn sistema 10.

9 Parece-me que Richard Rorty comete este deslize na obra Science et solidarite (1990). o subtitulo, La verite sans le pouvoir, sugere que ha uma rela<;:ao intersubjectiva (a verdade) sem a rela<;:ao institucional (0 poder).

10 Cf., a este proposito, Derrida (1967, p. 413).

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Moises de Lemos Martins

The truth and the function of truth in social sciences

Developing the idea of truth as origin and end of a history of meaning in which the origin is presented under the shape of a kind of archaeology and the end is anticipated under the shape of a kind of scatology (repre­sentationist conception of signification), my purpose is to enlight the notion of «fuction of truth», imposed by th~ invasion of the tota­lity of the field of knowledge by language (non-representationist conception of signifi­cation).

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Moises de Lemos Martins

La verite et la fonction de verite dans les sciences sociales

Partant de l'idee de la verite comme origine et fin d'une histoire de sens, sachant que l'on peut devoiler l'origine sous la forme d'une arqueologie et la fin anticipee sous la forme d'une eschatologie (conception representationniste de la signification), nous analyserons la notion de fonction de la verite, imposee par l'invasion de la totalite du champ de connaissance par Ie langage (con­ception non representationniste de la signi­fication).