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CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE ESTE TRABALHO Parabéns! Se você está lendo isto, já faz parte de uma parcela cada vez menor que realmente se interessa pelo uso do seu principal instrumento de trabalho. Calculo hoje que 15% dos militares de carreira tenham uma arma de fogo, e que somente 1% as portam diuturnamente. Apesar de que o inimigo, que nos tempos de paz é o marginal, nunca vai acreditar que um militar de carreira, um guerreiro, muitas vezes até mesmo especializado, não tenha no mínimo uma arma, nem que seja em uma gaveta. Como se explica um Instrutor de tiro, um formador de Caçadores, que além de não possuir nenhuma arma ainda é contra as mesmas, pois são perigosas? Portar uma arma diuturnamente, além de ser desgastante, muitas vezes pode se transformar no próprio problema. Mas em algumas ocasiões, é a única saída. E nem sempre é necessário atirar para evitar o confronto. O problema é, para você que tem direito de portar uma, estar sem ela em um momento que faria grande ou toda a diferença. Para decidir se vai sair armado ou não, ponha estes dois extremos na balança, e escolha qual você vai suportar melhor. Mas se você não vai andar armado, porque não ter pelo menos uma arma em casa? Claro que vários fatores devem ser pesados na decisão: crianças, esposa, empregada, temperamento do dono, convicções religiosas e outros. Estes fatores podem ser contornados com a escolha da arma certa, onde ela ficará, como ficará, quem saberá, quem também será treinado a usá-la. Muito se fala em acidentes com armas envolvendo crianças. São 42 mortes por acidentes com arma de fogo entre menores que 14 anos no Brasil por ano, contra 512 mortes por afogamentos só em piscinas residenciais. Para começar, estas armas geralmente são revólveres, que são de fácil disparo por não ter que carregar ou destravar. Crianças acima de 6 ou 7 anos, que já têm força física para ciclar o ferrolho de uma pistola, já deveriam ter acompanhado seus Pais a um estande para entender o poder de uma arma e perder a natural e perigosa curiosidade ante ao desconhecido e proibido. Quanto ao temperamento do dono, é uma questão pessoal de autocontrole, mas lembre-se que uma faca também faz um bom estrago nos momentos de raiva. Quanto a convicções religiosas que impedem que se use de violência física contra terceiros, acredito que só depois que esta família é violentamente atacada sem escrúpulos pelo marginal, é que se abrem os olhos e o desejo de vingança prevalece. E o seu treinamento militar

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Page 1: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE ESTE TRABALHO

Parabéns! Se você está lendo isto, já faz parte de uma parcela cada vez

menor que realmente se interessa pelo uso do seu principal instrumento de trabalho.

Calculo hoje que 15% dos militares de carreira tenham uma arma de fogo, e que

somente 1% as portam diuturnamente. Apesar de que o inimigo, que nos tempos de

paz é o marginal, nunca vai acreditar que um militar de carreira, um guerreiro, muitas

vezes até mesmo especializado, não tenha no mínimo uma arma, nem que seja em

uma gaveta. Como se explica um Instrutor de tiro, um formador de Caçadores, que

além de não possuir nenhuma arma ainda é contra as mesmas, pois são perigosas?

Portar uma arma diuturnamente, além de ser desgastante, muitas vezes

pode se transformar no próprio problema. Mas em algumas ocasiões, é a única

saída. E nem sempre é necessário atirar para evitar o confronto. O problema é, para

você que tem direito de portar uma, estar sem ela em um momento que faria grande

ou toda a diferença. Para decidir se vai sair armado ou não, ponha estes dois

extremos na balança, e escolha qual você vai suportar melhor.

Mas se você não vai andar armado, porque não ter pelo menos uma arma

em casa? Claro que vários fatores devem ser pesados na decisão: crianças, esposa,

empregada, temperamento do dono, convicções religiosas e outros. Estes fatores

podem ser contornados com a escolha da arma certa, onde ela ficará, como ficará,

quem saberá, quem também será treinado a usá-la. Muito se fala em acidentes com

armas envolvendo crianças. São 42 mortes por acidentes com arma de fogo entre

menores que 14 anos no Brasil por ano, contra 512 mortes por afogamentos só em

piscinas residenciais. Para começar, estas armas geralmente são revólveres, que

são de fácil disparo por não ter que carregar ou destravar. Crianças acima de 6 ou 7

anos, que já têm força física para ciclar o ferrolho de uma pistola, já deveriam ter

acompanhado seus Pais a um estande para entender o poder de uma arma e perder

a natural e perigosa curiosidade ante ao desconhecido e proibido. Quanto ao

temperamento do dono, é uma questão pessoal de autocontrole, mas lembre-se que

uma faca também faz um bom estrago nos momentos de raiva. Quanto a convicções

religiosas que impedem que se use de violência física contra terceiros, acredito que

só depois que esta família é violentamente atacada sem escrúpulos pelo marginal, é

que se abrem os olhos e o desejo de vingança prevalece. E o seu treinamento militar

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provavelmente vai questionar suas convicções e lembrá-lo que aquela prole é de

sua responsabilidade. É uma questão de Honra. Direitos humanos, só para humanos

direitos!

Em 2010 ocorreu um fato que comprova o quanto que os Oficiais, que se

preparam para a Guerra, estão afastados das armas e despreocupados com sua

função social. Dois Capitães foram sumariamente executados por um vagabundo de

apenas 21 anos e seus comparsas. Nenhum dos cerca de 20 capitães presentes

estava armado. A execução foi covarde e dificilmente alguém armado evitaria os

primeiros disparos, mas poderia interrompê-los assim que compreendesse a

situação e reagisse a tiros. Se estes Capitães fossem de alguma Polícia Militar (e

lembro que todas elas se originaram na Polícia do Exército), a execução seria

interrompida a tiros de muitas armas e os vagabundos não escapariam com vida. E,

se por algum motivo escapassem, seriam alcançados pela vingança em poucas

horas. Atitudes assim impõem respeito, pelo menos no universo dos marginais.

Violência gera compreensão sim. O outro lado vai compreender que o ato terá

retorno e que será implacável.

O esporte do tiro e a instrução de tiro no Brasil foram iniciados por

instrutores das Forças Armadas, na época em que falávamos mais alto e éramos

mais respeitados. Hoje, não sei se por inércia própria, um Oficial de carreira, mesmo

o que tenha a Atividade de Instrutor de Tiro apostilada em Certificado de Registro

emitido por um SFPC, tem que se submeter a um teste de tiro aplicado por Agentes

da Polícia Federal para poder ministrar instruções de tiro na iniciativa privada! Como

se não bastasse a inversão nos vencimentos, onde um Agente em início de carreira

com 3 meses de formação percebe mais que um Major com 20 anos de serviço e

que foi forjado durante 5 anos de internato. Isto não é uma crítica aos Agentes e

nem à Polícia Federal, que apesar de ter efetivo 10 vezes menor que o mínimo

recomendado, procura cumprir bem a sua missão. É apenas uma constatação de

mais uma perda de status para os militares.

Este trabalho pretende somente informar que existem novidades há algum

tempo na maneira de se treinar para o combate em áreas urbanas. Não pretende

ensinar cada técnica descrita, mas somente apresentar a mesma para que, sabendo

da sua existência, se procure conhecê-la e dominá-la. Não aconselho o aprendizado

apenas teórico do assunto, e sim que se procure o conhecimento, seja freqüentando

cursos nesta área, seja experimentando de forma mensurada cada técnica para

Page 3: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

comprovar sua eficiência. Não acredite em uma técnica que você só ouviu falar, tire

a prova, comprove pessoalmente e decida se é efetiva realmente. Técnicas que

servem para um Time Tático, ou para uma dupla de Patrulheiros Rodoviários, ou

para um Agente de Segurança Pessoal, podem não servir para um Grupo de

Combate, ou para uma Guarnição de Força Tática, ou para você quando está

sozinho. Cada um tem sua realidade, suas armas, seus procedimentos, tipos

diferentes de oponentes e treinamentos. Boa leitura e bons tiros!

Page 4: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO NO NÍVEL LATO SENSU DE

APERFEIÇOAMENTO EM OPERAÇÕES MILITARES

MARCELO AUGUSTO SILVA

A EVOLUÇÃO DA TÉCNICA DE TIRO TÁTICO EM ÁREA URBANA

Rio de Janeiro

2011

MARCELO AUGUSTO SILVA

Page 5: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

A EVOLUÇÃO DA TÉCNICA DE TIRO TÁTICO EM ÁREA URBANA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Escola de

Aperfeiçoamento de Oficiais como

requisito parcial para a obtenção do Grau

de Aperfeiçoamento em Operações

Militares.

Orientador: Maj Inf MARCELO MARINS

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S586 Silva, Marcelo Augusto A evolução da técnica de tiro tático em área urbana / Marcelo Augusto Silva. – 2011. 31 f. ; 30 cm Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais) – Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Rio de Janeiro, 2011. Bibliografia: f. 30 - 31. 1. Infantaria - Armas. 2. Tiro tático. 3. Técnicas de progressão. 4. Combate urbano. I. Título. CDD 356.1

Page 7: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

Rio de Janeiro

2011

MARCELO AUGUSTO SILVA

A EVOLUÇÃO DA TÉCNICA DE TIRO TÁTICO EM ÁREA URBANA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Escola de Aperfeiçoamento

de Oficiais como requisito parcial para a

obtenção do Grau de Aperfeiçoamento em

Operações Militares.

Aprovado em: ______/________________/______

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________

Cap Inf PEDRO EDGAR DOS SANTOS – Presidente

Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais

________________________________________________

Maj Inf MARCELO MARINS – Membro

Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais

________________________________________________________

Cap Inf ANTÔNIO FERNANDO ADORNO COSSA – Membro

Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais

Page 8: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

À minha esposa, uma homenagem pela

confiança em mim depositada nos

momentos de maior incerteza.

Page 9: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, meus agradecimentos pela orientação firme e objetiva na

realização deste trabalho.

Aos meus pais Cel R1 QEMA Lauritz Silva e Ana Maria Silva, pelo amor com

que me conceberam e educaram, pelas inúmeras horas que velaram meu sono, e

pelas palavras de incentivo a cada tropeço de minha jornada, minha eterna gratidão.

A minha esposa Élida e a minha filha Milena pela compreensão, apoio e

companheirismo nos momentos em que este trabalho foi priorizado.

Aos Mestres Instrutores de Tiro, Tenente Coronel de Artilharia Valdir Campoi

Júnior e Álvaro Libran Landaburu - Diretor do Tactical Training Institute, que tanto

contribuíram para o meu aprendizado de técnicas modernas de tiro e

conseqüentemente, colaboraram em muito para que este projeto fosse concluído.

Page 10: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

“Deus é contra quem faz a Guerra,

mas fica do lado de quem atira bem !”

Voltaire

Page 11: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................08

2 METODOLOGIA ............................................................................................... 14

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 15

3.1 CARACTERÍSTICAS DOS COMBATES EM ÁREA URBANA QUE INFLUEM

DIRETAMENTE NA EXECUÇÃO DO TIRO ........................................................... . 11

3.2 O ENSINO DO TIRO NO EXÉRCITO BRASILEIRO .........................................13

3.3 TÉCNICAS DE TIRO E TÁTICAS EM AMBIENTE URBANO ............................ 15

3.3.1 Tomada de Ângulo (Fatiamento)....................................................................15

3.3.2 Posição de Transporte da Arma....................................................................16

3.3.3 Uso de Lanterna e o Tiro Sob Baixa Luminosidade ou Total Escuridão ..17

3.3.4 Retenção de Arma ..........................................................................................18

3.3.5 Transição de Arma .........................................................................................18

3.3.6 Método de Progressão ...................................................................................19

3.3.7 Tiro em Movimento .........................................................................................19

3.3.8 Tiro em Alvo Móvel .........................................................................................20

3.3.9 Troca de Carregador ......................................................................................21

3.3.10 Solução de Incidentes ..................................................................................21

3.3.11 Técnicas de Tiro ...........................................................................................22

3.3.12 Comunicação ................................................................................................24

3.4 COMO PODERIA SER IMPLEMENTADA ESTA EVOLUÇÃO ..........................25

3.4.1 Normas de Segurança ...................................................................................25

3.4.2 Relato de Experiência Vivida .........................................................................27

3.4.3 Amparo Legal ..................................................................................................29

4 CONCLUSÃO ....................................................................................................29

REFERÊNCIAS ..........................................................................................................30

Page 12: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

A EVOLUÇÃO DA TÉCNICA DE TIRO TÁTICO EM ÁREA URBANA

Resumo: As novas características dos combates das duas últimas décadas exigem

técnicas diferentes das que ainda são ensinadas. Fatores como a redução drástica

das distâncias de engajamento e intensa presença de não-combatentes na área de

operações cobram do combatente que este atire cada vez mais rápido, porém com

maior precisão. As técnicas de tiro ensinadas na atualidade são baseadas nos

antigos conflitos, quando se tinha razoável distância entre os contendores e as

técnicas eram baseadas no tiro de fração. Nas vielas de uma cidade raramente o

Grupo de Combate (GC) poderá atirar ao mesmo tempo, devido ao espaço restrito.

Cada combatente então terá que aumentar sua acurácia para garantir a progressão

segura de sua fração na direção do objetivo final. Neste sentido são analisadas as

novas técnicas de tiro em área urbana, bem como os cuidados necessários para o

seu aprendizado. Por fim, é sugerido como poderemos iniciar o ensino destas

técnicas e qual seria o amparo necessário.

PALAVRAS-CHAVE: Tiro tático, técnicas de progressão, combate urbano.

Page 13: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo pretende integrar os conceitos básicos e a informação

técnica relevante e atualizada, a fim de fornecer subsídios para a melhor

compreensão das necessidades de treinamento de tiro específico para o combate

em área urbana moderno.

No século passado, a nosso ver, as batalhas em geral se davam no campo

aberto, longe das aglomerações urbanas. Cidades eram invadidas, mas após

intensos bombardeios e quando já não restavam muitos inimigos. Além disto, o

armamento individual na 1ª Guerra Mundial, a maioria de repetição, impunha um

ritmo lento e a adoção de muita distância entre os contendores. Já na 2ª Guerra

Mundial houve significativa aceleração dos combates e diminuição das distâncias de

engajamento devido à maior adoção de armamento semi ou totalmente automático.

Mesmo assim os combates urbanos se davam em áreas fracamente defendidas e

após estas terem sido evacuadas de civis e muito bombardeadas pela Aviação e

Artilharia. Só nos conflitos da última década do século passado, com as novas

regras e cobranças referentes a efeitos colaterais dos combates, mortes de não-

combatentes e opinião pública é que os combates no interior de localidades

começaram a sofrer mudanças significativas. Hoje é preciso neutralizar o inimigo

mais rapidamente e a curtas distâncias, mas, com técnicas e táticas para fazer isto,

evitando causar baixas de civis e/ou dano desnecessário à localidade.

O que mudou então para o Infante que progride por uma localidade? O

inimigo agora está misturado à população e muitas vezes, se confunde com ela. O

tiro precisa ser realizado em menor tempo, contra alvos múltiplos e fugazes e com

maior precisão para evitar danos colaterais. As distâncias foram drasticamente

reduzidas. Não há mais tempo para uma troca de carregador administrativa, para

sanar um incidente de tiro como se estivesse em um estande de tiro, ou para

empunhar uma arma que não está de maneira correta na bandoleira, ou que está

em um coldre mal posicionado. Entendo que é necessário conhecer e praticar muito

as táticas de progressão por estas áreas, o tiro seletivo, o tiro em alvo móvel, o tiro

em movimento, o tiro em ambiente confinado, a transição de armas, a retenção de

armas, etc... (CAMPOI, 2006, p.91).

Page 14: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

Pretendemos analisar as novas necessidades de técnicas e táticas atinentes

às pequenas frações e ao combatente individual nas áreas urbanas. Analisaremos

tanto técnicas para o combate contra forças regulares quanto contra forças

irregulares em situação de Guerra.

Esta análise será limitada às táticas e técnicas de tiro aplicáveis ao soldado

de infantaria enquadrado em uma pequena fração. Não veremos estratégia em área

urbana. Nem serão abordadas técnicas urbanas em Operações de Garantia da Lei e

da Ordem (GLO), apesar de algumas técnicas serem comuns. Em uma tropa que já

está bem adestrada para o combate urbano, basta diminuir sua letalidade e redefinir

suas regras de engajamento para se adaptá-la rapidamente a uma Operação de

GLO. Mas uma tropa adestrada só em Operações de GLO não terá um bom

desempenho em um combate urbano intenso.

Algumas questões de estudo podem ser formuladas no entorno deste

questionamento:

a. Quais são as características do Combate em Área Urbana atual que

influenciam no resultado do tiro?

b. Como é ensinado o tiro hoje no Exército Brasileiro (EB)? Quais são as

deficiências?

c. Quais são as técnicas necessárias para a adaptação da tropa ?

d. Como poderia ser iniciado este aprendizado ?

O presente estudo pretendeu identificar quais são as novas necessidades de

técnicas de tiro e individuais para o cenário do combate em ambiente urbano

moderno. A partir daí propõe como este conhecimento pode ser transmitido à tropa.

Esta proposta é baseada em uma experiência bem sucedida, ocorrida no 6º

Batalhão de Infantaria Leve, na preparação de uma Subunidade (SU) Operacional

para este tipo de combate.

A fim de viabilizar a consecução do objetivo geral de estudo, foram formulados

objetivos específicos, de forma a desencadear logicamente o raciocínio descritivo

apresentado.

a. Levantar o que mudou no Combate Urbano e quais são as influências na

técnica de tiro e nas técnicas e táticas das pequenas frações e individuais.

Page 15: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

b. Descrever como o tiro é ensinado nos dias atuais e quais são as

deficiências que a tropa apresenta.

c. Descrever quais técnicas poderiam ser adotadas para melhorar o

desempenho.

d. Concluir, apresentando uma proposta das atualizações que poderiam ser

implementadas no EB.

2 METODOLOGIA

Quanto à natureza, o presente estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa do

tipo aplicada, pois teve como objetivo gerar conhecimentos para aplicação prática

dirigidos à solução de problemas específicos relacionados à evolução do ensino de

técnicas de tiro em ambiente urbano, valendo-se para tal do método indutivo, como

forma de viabilizar a tomada de decisões acerca do alcance da investigação, das

regras de explicação dos fatos e da validade de suas generalizações.

Trata-se de estudo bibliográfico que, para sua consecução, teve por método a

leitura exploratória e seletiva dos diversos materiais de pesquisa, bem como sua

revisão integrativa, contribuindo para o processo de síntese e análise dos resultados

de vários estudos, de forma a consubstanciar um corpo de literatura atualizado e

compreensível.

Serão relatadas também experiências de campo no ensino destas técnicas a

uma Subunidade (SU) Operacional de um Batalhão de Infantaria Leve (BIL).

A seleção das fontes de pesquisa foi baseada em publicações de autores de

reconhecida experiência nas técnicas estudadas e em Manuais de outras Forças

Armadas (FFAA) e de Corpos Policiais de Elite, em livros sobre Guerras recentes e

em Apostilas de Estabelecimentos de Ensino Privado de Técnicas de Tiro e

Combate.

O delineamento de pesquisa contemplou as fases de levantamento e seleção

da bibliografia, leitura analítica, deduções próprias e descrição das diversas técnicas

apresentadas.

Page 16: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seguir, serão abordados os principais conceitos relativos ao tiro e às

técnicas individuais em ambiente urbano. Serão levantadas as necessidades de

treinamento e as limitações do que é ensinado atualmente. Será levantado o

problema do amparo legal das instruções e os principais cuidados que devem ser

adotados durante os treinamentos. Será relatada uma experiência de sucesso neste

tipo de treinamento realizada por uma SU constituída de militares do efetivo

profissional.

3.1 CARACTERÍSTICAS DOS COMBATES EM ÁREA URBANA QUE INFLUEM

DIRETAMENTE NA EXECUÇÃO DO TIRO

Basicamente todas as características inerentes e exclusivas ao combate

urbano decorrem da reduzida distância entre os oponentes. Esta peculiaridade fará

com que o tempo de reação seja muito curto, visto a fugacidade com que o alvo

aparece e some. Além do tempo reduzido de exposição, ainda temos o espaço

exíguo e a possibilidade de não-combatentes circulando pela zona de ação.

As pequenas distâncias também tornam o combate muito mais pessoal,

quase que particular. E isto tem um efeito devastador sobre o nível de estresse do

combatente. O perigo de morte espreita a todo o momento, elevando o grau de

atenção ao máximo e conseqüentemente acelerando o desgaste mental e físico.

Nestas situações em que a adrenalina é lançada na corrente sanguínea,

buscando instintivamente aumentar nossa força física, nosso rendimento e diminuir a

sensação de dor, precisaremos de técnicas especiais para superar os problemas

destas reações de sobrevivência. Devido ao aumento da força física, uma posição

de tiro não isométrica poderá ter seus disparos desviados, devido à influência do

braço mais forte. Também será nítido o aumento das “gatilhadas”, que são puxadas

violentas no gatilho ao invés de premi-lo constantemente, fazendo com que muitos

disparos sejam perdidos. É necessário então aprender técnicas de disparo rápido,

sem perder o contato do dedo com o gatilho e sem deixar que o mesmo retorne todo

Page 17: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

o seu curso entre cada disparo.

Mas disparar rápido não é somente uma questão de acionar rápido o gatilho,

temos também que enquadrar o alvo de maneira mais rápida. Nas distâncias mais

curtas uma rápida visão da maça de mira já garante o acerto, não há a necessidade

de uma visada completa de alça e maça. Para acertar uma silhueta humana a

menos de 15 metros utilizando-se uma arma longa, não há a necessidade de perder

tempo realizando um enquadramento completo dos aparelhos de pontaria. E ainda

existem os aparelhos optrônicos, as chamadas miras holográficas que diminuem o

tempo de enquadramento, quando se precisa de maior precisão, porque apenas um

ponto vermelho projetado em uma lente precisa ser apontado para o alvo. Não se

perde tempo para alinhar alça com a maça e com o alvo. Seria muito útil quando só

se tem pequena parcela do alvo exposto ou um alvo completo a distância acima de

15 metros.

O surgimento da “visão em túnel” e da “exclusão auditiva” também são

características sempre presentes nos momentos de elevada tensão. A primeira se

caracteriza por só enxergarmos o inimigo, excluindo do registro mental tudo o que

acontece à nossa volta. É diferente do termo “túnel de tiro”, utilizado para designar

setores de tiro estreitos, também chamados de seteiras, que são mais freqüentes em

áreas edificadas. A segunda, impede que ouçamos um grito de alerta ou uma ordem,

por exemplo, pois só temos ouvido para o oponente à nossa frente. Aprender a

disparar e acertar com os dois olhos abertos diminui a zona cega de onde pode

surgir alguma ameaça letal. Treinamentos de situações de estresse desenvolvem a

capacidade de continuar agindo de forma racional e minimizam os efeitos negativos

da adrenalina, mas nenhum treinamento simula a sensação de que você está sendo

atacado mortalmente.

Outros dois problemas de áreas edificadas são os “cones da morte” e os

ricochetes. Os cones da morte ou funis fatais são projeções angulares para dentro

ou para fora de um cômodo através de uma porta, janela ou quina. São como se

fossem o setor de tiro de quem está do outro lado. Ou seja, é por onde irão passar

os projetis do inimigo. Não se pode passar em uma destas áreas de maneira

displicente, sob pena de ser alvejado sem nem ter tempo de localizar o oponente. As

paredes são superfícies que provocam ricochetes de projetis que incidem em

ângulo. Quando progredimos encostados nelas, formamos com as mesmas uma

Page 18: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

espécie de diedro e receberemos por ricochete todos os projetis que não iriam nos

atingir se estivéssemos a mais de dois palmos das mesmas. Os espaços verticais,

as janelas, as lajes, as escadarias, são ainda mais um problema para quem

progride. Podem ser utilizadas para observar, atirar e progredir.

A quantidade de edificações, as vias muito estreitas, e os espaços confinados

separam os homens até mesmo nas pequenas frações. Ocorrendo a necessidade,

que não é a ideal, de se empregar a fração Esquadra isoladamente por curtos

períodos. Nem sempre todos estão vendo a mesma parte do terreno. Isto aumenta

em muito a necessidade de comunicações eficientes. Equipamentos rádios

sofisticados e pequenos são bem vindos, de preferência os que não precisem que

se solte uma das mãos do armamento para apertar o botão de transmissão. Hoje já

se encontra rádios conjugados com localizadores que utilizam sinal de

posicionamento global por satélites. Mas equipamentos eletrônicos estão sujeitos a

falhas, então uma eficiente comunicação por sinais e gestos se faz necessária. E

essa comunicação só será eficiente sob condições de combate intenso, se for

treinada no dia a dia até a natural assimilação, não adianta tentar decorar os

diversos sinais e gestos na véspera da missão.

3.2 O ENSINO DO TIRO NO EXÉRCITO BRASILEIRO

A formação em tiro dos nossos militares é regulada pelas Instruções Gerais

para o Tiro com o Armamento do Exército (IGTAEx). Nossa atual formação em tiro é

eficiente em termos de ensinar a se obter precisão a média distância, e quando se

atira enquadrado em uma tropa constituída. É também segura se considerarmos o

combate linear, que é raro na atualidade. É uma formação de tiro adequada ao

soldado do Efetivo Variável (EV), que não está sendo preparado ainda para

enfrentar um combate em localidade. A finalidade é ensinar a grandes efetivos a

como atirar com relativa precisão, mantendo um nível aceitável de segurança e

sempre considerando que o atirador vai atirar enquadrado em uma coletividade.

A instrução de cada tipo de armamento individual é dividida em quatro

Módulos Didáticos de Tiro de Instrução e de Combate que são subdivididos em

Básicos e Avançados. Entretanto os Fundamentos de Tiro ensinados nesses

Page 19: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

módulos, que são a Posição Estável, o Controle da Respiração, o Acionamento do

Gatilho e a Pontaria, são sempre os mesmos.

Desses quatro fundamentos de tiro previstos, nenhum se aplica integralmente

ao ambiente urbano. São uma excelente base de formação inicial, mas devem sofrer

modificações à medida que se aprende um tiro mais avançado em termos táticos. As

posições de tiro em ambiente urbano, sempre que possível adotadas atrás de um

abrigo, podem exigir mudança constante do lado que atira e a adoção de posturas

não convencionais de tiro. Estas posições dificilmente são estáveis. Tanto o disparo

com o lado “fraco” quanto o tiro relativamente preciso durante os deslocamentos, a

pé ou embarcados, não são previstos nos módulos. O controle da respiração é outro

fundamento que é negligenciado devido ao ritmo dos combates. Há que se treinar o

tiro em tempo restrito e com deslocamento entre as posições de tiro para se

acostumar a atirar com a respiração acelerada. Até mesmo os nossos tiros

considerados rápidos nos módulos, ainda são aquém do necessário para melhorar

este aspecto. Uma solução seria a adoção de módulos de tiro aos moldes de

competições de Tiro Prático, em que o resultado individual é o produto da divisão da

pontuação obtida nos alvos pelo tempo em segundos gastos para executar toda a

pista. O objetivo é ser o mais preciso possível no mais curto tempo possível. E a

penalização por tiros perdidos ou em alvos amigos é bem pesada, para desestimular

a execução de tiros a esmo. A pontaria também precisa de adaptação, porque nem

sempre há tempo, possibilidade ou necessidade de uma fotografia perfeita e

completa dos aparelhos de pontaria. Deve ser treinada a pontaria instintiva para

curtas distâncias, para diminuir o tempo de resposta. Por fim o acionamento do

gatilho deve ser modificado para permitir tiros rápidos, mas evitando-se também as

problemáticas “gatilhadas”. Muda-se a posição do dedo no gatilho e a forma de

acioná-lo.

Nossos protocolos de segurança que envolvem as normas de segurança nos

estandes de tiro, a forma de inspecionar o armamento e as condições de prontidão

da arma são planejados para atender uma formação segura de efetivos grandes e

enfatizam a fiscalização superior do cumprimento das normas previstas. São

protocolos adequados para a formação em tiro dos milhares de jovens que

ingressam anualmente para prestar o Serviço Militar Obrigatório. Mas eles não criam

os reflexos individuais de segurança necessários, tanto durante os treinamentos de

Page 20: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

combate urbano, quanto no combate propriamente dito. É necessário incutir na

mente de cada um, que ele é responsável pela segurança do seu armamento. E

que, mesmo quando estivermos com cartucho na câmara e com o registro de tiro e

segurança na posição destravado, não é admissível um disparo acidental.

A resolução de incidentes de tiro padronizada nas normas de segurança é

única para qualquer tipo das várias causas de incidentes e precisa de até 10

segundos para resolver o problema e deixar a arma em condições de disparo

novamente. Este tempo não é relevante para um combate em campo aberto e

distante dezenas ou centenas de metros do inimigo. Mas ele pode não estar

disponível em um combate urbano.

3.3 TÉCNICAS DE TIRO E TÁTICAS EM AMBIENTE URBANO

Para adaptar o combatente ao cenário urbano de forma a aumentar a sua

letalidade em paralelo com a sua sobrevivência, não só terá que ser mudado o tiro

em si, mas também a progressão individual, de forma a melhor aproveitar as

oportunidades de tiro e diminuir o risco de ser atingido.

Segue abaixo a descrição de algumas táticas que atualmente não são

contempladas nos nossos manuais. A maioria faz parte do currículo de Cursos de

Operações Policias Especiais, Cursos de Ações Táticas ou Cursos de

Patrulhamento em Área de Alto Risco. Várias características das operações policiais

que são ensinadas nestes Cursos citados acima estarão presentes no combate

urbano executado pela tropa; o que torna necessária a inclusão e a enfatização

dessas disciplinas nos nossos Programas Padrão de Instrução.

3.3.1 Tomada de Ângulo (Fatiamento)

Em áreas edificadas cada quina de uma instalação, esquina, escadaria,

corredor, porta, janela apresenta ângulos mortos de visão. Cada ângulo morto deste

pode abrigar ou não um oponente pronto para atirar. Não se deve chegar a um local

destes de maneira displicente. Deve-se usar as técnicas de tomada de ângulo que,

se bem executadas, nos darão a vantagem de saber se o inimigo está realmente ali.

Page 21: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

Se não, ou mal executadas, teremos grandes chances de sermos atingidos. A

maioria das técnicas de tomada de ângulo vai exigir que o combatente utilize sua

arma dos dois lados, ou ainda utilize de técnica diferente da convencional quanto à

empunhadura da arma e/ou postura de tiro. Para executar, por exemplo, um

fatiamento em uma quina de final de corredor que inflete para a direita, teremos que

passar a arma longa para a esquerda, sob pena de ter que expor o triplo de área da

nossa silhueta, caso continuemos com a mesma no ombro direito.

Também é valida a técnica de se olhar um ângulo morto com auxilio de um

pequeno espelho. Mas lembre-se que o espelho apenas lhe dará a vantagem de ver

o inimigo sem expor seu corpo, mas alguém terá que se expor depois para abordá-

lo.

3.3.2 Posição de Transporte da Arma

Muito se fala atualmente de técnica do 3ª olho para progressões em áreas

confinadas. Esta técnica consiste basicamente em apontar a arma para onde vai o

olhar, visando diminuir o tempo de enquadramento de miras e reduzir o tempo

necessário para um disparo rápido. Mas esta técnica gera um problema se aplicada

de forma errada. A própria arma e mãos do combatente na frente e na altura dos

olhos “escondem” alguém agachado ou escondido. Deve-se levar a arma em

condição de pronto disparo, mas levemente inclinada para baixo, para não

perdermos campo visual.

Existem hoje diversas opções de bandoleiras de um, dois e três pontos de

ancoragem entre o armamento e o corpo. Mas tem que ser treinado como se vai

“sacar” este armamento da posição de transporte para a posição de tiro. Este

movimento tem que ser fluído e rápido. Se a arma não está carregada, deve ser

executado concomitantemente se executa o carregamento da mesma. Não se deve

usar a bandoleira de forma que seja difícil e demorado separar a arma longa do

corpo. Pode ser necessária a execução de um golpe com a mesma, passar por um

obstáculo onde ela tem que passar primeiro, atirar com a arma em posição não

convencional, ou trocá-la de lado para um fatiamento. Uma boa prática é treinar uma

forma rápida de pendurar a arma em bandoleira, quando se precisar das mãos

livres. Desta forma, durante o tiro a bandoleira permanece solta e evita perder tempo

Page 22: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

com os problemas anteriormente citados. Geralmente, a forma de utilizar a

bandoleira para um combatente que progride em uma localidade difere daquela que

emprega um integrante de time tático em formação em um corredor e da que

empregará um operacional em uma progressão em campo aberto. Cada um tem

necessidades e possibilidades diferentes, devido ao tipo de missão e seria um erro

padronizar a forma de trabalhar com a arma em uma situação específica, para

utilizar a todo o momento.

Um coldre de perna, por exemplo, onde a arma muda de lugar dependendo

do militar estar de pé ou sentado, não causará tanto problema quando a pistola é a

segunda arma. Mas pode atrapalhar o saque caso esta seja a única arma disponível.

Se estivesse na linha de cintura, sempre seria sacada da mesma maneira, criando

uma memória muscular que garantiria a agilidade e a exatidão do movimento.

3.3.3 Uso de Lanterna e o Tiro Sob Baixa Luminosidade ou Total Escuridão

Aprendemos e repetimos ao pessoal de serviço, diariamente, que os

principais problemas geralmente acontecem à noite. E face a este fato, comprovado

estatisticamente também no meio policial, é muito bem vinda uma lanterna de

qualidade para auxiliar nesses momentos críticos. Mas não contemplamos o tiro com

lanterna nos nossos programas de instrução. Uma lanterna pode ser utilizada para

iluminar o caminho, encontrar e identificar o oponente, cegá-lo temporariamente se

for potente, auxiliar na pontaria, ser utilizada como arma de contusão se for robusta

o suficiente e ainda, ser utilizada para comunicação por sinais. Mas não basta

dispor-se de uma boa lanterna tática, tem que haver o ensino das técnicas de tiro,

empunhadura, forma de iluminar e movimentação para tirar o máximo de proveito de

seu uso. Só a lanterna sem este treino específico pode vir a ser um estorvo ao

combatente. Existem também opções de lanternas solidárias ao corpo da arma, que,

no caso dos militares auxilia em muito um patrulhamento quando instaladas nos

fuzis.

É possível encontrar atualmente no mercado, filtros infravermelhos que se

encaixam nas marcas e modelos mais renomados de lanternas, e que limitam

somente ao pessoal dotado de equipamento de visão noturna visualizar o clarão

produzido.

Page 23: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

As técnicas para o tiro noturno devem ser treinadas tanto para situações de

baixa luminosidade, quanto para a escuridão total. Apesar do termo noturno, estas

situações podem se apresentar durante o dia também. São técnicas de

vasculhamento, de tomada de ângulo, de progressão e de abordagem, que devem

ser associadas ao tiro propriamente dito nessas condições especiais de iluminação.

Se dotada de visão noturna, emissores laser e visão termal, a tropa deve

realizar tiros de adestramento com estes equipamentos para conhecer as

possibilidades, as limitações, e assim, realmente se valer da vantagem tática

proporcionada. Vantagem dependente da claridade local e do equipamento inimigo.

3.3.4 Retenção de Arma

Quando se está em locais apertados e próximos demais, tanto do inimigo

quanto dos civis, existe a todo o momento a possibilidade de agressão física. Muitas

vezes o foco do agressor é em tirar ou mudar a direção da arma do combatente.

Existem diversas técnicas para que, independente da compleição física do agressor,

o militar consiga se manter de posse de sua arma. Mas, dependendo da forma como

esta arma é conduzida, fica muito difícil evitar o problema. Erros comuns são

empunhar a arma apontada para o alto, passar por uma porta com a arma

precedendo o corpo e conduzir a arma curta no lado contrário à mão que vai sacá-la,

seja no coldre de cintura ou no coldre do colete tático ou de assalto.

As técnicas para reter a arma junto ao corpo são parecidas e

interdependentes de algumas técnicas de lutas, e como tal, devem ser treinadas de

forma forte e séria para transmitir a exata noção da intensidade necessária na

execução delas para resolver o problema.

3.3.5 Transição de Arma

As técnicas de transição de arma curta para arma longa e vice-versa são

empregadas quando a primeira arma apresenta incidente de demorada e difícil

solução, ou quando ela não é adequada a cumprir a missão que se apresenta. São

técnicas que otimizam os movimentos para minimizar o tempo em que ficamos sem

condições de atirar.

Page 24: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

3.3.6 Método de Progressão

Quando se vasculha um lugar onde é provável, ou iminente o contato com o

inimigo, é interessante estar o tempo todo em condição de disparo. E isto envolve a

postura que estamos, tanto para executar uma seqüência rápida de tiros, quanto

para reter nossa arma em caso de agressão, ou ainda para absolver os impactos

executados pelo inimigo, sem cair ao chão. A postura depende muito da base, que

são as pernas. Portanto, as passadas nestas ocasiões devem ser executadas sem

um pé passar a frente do outro. O pé que está à frente avança, testa o terreno, após

o que avança o outro até próximo a este, mas sem ultrapassá-lo. A todo o momento

se deve estar em condições de atirar em várias direções sem precisar realizar vários

movimentos com as pernas, a fim de manter o equilíbrio durante os disparos.

Devem ser treinados também os giros estacionários, que são viradas de 90º

ou 180º, para engajar ameaça que surja. Nessas viradas, a idéia é economizar

movimentos e já terminar a virada em posição de boa base para o tiro. A arma

durante a virada é recolhida para junto ao corpo, para evitar batê-la em algum

obstáculo.

3.3.7 Tiro em Movimento

Outra técnica necessária é atirar em movimento. Se o combatente está

passando por um local descoberto e percebe que sofreu disparos em sua direção, a

pior coisa que pode fazer é parar para revidar a este fogo. Se o inimigo errou, é

porque provavelmente ele não sabe atirar em um alvo em movimento. Portanto se o

combatente conseguir atirar relativamente bem na direção do inimigo, ao mesmo

tempo em que continua seu deslocamento para o abrigo mais próximo, além de

continuar sendo um alvo difícil, este ainda fará ele cessar, ou diminuir o seu fogo

para se abrigar do nosso tiro e suas chances de não ser atingido são bem maiores.

Mas atirar bem em movimento também envolve a forma de pisar no solo, a

flexão das pernas para absorver parte da trepidação nos joelhos e o ritmo constante

das passadas, para estabilizar ao máximo a oscilação da arma (CAMPOI, 2006,

p.93).

No caso de tiro em movimento desde moto, viatura, embarcação e aeronave

tem que ser feita a compensação do nosso deslocamento lateral em relação ao alvo,

Page 25: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

realizando a pontaria um pouco atrás do mesmo. Um caçador militar calcula e

determina essa precessão que apontará mais para a frente do sentido do

movimento, quando atira em um alvo móvel. No tiro em movimento esta precessão é

utilizada mais para atrás (antes) de onde está o alvo. Em movimento teremos pouco

tempo de estimar esta medida e atirar, e quanto mais praticarmos, mais precisa será

esta estimativa, e mais projetis atingirão o oponente.

3.3.8 Tiro em Alvo Móvel

É válido supor que a maioria dos inimigos estará se movendo quando for

avistado e que se moverá mais ainda após receber fogo. É muito comum se esvaziar

um carregador em um inimigo que atravessa uma rua correndo e não atingi-lo uma

única vez. Isto se deve ao fato de que poucos conhecem e menos ainda, treinam

atirar em alvos móveis. O tempo final resultante da soma do tempo de reação do

atirador (enquadramento e acionamento do gatilho), com o tempo de deflagração do

cartucho e com o tempo de vôo do projétil é suficiente para que o inimigo se

desloque vários centímetros a frente do ponto visado, passando o projétil pela sua

retaguarda. E a tendência de quem erra os tiros em um alvo que corre é de acelerar

cada vez mais os disparos, realizando-os de forma cada vez mais displicente e

imprecisa (LANDABURU, 2011).

É necessário treinar muito este tipo de tiro para termos em mente o quanto

devemos apontar à frente do alvo, para que o projétil o encontre. Não se deve

também acionar o gatilho e parar de mover a arma; os tiros devem ser executados

com a arma constantemente acompanhando o movimento do alvo. Um simples

sistema de roldanas e cabos, ou um combatente correndo com um alvo bem alto

dentro de uma trincheira de estande, permite um eficiente treino de tiro em alvo

móvel. O alvo utilizado deve ser estreito (25 cm é uma boa medida) simulando um

inimigo de lado, que é como ele provavelmente estará durante uma corrida entre

dois abrigos.

3.3.9 Troca de Carregador

É necessário também otimizar as trocas de carregador, para que seja mínimo

o tempo em que ficamos fora de combate durante um remuniciamento. Geralmente

Page 26: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

se solicita cobertura de um companheiro para realizar estas trocas, ao mesmo tempo

em que procuramos ficar abrigados. As trocas de carregador podem ser

administrativas, táticas e de emergência. Na administrativa, a arma nem sai do

coldre ou da posição de transporte e não há preocupação com o tempo, pois não se

está no combate. Na tática, a idéia é aproveitar as pequenas pausas no combate

para colocar um carregador pleno na arma, após ter atirado bastante com o que está

na arma. Primeiro deve-se localizar o carregador pleno no equipamento e só depois

retirar o incompleto da arma. Este carregador incompleto não é descartado, deve

ser guardado no equipamento porque pode ser necessário mais para frente. Na de

emergência, precisamos ao mesmo tempo em que ejetamos um carregador que

ficou vazio, devido a muitos disparos seqüenciais, acessar e colocar outro pleno na

arma e carregar o mais rápido possível um cartucho na câmara. Como exceção, nas

espingardas calibre 12, primeiro se coloca um cartucho na câmara, e só depois de

carregada se inicia a introdução de mais cartuchos no carregador tubular.

Estas técnicas envolvem o local onde são colocados os carregadores no

corpo, como se empunha os mesmos e o reflexo de estar atento à janela de ejeção,

para identificar problemas. O atirador não deve acreditar que conseguirá contar seus

disparos, pois se for realmente um combate intenso, não conseguirá fazer isto. Mas

deve-se tentar perceber que está na hora de uma recarga tática antes que precise

de uma de emergência.

3.3.10 Solução de Incidentes

Só em pistolas temos sete tipos de incidentes de tiro e que necessitam de

ações diferentes para saná-los, de maneira eficiente e rápida. A primeira

preocupação ao perceber uma interrupção nos disparos, após ocupar abrigo e

solicitar cobertura, é olhar por cima da arma curta, ou pela janela de ejeção da arma

longa e identificar, ou deduzir qual foi a causa. Os problemas vão desde cartuchos

que ficaram encavalados no carregador e nenhum foi para a câmara, passando por

falhas de trancamento, de extração e de ejeção. Fora os problemas de percussão ou

de quebra de peças da arma. E as soluções a serem treinadas vão desde uma

simples pancada no fundo do carregador e uma só manobra de ferrolho em cerca de

um segundo, passando pela retirada do carregador e por duas manobras do ferrolho

seguidas de recolocação do carregador e nova manobra do ferrolho em menos de

Page 27: 79611333 TCC Tiro Em Ambiente Urbano

quatro segundos; a até uma transição de arma devido à complexidade do problema.

Não se improvisa com essas técnicas, pois é alto o risco de disparo acidental

por quem não domina o funcionamento da arma. E geralmente o leigo aponta a

arma em várias direções, enquanto tenta resolver rápido o problema.

3.3.11 Técnicas de Tiro

Diversos são os fatores que indicam e exigem mudanças nas técnicas de tiro

para a adaptação ao combate moderno em uma localidade.

A forma mais adequada de se ocupar um abrigo não é se apoiando neste, ou

na quina deste. Desta forma projetaríamos o armamento e parte do nosso corpo

para fora do abrigo. Ou mesmo dependendo do abrigo, poderíamos derrubá-lo, caso

tenhamos o reflexo errado de se jogar sobre ele. O correto é ficar afastado o

suficiente para que, mesmo em posição de tiro, o cano da arma fique antes da

quina, e bastará uma leve inclinação para o lado para efetuar disparos na direção do

inimigo. Deve-se tomar cuidado para não projetar nem o joelho que toca ao chão e

nem o cotovelo do lado que atira no momento (LANDABURU, 2011).

Falando-se em lado que atira, deve-se treinar o tiro com a arma em ambos os

lados, senão seremos só “meio combatente”. O terreno vai exigir qual lado iremos

usar. Deve-se também treinar o tiro e todo o manuseio do armamento com apenas

um dos braços, como se o outro estivesse gravemente ferido, ou sendo utilizado

para transportar algo ou conduzir alguém.

As edificações fornecem seteiras de tiro naturais e outras criadas pelas

destruições inerentes ao combate. Deve-se fazer uso correto das mesmas, atirando

sempre com o cano do armamento antes delas, para evitar ser facilmente localizado.

Cada inimigo deve receber a quantidade de impactos de projetis necessários

para tirá-lo de combate. Uns vão sair com apenas um tiro bem colocado, outros

precisarão de vários. E isto não se calcula com fórmulas matemáticas ou

percentagens de poder de parada. Muitas variáveis, além da potência do calibre e

do tipo de projétil, influenciam na incapacitação do oponente. Dentre elas podemos

citar: o estado mental do oponente, o preparo psicológico do mesmo, o nível sócio-

econômico, a compleição física, o uso de entorpecentes, se o estômago está cheio

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ou vazio, etc. Com a prática se percebe pela reação do inimigo (recolhimento

repentino de braço, flexão do tronco para frente, lançamento da cabeça para trás,

queda sobre as pernas) onde provavelmente foi o impacto e se precisaremos atirar

mais. É temeroso só se treinar a execução de dois disparos por vez em uma

localidade, porque se o primeiro disparo afastar o inimigo da frente, o segundo

passará no vazio e podendo atingir um não-combatente. E este costume leva ao

vício de executar os dois disparos e depois parar para ver o que aconteceu. Se os

dois disparos não foram suficientes, esta parada pode dar vantagem ao inimigo.

Deve-se treinar então a execução do tiro de maneira sortida, de um em um, três em

três, dois em dois, quatro em quatro, etc. Deve ser treinada também a execução de

fogo automático de cobertura com visada, para proporcionar certo grau de acerto.

A postura para estes tiros seqüenciais deve ser executada sobre boa base.

Os pés ficam posicionados como o de um lutador, para proporcionar equilíbrio em

todas as direções. O tronco deve ser inclinado para frente de forma a solicitar o uso

da musculatura lombar, que irá absorver parte da tendência de elevação da arma. A

cabeça não deve ser abaixada até a altura da arma, esta é que deve ser levada até

a altura dos olhos e a cabeça deve permanecer ereta. O tronco fica levemente de

lado para a direção de tiro, com o ombro do lado que atira no momento mais

recuado do que o outro. Esta posição reduz a silhueta do tronco em 18% em relação

à posição de frente para o alvo. É ideal para se ocupar um abrigo estreito como um

poste de iluminação urbana.

Em armas longas, deve-se agarrar com firmeza a telha ou guarda-mão da

mesma para permitir rápida retomada da visada entre disparos consecutivos,

evitando deixar a arma levantar muito, perdendo-se tempo de re-enquadramento.

Um punho frontal facilita em muito isto. Segurar direto no carregador não é

aconselhável, pois pode gerar incidentes de tiro por falha no carregamento. Segurar

na estrutura do poço ou alojamento do carregador é aceitável, mas por estar muito

próximo do atirador, em alguns fuzis, não permite o mesmo controle da arma que se

obtém empunhando um punho vertical instalado no guarda-mão.

3.3.12 Comunicação

O aprendizado de sinais e gestos para comunicação silenciosa entre quem vê

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o inimigo e o resto da fração é fundamental. Por mais sofisticados que sejam os

novos equipamentos rádios e seus laringofones, basta uma bateria sem carga, ou a

interferência típica de uma cidade grande, ou ainda a promovida pelo inimigo, para

ficarmos sem comunicação. Para sinais e gestos não poderá haver a interrupção de

transmissão. Pode-se descrever aspectos importantes do terreno após cada

esquina, se há pessoas, se são inimigos, que armas eles tem, quantos são; pode-se

solicitar cobertura, uma granada, mais munição, ou permissão para avançar. Tudo

pode ser passado para o comandante do GC, ou para o companheiro mais próximo,

mesmo estando de costas para eles e utilizando-se de apenas uma mão, porque a

outra segue pronta para qualquer disparo necessário.

Outro aspecto importante das comunicações é a designação de alvos e

objetivos entre a tropa e uma equipe de caçadores, ou uma tripulação de helicóptero

de ataque ou uma guarnição de carro de combate, ou de lançador de míssel. Cada

um está em local distinto, mas deve ser capaz de direcionar as vistas, ou os

deslocamentos, ou os fogos dos outros pela designação de construções de maneira

que não deixe dúvidas. Uma forma de se fazer é atribuindo cores aos lados das

edificações como se estivéssemos dentro delas e de frente para a entrada principal.

A frente, portanto, seria BRANCO, a esquerda seria VERMELHO, a direita seria

VERDE e os fundos seria PRETO. Os andares seriam contados de baixo para cima

e as janelas e portas da esquerda para a direita de quem olha aquele lado por fora.

Uma designação de alvo localizado na terceira janela do segundo andar da lateral

direita do prédio de cor azul poderia, por exemplo, ficar assim:

- Inimigo com lançador de granadas no prédio azul, em VERDE, janela 2, 3.

Esta é uma forma de padronizar, que poderia ser adaptada de comum acordo entre

as frações envolvidas na missão e que evitaria perda de tempo, de munição e talvez,

de vidas. Pode-se evitar até mesmo um fratricídio por confusão nas referências.

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3.4 COMO PODERIA SER IMPLEMENTADA ESTA EVOLUÇÃO

As técnicas de combate em área urbana não devem ser ensinadas

indiscriminadamente. Não deveriam fazer parte da formação do soldado do Efetivo

Variável. São técnicas sensíveis e que realmente dão vantagem a quem as domina.

Estas técnicas se empregadas por marginais dificultariam bastante o trabalho policial

repressivo. Creio ser sensato que o acesso ao conhecimento dessas técnicas

somente se limitasse ao Efetivo Profissional (EP) das Forças Estratégicas e das

Forças de Pacificação e aos alunos das Escolas de formação de Oficiais e

Sargentos combatentes de carreira.

3.4.1 Normas de Segurança

Estas técnicas carecem de segurança e domínio do conhecimento por quem

vai ensiná-las. As normas de segurança diferem das tradicionais utilizadas em uma

linha de tiro convencional. Mas os equipamentos de proteção individual (EPI) são os

mesmos, e especial atenção deve ser dada aos óculos de proteção. Precisa-se

atingir um nível elevado de adestramento, tal que ninguém mais precise se

preocupar com os outros nos momentos em que estaremos com munição na câmara

e a arma destravada, ou não. Basicamente, se resumem a essas quatro:

a. CONSIDERE TODA E QUALQUER ARMA COMO CARREGADA

Toda e qualquer arma deve ser tratada como um objeto letal. Só pode ser

manuseada, desmontada ou utilizada em instrução após inspeção feita

pessoalmente por quem vai usá-la no momento seguinte. Nas instruções onde ela

poderá ser apontada para pessoas e disparada em seco, é salutar que seja divida

essa responsabilidade de segurança com todos os envolvidos. Isto deve ser feito

mostrando a arma aberta e sem carregador para os presentes e questionando aos

mesmos se ela está em segurança. Muito importante, após a verificação da câmara

vazia, é o disparo da arma em direção segura, ou em direção a superfície que

absorva o impacto. Isto garante que se houver alguma falha na conferência, que

este disparo seja em local que não cause problema ou ricochete. Não se trata de um

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desengatilhamento ou desarme do cão, tem que realmente ser premido o gatilho

como se fosse realizar um disparo.

Armas que possuem o carregador solidário às mesmas, como é o caso

das espingardas de repetição calibre 12 com carregador tubular abaixo do cano,

causam confusão aos inexperientes, que não conferem se o carregador está

realmente vazio. Estes conferem apenas a câmara e ao tentar desengatilhar a arma

acabam carregando-a, e disparando um cartucho que não foi visualizado.

b. NUNCA APONTE PARA ALGO OU ALGUÉM QUE VOCÊ NÃO QUEIRA

ACERTAR

Isto se traduz na expressão “controle de cano”, pois é na direção

imaginária do prolongamento deste que sairá o projétil de um disparo acidental.

Diversas técnicas de empunhadura e postura evitam que se aponte a arma para

inocentes, principalmente quando a mesma está carregada.

c. MANTENHA O DEDO FORA DO GATILHO

Normalmente todo disparo acidental é sucedido da exclamação: “Disparou

sozinha”. Mas são raríssimas as ocasiões em que a arma dispara sozinha. Isto

somente acontece no momento do carregamento/trancamento em armas com

problemas mecânicos, em quedas e em situações de cadência muito alta de tiro, que

gera calor suficiente para deflagração por condução de calor.

Na grande maioria das vezes é um dedo no gatilho no momento errado

que causa o disparo não proposital. Falamos dedo fora do gatilho, mas o ideal é que

ele permaneça fora do guarda-mato. Tem que haver uma cobrança muito forte por

todos para que ninguém continue com o “vício” de ficar com o dedo no gatilho.

d. TENHA CERTEZA DE QUEM É O SEU ALVO E DO QUE TEM ATRÁS E

ENVOLTA DESTE

Atira-se só no que se vê. Mas além de se enxergar o alvo, também

precisamos de tempo para identificá-lo e definirmos se é um inimigo ou não. Outra

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preocupação em área urbana não evacuada é com os não-combatentes próximos ao

inimigo, que poderiam ser atingidos por um tiro mal executado e, até mesmo, os que

estão atrás deste inimigo e que poderiam ser atingidos pelos projetis que tranfixarem

o mesmo. A decisão de atirar é tomada em tempo restrito e a exposição do alvo é

por curtíssimo período de tempo. Às vezes, basta uma passada larga lateral para

tirarmos os civis do alinhamento com o inimigo e podermos disparar com mais

segurança.

3.4.2 Relato de Experiência Vivida

Relato uma experiência bem sucedida que tivemos no 6º BIL onde ensinamos

estas técnicas, inicialmente aos Oficiais e Sargentos, e depois aos soldados do EP

da 1ª Companhia de Fuzileiros Leve, durante os anos de 2008 e 2009.

O ensino se deu inicialmente por módulos (técnicas de progressão individual,

retenção de armas, técnicas de tiro com diversas armas, tiro, etc...) para os Oficiais

e Sargentos. Foi realizado em cerca de 15 dias não consecutivos, aproveitando,

muitas vezes, os dias em que os Cabos e Soldados do EP estavam empenhados no

serviço de escala. Isto foi feito nos meses de fevereiro e março, época de

sobrecarga para estes, por não estar ainda o EV apto para o serviço de escala.

Cada Oficial e Sargento realizou cerca de 400 disparos incluindo tiros de Fuzil,

Espingarda Calibre 12 e Pistola. Esta quantidade se equipara ao adestramento

atualmente realizado pelos Rangers dos Estados Unidos da América, devido à crise

ecônomica. Sendo o ideal, recomendado pelas normas deles, a realização de 1.200

disparos anuais por militar.

Os módulos foram chamados de instruções de nivelamento de Quadros e eram

conduzidos de forma intensa e sem permitir faltas, para garantir o real aprendizado e

padronização dos ensinamentos.

Após este nivelamento, foi reservado tempo suficiente para que os Tenentes e

Sargentos repassassem os conhecimentos aos seus subordinados. Algumas

técnicas executadas pelos Quadros não foram passadas para a tropa, devido à sua

sensibilidade. E é salutar que os Oficiais e Sargentos executem técnicas mais

complexas para que eles adquiram confiança ao ensinarem as mais simples. Este

repasse de conhecimentos envolveu cerca de 150 disparos por subordinado.

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Para permitir o adestramento diário da técnica de engajamento rápido de alvos

pela tropa, foi construído no alojamento da 1ª Companhia de Fuzileiros Leve um

estande reduzido para Fuzil de Ar Comprimido (FAC) e nos fundos do Batalhão uma

réplica deste estande, para usar o Fuzil calibre .22 Long Rifle (LR). Este só era

utilizado na véspera das missões e antes do tiro com o calibre 7,62mm. O estande

consistia em dois postos de tiro e em um sistema de alvos com duas silhuetas de

metal, com livre movimento horizontal, uma para cada atirador. Ao ser impactada

uma delas, a outra se escondia. Isto desenvolvia a necessidade do engajamento

rápido ou se perdia o alvo. O comando de tiro era dado por um terceiro combatente.

As silhuetas rapidamente voltavam à sua posição inicial por efeito de molas,

evitando perda de tempo para reposicioná-las. O impacto era nitidamente

confirmado pelo som do impacto e pelo movimento do alvo. O estande funcionava

inclusive fora do horário do expediente, e era de frequência livre. Passou a ser

encarado pela tropa como uma atividade de lazer. O militar estava executando um

treinamento efetivo até mesmo fora dos horários previstos e destinados a isto.

Foram consumidos, nestes dois anos, cerca de 20.000 chumbinhos e 5.000

cartuchos de calibre .22 LR.

O alto nível de adestramento atingido pela SU foi intensamente comprovado e

reconhecido em diversas ocasiões críticas, entre elas as Operações Fronteira Sul 1

e 2 de 2008, Avaliações Operacionais das Forças Estratégicas pelo Centro de

Avaliação de Adestramento do Exército (CAAdEx) em 2008 e 2009 e na Operação

Ipiranga que recuperou todos os sete fuzis roubados do 6º BIL em 2009, com

realização da prisão dos onze criminosos envolvidos.

O principal foco durante estes nivelamentos foi a segurança. Devem ser

criados protocolos rígidos de inspeção do armamento e que serão executadas

sempre, seja em Instrução, Serviço de Escala, ou Missão. O exemplo de conduta

com o armamento deve partir dos Quadros e ser rigidamente fiscalizada pelos

mesmos até chegar ao ponto de ser executada sem fiscalização. São inúmeros, os

incidentes e acidentes que já ocorreram em instruções e operações com armamento

pelos nossos quarteis, que podem ser explorados com a tropa para evitar repetirem

erros, por vezes fatais, de outros militares. A maioria teve como causa a falta de

perícia, a falta ou a não observância de protocolos rígidos, e a falta de ação de

comando na fiscalização dos procedimentos.

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3.4.3 Amparo Legal

Mas há que se salientar que todos estes treinamentos citados anteriormente

foram executados com risco calculado e ousadia por parte do Comandante do

Batalhão, do Oficial de Operações e dos Oficiais Instrutores da SU, visto que não

eram previstos nos nossos programas. Parte dos exercícios de tiro descritos

anteriormente foi enquadrada, de forma adaptada, aos Módulos de Tiro de Combate

Básico (TCB) e de Tiro de Combate Avançado (TCA) previstos na IGTAEx. Mas a

maioria das técnicas de progressão e tiro ainda não estão amparadas em nenhum

dos Manuais em vigor na Força Terrestre. Foram ministradas por instrutores e

monitores que realizaram cursos e estágios nas Forças Auxiliares, Empresas

Privadas e no Centro de Instrução de Operações de GLO do EB.

4 CONCLUSÃO

Estamos em um momento de transição da forma de se combater. E como em

todo momento de transição, mudanças tanto nos protocolos de treinamento, quanto

nos amparos legais são necessárias.

Nosso Exército carece de uma Unidade Escola de Tiro, ou de um Centro de

Instrução de Atiradores que estude, padronize e difunda o que há de mais moderno

em técnicas de tiro, visando aumentar a eficácia da tropa em um combate, ou até

mesmo, minimizar os acidentes durante a rotina de treinamento e execução dos

serviços de escala na defesa das instalações.

Concluindo, ressalta-se que somente as técnicas atualmente ensinadas não

garantem um bom desempenho nos conflitos modernos. Porém, a evolução do

método precisa, antes de mais nada de um amparo legal, para que os Quadros

procurem o conhecimento atualizado e tenham segurança e confiança em repassar

estes para os seus subordinados. Mas a solução definitiva para o problema de nos

mantermos atualizados em técnicas de tiro converge na direção da padronização,

estudo e difusão centralizados em um Estabelecimento de Ensino voltado ao

assunto, que tanta falta faz em nosso Exército nesses novos tempos.

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