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CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE ESTE TRABALHO
Parabéns! Se você está lendo isto, já faz parte de uma parcela cada vez
menor que realmente se interessa pelo uso do seu principal instrumento de trabalho.
Calculo hoje que 15% dos militares de carreira tenham uma arma de fogo, e que
somente 1% as portam diuturnamente. Apesar de que o inimigo, que nos tempos de
paz é o marginal, nunca vai acreditar que um militar de carreira, um guerreiro, muitas
vezes até mesmo especializado, não tenha no mínimo uma arma, nem que seja em
uma gaveta. Como se explica um Instrutor de tiro, um formador de Caçadores, que
além de não possuir nenhuma arma ainda é contra as mesmas, pois são perigosas?
Portar uma arma diuturnamente, além de ser desgastante, muitas vezes
pode se transformar no próprio problema. Mas em algumas ocasiões, é a única
saída. E nem sempre é necessário atirar para evitar o confronto. O problema é, para
você que tem direito de portar uma, estar sem ela em um momento que faria grande
ou toda a diferença. Para decidir se vai sair armado ou não, ponha estes dois
extremos na balança, e escolha qual você vai suportar melhor.
Mas se você não vai andar armado, porque não ter pelo menos uma arma
em casa? Claro que vários fatores devem ser pesados na decisão: crianças, esposa,
empregada, temperamento do dono, convicções religiosas e outros. Estes fatores
podem ser contornados com a escolha da arma certa, onde ela ficará, como ficará,
quem saberá, quem também será treinado a usá-la. Muito se fala em acidentes com
armas envolvendo crianças. São 42 mortes por acidentes com arma de fogo entre
menores que 14 anos no Brasil por ano, contra 512 mortes por afogamentos só em
piscinas residenciais. Para começar, estas armas geralmente são revólveres, que
são de fácil disparo por não ter que carregar ou destravar. Crianças acima de 6 ou 7
anos, que já têm força física para ciclar o ferrolho de uma pistola, já deveriam ter
acompanhado seus Pais a um estande para entender o poder de uma arma e perder
a natural e perigosa curiosidade ante ao desconhecido e proibido. Quanto ao
temperamento do dono, é uma questão pessoal de autocontrole, mas lembre-se que
uma faca também faz um bom estrago nos momentos de raiva. Quanto a convicções
religiosas que impedem que se use de violência física contra terceiros, acredito que
só depois que esta família é violentamente atacada sem escrúpulos pelo marginal, é
que se abrem os olhos e o desejo de vingança prevalece. E o seu treinamento militar
provavelmente vai questionar suas convicções e lembrá-lo que aquela prole é de
sua responsabilidade. É uma questão de Honra. Direitos humanos, só para humanos
direitos!
Em 2010 ocorreu um fato que comprova o quanto que os Oficiais, que se
preparam para a Guerra, estão afastados das armas e despreocupados com sua
função social. Dois Capitães foram sumariamente executados por um vagabundo de
apenas 21 anos e seus comparsas. Nenhum dos cerca de 20 capitães presentes
estava armado. A execução foi covarde e dificilmente alguém armado evitaria os
primeiros disparos, mas poderia interrompê-los assim que compreendesse a
situação e reagisse a tiros. Se estes Capitães fossem de alguma Polícia Militar (e
lembro que todas elas se originaram na Polícia do Exército), a execução seria
interrompida a tiros de muitas armas e os vagabundos não escapariam com vida. E,
se por algum motivo escapassem, seriam alcançados pela vingança em poucas
horas. Atitudes assim impõem respeito, pelo menos no universo dos marginais.
Violência gera compreensão sim. O outro lado vai compreender que o ato terá
retorno e que será implacável.
O esporte do tiro e a instrução de tiro no Brasil foram iniciados por
instrutores das Forças Armadas, na época em que falávamos mais alto e éramos
mais respeitados. Hoje, não sei se por inércia própria, um Oficial de carreira, mesmo
o que tenha a Atividade de Instrutor de Tiro apostilada em Certificado de Registro
emitido por um SFPC, tem que se submeter a um teste de tiro aplicado por Agentes
da Polícia Federal para poder ministrar instruções de tiro na iniciativa privada! Como
se não bastasse a inversão nos vencimentos, onde um Agente em início de carreira
com 3 meses de formação percebe mais que um Major com 20 anos de serviço e
que foi forjado durante 5 anos de internato. Isto não é uma crítica aos Agentes e
nem à Polícia Federal, que apesar de ter efetivo 10 vezes menor que o mínimo
recomendado, procura cumprir bem a sua missão. É apenas uma constatação de
mais uma perda de status para os militares.
Este trabalho pretende somente informar que existem novidades há algum
tempo na maneira de se treinar para o combate em áreas urbanas. Não pretende
ensinar cada técnica descrita, mas somente apresentar a mesma para que, sabendo
da sua existência, se procure conhecê-la e dominá-la. Não aconselho o aprendizado
apenas teórico do assunto, e sim que se procure o conhecimento, seja freqüentando
cursos nesta área, seja experimentando de forma mensurada cada técnica para
comprovar sua eficiência. Não acredite em uma técnica que você só ouviu falar, tire
a prova, comprove pessoalmente e decida se é efetiva realmente. Técnicas que
servem para um Time Tático, ou para uma dupla de Patrulheiros Rodoviários, ou
para um Agente de Segurança Pessoal, podem não servir para um Grupo de
Combate, ou para uma Guarnição de Força Tática, ou para você quando está
sozinho. Cada um tem sua realidade, suas armas, seus procedimentos, tipos
diferentes de oponentes e treinamentos. Boa leitura e bons tiros!
ESCOLA DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO NO NÍVEL LATO SENSU DE
APERFEIÇOAMENTO EM OPERAÇÕES MILITARES
MARCELO AUGUSTO SILVA
A EVOLUÇÃO DA TÉCNICA DE TIRO TÁTICO EM ÁREA URBANA
Rio de Janeiro
2011
MARCELO AUGUSTO SILVA
A EVOLUÇÃO DA TÉCNICA DE TIRO TÁTICO EM ÁREA URBANA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais como
requisito parcial para a obtenção do Grau
de Aperfeiçoamento em Operações
Militares.
Orientador: Maj Inf MARCELO MARINS
S586 Silva, Marcelo Augusto A evolução da técnica de tiro tático em área urbana / Marcelo Augusto Silva. – 2011. 31 f. ; 30 cm Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais) – Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, Rio de Janeiro, 2011. Bibliografia: f. 30 - 31. 1. Infantaria - Armas. 2. Tiro tático. 3. Técnicas de progressão. 4. Combate urbano. I. Título. CDD 356.1
Rio de Janeiro
2011
MARCELO AUGUSTO SILVA
A EVOLUÇÃO DA TÉCNICA DE TIRO TÁTICO EM ÁREA URBANA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Escola de Aperfeiçoamento
de Oficiais como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Aperfeiçoamento em
Operações Militares.
Aprovado em: ______/________________/______
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
Cap Inf PEDRO EDGAR DOS SANTOS – Presidente
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais
________________________________________________
Maj Inf MARCELO MARINS – Membro
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais
________________________________________________________
Cap Inf ANTÔNIO FERNANDO ADORNO COSSA – Membro
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais
À minha esposa, uma homenagem pela
confiança em mim depositada nos
momentos de maior incerteza.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, meus agradecimentos pela orientação firme e objetiva na
realização deste trabalho.
Aos meus pais Cel R1 QEMA Lauritz Silva e Ana Maria Silva, pelo amor com
que me conceberam e educaram, pelas inúmeras horas que velaram meu sono, e
pelas palavras de incentivo a cada tropeço de minha jornada, minha eterna gratidão.
A minha esposa Élida e a minha filha Milena pela compreensão, apoio e
companheirismo nos momentos em que este trabalho foi priorizado.
Aos Mestres Instrutores de Tiro, Tenente Coronel de Artilharia Valdir Campoi
Júnior e Álvaro Libran Landaburu - Diretor do Tactical Training Institute, que tanto
contribuíram para o meu aprendizado de técnicas modernas de tiro e
conseqüentemente, colaboraram em muito para que este projeto fosse concluído.
“Deus é contra quem faz a Guerra,
mas fica do lado de quem atira bem !”
Voltaire
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................08
2 METODOLOGIA ............................................................................................... 14
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 15
3.1 CARACTERÍSTICAS DOS COMBATES EM ÁREA URBANA QUE INFLUEM
DIRETAMENTE NA EXECUÇÃO DO TIRO ........................................................... . 11
3.2 O ENSINO DO TIRO NO EXÉRCITO BRASILEIRO .........................................13
3.3 TÉCNICAS DE TIRO E TÁTICAS EM AMBIENTE URBANO ............................ 15
3.3.1 Tomada de Ângulo (Fatiamento)....................................................................15
3.3.2 Posição de Transporte da Arma....................................................................16
3.3.3 Uso de Lanterna e o Tiro Sob Baixa Luminosidade ou Total Escuridão ..17
3.3.4 Retenção de Arma ..........................................................................................18
3.3.5 Transição de Arma .........................................................................................18
3.3.6 Método de Progressão ...................................................................................19
3.3.7 Tiro em Movimento .........................................................................................19
3.3.8 Tiro em Alvo Móvel .........................................................................................20
3.3.9 Troca de Carregador ......................................................................................21
3.3.10 Solução de Incidentes ..................................................................................21
3.3.11 Técnicas de Tiro ...........................................................................................22
3.3.12 Comunicação ................................................................................................24
3.4 COMO PODERIA SER IMPLEMENTADA ESTA EVOLUÇÃO ..........................25
3.4.1 Normas de Segurança ...................................................................................25
3.4.2 Relato de Experiência Vivida .........................................................................27
3.4.3 Amparo Legal ..................................................................................................29
4 CONCLUSÃO ....................................................................................................29
REFERÊNCIAS ..........................................................................................................30
A EVOLUÇÃO DA TÉCNICA DE TIRO TÁTICO EM ÁREA URBANA
Resumo: As novas características dos combates das duas últimas décadas exigem
técnicas diferentes das que ainda são ensinadas. Fatores como a redução drástica
das distâncias de engajamento e intensa presença de não-combatentes na área de
operações cobram do combatente que este atire cada vez mais rápido, porém com
maior precisão. As técnicas de tiro ensinadas na atualidade são baseadas nos
antigos conflitos, quando se tinha razoável distância entre os contendores e as
técnicas eram baseadas no tiro de fração. Nas vielas de uma cidade raramente o
Grupo de Combate (GC) poderá atirar ao mesmo tempo, devido ao espaço restrito.
Cada combatente então terá que aumentar sua acurácia para garantir a progressão
segura de sua fração na direção do objetivo final. Neste sentido são analisadas as
novas técnicas de tiro em área urbana, bem como os cuidados necessários para o
seu aprendizado. Por fim, é sugerido como poderemos iniciar o ensino destas
técnicas e qual seria o amparo necessário.
PALAVRAS-CHAVE: Tiro tático, técnicas de progressão, combate urbano.
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo pretende integrar os conceitos básicos e a informação
técnica relevante e atualizada, a fim de fornecer subsídios para a melhor
compreensão das necessidades de treinamento de tiro específico para o combate
em área urbana moderno.
No século passado, a nosso ver, as batalhas em geral se davam no campo
aberto, longe das aglomerações urbanas. Cidades eram invadidas, mas após
intensos bombardeios e quando já não restavam muitos inimigos. Além disto, o
armamento individual na 1ª Guerra Mundial, a maioria de repetição, impunha um
ritmo lento e a adoção de muita distância entre os contendores. Já na 2ª Guerra
Mundial houve significativa aceleração dos combates e diminuição das distâncias de
engajamento devido à maior adoção de armamento semi ou totalmente automático.
Mesmo assim os combates urbanos se davam em áreas fracamente defendidas e
após estas terem sido evacuadas de civis e muito bombardeadas pela Aviação e
Artilharia. Só nos conflitos da última década do século passado, com as novas
regras e cobranças referentes a efeitos colaterais dos combates, mortes de não-
combatentes e opinião pública é que os combates no interior de localidades
começaram a sofrer mudanças significativas. Hoje é preciso neutralizar o inimigo
mais rapidamente e a curtas distâncias, mas, com técnicas e táticas para fazer isto,
evitando causar baixas de civis e/ou dano desnecessário à localidade.
O que mudou então para o Infante que progride por uma localidade? O
inimigo agora está misturado à população e muitas vezes, se confunde com ela. O
tiro precisa ser realizado em menor tempo, contra alvos múltiplos e fugazes e com
maior precisão para evitar danos colaterais. As distâncias foram drasticamente
reduzidas. Não há mais tempo para uma troca de carregador administrativa, para
sanar um incidente de tiro como se estivesse em um estande de tiro, ou para
empunhar uma arma que não está de maneira correta na bandoleira, ou que está
em um coldre mal posicionado. Entendo que é necessário conhecer e praticar muito
as táticas de progressão por estas áreas, o tiro seletivo, o tiro em alvo móvel, o tiro
em movimento, o tiro em ambiente confinado, a transição de armas, a retenção de
armas, etc... (CAMPOI, 2006, p.91).
Pretendemos analisar as novas necessidades de técnicas e táticas atinentes
às pequenas frações e ao combatente individual nas áreas urbanas. Analisaremos
tanto técnicas para o combate contra forças regulares quanto contra forças
irregulares em situação de Guerra.
Esta análise será limitada às táticas e técnicas de tiro aplicáveis ao soldado
de infantaria enquadrado em uma pequena fração. Não veremos estratégia em área
urbana. Nem serão abordadas técnicas urbanas em Operações de Garantia da Lei e
da Ordem (GLO), apesar de algumas técnicas serem comuns. Em uma tropa que já
está bem adestrada para o combate urbano, basta diminuir sua letalidade e redefinir
suas regras de engajamento para se adaptá-la rapidamente a uma Operação de
GLO. Mas uma tropa adestrada só em Operações de GLO não terá um bom
desempenho em um combate urbano intenso.
Algumas questões de estudo podem ser formuladas no entorno deste
questionamento:
a. Quais são as características do Combate em Área Urbana atual que
influenciam no resultado do tiro?
b. Como é ensinado o tiro hoje no Exército Brasileiro (EB)? Quais são as
deficiências?
c. Quais são as técnicas necessárias para a adaptação da tropa ?
d. Como poderia ser iniciado este aprendizado ?
O presente estudo pretendeu identificar quais são as novas necessidades de
técnicas de tiro e individuais para o cenário do combate em ambiente urbano
moderno. A partir daí propõe como este conhecimento pode ser transmitido à tropa.
Esta proposta é baseada em uma experiência bem sucedida, ocorrida no 6º
Batalhão de Infantaria Leve, na preparação de uma Subunidade (SU) Operacional
para este tipo de combate.
A fim de viabilizar a consecução do objetivo geral de estudo, foram formulados
objetivos específicos, de forma a desencadear logicamente o raciocínio descritivo
apresentado.
a. Levantar o que mudou no Combate Urbano e quais são as influências na
técnica de tiro e nas técnicas e táticas das pequenas frações e individuais.
b. Descrever como o tiro é ensinado nos dias atuais e quais são as
deficiências que a tropa apresenta.
c. Descrever quais técnicas poderiam ser adotadas para melhorar o
desempenho.
d. Concluir, apresentando uma proposta das atualizações que poderiam ser
implementadas no EB.
2 METODOLOGIA
Quanto à natureza, o presente estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa do
tipo aplicada, pois teve como objetivo gerar conhecimentos para aplicação prática
dirigidos à solução de problemas específicos relacionados à evolução do ensino de
técnicas de tiro em ambiente urbano, valendo-se para tal do método indutivo, como
forma de viabilizar a tomada de decisões acerca do alcance da investigação, das
regras de explicação dos fatos e da validade de suas generalizações.
Trata-se de estudo bibliográfico que, para sua consecução, teve por método a
leitura exploratória e seletiva dos diversos materiais de pesquisa, bem como sua
revisão integrativa, contribuindo para o processo de síntese e análise dos resultados
de vários estudos, de forma a consubstanciar um corpo de literatura atualizado e
compreensível.
Serão relatadas também experiências de campo no ensino destas técnicas a
uma Subunidade (SU) Operacional de um Batalhão de Infantaria Leve (BIL).
A seleção das fontes de pesquisa foi baseada em publicações de autores de
reconhecida experiência nas técnicas estudadas e em Manuais de outras Forças
Armadas (FFAA) e de Corpos Policiais de Elite, em livros sobre Guerras recentes e
em Apostilas de Estabelecimentos de Ensino Privado de Técnicas de Tiro e
Combate.
O delineamento de pesquisa contemplou as fases de levantamento e seleção
da bibliografia, leitura analítica, deduções próprias e descrição das diversas técnicas
apresentadas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir, serão abordados os principais conceitos relativos ao tiro e às
técnicas individuais em ambiente urbano. Serão levantadas as necessidades de
treinamento e as limitações do que é ensinado atualmente. Será levantado o
problema do amparo legal das instruções e os principais cuidados que devem ser
adotados durante os treinamentos. Será relatada uma experiência de sucesso neste
tipo de treinamento realizada por uma SU constituída de militares do efetivo
profissional.
3.1 CARACTERÍSTICAS DOS COMBATES EM ÁREA URBANA QUE INFLUEM
DIRETAMENTE NA EXECUÇÃO DO TIRO
Basicamente todas as características inerentes e exclusivas ao combate
urbano decorrem da reduzida distância entre os oponentes. Esta peculiaridade fará
com que o tempo de reação seja muito curto, visto a fugacidade com que o alvo
aparece e some. Além do tempo reduzido de exposição, ainda temos o espaço
exíguo e a possibilidade de não-combatentes circulando pela zona de ação.
As pequenas distâncias também tornam o combate muito mais pessoal,
quase que particular. E isto tem um efeito devastador sobre o nível de estresse do
combatente. O perigo de morte espreita a todo o momento, elevando o grau de
atenção ao máximo e conseqüentemente acelerando o desgaste mental e físico.
Nestas situações em que a adrenalina é lançada na corrente sanguínea,
buscando instintivamente aumentar nossa força física, nosso rendimento e diminuir a
sensação de dor, precisaremos de técnicas especiais para superar os problemas
destas reações de sobrevivência. Devido ao aumento da força física, uma posição
de tiro não isométrica poderá ter seus disparos desviados, devido à influência do
braço mais forte. Também será nítido o aumento das “gatilhadas”, que são puxadas
violentas no gatilho ao invés de premi-lo constantemente, fazendo com que muitos
disparos sejam perdidos. É necessário então aprender técnicas de disparo rápido,
sem perder o contato do dedo com o gatilho e sem deixar que o mesmo retorne todo
o seu curso entre cada disparo.
Mas disparar rápido não é somente uma questão de acionar rápido o gatilho,
temos também que enquadrar o alvo de maneira mais rápida. Nas distâncias mais
curtas uma rápida visão da maça de mira já garante o acerto, não há a necessidade
de uma visada completa de alça e maça. Para acertar uma silhueta humana a
menos de 15 metros utilizando-se uma arma longa, não há a necessidade de perder
tempo realizando um enquadramento completo dos aparelhos de pontaria. E ainda
existem os aparelhos optrônicos, as chamadas miras holográficas que diminuem o
tempo de enquadramento, quando se precisa de maior precisão, porque apenas um
ponto vermelho projetado em uma lente precisa ser apontado para o alvo. Não se
perde tempo para alinhar alça com a maça e com o alvo. Seria muito útil quando só
se tem pequena parcela do alvo exposto ou um alvo completo a distância acima de
15 metros.
O surgimento da “visão em túnel” e da “exclusão auditiva” também são
características sempre presentes nos momentos de elevada tensão. A primeira se
caracteriza por só enxergarmos o inimigo, excluindo do registro mental tudo o que
acontece à nossa volta. É diferente do termo “túnel de tiro”, utilizado para designar
setores de tiro estreitos, também chamados de seteiras, que são mais freqüentes em
áreas edificadas. A segunda, impede que ouçamos um grito de alerta ou uma ordem,
por exemplo, pois só temos ouvido para o oponente à nossa frente. Aprender a
disparar e acertar com os dois olhos abertos diminui a zona cega de onde pode
surgir alguma ameaça letal. Treinamentos de situações de estresse desenvolvem a
capacidade de continuar agindo de forma racional e minimizam os efeitos negativos
da adrenalina, mas nenhum treinamento simula a sensação de que você está sendo
atacado mortalmente.
Outros dois problemas de áreas edificadas são os “cones da morte” e os
ricochetes. Os cones da morte ou funis fatais são projeções angulares para dentro
ou para fora de um cômodo através de uma porta, janela ou quina. São como se
fossem o setor de tiro de quem está do outro lado. Ou seja, é por onde irão passar
os projetis do inimigo. Não se pode passar em uma destas áreas de maneira
displicente, sob pena de ser alvejado sem nem ter tempo de localizar o oponente. As
paredes são superfícies que provocam ricochetes de projetis que incidem em
ângulo. Quando progredimos encostados nelas, formamos com as mesmas uma
espécie de diedro e receberemos por ricochete todos os projetis que não iriam nos
atingir se estivéssemos a mais de dois palmos das mesmas. Os espaços verticais,
as janelas, as lajes, as escadarias, são ainda mais um problema para quem
progride. Podem ser utilizadas para observar, atirar e progredir.
A quantidade de edificações, as vias muito estreitas, e os espaços confinados
separam os homens até mesmo nas pequenas frações. Ocorrendo a necessidade,
que não é a ideal, de se empregar a fração Esquadra isoladamente por curtos
períodos. Nem sempre todos estão vendo a mesma parte do terreno. Isto aumenta
em muito a necessidade de comunicações eficientes. Equipamentos rádios
sofisticados e pequenos são bem vindos, de preferência os que não precisem que
se solte uma das mãos do armamento para apertar o botão de transmissão. Hoje já
se encontra rádios conjugados com localizadores que utilizam sinal de
posicionamento global por satélites. Mas equipamentos eletrônicos estão sujeitos a
falhas, então uma eficiente comunicação por sinais e gestos se faz necessária. E
essa comunicação só será eficiente sob condições de combate intenso, se for
treinada no dia a dia até a natural assimilação, não adianta tentar decorar os
diversos sinais e gestos na véspera da missão.
3.2 O ENSINO DO TIRO NO EXÉRCITO BRASILEIRO
A formação em tiro dos nossos militares é regulada pelas Instruções Gerais
para o Tiro com o Armamento do Exército (IGTAEx). Nossa atual formação em tiro é
eficiente em termos de ensinar a se obter precisão a média distância, e quando se
atira enquadrado em uma tropa constituída. É também segura se considerarmos o
combate linear, que é raro na atualidade. É uma formação de tiro adequada ao
soldado do Efetivo Variável (EV), que não está sendo preparado ainda para
enfrentar um combate em localidade. A finalidade é ensinar a grandes efetivos a
como atirar com relativa precisão, mantendo um nível aceitável de segurança e
sempre considerando que o atirador vai atirar enquadrado em uma coletividade.
A instrução de cada tipo de armamento individual é dividida em quatro
Módulos Didáticos de Tiro de Instrução e de Combate que são subdivididos em
Básicos e Avançados. Entretanto os Fundamentos de Tiro ensinados nesses
módulos, que são a Posição Estável, o Controle da Respiração, o Acionamento do
Gatilho e a Pontaria, são sempre os mesmos.
Desses quatro fundamentos de tiro previstos, nenhum se aplica integralmente
ao ambiente urbano. São uma excelente base de formação inicial, mas devem sofrer
modificações à medida que se aprende um tiro mais avançado em termos táticos. As
posições de tiro em ambiente urbano, sempre que possível adotadas atrás de um
abrigo, podem exigir mudança constante do lado que atira e a adoção de posturas
não convencionais de tiro. Estas posições dificilmente são estáveis. Tanto o disparo
com o lado “fraco” quanto o tiro relativamente preciso durante os deslocamentos, a
pé ou embarcados, não são previstos nos módulos. O controle da respiração é outro
fundamento que é negligenciado devido ao ritmo dos combates. Há que se treinar o
tiro em tempo restrito e com deslocamento entre as posições de tiro para se
acostumar a atirar com a respiração acelerada. Até mesmo os nossos tiros
considerados rápidos nos módulos, ainda são aquém do necessário para melhorar
este aspecto. Uma solução seria a adoção de módulos de tiro aos moldes de
competições de Tiro Prático, em que o resultado individual é o produto da divisão da
pontuação obtida nos alvos pelo tempo em segundos gastos para executar toda a
pista. O objetivo é ser o mais preciso possível no mais curto tempo possível. E a
penalização por tiros perdidos ou em alvos amigos é bem pesada, para desestimular
a execução de tiros a esmo. A pontaria também precisa de adaptação, porque nem
sempre há tempo, possibilidade ou necessidade de uma fotografia perfeita e
completa dos aparelhos de pontaria. Deve ser treinada a pontaria instintiva para
curtas distâncias, para diminuir o tempo de resposta. Por fim o acionamento do
gatilho deve ser modificado para permitir tiros rápidos, mas evitando-se também as
problemáticas “gatilhadas”. Muda-se a posição do dedo no gatilho e a forma de
acioná-lo.
Nossos protocolos de segurança que envolvem as normas de segurança nos
estandes de tiro, a forma de inspecionar o armamento e as condições de prontidão
da arma são planejados para atender uma formação segura de efetivos grandes e
enfatizam a fiscalização superior do cumprimento das normas previstas. São
protocolos adequados para a formação em tiro dos milhares de jovens que
ingressam anualmente para prestar o Serviço Militar Obrigatório. Mas eles não criam
os reflexos individuais de segurança necessários, tanto durante os treinamentos de
combate urbano, quanto no combate propriamente dito. É necessário incutir na
mente de cada um, que ele é responsável pela segurança do seu armamento. E
que, mesmo quando estivermos com cartucho na câmara e com o registro de tiro e
segurança na posição destravado, não é admissível um disparo acidental.
A resolução de incidentes de tiro padronizada nas normas de segurança é
única para qualquer tipo das várias causas de incidentes e precisa de até 10
segundos para resolver o problema e deixar a arma em condições de disparo
novamente. Este tempo não é relevante para um combate em campo aberto e
distante dezenas ou centenas de metros do inimigo. Mas ele pode não estar
disponível em um combate urbano.
3.3 TÉCNICAS DE TIRO E TÁTICAS EM AMBIENTE URBANO
Para adaptar o combatente ao cenário urbano de forma a aumentar a sua
letalidade em paralelo com a sua sobrevivência, não só terá que ser mudado o tiro
em si, mas também a progressão individual, de forma a melhor aproveitar as
oportunidades de tiro e diminuir o risco de ser atingido.
Segue abaixo a descrição de algumas táticas que atualmente não são
contempladas nos nossos manuais. A maioria faz parte do currículo de Cursos de
Operações Policias Especiais, Cursos de Ações Táticas ou Cursos de
Patrulhamento em Área de Alto Risco. Várias características das operações policiais
que são ensinadas nestes Cursos citados acima estarão presentes no combate
urbano executado pela tropa; o que torna necessária a inclusão e a enfatização
dessas disciplinas nos nossos Programas Padrão de Instrução.
3.3.1 Tomada de Ângulo (Fatiamento)
Em áreas edificadas cada quina de uma instalação, esquina, escadaria,
corredor, porta, janela apresenta ângulos mortos de visão. Cada ângulo morto deste
pode abrigar ou não um oponente pronto para atirar. Não se deve chegar a um local
destes de maneira displicente. Deve-se usar as técnicas de tomada de ângulo que,
se bem executadas, nos darão a vantagem de saber se o inimigo está realmente ali.
Se não, ou mal executadas, teremos grandes chances de sermos atingidos. A
maioria das técnicas de tomada de ângulo vai exigir que o combatente utilize sua
arma dos dois lados, ou ainda utilize de técnica diferente da convencional quanto à
empunhadura da arma e/ou postura de tiro. Para executar, por exemplo, um
fatiamento em uma quina de final de corredor que inflete para a direita, teremos que
passar a arma longa para a esquerda, sob pena de ter que expor o triplo de área da
nossa silhueta, caso continuemos com a mesma no ombro direito.
Também é valida a técnica de se olhar um ângulo morto com auxilio de um
pequeno espelho. Mas lembre-se que o espelho apenas lhe dará a vantagem de ver
o inimigo sem expor seu corpo, mas alguém terá que se expor depois para abordá-
lo.
3.3.2 Posição de Transporte da Arma
Muito se fala atualmente de técnica do 3ª olho para progressões em áreas
confinadas. Esta técnica consiste basicamente em apontar a arma para onde vai o
olhar, visando diminuir o tempo de enquadramento de miras e reduzir o tempo
necessário para um disparo rápido. Mas esta técnica gera um problema se aplicada
de forma errada. A própria arma e mãos do combatente na frente e na altura dos
olhos “escondem” alguém agachado ou escondido. Deve-se levar a arma em
condição de pronto disparo, mas levemente inclinada para baixo, para não
perdermos campo visual.
Existem hoje diversas opções de bandoleiras de um, dois e três pontos de
ancoragem entre o armamento e o corpo. Mas tem que ser treinado como se vai
“sacar” este armamento da posição de transporte para a posição de tiro. Este
movimento tem que ser fluído e rápido. Se a arma não está carregada, deve ser
executado concomitantemente se executa o carregamento da mesma. Não se deve
usar a bandoleira de forma que seja difícil e demorado separar a arma longa do
corpo. Pode ser necessária a execução de um golpe com a mesma, passar por um
obstáculo onde ela tem que passar primeiro, atirar com a arma em posição não
convencional, ou trocá-la de lado para um fatiamento. Uma boa prática é treinar uma
forma rápida de pendurar a arma em bandoleira, quando se precisar das mãos
livres. Desta forma, durante o tiro a bandoleira permanece solta e evita perder tempo
com os problemas anteriormente citados. Geralmente, a forma de utilizar a
bandoleira para um combatente que progride em uma localidade difere daquela que
emprega um integrante de time tático em formação em um corredor e da que
empregará um operacional em uma progressão em campo aberto. Cada um tem
necessidades e possibilidades diferentes, devido ao tipo de missão e seria um erro
padronizar a forma de trabalhar com a arma em uma situação específica, para
utilizar a todo o momento.
Um coldre de perna, por exemplo, onde a arma muda de lugar dependendo
do militar estar de pé ou sentado, não causará tanto problema quando a pistola é a
segunda arma. Mas pode atrapalhar o saque caso esta seja a única arma disponível.
Se estivesse na linha de cintura, sempre seria sacada da mesma maneira, criando
uma memória muscular que garantiria a agilidade e a exatidão do movimento.
3.3.3 Uso de Lanterna e o Tiro Sob Baixa Luminosidade ou Total Escuridão
Aprendemos e repetimos ao pessoal de serviço, diariamente, que os
principais problemas geralmente acontecem à noite. E face a este fato, comprovado
estatisticamente também no meio policial, é muito bem vinda uma lanterna de
qualidade para auxiliar nesses momentos críticos. Mas não contemplamos o tiro com
lanterna nos nossos programas de instrução. Uma lanterna pode ser utilizada para
iluminar o caminho, encontrar e identificar o oponente, cegá-lo temporariamente se
for potente, auxiliar na pontaria, ser utilizada como arma de contusão se for robusta
o suficiente e ainda, ser utilizada para comunicação por sinais. Mas não basta
dispor-se de uma boa lanterna tática, tem que haver o ensino das técnicas de tiro,
empunhadura, forma de iluminar e movimentação para tirar o máximo de proveito de
seu uso. Só a lanterna sem este treino específico pode vir a ser um estorvo ao
combatente. Existem também opções de lanternas solidárias ao corpo da arma, que,
no caso dos militares auxilia em muito um patrulhamento quando instaladas nos
fuzis.
É possível encontrar atualmente no mercado, filtros infravermelhos que se
encaixam nas marcas e modelos mais renomados de lanternas, e que limitam
somente ao pessoal dotado de equipamento de visão noturna visualizar o clarão
produzido.
As técnicas para o tiro noturno devem ser treinadas tanto para situações de
baixa luminosidade, quanto para a escuridão total. Apesar do termo noturno, estas
situações podem se apresentar durante o dia também. São técnicas de
vasculhamento, de tomada de ângulo, de progressão e de abordagem, que devem
ser associadas ao tiro propriamente dito nessas condições especiais de iluminação.
Se dotada de visão noturna, emissores laser e visão termal, a tropa deve
realizar tiros de adestramento com estes equipamentos para conhecer as
possibilidades, as limitações, e assim, realmente se valer da vantagem tática
proporcionada. Vantagem dependente da claridade local e do equipamento inimigo.
3.3.4 Retenção de Arma
Quando se está em locais apertados e próximos demais, tanto do inimigo
quanto dos civis, existe a todo o momento a possibilidade de agressão física. Muitas
vezes o foco do agressor é em tirar ou mudar a direção da arma do combatente.
Existem diversas técnicas para que, independente da compleição física do agressor,
o militar consiga se manter de posse de sua arma. Mas, dependendo da forma como
esta arma é conduzida, fica muito difícil evitar o problema. Erros comuns são
empunhar a arma apontada para o alto, passar por uma porta com a arma
precedendo o corpo e conduzir a arma curta no lado contrário à mão que vai sacá-la,
seja no coldre de cintura ou no coldre do colete tático ou de assalto.
As técnicas para reter a arma junto ao corpo são parecidas e
interdependentes de algumas técnicas de lutas, e como tal, devem ser treinadas de
forma forte e séria para transmitir a exata noção da intensidade necessária na
execução delas para resolver o problema.
3.3.5 Transição de Arma
As técnicas de transição de arma curta para arma longa e vice-versa são
empregadas quando a primeira arma apresenta incidente de demorada e difícil
solução, ou quando ela não é adequada a cumprir a missão que se apresenta. São
técnicas que otimizam os movimentos para minimizar o tempo em que ficamos sem
condições de atirar.
3.3.6 Método de Progressão
Quando se vasculha um lugar onde é provável, ou iminente o contato com o
inimigo, é interessante estar o tempo todo em condição de disparo. E isto envolve a
postura que estamos, tanto para executar uma seqüência rápida de tiros, quanto
para reter nossa arma em caso de agressão, ou ainda para absolver os impactos
executados pelo inimigo, sem cair ao chão. A postura depende muito da base, que
são as pernas. Portanto, as passadas nestas ocasiões devem ser executadas sem
um pé passar a frente do outro. O pé que está à frente avança, testa o terreno, após
o que avança o outro até próximo a este, mas sem ultrapassá-lo. A todo o momento
se deve estar em condições de atirar em várias direções sem precisar realizar vários
movimentos com as pernas, a fim de manter o equilíbrio durante os disparos.
Devem ser treinados também os giros estacionários, que são viradas de 90º
ou 180º, para engajar ameaça que surja. Nessas viradas, a idéia é economizar
movimentos e já terminar a virada em posição de boa base para o tiro. A arma
durante a virada é recolhida para junto ao corpo, para evitar batê-la em algum
obstáculo.
3.3.7 Tiro em Movimento
Outra técnica necessária é atirar em movimento. Se o combatente está
passando por um local descoberto e percebe que sofreu disparos em sua direção, a
pior coisa que pode fazer é parar para revidar a este fogo. Se o inimigo errou, é
porque provavelmente ele não sabe atirar em um alvo em movimento. Portanto se o
combatente conseguir atirar relativamente bem na direção do inimigo, ao mesmo
tempo em que continua seu deslocamento para o abrigo mais próximo, além de
continuar sendo um alvo difícil, este ainda fará ele cessar, ou diminuir o seu fogo
para se abrigar do nosso tiro e suas chances de não ser atingido são bem maiores.
Mas atirar bem em movimento também envolve a forma de pisar no solo, a
flexão das pernas para absorver parte da trepidação nos joelhos e o ritmo constante
das passadas, para estabilizar ao máximo a oscilação da arma (CAMPOI, 2006,
p.93).
No caso de tiro em movimento desde moto, viatura, embarcação e aeronave
tem que ser feita a compensação do nosso deslocamento lateral em relação ao alvo,
realizando a pontaria um pouco atrás do mesmo. Um caçador militar calcula e
determina essa precessão que apontará mais para a frente do sentido do
movimento, quando atira em um alvo móvel. No tiro em movimento esta precessão é
utilizada mais para atrás (antes) de onde está o alvo. Em movimento teremos pouco
tempo de estimar esta medida e atirar, e quanto mais praticarmos, mais precisa será
esta estimativa, e mais projetis atingirão o oponente.
3.3.8 Tiro em Alvo Móvel
É válido supor que a maioria dos inimigos estará se movendo quando for
avistado e que se moverá mais ainda após receber fogo. É muito comum se esvaziar
um carregador em um inimigo que atravessa uma rua correndo e não atingi-lo uma
única vez. Isto se deve ao fato de que poucos conhecem e menos ainda, treinam
atirar em alvos móveis. O tempo final resultante da soma do tempo de reação do
atirador (enquadramento e acionamento do gatilho), com o tempo de deflagração do
cartucho e com o tempo de vôo do projétil é suficiente para que o inimigo se
desloque vários centímetros a frente do ponto visado, passando o projétil pela sua
retaguarda. E a tendência de quem erra os tiros em um alvo que corre é de acelerar
cada vez mais os disparos, realizando-os de forma cada vez mais displicente e
imprecisa (LANDABURU, 2011).
É necessário treinar muito este tipo de tiro para termos em mente o quanto
devemos apontar à frente do alvo, para que o projétil o encontre. Não se deve
também acionar o gatilho e parar de mover a arma; os tiros devem ser executados
com a arma constantemente acompanhando o movimento do alvo. Um simples
sistema de roldanas e cabos, ou um combatente correndo com um alvo bem alto
dentro de uma trincheira de estande, permite um eficiente treino de tiro em alvo
móvel. O alvo utilizado deve ser estreito (25 cm é uma boa medida) simulando um
inimigo de lado, que é como ele provavelmente estará durante uma corrida entre
dois abrigos.
3.3.9 Troca de Carregador
É necessário também otimizar as trocas de carregador, para que seja mínimo
o tempo em que ficamos fora de combate durante um remuniciamento. Geralmente
se solicita cobertura de um companheiro para realizar estas trocas, ao mesmo tempo
em que procuramos ficar abrigados. As trocas de carregador podem ser
administrativas, táticas e de emergência. Na administrativa, a arma nem sai do
coldre ou da posição de transporte e não há preocupação com o tempo, pois não se
está no combate. Na tática, a idéia é aproveitar as pequenas pausas no combate
para colocar um carregador pleno na arma, após ter atirado bastante com o que está
na arma. Primeiro deve-se localizar o carregador pleno no equipamento e só depois
retirar o incompleto da arma. Este carregador incompleto não é descartado, deve
ser guardado no equipamento porque pode ser necessário mais para frente. Na de
emergência, precisamos ao mesmo tempo em que ejetamos um carregador que
ficou vazio, devido a muitos disparos seqüenciais, acessar e colocar outro pleno na
arma e carregar o mais rápido possível um cartucho na câmara. Como exceção, nas
espingardas calibre 12, primeiro se coloca um cartucho na câmara, e só depois de
carregada se inicia a introdução de mais cartuchos no carregador tubular.
Estas técnicas envolvem o local onde são colocados os carregadores no
corpo, como se empunha os mesmos e o reflexo de estar atento à janela de ejeção,
para identificar problemas. O atirador não deve acreditar que conseguirá contar seus
disparos, pois se for realmente um combate intenso, não conseguirá fazer isto. Mas
deve-se tentar perceber que está na hora de uma recarga tática antes que precise
de uma de emergência.
3.3.10 Solução de Incidentes
Só em pistolas temos sete tipos de incidentes de tiro e que necessitam de
ações diferentes para saná-los, de maneira eficiente e rápida. A primeira
preocupação ao perceber uma interrupção nos disparos, após ocupar abrigo e
solicitar cobertura, é olhar por cima da arma curta, ou pela janela de ejeção da arma
longa e identificar, ou deduzir qual foi a causa. Os problemas vão desde cartuchos
que ficaram encavalados no carregador e nenhum foi para a câmara, passando por
falhas de trancamento, de extração e de ejeção. Fora os problemas de percussão ou
de quebra de peças da arma. E as soluções a serem treinadas vão desde uma
simples pancada no fundo do carregador e uma só manobra de ferrolho em cerca de
um segundo, passando pela retirada do carregador e por duas manobras do ferrolho
seguidas de recolocação do carregador e nova manobra do ferrolho em menos de
quatro segundos; a até uma transição de arma devido à complexidade do problema.
Não se improvisa com essas técnicas, pois é alto o risco de disparo acidental
por quem não domina o funcionamento da arma. E geralmente o leigo aponta a
arma em várias direções, enquanto tenta resolver rápido o problema.
3.3.11 Técnicas de Tiro
Diversos são os fatores que indicam e exigem mudanças nas técnicas de tiro
para a adaptação ao combate moderno em uma localidade.
A forma mais adequada de se ocupar um abrigo não é se apoiando neste, ou
na quina deste. Desta forma projetaríamos o armamento e parte do nosso corpo
para fora do abrigo. Ou mesmo dependendo do abrigo, poderíamos derrubá-lo, caso
tenhamos o reflexo errado de se jogar sobre ele. O correto é ficar afastado o
suficiente para que, mesmo em posição de tiro, o cano da arma fique antes da
quina, e bastará uma leve inclinação para o lado para efetuar disparos na direção do
inimigo. Deve-se tomar cuidado para não projetar nem o joelho que toca ao chão e
nem o cotovelo do lado que atira no momento (LANDABURU, 2011).
Falando-se em lado que atira, deve-se treinar o tiro com a arma em ambos os
lados, senão seremos só “meio combatente”. O terreno vai exigir qual lado iremos
usar. Deve-se também treinar o tiro e todo o manuseio do armamento com apenas
um dos braços, como se o outro estivesse gravemente ferido, ou sendo utilizado
para transportar algo ou conduzir alguém.
As edificações fornecem seteiras de tiro naturais e outras criadas pelas
destruições inerentes ao combate. Deve-se fazer uso correto das mesmas, atirando
sempre com o cano do armamento antes delas, para evitar ser facilmente localizado.
Cada inimigo deve receber a quantidade de impactos de projetis necessários
para tirá-lo de combate. Uns vão sair com apenas um tiro bem colocado, outros
precisarão de vários. E isto não se calcula com fórmulas matemáticas ou
percentagens de poder de parada. Muitas variáveis, além da potência do calibre e
do tipo de projétil, influenciam na incapacitação do oponente. Dentre elas podemos
citar: o estado mental do oponente, o preparo psicológico do mesmo, o nível sócio-
econômico, a compleição física, o uso de entorpecentes, se o estômago está cheio
ou vazio, etc. Com a prática se percebe pela reação do inimigo (recolhimento
repentino de braço, flexão do tronco para frente, lançamento da cabeça para trás,
queda sobre as pernas) onde provavelmente foi o impacto e se precisaremos atirar
mais. É temeroso só se treinar a execução de dois disparos por vez em uma
localidade, porque se o primeiro disparo afastar o inimigo da frente, o segundo
passará no vazio e podendo atingir um não-combatente. E este costume leva ao
vício de executar os dois disparos e depois parar para ver o que aconteceu. Se os
dois disparos não foram suficientes, esta parada pode dar vantagem ao inimigo.
Deve-se treinar então a execução do tiro de maneira sortida, de um em um, três em
três, dois em dois, quatro em quatro, etc. Deve ser treinada também a execução de
fogo automático de cobertura com visada, para proporcionar certo grau de acerto.
A postura para estes tiros seqüenciais deve ser executada sobre boa base.
Os pés ficam posicionados como o de um lutador, para proporcionar equilíbrio em
todas as direções. O tronco deve ser inclinado para frente de forma a solicitar o uso
da musculatura lombar, que irá absorver parte da tendência de elevação da arma. A
cabeça não deve ser abaixada até a altura da arma, esta é que deve ser levada até
a altura dos olhos e a cabeça deve permanecer ereta. O tronco fica levemente de
lado para a direção de tiro, com o ombro do lado que atira no momento mais
recuado do que o outro. Esta posição reduz a silhueta do tronco em 18% em relação
à posição de frente para o alvo. É ideal para se ocupar um abrigo estreito como um
poste de iluminação urbana.
Em armas longas, deve-se agarrar com firmeza a telha ou guarda-mão da
mesma para permitir rápida retomada da visada entre disparos consecutivos,
evitando deixar a arma levantar muito, perdendo-se tempo de re-enquadramento.
Um punho frontal facilita em muito isto. Segurar direto no carregador não é
aconselhável, pois pode gerar incidentes de tiro por falha no carregamento. Segurar
na estrutura do poço ou alojamento do carregador é aceitável, mas por estar muito
próximo do atirador, em alguns fuzis, não permite o mesmo controle da arma que se
obtém empunhando um punho vertical instalado no guarda-mão.
3.3.12 Comunicação
O aprendizado de sinais e gestos para comunicação silenciosa entre quem vê
o inimigo e o resto da fração é fundamental. Por mais sofisticados que sejam os
novos equipamentos rádios e seus laringofones, basta uma bateria sem carga, ou a
interferência típica de uma cidade grande, ou ainda a promovida pelo inimigo, para
ficarmos sem comunicação. Para sinais e gestos não poderá haver a interrupção de
transmissão. Pode-se descrever aspectos importantes do terreno após cada
esquina, se há pessoas, se são inimigos, que armas eles tem, quantos são; pode-se
solicitar cobertura, uma granada, mais munição, ou permissão para avançar. Tudo
pode ser passado para o comandante do GC, ou para o companheiro mais próximo,
mesmo estando de costas para eles e utilizando-se de apenas uma mão, porque a
outra segue pronta para qualquer disparo necessário.
Outro aspecto importante das comunicações é a designação de alvos e
objetivos entre a tropa e uma equipe de caçadores, ou uma tripulação de helicóptero
de ataque ou uma guarnição de carro de combate, ou de lançador de míssel. Cada
um está em local distinto, mas deve ser capaz de direcionar as vistas, ou os
deslocamentos, ou os fogos dos outros pela designação de construções de maneira
que não deixe dúvidas. Uma forma de se fazer é atribuindo cores aos lados das
edificações como se estivéssemos dentro delas e de frente para a entrada principal.
A frente, portanto, seria BRANCO, a esquerda seria VERMELHO, a direita seria
VERDE e os fundos seria PRETO. Os andares seriam contados de baixo para cima
e as janelas e portas da esquerda para a direita de quem olha aquele lado por fora.
Uma designação de alvo localizado na terceira janela do segundo andar da lateral
direita do prédio de cor azul poderia, por exemplo, ficar assim:
- Inimigo com lançador de granadas no prédio azul, em VERDE, janela 2, 3.
Esta é uma forma de padronizar, que poderia ser adaptada de comum acordo entre
as frações envolvidas na missão e que evitaria perda de tempo, de munição e talvez,
de vidas. Pode-se evitar até mesmo um fratricídio por confusão nas referências.
3.4 COMO PODERIA SER IMPLEMENTADA ESTA EVOLUÇÃO
As técnicas de combate em área urbana não devem ser ensinadas
indiscriminadamente. Não deveriam fazer parte da formação do soldado do Efetivo
Variável. São técnicas sensíveis e que realmente dão vantagem a quem as domina.
Estas técnicas se empregadas por marginais dificultariam bastante o trabalho policial
repressivo. Creio ser sensato que o acesso ao conhecimento dessas técnicas
somente se limitasse ao Efetivo Profissional (EP) das Forças Estratégicas e das
Forças de Pacificação e aos alunos das Escolas de formação de Oficiais e
Sargentos combatentes de carreira.
3.4.1 Normas de Segurança
Estas técnicas carecem de segurança e domínio do conhecimento por quem
vai ensiná-las. As normas de segurança diferem das tradicionais utilizadas em uma
linha de tiro convencional. Mas os equipamentos de proteção individual (EPI) são os
mesmos, e especial atenção deve ser dada aos óculos de proteção. Precisa-se
atingir um nível elevado de adestramento, tal que ninguém mais precise se
preocupar com os outros nos momentos em que estaremos com munição na câmara
e a arma destravada, ou não. Basicamente, se resumem a essas quatro:
a. CONSIDERE TODA E QUALQUER ARMA COMO CARREGADA
Toda e qualquer arma deve ser tratada como um objeto letal. Só pode ser
manuseada, desmontada ou utilizada em instrução após inspeção feita
pessoalmente por quem vai usá-la no momento seguinte. Nas instruções onde ela
poderá ser apontada para pessoas e disparada em seco, é salutar que seja divida
essa responsabilidade de segurança com todos os envolvidos. Isto deve ser feito
mostrando a arma aberta e sem carregador para os presentes e questionando aos
mesmos se ela está em segurança. Muito importante, após a verificação da câmara
vazia, é o disparo da arma em direção segura, ou em direção a superfície que
absorva o impacto. Isto garante que se houver alguma falha na conferência, que
este disparo seja em local que não cause problema ou ricochete. Não se trata de um
desengatilhamento ou desarme do cão, tem que realmente ser premido o gatilho
como se fosse realizar um disparo.
Armas que possuem o carregador solidário às mesmas, como é o caso
das espingardas de repetição calibre 12 com carregador tubular abaixo do cano,
causam confusão aos inexperientes, que não conferem se o carregador está
realmente vazio. Estes conferem apenas a câmara e ao tentar desengatilhar a arma
acabam carregando-a, e disparando um cartucho que não foi visualizado.
b. NUNCA APONTE PARA ALGO OU ALGUÉM QUE VOCÊ NÃO QUEIRA
ACERTAR
Isto se traduz na expressão “controle de cano”, pois é na direção
imaginária do prolongamento deste que sairá o projétil de um disparo acidental.
Diversas técnicas de empunhadura e postura evitam que se aponte a arma para
inocentes, principalmente quando a mesma está carregada.
c. MANTENHA O DEDO FORA DO GATILHO
Normalmente todo disparo acidental é sucedido da exclamação: “Disparou
sozinha”. Mas são raríssimas as ocasiões em que a arma dispara sozinha. Isto
somente acontece no momento do carregamento/trancamento em armas com
problemas mecânicos, em quedas e em situações de cadência muito alta de tiro, que
gera calor suficiente para deflagração por condução de calor.
Na grande maioria das vezes é um dedo no gatilho no momento errado
que causa o disparo não proposital. Falamos dedo fora do gatilho, mas o ideal é que
ele permaneça fora do guarda-mato. Tem que haver uma cobrança muito forte por
todos para que ninguém continue com o “vício” de ficar com o dedo no gatilho.
d. TENHA CERTEZA DE QUEM É O SEU ALVO E DO QUE TEM ATRÁS E
ENVOLTA DESTE
Atira-se só no que se vê. Mas além de se enxergar o alvo, também
precisamos de tempo para identificá-lo e definirmos se é um inimigo ou não. Outra
preocupação em área urbana não evacuada é com os não-combatentes próximos ao
inimigo, que poderiam ser atingidos por um tiro mal executado e, até mesmo, os que
estão atrás deste inimigo e que poderiam ser atingidos pelos projetis que tranfixarem
o mesmo. A decisão de atirar é tomada em tempo restrito e a exposição do alvo é
por curtíssimo período de tempo. Às vezes, basta uma passada larga lateral para
tirarmos os civis do alinhamento com o inimigo e podermos disparar com mais
segurança.
3.4.2 Relato de Experiência Vivida
Relato uma experiência bem sucedida que tivemos no 6º BIL onde ensinamos
estas técnicas, inicialmente aos Oficiais e Sargentos, e depois aos soldados do EP
da 1ª Companhia de Fuzileiros Leve, durante os anos de 2008 e 2009.
O ensino se deu inicialmente por módulos (técnicas de progressão individual,
retenção de armas, técnicas de tiro com diversas armas, tiro, etc...) para os Oficiais
e Sargentos. Foi realizado em cerca de 15 dias não consecutivos, aproveitando,
muitas vezes, os dias em que os Cabos e Soldados do EP estavam empenhados no
serviço de escala. Isto foi feito nos meses de fevereiro e março, época de
sobrecarga para estes, por não estar ainda o EV apto para o serviço de escala.
Cada Oficial e Sargento realizou cerca de 400 disparos incluindo tiros de Fuzil,
Espingarda Calibre 12 e Pistola. Esta quantidade se equipara ao adestramento
atualmente realizado pelos Rangers dos Estados Unidos da América, devido à crise
ecônomica. Sendo o ideal, recomendado pelas normas deles, a realização de 1.200
disparos anuais por militar.
Os módulos foram chamados de instruções de nivelamento de Quadros e eram
conduzidos de forma intensa e sem permitir faltas, para garantir o real aprendizado e
padronização dos ensinamentos.
Após este nivelamento, foi reservado tempo suficiente para que os Tenentes e
Sargentos repassassem os conhecimentos aos seus subordinados. Algumas
técnicas executadas pelos Quadros não foram passadas para a tropa, devido à sua
sensibilidade. E é salutar que os Oficiais e Sargentos executem técnicas mais
complexas para que eles adquiram confiança ao ensinarem as mais simples. Este
repasse de conhecimentos envolveu cerca de 150 disparos por subordinado.
Para permitir o adestramento diário da técnica de engajamento rápido de alvos
pela tropa, foi construído no alojamento da 1ª Companhia de Fuzileiros Leve um
estande reduzido para Fuzil de Ar Comprimido (FAC) e nos fundos do Batalhão uma
réplica deste estande, para usar o Fuzil calibre .22 Long Rifle (LR). Este só era
utilizado na véspera das missões e antes do tiro com o calibre 7,62mm. O estande
consistia em dois postos de tiro e em um sistema de alvos com duas silhuetas de
metal, com livre movimento horizontal, uma para cada atirador. Ao ser impactada
uma delas, a outra se escondia. Isto desenvolvia a necessidade do engajamento
rápido ou se perdia o alvo. O comando de tiro era dado por um terceiro combatente.
As silhuetas rapidamente voltavam à sua posição inicial por efeito de molas,
evitando perda de tempo para reposicioná-las. O impacto era nitidamente
confirmado pelo som do impacto e pelo movimento do alvo. O estande funcionava
inclusive fora do horário do expediente, e era de frequência livre. Passou a ser
encarado pela tropa como uma atividade de lazer. O militar estava executando um
treinamento efetivo até mesmo fora dos horários previstos e destinados a isto.
Foram consumidos, nestes dois anos, cerca de 20.000 chumbinhos e 5.000
cartuchos de calibre .22 LR.
O alto nível de adestramento atingido pela SU foi intensamente comprovado e
reconhecido em diversas ocasiões críticas, entre elas as Operações Fronteira Sul 1
e 2 de 2008, Avaliações Operacionais das Forças Estratégicas pelo Centro de
Avaliação de Adestramento do Exército (CAAdEx) em 2008 e 2009 e na Operação
Ipiranga que recuperou todos os sete fuzis roubados do 6º BIL em 2009, com
realização da prisão dos onze criminosos envolvidos.
O principal foco durante estes nivelamentos foi a segurança. Devem ser
criados protocolos rígidos de inspeção do armamento e que serão executadas
sempre, seja em Instrução, Serviço de Escala, ou Missão. O exemplo de conduta
com o armamento deve partir dos Quadros e ser rigidamente fiscalizada pelos
mesmos até chegar ao ponto de ser executada sem fiscalização. São inúmeros, os
incidentes e acidentes que já ocorreram em instruções e operações com armamento
pelos nossos quarteis, que podem ser explorados com a tropa para evitar repetirem
erros, por vezes fatais, de outros militares. A maioria teve como causa a falta de
perícia, a falta ou a não observância de protocolos rígidos, e a falta de ação de
comando na fiscalização dos procedimentos.
3.4.3 Amparo Legal
Mas há que se salientar que todos estes treinamentos citados anteriormente
foram executados com risco calculado e ousadia por parte do Comandante do
Batalhão, do Oficial de Operações e dos Oficiais Instrutores da SU, visto que não
eram previstos nos nossos programas. Parte dos exercícios de tiro descritos
anteriormente foi enquadrada, de forma adaptada, aos Módulos de Tiro de Combate
Básico (TCB) e de Tiro de Combate Avançado (TCA) previstos na IGTAEx. Mas a
maioria das técnicas de progressão e tiro ainda não estão amparadas em nenhum
dos Manuais em vigor na Força Terrestre. Foram ministradas por instrutores e
monitores que realizaram cursos e estágios nas Forças Auxiliares, Empresas
Privadas e no Centro de Instrução de Operações de GLO do EB.
4 CONCLUSÃO
Estamos em um momento de transição da forma de se combater. E como em
todo momento de transição, mudanças tanto nos protocolos de treinamento, quanto
nos amparos legais são necessárias.
Nosso Exército carece de uma Unidade Escola de Tiro, ou de um Centro de
Instrução de Atiradores que estude, padronize e difunda o que há de mais moderno
em técnicas de tiro, visando aumentar a eficácia da tropa em um combate, ou até
mesmo, minimizar os acidentes durante a rotina de treinamento e execução dos
serviços de escala na defesa das instalações.
Concluindo, ressalta-se que somente as técnicas atualmente ensinadas não
garantem um bom desempenho nos conflitos modernos. Porém, a evolução do
método precisa, antes de mais nada de um amparo legal, para que os Quadros
procurem o conhecimento atualizado e tenham segurança e confiança em repassar
estes para os seus subordinados. Mas a solução definitiva para o problema de nos
mantermos atualizados em técnicas de tiro converge na direção da padronização,
estudo e difusão centralizados em um Estabelecimento de Ensino voltado ao
assunto, que tanta falta faz em nosso Exército nesses novos tempos.
REFERÊNCIAS
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Taquarituba-SP: GRIL – Gráfica e Editora, 2006. 150p il.
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10. FLORES, ERICO MARCELO. Tiro Policial: técnicas sem fronteiras. Porto
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11. SOUZA, RODRIGO WILSON MELO. Tiro Policial e Armas de Fogo. Fortaleza-
CE, 2005. 128p.
12. PAULO RICARDO PINTO FRANCO, VALDIR SILVA DA CRUZ, JOSUÉ LOPES
LEAL, RUBENS ARIEL FERREIRA. Técnicas policiais: uma questão de
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Registrado, distribuição gratuita.
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136p.:14x21cm
15. KEEGAN, JOHN. A Guerra do Iraque. Tradução de Laís Andrade – Rio de
Janeiro: Biblioteca do Exército Ed., 2005, 288p
16. ALEXANDER, JOHN B. Ganhando a Guerra: armas avançadas, estratégias e
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Brízida. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2007, 364p.: il.
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