8 12 november 2017 funchal madeira, portugal | uma-cierl · 2018-09-01 · 2 por isso, o volume e...
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A distribuição do Homem no espaço insular madeirense no início do século XXI
1. Introdução
O estudo da História de um povo ou região propicia a compreensão do presente,
assente no conhecimento do passado e permite ainda perspetivar o futuro. De facto, “um
povo ou uma região que não tenham passado, relativamente ao seu culto, estudo e
preservação, dificilmente poderão ter futuro” (Carita, 1989, p. 25).
Este estudo populacional do arquipélago da Madeira teve como suporte a consulta de
bibliografia acerca das caraterísticas físicas deste espaço geográfico, assim como os dados
quantitativos constantes dos XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População Portuguesa. Para
o tratamento destes dados, adotou-se uma metodologia mista, que resultou numa análise de
cariz quantitativo e qualitativo.
Pretendemos ao longo destas linhas, esboçar o perfil demográfico do arquipélago da
Madeira no início do século XXI, numa conjugação entre o homem e o espaço.
2. Metodologia
O número de habitantes, perspetivado estática ou dinamicamente, e o modo como se
apresenta - em crescimento, declínio ou estabilidade - é sempre decorrente de um contexto
espacial e temporal.
III Colóquio Internacional INSULA
III INSULA International Colloquium
Para Além de Natureza /Artifício
Beyond Nature /Artifice
8 – 12 November 2017
Funchal – Madeira, Portugal | UMa-CIERL
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Por isso, o volume e os ritmos de crescimento constituem um primeiro aspeto a
considerar numa caracterização demográfica global, permitindo uma análise dinâmica da
realidade que se pretende estudar.
Desta forma, o volume e o respetivo ritmo de crescimento “constituem a primeira
perceção que se deve ter do espaço e a consequência última das atitudes dos homens face à
vida, à morte e à sucessão das gerações, denotando ainda o resultado do comportamento da
espécie humana no que respeita à sua própria mobilidade.” (Rocha, 1991, p. 38)
Assim, para a análise da dinâmica populacional madeirense, optámos por considerar o
volume populacional, em valores absolutos e em valores relativos, destacando a importância
populacional de cada concelho, excluindo deste cômputo, a população emigrada.
O cálculo da densidade populacional é imprescindível uma vez que permite conhecer
a diferente ocupação a nível concelhio, das áreas geográficas em estudo, embora a leitura dos
resultados obtidos requeira uma mediatização que requer o cruzamento dos valores obtidos
com a realidade geográfica a que os mesmos se reportam. Deste modo, um idêntico valor de
densidade populacional pode ser obtido em dois locais com geografia física oposta, o que se
traduz inevitavelmente em dinâmicas específicas de cada população. Esta situação ocorre,
sobretudo, quando se confrontam povoamentos de tipo disperso e concentrado, ou seja, uma
povoação centrada num vale pode ter a mesma densidade populacional que outra, dispersa
em espaço plano.
Procedemos ainda à avaliação dos ritmos de crescimento através do indicador
normalmente utilizado no estudo da evolução de uma população; a Taxa de Crescimento
Anual Média (TCAM) que permite determinar quanto é que uma população cresceu por ano
num determinado período de tempo1.
Uma vez que o volume se encontra intimamente associado à estrutura populacional
caraterística de cada agregado populacional, a composição das populações encerra as variáveis
que o condicionam.
Deste modo, varáveis como a idade e o sexo são manifestamente significativas na
análise demográfica, pelo impacto diferencial que assumem relativamente aos fenómenos
responsáveis pelo movimento populacional. Aquelas variáveis condicionam ainda outras
estruturas, que extrapolam o âmbito da demografia, mas cuja análise propicia um real
1 Para o cálculo desta taxa tomámos como referência o método do crescimento geométrico, cuja fórmula é:
Pn TCAM : log — = n log ( 1+ a )
Po
Pn: representa a população num determinado momento (neste caso 2001). Po: representa a população em 1991.
n: amplitude do período em causa.
Entre os dois momentos - Pn e Po – a população cresce a um determinado ritmo por ano: a
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conhecimento da realidade a vários níveis. Assim, no estudo da população ativa ou mais
especificamente no das categorias socioprofissionais, a situação apresentada pela população
masculina é sempre distinta da população feminina, o mesmo acontecendo no que concerne à
desigualdade existente entre os vários níveis etários. Também nos estudos de concentração
urbana ou de êxodo rural, o comportamento dos dois sexos e das diferentes idades não se
apresenta em idênticas circunstâncias. O facto de se ser homem, mulher, criança, jovem ou
mais velho, reveste-se de particular importância em praticamente todos os aspetos da vida de
uma comunidade. Deste modo, quando analisamos uma população, é na repartição etária e
por sexos que encontramos as suas principais características. Por outro lado, os movimentos
demográficos, dependentes dos níveis de natalidade, mortalidade e dos movimentos
migratórios, resultam da importância dos vários elementos constituintes de uma estrutura
populacional, ao mesmo tempo que são condicionados através da diferenciação homem /
mulher e jovem / velho. Assim, uma sociedade em que o número de jovens é elevado, terá
obviamente, um nível de nascimentos, óbitos e migrações significativamente diferente de
outra em que seja preponderante o número dos mais idosos. Da mesma forma que o equilíbrio
entre os sexos é condição indispensável à sobrevivência de uma população, também o
conhecimento da sua relação numérica é particularmente significativo quando associado à
idade, pois estas especificidades implicam consequências diversas.
Contudo, uma vez que uma análise populacional não fica completa sem o cálculo dos
Grupos Funcionais e dos Índices-Resumo, optámos pela sua execução a nível concelhio, a
partir dos dados apurados nos Recenseamentos já referidos. Os Grupos Funcionais resultam da
junção da informação contida nas diversas idades em três grandes grupos: o dos jovens, o dos
adultos e o dos velhos. Optámos pelo critério dos sexos reunidos e dividimos a população de
acordo com os seguintes grupos de idades: 0-14, 15-64 e o grupo dos indivíduos com 65 anos
ou mais.
A partir da determinação dos Grupos Funcionais produzimos os Índices-Resumo,
importantes não só para a análise demográfica como também para a demografia social. Assim,
calculámos três Grupos Funcionais: dos Jovens, dos Ativos e dos Velhos, e procedemos ainda
ao calculo do Índice de Vitalidade.
No entanto, visto que uma maior e mais profunda compreensão da estrutura etária de
uma população é conseguida através da relação que se estabelece entre os Grupos Funcionais,
mais especificamente pela quantificação das respetivas dependências, considerámos
indispensável calcular os diferentes rácios; o Rácio de Dependência dos Jovens, o Rácio de
Dependência dos Velhos e o Rácio de Dependência Total.
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O conhecimento do nível de vitalidade de uma população é fundamental para
identificar fenómenos como o envelhecimento populacional, que se verifica não só através do
aumento relativo do número de velhos – envelhecimento no topo – mas também a partir de
uma diminuição dos jovens – envelhecimento na base – ou as duas situações conjuntamente, o
que constitui um duplo envelhecimento. Ao invés deste fenómeno, o rejuvenescimento
acontece quando aumenta a importância do peso dos jovens, diminui a dos velhos, ou quando
se verificam simultaneamente as duas situações.
A análise da situação populacional do arquipélago da Madeira compreende ainda a
elaboração das Pirâmides de Idades referentes aos Recenseamentos de 1991 e de 2001, que
possibilitaram uma visão diacrónica com as tendências evolutivas da população madeirense no
início do século XXI.
3. O Espaço Insular
As ilhas que compõem o arquipélago da Madeira possuem caraterísticas geográficas
distintas, tal como refere Orlando Ribeiro (1985, pp.13-14):
“(…) os diversos elementos do arquipélago em nada se assemelham. Porto Santo é uma ilha desnudada, quase árida (…), as Desertas não são mais do que rochedos estéreis, povoados por aves marinhas (…) e, como o nome indica, não são habitadas. A Madeira, em contrapartida, é uma ilha muito mais extensa, recebendo chuvas abundantes que permitem sustentar, graças à irrigação, uma agricultura intensiva, muito densa, conservando ainda os vestígios de uma espessa cobertura florestal, largamente renovada com outras espécies, e apresentando quase por toda a parte e ao longo de todo o ano um aspecto verdejante que constitui um dos seus encantos.”
O facto de este arquipélago estar desabitado aquando da chegada dos portugueses
facilitou a fixação dos primeiros povos e atribuiu-lhes redobradas responsabilidades. Deste
modo, foi a partir do núcleo inicial de povoadores que a estrutura social do Arquipélago
começou a ser definida, tendo a posse de terra assumido o principal papel na diferenciação
dos primeiros colonos.
4. O Homem
Os europeus, grupo maioritário, tiveram uma importância primordial na formação
desta sociedade, visto que em minoria e sob condição servil, se encontravam mouros, negros e
guanches.
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Contrariamente à riqueza e prosperidade da ilha da Madeira, a fraca produtividade da
ilha de Porto Santo foi reconhecida desde o início da ocupação, dela se afirmando “não se
pode em ela fazer lavra” (Zurara, cit. in Vieira, 2001, p. 160), pelo que aqui se investiu nas
culturas de sequeiro bem como no pastoreio. Na ilha da Madeira, a estrutura do sector
produtivo moldou-se às condições climáticas e económicas, que permitiram o investimento na
produção de cereais, vinho, produtos hortícolas e frutícolas e na criação de gado.
Contudo, à exceção de algumas propriedades de dimensões médias, com bananais,
canaviais ou vinha, que permitiam a exportação de vinho e banana, prevalecia a agricultura
minifundiária de subsistência, praticada com técnicas rudimentares e condicionada por uma
orografia onde a viabilização do cultivo dependia da construção de socalcos.
Outro dos recursos muito valorizados, desde o início da ocupação do arquipélago, foi a
pesca, pelo que, já no século XVI, se instituíra o dízimo do pescado. Esta atividade económica
alargou-se por todas as zonas costeiras e, já no início do século XX, era possível identificar a
existência de vinte e seis portos piscatórios
5. A (Re)criação do Homem no Espaço Insular
Em 2001 o arquipélago da Madeira possuía uma população residente de 245011
habitantes e encontrava-se administrativamente dividido em onze concelhos, contemplando
um deles, na sua totalidade, a Ilha de Porto Santo.
Ocupando uma área total de 778.92 Km² as marcas físicas que caracterizam os espaços
rurais e urbanos, estão ainda bem patentes nas “diferenças que na paisagem caracterizam e
demarcam os polos urbanos dos exclusivamente rurais, justificando que conceptualmente se
separe o campo da cidade” (Mendonça, 2007, p. 313).
Nos casos da agricultura e da pesca verifica-se uma grande dependência e ligação das
populações ao espaço natural onde residem, visto que em alguns casos aquelas atividades
ainda têm cariz de subsistência. Embora as estatísticas referentes a 2001 atestem do
progressivo declínio da agricultura como atividade económica em todos os concelhos, a
observação direta deste espaço geográfico permite inferir que este decréscimo não se traduz
no abandono dos campos, pois estes apresentam-se totalmente cultivados. Daqui se
depreende que “embora esta atividade tenha deixado de se assumir como fonte exclusiva de
rendimento, passou a ser desenvolvida em paralelo com outras” (Mendonça, 2009, p. 177)
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MAPA 1. Divisão Administrativa do Arquipélago da Madeira
Fonte: www.geocities.com/Heartland/Plains/9462/map.html (adaptado)
O contacto direto com o contexto deste espaço insular permite também inferir da
existência de pequenos aglomerados populacionais isolados, cujos habitantes desenvolvem
relações sociais limitadas no espaço e onde a memória do passado se patenteia nas habitações
e na própria paisagem. Pode afirmar-se que “ a distância constitui condicionamento
importante não só das relações técnicas e de produção na agricultura, como de toda a
organização social das coletividades rurais” (Pinto, 2000, p. 75).
A desigualdade do número de habitantes, nos vários concelhos madeirenses, assume-
se como a característica que de imediato se nos apresenta (Cf. Tabela 1). Este aspeto é
particularmente significativo no concelho de Funchal que agrega cerca de 42,0 % da população
do arquipélago, situação já reconhecida no final do século XX, quando se afirmava que “ (…) a
principal realidade do povoamento da Madeira é a fortíssima macrocefalia representada pela
excessiva dimensão da capital, Funchal, relativamente à Região” (Nazareth, 1988, p.141).
A Taxa de Crescimento Anual Médio (calculada com os resultados dos XIII e XIV
Recenseamentos Gerais da População Portuguesa), permite constatar que na transição para o
século XXI, todos os concelhos madeirenses perderam população, com exceção de Câmara de
Lobos e Santa Cruz, municípios limítrofes de Funchal.
O crescimento populacional registado naqueles dois concelhos que confinam com a
capital do arquipélago, decorre da construção de novos eixos rodoviários que centrou o
povoamento em torno de Funchal.
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Tabela 1. Distribuição Territorial da População do Arquipélago da Madeira Em 2001
CONCELHOS POPULAÇÃO IMPORTÂNCIA RELATIVA (%)
CRESCIMENTO ANUAL MÉDIO % (1991-2001)
CALHETA 11946 4.8 -0.85
C. DE LOBOS 34614 14.1 +0.96
FUNCHAL 103961 42.2 -1.04
MACHICO 21747 8.9 -0.12
PONTA DO SOL 8125 3.3 -0.75
PORTO MONIZ 2927 1.3 -1.58
PORTO SANTO 4474 1.8 -0.51
RIBEIRA BRAVA 12494 5.1 -0.53
SANTA CRUZ 29721 12.1 +2.39
SANTANA 8804 3.9 -1.56
SÃO VICENTE 6198 2.5 -2.14
Total 245011 100 -0.34
Fonte: XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População
Em 2001 cerca de 70,0 % da população madeirense residia em três concelhos -
Funchal, Câmara de Lobos e Santa Cruz - enquanto a restante população madeirense, cerca de
30,0 % do total, se distribuía pelos outros oito concelhos do arquipélago, cujos volumes
populacionais eram bastante reduzidos. Deste modo, a importância relativa de cada um destes
oito concelhos, em termos de volume populacional é bastante diminuta face ao total regional,
variando entre 1,8 % (Porto Santo) e 8,9 %, (Machico).
TABELA 2. Peso relativo Costa Norte/Costa Sul (2001)
Concelhos do Arquipélago da Madeira Peso relativo (%)
Porto Moniz 1.3
Santana 3.9
São Vicente 2.5
Costa Norte ( Total) 7.7
Calheta 4.8
Câmara de Lobos 14.1
Funchal 42.2
Machico 8.9
Ponta do Sol 3.3
Ribeira Brava 5.1
Santa Cruz 12.1
Costa Sul (Total) 90.5
Porto Santo 1.8
Fonte: XIV Recenseamento Geral da População.
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Temos, portanto, que os vários concelhos possuem um número de efetivos bastante
diferenciado mas apresentam também ritmos de crescimento desiguais que justificam as
diferentes concentrações populacionais.
Encontramos uma tendência à concentração que se consubstancia na formação de
dois grupos, sendo o primeiro constituído pela Costa Sul, caraterizada por uma temperatura
amena e fraca pluviosidade durante todos os meses do ano e que tem um peso de 90,0%
relativo ao total do Arquipélago.
Os restantes concelhos do arquipélago, situados na Costa Norte, com clima mais
agreste e mais distantes da capital possuem um volume populacional de apenas 7,7% face ao
total regional.
Estas tendências populacionais têm vindo a acentuar-se, uma vez que a análise dos
volumes populacionais nos vários concelhos da Madeira, entre os anos de 1864 e 1991,
também permitiu constatar o “peso determinante da costa sul da ilha da Madeira
relativamente à costa norte” (Oliveira,1999, pp. 28-29).
Estas diferenças na distribuição do Homem no espaço insular, embora relevantes para
a compreensão dos aspetos demográficos, terão de ser avaliadas atendendo também à
dimensão específica de cada concelho (Cf. Tabela 3).
Assim, os concelhos de Funchal, Câmara de Lobos e Santa Cruz, porquanto são os mais
densamente povoados e simultaneamente os que apresentam maior volume populacional. Já
Porto Moniz, São Vicente e Santana registam as menores densidades populacionais com um
valor inferior a 100.00 habitantes por km².
Em traços gerais o Arquipélago possui concelhos com áreas semelhantes entre si, mas
as densidades populacionais são bastante diferenciadas, o que nos permite concluir que a
diversidade de volumes populacionais não é unicamente resultante das diferentes dimensões
concelhias. Temos, portanto, que não só os vários concelhos têm um número de efetivos
bastante diferenciado (Cf. Tabela 3) como também ritmos de crescimento desiguais que
permitem maiores e menores concentrações populacionais (Cf. Tabela 1).
Aos traços de desigualdade e de concentração populacional já explicitados, não
podemos deixar de acrescentar a ideia da diferencial ocupação do espaço, visível quer na
importância relativa quer na densidade diferencial apresentada pelos concelhos madeirenses.
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TABELA 3. Densidade Populacional do Arquipélago da Madeira (2001)
CONCELHOS ÁREA (KM2)
POPULAÇÃO RESIDENTE
2OO1
DENSIDADE POPULACIONAL
2001
CALHETA 115.65 11946 103.29
CÂMARA DE LOBOS 52.37 34614 660.95
FUNCHAL 72.632 103961 1431.39
MACHICO 67.71 21747 321.17
PONTA DO SOL 43.80 8125 185.50
PORTO MONIZ 80.40 2927 36.40
PORTO SANTO 42.17 4474 106.09
RIBEIRA BRAVA 65.10 12494 191.92
SANTA CRUZ 67.293 29721 441.68
SANTANA 93.10 8804 94.56
SÃO VICENTE 78.70 6198 78.72
TOTAL 778.92 245011 314.55
Fonte: Elaboração da autora com base nas fontes citadas na Tabela 1.
Mesmo à escala local, muitas situações idênticas do ponto de vista das densidades
populacionais revestem-se de características sociais inteiramente diferentes, pelo que “a
densidade de ocupação do solo só adquire significado quando comparada com o espaço
concreto em que se inscreve, em relação com a estrutura sócio-profissional, o seu modo e o
seu nível de vida […]” (Dollfus cit in Pinto, 2000, p. 76), pelo que importa conhecer a repartição
da população por grupos funcionais. Estes, resultam da junção da informação contida nas
diversas idades em três grandes grupos: o dos jovens, o dos adultos e o dos velhos. Optámos
pelo critério de categorizar a população de acordo com os grupos de idades 0-14, 15-64 e
ainda o dos indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos.
A partir da determinação dos Grupos Funcionais elaborámos os Índices-Resumo que
contêm o Grupo Funcional dos Jovens4, o Grupo Funcional dos Ativos,5 o Grupo Funcional dos
Velhos6 e calculámos ainda o Índice de Vitalidade7.
2 Neste cálculo excluímos a área de 3,62 km2 correspondente às Ilhas Selvagens, que se
encontram integradas neste concelho, uma vez que as mesmas são desabitadas. 3 Excluímos a área de 14,23 km2 correspondente às Ilhas Desertas que se encontram integradas
neste concelho, uma vez que as mesmas são desabitadas. 4 Percentagem de jovens relativamente à população total. 5 Percentagem de adultos relativamente à população total. 6 Percentagem de velhos relativamente à população total. 7 Percentagem de velhos relativamente aos jovens.
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Tabela 4. Indicadores de Estrutura Populacional, por Grandes Grupos de Idade e por concelho (Região Autónoma da Madeira – 2001)
Concelhos do Arquipélago da
Madeira
% Jovens (0-14)
% Ativos (15-64)
% Velhos ( ≥ 65)
Índice Vitalidade
Rácio dependência
Jovens
Rácio dependência
Velhos
Rácio dependência
Total Porto Moniz 17.2 59.5 23.3 135.9 28.9 39.1 67.9
Santana 16.0 63.8 20.2 126.5 25.0 31.7 56.0
São Vicente 17.2 62.5 20.3 118.3 27.5 32.5 60.0
Costa Norte ( Média) 16.8 62.0 21.3 126.9 27.1 34.1 61.3
Calheta 17,3 61.5 21.2 122.4 28.1 34.4 62.6
Câmara de Lobos 26,1 65.1 8.1 33.8 40.0 13.5 53.6
Funchal 17,0 69.0 14.0 82.3 24.6 20.2 44.8
Machico 19,7 68.8 11.5 58.4 28.6 16.7 45.4
Ponta do Sol 20.5 62.2 17.3 84.2 33.0 27.8 60.9
Ribeira Brava 20.0 63.8 16.2 80.9 31.3 25.3 56.6
Santa Cruz 19.9 68.8 11.3 56.7 29.0 16.4 45.4
Costa Sul (Média) 20.0 65.6 14,2 74.1 30.6 22,0 52.8
Porto Santo 17.8 71.8 10.4 58.5 24.7 14.5 39.2
Fonte: Elaboração da autora com base nas fontes citadas na Tabela 1.
Se, por um lado, a tendência dos últimos anos é para aumentar o peso dos mais idosos
e diminuir o dos jovens, por outro, a preponderância por parte de cada um dos grupos
manifesta-se de forma distinta nos diferentes concelhos.
Deste modo, Câmara de Lobos sobressai no todo regional com o valor mais elevado de
jovens, 26,1%, e “em contrapartida é o que apresenta o volume mais reduzido de população
idosa” (Mendonça, 2009, p.179). No extremo oposto Santana é o concelho que possui o menor
valor de jovens que representam apenas 16,0% da sua população.
Relativamente ao grupo funcional com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos
e que agrupa a população ativa, a percentagem mais baixa, de 62,5 %, correspondente a São
Vicente, enquanto os valores mais elevados pertencem a Porto Santo e Funchal, com
respetivamente 71,8 % e 69,0 %.
Encontramos a maior percentagem de idosos nos concelhos de Porto Moniz e Calheta,
com 23.3% e 21,2% respetivamente, enquanto nos concelhos de Câmara de Lobos (8.1%) e
Porto Santo (10.4%), os indivíduos mais velhos são menos representativos.
Contudo, estas caraterísticas, aparentemente divergentes entre os concelhos,
encerram uma situação comum Arquipélago e que consiste na tendência para o seu
envelhecimento global, por declínio da população mais jovem e pelo aumento da esperança de
vida que carateriza as sociedades mais desenvolvidas. Ou seja, “o envelhecimento da
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população é não só consequência de uma diminuição do número de jovens como de um
aumento dos idosos, cuja tendência é manifesta na actual estrutura da população mundial”
(Rocha,1991, p.108)
Estes factos patenteiam-se no Índice de Vitalidade (Cf. Tabela 4) onde, se atentarmos
nos dois grandes grupos de concelhos; os da Costa Sul e os da Costa Norte, constatamos a
existência de uma situação gravosa nestes últimos municípios porquanto todos eles excedem o
valor de 100. Ou seja, Porto Moniz, Santana, e São Vicente, têm Índices de Vitalidade de
respetivamente 135.9, 126.5 e 118.3. Embora o concelho de Calheta se situe na vertente sul da
Ilha da Madeira, todas as suas caraterísticas são similares às dos municípios da vertente norte,
pelo que o seu Índice de Vitalidade é também bastante elevado, ascendendo a 122.4.
Já Câmara de Lobos assume o valor mais reduzido que corresponde a 33.8.
Os Rácios de Dependência dos Jovens e dos Velhos sintetizam e evidenciam a relação
numérica entre cada um destes grupos funcionais e a população ativa, evidenciando que a
dependência dos mais velhos é maior na Costa Norte do que na Costa Sul, enquanto os mais
jovens assumem uma maior dependência na Costa Sul do que na Costa Norte da Ilha. Já o
Rácio de Dependência Total, que agrega todos grupos funcionais dependentes face aos que
suportam a dependência, apresenta também valores superiores nos concelhos da Costa Norte.
Destaca-se ainda o facto de a ilha de Porto Santo possuir o menor Rácio de Dependência Total
de todo o Arquipélago.
A forma mais rigorosa e mais completa de se proceder a uma análise da estrutura por
sexos e idades, consiste na elaboração de uma Pirâmide de Idades, porquanto permite avaliar
o estado da população num determinado momento, e também conhecer a sua história nos
últimos anos. De modo a viabilizar a comparação dos diversos efetivos dos grupos de idades,
em dois momentos distintos, optámos por construir duas Pirâmides Etárias, de modo a refletir
não só os efeitos de idade como também os efeitos de geração. Para o efeito utilizamos como
valores de referência, os efetivos apurados nos XIII e XIV Recenseamentos Gerais da População
Portuguesa.
Embora a Pirâmide Etária da Madeira apresente uma população relativamente
jovem comparativamente com a estrutura etária da população do país, em termos globais, é
notório o duplo envelhecimento da população visto que a base da pirâmide estreitou
enquanto o topo apresenta um aumento da população com mais idade. Trata-se, pois, do
culminar de um processo de envelhecimento iniciado mais tardiamente do que no espaço
continental.
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Gráfico 1. Evolução das Pirâmides de Idades no Arquipélago da Madeira, no Início do Século XXI (1991-2001)
Fonte: Elaboração própria com base nas fontes citadas na Tabela 1
Assim, a combinação destes dois efeitos confere a esta pirâmide uma tipificação que se
desenvolve em forma de urna, correspondente a um regime de baixa natalidade e
mortalidade, que se traduz numa população envelhecida.
6. Conclusão
A análise da situação populacional do arquipélago da Madeira a partir dos
Recenseamentos de 1991 e de 2001 permitiu identificar as suas caraterísticas bem como as
tendências evolutivas.
Em 2001, este arquipélago possuía 245011 habitantes que se distribuíam de forma
diferencial pelos seus onze concelhos pois cerca de 70,0 % da população residia nos concelhos
de Funchal, Câmara de Lobos e Santa Cruz, enquanto os restantes residentes, cerca de 30,0 %,
se distribuíam pelos outros oito concelhos do arquipélago.
A tendência à concentração populacional naqueles três municípios foi ainda reforçada
pelo facto de o seu número de habitantes aumentar, enquanto os restantes concelhos
diminuíram o volume da sua população.
Esta diferencial ocupação humana, que no início do povoamento do arquipélago,
decorria das especificidades físicas e geográficas do território e da estreita ligação do homem
ao espaço, decorre atualmente da ação humana. As novas vias de comunicação, em vez de
proporcionarem maior rapidez para que o Homem aceda às zonas mais isoladas e nelas se fixe,
02100420063008400105001260014700
0 - 4
5 - 9
10 - 14
15 - 19
20 - 24
25 - 29
30 - 34
35 - 39
40 - 44
45 - 49
50 - 54
55 - 59
60 - 64
65 - 69
70 - 74
75 - 79
80 - 84
>= 85 Homens
0 2100 4200 6300 8400 10500 12600 14700
0 - 4
5 - 9
10 - 14
15 - 19
20 - 24
25 - 29
30 - 34
35 - 39
40 - 44
45 - 49
50 - 54
55 - 59
60 - 64
65 - 69
70 - 74
75 - 79
80 - 84
>= 85
2001
1991
Mulheres
Idades
RAM
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converteram esta vantagem numa tendência inversa, com a deslocação e a fixação da
população na capital do arquipélago e nos seus concelhos limítrofes.
Deste modo, os concelhos de Funchal, Câmara de Lobos e Santa Cruz apresentam
enormes volumes populacionais, enquanto a norte da ilha da Madeira, os municípios de Porto
Moniz, Santana e São Vicente registam reduzidas densidades populacionais, com menos de
100 habitantes por km² e possuem Índices de Vitalidade, superiores a 100, com
respetivamente 135.9, 126.5 e 118.3.
Esta diferencial ocupação do espaço tenderá a agravar-se pois o aumento e a
diminuição da população decorrem dos seus próprios ritmos de crescimento, e estes
dependem da preponderância dos grupos etários da população residente nos diferentes
concelhos.
Assim, os concelhos com efetivos populacionais predominantemente jovens terão
condições de continuidade, enquanto aqueles que possuem percentagens elevadas de
indivíduos idosos, perdem a sua população.
Os efeitos de idade e os de geração, decorrentes da análise das Pirâmides Etárias
permitem constatar a tendência para o envelhecimento global do arquipélago que se
patenteia no duplo envelhecimento populacional: por declínio da população mais jovem e pelo
aumento da esperança de vida que carateriza as sociedades mais desenvolvidas.
Este regime de baixa natalidade e mortalidade confere aos habitantes da Madeira
caraterísticas de uma população envelhecida.
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