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45 Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 27, n. 2, p. 45-58, jan. 2006 CORPOS, CULTURA, PARADOXOS OBSERVAÇÕES SOBRE O JOGO DE CAPOEIRA * Ms. MULEKA MWEWA Licenciado em português e mestre em educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea Dr. ALEXANDRE FERNANDEZ VAZ Doutor em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade de Hannover, Alemanha; professor do Programa de Pós-graduação em Educação da UFSC; coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea; pesquisador nível 2 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Fundamentos da Educação Apoio CNPq/Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Santa Catarina (Fapesc)/ Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) E-mail:[email protected] RESUMO O ensaio dedica-se à reflexão sobre elementos que compõem o jogo de capoeira, bus- cando sua inserção em alguns dos registros da cultura negra, inclusive nos impasses e paradoxos que esta apresenta. Dedica, para tanto, especial atenção à estandarização da cultura popular, ao lugar social do corpo negro e às expectativas que a ele são dirigidas: força, virilidade, bestialização. Buscando a dialética da cultura no domínio de si e no mo- vimento de aproximação e distanciamento do orgânico, o texto se ocupa das dinâmicas de hierarquia e produção de marcas e movimentos corporais adaptados ao consumo. Busca, com isso, indicar a elementos das incertezas subjetivas contemporâneas. PALAVRAS-CHAVE: Capoeira; jogo; cultura afro-descendente; Stuart Hall; Theodor Adorno. * O trabalho é parte do projeto Teoria crítica, racionalidade e educação, financiado pelo CNPq e pela Fapesc.

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  • 45Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v. 27, n. 2, p. 45-58, jan. 2006

    CORPOS, CULTURA, PARADOXOS

    OBSERVAES SOBRE O JOGO DE CAPOEIRA*

    Ms. MULEKA MWEWALicenciado em portugus e mestre em educao pela Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC); membro do Ncleo de Estudos e Pesquisas Educao e Sociedade Contempornea

    Dr. ALEXANDRE FERNANDEZ VAZDoutor em Cincias Humanas e Sociais pela Universidade de Hannover, Alemanha;

    professor do Programa de Ps-graduao em Educao da UFSC;coordenador do Ncleo de Estudos e Pesquisas Educao e Sociedade Contempornea;

    pesquisador nvel 2 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientficoe Tecnolgico (CNPq) Fundamentos da Educao

    Apoio CNPq/Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Santa Catarina (Fapesc)/Fundao Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes)

    E-mail:[email protected]

    RESUMO

    O ensaio dedica-se reflexo sobre elementos que compem o jogo de capoeira, bus-

    cando sua insero em alguns dos registros da cultura negra, inclusive nos impasses e

    paradoxos que esta apresenta. Dedica, para tanto, especial ateno estandarizao da

    cultura popular, ao lugar social do corpo negro e s expectativas que a ele so dirigidas:

    fora, virilidade, bestializao. Buscando a dialtica da cultura no domnio de si e no mo-

    vimento de aproximao e distanciamento do orgnico, o texto se ocupa das dinmicas

    de hierarquia e produo de marcas e movimentos corporais adaptados ao consumo.

    Busca, com isso, indicar a elementos das incertezas subjetivas contemporneas.

    PALAVRAS-CHAVE: Capoeira; jogo; cultura afro-descendente; Stuart Hall; Theodor Adorno.

    * O trabalho parte do projeto Teoria crtica, racionalidade e educao, financiado pelo CNPq e pelaFapesc.

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    INTRODUO

    O jogo de capoeira geralmente visto como uma manifestao cultural ge-nuinamente brasileira, algo que se configuraria, como se possvel fosse, como ex-presso de um carter nacional por subtrao (Schwartz, 2001): uma sntese deelementos africanos com outras formas de expresso corporal aqui j existentesantes e durante o perodo de escravido. Ele combina-se como jogo, luta, danae/ou mesmo esporte-espetculo com um conjunto de outros elementos media-dos pelo corpo e presentes na cultura afro-descendente. Tal como mostrou Soares(1999, p. 25),

    [...] todas as Naes africanas tiveram representantes presos como capoeiras, nas maisdiversas propores, por todo perodo estudado [sc. XIX]. Esses dados reforam a idiada capoeira ser uma inveno escrava, isto , ter sido criada no Brasil, nas condiespeculiares da escravido urbana, mesmo majoritariamente por africanos.

    Esse elemento da cultura urbana ganha contemporaneidade em uma sriede lugares e tempos de nossa sociedade, demarcando-se de mltiplas formas econfigurando-se como um catalisador de paradoxos singulares e tambm de algunsoriundos do entorno em que se enraza.

    Procuramos no presente trabalho apresentar alguns elementos para a com-preenso do jogo de capoeira, considerando um certo eixo das transformaes dasociedade contempornea. Elegemos, em sintonia com esse interesse, aspectos dasua condio de cultura, tentando rivalizar, ou ao menos colocar outras balizas,com um discurso que reitera uma idia sobre o jogo de capoeira que nos parecepolarizante, binrio e que congela o debate, configurando verdades algoinquestionveis: que a capoeira (sempre) expresso legtima das classes popula-res, que resistncia contra a ordem dominante, que liberta, que constituimanancial inesgotvel de criatividade etc.

    Procuramos trabalhar com a ambigidade do jogo, expresso/educao/pedagogiaque se configura como resistncia, mas tambm como elemento produtor de novas de-mandas de consumo sob os avatares do mercado1; elemento cultural, sem dvida, com asmuitas ambigidades que isso comporta, uma vez que cultura significa, tambm, coeroe renncia.

    1. So exemplos a espetacularizao do jogo: a mercantilizao da esttica gestual, a determinao deesteretipos de beleza, alguns elementos do discurso de afirmao da africanidade, a circulao e oconsumo de produtos associados, muitas hierarquias disciplinares, diversas implicaes no universoescolar.

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    Para tanto, nas prximas pginas apresentamos um cruzamento entre algu-mas interpretaes sobre cultura, propostas por Stuart Hall e elementos da anli-se ao mesmo tempo irnica e crtica empreendida por Theodor W. Adornosobre a indstria cultural. Nesse eixo, e buscando a condio de um elemento dacultura negra no jogo de capoeira, elaboramos e desenvolvemos nossa reflexosobre essa prtica social.

    SOBRE A ESTANDARDIZAO DA CULTURA POPULAR

    A cultura popular tem sua base, segundo ensina Stuart Hall (2003), nas expe-rincias, prazeres, memrias e tradies do povo. Ela est segundo ele afirma,vinculada a elementos que constituem o contexto e as experincias cotidianas depessoas comuns e se liga ao que Bakhtin chama de vulgar o grotesco, por exem-plo e, por isso, geralmente contraposta alta cultura ou cultura de elite. ParaHall, o termo popular configura-se em um territrio composto de elementos anta-gnicos e instveis, elaborados em movimentos que se relacionam de forma tensacom o contexto social. Seu principal foco de ateno a relao entre a cultura e asquestes de hegemonia:

    [...] a combinao do que semelhante com o que diferente define no somente aespecificidade do momento, mas tambm a especificidade da questo, e, portanto, asestratgias das polticas culturais com as quais tentamos intervir na cultura popular, bemcomo na forma e no estilo da teoria e crtica cultural que precisam acompanhar estacombinao (Hall, 2003, p. 335).

    Essa combinao no teria sido apreendida, por exemplo, pelo conceito deglobalizao, prprio dos pases hegemnicos que acabam por querer ditar as re-gras normatizantes da dita cultura popular.

    Segundo Hall, o modernismo nas ruas representa, no entanto, uma impor-tante mudana no terreno da cultura rumo ao popular, s prticas populares, aodescentramento de antigas hierarquias e grandes narrativas. A marginalidade comoespao recente de produo e reivindicao dessas culturas seria o resultado depolticas culturais da diferena, de lutas em torno da diferena, da produo denovas identidades e no aparecimento de novos sujeitos no cenrio poltico e cultu-ral [...] um espao de contestao estratgica2 (idem, p. 338- 341). No podemos,

    2. Aqui o autor se refere mais precisamente cultura popular negra. Segundo ele, por definio, acultura popular negra um espao contraditrio. um local de contestao estratgica (idem, p.341).

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    porm, imaginar que o espao da marginalidade seria um lugar (confortvel) que,por si s, representaria resistncia, alerta Hall.

    Por um lado, Hall nos mostra que o ps-moderno global se dedica ao deslo-camento da distino entre erudito e popular, mas, por outro, se concentraria ape-nas na erudio do popular e na popularizao do erudito. No caso da culturapopular, ela est enraizada na experincia popular e, ao mesmo tempo, disponvelpara expropriao (idem, ibidem) diante do aceno sedutor dos mecanismos daindstria cultural.

    Isso verdadeiro, tambm, quando se trata da cultura erudita. Para investir-mos num movimento que burle o essencialismo e para recusarmos as oposiesbinrias, como magistralmente ensina Hall, no vamos nos deter aqui em falsasdiscusses que polarizam o erudito e o popular, na medida em que pautam os seusargumentos na valorizao daquilo que cada uma dessas culturas possuiria de maisautntico, tomando-as de forma isolada. Isso no nos ajudaria a entender a com-plexidade que as constitui. Esse tipo de abordagem s mostra o fato de que temosesquecido que tipo de espao o da cultura popular (idem, p. 340). Nesse senti-do, o autor defende a necessidade, de uma vez por todas, se desconstruir o popu-lar da forma tal como propagado.

    [...] Gramsci (...) entendeu que no terreno do senso comum que a hegemonia cultural produzida, perdida e se torna objeto de lutas. O papel do popular na cultura popular o de fixar a autenticidade das formas populares, enraizando-as nas experincias dascomunidades populares das quais elas retiram o seu vigor e nos permitindo v-las comoexpresso de uma vida social subalterna especfica, que resiste a ser constantementereformulada enquanto baixa e perifrica (idem, p. 341).

    Em relao cultura popular negra, Hall (2003) diz que, no conjunto dequestes que a constituem, ela tem trazido elementos de um discurso que diferenciador, pautando outras formas de vida, novas tradies de representao.Adorno concordaria com essa afirmao, mas acrescentaria que, da forma comoessa cultura se d na sociedade administrada, ela no mais reproduz de formacaricatural os mecanismos de sujeio implementados por essa sociedade. Aindaem termos adornianos, podemos dizer que a insistncia em tornar hegemnicaessa forma diferente de representao se configura num agravante, pois mostraque esse segmento no elaborou, no plano da conscincia sem exclusivismos anoo de ser, muitas vezes, a extenso reprodutora dos mecanismos de sujeiodas foras de dominao. Segundo Hall (idem, p. 343),

    [...] na cultura popular negra [...] no existem forma puras. [...] Essas formas so impuras,at certo ponto hibridizadas a partir de uma base verncula. Assim, elas devem ser sem-

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    pre ouvidas no simplesmente como recuperao de um dilogo perdido que carregaindicaes para a produo de novas msicas, mas como o que elas so adaptaesconformadas aos espaos mistos, contraditrios e hbridos da cultura popular. Elas so oque o moderno , naquilo que Kobena Mercer chama a necessidade de uma estticadiasprica.

    A partir daquilo que podemos chamar de cultura e de cultura popular nostermos propostos por Hall (2002; 2003) possvel ler o texto de Adorno (2001),Moda intemporalsobre jazz, como uma explicitao dos mecanismos de sujeioque conformam os que participam e caracterizam a cultura popular como prticaoriunda das camadas subalternas. Segundo os argumentos de Adorno, a satisfaoao participar da constituio de tais elementos torna-se o principal algoz que osenclausura na pseudogratificao objetivada pela sociedade administrada. A explici-tao dos elementos que conformam o jazz em sua pobreza, assim como de certaforma o processo de elitizao da capoeira, serve de jri do conceito de cultura.

    Na anlise do domnio da tcnica de improvisao no jazz, Adorno (2001)insiste na idia da racionalidade necessria para alcanar tal intento. Para se chegar aexecutar aquelas improvisaes, deve-se ter claro pelo menos duas questes: osmecanismos da sua constituio e a possibilidade que abrem de adentrar num mundosupostamente seleto, porm reificado, dos mecanismos de dominao. O primei-ro pressupe um sujeito esclarecido, a exemplo de Ulisses3, que por sua vez devesaber os mecanismos de funcionamento dessas improvisaes para poder, a sim,execut-las. A sua execuo de forma simples e desprendida do contexto social noqual se localizam faz o sujeito desembocar na segunda questo. Ao executar asimprovisaes de forma satisfatria, o sujeito contemplado na engrenagem queimpulsiona o funcionamento da indstria cultural. Atinge, assim, a pseudogratificaocomo executante dessas improvisaes ou dos clichs gestuais na capoeira (Vieira,1989).

    CAPOEIRA, CORPOS, CONSUMOS

    A capoeira, quando dividida em segmentos propostos para o consumo,descortina uma outra face dessa questo, a dos produtos adaptados ao consumodo corpo. A Capoeira Angola, por exemplo, reivindica ser a que estabelece uma

    3. Referimo-nos interpretao que Horkheimer e Adorno (1985) fazem da viagem de Ulisses (Odis-sia) como meta-histria da razo ocidental e forja da subjetividade esclarecida, prottipo do sujeitoburgus como vir as ser conhecido, mas tambm dizimado, em fases tardias do capitalismo.

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    articulao mais prxima com as camadas populares, mas no abre mo de pautar,de certa forma, a perpetuao da sua prtica a partir da reproduo de algumascaractersticas que supostamente a compem em sua essncia, de formaintemporal, a exemplo das reflexes tecidas por Adorno (2001) sobre o jazz.

    Em contrapartida, um segmento que surge como uma das alternativas a essequadro, a Capoeira Contempornea, sujeita os agentes aos mesmos ditames: aadaptao do capoeira de acordo com o contexto em que joga se configura emuma das suas caractersticas principais. Sabemos que o capoeira joga de acordocom o toque do berimbau, mas no este que o faz agradar o olhar do pblico.Com a avalanche de apresentaes de capoeira que tem ocorrido nas ltimas d-cadas, os praticantes muitas vezes adaptam seu jogo, rituais, indumentrias, cnticos,durao da roda etc., de acordo com o local onde se apresentam e das pessoas queesto assistindo, moldando-se s demandas de consumo. O fato de tomar parteem diferentes realidades da capoeira no subentende a compreenso, por parte dequem participa, da diversidade de uma certa flutuao e nomadismo que podeconstituir a multiplicidade da prtica da capoeira. Alm disso, ... reconhecer outrostipos de diferena que localizam, situam e posicionam... (Hall, 2003, p. 346) estessegmentos, torna-se um desafio utpico na prtica e na coexistncia das diferentescapoeiras.

    Jogo e racionalidade: domnio de si

    A capoeira supe o corpo como material privilegiado de sua realizao.Quando entendemos que h educao do corpo por meio dela e que essa seconfigura em diferentes pedagogias, precisamos considerar que o jogo conformaseus atores a modelos corporais com os quais se estabelecem diversos tipos derelao: de amor, de dio, de conformismo, de esforos para adequ-lo para si epara os outros etc. Precisamente nesse ponto existe tambm uma relao de dese-jo de mimetizar, ou seja, um impulso de possuir, de ser o corpo do outro, explicita-do na busca de executar os mesmos gestos corporais de um outro corpo ou depossuir as mesmas capacidades somticas organizadas na forma de uma gestualidade,dos rudimentos de uma gramtica corporal.

    Horkheimer e Adorno (1985) explicitam a tenso colocada sobre o corpode Ulisses no sentido de ele controlar-se como natureza e dominar a naturezaexterna, as divindades e as semidivindades o mito, o indeterminado, as forasheternomas , as quais o colocaram merc dos seus mecanismos, que precisa-vam ser vencidos. Esses frankfurtianos, ao analisarem a volta de Ulisses a taca, nosmostram que, para realizar esse feito, o viajante teve que, pela astcia da razo,lograr. A racionalidade e sua astcia exerceram carter primordial para o sucesso.

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    Compe esse processo o domnio do seu prprio corpo e do corpo dos outros (osseus marinheiros). Ulisses precisava saber, por exemplo, que o canto das sereiasfazia com que aqueles que o escutassem se atirassem ao mar em busca da gratifica-o imediata (da volta sexualidade primria, da diluio subjetiva, da autonegao),mas, tambm da morte. Portanto, era preciso conhecer o funcionamento do mitopara poder elaborar estratgias para logr-lo, ou seja, a racionalidade que possibi-lita o controle dos desejos mais imediatos do sujeito.

    O domnio do homem sobre si mesmo, em que se funda o seu ser, sempre adestruio virtual do sujeito a servio do qual ele ocorre; pois a substncia dominada,oprimida e dissolvida pela autoconservao, nada mais seno o ser vivo, cujas funesconfiguram, elas to-somente, as atividades da autoconservao, por conseguinte exata-mente aquilo que na verdade devia ser conservado (Horkheimer; Adorno, 1985, p. 61).

    Observe-se que na primeira metade do sculo XIX os capoeiras j possuammecanismos de produo de cdigos prprios e smbolos de identidade (Soares,2002), especialmente marcados nos seus corpos. Estes portavam tanto cicatrizescarnais quanto indumentrias, smbolos que os identificavam: chapus, tipos devestimentas, cdigos lingsticos, entre outros.

    Poderia dizer-se que existia simultaneamente uma certa valorizao e desva-lorizao do corpo relacionada a uma depreciao e apreciao do corpo do outro.Pertencer a um segmento de capoeira, compartilhando dos mesmos cdigos, signi-ficava estar localizado dentro de uma das poucas parcelas da sociedade escrava quepodia ter em suas mos, mesmo que de forma algo movedia, a sua prtica cultural.De posse dessas habilidades, os atores desse segmento estabeleciam um relaciona-mento conflituoso com as camadas dominantes ao travarem intensas negociaes,como, por exemplo, ao cederem sua fora fsica (expresso de seu corpo) para usoda violncia poltica em troca de alguns perodos para a prtica da capoeira (Soares,2002).

    Os capoeiras reduzidos mera naturalidade corporal ao serem expropria-dos de sua fora de trabalho se equiparavam aos marinheiros de Ulisses, reduzi-dos, numa antecipao do que a modernidade instituir radicalmente, a apenascorpos. Porm, com uma diferena fundamental, pois, os primeiros conseguiamtambm transpassar as barreiras colocadas pelos feitores, a partir do logro, pararealizar as suas prticas, atingindo assim, em parte, a condio do prprio Ulisses. a partir da racionalidade que eles decodificaram a ordem social colocada pelos fei-tores. O segmento ao qual estamos nos referindo exercia assim, pelo menos nessecaso, um duplo papel: o de objeto (marinheiros) e o de um indivduo esclarecido(Ulisses).

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    Corpos-capoeiras hierarquizados

    A simbologia gestual e o uso de certos artefatos, como navalhas, por exem-plo, j eram elementos incorporados figura do capoeira no sculo XIX (idem).Como cdigos pertencentes a uma manifestao histrica, a utilizao de outrossmbolos pelos praticantes na contemporaneidade tem sua referncia naquela po-ca e em tempos mais remotos que a historiografia ainda no desnudou. Porm, nacontemporaneidade, esses smbolos aparecem reconfigurados. Os elementos sim-blicos que conformaram o jogo levam, inclusive, compreenso de que no possvel falar em corpo na capoeira e sim em corpos, no plural. Como disse Santanna(2000, p. 239), referindo-se a um contexto mais abrangente, Corpos em peda-os, corpos hbridos, monstruosos, estereotipados, mas tambm corpos que [mos-tram] sem pudor a homossexualidade, a velhice, as sinuosidades do desejo e dosofrimento cravadas na carne.

    Embora o universo da capoeira tolere diversos padres corporais, inclusivedesviantes talvez num misto de conflito camuflado e autopromoo daquelesvistos como normais no h dvidas que essa multiplicidade somtica se estru-tura hierarquicamente pelo grau de masculinidade, pelo capital de beleza incor-porada, pelo potencial de espetculo, entre outros atributos.

    Essa hierarquizao complexa. Alguns s confirmam a sua boa forma namedida em que se encontram diante daqueles que supostamente no a tm, numprocesso flagrante de atualizao dos rituais sacrificiais. Esse ato valida os malefciosque sofreram para esculpirem o corpo. como se se vingassem do outro com amesma violncia com a qual se modelaram, atualizando a educao pela dureza qual Adorno (1995a) se referiu em Educao aps Auschwitz. Lembremos que hmuitos capoeiras e o pblico feminino disso no escapa que apresentam umcorpo cada vez mais trabalhado, malhado em academias e que no h ausncia,nesse processo, do uso de drogas.

    Pode-se dizer que a dupla-dependncia entre os corpos sarados e aquelesque precisam se enquadrar anuncia o processo de amor-dio pelo corpo ao qualHorkheimer e Adorno (1985) se referiram no pequeno texto Interesse pelo corpo. esse amor-dio pelo corpo que legitima tanto as relaes na sociedade como umtodo, quanto no segmento ao qual estamos nos referindo. Nas palavras deles,

    O amor-dio pelo corpo impregna toda a cultura moderna. O corpo se v de novoescarnecido e repelido como algo inferior e escravizado, e, ao mesmo tempo, desejadocomo o proibido, reificado, alienado. S a cultura que conhece o corpo como coisa quese pode possuir; foi s nela que ele se distinguiu do esprito, quintessncia do poder e docomando, como objeto, coisa morta, corpus (Horkheimer; Adorno, 1985, p. 217).

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    A justificativa de que se deve possuir um corpo que seja capaz de algunsmovimentos da capoeira legitima a mortificao. Os esteretipos e gestos corpo-rais atendem aos mecanismos que buscam criar uma imagem tornada mercado-ria ou produzida j sob seus auspcios , como a violncia presente, por exemplo,na constante equiparao aos ces da raa produzida em laboratrio, os pit bulls.Esse assemelhamento com o animal aparece com freqncia nas revistas referindo-se grife Red Nose, uma das principais patrocinadoras de alguns capoeiras4. Lem-bremos que a imagem de violncia relacionada capoeira pode ser datada desdeos tempos em que ela era uma prtica proibida por lei (sculo XIX), mas hojeganha novos matizes, j que, se em outros tempos era algo a ser reprimido, atual-mente torna-se legtima e manifesta na virilidade dos capoeiras.

    Corpo negro

    A brutalidade materializada nos pit-bulls acaba ganhando status de eficinciaquando relacionada aos capoeiras, evidenciando o corpo negro que se espera de-les, em mais uma expresso de racismo. Um corpo sempre em boa forma, malha-do, pronto para o combate e para a realizao de exerccios complexos do pon-to de vista gestual, disposto a qualquer momento tambm para a atividade sexual,enfim, um corpo que no tem um domnio razovel da gramtica da lngua como seespera que tenha da gramtica gestual, que traz marcas de maltrato internalizadasdesde o regime escravocrata, enfim, que construdo pelos que no o possuem eao qual destinam todas as suas mculas.

    O corpo que se diz negro acaba muitas vezes transitando entre o que e oque se espera que ele seja: extico, ertico, viril, eficiente, analfabeto e pobre. Essecorpo no pode ser definido apenas pela sua condio racial, e sim por suas con-dies sociais, ou seja, est na fronteira de vrios caminhos, atravessado por distin-tos vetores e em constante elaborao. A propsito, assim, como a condio demulher no necessariamente define em todos os quadrantes a prtica social daspessoas do gnero feminino, tampouco a de ser negro deveria delimitar com ex-clusividade a prpria localizao poltica.

    Outrora o corpo negro era apto ao trabalho escravo, hoje sem exclusivismostnicos , talvez paradoxalmente, almejado. Ambos se igualam, no entanto, nacondio de serem possudos como objetos reificados. No passado, para satisfazeresse desejo, bastava possuir algumas economias. J na contemporaneidade, o pos-

    4. Silva (2002) na sua dissertao de mestrado faz referncia a estas imagens, porm a partir de outroenfoque.

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    suir economias deve vir acompanhado de outros sacrifcios pessoais, envolvidoscom o capital simblico, pois hoje em dia temos que nos revestir, ou melhor, nosvestir do corpo almejado a partir de exerccios fsicos, cirurgias plsticas, sacrifciosalimentares e implantaes diversas. O corpo a ser possudo mudou sua condiode escravido, mas, na falta de uma elaborao do passado que lhe faa justia,segue sendo reificado, ainda que moldado nos instrumentos da academia ou daroda de capoeira e no mais somente na lavoura e na tortura. Pertence ao corponegro, e no s a ele, condio de vtima sacrificial. Nesse sentido,

    [...] a elaborao do passado [...] significa elabor-lo a srio, rompendo seu encanto pormeio de uma conscincia clara. [...] O gesto de tudo esquecer e perdoar, privativo dequem sofreu a injustia acaba advindo dos partidrios daqueles que praticaram a injustia.[...] a tendncia de relacionar a recusa da culpa, seja ela inconsciente ou nem to incons-ciente assim, de maneira to absurda com a idia da elaborao do passado, motivosuficiente para provocar consideraes relativas a um plano que ainda hoje provoca tantohorror que vacilamos at em nome-lo. [...] O desejo de libertar-se do passado justifica-se: no possvel viver a sua sombra e o terror no tem fim quando culpa e violnciaprecisam ser pagas com culpa e violncia; e no se justifica porque o passado de que sequer escapar ainda permanece muito vivo (Adorno, 1995b, p. 29).

    Paradoxos da relao com o orgnico

    No passado escravocrata a idia de animalizao em alguns casos os escra-vizados valiam menos que porcos ou mulas foi muito difundida por razes bastan-tes conhecidas. Nesta dinmica de bestializao que se localiza a assertiva dosautores da Dialtica do esclarecimento quando dizem que a compulso cruelda-de e destruio tem origem no recalcamento orgnico da proximidade ao corpo(Horkheimer; Adorno, 1985, p. 217). Essa idia refere-se, em primeiro momento, histria da humanidade, ao longussimo processo que fez o ser humano sair daposio quadrpede, liberar as mos e expandir o crebro, olhar o mundo a partirde uma outra referncia, expandir a viso a partir de uma posio ereta e, com isso,recalcar o olfato, privilegiado como sentido mais importante em outras pocas.

    O recalcamento orgnico talvez possibilite uma relao familiar estvel, certaordem na civilizao, uma relao com o outro de forma harmnica, ou seja, dchance para que haja uma sociedade que no seja baseada somente na fora fsicae na violncia, mas mediada pela racionalidade. Essa ao de afastar-se e controlaro orgnico evidentemente necessria e sem ela no estaramos aqui para tom-lacomo objeto de comentrio. O orgnico lembra a fraqueza, a incompletude, aimpotncia, o cansao e, no limite, a finitude e a morte. Por isso toda civilizao

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    volta-se contra ele. Essa relao no , no entanto, isenta de contradies. No jogode capoeira, como um espao-tempo de eventual suspenso, como de forma an-loga, alis, se argumenta habitualmente em relao ao esporte, ela no se d deuma forma linear. Na capoeira o encontro com o orgnico faz parte do convvioestreito com o outro na roda, por exemplo, no aperto de mo e no abrao quepode acontecer depois do jogo, principalmente na tradio angolana, que tem comouma das caractersticas principais a meticulosidade gestual. Isso pode possibilitar umcompartilhar constante de olhares e odores liberados durante o jogo. A cultura olugar onde o recalcamento se pe, mas tambm o territrio no qual se autoriza umcerto apego natureza, desde que seja ela, sempre, disciplinada5.

    A proximidade com a terra e uma maior plenitude na realizao concreta do sentidodo olfato no momento do jogo no nega o estatuto do corpo como tabu, mas o reafirmana condio de objeto de atrao e repulso. Isso se verifica na medida em que se tornacomum ver os capoeiras descontentes com seus corpos, quando estes os impossibilitam,dentre outras coisas, realizar movimentos cada vez mais espetaculares e frenticos.

    CORPOS, ADORNAMENTOS, SUBJETIVIDADES INCERTAS:

    GUISA DE CONCLUSO

    comum, desde muito, o adornamento e a modelao dos corpos na ca-poeira. O primeiro movimento ocorre, por exemplo, nas vestimentas, desde abads 6

    5. Quanto questo da proximidade do corpo com o cho, podemos dizer que uma condio, emalguma medida, permanente no desenrolar desse jogo que se pauta numa outra lgica do posicio-namento corporal (Reis, 1996). Isso permite ao corpo suspender a ordem do afastamento com oorgnico e com cho que lhe imposta na sociedade. Isto , uma das posturas mais constantes nojogo da capoeira de meia altura (mdia, geralmente na ginga que basicamente um movimentode troca de base dos ps), com o jogo permitindo que a funo do olfato se concretize durante eaps a sua realizao. Sem falar que as inverses corporais, assim como alertou Reis (1996), soconstantes no jogo da capoeira, sendo comum vermos movimentaes com a cabea ou com asmos ao cho, quando no as duas. Existe uma mxima na capoeira que diz: o capoeira s colocaps, mos e cabea no cho. Em outros termos, nesse contexto, o recalcamento do orgnico e oafastamento do ser humano da natureza a partir do distanciamento do cho no so uma regrageral e sofrem rupturas. A posio ereta dialoga com outros planos.

    6. Abad uma tnica branca de mangas compridas, largas, usada pelos negros sudaneses islamizados,denominados mals no Brasil. A palavra vem do Yorub Agbd vestido largo para homens,atingindo o tornozelo. aberto dos lados com bordados nas extremidades, ou no degolo e nopeito. Na contemporaneidade, abad pode referir-se roupa usada geralmente no carnaval dosblocos e nos carnavais fora de poca, denominados micaretas. Abad tambm refere-se a umgrupo de capoeira com este nome (Grupo de Capoeira Abad). Mas o abad ao qual nos referimos a cala branca usada na prtica da capoeira que, junto com uma camiseta, geralmente branca, seconstitui no uniforme de algumas escolas (Abrentes, 1999).

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    at malhas (todas as calas de capoeira que no-brancas) e bermudas que so utili-zados para a sua prtica. Os abads, em particular, tm sido vistos com logotipos dediversas naturezas, marcas ou grifes conhecidas, geralmente com patrocinadores e/ou nomes de academias, smbolos dos grupos ao qual se pertence etc., num pro-cesso de afirmao identitria, mas tambm de comercializao que transcende oslimites do adornamento, tendo como fim ltimo a reificao dos prprios sujeitos apartir do corpo. Se a hiptese de que o corpo na contemporaneidade adquiriu umavisibilidade que outrora no era possvel de ser pensada for verdadeira, ento essacentralidade pode ser justificada em alguma medida pelo seu adornamento comomarca fundamental da sociedade de consumo. Esta faz dele o prprio logotipo como intuito de exteriorizar as subjetividades orquestradas pelos mecanismos de con-trole social. Pode-se, a partir de tais formas de (des)subjetivao, angariar uma ima-gem mais privilegiada numa sociedade na qual no basta ser, h que parecer ter, jque o logotipo supera em importncia a prpria mercadoria, confere-lhe aparen-te singularidade (Trcke, 1995), uma espcie de fetiche que vem, lembremos, defeitio elevado ao quadrado.

    Observe-se que h um agravante nesta situao, o fato do indivduo acoplar sua (faltade) subjetividade marcas (logotipos) sobre as quais ele pouco ou nada sabe. Estes colocamaqueles que os usam sempre a servio das terceiras pessoas, como prega a regra da inds-tria cultural. Reduzem-se a meros coadjuvantes sociais, apoderados pelas mercadorias queos engolem e os enclausuram na iluso de que so eles que as consomem. ofuscada no serhumano aquela clareza de que as mercadorias no so seus semelhantes e, portanto, no possvel existir uma equiparao entre as relaes dos homens e mulheres com as coisas eaquelas travadas entre os seres humanos. Reside a o germe que coloca a coisificao dohumano na frente da humanizao das coisas, ainda to comum na contemporaneidade.

    O adornamento corporal no mundo da capoeira pode confirmar mais umavez o amor-dio que temos por ele a partir do momento em que no podemosnos livrar do corpo e ns o louvamos quando no podemos golpe-lo(Horkheimer;Adorno, 1985, p. 219). A relao de violncia que alguns capoeiras estabelecemcom o prprio corpo e com o dos outros, no limite, funciona como um processode lento e preciso morticnio. Ou seja, quando investimos no adornamento docorpo por diversos mecanismos (exerccio fsicos intensos, diminuio da alimenta-o para aqueles que querem emagrecer, altssima ou baixssima ingesto calrica,consumo de anabolizantes etc.), sem dvida eles podem diminuir a expresso maisviva do corpo. Adequamo-nos a uma era na qual a subjetividade escravizadavoluntariamente na falsa esperana de que sua exacerbao possa ser uma sada.Resta saber por que parecemos, com tudo isso, mais felizes. E tambm se deseja-mos saber o que leva isso a acontecer.

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    Bodies, culture, paradoxes: comments on capoeira game

    ABSTRACT: This essay is devoted to reflection on elements that compose the capoeira

    game, looking for its place in Afro-Brazilians culture, also in its impasses and paradoxes. It

    dedicates, for so much, special attention to the standardization of popular culture, to the

    social place of the black body and the expectations that are driven it: strong, virile, animal.

    Looking for the dialectics of culture in the self-domain and in the movement of approaching

    and estrangement of organics, the text is in charge of hierarchy dynamics and production

    of marks and corporal movements adapted to the consumption. It looks for, with that, to

    indicate the contemporary subjective uncertainty.

    KEY-WORDS: Capoeira; game; afro-brazilian culture; Stuart Hall; Theodor Adorno.

    Cuerpos, cultura, paradojas: observaciones sobre el juego de capoeira

    RESUMEN: El ensayo se dedica a la reflexin sobre elementos que componen el juego

    de capoeira, mientras procura su insercin en algunos lugares de la cultura negra, incluso

    en sus paradojas. Se dedica, por lo tanto, especial atencin a la estandarizacin de la

    cultura popular, al lugar del cuerpo negro y a las expectativas que le son lanzadas: fuerza,

    virilidad, animalidad. Al buscar la dialctica de la cultura en el dominio de s mismo y en el

    movimiento de aproximacin y alejamiento de lo orgnico, el texto se ocupa de las

    dinmicas de jerarqua y produccin de marcas y movimientos corporales adaptados al

    consumo. Con esto busca apuntar la incertidumbre subjetiva contempornea.

    PALABRAS CLAVES: Capoeira; juego; cultura afro-descendente; Stuart Hall; Theodor

    Adorno.

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    Recebido: 6 jun. 2005Aprovado: 7 ago. 2005

    Endereo para correspondnciaPrograma de Ps-graduao em Educao CED/UFSC

    Cx. Postal 476 Campus UniversitrioFlorianpolisSCCEP 88040-900