9-as logicas do recrutamento político
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Ciência Política - recrutamento políticoTRANSCRIPT
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Daniel Gaxie*
As lgicas do recrutamento poltico
A observao emprica mostra que a probabilidade de exercer um poder poltico (seja qual for) aumenta conforme a posio na hierarquia social e que a posio social de origem (medida, por exemplo, pela ltima profisso antes da entrada na poltica) dos polticos tanto mais elevada quanto mais altas as posies ocupadas na hierarquia poltica1.
Independentemente do cargo considerado (prefeito, gestor departa-mental, candidato s eleies legislativas, deputado ou ministro), pode-se estabelecer uma correlao estreita entre a representao poltica de um grupo e a posio social de seus membros2. Dados coletados por mais de um sculo atestam, por exemplo, que o ndice de representao po-ltica3 na Cmara dos Deputados aumenta regularmente quando se vai
Artigo publicado originalmente na Revue Franaise de Science Politique, vol. XXX, n. 1, fevereiro de 1980, sob o titulo Les logiques du recrutement politique. Direitos autorais Presses de Sciences Po e Revue Franaise de Science Politique. Traduo de Patrcia C. Ramos Reuillard. Reviso da traduo por Luis Felipe Miguel.
* Professor do Departamento de Cincia Poltica na Universidade de Paris I Panthon-Sorbonne (Paris, Frana). autor de La Dmocratie reprsentative (2003). E-mail: [email protected]
1 Analisei essas relaes em um trabalho sobre os fatores sociais do sucesso poltico: Gaxie (1983, p. 441-465). O material emprico que sustenta essas concluses no pode ser reproduzido aqui por falta de espao.
2 Medida pelo volume global do capital (econmico, social e/ou cultural) de que dispem os grupos de agentes.
3 ndice calculado desde modo: % de deputados originrios de uma dada categoria social % dessa categoria na populao ativa
Revista Brasileira de Cincia Poltica, n8. Braslia, maio - agosto de 2012, pp. 165-208.
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das classes populares s classes superiores e que todas as categorias que compem as classes superiores (grandes produtores rurais, industriais e grandes empresrios, profissionais liberais, altos executivos dos setores privado e pblico, professores e intelectuais diversos) esto frequentemen-te sobrerrepresentadas (ndice superior a 100) e, na maioria, fortemente sobrerrepresentadas, ao passo que todas as fraes das classes mdias ou populares (com a significativa exceo dos professores primrios) esto sub-representadas na Cmara, quando no esto ausentes4. Desse modo, a representao parlamentar fornece uma imagem invertida da estrutura social, visto que mais de trs quartos dos deputados provm do decil mais favorecido social e culturalmente da populao. Desse ponto de vista, a competio poltica interessa (em todos os sentidos), acima de tudo, a todos os agentes situados no topo da hierarquia social, ou melhor, s diferentes fraes das classes superiores. Correlatamente, as caractersticas sociais do corpo poltico tornam-se mais aristocrticas medida que se galga a hierarquia de poder e de prestgio dos cargos em competio. Assim, a porcentagem dos agentes que pertencem s classes superiores aumenta quando se avana nas hierarquias partidrias ou quando se vai dos prefeitos e gestores departamentais aos candidatos a deputados, dos candidatos aos eleitos ou dos deputados aos ministros.
Basta, portanto, deixar o livre jogo da concorrncia poltica agir para que agentes privilegiados pelas hierarquias sociais5 se apossem das posi-es de poder poltico e assim reforcem a supremacia social e a autoridade poltica que a marca. Nas condies de um mercado poltico simbolica-mente hierarquizado, a concorrncia poltica s pode ser uma forma de seleo social.
Confirmam-se essas afirmaes a contrario pela constatao de que apenas a introduo de disposies restritivas e decisrias pode contrariar as leis gerais do recrutamento poltico enunciadas acima. Introduzindo regras implcitas ou explcitas por exemplo, a cota mnima de represen-
4 Os nmeros variam um pouco conforme as relaes de fora eleitorais ou os regimes polticos, mas a relao global subsiste, essencialmente, ao longo de todo o perodo.
5 No somente as hierarquias entre os grupos sociais sob o aspecto do capital econmico ou cultural, mas tambm as hierarquias fundadas na origem tnica, na faixa etria ou no sexo.
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tao feminina, adotada pelo congresso de Nantes do Partido Socialista, ou a preferncia do Partido Comunista pelos quadros de origem operria ou popular nas promoes internas , as organizaes polticas podem impedir parcialmente a lgica seletiva dominante da competio poltica. Alis, no PCF, onde se v a maior originalidade do corpo poltico, percebe--se mais claramente como as modalidades do sucesso poltico se encontram expressas conforme a lgica prpria da competio interna dos partidos ou, na verdade, conforme as caractersticas sociais de suas lideranas. Ao mesmo tempo em que assumiam o poder interno, os dirigentes comunistas de origem operria promoveram a cnone da biografia militante as carac-tersticas sociais, principalmente a origem de classe, em nome das quais pretendiam dirigir o partido. E ao preo de um controle social e de uma vigilncia constante que os quadros encarregados da cooptao impem, contra os mecanismos externos que penetram o partido e trabalham em sentido inverso, as normas de recrutamento, que so sua prpria justificativa de existncia enquanto dirigentes e, ao mesmo tempo, o fundamento mais legtimo de seu poder interno.
O caso particular do PCF permite, desse modo, determinar como um grupo hegemnico dentro de um partido e socialmente homogneo pode refratar as modalidades da concorrncia poltica, perpetuando o poder de seus membros e contribuindo para possibilitar relaes duradouras de trocas com diversas categorias, classes ou fraes de classes.
Correlatamente, as relaes privilegiadas que se estabelecem entre os or-ganismos polticos e certos grupos sociais tendem a especificar as condies gerais da concorrncia e do sucesso polticos, favorecendo o recrutamento de quadros em consonncia com a base social do partido e reforando os laos entre o partido e sua base.
O estudo das condies sociais do sucesso poltico deve, portanto, ser aprofundado pela anlise das modalidades atravs das quais as leis gerais do recrutamento poltico se encontram expressas e particularizadas conforme a lgica prpria da concorrncia interna a cada organizao, uma maneira entre outras de estudar o problema clssico das relaes entre os partidos e as classes ou fraes de classes.
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O recrutamento social diferencial das lideranas partidrias6
Independentes, Republicanos independentes (RI) e Partido Republicano (PR)7
Liderado por agentes de origem especialmente elevada, o Partido Re-publicano fornece uma espcie de imagem arquetpica da seleo social do corpo poltico. As classes mdias esto quase excludas, e as classes populares se encontram totalmente relegadas de sua bancada parlamentar ao longo da histria (Tabela 1). Se considerarmos que a maioria de seus agricultores eleitos so, na verdade, confortveis proprietrios de terras, mais de 98% de seus quadros pertencem s classes superiores.
No entanto, o recrutamento no se efetua ao acaso nessas classes, mas privilegia algumas de suas fraes. o caso dos profissionais liberais que, j fortemente sobrerrepresentados no Congresso, o so ainda mais no PR. Dentro dessa tradio poltica, seu peso mximo desde o incio do sculo XX e seu declnio, embora sensvel, manifestou-se mais tardiamente do que em outras situaes.
A situao idntica no caso dos agricultores, cujos quadros constituem a segunda originalidade dos deputados republicanos. Pouco presente no
6 Na falta de dados mais gerais, a anlise das caractersticas sociais das lideranas partidrias limitar-se- aqui s dos parlamentares. Essa escolha forada introduz um vis nas concluses, pois, conforme os partidos, os deputados representam de modo desigual e imperfeito os dirigentes. Pode-se, en-tretanto, considerar que a posio social de origem dos deputados uma aproximao bastante boa daquela das lideranas. Note-se, alis, que as concluses que tiraremos valem tambm para os dados relativos aos candidatos s eleies que, por falta de espao, no puderam ser apresentados neste artigo.
Por conveno, a posio social de um agente definida a partir da ltima profisso exercida. Os polticos s foram considerados como permanentes quando nunca exerceram outra atividade. A caracterizao de um poltico a partir de uma profisso que exerceu em um passado distante e por um curto perodo , sem dvida, sociologicamente contestvel quando se trata de apreciar sua po-sio social real e explicar suas prticas. Em contrapartida, ela me parece pertinente para analisar as condies sociais do recrutamento poltico. Portanto, a linha de raciocnio deste artigo ser baseada principalmente na categoria social de origem dos quadros polticos que ser distinguida da origem social medida, por exemplo, pela profisso do pai , sem levar em conta o grau de profissionalizao desses quadros. No geral, retomei as nomenclaturas e as convenes do Instituto francs de estatsti-cas e anlises econmicas (INSEE), salvo no caso dos jornalistas e dos permanentes dos partidos, que agrupei com as profisses intelectuais diversas.
7 Tentei raciocinar sobre um perodo histrico suficientemente longo para atenuar as discrepncias estatsticas conjunturais e para considerar a evoluo histrica. Assim, fui levado a fazer agrupa-mentos um tanto arbitrrios (caso do PR, ligado aos Independentes, ou do CDS, ligado ao MRP por intermdio do CD). Por conveno, e para evitar enumeraes cansativas, utilizarei a ltima legenda em caso de modificao.
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169As lgicas do recrutamento poltico
Congresso, essa categoria, composta principalmente de proprietrios ou de grandes produtores, frequentemente de origem nobiliria, ocupa um importante lugar neste partido, ainda que em declnio.
Grande parte dos deputados republicanos tambm vem do segmento dos industriais e grandes comerciantes. Todavia, a originalidade do PR menos clara aqui. O lugar dessa categoria nos quadros do PR , de fato, pouco superior ao que ela ocupa na Cmara (ao passo que era nitidamente superior na Quarta Repblica8*), e outros partidos, como a RPR ou o CDS, caracterizam-se por uma maior proporo de deputados originrios desses meios. Diferentemente de outras fraes do polo econmico, os altos execu-tivos do setor privado tm pouco peso entre os deputados republicanos, at menos do que na Cmara como um todo. Em contrapartida, a porcentagem dos deputados originrios da alta funo pblica aumentou nitidamente desde 1958; entretanto, pouco maior do que a mdia da Cmara, sendo at inferior da RPR. Em compensao, a originalidade do PR muito mais clara no que tange ao polo intelectual. As profisses intelectuais, sobretudo os professores, esto de fato bem menos representadas nessa organizao em todos os perodos de sua histria do que no Congresso e seu declnio particularmente forte, j que os professores so quase sempre eliminados de seus quadros durante a Quinta Repblica.
As lideranas do Partido Republicano provm, portanto, de um setor muito limitado do espao social coberto pelas classes superiores9 e se carac-terizam por seu pertencimento s categorias tradicionais e no assalariadas do polo econmico (entre 50 e 70% de grandes produtores rurais, indus-triais e profissionais liberais, conforme as legislaturas). Embora as classes mdias estejam muito pouco representadas no partido, seus raros agentes so originrios10 do polo econmico dessa classe (artesos e pequenos co-merciantes). A esses membros tradicionais vieram recentemente se somar lideranas oriundas da alta funo pblica, frequentemente ligadas, por suas origens familiares, fortuna pessoal, alianas matrimoniais ou carreira, aos proprietrios de terras e burguesia econmica de velha cepa.
8 * A Terceira Repblica o regime poltico da Frana de 1870 a 1940; seguida da Quarta Repblica (1946-1958) e da atual Quinta Repblica, regida pela Constituio de 1958 (NT).
9 Sobre esse ponto, ver o esquema da pgina 191. 10 Conforme o princpio de homologia formulado mais adiante.
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172 Daniel Gaxie
Unio pela Nova Repblica (UNR), Unio dos Democratas pela Repblica (UDR) e Coalizo pela Repblica (RPR)
Embora o ndice de representao na RPR, assim como no PR, aumente conforme a posio na hierarquia social, as lideranas deste partido ocu-pam posies mais baixas do que as republicanas. A bancada parlamentar da RPR, cujos membros pertencentes s classes superiores so de origem social mais baixa do que os republicanos11, caracteriza-se ainda por uma porcentagem maior de deputados das classes mdias, estando ausentes da bancada (Tabela 2) suas fraes mais desfavorecidas (empregados administrativos) e as classes populares, como no PR. Alm de sua origem social mais baixa, as lideranas da RPR se distinguem pelo lugar ocupado pelos industriais e, sobretudo, pelos altos executivos dos setores pblico e privado, cujo peso mximo. Os profissionais liberais tambm esto muito representados, mas sensivelmente menos do que no PR. A RPR se diferencia igualmente deste pela sub-representao dos agricultores e pela presena do polo intelectual. Os professores so menos numerosos na RPR do que no Congresso, e o declnio que enfrentam nesse partido mais ou menos paralelo ao que sofreram nessa instituio, mas, contrariamente ao PR, eles no esto totalmente ausentes da bancada parlamentar.
A distribuio das lideranas que pertencem s classes mdias homloga constatada nas classes superiores. O polo econmico est representado em propores anlogas s do PR, mas, como no caso das classes superiores, a RPR recruta igualmente entre as fraes assalaria-das (gerentes), e at mesmo no polo intelectual (professores primrios), porm mais raramente.
Pelo lugar ocupado pelos profissionais liberais, industriais e grandes comerciantes nos cargos diretivos, a RPR mostra-se portanto ligada, as-sim como o PR (excetuando os agricultores), burguesia econmica no assalariada, especialmente s fraes mais baixas, menos tradicionais, com menos capital cultural ou de ascenso mais recente. Ela ocupa, em segundo lugar, uma superfcie mais ampla do espao social das classes superiores12, j que um nmero significativo de suas lideranas oriundo dos dirigentes assalariados dos setores pblico e privado e mesmo de certos
11 O pai de 84% dos deputados RI eleitos em 1968 e pertencentes s classes superiores pertencia a essas mesmas classes contra 67% dos eleitos da UDR (Cayrol, Parodi e Ysmal, 1973, p. 52-53).
12 Cf. esquema da pgina 190.
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173As lgicas do recrutamento poltico
meios intelectuais. A originalidade da RPR em relao aos outros partidos vem, ento, mais do lugar privilegiado que reserva aos altos executivos da administrao ou das empresas privadas do que da presena da burguesia econmica e liberal.
Assim como no PR (e, conforme veremos, no CDS), os dirigentes da RPR esto principalmente ligados, por suas origens, ao polo econmico das classes superiores (secundariamente, tambm ao das classes mdias) e aos setores da alta funo pblica ligados ao polo econmico; porm, a RPR se diferencia de seus aliados puxando seu recrutamento mais para as fraes centrais, at mesmo intelectuais13, das classes superiores (e mdias)14.
Na medida em que essas nuanas no recrutamento expressam oposies sociais, poderamos dizer que as relaes entre a RPR e o PR so o espelha-mento, na ordem poltica, das relaes entre a nova burguesia econmica (com mais frequncia) assalariada e a burguesia econmica tradicional.
13 Id.14 Note-se que os efeitos produzidos pela homologia de estruturao das classes mdias e superiores
se manifestam plenamente aqui. Sobre esse ponto, cf. infra.
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174 Daniel Gaxie
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176 Daniel Gaxie
Movimento Republicano Popular (MRP), Centro Democrata (CD), Progresso e Democracia Moderna (PDM) e Centro dos Democratas Sociais (CDS)
Embora existam vnculos organizacionais entre as mudanas sucessivas da democracia crist, os dados relativos a suas lideranas levam a duvidar da existncia de uma verdadeira tradio poltica. De fato, grande a dis-tncia entre a composio social dos crculos dirigentes do MRP e do atual CDS. O MRP se caracterizava pela sub-representao habitual das classes mdias e pela excluso das classes populares, alm do lugar, superior mdia da Cmara, das classes mdias (Tabela 3). As caractersticas do CDS so, ao contrrio, muito prximas do PR, j que as classes populares esto ausentes e as classes mdias se encontram pouco presentes (ndice de representao inferior a 10). O MRP apresentava uma configurao original que inclua os altos funcionrios dos setores pblico e privado (altos executivos e professores do ensino privado), categorias nitidamente mais representadas no MRP do que na Cmara at o incio da Quinta Repblica. Os industriais, os profissionais liberais e os produtores rurais eram, ao contrrio, proporcionalmente menos numerosos nesse partido na Quarta Repblica. Como com as classes superiores, eram as fraes assalariadas das classes mdias (executivos do setor pblico e emprega-dos administrativos) que lideravam esse partido. Na Quinta Repblica, o lugar dos altos executivos do setor privado e do polo intelectual diminuiu progressivamente em detrimento dos profissionais liberais, dos agricul-tores e dos industriais e, nos ltimos anos da dcada de 1970, dos altos funcionrios. O CDS tornou-se o partido em que o peso dos industriais mximo, especificidade considervel da mesma forma que o lugar ocupado pelos agricultores, que se revela frequentemente muito prximo daquele que lhes reserva o PR, s vezes superior.
A posio dos lderes dos partidos herdeiros da democracia-crist se deslocou, portanto, na estrutura das classes superiores. medida que se aliava aos Independentes e depois aos Radicais, o movimento democrata-cristo passou das fraes intermedirias assalariadas das classes superiores ao polo econmico tradicional. Esse deslocamento estrutural (e, correlatamente, a transformao de sua base social?) pro-vocou uma mudana das caractersticas sociais do partido. Os lderes
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177As lgicas do recrutamento poltico
apresentam agora os traos de um agrupamento muito comparvel ao do PR (declnio acentuado do polo intelectual, presena da burguesia econmica no assalariada e da alta funo pblica). Do mesmo modo, a exemplo do que foi observado no PR, a representao das classes mdias s garantida (salvo presena fugaz de alguns professores primrios) por seu polo econmico (pequenos comerciantes). Como se as transforma-es sociais ocorridas na cpula do CDS e as afinidades com o pessoal poltico do PR resultantes disso fizessem parte do movimento de alianas esboado em 197415*.
15 * Quando os democratas cristos, em declnio, se aliaram aos centristas, radicais e liberais na UDF, partido fundado por iniciativa do ex-presidente Valry Giscrad d'Estaing (NT).
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178 Daniel Gaxie
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180 Daniel Gaxie
Seo Francesa da Internacional Socialista (SFIO) e Partido Socialista (PS)
A SFIO j havia perdido amplamente, na Quarta Repblica, o carter operrio que ainda mantinha ao final da Terceira16, e essa tendncia s se reforou com a criao do Partido Socialista (Tabela 4). Embora no estejam completamente ausentes, os deputados originrios das classes populares ocupam agora um lugar muito marginal no partido. A maior originalidade do Partido Socialista , em compensao, a presena de lideranas provenientes das classes mdias: ainda que estejam sub-re-presentadas em relao ao peso de suas classes de origem na populao ativa e que seus quadros estejam em declnio17, sua presena constante e est longe de ser pequena.
Portanto, reencontramos no PS a tendncia geral excluso dos agentes social e culturalmente desfavorecidos do exerccio das atividades polticas e tambm o modo como a lgica de funcionamento de uma organizao permite limitar esses efeitos, j que as classes mdias, pouqussimo presen-tes no PR, na RPR e no CDS, fornecem cerca de um quarto dos membros da bancada parlamentar socialista.
Essa reexpresso das leis gerais da seleo do pessoal poltico de acordo com a lgica da concorrncia interna do partido (e a configurao da base social) se manifesta ainda pelo recrutamento bastante varivel nas fraes das classes mdias. Os empregados administrativos foram progressivamen-te excludos medida que se elevava a origem das lideranas do PS e que se fortalecia o efeito de seleo social da competio interna, e os peque-nos comerciantes esto tradicionalmente sub-representados nos crculos diretivos do partido, assim como, alis, em seu eleitorado (cf. infra). O PS tende, ao contrrio, a favorecer as novas classes mdias do setor privado (executivos, servios mdicos e sociais) que, embora proporcionalmente
16 15% dos deputados socialistas eleitos entre 1898 e 1940 so ex-operrios (contra cerca de 35% de operrios na populao ativa do perodo).
17 Pelo efeito acumulado da inrcia do recrutamento parlamentar e da diferena de origem entre os quadros dirigentes da SFIO e do Partido Socialista, a posio social dos parlamentares socialistas , em mdia, mais baixa do que aquela dos dirigentes do partido. Tudo leva a pensar (principalmente a evoluo da composio da bancada parlamentar desde 1958, traada na Tabela 4) que essa de-fasagem vai progressivamente ser reabsorvida. Os nmeros apresentados aqui a partir dos efetivos parlamentares oferecem uma imagem um pouco mais popular dos quadros dirigentes do PS do que ela na realidade.
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181As lgicas do recrutamento poltico
sub-representadas, no sofrem o desgaste das demais fraes, sobretudo os professores, apesar do declnio acentuado de sua presena na liderana do PS, perceptvel desde o fim da Terceira Repblica.
Veem-se relaes homlogas entre as diversas fraes da classes su-periores, que se encontram, no PS e nos outros partidos, amplamente sobrerrepresentados18, mas de modo desigual. Em suma, pode-se dizer que a sobrerrepresentao relativa no PS aumenta quando se vai do polo econmico ao intelectual. Desde 1958, o peso dos grandes comerciantes e dos industriais maior na bancada parlamentar socialista do que na populao ativa, mas em uma proporo sensivelmente menor do que a mdia da Cmara ou, a fortiori, do que o PR, a RPR ou o CDS. De resto, a criao do novo Partido Socialista acentuou essa tendncia, j que, pela primeira vez desde a Quarta Repblica, essa categoria apresenta, em 1978, um ndice de representao inferior a 100 (Tabela 4). Em contrapartida, o peso relativo dos altos executivos do setor privado quase no tem varia-do ao longo dos ltimos anos19 e permanece quase na mesma ordem de grandeza das demais bancadas parlamentares, exceo do PCF; contudo, os dirigentes socialistas originrios dessa categoria apresentam, como veremos, caractersticas atpicas.
O polo econmico das classes superiores se mostra, portanto, desfa-vorecido pela concorrncia interna no Partido Socialista, como confirma, alis, a ausncia de progresso do peso relativo dos industriais ou dos altos executivos do setor privado quando se elevam o poder ou o prestgio dos postos em competio no PS20. Do mesmo modo, embora os profissionais liberais e os altos executivos do setor pblico estejam sobrerrepresentados no PS, quanto mais alta a hierarquia, seu ndice de representao mais baixo do que o do PR, do CDS ou da RPR21 e se revela at inferior mdia da Cmara para os profissionais liberais.
18 exceo dos grandes produtores rurais, de um lado, e de certos setores do polo intelectual, como os artistas, do outro.
19 A variao entre os dados de 1958 e 1962 (extrados de Mattei Dogan) e os meus se explica provavel-A variao entre os dados de 1958 e 1962 (extrados de Mattei Dogan) e os meus se explica provavel-mente por diferenas nas convenes de codificao.
20 Por falta de espao, no podemos reproduzir os elementos empricos que sustentam essa afirmao.21 Note-se tambm que o ndice de representao dos altos executivos do setor pblico est em
regresso no OS, ao passo que aumenta ou fica mais ou menos estvel nos outros partidos. Do mesmo modo, o declnio dos profissionais liberais muito mais acentuado na bancada socialista do que nas demais bancadas.
-
182 Daniel Gaxie
Em compensao, a originalidade do PS mais marcada pelo recruta-mento dos professores, cuja representao relativa aumentou muito desde a criao do novo Partido Socialista e permanece, de longe, mxima na bancada parlamentar socialista no decorrer da Quarta e Quinta Repblicas.
Como outros partidos, o PS passou, portanto, por um deslizamento estrutural ou por vrios deslizamentos em sua histria. Distancia-se do polo intelectual na Quarta Repblica e incio da Quinta, perodo no qual o peso dos industriais, dos profissionais liberais, dos executivos do setor privado e dos altos funcionrios tende a aumentar, ao passo que o dos professores diminui. Reaproxima-se do polo intelectual e se distancia correlatamente do polo econmico nos anos 1970. Mais uma vez, por trs da aparncia da perenidade ou da continuidade organizacional, dever-amos falar de vrios partidos que assumiram sucessivamente as mesmas etiquetas polticas.
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183As lgicas do recrutamento poltico
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185As lgicas do recrutamento poltico
Partido Comunista Francs (PCF)Embora a lei geral que estabelece que os grupos sociais esto ainda mais
representados no Congresso quando ocupam uma posio mais alta na hie-rarquia social funcione no PCF (Tabela 5), os lderes deste partido apresentam uma originalidade na relao com os outros partidos. De fato, apesar de seu ndice de representao aumentar quando se vai das classes populares s classes superiores ao longo de toda sua histria, o PCF o nico partido no Congresso em que as classes populares se beneficiam de to ampla representao, em que as classes mdias so constantemente mais numerosas do que no eleitorado e onde as classes superiores so to pouco sobrerrepresentadas (Tabela 5).
Com efeito, talvez contrariamente imagem dominante do PCF, o peso das classes superiores maior no partido do que na populao ativa. Esse fenmeno, que tende a se acentuar, verificado em todos os nveis da hierarquia interna, mas se revela muito particular nos mandatos eletivos submetidos aos julga-mentos sociais externos ao partido. A porcentagem dos agentes que pertencem s classes superiores , de fato, mxima entre os parlamentares, sobretudo entre os candidatos s eleies legislativas ou s recentes eleies europeias de 1979, que acentuaram uma evoluo perceptvel desde 1958. Todavia, o papel das classes superiores no partido rapidamente encontra limites. Em primeiro lugar, nitidamente mais fraco do que aquele constatado nos outros partidos. No varia de modo significativo conforme a posio na hierarquia interna e at mesmo mais limitado nos postos decisivos da estrutura do poder interno, como os secretariados federais, o comit central ou o gabinete poltico, do que nas posies mais secundrias na escala dos valores prprios ao PCF, como as candidaturas s eleies ou os mandatos eletivos22. Por fim, tange apenas a setores limitados das classes superiores. Ainda que a origem dos parlamentares comunistas originrios dos meios favorecidos parea se diversificar medida que seus quadros avanam, o polo intelectual e, secundariamente, os profis-sionais liberais23 so as nicas fraes regularmente representadas24.
22 Portanto, no PCF as caractersticas da bancada parlamentar podem ser consideradas como o indicador mais aproximado daquelas das lideranas.
23 Mais uma vez, a situao da bancada parlamentar um tanto particular, pois os profissionais liberais no exercem, na hierarquia interna do partido, um papel comparvel ao dos intelectuais. S estes escapam, ocupando posies dominadas na estrutura interna do poder, seleo social invertida praticada pelo PCF.
24 Salvo em 1958 e 1968. Ao que parece, os efetivos dos deputados originrios das classes superiores regridem quando a conjuntura eleitoral menos favorvel ao PCF. Como se as normas de recrutamento que lhe so prprias atuassem mais quando ele se volta para seus feudos eleitorais proletrios.
-
186 Daniel Gaxie
As demais fraes s aparecem de vez em quando (altos executivos do setor privado) ou esto ausentes (industriais, altos funcionrios). Por conseguinte, o PCF recruta em um setor ainda mais limitado do espao social das classes superiores do que o PS. Somente os intelectuais, que apresentam traos espe-cficos, conforme veremos, tm alguma chance de participar de sua direo.
O recrutamento nas classes mdias homlogo a essa representao das classes superiores. O polo econmico, praticamente ausente, s aparece de vez em quando por intermdio dos artesos (situados mais abaixo na hierar-quia das profisses independentes e mais prximas dos operrios em razo das condies de vida); mais uma vez, o polo intelectual que se encontra favorecido, por meio dos professores primrios. Menor do que na SFIO na Terceira e Quarta Repblicas, o peso dessa categoria se tornou comparvel e at ligeiramente superior ao observado no PS. Como nesse partido, mas menos nitidamente, seus quadros parecem estar em declnio. Como se o aumento global da origem social dos deputados comunistas levasse os professores uni-versitrios a superar os professores primrios. surpreendente a homologia entre as caractersticas dos deputados comunistas, cujas posies sociais de origem so, de longe, as mais baixas de todos os deputados, e a representao diferencial das classes mdias na bancada. So, de fato, as fraes mais baixas dos executivos (principalmente os tcnicos) que vm se somar s fraes mais baixas das classes mdias (empregados administrativos) ou da hierarquia dos meios intelectuais (professores primrios) e parecem alis substitu-los.
Entretanto, a caracterstica principal do PCF, de resto bem conhecida, que os agentes sociais que pertencem s classes populares estejam fortemente representados no partido. Numerosos sinais revelam entretanto que, mesmo em um partido que se pretende representativo da classe operria, a tendncia excluso poltica dos agentes mais desfavorecidos no desaparece totalmente. A lgica social que prejudica os agentes social e culturalmente desfavorecidos na competio poltica de tal modo pregnante que seus efeitos se fazem sentir at no PS, no entanto organizado para derrub-la. Os operrios de fbrica (em geral, mais operrios qualificados do que no qualificados ou trabalhadores manuais) e mais ainda as classes populares como um todo esto sempre sub-representados entre os candidatos s eleies legislativas e os deputados (Tabela 4) ou, de modo mais significativo, nos comits federais.
Embora no escape totalmente ao efeito de seleo social induzido pela competio poltica, o PCF consegue ainda assim fre-lo. A vontade de pri-
-
187As lgicas do recrutamento poltico
vilegiar os militantes de origem popular que caracteriza o recrutamento das lideranas claramente percebida na composio social do grupo parlamentar.
Tanto os empregados quanto os operrios esto proporcionalmente menos representados na bancada do que outras categoriais, mas seus quadros so (eram?) tradicionalmente comparveis a seu peso na populao ativa, ao passo que as condies da concorrncia poltica, em outros partidos, levam sua eliminao. O peso das classes populares tende, de resto, a aumentar conforme a posio na hierarquia partidria, sobretudo quando postos decisivos esto em jogo (caso dos secretrios federais), e se manifesta mais nitidamente nos espaos reais de poder, como o comit central ou o gabinete poltico, do que na bancada parlamentar.
Pelo desejo poltico de privilegiar a origem social em detrimento eventual da competncia lingustica, oratria, estilstica, cultural ou corporal so-cialmente dominante, o PCF criou um mercado poltico especfico. Nele, as qualidades socialmente reconhecidas encerram um trao negativo e, ao contrrio, os traos de comportamento, que em outras situaes constituem obstculos ascenso poltica25, so neutralizados ou, na maioria das vezes, se encontram consciente ou inconscientemente valorizados, acabando por se impor a todos que tentam se implantar nesse mercado, independentemente da violncia que alguns possam ento sofrer. Os mecanismos internos que concorrem para esse recrutamento na contracorrente se atenuam, por exemplo, quando a escolha dos candidatos s eleies deve compor com a imagem social do poltico ou quando o PCF se esfora para apagar as asperezas que freiam sua progresso e o processo de seleo social, recal-cado mas sempre presente, faz novamente sentir seus efeitos. O aumento e a diversificao recentes da representao das classes superiores na bancada comunista e a regresso correlata da presena dos operrios e dos empregados (os ndices de representao de 1978 so os mais baixos da histria do PCF: 83 para os operrios e 60 para os empregados) talvez correspondam a um fenmeno dessa natureza. Note-se, no entanto, que as defesas habituais continuam a agir j que so principalmente as classes mdias (empregados administrativos, professores primrios), menos protegidas pela lgica seletiva prpria ao PCF, que parece sofrer os contragolpes das transformaes, alis ainda tnues, das lideranas do PCF.
25 Por exemplo, a linguagem ou o sotaque.
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188 Daniel Gaxie
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189As lgicas do recrutamento poltico
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190 Daniel Gaxie
Estrutura do campo poltico e estrutura socialO aumento regular do ndice de representao poltica conforme a posio
na hierarquia social atesta que o efeito de seleo social inerente competio poltica se manifesta, ainda que desigualmente, em todos os partidos. Essa se-leo se exerce, entretanto, de maneira muito especfica, ou seja, ao que parece, de acordo com os laos que cada organizao mantm com a estrutura social.
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191As lgicas do recrutamento poltico
Partidos, classes e fraes de classeAs lideranas de todos os partidos com exceo do PCF pertencem
s classes superiores, mas vm de fraes nitidamente diferenciadas. O es-pectro das posies dentro do campo poltico se apresenta, alis, como um decalque quase perfeito da estrutura das classes superiores26.
A cada frao relativamente bem definida das classes superiores corresponde uma organizao poltica na qual a ascenso de polticos originrios da frao parece favorecida. possvel, desse modo, detectar correspondncias entre a burguesia econmica tradicional e a coalizo UDF (PR e CDS), entre a nova burguesia assalariada do setor pblico e privado e a RPR, entre uma frao da funo pblica superior e o PS, entre o campo intelectual e o PS ou o PCF (cf. esquema 1). Evidentemente, essa correspondncia no deve ser analisada como uma relao unvoca entre fraes ou subfraes das classes superiores e dos partidos polticos. O recrutamento do PR e do CDS privilegia os grandes produtores rurais, os profissionais liberais, os industriais e os grandes comer-ciantes, ou seja, uma parte relativamente significativa do espao social coberto pela burguesia econmica. Os altos executivos do setor pblico ocupam, na RPR, um lugar mais importante do que nas outras organizaes, mas os exe-cutivos do setor privado esto na mesma situao. J o PS recruta boa parte de suas lideranas na funo pblica superior, sobretudo entre os professores.
exceo do PCF, no qual os intelectuais so praticamente os nicos membros das classes superiores com representao significativa, nenhum partido est ligado de modo exclusivo a uma frao especfica. Inversamente, nenhuma frao v sua representao limitada a um nico partido. No h partido dos intelectuais, como tampouco dos profissionais liberais ou da
26 Pareceu-me interessante verificar se a estrutura das classes superiores e, mais precisamente, as lutas simblicas entre fraes de classes, descritas por Bourdieu e Saint-Martin (1976, p. 4-81) exerciam um efeito sobre o processo de recrutamento poltico. Para esses autores, o espao social submetido a dois princpios de estruturao: de um lado, o volume do capital possudo pelos agentes e, de outro, a estrutura desse capital, principalmente a parte relativa do capital econmico (rendas, patrimnio) e do capital cultural (diplomas, usos culturais). Se o pertencimento de classe est ligado ao volume do capital, o pertencimento frao de classe depende da estrutura desse capital. Assim, nas classes mdias e superiores, Pierre Bourdieu distingue um polo intelectual dominado, caracterizado pela predominncia relativa do capital cultural em relao ao capital econmico, e um polo econmico dominante, em que o capital econmico sobrepuja o capital cultural. Por fim, certas categorias ocu-pam uma posio mediana na estrutura das classes assim constituda, umas puxando para o polo intelectual, outras para o polo econmico. Pode-se resumir essa concepo do espao das posies sociais pelo esquema 1, que segue. conhecido o lugar que Bourdieu atribui a essa luta das fraes da classe dominante para a explicao dos comportamentos sociais nas reas mais diversas. Era ento interessante testar a sua pertinncia para explicar o funcionamento do campo poltico.
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192 Daniel Gaxie
burguesia econmica27. Embora a correspondncia entre partidos polticos e fraes de classes no deva ser entendida de modo muito estrito, existem laos muito claros entre os grandes polos que estruturam as classes superiores e as organizaes polticas. Resultados da Quinta, Quarta ou mesmo Terceira Repblicas indicam que o polo econmico tanto mais representado quando se vai, conforme as taxionomias em vigor no campo poltico, da esquerda para a direita ou para o centro: em 1978, o ndice de representao dos industriais e grandes comerciantes de 0 no PCF, 91 no PS, 900 no PR, 1773 na RPR e 2436 no CDS; o ndice dos profissionais liberais respectivamente de 288 no PCF, 1588 no PS, 2138 no CDS, 3000 na RPR e 3700 no PR; enfim, para os altos executivos do setor privado, os nmeros so respectivamente de 43 (PCF), 350 (OS), 346 (CDS), 350 (RPR) e 504 (PR)28.
Nesse polo econmico, parece ser possvel distinguir uma frao tradicional, proprietria dos meios de produo, cuja representao via de regra mxima nas formaes da atual UDF, e uma nova burguesia econmica assalariada, cujo peso igualmente importante na UDF29, mas ainda maior na RPR30.
A porcentagem dos deputados originrios dos meios intelectuais diminui, ao contrrio, quando se vai da esquerda para a direita ou para o centro (em 1978, o ndice de representao dos professores passa de 736 no PCF para 2409 no PS e depois diminui novamente para 827 na RPR, 664 no CDS e 636 no PR31).
J a relao entre o lugar ocupado pelos altos executivos do setor pblico no espao das posies sociais e a estrutura do campo poltico menos clara e mais complexa. Exercendo no estado atual das relaes sociais uma espcie de hegemonia no campo poltico, os altos funcionrios esto presentes em quase todos os partidos. Muito pequeno no PCF, seu peso aumenta, entretanto, quando se vai do PS RPR e decresce ligeiramente no CDS e no PR. Essa categoria parece ocupar no espao poltico uma
27 Observe-se que certas subfraes, principalmente as mais ligadas ao campo intelectual (artistas, pes-Observe-se que certas subfraes, principalmente as mais ligadas ao campo intelectual (artistas, pes-quisadores) esto praticamente ausentes da competio poltica. O polo intelectual s intervm por meio de sua frao institucional, que se volta em muitos aspectos para os executivos do setor pblico.
28 Os dados obtidos para 1978 apresentam algumas diferenas de detalhes com os dados dos anos anteriores e infirmam parcialmente as relaes enunciadas acima, extradas do conjunto das sries estatsticas.
29 E mesmo do PCF, mas, nesse caso, os executivos apresentam caractersticas atpicas que analisaremos mais adiante.
30 Essa relao menos clara do que as outras e tem inmeras excees, por exemplo, em 1978. 31 Essa relao igualmente verificada no interior dos partidos. Os professores eram, por exemplo, mais
numerosos na esquerda gaullista do que na UDR como um todo.
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193As lgicas do recrutamento poltico
posio intermediria comparvel quela ocupada no espao social pelas classes superiores. Seu peso se reduz quando um partido se volta para o polo intelectual (PS, sobretudo PCF) ou, menos nitidamente, para o polo econmico tradicional (PR e CDS).
Todavia, essas relaes no devem ser interpretadas em termos mec-nicos. Afirmar, por exemplo, que os partidos agrupados na UDF mantm relaes privilegiadas com as fraes antigas e tradicionais da burguesia econmica no equivale a dizer que todos os deputados da UDF perten-cem a essas fraes. Salvo excees (PCF e algumas vezes PR), todas as fraes das classes superiores tm representao em todos os partidos. No mximo, constata-se que essa representao desigual nos partidos e que a ascenso poltica de agentes originrios de fraes determinadas mais fcil em algumas organizaes do que em outras, mesmo que as diferenas s vezes sejam tnues32.
As relaes entre as formaes polticas e as fraes de classes superiores devem ser interpretadas em termos de tendncias, atestadas pelo grau de fa-vorecimento da ascenso poltica de agentes originrios de categorias sociais determinadas neste ou naquele partido. Em outras palavras, a existncia de correspondncias estveis entre as estruturas de recrutamento social prprias a cada partido e a estrutura das classes superiores leva hiptese de relaes privilegiadas (o que no quer dizer exclusivas) entre os partidos polticos e as fraes de classe, a menos que se considere que as diferenas constatadas entre os partidos no so estatisticamente pertinentes ou que no produzem efeitos externos.
As correlaes estatsticas aqui comentadas tampouco devem induzir a uma viso simplista do funcionamento do campo poltico como puro reflexo das oposies de classes ou de fraes de classe. Embora seja verdade que os grandes produtores rurais so proporcionalmente mais numerosos na UDF do que em outros partidos, no se pode deduzir que os agricultores esto, mesmo tendencialmente, representados na UDF por agricultores que defendem seus interesses. A anlise da posio social diferencial das lide-ranas dos partidos permite apenas evidenciar as relaes existentes entre as oposies polticas e as oposies sociais e pensar as primeiras como a expresso simblica das segundas.
32 Assim acontece com diferenas que separam o RPR dos partidos da UDF.
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194 Daniel Gaxie
Dominantes e dominados Opondo agentes do topo da hierarquia social, a competio poltica tange
principalmente s classes sociais privilegiadas. Contudo, as classes mdias e
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195As lgicas do recrutamento poltico
populares no se encontram completamente ausentes, j que uma parte signifi-cativa das lideranas do PCF e, em menor grau, do PS vem desses meios. Mais precisamente, a porcentagem dos parlamentares que pertencem a essas classes aumenta quando se vai da UDF RPR, da RPR ao PS e do PS ao PCF33. Na medida em que (re)expressa as clivagens sociais, a competio poltica exprime, portanto, por mediaes a serem ainda desveladas, a oposio entre os agentes que ocupam as posies dominadas e aqueles que ocupam as posies domi-nantes na estrutura social global. Podem-se encontrar sinais dos conflitos entre os operrios e os proprietrios dos meios de produo ressaltados pela tradio marxista, ou da luta mais surda que ope classes mdias e superiores nas dife-renas entre os partidos de esquerda e os da maioria ou mesmo nos partidos de esquerda entre si34. Porm, mesmo que a luta poltica seja, nesse sentido, uma luta de classes, os dados relativos origem dos quadros polticos mostram que ela tambm , e principalmente, uma luta entre as fraes das classes superiores.
No entanto, essa luta das fraes de classes no deixa de ter analogia com a luta social global. Tudo indica, com efeito, que a competio poltica ope principalmente os agentes que ocupam posies dominadas das classes su-periores aos agentes que ocupam posies dominantes. Este o sentido, por exemplo, da Tabela 6, que avalia os estudos dos deputados com formao su-perior. Pode-se constatar que a porcentagem dos deputados que estudaram nas grandes coles35* aumenta regularmente quando se percorre o leque das posies polticas do PCF ao PR. Do mesmo modo, a porcentagem dos deputados apro-vados nos grandes concursos jurdicos e mdicos que do acesso aos lugares mais proveitosos no mercado social aumenta, ao passo que, inversamente, a dos deputados com um diploma de agrgation ou um CAPES em Letras, cuja rentabilidade social menor, diminui quando se vai em direo direita no interior do campo poltico. Em um nvel mais baixo da hierarquia escolar, a porcentagem dos deputados que fizeram estudos superiores na rea de Letras aumenta, enquanto a porcentagem correspondente aos estudos jurdicos e mdicos tende a diminuir quando se vai do PR ao PCF.
33 Uma outra medida do vnculo entre a posio no campo poltico e a posio social pode ser fornecida pelo nvel escolar. A porcentagem dos deputados eleitos em 1978 que fizeram curso superior passa de 12,8% no PCF para 57,8% no PS, 59,4% no CDS, 71,8% no PR e 72,1% no RPR.
34 A distncia social que separa a bancada socialista da comunista tem certamente relao com o anta-A distncia social que separa a bancada socialista da comunista tem certamente relao com o anta-gonismo latente que ope as classes populares e as classes mdias.
35 * So instituies de ensino superior mais prestigiosas da Frana, que preparam os futuros dirigentes do pas, tais como a cole Nationale de lAdministration (ENA), a cole Polytechnique, o Institut dtudes Politiques (IEP, mais conhecido como Sciences Po) (NT).
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196 Daniel Gaxie
Tabela 6: Tipo de estudos superiores dos deputados conforme o pertencimento partidrio
PCF SFIO-PS MRP, CDS UNR, RPR Independentes - PR19581 19782 19581 19782 19581 19782 19581 19782 19581
grandes coles3 9,1 11,0 16,9 16,2 21,1 17,6 22,1 20,0
grandes concursos
de medicina, direito4
0 - 3,4 - 5,3 - 7,1 -
grandes concursos de letras, cincias5
27,3 - 15,3 - 0 - 5,3 -
petites coles6 27,3 - 0 - 0 - 7,1 -
Sciences Po 0
29,6
8,5
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Letras 18,2 22,2 8,5 18,9 0 13,7 6,2 3,5cincias 0 3,7 6,